4 - L26-A Grande Obra

25
1 LIÇÃO nº 26 TEMA: A Grande Obra INTRODUÇÃO A Alquimia é tão antiga como o próprio homem. Encontramo-la plasmada nos templos sagrados do antigo Egipto e sempre aparece nos ensinamentos dos iniciados que ao longo da História têm existido. Pouco a pouco temos de compreender que a Alquimia é uma ciência cem por cento esotérica, que o alquimista não é um homem metido no meio de tubos de ensaio, provetas e retortas. O alquimista é um iniciado que, trabalhando no seu próprio laboratório interior, tem um só objectivo: realizar a Magnus Opus, a Grande Obra. Devemos entender que a Grande Obra é um processo iniciático; podemos vivê-lo no nosso interior psicológico e espiritual, que culmina com o Menino de Ouro da Alquimia, a ressurreição do Cristo interior profundo dentro de nós mesmos, aqui e agora. O Jesus Cristo interior existe e Jesus Cristo histórico também existiu. O mérito dele foi ter dado a conhecer a doutrina do Jesus

description

gnose

Transcript of 4 - L26-A Grande Obra

Page 1: 4 - L26-A Grande Obra

1

LIÇÃO nº 26

TEMA: A Grande Obra

INTRODUÇÃO

A Alquimia é tão antiga como o próprio homem. Encontramo-la

plasmada nos templos sagrados do antigo Egipto e sempre aparece

nos ensinamentos dos iniciados que ao longo da História têm existido.

Pouco a pouco temos de compreender que a Alquimia é uma

ciência cem por cento esotérica, que o alquimista não é um homem

metido no meio de tubos de ensaio, provetas e retortas. O alquimista é

um iniciado que, trabalhando no seu próprio laboratório interior, tem

um só objectivo: realizar a “Magnus Opus”, a Grande Obra.

Devemos entender que a Grande Obra é um processo iniciático;

podemos vivê-lo no nosso interior psicológico e espiritual, que

culmina com o Menino de Ouro da Alquimia, a ressurreição do Cristo

interior profundo dentro de nós mesmos, aqui e agora.

O Jesus Cristo interior existe e Jesus Cristo histórico também

existiu. O mérito dele foi ter dado a conhecer a doutrina do Jesus

Page 2: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

2

Cristo Íntimo particular de cada um de nós. Esse é o seu mérito. Ele

propagou a doutrina do Cristo íntimo.

A Mãe Divina Kundalini, já fecundada pelo Logos, é a Divina Mãe,

a Divina Concepção com o menino nos seus braços. Esse menino que

desce, faz-se filho da Divina Mãe de cada um, aguardando o instante

de entrar no nosso corpo para começar o processo da Grande Obra.

O Salvador de cada um de nós, o Jesus Cristo interior é o que

conta. O Drama Cósmico é o que tem de viver o nosso Senhor interior,

dentro de nós mesmos, aqui e agora, no trabalho da Grande Obra.

Page 3: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

3

A GRANDE OBRA

Vamos estudar e definir o caminho que nos conduzirá à

liberação. Os antigos alquimistas medievais referiam-se à Grande

Obra que, como veremos, é muito importante.

No solo das antigas catedrais

góticas vêem-se frequentemente

vários círculos concêntricos formando

um verdadeiro labirinto que chegava

do centro à periferia e da periferia ao

centro. Muito foi dito sobre os

labirintos. A tradição fala-nos do

labirinto de Creta e do famoso

Minotauro Cretense.

Em Creta encontrou-se recentemente um labirinto, ao qual

chamavam o “Absolin”, ou o “Absolum”, que é, como quem diz

Absoluto. Absoluto é o termo que utilizavam os alquimistas

Medievais para designarem a Pedra Filosofal; eis aqui pois um

grande mistério. Nós necessitamos, como Teseu, do fio de Ariadne

para sairmos daquele labirinto. no centro do qual se encontrava

sempre o Minotauro. Teseu conseguiu vencê-lo. Esta é a tradição

grega. Nós também necessitamos vencê-lo, necessitamos de

Labirinto desenhado na

Catedral de Chartres (França)

Page 4: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

4

destruir o Ego animal. Para chegar ao centro do labirinto, onde

está o Minotauro, há que lutar muitíssimo.

