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CULTUÃAS:E PERSONALIDADES": ÁS EXPERIÊNCIAS ETNOGRÁFICAS DE RUTH BENEIDICI E MARGARET MEAD NOS ANOS 2Q-40 Gilmar Rocha* Introdução "A Escola de Cultura e Personalidade" fazem referência à diversidade teórica e metodológica entre os antropólogos daque- Os nomes Ruth. Benedict e Margaret Ia escola. Segundo Cuche, "o termo talvez Mead estão associados ao movimento que, um pouco excessivo, pois a diversidade nas na tradição antropológica norte-america- orientações e nos métodos dos pesquisa- na, ficou conhecido como "Escola de dores égrande"(CUCHE: 1999, p. 75-76). Cultura e Personalidade". E os manuais de De um modo geral, mesmo quando se antropologia enfatizam a produção norte- enfatizam algumas diferenças entre as di- americana dos anos 20-40, como versas etnografias que compõem a "escola constitutiva dessa "escola". Naquele mo- de cultura e personalidade", os manuais de mento, Ralph Linton (1979), chegou a antropologia concorrem para a formação dizer que se tratava de uma "nova ciência de uma visão na qual as diferenças são dedicada à dinâmica da conduta humana" funcionalmente complementares ao des- a partir da convergência dos estudos de envolvimento orgânico do campo como Psicologia da Personalidade, da Estrutura se houvesse uma homogeneidade de ob- Social (Sociologia) e da Antropologia Cul- jetivos, teorias e métodos antropológicos. A tural. Mesmo tendo passado já algum tem- verdade é que o fato de haver uma área de po, ainda hoje poucos são os autores que interesses comuns a vários antropólogos 'Doutor em ciências Humanas polo Insithuto de Filosofia e Ciências sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor do Departamento de ciências Sociais da PUC Minas.

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CULTUÃAS:EPERSONALIDADES": ÁS

• EXPERIÊNCIAS•ETNOGRÁFICAS DE

RUTH BENEIDICI EMARGARET MEAD NOS

ANOS 2Q-40

Gilmar Rocha*

Introdução

"A Escola de Cultura e Personalidade" fazem referência à diversidade teórica emetodológica entre os antropólogos daque-

Os nomes Ruth. Benedict e Margaret Ia escola. Segundo Cuche, "o termo talvezMead estão associados ao movimento que, um pouco excessivo, pois a diversidade nasna tradição antropológica norte-america- orientações e nos métodos dos pesquisa-

na, ficou conhecido como "Escola de dores égrande"(CUCHE: 1999, p. 75-76).

Cultura e Personalidade". E os manuais de De um modo geral, mesmo quando se

antropologia enfatizam a produção norte- enfatizam algumas diferenças entre as di-

americana dos anos 20-40, como versas etnografias que compõem a "escolaconstitutiva dessa "escola". Naquele mo- de cultura e personalidade", os manuais de

mento, Ralph Linton (1979), chegou a antropologia concorrem para a formação

dizer que se tratava de uma "nova ciência de uma visão na qual as diferenças são

dedicada à dinâmica da conduta humana" funcionalmente complementares ao des-

a partir da convergência dos estudos de envolvimento orgânico do campo como

Psicologia da Personalidade, da Estrutura se houvesse uma homogeneidade de ob-

Social (Sociologia) e da Antropologia Cul- jetivos, teorias e métodos antropológicos. A

tural. Mesmo tendo passado já algum tem- verdade é que o fato de haver uma área de

po, ainda hoje poucos são os autores que interesses comuns a vários antropólogos

'Doutor em ciências Humanas polo Insithuto de Filosofiae Ciências sociais da Universidade Federal do Rio deJaneiro, Professor do Departamento de ciências Sociaisda PUC Minas.

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não significa, exatamente, que os mesmospartilhassem ia totum dos mesmos prin-cípios de investigação etnográfica1.

Os manuais de antropologia, comu-mente, apresentam como característicasprincipais dessa "escola 1) ênfase no es-tudo das especificidades culturais locaisem termos de uma totalidade coerente eintegrada, mas não necessariamentefuncional; 2) ênfase na estratégia meto-dológica de comparação de sistemaculturais diferentes; 3) ênfase na interdis-ciplinaridade, sobretudo com a psicologia,sem desprezar todavia, a importância dahistória e da sociologia; 4) ênfase na rela-ção indivíduo/sociedade transposta paraos termos da cultura e personalidade resul-tando na caracterização de configuraçõesculturais e tipos psicológicos; 5) ênfase nosprocessos de socialização, em particular,a educação infantil; 6) ênfase no trabalhode campo enquanto metáfora de "laborató-rio natural" do antropólogo; 7) ênfase, emmenor grau, na dimensão político-ideoló-gica do "caráter nacional" no contexto daP Guerra Mundial'.

Estudando os padrões de cultura epersonalidade de sociedades distantes noespaço e no tempo, a antropologia culturaldos anos 20-40 tomava públicas algumasdas principais obsessões da sociedadenorte-americana: a relação indivíduo esociedade. Enquanto metáfora, cultura epersonalidade ajudam a pensar problemasfamiliares descrevendo os problemas dos"outros". Assim, cultura e personalidade di-zem respeito não só as configurações oupadrões culturais e tipos de personalida-des básicas relativas às coletividades deSamoanos, Andamaneses, Alors, Zuhi,Arapesh e outros, mas também, aos modosde representação etnográfica construídospelos antropólogos norte-americanos dosanos 20-40, acerca dos indivíduos e dacultura de sua própria sociedade.

O problema é que a idéia de uma "es-cola de cultura e personalidade" colada àantropologia cultural norte-americana dos

anos 20-40 tem como resultado um pro-cesso de "objetificação" da produção an-tropológica da época e a eliminação dasdiferenças no interior de um vasto "campoetnográfico". Daí, quando vistas emperspectiva comparada, as experiênciasetnográficas de Benedict e Mead deses-tabilizam a imagem "disciplinada" da es-cola de cultura e personalidade no con-texto da antropologia norte-americana dosanos 20-40. Nessa perspectiva, é difícilfalar de uma "escola de cultura e perso-nalidade", senão de "escolas", "culturas" e"personalidades".

A verdade é que, a partir dos anos 20, aprática do trabalho de campo veio a se tor-nar fonte privilegiada e legífima de estudodas culturas exóticas, assim como fonte deautoridade etnográfica ao ser realizado porprofissionais com formação acadêmica,além de adquirir grande projeção interna-cional nas antropologias nacionais dosEstados Unidos, Inglaterra e França.Depois de passar por um longo e profundoprocesso de disciplinarização porém nemsempre livre de vozes dissonantes, a partirdos anos 60/70 serão introduzidas críticase releituras provocativas e desestabi-lizadoras dos modos de representaçãoetnográfica3.

A partir de então se passou a proble-màtizar a visão convencional da etnografiacomo estratégia metodológica de pesqui-sa antropológica, para uma visão maishermenêutica na qual o reconhecimentoda "experiência indisciplinada" do trabalhode campo e as "retóricas" da escritaetnográfica colocam a etnografia nocampo das reflexões epistemológicas.Daí se poder falar hoje em "etnografia dopensamento antropológico", quando aprópria etnografia integra o campo doconhecimento epistemológico transfor-mando-se numa estimulante categoria dopensamento sobre a experiência e a escri-ta do antropólogo.

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Se, como diz Geertz, o etnógrafo "ins-creve" o discurso social, anotando-o,objetificando-o, autorizando-o a existir tex-tual e culturalmente, isto é, fixando-o nomodo de uma escrita narrativa no "registrode consultas sobre o que o homem falou"(GEERTZ: sld, p. 41), então a etnografiaconstitui, ela mesma, uma forma de inscri-ção do discurso antropológico moderno.Pois, através da experiência e da escritaetnográfica a ciência antropológica semodela, cultural e historicamente. Asim,etnografia é mais do que o registro textualde uma fala nativa. Na verdade, ela é tam-bém um modo cultural de escrita antropo-lógica. Significa dizer que a etnografia, talcomo entendida no pensamento antropo-lágico moderno, tem uma história; seusignificado não é o mesmo de sempre.

