Kompleks Bkt. Gedung cemerlang, bukti KN tidak abai Bumiputera
36 - ABPMCabpmc.org.br/arquivos/publicacoes/1460057374961ca7a9b9.pdf · 2016. 4. 7. · investido...
Transcript of 36 - ABPMCabpmc.org.br/arquivos/publicacoes/1460057374961ca7a9b9.pdf · 2016. 4. 7. · investido...
1991 . 2012
36
ABPMC | junho de 2012 | n. 36 | ISSN 2178-583X
EditorialContribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestrede gestão da ABPMC
Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise decontingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração
O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?
Análise do comportamento e análise da cultura:onde estamos e para onde vamos?
O autismo em foco
Introdução à Economia Comportamental para analistas do comportamento
Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamento
Tradução de artigoAtivação Comportamental: história, evidência e promessa
Arte em ContextoO brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantis
PresidenteClaudia Kami Bastos Oshiro (USP - São Paulo)
Vice-PresidenteGiovana Del Prette (IPq-USP e Núcleo Paradigma - São Paulo)
Primeira SecretáriaAriene Coelho Souza (USP - São Paulo)
Segunda SecretáriaGiovana Veloso Munhoz da Rocha (UTP e FEPAR - Curitiba)
Primeira TesoureiraFátima Aparecida Miglioli Fernandez Tomé
Segunda TesoureiraElaine Cristina Catão
Conselho ConsultivoFrancisco Lotufo Neto (IPq/HC/FMUSP - São Paulo)Deisy das Graças de Souza (UFSCar, São Carlos)Denis Roberto Zamignani (Núcleo Paradigma - São Paulo)Regina Christina Wielenska (HU/USP e AMBAN/IPq/HC/FMUSP - São Paulo)Sonia Beatriz Meyer (USP - São Paulo)Vera Regina L. Otero (Clínica Ortec – Ribeirão Preto)
Membros Permanentes do Conselho ConsultivoBernard Pimentel Rangé (UFRJ – Rio de Janeiro)Hélio José Guilhardi (ITCR - Campinas)Roberto Alves Banaco (PUC-SP e Núcleo Paradigma - São Paulo)Rachel Rodrigues Kerbauy (USP - São Paulo)Maria Zilah Brandão (PSICC - Londrina)Wander Pereira da Silva (IBMEC - Brasília/DF)Maria Martha Hübner (USP - São Paulo)
Membros HonoráriosRachel Rodrigues Kerbauy (USP - São Paulo)João Claudio Todorov (IESB - Brasília/DF)Isaías Pessotti (USP – Ribeirão Preto)
Diretoria ABPMC – Gestão JUNHO/2012
Boletim ContextoUma publicação eletrônica da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC).São Paulo, n. 36, junho de 2012.
Coordenação editorialAlessandra Villas-Bôas (USP - São Paulo)Jan Luiz Leonardi (Núcleo Paradigma - São Paulo)
Colaboração especialClaudia Kami Bastos Oshiro (USP - São Paulo)
Projeto gráfico e diagramaçãoFG1 Comunicação Interativa
Expediente
Editorial Contribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestre de gestão da ABPMCClaudia Kami Bastos Oshiro
Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise de contingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração.Denigés Maurel Regis NetoFernando Albregard Cassas
O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?Desirée da Cruz Cassado
Análise do comportamento e análise da cultura: onde estamos e para onde vamos?Christian Vichi
O autismo em focoLygia T. Dorigon
Introdução à Economia Comportamental para analistas do comportamentoAna Carolina Trousdell FranceschiniDiogo Conque Seco Ferreira
Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamentoLuana Hamilton
Tradução de artigo Ativação Comportamental: história, evidência e promessaJonathan W. Kanter, Ajeng J. Puspitasari, Maria M. Santos and Gabriela A. Nagy
Arte em Contexto O brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantisLaércia Abreu Vasconcelos
Sumário
1
17
42
65
81
89
115
131
142
Prezados sócios, colaboradores e amigos,
É com grande satisfação que escrevo este texto que dará início
ao nosso relato de como tem sido a condução da ABPMC neste primeiro
semestre de 2012. Sinto-me honrada por estar à frente da ABPMC,
associação que hoje se encontra no seu 21º ano de vida. Como é de
conhecimento de todos vocês, a ABPMC conseguiu proporcionar, ao
longo dos anos de sua existência, uma interação reforçadora e
produtiva para seus participantes em suas respectivas áreas. Fred
Keller, Carolina Bori, Maria Amélia Matos e outros pesquisadores
contribuíram ativamente para formar uma geração capacitada a dar
continuidade aos trabalhos desenvolvidos na Psicologia.
Durante vinte anos, líderes de nossa área, como Bernard
Pimentel Rangé, Hélio José Guilhardi, Rachel Rodrigues Kerbauy,
Roberto Alves Banaco, Maria Zilah Brandão, Wander Pereira da Silva,
Maria Martha Hübner, trabalharam como presidentes da ABPMC para
que a nossa associação se fortalecesse. Não posso deixar de enfatizar o
trabalho exaustivo dos presidentes dos Encontros, peças
fundamentais na condução, divulgação e disseminação de nossa área
ao garantir eventos de alto nível científico.
Com o objetivo de dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos
ao longo dos anos de ABPMC, em agosto de 2011, um grupo liderado
EditorialContribuições da Diretoria 2012: relato da experiência do primeiro semestre de gestão da ABPMC
1
2
por pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP), se uniu para
investir em uma nova geração de analistas do comportamento. Foi
neste cenário que eu, Giovana Del Prette, Ariene Coelho Souza,
Giovana Veloso Munhoz da Rocha, Fátima Ap. M. F. Tomé e Elaine Catão
fomos eleitas para compor a nova diretoria.
Entusiasmadas com a possibilidade de aumentarmos as
respostas cooperativas e integrativas entre nossos membros e a
coesão interna, nossa proposta de gestão foi sintetizada na sentença
“Interatividade: Avanço da Ciência para o Desenvolvimento Sustentável”.
Assim, nosso trabalho enfatiza a importância de melhorar a
comunicação entre os diversos pesquisadores brasileiros e
estrangeiros, entre a população leiga e científica, com vistas ao
fortalecimento do grupo e do conhecimento científico. A partir disso,
nossa prática, em última análise, objetiva a melhoria das relações
humanas e da cultura para um mundo melhor, sustentável e humano.
Para colocarmos em prática o que a nossa proposta significava,
fizemos um levantamento inicial para identificar as possíveis demandas
da ABPMC. Na tentativa de continuarmos os trabalhos de gestões
passadas no que diz respeito à organicidade da associação, priorizamos
a resolução de questões internas de funcionamento, tais como
questões jurídicas e redução de custos mensais. O principal acerto
jurídico foi com relação ao nosso mandato complementar com duração
de um ano (2012). Devido à alteração do nome da ABPMC (em
01/12/2010), cuja denominação social passou a ser Associação
Brasileira de PSICOLOGIA e Medicina Comportamental, o período de
gestão da diretoria anterior foi modificado e, consequentemente, a
nossa diretoria se constituiu como uma gestão complementar, na
tentativa de acertarmos novamente o fluxo dos biênios. Feito isso,
seguimos para a redução de custos. Este último item era um grande
desafio porque a ABPMC já funcionava com um orçamento enxuto. Para
isso, tomamos algumas medidas, tais como: a transferência de sede
para um local sem custo, a dispensa de secretária, a regra de adotarmos
três orçamentos para fecharmos qualquer prestação de serviço e
estudos de viabilidade financeira das possíveis cidades-sede do XXI
Encontro.
A função de presidir o XXI Encontro de Psicologia e Medicina
Comportamental coube à Giovana Munhoz da Rocha, desafio assumido
com coragem e alegria. Giovana tinha a experiência de ter organizado
com sucesso a XL Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia,
em Curitiba, no ano de 2010. Em termos operacionais, a proposta de
Curitiba também se alinhava com o cuidado financeiro que estávamos
tendo com a ABPMC. Primeiro, estando a presidente do XXI Encontro na
mesma cidade do evento teríamos a vantagem de reduzir os custos de
viagens, telefonemas, além de facilitar a coordenação da equipe de
voluntários. Segundo, muitos locais haviam sido consultados e
estávamos com alguns critérios selecionados para avaliarmos a
estrutura que cada cidade oferecia: datas disponíveis, local, número de
salas, logística de transporte, alimentação, hotelaria, pontos turísticos.
3
Felizmente, Curitiba oferecia uma rede hoteleira ampla e variada,
atendendo a todas as faixas de clientela. Apresentava restaurantes dos
mais variados tipos de cozinha, com preços acessíveis. A malha aérea
conectava-se com todas as capitais brasileiras, bem como a malha
rodoviária, que apresentava várias opções de acesso à cidade.
Tínhamos atrações turísticas variadas, que iam de museus a parques;
estávamos a apenas uma hora do litoral, no qual encontrávamos
passeios em pontos históricos e culinária típica. Curitiba tinha ainda
uma vida noturna intensa, o que também fazia parte de grandes
encontros.
O Encontro Anual já foi realizado nas cidades de: Campinas - SP
(9 anos); São Paulo-SP (2 anos); Águas de Lindóia-SP (1 ano); Santos-SP
(1 ano); Rio de Janeiro- RJ (1 ano) ; Brasília-DF (2 anos); Londrina (2
anos); Campos do Jordão-SP (1 ano) e Salvador-BA (1 ano). Com
exceção de Brasília, Londrina e Salvador, todas as outras edições do
Encontro foram na região Sudeste. Apesar de a ABPMC possuir fortes
núcleos no Norte/Nordeste (Salvador, Fortaleza, Teresina, Maceió, São
Luís, Belém do Pará, Aracajú) e no Sul (Londrina, Curitiba, Florianópolis),
o evento ocorreu apenas duas vezes na região Sul (Londrina-PR). Dado
que no ano passado o Encontro Anual foi realizado no nordeste
(Salvador-BA), para este ano, pudemos trazê-lo para o Sul. Além dos
fatores operacionais supracitados, a cidade de Curitiba nos permitiu
continuarmos alinhados com a proposta de promover a Análise do
Comportamento e a Terapia Cognitivo-comportamental em
4
diferentes regiões do país (saímos do Nordeste em 2011, para o Sul em
2012); vale lembrar que Curitiba nunca teve a oportunidade de receber
um Encontro Brasileiro da ABPMC. Com os custos reduzidos em 2012,
poderíamos nos preparar financeiramente para um grandioso XXI
Encontro!
Enfim, com esses temas resolvidos, partimos para a nossa
interatividade! Criamos a “Interatividade ABPMC” ou, como nomeamos
informalmente, o “Exército ABPMC”, que consiste em uma rede de
contatos com profissionais de todo o Brasil dispostos a divulgar nossa
associação e formar parcerias. A Figura 1 apresenta as universidades
que foram contatadas por região do Brasil. Temos espalhados pelo
território brasileiro muitos associados, professores universitários
dispostos a trabalhar em prol da ABPMC.
5
Figura 1. Distribuição da “Interatividade ABPMC” ao longo das regiões dos estados brasileiros. As siglas representam os estados brasileiros e uma amostra das universidades contatadas.
Seguindo nossa proposta de interatividade, em fevereiro de
2012, fizemos um pronunciamento intitulado “Interatividade entre
Psicologia e Medicina Comportamental e Cognitiva” em resposta à
matéria publicada pelo jornal o Estado de São Paulo que destacou uma
afirmativa equivocada do Presidente do Conselho Federal de Medicina,
o Dr. Roberto Luiz D´Avila, sobre a Psicologia. Mantivemos o que foi
implementado pela gestão de 2008/2009: responder oficialmente às
críticas ou equívocos que envolvem nossa área.
Iniciamos também nosso contato com o Grupo de Trabalho (GT)
das Jacs (Jornadas de Análise do Comportamento) e Eacs (Encontros
de Análise do Comportamento) com o objetivo de estabelecermos
parcerias futuras. Surgiu, então, nas discussões do GT, a “Parceria
ABPMC-Eventos Regionais”, cujo objetivo é atrelar os projetos da
ABPMC Comunidade aos eventos regionais que ocorrem por todo o
Brasil.
O programa ABPMC Comunidade vem sendo realizado com
sucesso pelas diretorias anteriores, que firmaram parcerias com
instituições e profissionais. Para dar continuidade a este programa,
nossa diretoria propôs que este conjunto de ações seja desenvolvido
também em parceria com os organizadores dos eventos regionais do
Brasil (JACs e EACs) para que seja garantida a sua ocorrência durante
todo o ano e nas mais diversas regiões do território nacional. A proposta
atual, portanto, articula-se em duas categorias: 1) realização de um
ciclo de palestras para a comunidade e para os profissionais e, 2)
6
capacitação de profissionais em escolas, instituições organizacionais e
de saúde. Esta parceria contará com o apoio da ABPMC na elaboração e
execução do projeto. As conversas estão a topo vapor! Teremos
novidades para o próximo número do Boletim Contexto!
Outra frente importante para a ABPMC Comunidade que temos
investido é a “conversa” (iniciada na ABAI Granada em novembro de
2011) com o pesquisador Dr. Fergus Lowe, diretor do Bangor Food and
Activity Research Unit – BFARU, da Bangor University, Reino Unido. Na
ABA Seattle, eu tive a oportunidade de marcar uma reunião com o Dr.
Lowe e Dra. Pauline Horne (também diretora do BFARU) para discutir a
viabilidade de realizar o “Food Dude Programme” no Brasil. Este
programa enfatiza a mudança dos hábitos alimentares em crianças com
idades entre 4 e 11 anos para que eles se mantenham ingerindo uma
dieta equilibrada durante a vida. O programa prega que para alterar as
dietas de crianças para a vida é necessário que você encontre uma
maneira de incentivá-los a comer e a se divertir. O procedimento
envolve um conjunto de etapas que giram em torno de um sistema de
recompensa, aventuras emocionantes em DVD e repetidas
degustações. Atualmente, o programa tem produzido dados empíricos
interessantes sobre a sua eficácia e tem obtido sucesso no Reino
Unido, Europa e EUA (mais de 300.000 crianças já participaram). Devido
aos escassos recursos financeiros da ABPMC, neste momento,
estamos avaliando a viabilidade financeira para iniciarmos um pequeno
estudo piloto em uma escola municipal de Piracicaba/SP na tentativa de
angariarmos futuros patrocinadores.
7
No que concerne ao aumento da representatividade mundial da
ABPMC, temos estabelecido novos contatos com associações da
América Latina, o que inclui a ALAMOC (Asociación Latino Americana de
Análisis, Modificación Del Comportamiento y Terapia Cognitiva
Conductual) e uma possível participação da ABPMC no 7º. Congreso
Mundial de Terapias Conductuales y Cognitivas, a ser realizado no Peru. A
postura adotada nestas negociações é a de apresentarmos para um
público mundial o conhecimento produzido por pesquisadores e
profissionais representados pela ABPMC. É importante lembrar que a
Profa. Dra. Maria Martha Hübner é a Representante Internacional no
Conselho Executivo da ABA (Association for Behavior Analysis) e vem
trabalhando intensamente na disseminação de nossa área. O pôster
intitulado “Association for Behavior Analysis of Brazil: 21 years old and a
leader in South America”, apresentado em maio de 2012 no 38th Annual
Convention da ABA em Seattle mostrou o quanto o nosso grupo cresce
a cada ano.
Nossas publicações também estão a todo vapor. Inicialmente,
optamos em manter as equipes de editores do Boletim Contexto,
Comportamento em Foco e Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva (RBTCC). Devido à alteração da diretoria,
alguns editores haviam assumido outros compromissos e novos
membros foram convidados a participar da equipe. Por exemplo, no
Boletim Contexto, pudemos contar com a permanência de Jan
Leonardi e com o aceite entusiasmado de Alessandra Villas-Bôas, cuja
8
experiência de editoração foi adquirida ao lado do Prof. Gerson
Tomanari, na condução da revista Temas em Psicologia. Também
tivemos que selecionar uma nova equipe de editores para o volume 3 do
Comportamento em Foco e nos baseamos no critério de que os
editores deveriam pertencer a diferentes áreas: clínica, experimental,
cultura, controle de estímulos. Foi assim que Christian Vichi, Edson
Huziwara, Hérika Sadi e Lídia Postalli aceitaram a tarefa de conduzir o
volume 3.
Outra boa notícia é que a Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva (RBTCC) é quadrimestral e subiu de B3
para B1 na avaliação QUALIS, fruto do intenso trabalho dos editores
Francisco Lotufo Neto, Paulo Roberto Abreu, Marcos Roberto Garcia,
Pedro Bordini Faleiros e Eduardo Neves Pedrosa de Cillo.
Sabemos que a ABPMC é uma sociedade científica sem fins
lucrativos e que sobrevive da arrecadação da anuidade, afiliação de
institutos e de doações de poucos sócios-patrocinadores. Têm sido
recorrentes os esforços das diretorias para aumentar o número de
associados e garantir um gerenciamento mais tranquilo da associação.
E como nós poderíamos atingir esta meta em nossa gestão?
Durante a discussão de planos de ação, encontramos uma
diversidade interessante entre os membros da nossa diretoria: ela era
composta por uma geração de jovens profissionais acadêmicos,
professores universitários e estudantes de pós-graduação que
conviviam intensamente com as diferentes necessidades de cada
9
ambiente. Havíamos presenciado, em passado recente, os correntes
desacordos relacionados aos valores da inscrição nos Encontros da
ABPMC e o baixo número de sócios estudantes. Urgia a necessidade de
conquistarmos nossos estudantes para que eles entrassem em
contato com o conhecimento científico tão bem produzido pela nossa
área, além de criarmos um sentimento de: “a ABPMC é a sua
comunidade”. Os estudantes precisavam tomar consciência de que
eles são a maioria nos Encontros e que, se eles se associassem,
poderiam participar ativamente das decisões e trabalhar em prol da
ABPMC. Então, como manteríamos a ABPMC e faríamos um Encontro
de qualidade e acessível aos nossos associados, principalmente aos
estudantes?
Embora cautelosas com o financeiro, topamos o desafio:
revisamos os custos da ABPMC, selecionamos onde os cortes
ocorreriam, “apertamos os cintos” para economizarmos no que era
possível e chegamos a um valor extremamente acessível aos
estudantes. Na nossa avaliação, este valor era um meio termo entre
uma inscrição com valor justo para esta categoria e um valor que arcaria
com os custos do Encontro/ABPMC. Assim, permitiríamos que jovens
talentos tivessem a oportunidade de mostrar seus trabalhos,
renovando a força produtiva e criativa que move o desenvolvimento da
nossa área. A próxima preocupação era de como lançaríamos uma
campanha de impacto.
Para isso, fizemos uma promoção no mês de março, com
10
duração de 20 dias, para tornar os valores de anuidade e inscrição mais
acessíveis aos estudantes de graduação e pós-graduação. Para que a
campanha abrangesse, em curto período de tempo, todo o Brasil, nós
acionamos o exército “Interatividade-ABPMC” e ficamos felizes com a
prontidão e entusiasmo das pessoas. O sucesso de nossa promoção
era certo!
Após os 20 dias, ao selecionarmos a categoria ESTUDANTE
(graduação e pós) verificamos que, do total de 1619 estudantes sócios e
inscritos no XXI Encontro, 1184 (73%) eram da graduação e 435 (27%)
eram da pós-graduação. A Figura 2, a seguir, mostra a distribuição da
categoria ESTUDANTE pelas regiões do Brasil. Fica evidente a intensa
participação de estudantes da região Sul (45%) e Sudeste (33%),
tendência já observada em outros Encontros Anuais.
11
Figura 2. Distribuição dos estudantes de graduação e pós-graduação pelas regiões brasileiras (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste) que se associaram à ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro durante os 20 dias da promoção relâmpago.
As Figuras 3 e 4 apresentam, separadamente, a distribuição dos
estudantes de graduação e de pós-graduação que se associaram à
ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro, durante a promoção
relâmpago. Ao refinarmos nossos olhares para as subcategorias
ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO e ESTUDANTES DE PÓS-
GRADUAÇÃO, encontramos diferenças interessantes: os pós-
graduandos da região sudeste (53%) se inscreveram e se associaram
em peso!
Quando comparamos os dados parciais de inscritos no XXI
Encontro em Curitiba-PR com os mesmos dados dos dois últimos
Encontros, o de Campos do Jordão-SP e o de Salvador-BA, nota-se a
tendência de que as pessoas que se localizam na mesma região do
Encontro se inscreverão em maior número. A Figura 5, a seguir, ilustra
isto: o Encontro de Curitiba conta com a participação de 43% de
pessoas da região Sul, contra 7% em Salvador e 15% em Campos do
12
F i g u r a 3 . D i s t r i b u i ç ã o d o s estudantes de graduação pelas regiões brasileiras (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste) que se associaram à ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro durante os 20 dias da promoção relâmpago. N= 1184.
F i g u r a 4 . D i s t r i b u i ç ã o d o s estudantes de pós-graduação pelas regiões brasileiras (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste) que se associaram à ABPMC e se inscreveram no XXI Encontro durante os 20 dias da promoção relâmpago. N= 435.
Jordão, na mesma região. Entretanto, quando o Encontro foi em
Salvador, por exemplo, tivemos uma expressiva participação das
pessoas da região Nordeste (34% contra 10% em Curitiba e 6% em
Campos do Jordão – região nordeste).
Esses dados fortalecem o papel da ABPMC na disseminação do
conhecimento científico produzido e fornecem subsídios para que o
nosso Encontro continue com um caráter itinerante, “viajando” pelas
diversas regiões do país.
Vamos agora considerar as anuidades de 2012. Dois meses
depois do término da promoção relâmpago, pudemos fazer a contagem
da anuidade por categorias (estudante de graduação, pós-graduação,
profissional e patrocinador) e também analisá-las em função das
regiões brasileiras. As Figuras 6 e 7 apresentam a distribuição das
anuidades entre as categorias e entre regiões, respectivamente.
13
Figura 5. Distribuição dos inscritos nos três últimos Encontros (Campos do Jordão, Salvador e Curitiba) de acordo com as regiões brasileiras.
Os dados das Figuras 6 e 7, embora parciais e referentes até o
i n í c i o d o m ê s d e j u n h o , a p o n t a m p a ra u m a u m e n to d e ,
aproximadamente, 100% de associados abrangendo todas as regiões
do Brasil. Estas figuras são retratos do trabalho da presente diretoria
para fazermos jus à ABPMC e tudo o que ela nos representa.
Com relação à submissão de trabalhos, recebemos mais de 700,
nas mais diversas modalidades: mesas redondas, simpósios, painéis,
sessões coordenadas e comunicações orais. Para avaliarmos os
trabalhos, contamos com a participação voluntária de doutores da
região Sul e montamos uma comissão científica disposta a trabalhar
intensamente por três dias. Experiência produtiva a ser repetida!
Resultado: a nossa programação conta com 6 conferências, 3 palestras
internacionais, 9 sessões especiais, 17 simpósios, 42 mesas redondas,
43 sessões coordenadas, 49 sessões de comunicação oral, 28 primeiros
passos, 3 supervisões públicas, 32 cursos e 216 painéis. As novidades
são as atividades Cinema ABPMC (5), Hora da Conversa (2), e um Mini-
evento sobre o tema “Violência”.
14
Figura 6. Distribuição da anuidade 2 0 1 2 e n t r e a s c a t e g o r i a s : e s t u d a n t e s d e g r a d u a ç ã o , estudante de pós-graduação, profissionais e patrocinador. N=2377
Figura 7. Distribuição da anuidade 2012 de acordo com as regiões brasileiras. N= 2377.
Nosso XXI Encontro, então, será prestigiado por convidados
internacionais . Peter Sturmey (Queens College -NYC), Armando
Machado (Universidade do Minho – Portugal), François Tonneau
(Universidade do Minho – Portugal), Gladys Williams (Centro de
Investigación del Lenguaje em NYC, Barcelona e Oviedo) e Luis
Oswaldo Perez Flores (Presidente do 7th World Congress of Behavioural
and Cognitive Therapies - WCBCT) estarão oferecendo mini-cursos,
palestras e conferências.
Como uma sociedade científica sem fins lucrativos e de parcos
recursos, temos construído nossa história de congressos regulares e
de qualidade, construídos por todos que enviam propostas, que
avaliam, que organizam, que se inscrevem nos Encontros Anuais e por
meio das agências de fomento (CNPq, FAPESP, Capes). Sendo assim, os
recursos concedidos por essas agências tornam-se imprescindíveis
para garantir a realização deste evento de alta qualidade científica,
como nos comprometemos a fazer durante nossa gestão. Solicitamos,
então, o apoio dessas agências e já temos respostas parciais positivas.
Mais uma vez, temos o apoio da comunidade científica que vem com o
reconhecimento que temos feito um excelente trabalho ao longo da
existência da ABPMC.
Neste ano de 2012 o Encontro terá premiação para painéis nas
categorias graduação, mestrado e doutorado, com vistas a incentivar a
pesquisa e a publicação de dados científicos na área. É por isso que a
qualidade e a representatividade do programa científico são cuidados
15
com atenção. Como já sabemos, a organização de um evento anual de
grande porte como o da ABPMC envolve, além das preocupações com a
qualidade do programa científico, as preocupações quanto à instalação,
despesas com convidados e monitores, equipamento áudio-visual,
locação do espaço, segurança, limpeza, divulgação (material impresso
e internet) etc. Estamos fazendo um grande Encontro com um custo-
benefício excelente, garantindo a mesma qualidade de nossos
Encontros Anuais.
Portanto, consideramos a nossa associação e o nosso
congresso um arranjo de contingências fundamental para que
continuemos contribuindo para o desenvolvimento da ciência
comportamental e cognitiva. Nossa diretoria, inspirada na experiência
de nossos antecessores e de nossos professores, tem trabalhado
intensamente para continuarmos a grande tarefa de conduzir bem a
ABPMC.
Enfim, aproveito para agradecer o apoio e respaldo das gerações
anteriores na condução de nossa associação! Agradeço também o
apoio de cada de vocês! Nosso XXI Encontro está chegando e já
contamos com mais de 2700 inscritos! Estamos entusiasmadas para
encontrarmos todos vocês em Curitiba, participando ativamente de
nossa Associação. E boa leitura do Boletim.
Um grande abraço,
Claudia Kami Bastos Oshiro
Presidente da ABPMC – Gestão 2012
16
O ensino da Análise do Comportamento, como o de qualquer
disciplina cientifica, implica na aprendizagem de um conjunto de
habilidades (repertórios) que estarão sob controle de um conjunto de
condições (ambiente). Cursos de graduação ou pós-graduação são
divididos em um conjunto de disciplinas que os alunos devem cursar
para obter os diferentes títulos. Cada uma delas possui uma ementa,
programa ou cronograma que reflete (em tese) o que será apresentado
e o que o aluno deve aprender ao cursar tal programação. A Análise do
Comportamento - ciência que tem como objeto de estudo a relação dos
indivíduos com o ambiente e trabalha amplamente com discussões
sobre as transformações mútuas entre eles -, é capaz de descrever as
relações existentes nas condições de ensino, seja no papel da didática
de aula, na função de um cronograma, ou ainda nos objetivos das
atividades pedagógicas.
Sendo assim, a Análise do Comportamento se ocupa
também da discussão e proposição de métodos de ensino. E, por isso,
deve ser capaz de discutir, avaliar e criar propostas de ensino para seu
próprio conteúdo. Essa temática é recorrente, aparecendo ou sendo
desenvolvida em inúmeros trabalhos como em Holland e Skinner
Alguns processos comportamentais envolvidos no ensino de análise de
contingências: o papel do comportamento intraverbal, do tato e da abstração
17
Denigés Maurel Regis NetoPUC-SP/CeAC - Centro de Análise do Comportamento/ Paradigma
Fernando Albregard CassasParadigma - Núcleo de Análise do Comportamento/PUC-SP
18
(2004/1961), Skinner (1972/1968), Haydu (1999), Tomanari (2000),
Cirino (2001) e Hübner e Marinotti (2004). Vale destacar também o
volume 18 da revista The Behavior Analyst (1995a; 1995b) que dedica-se
exclusivamente a essa temática. Nestes trabalhos, muitos aspectos
são problematizados; desde o tipo de conteúdo a ser apresentado para
o aluno; passando pelo uso do laboratório como ferramenta didática;
até o desenvolvimento de métodos e estratégias de ensino.
Dentro da diversidade de conteúdos e métodos de ensino
adotados, este trabalho se dedicará a discutir o ensino da “Análise de
Contingências”. Considerando-a uma atividade que requer os mais
fundamentais e importantes conteúdos, o presente artigo tem como
o b j e t i v o d i s c u t i r b r e v e m e n t e o s p o s s í v e i s p r o c e s s o s
comportamentais envolvidos na aprendizagem de alguns dos
conceitos presentes na análise de contingências; suas particularidades,
dificuldades práticas e teóricas envolvidas; e, a partir disso, sugerir
cuidados que auxiliem no arranjo de contingências de ensino.
Análise de Contingências: definição e importância
Contingência é definida por Ferster e Skinner (1957) como as
condições temporais de intensidade e topografia nas quais uma
resposta é seguida de estímulo reforçador positivo ou negativo, ou
ainda eventos em que ocorre a remoção de um deles (p. 725).
Posteriormente, Skinner (1969) sumariza o que chamou de algumas
contingências de reforçamento (p. 22), nas quais 18 (dezoito) arranjos
entre respostas e estímulos são, segundo ele, grosseiramente
descritos; entre eles descreve: as relações de reforçamento,
discriminação de estímulos, três tipos de matching, esquemas de
reforçamento e finaliza descrevendo os operantes verbais primários.
