51 - O Uso Da Acupuntura Japonesa No Tratamento de CrianYas

21
1 O uso da acupuntura japonesa no tratamento de crianças Renata Leiko Ishida 1 [email protected] Dayana Mejia² Pós-graduação em Acupuntura Faculdade Ávila Resumo A acupuntura tem sido utilizada para tratamento de uma grande variedade de problemas da infância, tais como dor, enurese noturna, náusea ou vômito pós-operatório, otites, asma, desordens neurológicas, etc. Essas patologias podem ser classificadas como agudas ou crônicas e são tratadas de acordo com a sua classificação. O uso da acupuntura tem se mostrado bastante eficaz no tratamento das formas agudas, mas o seu uso para evitar a cronicidade das doenças é de grande relevância. O estilo de acupuntura pediátrica japonesa Shonishin tem sido indicada por ser na maioria das vezes uma técnica suave e não invasiva. Apesar de poucos artigos serem publicados nessa área, é evidente que a acupuntura representa uma alternativa promissora para a grande variedade de condições de saúde na pediatria. Faz-se necessário estudos mais aprofundados sobre a acupuntura em crianças para estabelecer a eficácia, segurança e aceitabilidade deste tipo de terapia. Palavras-chave: Pediatria; Acupuntura; Saúde; Shonishin 1. Introdução O principal foco da Medicina Tradicional Japonesa e Chinesa é a prevenção da doença, muito mais do que a cura de doenças avançadas. Antigo texto chinês escrito há mais de 2000 anos, Nei Ching, que se tornou a bíblia da medicina tradicional do leste asiático, tem como tópico principal do primeiro capítulo a prevenção da doença; nos outros capítulos são discutidas curas específicas para doenças, que são dadas como informações suplementares quando as medidas preventivas não foram tomadas. No Japão, as terapias manuais ( massagem, moxabustão, acupuntura) fazem parte da vida diária da população há séculos. Na verdade , esse tipo de terapia entre membros familiares e amigos é uma forma de manter a coesão do grupo, depende do senso de comunidade. Nas famílias japonesas a massagem é uma parte tradicional da educação que os pais ensinam aos filhos; essa assistência que os membros da família dão uns aos outros através da massagem é de valor incalculável na manutenção da saúde e nos laços afetivos. Nos países do ocidente, muitas pessoas ficam incomodadas em tocar outras ou serem tocadas, mesmo por membros familiares ou amigos (MOCHIZUKI, 1999). As terapias utilizadas na medicina tradicional procuram alcançar o equilíbrio, trabalhando com os meridianos e pontos que nem sempre estão nos meridianos, melhorando não só o equilíbrio da energia ki como também o equilíbrio psicológico através da harmonização e equilíbrio das condições dos órgãos internos. Esta revisão bibliográfica tem como objetivo pesquisar sobre o uso da acupuntura japonesa no tratamento e prevenção de doenças na criança. 2. A acupuntura A arte chinesa da acupuntura pode ser datada há pelo menos dois mil anos, algumas autoridades afirmam que a acupuntura tem sido praticada na China há pelo menos quatro mil anos. Segundo Van Nghi ( 1984), resulta de estudos e observação da natureza pelo homem. 1 Pós-graduanda em acupuntura ² fisioterapeuta, especialista em metodologia do ensino superior, mestre em aspectos bioético e jurídicos em saúde

description

tratamento de crianças pela acupuntura japonesa

Transcript of 51 - O Uso Da Acupuntura Japonesa No Tratamento de CrianYas

  • 1

    O uso da acupuntura japonesa no tratamento de crianas

    Renata Leiko Ishida1

    [email protected]

    Dayana Mejia

    Ps-graduao em Acupuntura Faculdade vila

    Resumo

    A acupuntura tem sido utilizada para tratamento de uma grande variedade de problemas da

    infncia, tais como dor, enurese noturna, nusea ou vmito ps-operatrio, otites, asma,

    desordens neurolgicas, etc. Essas patologias podem ser classificadas como agudas ou

    crnicas e so tratadas de acordo com a sua classificao. O uso da acupuntura tem se

    mostrado bastante eficaz no tratamento das formas agudas, mas o seu uso para evitar a

    cronicidade das doenas de grande relevncia. O estilo de acupuntura peditrica japonesa

    Shonishin tem sido indicada por ser na maioria das vezes uma tcnica suave e no invasiva.

    Apesar de poucos artigos serem publicados nessa rea, evidente que a acupuntura

    representa uma alternativa promissora para a grande variedade de condies de sade na

    pediatria. Faz-se necessrio estudos mais aprofundados sobre a acupuntura em crianas

    para estabelecer a eficcia, segurana e aceitabilidade deste tipo de terapia.

    Palavras-chave: Pediatria; Acupuntura; Sade; Shonishin

    1. Introduo

    O principal foco da Medicina Tradicional Japonesa e Chinesa a preveno da doena, muito

    mais do que a cura de doenas avanadas. Antigo texto chins escrito h mais de 2000 anos,

    Nei Ching, que se tornou a bblia da medicina tradicional do leste asitico, tem como tpico

    principal do primeiro captulo a preveno da doena; nos outros captulos so discutidas

    curas especficas para doenas, que so dadas como informaes suplementares quando as

    medidas preventivas no foram tomadas.

    No Japo, as terapias manuais ( massagem, moxabusto, acupuntura) fazem parte da vida

    diria da populao h sculos. Na verdade , esse tipo de terapia entre membros familiares e

    amigos uma forma de manter a coeso do grupo, depende do senso de comunidade. Nas

    famlias japonesas a massagem uma parte tradicional da educao que os pais ensinam aos

    filhos; essa assistncia que os membros da famlia do uns aos outros atravs da massagem

    de valor incalculvel na manuteno da sade e nos laos afetivos. Nos pases do ocidente,

    muitas pessoas ficam incomodadas em tocar outras ou serem tocadas, mesmo por membros

    familiares ou amigos (MOCHIZUKI, 1999).

    As terapias utilizadas na medicina tradicional procuram alcanar o equilbrio, trabalhando

    com os meridianos e pontos que nem sempre esto nos meridianos, melhorando no s o

    equilbrio da energia ki como tambm o equilbrio psicolgico atravs da harmonizao e

    equilbrio das condies dos rgos internos.

    Esta reviso bibliogrfica tem como objetivo pesquisar sobre o uso da acupuntura japonesa

    no tratamento e preveno de doenas na criana.

    2. A acupuntura

    A arte chinesa da acupuntura pode ser datada h pelo menos dois mil anos, algumas

    autoridades afirmam que a acupuntura tem sido praticada na China h pelo menos quatro mil

    anos. Segundo Van Nghi ( 1984), resulta de estudos e observao da natureza pelo homem.

    1 Ps-graduanda em acupuntura fisioterapeuta, especialista em metodologia do ensino superior, mestre em aspectos biotico e jurdicos em

    sade

  • 2

    Um dos conceitos bsicos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) enfatiza a integridade do

    corpo humano e a sua interao com a natureza. O corpo mantm com o meio ambiente uma

    relao de adaptao e dinmica, formando e transformando, na tentativa de manter as

    atividades vitais do organismo.

    As variaes que ocorrem na natureza influenciam direta e indiretamente o corpo humano.

    Segundo o Ling Shu, o homem, o cu e a terra se integram mutuamente e o homem , o sol e a lua se influenciam mutuamente. A teoria da MTC considera o mundo material como resultado da interao das duas energias

    yin e yang. Segundo Suwen, o homem para viver depende da atmosfera do cu e da energia essencial da gua e dos cereais da terra. E para sobreviver, os seus ritmos de crescimento,

    desenvolvimento e armazenamento acompanham o clima das quatro estaes. Considera-se que a energia essencial vital jingqi a substncia original da vida. Essa energia

    tem caractersticas hereditrias, recebidas do pai e da me e a fora que constitui e mantm

    as atividades vitais do corpo.

    O Ki a substncia bsica que mantm as atividades vitais. As caractersticas dos movimentos

    das atividades da energia so os movimentos contraditrios das transformaes, que variam

    do declnio ao crescimento do yin e do yang. A MTC considera o corpo humano como um

    sistema integrado na complementaridade dos opostos yin e yang. As atividade vitais so

    denominadas esprito ou shen. O shen a essncia da vida do corpo humano. Ao acumular essncia, preenche-se o esprito, pois o esprito quando se encontra no interior, impede o

    aparecimento de doenas.

    As relaes entre a forma xing e o esprito shen correspondem s relaes entre a matria e o

    esprito jing shen. A forma fsica a base, o esprito a atividade vital em funcionamento. O

    corpo fsico do homem necessita e depende para sua existncia da assimilao de certos

    elementos do mundo material. O substrato material do esprito a energia e o sangue.

    Segundo Kaufman (2012), a MTC considera que a agresso dos fatores patognicos externos

    ao organismo desequilibram primariamente o yin e o yang, e depois podem desencadear as

    doenas, mas a chave do adoecer depende da fora ou fraqueza da energia primordial zhengqi

    do corpo humano.

