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DESTAQUE // Maio 12 // Portugalglobal 14 Siza Vieira é o mais conceituado e pre- miado arquitecto contemporâneo por- tuguês. Nasceu a 25 de Junho de 1933, em Matosinhos, e estudou arquitectu- ra na Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde veio mais tarde a ser pro- fessor, tendo também dado aulas em universidades de todo o mundo. Em Portugal, Siza Vieira criou grandes marcos na arquitectura, sendo também um exemplo da internacionalização da arquitectura portuguesa, em mercados com o Brasil, Espanha, Alemanha, Paí- ses Baixos, Bélgica, EUA, Coreia do Sul e muitos outros. O seu reconhecimento internacional sairia reforçado com a conquista do SIZA VIEIRA E SOUTO MOURA PESOS-PESADOS DA NOVA ARQUITECTURA PORTUGUESA Dois arquitectos portugueses contemporâneos conquistaram visibilidade e fama internacionais graças à originalidade e funcionalidade dos seus projectos. Álvaro Siza Vieira tornou-se famoso com a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, e o Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, no Porto. Eduardo Souto Moura é mais conhecido pelos seus projectos residenciais, embora recentemente tenha assinado o projecto da nova Casa das Histórias de Paula Rego, um museu dedicado à consagrada pintora portuguesa. Tanto um como outro foram galardoados com o Prémio Pritzker de Arquitectura, da Hyatt Foundation, em 1992 e 2011 respectivamente, pelos seus trabalhos notáveis no domínio da arquitectura. primeiro lugar no concurso para o pro- jecto de um hotel na zona histórica de Salzburgo, na Áustria, em 1987, em- bora a sua notoriedade internacional já estivesse assegurada através de obras maiores como a recuperação do bairro judeu de Veneza ou a intervenção no bairro Schildersveijk, em Haia. Foi discípulo de Fernando Távora, mestre incontornável daquela a que se chamou “Escola do Porto”, tendo sobressaído desde o início da sua obra pela sua origi- nalidade e arrojo, com destaque para a icónica casa de chá da Boa Nova – ainda com Távora – já lá vai meio século. De- pois vieram os anos do reconhecimento internacional, durante os quais Álvaro Siza foi consolidando, como poucos na história da arquitectura, um percurso que se afirma e segue a par de gran- des criadores como Le Corbusier, Adolf Loos, Aldo Rossi, Ludwig Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto, Walter Gropius ou Oscar Niemeyer. Criou a sua própria linguagem, satura- da não só com referências modernistas internacionais mas também com o cul- tivo de um estilo em que se combinam, com raro talento, ambiente natural e cultural, racionalismo e organicismo, tendo desde Abril de 74, focado o seu interesse na problemática urbana, especialmente na construção de ha- bitação social. Uma característica: uti- liza revestimentos de pedra, rebocos brancos e assimetrias inesperadas. Foi Álvaro Siza Vieira Um arquitecto do mundo

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Siza Vieira é o mais conceituado e pre-miado arquitecto contemporâneo por-tuguês. Nasceu a 25 de Junho de 1933, em Matosinhos, e estudou arquitectu-ra na Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde veio mais tarde a ser pro-fessor, tendo também dado aulas em universidades de todo o mundo.

Em Portugal, Siza Vieira criou grandes marcos na arquitectura, sendo também um exemplo da internacionalização da arquitectura portuguesa, em mercados com o Brasil, Espanha, Alemanha, Paí-ses Baixos, Bélgica, EUA, Coreia do Sul e muitos outros.

O seu reconhecimento internacional sairia reforçado com a conquista do

SIZA VIEIRA E SOUTO MOURAPESOS-PESADOS DA NOVA ARQUITECTURA PORTUGUESA

Dois arquitectos portugueses contemporâneos conquistaram visibilidade e fama internacionais graças à originalidade e funcionalidade dos seus projectos. Álvaro Siza Vieira tornou-se famoso com a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, e o Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, no Porto. Eduardo Souto Moura é mais conhecido pelos seus projectos residenciais, embora recentemente tenha assinado o projecto da nova Casa das Histórias de Paula Rego, um museu dedicado à consagrada pintora portuguesa. Tanto um como outro foram galardoados com o Prémio Pritzker de Arquitectura, da Hyatt Foundation, em 1992 e 2011 respectivamente, pelos seus trabalhos notáveis no domínio da arquitectura.

primeiro lugar no concurso para o pro-jecto de um hotel na zona histórica de Salzburgo, na Áustria, em 1987, em-bora a sua notoriedade internacional já estivesse assegurada através de obras maiores como a recuperação do bairro judeu de Veneza ou a intervenção no bairro Schildersveijk, em Haia.