Catania (2006/1999) define contingência operante como “as condições
sob as quais uma resposta produz uma consequência” (p. 394) e
acrescenta que “as relações resposta-reforço envolvem dois termos,
mas quando correlacionadas com os estímulos discriminativos elas
produzem uma uma contingência de três termos” (p. 394). Catania
defende, ainda, que a contingência se distingue da contiguidade devido
às probabilidades condicionais entre respostas e estímulos
(consequentes).
Segundo Sousa (2001a), o termo contingência busca enfatizar
“como a probabilidade de um evento pode ser afetada ou causada por
outros eventos” (p. 83). Segundo a autora, relações de contingência são
descritos como relações de “se … então ...”, isso é, dado um evento um
outro se seguirá, como nos casos nos quais “se a resposta ocorrer,
então a consequência também ocorrerá” (p. 84); e, no caso do operante
discriminado, essa fórmula se estenderia para “se o estímulo
disciminativo estiver presente e se a resposta ocorrer, (então) ela
produzirá a consequência” (p. 84).
Para Sousa (2001b) o conceito de contingência tríplice é um
poderoso instrumento de análise na investigação das variáveis de
controle do comportamento, que permitiriam, a identificação e, por
vezes, o controle de tais variáveis (p. 88).
19
Analisar contingências é, portanto, a utilização do conceito de
contingência (relação de dependência entre eventos) na compreensão
de relações comportamentais de um organismo com o ambiente. É a
divisão (análise) de um fenômeno (comportamental) que permita a
identificação das relações que estabelecem entre seus elementos. A
esse respeito, a autora ainda destaca:
Fica claro o percurso proposto para proceder tal análise: a
identificação de elementos (respostas e estímulos); relações de
dependência (antecedência ou precedência dos elementos entre si); e,
posteriormente, já identificados e estabelecidas as relações entre os
elementos, nomeá-las pelo tipo de contingência que estabelecem
(reforçamento positivo/negativo, etc). Sendo assim, continua a autora
20
A importância de se fazer uma análise de contingências reside
exatamente na possibilidade de se [1] identificar os elementos
envolvidos em uma dada situação, e [2] verificar se há ou não
relação de dependência entre eles. Se houver, o segundo passo
é [3] identificar qual é o tipo de relação, uma vez que diferentes
relações de contingência dão origem a diferentes processos e
padrões de comportamento. (Sousa, 2001a, p. 85, numeração
adicionada)
Um analista do comportamento tem como tarefa [1.] identificar
contingências que estão operando ([1.a.] ou inferir quais as que
podem ou devem ter operado), quando se depara com
A análise de contingência parece ser de fundamental
importância na medida que serve como ferramenta de identificação (ou
inferência) das relações comportamentais presentes e, a partir dessa
identificação, da criação de procedimentos cabíveis e eficientes na
transformação necessária e/ou desejada.
A análise de contingência é entendida aqui como a identificação
de possíveis variáveis dependentes e independentes do
comportamento que envolvem (1) respostas de um indivíduo; (2) os
estímulos do ambiente; e (3) suas relações de dependência. A
formulação de tal análise deve objetivar a identificação de relações
funcionais entre as respostas do organismo e os estímulos do
ambiente, de modo a permitir a nomeação dessas relações em termos
dos processos comportamentais possivelmente envolvidos (Meyer et
al., 2010).
d e t e r m i n a d o s c o m p o r t a m e n t o s o u p r o c e s s o s
comportamentais em andamento, em como [2.] propor, criar ou
estabelecer relações de contingências para o desenvolvimento
de certos processos comportamentais. É através da
manipulação de contingências que se pode [2.a.] estabelecer ou
instalar comportamentos, alterar padrões [...], assim como
[2.b.] reduzir, enfraquecer ou eliminar comportamentos dos
repertórios dos organismos. (Sousa, 2001a, grifos e
numerações adicionadas)
21
Retomando Skinner (1969) “a interrelação entre SD, R and Srein
compõem a contingência de reforçamento. Todas os três termos
precisão ser especificados.” (p. 23). Identificar os elementos de uma
contingência refere-se, então, a nomear adequadamente os
componentes de uma contingência: os antecedentes, as respostas e as
consequências envolvidas na relação sob investigação.
O que se espera de uma análise de contingências é que, diante de
um conjunto de atividades de um indivíduo em relação a um ambiente,
seja possível identificar as respostas e estímulos, suas relações e o
processo comportamental envolvido (Sousa, 2001a). Inicialmente, na
graduação, as atividades de laboratório servem como oportunidades
de identificar contingências em um ambiente restrito e com critérios já
definidos; a resposta a ser observada costuma ser bastante evidente
(pressão a uma barra ou atravessar uma argola) as consequências para
tais atividades também são evidentemente administradas (água ou
comida), algumas condições antecedentes (luzes ou sons) são
utilizados para produzir discriminações; e a descrição da contingência
vai sendo construída ao longo de algumas semanas. Em sala de aula os
conceitos são apresentados e estudados; processos comportamentais
vão sendo discutidos e paralelos podem ser feitos entre atividades
teóricas e práticas na tentativa de contribuir para o treinamento da
habilidade de analisar contingências.
Não é incomum, no entanto, que ao se deparar com uma
situação nova (um novo indivíduo, outros antecedentes e diferentes
22
consequências) o estudante tenha dificuldade de realizar uma
descrição correspondente com a análises de contingências já
treinadas. Um tipo de problema comum encontrado em relatórios de
atendimento clínico exemplifica essa dificuldade: ao descrever uma
ocasião na qual uma criança havia chorado após receber um nota ruim
em uma prova, a contingência costuma ser descrita e organizada pelo
terapeuta na forma de: antecedente, resposta e consequência, sendo
respectivamente: “a nota baixa” (antecedente), “ficar triste” (a
resposta) e “chorar” (consequência). Neste caso, fica clara a
i m p ro p r i e d a d e d a a n á l i s e , q u e v i o l a d i v e rs o s p r i n c í p i o s
comportamentais, e que revelam parte do repertório do terapeuta e,
em particular o controle de estímulos aos quais ele responde. A
topografia de suas respostas não parecem problemáticas, os
elementos de uma contingência de fato são a Sd, R e Srein, mas
parecem estar sob controle dos estímulos errado (“nota baixa”, “ficar
triste” e “chorar”). Isto é, ele identifica erroneamente o papel de alguns
elementos do episódio (responde sob condições incorretas, segundo a
comunidade verbal). A questão que se apresenta, portanto, é: como
esse controle de estímulos se estabeleceu? Como descrever
conceitualmente os procedimentos pelos quais esses conceitos tem
sido ensinados? Qual aprimoramento de tais procedimentos é possível
propor dado conhecimento dos processos envolvidos?
Atuando e acompanhando atividades docentes, é possível
perceber preocupações típicas dos analistas do comportamento
23
como: a hierarquia de atividades pela complexidade, a avaliação
contínua, o uso de monitores, cuidados no estabelecimento de
objetivos claros para cada aula/atividade, etc. Ainda assim, mesmo os
alunos mais dedicados, engajados nas atividades planejadas e
frequentemente com boas notas em avaliações, apresentam
dificuldade quando colocados para executar análises de contingência,
exemplificar conceitos ou estabelecer relações com novos elementos.
Como anunciado inicialmente, a preocupação deste trabalho é
com descrição teórica dos processo que envolvem a habilidade de
identificar os elementos de uma contingência e das relações entre eles.
Para isso, será importante descrever o que se espera do estudante e em
termos de repertório e principalmente do controle de estímulos que
opera sobre este repertório.
Ao ensinar conceitos, geralmente, iniciamos já pela reprodução
de afirmações de autores importantes na forma de operantes textuais,
ecóicos ou transcrição, isto é, com correspondência formal e/ou ponto-
a-ponto (Skinner, 1992/1957, p.71). Com esses procedimentos,
espera-se que o aluno seja capaz de escrever (ou falar) essas
afirmações sob controle de outros estímulos verbais (por exemplo,
responder uma pergunta ou completar lacunas em frases), que não
envolveriam mais as correspondências como nos operantes
anteriores, tornando-os agora operantes intraverbais, como será visto
a seguir.
24
A passagem de um tipo de operante verbal para outro parece ser
o processo que é maciçamente executada em sala de aula na forma
exposições, discussões, provas e exercícios. As próprias aulas
costumam ser ocupadas por apresentação do professor que
relacionam alguns eventos verbais entre si (por exemplo, quando diz
que: “segundo o autor x, ‘estímulo’ é uma parte do ambiente”). Com
isso, pretendem modelar um comportamento verbal (afirmações) em
condições antecedentes verbais (perguntas ou lacunas). Os
procedimentos didáticos pretendem produzir um controle de
estímulos específico de um antecedente sobre uma resposta. Por
exemplo, uma pergunta: “O que é um estímulo?” ou lacuna: “Um
estímulo é....” produziria a resposta “Uma parte do ambiente”.
De acordo com a interpretação de Skinner (1992/1957, p. 71)
essa relação pode ser caracterizada como um Intraverbal : um operante
verbal sob controle de um antecedente verbal sem correspondência
formal, isto é, que não é uma reprodução (leitura, cópia ou ecóico). O
intraverbal representa as respostas verbais “da maior parte dos “fatos”
da história” que são adquiridos e retidos (...) assim como muitos fatos da
ciência” (p. 72). Ao responder uma pergunta, escrita ou falada, o aluno
recorre ao repertório intraverbal que adquiriu e completa a cadeia de
respostas iniciada por algum dos elementos da pergunta. Segundo
Skinner (1992/1957) “Uma pergunta é frequentemente um estímulo
para uma resposta [answer] mais extensa que não possui outra variável
de controle importante [que controlariam tatos ou mandos]. Completar
25
¹ Original em inglês: A question is frequently the stimulus for an extended answer which has no other important controlling
variable. The completion items on an objective examination stimulate intraverbal responses in much the same fashion.
os itens [lacunas] em um teste objetivo estimula respostas intraverbais
de modo muito semelhante.” (p. 72)¹.
Caso estivesse lendo ou copiando a resposta se trataria de outro
operante verbal (isso é, envolveria outro controle de estímulos) e é
possível que não seja capaz de responder a mesma pergunta se esta
aparecer sem o apoio das condições antecedentes que o auxiliaram
anteriormente (o texto que recitou ou do qual copiou a resposta).
Muitas vezes a aquisição do comportamento intraverbal pode se
iniciar pela forma de cópia, leitura ou ecóica, mas para tornar-se
independente dessas condições deve ter como antecedente outros
elementos verbais sem correspondência formal ou ponto-aponto
(Skinner, 1992/1957, p. 73), neste caso costuma-se dizer que o aluno
deve saber “de cor”. Um elemento inicial do conjunto de respostas
encadeadas que compõem a definição de um conceito deve controlar,
como um antecedente, a emissão dos elementos subsequentes que
são, por fim, reforçados e fortalecidos pela comunidade (p. 74).
Problemas particulares na aquisição de intraverbais são
apontados por Skinner (1992/1957),
26
As relações intraverbais no repertório de qualquer adulto
constituem o resultado de centenas de milhares de
reforçamentos sob uma grande variedade de contingências
inconsistentes e frequentemente conflitantes. Muitas
respostas diferentes são postas sob controle de uma dada
palavra-estímulo e diferentes palavras-estímulo são postas sob
o controle de uma única resposta. (p. 74)
Isto representa um problema comum no ensino de alguns
conceitos ou processos comportamentais; como, por exemplo, no
caso do conceito de 'reforçamento negativo', que frequentemente é
definido pelo alunos como 'redução de respostas', possivelmente
devido ao termo “negativo” da definição. Este é um estímulo cujo
controle sobre respostas intraverbais é, possivelmente, bastante
antigo no repertório do aluno que, com muita dificuldade, passa a
responder e se adequar à nova contingência, com o então novo
conceito de 'reforço'. Esse assunto mereceria maior atenção, que será
dada em trabalhos futuros, no momento serão enfatizadas outras
distinções entre os operantes intraverbais e outros tipos de atividade
envolvidas na análise de contingências.
É importante, nesse ponto, avaliar o papel desse controle de
estímulos das respostas verbais na análise de contingências. As
respostas verbais que ficam sob controle de eventos de episódios
comportamentais diversos são emitidos inicialmente sob controle de
antecedentes verbais com correspondência formal e/ou ponto-a-
ponto; passando ao controle por estímulos verbais antecedentes sem
correspondência formal ou ponto-a-ponto (intraverbal). Que
passagem costuma ser realizada na direção da mudança no controle de
estímulos? A pergunta que pode ser feita é qual operante verbal estaria
envolvido na descrição dos elementos de uma contingência?
27
Espera-se que em uma análise de contigências o analista do
comportamento emita as respostas verbais sob controle dos
elementos e eventos comportamentais sob análise. Essa poderia ser
caracterizada como uma resposta verbal de tato. “Um tato pode ser
definido como um operante verbal no qual uma resposta de uma dada
forma é evocada (ou pelo menos fortalecida) por um objeto específico
ou evento ou uma propriedade de um objeto ou evento.”² (p. 81-82).
Quando, diante da atividade de um rato pressionando uma barra,
pombo bicando um ponto de luz, ou uma pessoa abrindo uma porta, o
analista do comportamento deveria ser capaz de identificar uma
“resposta”, ou seja, emitir a resposta verbal “resposta” ou “isso é uma
resposta” sob controle das atividades observadas (que servem como
condições antecedentes). Para a água que se segue a pressão a barra, a
comida para a bicada, ou o aparecimento de alguém do outro lado da
porta o analista do comportamento deveria ser capaz de emitir a
resposta “consequência” ou “isso é a consequência da resposta”. O
som que é condição para a produção da água, o ponto de luz que foi
bicado ou a campainha que antecedeu a abertura da porta deveriam ser
nomeados como “Antecedentes” ou “Estímulos antecedentes”. (Os
adjetivos “operante”, “reforçadora” e “discriminativo” para cada uma
das respostas anteriores deveriam e deverão aparecer quando outros
elementos das relações descritas fossem identificados.)
² A tact may be defined as a verbal operant in which a response of given form is evoked (or at least strengthened) by a particular
object or event or property of an object or event.
28
Um aspecto que parece crítico no controle de estímulos das
respostas descrita a cima, é a diversidade de características que
compõem cada um dos elementos sob os quais as respostas verbais
estão sob controle. A pressão a barra, o bicar de um pombo, e o abrir a
porta (que controlam a mesma verbalização) não possuem qualquer
característica em comum que sejam facilmente descritível. As
consequências e antecedentes de cada uma dessas respostas também
diferem amplamente entre si. Nesses casos, como poderíamos falar de
uma resposta verbal de tato que fica sob controle antecedente de “um
objeto específico ou evento”? Quando a “pressão a barra“ é identificada
(tateada) como “uma resposta” é fácil explicar como novas respostas
de pressão a barra são novamente identificadas como tal. A extensão
do controle de estímulos para novos, porém semelhantes, exemplares
parece um caso comum de generalização do controle de estímulos. No
entanto, promover o controle dessa resposta verbal por novos
episódios comportamentais que não participaram das condições de
treino prévias e que, além disso, não guardem semelhanças óbvias com
estas condições parece ser o grande desafio. Ao ensinar análise de
contingência a dificuldade se apresenta como: explicar e promover a
análise de contingências novas e em contextos diferentes daqueles
treinados.
29
A abstração como tipo de responder discriminado
Retomando a definição do operante tato, um aspecto pode
ajudar a explicar a identificação (tatear) dos elementos da contingência
em novas situações: o tato pode ser evocado “por um objeto particular
ou um evento ou propriedade do objeto ou evento” (Skinner,
1992/1957, p. 81-82). Nos casos problematizados anteriormente, a
resposta do tipo tato parece ficar sob controle de uma propriedade do
objeto/evento. Este tipo de controle é discutido anteriormente por
Skinner (2000/1953) quando afirma que
A abstração permite o controle de respostas por alguma(s)
característica(s) (propriedade(s)) dos estímulos independentemente
de diversas outras propriedades. Essa possibilidade do controle de
estímulos é destacada por Skinner (1992/1957) como de especial
importância nas atividades cientificas, onde a imprecisão do controle
pode ser um problema. “Certa extensão do controle é, (...), permitida e
30
O comportamento pode ser colocado sob controle de uma
única propriedade ou combinação especial de propriedades de
um estímulo e ao mesmo tempo liberado do controle de todas
as outras propriedades. (...) Para que isso seja possível, devemos
reforçar respostas a muitos objetos, [com a propriedade
comum] (...), mas diferindo grandemente em suas outras
propriedades. O resultado característico é conhecido como
abstração. (p. 148, ênfases adicionadas)
até mesmo útil, mas uma extensão livre do tato não pode ser tolerada,
particularmente em questões de ordem prática e científica”³ (Skinner,
1992/1957, p. 107).
O ensino de análise de contingências parece compartilhar dessa
preocupação. E o controle de estímulos que se observa na identificação
dos elementos de uma contingência num novo episódio
comportamental poderia ser descritos pelo controle de estímulos
peculiar da abstração. Neste caso, um novo responder em uma nova
condição e que produza diferentes consequências (das citadas em
exemplos anteriores) poderia ser precisamente identificado (tateada)
por compartilhar uma mesma propriedade controladora das
verbalizações (Sd, R e Srein).
Uma importante dificuldade que se coloca, com isso, é
identificar qual a propriedade abstrata sobre a qual o reforçamento
ocorre e que passa a controlar as respostas de tato na análise de
contingências. Que elemento poderia ser comum a uma diversidade de
respostas operantes, ou estímulos antecedentes, ou consequências
reforçadoras que nos permitiriam tateá-las como tais? Ainda assim,
(sem a descrição precisa da propriedade do estímulos que controla os
tatos de elementos de contingências) a interpretação deste processo
como abstração possibilita algumas ideias no planejamento de
contingências para o ensino desse repertório. Inicialmente, é
³ Some extended control is, as we have just seen, permissible and even useful, but a free extension of the tact cannot be
tolerated, particularly in practical and scientific matters.” (p. 107)
31
necessária a discussão da aquisição do repertório intraverbal, ou seja,
as definições e as relações entre conceitos.
Arranjo de contingências de ensino: um caminho
Skinner (1972/1968) define o ensino como arranjo de
contingências sob os quais os alunos aprendem. A função do professor,
portanto, é construir contingências especiais que acelerem a
aprendizagem.
Este trabalho buscou até esse ponto discutir os possíveis
processos envolvidos no ensino/aprendizagem da análise de
contingências. As considerações feitas podem, em muitos aspectos,
ser relacionadas aos processos de aprendizagem descritas por Skinner
(1972/1968). Nesse trabalho o autor preocupa-se, entre outros
assuntos, em descrever planejamentos de ensino eficazes com base
em descobertas experimentais no campo da aprendizagem.
Quatro tipos programação apresentadas compõem um arranjo
de contingências . A primeira delas tem como objetivo modelar
topografia de respostas. Durante o procedimento identifica-se uma
resposta- alvo (R1) e, qualquer resposta emitida semelhante ou em sua
direção será consequenciada com um reforço (previamente
estabelecido). Por exemplo, tomando a resposta de pressão à barra
como R1 e água como o estímulo reforçador. Qualquer movimento do
rato na gaiola em direção à barra será reforçada: olhar para a barra,
encostar na barra. Com isso, garante-se que uma resposta que nunca
32
havia sido emitida pelo sujeito passa a ocorrer. No entanto, esse
processo garante apenas que que a resposta esperada seja emitida no
ambiente especialmente arranjado da gaiola (Skinner, 1972/1968, p.
64).
O segundo tipo de programa de ensino tem o objetivo de alterar
propriedades temporais ou de intensidade do comportamento. Isso é
possível alterando a condição de reforçamento do processo anterior.
Serão selecionadas, agora, não qualquer resposta na direção de R1,
mas apenas aquelas que forem mais vigorosas. Isso levará a ao
fortalecimento de um padrão específico e mais vigoroso (p. 66).
O terceiro tipo de programação, ocupa-se de colocar o
repertório, já estabelecido e fortalecido, agora sob controle de
estímulos. O autor refere-se aqui ao estabelecimento de uma
discriminação sutil. Altera-se a condição para que existam situações de
Sd e Sdelta e em que passo a passo o Sd se torne mais sutil do que o
anterior (p.69).
Há ainda, o quarto tipo de programação. Nele a preocupação é
com a manutenção do comportamento por reforço pouco frequente.
Uma resposta que, na instalação foi submetida a um esquema de
reforçamento contínuo, agora é gradualmente colocada sob um
esquema de reforço intermitente.
Esses parâmetros são claros no ensino de um repertório
mecanicamente relacionado com o ambiente (ou instrumental). Mas
ganha em complexidade quando o objetivo é o ensino de um
33
conhecimento verbalmente construído. Para esses casos, o autor
agrupa esses programas da seguinte forma: supondo-se que aluno
deve aprender a recitar um poema, o primeiro passo é o aluno aprende a
reproduzir de forma (ecóica ou textual) o que esta lendo no livro -
resposta sob controle do livro, por exemplo. No momento em que ele
começa a reproduzir sem ler o livro, o controle de estímulos sob o qual a
resposta acontece se altera, ou seja, seu comportamento fica menos
sob controle de estímulos externos (livro) e mais sob controle de
estímulos autogerados. Quanto mais ele reproduz, mais sob controle
de estímulos que ele próprio gera o relatar esta (p. 79).
No caso da análise de contingências, como apontado antes, uma
parte fundamental é que o aluno seja capaz de classificar diferentes
eventos que compõem uma contingência, isto é, saiba descrever e
conceituar de forma intraverbal os elementos da contingência. Usando
o que Skinner (1972/1968) apontou, o objetivo é que o aluno seja capaz
de emitir respostas que completem a frase do tipo “uma resposta é...”
ou responda “o que é uma resposta?” de modo independente de
estímulos presentes (que controlariam respostas na forma textual ou
ecóica); o controle deve se estabelecer por estímulos autogerados.
É comum que esperemos que, ao se estabelecer o controle
intraverbal dos conceitos e definições de uma contingência, isso
permita a identificação e análise de seus elementos em novas
situações. Mas, se considerarmos as análises anteriomente
apresentadas, é evidente que o controle discriminativo que opera na
34
respostas intraverbais (ao definir um conceito) e as respostas de tato
(ao identificar os elementos de uma contingencia), são diferentes. As
contingências estabelecidas no laboratório didático se diferenciam das
de sala de aula comuns em alguns aspectos que podem auxiliar na
aquisição de respostas de tato sob controle dos elementos da
contingência.
Como foi dito anteriormente, no laboratório o aluno tem
oportunidade de observar os elementos de uma contingência de modo
mais evidente e discreto; apesar de dinâmico o processo é repetitivo, e
muitas instâncias de respostas, consequência e antecedente são
observados; assim como as relações entre eles. Diferente das
condições de sala de aula na qual os conceitos são lidos, repetidos e
colocados sob controle intraverbal, sem necessariamente identificar
qualquer deles na forma do controle exercido no tato.
Como proposto acima, a suposição de que o controle exercido
sobre a identificação de elementos de uma contingência tratar-se-ia de
uma resposta de tato sob controle de um propriedade abstrata do
estímulo antecedente (cada elemento da contingência), nos possibilita
sugerir estratégias que tornem esse controle mais efetivo e o processo
de aquisição mais veloz.
Segundo o que foi apresentado ( Skinner, 2000/1953;
1992/1957) o controle discriminativo por propriedades abstratas
exige que a propriedade (dimensão) crítica do estímulo seja mantida
constante enquanto todas as outras sejam alteradas. Ao
35
considerarmos a discriminação como caráter essecial do controle do
tato, devemos nos preocupar com os processos que operam na
discriminação operante. Um parâmentro fundamental a ser
considerado é o reforçamento diferencial (Sério, et al., 2008) a resposta
deve ser reforçada na presença de um determinado estímulos e não
reforçado em sua ausência (ou na presença de outro). Criar condições
programadas que permitam a apresentação de condição de não
reforçamento são críticas na construção de controle discriminativo;
alguns cuidados devem ser tomados para que as condições de não
reforçamento impliquem numa quantidade de respostas não
reforçadas que levem ao enfraquecimento geral da atividade. Colocado
em termos práticos, será importante diferenciar os elementos da
contingência de outros que não façam parte dela; isso parece estar
sendo feito quando pedimos que o aluno identifique e diferencie as
'respostas' dos 'estímulos' em um dado exemplo; ou quando pedimos a
distinção entre respostas operantes e reflexas em novos exemplos; ou
ainda, a distinção entre estímulos antecedentes e consequentes de
uma resposta. Em todos esses casos, parece que produzem-se
discriminações importantes para o controle de estímulos das
respostas de tato. Nesse caso, deveria-se questionar qual tem sido o
papel das respostas intraverbalmente adiquiridas na identificação
desses elementos. Também, é possível perguntar se, acrescentar
elementos que se distingem mais groceiramente dos componentes de
um comportamento poderiam ser um bom início na aquisição de tais
36
controles de estímulos: o uso de fenômenos não comportamentais
poderiam auxiliar na produção da discriminação funcionando com
Sdelta.
Quanto a abstração, o uso de diversos estímulos que variem em
muitas dimensões exceto o papel que exercem em uma contingência
pode ser a estratégia mais importante na aquisição do controle
discriminativo do tato e, portanto, para a análise de contingências. A
experiência de laboratório, por mais importante que seja, não parece
oferecer a diversidade de exemplos necessários para a aquisição do
controle abstrato. Os exemplos em situações aplicadas e com
humanos, que são muitas vezes requisitados por alunos, podem
exercer aqui um papel muito além do motivacional. Os exemplos
humanos e aplicados que são muitas vezes evitados pelas dificuldades
que implicam poderiam fornecer o material necessário para produzir o
controle da propriedade abstrata.
O que haveria de comum entre alguém que arremessa uma bola,
abre uma porta, da a partida em um carro, faz sinal para um táxi, assobia
para um amigo, levanta a mão em sala de aula, etc, poderia auxiliar na
construção do controle de estímulos necessário para o tato “Resposta
(operante)”. Os riscos do uso de tais exemplos recai na própria
dificuldade de reconhecer bons exemplos cotidianos, é possível que
algumas respostas não sejam facilmente compatibilizadas com as
definições intraverbais aprendidas, nesse caso reforçamos a
necessidade de se compreender a relação entre as definições
37
intraverbais e o controle de estímulos no tato presenta na análise de
contingências.
Como foi dito anteriomente, a análise de contingências não se
encerra apenas com a identificação dos elementos (antecedente,
resposta e consequente-subsequente) as relações entre eles devem
ser especificadas e nomeadas de acordo com os processos
comportamentais conhecidos. Acreditamos que os processos de
discriminação abstrata sejam igualmente relevantes nesse caso. A
relação entre os processos intraverbais e de tato devem ser
especialmente importantes nesse momento da análise; na qual o
processo pelo qual será definido o episódio comportamental então
descrito dependerá amplamente das definições conhecidas e estas
definições são agora descrições de relações entre eventos, mais do que
um tato de cada um dos elementos. É compreensível que respostas de
tato operem sob controle também de “relações entre elementos”, que
novamente devem depender de outras abstrações produzidas na
história de discriminação do analista de contingências.
38
Referências
Catania, A. C. (2006/1999). Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e
Cognição (4ª ed.). Artes Médicas Sul: São Paulo.
Cirino, S. D. (2001). Repensando o ensino de análise do comportamento. In: R.C.
Wielenska (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: questionando e
ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos, vol.
6 (pp. 81-88). Santo André: ESETec.
Ferster, C. B. & Skinner, B. F. (1957). Schedules of Reinforcement. New York, NY:
Appleton-. Century-Crofts.
Haydu, V. B. (1999). Uma proposta de ensino de análise experimental do
comportamento. In: R. R. Kerbauy & R. C. Wielenska (Orgs.). Sobre
Comportamento e Cognição: psicologia comportamental e cognitiva: da
reflexão teórica à diversidade de aplicação, vol. 4 (pp. 231-235). Santo
André: ESETec.
Holland, J. G. & Skinner, B. F. (2004/1961) Análise do Comportamento. (R. Azzi,
Trad.). São Paulo: EPU.
Hübner, M. M. C., & Marinotti, M. (Orgs.). (2004). Análise do Comportamento para
a Educação: contribuições recentes (1ªed.). Santo André: ESETec.
Meyer, S.B. et al. (2010). Análise do Comportamento e Terapia Comportamental.
In: E. Z. Tourinho, & S. V. de Luna. (Org.). Análise do Comportamento:
investigações históricas, conceituais e aplicadas. São Paulo: Ed. Rocca.
39
Sério, T. M. P., et AL. (2008). Controle de estímulos e comportamento operante:
uma (nova) introdução (3ª ed. Revisada). São Paulo: EDUC.
Skinner, B. F. (1969). An operant analysis of problem solving. In B. F. Skinner.
Contingencies of reinforcement: Atheoretical analysis (pp. 133-
171).NewYork, NY: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B.F. (1972/1968). Tecnologia do Ensino. (R. Azzi, Trad.). São Paulo: EPU.
Skinner, B. F. (1992/1957) Verbal Behavior. NewYork, NY: Appleton-Century-
Crofts.
Skinner, B. F. (2000/1953) Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins
fontes.
Sousa, D. das G. de (2001a). O que é Contingência? In: R. A. Banaco (Org.). Sobre
Comportamento e Cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de
formação em análise do comportamento e terapia cognitivista, vol 1. (pp.
82-87). Santo André: ESETec.
Sousa, D. das G. de (2001b). A evolução do conceito de contingência? In: R. A.
Banaco (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: aspectos teóricos,
metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia
cognitivista, vol 1. (pp. 88-104). Santo André: ESETec.
Special section on teaching behavior analysis (1995a) The Behavior Analyst, 18(1).
69-166.
40
Special section on teaching behavior analysis (1995a) The Behavior Analyst, 18(2).
271-375.