    O corpo humano constitudo de um nmero certo de rgos, tecidos e vsceras, cada um

    com uma determinada funo e todos inter-relacionados. formado por cinco rgos no

    centro, combinados s seis vsceras e o sistema de meridianos e colaterais. Internamente

    alcanam os rgos e vsceras e externamente se ligam s articulaes dos membros. Os cinco

    rgos representam cinco sistemas no corpo, por onde passam os sistemas dos meridianos e

    colaterais, que se integram fisiologicamente s seis vsceras , aos cinco tecidos, aos cinco

    rgos dos sentidos, aos nove orifcios, aos ossos, assim como essncia jing, enegia Qi, ao

    sangue xue , e aos lquidos orgnicos jingye.

    A teoria do yin e yang explica o mundo como uma matria que existe devido a interao

    dessas duas energias que se criam, desenvolvem e transformam mutuamente.

    A teoria dos cinco elementos considera que o mundo material constitudo dos elementos

    madeira, fogo, terra, metal e gua. Esses elementos se restringem e se promovem mutuamente.

    A teoria do yin e do yang pode explicar a organizao e a estrutura dos tecidos, as funes

    fisiolgicas, o aparecimento da doenas, as regras de desenvolvimento das patologias e

    tambm orientar o diagnstico e a teraputica.

    Os cinco elementos correspondem aos cinco tipos de movimentao da matria, a teoria usa

    as caractersticas materiais dos elementos para classific-los e represent-los. A definio das

    caractersticas se baseia na relao desses elementos, que integrados e em harmonia so

    capazes de mostrar o que acontece aps a perda do seu equilbrio. A interao que ocorre entre

    os cinco elementos cclica e sequencial, do estimulado ao estimulante. Essa teoria explica a

    complicada relao entre esses elementos serve de ajuste para o equilbrio do corpo e previne

    um possvel excesso ou influncia de cada um deles. Atravs dessa teoria pode-se explicar as

    variaes climticas, o equilbrio ecolgico da natureza e o equilbrio fisiolgico do corpo

    humano.

  • 3

    As caractersticas dos cinco elementos na MTC so utilizadas para analisar e pesquisar os

    rgos, as vsceras , os meridianos e os colaterais do organismo. As interconexes funcionais

    dos rgos, das vsceras e dos meridianos so analisadas e pesquisadas atravs das relaes de

    promoo e dominao existentes entre os cinco elementos. As relaes do tipo ao

    excessiva e contrarreao servem para explicar os estados patolgicos e as suas influncias.

    Assim essa teoria tambm uma orientao para a prtica clnica para estabelecer princpios

    teraputicos, baseando o diagnstico na anlise dos sinais e sintomas do paciente.

    A MTC uma cincia que abrange a fisiologia, a patologia, o diagnstico, a profilaxia e o

    tratamento de doenas. Seu principal objetivo a manuteno da sade e o tratamento das

    doenas, enfocando a preveno. Corresponde primeiramente a prevenir o adoecer para

    depois se prevenir a evoluo da doena.

    Se a energia primordial zhengqi forte, a energia patognica no consegue agredir. Para

    fortalecer a constituio fsica necessrio adotar medidas teraputicas e preventivas como

    cuidar do esprito, fazer exerccios fsicos, comer de maneira correta, evitar excessos de

    trabalho ou de descanso.

    Se a doena se instalou, o princpio teraputico consiste em reforar a resistncia do corpo

    para eliminar o fator patognico.

    3. A acupuntura japonesa

    A acupuntura chegou ao Japo no incio do sculo V, junto com a cultura e a tecnologia

    importada da China. Inicialmente, grande parte do conhecimento mdico veio atravs da

    Coria, quando imigrantes coreanos fixaram-se no Japo no perodo formativo do estado

    japons. Alguns imigrantes tinham conhecimento especializado em acupuntura e medicina

    herbria. No sculo VI, o Japo convidou estudiosos de vrias reas, incluindo medicina para

    visitar o pas. Estudiosos coreanos vieram educar o povo japons, sendo que alguns

    estabeleceram-se permanentemente, dando incio a uma renomada linhagem de mdicos.

    No sculo VII, o governo japons fez contato direto com a China e foram enviados estudiosos

    e sacerdotes para aprender a cultura chinesa. Durante esse perodo, muitos textos mdicos

    foram copiados e trazidos para o Japo, sendo aplicados o mais rpido possvel. A prtica de

    enviar emissrios para a China parou na metade do sculo IX, e a medicina oriental no Japo

    iniciou da um curso independente de desenvolvimento (YOSHIKAWA, 1995).

    Segundo Kobayashi et al, 2010, a MTC inclua as cinco tcnicas: medicina herbal,

    acupuntura, moxabusto, tao-yin, e massagem, e atravs dos anos, as caractersticas naturais

    do Japo transformaram essas medicinas em modalidades que eram unicamente japonesas.

    No ano 701, foi promulgado o primeiro sistema legal escrito no Japo, o cdigo Taih.

    Estabeleceu-se um departamento oficial de acupuntura e moxabusto, designando tambm os

    trs graus de professor, terapeuta e estudante de acupuntura.

    No perodo a seguir, era Nara, todos os aspectos da medicina oriental foram promovidos e

    praticados. Nos perodos anteriores, os monges budistas estavam envolvidos no estudo e

    prtica da acupuntura e medicina herbria. Na era de Nara, o sistema de ensino mdico e

    especializao levou reduo do nmero de monges terapeutas. O primeiro texto mdico foi

    compilado em 984 pelo mdico Tamba Yassunari.

    A partir do sculo XII, o controle da famlia imperial caiu e novamente foram estabelecidas

    relaes comerciais com a China, e aps trs sculos de isolamento relativo, novas ideias

    mdicas chegaram ao Japo. Os monges budistas voltaram a exercer importante papel como

    terapeutas e levavam cuidados mdicos populao em geral. Durante esse perodo a prtica

    da moxabusto tornou-se popular , pois alguns tratamentos eram realizados nos templos

    budistas, como parte da prtica religiosa (YASUI, 2010).

    No final do sculo XVI, o caos poltico e social instalou-se no Japo, e estudiosos

    importavam textos da China e compilaram muitos textos japoneses sobre acupuntura. Aps a

    reunificao do Japo e a restaurao da ordem social, acupunturistas proeminentes

    estabeleceram escolas de acupuntura.

    Entre os sculos XVI e XVII, surgiram trs abordagens da medicina no Japo, representadas

  • 4

    pela escola Gosei, Koho e Rampo. Cada escola de pensamento combateu e influenciou outras

    at o final do sculo XIX.

    A escola Gosei, fundada por Manase Dosan, tinha forte influncia da medicina chinesa.

    Segundo Vigouroux (2008), at esse perodo, a tradio de ensino era feita atravs do

    ensinamento do discpulo pelo seu mestre, ou pai ensinando a prtica para o filho mais velho.

    Entretanto, aps Dosan estabelecer sua escola mdica, as facilidades de treinar grupos de

    estudantes comeou a aparecer. A escola Koho inspirou-se na revivificao dos conceitos da

    Discusso de Desordens Induzidas por Frio, rejeitando as ideias mas novas da medicina

    chinesa. A escola Rampo surgiu entre mdicos com influncia da medicina ocidental, que

    chegou ao Japo atravs dos holandeses durante os trezentos anos de isolamento no perodo

    Edo (1602-1868).

    De acordo com Kobayashi et al.(2010), vrias epidemias lavravam o pas e o povo confiava

    na acupuntura e moxabusto como formas de tratamento. Enquanto a moxabusto era

    praticada largamente pela populao em geral, a acupuntura restringia-se a especialistas

    treinados. Durante essa era, o governo encorajou a prtica da moxabusto como forma de

    aprimoramento da sade. A moxa se tornou to popular que era utilizada independentemente

    de fatores como idade, sexo, etc. Os tratamentos feitos por monges budistas tambm se

    tornaram populares e at hoje muitos templos budistas em vrios lugares diferentes do Japo

    usam a moxabusto. Durante esse perodo, o povo costumava viajar para visitar templos e

    receber as curas quentes da primavera. Moxa e bastes de incenso (mogussa) eram itens

    indispensveis dos viajantes. Um dos costumes comuns era aplicar moxa nas crianas para

    prevenir o aparecimento de doenas e promover um crescimento saudvel.

    Sugiyama Waichi, acupunturista cego, desenvolveu a tcnica de insero de agulhas de

    acupuntura com uso de um tubo-guia. Sua escola tornou-se uma das mais influentes do Japo

    Oriental e substituiu as outras porque conseguiu o patrocnio do governo nas escolas para

    cegos. Ele popularizou a acupuntura e a moxabusto, edificando as estruturas ensinadas por

    Manase. Sem modificar os conceitos bsicos da medicina oriental, ele introduziu novos

    mtodos e aperfeioou as tcnicas existentes.

    Tambm durante o sculo XVII, foram introduzidas as agulhas para acupuntura de prata e

    ouro pela primeira vez no Japo. Isai Misono desenvolveu o mtodo de insero do martelo. Segundo Kobayashi et al.(2010), vrios mtodos de tratamento e tcnicas, que so praticadas

    at hoje, apareceram aps a era Taisho. Um desses tratamentos um mtodo usado para

    crianas em que estmulos so feitos com atrito e pancadinhas na pele com uma agulha

    especial.

    No incio do sculo XIX, a medicina holandesa tornou-se largamente aceita e muitos livros

    holandeses j tinham sido traduzidos para o japons. O nmero de japoneses, tanto

    acupunturistas como mdicos, tentando estudar medicina atravs desses livros aumentou e

    espalhou-se a ideia de aceitao da medicina holandesa, enquanto diminua as ideias de

    medicina chinesa.

