2ª Ano - Economia Cultural de Salvador - A Indústria Do Carnaval

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58 Ano VI • Nº 9 • Janeiro de 2004 • Salvador, BA RDE – REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Resumo Este artigo deriva de pesquisa reali- zada pelos autores no âmbito do Grupo de Estudos da Economia Cul- tural de Salvador (Gecal), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urba- no da Universidade Salvador. O es- copo do trabalho previu a realiza- ção de uma radiografia da economia cultural, na velha capital baiana, em especial dos setores que possuem efeitos multiplicadores e impacto na geração de novos negócios, empre- go e renda, destacando-se os vincu- lados ao carnaval; ao candomblé; à música; à moda e ao artesanato en- tre outras manifestações culturais. Neste artigo aborda-se exclusiva- mente os aspectos da pesquisa rela- cionados ao carnaval. Palavras-chave : Economia cultural; Economia urbana; Economia regio- nal; Antropologia social; Geração de emprego e renda. Resumen Este artículo deriva de un proyecto de pesquisa que investiga el impac- to de la economia cultural en el desarrollo urbano de la ciudad de Salvador de Bahía (Brasil). Con este propósito examina aspectos de la economia informal donde se desta- can actividades vinculadas a el car- naval, a los cultos africanos, a la artesania etc. que responden por una representativa generación de empleo y renda para una población estima- da en dos millónes de personas ne- gras y posicionadas en los extratos de baja remuneración. Este articulo trata exclusivamente de aspectos de la pesquisa relacionados con el car- naval. Palavras-clave: Economía cultural; Economía urbana; Economía regio- nal; Antropología social; Generación de empleo y renta. Economia cultural e informalidade Um breve exame das teorias do desenvolvimento latino-americano revela a utilização freqüente de um aporte teórico dual clássico para análise do sistema econômico dos países em desenvolvimento, no qual a estrutura de produção emprego e renda é dividida em dois setores: o moderno e o tradicional (CACCIA- MALI, 1991, p.123). Neste modelo os setores ditos tradicionais caracteri- zam-se por baixa produtividade e baixa renda per capita, ao passo que nos setores modernos a produtivida- de média assemelha-se àquela obti- da nos países industrializados. Por volta da década de 1960 a existência de estratos econômicos com níveis tecnológicos díspares demonstrou a existência de segmen- tos sociais não necessariamente identificados como tradicionais ou modernos. Havia surgido uma soci- edade heterogênea, expressão da for- ma peculiar que assumiu o desen- volvimento na América Latina. Na década de 1970 o dualismo já não era um esquema útil para a compre- ensão dos fenômenos sociais. O apa- recimento e crescimento de segmen- tos diferenciados das sociedades la- tinas – americanas, especialmente o chamado setor informal urbano, con- tribuiu para o desenvolvimento do conceito de heterogeneidade. A in- corporação de amplos segmentos sociais à produção moderna havia ECONOMIA CULTURAL DE SALVADOR – A INDÚSTRIA DO CARNAVAL Noelio Dantaslé Spinola 1 Goli Guerreiro 2 Tatiana de Andrade Spinola 3 1 Doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona. Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e do Grupo de Estudos da Economia Cultural (GECAL) e professor do Mestrado em Análise Regional da Universidade Salvador – UNIFACS. 2 Doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo – USP. Pesquisadora do Grupo de Estudos da Economia Cultural (GECAL) e professora da Universidade Salvador – UNIFACS. 3 Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Federal da Bahia – UFBa. Pesqui- sadora do Grupo de Estudos da Economia Cultural (GECAL) e professora da Universidade Salvador – UNIFACS.

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  • 58 Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BA RDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    ResumoEste artigo deriva de pesquisa reali-zada pelos autores no mbito doGrupo de Estudos da Economia Cul-tural de Salvador (Gecal), vinculadoao Programa de Ps-Graduao emDesenvolvimento Regional e Urba-no da Universidade Salvador. O es-copo do trabalho previu a realiza-o de uma radiografia da economiacultural, na velha capital baiana, emespecial dos setores que possuemefeitos multiplicadores e impacto nagerao de novos negcios, empre-go e renda, destacando-se os vincu-lados ao carnaval; ao candombl; msica; moda e ao artesanato en-tre outras manifestaes culturais.Neste artigo aborda-se exclusiva-mente os aspectos da pesquisa rela-cionados ao carnaval.