Etnografias são narrativas, isto é, ex-pressões de um certo tipo de experiênciae, portanto, formas de ação e representa-ção. Enquanto um tipo de experiência enarrativa, a etnografia é auto-referencial,pois representa uma forma de ordenar omundo tanto do seu" quanto do "outro". Daíos conceitos antropológicos de cultura,personalidade, campo etc, ao integraremnarrativas etnográficas organizarem-se demaneira coerente a cultúra, dando signifi-cado às experiências humanas. Nesse sen-tido, fica-se muito próximo da idéia de"invenção da cultura", de Roy Wagner(1981). Num movimento dialético de con-trole (às vezes "inconsciente') do campoetnográfico e invenção cultural, os antro-pólogos tornam inteligíveis as práticas eexperiências dos "outros", na medida emque objetificam "nativos" e "culturas". Aofinal do processo o que ocorre de fato é,segundo o autor: "What the fieldworkerinvents, then, is bis own understanding; theanalogies he creates are extensions of bisown notions and those of culture,trans formed by his experiences of the fieldsituations"(WAGNER: 1981, p. 12), Inven-tando "outras" culturas, os antropólogosconstroem para si mesmos o significado

de cultura, afinal: "the study of culture is infact ourculture; it operates through ourforms,creates in our terms, borrows our words andconcepts for it is meanings, and re-createsus through ourefforts"(WAGNER: 1981, p.16). De resto, pode-se afirmar que asetnografias são "invenções", "ficções" (nosentido de fictio, "construções') modeladaspor certo tipo de escrita e de experiência,nos autorizando a pensar em formas muitodiferenciadas de modos de representaçãoetnográfica. Em suma, através dos textosetnográficos expressam-se valores, idéias,sensibilidades, "estruturas de significadose pensamentos", não só dos nativos emcena, como também dos antropólogosem performance 4 . -

Nessa perspectiva, as experiênciasetnográficas de Ruth Benedict e MargaretMead assumem um colorido especial, elassão "exemplares' As duas se notabilizarampor suas etnografias sobre padrões deculturas e personalidades em sociedadesprimitivas da Nova Guiné e do SudoesteAmericano ou em sociedades contempo-râneas, como o Japão. No entanto, um dosmotivos principais de seus significativossucessos na carreira de antropólogas, con-quistando a atenção e respeito tanto dacomunidade acadêmica quanto do públi-co em geral, deve-se não somente ao estilode seus textos etnográficos, mas tambémà estratégia de comparação com a moder-na sociedade americana. De fato, muitodas preocupações que atravessam suasantropologias é relativo à "América", engen-dram problemas de ordem da cultura eidentidade na sociedade norte-americana.Talvez mais do que quaisquer outros antro-pólogos de seu tempo, elas converteramesses problemas em "best-sellers"

'Em certo

sentido, tornaram-nos "públicos' Ao final,como será visto à frente, quem terminamanalisados são os norte-americanos5.

"A Modelagem do Antropólogo": Poesia,Antropologia e Pragmatismo

,Culturas e

Personafidades':As ExperiênciasEUográticas deRoth Benecsct e

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Um paralelo entre as experiências bio-gráficas e etnográficas de Benedict e Meadaponta uma série de pontos comuns,contudo, inúmeras são as diferenças.Poder-se-ia começar pelas suas diferen-ças literárias, tendo em vista suas expe-riências biográficas'.

As duas escreveram poesias até certomomento de suas vidas. Desde muito cedoMead abandonõu o projeto literário, masBenedict praticamente nunca dàixou apoesia, tendo sido mais insistente, che-gando inclusive a publicar vários poemase a trocar muitas correspondências sobrepoesias com Sapir - ele também, um poe-ta. As experiências poéticas dê Mead,Benedict e Sapisç em relação à modelagemda persona do antropólogo, são importan-tes porque: 1) a partir de suas poesiaspode-se penetrar no pensamento social daépoca; 2) elas podem fornecer categoriasde pensamentos chaves na compreensãoda maneira como utilizam a linguagem, emespecial, a escrita etnográfica; 3) ao mes-mo tempo, expõem suas concepçõeshumanistas de cultura e personalidade;4) encontram no discurso antropológicouma forma de "autorealização"e desenvol-vimento da personalidade sem perder devista seus princípios humanistas e estiloliterário'.

De acordo com Handler (1986), o queestá em jogo nesse processo é a "automo-de/agem do eu" na forma de uma "perso-nalidade autêntica". Frente ao mundofragmentado da civilização industrial e, aomesmo tempo exigente com relação àrealização pessoal, o apelo à busca daautenticidade cultural ou pessoal era umpeso nas consciências individuais. EmBenedict, a busca de um "eu" "duro' invi-olável, autêntico, único, "locus de uma re-alidade última contra o mundo" seriaconquistado por meio da escrita. Em 1917,ela desabafa: "anseio por me provar atra-vés da escrita". Sua poesia seria marcadapor dilemas de amor e solidão, imagensreligiosas e naturalistas e, em comum com

a poesia de Sapir, a dor.e a frustração decasamentos mal sucedidos. A poesiasignificava mais do que um meio de re-conhecimento social. Inicialmente, foi aforma de expressão encontrada para ex-pressar seus dilemas existenciais, ao.mesmo tempo em que lhes fornecia umsentido para a vida. Embora sentisse, emalguns momento, atração pela vida do-méstica, casamento e a maternidade, foiatravés da experiência literária queBenedict pôde criar uma ordem num mun-do fragmentado e marcado pelas desi-lugões. Ao transpor os limites impostos pelacultura convencional acerca do papel damulher e, ao fazer da sua existência umaescolha profissional, descobriu na antropo-logia um lugar institucional a partir do qualdesenvolveu um gênero alternativo de "mo-delagem do eu", encontrando então, umnovo sentido para sua vida. Assim, quan-do ela se inicia na antropologia e, após re-alizar suas primeiras experiências de cam-po, pôde, através da escrita etnográficano estudo da cultura e personalidade emsociedades primitivas, se autorealizar.

Tomando como referência Padrões deCultural e Õ Crisântemo e a Espada,Benedict não se isenta do texto, porém pre-fere uma posição distanciada em relaçãoaos grupos estudados. No primeiro livro,anuncia ter "vivido durante varios veranosentre ei pueblo Zufli y entre algunos otrospueblos vecinos, con los cuales he cote-jado Ia cultura Puebio" (BENEDICT:1953, p. 11). De certa forma, afirma sua"autoridade etnográfica" através do traba-lho de campo, mas logo confessa os limi-tes de sua "obseh'ação-participante" quan-do afirma: "tengo una gran deuda con Iadoctora Rum Bunzel, que aprendió eI idio-ma Zufli y cuyas referencias y coleccionesde textos fie dicho pueblo son los mejoresentre los estudios útiles dàl mismo"(BENEDICT: 1953, p. 11). Por sua vez, de-clara-se devedora de Reo Fortune e FranzBoas para análise dos outros dois gruposcomparados no livro. Na verdade, trata-se,

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como diz Geertz (1997), de uma "redes-crição"

'Para ele, será a sua escrita, o seu

estilo de escrita etnográfico o elementoprincipal de seu sucesso, uma vez que suaautoridade não se fundamenta na experi-ência etnográfica do trabalho de camponem na aplicação de teorias'. Tratam-sede dois livros dirigidos ao público, expres-sivos de uma poderosa retórica e capazesde apresentar "culturas de personalida-de? de modo coerente, integrado, autên-tico e dinâmico.

A eficácia da narrativa de Benedict podeser avaliada ainda em vista do argumentode Handier (1986) sobre O Crisântemo ea Espada - e extensivo aos Padrões deCultura - o de que a sua performance nar-rativa se apóià numa aparente objetividadeobtida às custas de um efeito de distan-ciamento da persona do antropólogo namedida em que sua individualidade e sub-jetividade são encompassadas pelo mitoda ciência universal. A verdade é que essedistanciamento ou objetividade construídapela persona .etnográfica de Benedictapoia-se numa postura critica e cética comrelação à ciência e à civilização em geral.No capítulo sobre a "Natureza da Socieda-de" em Padrões, ela resume a questão,dizendo o seguinte:

"Las configuraciones que hemos estu-dia do no son 'tipos' en ei sentido de querepresentar, una constelacián fija de ras-gos. Cada una es una caracterizaciánempírica, y probablemente no hay unduplicado integral de ella en partealguna dei mundo. Nada seria más de-safortunado que un esfuerzo porcaracterizar todas Ias culturas comoexponentes de un número limitado detipo fijos y seleccionados. Las categoriasse tornan peligrosas cuando se Iastoma como inevitables e igualmenteaplicabies a todas Ias civilizaciones y atodos tos acontecimientos" (...) "No hay'ley', y si sólo caminos diversos, carac-terísticamente distintos, para una ac-titud dominante' (BENEDICT: 1953, p.250-251)

Ao final dos dois livros, Benedict "põe odedo na ferida" e quem termina questio-nados são os americanos. Por exemplo,referindo-se ao caso de Middletwon, elasentencia: "ei miedo de ser diferente es Iamotívacción dominante registrada enMiddletown"(BENEDICT: 1953, p. 285). E,mais à frente, emenda: «En todo caso, nopuede haber duda razonable de que unode los modos más efectivos para hacerfrente ai peso creciente de Ias tragediaspsicopáticas en Nodeamérica ai presente,consistiría en un programa educacional quepromueve ta tolerancia en Ia sociedady unaespecie de autorespecto e independência,hoy extra fia a Middletown y a nuestrastradiciones urbanas" ( BENEDICT: 1953, p.285-286). Numa América ainda vivindo sobos efeitos e traumas da Depressão de 29,Padrões de Cultura provocaria a consciên-cia americana ao dizer para si que culturassão escolhas históricas. Trata-se, no dizerde Geertz, "ei texto adecuado en ei momen-to adecuado" (GEERTZ: 1997, p. 121).