    Phillipp Franz von Siebold visitou o Japo como mdico coma Companhia Holandesa das

    ndias Orientais em 1823. Ele j conhecia o tratamento por acupuntura no Japo e estava

    impressionado por suas observaes sobre o tratamento atual de acupuntura. Aps retornar

    para Holanda, ele introduziu a acupuntura japonesa, bem como a geografia, histria, cultura e

    tradio do Japo. Assim como a cultura japonesa atraiu o interesse de Siebold, a medicina

    holandesa despertou o interesse de mdicos japoneses aps ter ensinado a medicina holandesa

    nas escolas privadas e tratado pacientes. Atravs de seu trabalho, o nmero de pessoas

    estudando medicina holandesa aumentou. Este intercmbio de ideias teve uma grande

    influncia na prtica da medicina japonesa emergente e sobre o sistema mdico.

    Em 1868 o sistema de governo baseado nos samurais da era Edo entrou em colapso, e o novo

    governo da era Meiji estava ansioso em aceitar rapidamente a cultura ocidental e permitir que

    o Japo ganhasse uma boa posio no mundo. Neste processo, negaram a cultura tradicional

    japonesa, considerando-a fora de moda. O sistema mdico no foi exceo a esse tipo de

    pensamento, e o novo governo considerou a medicina tradicional japonesa, incluindo a

  • 5

    acupuntura, como antiquada e desnecessria. Decidiram aceitar a medicina ocidental e

    estabeleceram um sistema de exame para qualificao dos praticantes, que o fundamento

    dos exames atuais que fornecem as licenas para prticas mdicas. A educao, exames e

    posio da medicina tradicional japonesa e chinesa foram negadas e a medicina ocidental

    formaram uma poltica nica pondo fim a uma era que durou 1200 anos desde 701, quando

    Itsu-rei foi promulgada e os acupunturistas eram aprovados e mantinham a mesma posio

    como doutores. Atualmente, a ocupao dos acupunturistas diferente dos mdicos, , mas

    ambos tm permisso para praticar acupuntura no Japo.

    Sob o antigo sistema de pequenas classes privadas e aprendizagem que estava instalado no

    Japo pr-guerra, era difcil garantir o nvel de treinamento dos acupunturistas. No era

    incomum estarem focados em ideias antigas e experincias limitadas. No entanto, em 1920

    alguns acupunturistas talentosos, que eram exceo regra, iniciaram um movimento

    revolucionrio que levou a uma rpida modernizao e sistematizao da acupuntura japonesa

    e moxabusto durante os anos de 1930 e 1940.

    Segundo Yoshikawa (1995), durante a primeira metade do sculo XX, pesquisas e

    experimentos foram conduzidas com os parmetros da medicina ocidental. Kinosuke Miura

    descobriu que a terapia com acupuntura e moxabusto aumentava a circulao sangunea.

    Michio Goto conduziu pesquisas a respeito da conformidade entre os pontos dos meridianos

    da acupuntura e as zonas relativas no crnio. Influenciados pelas prticas mdicas ocidentais,

    experimentos e pesquisas em acupuntura-moxabusto foram realizados em animais. A

    existncia dos meridianos foi ignorada no tratamento de doenas individuais, na medida que

    os diagnsticos por mtodos da medicina ocidental se tornaram populares, e esse tipo de

    tratamento foi praticado por Yamamoto Shingo , Tatsui Bunryu e Yamazaki Ryosai. Algumas

    das maiores descobertas feitas durante esse perodo foram: o aumento na contagem da

    contagem de linfcitos e eritrcitos (Seikoku Aochi, Shimetaro Hara, Joichi Nagatoya, Hideji

    Fujii, Bunjiro Terada); aumento do nmero de complementos e anticorpos (Seikoku Aochi,

    Kaoru Tokieda); mudanas na alcalose em ossos e corrente sanguinea (Hisashi Kurzumi e

    Shigemoto Mizuno); aumento do peristaltismo intestinal (Michio Goto); e acelerao das

    funes hepticas (Kazuo Komai).

    Estudos farmacolgicos relatados por Masaru Osawa, indicaram que esses resultados

    ocorreram como resultado da formao da histotoxina aps a administrao da moxabusto.

    Hidezumaru Ishikawa relatou que experimentos realizados em animais provaram que o

    mecanismo da acupuntura moxabusto era comandado pelo sistema nervoso autnomo. Por outro lado, o interesse nos meridianos da medicina oriental quase esquecidos foi

    reavivado e Sorei Yanagita, Sodo Okabe, Keiri Inoue e Shinichiro Takeyama criaram os

    mtodos de tratamento dos meridianos.

    De acordo com Yasui ( 2010), durante a II Guerra Mundial, a escassez de suprimentos tanto

    no Japo como nas reas de conflito, levou a uma demanda crescente pelo tratamento por

    acupuntura e moxabusto, pois no necessitava de drogas como parte no processo de

    tratamento.

    A guerra terminou em 1945 e o renascimento do Japo comeou sob a direo do Comando

    Supremo das Foras Aliadas, o GHQ. Esse comando empreendeu a democratizao de todas

    as reas na vida da populao japonesa, incluindo a medicina.

    O departamento encarregado da reforma do sistema mdico japons foi o Setor d Sade

    Pblica e Bem Estar (PHW), comandado pelo general C.F. Sams, mdico especialista,

    engajado em implementar um sistema mdico baseado nos princpios da sade pblica e na

    reforma do sistema educacional para melhorar a qualidade dos praticantes mdicos.

    Entre as muitas responsabilidades, o PHW examinou as numerosas formas de medicina

    popular no ortodoxa, e recomendou a eliminao daquelas que consideravam questionveis.

    A acupuntura e a moxabusto foram includas na categoria de questionveis, justificada por

    procedimentos de desinfeco inadequados, mtodos de tratamentos brbaros e falta de um

    sistema educacional estabelecido.

    O governo japons , preso entre a necessidade de trabalhar com o GHQ e a necessidade de

  • 6

    responder aos envolvidos com acupuntura e moxabusto, concluiu que necessitava de uma

    reforma legislativa que provesse base ao sistema acupunturista.

    Aps o final da II Guerra, o professor Ishikawa e outros acupunturistas famosos conseguiram

    demonstrar aos membros do Ministrio da Sade e Bem Estar a segurana e a eficcia do

    tratamento com acupuntura, demonstrando dados de anos de pesquisa em acupuntura e suas

    bases cientficas.

    Durante esse perodo, o GHQ tentou proibir que os deficientes visuais praticassem acupuntura

    e moxabusto no Japo, considerando-os supostamente incapazes e perigosos para praticar

    procedimentos mdicos, pois no conheciam nenhum outro pas no mundo em que os

    deficientes visuais tivessem essa funo. Porm, essa categoria tinha um poder poltico

    surpreendente, e a Ordem de Proibio da Acupuntura e Moxabusto encontrou uma forte

    resistncia.

    O primeiro passo para a reforma legislativa foi a reeducao dos acupunturistas atravs de um

    curso rpido com durao de quinze dias, onde instrutores foram treinados para a seguir

    comandar os cursos rpidos de reeducao que seriam oferecidos nas cidades e provncias do pas.

    O currculo desses cursos foi elaborado por membros da indstria da acupuntura e inclua

    diversas fontes de conhecimento, no se limitando apenas a teoria da medicina clssica

    asitica de acupuntura e moxabusto, e a teoria dos meridianos e acupontos. Tambm

    referenciava tpicos relacionados medicina ocidental, tais como anatomia, fisiologia,

    medicina desportiva, e discusses relacionadas regulamentao da Medicina Legal. Esse

    currculo deu incio aos fundamentos de educao moderna em acupuntura e moxabusto.

    Dr. Shirota negou a autoridade absoluta da teoria mdica tradicional, props que a medio

    da resistncia eltrica poderia ser usada para detectar os pontos de acupuntura que eram

    responsivos em doenas especficas, e em seguida tratar a doena pela estimulao desses

    pontos com acupuntura e moxabusto. Avanos em eletrofisiologia contriburam para essa

    teoria, mas a aplicao dos meridianos teve que esperar at a descoberta de Yoshio Nakatani

    em 1950 que resultou no desenvolvimento da acupuntura estilo Ryodoraku. Paralelamente a

    esses novos estudos, grupos de acupunturistas que estavam interessados na terapia pelos

    meridianos, continuaram suas pesquisas, produzindo vrios volumes de resultados para provar

    a existncia dos meridianos (YASUI, 2010).

    4. Fisiologia energtica

    De acordo com Cline(2003), o desenvolvimento dos sistemas energticos das crianas

    semelhante ao de seus sistemas estrutural e fisiolgico. No momento do parto, todos esses

    sistemas ainda so imaturos, mas funcionando de acordo com a necessidade para o

    crescimento contnuo. Quanto mais nova a criana, mais imaturo o sistema energtico e maior

    sua diferena em relao ao de uma adulto. A fisiologia energtica tambm varia

    individualmente, devendo-se saber que a criana no apenas uma verso menor de um

    adulto.