Há numerosas teorias, escolas de toda a espécie,

organizações de todo o tipo. Umas dizem que o caminho é por ali,

outras que é por aqui, outras por além e nós temos de orientar-nos

no meio desse grande labirinto de teorias e de conceitos antitéticos,

se quisermos, de verdade, chegar até ao centro onde podemos

achar o Minotauro. Quando se consegue chegar ao centro do

labirinto, é necessário um grande engenho para sair dele. Teseu,

mediante um fio misterioso, o fio de Ariadne, assemelha-se a

Hiram, o Mestre Secreto do qual fala a maçonaria oculta e que

todos devemos ressuscitar dentro de nós aqui e agora. Ariadne

também nos indica a aranha, símbolo da Alma que tece

incessantemente o tear do destino.

Assim pois, devemos reflectir sobre

tudo isto. Mas o que será na

realidade esse fio de Ariadne? Que

fio é esse que salva a Alma, que lhe

permitirá sair desse misterioso

labirinto, para chegar ao seu Real Ser

Interior? Muito se falou sobre este

assunto. Os grandes alquimistas

pensavam que era a Pedra Filosofal e

nós estamos de acordo com isso, mas

vamos um pouco mais longe, de

acordo com as nossas investigações.

A Pedra Filosofal está simbolizada na

Ariadne dá o fio a Teseu

Page 5: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

5

Catedral de Notre Dame de Paris por Lúcifer, portanto agora

compreenderemos que a Pedra Filosofal está no próprio sexo.

Então descobrimos no sexo o Lúcifer.

É Lúcifer, portanto o fio de Ariadne, que nos conduzirá até à

liberação. Isto parece antitético e paradoxal, porque todos

conceituaram que Lúcifer é o Diabo, é Satanás, é o Mal.

Necessitamos da auto-reflexão evidente, se quisermos aprofundar no Grande Arcano. Esse Lúcifer que encontramos no sexo é a viva Pedra, cabeça de ângulo, a Pedra Mestra, a Pedra do canto na Catedral de Notre Dame de Paris, a Pedra da Verdade. É indispensável aprofundar um pouco estes mistérios quando se trata de conhecer o fio de Ariadne.

Recordemos os famosos Santuários

Sagrados dos autênticos Rosacruzes

Gnósticos esoteristas da Idade Média.

Quando o neófito era conduzido até ao

centro do templo, levava os olhos

vendados; alguém lhe arrancava

inesperadamente a venda e então, atónito

e perplexo, ele contemplava uma figura

insólita; ali estava ante a sua presença o

Bode de Mendes, uma figura estranha, o

Diabo. Na sua testa luziam os cornos,

sobre a sua cabeça uma tocha de fogo. No

Page 6: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

6

entanto, algo indicava que se tratava de um símbolo.

No templo da iniciação encontrava-se perante a figura de

Tifão Bafometo, a tenebrosa figura do Arcano 15 do Tarot. A tocha

ardente brilhava sobre a sua cabeça, e na fronte, a estrela

flamejante das cinco pontas, com o ângulo superior para cima e os

dois ângulos inferiores para baixo; isto indicava-nos que não se

tratava de uma figura tenebrosa. Então ordenava-se ao neófito que

beijasse o traseiro do Diabo; se o neófito desobedecia, punha-se-lhe

outra vez a venda nos olhos e retirava-se por uma porta secreta.

Tudo isto sucedia à meia-noite. Nunca o neófito saberia por onde

havia entrado, nem por onde havia saído, porque os iniciados se

reuniam sempre em segredo, à meia-noite, tendo supremo cuidado

para não serem vítimas da Inquisição. Mas se o neófito obedecia,

então naquele cubo sobre o qual estava assente a figura do

Bafometo, abria-se uma porta e por ali saía uma Ísis que recebia o

iniciado de braços abertos, dando-lhe em seguida um ósculo santo

na testa. A partir desse momento aquele neófito era um novo

irmão Iniciado da Ordem.

Esse bode, esse Tifão Bafometo, é Lúcifer representando a

energia sexual, energia que há que saber utilizar, se é que

queremos realizar a Grande Obra.

Agora ficamos a saber por que motivo Tifão Bafometo, o

Bode de Mendes representa a Pedra Filosofal, o sexo; é com essa

Page 7: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

7

força tremenda que há que trabalhar. Recordemos que a Arca da

Aliança dos antigos tempos tinha quatro cornos de bode nas

quatro esquinas, correspondentes aos quatro pontos cardiais da

Terra e, quando era transportada, agarrava-se sempre por esses

quatro cornos.

