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DOI: 10.4025/reveducfis.v20i3.5414 R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 20, n. 3, p. 465-475, 3. trim. 2009 CLUBES SOCIAL-RECREATIVOS: LAZER, ASSOCIATIVISMO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL SOCIO-RECREATIONAL CLUBS: LEISURE, ASSOCIATIVISM AND PROFESSIONAL ACTIVITY André Henrique Chabaribery Capi * Nelson Carvalho Marcellino ** RESUMO Nosso objetivo é destacar a importância de um entendimento amplo da formação e atuação profissional setorial de lazer nos clubes social-recreativos. Apoiados nos autores consultados, colocamos aqui diversos indícios que apontam para a importância de uma formação e atuação profissional mais qualificadas, incluindo as dimensões técnicas, pedagógicas e políticas. Essa importância refere-se aqui ao clube, espaço privilegiado para a concretização do associativismo e como um componente do setor corporativo que pode fazer parte de políticas públicas de esporte e lazer. Palavras-chave: Lazer. Clubes social-recreativos. Formação e atuação profissional. * Professor Mestre do curso de Educação Física da Unip, Unimep, Uniara e membro do Grupo de pesquisas em Lazer (GPL). ** Professor Doutor do programa de Mestrado em Educação Física da Unimep, líder do Grupo de Pesquisas em Lazer (GPL) e pesquisador do CNPq. INTRODUÇÃO Mesmo com o avanço na elaboração de políticas públicas na área do lazer, verificamos serem poucas as investigações envolvendo as políticas setoriais de lazer desenvolvidas no setor corporativo (clubes social-recreativos, sistema “S” e associações de classe), uma vez que as discussões e ações disseminadas no meio acadêmico estão focadas em outros temas, como a relação entre lazer e trabalho, lazer e políticas públicas no setor estatal, lazer e educação, além de outros. Para Bresser Pereira e Grau (1998), a construção das políticas sociais envolve, além de setores informais - como a família -, quatro setores sociais formais, considerando as esferas e formas de propriedade relevantes no capitalismo contemporâneo. São eles: o setor público estatal (detém o poder de Estado e/ou é subordinado ao aparato do Estado); o público não-estatal (conhecido por “terceiro setor”, ou “setor não-governamental”, que se volta ao interesse público e não tem fins lucrativos, mesmo regido pelo direito privado); o corporativo (também sem fins lucrativos e orientado pelos interesses setoriais, de um grupo ou corporação, como, por exemplo, os sindicatos, associações clubísticas, sistema “S” e outros) e o privado, voltado ao lucro ou consumo privado. Entendemos que as pesquisas envolvendo as políticas setoriais no setor corporativo são relevantes, pois, em todo o Brasil há cerca de 13.800 instituições, denominadas clubes, que possuem sede própria, tendo em seu quadro associativo uma média de mil sócios titulares, com uma média de quatro dependentes por sócio titular. Com isso há cerca de 53 milhões de pessoas vinculadas aos clubes, quase um terço da população nacional, conforme aponta a CBC (Confederação Brasileira dos Clubes). Estes dados, aliados à estrutura dos clubes, que é composta por equipamentos esportivos (quadras, piscinas, salas de jogos, etc.), programações com atividades físico-esportivas e eventos sociais (festas, shows, bailes), além da possibilidade de maior segurança aos seus frequentadores, numa sociedade como a

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  • DOI: 10.4025/reveducfis.v20i3.5414

    R. da Educao Fsica/UEM Maring, v. 20, n. 3, p. 465-475, 3. trim. 2009

    CLUBES SOCIAL-RECREATIVOS: LAZER, ASSOCIATIVISMO E ATUAO PROFISSIONAL

    SOCIO-RECREATIONAL CLUBS: LEISURE, ASSOCIATIVISM AND PROFESSIONAL ACTIVITY

    Andr Henrique Chabaribery Capi Nelson Carvalho Marcellino**

    RESUMO Nosso objetivo destacar a importncia de um entendimento amplo da formao e atuao profissional setorial de lazer nos clubes social-recreativos. Apoiados nos autores consultados, colocamos aqui diversos indcios que apontam para a importncia de uma formao e atuao profissional mais qualificadas, incluindo as dimenses tcnicas, pedaggicas e polticas. Essa importncia refere-se aqui ao clube, espao privilegiado para a concretizao do associativismo e como um componente do setor corporativo que pode fazer parte de polticas pblicas de esporte e lazer. Palavras-chave: Lazer. Clubes social-recreativos. Formao e atuao profissional.

    Professor Mestre do curso de Educao Fsica da Unip, Unimep, Uniara e membro do Grupo de pesquisas em Lazer

    (GPL). **

    Professor Doutor do programa de Mestrado em Educao Fsica da Unimep, lder do Grupo de Pesquisas em Lazer (GPL) e pesquisador do CNPq.

    INTRODUO

    Mesmo com o avano na elaborao de polticas pblicas na rea do lazer, verificamos serem poucas as investigaes envolvendo as polticas setoriais de lazer desenvolvidas no setor corporativo (clubes social-recreativos, sistema S e associaes de classe), uma vez que as discusses e aes disseminadas no meio acadmico esto focadas em outros temas, como a relao entre lazer e trabalho, lazer e polticas pblicas no setor estatal, lazer e educao, alm de outros.