    Palavras-chave : Economia cultural;Economia urbana; Economia regio-nal; Antropologia social; Gerao deemprego e renda.

    ResumenEste artculo deriva de un proyectode pesquisa que investiga el impac-to de la economia cultural en eldesarrollo urbano de la ciudad deSalvador de Baha (Brasil). Con estepropsito examina aspectos de laeconomia informal donde se desta-can actividades vinculadas a el car-naval, a los cultos africanos, a la

    artesania etc. que responden por unarepresentativa generacin de empleoy renda para una poblacin estima-da en dos millnes de personas ne-gras y posicionadas en los extratosde baja remuneracin. Este articulotrata exclusivamente de aspectos dela pesquisa relacionados con el car-naval.

    Palavras-clave: Economa cultural;Economa urbana; Economa regio-nal; Antropologa social; Generacinde empleo y renta.

    Economia cultural einformalidade

    Um breve exame das teorias dodesenvolvimento latino-americanorevela a utilizao freqente de umaporte terico dual clssico paraanlise do sistema econmico dospases em desenvolvimento, no quala estrutura de produo emprego erenda dividida em dois setores: omoderno e o tradicional (CACCIA-

    MALI, 1991, p.123). Neste modelo ossetores ditos tradicionais caracteri-zam-se por baixa produtividade ebaixa renda per capita, ao passo quenos setores modernos a produtivida-de mdia assemelha-se quela obti-da nos pases industrializados.

    Por volta da dcada de 1960 aexistncia de estratos econmicoscom nveis tecnolgicos dsparesdemonstrou a existncia de segmen-tos sociais no necessariamenteidentificados como tradicionais oumodernos. Havia surgido uma soci-edade heterognea, expresso da for-ma peculiar que assumiu o desen-volvimento na Amrica Latina. Nadcada de 1970 o dualismo j noera um esquema til para a compre-enso dos fenmenos sociais. O apa-recimento e crescimento de segmen-tos diferenciados das sociedades la-tinas americanas, especialmente ochamado setor informal urbano, con-tribuiu para o desenvolvimento doconceito de heterogeneidade. A in-corporao de amplos segmentossociais produo moderna havia

    ECONOMIA CULTURAL DE SALVADOR A INDSTRIA DO CARNAVAL

    Noelio Dantasl Spinola1

    Goli Guerreiro2

    Tatiana de Andrade Spinola3

    1 Doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona. Coordenador do Curso de CinciasEconmicas e do Grupo de Estudos da Economia Cultural (GECAL) e professor do Mestradoem Anlise Regional da Universidade Salvador UNIFACS.

    2 Doutora em Antropologia pela Universidade de So Paulo USP. Pesquisadora do Grupo deEstudos da Economia Cultural (GECAL) e professora da Universidade Salvador UNIFACS.

    3 Mestre em Administrao de Empresas pela Universidade Federal da Bahia UFBa. Pesqui-sadora do Grupo de Estudos da Economia Cultural (GECAL) e professora da UniversidadeSalvador UNIFACS.

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    mudado o panorama da organiza-o social e econmica anterior. Estemodelo de desenvolvimento resul-tou na diferenciao de setores so-ciais em funo de seu grau de evo-luo e de sua capacidade de resis-tir s crises. Na origem das diferen-as estavam as diversas formas deproduo e tecnologias empregadasque determinavam produtividade ecapacidade de acumulao distintas.(LEN, 1996, p.79)

    Tokman & Souza (1976, p. 65-69)afirmam que o setor informal origi-na-se como uma conseqncia doexcedente da fora de trabalho, o que,segundo estes autores permite pos-tular que a facilidade de entrada de-veria constituir-se em uma caracte-rstica geral destas atividades.