Moisés, no Sinai, transformou-se e, quando desceu, os

clarividentes viram-no com dois raios de luz na testa, semelhantes

aos do Bode de Mendes. Foi por isso que Miguel Ângelo, ao

cinzelá-lo na pedra viva, lhe pôs na sua cabeça

aqueles simbólicos cornos, é que o bode representa a

força sexual, mas também representa o Diabo, porém

esse Diabo ou Lúcifer é a própria potência de vida,

que devidamente transformada, nos permite a Auto-

Realização Intima do Ser; por isso se disse que

Lúcifer é o Príncipe dos Céus, da Terra e dos

Infernos.

Nas antigas catedrais góticas tudo estava

calculado, até a planta dos templos estava

organizada em forma de cruz e isto recorda-nos a crucis, crux,

crisol, etc., já sabemos que a haste vertical é masculina e a

horizontal é feminina, no cruzamento de ambos encontra-se a

chave de todos os mistérios, o cruzamento de ambos é o crisol dos

alquimistas medievais, no qual há que cozer e recozer e voltar a

cozer a matéria-prima da Grande Obra; essa matéria-prima é o

Esperma Sagrado que, transformado, se converte em energia. É

Page 8: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

8

com essa subtilíssima energia que

podemos abrir os chacras,

despertar todos os poderes mágicos

ocultos, criar os Corpos Existenciais

Superiores do Ser, etc. Tudo isto é

muito importante e muito

interessante.

A cruz em si mesma é um

símbolo sexual. Na cruz está o

Lingam-Yoni do Grande Arcano.

Nos dois madeiros atravessados da

cruz estão as marcas dos três cravos; são esses três cravos que

permitem abrir os estigmas do iniciado, ou seja, os chacras das

palmas das mãos e dos pés. Também simbolizam as três

purificações do Cristo, e aqui está outro mistério transcendental.

Definitivamente, realizar a Grande Obra é a única coisa pela qual

vale a pena viver.

Pedro, o amado discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo, tem

como evangelho o Grande Arcano, os mistérios do sexo; por isso é

que Jesus lhe chamou Petrus, Pedra: "Tu és pedra e sobre essa pedra

edificarei a minha Igreja". O sexo é, pois, a Pedra Básica, a Pedra

Cúbica, a Pedra Filosofal que nós devemos trabalhar à base de

cinzel e martelo para a transformarmos em Pedra Cúbica perfeita.

Essa pedra sem cinzelar, a Pedra Bruta em si mesma é Lúcifer; já

cinzelada é o nosso Logoi interior, o Arché dos gregos. O

Planta em cruz da Catedral de

Chartres

Page 9: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

9

importante é, pois, cinzelá-la, trabalhar com ela, elaborá-la, dar-lhe

a forma cúbica perfeita.

Entre os discípulos de Cristo há verdadeiros prodígios e

maravilhas. Recordemos por um momento Santiago, esse grande

Mestre. Dizem que era aquele que mais se parecia com o Grande

Kabir Jesus. Chamavam-lhe o irmão do Senhor e é óbvio que

dispunha de grandes poderes psíquicos, mágicos.

Santiago foi o primeiro que, depois da morte do Grande

Kabir, oficiou a Missa Gnóstica em Jerusalém. Contam as tradições

que teve de enfrentar, o mago negro Hermógenes, na Judeia.

Santiago, conhecedor da Alta Magia, combatia sabiamente o

tenebroso. Quando este usava um sudário de maravilhas, aquele

também o usava para se lhe opor. Se Hermógenes usava o bastão

mágico, Santiago usava outro semelhante, até que por fim

derrotou o tenebroso nas terras de Judeia. No entanto, foi

considerado mago e era-o, fora de toda a dúvida.

Foi condenado à pena de morte, mas algo insólito aconteceu.

Segundo contam as lendas: "Deu-se o caso de que o sarcófago de

Santiago se suspendeu no ar e foi transportado à antiga Espanha". Certo

é o que se diz de Santiago de Compostela, que ressuscitou de entre

Page 10: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

10

os mortos e que, em terras de Espanha, foi atacado pelos demónios

com figura de touro, por fogo vivo...