Foi discípulo de Fernando Távora, mestre incontornável daquela a que se chamou “Escola do Porto”, tendo sobressaído desde o início da sua obra pela sua origi-nalidade e arrojo, com destaque para a icónica casa de chá da Boa Nova – ainda com Távora – já lá vai meio século. De-pois vieram os anos do reconhecimento internacional, durante os quais Álvaro Siza foi consolidando, como poucos na

história da arquitectura, um percurso que se afirma e segue a par de gran-des criadores como Le Corbusier, Adolf Loos, Aldo Rossi, Ludwig Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright, Alvar Aalto, Walter Gropius ou Oscar Niemeyer.

Criou a sua própria linguagem, satura-da não só com referências modernistas internacionais mas também com o cul-tivo de um estilo em que se combinam, com raro talento, ambiente natural e cultural, racionalismo e organicismo, tendo desde Abril de 74, focado o seu interesse na problemática urbana, especialmente na construção de ha-bitação social. Uma característica: uti-liza revestimentos de pedra, rebocos brancos e assimetrias inesperadas. Foi

Álvaro Siza VieiraUm arquitecto do mundo

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nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lausanne (Suíça).

Após o incêndio de 1988 na baixa lisboeta, participou no projecto de reconstrução do centro histórico de Lisboa. A sua obra, em afirmação cres-cente, mereceu prémios nacionais e internacionais. Ganha quase todos os prémios que havia para ganhar. Nos anos 80, recebe o primeiro prémio europeu de arquitectura Mies van der Rohe (1988) e o Prémio de Arquitectu-ra do Ano (1982), que lhe foi atribuído pela secção portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte. Se-guidamente, além do Pritzker (1992), ganha o Prémio Nacional de Arquitec-tura atribuído pela Associação de Ar-

quitectos Portugueses (1993), o Prémio da Fundação Aalto (1998), o Wolf Prize in Arts (2001) e, mais recentemente, a medalha de Ouro atribuída pelo Royal Institute of British Architects, consa-grando-se deste modo como uma das mais marcantes figuras da arquitectura dos séculos XX e XXI.

Tem participado em seminários e con-ferências em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, França, Noruega, Holanda, Suíça, Áustria, Inglaterra, Colômbia, Ar-gentina, Brasil, Japão, Canadá e Estados Unidos. As suas obras foram expostas, entre outras cidades, em Copenhaga, Aarhus (Dinamarca), Barcelona, Veneza, Milão, Finlândia, Paris, Londres, Ames-terdão, Delft (Holanda), Berlim e Cam-

bridge, mas também na Universidade de

Columbia em Nova Iorque, em Madrid

na Galeria MOPU, em Sevilha, Antuér-

pia, Granada e Santiago de Compostela.

Em Portugal, a sua obra esteve exposta

na ESBAP (Escola Superior de Belas Artes

do Porto), na Galeria Almada Negreiros e

na Galeria Rui Alberto.

ÁLVARO SIZA 2ARQUITECTO, SA

Rua do Aleixo, nº 53, 2º 4150-043 Porto PortugalTel.: +351 226 167 270Fax: +351 22 616 72 79

[email protected]

www.sizavieira.pt

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Souto Moura é uma referência incontornável entre os arquitectos que se formaram após o 25 de Abril de 1974, sendo o arquitecto português da sua ge-ração mais divulgado internacionalmente. Nasceu no Porto em 1952. Entre 1974 e 1979 colaborou com o arquitecto Álvaro Siza Vieira, tendo-se licenciado em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1980.