    Para Bresser Pereira e Grau (1998), a construo das polticas sociais envolve, alm de setores informais - como a famlia -, quatro setores sociais formais, considerando as esferas e formas de propriedade relevantes no capitalismo contemporneo. So eles: o setor pblico estatal (detm o poder de Estado e/ou subordinado ao aparato do Estado); o pblico no-estatal (conhecido por terceiro setor, ou setor no-governamental, que se volta ao interesse pblico e no tem fins lucrativos, mesmo regido pelo direito privado); o

    corporativo (tambm sem fins lucrativos e orientado pelos interesses setoriais, de um grupo ou corporao, como, por exemplo, os sindicatos, associaes clubsticas, sistema S e outros) e o privado, voltado ao lucro ou consumo privado.

    Entendemos que as pesquisas envolvendo as polticas setoriais no setor corporativo so relevantes, pois, em todo o Brasil h cerca de 13.800 instituies, denominadas clubes, que possuem sede prpria, tendo em seu quadro associativo uma mdia de mil scios titulares, com uma mdia de quatro dependentes por scio titular. Com isso h cerca de 53 milhes de pessoas vinculadas aos clubes, quase um tero da populao nacional, conforme aponta a CBC (Confederao Brasileira dos Clubes). Estes dados, aliados estrutura dos clubes, que composta por equipamentos esportivos (quadras, piscinas, salas de jogos, etc.), programaes com atividades fsico-esportivas e eventos sociais (festas, shows, bailes), alm da possibilidade de maior segurana aos seus frequentadores, numa sociedade como a

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    brasileira, assustada com questes referentes segurana, so relevantes para ampliarmos os estudos do lazer disseminados nesses espaos (CONFEDERAO BRASILEIRA DOS CLUBES, 2005).

    Para entendermos a poltica a ser disseminada junto a este setor fundamental relacionarmos os estudos aos vrios componentes que integram essa poltica, como atuao profissional, animao sociocultural, ao comunitria e o associativismo, no nos restringindo ao componente construo de equipamento, pois nessa perspectiva contemplado somente um dos segmentos que compem uma poltica pblica de lazer. Ampliando os estudos possvel a disseminao de propostas que promovam um lazer para alm do descanso e da diverso e em que seja possvel o desenvolvimento pessoal e social.

    Nessa perspectiva este estudo pretende contribuir com a discusso da formao e atuao profissional, um dos eixos que julgamos mais importantes para que os clubes vivenciem intensamente o associativismo, atravs do lazer, e participem de uma poltica pblica mais abrangente que a poltica pblica estatal, no setor.

    CLUBES SOCIAL-RECREATIVOS: RELAES SOCIAIS, ESPORTE E LAZER

    Na literatura encontramos algumas possibilidades de classificar os clubes, levando em conta os aspectos socioeconmicos, estatutrios e estruturais. Mezzadri (1999) classificou os clubes em quatro categorias, a partir dos seus aspectos socioeconmicos: 1- entidades culturais e polticas: so os clubes frequentados por pessoas que possuem o mesmo posicionamento poltico; 2- entidade de status: aqueles cujos integrantes so de alto poder aquisitivo e que so frequentados somente por pessoas da elite; 3- clubes tradicionais: espaos onde o pblico, na sua maioria constitudo de imigrantes, mantm as tradies de seus pases de origem; e 4- clubes beneficentes operrios: entidades criadas para auxiliar nas dificuldades dos operrios (classe que estava em processo de consolidao). Partindo dessa premissa, o autor entende que qualquer comunidade formada por diferentes grupos sociais e econmicos e,

    consequentemente, as particularidades de tais grupos influenciam a configurao dessa instituio. Para o autor, a atividade esportiva um meio para a conquista desta participao mais ativa no desenvolvimento da sociedade, desde que sua ao no se limite a prticas esportivas.

    Nos documentos oficiais (estatutos) os clubes so concebidos como associaes ou sociedades civis sem fins lucrativos que so regidos pelas leis do Pas, alm de possurem uma constituio jurdica prpria, representada pelo seu estatuto, cuja funo apresentar aos associados suas normas e regulamentos internos. Os recursos econmicos para a gesto dos clubes advm da mensalidade disponibilizada por cada scio titular de um ttulo, alm de arrecadaes oriundas de eventos/atividades de carter esportivo, scial e cultural realizados para scios e terceiros, conforme previsto no estatuto dos respectivos clubes. Estes recursos so administrados por um grupo de scios escolhidos pelos prprios associados, por intermdio de uma assembleia geral, que define a diretoria executiva, o conselho deliberativo e o conselho fiscal a partir das normas estatutrias de cada associao. A diretoria tem a funo de colocar em funcionamento as normas previstas no estatuto, nos regulamentos internos e demais resolues. O conselho deliberativo um rgo soberano nas associaes, uma vez que sua funo orientar e aprovar as resolues da diretoria. J ao conselho fiscal compete acompanhar e fiscalizar a gesto financeira da entidade (CAPI, 2006).