Nicolás Flamel o grande alquimista medieval teve Santiago

de Compostela por patrono da Grande Obra (Nicolás Flamel

indubitavelmente obteve a Auto-Realização Íntima do Ser).

No caminho de Santiago de Compostela há uma rua a que

chamam de Santiago, e aí há uma caverna chamada "a Gruta da

Saúde". Pela época em que as pessoas peregrinavam até Santiago

de Compostela, os alquimistas reuniam-se nessa caverna, aqueles

que estavam trabalhando na Grande Obra, aqueles que

admiravam não só Santiago de Compostela, ao qual tinham por

patrono bendito, mas também os seguidores de Jacobo de Morai.

Assim pois, enquanto as pessoas estão rendendo um culto

exotérico a Santiago de Compostela, os alquimistas e cabalistas

estão reunidos em mística assembleia, para estudar a Cabala, a

Alquimia e todos os mistérios da Grande Obra.

Aqui vemos os dois aspectos esotéricos e exotéricos do

cristianismo. Indubitavelmente, tudo isto convida-nos à reflexão.

Page 11: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

11

Jacobo de Morai, que foi queimado vivo durante a

Inquisição, é considerado, entre aqueles alquimistas e cabalistas

que se reuniam na Gruta da saúde, da mesma forma que se

considera Hiram Abif, o Mestre secreto que há que ressuscitar em

cada um de nós e Santiago, como o verdadeiro patrono da Grande

Obra. Isto é bastante interessante, pois é a Grande Obra o que nos

interessa realizar e, afirmo com toda segurança, é o único pelo qual

vale a pena viver; o resto não tem a menor importância.

Dizem que o patrono Santiago de Compostela aparece aos peregrinos de chapéu de bico para cima, o seu bastão, no qual reluz o Caduceu de Mercúrio, e uma concha de tartaruga no peito simbolizando a estrela flamígera. É interessante estudarmos a epístola universal de Santiago na Bíblia; é indubitavelmente maravilhosa, está dirigida a todos aqueles que trabalham na Grande Obra.

Diz Santiago que "a Fé sem obras nada vale". Observamos

aqui toda a doutrina do Grande Arcano. Todas as explicações que

damos sobre os alquimistas e sobre a Grande Obra, se não

realizamos a Grande Obra, se não trabalhamos nela, se só temos a

fé e nada mais, nos pareceríamos, como diz Santiago, "ao homem

que olha um espelho, vê o seu rosto reflectido e vira costas e se retira",

esquecendo o incidente.

Se escutarmos todas as explicações sobre a Grande Obra e

não trabalharmos na Forja dos Ciclopes, e não fabricarmos os

Page 12: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

12

Corpos Existenciais Superiores do Ser, parecer-nos-emos com esse

homem que se olha ao espelho, dá meia volta e se retira.

A fé sem obras de nada vale, é necessário que a obra dê

suporte à fé, a fé deve falar pelas obras. Diz Santiago que

precisamos de ser misericordiosos, é claro, porque se somos

misericordiosos, os Senhores do Karma julgar-nos-ão com

misericórdia, porém se somos desapiedados, os Senhores do

Karma julgar-nos-ão de forma desapiedada e dado que a

misericórdia tem mais poder que a justiça é certo que se formos

misericordiosos poderemos eliminar muio Karma.

Tudo isto nos convida à reflexão. Diz Santiago que temos que aprender a refrear a língua, aquele que sabe refrear a língua, pode refrear todo o corpo e dá-nos o exemplo do cavalo. Ao cavalo põe-se-lhe o freio na boca, no focinho, e é assim que conseguimos dominá-lo, manejá-lo; o mesmo sucede se refreamos a nossa língua, ficamos donos de todo o nosso corpo.

Diz Santiago: "Olhemos os barcos, quão grandes são e no entanto o

que os governa é o leme". Este é realmente muito pequeno em

comparação com o enorme tamanho que têm os navios. A língua é

muito pequena, na verdade, mas que grandes incêndios forma!