Tomanari, G. Y. (2000). Maximizando o uso do laboratório didático de psicologia no
ensino de conceitos e práticas. In: R.R. Kerbauy (Org.). Sobre
Comportamento e Cognição: Conceitos, pesquisa e aplicação, a ênfase
no ensinar, na emoção e no questionamento clínico, vol. 5, (78-83). Santo
André: ESETec.
41
¹ Agradeço ao Willian Perez pela cuidadosa revisão do texto.
A Terapia de Aceitação e Compromisso (dito em inglês, ACT) é
uma das terapias mais representativas da chamada Terceira Onda das
Terapias Comportamentais (ver Hayes, 2004 para uma descrição
detalhada das três gerações).
As terapias de terceira onda caracterizam-se por serem
particularmente sensíveis ao contexto e às funções dos fenômenos
psicológicos e não apenas a sua forma ou conteúdo. Os tratamentos
tendem a buscar a construção de um repertório amplo, flexível e eficaz.
Assim, as terapias não são dirigidas especificamente para a
redução de sintomas ou para o tratamento e psicopatologias
específicas. Caracterizam-se pela inserção contextual e sócio verbal
dos problemas e a análise funcional dos eventos privados, destacando o
papel do comportamento verbal na origem do sofrimento humano
(Conte, 2010; Vandenberghe, 2011; Perez-Alvarez, 2006).
As terapias de terceira geração mais relevantes neste cenário
são a Psicoterapia Analítica Funcional (Kohlenberg & Tsai, 1991), a
Terapia Comportamental Dialética (Linehan et al., 1999) e a Terapia de
Aceitação e Compromisso (Hayes, Strosahl, & Wilson, 2011).
A ACT, surge de um enquadrament o filosófico chamado
Contextualismo Funcional (Hayes, Hayes, & Reese, 1988). Tal
O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso?¹
42
Desirée da Cruz Cassado
43
abordagem filosófica caracteriza-se por ser monista, não mentalista,
funcional, não reducionista, ideográfica e por dividir com o
Interbehaviorismo de Kantor e com o Behaviorismo Radical as mesmas
influências filosóficas (Luciano, Valdívia, Gutierrez, & Páez-Blarrina,
2006; Twohig, 2012; Dougher & Hayes, 2000).
A unidade de análise do Contextualismo Funcional é o organismo
como um todo se comportando de acordo com elementos históricos e
contextuais – pensamentos, sentimentos e ações - desenvolvendo-se
ao longo do tempo e emergindo em um contexto específico em
conformidade com uma história individual e com uma função atribuída
na regulação do comportamento (Dougher & Hayes, 2000, Luciano et
al., 2006).
Os estudiosos da ACT rejeitam a ideia de que os pensamentos e
sentimentos causam ações porque os eventos privados estão
inseridos num contexto, e até que este contexto seja especificado, o
objetivo de predizer e influenciar o comportamento não pode ser
alcançado. Uma vez que o contexto é especificado, o próprio fato de que
estes eventos privados têm significados específicos dentro de
determinados contextos, demonstra que os mesmos são variáveis
dependentes (tal como as ações). Assim, os eventos privados são
respostas à eventos ambientais e não possuem uma relação causal
independente. As tais causas mentais do comportamento são
admitidas como inerentemente incompletas até que as variáveis
contextuais sejam especificadas.
O interesse é dirigido ao contexto histórico situacional que
origina os eventos privados e a forma como pensamentos, sentimentos
e ações relacionam-se entre si (Hayes et al., 2011).
Assim, um evento ambiental pode evocar um determinado
evento privado e este, por sua vez, pode influenciar uma determinada
ação, mas a causa do comportamento ainda está no ambiente.
Exatamente por este motivo, pensamentos e sentimentos são
elaborados através de técnicas de atenção plena (Mindfulness) e
aceitação, ao invés da reestruturação cognitiva e equivalentes. Afinal,
por não assumir que os eventos privados são causa do comportamento,
o foco não está em mudar tais eventos, mas sim em mudar a relação do
indivíduo com seu mundo privado. Para isso, lhe é ensinado a responder
aos eventos externos (como fazer as coisas que lhe importam),
enquanto cadeias de respostas privadas se sucedem (sejam elas
aversivas ou não). O objetivo final é tornar o individuo menos sensível a
tais eventos privados e mais sensível às reais contingências em vigor
(Twohig, 2012).
Teoria dos Quadros Relacionais
A linguagem tem papel essencial na compreensão do
comportamento humano. Os seres humanos não respondem
simplesmente às propriedades formais dos estímulos. A característica
mais relevante da linguagem e cognição humana se refere à capacidade
de relacionar estímulos de forma arbitrária, independente das
44
propriedades formais e relações de contingências.
Murray Sidman (1971) foi o pioneiro a descrever a emergência de
comportamentos novos - que não são seguidos de reforçamento - sob
controle de estímulos arbitrariamente relacionados, revolucionando o
conceito de linguagem e comportamento simbólico dentro da
perspectiva comportamental.
Através dos procedimentos desenvolvidos por Sidman, palavras
escritas, sons, desenhos e outros símbolos podem ser arbitrariamente
r e l a c i o n a d o s , to r n a n d o - s e s u b s t i tu í v e i s n o co n t ro l e d o
comportamento na medida em que passam a partilhar algumas de suas
funções (De Rose & Bortoloti, 2007; Barnes-Holmes, Barnes-Holmes,
McHugh, & Hayes, 2004b; Hübner, 2006; Barnes-Holmes, Keane,
Barnes-Holmes, & Smeets, 2000).
Partindo deste contexto, a Teoria dos Quadros Relacionais,
(Hayes, Barnes-Holmes, & Roche, 2001), propõe que indivíduos
verbalmente competentes são capazes de responder a relações
arbitrárias entre estímulos, ou seja, somos capazes de responder a
relações que não são baseadas somente em propriedades físicas (como
“uma bola de gude é menor que uma bola de basquete”), mas em
convenções estabelecidas socialmente pela comunidade verbal (“um
Real vale menos que um Dólar”). Para a RFT, compreender essa
habilidade é central para o entendimento do comportamento humano.
A Teoria dos Quadros Relacionais afirma que o responder
relacional arbitrariamente aplicável (qualquer resposta controlada por
45
uma relação arbitrária) é um comportamento operante. Portanto, 1) é
aprendido, se desenvolve, e 2) está sob controle de estímulos, ou seja
sob controle de dicas contextuais que determinam o modo como os
estímulos devem ser relacionados (por comparação, oposição,
igualdade, hierarquia, etc). Na medida em que somos expostos, a
múltiplos exemplos de respostas relacionais (uva menor que a bola;
lápis menor que o estojo; Maria menor que João) as dicas contextuais
que controlam tais respostas (menor que) são abstraídas e podem ser
aplicadas, de modo arbitrário, convencionado pela comunidade verbal,
a novos estímulos (um Real é menor que um Dólar) (Hayes et al., 2001,
Ruiz, 2010).
Quadros relacionais são diferentes classes de respostas
relacionais (comparar, hierarquiar, opor, igualar etc.) que se diferem
pelo tipo de relação arbitrariamente estabelecida entre os estímulos e
pela dica contextual que controla tais respostas (maior que,
pertencente à, oposto de, igual à etc.). São três os eventos que
caracterizam os quadros relacionais: a Implicação Mútua, a Implicação
Combinatória e a Transferência de Função.
A implicação mútua envolve a bidirecionalidade da relação entre
dois estímulos, ou seja, se um indivíduo aprende a relacionar o estímulo
A com o estímulo B, está implicado que B está relacionado com A de
algum modo. Assim, se Maria é mais bonita que Joana, ele irá derivar que
Joana é menos bonita que Maria.
A implicação combinatória é caracterizada quando dois
46
estímulos estão mutuamente relacionados a um terceiro estímulo em
comum e, por isso, passam a se relacionar indiretamente. Por exemplo,
quando aprendemos que A é maior que B e que B é maior que C, pela
combinação das duas relações aprendidas, podemos nos comportar
em acordo com as relações A é maior que C e, por implicação mutua, C é
menor que A. Assim, se for dito a um adolescente que Adriana é mais
bonita que Joana, ela irá derivar que Maria também é mais bonita que
Joana e então, Joana é menos bonita que Adriana.
O fenômeno psicológico mais interessante no estudo dos
quadros relacionais é certamente a transformação de função.
Estímulos arbitrariamente relacionados podem ter suas funções
transformadas por conta do tipo de relação estabelecida entre eles.
(Dougher, Perkins, Greenway, Koons, & Chiasson, 2002; Hayes, Luoma,
Bond, Masuda, & Lillis, 2006). Supondo que um estímulo A tem função
reforçadora, se A for arbitrariamente relacionado como maior que B e B
maior que C, o estímulo C será mais reforçador que A (Whelan & Barnes-
Holmes, 2004). Por outro lado, se A e C estiverem relacionados por
oposição, C terá função punidora, aversiva, e não reforçadora (Whelan,
Barnes-Holmes, & Dymond, 2006). Por exemplo, se a um adolescente é
dito que com uma namorada mais bonita ele será mais respeitado pelos
seus pares, ele provavelmente abordará Adriana.
Uma vez que o indivíduo tem um repertorio verbal mínimo, a
transformação de função de estímulos de acordo com a rede relacional
estabelecida (que pode envolver múltiplas relações diferentes) é
47
incontrolável e, ao contrario do que sugerem algumas técnicas
psicológicas, a mudança ou subtrair o conteúdo das redes relacionais
não é possível, pois as mesmas são produtos de uma extensa história de
aprendizado e funcionam por adição (Törneke, Luciano, & Valdivia,
2008; Wilson, Hayes, Greeg, & Zettle, 2001; Wilson & Luciano, 2002;
Hayes et al., 2001). De tal forma que tentativas de alteração direta
focadas no conteúdo das redes relacionais acabam por ampliá-las,
aumentando o controle pelos seus conteúdos (Hayes et al., 2001).
Desta forma, segundo a ACT, tentativas de alterar as redes
relacionais aprendidas, tais como estratégias de racionalização e de
supressão de pensamentos, podem levar à inflexibilidade do repertório
e às chamadas psicopatologias. Isso se dá justamente porque os
processos cognitivos e verbais não são adequados para eliminar ou
solucionar os problemas criados pelos mesmos (Hayes et al., 2006).
Assim humanos verbalmente competentes são capazes de
responder sob controle de relações arbitrárias entre estímulos. Isto
significa que somos capazes de responder a palavras como se elas
fossem os eventos aos quais estão relacionadas, emitindo respostas
tais como planejar, comparar, ordenar e hierarquizar (Luciano et al.,
2006; Hayes, Pistorello, & Biglan, 2008). Tais redes relacionais podem
relacionar-se com outras redes relacionais tornando as relações entre
estímulos extremamente complexa (Stewart, Barnes-Holmes, Hayes,
& Lipkens, 2001, Barnes-Holmes, Barnes-Holmes, Smeets, Cullinan, &
Leader, 2004a).
48
Esta habilidade de derivar relações torna os indivíduos hábeis
para regular seu próprio comportamento, prever as consequência das
suas ações e mesmo construir uma cultura (Conte, 2010). Entretanto
quando há a transferência de funções aversivas em redes relacionais
arbitrariamente estabelecidas sem o devido controle contextual, a
mesma classe de respostas que permite a sofisticação e a flexibilidade
do comportamento pode restringi-lo, torná-lo inflexível, regulado por
respostas de fuga e esquiva que caracterizam o que chamamos de
"sofrimento psicológico" e, muitas vezes, de psicopatologia (Barnes-
Holmes et al., 2004b).
A Psicopatologia segundo a Terapia de Aceitação e Compromisso
Do ponto de vista da ACT, o sofrimento psicológico e a
psicopatologia é resultado da interação inadequada entre a linguagem e
cognição com as contingências diretas, produzindo inabilidade para
persistir ou mudar o comportamento a serviço de consequências
reforçadoras a longo prazo (Hayes et al., 2006).
A excessiva regulação do comportamento por processos
verbais, como regras, auto-regras oriundos de redes relacionais
derivadas é chamado de Fusão Cognitiva (Hayes, Strosahl, & Wilson,
1999). Tal processo pode ser de grande importância em alguns
contextos onde o seguimento de regras tem valor adaptativo.
Entretanto, em contextos que favoreçam de forma inadequada tal
fusão, o comportamento é predominantemente guiado por redes
49
verbais relativamente inflexíveis, tornando-se rígido e insensível às
contingências diretas em vigor (Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999).
A comunidade verbal fomenta práticas que prejudicam ainda
mais o contato com as contingências, como a literalidade com que trata
o conteúdo dos pensamentos (como o pensamento de “sou um infeliz”
referindo-se indiscutivelmente a uma vida verdadeiramente miserável)
e o comportamento de “dar razões” ou de atribuir causas mentais para
as próprias ações.
Ainda, sentimentos e pensamentos são rotulados e avaliados:
ressalta-se a importância do controle e manipulação de estados
emocionais e cognitivos aversivos como condição para atingir o bem
estar e saúde emocional.
Sem repertório apropriado para distanciar-se do próprio
comportamento, o indivíduo se comportará sob o controle de suas
próprias respostas relacionais ou de seus efeitos (usualmente
encobertos) (Luciano et al., 2006). Assim, devido às inúmeras
capacidades relacionais da linguagem humana, as emoções ditas
“negativas” são verbalmente previstas, avaliadas e portanto, evitadas
(Hayes, Wilson, Gifford, Follette, & Strosahl, 1996). Essa chamada
“Evitação Experiencial” é definida como uma classe de respostas
topograficamente distintas de fuga e esquiva que são negativamente
reforçados pela esquiva ou supressão de eventos privados de conteúdo
aversivo. Em outras palavras, são esforços deliberados com o objetivo
de evitar ou fugir de sensações físicas, memória e pensamentos
50
desagradáveis. (Hayes et al., 1996; Luciano & Hayes, 2001).
Infelizmente tais esforços em evitar experiências privadas
tendem a aumentar a frequência e intensidade das mesmas (Wenzlaff &
Werger, 2000; Paéz-Blarrina et al., 2008);. Como grande parte dos
eventos privados aversivo, por definição, estão aquém de qualquer
regulação comportamental voluntária, a esquiva comportamental
torna-se a única estratégia para lidar com pensamentos, sentimentos e
estados físicos desagradáveis.
A esquiva experiencial não é necessariamente um
comportamento disfuncional, mas se torna um problema quando leva a
padrões rígidos de comportamentos. A longo prazo, tais padrões
rígidos levam a uma inflexibilidade psicológica, criando contexto para a
multiplicação das situações a serem evitadas e potencializando a
aversividade dos eventos privados (Luciano et al., 2006).
Progressivamente os efeitos do controle aversivo sobre o
comportamento tornam-se claros: o repertório comportamental
estreita-se e o indivíduo perde a capacidade de entrar em contato com
o momento presente e as reais contingências ambientais.
Concentrando-se na necessidade de suprimir o mal estar, o indivíduo
se engaja em comportamentos que proporcionam um relativo alívio
imediato e, paradoxalmente, um aumento em intensidade e frequência
dos eventos aversivos privados a longo prazo (Luciano et al., 2006;
Hunziker, 1997; Wilson & Hayes, 1996; Wilson & Luciano, 2002, Sidman,
1990).
51
Terapia de Aceitação e Compromisso
Sabendo que eventos privados são inevitáveis e incontroláveis,
a ACT não tem como objetivo mudar ou reduzir pensamentos ou
sensações desagradáveis, mas sim alterar a função de tais estímulos de
modo que as respostas sob controle de tais eventos seja flexível e o
comportamento seja regulado por propósitos, valores pessoais,
eventos reforçadores verbalmente construídos, e não pelo conteúdo
literal dos comportamentos privados. A ACT busca potencializar, no
processo terapêutico, interações clínicas que permitam ao paciente
tomar consciência do fluxo de eventos privados de modo que ele possa
nota-los e então eleger ações coerentes com seus valores (Luciano et
al., 2006).
O objetivo é aumentar a flexibilidade psicológica, ou seja, a
habilidade de estar em contato com o momento presente, como um
i n d i v í d u o co n s c i e n t e e p l e n o , p e rs i s t i n d o o u m u d a n d o
comportamentos a serviço de um valor (Hayes et al., 2006).
O modelo de tratamento divide-se didaticamente em seis sub-
processos interligados, organizados em um Hexágono (ver Figura 1,
retirada de Hayes et al., 2008) que pode ser dividido em dois
componentes principais. O primeiro promoveria a desfusão e aceitação
como forma de manter o indivíduo comportando-se de forma
comprometida mesmo na presença de eventos privados aversivos;
enquanto que o segundo promoveria a clarificação de valores e ações
com compromisso (Ruiz, 2010). Cada uma dessas áreas é
52
conceitualizada como um repertório comportamental a ser adquirido e
podem descritas brevemente da seguinte maneira:
53
Figura 1. Hexágono com os processos de intervenção centrais da Terapia de
Aceitação e Compromisso (Hayes et al., 2008).
Aceitação
Desfusão Ações comCompromisso
Valores
Contato como Presente
Eu comoContexto
Processos de Mudança deComportamento e Compromisso
Processos de Conscientização e Aceitação
FlexibilidadePsicológica
Aceitação: A aceitação é a alternativa à esquiva experiencial. A
aceitação implica no envolvimento ativo e consciente aos eventos
privados, sem tentativas de mudar sua forma ou frequência. Aceitar
distingue-se de tolerar tais eventos porque a aceitação é uma escolha
consciente que envolve explorar a futilidade do controle emocional. A
aceitação não tem um fim em si mesma, ela é o contexto para que as
ações baseadas em valores possam ocorrer (Hayes et al., 2006).
Desfusão Cognitiva: A desfusão cognitiva objetiva alterar as
funções dos eventos privados sem necessariamente alterar sua
frequência ou conteúdo de forma a criar contextos que diminuam o
controle disfuncional destes sobre o comportamento (Hayes et al.,
2006; Twohig, 2012). Ou seja, a ACT almeja mudar a maneira como o
indivíduo interage e se relaciona com os eventos privados através da
construção de contextos nos quais as funções dos mesmos são
alteradas.
Contato com o momento presente (Mindfulness): A ACT promove
o que pode ser definido como uma atenção voluntária, fluida e flexível
aos eventos internos e externos, na forma como eles ocorrem, sem
apegos, avaliações ou julgamentos.
Estar sob controle dos estímulos ambientais presentes no aqui
agora diminui o impacto de um mundo construído de redes relacionais,
regras e auto regras que distanciam o indivíduo das contingências
presentes.
54
Assim, a linguagem passa a ser utilizada como uma ferramenta
para observar e descrever eventos e não para prever e julgá-los (Hayes
et al., 2006; Twohig, 2012).
Eu como contexto: através da capacidade de relacionar
estímulos arbitrariamente, somos capazes de abstrair e avaliar a nós
mesmos, construindo uma noção de Eu-conceitual baseado em auto
avaliações e categorizações. É o que acreditamos ser. O rótulo que
levamos “eu sou tímido”, “burro”, “depressivo”, “dependente”
restringe o repertório comportamental e a flexibilidade psicológica.
Assim, na busca pelo Eu-contexto trabalha-se para desenvolver a
tomada de perspectiva que permite conceber a si mesmo como um
observador dos eventos, sem apegar-se ou definir-se por eles (Hayes
et al., 2006; Twohig, 2012; Saban, 2011).
Valores: Valores são construções verbais que funcionam como
operações estabelecedoras que alteram as funções de determinados
estímulos na rede relacional.
Através da clarificação de valores, as funções reforçadoras e
punitivas de ações envolvidas em alcançar determinados valores são
alteradas. Assim, a aceitação de eventos privados desagradáveis ou o
engajamento em comportamentos com consequências a aversivas a
curto prazo torna-se mais provável quando o sofrimento está a serviço
de algo maior como um valor. Proporcionando significado e propósito às
ações.
55
Valores não são objetivos que podem ser alcançados, são
representados como aspectos de uma ação em andamento, como
dedicar-se à carreira ou ser um pai amoroso, que podem ser
perseguidos por toda uma vida, mas que não podem ser obtidos como
um objeto. (Hayes et al., 2006; Twohig, 2012).As direções valiosas
conduzem e dignificam a terapia (Wilson & Luciano, 2002).
Ação com compromisso: Enfim, a ACT encoraja o
d e s e nvo l v i m e n to d e p a d r õ e s c a d a v ez m a i s a m p l o s d e
comportamentos efetivos vinculados aos valores elegidos. Ao
contrário dos valores, que nunca serão atingidos como um objeto,
objetivos concretos que são consistentes com esses valores podem
ser alcançados de uma forma bastante semelhante a terapia
comportamental como a conhecemos: com o uso de protocolos,
treinamento de habilidades, exposições e traçando metas específicas a
curto, médio e longo prazo. (Hayes et al., 2006).
Os processos se sobrepõem e se inter-relacionam, enquanto os
métodos clínicos se valem de particularidades verbais pouco literais: as
metáforas e analogias ao problema devem ser elaboradas para que
sejam funcionalmente equivalentes ao padrão de evitação, os
paradoxos mostram as armadilhas do comportamento verbal, e os
exercícios experienciais permitem a exposição aos eventos privados
aversivos (Luciano et al., 2006).
A ênfase está na relação terapêutica e nas interações durante a
sessão. A ACT é fluída, dinâmica e essencialmente experiencial. Espera-
56
se que o paciente aprenda a resolver seus problemas de forma útil,
gerando regulações verbais do próprio comportamento que estejam
sob controle dos valores pessoais e não das funções verbais dos
eventos privados (Luciano et al., 2006; Hayes et al., 1999).
Evidências
Finalmente, os métodos clínicos são numerosos e baseiam-se
tanto nas investigações sobre transformações de funções,
aprendizagem relacional e papel dos eventos privados na regulação do
comportamento como em ensaios clínicos.
Os ensaios clínicos com base na ACT são relativamente novos.
Somente a partir da publicação do primeiro livro publicado por Hayes,
Strosahl and Wilson em 1999 (Acceptance and Commitment Therapy: An
experiential approach to behavior change) que estudos passaram e ser
feitos. Ainda assim a produção científica na área tem sido intensa e o
número de artigos publicados praticamente dobrou somente nos
últimos três anos (Hayes et al., 2006; Ruiz, 2010).
Análises dos processos mediacionais têm fornecido evidências
para a influência de processos descritos pela ACT – como aceitação,
desfusão e valores – na produção de bons resultados clínicos
(Lundgren, Dahl, & Hayes 2008). Estudos correlacionais também
apontam que a ausência desses processos pode prever algumas
psicopatologias como depressão e ansiedade (Hayes et al., 2006).
A ACT tem demonstrado evidências de eficácia em ensaios
57
clínicos randomizados para uma variedade de patologias como dor
crônica, dependência de drogas, depressão, tabagismo, ansiedade,
psicose, estresse no trabalho, gestão de diabetes, emagrecimento,
tratamento da epilepsia, auto-mutilação, insatisfação corporal,
transtornos alimentares, entre outros (Hayes et al., 2006; Ruiz, 2010)
Para a Associação americana de Psicologia, a ACT é considerada
um tratamento empiricamente validado para depressão e dor crônica.
Outros órgãos governamentais americanos como o Substance Abuse
and Mental Health Services Administration of the United States também
consideram a ACT como um tratamento empiricamente validado para
psicose, estresse no trabalho, transtorno obsessivo depressivo e
depressão (Twohig, 2012).
Conclusão
Enfim, a ACT procura criar contextos para aumentar a
flexibilidade psicológica através da associação de processos de
aceitação e atenção ao momento presente com ações comprometidas
com valores, desenvolvendo padrões mais amplos de respostas ao
alterar as funções dos eventos privados na determinação do
comportamento, tornando o comportamento mais sensível às
contingências ambientais.
À partir do crescente e significativo corpo de evidências acerca
da eficácia da ACT em um amplo escopo de patologias, é possível
afirmar que a mesma vem destacando-se progressivamente como uma
58
terapia comportamental de forte suporte empírico (Hayes, Masuda,
Bissett, Luoma, & Guerrero, 2004).
A proposta á audaciosa: os avanços da Teoria dos Quadros
Relacionais e da ACT trariam o comportamento verbal e a cognição
humana à luz da análise clínica de uma maneira inédita.
E precisamente por isso, muito precisa ser feito para que a total
compreensão dos métodos e processos permita que a abordagem
conquiste o pleno reconhecimento da comunidade acadêmica.
59
Referências
Barnes-Holmes, D., Keane, J., Barnes-Holmes, Y., & Smeets, P. M. (2000). A
derived transfer of emotive functions as a means of establishmg
differential preferences for soft drinks. The Psychological Record, 50,
493-511.
Barnes-Holmes, D., Barnes-Holmes, Y., Smeets P. M., Cullinan V., & Leader, G.
(2004a) Relational Frame Theory and Stimulus Equivalence: Conceptual
and Procedural Issues. International Journal of Psychology and
Psychological Therapy, 4(2), 181-214.
Barnes-Holmes D., Barnes-Holmes, Y., McHugh, L., & Hayes, S. (2004b). Relational
Frame Theory: Some Implications for Understanding and Treating
Human Psychopathology. International Journal of Psychology and
Psychological Therapy, 4, 355-375.
Conte, F. C. (2010). Reflexões sobre o sofrimento humano e a Análise Clínica
Comportamental. Temas em Psicologia, 18(2), 385-398.
De Rose, J. C., & Bortoloti, R. (2007). A equivalência de estímulos como modelo do
significado. Acta comportamentalia, 15, 83-102.
Dougher, M. J., & Hayes, S. C. (2000). Clinical behavior analysis. In M. J. Dougher
(Ed.), Clinical Behavior Analysis (pp. 11-26). Reno, NV: Context Press.
Dougher, M., Perkins, D. R., Greenway, D., Koons, A., & Chiasson, C. (2002).
Contextual control of equivalence-based transformation of functions.
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 78, 63-94.
Hayes, S. C. (2004). Acceptance and Commitment Therapy, Relational Frame
Theory, and the third wave of behavioral and cognitive therapies.
Behavior Therapy, 35, 639-665.
60
Hayes, S. C., Barnes-Holmes, D., & Roche, B. (2001). Relational Frame Theory: A
Post- Skinnerian account of human language and cognition. New York:
Plenum Press.
Hayes, S. C., Hayes, L. J., & Reese, H. W. (1988). Finding the philosophical core: A
review of Stephen C. Pepper's World Hypotheses. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 50, 97-111.
Hayes, S. C., Luoma, J., Bond, F., Masuda, A., & Lillis, J. (2006). Acceptance and
Commitment Therapy: Model, processes, and outcomes. Behaviour
Research and Therapy, 44, 1-25.
Hayes, S. C., Masuda, A., Bissett, R., Luoma, J., & Guerrero, L. F. (2004). DBT, FAP,
and ACT: How empirically oriented are the new behavior therapy
technologies? Behavior Therapy, 35, 35-54.
Hayes, S. C., Pistorello, J., & Biglan, A. (2008). Terapia de Aceitação e
Compromisso: modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio.
Revista Brasileira de terapia comportamental e cognitiva, 10(1), 81-104.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2011). Acceptance and commitment
therapy: The process and practice of mindful change (2a ed.). New York,
NY: The Guilford Press.
Hayes, S. C., Strosahl, K., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and Commitment
Therapy: An experiential approach to behavior change. New York: Guilford
Press.
Hayes, S. C., Wilson, K. G., Gifford, E. V., Follette, V. M., & Strosahl, K. (1996).
Emotional avoidance and behavioral disorders: A functional dimensional
approach to diagnosis and treatment. Journal of Consulting and Clinical
Psychology, 64, 1152-1168.
61
Hübner, M. M. C. (2006). Controle de estímulos e relações de equivalência. Revista
Brasileira de terapia comportamental e cognitiva, 8(1), 95-102.
Hunziker, M. H. L. (1997). Um olhar crítico sobre o estudo do desamparo
aprendido. Estudos de Psicologia, 14, 17-26.
Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (1991). Functional analytic psychotherapy: A guide for
creating intense and curative therapeutic relationships. New York: Plenum.
Linehan, M. M., Schmidt, H., Dimeff, L. A., Craft, J. C., Kanter, J., Comtois, K. A.
(1999). Dialectical behavior therapy for patients with borderline
personality disorder and drug-dependence. American Journal of
Addiction. Fall ;8(4), 279-92.
Luciano, C., & Hayes, S. C. (2001). Trastorno de Evitación Experiencial
[Experiential avoidance disorder]. International Journal of Clinical and
Health Psychology, 1, 109-157.
Luciano, M. C., Valdivia, S., Gutiérrez, O., & Páez-Blarrina, M.. (2006). Avances
desde la terapia de aceptación y compromiso (ACT). EduPsykhé, 5(2),
173-201.
Lundgren, T.; Dahl, J., & Hayes, S. C. (2008). Evaluation of mediators of change in
the treatment of epilepsy with Acceptance and Commitment Therapy.
Journal of Behavior Medicine, 31(3), 225–235.
Páez-Blarrina, M., Luciano, M. C., Gutiérrez-Martínez, O., Valdivia, S., Ortega, J., &
Rodríguez-Valverde, M. (2008). The role of values with personal examples
in altering the functions of pain: Comparison between acceptance-based
and cognitive-control-based protocols. Behaviour Research and
Therapy, 46, 84-97.
Pérez-Álvarez, M. (2006). La terapia de conducta de tercera generación.
Edupsykhé, 5(2), 159-172.
62
Ruiz, F. J. (2010). A review of Acceptance and
Commitment Therapy (ACT) empirical evidence: Correlational,
experimental psychopathology, component and outcome studies.
International Journal of Psychology and Psychological Therapy, 10, 125-
162.
Saban, M. T. (2011). Introdução a Terapia de Aceitação e Compromisso.
São Paulo: Esetec.
Sidman, M. (1971). Reading and auditory-visual equivalences. Journal of Speech
and Hearing Researches, 14, 5-13.