    Um beb inicia a vida com uma constituio corporal frgil, com insuficincia de Qi e de

    Sangue; com tendes, vasos sanguneos e meridianos em formao; com o Shen instvel, um

    Qi defensivo fraco e Qi orgnico essencial imaturo. Devido imaturidade do Yin e do Yang, a

    base material e a funo energtica da criana no esto plenamente desenvolvidas, nem esto

    plenamente capacitadas.

    A teoria peditrica clssica dos chineses descreve o curso normal de crescimento e

    desenvolvimento como um processo de " mudana e evaporao ". Se tiver uma base

    congnita apropriada e os cuidados ps-natais, os bebs crescem rapidamente. O primeiro ano

    de vida o perodo em que desenvolve-se mais rapidamente que nos estgios posteriores,

    caracterizando a predominncia do Yang Qi como tendncia energtica geral da criana.

    A mudana e evaporao descrevem as condies de desequilbrio entre Yin e Yang que se

    manifestam como febre, pulsos irregulares e suor. Esses episdios so considerados normais e

    resolvem-se em poucos dias sem necessidade de tratamento. Mudana refere-se

  • 7

    transformao dos cinco rgos Yin e ocorre uma vez a cada 32 dias (dez vezes no espao de

    um ano). Evaporao refere-se transformao das seis vsceras, induzidas pelo calor

    acumulado, e ocorre uma vez a cada 64 dias ( nove vezes em 576 dias). Quando a criana no

    recebe os devidos cuidados durante esses perodos de mudana e evaporao, ela pode tornar-

    se mais suscetvel a doenas (CLINE, 2003).

    Os problemas comuns (vmito, diarreia e febre) e doenas normais da infncia (como

    sarampo e catapora) em geral surgem de forma muito rpida e dramtica, so instveis e

    podem parecer piores que em adultos. Isso se deve ao fato de as reservas de Ki , Sangue e

    lquidos das crianas serem limitadas.

    A natureza mutvel das crianas facilmente observada pela palpao do pulso,

    comportamento e reao a doenas, causada pelas deficincias e excessos inerentes aos rgos.

    Aps o nascimento, os meridianos e rgos internos ainda no esto completamente formados

    ou em pleno funcionamento. O Bao, Pulmo e Rim so especialmente delicados, e a falta dos

    devidos cuidados pode afet-los facilmente.

    As crianas consomem grande quantidade de Yin Ki para seu crescimento e desenvolvimento

    constante, exigindo muito da funo do Bao, por isso uma alimentao inadequada pode

    causar doenas facilmente.

    A funo do Pulmo depende diretamente do bom funcionamento do Bao e do Estmago.

    Como estes so deficientes na criana, o Pulmo tambm fraco. O Pulmo controla o Ki do

    corpo inteiro, responsvel pela fora e resistncia s enfermidades. Apesar de estar

    desenvolvido antes do nascimento, sua funo ativa inicia-se apenas aps o parto.

    A funo do Rim envolve o crescimento e desenvolvimento das crianas, a resistncia s

    doenas, desenvolvimento dos ossos, medula, cabelos, dentes e ouvidos. Devido a essa grande

    demanda o Ki do Rim costuma ser insuficiente.

    As crianas tambm manifestam excessos inerentes: Ki do Corao, Yang Ki e Yang Ki do

    Fgado.

    O excesso de Fogo do Corao pode ser um fator que contribui para a natureza geralmente

    instvel do Shen da criana. Para exemplificar, as mudanas rpidas de humor da criana,

    ateno dispersa, facilidade de se assustar. O medo extremo perturba o Shen que j instvel.

    O excesso de Yang Ki nas crianas indica a necessidade de transformao e mudana das

    funes fisiolgicas bsicas de estruturas energticas e fsicas. Para que a estrutura Yin se

    desenvolva, a funo transformadora do Yang Ki tem de ser muito intensa.

    O corpo da criana est num processo de crescimento constante, com grande necessidade dos

    nutrientes do sangue. A funo do Fgado de armazenamento e regulagem do sangue tem

    grande importncia sobre a disponibilidade de alimentos para o corpo. O Fgado ajuda no

    processo digestivo do Estmago-Bao, desempenhando importante papel na assimilao dos

    nutrientes dos alimentos.

    O bom funcionamento do Fgado interfere diretamente no desenvolvimento da coordenao

    motora e atividade corporal por ser o responsvel pelo controle dos tendes. O Fgado

    proporciona criana a determinao e o impulso para se mover adiante, fornecendo o

    combustvel para o crescimento e desenvolvimento (CLINE, 2003).

    5. Patologia energtica

    Segundo Cline(2003), quanto mais nova a criana, mais suscetvel doena, devido

    imaturidade relativa dos rgos e suas funes. Os seus rgo internos so delicados, o Ki

    defensivo fraco, e h insuficincia de Ki, Sangue e meridianos, pele e msculos so fracos.

    Como as crianas mostram uma base energtica predominantemente Yang, as configuraes

    gerais podem mudar rapidamente e de forma imprevisvel.

    A alimentao inadequada, insuficincia de leite da me, assim como a exposio a agentes

    patognicos (calor, frio, vento, umidade) podem facilmente perturbar esse equilbrio delicado

    do Yin e do Yang.

    A deficincia do Bao pode causar problemas se a alimentao for inadequada ( dietas muito

    quentes ou frias, invaso de agentes patognicos externos). O Yang puro no pode subir e o

  • 8

    Yin turvo no consegue descer, levando a uma desarmonia do Estmago, que se manifesta

    como clicas, distenso abdominal, flatulncia, vmitos, diarreia, desnutrio.

    A insuficincia do Ki do Pulmo e a fraqueza do Ki defensivo facilitam a invaso de agentes

    patognicos externos e prejudicam a funo de disperso e descida do Pulmo, manifestando-

    se como resfriado, tosse, asma ou pneumonia.

    A deficincia do Rim natural agravada por cuidados ps-natais inadequados ou congnitos

    pode levar a um desenvolvimento prejudicado. Se houver deficincia do Yin do Rim e do

    Fgado, pode resultar em atrofia, retardo no crescimento ou flacidez. Se associar a essa

    deficincia houver excesso do Yang do Fgado, pode gerar Vento Interno que associado ao

    Fogo ou Calor, manifesta-se como convulses, espasmos ou opisttonos.

    O excesso inerente de Ki do Corao facilmente identificado na natureza instvel do Shen.

    As patologias relativas a essa dinmica podem incluir desequilbrios emocionais, espirituais

    ou fsicos. O medo extremo pode impactar de tal maneira o Shen que o Corao afetado

    resultando no choro noturno.

    O excesso inerente de Yang Ki geral e no se reflete em nenhuma patologia especfica, mas

    ao seu surgimento repentino e dramtico, a rpida transformao de sndromes de um aspecto

    para seu oposto pela exausto do Yang Ki e a falta de equilbrio do correspondente do yin.

    As patologias relativas ao excesso de Ki do Fgado tambm causam mudanas bruscas no

    equilbrio energtico da criana. Exploses de raiva sbita e violentas, ataques e gritos

    refletem problema do Ki do Fgado. A subida do Yang do Fgado pode se manifestar como dor

    de cabea, clera ou raiva incontrolveis, perturbaes do sono ou irritabilidade. Quando h

    Vento Interno, manifestam-se tiques nervosos ou convulses. Quando o Ki do Fgado invade o

    Estmago ou o Bao, pode ocorrer problemas intestinais como priso de ventre e /ou diarreia,

    cansao, gases ou vmito.

    As relaes bsicas instveis entre os rgos e suas funes devidas imaturidade de seu

    desenvolvimento leva transformao das sndromes, com mudanas do calor para o frio e do

    excesso para a deficincia ou evoluir para uma combinao complicada das duas.

    As mudanas climticas sazonais tm grande impacto sobre as crianas at elas

    amadurecerem o suficiente para fortalecer seu Ki defensivo.

    A combinao de deficincias e excessos inerentes a caracterstica mais importante da

    patologia peditrica. Geralmente as crianas so cheias de vitalidade; quando desequilibradas

    suas reaes so sensveis e imediatas. A predominncia do Yang faz com que o

    desenvolvimento e as mudanas das doenas sejam rpidas, mas tambm responsvel pelo

    crescimento, desenvolvimento e grande capacidade que as crianas tm de se recuperar

    rapidamente com os cuidados apropriados (CLINE, 2003).

    6. Estilos e caractersticas da acupuntura japonesa

    Segundo Fratkin(1999), a acupuntura japonesa atualmente um amplo leque de escolas e

    abordagens tcnicas. Existem cem associaes diferentes no Japo, mantida por leais, seno

    faccionrios, praticantes ps-graduados. Cerca de vinte porcento seguem Keiraku Chiryo, a

    escola de terapia clssica dos meridianos. Esta abordagem inclui os seguidores de Kodo

    Fukushima ( a escola Toyo Hari) e Denmai Shudo. Outros vinte porcento seguem o estilo

    Rempo ou acupuntura cientfica, que baseia-se na seleo de pontos sem a teoria dos

    meridianos. Os outros sessenta porcento incluem associaes menores que seguem os

    ensinamentos de vrios mestres tais como Manaka, Sawada, Akabane, Nagano e outros. A

    medicina tradicional chinesa tambm tem uma pequena mas fiel classe de seguidores no

    Japo.