    Estruturalmente, os clubes so concebidos como espaos e equipamentos especficos de lazer, pois foram projetados especificamente para o seu desenvolvimento. Dentro desta classificao eles ainda podem ser considerados como equipamento microvalente, macrovalente, polivalente ou convencional, de lazer (REQUIXA, 1980).

    Historicamente, o surgimento dos clubes sociais esportivos se estabeleceu nos centros urbanos em perodos diferentes nos estados e cidades do Brasil. Para analisarmos a prtica fsico-esportiva desenvolvida nessas instituies necessrio resguardarmos os objetivos e as configuraes existentes no seu interior (MEZZADRI, 1999). Para Pina (1995, p. 121),

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    os clubes tiveram origem "no final do sculo passado e hoje eles esto implantados em grande parte dos municpios brasileiros". Segundo Carvalho (1977), os clubes esportivos so vistos como uma clula social de grande importncia comunitria em que os aspectos fundamentais da cultura podem tomar corpo. Nesse espao o cidado pode encontrar soluo para a necessidade humana de estabelecer relaes enriquecedoras com outros indivduos (CARVALHO, 1977, p. 32). Outro aspecto importante anunciado por esse autor est relacionado ao fato de o clube esportivo ser a nica entidade a possuir um ncleo voluntrio que permite comunidade vida coletiva com caractersticas que englobam lazer, cultura e sociedade, a partir de uma viso integrada.

    O CLUBE COMO ESPAO PRIVILEGIADO PARA A CONCRETIZAO DO

    ASSOCIATIVISMO

    Historicamente, o associativismo se difundiu no Brasil por intermdio da Igreja no perodo colonial, meados do sculo XV, quando o pas passava por um quadro organizacional catico, motivado pelas fortes restries a qualquer processo de desenvolvimento de comunidade. Para Barreto (1987, p 46),

    a criao das primeiras Irmandades Religiosas e Ordem Terceiras alm das Santas Casas, provocou os primeiros estmulos e condies de participao ativa da populao numa iniciativa prpria comunitria.

    Oliveira (1981) anuncia que h quase um consenso na literatura das Cincias Sociais a respeito da baixa ressonncia do associativismo entre os brasileiros. Para o autor, o brasileiro um ser com baixo ndice de associativismo, sendo por isso mesmo, insignificante sua participao em organizaes comunitrias (OLIVEIRA, 1981, p. 1). Essa caracterizao do no-associativismo est relacionada limitada viso de participao da populao, que a restringe participao em associaes (sindicatos, sociedades de bairro, clubes de mes, clubes esportivos, etc.). A partir dessa premissa, o autor anuncia que, alm da

    participao em associaes, as pessoas podem encontrar outras formas de participao associativa. Uma primeira opo seria a

    participao atravs das relaes interpessoais nas quais as pessoas necessariamente se conhecem e travam contatos frente a frente: manifestam-se principalmente nos contatos entre amigos, parentes, vizinhos, colegas, etc. (OLIVEIRA, 1981, p. 2-3).

    A segunda forma concebida tambm por meio das relaes interpessoais manifestadas como grupos, em que o relacionamento ainda ocorre entre conhecidos; entretanto h uma escala mais ampliada, em que a ocorrncia se d normalmente em festas, reunies, bailes, churrascadas, etc. A outra possibilidade acontece numa escala de abrangncia ainda maior, visto que a participao, alm de incluir as caractersticas das formas anteriores, manifesta-se por meio da participao em associaes ou clubes. Nessa perspectiva, trata-se de um aglomerado de pessoas com dimenses ampliadas, em que nem todos se conhecem, estabelecendo-se canais indiretos de participao (OLIVEIRA, 1981).

    Em outros estudos, encontramos evidncias semelhantes s anunciadas, uma vez que os clubes esportivos e recreativos so vistos como instituies que proporcionam lazer s populaes capazes de se manifestar nas diversas camadas sociais, por meio do associativismo. Em um de seus estudos, Marcellino (1999b) tambm identifica os clubes nessa perspectiva, denominando-os de formas de associao voluntria.

    Uma associao nasce numa determinada sociedade a partir da necessidade do ser humano de se agrupar, pois h na sociedade uma carncia no satisfeita e que preciso satisfazer (BARRETO, 1987). O associativismo entendido por Barreto (1987, p. 49) como um mecanismo democrtico que conduz o ser humano conscincia de suas vinculaes com a comunidade, tornando-o capaz de se auto-ajudar e, tambm, ensinando-o no s a trabalhar para os outros, mas com os outros.

    A sobrevivncia do associativismo depende do trabalho organizado, que deve ter estruturas prontas para serem funcionais; porm tais

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    estruturas no devem ser permanentes nem acabadas, para no se transformarem numa organizao (BARRETO, 1987).

    Para poder ser concebida como um espao que promove o associativismo, uma associao ou clube precisa manifestar alguns aspectos, como, por exemplo, o estabelecimento de relaes primrias e secundrias entre as pessoas envolvidas na comunidade, propiciando a elas amplas oportunidades de efetiva participao.