Sidman, M. (1990). Equivalence relations: Where do they come from? In D. E.
Blackman, & H. Lejeune (Eds.), Behavior analysis in theory andpractice:
Contributions and controversies (pp. 93-114). Hillsdale, NJ: Lawrence
Erlbaum Associates.
Stewart, I., Barnes-Holmes, D., Hayes, S. C., & Lipkens, R. (2001). Relations among
relations: Analogies, metaphors and stories. In S. C. Hayes, D. Barnes-
Holmes, & B. Roche (Eds.), Relational frame theory: A post-Skinnerian
approach to language and cognition. New York: Plenum Press.
Törneke, N., Luciano, C., & Valdivia, S. (2008). Rule governed behavior and
psychological problems. International Journal of Psychology and
Psychological Therapy, 8, 141-156.
Twohig, M. P. (2012) Acceptance and Commitment Therapy: Introduction.
Cognitive and Behavioral Practice. doi: 10.1016/j.cbpra.2012.04.003.
Vandenberghe, L. (2011). Terceira Onda e Terapia Analitico-Comportamental: um
casamento acertado ou companheiros de cama estranhos?. Boletim
Contexto,34, 33-41.
63
64
Wenzlaff, R. M., Wegner, D. M. (2000). Thought Supression. Annual Review of
Psychology,51, 59-91. functions in accordance with the relational frames
of same and opposite. Journal of the Experimental Analysis of Behavior,
82, 177-195.
Whelan, R., Barnes-Holmes, D., & Dymond, S. (2006). The transformation of
consequential functions in accordance with the relational frames of
more-than and less-than. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 86(3), 317-335.
Whelan, R., & Barnes-Holmes, D. (2004). The transformation of consequential
functions in accordance with the relational frames of same and opposite.
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 82, 177-195.
Wilson, K. G., & Hayes, S. C. (1996). Resurgence of derived stimulus relations.
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 66(3), 267-281.
Wilson, K. G., & Luciano, M. C. (2002).Terapia de aceptación y compromiso (ACT):
un tratamiento conductual orientado a los valores. Madri: Piramide.
Wilson, K. G., Hayes, S. C., Gregg, J., & Zettle, R. D. (2001). Psychopathology and
psychotherapy. In S. C. Hayes, D. Barnes-Holmes, & B. Roche (Eds.),
Relational frame theory. A post-skinnerian account of human language
and cognition (pp. 211-238). New York: Kluwer Academic.
¹ Professor Adjunto I do Colegiado de Psicologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Mestre em Psicologia
Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-SP e Doutor em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela UFPA.
Em seu modelo de seleção por consequências Skinner
(1965/1953, 1981) propõe que um mesmo processo seletivo estaria
por trás de diversos fenômenos e processos naturais, tais como a
filogênese (seleção natural), a ontogênese (seleção operante) e a
culturogênese (seleção cultural). Em comum, estes três níveis teriam o
fato de terem suas variantes, sejam características anátomo-
f i s i o l ó g i c a s o u co m p o r t a m e n t a i s i n a t a s , s e j a m p a d r õ e s
comportamentais aprendidos ou sejam práticas culturais, selecionadas
por sua eficiência em produzir certas alterações no ambiente. Como
pode ser observado, o primeiro nível diz respeito ao campo da biologia,
fisiologia ou etologia; o segundo ao campo da psicologia e; o terceiro ao
campo das ciências sociais.
Nota-se também que o lugar da psicologia no modelo de seleção
por consequências é no segundo nível, o da ontogênese. Contudo,
diversos analistas do comportamento com amplo interesse em
temáticas sociais vêm tentando interpretar fenômenos sociais dos
mais diversos e, nesse processo, feito incursões no campo das ciências
sociais (e.g. Skinner, 1976/1948; Rakos, 1988; Dixon, Dymond,
Rehfeldt, Roche, & Zlomke, 2003). Ao longo dos primeiros 40 anos da
Análise do comportamento e análise da cultura:
onde estamos e para onde vamos?Christian Vichi¹ Universidade Federal do Vale do São Francisco
65
análise do comportamento, a investigação dos processos
comportamentais básicos na ontogênese, tais como relações
resposta-consequência, controle de estímulos e esquemas de
reforçamento, parece ter captado a maior parte dos recursos humanos
e financeiros da área. Poucos eram os trabalhos sobre comportamento
social e principalmente sobre práticas culturais, e quando surgiam
normalmente tratavam de uma tentativa interpretativa ou aplicada dos
conhecimentos sobre princípios básicos do comportamento operante
numa prática cultural (e.g. Cohen & Filipczak, 1989/1971).
Evidentemente os princípios comportamentais básicos estão
presentes onde quer que haja comportamento (humano ou não).
Porém, se aceitarmos a assertiva de Skinner (1981; 1965/1953) de que
o processo seletivo ocorre em três níveis distintos, com três áreas
distintas de conhecimento; se observarmos que os princípios básicos,
de pelo menos dois destes níveis (filogenético e ontogenético), estão
relativamente bem descritos e; se entendermos que estes princípios
permitem a observação de semelhanças e diferenças entre eles (cf.
Donahoe & Palmer, 1994; Hull, Langman, & Glenn, 2001); por
generalização seremos obrigados a supor que um nível não pode ser
reduzido a outro, pois envolvem processos que se diferenciam, tanto
quanto se assemelham.
66
Estes três processos (seleção na biologia, imunologia e
comportamento) devem ser estruturados de tal maneira que a
interação ambiental causa replicação diferencial. Todos os três
As diferenças entre estes níveis, sobretudo, justificam as
separações dos diferentes campos de conhecimento. Neste sentido,
não se pode explicar comportamento humano com base puramente no
funcionamento neurofisiológico do cérebro, assim como,
supostamente, não poderemos explicar uma prática cultural com base
puramente no comportamento operante dos indivíduos que integram a
prática. Existem processos básicos nos níveis anátomo-fisiológicos e
ontogenético, muitos deles assemelhados, outros diferentes, é
possível, portanto que haja processos básicos no nível cultural também
e que estes guardem semelhanças e diferenças com os outros dois
níveis de variação e seleção.
Ao abordar práticas culturais os analistas do comportamento
frequentemente abordam comportamento social de diversos tipos,
cujos quais não trataremos aqui (para uma discussão dessa temática
ver Guerin, 2001; Sampaio & Andery, 2010 e Schimitt, 1998). Para os
objetivos do presente trabalho pode-se definir o comportamento
social como “... o comportamento de duas ou mais pessoas em relação
uma à outra, ou em conjunto em relação ao ambiente comum” (Skinner,
1965/1953, p. 297).
67
sistemas incluem variação. Porém, a quantidade que variação
difere de sistema para sistema ... A unidade natural de variação
é menos óbvia com relação ao comportamento do que com
relação aos outros dois sistemas. (Hull et al., 2001, p. 527,
acréscimos adicionados)
A definição acima descrita merece alguma reflexão, pois fornece
base para uma discussão de práticas culturais e sua relação com o
comportamento social. Observe que inicialmente a definição sugere
que o comportamento social envolve “...o comportamento de duas ou
mais pessoas em relação uma à outra...”, ou seja, quando uma pessoa se
torna ambiente social, seja como um estímulo antecedente ou como
um estímulo consequente para o comportamento da outra; neste caso,
tem-se um padrão de comportamento social simples. A segunda parte
da definição deixa as coisas mais interessantes para os interessados no
estudo da cultura, pois aponta, também como comportamento social, o
comportamento das pessoas “... em conjunto em relação ao ambiente
comum”. Neste caso, tem-se uma relação entre a relação de uma
pessoa com a outra e um ambiente comum.
Tal relação, entre as relações sociais e o ambiente comum,
poderia estar sendo alvo do processo seletivo em seu terceiro nível.
Glenn (2004) e Glenn e Malott (2004) chamaram este tipo de
contingência social de contingências comportamentais entrelaçadas
(CCEs) enfatizando o duplo papel dela como comportamento de um
sujeito e ambiente para o outro, e denominaram o efeito destas
contingências sobre o ambiente de produto agregado (PA), notem que o
produto agregado dificilmente poderia ser produzido por um individuo
sozinho, é necessário o entrelaçamento das contingências. Tourinho e
Vichi (2012) sugeriram que o PA, em culturas menos complexas, pode
diretamente selecionar as CCEs; já em culturas mais complexas, ele
interagiria com outros sistemas sociais e seria selecionado por um
Sistema Receptor (SR) (cf. Glenn & Malott, 2004).
68
Vichi e Tourinho (2012) exemplificam os conceitos acima
descritos com uma pequena comunidade de pescadores que vive da
pesca. Nesta comunidade existem múltiplas relações (CCEs)
envolvidas na prática de pescar, alguns indivíduos pescam (com redes),
outros conduzem os barcos, alguns limpam os peixes e, no final, a pesca
(PA) é dividida entre as famílias. Agora imagine que o negócio da pesca
começa a prosperar, e então um excedente de peixes passa a ser
gerado, o que leva as famílias a organizarem uma cooperativa (novas
CCEs entram em ação). Por meio desta cooperativa a comunidade
passa a revender a produção peixes (PA) para outros distribuidores,
estes distribuidores passariam a atuar como um SR selecionando então
as CCEs e seus PAs. Neste caso, se a qualidade ou quantidade da pesca
não estiver dentro de parâmetros definidos pelo SR, ela poderá não ser
totalmente vendida. Como notamos, em práticas culturais menos
complexas (pesca de subsistência) pode não haver a mediação social de
69
Na medida em que a mediação social é exigida pode produzir a
diferença entre fenômenos culturais mais ou menos
complexos. Com a mediação social, o produto agregado e a
consequência cultural se tornam diferenciados. Em arranjos
complexos, o produto agregado se torna parte do que é
selecionado e a consequência cultural diferenciada, juntamente
com as CCEs que dão origem a ele. E o papel seletivo agora é
desempenhado pela consequência cultural que difere do produto
agregado. A transição requer crescente mediação social.
(Tourinho & Vichi, 2012, p. 173, itálicos acrescentados)
um SR (empresa revendedora dos peixes) e a função de Consequência
Cultural seletiva (CC) é exercida diretamente pelo PA (pesca), já em
práticas culturais mais complexas a seleção das CCEs e seus PAs só
acontecem com a mediação social de um SR.
O processo seletivo no nível cultural tende a continuar
gradualmente operando por muitas gerações de modo análogo a uma
linhagem genética ou uma linhagem operante de respostas. O termo
linhagem é usado por Glenn (2004) para enfatizar o caráter evolutivo
das classes de resposta, pois cada resposta é única e ocorre uma única
vez, o que ocorre posteriormente é outra resposta da mesma linhagem
(ou classe) que passa a recorrer com maior ou menor frequência,
produzindo a seleção operante. De modo análogo, uma linhagem
cultural é composta pela recorrência das CCEs ao longo do tempo,
porém estas CCEs excedem o tempo de vida dos indivíduos que
integram uma prática cultural, exigindo com que novos indivíduos
passem a ocupar suas posições em gerações futuras. No exemplo
acima da comunidade pesqueira, poderíamos notar que a comunidade
existe a, pelo menos, 150 anos, e muitos dos pescadores são filhos,
netos e bisnetos de pescadores.
Portanto, assim como numa contingência operante, onde uma
linhagem operante de respostas produz alteração no ambiente e essa
alteração pode ter função seletiva, o mesmo ocorre no nível cultural.
Neste sentido, de modo análogo a uma contingência operante,
teríamos uma metacontingência (por vezes chamada de contingência
cultural, Lamal, 1997), cuja função não é selecionar linhagens operantes
e sim linhagens culturais, compostas por CCEs, ou seja, as relações
existentes entre determinadas funções sociais num grupo.
70
Estudos empíricos com práticas culturais
Recentemente analistas do comportamento têm empreendido
estudos empíricos de natureza experimental acerca dos conceitos
empregados no estudo de práticas culturais por uma perspectiva
analítico-comportamental. O leitor não familiarizado com esta
literatura poderá pensar “certo, mas, como seria possível estudar
experimentalmente uma cultura”? E não seria tola essa pergunta, pois
sua resposta não é óbvia.
Evidentemente não seria possível colocar toda uma sociedade
em laboratório, conduzir experimentos e ter um razoável controle das
variáveis, mas isso não é necessário. É possível criar análogos
experimentais de práticas culturais em escala muito menor, assim
como fazem os biólogos aos estudarem o desenvolvimento de
microrganismos numa placa de petri e assim como fez Skinner (1938)
para estudar o comportamento operante (que envolve processos
complexos como pensamentos e sentimentos) empregando uma
amostra simples de operante sob a forma de um rato pressionando uma
barra. Tais análogos não são particulares da Análise do Comportamento
e existem em várias áreas como a Psicologia Social Experimental ou
Sociologia Comportamental, eles são feitos construindo-se
microsociedades ou microculturas de laboratório (cf. Jacobs &
Campbell, 1961; Baum, Richerson, Efferson, & Paciotti, 2004), através
da criação de uma tarefa coletiva usualmente sob a forma de um tipo de
jogo.
A possibilidade de criação de microculturas experimentais de
laboratório tem permitido aos analistas do comportamento produzir
71
72
estudos experimentais acerca do processo de seleção em seu nível
cultural, a fim de verificar ou refutar as proposições teóricas,
compreender melhor a gênese e dinâmica das práticas culturais por
meio de dados. Tais trabalhos tem contado com marcante presença
brasileira nesta produção (Sampaio, 2008) os sobretudo de programas
de pós-graduação em análise do comportamento, como os da PUC-SP,
USP, UnB e UFPA.
Os estudos experimentais têm se concentrado na
demonstração ou tentativa de replicação de seleção cultural, seleção
CCEs e seus PAs por uma CC (Lopes, 2010; Pereira, 2008; Vichi, Andery,
& Glenn, 2009). Têm sido observado que, como previsto na teoria, as
CCEs e seus PAs podem ser selecionados e também podem ser extintos
(Caldas, 2009). Algumas variações paramétricas tem sido testadas, o
que tem permitido uma complementação teórica de pontos que ainda
não haviam sido previstos, por exemplo, o aumento de complexidade
de componente das CCEs que pode ser ampliado em laboratório com
até quatro participantes (Bullerjhann, 2009), contudo, se o grau de
complexidade da tarefa for muito elevado isso se torna mais difícil, mas
pode ser resolvido com um gradual aumento da complexidade
ambiental (Esmeraldo, 2012).
Sabemos também que é possível manter as CCEs e seus PAs em
esquemas intermitentes de VR2 (Amorim, 2010; Vichi, 2012), VR3, FR2
e FR3 e que as CCEs podem ser instaladas sem passar por CRF, pelo
menos em VR2 (Amorim, 2010). Foi investigado o efeito do controle
antecedente sobre a recorrência das CCEs e seus PAs (Vieria, 2010); a
transmissão de diferentes tipos de descrições verbais ao longo de
múltiplas gerações (Leite, 2009); e o efeito da remoção das interações
verbais (CCEs verbais) sobre a seleção cultural (Sampaio, Alves Filho,
Barros, & Brito, manuscrito em preparação).
Foi também testado o papel de contingências de suporte sobre
as CCEs (Tadaiesky & Tourinho, 2012) e a criação de um modelo
experimental de superstição (Marques, 2012). Além disso, empregando
a terminologia teórica da análise do comportamento aplicada a cultura e
com os modelos experimentais sendo desenvolvidos, é possível
colocar a teste algumas proposições teóricas clássicas da análise do
comportamento sobre práticas culturais. Como a proposição de que
sistemas sociais com predomínio de contingências aversivas
produziriam a fuga de seus membros para sistemas sociais menos
aversivos (Guimarães, Pedrosa, & Vichi, manuscrito em preparação).
O futuro: promessas e obstáculos
Muitas outras questões empíricas, assim como o
desenvolvimento de modelos experimentais que permitam estudar
questões sociais mais próximas as encontradas no mundo real estão
abertas e devem ser investigadas na Análise do Comportamento.
Começamos recentemente a entender os princípios básicos que
determinam as práticas culturais e ainda estamos longe de ter uma
compreensão mínima sobre o assunto, mas o trabalho vêm sendo
desenvolvido.
A ciência básica da cultura, ou Análise da Cultura, que assim
como a Análise do Comportamento tem suas bases epistemológicas
fortemente calcadas no Behaviorismo Radical, mas cujo objeto de
73
74
estudo seriam as práticas culturais está em seu início e se supõe que
dentro de algum tempo será possível ousar e tentar transformar os
achados da ciência básica em tecnologia e aplicação para solucionar
problemas sociais, criando assim uma espécie de psicologia
comunitária analítico-comportamental e contribuindo para áreas como
gerenciamento comportamental em organizações, educação, saúde,
organização de serviços públicos, etc. O mesmo ocorreu com a
transferência de conhecimento da Análise Experimental do
Comportamento para a Análise do Comportamento Aplicada nos anos
60 e garantiu um lugar de destaque aos analistas do comportamento no
campo profissional, sobretudo no trabalho com autismo.
Alguns problemas, entretanto, se interpõe e merecem ser
discutidos. No passado analistas do comportamento dedicaram-se
sistematicamente ao estudo do comportamento social (Schmitt, 1998;
Hake & Vukelich, 1972) e produziram uma significativa quantidade de
dados e teorizações sobre o tema, porém, após os anos 80 estes
trabalhos foram diminuindo em frequência e hoje já praticamente não
se encontram trabalhos recentes experimentais sobre cooperação,
competição ou troca na Análise do Comportamento. Somente no
campo aplicado estes conceitos são vistos e raramente influenciados
pela pesquisa básica, as razões disso não são claras. É importante saber
com detalhes o que ocorreu na área de comportamento social e
aprender com a história, a fim de evitar um destino semelhante no
estudo empírico sobre cultura.
Sabe-se que os trabalhos com comportamento social gozavam
de ampla variabilidade metodológica e de uma certa variabilidade
conceitual, o que pode ter criado entraves no dialogo com os
pesquisadores. Algo parecido começa a ser observado na Análise da
Cultura, recentemente vêm surgindo uma ampla variabilidade de
termos para designarem os mesmos fenômenos, e tais termos, muitas
vezes, não se tratam de um refinamento conceitual, mas sim de uma
substituição injustificada de uma terminologia por outra. Isso pode ser
observado num artigo de Houmanfar, Rodrigues e Ward (2010) em que
os autores propõe um modelo de cinco termos para descrever
metacontingências: a) um milieu cultural-organizacional (antecedente
cultural); b) comportamentos sócio entrelaçados (um nome diferente
para CCEs); c) produto agregado; d) prática do consumidor (um nome
diferente para sistema receptor) e; e) regras do grupo. O modelo
descrito contribui adicionando ao modelo metacontingência um termo
novo e, possivelmente, necessário o a) milieu cultural. Contudo, os
demais ou já estavam descritos em versões anteriores do modelo ou
são desnecessários. É o caso do elemento d) regras do grupo, que
refere-se a descrição de regras (por gerações presentes e anteriores)
que passariam a controlar os comportamentos dos integrantes do
grupo. Regras são descritas com base no contato do grupo com as CCs
e suas regularidades, ou sejam, são selecionadas como CCEs e PAs (ver
Leite, 2009). De fato, as regras parecem ser parte das CCEs e não outra
coisa; este modelo propõe o que, na prática, seria uma divisão de CCEs
75
verbais e sociais, na forma de reforço e punição verbal social de um
membro do grupo sobre o outro, e CCEs verbais do tipo regras.
No modelo de Houmanfar et al. (2010) observa-se uma
tendência perigosa e contrária a tradição de parcimônia teórica da
Anál ise do Comportamento. Observa-se uma teorização
desnecessária, gerando uma multiplicação de termos e, quando isso
não ocorre, a mera substituição de um conceito por um novo conceito
com a mesma função. Esta tendência de empregar diferentes
nomenclaturas não é exclusividade destes autores, embora raramente
sejam vistas tamanhas diferenças.
Como Skinner (1990) já sugeriu o esforço para a construção de
uma teoria requer o uso de uma linguagem científica consistente. A
área de Análise da Cultura precisará discutir e possivelmente unificar os
termos empregados, a fim de conseguir criar uma linguagem científica
comum e garantir assim as condições para que a investigação científica
de práticas culturais possa se tornar uma prática que sobreviva. Do
contrário, correrá o risco de se extinguir antes mesmo de conseguir
replicar a tão bem sucedida travessia vista da Análise Experimental do
Comportamento para a aplicação.
76
77
Referências
Amorim, V. C. (2010). Análogos experimentais de metacontingências: Efeitos da
intermitência da consequência cultural. Dissertação de mestrado .
Programa de Estudos Pós-Graduados em P sicologia Experimental:
Análise do Comportament o, PUC-SP, São Paulo.
Baum, W. M., Richerson, P. J., Efferson, C. M., & Paciotti, B. M. (2004). Cultural
evolution in laboratory microsocieties including traditions of rule giving and
rule following. Evolution and Human Behavior, 25, 305-326.
Bullerjhann, P. B. (2009). Análogos experimentais de fenômenos sociais: O efeito das
consequências culturais. Dissertação de mestrado, Programa de Estudos
Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento,
PUC-SP, São Paulo.
Caldas, R. A. (2009). Análogos experimentais de seleção e extinção de
metacontingências. Dissertação de mestrado. Programa de Estudos Pós-
Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-
SP, São Paulo.
Cohen, H. L., & Filipczak, J. (1989). A new learning environment. Boston, MA: Authors
Cooperative,Inc. (Trabalho original publicado em 1971)
Dixon, M. R., Dymond, S., Rehfeldt, R.A., Roche, B., & Zlomke, K. R. (2003). Terrorism
and relational frame theory. Behavior and Social Issues, 12(2), 129-147.
Donohoe, J. W., & Palmer, D. C. (1994). Learning and complex behavior. Needham
Heights, MS: Allyn and Bacon.
Esmeraldo, D. C. (2012). Efeitos de dois procedimentos de aproximação sucessiva
sobre a seleção de uma prática cultural complexa. Dissertação de mestrado.
Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento,
UFPA, Belém.
78
Glenn, S. S. (2004). Individual behavior, culture, and social change. The Behavior
Analyst, 27, 133-151.
Glenn, S. S., & Malott, M. E. (2004). Complexity and selection: Implications for
organizational change. Behavior and Social Issues, 13, 89-106.
Guerin, B. (2001). Individuals as social relationships: 18 ways that acting alone can be
thought of as social behavior. Review of General Psychology, 5(4), 406-428.
Guimarães, T. M. M., Pedrosa, S. C. D., & Vichi, C. Um teste empírico da objeção
skinneriana ao uso de controle aversivo em sistemas sociais. Manuscrito em
preparação.
Hake, D. F., & Vukelich, R. (1972). A classification and review of cooperation
procedures. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 18, 333-343.
Houmanfar, R., Rodrigues, N. J., & Ward, T. (2010). Emergence and
metacontingencie: Points of contact and departure. Behavior and Social
Issues, 19, 78-103.
Hull, D. L., Langman, R. E, & Glenn, S. S. (2001). A general account of selection:
Biology, immunology, and behavior. Behavioral and Brain Sciences, 24, 511-
573.
Jacobs, R. C., & Campbell, D. T. (1961). The perpetuation of an arbitrary tradition
through several generations of a laboratory microculture. Journal of
Abnormal and Social Psychology, 62, 649-658.
Lamal, P. A. (Ed.). (1997). Cultural contingencies: Behavior analytic perspectives on
cultural practices. Westport, CT: Praeger.
Leite, F. L. (2009). Efeitos de instruções e história experimental sobre a transmissão de
práticas de escolha em microculturas de laboratório. Dissertação de
mestrado. Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do
Comportamento, UFPA, Belém.
79
Lopes, E. B. (2010). Um análogo experimental de uma prática cultural: Efeitos de um
produto agregado contingente, mas não contíguo, sobre uma contingência de
reforçamento entrelaçada. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-
graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, UFPA, Belém.
Marques, N. S. (2012). Efeitos da incontrolabilidade do evento cultural no
estabelecimento e manutenção de práticas culturais: Um modelo
experimental de superstição. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-
graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, UFPA, Belém.
Pereira, J. M. C. (2008). Investigação experimental de metacontingências: Separação
do produto agregado e da conseqüência individual. Dissertação de mestrado.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise
do Comportamento, PUC-SP, São Paulo.
Rakos, R. F. (1988). Capitalism, socialism, and behavioral theory. Behavior Analysis and
Social Action, 6(2), 16-22.
Sampaio, A. A., & Andery, M. A. P. A. (2010). Comportamento social, produção
agregada e prática cultural: Uma análise comportamental de fenômenos
sociais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(1), 183-191.
Sampaio, A. A. (2008). O estudo da cultura pela análise do comportamento. Boletim
Contexto, 31.
Sampaio, A. A. S., Alves Filho, A. P., Barros, N. M., & Brito, I. S. Efeitos do controle
verbal em microculturas experimentais. Manuscrito não publicado.
Schmitt, D. R. (1998). Social behavior. Em K. Lattal, & M. Perone (Eds.), Handbook of
research methods in human operant behavior (pp. 471-505). New York and
London: Plenum Press.
Skinner, B. F. (1965). Science and human behavior. New York: Free Press. (Original
publicado em 1953).
Skinner, B. F. (1976). Walden Two. New York, NY: Macmillan. (Original publicado em
1948).
Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 213, 501-514.
80
Skinner, B. F. (1990). Can psychology be a Science of mind? Em B. F. Skinner.
Cumulative record (pp. 661-673). Definitive Edition. Acton, MS: Copley
Publishing Group.
Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms. New York: D. Appleton-Century.
Tadaiesky, L., & Tourinho, E. Z. (2012). Effects of support consequences and cultural
consequences on the selection of interlocking behavioral contingencies.
Revista Latinoamericana de Psicologia, 44(1),133-147.
Tourinho, E. Z., & Vichi, C. (2012). Behavioral-analytic research of cultural selection
and the complexity of cultural phenomena. Revista Latinoamericana de
Psicologia, 44(1), 169-179.
Vichi, C., Andery, M. A. P. A., & Glenn, S. S. (2009). A metacontingency experiment:
The effects of contingent consequences on patterns of interlocking
contingencies of reinforcement. Behavior and Social Issues, 18, 41-57.
Vichi. C. (2012). Efeitos da apresentação intermitente de consequências culturais sobre
contingências comportamentais entrelaçadas e seus produtos agregados.
Tese de doutorado. Programa de Pós-graduação em Teoria e Pesquisa do
Comportamento, UFPA, Belém.
Vieira, M. C. (2010). Condições antecedentes participam de metacontingências?
Dissertação de mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em
Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-SP, São Paulo.
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento caracterizado por
déficits nas áreas de comunicação, socialização e por padrões restritos
e repetitivos de comportamento. Nos Estados Unidos da América
(EUA), o último levantamento realizado pelo Center of Disease Control
and Prevention (CDC) apontou uma prevalência de um caso
diagnosticado a cada 88 crianças (1,13%). No Brasil, não há dados de
prevalência atualizados, com exceção de uma pesquisa-piloto realizada
em um bairro do município de Atibaia, no Estado de São Paulo (Paula,
Ribeiro, Fombonne, & Mercadante, 2011), a qual apontou um número de
0,3%, o menor da literatura. Questões metodológicas podem ter
interferido no resultado ou até mesmo as características da população
brasileira, uma vez que este foi o primeiro estudo do tipo realizado no
país.
De todo o modo, os números de prevalência são expressivos e,
ao longo dos últimos anos, o número de casos diagnosticados vem
crescendo. Os dados do CDC demonstram que, entre os anos de 2006 e
2008, houve um aumento de 25% nos casos de autismo diagnosticados
nos EUA.
Questiona-se se este crescimento está relacionado a um real
aumento epidemiológico do transtorno ou se a melhora na definição
dos critérios diagnósticos e a maior difusão do tema entre profissionais
O autismo em foco
81
Lygia T. Dorigon
82
da saúde e da educação não seriam as variáveis responsáveis. É possível
que ambos os fatores sejam relevantes, mas o fato é que atualmente
existem muito mais crianças diagnosticadas com algum transtorno do
espectro autista que há dez anos.
Dado o alto índice de prevalência do transtorno, torna-se
fundamental a discussão sobre o assunto e a disseminação do
conhecimento relacionado a critérios diagnósticos e a tratamentos
possíveis. O diagnóstico precoce tem se mostrado uma ferramenta
importantíssima à intervenção antes dos três anos de idade, o que
favorece imensamente o prognóstico.
Diversos sinais (e.g., falha no contato visual durante a
amamentação, ausência ou déficit de reciprocidade sócio-emocional,
dificuldade em se aconchegar nos braços da mãe, ausência de busca
espontânea por atenção, interesses restritos por determinados
objetos, falha no desenvolvimento de repertórios de imitação,
seguimento de regras e comunicação) podem indicar a presença de um
transtorno do desenvolvimento. Sem o tratamento, não há chances de
reversão do quadro. No entanto, com um atendimento adequado e
especializado, é possível alcançar-se uma melhora tão expressiva que,
em muitos casos, a criança evolui com comportamentos semelhantes
aos das crianças com desenvolvimento típico.
O tratamento multidisciplinar que estimula a criança tanto
quanto possível nas diferentes áreas em que ela apresentar
dificuldades tem sido uma forma eficaz de se garantir a melhora global
no quadro. Quanto mais oportunidades adequadas de ensino forem
disponibilizadas à criança, maiores condições ela terá de aprender
novos comportamentos e de evoluir de forma positiva.