Somos ensinados nessa epístola a jamais nos jactarmos do

que quer que seja, aquele que é jactancioso de si mesmo ou das

Page 13: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

13

suas obras, daquilo que fez, indubitavelmente é soberbo, pedante e

fracassa na Grande Obra. Necessitamos humilhar-nos ante a

Divindade, sermos cada dia mais e mais humildes, se é que

queremos trabalhar com êxito na Grande Obra; jamais presumir de

coisa alguma, sermos simples, sempre, isso é vital quando se quer

triunfar na Grande Obra, na Magnus Opus.

Essa epístola está escrita com um duplo sentido, se a

lêssemos literalmente não a entenderíamos; assim a leram os

protestantes, os adventistas, os católicos e não a entenderam; essa

epístola tem um duplo sentido e está dirigida exclusivamente aos

que trabalham na Grande Obra.

Quanto à fé, é necessário tê-la,

todo o alquimista deve ter fé, todo o

kabalista deve ter fé, porém esta não é

algo empírico, algo que se nos ofereça,

a fé, há que fabricá-la, não podemos

exigir a alguém que tenha fé, há que

fabricá-la, elaborá-la. Como se fabrica?

À base de estudo e de experiência.

Poderia alguém ter Fé disto que

estamos a dizer aqui, se não estudar e

experimentar por si mesmo?

Obviamente que não. Mas conforme formos estudando e

experimentando, vamos compreendendo e dessa compreensão

criadora deriva a fé verdadeira; assim pois a fé, necessitamos

Page 14: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

14

fabricá-la, e mais tarde, muito mais tarde, o Espírito Santo, o

Terceiro Logos poderia consolidá-la em nós, fortificá-la e

robustecê-la, mas nós devemos fabricá-la.

Outro apóstolo bastante interessante que devemos ter em conta neste caminho estreito e difícil que percorremos é André. Diz-se que em Nicea conjurou sete demónios perversos e que os tornou visíveis ante as multidões na forma de sete cães que fugiram espavoridos; muito se tem falado sobre André e não há dúvida de que foi extraordinário, estava imbuído de um grande poder. A realidade é que André, o Grande Mestre discípulo do Cristo, foi condenado à morte e torturado. A Cruz de Santo André convida-nos à reflexão; é um “X”, com os seus dois braços estendidos à direita e à esquerda e as suas duas pernas abertas de lado a lado em forma de xis e sobre ela foi crucificado. Esse xis é muito simbólica, em grego equivale a um "K", que nos recorda o Crestos. Sem lugar a dúvidas, o drama de André foi magnificamente simbolizado pelo grande monge iniciado Bacon. Este, no seu livro mais extraordinário denominado "A Roda", coloca uma gravura na qual se vê claramente um homem morto, que no entanto trata de levantar a cabeça, de esperançar-se, de ressuscitar, enquanto dois corvos negros lhe vão retirando a sua carne no áspero chão.

A Alma e o Espírito elevam-se do cadáver, isto faz-nos

recordar a frase de todos os iniciados que diz: "A carne abandona os ossos".

Santo André ao morrer numa cruz em forma de xis fala-nos

precisamente da desintegração do Ego. Há que reduzi-lo a “poeira

cósmica”, há que esquartejá-lo: "A carne abandona os ossos", só

Page 15: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

15

assim é possível que o Mestre Secreto Hiram Abif ressuscite dentro

de nós mesmos, aqui e agora, caso contrário seria completamente

impossível.

Na Grande Obra devemos morrer de instante a instante, de

momento a momento.

E que diríamos de João? Ele é sem dúvida o patrono dos fabricantes de ouro. Haverá alguém que fabrique ouro? Sim, recordemos Raimundo Lúlio, fabricou-o, enriqueceu as arcas de Filipe o Formoso de França e do rei de Inglaterra. Todavia se recordam cartas de Raimundo Lúlio, uma delas fala de um formoso diamante, com o qual obsequiou nada menos que o rei de Inglaterra; dissolveu um vidro num fundidor e em seguida, pondo água de mercúrio naquele vidro, transformou-o num gigantesco diamante extraordinariamente fino, que obsequiou ao rei; quanto à transmutação do chumbo em ouro, fazia-o graças ao Mercúrio Filosofal. Enriqueceu toda a Europa com as suas fundições e no entanto ele permanecia pobre. Viajante extraordinário por todos os países do mundo, por fim morreu lapidado numa dessas terras. Tudo isto convida à reflexão.