    O crescimento do setor informalem nmeros absolutos, porm, nopoderia ser explicado apenas comoconseqncia dos excedentes demo-de-obra do setor formal:

    A suposio de que o contingen-te de trabalhadores ligados aomercado informal parte do exr-cito de reserva4 implica admitir queh uma continuidade cultural etecnolgica entre os diversos nveise condies de participao no mer-cado de trabalho, que permite aostrabalhadores transitar entre ocu-paes regulares e transitrias, emresposta s mais diversas oportu-nidades de trabalho que surgem(PEDRO, 1998, p.72).

    Pedro (1998) argumenta que asreferncias educacionais so fatoresdecisivos neste processo, no qual obaixo nvel educacional de uma par-cela da populao impede o seu aces-so a informaes que poderiam per-mitir o ingresso em profisses reco-nhecidas como parte do segmentoem que h renovao tecnolgica emaior mobilidade de renda. Tal ex-cluso, mediatamente, desqualificaessas pessoas da condio de exr-cito de reserva dos postos de traba-lho concretamente disponveis(PEDRO, 1998, p.72). Acessoria-mente, pode-se afirmar que a friaarrecadadora e a intricada burocra-cia que o setor pblico impe para a

    legalizao de empresas e contra-tao formal de empregados empur-ra cada vez mais a economia para ainformalidade. 5

    Esta situao pode ser observa-da na Bahia onde o estigma da es-cravido que dominou o Brasil porquatrocentos anos sob o taco daempresa colonial agro-mercantilportuguesa, deixou marcas at osdias atuais. O negro liberto, por umprocesso de libertao tardio eineficiente, transformou-se no agre-gado (servo) rural, no sem-terra e nodomstico. Na cidade, reduzido amo-de-obra barata foi confinadoaos trabalhos pesados e menos so-fisticados. Isto quando no lhe res-tou a marginalidade, muitas vezesevitada pelas atividades informaisvinculadas e/ou derivadas dos cul-tos afros que contriburam paraorganiz-los e acabar por inseri-losem segmentos do mercado (informal)onde so fortes pela potencializaodo corpo.

    Com baixa mobilidade social queperdura at hoje em funo da dis-criminao educacional, este contin-gente de origem africana constitui amo-de-obra bsica da economia in-formal. Reforando esta argumenta-o, Azevedo (1999), em uma anli-se de dados da PED (Pesquisa deEmprego e Desemprego) comparan-do dados de 1988 com outros coleta-dos em 1998, afirma que em rela-o cor parece que no se realiza-ram grandes modificaes nos dezanos entre as duas pesquisas, que,no entanto, evidenciam de forma cla-ra a insero muito mais precria dosnegros na.ao da RMS. Esta pes-quisa revela que os negros tiveram

    sua participao reduzida nos gru-pos que, justamente, mais aumenta-ram sua participao relativa nomercado de trabalho neste perodo(grupo 01- ocupaes tcnicas, cien-tficas, artistas e assemelhados e gru-po 02 dirigentes de empresa e do se-tor pblico) principalmente em re-lao ocupao como empresriose dirigentes, particularmente na ati-vidade de empresrio do comrcio.

    Azevedo (1999) conclui:

    Os dados ressaltam a grande es-tabilidade da participao dos ne-gros entre os ocupados, indicandoque, mesmo com as mudanas depoltica econmica e os avanos nalegislao e na conscincia socialcontra a discriminao, poucomuda na distribuio dos trabalha-dores negros entre os que permane-cem ocupados, no se confirman-do a hiptese que apontava parauma relativa mobilidade ascenden-te deste grupo de trabalhadores naBahia (AZEVEDO, 1999, p. 14).

    Outro fator a se levar em conside-rao que o crescimento urbano naAmrica Latina precedeu inds-tria, tendo se desenvolvido indepen-dentemente dela, o que, por sua vez,levou expanso de um setor de ser-vios de baixa produtividade comoo trabalho domstico6, comrcio am-bulante, trabalhos ocasionais, etc.estabelecendo-se como uma formasocial de dissimular e repartir o em-prego (LEN, 1996, p. 84).

    A anlise da problemtica do se-tor informal tambm o estudo deuma relao de dependncia entreos setores formal e informal, na qualo setor informal subordinando di-namicamente ao formal, e ajusta-se sua estrutura produtiva.