    H duas pesquisas realizadas por Marcellino (1999b, 2003) sobre associaes: uma de corredores e outra de futebol, em que o autor encontrou aspectos ligados ao associativismo. No entanto, durante suas trajetrias esses grupos sempre atuavam voltados para si mesmos, e embora tivessem importncia para as comunidades onde estavam integrados, nunca atuaram como grupos de presso junto aos rgos responsveis pela fixao e gesto de polticas pblicas na rea do lazer. Todo grupo organizado - clubes, associaes, sindicatos, partidos polticos, grupos tnicos, feministas, etc. pode contribuir para minimizar a defasagem entre as aspiraes (o querer) diretamente relacionadas aos interesses fsicos e aos demais contedos culturais do lazer, e a sua efetiva vivncia (o fazer) no lazer das pessoas, integrando polticas pblicas abrangentes (MARCELLINO, 1999a).

    A atuao do animador sociocultural como facilitador da relao lazer/ associativismo nos clubes

    A existncia de um profissional atuando no clube como intermedirio entre os associados e os contedos culturais do lazer - o animador sociocultural - deveria contribuir para facilitar a relao lazer/associativismo nos clubes, mas a anlise de situao demonstra que h muito a ser feito.

    O LAZER COMO CAMPO DE ATUAO MULTIPROFISSIONAL

    A insero no mercado de trabalho no campo do lazer pode ocorrer em trs setores, conforme referem Stoppa e Isayama (2001): no setor pblico (entendido nesse estudo como estatal) em que se verifica a contratao de profissionais objetivando o desenvolvimento de

    projetos e aes no mbito do lazer direcionadas para toda a populao local, sem distino de gnero, raa, classe social ou econmica; espaos como os clubes (setor corporativo), acampamentos, hotis, academias de ginstica e parques temticos (setor privado), que tambm so possibilidades de atuao para o profissional do lazer; e o terceiro setor, representado pelas associaes de bairro, classes ou sindicatos, organizaes no governamentais (ONGs) e cooperativas. Aps analisarem as mltiplas experincias que integram esses setores (pblico, pblico no-governamental e privado), os autores denunciam a falta de aes comprometidas, pautadas em relaes mais justas e com mais empenho.

    fundamental que as associaes, os clubes e outras instituies afins desenvolvam projetos no campo do lazer e tenham seus objetivos fixados numa Poltica de Lazer e o seu quadro de pessoal seja formado e desenvolvido, tcnica e politicamente, de acordo com seus princpios e estratgias. Destarte, uma poltica de lazer no pode ficar restrita ao desenvolvimento de atividades (poltica de animao), nem construo e manuteno de equipamentos, mas deve contemplar tambm a formao e desenvolvimento de pessoal.

    Diferentemente de instituies corporativas, como o Sesc e o Sesi, a maioria dos clubes no possui uma poltica de lazer com diretrizes para o recrutamento, formao e desenvolvimento de pessoal. A carncia no setor de recursos humanos imensa e, isso se torna evidente quando nos deparamos com a diversidade de categorias funcionais existentes numa mesma instituio. Os profissionais que atuam no campo do lazer podem exercer diversas funes, nas quais cada um possui uma especificidade envolvendo uma diversidade de domnios, fundamentos, competncias e habilidades (CAPI, 2006).

    Especificamente nos clubes, os professores de educao fsica e os profissionais de reas afins - como o turismo, a pedagogia e a dana - possuem uma classificao diversificada: professor de esportes (natao, tnis, jud, futsal, vlei, basquete, handebol), atividades fsicas (musculao, ginstica, yoga), dana (ax, forr, samba), entre outras funes (monitor, recreacionista, tio, no caso das

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    colnias de frias e acantonamentos). Essa diversidade de opes de atuao dentro dos clubes demonstra que o processo de seleo para a contratao do profissional deve acontecer a partir de critrios especficos, sem interferncia poltica advinda da diretoria. Essa interferncia pode ocorrer diretamente por intermdio de indicaes de pessoas que de alguma forma contribuam nas atividades desenvolvidas dentro do clube. Nessa perspectiva o profissional responsvel pela gesto do lazer atua de maneira restrita, em desarmonia com as diretrizes bsicas, que possam contribuir com o desenvolvimento de uma proposta consistente e de qualidade.

    Mesmo com um longo tempo de atuao no mercado, a realidade do profissional de lazer ainda pouco reconhecida. Algumas peculiaridades da nossa atuao e

    as inmeras interfaces e inter-relaes do lazer com os diferentes fenmenos sociais, contribuem para uma disperso dos profissionais associando-os diretamente ao tipo de organizao em que atuam e no ao tipo de tarefa que exercem (PINA, 1995, p. 119).

    Nessa perspectiva, a qualificao do quadro de pessoal que atua no campo do lazer, independentemente do tipo de equipamento (tipologia, dimenses, capacidade, composio das instalaes), torna-se ponto fundamental para a qualidade dos servios prestados nessa rea. Outro aspecto est relacionado aos processos de gesto agregados administrao, programao, animao e manuteno adotados por esses espaos (PINA, 1995).