A participação do psicólogo (especializado) é parte fundamental
neste processo. Nesse sentido, a terapia orientada sob os princípios da
análise aplicada do comportamento vem se mostrando, nos últimos 50
anos, uma intervenção eficaz, com procedimentos definidos,
desempenho mensurável e resultados consistentes. De acordo com
Baer, Wolf e Risley (1968), a intervenção comportamental se diferencia
por ser científica. Para isso, algumas dimensões norteadoras da prática
do analista do comportamento têm de ser consideradas. Em síntese,
tais dimensões descrevem que: (a) o comportamento-alvo deve ser
socialmente relevante; (b) as variáveis que controlam o
comportamento, adequadamente identificadas; (c) os procedimentos
a ser utilizados, bem estabelecidos e de acordo com os princípios da
abordagem; (d) as mudanças comportamentais devem ter valor
prático, melhorando significativamente a vida dos indivíduos; (e) devem
se manter ao longo do tempo, em diferentes contextos ou se
estendendo a diferentes comportamentos.
O importante papel da análise do comportamento na
intervenção com crianças autistas, aliada às suas pesquisas sobre o
assunto, vem sendo reconhecido em diversos países desde a década de
1970. Apesar disso, no Brasil, o impacto da análise aplicada do
comportamento ao autismo ainda é muito menor que o de países como,
83
por exemplo, EUA e Canadá. De acordo com dados da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o Programa de
Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) é o
único no país que se dedica totalmente à educação especial. Além disso,
há escassez de centros especializados ao redor do Brasil, bem como
pouquíssimos interessados em associar pesquisa e prática.
Por conta desse quadro e considerando a relevância do tema, no
início do ano de 2012, entre os dias 9 e 13 de janeiro, a FAPESP financiou
um evento internacional intitulado Advanced in Research and Treatment
of Autistic Behavior. O evento, que ocorreu no município de São Carlos
(SP), foi organizado pelo professor Celso Goyos, da UFSCar, em
parceria com os pesquisadores analistas do comportamento Caio
Miguel, da Universidade da Califórnia, e Thomas Higbee, da
Universidade de Utah, ambas nos EUA.
O objetivo do evento era a atualização dos profissionais sobre os
avanços relacionados ao autismo nas áreas de diagnóstico e de
intervenção, o compartilhamento de experiência entre pesquisadores
e psicoterapeutas de diferentes nacionalidades e o fomento para a
consolidação de outros grupos de pesquisa sobre o autismo no Brasil.
Foram reunidos cerca de 40 estudantes brasileiros de graduação
e de pós-graduação e 25 do exterior. Trinta e um pesquisadores (nove
brasileiros e 22 de países como EUA, Canadá, Noruega e Espanha) foram
convidados para apresentarem seus trabalhos de pesquisa.
Alguns dos pesquisadores mais importantes da análise do
comportamento, como Brian Iwata, James Carr, Douglas Greer,
84
¹ A certificação é reconhecida pela Comissão Nacional de Agências Certificadoras em Washington, D.C. e reconhecido pela Associação de Profissionais analistas do comportamento e pela Associação Européia de Análise do Comportamento.
Thomas Higbee, DickieYu, Rebecca Mac Donald e Dorothea Lerman,
estiveram presentes. Além desses nomes, responsáveis por centros
especializados como o Saint Amant, no Canadá, e o New England Center
for Children, nos EUA, apresentaram suas experiências e modelos de
atendimento (as brasileiras Daniela Fazzio e Paula Braga-Kenyon, entre
outras). A discussão sobre as descobertas mais recentes em pesquisas
genéticas foram apresentadas por pesquisadores renomados, como
Alysson Muotri (da Universidade da Califórnia) e Maria Rita Passos
Bueno (da Universidade de São Paulo).
Um dos aspectos que chamou a atenção, durante o evento, é o
quanto o Brasil ainda é deficitário em termos de pesquisa, intervenção e
legislação sobre o autismo. Nos EUA, por exemplo, centros
especializados no atendimento das crianças com transtorno do
espectro autístico recebem financiamento do Estado e atendem
diversas crianças diária e intensamente. A intervenção é realizada por
horas e compreende o ensino de repertórios comportamentais
básicos, além de treinamento nas atividades de vida diária.
Os responsáveis pelos centros e parte dos psicólogos que
atuam diretamente com as crianças são credenciados pelo Board
Certification Behavior Analys¹(BCBA), que estabelece critérios
específicos para a certificação dos profissionais da área, o que tende a
assegurar a qualidade da intervenção ou, pelo menos, a aumentar a
probabilidade de que isso ocorra.
85
Além disso, também nos EUA existem leis específicas
relacionadas ao tratamento dos indivíduos com autismo, que
asseguram direitos, sob responsabilidade do Estado, para que as
crianças recebam tratamento adequado, escola e outros benefícios.
Em 2006, o governo federal aumentou o investimento no combate ao
autismo em cerca de 50%, incluindo recursos relacionados ao
diagnóstico e ao tratamento, bem comoà expansão e à intensificação
das pesquisas biomédicas na área.
No Brasil, este cenário é ainda muito diferente. Há um enorme
esforço de entidades e familiares para que a legislação seja modificada e
assegure direitos às crianças com transtorno do espectro autístico. Em
2011, foi promulgada a lei que institui a obrigatoriedade do Poder
Executivo proporcionar tratamento especializado, educação e
assistência específicos a todos os autistas, independentemente da
idade. Apesar disso, conforme anteriormente apontado, há poucos
centros de atendimento especializado ao redor do país.
O serviço oferecido é insuficiente para atender a
demanda. O que se vê, atualmente, são muitas famílias dispendendo
recursos financeiros para que os filhos possam receber tratamento
especializado por clínicas particulares. Considerando a necessidade de
intervenção intensiva, o custo do tratamento dificulta (e muito) que
muitas famílias tenham condições de financiar os atendimentos. O
número de horas da intervenção acaba se reduzindo às possibilidades
monetárias da família. E, nesse caso, a intensividade, variável que
diferencia as intervenções baseadas em análise do comportamento,
86
acaba sendo desconsiderada.
Estamos longe de uma certificação que estabeleça critérios
para garantir profissionais qualificados à frente dos tratamentos, o que
expõe muitas famílias a serviços de psicólogos que dizem
(erroneamente) que “fazem ABA” e que, na verdade, são meros
aplicadores de técnicas e nem sempre sabem o que estão fazendo.
O evento realizado em São Carlos foi de extrema relevância para
o fomento da discussão em torno do assunto e para a elaboração de
projetos e compartilhamento de ideias com o objetivo de estabelecer
novos rumos ao Brasil, tanto no que se refere à pesquisa quanto à
prática. Apesar disso, ainda há muito o que fazer. A discussão precisa
extrapolar um pequeno grupo de analistas do comportamento
interessados em realizar mudanças no cenário atual. É preciso o
engajamento da comunidade como um todo, de instituições não
governamentais, de centros de atendimento gratuito e de profissionais
que atuam em clínicas particulares no sentido de divulgação do
assunto, investimento em pesquisas na área e, principalmente, atuação
junto ao Estado para que a legislação vigente seja revista, devidamente
executada e os direitos à educação e à saúde das crianças com
transtorno do espectro autista sejam efetivamente assegurados.
87
Referências
Baer, D., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of applied
behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1, 91-97.
Paula C. S., Ribeiro S. H., Fombonne, E., & Mercadante, M. T. (2011). Prevalence of
pervasive developmental disorder in Brazil: A pilot study. Journal of
Autism Developmental Disorder, 41, 1738-1742.
88
Economia Comportamental é uma área híbrida de
conhecimento que reúne as Ciências Econômicas e a Psicologia. No
âmbito da Psicologia, a maioria dos trabalhos está baseada em
abordagens cognitivistas, mas o volume de trabalhos baseados no
Behaviorismo Radical/Análise do Comportamento se encontra em
crescimento. Esta faceta analítico-comportamental é demarcada por
uma sobreposição: de um lado, os interesses de analistas do
comportamento em produzir explicações para temas julgados
relevantes pela comunidade de analistas do comportamento; de outro
um conjunto de teorias formuladas por economistas para responderem
outro conjunto de questões, que podem ou não tangenciar temas
psicológicos (IBR, 2012).
Historicamente, a relação entre Economia e Psicologia foi
marcada por períodos de aproximação e afastamentos, em um
movimento quase pendular. O penúltimo período de aproximação
ocorreu no século XIX na busca conjunta, de economistas e psicólogos,
por medidas diretas de “prazer”, que será brevemente descrita abaixo.
Introdução à Economia Comportamental
para analistas do comportamentoAna Carolina Trousdell Franceschini¹Universidade de São PauloDiogo Conque Seco Ferreira²Universidade Federal de Sergipe
¹ Economista, psicóloga e analista do comportamento. MBA em Finanças Corporativas (FIA-USP) e mestranda em Psicologia
Experimental pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
² Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia. Professor de Universidade Federal de Sergipe, coordenador do laboratório de
psicologia experimental e pesquisador do Grupo Consuma.
89
Em seguida, os dois campos permaneceram afastados por grande parte
do século passado. A recente retomada de esforços interdisciplinares
foi originada por questionamentos internos ao campo econômico
sobre premissas como racionalidade e maximização, pela confrontação
de previsões teóricas e observações empíricas e pelo crescimento da
Economia Experimental. Tais tendências abriram espaço para
iniciativas interdisciplinares, na medida em que economistas passaram
a buscar na Psicologia premissas mais realistas sobre o
comportamento humano, para formular suas teorias (Muramatsu,
2007).
A fundação da Economia Comportamental dentro da Análise do
Comportamento se deveu ao esforço de pioneiros como Hursh (1978;
1980; 1984), Allison (1983), Green e Rachlin (1975), Kagel e Winkler
(1972), entre outros, e se sustentou sobre a convicção de que a busca
por explicações alternativas trazidas de outros campos científicos
poderia promover avanços dentro da própria disciplina-receptora e das
ciências em geral (Foxall, 1990). Condizente com tal proposta, a Análise
do Comportamento vêm testemunhando iniciativas favoráveis à
expansão da aplicação prática dos princípios comportamentais, em
trabalhos use-inspired ou translacionais (Critchfield, 2011). Parte
destes esforços se refletiu na expansão da Economia Comportamental.
O objetivo deste artigo é descrever processos históricos relevantes à
parceria entre Economia e Psicologia/ Análise do Comportamento e
identificar alguns temas nos quais os esforços de pesquisas parecem
estar concentrados, dentro e fora do Brasil.
290
Similaridades entre Economia e Análise do Comportamento
Algumas similaridades entre os objetos de estudos da Economia
e Análise do Comportamento podem ter facilitado iniciativas em favor
do importe de conceitos do primeiro campo científico ao segundo
(Allison, 1983). Assim como a Análise do Comportamento, a Economia é
também uma ciência do comportamento, mas diferentemente da
primeira, seu foco recai exclusivamente sobre comportamentos sociais
humanos de alta complexidade (Hursh, 1984). Seu objetivo é estudar os
efeitos que a escassez de recursos ambientais produz sobre o
comportamento humano (Robbins, 1945), geralmente pela descrição e
análise de tendências em grandes grupos de pessoas em diferentes
contextos sociais. A Análise do Comportamento, por sua vez, adota um
objeto de estudo mais abrangente ao se interessar por qualquer
organismo, em qualquer ambiente. Seu foco recai sobre a ontogenia de
comportamentos individuais, entendidos como uma relação bilateral
entre organismos e ambiente (Tourinho & Sério, 2010).
Um dos desafios enfrentados por economistas
comportamentais desde a fundação desta área interdisciplinar é a
adaptação dos conceitos econômicos para a linguagem e práticas da
Análise do Comportamento e a verificação da validade empírica destes
conceitos em sujeitos individuais, humanos ou não. Tais iniciativas
somente se justificam se tais conceitos se provarem coerentes e/ou
complementares às explicações comportamentais já existentes.
Nestas investigações, os resultados experimentais, amealhados por
analistas do comportamento ao longo de décadas têm rendido
proveitosos frutos. Muitos conceitos econômicos, como demanda,
elasticidade ou modelos fechados, já foram importados com sucesso e
91
hoje consistem em poderosas ferramentas analíticas para temas como
abuso de substâncias químicas, escolha de marcas de produtos, manejo
de contingências clínicas etc. (Hursh, 1984; Bickel, Green, & Vuchinich,
1995; Oliveira-Castro, Foxall, & Schrezenmaier, 2006; Francisco,
Madden, & Borrero, 2009).
Os avanços produzidos pela vertente analítico-
comportamental da Economia Comportamental podem também
oferecer contrapartidas ao campo econômico. Dentre estas estão as
potenciais contribuições às investigações da Economia Experimental,
uma linha de pesquisas que propõe o uso do método experimental para
comparação de teorias econômicas concorrentes, em substituição ou
complemento a outros métodos de pesquisa como a inferência indutiva
ou a lógica pura (Caldwell, 1986; Guala, 2005). A sofisticação
tecnológica dos economistas comportamentais pode também inspirar
avanços metodológicos e conceituais (Kagel & Winkler, 1972), uma vez
que investigações pelo método experimental reúnem os esforços de
uma boa parcela de analistas do comportamento (Tourinho, 2003;
Tourinho & Sério, 2010). Outra potencial contribuição à Economia
reside na ênfase contextualista adotada nas análises funcionais de
contingências entre respostas e estímulos, que oferece explicações
para o comportamento humano, sem a necessidade de recorrer-se a
inferência sobre processos “internos” ou subjetivos.
92
Praticamente todos os conceitos usados hoje em Economia
Comportamental foram retirados de um conjunto de temas dentro das
Ciências Econômicas, chamado Microeconomia (Allison, 1983; IBR,
2012). A Microeconomia se debruça sobre o comportamento dos
chamados “agentes representativos”, ou seja, de pessoas no momento
em que assumem papéis sociais como consumidores, empresários,
trabalhadores, investidores etc. Este interesse específico por agentes
representativos cunhou algumas preferências metodológicas. Grande
parte das teorias econômicas atuais foi formulada a partir do método
indutivo inferencial, no qual observações empíricas (não experimentais
ou controladas) são usadas para formulação de predições de eventos
futuros. O procedimento mais comum é a coleta e análise de dados
sobre eventos sociais já ocorridos para embasar a formulação de
hipóteses sobre seus determinantes causais (não funcionais).
Pautados sobre alguns axiomas³ que pretensamente captariam
características do comportamento humano (exemplos: racionalidade,
aversão à perda, preferências intransitivas), cientistas econômicos
costumam propor um conjunto de relações matemáticas que são então
usadas para embasar predições sobre eventos futuros. Neste método,
os esforços costumam estar voltados à construção de um conjunto de
relações matemáticas que detenha coerência interna. A observação
direta de sujeitos individuais em ambientes controlados de laboratório
não é tradicional nas ciências econômicas. O método experimental foi
³ Axioma: premissa considerada verdadeira sem necessidade de demonstração
93
introduzido na Economia somente na década de 70 e seu uso ainda não
é consensual. Mesmo entre economistas experimentais, a preferência
metodológica recai sobre o método experimental hipotético-dedutivo
(ou teórico-formal), ou seja, a realização de experimentos voltados a
avaliar e refutar hipóteses teóricas formuladas previamente (Guala,
2005). Entre analistas do comportamento, a preferência recai sobre o
método experimental indutivo (ou teórico-informal), a partir do
entendimento de que pesquisadores devem partir da observação de
dados para a experimentação, buscando identificar padrões e relações
funcionais entre variáveis, e que somente após tal processo é que
devem ser formuladas leis gerais (Bachrach, 1974).
O uso de sujeitos não-humanos, como pombos, ratos ou
macacos, em experimentos de Economia Comportamental é talvez a
prática que causa maior estranhamento entre economistas. A
justificativa desta prática por analistas do comportamento está na
adoção de princípios evolucionistas, ou seja, no entendimento de que
existe uma continuidade comportamental entre diferentes espécies.
Também se baseia na percepção de que estudos em laboratório não
precisam criar condições perfeitamente análogas entre o “mundo real”
e as contingências experimentais, sendo suficiente a reprodução de
semelhanças entre variáveis e relações de controle vigentes nas duas
situações (Bachrach, 1974). Esta maneira de produzir conhecimento é
uma marca da Análise do Comportamento desde suas primeiras
elaborações e até hoje consiste em um de seus principais pilares
94
(Tourinho & Sério, 2010). Vantagens como rapidez na produção de
dados e possibilidades éticas de manipulações sem dúvida despertam o
interesse de cientistas econômicos, mas muitos se mostram céticos
em relação à generalidade dos resultados produzidos desta maneira
para o caso humano, em contextos sociais (Guala, 2005). Por conta
d i s s o , u m d o s d e s a f i o s e n f r e n t a d o s p o r e c o n o m i s t a s
comportamentais é a necessidade de conduzirem testes entre
diferentes espécies de sujeitos e verificar a possibilidade de
extrapolação dos resultados encontrados para casos humanos (Kagel,
Batallio, & Green, 1995).
Uma dificuldade metodológica que se impõe a toda iniciativa de
se “traduzir” conceitos (micro) econômicos para a Análise do
Comportamento deriva do fato de que grande parte destes conceitos
foi erigido sobre dados coletados em grandes populações, sob
condições não controladas (denominadas “séries temporais
agregadas” – aggregate time-series). Até que ponto tais conceitos,
pautados na observação de grandes populações, são adequados para
estudo dos comportamentos de sujeitos individuais? Esta questão foi
examinada por Kagel, Batallio e Green (1995), que propuseram um
conjunto de critérios empíricos a serem atendidos nesta “tradução”,
tais como a homogeneidade das tendências observadas entre sujeitos
individuais, expostos a um mesmo conjunto de contingências, ou a
necessidade de se obter, em laboratório, baixas medidas de dispersão
de médias grupais.
95
Breve história da aliança entre Microeconomia e Psicologia
Em 1789, o filósofo Jeremy Bentham postulou que a busca pelo
prazer e esquiva da dor explicariam todas as ações humanas. Para este
autor, objetos físicos, ações ou serviços, tudo que pudesse produzir
prazer ou reduzir dor em alguém, teria Utilidade (em maiúscula para
enfatizar o caráter técnico deste termo). A Utilidade não seria uma
propriedade intrínseca aos objetos, mas algo estabelecido na relação
destes com cada ser humano particular (Bentham, 1823). Note-se que
esta proposta se aproxima bastante da noção de valor reforçador,
formulada séculos adiante.
A noção de Utilidade inspirou toda uma geração de economistas
no século XIX, e a partir dela emergiu uma das mais influentes correntes
de pensamento econômico até hoje, a Neoclássica. Quatro autores são
considerados seus fundadores: Stanley Jevons (1837-1882), Alfred
Marshall (1842-1924), Leon Walras (1834-1910) e Carl Menger (1840-
1921) (Forstater, 2007). Um dos maiores desafios metodológicos dos
Neoclássicos consistia em desenvolver meios de se medir a Utilidade
diretamente. Nesta empreitada, o economista Edgeworth (1879)
propôs que “prazer” poderia ser uma variável empírica. Baseou-se nos
achados da Psicologia Experimental de Wilhelm Wundt (1832-1920) e
Gustav Fechner (1801-1889) para defender a existência de relações
diretas entre quantidades de estímulos (chamados “bens”) e a
intensidade de sensações percebidas pelos sujeitos-consumidores.
Estas relações, se expostas graficamente, formariam uma curva
inicialmente crescente e depois decrescente, o que significava que em
96
condições de privação, o aumento na disponibilidade de bens produziria
aumentos de “prazer”/ Utilidade, mas com a proximidade da saciação,
c a d a a c r é s c i m o d o e s t í m u l o p ro d u z i r i a m e n o s e m e n o s
“prazeres”/Utilidade, podendo em extremos causar dor. Esta relação é
denominada Utilidade Marginal Decrescente e até hoje embasa
diversos argumentos microeconômicos.
Os Neoclássicos marcaram profundamente a história do
pensamento econômico e estabeleceram vínculos profundos entre a
Economia e a Psicologia (introspectiva, hedonista) da época.
Entretanto, as mesmas questões que inspiraram esta parceria também
erigiram sérios obstáculos ao projeto de a Economia se tornar uma
ciência exata e empírica, por conta das barreiras metodológicas à
observação direta da Utilidade (Muramatsu, 2007). O desenrolar dos
eventos no campo psicológico parecem ter contribuído para fragilizar
esta parceria.
O Rompimento
As teorias econômicas formuladas ao longo do século XIX foram
solidamente calcadas em informações de correntes psicológicas
introspectivas, nas quais o projeto de se obter alguma medida “interna”
de prazer era tomado como factível. Com a emergência da corrente
behaviorista (não-Skinneriana) e a adoção de critérios de
refutabilidade, alguns expoentes psicólogos classificaram as ideias
N e o c l á s s i c a s co m o n ã o - c i e n t í f i c a s ( M u ra m a t s u , 2 0 0 7 ) .
Exemplificando, William James, em Principles of Psychology (1890),
afirmou não haver evidências empíricas para dar suporte à afirmação de
97
que o comportamento humano estaria voltado à maximização do
prazer ou minimização da dor.
Mesmo julgando procedente a crítica quanto à falta de
cientificidade das teorias baseadas na noção de Utilidade e admitindo
as dificuldades metodológicas (Garcia, 1996), muitos economistas
responderam aos ataques desqualificando a necessidade de se
recorrer a bases psicológicas para formular teorias econômicas e
propuseram a independência da Economia em relação a influências
psicológicas (Muramatsu, 2007). Camerer (1999) descreve duas
tendências que a Economia seguiu nesta separação da Psicologia. Uma
delas foi uma tendência à “matematização”, com cientistas recorrendo
cada vez mais a argumentos matemáticos para construção de
argumentos, aspirando aproximar a Economia das ciências exatas. Uma
das estratégias foi a adoção do princípio das Preferências Reveladas
(Muramatsu, 2007): Samuelson (1938), propôs que as escolhas das
pessoas poderiam ser previstas a partir da observação de suas
preferências e da aceitação de um conjunto de axiomas sobre o
comportamento humano ser racional e internamente consistente. A
segunda tendência descrita por Camerer (1999) foi uma ênfase na
capacidade de predição de modelos econômicos: sob influência do
Positivismo Lógico, muitos economistas tentaram desvencilhar a
validade de suas teorias da veracidade de suas premissas,
argumentando que teorias com premissas patentemente falsas
poderiam gerar previsões acuradas. Este argumento é conhecido como
98
“F twist”, em homenagem ao seu criador, Milton Friedman (Camerer,
1999).
O retorno às bases psicológicas na Economia
Ao longo do século XX foram se acumulando as críticas ao
pressuposto de que seres humanos seriam racionais e maximizadores
de Utilidade, e estas vozes foram tomando força na mesma proporção
em que evidências empíricas sistematicamente não foram
confirmando previsões baseadas em tais axiomas (Muramatsu, 2007;
Simon, 1955). Como a aceitação das teorias estava firmemente
condicionada à acurácia das previsões, tais evidências começam dar
força ao clamor por bases teóricas mais realistas sobre o
comportamento humano. A busca por explicar os desvios sistemáticos
de previsão econômica (chamadas “anomalias”) propulsionou a
retomada do diálogo entre as duas ciências, que consiste hoje a
Economia Comportamental.
Dado o fato de este artigo ter como foco as contribuições
específicas da Análise do Comportamento para a Economia
Comportamental, não serão expostas as contribuições de outras
abordagens psicológicas. Cabe apenas mencionar que psicólogos
cognitivistas tem se mostrado ativos pesquisadores e interlocutores
junto a economistas, a ponto de suas contribuições terem amealhado o
prêmio Nobel de Economia em 2002, entregue aos psicólogos Daniel
Kahneman e Amos Tversky pela Teoria do Prospecto (1979).
99
Economia Comportamental e Análise do Comportamento
Trabalhos em Análise do Comportamento em temas
econômicos existem desde a década de 70, mas foi na década de 90 que
este tipo de pesquisa começou a crescer de maneira consistente. Os
temas mais recorrentes versam sobre curvas ou elasticidade de
demanda, esquemas concorrentes, taxas de desconto (temporal e
probabilístico), economias fechadas ou comportamento do
consumidor. A seguir serão feitas breves incursões em cada
aglomerado temático.
Modelos abertos e fechados
Uma importante contribuição da Economia à Análise do
Comportamento foi a distinção entre sistemas abertos e fechados.
Modelos abertos são os arranjos experimentais mais comuns em
laboratório com não-humanos, nos quais o sujeito recebe reforços
dentro e fora da sessão, como forma de garantir a saúde do sujeito e/ou
mantê-lo em um determinado nível de privação ou peso corporal; em
modelos de economia fechada, a totalidade de consumo é
consequência das respostas emitidas dentro das sessões (Kagel,
Battalio, & Green, 1995). A característica do modelo, aberto ou fechado,
já foi identificada como um fator determinante das taxas de resposta
observadas em sessões experimentais (Hursh, 1984). Em sistemas
fechados, aumentos nos requisitos dos esquemas de reforçamento
produzem aumento nas taxas de respostas, ao passo que em sistemas
abertos é possível observar taxas de resposta inversamente
100
relacionadas (Oliveira-Castro & Foxall, 2005; Hursh, 1980).
Bens substitutos e complementares
Esta noção contribuiu para estudos sobre escolhas
concorrentes, Lei da Igualação e comportamento do consumidor.
Tecnicamente, diz-se que dois reforços são substitutos quando o
aumento nas exigências de reforçamento de um estímulo produzir o
aumento da escolha por outro estímulo que esteja simultaneamente
disponível (Green & Freed, 1993). Um exemplo de bens substitutos são
dois produtos similares, de marcas diferentes. Dois estímulos são
considerados complementares se o aumento nas exigências para
obtenção de um estímulo resultar na redução do consumo não apenas
deste estímulo, mas também de outro, cuja exigência para
reforçamento não tenha se alterado. Um exemplo é água e ração:
animais tendem a reduzir a ingestão de água caso obtenham menos
ração. Se a modificação nas exigências para liberação de um reforço não
afetar a escolha de outro reforço disponível, os estímulos são tomados
como independentes. Dentre inúmeras influências deste conceito,
podemos mencionar a Lei da Igualação. Sua versão original (Hernstein,
1970) pressupõe a disponibilidade de dois estímulos perfeitamente
substitutos (Hursh, 1984), ao passo que a Lei de Igualação Generalizada
(Baum, 1974) acomodou efeitos de undermatching e outros viéses
observados (Hursh, 1984) a partir da diferenciação entre bens
substitutos e complementares.
Curvas de Demanda e Elasticidade
O conceito de demanda se tornou popular entre analistas do
101
comportamento por oferecer um arcabouço teórico que descreve a
relação entre ingestão de reforçadores, emissão de respostas e
esquemas de reforçamento (Hursh, Raslear, & Shurtlef, 1988). A curva
de demanda descreve a relação entre a quantidade de bens consumida
e seus preços. Diante da ausência de um meio de troca como dinheiro
no repertório comportamental de não-humanos, a curva de demanda
foi transposta para o laboratório a partir da proposta de que respostas
como pressionar uma barra ou bicar em uma chave seriam
funcionalmente análogas ao comportamento de comprar (Francisco,
Madden, & Borrero, 2009; Hursh, Raslear, & Shurtlef, 1988). Supõe-se
que os preços possam ser simulados pelo esquema de reforçamento
em vigor e que, portanto, variações no esquema ou da magnitude do
reforço seriam similares a variações de preços (Francisco, Madden, &
Borrero, 2009). A curvatura da curva de demanda, ou Elasticidade,
oferece uma medida da sensibilidade dos sujeitos experimentais a
variações nas exigências para reforçamento. Outros usos possíveis da
Elasticidade são a medida de quão essencial ou supérfluo um reforço é
para o sujeito experimental (Hursh & Silberberg, 2008), ou das relações
f u n c i o n a i s e n t r e d i f e r e n t e s r e f o r ç o s : s u b s t i t u i ç ã o o u
complementaridade (Kagel, Battalio, & Green, 1995).
A literatura analítico-comportamental apresenta alta
frequência de experimentos sobre demanda e Elasticidade em
pesquisas sobre escolhas de produtos de diferentes marcas (Oliveira-
Castro & Foxall, 2011), abuso de substâncias (DeGrandpre, Bickel,
Higgins, & Hughes, 1994; Carroll, Carmona, & May, 1991; Wade-
102
Galuska, Galuska, & Winger, 2011) ou no planejamento de
contingências clínicas (Francisco, Madden, & Borrero, 2009; Borrero,
Francisco, Haberlin, Ross, & Sran, 2007).
Desconto por atraso
As curvas de desconto têm fomentado interesse de
pesquisadores das duas áreas, Análise do Comportamento e
Economia. Ao importar este conceito, analistas do comportamento
encontraram resultados empíricos que contradizem teorias
econômicas, e isso tem gerado alguma resistência, mas também
bastante curiosidade científica. Pesquisas sobre desconto buscam
identificar processos comportamentais pelos quais o valor reforçador
de um estímulo se reduz por conta de sua liberação ocorrer
atrasadamente. Curvas de desconto tradicionalmente são construídas
usando-se contingências de escolhas concorrentes em que os sujeitos
devem escolher entre duas alternativas de resposta, cada uma sob um
esquema de reforçamento. Em modelos de atraso temporal, uma
alternativa de resposta produz uma consequência menor e imediata, e a
segunda alternativa produz uma consequência de maior magnitude,
porém entregue com alguns segundos de atraso. Em estudos com
esquemas probabilísticos, uma alternativa de resposta tem uma
consequência menor, mas liberada com certeza, e outra alternativa
pode liberar ou não um reforço (de maior magnitude), de acordo com
uma probabilidade. De forma geral verifica-se que a eficácia do
reforçamento declina à medida que o atraso aumenta ou a
103
probabilidade de reforço diminui (Francisco, Madden, & Borrero, 2009).