    4 Considera-se que no necessrio aprofundar essa discusso abordando os conceitos deexrcito industrial de reserva em Marx; a teoria do estado estacionrio de Ricardo e da destrui-o criadora de Schumpeter por no ser o objeto principal de estudo deste trabalho.

    5 Segundo o IBGE (Pesquisa Mensal de Empregos) em setembro de 2003 os trabalhadoresinformais em Salvador representavam 45,1% contra 41,8% daqueles que trabalhavam comcarteira assinada. A capital baiana perdia apenas para Recife (com uma relao de 49,4% contra34,3%). So considerados trabalhadores informais tanto os que trabalham por conta prpria que so na maioria camels e biscateiros e os sem carteira assinada.. A soma no fecha 100%porque no esto includos os empregadores, funcionrios pblicos e trabalhadores no remune-rados. (Folha de So Paulo, quarta-feira, 5/11/2003, pg.B 10)

    6 Segundo o IBGE/PNAD em 2002 o emprego domstico em residncias absorvia 12% da mo-de-obra empregada na RMS, contra 9% de absoro pela indstria.

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    (...) a relao entre o segmentoformal e informal simbitica, jque a informalidade depende dademanda do mercado formal parasobreviver, que a economia formaltransfere custos sociais para a in-formal, ao desentender-se da repro-duo dos trabalhadores infor-mais, mas que a produo infor-mal concorre com a formal, mes-mo quando comandada pela pri-meira, seja, que a produo infor-mal realizada por trabalhadoresavulsos, ou por trabalhadores em-preitados pela produo formal(...) (PEDRO, 1998, p.62).

    As dificuldades tericas e fragi-lidades apresentadas nas primeirasabordagens da problemtica dainformalidade geraram a necessi-dade de estud-la a partir das rela-es do trabalhador com os instru-mentos de produo. SegundoCacciamali (1991, p.126), o novoenfoque rompe a abordagem dualesttica substituindo-a por umenfoque dinmico subordinado eintersticial. Assim, a informali-dade passa a ser contemplada noplano estrutural e cultural, tradu-zindo uma lgica de sobrevivnciaoriginal e no necessariamenteaquela do sistema dita formal,com o qual convive e de quem se ali-menta subsidiariamente.

    Nesta concepo, o segmento in-formal dito subordinado no senti-do de que seu espao econmico delimitado pela dinmica do capi-tal, sendo continuamente redefinido.As atividades informais atuam emespaos ainda no ocupados, abando-nados, criados e recriados pela produ-o capitalista (CACCIAMALI, 1983,p. 608), caracterizando-se, pois, poruma insero intersticial na estrutu-ra econmica.

    O setor informal tende a guiar-se por uma lgica empresarial diver-sa da racionalidade econmica for-mal, baseada no retorno sobre o ca-pital investido, na taxa de lucro e naacumulao (reinvestimento). Enten-de-se, ento, que o setor informal pos-sui, sim, uma lgica prpria de atuaono mercado. a lgica da sobrevivn-cia que consiste na busca de um re-

    torno financeiro de curtssimo pra-zo priorizando a manuteno dasnecessidades bsicas da famlia.

    Entende-se que a racionalidadeeconmica dos produtores infor-mais tipicamente os trabalhado-res por conta prpria e os peque-nos produtores mira, ao invs deuma taxa de retorno competitivae/ou um processo de acumulao,maximizar o fluxo de renda totalque a atividade possibilita perce-ber, de tal forma a permitir, emprimeira instncia, a reproduodo produtor e de seu ncleo fami-liar, e, em seguida, a manutenoda atividade (CACCIAMALI,1991, p. 127).

    A expresso informalidade, noentanto, contm uma grande impre-ciso conceitual, fruto da dificulda-de de delimitao do seu universoem funo da pluralidade de ativi-dades que so englobadas sob esteconceito e da diversidade de inter-relaes destas com o setor formal.