Daí, o resultado desse processo de re-alização pela escrita, podendo-se es-tendê-lo aos nomes de Sapir, Mead edemais antropólogos que, em graus varia-dos, consiste na valorização das individua-lidades e subjetividades na representaçãoetnográfica das culturas e personalidades.A valorização das experiências culturais deum povo, sociedade e/ou país, produz um"efeito de realidade" que convence o leitore legitima a interpretação do antropólogo,"pois", diz ela em O Crisântemo e a Espa-da, "somente quando se percebemos lu-gares-comuns intensamente humanos daexistência de qualquer povo é que se podeavaliar a extrema importância da premis-sa do antropólogo de que a conduta huma-na é descoberta na vida diária, seja na tri-bo primitiva ou numa nação na vanguar-da da civllização"(BENEDICT: 1972, p. 17).Pensar a "cultura como gente", me parece,é a fórmula desenvolvida pela retórica deBenedict. E o público se identifica com oque está lendo.

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Assim, em Benedict, a modelagem dapersona do antropólogo se dá através dotrabalho de interpretação e, como tal, mos-tra-se um modo de representaçãoetnográfica capaz de garantir a individuali-dade de quem interpreta. Além do mais, ainterpretação pressupõe um modo, se sepode dizer, "dialógico" ao sugerir umpartilhamento democrático de opiniões ereflexões10.

Não me parece exagero estender taisconsiderações para o caso de MargaretMead. Evidentemente, as diferenças emtorno da representação da persona doantropólogo, na construção do campoetnográfico etc, são grandes. Mas, o pro-cesso de modelagem dessa persona estásituado no mesmo campo cultural deexperiências e 'sensibilidade modernista".Nesse sentido, também Mead buscaria suaautorealização e/ou desenvolvimento deuma personalidade através da escritaetnográfica, porém, uma escrita carrega-da de outros sentidos. Creio que a melhormaneira de se perseguir a modelagem dapersona do antropólogo em Mead, ocorreao se percorrer o caminho inverso dessaconstrução, ou seja, começando pelosmomentos finais de sua carreira deantropóloga.

Mead finaliza à vida falando do temapelo qual iniciou a modelagem de suapersona a infância. Em Aspectos do Pre-sente (1982), uma coletânea de artigos• escritos para a revista Redbook, organiza-dos por Rhoda Metraux, alguns escritos emparceria com Mead, versando sobre temasos mais variados (família, ecologia, tec-nologia, criminalidade, adoção, crençasem bruxas, festas, a experiência de ser avóetc) dão bem o tom de sua concepção deantropologia e do papel que cabia aoantropólogo desempenhar. Significativa-mente, o último artigo "O Ano Internacionalda Criança: Um Fanal de Esperança",datado de maio de 1979, embora escritoem 1978, pouco antes de sua morte, apóstecer uma série de considerações sobre a

infância, Mead conclama a populaçãoamericana a "participar" dós programasque seriam desenvolvidos naquele ano.Também de 1978 é o artigo cujo título podeser entendido como "autoreferencial""Assistência Social: Responsabilidade deTodos'; já na introdução Mead expunha suavisão antropológica do mundo: "1-lá quempense que o futuro de algum modo cuidaráde si mesmo. Mas a maior parte de nósdeseja participar de alguma forma namodelagem do mundo em que nós - eespecialmente nossos filhos - iremos vivernos anos vindouros. E exatamente o quetemos hoje uma excelente ocasião defazer" (MEAD: 1982, p. 230 -. grifo meu)."Autoreferencial", primeiro, porque o pro-pósito de. uma «modelagem do mundo" seconfunde com a modelagem dá suapersona de antropóloga: segundo, porquesua concepção de antropologia, por vezes,fica próxima do "campo" do Serviço Social.Segundo Grosskurth; "como afirmou cedavez a própria Mead, 'o mundo inteiro é omeu campo. E tudo antropologia" (GROS-SKURTH: 1989, p. 59). Aspectos do Pre-sente parece simbolizar exatamente isso.

Margaret Mead cumpriu sua profeciade adolescente, a de que um dia seriafamosa. Desde seu primeiro livro Comingof Age in Samoa, de 1928 para alguns,"clássico", para muitos, um best-seller Meadtornou-se uma persona pública, isto é, uma"personalidade". Mas a consagração viriacom Mate and Female ("Macho e Fé-mea"), de 1949. Nesses livros, assim comoem Sexo e Temperamento, uma preo-cupação comum os perpassa: a formaçãodas identidades ("personalidades") dosgêneros masculino ou feminino com ênfa-se nos processos de educação. Em outraspalavras, esses livros tratam de como asculturas modelam a personalidade de seusindivíduos. Seus estudos nessa área - pontoesse aberto por Boas nos anos 20, ele quesoube ver em Mead alguém com potencialpara explorá-lo - fariam-na uma "especia-lista" no assunto: paradoxo para quem

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tinha, como tema o mundo. Mas que, poroutro lado, permitiu-lhe entrar em outrasáreas como, por exemplo, quando foi con-vidada pelo governo norte-americano du-rante a lia Guerra Mundial para organizare chefiar o "Cqniitê de Hábitos Alimentaresdo Conselho Nacional de Pesquisa", em1942. Nesse mesmo período eia havia par-ticipado do "Comitê para o Moral Nacional",ao lado de Bateson e outros, uma organiza-ção com objetivos de produzir estudos sobreo "caráter nacional", com fins a auxiliar osEstados Unidos no combate aos seusinimigos de guerra. Inicialmente, sob aresponsabilidade do antropólogo inglêsGeoffrey Gorer, realizou estudos sobre"estrutura do caráter japonês"j posteri-ormente finalizado por Benedict

À luz de uma "antropologia aplicada"osesforços de Mead, no período da guerra,uma vez mais a levariam a estabelecercomparações, senão estudos específicossobre os padrões de personalidade dohomem americano. E conhecido desseperíodo o seu livro And Keep Your PowderDry ("E Mantenha sua Pólvora Seca, de1942, em que exclui, conscientemente, desua análise, os elementos de instabilidadecomo os conflitos raciais do Sul dos Esta-dos Unidos, em nome da integração cultu-ral, de uma suposta "estrutura de caráter"igualitário e em defesa da democracia.O ideal da democracia, segundo Vans-MacLaughlin (1986), para Mead e outrosintelectuais americanos era mais umaidéia normativa do que um fato social, alémde intimamente relacionado aos pre-dicados da ciência. De acordo com aautora, "by this Iogic, Mead ano othersequated democracy - an experimental,open culture, a diverse and pluralistic cu/ture- with science and scientific method.Absolutism in any form, but particulary inthe for,» of the totalitarian state, repré-sented the stultification of science. So, forMead, and many o! the American intel-lectuals, the war against Hitler was not onlya war for democracy but also a war for free

inquin/' (YANS-MAcLAUGHLIN: 1986, p.207). A maneira determinada com a qualMead construiu sua persona de antropólo-ga fundamenta-se numa visão da antropo-logia aplicada orientada pela filosofiapragmatista de John Dewey, para quem ofuturo da democracia dependia do desen-volvimento de uma cultura científica. Emtempos de guerra, o pragmatismo de Meade de certos intelectuais norte-americanosresultaria na construção de um certo tipode "antropologia aplicada".

Aqui parece funcionaro slogan de queo futuro de uma nação depende do desen-volvimento apropriado de suas crianças.Afinal, a democracia, a ciência, o bem-estar social de uma nação livre de medos,neuroses e outros distúrbios quaisquer,devem ter por principio o desenvolvimentosaudável de seus filhos, isto é, suas crian-ças. Daí, quando se chega ao começo dacarreira de Mead, a modelagem de suapersona antropológica não por acaso seter iniciado pelo estudo das adolescentessamoanas. A educação infantil marcaindelevelmente toda a vida de Mead (1994)- ela o confessa em suas memórias.

Poucos antropólogos tiveram a opor-tunidade de realizar tantas viagens e traba-lhos de campos em tão diversas sociedadesquanto as que ela realizou. Para Mead, otrabalho de campo representou não só apossibilidade de se testar hipóteses emodelos teóricos sobre problemas especí-ficos, assim como um "laboratório natural",onde se podia encontrar padrões de per-sonalidades culturais mais autênticos e, porfim, que funcionaria como um "rito de inici-ação" na modelagem de sua persona deantropóloga. Sua "autoridade etnográfica"se apóia no modo de representação "expe-riencial", no "estar lá". Mas trata-se de umaexperiência que exige uma melhor qualifi-cação, porquanto se podem vislumbraralguns sentidos específicos: 1) é atravésda experiência no trabalho de campo queMead visualiza a "autodisciplina" necessá-ria ao ofício do etnógrafo; 2) trata-se de uma

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experiência que deve ser compartilhadapelos leitores; 3) a experiência do trabalhode campo remete diretamente ao melhorda tradição da disciplina, na medida emque constitui o traço principal na caracteri-zação de uma ciência humanista12.