O padrão de escolha mais consistentemente entre duas
alternativas, observado por analistas do comportamento, forma uma
curva hiperbólica (Green, Myerson, Holt, Slevin, & Estle, 2004;
Francisco, Madden, & Borrero, 2009), ao passo que a teoria econômica
propõe que o valor de reforços atrasados seria descontado
exponencialmente. Esta suposição foi a base de todo um sistema de
cobrança de juros bancários, de maneira que substituição das curvas
exponenciais por hiperbólicas alteraria a base teórica sobre a qual todo
o sistema financeiro foi construído (Francisco, Madden, & Borrero,
2009).
Curvas de desconto também tem produzido um dos mais
consistentes exemplos de generalidade comportamental entre
diferentes espécies (humanos, macacos, pombos ou ratos) e com
diferentes tipos de reforços (comida, cigarros, água, pontos em
programas de computador etc.) (Madden, Bickel, & Jacobs, 2000;
Green, Fry, & Myerson, 1994; Green, Myerson, Holt, Slevin, & Estle,
2004).
Economia Comportamental e Análise do Comportamento no Brasil
A Economia Comportamental não tem atraído muita atenção
entre os psicólogos brasileiros de diferentes abordagens, de maneira
que a produção de conhecimento no país é em quantidade inferior a
países como os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suíça,
entre outros, nos quais a Economia Comportamental prolifera. Isso
104
significa que há carência de literatura em português e poucas
pesquisas. Entretanto, em contraste com outros países, a abordagem-
líder das pesquisas sobre Economia Comportamental no país parece
ser Análise do Comportamento, de maneira que o Brasil pode vir a se
tornar o maior polo de pesquisas Economia Comportamental dentro
desta abordagem.
Atualmente, pesquisas em Economia Comportamental no Brasil
são dependentes de interesses pontuais de pesquisadores e
estudantes, havendo poucas regiões geográficas que exibem produção
consistente ao longo dos anos. Um breve exame dos trabalhos
apresentados do Encontro Anual da Associação Brasileira de Psicologia
e Medicina Comportamental (ABPMC) entre 2008 e 2011 evidenciou
algumas concentrações temáticas em determinadas regiões
geográficas. Foram encontradas pesquisas de cinco regiões do país que
especificamente abordavam o tema da Economia Comportamental:
São Paulo (USP, UFSCAR e Metodista de Piracicaba), Sergipe (UFS),
Goiânia (UCG), Santa Catarina (UFSC) e Distrito Federal (UnB).
Pesquisas sobre Comportamento do Consumidor foram produzidas
em oito regiões: São Paulo (USP, UFSCAR, Unesp, PUC-SP), Distrito
Federal (UnB), Goiânia (UCG), Espírito Santo (UFES e FAESA), Minas
Gerais (Federal de Uberlândia), Paraná (Unifil), Fortaleza (UFC) e Piauí
(Universidade Estadual do Piauí). O tema da curva de descontos e/ou
Elasticidade apareceu em alguns anos esporádicos, geralmente
enfocando sua aplicação ao tratamento de abusos de substâncias
como álcool e tabaco, em São Paulo (USP) e no Distrito Federal (UnB).
105
Em um recente artigo, Todorov e Hanna (2010) apresentam um
apanhado histórico da fundação e desenvolvimento da Análise do
Comportamento no Brasil, do qual podem ser destacados dois tópicos
claramente relacionados à literatura recente de Economia
Comportamental, ainda que os pesquisadores nem sempre
identifiquem seus interesses com a literatura econômico-
comportamental.
Pesquisas Brasileiras sobre Comportamentos de Escolha
O interesse no comportamento de escolha surgiu no Brasil
como resposta ao célebre artigo de Herrnstein (1970) sobre a Lei de
Igualação (Todorov e Hanna, 2010). Grande parte da produção
acadêmica se voltou à investigação dos parâmetros envolvidos na Lei
Generalizada de Igualação (Baum & Rachlin, 1969; Baum, 1974), tais
como as características diferenciais de esquemas de reforçamento,
atraso e magnitude do reforço (Todorov, Hanna, Seco, & Medeiros,
2003). Ao investigar fatores envolvidos em respostas de escolha,
analistas do comportamento acabaram por contribuir na discussão da
tomada de decisões, na formação de preferências e em estudos sobre
autocontrole (para uma análise mais aprofundada, ver Hanna & Todorov,
2002). Ainda na área de tomada de decisões, é válido ressaltar
pesquisas brasileiras que investigam fatores envolvidos em escolhas
envolvendo risco e atraso (Coelho, Hanna, & Todorov, 2003). Estudos
sobre autocontrole inserem-se na literatura de Economia
Comportamental dentro do tema da curva de desconto, nos quais se
106
inserem investigações sobre inconsistências temporais entre escolhas
ou sobre reversões de preferências em função da passagem de tempo
(Loewenstein & Elster, 1992).
Pesquisas brasileiras sobre Comportamento do Consumidor
A publicação do trabalho seminal de Oliveira-Castro (2003),
realizado em parceria com pesquisadores internacionais tornou-se
uma referência em pesquisas sobre comportamento do consumidor no
país. Nesta obra, foram investigados comportamentos de busca de
preços como função do preço médio de produtos em supermercados.
Diversas dissertações de mestrado e teses de doutorado vêm sendo
defendidas sobre o tema sob orientação direta deste pesquisador, na
Universidade de Brasília , mas também de outros analistas do
comportamento na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-
GO), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), dentre
outras. O interesse pela área de consumo, tema este ao mesmo tempo
complexo e de grande relevância social, tem servido para aumentar a
visibilidade da Análise do Comportamento em áreas aplicadas, que
pode ser verificada pela publicação de artigos desta orientação teórica
em revistas mais generalistas ou de outras abordagens (Foxall, Oliveira-
Castro, & Schrezenmaier, 2006; Pohl, Oliveira-Castro, Bertoldi, &
Lourenzo, 2006; Ferreira & Oliveira-Castro, 2011). No conjunto, a
produção brasileira se caracteriza por tentar compreender as variáveis
4 Para uma lista destes trabalhos, acessar www.consuma.unb.br, homepage do Grupo de Pesquisas em Comportamento
do Consumidor – Consuma.
8107
4
que afetam o comportamento do consumidor tanto na compra, como
no uso e no descarte de produtos.
Considerações Finais
A Economia Comportamental foi gestada na área econômica, o
que determinou muitas de suas características e fronteiras de estudo. A
Psicologia, apesar de não determinar os rumos nesta área, tem se
beneficiado de um novo e amplo público interessado em suas
contribuições e pela ampliação do escopo de aplicação prática de seus
princípios para além da tradicional psicoterapia. Entretanto, a maior
parte destes benefícios tem sido usufruída por psicólogos de
orientação cognitivista. É importante que os analistas do
comportamento procurem incluir temas que sejam relevantes à área
econômica em suas pesquisas e ousem um pouco mais na escolha de
veículos de divulgação. Note-se que nenhuma das sugestões acima
implica no sacrifício da precisão das análises realizadas.
Os benefícios em contrapartida são grandes. A Economia
historicamente tem se mostrado como uma das ciências mais abertas
às contribuições advindas de outras áreas, como Psicologia,
Matemática, Sociologia, Marketing, Biologia entre outros. Em troca,
tem oferecido um arcabouço teórico que muito tem a dizer sobre os
efeitos de controles sociais sobre o comportamento humano
(Blanchard, 2004). Trabalhos de “ponte” entre Análise do
Comportamento e Economia tendem a estimular a reflexão e a
108
109
Referências
Allison. (1983). Behavioral Economics. New York: Praeger Publishers.
Bachrach, A. J. (1974). Introdução à Pesquisa Psicológica, tradução de Geraldina Porto
Witter. São Paulo: Editora Pedagógica Universitária ltda.
Baum, W. M. (1974). On Two Types of Deviation from the Matching Law: bias and
undermatching. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 22, 231-
242.
Baum, W. M., & Rachlin, H. C. (1969). Choice as Time Allocation. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 12, 861-874.
Bentham, J. (1823). An Introduction to the Principles of Morals and legislation, 2d ed.
Bickel, W. K., Green, L., & Vuchinich, R. E. (1995). Behavioral Economics Editorial.
Jurnal of the Experimental Analysis of Behavior, 64, 257–262.
Blanchard, O. (2004). Macroeconomics, Third edition. (M. Rosemberg, Trad.) São
Paulo: Pearson Prendice Hall.
Borrero, J. C., Francisco, M. T., Haberlin, A. T., Ross, N. A., & Sran, S. K. (2007). A unit
price evaluation of severe problem behavior. Journal of Applied Behavior
Analysis, 463-474.
Caldwell, B. J. (1986). Economic Methodology and Behavioral Economics: an
interpretative history. In: B. Gilad, & S. Kaish, Handbook of Behavioral
Economics, vol. A, Behavioral Microeconomics (pp. 5-17). Greenwich, CT: JAI
Press.
Camerer, C. (1999). Behavioral Economics: reunifyings Psychology and Economics.
Proceedings of the national Academy of Science of the United States of
America, (pp. 19, 96).
Carroll, M. E., Carmona, G. G., & May, S. A. (1991). Modifying drug-reinforced
behavior by altering the economic conditions of the drug and a nondrug
reinforcer. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 361-376.
110
Coelho, C., Hanna, E. S., & Todorov, J. C. (2003). Magnitude, Atraso e Probabilidade de
Reforço em Situações Hipotéticas de Alto Risco. Psicologia: Teoria e
Pesquisa, 19, n. 3: 269-278.
Critchfield, T. S. (2011). To a Young Basic Cientist, about to Embark on a Program of
Translational Research. The Behavioral Analyst, 34, n. 2 (Fall), 137-148.
DeGrandpre, R. J., Bickel, W. K., Higgins, S. T., & Hughes, J. R. (1994). A behavioral
economic analysis of concurrently available money and cigarettes. Journal
of the Experimental Analysis of Behavior, 191-201.
Edgeworth, F. (Vol.4 Issue 15 de 1879). The Hedonical Calculus. Mind, pp. 394-408.
Ferreira, D. S., & Oliveira-Castro, J. M. (2011). Effects of Background Music on
Consumer Behavior: behavioral account of the consumer setting. The
service Industries Journal, 31 (15), 2571-2585.
Forstater, M. (2007). Economia: pequeno livro das grandes idéias. São Paulo: Ciranda
Cultural Editora.
Foxall, G. R. (1990). Consumer Psychology in Behavioral Perspective. Washington, DC:
Beard Books.
Foxall, G. R., Oliveira-Castro, J. M., & Schrezenmaier, V. K. (2006). Consumer
Behavior Analysis: the case of brand choice. Revista Psicologia:
Organizações e Trabalho, 6 (1), 50-78.
Francisco, M. T., Madden, G. J., & Borrero, J. (2009). Behavioral Economics: Principles,
Procedures and Utility for Applied Behavioral Analysis. Behavior Analyst
Today Vol.10, n.2, pp. 277-289.
Garcia, F. (1996). Apresentação. In: V. Pareto, Vilfredo Pareto: Manual de Economia
Politica (pp. 5-14). São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda.
Green, L., & Freed, D. E. (1993). The substitutability of reinforcers. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 60, 141-158.
111
Green, L., & Rachlin, H. (1975). Economic and biological influences on a pigeon's key
peck. Journal of the Experimental Analysis of Behavior.
Green, L., Fry, A. F., & Myerson, J. (1994). Discounting of Delayed Rewards: A life-
span comparison. Psychological Science, 5, 33-36.
Green, L., Myerson, J., Holt, D. D., Slevin, J. R., & Estle, S. J. (2004). Discounting of
delayed food rewards in pigeons and rats: Is there a magnitude effect?
Journal of Experimental Analysis of Behavior, 81, 39-50.
Guala, F. (2005). The Methodology of Experimental Economics. New York: Cambridge
University Press.
Hanna, E. S., & Todorov, J. C. (2002). Modelos de autocontrole na análise
experimental do comportamento: utilidade e crítica. Psicologia: Teoria e
Pesquisa, 18, 3, 337-343.
Hernstein, R. (1970). On the Law of Effect. Journal of the Exoerimental Analysis of
Behavior, 13, 243-266.
Houaiss. (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, RJ:
Objetiva.
Hursh, S. (1980). Economic Concepts for the Analysis of Behavior. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 34, number 2 (september), 219-238.
Hursh, S. (1984). Behavioral economics. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 42, 435-452.
Hursh, S. (1984). Behavioral Economics. Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 42, number 3, 435-452.
Hursh, S. (1978). The economics of daily consumption controlling food-and water-
reinforced responding. Journal of the Experimental Analysis of Behavior.
112
Hursh, S. R., & Silberberg, A. (2008). Economic demand and Essencial Value.
Psychological Review, 115, 186–198.
Hursh, S. R., Raslear, T. G., & Shurtlef, D. (1988). A cost-benefit analysis of Demand
for Food. Journal fo the Experimental Analysis of Behavior, 50, number 3,
419-440.
IBR. (2012). Behavioral Economics. Acesso em 17 de 06 de 2012, disponível em
Institute for Behavioral Resources, Inc. (IBR):
http://www.ibrinc.org/index.php?id=70
James, W. (1890). The Principles of Psychology, vol 1. Acesso em 2011 de agosto de
27, disponível em Classics in the History of Psychology:
http://psychclassics.yorku.ca/James/Principles/
Kagel, J. H., & Winkler, R. C. (1972). Behavioral economics: Areas of cooperative
research between economics and applied behavioral analysis. Journal of
Applied Behavior Analysis, number 3, 335-342.
Kagel, J. H., Battalio, R. C., & Green, L. (1995). Economic Choice Theory: An
Experimental Analysis of Animal Behavior. New York: Cambridge University
Press.
Kahnenman, D., & Tversky, A. (1979). Prospect Theory: An Analysis of Decision
under Risk. Econometrica Vol. 47, No. 2. (March), 263-292.
Loewenstein, G., & Elster, J. (1992). Choice over Time. New York: Russell Sage.
Madden, G. J., Bickel, W. K., & Jacobs, E. A. (2000). Three predictions of the
economic concept of unit price in a choice context. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior.
Muramatsu, R. (2007). Chapter 2: A History of the Fall and Revival of Psychological
Economic Explanation. In: R. Muramatsu, Emotions in Action: an inquiry into
the explanation of decision-making in the real economic World. Tese de
doutorado.
113
Oliveira-Castro, J.M. (2003). Effects of base price upon search behavior of
consumers in a supermarket: An operant analysis. Journal of Economic
Psychology, 24, 637-652.
Oliveira-Castro, J. M., & Foxall, G. (2011). A behavioral-economic analysis of the
essential value of brands. Behavioural Processes, 87 (1), 106-114.
Oliveira-Castro, J. M., & Foxall, G. R. (2005). Análise do Comportamento do
Consumidor. In: J. Abreu-Rodrigues, & M. R. Ribeiro, Análise do
Comportamento; Pesquisa, Teoria e Aplicação (pp. 283-304). Porto Alegre:
Artmed.
Oliveira-Castro, J. M., Foxall, G. R., & Schrezenmaier, T. C. (2006). Consumer Brand
Choice: individual and group analyses of demand elasticity. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior 85, n.2 (March), 147–166.
Pohl, R. B., Oliveira-Castro, J. M., Bertoldi, L., & Lourenzo, A. L. (2006). Efeitos do
nível de benefício utilitário sobre a duração do comportamento. Revista
Psicologia: Organizações e Trabalho, 6 (1), 233-264.
Robbins, L. (1945). Chapter III: The Relativity of Economic "Quantities". In: L.
Robbins, An Essay in the Nature and Significance of Economic Science, 2nd
Edition (pp. 46-71). London: MacMillan and Co. Ltd.
Samuelson, P. (1938). The Numerical Representation of Ordered Classifications and
the Concept of Utility. The Review of Social Studies, vol. 6, no. 1, Oct, 65-70.
Simon, H. (1955). A Behavioral Model of Rational Choice. Quartely Journal of
Economics (69), pp. 99-118.
Todorov, J. C. & Hanna, E. S. (2010). Análise do Comportamento no Brasil. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, vol. 26, nº especial, pp. 143-153.
Todorov, J. C., Hanna, E. S., Seco, D. C., & Medeiros, C. A. (2003). Esquemas
Concorrentes e Encadeados: efeitos das frequências relativas de reforços
condicionados e incondicionados. Estudos: Vida e Saúde, 30, 1097-1106.
114
Tourinho. (2003). A produção de conhecimento em psicologia: a análise do
comportamento. Psicologia: Ciência e Profissão, 23(2).
Tourinho, E. Z., & Sério, T. M. (2010). Definições Contemporâneas da Análise do
Comportamento. In: E. Z. Torurinho, & S. V. Luna, Análise do
Comportamento: investigações históricas, conceituais e aplicadas (pp. 1-14).
São Paulo: Editora Roca Ltda.
Wade-Galuska, T., Galuska, C. M., & Winger, G. (2011). Effects of daily morphine
administration and deprivation on choice and demand for remifentanil and
cocaine in rhesus monkeys. Journal of the Experimental Analysis of Behavior,
95, 75-89.
Behaviorismo radical como uma filosofia política
Uma forma de descrever a ciência é como um conjunto de
atitudes que buscam encontrar relações ordenadas nos eventos da
natureza. Nas palavras de Skinner (1953/2005a): “A ciência é mais do
que a simples descrição de eventos à medida que eles acontecem. É a
tentativa de descobrir uma ordem, de mostrar que certos eventos
seguem determinadas leis em relação a outros eventos” (p. 6, tradução
da autora).
Skinner descreve, em diversas passagens dos seus textos, a
posição privilegiada em que se encontram a ciência e os cientistas para
a criação de um mundo melhor. Um exemplo é quando o autor ressalta a
importância da ciência para a resolução de problemas sociais:
Reflexões sobre o estudo da política pela análise do comportamento
Luana Hamilton
115
A escolha é clara: ou não fazemos nada e permitimos que um
futuro miserável e provavelmente catastrófico nos alcance, ou
usamos nosso conhecimento sobre o comportamento humano
para criar um ambiente social no qual poderemos viver vidas
produtivas e criativas, e fazemos isso sem pôr em risco as
chances de que aqueles que se seguirão a nós sejam capazes de
fazer o mesmo." (Skinner, 1976/1978, p. 66, tradução da autora)
116
Skinner (1953/2005) propôs uma ciência do comportamento
cuja filosofia, como sabemos, foi nomeada “behaviorismo radical”.
Nesta filosofia, as causas do comportamento foram atribuídas à relação
do indivíduo com o seu ambiente, e não a um “eu interior” desse
indivíduo. A determinação dos comportamentos se dá por fatores
outros que não a espontaneidade de um agente interno e tal concepção
impossibilita qualquer tentativa de previsão (Skinner, 1953/2005). O
conceito de comportamento está, então, articulado com as relações
comportamentais e, no caso do comportamento humano,
principalmente com as relações comportamentais sociais e aspectos
destas (Tourinho, 2003).
Tourinho (1993) ressalta que todas as comprovações dos
pressupostos produzidos pela análise do comportamento não foram
suficientes para suplantar a visão de homem mais comumente
encontrada na nossa sociedade: a de que ele é autodeterminado e
dotado de livre-arbítrio. Essa resistência à assimilação de outra
natureza humana cria alguns impasses para intervenções analítico-
comportamentais em instâncias e instituições políticas. Tourinho
(1993) sugere que a inserção política do analista do comportamento
possa ter uma importância, pois “a superação de uma visão de homem
pode não depender simplesmente de uma produção científica, mas de
uma ação política” (p. 8).
Como descreve Dittrich (2004), a política não está fora do
alcance da ciência do comportamento:
E o autor vai mais longe ao afirmar que “o behaviorismo radical é,
além de uma filosofia política (que versa, descritivamente e
prescritivamente, sobre práticas políticas), também uma filosofia
metapolítica (que versa, descritivamente e prescritivamente, sobre a
produção do discurso denominado filosofia política).” (Dittrich, 2004, p.
463)
Dittrich (2010) ressalta que a filosofia política surge na obra de
Skinner quando este discute a necessidade de um planejamento
cultural voltado para a sobrevivência das culturas. O autor descreve
uma definição possível de política na obra de Skinner:
117
Tradicionalmente, assume-se que juízos de valor estão fora da
alçada científica, cabendo a esta o juízo sobre “fatos”. Para
Skinner, questões éticas e políticas situam-se, sim, no âmbito
da ciência do comportamento – e, portanto, a ciência do
comportamento é, também, ciência dos valores e ciência da
política. Se valores estão nas contingências, valores são objetos
de estudo da ciência do comportamento. (p. 2)
...podemos definir a política como um conjunto de
procedimentos através dos quais se busca produzir certas
consequências, em geral (mas não necessariamente) expostas
a éticas prescritivas. Se aceitarmos tal definição, o conceito de
política é indissociável do conceito de comportament o.”
(Dittrich, 2010, p. 56)
Assim, apesar de ainda ter muito a ser desenvolvido na
caracterização do behaviorismo como uma filosofia política, é justo
afirmar que ele pode ser tratado desta forma (Dittrich, 2010), e ainda
podemos dizer que “reconhecer tal fato pode inaugurar novas
perspectivas de planejamento e ação entre behavioristas radicais”
(Dittrich, 2010, p. 56).
Estudos conceituais: Reflexões entre áreas
A análise do comportamento é multidimensional: abrangendo
estudos experimentais, intervenções voltadas para a solução de
problemas humanos, produções reflexivas ou metacientificas
(Tourinho & Sério, 2010). O destaque dessa multidimensionalidade é
importante, pois a produção em algumas destas áreas – talvez por uma
questão histórica, já que o início do desenvolvimento da análise do
comportamento se deu por investigações experimentais (Tourinho &
Sério, 2010) – é ainda muito pequeno. E como ressaltam Tourinho e
Sério (2010): “esse reconhecimento deve trazer consequências para o
acesso e atuação de analistas do comportamento em contextos
variados de produção e gestão das práticas psicológicas na cultura”
(p.12). Assim, os estudos reflexivos são parte importante da produção
de conhecimento na análise do comportamento.
As produções que se encontram mais próximas da categoria dos
chamados estudos reflexivos ou conceituais-filosóficos são muito
úteis para a investigação de aspectos políticos das sociedades dentro
118
da análise do comportamento. Tourinho (1999) ressalta algumas
vantagens deste tipo de trabalho. Uma delas será de especial relevância
nesta discussão; o autor dirá que “os estudos conceituais
frequentemente criam/definem possibilidades de interlocução com
o u t r a s a b o r d a g e n s / c i ê n c i a s , o q u e p r o p i c i a m a i o r
conhecimento/divulgação da abordagem” (p. 221).
Muitas vezes o conhecimento sobre um determinado fenômeno
estudado é desenvolvido de forma paralela entre as ciências, cada uma
aprofundando recortes específicos de suas áreas, mas como ressalta
Gusso (2008):
Assim, algumas questões trabalhadas pela análise do
comportamento podem ser também parte do objeto de estudo de
outras áreas. Um exemplo de estudo que trata de um conceito – cultura
– afim à análise do comportamento e a outra área, no caso a
antropologia, foi realizado por Gusso (2008). O autor buscou
compreender os processos comportamentais existentes nas
definições de cultura na antropologia, explorando as formas que
119
A organização do conhecimento científico em áreas de
conhecimento visa facilitar a localização e o acesso ao
conhecimento produzido. Ainda assim, os fenômenos naturais
não são delimitados pelos mesmos critérios de ordenação e
podem, inclusive, abranger dimensões que perpassam o estudo
de várias dessas áreas. (p. XII)
diversos ramos da antropologia definiam a cultura. Gusso (2008)
ressalta a importância da análise do comportamento se relacionar com
a antropologia para o avanço das análises culturais.
Existe todo um ramo de conhecimento formado pelas chamadas
ciências humanas (além da antropologia, temos as ciências sociais e
políticas) que pode somar esforços com a produção reflexiva feita
dentro da análise do comportamento. Por muito mais tempo que a
Psicologia, essas ciências vêm desenvolvendo teorias e estudando
processos culturais.
Alguns dos pressupostos que embasam essas teorias podem
divergir bastante dos pressupostos behavioristas, mas justamente os
estudos conceituais podem ser uma prática de diálogo identificando
quando essas diferenças existem ou não, pois uma palavra - ou conceito
- não carrega em si significado; os seus significados são estabelecidos a
partir dos usos que se fazem dela (Skinner, 1957/1992), como
destacam Strapasson, Carrara e Lopes Junior (2007):
Dessa forma, o estudo dos usos de um determinado conceito
em um ou outro sistema explicativo pode ajudar a delimitar
possibilidades e impossibilidades de diálogo entre filosofias e ciências.
120
A interpretação comportamental constitui-se, portanto, como
produto de uma interpretação funcional do comportamento
verbal de propor termos e conceitos no contexto de uma
determinada comunidade como, por exemplo, um modelo
teórico da Psicologia” (p.131).
Dois estudos de política pela análise do comportamento
Gostaría de apresentar aqui dois estudos que procuraram fazer
essa articulação entre análise do comportamento e discussões
políticas: um que trabalhou relação entre anarquismo e behaviorismo
radical e um segundo que trabalhou as concepções a respeito da
democracia descritas pelos analistas do comportamento.
No primeiro destes trabalhos, na dissertação de Mestrado
intitulada “Os usos do termo 'liberdade' no anarquismo de Bakunin e no
behaviorismo radical de Skinner”, Hamilton (2012) procurou descrever
as compatibilidades e incompatibilidades entre as duas filosofias no que
diz respeito às suas concepções de liberdade humana.
Por meio da análise de textos das obras dos autores estudados, o
trabalho pontuou algumas aproximações entre as filosofias como, por
exemplo, a concepção da natureza humana sem qualidades
intrinsecamente boas ou más, morais ou imorais, cooperativas ou
individualistas e a noção de que essas qualidades são constituídas a
partir da relação do indivíduo com a sociedade/cultura (Hamilton,
2012). Essas similaridades entre as filosofias têm como consequência
serem possíveis algumas contribuições do anarquismo estudado à
análise do comportamento que não são incompatíveis com os
pressupostos behavioristas – e vice e versa (Hamilton, 2012).
Hamilton (2012) descreve uma possível contribuição do
anarquismo de Bakunin as discussões realizadas no âmbito da análise
do comportamento. O autor estudado – Bakunin – critica um governo
121
formado por cientistas ao descrever passo a passo como as ações
desse hipotético governo passariam do uso da ciência para o bem da
sociedade e se tornariam ações visando à manutenção daquele grupo,
tornando a sociedade cada vez mais necessitada das suas diretrizes e
cuidados. Hamilton (2012) destaca que esta descrição é muito
semelhante às realizadas por Skinner para descrever o funcionamento
das agências de controle. Nas palavras do próprio autor:
E ainda que:
Skinner critica o comportamento dos políticos indicando que
eles atuam de forma a manter sua posição de poder em detrimento do
bem comum da sociedade que regem, mas o autor coloca os cientistas –
122
Governos, religiões e o sistema capitalista, seja público, seja
privado, controlam a maioria dos reforçadores do dia a dia e
devem usá-los, e assim têm feito, para seu próprio
engrandecimento — e não têm nada a ganhar renunciando a
esse poder. (Skinner, 1987b, p. 7, tradução da autora).
As leis dos governos e das religiões são mantidas
principalmente pelo bem das instituições. Consequências
como segurança ou paz de espírito também ocorrem para o
indivíduo (de outro modo, as instituições não sobreviveriam
como uma prática cultural), mas elas são normalmente
atrasadas. (Skinner, 1986/1987a, p. 23, tradução da autora)
por características específicas do fazer ciência – em um grupo de
pessoas cujo comportamento não seria controlado pela manutenção
do seu status de poder (Hamilton, 2012). Porém, podemos observar
facilmente, em qualquer instituição acadêmica, que muitas vezes os
comportamentos dos cientistas ficam sob controle da manutenção da
sua posição de poder dentro destas instituições.
Afinal os cientistas são homens como outros quaisquer e, como
todos, estão sujeitos às mais diversas contingências. Eles fazem parte
de uma cultura e suas produções não estão à margem de ideologias.
Como ressalta Todorov (2011):
O importante é que todas estas questões sejam explicitadas
para que possamos analisar as condições das produções dos analistas
do comportamento. As análises feitas dentro de um sistema explicativo
– no caso do exemplo acima, o anarquismo – podem servir como fonte
de reflexão em outro sistema – no caso o behaviorismo radical –, sem
ferir com isso os seus pressupostos e podendo abrir novas
possibilidades de reflexão sobre temas tratados nas abordagens. Em
123
É preciso admitir que a ideologia dominante em uma sociedade
dirige tanto os esforços de pesquisa quanto os de aplicação.
Quando questões ideológicas não são explicitadas e analisadas,
corremos o risco de confundir pressupostos básicos da análise
do comportamento com características ideológicas de uma
determinada sociedade. (p. 22)
suma, a partir dessas reflexões é possível procurar estabelecer e
analisar formas eficientes de atuações políticas dos analistas do
comportamento.
Ao agregar discussões já existentes em outros sistemas
explicativos que não ferem a sua coerência teórica, a análise do
comportamento pode (1) dialogar e se aproximar de outras
abordagens, evitando um isolamento científico e social da abordagem e
(2) se utilizar de forma pragmática de discussões já existentes para
expandi-las e propor novos desdobramentos para as questões
estudadas.
No segundo estudo, Szinwelski (2012) buscou compreender
como os analistas do comportamento descrevem o sistema político
democrático – a democracia – e quais as implicações desta descrição no
planejamento cultural proposto pelos behavioristas radicais.
Esse estudo caracterizou o sistema democrático a partir de uma
perspectiva behaviorista radical e delimitou algumas das
características desse sistema que podem limitar os benefícios que o
conhecimento produzido pela análise do comportamento poderia
garantir a curto e longo prazo, como a noção existente na base desse
sistema do homem livre e autodeterminado (Szinwelski, 2012).