    O setor informal urbano nor-malmente relacionado a ausnciade registro legal das empresas ou dostrabalhadores ou a atividades de-senvolvidas por indivduos autno-mos. CACCIAMALI (1989) destacaque o termo economia informal:

    (...) representa dois fenmenosdistintos na literatura especializa-da. O primeiro refere-se existn-cia de produtores diretos que, deposse dos instrumentos de traba-lho e com ajuda de mo-de-obrafamiliar e/ou alguns ajudantes,produzem bens ou servios. O se-gundo fenmeno refere-se quelaparcela da economia que opera margem do marco regulador doEstado, evadindo impostos, con-tratando mo-de-obra de formaclandestina ou subestimando o to-tal da prestao de servios ou dacomercializao (CACCIAMALI,1989, p. 30 ).

    Neste contexto a economia cultu-ral que transita entre a formalidadee a informalidade, refere-se a um vi-goroso campo de produo, circula-o e consumo de bens e servios

    simblicos, de natureza material eimaterial, genericamente denomina-dos bens ou produtos culturais. Seuuso tem sido cada vez mais recor-rente nos meios acadmicos, intelec-tuais e na mdia, embora a bibliogra-fia sobre o assunto ainda seja ex-gua. Existem algumas pesquisas queesto sendo promovidas pelo Minis-trio da Cultura7 e estudos que abor-dam a relao de determinados bensculturais com o mercado. No entan-to, no h uma conceituao expl-cita do que seja economia cultural.Para discorrer sobre a economia dacultura talvez seja preciso antes com-preender os termos em separado,para depois ressignific-los em seuconjunto.

    A importncia da esfera econ-mica pode ser observada nos diver-sos mundos culturais do planeta, emtodas as pocas histricas e em to-das sociedades. Mas a noo de eco-nomia de mercado delineou-se namodernidade ocidental e, mais espe-cificamente, no modo de produocapitalista.

    O desenvolvimento do capitalis-mo coloca o mercado na posio deregulador da vida social nas diver-sas sociedades que adotaram esteregime poltico-econmico.

    A configurao das sociedadescontemporneas permite interpretartudo como mercadoria. Marx desta-ca que o modo capitalista de organi-zar e reproduzir a sociedade exacer-ba o poder das coisas sobre as pes-soas, turvando as possibilidades dereconhecimento das relaes sociaissubjacentes produo das merca-dorias e transformando-as em feti-ches. Para ele, o fetiche ou carter ilu-srio das mercadorias, que afinalsatisfazem necessidades humanas,no se deve ao seu valor de uso, mas,sim, ao seu valor simblico.

    A sociedade capitalista, por umlado, generaliza o mercado, aumen-tando enormemente a quantidade demercadorias e, por outro lado, diver-

    7 Economia da cultura. Ministrio da Cultura.Disponvel em . Acessoem: 10/03.

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    sifica, altera e multiplica os padresde consumo, transformando indiv-duos em consumidores pela grandeampliao da escala de suas neces-sidades (CANCLINI, 2001).

    Featherstone (1995) avalia o mo-vimento de generalizao dos mer-cados e de ampliao das necessi-dades e padres de consumo da so-ciedade contempornea como fun-dador da cultura do consumo, estacompreendida, primordialmente,como consumo de signos.

    justamente o carter simblicodas mercadorias que nos permite fa-lar em economia cultural, mas preci-so compreender agora o que vem aser cultura.

    A palavra cultura polissmicae, como tal, so vrios os seus signi-ficados. Em alguns contextos, elaaparece como sinnimo de erudioou educao acadmica.

    No cenrio miditico, culturaaparece geralmente associada aomundo das artes: cinema, teatro, te-leviso, etc. Do ponto de vista socio-antropolgico, entretanto, a cultura concebida de forma muito maisampla. Trata-se de toda e qualquercriao humana, real ou simblica,que se expressa como modo de vida.Sua concretude , portanto, onipre-sente, pois se manifesta em todas asesferas do cotidiano: poltica, econ-mica, religiosa, etnolingstica,

    sociocomportamental e fenotpica. Acultura dos povos a interconexode todas estas esferas, perpassandoainda os aspectos histricos e geo-grficos (tempo/espao). EdgarMorin compara a cultura a um mega-computador altamente complexo. Emmbito universal ela um geren-ciamento coletivo da sobrevivnciahumana e particularmente represen-ta a identidade de um povo, expres-sa na lngua, nas prticas e no ima-ginrio das comunidades.