Nesse sentido, o texto mais ilustrativono conjunto das três obras em análise é,sem dúvida, o segundo capítulo de Machoe Fêmea, 'Como Escreve um Antropólogo".A certa altura do texto, Mead nos forneceum exemplo que parece muito significativoda experiência na modelagem da personado antropólogo. Diz ela:

'Tudo isso necessita de planejamento edisciplina de escolha, visando um objetivo,sem contudo transformar o relacionamen-to com opo vo primitivo em frio e negocista.Mas quando se tem nos braços o corpoflácido de uma criança desfalecida, tra-balhando-se para revivê-la, tem-sea obri-gação de observara conduta de sua mãeque permanece batendo a cabeça numtravesseiro de madeira, em vez de isolar-se na angústia de outros pequenos coipossem vida que já se tomou no colo. O nossosentimento pessoal que poderia levar-nosa um poema ou a uma prece para al-guém que está longe, ou a vontade deescrever uma carta, ou o desejo de aban-donar a cena da morte e buscar um mo-mento a sós que não existe, tudo isso deveestar subordinado à obrigação de apre-ciar, ouvir, anotar e compreender. Mas-mo uma fama de tal autodisciplina, comoa vez em que irrompi em lágrimas por umressentimento irrecuperável de ter pas-sado tóda a noite ao lado de uma criançabalinesa muito doente e, voltando paracasa na madrugada fria da montanha, fuimordida pelo cachorro da família, deveser imediatamente usado pelo antropólo-go como um estímulo para descobrir oque as pessoas fazem quando o mal-estar se apresenta dêste ou daquelemodo» (MEAD: 1971, p. 49-50).

Exatamente por meio das experiênciasdo trabalho de campo - e Mead coleciona

muitas delas - ela autoriza a se apreenderde maneira "intuitiva" algumas das culturasque estudou". Com base nisso, podemosentender sem questionamento em torno da"autoridade" do antropólogo. Para ela, umrecurso utilizado pelo antropólogo, pura esimplesmente, com vistas a preencher alacuna entre suas observações e daquelesque são leigos. Reafirmando a autoridadecom base na experiência adverte: "contudo,quero fazer mais do que isso; quero estarapta a interpor entre o meu argumento e aconsideração que faz o leitor sôbre êle umapausa, uma compreensão não do que omeu direito à autoridade me permite fazerem tal ou qual afirmação, mas, em vez dis-so, como eu cheguei àquelas afirmações eo que é o processo antropológico. Para seter uma noção da experiência que o antro-pólogo traz à consideração do problemahumano..."(MEAD: 1971, p. 44). OfatodeMead acatar a ciência como uma crença,não contradiz o valor da experiência, mesmoporque, em sua crença, ciência é sinôni-mo de democracia. A antropologia é umaciência humana tão variável quanto o sãoas culturas. O caráter científico da antro-pologia reside em seus métodos e não naconstrução de leis" capazes de aprisionar a"autonomia moral do espírito humano". Issonão a impedia de pensar em ações"dirigidas" para promover mudanças soci-ais em um mundo em crise14.

Pode-se dizer que foi em função dessa"autonomia moral do espírito humano" que,em 1925, ela empreendeu sua primeiraviagem e experiência de campo junto àcultura samoana. Seu propósito emAdolescencia y Cultura en Samoa erao de responder a uma insistente perguntaque parte da antropologia da época se fa-zia - e nunca deixou de se fazer - inclusivesendo reiterada pela própria Mead, anosmais tarde, em Sexo e Temperamentoe Macho e Fêmea, a saber: até queponto a "natureza humana" é moldadapela cultura?

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A pergunta suscita novas perguntas.Quanto a Mead, jamais deixou de fazê-las.Mas, aproveitando o ensejo, resta a dúvida:fazendo eco aos dilemas de uma "sensibi-lidade etnográfica" ao mesmo tempo emque Mead modelava sua persona de an-tropólogo com base nas experiências decampo, esse mesmo campo de experiên-cias representava um espaço de relativaautonomia para o que não poderia ser to-talmente modelado: sua "personalidade"?

A persona de antropóloga de MargaretMead vai sendo modelada ao longo de suavida, através da construção de uma vastaobra calcada em suas experiênciasetnográficas na crença da objetividadecientífica. A verdade é que, de acordo comYans-MacLaughlin, "Mead faschioned acarrer for herself as lhe public voice ofanthropology" ( YANS-MAcLAUGHLIN:1986, p. 214).

"O Campo Etnográfico": Cultura, Pedago-gia e o Mundo

Há pouco foi dito da importância daexperiência etnográfica de Mead por inter-médio do trabalho de campo. De fato, emMead a extensão de sua persona de antro-pólogo parece ser proporcional a quanti-dade de suas experiências etnográficas.Por outro lado, isso interpõe alguns proble-mas para a sua experiência etnográfica. Acrítica corrente é a de que muito do traba-lho de campo de Mead baseou-se em"intuições" e "simplificações" das culturasque estudou. Ela se defenderia no prefáciode 1950, para o livro Sexo e Temperamen-to, daqueles que achavam que ela haviaapresentado um "padrão bonito demais"das culturas Arapesh, Mundugumor eTchambuli. Segundo ela, "essa concepçãoerrônea nasce da falta de compreensão doque significa a antropologia, da larguezade mentalidade com que se deve olhar eouvir; registrar em espanto e admiração,aquilo que a gente não seria capaz deadivinhar" (MEAD: 1976, p. 10). E mais à

frente, enfatizava: "é, na realidade, umreflexo da forma que se encontra nessastrês culturas..." (MEAD: 1976, p. 10). Suaênfase na autenticidade do que foi obser-vado, registrado, textualizado, é o ponto dediscórdia em Boon (1993). Segundo ele,"Margaret Mead en sus primeras obrasimpulsó una visión excesivamente simplistadeltrabajo de campo" (BOON: 1993, p. 23).O problema é que por trás dessa simplifi-cação reside um problema epistemológicode recusa do pensamento filosófico e dopensamento dedutivo por parte de Mead.Quando, na verdade, ela emprega des-de o início uma estratégia dedutiva,

- declara Boon;Numa perspectiva que envolve o tra-

balho de campo, a noção de "campo etno-gráfico" constitui-se no eixo central daantropologia. Pode-se dizer, é o núcleodiscipliPador da antropologia. Dessa forma,pensar a "construção" dd campo etnográ-fico nas antropologias de Benedict e Meadsignifica, paralelamente, ao processo demodelagem da persona do antropólogo,investigar suas concepções de trabalho decampo, suas experiências de viagens esuas representações de cultura. A impor-tância dessa discussão para o pensamen-to antropológico reside nos questio-namentos, tal como faz Boon, sobre a"natureza" do campo etnográfico15.

O "campo" pode ser visto como umaespécie de "cronotopo", isto é, na leitura deClifford desse conceito bakhtiniano, "deno-ta uma configuração dos indicadores es-paciais e temporais num cenário ficcionalonde (e quando) certas atividades e históri-as acontecem" (CLIFFORD: 1994, p. 83).Antes de ser um espaço real, o campo con-siste num espaço simbólico através doqual se encenam problemas de ordemepistemológica, além de conflitos ("bata-lhas") ideológicas efou relações de poder.Tal como o espaço, lembra nos Cliffordem outro texto, parafraseando Certau, ocampo "is never ontologicaily given. It isdiscursively mapped and corporeally

"Culturas.Personalidadet:As ExperiênciasEtnográficas coRuiu Benodfct e

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practiced"(CLIFFORD: 1997, p. 54). Nessesentido, ainda que o campo funcione como"laboratório natural" e "rito de inicia ção,carrega consigo outras tantas implicações.

A experiência etnográfica de MargaretMead em Samoa é bastante ilustrativa.Primeiro, por tratar-se ela de uma das pri-meiras mulheres antropólogas a realizar umtrabalho de campo em grupo distante ebastante diferente do que normalmente seestava acostumado a trabalhar até aquelemomento nos Estados Unidos (no caso, osíndios norte-americanos) e quando issoainda parecia configurar uma atividadepeculiar aos homens. Segundo, na medidaem que opta por estudar os samoanos,entra em rota de coalizão com Radcliffe-Brown, na medida em que isso repre-sentava uma ameaça apropriedadeintelectual" do antropólogo inglês, espé-cie de intrusão em um território já impli-citamente demarcado.

Em todos as três etnografias de Mead,em foco, ela afirma categoricamente o fatode elas serem baseadas em trabalho decampo. Em Macho e Fêmea, síntese dosresultados dos outros dois trabalhos e maissuas experiências na cultura balinesa ejunto aos latmul, ao lado de GregoryBateson, ela anuncia nos "Agradecimen-tos" que lo trabalho de campo em que sebaseia êste livro cobre um período decatorze anos, que vai de 1925 a 1939. Opensamento que o permeia envolve toda aminha vida profissional, que vai de 1923 a1948" (MEAD: 1971, p. 17). Como se viuantes, para Mead o trabalho de campo éfonte de sua autoridade etnográfica e daconstrução de sua persona de antropóloga,mas o campo no qual ela se move esten-de-se à sua própria sociedade. Em outraspalavras, não se trata aqui de aplicar amesma crítica de alguns antropólogos aotrabalho de Lévi-Strauss, quando dizem queo verdadeiro trabalho de campo por ele re-alizado foi em Nova York ou em São Paulo,salientam Clifford (1994) e Canevacci(1993). O que está em jogo é o significado

da antropologia para Mead. Para ela, oconhecimento produzido pela antropolo-gia acerca das variedades de respostasculturais que as sociedades primitivaseram capazes de fornecer deveria, de al-guma forma, servir a uma "conscientizaçãodo mundo"'.