Page 16: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

16

Assim João, o Apóstolo de Jesus, é o patrono dos fabricantes

de ouro. Diz-se que numa ocasião encontrou no seu caminho, num

povoado no Oriente, um filósofo que tentava convencer as pessoas

e demonstrar-lhes o seu poder com a palavra e com o Verbo. Dois

jovens que tinham escutado os seus ensinamentos abandonaram as

suas riquezas, venderam-nas e com elas compraram um grande

diamante. Puseram nas mãos do filósofo aquele diamante. Este por

sua vez devolveu-o a eles, os quais de imediato com uma pedra

destruíram a gema. João protestou dizendo: "Com tal gema poderia

dar-se de comer aos pobres".

Dizem que perante as multidões reconstruiu a gema e logo a

vendeu para dar de comer às multidões, mas os jovens

arrependidos protestavam e disseram para si próprios: "Que tontos

fomos ao desfazer-nos de todas as nossas riquezas para comprar um

diamante que ficou em pedaços e logo foi reconstruído para ser repartido

entre as pessoas".

Porém João, que via todas as coisas do céu e da terra e sabia

transmutar o chumbo em ouro, mandou trazer da beira-mar, ali

perto, umas pedras e umas canas (pedra, símbolo da Pedra

Filosofal, o sexo; e a cana, símbolo da Espinha Dorsal, pois ali está

o poder para transmutar o chumbo em ouro) e depois de converter

aquelas canas e pedras em ouro, entregou essas riquezas aos

jovens, porém disse-lhes: "Perderam o melhor, devolvo-vos o que

Page 17: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

17

deram, porém perderam o que tinham alcançado nos Mundos

Superiores”. Em seguida, acercando-se de uma mulher que tinha

morrido, ressuscitou-a e ela então contou o que tinha visto fora do

corpo e dirigindo-se àqueles jovens, disse-lhes que tinha visto os

seus anjos guardiães a chorar e em grande amargura, porque eles

tinham preterido o melhor por coisas vãs e perecedouras. É claro

que os jovens se arrependeram, devolveram esse ouro a João que o

transformou no que era, canas e pedras; e os jovens converteram-

se em seus discípulos.

Assim pois, João e a Ordem de São João convidam-nos a

pensar; João é patrono dos que fazem ouro. Nós necessitamos

transmutar o chumbo da personalidade no ouro vivíssimo do

Espírito. Por algo se lhes dá o nome, aos grandes Mestres da Loja

Branca, "Irmãos da Ordem de São João". Muitos crêem que João, o

Apóstolo do Mestre Jesus, desencarnou, mas ele não desencarnou.

Velhas tradições dizem que mandou cavar a sua cova sepulcral,

deitou-se nela, resplandeceu em Luz e desapareceu; a cova ficou

vazia. Nós sabemos que o apóstolo João vive com o mesmo corpo

que teve na Terra Santa e que vive precisamente em Agarta, no

reino subterrâneo, ali onde está a Ordem de Melchisedeck e

acompanha o Rei do Mundo.

Entrando pois no Magistério do Fogo, devemos definir algo

para esclarecer, torna-se necessário como dissemos, transmutar o

Esperma Sagrado em energia. Quando isto se consegue, advém o

Page 18: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

18

fogo que sobe pela espinha dorsal e começa a realizar-se a Grande

Obra.

Necessitamos criar os Corpos Existenciais Superiores do Ser,

mas isto não é suficiente, é necessário, indispensável e urgente,

recobrir depois esses veículos com as distintas partes do Ser,

porém para recobri-los há que aperfeiçoá-los, convertê-los em ouro

puro, ouro espiritual de verdade. Não estranhem pois que João ou

que Santiago tenham um corpo Astral de ouro puro, um corpo

Mental do mesmo metal, ou o corpo Causal, ou o Búdico, ou o

Átmico; eles alcançaram realizar a Grande Obra.

Se por algo o Conde Saint Germain podia transmutar o

chumbo em ouro, é porque ele mesmo era de ouro, a aura do

Conde Saint Germain é de ouro puro, os átomos que formam essa

aura são de ouro e os Corpos Existenciais Superiores são de ouro

da melhor qualidade. Nessas condições ele pode deitar uma

moeda num fundidor, derretê-la e de seguida, com o próprio

poder que possui interiormente, transmutá-la em ouro puro,

porque ele é ouro.