    No mundo contemporneo, osdiversos fenmenos que delineiamo processo de globalizao reservam cultura um papel central. SegundoGiddens (1991), ao mesmo tempo emque as relaes sociais se tornamesticadas, atravs de uma rede decomunicao planetria, como par-te do mesmo processo, vemos o for-talecimento de presses para auto-nomia cultural local. Tem-se uma viade mo dupla: ao mesmo tempo emque se fala em mundializao dacultura, em homogeneizao de pro-cessos culturais, verifica-se o desen-volvimento de fluxos locais, cada vezmais particularizados.

    Na virada do milnio, a questoda cultura apresenta-se como proble-ma- chave que faz a mediao entreo fluxo globalizante e os particu-larismos identitrios ou entre ahomogeneizao e a reposio dasdiferenas. Nesse contexto, as varia-das expresses culturais se configu-ram como mercadoria de alto valorsimblico e do corpo ao que vemsendo chamado de economia cultural.

    Este termo aponta o fato de que osprocessos da cultura adquiriram, nomundo contemporneo, uma dimen-so econmica inequvoca, j que ge-ram produtos artsticos e comporta-mentais (msica, moda, etc.), benefi-ciando o mercado formal (lojas, res-taurantes, hotis, bares) e o informal(ambulantes, artesos). No entanto,h muito o que investir neste campo.

    A economia da cultura sugereuma interconexo de fenmenos, namedida em que concatena toda umaexpresso comportamental (mani-

    festa em vrios nveis) com o merca-do, como categoria mediadora entrea dimenso social e simblica e aesfera econmica das sociedades.

    Para pensar as potencialidadeseconmicas da cultura, preciso al-canar sua dimenso mais comple-xa para no aprision-la nas regrasda indstria cultural. Afinal de con-tas, os produtos culturais esto en-raizados na vida cotidiana dos po-vos. Eles so resultado de uma expe-rincia sensvel, s vezes, tramadono anonimato da vida comunitriae esse capital cultural que agoraemerge como mercadoria aponta anecessidade de um redimensiona-mento das noes de centro e perife-ria. Nesse contexto, as fronteiras per-dem densidade para dar lugar ex-perincia concreta do pertencimentoa um espao, um bairro, um territ-rio, uma cidade.

    Para que as culturas locais geremdesenvolvimento econmico, deve-se ter em vista no somente a diver-sidade de manifestaes que umpovo capaz de criar, mas tambmnecessrio alargar as polticas p-blicas e formar quadros para a ges-to cultural.

    A produo cultural de Salvador,desde as ltimas dcadas, vive umagrande efervescncia. Alm de ocu-par um lugar de destaque na cenada mdia e alimentar um importantemercado artstico, tem sido um dosprincipais elementos divulgadoresda imagem da Bahia tanto no Brasilquanto no exterior. Para Tnia Fisher(1996), Salvador viveu um proces-so de transformao da cultura emmercadoria que surgiu da msicaafro-baiana, que por seu lado come-ou a encontrar eco no Carnaval,mas que em pouco tempo se trans-formou numa presena econmicade importncia fundamental.

    Carnaval

    Uma breve reviso histrica

    O Carnaval constitui a mais im-portante manifestao cultural de

    Para pensar aspotencialidadeseconmicas da

    cultura, precisoalcanar sua

    dimenso maiscomplexa para no

    aprision-la nasregras da indstria

    cultural.

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    Salvador, pela massa de recursoshumanos e financeiros que mobili-za numa simbiose com todo o orga-nismo scio cultural da cidade e pelaimagem que produz para a Bahia,projetando-a de forma significativano mercado cultural nacional e in-ternacional.

    Este evento que se desdobra numamplo territrio real e simblico per-mite uma multiplicidade de leituras,sendo vasta a produo acadmicaa seu respeito.

    A compreenso deste fenmenocultural requer, mesmo que de for-ma resumida, uma reviso do seuprocesso de evoluo histrica desorte a possibilitar um entendimen-to mais amplo do contexto em queeste atualmente se situa e dos seusimpactos nas diversas economias,formais e informais, que convivemnas diferentes circuitos antagnicosque coabitam o espao urbano multi-facetado de Salvador (SANTOS,1979).