Nessa perspectiva a antropologia, en-quanto ciência humana, é tributária de umpropósito pedagógico. Os estudos deoutras culturas, no mínimo, prestam parailuminar outras realidades. O capitulo finalde Adolescencia y Cultura en Samoa éexplícito quanto a isso: "Educaciôn para IaElección". Mas, é na introdução que, ex-plicitamente, encontramos sua promessapedagógica:

"Dado que nos habíamos pianteado unproblema especial, cuya solución intenta-mos, este relato acerca de otro modo devida se reflete principalmente a Ia edu-cación, ai proceso según ei cual el nifloilega sin cultura a Ia escena humana seconvierte en un miembro adulto de aftasignificacián en susociedad. Colocaremosei acento sobre los aspectos en que Iaeducacián samoana, en 5v sentido másamplio, difiere de Ia nuestra. Y por estecontraste quizás podamos llegaç con fres-ca y vívida autoconciencia yautocrítica, ajuzgarde un modo nuevo y tal vez a forjarde manera distinta Ia educación que da-mos a nuestros hos"(MEAD: 1961, p. 35)

Talvez agora se faça mais clara suaafirmação de que o seu campo de traba-lho era o mundo e que tudo é antropologia.E também, por isso mesmo, tenha ela es-tudado tantas culturas, realizado tantas via-gens e publicado tantos livros.

Entre os anos 20-40, Mead, assim comoBenedict, ajudam a popularizar a antropo-logia. Mesmo quando escrevem sobre"culturas exóticas", culturas que a primeiravista só interessariam aos iniciados em an-tropologia, quando muito aos curiosos, fo-ram capazes de torná-los familiares. Essaestratégia, tudo indica, deve-se muito à suas

tulÉLsas ePersonalidades"As Expe,iénciasElnográficas deRuiu Benedict eMa,garei Mead nosAnos 20-40

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concepções de cultura. Como que anteci-pando a conhecida definição de cultura emGeertz, em introdução a Sexo e Tempera-mento, Mead expõe a sua versão: "traba-lhando com novelos tão universais e tãosimples como esses, o homem construiupara si mesmo uma trama de cultura emcujo interior cada vida humana foi dignifi-cada pela forma e pelo significado". E fina-liza: "cada povo constrói essa tessitura demaneira diferente, escolhe alguns novelose ignora outros, acentua um setor diferenteda gama total das potencialidades huma-nas"(MEAD: 1976, p. 20). Portanto, culturaimplica, sim, costumes, padrões etc, mastambém escolhas, modos de pensar esignificados.

Contudo, em Mead, mais do que emBenedict, a cultura condiciona o compor-tamento dos indivíduos e a constituição dostipos de personalidades. O caso dos anor-mais, "desviantes", nas sociedades primi-tivas é ilustrativo porque representa expe-riências de socialização mal sucedida.Mead nunca abandonou o princípio bioló-gico da natureza humana nos seus estu-dos sobre os padrões da personalidadesexual. Afinal, para ela os indivíduos antesde serem Sociais, são «naturais". A con-sequência lógica desse problema podeser apreendida nas suas construções dostipos de personalidade das culturas primi-tivas e mesmo nas complexas, como anorte-americana, ao fornecer retratos ouperfis de personalidades por vezes bastan-te rígidos (vale lembrar aqui a crítica de queseus padrões de personalidade são "boni-tos demais'). O fato de Mead apoiar-se "au-toritariamente" nas experiências do traba-lho de campo parece contribuir para tornarseus padrões "bonitos demais", uma vez queo pressuposto da objetividade científica("autodisciplina", "controle das emoções')garante sua suposta "realidade" e "auten-ticidade' Aparentemente, deveria ser ocontrário, se comparada às construçõesde Benedict. Acontece que, no caso deBenedict, os padrões ficam muito próximos

de um "tipo ideal" webehano, sãoconstru-ções e não se confundem com a realidadestrictu sensu. Haja vista que Benedict, apé-sar de realizar alguns trabalhos de campo,não os toma como um recurso de autori-dade. Como lembra Geertz, referindo-se aO Crisântemo e a Espada, "Benedict fun-da su autoridad en un 'estar alll' imaginario"(GEERTZ: 1997, p. 130), até certo ponto,um argumento que parece válido tambémpara o caso de Padrões de Cultura.

O campo etnográfico em Benedict seestrutura de outra maneira. Não tem nasviagens, nem no trabalho de campo - me-nos ainda nos modelos teóricos - fontesde modelagem e construção de suaperspectiva antropológica. O que se podedepreender de suas etnografias é que ocampo não é fixo, ele é modelado tal quala persona do antropólogo, na medida emque é reconstruído textualmente. O campo,assim como a cultura e a personalidadesão reconstruções históricas, escolhas so-ciais e históricas. Partindo do pressupostode que a cultura não é transmitida geneti-camente, são os próprios indivíduos queelegem ou selecionam nem sempreconscientemente seus valores dominantes.A idéia de que cada cultura seleciona ereinterpreta o material que escolheu in-corporar, aproxima-se da visão de Geertz(sld), para quem são os indivíduos os intér-pretes primeiros de sua cultura, restandoao etnógrafo interpretar interpretações.Na versão da própria Benedict:

"En ta cultura tambián debemos imaginarungran arco en ei que están colocados tosposibles interes'es, pro vistos, ya sea poreIciclo de edades oporei ambiente o Iasdiversas actividades dei hombre"(...).Suidentidad como cultura depende dela se-leccián dealgurios segmentos de este aiw.Toda sociedad humana, en todas partes,ha hecho tal selección en sus institucionesculturales"(BENEDICT: 1953, p. 36).

Anteriormente, foi dito que Benedictpensa a "cultura como gente". Isto porque,

tulturas ePersonalidadetAs ExperjéndasEtnográficas defluthBenecte

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ao contrário de Mead, que vê nos indivídu-os seres naturais modelados pela cultura,em Benedict, por princípio, os indivíduossão seres culturais. Haja vista sua defini-ção de antropologia como "el estudio delos seres humanos como criaturas de Iasocíedad" ( BENEDICT: 1953, p. 13); seuobjeto são as condutas humanas e os cos-tumes culturais. Portanto, pode-se dizer, seucampo abarca os significados das experi-ências culturais. Daí, Bruner (1986) localizaras antropologias da cultura e da personali-dade de Benedict e Sapir como "antropo-logias da experiência". De fato, em suadefinição de cultura, Benedict salienta que:

Ia significación de Ia conducta cultural noestá agotada cuando hemos comprendido,claramente que es local, hecha pôr elhombre y enormemente variable. Tiendetambién a ser integrada. Una cultura,como un individuo, es una pauta más omenos coherente de pensamiento yacción'[E mais à frente complementa:]"Si estamos interesados en procesosculturales, ei único modo en que pode-mos conocerla significaclón de un detalledado deconducta consiste en ponerlo enrelación con elfondo de tos motivos, emo-cionesy valores instituidos en esa cultura.Lo más esencial, así parece hoy, esésiudiãr 1 cultura viviente, conocer sushábitos de pensamiento y Ias funcionesde súà instituciones;y tal conocimiento nopuede resultar de disecacciones yreconstrucciones post-mortem" (BENE-DICT: 1953, p. 59-63).

Cultura envolve emoção, pensamentos,ações, sentimentos, costumes e padrõesde comportamento. Do ponto de vista doetnógrafo, a cultura consiste em um traba-lho de reconstrução quando passa o orga-nizar textualmente seus principais elemen-tos constitutivos, a fim de apresentá-la comoum 'lodo" coerente, todavia sem perder devista o principio de organização culturalestabelecido pelos seus próprios atores,assim como a compreensão dos significa-dos atribuídos pelos mesmos. O melhor

exemplo, nesse caso, é O Crisântemo e aEspada".

Sem a possibilidade de realizar "a maisimportante técnica do antropólogo cultural:o trabalho de campo", é como se Benedictreconstruísse o campo em casa. Volta osolhos para os japoneses que vivem nosEstados Unidos, utiliza recursos não con-vencionais para coleta de informações e,como em Padrões de Cultura, estende ocampo a partir de uma perspectiva com-parativa para o plano do "imaginário". As-sim, através da literatura, filmes, depoimen-tos etc, tomou-se possível penetrar o "cora-ção cultural" do Japão. E o japonês quevivia nos Estados Unidos pôde lhe forne-cer os significados de suas experiênciascotidianàs. Na medida em que se podiacaptar seus valores, idéias, categorias depensamentos e símbolos, o exótico tor-nava-se familiar. E, conclui Benedict, "umavez tendo eu verificado onde meusenfoques ocidentais não se enquadravamna visão das existências, obtendo assimalguma idéia das categorias e símbolos poreles utilizados, muitas contradições que osocidentais acostumaram-se a ver na con-duta japonesa deixaram de ser contradi-ções"(BENEDICT: 1972, p. 23).