    A implantao de um sistema organizacional no lazer, como ocorre em outras reas, um primeiro passo para estruturarmos a animao nos espaos de lazer. Para Pina (1995), esse processo se inicia com a criao de um quadro de referncias, apresentando um plano de cargos e funes que estejam devidamente relacionados com os processos de atuao no lazer. O autor classifica os profissionais (demonstrativo abaixo) de acordo com a sua formao (escolar) e experincia (profissional ou voluntria na rea do lazer).

    FUNO CARGOS Gesto e consultoria Gerentes, encarregados de setor,

    consultores, dirigentes pblicos e privados etc.

    Profissional polivalente Programadores, animadores.

    Profissionais especializados Monitores de atividades, recreadores, pessoal de alimentao, etc.

    Voluntrios Participantes nas atividades que colaboram voluntariamente em sua organizao e realizao

    Quadro 1 - Classificao dos profissionais. Fonte: Pina (1995, p. 126).

    Para atuar profissionalmente na rea do lazer, independentemente da funo a ser exercida, Pina (1995, p. 127-8) coloca que esse profissional necessita da combinao de algumas caractersticas: (a) Formao; b) informao; c) comportamento e atitude; d) atualizao; e) imaginao e intuio; f) criatividade; g) cooperativismo; h) dedicao; i) comunicao; j) autoformao permanente".

    Especificamente nos clubes, encontramos algumas barreiras a serem superadas, uma das quais a m formao do profissional de Educao Fsica que atua no campo do lazer. Isso fica evidente quando notamos no cotidiano a falta de capacidade tcnica dos gestores, o no-aperfeioamento e a no-atualizao dos profissionais, a falta de elaborao de programas com base na participao popular local, o no-acompanhamento das aes, etc. (CAPI, 2006).

    Para Maia, os profissionais envolvidos com as atividades de esportes e lazer necessitam de:

    [...] uma slida formao cultural, social e poltica com uma atuao pautada numa viso ampla de aspectos que esto subjacentes sua interveno, como o dilema existente entre a massificao da cultura, pautada na indstria cultural, com sua lgica do consumismo, do modismo, do individualismo e do status, to em voga na vivncia do lazer em nossa sociedade, e o entendimento da difuso e da criao culturais, balizado na identidade cultural como ancora de um saber-fazer que considere e respeite a produo prpria de cada segmento social e comunitrio (MAIA, 2003, p. 94).

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    Os espaos de lazer devem exigir dos seus profissionais uma atuao que esteja em constante transformao, pois o papel desse profissional como educador construir uma poltica de lazer que efetivamente democratize e socialize os bens culturais da humanidade, independentemente de classe social, raa e religio; tendo como princpios bsicos cultura e uma vigilante reflexo do dilema do lazer como mercadoria, produto da indstria cultural (MAIA, 2003, p. 99).

    O profissional de educao fsica que atua no campo do lazer pode desempenhar uma diversidade de funes. A administrao, a organizao, a coordenao, o planejamento e a execuo de vivncias so algumas das possibilidades. Isayama (2003, p. 62) aponta que os conhecimentos especficos sobre o lazer ou relacionados a ele, tais como a recreao, o ldico, o prazer, etc. so elementos fundamentais na interveno desses profissionais.

    Em relao s possibilidades de interveno que contribuam na atuao do profissional que trabalha com o lazer, o autor cita que a promoo da sua capacitao deve ocorrer:

    [...] por meio da construo de saberes e competncias referentes ao lazer os quais devem estar relacionados ao comprometimento com os valores alicerados em uma sociedade democrtica; compreenso de nosso papel social na educao para o lazer; ao domnio dos contedos que devem ser socializados, a partir do entendimento de seus significados em diferentes contextos e articulaes interdisciplinares; e, por fim, ao conhecimento de processos de investigao que auxiliem no aperfeioamento da prtica pedaggica e ao gerenciamento do prprio desenvolvimento de aes educativas ldicas (ISAYAMA, 2003, p. 63).

    Nessa perspectiva, devemos proporcionar ao profissional uma viso mais ampliada do seu contexto sociocultural, contribuindo para que as pessoas envolvidas nas atividades tenham mais criticidade quanto ordem vigente, superando, assim, a perspectiva tradicional de lazer, que se caracteriza por contribuir e reforar os

    valores da ideologia dominante, levando os profissionais a desenvolverem prticas tradicionais que no possibilitam envolvimentos crticos, criativos e conscientes dos participantes (ISAYAMA, 2003).

    Ento entendemos que a animao sociocultural, concebida como a metodologia que permite a estreita unificao entre o desenvolvimento social (obteno de nveis mais elevados de bem-estar social) e o desenvolvimento cultural (nica forma de o ser humano se situar lucidamente no mundo e a construir a via que lhe prpria), um caminho a ser conquistado pelos profissionais do lazer (CARVALHO, 1977).