    De acordo com Cunha (2010), h 30 estilos diferentes de acupuntura japonesa. A escola de

    Sawada Ken est baseada no texto Nan Jing ( O Clssico das Dificuldades), revivido no Japo

    nos anos 30. Essa terapia prope o equilbrio na distribuio da energia(Ki) em todos os

    meridianos para haver sade. Os desequilbrios por excesso ou deficincia de energia em um

    ou vrios meridianos levam doena. Sawada acreditava que para tratar o paciente com

    qualidade era necessrio determinar os pontos pessoais de cada paciente relacionados aos seus

  • 9

    problemas particulares atravs da palpao. Esses pontos ( kori ou atsu-ten ) poderiam

    aparecer principalmente em regies como o abdome, costas, braos ou pernas, so descritos

    como enrijecimento considerados como bloqueios de energia Ki ou de Sangue, indicando

    padro de estagnao do fluxo de energia ao longo do caminho do meridiano, estando

    reflexamente ligado a um rgo ou sua funo. O acupunturista do estilo Sawada deve

    reestabelecer o equilbrio energtico nos doze meridianos, atravs da aplicao de agulhas ou

    cones de moxa Okyu.

    Segundo Fratkin (1999), apesar da diversidade de estilos, h certos traos e caractersticas que

    definem claramente a acupuntura japonesa. A primeira eleva a palpao como a mais

    importante arte de diagnstico. Inclui o exame do pulso, abdmen , e a textura da pele dos

    pontos de acupuntura e caminhos dos meridianos. A palpao determina a escolha dos pontos

    para o tratamento, ao invs da escolha pela doena ou teoria. O diagnstico pelo pulso

    originou-se na China, mas o diagnstico atravs da palpao abdominal ( diagnstico do

    Hara ) se desenvolveu no Japo. Antigos mestres do estilo japons afirmam que o tratamento

    do Hara vem em primeiro lugar, pois acreditam que todos os movimentos dos 5 elementos se

    originam dele ( CUNHA, 2010 ) . A habilidade e o refinamento da diagnose pela palpao tem

    sua base no treinamento do Shiatsu, que so estudados por muitos acupunturistas .

    O estilo Ishizaka Ryu foi estabelecido no sculo XVII no Japo, e mostra que a coluna e rea

    espinhal so as reas mais importantes do corpo. Os pontos paravertebrais , Hua Tuo Jiaji ,

    pontos do meridiano da Bexiga e fora dele so locais de alto fluxo energtico de grande

    importncia tanto na medicina oriental como ocidental. Estes pontos so muito teis no

    tratamento de doenas crnicas e desequilbrios que afetam o meridiano da Bexiga

    aparecendo na forma de tenso de ndulos ou cordes na musculatura para-vertebral. Muitas

    doenas e dores aparecem quando h um bloqueio no fluxo energtico, sanguneo ou de

    fluidos corpreos, e a finalidade da acupuntura seria remover estes bloqueios e restaurar o

    fluxo ( CUNHA, 2010 ).

    A segunda caracterstica da acupuntura japonesa uma tcnica de agulha nica. As agulhas

    que so utilizadas so bem finas em relao as usadas no estilo chines de acupuntura. A

    maioria dos praticantes utiliza agulhas com calibre de 0,16 mm ou menos. Denmai Shudo

    utiliza agulhas de 0,12 mm em todo seu trabalho. O tubos guia so geralmente utilizados,

    atravs de um toque rpido e suave ( FRATKIN, 1999).

    A terceira caracterstica da acupuntura japonesa a confirmao de que a tcnica da agulha

    ou moxa causa uma mudana imediata e notvel que utilizada para diagnstico: o pulso, o

    abdmen, ou o prprio ponto. Esta ateno permite uma escolha de menor nmero de pontos

    a serem escolhidos. Por exemplo, os praticantes da terapia dos meridianos esperam mudanas

    na pulsao quando h agulhamento correto. Discpulos de Matsumoto e Nagano esperam que

    os pontos de dor abdominal desapaream aps o correto agulhamento de pontos distantes.

    Quarta, tcnicas auxiliares so comumente empregadas para reforar o tratamento primrio. A

    moxa direta aplicada geralmente em muitos pontos de acupuntura, com o tamanho de

    aproximadamente um fio de cabelo a metade de um gro de arroz. Outras tcnicas utilizadas

    so agulhas intradermais, bolas de presso, magnetos, e cabos de bombeamento de ons

    ( FRATKIN, 1999).

    6.1 O estilo Shonishin

    O termo "shonishin" vem do termo chins "erzhen" que literalmente significa "agulha das

    crianas" ou "agulhamento de crianas". A acupuntura realizada h um longo tempo tanto

    em adultos como crianas, no entanto hoje em dia o termo japons "shonishin" refere-se a

    uma tradio que vem desde o sculo XVII (BIRCH 2011).

    Segundo Inoue (2008), no Japo, uma forma especializada de acupuntura que foca a

    estimulao da pele tem sido praticada em bebs e crianas com o propsito de manter a

    sade. Muito popular na rea de Kansai, particularmente em Osaka. Essa abordagem tem sido

    referida como acupuntura para crianas Shonishin ou Shonihari em japons. Enquanto a

    acupuntura em adultos envolve a insero de agulhas, a acupuntura para crianas ou

  • 10

    Shonishin peditrica uma forma no insertiva de acupuntura que faz o uso de uma variedade

    de instrumentos para estimular a pele.

    H relatos de que o tratamento mensal regular com o Shonishin peditrico ajuda a promover a

    sade e o crescimento estvel do corpo e mente de bebs e crianas. Esse estilo tambm pode

    ser aplicado em adultos que fazem acupuntura pela primeira vez ou que so muito sensveis

    estimulao.

    Ainda segundo Inoue (2008), no se sabe com exatido quando a acupuntura peditrica

    comeou a ser praticada, mas h documentos datados em 1763 que demonstram a existncia

    de uma acupunturista peditrico no vilarejo Nakamura , situado a nordeste de Osaka na era

    Edo. Imagina-se que naquela poca os praticantes de acupuntura tinham os mesmos

    problemas, seno maiores, ao tentar inserir agulhas em crianas sensveis, assustadas, tristes,

    resistentes, cansadas. As agulhas daquela poca eram mais calibrosas e de superfcie mais

    spera do que as disponveis atualmente, e no difcil concluir que tratar crianas indceis

    era desagradvel. Os motivos para desenvolver um novo mtodo de abordagem em crianas

    esto bem claros. As crianas eram tratadas mais confortavelmente, de forma calma e seus

    pais ficavam menos estressados.

    Segundo Cunha (2010), durante a era Edo, a populao do Japo ultrapassava um milho de

    habitantes. Osaka e Kyoto tinham mais de 400.000 habitantes cada uma. Essas cidades

    tornaram-se centros de produo de artesanato e comrcio, enquanto Edo era o centro de

    suprimento de comida e um consumidor de mercadorias urbanas muito importante. O estilo de

    vida dos populares tornou-se estressante devido a crescente preocupao com o trabalho e a

    economia, afetando tambm o comportamento dos bebs e crianas. Os bebs tornaram-se

    nervosos e irritados: essa sndrome foi denominada de kanmushi sho.

    De acordo com Birch (2011), o termo kanmushi sho refere-se classe de problemas que se

    manifesta durante a infncia. o termo "mushi" refere-se a um tipo de verme ou inseto que

    acreditava-se habitar o corpo. Haviam vrios tipos diferentes de mushi no corpo que

    influenciariam as funes fsicas e mentais normais ou anormais. o termo "kan" vem da MTC,

    do termo chins "gan" . Refere-se doena da infncia caracterizada pela "emaciao, cabelo

    ressecado, febre, distenso abdominal com veias superficiais aparentes, face amareladas,

    magreza e perda da vitalidade e essncia do esprito"(Wisemen e Feng 1998, p 236-237).

    O termo " kan no mushi " representa a fuso desses dois diferentes conceitos de doena. O

    termo "sho" significa padro.

    Segundo Shimizu (1975) o conceito de Gan (Kan) descreve como Kan est associado ao mau

    humor, problemas para dormir, choro noturno, apetite ruim, diarreia, tosse, e a associao com

    os cinco rgos: "Corao kan" - surpresa kan; " Fgado kan" - vento kan; " Pulmo kan" - ki

    kan ; "Bao kan" - alimento kan; " Rim kan" - acelerado kan.

  • 11

    Figura 01) Fonte: http://www.pinktentacle.com/images/harikikigaki_s_2.jpg

    Kanshaku, um mushi de face raivosa encontrado no fgado, que causa doena em seu hospedeiro ao forar sua

    entrada na cavidade torcica. As pessoas infectadas tendem a ter crises de raiva ou ao iniciar atividades ficam

    cansados . Essas pessoas tendem a comer mais comidas cidas e evitar comidas oleosas

    O termo kannomushisho passou a significar padro de distrbio kannomushi. Est

    particularmente associado a problemas comportamentais em crianas. Manifesta-se como

    irritabilidade, choros, gritos e sono difcil no infante. Na fase em que no anda a criana sofre

    de sono difcil,irritabilidade, acessos de raiva, mau humor. Em crianas mais velhas, os

    problemas comportamentais manifestam-se por hiperatividade, mas tambm pode se

    apresentar como uma criana distrada com dificuldade de concentrao na escola.