Isso é o que se chama realizar a Grande Obra. Nisto há

graus e graus; primeiro há que alcançar a Mestria, depois temos

que converter-nos em Mestres perfeitos e muito mais tarde

alcançar o grau de Grande Eleito. Grande Eleito e Mestre Perfeito

são aqueles que realizaram a Grande Obra. Assim como agora nos

Page 19: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

19

encontramos realmente estamos

mal, necessitamos passar pela

transformação radical e isso só é

possível destruindo os elementos

inumanos e criando os humanos, só

assim marcharemos em direcção à

libertação final.

Na catedral de Notre Dame de

Paris, como já temos dito, numa

esquina está a Pedra Mestra ou a

Pedra do Ângulo, que os

edificadores de todas as seitas,

escolas, religiões e demais, rechaçaram. Pedra escolhida, preciosa,

que tem a figura de Lúcifer. Isto assustaria os profanos;

inquestionavelmente, só ali, no sexo, poderemos encontrar esse

princípio luciferino que será a base para a Auto-realização. Porém,

porque é Lúcifer o fio de Ariadne? Porque é precisamente ele que

há-de conduzir-nos à liberação final, (quando na verdade foi tido

por inimigo), porque é o reflexo do Logoi Interior dentro de nós

mesmos, a sombra do nosso Íntimo, Deus em nós e para nosso

bem, posto que é o treinador.

Deus não pode tentar-nos; tentam-nos as nossas próprias

concupiscências. Fá-las passar pelo ecrã do entendimento, com o

propósito de nos treinar psicologicamente, de fazer-nos fortes, mas

se falhamos, fracassamos na Grande Obra. Qualquer um pode

falhar, e pelas suas falhas sabe que tem delitos a corrigir, a

eliminar. Assim Lúcifer nos treina, nos educa, nos forma e, à força

Page 20: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

20

de tanto treino libera-nos, conduzindo-nos de esfera em esfera até

ao nosso Hiram Abif.

Lúcifer é pois, o Fio de Ariadne, que nos leva até ao nosso

Deus Interior, que nos retira deste doloroso labirinto da vida

mediante o trabalho esotérico. Uma e outra vez faz passar pelo

ecrã do nosso entendimento as nossas próprias concupiscências,

não outras senão as nossas. Vencê-las, eliminá-las, desintegrá-las,

torná-las pó, é o indicado, assim damos cada vez mais passos e

mais avançados, assim vamos partindo do centro do labirinto em

direcção à periferia para chegarmos um dia ao nosso Deus. Esse é

o trabalho de Lúcifer, ele é o Fio de Ariadne, ele é a Pedra

Filosofal; por algo os peregrinos da catedral de Notre Dame de

Paris apagam as suas velas nas faces pétreas de Lúcifer, na pedra

do canto, como se diz por ali.

Tem-se falado de poderes mágicos, podemos chegar a tê-los

mas necessitamos de criar muito dentro de nós e destruir

demasiado. Há muito que nos sobra e muito que nos falta, todo o

mundo crê que possuímos os Corpos Existenciais Superiores do

Ser e isso não é assim.

Page 21: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

21

Torna-se necessário criá-los e não é possível criá-los a não ser

na Forja dos Ciclopes, quer dizer, mediante o trabalho sexual; dir-

nos-ão que somos fanáticos do sexo; equivocam-se, o que acontece

é que temos um laboratório, que é o nosso próprio corpo. Também

temos o fornilho do laboratório, é o fogo do Alquimista e um crisol,

que está no sexo. Eis aí a matéria-prima da Grande Obra, o

esperma sagrado; transmutá-lo é indispensável, convertê-lo em

energia e poder, de seguida com essa energia e com o que ela

contém, criar os Corpos Existenciais Superiores do Ser, isso é o

vital, o indispensável.

Chegará um dia em que haveremos de passar mais além do

sexo. Sem termos alcançado a meta, isso seria como querermos sair

do comboio antes de

chegarmos à estação, como

querermos sair do autocarro

ou do camião onde vamos,

antes de chegarmos à meta

que traçámos. No sexo há que

criar e há que destruir. Criar

os Veículos Solares é

necessário para que o nosso

Deus Interior possa

ressuscitar em nós e eliminar

os elementos inumanos que

levamos dentro.