Em suma, em Benedict o "campo etno-gráfico" é, ele mesmo, cultura. Deslocandoa noção convencional de cultura como umlugar fixo e a de que "lhe field is a homeaway from home", segundo a expressão deClifford (1997), Benedict realizava um"experimento" de reconstrução da culturajaponesa por meio da escrita, ao mesmotempo em que reconstruía a "cultura » en-quanto "campo etnográfico", por meio deum pensamento hermenêutico. Enquanto"campo móvel" a cultura é o resultado deuma "autoria múltipla" em que se conver-gem os pontos de vistas da tradição herda-da, dos japoneses e do próprio antropólogo.Fazendo eco à idéia de Sapir, a autentici-dade de uma cultura encontra-se naspessoas. Necessariamente, não estácircunscrita a um determinado spaço

tulturas ePersoealidades:As ExperlõriciasEtnagrálicasdePulh BonedcteMargaret Mead nosAnos 20-40

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social.. Nesse sentido, talvez agora tiquemais clara a idéia de "cultura como gente".

"A Retórica da Diferença »: Modo Dialógicoe Tropos Exótico

Como e por quê as obras etnográficasde Benedict e Mead tornaram-se verdadei-ros best-sellers da antropologia culturalnorte-americana nos idos dos anos 20-40?

A análise de algumas estratégias narra-tivas desenvolvidas por Benedict e Meadajuda a conquistar uma melhor compre-ensão dos modos de representaçãoetnográfica, ao mesmo tempo em queilustra a influência de outros gênerosdiscursivos como a literatura nos escritosetnográficos. Do ponto de vista das "con-venções disciplinares"da antropologia, es-sas relações aparecem como fontes deinstabilidade no processo de discipli-namento da ciência antropológica no qua-dro da "sensibilidade modernista", dosanos 20-40. Entrementes, do ponto de vis-ta da crítica cultural da antropologiacontemporânea, a compreensão dos "su-cessos literário?, ou melhor, editoriais dosantropólogos junto aos meios acadêmicose, principalmente, ao público em geral, so-mam no sentido de se "desnaturalizar" ocampo da antropologia ou "desmontar" al-guns de seus mitos como, por exemplo, a"domesticação da poesia" na escrita cientí-fica.

O texto etnográfico não é a descriçãoda "realidade" das culturas primitivas paraouvintes ou leitores passivos. Eles podemser vistos como "ficções persuasivas", istoé, de acordo com Strathern (1990) o modode organização e representação do textoconduz o leitor a uma certa visão de mundoou "realidade" em que não se pode evitartotalmente a presença da ficção.

Nessa perspectiva, parece-me possívelcaracterizar os modos de representaçãoetnográfica de Benedict e Mead como"modos dialógicos". Faz-se necessário es-peciticar o sentido de dialogia aqui. Para

Bakhtin (1992) os "gêneros do discurso",primários ou secundários, orais, literários,científicos e outros, são dialógicos na me-dida em que sempre estão respondendo aum determinado, interlocutor. Assim; adialogia é algo constitutivo de toda e qual-quer forma e/ou gênero de discurso. Naperspectiva da antropologia crítica deClifford (1998) etc, o modo de representaçãoetnográfica corresponde a uma estratégiade construção da autoridade etnográficafundamentada essencialmente na relaçãoetnógrafo/nativo. Aí a dialogia está circuns-crita ao "encontro etnográfico' Entretanto,o modo de representação etnográfica de-senvolvido por Benedict e Mead explorafundamentalmente a relação etnografiafpúblico. O expediente "ficcional persuasi-vo"utilizado por elas, em seus textos etno-,gráficos o "modo dialógico" parece sedirecionar para o campo do leitor. Creioque os argumentos expostos na seção an-terior subsidiam essa hipótese, uma vezque a construção do "campo etnográfico"para essas antropólogas envolve um "pro-jeto pedagógico".

Benedict mereceu de Geertz (1997)uma leitura instigante e sofisticada. , De iní-cio, ele coloca a autora de Padrões deCultura e O Crisântemo e a Espada, aolado de Malinowski, Evans-Pritichard e Lévi-Strauss, como "fundadores de discur-sividade", isto é, "estudiosos que ai mismotiempo han firmado sus obras con ciertadeterminación y construido teatros deilenguaje en los que toda una serie de otros,de manera más o menos convincente,actúan aún, y sin duda alguna seguiránactuando durante algún tiempo" (GEERTZ:1997, p. 31). Parafraseando Barthes, Oeertzdistingue, nesses antropólogos, uma espé-cie de "autor-narrador", cuja característicaprincipal consiste no desejo de criar uma"sedutora estrutura verbal", paralelamenteao desejo de comunicar fatos e idéias,senão troca de informações.

A luz dessas considerações, Geertz le-vanta a hipótese de que o trabalho de

tuiluras ePenonalldadeC:As ExperiênciasEtaugráficas deRuffiBeq,edlcte

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Benedict mesmo não se apoiando no re-curso do trabalho de campo foi capaz deatingir um notável efeito persuasivo sobre acomunidade acadêmica em geral. Qual,então, a explicação para esses sucessosliterários? Segundo Geertz, Benedict con-seguiu desenvolver um eficiente "estilo lite-rário" de escrita etnográfica "expositivo alavez económico, seguro, lapidario, y sobretodo resoelto: pontos de vista bien defini-dos, expresados con clara definición"(GEERTZ: 1997, p117). Estilo claro, obje-tivo, econômico, com pontos de vista bemdefinidos, empurram suas descrições paraa composiçào de um quadro (como se fos-se uma pintura modernista cubista, na qualse apreendem as linhas ou traços fortes noemaranhado de cores e formas) na qual o"exagero" torna-se a marca dominante.Tanto em Padrões de Cultura quantoO Crisântemo e a Espada, a caracteriza-ção psicológica em termos «apolíneos" e"dionisíaco" quanto em termos metafóricosdo "crisântemo"e "espada"conferem o tomdesse exagero, assim como lhe emprestamuitos mal entendidos. Para Geertz, esseexagero consiste numa maneira "irônica"e"satírica", cujo modelo é fornecido por Swift,o escritor das "Viagens de Gulliver", no qualela acentua as diferenças culturais numjogo dialético entre o exótico e ofaniiliar,particular e universal, próximo e o distante.Assim, em oposição aos Zuhi, Dobu,Kwakiult, inclusive entre si, é que sevisualiza a especificidade de cada uma,assim como a cultura americana se clarifi-ca em oposição à japonesa- O contrasteentre culturas acentua as diferenças.

Nos dois livros em questão, Benedictcomeça falando desses "outros' e concluícom os americanos- Reside aí o que Geertzdenomina de estilo «autoindigenista" (selfnativization), pois ao fim e ao cabo dopercurso, o exótico torna-se mais familiare o familiar apresenta-se mais exótico; emoutras palavras, é onde se da'"Ia juxta-posición de !o perfectamente familiar y losalvajemente exótico, de forma que ambos

cambian de lugar"(GEERTZ:'1997, p. 115).Acentuando, exagerando os traços cultu-.rais do "outro", acentuamos a percepçãosobre nossos próprios exageros. Em ou-tras palavras, se Benedict satiriza o "outro"

• acentuando seus traços e exagerando-os,por sua vez, como contrapartida reflexiva,termina por "ironizar" o etnocentrismo• laamericano -

Salvo engano, a presença da "ironia"emBenedict confirma o "modo dialógico" derepresentação etnográfica. Chama a aten-ção nos dois livros o fato de a exposiçãoobjetiva e incisiva estar intercalada por di-versos questionamentos, perguntas. Comose, mediante as perguntas que faz, convi-dasse o leitor para dividir as dúvidas e, aomesmo tempo, exigindo-lhe uma tomadade posição. Esse "modo dialógico" semdúvida é mais explícito em Padrões deCultura. Como nos lembra Handier (1990)a partir da sua, "hermenêutica da culturacomparativa", Benedict estabelece umdiálogo com a sociedade americana par-tindo das culturas que estudou. A análisecomparativa torna-se um recurso funda-mental para Benedict.e Mead. Em todos ostrabalhos aqui analisados, além das com-parações entre os próprios grupos estuda-dos, o verdadeiro foco das comparaçõessão os Estados Unidos.