    Figura 02) Fonte : http://www.pinktentacle.com/images/harikikigaki_s_12.jpg

    Hizo-no-kasamushi, um verme encontrado no Bao, pode causar variaes no apetite que levam ao

    emagrecimento ou ganho de peso. As ervas agi (Funcho gigante) e gajutsu (Curcuma roxa) so efetivas no controle do Hizo-no-kasamushi

  • 12

    Figura 03) Fonte : http://www.pinktentacle.com/images/harikikigaki_s_10.jpg

    Jinshaku (Honton) lembra um pequeno javali que circula selvagemente pelo corpo. As pessoas infectadas por ele

    desenvolvem um pulso fraco, uma compleio escura e vontade de comer comidas salgadas, e mau hlito.

    Shimizu descreve que no Japo o termo "kan" representa , de modo geral, as doenas da

    infncia, e o termo "kannomushi" refere-se aos problemas mdicos mais facilmente resolvidos,

    como parte normal nos estgios no desenvolvimento da criana. Por isso, Shonishin tem sido

    usada como uma ferramenta para auxiliar no desenvolvimento normal da criana utilizada por

    pais que seguem essa linha de pensamento (SHIMIZU 19750).

    Durante a pr-guerra, Sorei Yanagiya escreveu um livro para apresentar o estilo Shonishin da

    famlia Fujii aos praticantes em Tquio. Aps a guerra, Yoneyama e Hidetaro Mori

    escreveram em conjunto um livro denominado Tcnicas Shonishin. Viajaram pelo Japo

    dando palestras para promover o Shonishin peditrico. Os esforos de Mori estenderam-se

    viajando at a Califrnia nos EUA , Brasil, e Argentina em 1990. Nos dias de hoje, Kentoku

    Tanioka promove ativamente esta tcnica pelo Estados Unidos e pases da Europa.

    Figura 04) Fonte: http://www.pinktentacle.com/images/harikikigaki_s_13.jpg

    Hishaku encontrado no Bao, mais frequentemente em mulheres. Os sintomas incluem um apetite voraz por

    doces, uma compleio amarelada e tendncia a ficar resmungando. Pode ser impedido com acupuntura ao redor

    do umbigo. Hinoshu, tambm encontrado no Bao, parece com uma pedra e permanece dormente no corpo at o seu

    hospedeiro visitar locais tursticos muito cheios de gente, quando o Hinoshu causa tonturas ao se jogar pelo

    corpo e criar a sensao de pedras batendo umas contra as outras

    6.1.1 As ferramentas do Shonishin

    No Shonishin, vrias ferramentas de diferentes formatos foram concebidos para servir as

    necessidades de tcnicas individuais e no assustar os bebs e crianas. Os materiais podem

    ser confeccionados em ao inoxidvel, ouro, prata, madeira. Garras de pequenos animais,

  • 13

    como a toupeira podem ser utilizadas para fazer as ferramentas. Hoje em dia so utilizadas

    agulhas plsticas descartveis

    Segundo Inoue (2008), as ferramentas so dividas em quatro categorias:

    1) Hagurama Shin, Agulha Roller, Yoneyama Icho Bari. So usadas para esfregar gentilmente

    sobre a pele fazendo movimentos para cima e para baixo nos ombros, costas, abdome, braos

    e pernas. A agulha peditrica Taishi Tanioka de borda tripla sem corte (sanryoshin) utilizada

    para essa tcnica.

    2) As ferramentas dessa categoria incluem as do tipo Bane (primavera), tipo Furiko (pndulo),

    Shumo Shin ( pincel) e Go Shin ( agulha filiforme). Elas so usadas para toque ritmados na

    superfcie da pele na cabea, braos e pernas, ombros e costas, peito e abdome.

    3) Essa categoria inclui Choto Shin ( espada longa), Sanryo Shin, Usagi (coelho) Bari, e Kaki

    (diapaso) Bari. A Sanryio Bari utilizada para picar os pontos dos meridianos e as outras so

    usadas para raspar a pele. As reas de aplicao so as partes distais dos braos e pernas.

    4) Tei Shin. O tipo arredondado de Tei Shin usado para pressionar os pontos de acupuntura

    por vrios segundos a vrios minutos. Quando o tratamento necessita de tcnicas invasivas,

    utiliza-se Go Shin, que uma agulha fina com dimetro de 0,16 mm ou menos,, apenas a uma

    profundidade de 1mm na superfcie da pele para suplementar os outros trs procedimentos.

    Figura 05) Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2887322/bin/nem155f8.jpg

    ilustrao da grande variedade de instrumentos que so utilizados no estilo shonishin

  • 14

    6.1.2 Indicaes

    Shonishin trata crianas a partir de 20 dias de idade. Muitas crianas que recebem Shonishin

    tem entre 5 a 6 meses at 5 anos de idade. particularmente efetiva para sintomas mentais

    que aparecem em crianas de 5 meses at 2 anos de idade.

    indicado nas doenas crnicas e como preveno , desde que no sejam casos graves.

    Os sintomas que tem indicao para tratamento com Shonishin so:

    1) Sintomas tipo neurticos em crianas tais como insnia, choro noturno, crises de mau

    humor, voz esganiada, terror noturno, mordidas.

    2) Sintomas respiratrios como resfriados, tonsilites, asma, bronquites, rinites.

    3) Sintomas digestivos como falta de apetite, indigesto,vmitos, diarreia, constipao,

    intoxicao alimentar.

    4) Sintomas alrgicos como dermatite atpica, eczema, urticria, asma.

    5) Outros sintomas como constituio debilitada, enurese noturna, torcicolo, convulso,

    paralisia leve, dores em geral, otites.

    6.1.3 Tcnicas

    A terapia utiliza a estimulao de regies do corpo ao invs de pontos de acupuntura. Pode-se

    justificar esta tcnica atravs de alguns trechos do Huang Di Nei Jing ( Ling Shu cap 10) onde

    cita que o Ki s comea a mover-se ou circular nos Jing mai (meridianos) aps o nascimento,

    somente depois da primeira inspirao e expirao. Assim, supe-se que em um recm-

    nascido os meridianos esto em estado imaturo (BIRCH 2011).

    Segundo Inoue (2008), Shonishin realizado atravs de raspagem ou picoteios dependendo

    da necessidade, em quase todas as partes do corpo, nos braos, pernas ou trax, abdome,

    regio do pescoo, ombros , regio lombar e cabea. Ao tratar crianas, o acupunturista deve

    levar em conta sua idade, constituio e propriedades da pele (maciez) ajustando a quantidade

    de estmulo baseado em sua expresso facial ou nveis de vermelhido da pele. Ao executar

    Shonishin, melhor mover ou manipular os instrumentos ao longo do trajeto do meridiano.

    Os pontos chirike, hyakue e jinkan so melhor estimulados com o Tei Shin, alguns

    acupunturista peditricos podem focalizar a estimulao em reas ao redor dos meridianos

    dependendo dos sintomas.

    Shimizu et al fez uma pesquisa entre os membros da Associao de Acupuntura e

    Moxabusto de Osaka para saber o tempo de tratamento e a frequncia utilizada por eles e

    obteve a mdia de 3 a 10 minutos e a frequncia de 3 dias consecutivos por ms. Como

    medida de quantidade de estmulo a ser aplicado, utilizaram como parmetros a vermelhido

    da pele, sudorese e relaxamento da tenso superficial da pele.

    Segundo Birch (2011), no perodo moderno a prtica de Shonishin utiliza muitas

    ferramentas. So classificadas segundo as diferentes tcnicas de estimulao (tocando,

    raspando, esfregando, pressionando ou escarificando) e tambm baseadas nas experincias

    pessoais e preferncias do acupunturista. A maioria dos instrumentos feita de metal, mas h

    precedentes de uso de outros instrumentos como garras de toupeira ( Yoneyama e Mori 1964)

    e plsticos descartveis pr-esterilizados criados por Seirin. Alguns praticantes construiram

    ferramentas especficas como a " daishi hari" de Masanori Tanioka de Osaka (Tanioka 2001).

    A abordagem bsica para tratamento em crianas usa instrumentos variados que podem ser

    pressionados, raspados ou esfregados nas superfcie do corpo. Os mtodos podem ser

    resumidos em:

    Tocando: picoteios rpidos em uma rea ou pontos especficos, normalmente num ritmo de

    100-200 vezes por minuto.

    Raspar/esfregar: raspagem rpida sobre uma rea ou ao longo de uma face, normalmente num

    ritmo de 70 a 100 vezes por minuto. O termo raspar refere-se ao movimento de raspagem da

    superfcie da pele em uma s direo. Esfregar usado quando o movimento de vai-e-vem.

    Pressionando: presso leve e contnua em um ponto ou pequena rea.

  • 15

    Escarificando: movimentos rpidos de raspagem sobre uma rea ou ao longo de uma

    superfcie.

    A maneira mais fcil de aplicar o tratamento padro para a maioria dos bebs e crianas

    usando a raspagem e fazendo toques (Yoneyama e Mori 1964) ou somente tocando ( Hyodo

    1986). A escarificao faz uma grande estimulao e somente praticvel como substituto

    ocasional para a tcnica de raspagem em crianas que tm uma constituio de "excesso" com

    um tipo de corpo forte. Sua utilizao justificvel quando a raspagem somente no est

    produzindo mudanas suficientes.