    ATUAO DO ANIMADOR SOCIOCULTURAL

    A busca de uma definio que mostre todas as possibilidades existentes no campo da animao anunciada como animao-integrao e animao-contribuio. A primeira traduz um sentido passivo (estado do ser humano que recebe uma ao exterior), e a , um sentido ativo, que anima esse ser, mobilizando-o na perspectiva de encontrar um caminho, uma via de afirmao perante a sua realidade. Para Carvalho (1977, p. 149)

    [...] a animao dever, antes de tudo definir-se como a ao, espontnea e/ ou provocada, que permitir ao indivduo assumir o seu prprio desenvolvimento, o que pressupe uma profunda tomada de conscincia, por parte do animador, do significado da cultura e das necessidades do cidado e do grupo em que atua.

    A animao sociocultural pode permitir uma interveno profunda nos grupos sociais utilizando os princpios desta ao e buscando o desenvolvimento social e cultural dos seres humanos. Carvalho afirma que a conquista desse desenvolvimento concebida por meio de outros objetivos que visam a:

    - uma maior compreenso das pessoas em relao a si prprias e ao mundo que as cerca, de modo a poderem apreender, com maior clareza e

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    profundidade, os problemas que dizem respeito sua profisso, aos indivduos que os cercam, famlia, etc.; - uma maior compreenso da sociedade em que o indivduo se encontra, nica forma de poder participar mais empenhadamente e atuar mais intensamente na pesquisa das solues, sempre renovadas, dos problemas da sua comunidade; - uma mais extensa preparao para receber e ser capaz de se afirmar frente s constantes alteraes provocadas na sociedade pelo progresso cientfico e tcnico, o que o levar a ter que se pensar constantemente as coordenadas que definem o comportamento do individuo (CARVALHO, 1977, p. 150).

    A superao da ao tradicional no campo do lazer deve acontecer na perspectiva da animao sociocultural, anunciada inicialmente por Carvalho (1977). Ao seguir esse caminho a ao profissional poder buscar subsdios que fundamentem uma ao mais abrangente e transformadora, visto que a animao sociocultural, assim, busca se alicerar na vontade social e no compromisso poltico-pedaggico de promover mudanas no plano cultural e social (STOPPA; ISAYAMA, 2001, p. 94). Para alcanarmos uma atuao arraigada nas caractersticas da animao sociocultural,

    [...] imprescindvel realizar estudos aprofundados sobre as relaes mais amplas que so engendradas nas vivencias de lazer, o que pode levar a maior compreenso do nosso cotidiano, considerando os diferentes pontos de vista, interesses e conhecimentos que engloba. Nesse caso, a ao/ reflexo/ ao um encaminhamento fundamental, e o profissional deve tornar-se um pesquisador de sua prtica, reforando o compromisso com o avano do conhecimento e com a compreenso da realidade, promovendo uma interao entre teoria e prtica (STOPPA; ISAYAMA, 2001, p. 96).

    Outros aspectos - como o trabalho de interao e de troca de informaes entre as pessoas e os grupos que proporcionam a abertura de novos canais de comunicao, a

    conscientizao das pessoas a respeito do individual e do coletivo, a elaborao das aes concretas a partir da opinio de todo o grupo, a reflexo sobre a necessidade da autntica participao de todos os sujeitos no processo de emancipao - tambm so essenciais para uma atuao na perspectiva da animao sociocultural (CARVALHO, 1977). Para que esses elementos se tornem evidentes na atuao do profissional, a sua manifestao deve ocorrer a partir de quatro noes bsicas que so propostas pelo autor: facilitao, clarificao, catalisao e promoo:

    Facilitao: em que centrar a sua ateno especialmente sobre a rede de comunicaes elaborada pelo grupo, procurando abrir sempre novos e mais profundos canais de comunicao; Clarificao: procurando esclarecer o grupo e cada um de seus elementos sobre o significado do comportamento individual e coletivo; Catalisao: suscitando um movimento de constante procura do grupo no sentido de este poder elaborar, por si prprio, as formas concretas de ao para que est, no momento, motivado; Promoo: como resultado de toda a ao definida anteriormente, poder-se- elaborar uma autntica via participativa de todos os elementos do grupo, nica forma, parece-nos, de construir uma autntica via emancipadora (CARVALHO, 1977, p. 155-156).

    O PROFISSIONAL DE EDUCAO FSICA COMO ANIMADOR SOCIOCULTURAL

    O professor de educao fsica visto por Carvalho (1977) como animador, uma vez que os profissionais dessa rea so capazes de promover o desporto para os jovens e adolescentes. Outro anncio apontado pelo autor nos anos 70 que podemos evidenciar na atualidade refere-se capacidade desse profissional para intervir como animador, tambm com as crianas, com os adultos e com as pessoas mais velhas.

    Alm de se manifestar com essas caractersticas, a animao uma ao educativa que pode e deve ser includa no processo

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    educativo, tanto das crianas quanto dos jovens, adultos e idosos. Essa possibilidade se tornar realidade quando os profissionais do lazer ajustarem seus objetivos a partir de uma ao mobilizadora de conscincias, proporcionando sentido e justificao existncia do ser humano (CARVALHO, 1977).