Matéria Prima Lapidis Philosophorum

Page 22: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

22

Todos devemos compreender, não basta lermos isto, é

necessário realizá-lo, porque a fé sem obras é fé morta. É

necessário que a fé vá acompanhada da obra.

Há que realizar a Grande Obra, mas não basta ter fé, e como

resultado final conseguiremos que cada um de nós se converta

num Grande Deus com poder sobre os Céus e a Terra e sobre os

Infernos, esse é o resultado final da

Grande Obra, cada um de nós

convertido numa majestade, numa

Criatura terrivelmente Divina.

Actualmente devemos reconhecer

que nem sequer somos humanos,

somos unicamente humanóides, de

forma mais crua diríamos que somos

mamíferos intelectuais e nada mais,

porém podemos sair deste estado em

que nos encontramos mediante a

Grande Obra.

Hiram Abif é o Mestre Secreto, o

Terceiro Logos, Shiva, o Primogénito

da Criação, o nosso Real Ser Interior

Divino, a nossa Mónada verdadeira e

individual. Necessitamos ressuscitá-la

Manuscrito s. XII

Elevação pela via divina.

Page 23: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

23

porque está morta dentro de nós, ainda que esteja viva para os

mundos inefáveis.

Raimundo Lúlio realizou a Grande Obra, recebeu no Mundo

Astral o Grande Arcano e foi com essa chave mestra que pôde

trabalhar na Grande Obra. Raimundo Lúlio indubitavelmente

conheceu fora do corpo físico o que é a Sagrada Concepção da Mãe

Divina Kundalini Shakty. Ao conhecer como se realizava, propôs-

se materializar desde o alto a Sagrada Concepção em si mesmo, até

que o alcançou.

Não poderá verificar-se a ressurreição do Cristo no coração

do homem, enquanto não estiverem os Corpos Superiores

Existenciais do Ser convertidos em veículos de ouro puro, que

penetrando-se e compenetrando-se sem se confundirem, formem o

famoso To Soma Heliakon, o Corpo de Ouro do Homem Solar.

O To Soma Heliakon serve de envoltório para o Senhor, para

o Cristo interior que se levanta do seu sepulcro de cristal e volta

aqui a manifestar-se. Ele envolve-se com o corpo de ouro e

expressa-se no mundo físico como um Mahatma. Para que vem o

Senhor a este mundo? Para trabalhar pela Humanidade, esse é o

objectivo.

Page 24: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

24

Indubitavelmente a Mãe Divina deve conceber, por obra e

graça do Terceiro Logos, o Filho. Ela permanece virgem antes do

parto, no parto e depois do parto.

Esse menino que Ela concebe deve materializar-se, cristalizar

em nós a partir de cima, desde o alto, até ficar revestido completamente com o nosso corpo físico, com o nosso corpo planetário.

Ao chegar a esse grau pode dizer-se que a Grande Obra se

realizou, noutros termos, devemos ressuscitar Hiram Abif dentro de nós.

Quanto ao menino, ele é o Cristo íntimo, o Menino a quem adoram os Reis Magos, o Cristo íntimo que tem de passar todo este trabalho. Durante este processo de Alquimia, o Senhor Interior Profundo trabalha terrivelmente. No fundo já é dirigente da

A Anunciaçã - Fra Angelico

La Anunciación – Fra Angelico

Page 25: 4 - L26-A Grande Obra

Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.

25

Grande Obra, a própria Stella Maris trabalha sob a sua direcção, Ele é o chefe da Grande Obra. De maneira que quando o Senhor Interior Profundo termina a totalidade da Grande Obra, dentro desse sepulcro de cristal, nasce como um menino no coração do Homem.

Ele tem que se desenvolver durante o trabalho esotérico, tem

que viver o Drama Cósmico dentro de nós mesmos e toma a seu cargo todos os nossos processos mentais, volitivos e emocionais. Numa palavra, faz-se Homem entre os homens e sofre todas as tentações da carne. Tem que vencer e sair triunfante. Todos os seus veículos são então de ouro puro e pode cada um vestir-se com esses corpos e viver no mundo da carne, como um autêntico Adepto resurrecto, triunfante no Universo. Que se saiba, pois, que o Senhor Interior Profundo, o Cristo íntimo, é o estímulo no mundo, de toda a majestade de Deus, porque é o nosso verdadeiro Salvador.

Natividade do Senhor - G. Doré