    Pressionar uma maneira de escolher pontos especficos ou pequenas reas e mais utilizada

    para aliviar sintomas do que restaurar funes saudveis.

    Segundo Cunha (2010) uma sesso de Shonishin em bebs ou crianas deve durar de 5 a 10

    minutos em mdia. O nmero de sesses poder variar de 5 a 6 vezes consecutivas.

    6.1.4 Mtodo bsico de tratamento com Shonishin

    De acordo com Cunha (2010), os mtodos mais utilizados so:

    6.1.4.1 Presso por contato

    Mtodo mais comum, tocar a pele com a ponta da agulha sem introduzir, pressionando

    suavemente os pontos durante 10 segundos em cada. Escolhendo um total de 5 a 6 pontos em

    todo corpo ( em bebs).

    6.1.4.2. Percusso

    Estmulo rtmico de presso rpida, acompanhando o caminho do meridiano durante 20

    segundos (utilizado para tratamento da diarreia)

    6.1.4.3. Frico

    Fricciona-se a pele sobre a regio do meridiano at alcanar a cor vermelha. Usado como

    tratamento preventivo. Friccionando-se diariamente as costas do beb em pocas de gripe,

    evita-se que a criana contraia a doena.

    6.1.4.4. Corte

    Faz-se um leve corte para extrair sangue. Apenas em emergncias em reas reduzidas. Para

    aliviar a neurose infantil, sangrar o ponto IG2.

    6.1.4.5. Manipulao com agulha de prata

    Utiliza-se agulha de prata sem ponta, pressionando-a de forma paralela ao meridiano ou ponto.

    Figura 06) Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-MGmUQDxsr5Y/T-

    OVEOj18vI/AAAAAAAAAFw/pJPenJ53QFo/s1600/images+(1).jpg

    exemplo de maneira de aplicar tratamento em criana

  • 16

    Figura 07) Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-GN9kgt1HM-8/T-

    OdeyuLCHI/AAAAAAAAAF8/L5JrSHw2c1g/s320/Publica%C3%A7%C3%A3o1.jpg

    ilustrao das reas de aplicao do shonishin

    Segundo Cunha (2012) , antes de iniciar a sesso de tratamento com Shonishin nas crianas,

    deve-se fazer a retirada dos Kannomushis. H tcnicas variadas e uma delas feita aplicando-

    se uma tinta especialmente elaborada para isso na palma da mo da criana, esperar alguns

    minutos e depois lavar. Outra, a aplicao de cones de moxa okyu no VG12. Segundo o

    autor, ao realizar-se esse procedimento a eficcia do tratamento com a acupuntura muito

    maior e torna as crianas mais dceis e obedientes.

    6.2 Exemplos de tratamento com Shonishin

    6.2.1 Vmito

    At 1 ano de idade quase todos os problemas so resolvidos com agulha Shonishin.

    Agulha de frico no abdmen e no meridiano VC, meridiano do Rim, Estmagoe IG, TA e

    CS. Utilizar tambm na rea lombar do meridiano da Bexiga durante 3 a 5 minutos.

    Podendo tambm estimular os pontos CS6, E36, VG12, C15, VG4 e B25.

    6.2.2 Indigesto

    Problemas como gastroenterite aguda, diarreia e vmito podero ser tratados com o mesmo

    mtodo.

    Aplicar agulha Shonishin no meridiano VC, Estmago, Bao - Pncreas durante um minuto

    na rea abdominal, e depois aplicar no meridiano do IG.

    Aplicar agulha Shonishin nos pontos P6, TA14, VG4, VC7 durante 10 segundos cada.

    6.2.3 Convulso infantil

    Aplicar agulha Shonishin na rea abdominal, no VC e na rea dorsal , sobre o VG. Nos ps

    sobre o meridiano do Bao - Pncreas.

    Usar agulha Shonishin nos pontos VG 12, VB21, IG2 e VB31 durante 10 segundos cada,

    podendo reforar o tratamento aplicando moxa nesses pontos.

    6.2.4 Choro noturno

    Usar o mesmo tratamento para nervosismo e irritao. Moxa no ponto IG2.

    6.2.5 Asma infantil

    Usar agulha Shonishin nos pontos B11, VG12 e IG4. Acrescentar TA17, ID18, E6, IG11 e

    IG4. Aplicar moxa nesses pontos.

  • 17

    6.2.6 Enurese noturna

    Aplicar agulha shonishin na rea abdominal sobre o VC, meridiano do Rim, Estmago,

    Fgado e Bao - Pncreas. Estimular a rea dorsal do meridiano da Bexiga durante 3 a 5

    minutos. Aplicar agulha Shonishin nos pontos VG12, VG20, B18, B32, ID4, TA5, F3 e F8.

    Aplicar moxa nos pontos VG4, B32 e F3 (CUNHA, 2010).

    7. Material e mtodos

    Este trabalho foi baseado na reviso bibliogrfica de livros e artigos de vrios autores,

    durante o perodo de setembro de 2010 a outubro de 2012, utilizando tambm como

    ferramenta de pesquisa a internet, tendo como palavras chave : acupuntura, acupuntura

    japonesa, pediatria, shonishin, e esses mesmos termos em lngua inglesa.

    8. Resultados

    Autor Obra Descrio ano

    Auteroche, B.

    Auteroche, M.

    Guia prtico de

    acupuntura e

    moxabusto

    Tcnicas de manipulao de agulha e

    moxabusto 1996

    Birch, S. Shonishin:

    japanese pediatric

    acupuncture

    Aborda o crescente interesse em

    tratamentos seguro, especializado e no

    invasivo como opo para crianas e

    infantes

    2011

    Cline, Kyle Massagem

    peditrica chinesa

    Descreve as diferenas da organizao

    energtica de crianas em relao aos

    adultos, ressaltando diferenas anatmicas

    e fisiolgicas no diagnstico, localizao

    dos pontos e no tratamento

    2003

    Cunha, A.A.

    Acupuntura

    japonesa: akabane,

    hinaishin e

    shonishin

    Descreve os recursos utilizados pela

    acupuntura japonesa no Brasil, conceitos

    de Kokei Akabane no tratamento

    utilizando agulha Hinaishin

    2010

    Cunha, A.A. Decifrando o

    Tsubo

    Estudo detalhado de diferentes mtodos de

    tratamento nos estilos japoneses de

    acupuntura 2010

    Denmei, Shudo

    Acupuntura

    clssica japonesa:

    Introduo

    terapia de

    meridiano

    Explica como incorporar conceitos e

    tcnicas da terapia de meridiano com

    outros estilos de acupuntura

    2011

    Fratkin, J. P.

    The emergence of

    japanese style

    acupuncture

    Demonstra como o estilo japons de

    acupuntura uma abordagem de sucesso,

    ensinando que os pontos que necessitam

    de tratamento podem ser encontrados com

    as mos, no com a mente, e que apesar

    das crticas, uma terapia eficaz feita

    quando o corpo retorna ao seu equilbrio

    1999

    Gold, J. et al

    Pediatric

    acupuncture: a

    review of clinical

    research

    Reviso da literatura, incluindo uma avaliao sistemtica do valor metodolgico de cada

    estudo e discute os possveis benefcios e

    efeitos adversos da acupuntura

    2009

  • 18

    Autor Obra Descrio Ano

    Inoue, E.

    Shonishin:

    japanese original

    acupuncture for

    children

    Viso geral sobre shonishin peditrico

    praticado no Japo 2008

    Kemper, K. The holistic

    pediatrician

    Fornece uma abordagem equilibrada e de

    forma ponderada sobre as condies que

    comumente acometem crianas e

    adolescentes, mostrando opes para

    cuidar da sade

    2002

    Katai, S.

    Characteristics of

    japanese

    acupuncture and

    moxibustion

    Diferentes perspectivas consideradas em

    relao acupuntura japonesa: teorias,

    conceitos, terapias, ferramentas

    2010

    Kobayashi, A. et al

    History and

    progress of

    japanese

    acupuncture

    A acupuntura adaptada da China sofreu

    diversas modificaes e progrediu sob a

    influncia da sociedade, cultura, carter e

    qualidades naturais do Japo

    2010

    Libonate, J. et al

    Efficacy of

    acupuncture for

    health conditions

    in children: a

    review

    Revisa a literatura emprica existente

    relacionando ao uso da acupuntura em

    condies mdicas em crianas

    2008

    Lin, Y. et al

    Acupuncture for

    the management

    of pediatric pain: a

    pilot study

    Demonstra que a acupuntura pode reduzir

    significantemente as dores de paciente

    peditricos

    2002

    Scott, J. Acupuntura no

    tratamento da

    criana

    Aborda a teoria e as caractersticas da

    acupuntura peditrica, a etiopatologia,

    diagnstico e tratamento das diversas

    doenas nas crianas

    1997

    Yasui, H.

    History of

    japanese

    acupuncture and

    moxibustion

    Histria de algumas caractersticas nicas

    peculiares acupuntura no Japo 2012

    Yoshikawa, M.

    History of

    japanese

    acupuncture

    Descreve a histria da acupuntura

    japonesa desde suas influncias sofridas

    pela Coria e China at os dias de hoje

    1995

    Tabela 1 Resumo dos principais autores utilizados na elaborao do tema

    9. Discusso

    As crianas so mais sensveis ao tratamento por acupuntura que os adultos. Isto pode se

    manifestar de diversas maneiras. Assim, deve-se tomar cuidado ao escolher o tipo de

    tratamento a ser aplicado e como faz-lo. Geralmente a resposta ao tratamento bem rpida.