"'La ciencia ai serviciode Ia nación'" quelos tiempos parecían requeri?' ( p. 133), diráGeertz. Esses tempos de pós-depressão eguerra serão propícios para o aparecimen-to de obras comparativas como as deBenedict e Mead; mesmo porque, em con-sonância com os predicados da "ciênciahumanista", a antropologia deveria, servir ànação- Yans-MacLaughlin lembra que osantropólogos desse período estavam con-victos de que "allowing them to believe thatknowledge gained in simple primitivecultures then trans ferred to the home front,to compiex societies, even to lhe worldforum, couid solve human problems - anothat those on the. side of democracy,inluding themselves, would use it only in

CuItUras ePersonalidades:As ExperiênciasEesográticas deRutBenedie -Margaret Mead nosM. 20-40

Gume, Rhe

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positivo ways" (YANS-MAcLAUGHLIN:1986, p. 212). No entanto, é preciso dife-renciar as posturas de Benedict com as deMead, nesse processo, pois mesmo reco-nhecendo que Benedict tivesse se preocu-pado e atuado a serviço da nação nesseperíodo, o fato é que ela era profunda-mente cética com relação ao conheci-mento científico19.

Em Mead, a antropologia funcionacomo um legítimo "campo de poder e per-suasão". Fazendo eco à sua biografia,Grosskurth lembra que "Margaret Meadsempre foi dotada de notáveis poderes depersuasão' (GROSSKURTH: 1989, p. 18).Persuasão que marcaria modelagem desua persona de antropóloga, seu "campoetnográfico" e, sobretudo, sua "escritaetnográfica". Em sua biografia aparececomo um pessoa inteligente e sedutora,apesar da aparência física. Mas mesmo aí(segundo sua biografia) soube tirar vanta-gem de suas relações pessoais, atravésdos temas que discutia como Aspectosdo Presente ilustra, a ponto de tornar-seuma "adoração americana' Já na velhice,'Parecia que falava como um profeta, papeleste que achava particularmente gratifican-te. Os americanos gostavam dela por sergorda e feia; frequentemente diziam-lhe queela lembrava suas mães" (MEAD: 1982, p.73). Em seu 752 aniversário, foi capa doNew York limes com um anúncio de "FelizAniversário, Margaret Mead". No campo daetnografia, apresentou Samoa com resso-nâncias de uma Ilha paradisíaca" e semcomplexos, o que lhe valeu muitas críticas.Mas, do ponto de vista da retórica da escri-ta, é onde sua "ficção persuasiva" pareceatingir maior evidência através do "mododialógico" de representação etnográfica.

Uma vez mais, Macho e Fêmea, en-quanto um livro que condensa muito dostemas e problemas discutidos em seus livrosanteriores, apresenta de maneira signifi-cativa alguns dos pressupostos que orien-tam sua "ficção persuasiva". Se um textoapresenta uma forma de organização de

um certo tipo de pensamento social e, por-tanto, se a escrita é capaz de revelar umavisão de mundo, a própria maneira comoMead expõe sua concepção de "cultura" e"personalidade" em seus textos etno-gráficos confere uma certa estabilidade aoleitor. Em outras palavras, ao depositarênfase na determinação da cultura naconstituição das personalidades, ela suge-re a necessidade de "ordem" que fossecapaz de organizar e dar sentido às "anor-malidades" e às transformações culturaisamericanas. Na conclusão de Sexo eTemperamento ela discorre o seguinte:

"O atual desenvolvimento deste país[Estados Unidos] apresenta toda a insidi-osa ambigüidade da situação que encon-tramos ilustrada entre os caçadores decabeça Tchambuli onde o homem aindaé definido como o chefe da casa, embora amulher seja treinada para tomar essaposição com maior celeridade e seguran-ça. O resultado é um número crescentede homens americanos que se sentemno dever de gritara fim de manter suasposições vulneráveis, e um número cres-cente de mulheres arnericànas que seapegam infelizmente uma dominaçãoque sua sociedade lhes concedeu, semporém lhes dar uma carta de leis e re-gras segundo as quais elas possamrealizá-las sem danos para si seus espo-sos e filhos"(MEAD: 1976, p. 294).

Posteriormente, como que assumindoo luar de "direito" da mulher no mundocontemporâneo, estrategicamente ela pro-cura persuadir o leitor desse direito, umaespécie de "dom natural para sua contri-buição ao mundo enquanto mulher e an-tropóloga. No capítulo "CoS Escreve umAntropólogo", de Macho e Fêmea, ela jus-tifica: "Esse livro está sendo escrito do pon-to de vista de uma mulher de meia-idade,americana e antropóloga. Isto é parte daargumentação geral do livro: que as mu-lheres vêem o mundo de maneira diversado homem e, assim fazendo, ajudam a raçahumana a se verde maneira mais completa"

"Cultoras ePersa na tidsdes:As ExperiênciasEtnográfis deRuth Benediet e

Margaret Mead nosAnos 20-40

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(MEAD: 1971, p. 36). Só faltou dizer umamulher de meia-idade que, além de ameri-cana e antropóloga, é mãe. Aqui fica claroo seu ponto de vista, o lugar do qual estáfalando, o lugar de onde está falando,para quem está falando e qual o propósitode sua fala.

A escrita dos textos de Mead também éclara, objetiva, talvez menos económica•que a de Benedict, mas, a meu ver, por umarazão simples. Como se observa desde oseu primeiro livro, Mead está imbuída deum projeto pedagógico. Isso a leva a reali-zar uma exposição que além de fundamen-tada na sua "autoridade etnográfica"afinal,ela realiza trabalhos de campo em mais desete sociedades primitivas, exige umaimersão no universo cultural da sua pró-pria sociedade a fim de atingir uma maior"eficácia simbólica". E significativo que oprimeiro capítulo de Macho e Fêmea te-nha exatamente por título "O Significadodas Perguntas que Fazemos". Com isso elaprocura envolver o leitor para partilhar domesmo "campo de significação", mesmoporque ela justifica: "são perguntas queestão sendo feitas sob centenas de formasna América contemporânea" ( MEAD: 1971,p.123). Destarte, ela procura persuadir oleitor de que os seus pontos de vistaconvergem para o mesmo campo de inte-resses e que, portanto, estão partilhandode um mesmo tema, estabelecendo aqui-lo que os hermeneutas chamam de "fusão

de horizontes". Em outras palavras, de"modo dialógico », com base numa "estra-tégia de pergunta?, ela procura seduzir oleitor da importância de seu ponto de vista,isto é, o dela, mas persuadindo-o de que oseu ponto de vista é o ponto de vista dele.

O resultado principal dessa estratégiaconsiste num certo "populismo antropoló-gico"em torno dos significados das experi-ências culturais dos problemas e temascomuns à humanidade e, em particular, aohomem americano20 . Essa estratégia pa-rece satisfazer às exigências culturais deuma sociedade que, ao longo de todo otempo reclama da "autorealização" dosindivíduos, do desenvolvimento de perso-nalidades, da integridade do "self", emnome dos princípios de igualdade e liber-dade, e de escolha em uma sociedade quese quer democrática. Assim, os livros deBenedict e tvlead consistem em verdadei-ras lições de "ciência humanista", na medi-da em que defendem tanto a integridadedas culturas primitivas quanto o respeitopela diferença, pela autenticidade, pelaescolha e pelos valores da democracia.

Talvez agora ainda fique mais claro"o significado das perguntas que fazemos",diz o antropólogo: respondendo aos pro-blemas colocados pela sua própria socie-dade. Reside aí o valor para além do -cultumse

Peideológico, mas enquanto experiência hu-mana, das etnografias de Ruth BenedictA Marareth Mead MargaretMeadnos

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Notas

tulluiesePersonasdades':As Cxpe,iêndiasEtnográficas deRuiu Benedjct e

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Isso não invalida a interpretação meta-etnográficade Oliveira (1988), sobre o lugar de destaque ocu-pado pelo "paradigma cultura lista" norte-america-no junto às outras "escolas"que formam a matrizdisciplinar da antropologia.2 Estou tomando como exemplares alguns livrosdivulgados no Brasil, tais como: Mercier (s/d),Kluckhohn (1963), Kluckhohn et ai (1965), Hsu(1974), Linton, (1981), Micela (1984), Azcona(1992), Laburthe-Tolra&Warnier (1997), Cuche(1999).