    Introduzido pelos portuguesesatravs do entrudo, ainda no perodocolonial, o carnaval resulta de maisuma forma do sincretismo que mar-cou a posse dos espaos culturaispela cultura africana, notadamentenuma poca de jugo escravocrata queidentificava os batuques como ma-nifestaes pags que atentavamcontra a segurana e a perpetuaodo processo civilizador catlico-eu-ropeu.

    Evoluiu gradativamente, de in-cio como uma festa popular em queficava bem delineada a distncia que

    segmentava brancos e negros. Segun-do Guerreiro (2000) citando Fry et alli(1988), o carnaval depois da aboli-o e da repblica passou a drama-tizar duas posies: civilizao (ri-queza) versus barbrie (pobreza); eEuropa versus frica. Grande partedo espao, j definido entre o Cam-po Grande e a Praa Castro Alves,via avenida Sete de Setembro, passaa ser ocupado pelos prstitos, esp-cie de desfile de clubes carnavales-cos organizados. Havia os clubes debrancos como os Fantoches da Euter-pe, Cruz Vermelha, Inocentes emProgresso etc. e os clubes de negroscomo Embaixada Africana, Pnde-gos da frica, Guerreiros da frica eoutros. A despeito desta forma orga-nizada de carnaval os batuques cor-riam soltos pela cidade a despeitoda severa perseguio policial.

    Com o passar dos anos, os prsti-tos foram perdendo seu vigor inicialacabando por desaparecer na dca-da de 30 (Ges, 1982). O carnavalpassa a se constituir ento, de bailesde brancos em clubes privados e dospersistentes batuques nas ruas dacidade. somente no fim dos anos40 que surge uma nova e expressivamanifestao da cultura negra: oafox.

    Em 1949 nasce o primeiro afoxda Bahia (Filhos de Gandhi), umaorganizao carnavalesca que tinhao intuito de divulgar o candombl.Composto por estivadores do cais deSalvador, praticantes do culto, osFilhos de Gandhi pretendiam rever-ter o estigma que carregava devido sua cultura religiosa e reafirmandosua origem africana, desfilaram nocarnaval daquele ano, cantando edanando sob o smbolo da paz. Estepode ser considerado o primeiro atoorganizado de carter tnico no car-naval da Bahia.

    Pensando sobre a origem dosafoxs, Edson Carneiro vai comentarque esse estranho cortejo de negrosque tocam atabaques e entoam can-es em nag, em louvor das divin-dades do candombl (1982, p.101)so manifestaes mais modestas

    dos prstitos de negros que se apre-sentavam nos primeiros carnavais,j sob a republica. O autor os identi-fica tambm com antigos cortejos dosReis do Congo, muito comuns napoca da escravido. De fato, osafoxs so passveis de serem apro-ximados tanto dos prstitos (pelo seucarter de desfile tnico) quanto dascongadas, pois segundo Mrio deAndrade, os congos so uma dan-a dramtica de origem africana re-memorando costumes da vida tribal.Na sua manifestao mais primiti-va e generalizada, no passam deum simples cortejo real, desfilandocom danas cantadas (1977,p.81)Roger Bastide (1974) completa escla-recendo que, as congadas so expres-ses do negro no Brasil (africanos oucrioulos) pois, tal como aqui se ma-nifestaram esses cortejos nunca ocor-reram em frica. Os afoxs podem,portanto, ser considerado uma leg-tima expresso da cultura afro-baiana.

    Os primeiros afoxs podem sersimplesmente descritos como can-dombls de rua. Quase todos osmembros dos antigos afoxs se vin-culam ao culto. Seus msicos soalabs (tocadores de tambor nos ter-reiros), suas danas reproduziam asdos orix, seus dirigentes eram baba-lorixs (chefes de terreiro que domi-nam a lngua ioruba) e o ritual docortejo obedecia disciplina da tra-dio religiosa. Como descreve An-tonio Risrio, antes de iniciar o des-file realiza-se, nos afoxs, uma ceri-mnia religiosa: o pad, despacho deExu, entidade mgica (...) S depoisdo pad que o afox se entrega aoscantos e danas iniciando sua pere-grinao religiosa (1981, p. 56/7),Assim, os afoxs trazem para as ruasda cidade a batida ijex dos cultosde Candombl. Este ritmo ser, maistarde responsvel pelo refloresci-mento da musicalidade afro-baiana.