    Segundo Carvalho, a animao como processo educativo:

    [...] pretende, acima de tudo, provocar alteraes concretas na forma de vida dos indivduos atravs da sua adeso a atividades prprias, procurando, finalmente, alteraes estruturais, nica forma de realizar, no plano real, uma autntica ideologia da transformao social e do desenvolvimento (CARVALHO, 1977, p. 147).

    A animao promovida como educao informal, no tempo disponvel das pessoas, tem o carter recuperativo da sua formao, podendo esta ser realizada numa instituio que esteja ligada ou no ao tempo disponvel, desde que se respeitem as caractersticas bsicas das atividades desenvolvidas nesse tempo. Enfim, a animao deve ser concedida s pessoas a partir do instante em que a adeso livre e espontnea do indivduo, liberdade de escolha do comportamento a adotar, respeito pelas suas caractersticas e aceitao dos seus pontos de vista se tornem pontos essenciais nas vivncias (CARVALHO, 1977, p. 148).

    relevante conscientizar o profissional de educao fsica sobre sua atuao, pois sua prtica ocorre numa rea em que o direito de escolha est implcito nas aes dos envolvidos que participam das atividades fsicas e esportivas oferecidas pelo clube. A necessidade de reflexo deste profissional precisa ser abrangente e, para isso, o aprimoramento da escuta fundamental. Para Stigger (2003, p. 117), o exerccio da escuta no se resume a responder as demandas da populao local, mas, sim, constitu-se numa poltica realizada com a participao da populao, que se estabelece na democratizao do poder decisrio. O autor ainda afirma:

    Desenvolver uma poltica de lazer e esportes nessa perspectiva significa, mais do que oferecer servios

    populao, criar condies para a promoo do debate e da reflexo sobre essas mesmas polticas, no sentido de construo de um projeto coletivo, em que as escolhas aconteam democraticamente, de forma qualificada e consciente (STIGGER, 2003, p. 117).

    O profissional do lazer, ao compreender a escolha e a escuta como instrumentos fundamentais para sua atuao, possibilita a democratizao e coloca-se em jogo com a populao local, promovendo uma escolha pedaggica que identifique o espao de lazer como um espao pedaggico e o profissional como um educador (STIGGER, 2003).

    A animao nos espaos de lazer, em qualquer setor, manifesta-se por meio da interveno dos profissionais de diversas reas; entretanto fundamental a participao do voluntariado, pessoas da comunidade geralmente identificadas como os lderes e capazes de apontar as dificuldades ou problemas do seu grupo de interesse. Uma das funes do voluntariado contribuir com a sua capacidade de sensibilizar, mobilizar e coordenar os demais integrantes, despertando e ampliando neles a conscincia das dificuldades do grupo, predispondo-os para uma ao que vise ao encaminhamento de soluo dos problemas ou realizao de aspiraes relacionadas com a comunidade (REQUIXA, 1973).

    Vrios autores anunciam que se faz necessria a presena do voluntariado em qualquer setor em que o lazer seja desenvolvido. Para Paiva, o trabalho voluntrio deve ser entendido

    [...] como uma responsabilidade de cada pessoa que independe de sua classe social e ganha a dimenso de uma ao que deve ser inerente a todo cidado que juntamente com os demais membros da sua comunidade, seja ela qual for, envidar esforos para superar os problemas vividos e alcanar seus anseios (PAIVA, 2003, p. 159).

    No lazer, o voluntariado no diminuir o campo de atuao do profissional, nem ser visto como uma alternativa de mo-de-obra barata, desde que ele seja devidamente

  • Clubes social-recreativos: lazer, associativismo e atuao profissional 473

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    capacitado nos aspectos especficos e gerais de uma poltica de esporte e lazer tornando-se pea fundamental para a implementao de programas que superam a tradicional prtica na rea, marcada pelo distanciamento entre as aes desenvolvidas e a cultura local (PAIVA, 2003, p. 165).

    A propsito, para democratizarmos as atividades nos clubes fundamental a participao voluntria dos associados, visto que por meio da contribuio da comunidade local os profissionais tero contato com as experincias j vivenciadas por eles nesse ambiente, e com isso haver respeito pela realidade cultural de cada um, a fim de evitar a imposio das ditas atividades melhores, na viso dos tcnicos (PAIVA, 2003, p. 164).

    Segundo Paiva (2003), esses aspectos no diminuem o campo de atuao do profissional e muito menos concedem o direito dele de

    [...] abrir mo do seu papel de educador, ao contrrio, a ao educativa ser o cerne de sua atuao, porm, sempre buscando respeitar a realidade cultural de cada comunidade, fazendo com que essa realidade seja base de seu trabalho, que visar elevao dos nveis de participao dos sujeitos envolvidos, dos conformistas at os crtico-criativos (PAIVA, 2003, p. 164).

    Na busca por despertar nos profissionais uma atuao consciente, pois seu papel vai alm da reproduo de movimentos ou apenas transmisso de informao, necessria uma compreenso mais ampla das questes relativas ao lazer e de seu significado para o ser humano, visto que na sociedade contempornea a manifestao do lazer colocada como reivindicao social cada vez mais exigente (MARCELLINO, 1995).