De acordo com Stocking Jr (1996), a "etnografiaaØlínea"desenvolvida entre os anos 20-40, nosEstados Unidos, é exemplar dessas tentativas dedisciplinarização da antropologia. Muitos trabalhosprovocaram fortes reações na comunidade antro-pológica, por exemplo: Naven, de GregoryBateson nos anos 30, The City ot Women, deRuth Landes nos anos 40, Tristes Tropiques, deLévi-Strauss nos anos 50, e The Teaching ofDon Juan, de Carlos Castaheda nos ano 60.Antes de representarem "desvios" frente as con-vençõessdplinares, tomam-se indicadores do queCole (1994), parafraseando Clifford, chama de"experiência indiscipllnada"da etnografia.Enquanto narrativa, as etnografias comportam

uma estrutura. Para Brunei "narrative structuresserve as interpretativo guides; they tall us whatconstitute data, define topics for study, and placeaconstruction on lhe fieldsituation that trans formsis from lhe alien to lhe familiàr'(BRUNER: 1986,p. 147): Embora se refiram a realidades diferen-tes, creio ser possível buscar uma aproximaçãoda noção "estrutura nanatk"com a idéia de "es-tnitura pen'onnativa"proposta por Sahlins (1990).A compreensão desse sucesso explica-se, em

parte, pelo modo como elas construíram suas an-tropologias, mas é no movimento da crítica culturalvivido hoje pela antropologia social e cultural quedevemos situar esse exercício de "reflexividadehermenêutica" sobre suas etnografias. A "autore-1/ex/dada" promovida pela chamada "crise dosparadigma? não é exclusividade da antropolo-gia, mas muitos vêem aí o momento de "pós-modemidade"da disciplina. Controvérsias àpar-te, tendo em vista a proposta da "etnografia dopensamento", de Geertz (1997), essa investiga-ção toma como referência principal as "histórias"de George Stocking Jr (1996) e James Clifford

(1994; 1997; 1998) sobre a constituição da an-tropologia moderna.

dados relativos à Margaret Mead podemser encontrados em seu livro de memórias (1994)e nas biografias escritas por Grosskurth (1989) ePollard (1992). Quanto à Ruth Benedict estou mebaseando nos trabalhos Kardiner & Preble (1964)e, principalmente, Handier (1986; 1990). Sem pre-tender um resumo de suas vidas, chamo atençãopara o seguinte: Ruth Benedict teve uma vidamarcada por dilemas existenciais. Dedicou-se àliteratura sem sucesso e utilizou-se de pseudôni-mos ( "Stanhope" e "Anne Singleton') , fato esseque parece ilustrar um dos problemas centraiscolocados por Handler (1990) em sua análisesobre a "automodelagem do eu": a luta pelaautorealização e construção de uma personalida-de que só seria conquistada com a sua conversãona antropologia e através da escrita etnográfica.Por outro lado, Phyllis Grosskurth inicia a biografiade Margaret Mead salientando que: "MargaretMead era tão americana quanto uma toda de:maçã. Acreditava em know-how eficiente. Acre-ditava que o mundo podia ser transformado emum lugar melhor. Ela acreditava que havia res-postas para tudo - e que sabia muitas delas. Talsegurança inevitavelmente acabava por inspirartanto a adoração quanto frritõçã? (G ROSS-KURTH: 1989, p. 15). Essas considerações dãobem o tom da personalidade e trajetória biográficade Mead, se comparada à de Benedict.7 Parafraseando Bennet, Stocking Jr (1996) suge-re que a presença da poesia entre os "etnográfosapolíneos" possibilitou uma "predisposiçãometametodológica"para uma "integração lógico-estétiba"dos estudos etnográficos.1 Versão aqui utilizada, em espanhol, foi traduzidacomo El Hombre y La Cultura; antecipando ocaso de Mead, Adolescencia y Cultura en Samoaé a versão em espanhol de Coming of Age inSamoa; ver bibliografia.

O mesmo acontece em O Crisântemo e aEspada. Tendo que "abrir mão da mais impor-tanto técnica do antropólogo cultural: o trabalhode campo" (MEAD: 1972, p. 13), Benedictdeslocou a noção de campo para os numerososjaponeses residentes nos Estados Unidos, além deutilizar livros, filmes, entrevistas, etc, remodelandosua persona de antropólogo.

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lO Vale lembrar que a "dialogia" para Bakhtin(1992), pressupõe uma «atitude responsiva"do«ouüo"(receptor, leitor) da linguagem mesmo quan-do somente concorda ou discorda. Por sua vez, oprópriolocutor ou autor é um respondente, poisestá em diálogo com enunciados anteriores oucontemporâneos.

Antes da publicação de O Crisântemo e Espa-da, a metodologia de "estudo da cultura à dis-tância"já vinha sendo desenvolvida, e o resulta-do foi um livro editado por Mead e Rhoda Metrauxem 1953. Yans-MacLaughlin observa que:"belween me summerof 1941) andDece"nber 1941,Mead, Bateson, and their colleagues began todevelop methods for 'study of cultura aI a dis-tanceÇ based not sirnp/yon existing documents,buton interviewprocedures 'by whk± sophisticatedhuman scientists... interview their counterparts,both nationals and in other countries, who hadlong expetience with lhe peoples in whom we wereinlerested, initially Germans and Japanese..."(YANS-MAcLAUGHLIN: 1986, p. 196)."Em todos os três livros em análise, já nas primei-ras páginas Mead situa o método do trabalho decampo e sua importância para o mundo civilizado,a ponto de o antropólogo ter de sacrificar às vezesseus interesses pessoais em nome do conheci-mento científico. A esse respeito ver apresentaçãoda segunda parte de Sexo e Temperamento.13 Essa é uma das criticas dirigidas a Mead já noseu primeiro trabalho de campo, no caso, o estudoda adolescência na cultura samoana; mas, sobre-tudo, em relação a Sexo e Temperamento. VerStocki ng Jr (1996).14 Em Apêndice (II) do livro Macho e Fêmea, Meadfornece de modo detalhado sua concepção do papela ser desenvolvido por uma antropologia aplicada.IS Para Boon: "la identidad contemporânea delaprofesión de antropólogo se centra, yen miopinióncorrectamente, en ei trabajo de campo, idealyenacción. Esto no quiere decir que ia historia deladisciplina empiece con ei trabafo de campo niquetodos tos antropólogos tengan que hacerto, sinosolamente que ei trabafo de campo es ei epítomede loque hacen tos antropólogos cuando escriben»(4 Sf dela tarea dela antropologia es hacerque poblaciones exóticas aparezcan implícita-mente famillaresyquepoblaciones explicitamentefamiliares nos parezcan implícitamente exóticas.Si bien ambos tipos de pobiaciones se sientenantropológicamente'en ei campo', es en tos librosdonde se interpretan antropológicamente"(BOON: 1993, p. 24-25).

11 Segundo Handler, também essa era uma cren-ça de Benedict, isto é, "anthropoiogycouid teachpeopie to be 'cuiture-conscious that is, to avoidbelieving that 'local' culture Ira its are natural andinevitable"(HANDLER: 1986, p. 150). Através daeducação as pessoas poderiam se tomar maistolerantes com as diferenças culturais.

Benedict adverte, contudo, para os riscos dadescrição de uma cultura como se fosse desorgani-zada, em função da incapacidade do etnógrafo deapreendê-la em sua integração por "estar forade nossa expefléncia". Dai a necessidade de secompreender os significados das experiências cul-turais.IS Ironia, não no sentido de escárnio ou deboche,mas enquanto "modo de consciência histórica"(tomando emprestado uma idéia de HaydenWhite), para expressar uma visão crítica sobresua própria sociedade. Por exemplo, nas páginasfinais de O Crisântemo a Espada, após discur-sar sobre a presença americana no Japão noperíodo pós-guerra, ela diz: 'O que os Estados nãopodem fazer - o que nenhum país de fora pode-ria fazer - é criar por decreto um Japão livre edemocrático"(BENEDICT: 1972, p. 263). Por ou-tro lado, apesar de Geertz considerar o relatMsmocultural de Benedict mais um resultado do estiloretórico do que metodológico, penso que a ques-tão não está resolvida. E sabido que Benedictsofreu forte influência da filosofia alemã, conco-mitantemente, sua concepção humanista de cultu-ra era contrária à possibilidade de estabelecer leis"para a conduta humana. A queátão é: a partirdo cruzamento dessas posições não seria possí-vel tomar o recurso do exagero como uma saídametodológica à maneira do "tipo ideal"weberi-ano? Essa questão extrapola os limes desse texto.19 De certa forma, o "sucesso literário"de O Cri-sântemo e a Espada parece estar relacionado aessa postura espistemológica de Benedict. Do pontode vista "ressentido"de Mead, tal sucesso deve-se à relativa independência de Benedict aosmodelos teórico-metodológicos da psicologia,tornando o livro digerível aos leitores leigos e, poroutro lado, a sua relativa tomada de posiçãopolítica frente a cultura japonesa satisfazendo a"gregos"e '?roianos". Para Geertz esse ceticis-mo de Benedict não representa urna suposta"neutralidade política". Na verdade, o problemaé que, diz ele: "Meadse afana desesperadamen-te por evitar que ésta escape a el/a porque parecepresentiG ypresiente que otros presienten, cuánpoco confiadamente Benedict se apoya en e/la,

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cuán escasamente completa fiue de hecho suconversión a Ia antropologia redentora, y cuántádilmente Ia imagen dela etnogra ((a pára almi-rantes se diluye cuando uno mira lo que estáescrito en Ia página » (GEERTZ: 1997, p. 136).Um episódio que ilustra bem as disputas-pelo re-conhecimento público no campo etnográfico, masque também fornece uma pista para se penetrarna "ficção pers uasiva"de Mead.

20A idéia de "popu/ismo antropológico » não temaqui um sentido político pejorativo, ao contrário,procura dar conta do processo de popularizaçãoda antropologia. Algo semelhante aconteceu coma "Nova História"f rancesa nos anos 70, inclusi-ve, ganhando o espaço das mass media, ver: LeGoff et ai (1986). No Brasil, pode-se tomar comoexemplo o caso de Roberto DaMatta.

'Culturas ePersonalidades":As ExperticiasEbiográficasdeRuffiBeriedle

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