Em 1981, um Souto Moura recém-formado surpreen-deu a comunidade dos arquitectos vencendo o con-curso para o projecto do Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura no Porto, uma aposta profis-sional de peso que o viria a lançar, dentro e fora de Portugal, como um dos mais importantes arquitectos da nova geração. O seu reconhecimento internacional saiu igualmente reforçado, em 1987, com a conquista do primeiro lugar no concurso para o projecto de um hotel na zona histórica de Salzburgo, na Áustria.

Se é certo que trabalhou com Álvaro Siza Vieira, hoje uma boa relação de longa data, cedo criou no entanto o seu próprio estilo e espaço de trabalho influenciado pela horizontalidade das linhas condutoras de Mies van der Rohe, o que o fez ter nas casas o seu grande espólio de obras. É um dos expoentes máximos da chamada Escola do Porto.

Pela ousadia funcional e arrojo no traçado, recebeu vários prémios ao longo da sua carreira, tendo sido distinguido com o Prémio Pessoa e o Prémio Secil de Arquitectura (1992 e 2004). Recebeu também o 1.º Prémio da I Bienal Ibero-Americana pela reconversão do Convento de Santa Maria do Bouro em pousada. Outros galardões que rece-beu são o Prémio Internacional da Pedra na Arquitectura (1995), a Medalha de Ouro Heinrich Tessenow (2001) e o Prémio Internacional de Arquitectura de Chicago (2006). E recebeu o Pritzker, em 2011, considerado como o mais importante galardão da arquitectura mundial, equivalen-te ao Prémio Nobel para a área da arquitectura.

A propósito do prémio atribuído a Souto Moura, dis-se o arquitecto Nuno Grande, na revista espanhola El Croquis: “É um dia grande para a arquitectura portu-guesa. Foi premiado um dos seus grandes arquitectos. A sua obra é de uma coerência inegável, Souto Moura tem-se pautado por não se inscrever nas linhas mais mediáticas da arquitectura. Não segue o ‘star system’, digamos. Tem um filão muito próprio, distinguindo-se do seu mestre Siza. Isto é um sinal de que a arqui-tectura portuguesa está viva e que se reinventa de

Eduardo Souto Moura Uma obra incontornável

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cesso em Óbidos, o Mercado da Cidade de Braga, a Marginal de Matosinhos-Sul, o Crematório de Kortrijk (Bélgica), o Pavilhão de Portugal na 11ª Bienal de Arquitectura de Veneza (Itália) e a Casa Llabia (Espanha).

SOUTO MOURAARQUITECTOS, LDA.

Rua Aleixo, 53, 1º - E, N4150-043 Porto Tel.: +351 226 169 065Fax: +351 226 108 092

[email protected]

geração para geração. Não fica presa a nomes. Espero que não seja o último Pritzker das próximas décadas. Eventu-almente vamos receber mais porque a arquitectura portuguesa tem este dom de se reinventar”.

Foi professor assistente do curso de Arquitectura na Faculdade de Arqui-tectura da Universidade do Porto e professor convidado na Faculdade de Arquitectura de Paris-Belleville, nas Escolas de Arquitectura da Universida-de de Harvard, nos Estados Unidos da América, e de Dublin, na Irlanda, bem

como na ETH (Instituto de Tecnologia da Universidade de Zurique) e ainda na Escola de Arquitectura de Lausanne. Em 2011, Souto Moura foi distinguido pela Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada do Porto com o doutoramento Honoris Causa.

Entre as suas obras mais conhecidas, destacam-se, além do Estádio Munici-pal de Braga (2000/03), a Casa das His-tórias em Cascais, a Casa das Artes no Porto, a Estação de Metro da Trindade (Porto), o Centro de Arte Contemporâ-nea de Bragança, o Hotel do Bom Su-

Pág. da esq.: Torres La Pallaresa, Barcelona, Espanha - foto de Pedro Pegenaute;Nesta pág.: (em cima) Casa em Llabià, Girona, Espanha - fotos de Luís Ferreira Alves;(em baixo à esq.) Crematório em Kortrijk, Bélgica - foto de Luís Ferreira Alves;(em baixo à dir.) Edifico de Novartis, Suíça - foto de Luís Ferreira Alves.