    Deve-se regular a dose e a forma de aplicao, observar a sensibilidade ao mtodo utilizado

    para minimizar o risco de efeitos no desejveis.

    Assim, ao iniciar o tratamento em uma criana deve-se estabelecer a dose apropriada ao

    paciente e um modelo para seguir. Estudar como manifestam-se as doenas em bebs e

  • 19

    crianas. Aplicar cada mtodo de tratamento diferentemente , para poder regular a dose de

    tratamento necessrio a ser aplicado. Averiguar constantemente as mudanas no paciente para

    poder discernir se o tratamento foi suficiente, tanto local como sistmico. Reconhecer e

    corrigir o excesso de tratamento.

    Estimar a dosagem e fazer o julgamento de como conduzir o tratamento em cada paciente

    complexo e envolve vrias consideraes diagnsticas e teraputicas importantes. Selecionar

    o correto padro de tratamento de raiz e os pontos corretos de tratamento so obviamente

    importantes, como qualquer sistema de acupuntura tradicional pode comprovar. Assim,

    combinar a escolha e aplicao da tcnica de tratamento ao diagnstico tambm

    fundamental.

    Os bebs no podem falar, expressam-se atravs da emoo. A comunicao em bebs e

    crianas pequenas alcanada atravs da expresso emocional, sendo importante lembrar que

    estas no tem capacidade de regular as suas emoes. Muitas formas de comunicao

    saudvel podem desencadear distrbios no movimento do Qi e funes do organismo. Isto

    tem consequncias imediatas, tornando os bebs e crianas muito vulnerveis na medida em

    que o Qi muda involuntariamente fcil. Assim , uma das principais metas do tratamento

    tentar o quanto possvel no causar angstia emocional na criana (BIRCH, 2012).

    10. Concluso

    A acupuntura foi adaptada da China e sofreu diversas mudanas e evolues sob a influncia

    da sociedade, cultura e caractersticas naturais do povo japons. Embora hovesse perodos em

    que os japoneses fossem influenciados por situaes scio-polticas no favorveis

    acupuntura, o uso dessa terapia prosperou devido aos esforos das pessoas e pacientes que

    buscaram a acupuntura como forma de tratamento. A acupuntura japonesa ainda est

    progredindo tanto clinicamente como cientificamente. Respeitando as idias clssicas de

    tratamentos tradicionais, os estudos cientficos tem criado uma base de evidncias da sua

    eficcia.

    Hoje em dia, a acupuntura no est mais confinada apenas na rea mdica de tratamento para

    sade, mas tambm engloba outra reas como a esportiva, beleza e bem estar , e tem a

    perspectiva de melhorar a qualidade de vida daqueles que a utilizam como tratamento

    paliativo.

    Diversos autores descrevem a utilizao da acupuntura como tratamento importante na

    reduo de sintomas e de doenas infantis, sendo uma opo valiosa a considerar antes de

    iniciar um tratamento aloptico com seus efeitos colaterais to extensos. O tratamento com

    acupuntura japonesa shonishin em crianas tem como vantagem o fato de ser uma terapia

    minimamente invasiva, segura e relativamente de baixo custo. No shonishin, uma poro de

    instrumentos de diferentes formatos foi desenvolvida e desenhada para suprir as necessidades

    dos mtodos especficos de manipulao ou tcnicas. Mostrou-se efetivo em aliviar

    rapidamente ou dispersar e eliminar vrios sintomas geralmente observados no

    desenvolvimento de doenas em crianas. Tambm efetivo em promover um

    desenvolvimento mental estvel.

    Apesar deste trabalho estar baseado em uma amostra muito pequena de estudos pode-se

    verificar que acupuntura japonesa shonishin em crianas realmente efetiva se for

    adequadamente indicada e realizada. Mais estudos na rea ainda so necessrios, para

    demonstrar a importncia de sua utilizao como terapia e se tornar mundialmente conhecido

    como meio de ajudar o desenvolvimento saudvel das crianas.

    11. Referncias

    AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O diagnstico na medicina chinesa. So Paulo, 1992.

    AUTEROCHE, B.; AUTEROCHE, M. Guia prtico de acupuntura e moxabusto. So Paulo, 1996.

  • 20

    BAUER, Matthew D. O poder de cura da acupressura e da acupuntura:um guia completo desde as tradies

    imemorais at as tcnicas modernas. So Paulo, 2007.

    BIRCH, Stephen. Shonishin: japanese pediatic acupunture. New York, 2011.

    CAMPIGLIA, Helena. Domnio do Yin. So Paulo, 2010.

    CHUNCAI, Zhou. Clssico de Medicina do imperador amarelo. Tratado sobre a sade e vida longa. So Paulo,

    1999.

    CLINE, Kyle. Massagem peditrica chinesa. So Paulo, 2003.

    CUNHA, Antnio Augusto. A moxaterapia japonesa okyu-yaito. So Paulo, 2006.

    CUNHA, Antnio Augusto. Acupuntura e moxaterapia Taikyoku. So Paulo, 2009.

    CUNHA, Antnio Augusto. Decifrando o Tsubo. So Paulo, 2010.

    CUNHA, Antnio Augusto. Acupuntura japonesa: akabane, hinaishin e shonishin. So Paulo, 2010.

    DHARMANANDA, Subhuti. Kampo medicine: the practice of chinese herbal medicine in Japan. Institute for

    traditional medicine. Portland, disponvel em http://www.itmonline.org/arts/kampo.htm .

    DENMEI, Shudo. Acupuntura clssica japonesa: Introduo terapia de meridiano. So Paulo, 2011.

    ERNST, E.; WHITE, A. A brief history of acupuncture. Rheumatology v.43, n.5, British Society for

    Rheumatology, 2004.

    FISHMAN, Jon. The history of acupuncture. Disponvel em

    http://www.acupuncture.com/education/theory/historyacu.htm

    FIXLER, Marian; KIVITY, Oran. Four styles. Japanese Acupunture: A review of four styles. EJOM men's

    diseases v.3, n. 3, 1998.

    FRATKIN, Jake Paul. The emergence of japanese style acupuncture. California Journal of Oriental Medicine

    v.10, n.1, California, 1999.

    GOLD, Jeffrey I.; NICOLAOU, Colette D.; BELMONT, Katharine A.; KATZ, Aaron R.; BENARON, Daniel M.;

    YU, Wendy. Pediatric Acupuncture: a review of clinical research. ECAM v. 6 , n. 4, p.429-439, 2009.

    INOUE, Etsuko. Shonishin: japanese original acupuncture for children. KAIM v.3, n.1, p.2-7, Japan, 2008.

    KATAI, Suichi. Charateristics of japanese acupuncture and moxibustion. KAIM v.1, special edition, Japan,

    2010.

    KEMPER, Kathi J. The holistic pediatrician. New York, 2002.

    KOBAYASHI, Akiko; UEFUJI, Miwa; YASUMO, Washiro. History and Progress of Japanese Acupuncture.

    Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine v.7, issue 3, pg. 359-365 , 2010.

    LIBONATE, Jean; EVANS, Subhadra; TSAO, Jennie C. I. Efficacy of acupuncture for health conditions in

    children: a review. The scientific world journal n.8, p. 670-682, California, 2008.

    LIN, Yuan-Chi; BIOTEAU, Aimee B.; LEE, Anne C. Acupuncture for the management of pediatric pain : a

    pilot study. Journal of the American Academy of Medical Acupuncture v.14, n.1 p.45-46, 2002.

    MACIOCIA, G. The Foundations of Chinese Medicine - A Comprehensive Text for Acupuncturists and

    Herbalists. New York, 1989.

    MACIOCIA, G. The Practice of Chinese Medicine - The Treatment of Diseases with Acupuncture and

    Chinese Herbs. New York, 1994.

    MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia clnica. Rio de Janeiro, 2000.

    MORI, Hidetaro. Introduo acupuntura. So Paulo, 1994.

    MOSHIZUKI, Shogo. Ko Bi Do : ancient way of beauty. The art of japanese facial massage. United States,

    1999.

  • 21

    SAHNI, B. S. Nei Ching Su Wen: The Yellow Emperor's Classic of Internal Medicine . India, disponvel em

    http://w.w.w.homeopathyclinic.com

    SCOTT, Julian. Acupuntura no tratamento da criana. So Paulo, 1997.

    VAN NGHI, Nguyen. Medicina Tradicional Chinesa: acupuntura, moxabusto e massagens. So Paulo, 2010.

    VIGOUROUX, Mathias. Acupuncture and Moxibustion en the Edo Period. NAJOM v.15, n 42, pg 13-17, 2008.

    WONG, Eva. As artes taoistas da sade, da longevidade e da imortalidade. So Paulo, 2003.

    YASUI, Hiromichi. History of japanese acupuncture and moxibustion. Current Japaneses Acupuncture and

    Moxibustion , v. 1, pg. 2 - 9 , 2010.

    YIN, Huihe; ZHANG, Baine; KAUFMAN, Dina. Teoria Bsica da Medicina Tradicional Chinesa. So Paulo,

    2012.

    YOSHIKAWA, Masayuki. History of japanese acupuncture. Department of International Affairs, JSA, 1995.