Szinwelski (2012) descreve cinco formas de atuação política dos
analistas do comportamento no contexto de democracia – que é o
nosso contexto político atual:
124
A primeira forma de atuação descrita por Szinwelski (2012) pode
se relacionar com um tipo específico de estudo que produz
conhecimentos reflexivos acerca de questões sociais e políticas. A
autora ainda levanta três possibilidades de inserção ética dos analistas
do comportamento: “implantação do projeto utópico de Skinner,
substituição do sistema democrático pela personocracia ou, por fim,
inserção (direta ou indireta) no sistema democrático” (p. 82). As duas
primeiras propostas são de difícil execução, sendo a terceira a mais
viável, uma vez que constitui a realidade da maior parte das
comunidades no mundo (Szinwelski, 2012).
O estudo de Szinwelski (2012) demonstra que uma segunda
forma de diálogo pode ser estabelecida entre teorias políticas
tradicionais e o behaviorismo radical. Por meio do estudo de processos
políticos e do funcionamento de suas instituições, as reflexões da
abordagem analítico-comportamental podem ganhar relevância e
125
Produzir conhecimento sobre questões sociais do cotidiano,
como procedimentos políticos e suas implicações; disseminar
conhecimento sobre o que envolve processos democráticos;
arranjar contingências favoráveis ao convívio, incentivando a
cooperação na tomada de decisões; estimular a participação
dos cidadãos na política; e atuar como consultores no processo
de formação de políticas públicas ou como agentes de governo
profissionais. (p.73-74)
propor novas possibilidades de intervenção na sociedade. Discussões
sobre como as tomadas de decisões políticas são feitas, amparadas por
dados reflexivos e empíricos, podem levar a uma maior compreensão
pelos cidadãos de quais contingências estão vigorando nessas
situações (Szinwelski 2012).
Considerações Finais
Referiu-se aqui a dois tipos de estudos conceituais – não como
as únicas possibilidades – que podem fazer avançar as reflexões de
ordem políticas na abordagem analítico-comportamental, assim como
a interlocução com outras abordagens. Como consequência do
desenvolvimento desta área, espera-se uma maior inserção da análise
do comportamento no contexto político da sociedade e, a longo prazo, a
contribuição para a modificação de algumas práticas culturais.
Os conhecimentos produzidos nesta área, agregados a estudos
empíricos e trabalhos de intervenções (Tourinho, 1999; Tourinho &
Sério, 2010), podem ampliar as possibilidades de atuação política dos
analistas do comportamento, assim como a produção de novas
propostas. Szinwelski (2012) ressalta:
126
Com os avanços das pesquisas sobre metacontingências,
muitos caminhos estão se abrindo para o estudo de fenômenos
sociais. Analistas do comportamento agora podem produzir
conhecimento sobre questões sociais do cotidiano, como
procedimentos políticos e suas implicações, atuando como
cidadãos-cientistas. (p. 74)
Muitas questões estão em aberto e há todo um campo de
investigações a ser desenvolvido, como por exemplo, confrontar
teorias políticas e seus conceitos, sistemas de organização política,
fazer análises de movimentos populares contemporâneos. Inclusive o
próprio conceito de “política” e “ação política” podem ser temas de
reflexões.
Estudos deste tipo podem delimitar recortes das filosofias e
determinar até que ponto é possível uma convergência entre elas. E,
ainda, ajudar a criar contingências nas quais nós, analistas do
comportamento, possamos ter um papel ativo – junto com os outros
membros da sociedade – na construção e planejamento de nossa
cultura.
E como evidencia Skinner (1955-56/1972):
Nós somos controlados pelo mundo em que vivemos, e parte
desse mundo foi e continuará sendo construído pelos homens.
A questão é: seremos controlados por acidentes, por tiranos ou
por nós mesmos com base em um planejamento cultural
efetivo? (p. 11, tradução da autora)
127
Referências
Dittrich, A. (2004). Behaviorismo radical, ética e política: aspectos teóricos do
compromisso social. Tese de Doutorado, Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos.
Dittrich, A. (2010). Ética e comportamento. In Tourinho, E. Z., & Luna, S. V. (Org.),
Análise do comportamento: investigações históricas, conceituais e
aplicadas (pp. 37-60). São Paulo: ROCA.
Gusso, H. L. (2008). Processos comportamentais identificados nas definições de
cultura na antropologia: relações entre conceitos básicos de análise do
comportamento e fenômenos sociais. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal de Santa Catariana, Florianópolis.
Hamilton, L. F. T. (2012). Os usos do termo “liberdade” no anarquismo de Bakunin
e no behaviorismo radical de Skinner. Dissertação de Mestrado,
Universidade de São Paulo, São Paulo.
Skinner, B.F. (1972). Freedom and control of men in Skinner. In B. F. Skinner,
Cumulative record: A selection of papers (3rd ed., pp. 3-18). New York,
NY: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho original publicado em 1955-56).
Skinner, B. F. (1978). Walden Two revisited. In: B. F. Skinner, Reflections on
behaviorism and society (pp. 56-67). Englewoods Cliffs, N.J. : Prentice-
Hall. (Trabalho original publicado em 1976).
128
Skinner, B. F. (1987a). What is wrong with daily life in the western world. In B. F.
Skinner, Upon further reflection (pp. 15-31). Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall. (Trabalho original publicado em 1986).
Skinner, B. F. (1987b). Why we are not acting to save the world. In B. F. Skinner,
Upon further reflection (pp. 1-14). Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
Skinner B.F. (1992). Verbal behavior. Cambridge, MA: Prentice Hall. (Trabalho
original publicado em 1957).
Skinner, B. F. (2005). Science and human behavior. Cambridge, MA: The B. F.
Skinner Foundation. (Trabalho original publicado em 1953).
Strapasson, B. A.; Carrara, K., & Lopes Junior, J. (2007) Consequências
da interpretação funcional de termos psicológicos [online]. Revista
brasileira de terapia comportamental e cognitiva, 9, 227-239.
Szinwelski, F. R. (2012). Considerações analítico-comportamentais sobre
democracia Aspectos conceituais, metodológicos e éticos. Dissertação
de Mestrado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Todorov, J. C. (2011). Análise do comportamento: Uma visão pessoal [publicação
eletrônica]. Boletim contexto, 34, 20-26.
Tourinho, E. Z. (1993). Individualismo, behaviorismo e história. Temas psicologia, 1,
1-9.
129
Tourinho, E. Z. (1999). Estudos conceituais na análise do comportamento. Temas
em Psicologia, 7, 213-222.
Tourinho, E. Z. (2003). A produção de conhecimento em psicologia a análise do
comportamento. Psicologia ciência e profissão, 23, 30-41.
Tourinho, E. Z., & Sério, T. M. de A. P. (2010). Definições contemporâneas da
análise do comportamento. In Tourinho, E. Z., & Luna, S. V. (org), Análise
do comportamento: investigações históricas, conceituais e aplicadas
(pp. 1-13). São Paulo: ROCA.
130
¹ Texto traduzido do original Kanter, J. W., Puspitasari, A. J., Santos, M. M., & Nagy, G. A. (2012). Behavioural activation: history, evidence and promise. The British Journal of Psychiatry, 200, 361-363. DOI: 10.1192/bjp.bp.111.103390. Tradução de Alessandra Villas-Bôas (USP). Agradecemos grandemente a The British Journal of Psychiatry (2012), revista na qual o presente texto foi originalmente publicado, por nos ceder os direitos de tradução e publicação do presente artigo.² Jonathan Kanter é professor associado, diretor da Clínica Especializada no Tratamento de Depressão e cientista principal no Centro de Pesquisa Aplicada de Saúde Comportamental na Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Ajeng Puspitasari, Maria Santos e Gabriela Nagy são estudantes de pós-graduação em Psicologia Clínica no Departamento de Psicologia da Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Correspondência: Jonathan W. Kanter, PO Box 413, University of Wisconsin-Milwaukee, Milwaukee, WI 53201, USA. E-mail: [email protected]. Declaração de interesse: J.W.K. dá treinamento profissional em ativação comportamental.
Resumo
A ativação comportamental é uma promessa para reduzir o
fardo mundial da depressão como uma perspectiva de tratamento
efetivo, fácil de ensinar, adaptável e aceitável para aplicadores e
pacientes de diversos contextos e culturas. Este texto revê a história da
ativação comportamental, dando evidências para seu uso e direções
futuras.
Ativação Comportamental: história, evidência e promessa
Em 2008, a Organização Mundial de Saúde previu que, em 2030,
a depressão será a doença mais opressiva no mundo (OMS, 2008). Para
lidar com esse imenso e crescente problema de saúde pública,
precisamos de abordagens para tratar depressão baseadas em teorias
bem embasadas, que facilitem a investigação científica em níveis de
análises psicológica e biológica e que sejam efetivas, fáceis de ensinar,
Tradução de artigo
Ativação Comportamental: história, evidência e promessa¹
Jonathan W. Kanter, Ajeng J. Puspitasari, Maria M. Santos e Gabriela A. Nagy²University of Wisconsin-Milwaukee
131
132
adaptáveis e aceitáveis para aplicadores e pacientes de diversos
contextos e culturas. Sugerimos que a ativação comportamental traz
grandes promessas nesse sentido, representando um componente
importante de uma estratégia multifacetada clínica e científica para
reduzir o fardo mundial da depressão.
História da ativação comportamental
A ativação comportamental é uma abordagem de psicoterapia
comportamental desenvolvida nos anos 70 por Lewinsohn e seus
colegas (Dimidjian, Barrera, Martell, Muñoz, & Lewinsohn, 2011; Kanter
et al., 2010). Desde sua criação, a base conceitual da ativação
comportamental em simples princípios comportamentais de
aprendizagem, enfatizou a simplicidade e eficiência no tratamento. A
ativação comportamental inicial, que conceptualizou a depressão
como resultado de uma ampla privação de reforçamento positivo e
focou na identificação e programação de atividades prazerosas para
aumentar o contato com fontes de reforçamento positivo, acumulou
considerável suporte empírico. Apesar desse suporte, a ativação
comportamental caiu em desuso nos anos 80, em parte pela
insatisfação com a desatenção da terapia comportamental a
constructos cognitivos, vistos como importantes para a depressão e
pelo aumento da popularidade da terapia cognitiva para depressão. Na
verdade, a terapia cognitiva incluía as técnicas comportamentais
iniciais de monitoração de atividade e programação de atividade em seu
tratamento, mas essas técnicas eram aplicadas no âmbito de um
enquadramento de mudança cognitiva, ao invés de um modelo baseado
em reforçamento.
O interesse na ativação comportamental como um tratamento
autônomo viável foi renovado por uma análise dos componentes da
terapia cognitiva que verificou que técnicas comportamentais,
utilizadas separadamente do tratamento cognitivo, produziram
resultados equivalentes ao tratamento cognitivo ao final do tratamento
e em follow-up de dois anos. Pesquisadores concluíram que as técnicas
da ativação comportamental eram potencialmente preferíveis em
razão da maior eficiência e facilidade de treinamento dos terapeutas.
Desde então, variações na ativação comportamental têm sido
pesquisadas mais extensivamente, levando a conclusão de que ela
representa um tratamento bem estabelecido e eficaz (Mazzucchelli,
Kane, & Rees, 2009).
Diversas variações da ativação comportamental têm sido
desenvolvidas e refinadas ao longo dos anos (Kanter et al., 2010). As
variações consistentemente focam na programação de atividades para
obter reforçamento positivo, mas a maneira através da qual isso é
alcançado varia um pouco de acordo com a abordagem e existe uma
variedade de técnicas para suplementar e maximizar a efetividade da
programação da atividade existente. Ao contrário das primeiras
variantes de ativação comportamental, tratamentos com ativação
comportamental não mais focam apenas em experiências agradáveis
133
ou eventos prazerosos (ou seja, recompensas) como um meio de obter
reforçamento. Em vez disso, reforçamento é definido amplamente
como qualquer evento do ambiente que torne mais provável
comportamentos saudáveis, não depressivos. O terapeuta tenta
ajudar de múltiplas formas o cliente a se reengajar na vida, incluindo o
aumento de experiências prazerosas, ativando “comportamentos de
aproximação” na presença de fortes dicas para esquiva e emoção
aversiva, solucionando problemas, engajando em comportamentos
que levam a experiências de controle e realização, e engajando em
comportamentos significativos e difíceis que são consistentes com
seus valores de vida. Também diferentemente das variações
anteriores, as abordagens atuais não ignoram a cognição, mas
enquanto a terapia cognitiva foca no conteúdo cognitivo negativo, a
atual ativação comportamental foca em comportamentos de
ruminação e procura ativar comportamentos alternativos saudáveis
quando o paciente está ruminando.
Evidência da ativação comportamental
As abordagens atuais de ativação comportamental têm
chamado considerável atenção científica (Mazzucchelli, Kane, & Rees,
2009). Um estudo notável, bem delineado, amplo, randomizado e com
controle placebo, comparou um protocolo de 24 sessões de ativação
comportamental com a terapia cognitiva e paroxetina. Esse estudo
mostrou que todos os tratamentos funcionaram bem para depressão
134
leve, mas para depressão moderada a severa, tanto a ativação
comportamental como a paroxetina funcionaram melhor do que a
terapia cognitiva ao final do tratamento de 24 semanas (Dimidjian et al.,
2006), e a ativação comportamental foi equivalente ao uso contínuo da
paroxetina em um follow-up de dois anos. De forma geral, esse estudo
sugeriu que a ativação comportamental é um tratamento efetivo para
depressão moderada a severa, produzindo eficiência equivalente à
paroxetina, com bom engajamento no tratamento, manutenção,
eficiência e custo-benefício.
Ao mesmo tempo, há muito interesse na aplicabilidade da
ativação comportamental, sua facilidade no treino de terapeutas,
facilidade de implementação e acessibilidade aos aplicadores e
pacientes em diversas condições de ambientes de tratamento e
objetivos (Dimidjian et al., 2011). A população com a qual a pesquisa
sobre ativação comportamental foi ou tem sido conduzida com
resultados promissores inclui indivíduos com depressão combinada
com uma variedade de condições (Transtorno de Stress Pós-
traumático, abuso de substâncias, obesidade, diabetes e câncer),
pacientes de diferentes idades (adolescentes, estudantes
universitários, mulheres com depressão perinatal, idosos em asilos e
contextos de vida independente) e pacientes de diferentes religiões
(por exemplo, muçulmanos no Reino Unido) e origens étnicas (por
exemplo, indivíduos de origem latino-americana nos EUA). A ativação
comportamental também tem se mostrado promissora em uma
135
variedade de contextos como os tradicionais de saúde mental, aulas de
ginástica, hospitais e hospitais de veteranos, unidades de internação
médica por uso e abuso de substâncias e contextos públicos e
comunitários de saúde mental.
Em diversos desses projetos de pesquisa, os aplicadores não
eram altamente treinados e não incluíam especialistas em saúde
mental e profissionais associados. O melhor exemplo disso é o estudo
randomizado de Ekers e seus colegas, publicado no The British Journal
of Psychiatry (Ekers et al., 2011), no qual enfermeiros de saúde mental,
sem treinamento prévio em psicoterapia, receberam treinamento em
ativação comportamental e o aplicaram efetivamente em um contexto
de saúde primária, com melhoras estatisticamente significativas para
depressão, funcionamento geral e satisfação comparados com os
cuidados usuais. O sucesso desses pesquisadores ao treinar
enfermeiros (sem treino prévio em psicoterapia) é importante e a
análise de custo-benefício desse estudo, sugeriu que a ativação
comportamental pode oferecer um baixo custo por unidade de melhora
comparado com outras intervenções, visando melhoras no tratamento
da depressão na saúde primária.
A promessa da ativação comportamental
A teoria da ativação comportamental da patologia e mudança
está bem especificada, com medidas desenvolvidas para avaliar cada
elemento (Manos, Kanter, & Busch, 2010); assim, a ativação
136
comportamental não é apenas pragmática e efetiva no nível clínico, mas
é estável no nível da ciência translacional bio-comportamental. A
suposição por trás da mudança direta de comportamento pela ativação
comportamental não é que fatores comportamentais são os únicos
fatores relevantes para a depressão, mas que a depressão é um
transtorno multissistêmico e, a mudança comportamental, no
contexto de uma relação terapêutica genuína, empática e validante, é
um método direto e pragmático para afetar o sistema. Assim, pesquisas
tem mostrado que tanto mudanças cognitivas importantes (Jacobson
et al., 1996) como mudanças neurobiológicas (Dichter et al., 2009)
ocorrem depois do percurso de um tratamento bem sucedido. A teoria
da ativação comportamental, de fato, se enquadra bem com a pesquisa
neurobiológica sobre os circuitos de recompensa do cérebro e
depressão, no qual o reforçamento do ambiente e o circuito de
recompensa podem ser vistos como processos paralelos em diferentes
níveis de análises. Isso permite que a pesquisa translacional identifique
mediadores biológicos, demográficos, comportamentais e ambientais
e moderadores de resultados de tratamento. Mais pesquisas são
necessárias nessas áreas para clarear seus mecanismos no nível
comportamental e biológico, explorar seus mecanismos no contexto
de mecanismos não específicos (tais como a relação terapêutica), que
também podem contribuir para resultados positivos, e adequar
estratégias de tratamentos para maximizar a implementação do
mecanismo e seu impacto na saúde pública.
137
Outro ponto potencialmente forte desse tratamento é que sua
racional é bastante flexível, adaptável e sensata e pode ser levado às
populações e regiões tradicionalmente difíceis de alcançar. Como
apresentado aos pacientes, a racional da ativação comportamental de
que a depressão não é função de causas internas pode ser menos
estigmatizante do que narrativas biológicas sobre a depressão (Rusch,
Kanter, Brondino, Weeks, & Bowe, 2010). Esse pode ser um ponto forte
particular da ativação comportamental em termos do alcance a
populações sub-representadas, para as quais estigmas podem ser
obstáculos especiais, assim como aqueles para quem o modelo médico
da depressão pode ser inadequado ou ameaçador para as crenças
culturais locais. A ativação comportamental, apesar de enraizada
firmemente na tradição médica ocidental, não precisa ser explicada
com termos ocidentais médicos aos pacientes. Além disso,
competentes terapeutas que usam ativação comportamental devem
ser receptivos a valores de pacientes de uma cultura particular ao
definirem as metas de ativação, incluindo metas que sejam
significativas culturalmente, espiritualmente e pessoalmente. Nesse
sentido, ela permite uma estratégia de tratamento da depressão que
pode melhorar resultados e reduzir o fardo mundial da acomodação de
doenças, ao invés de desafiar ou requerer mudanças em crenças e
práticas de culturas locais. Pesquisas adicionais nessas áreas serão de
substancial benefício.
São de grande necessidade pesquisas que capitalizem os pontos
potencialmente fortes da ativação comportamental em termos de
138
parcimônia, portabilidade e eficiência de treinamento e que explorem
como treinar efetivamente clínicos em ativação comportamental com
atenção aos tipos e quantidades de recursos necessários ao
treinamento. No momento, existem algumas pesquisas que
corroboram com a ideia de que ativação comportamental efetiva é fácil
de treinar, mas essas pesquisas estão ainda em seu início e longe de
serem definitivas. Além disso, algumas variáveis da ativação
comportamental podem ser mais fáceis de aprender do que outras e, na
verdade, a variável que tem recebido maior suporte empírico (Dimidjian
et al., 2006), pode possivelmente ser a mais complexa e difícil de ser
aprendida. Assim, é necessário pesquisar estratégias, incorporando
tecnologia moderna (como computadores e internet) para treino em
alta-escala efetiva e disseminação da ativação comportamental. Talvez
a promessa final da ativação comportamental seja a de que protocolos
de treinamento podem ser desenvolvidos para maximizar boa
compreensão e implementação da ativação comportamental com
fidelidade aos mecanismos para diversos aplicadores, contextos e
pacientes enquanto minimiza o uso de fontes de treinamento. Se tal
disseminação eficiente e efetiva puder ser alcançada, a ativação
comportamental pode vir a ter um grande impacto sobre a carga global
de saúde pública da depressão.
139
Referências
Dichter, G. S., Felder, J. N., Petty, C., Bizzell, J., Ernst, M. et al. (2009). The effects
of psychotherapy on neural responses to rewards in major depression.
Biological Psychiatry, 66, 886–897.
Dimidjian, S., Barrera, Jr. M., Martell, C., Muñoz, R. F., & Lewinsohn, P. M. (2011).
The origins and current status of behavioural activation treatments for
depression. Annual Review of Clinical Psychology, 7, 1–38.
Dimidjian, S., Hollon, S. D., Dobson, K. S., Schmaling, K. B., Kohlenberg, R. J. et al.
(2006). Randomized trial of behavioural activation, cognitive therapy, and
antidepressant medication in the acute treatment of adults with major
depression. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 74, 658–670.
Ekers, D., Godfrey, C., Gilbody, S., Parrott, S., Richards, D. A. et al. (2011). Cost
utility of behavioural activation delivered by the non-specialist. The
British Journal of Psychiatry, 199, 510–511.
Jacobson, N. S., Dobson, K. S., Truax, P. A., Addis, M. E., Koerner, K. et al. (1996). A
component analysis of cognitive behavioural treatment for depression.
Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64, 295–304.
Kanter, J. W., Manos, R. C., Bowe, W. M., Baruch, D. E., Busch, A. M. et al. (2010).
What is behavioural activation? A review of the empirical literature.
Clinical Psychology Review, 30, 608–620.
140
Manos, R. C., Kanter, J. W., & Busch, A. M. (2010). A critical review of assessment
strategies to measure the behavioural activation model of depression.
Clinical Psychology Review, 30, 547–561.
Mazzucchelli, T., Kane, R., & Rees, C. (2009). Behavioural activation treatments for
depression in adults: a meta-analysis and review. Clinical Psychology:
Science and Practice, 16, 383–411.
OMS – Organização Mundial de Saúde (2008). The Global Burden of Disease: 2004
Update. WHO.
Rusch, L. C., Kanter, J. W., Brondino, M. J., Weeks, C. E., & Bowe, W. M. (2010).
Biomedical stigma reduction programs produce negative but transient
effects on a depressed low-income community sample. Journal of Social
and Clinical Psychology, 29, 1021–1031.
141
¹ Analista do Comportamento, Coordenadora do Curso de Graduação do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Orienta pesquisas (básica e aplicada) e intervenções, na graduação e pós-graduação, incluindo Terapia Analítico-Comportamental Infantil. Entre os temas orientados estão práticas culturais (de minissociedades criadas em laboratório à família), a relação criança e mídia, e a ampliação da interpretação de comportamentos emitidos pela criança que não deveriam estar sendo diagnosticados como transtornos psiquiátricos (e.g., pesquisas sobre autocontrole/impulsividade).
A análise dessa história por parte de analistas do
comportamento conduz a algumas interpretações a serem
investigadas em cada família. O que nos parece é que temas relativos às
Arte em ContextoO brincar necessário: falando da vida com as crianças via histórias infantis
Laércia Abreu Vasconcelos¹Universidade de Brasília
142
Era uma vez uma criança que não sabia abordar diferentes
temas da vida – seja falar sobre a escola, o filme, o livro, a rotina
da família ou a programação de lazer. Ela tinha 11 anos e se
mostrava diante da família estendida com comportamentos
que se repetiam tais como pular de um lado para outro o que
conduzia a rotulações da criança – infantilizada. Seus erros eram
seguidos por frequentes críticas diárias a ela como um todo e
não apenas a alguns de seus comportamentos. Os pais não
conversavam com a criança sobre fatos ocorridos no dia a dia:
“Amanhã, quando ela crescer conversaremos, mas hoje ela é
apenas uma criança...”. É como se o coelho de Alice no País das
Maravilhas nos rondasse a todo instante repetindo sua frase:
“Tenho pressa, tenho muita pressa...”. Estamos deixando para
a mídia de tela todos os diálogos sem intermediação...
143
crianças podem estar se tornando secundários e de menor urgência
quando comparados a temas profissionais do mercado de trabalho. No
momento seguinte, é como se aquela família passasse a buscar
diagnósticos para a agitação, questionamentos, tristeza, agressão, ou
ainda, gravidez na adolescência e consumo de drogas por parte de seus
filhos. Mas, no ponto de partida de tudo, é como se a brincadeira com as
crianças fosse um dos comportamentos mais banais do dia, o qual pode
ser postergado sem prejuízo para 5 min de um domingo. Isto se o
cuidador se lembrar da promessa feita à criança. Prosseguindo nesta
linha do tempo, é como se ele passasse depressa demais e houvesse
um tipo de maturação precoce do século XXI (com uma longa história de
não parceria amorosa com aqueles que são mais significativos na vida
da criança). O sofrimento causado por esta ausência tem resultados
adversos, em geral, de longa duração. E esse ciclo pode se repetir em
novas gerações de famílias.
A infância vivida de forma adversa foi inicialmente destacada por
Freud, Jung, Adler e Melaine Klein, autores de grande impacto nos
cursos de Psicologia em todo o mundo². Skinner, embora de forma
menos popular do que os autores citados desenvolveu a partir de 1937
um instrumental teórico-metodológico para uma ampla abordagem do
desenvolvimento/aprendizagem, o que se sofisticou no transcorrer de
sua obra até os anos 1990, ao incluir uma diversidade de conceitos e
² Ver o filme “Um método Perigoso” (Cronenberg, 2012 - A Dangerous Method) baseado no livro Um Método Muito Perigoso de John Kerr. O filme tem a direção de David Cronenberg e teve estréia em 30/03/2012. Interações de Jung e Freud são abordadas com uma introdução do diferencial teórico de Jung a ser desenvolvido em sua carreira.
temas abordados. O impacto da atuação de analistas do
comportamento pode ser observado em diferentes contextos e
populações, independente do desenvolvimento típico ou atípico.
Porém, é necessária uma maior divulgação na sociedade brasileira para
além de nossas comunicações especializadas em fontes científicas³.
Ao considerar o comportamento de brincar é como se a ampla
utilização do termo brincar/brincadeira tivesse conduzido os adultos a
uma banalização da rotina de uma criança. É como se o cuidador (e.g.,
pais, tios, avós e babás) se perguntasse – qual é a importância disso?
Apenas psicólogos defenderão o exagero de permanecermos
rotineiramente ao lado de nossas crianças conversando com elas via
brincadeiras? Todo esse contexto mostra aos analistas do
comportamento o quanto deve ainda ser feito para mudar padrões de
comportamentos dos educadores no sentido de promover um efetivo
respeito à criança.
Ao final do século XIX, na França já se observou discussões sobre
os direitos da criança (Mendez & Costa, 1994). E, no transcorrer da
história o Brasil formula o Estatuto da Criança e da Adolescência (ECA,
Lei N° 8.069, 1990), um código de leis que envolve a utopia que devemos
sempre buscar – melhores condições para todas as crianças brasileiras.
Nenhuma criança sem teto, sem família e sem escola. Nenhuma criança
144
³ Ver o filme no qual a analista do comportamento Maria Martha Costa Hübner apresenta a Análise do Comportamento, o qual tem uma excelente edição, imagens e narração. O filme é vendido em feiras do livro ou bienais do livro entre importantes pensadores/educadores, podendo ser utilizado nas escolas de todo o país (Atta Mídia e Educação & Horta, 2007 – Coleção grandes educadores B. F. Skinner). O DVD tem a duração de 40 min com produção e distribuição da Pólo Industrial de Manaus, Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio Fonográficos Ltda. Copyright Paulus, São Paulo. www.paulus.com.br.
abusada ou sob qualquer condição de risco para seu desenvolvimento
físico e psicológico. A utopia necessária que nos estimula a uma efetiva
programação de contingências nos contextos familiar, escolar entre
outros de apoio da comunidade. Uma criança amada, feliz, que acredita
em si mesma, que se insere em atividades acadêmicas e em interações
sociais. Uma criança com saúde física e psicológica.
A revisão sobre a criação da juventude – como o conceito de
teenage revolucionou o século XX alerta para a falta de parceria das
famílias com seus filhos, neste caso, os jovens quando passaram a ter os
pais fora de casa envolvidos com o mercado de trabalho ou com as
guerras (Savage, 2007/2009). O afastamento entre pais e filhos
resultou em comportamentos sociais de risco e sofrimento
apresentado por muitos jovens. Ademais, as inúmeras famílias
atendidas pelo pediatra Brazelton o faz destacar em sua obra, com um
alto número de publicações de artigos e livros, a necessidade dos pais
dedicarem tempo à brincadeira com seus filhos – pelo menos em dois
blocos de 20 min ao dia – e ainda, evitarem deixar uma criança jovem de
apenas 2 anos diante de uma tela por mais de 2h ao dia (e.g., Brazelton &
Greenspan, 2000/2002).
Analistas do comportamento estão contribuindo neste cenário
ao evidenciarem os efeitos positivos de se observar a evolução de uma
criança passo-a-passo em cada competência a ser desenvolvida em
sala de aula ou no ambiente doméstico. A pesquisa básica, a pesquisa
aplicada e a tecnologia comportamental, todas consideradas de forma
145
entrelaçadas, sofisticam o repertório do pesquisador/interventor
(Lattal, 2005). A metodologia de pesquisa utilizada é a do “sujeito como
seu próprio controle” – o indivíduo comparado com ele mesmo em
diferentes condições e sob sua história de vida ou história de um padrão
comportamental (alvo de avaliação/intervenção) (Johsnton &
Pennypacker, 2009; Sidman, 1960/1976). Os analistas do
comportamento têm mostrado também a potencial contribuição da
união de diferentes visões na pesquisa – a idiográfica (com análises da
evolução individual em pequenos grupos) e a nomotética (com análises
estatísticas de grandes grupos) (Harris, 2003). Assim, análises
individuais e grupais são consideradas, e em alguns casos com a
contribuição de um banco de dados normativos do desenvolvimento
em diferentes idades produzidos pela neonatologia, pediatria e estudos
genéticos.