    A superao dos problemas apresentados na atuao dos profissionais especialistas ter uma interveno mais consistente quando sua ao ocorrer em equipes multi, pluri ou interdisciplinares. Para Marcellino (1995), isso no significa a busca da unidade do conhecimento sobre a realidade social, e sim, a importncia do envolvimento entre os diversos domnios existentes dentro da prpria educao fsica e entre as demais reas.

    Nesse sentido, Marcellino lembra que para superarmos tais problemas fundamental a formao de

    [...] um novo especialista, no o especialista tradicional superficial e unidimensional mas o que domine a sua especialidade dentro de uma viso de totalidade. E para contemplar essa viso so exigidos, pelo menos, dois requisitos: uma slida cultura geral que permita perceber os pontos de interseo entre a problemtica do lazer e as demais dimenses da ao humana e a contribuio de outras reas de ao/ investigao e o exerccio constante da reflexo (MARCELLINO, 1995, p. 20).

    O profissional de educao fsica que atua nos clubes um dos principais elos entre as pessoas que frequentam esse espao e os diretores responsveis por sua administrao. Dessa forma, trs elementos se tornam essenciais para uma atuao profissional comprometida e digna: seriedade, competncia e compromisso poltico. Esses aspectos tm a funo de possibilitar maior credibilidade ao profissional, tornando-o mais respeitado.

    A capacitao adequada do profissional de educao fsica no campo do lazer possibilita que sua atuao seja ativa na elaborao das programaes, tornando-o um componente fundamental para a equipe de planejamento. Dependendo do nvel da sua capacitao e de seu conhecimento profissional, suas aes acabam extrapolando sua rea de interveno e passam a atingir os demais aspectos que envolvem o lazer (MARCELLINO, 2001).

    Para o profissional adquirir todas essas competncias ser necessrio ele mesmo se respeitar, estudar, se aprofundar, percebendo a interseo de suas reas com as demais, e no reforando os esteretipos do sujeito simptico, bom camarada, que sabe agitar, pura e simplesmente (MARCELLINO, 2001, p. 25).

    CONSIDERAES FINAIS

    Nosso estudo recomenda a superao de algumas aes desenvolvidas atualmente nos clubes no que diz respeito atuao dos

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    profissionais da rea do lazer, as quais podem ocorrer por intermdio dos elementos propostos pelo associativismo, pela animao sociocultural e pelas polticas pblicas setoriais, na perspectiva de ampliar as opes de lazer disseminadas nesses espaos, visto que os clubes se limitam a oferecer as instalaes para a prtica de atividades e os pacotes de eventos, no levando em considerao sequer as caractersticas e a demanda da comunidade local (CAPI, 2006).

    Para tanto, fundamental concebermos o lazer, nos clubes e nas demais esferas da vida humana, como um meio transformador capaz de proporcionar, alm de diverso e divertimento, o desenvolvimento pessoal e social.

    A unio dos clubes por meio da (CBC) um caminho para eles participarem de uma poltica pblica de lazer, pois em suas aes essa instituio tem como objetivo estimular o constante aprendizado como forma de gerao de conhecimentos, a responsabilidade pblica e

    a cidadania como apoio s aes comunitrias, ao esporte, sade, cultura e educao, alm da iniciativa, do esprito de participao e da criatividade.

    Em suma, apoiados nos autores consultados, colocamos aqui diversos indcios, apoiados nos autores consultados, que apontam para a importncia de uma formao e atuao profissional mais qualificada, incluindo as dimenses tcnicas, mas tambm as pedaggicas e as polticas, pois clube, como espao privilegiado para a concretizao do associativismo e como um dos componentes do setor corporativo, pode fazer parte das polticas pblicas de esporte e lazer. Se os clubes, com toda a estrutura clubstica existente no pas, conseguissem se estruturar em movimento, boa parte da poltica pblica de esporte e lazer estaria definida pelo seu componente corporativo, e nesse sentidoe a atuao profissional tem um importante papel a cumprir.

    SOCIO-RECREATIONAL CLUBS: LEISURE, ASSOCIATIVISM AND PROFESSIONAL ACTIVITY

    ABSTRACT Our objective is to demonstrate the importance of an ample understanding of the formation and professional sectorial leisure activity in socio-recreational clubs. We highlight here various signs, supported by the referenced authors, that point to the importance of a more qualified professional basis, which includes technical, but also pedagogical and political dimensions in the club, as a privileged space for the concretization of associativism, and as one of the components of the corporative sector which can belong to a public political body of sports and leisure.. Keywords: Leisure activities. Sportive clubs. Professional performance.

    REFERNCIAS

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  • Clubes social-recreativos: lazer, associativismo e atuao profissional 475

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    Recebido em 09/10/08 Revisado em 18/03/09

    Aceito em 01/05/09

    Endereo para correspondncia: Andr Henrique Chabaribery Capi. Rua Venncio Alonso Perez, 512, Vila Melhado, CEP 14807-024, Araraquara-SP, Brasil. E-mail: [email protected]