A história apresentada anteriormente tem sido recorrente no
acompanhamento de famílias com crianças e jovens em Terapia
Analítico-Comportamental Infantil – TACI. Profissionais da escola
buscam parcerias diante das dificuldades na promoção de padrões
comportamentais de acompanhamento das crianças pelos pais (e.g.,
dos registros na agenda acadêmica, apresentações na escola,
confecção de tarefas em casa, estudo para as provas e interações
sociais no interior da escola). Portanto, a parceria família-escola
constitui um objeto de pesquisa/intervenção ao discutirmos
contingências que favoreçam a emissão de comportamentos alvos dos
146
pais e um posterior fortalecimento, tudo dentro de um variado contexto
caracterizado pelo acolhimento, por interações reforçadoras com os
pais/cuidadores e professores. Intervenções culturais devem ser
planejadas em equipes interdisciplinares (ver Hübner & Marinotti, 2004;
Hübner & Moreira, 2012; Postalli, Almeida, Canovas, & Souza, 2008).
Em todo esse contexto a mídia livros/histórias infantis torna-se
potencialmente valiosa ao possibilitar ao analista do comportamento
aumentar as contingências de interação entre pais e filhos, além da
mediação dos pais frente a conteúdos e imagens divulgados pela
televisão, filmes, videogame e a internet. A formação de valores
voltados para a ética, amizade, saúde, trabalho, família; a abordagem de
diferentes conceitos como gênero, criança, morte, saúde; o ensinar a
estudar; o ensinar a ler, o autocontrole; a aprendizagem são todos
temas que podem compor brincadeiras com histórias infantis
(Carvalho, 2011; Conte & Regra, 2000; de Rose & Gil, 2003; Del Prette,
2006; Postalli, Almeida, Canovas, & Souza, 2008; Vasconcelos, 2003;
Vasconcelos et al., 2006/2008; Zanotto, 1996). A formulação de regras,
a ampliação de análises funcionais podem conduzir a adaptações
sociais com potencialização de resultados favoráveis a cada criança.
A Terapia Analítico-Comportamental Infantil tem muito a
contribuir visando a evolução do respeito à criança, ao jovem e aos pais.
Trabalhos preventivos e de tratamento têm sido programados junto às
famílias (ver Del Prette, 2011; Silvares, 1995). Novos modelos
terapêuticos compõem a TACI, especificamente a Psicoterapia
147
Analítico Funcional (Kohlenberg & Tsai, 1991/2001) e a Terapia da
Aceitação e do Compromisso, a ACT (Hayes, Strosahl, & Wilson, 1999).
A família ou os principais cuidadores participam ativamente do
processo terapêutico no qual a criança poderá ou não estar
diretamente envolvida. Um conjunto o mais completo possível de
comportamentos da criança é avaliado – comportamentos manifestos,
encobertos (de acesso especial àquele que o emite) – como
pensamentos e sentimentos serão considerados. Relações verbais são
necessariamente um meio de análise e nas últimas décadas tem sido
crescente a facilidade de expressão das crianças devido ao intenso
desenvolvimento de meios de comunicação por elas precocemente
utilizados.
Assim, o tema histórias infantis como instrumento de pesquisa
e de intervenção por parte de analistas do comportamento é aqui
introduzido via o comportamento de brincar e a Terapia Analítico-
Comportamental Infantil, ao destacar algumas demandas sociais para
as quais pesquisas e intervenções podem envolver equipes
multidisciplinares. A formação em pesquisa ou mesmo uma visão de
pesquisador é necessária neste percurso de coleta de dados e
programações de intervenções no contexto clínico (ver Ireno, 2007,
com importantes pontos sobre a formação de terapeutas analítico-
comportamentais). A organização deste protocolo/prontuário oferece
feedbacks que promovem uma avaliação contínua do trabalho
profissional executado.
148
5
Crianças em torno de 10 anos de idade, ao lerem histórias
infantis mostram que em um ambiente no qual a sua leitura e os seus
comentários são valorizados o resultado é uma inserção gradualmente
maior na tarefa. Mesmo que haja desaprovação inicial por parte da
criança quanto ao tema ou ao tamanho do livro (quantidades de palavras
por página e quantidades de páginas por livro) ela o lê e ao final solicita
outros livros para manter consigo. Apesar dos erros de pontuação na
leitura (a falta de pausas adequadas diante de diferentes pontuações
tais como ponto final, vírgula e ponto e vírgula) a criança apresenta a
compreensão do texto, apresentando exemplos de seu cotidiano
(Vasconcelos, et al., 2011).
Diferentes valores fizeram parte dos livros selecionados em
Vasconcelos et al. (2011) tais como aqueles voltados para os temas
amizade, brincadeira, natureza, família, e o relato da verdade.
Inicialmente, foi utilizado um livro sem texto como uma forma de
promover a integração da criança ao contexto da pesquisa e observar
sua própria produção/leitura de imagens. Em seguida, um livro com
menor texto (três a quatro frases por página) seguido por dois outros
livros com maior conteúdo foram utilizados em sessões de
aproximadamente 30 min, nas quais as crianças liam e terminavam com
comentários sobre a leitura. Na replicação deste estudo, ao final da
leitura, temas foram selecionados pelas crianças em uma rodinha de
brincadeiras e discussão, envolvendo valores. Com esta programação,
as crianças interagiram com as pesquisadoras em todo o período e
149
Projetos de Pesquisa de Iniciação Científica ProIC/CNPq/UnB. 4
4
relataram exemplos e comentários sobre a leitura. Com sorriso no
rosto, brincadeiras e outras histórias foram citadas (Hösel, 2012;
Moura, 2012 ).
A análise de histórias infantis pode ser feita via um recorte do
analista do comportamento de eventos da história, contextos e
comportamentos dos personagens, classificando-os em um dos
elementos da contingência tríplice (Estímulo Discriminativo (SD) –
Resposta (R) Consequência (CSQ)), ou em uma contingência contendo
mais elementos (Operações Estabelecedoras (OE) – SD – R CSQ).
Relações mais complexas que envolvem vários indivíduos e várias
contingências sem uma relação de dependência funcional entre elas
como em macrocomportamentos (ver Gleen, 2004; Vasconcelos, no
prelo) e com dependência funcional entre as contingências – como em
metacontingências (Glenn, 2008) podem também fazer parte destas
interpretações analítico-comportamentais.
Cada contingência, macrocomportamento ou
metacontingência pode ser tema de brincadeira com discussões
programadas sobre cada elemento e os potenciais efeitos observados.
As crianças ou adolescentes serão convidados a contribuir nesta roda
de discussão ao apresentarem seus pontos de vista, trazendo
exemplos do cotidiano. Regras e auto-regras podem ser enfraquecidas,
quando desfavoráveis ao indivíduo ou fortalecidas ao descreverem com
precisão relações funcionais (e.g., Beckert, 2005; Chase & Danforth,
150
1991; Meyer, 2005; Pinto, Paracampo, & Albuquerque, 2006). Literatura
científica da análise do comportamento com seus diferentes conceitos,
assim como literatura da grande área da psicologia podem fazer parte
deste contexto. Outras áreas de conhecimento de interface podem
também ser introduzidas de forma a contribuir para a expansão do
debate. Dessa forma, cria-se uma ocasião para modelagem de novos
comportamentos em uma oficina de trabalho criada na escola ou em
casa ou no consultório de um analista do comportamento, pediatra,
ginecologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, entre outros.
Outros estímulos podem ser considerados neste contexto de
leitura/discussão como pontos da literatura de acesso ao público em
geral, assim como músicas, internet e diferentes brinquedos
compatíveis com o tema em discussão. Assim, o trabalho com histórias
infantis possibilita uma interação interdisciplinar entre a Análise do
Comportamento, a Antropologia da Criança, A Sociologia da Criança,
Pedagogia, Comunicação, Letras e Fonoaudiologia. Interpretações
analítico-comportamentais de trechos da história de um livro ou filme
promovem o enriquecimento/sofisticação do repertório verbal da
criança. “Se utiliza histórias de princesas com crianças de nível
socioeconômico que refletem extrema pobreza?” (uma pergunta
formuladada por uma diretora de biblioteca). Histórias clássicas que
envolvam contextos palacianos podem ser utilizadas com crianças
independentemente de seu nível socioeconômico ao se destacar
pontos da obra e, simultaneamente valorizar aspectos do cotidiano das
crianças, mesmo em um ambiente extremamente carente.
151
A aplicação destas estratégias poderia ocorrer ao se utilizar
como exemplo a análise do conceito de felicidade (o que poderia ter sido
identificado como interesse em um grupo de crianças de 12 anos ou de
adolescentes de 15 anos). “Felizes para sempre...” pode ser descrito em
uma contingência, a partir de uma ou mais histórias, com grande riqueza
de detalhes. Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para
sempre (CSQ). É possível se ter várias destas contingências
envolvendo diferentes reinados, príncipes e princesas, com um
resultado cultural de manutenção dos domínios de determinados
reinados, com a manutenção de determinados tipos de família. É
possível considerar a existência de um macrocomportamento no qual
várias contingências são organizadas de forma que não tiveram seus
elementos (SD, R, CSQ) influenciando o comportamento dos
personagens envolvidos nas diferentes contingências que compõem o
quadro analítico (contingências em diferentes reinos, envolvendo
diferentes personagens e lugares). O produto cultural pode ser
observado sem uma relação funcional de dependência entre os
elementos, sem entrelaçamento de contingências.
152
Macrocomportamento
[Reino A] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)
[Reino B] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)
[Reino C] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)
[Reino D] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)
[Reino E] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)
[Reino Z] Conceito de felicidade (SD) – Casar-se (R) � Felizes para sempre (CSQ)
Produto Cultural produzido por diferentes agentes:
Manutenção política do reinado
Tipos específicos de família
Controle sobre as escolhas dos esposos para as princesas
Ao se considerar o conceito de felicidade, a roda de discussão
poderia abordar o “treinamento para felicidade individual e social”
discutido por Dalai-Lama via o milenar Budismo, assim como pela
ciência apresentada pelo psiquiatra Howard C. Cutler (Dalai-Lama &
Cutler, 2011), ou ainda o enorme impacto da “aquisição de habilidades
sociais” sobre crianças e adolescentes (e.g., Bolsoni-Silva, 2002; 2009;
Del Prette & Del Prette, 2001; 2009). A análise da família via áreas
jurídicas, antropologia, sociologia e psicologia são também estímulos
centrais nestas relações funcionais que se formarão na roda de
discussão (Naves, 2008; Naves & Vasconcelos, 2008).
Em um animado workshop as crianças e adolescentes podem ser
expostos a informações tais como as apresentadas a seguir voltadas
para o conceito de felicidade. Um censo geral da Universidade de
Chicago bem como análises do cientista político da Universidade de
Harvard, Robert D. Putnam, mostram que nos últimos 30 anos observa-
se um declínio do engajamento civil, de uma visão comunitária e do
número de amigos próximos e confidentes. As migrações em busca de
melhores trabalhos, melhores salários e mudanças na jornada de
trabalho conduzem à dispersão geográfica de membros familiares,
assim como de amigos de mais longa data. Todos esses fatores têm
contribuído para um relativo isolamento social num contexto de alta
exposição ao computador, televisão e internet. No entanto, Putnam
relaciona maiores redes sociais à diminuição de taxas de criminalidade,
mortalidade e corrupção em um grupo social/país. Portanto, o
153
despertar de valores de compaixão, cooperação, o conceito de
amizade, a vida em comunidade, o equilíbrio entre o individualismo e
coletivismo, o equilíbrio entre a independência e a interdependência
são estratégias necessárias no processo de se sentir feliz, da felicidade,
o que deveria estar sendo considerado já com as crianças de tenra idade
em nosso sistema de ensino. O conceito de felicidade envolve um
otimismo definido como uma ampla visão funcional de um problema
sob diferentes aspectos – não a partir de uma única explicação (Dalai-
Lama & Cutler, 2011).
O desenvolvimento verbal das crianças de forma a expressar
seus sentimentos e a descrever seus comportamentos em geral tem
imenso valor no século XXI, considerado o século do diálogo, o século
do homem – o qual recebe destaque em estudos e intervenções sociais.
Tal desenvolvimento pode prevenir comportamentos sociais de risco,
potencializando também o sentir-se feliz, a felicidade, como um dos
antídotos contra sentimentos de raiva e medo, os quais têm sido
seguidos frequentemente por afastamento e/ou ataques. A interação
dos pais no treino do comportamento verbal da criança foi apresentada
por Hart e Risley (1975; 1980; 1995/2004). No ambiente natural da
criança o adulto disponibiliza reforçadores, modelando o repertório
verbal. O ensino pode ocorrer de forma incidental (Hart & Risley, 1975;
1980), o reforçamento pode ser automático (Smith, Michael, &
Sundberg, 1996). O reforçamento automático não exige a deliberação
de outra pessoa. O comportamento da mãe torna-se reforço ao ter uma
154
história de emparelhamento com outros reforços poderosos como
alimento ou carinho. Nesse sentido, o relato verbal da criança é
reforçado automaticamente quando ela replica sons de objetos,
animais e especialmente dos pais e outras pessoas (Skinner, 1957).
Este processo pode ter peso significativo no desenvolvimento inicial da
linguagem. Crianças de 11 a 14 meses já mostram mudanças no
comportamento verbal em função de manipulações no ambiente
(condições neutras, reforçadoras e com suave estimulação aversiva)
(Smith, Michael, & Sundberg, 1996).
Os pais podem parafrasear vocalizações da criança, nomear
ações e objetos, auxiliando desta forma na percepção, descrição e no
lembrar das crianças. Em um estudo de alto impacto, Hart e Risley
(1995/2004) mostraram que alguns pais utilizam 28 min diários
interagindo verbalmente com a criança, enquanto outros nada
conversam em 20 min. Assim, crianças cujos pais com elas
conversavam 800 vezes por hora, ouviam mais de 11.000 vocalizações
ao dia, o que representaria ao ano 4 milhões de vocalizações. Esta
frequência de interação no dia a dia, com maior interação com os
adultos conduz a uma clara ampliação do repertório verbal vocal da
criança de 1 a 3 anos de idade.
Adicionalmente, Whitehurst et al. (1988) adotou técnicas
evocativas para encorajar a criança a falar das ilustrações nos livros,
consequenciou com elogios as vocalizações apropriadas, ampliou
informações e modelos diante de uma vocalização inapropriada, e
155
ainda, os pais deveriam repetir e expandir as vocalizações de suas
crianças com maior frequência do que o habitual. Estas intervenções
resultaram no aumento da fluência da leitura e no desenvolvimento do
repertório verbal.
Ademais, narrar histórias tem uma função social ao evocar e
modelar, direta ou indiretamente, padrões de comportament os
específicos que têm maior probabilidade de serem reforçados
socialmente (Prebianchi, 2000; Prebianchi & Soares, 2004). Ávila (2006)
investigou as mudanças no comportamento verbal vocal de crianças de
5 anos ao recontarem trechos da história de Branca de Neve e os Sete
Anões. As vocalizações eram reforçadas e os erros sutilmente
corrigidos via modelos oferecidos pela experimentadora em meio a
comentários contendo informações adicionais sobre o tema. Cenas do
filme e desenhos feitos em papel A3 (relacionados aos temas
abordados na mídia filme) mostraram que as crianças aumentaram suas
descrições acerca da história, bem como aumentaram suas relações
funcionais envolvendo eventos e comportamentos dos personagens.
Os grandes desenhos (com belos traços e contexto) relacionados à
história introduziram novos conjuntos de estímulos diferentes do filme
e possibilitar am interações verbais da experimentador a com as
crianças. O diálogo, episódios verbais, foi registrado para além da
postura mais passiva de se assistir ao filme. Intercâmbios entre fantasia
e realidade foram observados com relato de experiências, formulação
de questões e oferecimento de soluções alternativas para as situações
vividas pelos personagens.
156
Portanto, a mídia filme pode ser inserida em contextos que
promovam a participação da criança solicitando-a a apresentar sua
opinião, sua compreensão. Nery (2012) analisa as relações de
estereótipos de gênero via exposição a filmes e brincadeiras entre
diferentes grupos formados por três crianças de 7 a 9 anos de idade.
Três diferentes filmes com predomínio de estereótipo masculino (Max
Steel), feminino (Barbie) ou quebra de estereótipo (Shrek) foram
apresentados e seguidos por brincadeiras e entrevistas. As frequências
de comportamentos não-verbais e verbais mostraram os efeitos
destas diferentes fontes sobre as brincadeiras, aumentando de forma
específica a cada filme algumas das seguintes categorias: atividades
domésticas, parentais, cuidados com a aparência/beleza,
violência/agressividade, aventura/esportes/movimento, cooperação
ou neutros. Assim, brinquedos “femininos”, “masculinos” e “neutros”
foram aumentados após a exposição aos filmes Barbie, Max Steel e
Shrek, respectivamente. Este estudo apresenta análises das
repercussões de desses controles culturais sobre os valores e padrões
de comportamentos de educadores e crianças, enfatizando uma vez
mais a importante inserção de analistas do comportamento em
diversos contextos – instituições de ensino, de saúde, organizações
empresariais, consultórios clínicos entre outros. Os dados refletem
também a necessidade de mediação dos pais frente a diferentes mídias
de forma a fortalecerem suas práticas culturais familiares, marcando
presença (estabelecendo controle/influência) rotineira na vida de seus
filhos.
157
O refrão da canção Criança Não Trabalha de Sandra Peres nos
lembra com bom-humor, em uma bela interpretação de Sandra Peres e
Paulo Tatit : “Criança não trabalha, criança dá trabalho!!!”.
Educar dá muito trabalho! Produzir profissionalmente dá muito
trabalho! Há custo e benefícios em todas as nossas escolhas! Educar dá
muito trabalho ao necessitar de contatos frequentes e rotineiros com a
criança no transcorrer da semana, dos meses e anos... Educar não
deveria ser de acordo com o humor do educador, escolhendo os dias
para estar com a criança ou para ser carinhoso... Educar com amor
tendo sensibilidade aos comportamentos da criança, o que é
preventivo – oferecer oportunidades de demonstração de amor, de
Ver www.palavracantada.com.br (Peres & Tatit, 2012).5
158
Lápis, caderno, chiclete, pião
Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria,
jardim, confusão
Bola, pelúcia, merenda, crayon
Banho de rio, banho de mar, pula cela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia,
manteiga no pão
Giz, merthiolate, band-aid, sabão
Tênis, cadarço, almofada, colchão
Quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega,
papel, papelão
Criança não trabalha, criança dá trabalho
Criança não trabalha...
1, 2 feijão com arroz
3, 4 feijão no prato
5, 6 tudo outra vez...
5
econhecimento pela evolução da criança na construção de
comportamentos, objetivos, estratégias para uma vida em família, e de
forma mais ampliada para uma vida em sociedade. O diálogo com
crianças e adolescentes exige uma adaptação no sentido de adquirir
funções motivadoras. Não se trata de um “tom professoral” (eu falo e
você deve escutar e seguir), não se trata de inúmeros mandos, não se
trata de palestras. A canção do projeto “Palavra Cantada” ilustra a
necessidade de brincarmos com as palavras, de utilizarmos metáforas,
poesia, brincando de falar da vida...
159
Referências
Atta Mídia e Educação, & Horta, R. (2007). Coleção Grandes Educadores. B. F.
Skinner [Filme-vídeo]. São Paulo: Paulus.
Ávila, R. R. (2006). Histórias infantis como um contexto para o reforçamento
positivo do comportamento verbal vocal de crianças pré-escolares.
Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de
Brasília. Brasília, DF.
Beckert, M. E. (2005). Correspondência verbal/não-verbal: pesquisa básica e
aplicações na clínica. In J. Abreu-Rodrigues, & M. R. Ribeiro (Orgs.),
Análise do Comportamento. Pesquisa, Teoria e Aplicação (pp. 229-244).
Porto Alegre: Artmed.
Bolsoni-Silva, A. (2002). Habilidades sociais: breve análise da teoria e da prática à
luz da análise do comportamento. Interação, 6, 233-242.
Bolsoni-Silva, A. (2009). Habilidades sociais de universitários: procedimentos de
intervenção na perspectiva da Análise do Comportamento. In R. C.
Wielenska (Org.), Sobre Comportamento e Cognição: Desafios, soluções
e questionamentos (Vol 23, pp. 21-52). Santo André: Esetec.
Brazelton, T. B., & Greenspan, S. I. (2000/2002). As necessidades essenciais das
crianças (C. Monteiro, trad.). São Paulo: Artmed.
160
Carvalho, B. N. (2011). Efeito de regras descritivas, presentes em histórias infantis
e de monitoramento sobre o comportamento de ler. Dissertação de
mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Pará. Belém,
PA.
Chase, P. N., & Danforth, J. S. (1991). The role of rules in concept learning. In L. J.
Hayes, & P. N. Chase (Orgs.), Dialogues on Verbal Behavior (pp. 205-225).
Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Conte, F. C. S., & Regra, J. A. G. (2000). A psicoterapia infantil: novos aspectos. In
E. F. M. Silvares (Org.), Estudos de caso em psicologia clínica
comportamental infantil (Vol 1, pp. 79-136). Campinas, SP: Papirus.
Cronenberg, D. (2012). Um Método Perigoso. Retirado em 02 de julho de 2012 de
http://cinema10.com.br/filme/a-dangerous-method.
Dalai-Lama, & Cutler, H. C. (2011). A arte da felicidade em um mundo conturbado.
São Paulo: WMF Martins Fontes.
de Rose, J. C., & Gil, M. S. C. A. (2003). Regras e Contingências sociais na
brincadeira de Crianças. In M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão,
Y. K. Ingberman, C. B. Moura, V. M. Silva, & S. M. Oliane (Orgs.), Sobre
comportamento e cognição. Santo André, SP: Esetec.
Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. P. (2001). Psicologia das relações interpressoais:
vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes.
161
Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. P. (2009). Adolescência e fatores de risco: a
importância das habilidades sociais educativas. In V. G. Haase, F. O.
Ferreira, & F. J. Penna (Orgs.), Aspectos biopsicossociais da saúde na
infância e adolescência (pp. 503-522). Belo Horizonte: Coopmed.
Del Prette, G. (2006). Terapia analítico-comportamental infantil: relações entre o
brincar e comportamentos da terapeuta e da criança. Dissertação de
mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo,
SP.
Del Prette, G. (2011). Objetivos analítico-comportamentais e estratégias de
intervenção nas interações com a criança em sessões de duas
renomadas terapeutas infantis. Dissertação de mestrado, Instituto de
Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.
Glenn, S. S. (2004). Individual behavior, culture, and social change. The Behavior
Analyst, 27, 133-151.
Glenn, S. S. (2008). Toward experimental analysis of contingencies of selection in
experimental micro-societies. Paper presented at the Midwestern VIII
Meeting of Behavior Analysis, Brasília, Brazil.
Harris, R. J. (2003). Traditional nomothetic approaches. In S.F. Davis (Ed.),
Handbook of research methods in experimental Psychology (pp. 41-65).
Malden, MA: Blakwell.
Hart, B., & Risley, T. R. (1975). Incidental teaching of language in the preschool
[Versão Eletrônica]. Journal of Applied Behavior Analysis, 8, 411-420.
162
Hart, B., & Risley, T. R. (1980). In vivo language intervention: Unanticipated general
effects. [Versão Eletrônica]. Journal of Applied Behavior Analysis, 13,
407-432.
Hart, B., & Risley, T. R. (1995/2004). Meaningful differences in the everyday
experience of young American children (6th edition). Baltimore: Paul H.
Brookes Publishing.
Hayes, S. C., Strosahl, K. D. & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and commitment
therapy. An experiential approach to behavior change. New York:
Guilford.
Hösel, G. (2012). Histórias infantis: o desenvolvimento da leitura com livros de
crescente nível de dificuldade. Projeto de Iniciação Científica, Instituto de
Psicologia, Universidade de Brasília, DF.
Hübner, M. M. C., & Marinotti, M. (2004). Análise do comportamento para a
educação. Contribuições Recentes. Santo André, SP: Esetec.
Hübner, M. M. C., & Moreira, M. B. (2012). Fundamentos de Psicologia – Temas
clássicos de psicologia sob a ótica de análise do comportamento. São
Paulo: Gen Grupo Editorial Nacional.
Ireno, E. M. (2007) Formação de terapeutas analítico-comportamentais: Efeitos
de um instrumento para avaliação de desempenho. Dissertação de
mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo,
SP.
163
Johsnton, J. M., & Pennypacker, H.S. (2009). Strategies and tactics of behavioral
research (3d Ed.). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.
Kohlenberg, R. J. & Tsai, M. (1991/2001). Psicoterapia analítica funcional (R. R.
Kerbauy e cols., trads.). Santo André: Esetec.
Lattal, K. A. (2005). Ciência, tecnologia e análise do comportamento. Em J. Abreu-
Rodrigues & M. R. Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento. Pesquisa,
teoria e aplicação (pp. 15-26). Porto Alegre: Artmed.
Lei N° 8.069 (1990, 13 de julho). Estatuto da Criança e do Adolescente.
Presidência da República. Retirado em 17 de setembro de 2006, do
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm
Mendez, E. G., & Costa, A. C. G. (1994). Das necessidades aos direitos. São Paulo:
Malheiros.
Meyer, S. B. (2005). Regras e auto-regras no laboratório e na clínica. In J. Abreu-
Rodrigues, & M. R. Ribeiro (Orgs.), Análise do Comportamento. Pesquisa,
Teoria e Aplicação (pp. 211-227). Porto Alegre: Artmed.
Moura, L. C. (2012). Histórias infantis: Análise de fatores motivacionais na leitura
de livros. Projeto de Iniciação Científica, Instituto de Psicologia,
Universidade de Brasília, DF.
Naves, A. R. C. X. (2008). Contingências e metacontingências: Um estudo
exploratório. Dissertação não publicada, Universidade de Brasília.
164
Naves, A. R. C. X., & Vasconcelos, L. A. (2008). O estudo da família: Contingências
e Metacontingências. Revista Brasileira de Análise do Comportamento,
4, 13-25.
Nery, L. B. (2012). Estereótipos de gênero: o efeito da exposição à mídia filme
sobre brincadeiras de crianças. Dissertação de mestrado, Instituto de
Psicologia, Universidade de Brasília. Brasília, DF.
Peres, S., & Tatit, P. (2012). A Palavra Cantada. Retirado em 02 de julho de 2012 de
http://www.palavracantada.com.br.
Pinto,A. R,, Paracampo, C. C. P., & Albuquerque, L. C. (2006). Análise do controle
por regras em participantes classificados de flexíveis e de inflexíveis.
Acta Comportamentalia, 14, 171-194.
Postalli, L. M. M., Almeida, D. M. B., Canovas, D. S., & Souza, D. G. (2008). Ensino de
reconhecimento de palavras no contexto da leitura de histórias infantis.
Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 4, 27-51.
Prebianchi, H. B. (2000). O contar história como técnica psicoterapêutica.
Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica, Campinas,
SP.
Prebianchi, H. B., & Soares, M. R. Z. (2004). Histórias infantis: propostas de
intervenção psicológica com crianças. In M. Z. S. Brandão, F. C. S. Conte,
F. S. Brandão, Y. K. Ingberman, V. L. M. Silva, & S. M. Oliani (Orgs), Sobre
Comportamento e Cognição – contingências e metacontingências:
contextos sócio-verbais e o comportamento do terapeuta (pp. 250-
258). Santo André, SP: Esetec.
165
Savage, J. (2007/2009). A criação da juventude. Como o conceito de teenage
revolucionou o século XX. (T. M. Rodrigues, trad.). Rio de Janeiro: Rocco.
Sidman. M. (1960/1976). Táticas da pesquisa científica (M. E. Paiva, trad., Caps. 2,
3 e 4,). São Paulo: Brasiliense.
Silvares, M. E. F. M. (1995). Intervenção clínica e comportamental com crianças. In
B. Rangé (Org.), Psicoterapia comportamental e cognitiva. Pesquisa,
prática, aplicações e problemas (pp. 133-141). Campinas, SP: Editorial
Psy.
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall.
Smith, R., Michael, J., & Sundberg, M. L. (1996). Automatic reinforcement and
automatic punishment in infant vocal behavior. The Analysis of Verbal
Behavior, 13, 39-48.
Vasconcelos, L. A. (no prelo). Exploring macrobehaviors and metacontingencies:
Non-experimental and experimental contributions. Behavior Analysis
and Metacontingencies and Social Issues, Mexican Journal of Behavior
Analysis.
Vasconcelos, L. A., Dias, A. G., Hösel, G., Campos, L., Martins, L., Santos, M., et al.
(2011). Estimulação da leitura de livros infantis: uma análise da fluência
da leitura de crianças. Trabalho apresentado na 41ª Reunião da
Sociedade Brasileira de Psicologia, Belém, Pará.
166
Vasconcelos, L. A., et al. (2006/2008). Brincando com histórias infantis. Uma
contribuição do comportamento para o desenvolvimento de crianças e
jovens (2ª. Ed.). Santo André, SP: Esetec.
Vasconcelos, L.A. (2003). Quem deseja uma criança que expressa opiniões? In F.C.
Conte, & M.Z.S. Brandão (Orgs.), Falo? Ou não falo? Expressando
sentimentos e comunicando idéias (pp. 97-112). Arapongas, PR:
Mecenas.
Whitehurst, G. J., Falco, F. L., Lonigan, C. J., Fischel, J. E., DeBaryshe, B. D., Valdez-
Menchaca, M. C. et al. (1988). Accelerating language development
through picture book reading. Developmental Psychology, 24, 552-559.
Zanotto, M. A. C. (1996). A leitura de livros de histórias infantis e o recontar
histórias: estudo do desempenho de crianças pré-escolares.
Dissertação de mestrado, Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos, SP.
167
1991 . 2012