    Mais recentemente, outros afoxstais como Badau, Oj, Olori, etc, quesurgiram a partir dos Filhos deGandhi, j no obedeceram tradi-o religiosa e a participao de pes-

    ... o carnavalresulta de mais umaforma do sincretismoque marcou a posse

    dos espaos culturaispela culturaafricana...

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    soas ligadas aos terreiros no rigo-rosamente observada. Esses novosafoxs so acusados de profanar oselementos sagrados, entre eles a ba-tida ijex, pois os cnticos j no soobrigatoriamente recolhidos do re-pertrio litrgico dos terreiros e asdanas dos orix so apresentadasmais livremente. Somente o afox fun-dador mantem-se fiel at hoje a to-dos os elementos rituais reafirmandoa relao visceral entre o carnaval negrode Salvador e a cultura religiosa. ParaMorales (1988), o Filho de Gandhijamais se utilizou de um discursotnico poltico explcito mas, no en-tanto, pode ser visto como um para-digma de organizao negra de re-sistncia cultural. importantereter que os afoxs lanam a sementeque engendrar os blocos afros e es-tes, veremos mais adiante, vo lan-ar mo de um discurso tnico-pol-tico com o intuito de construir umnovo espao posio para os pretosno carnaval de Salvador.

    A virada dos anos 40 para os anos50 um momento chave para o car-naval da Bahia. Alm do surgimentodos afoxs, temos ainda o adventodo trio eltrico, um dos mais impor-tantes acontecimentos musicais deSalvador. O desfile da Fobica (o pri-meiro trio eltrico inventado por Dode Osmar) um marco histrico, poisrepresenta uma nova forma de brin-car o carnaval e uma profunda trans-formao na cultura baiana e brasi-leira, que at ento navegava entreduas tendncias: a msica eruditainspirada em modelos europeus e obatuque (com suas mltiplas varia-es) herdeiro da musicalidade afri-cana. A maior contribuio do trioeltrico talvez tenha consistido noestabelecimento de um espao livree na democratizao racial da festa.

    A criao do trio eltrico foi moti-vada pela visita do clube carnava-lesco Vassourinhas, de Recife, queanimou as ruas de Salvador com ofrevo gnero musical pernambuca-no (de origem europia) que tam-bm uma dana. Impactados com aeuforia causada pelo clube nas ruas

    da cidade, os ento annimos Dode Osmar pensaram em eletrificaraquele ritmo e inventaram o frevobaiano, executando num instrumen-to construdos por eles, chamado depau eltrico (um tipo de guitarra co-nhecida hoje como guitarra baiana),o qual tocavam em cima da velhafobica, desfilando ao lado das es-colas de samba, cordes, blocos eafoxs que foram se organizando aolongo desses anos, sobretudo comoda populao negro-mestia parabrincar o Carnaval. Embora algunsbrancos tambm se organizassem emblocos e cordes, a maioria aindapreferia a tranqilidade de seus clu-bes privados.

    O sucesso do trio eltrico foi cres-cente, nos anos subseqentes j ha-via vrios outros.Os trios enfraque-ceram o carter de desfile da festa eincentivaram muitos folies brancosa vir brincar na rua e criar um carna-val mais livre e participativo, viabili-zando a reconstruo do espao di-ferenciado para brancos e negros nocarnaval. Nesse momento a separa-o entre raas e as classes sociaisperde sua fora como observa Gomes(1989), o trio eltrico estabelece umaespcie de territrio livre onde to-das as diferenas scio-raciais semisturam numa forma de congraa-mento cultural.

    No entanto, esse territrio abertovai aos poucos se desfazendo, me-dida que os blocos carnavalescos voadquirindo seus prprios trios eltri-cos, demarcam os espaos que sepa-ram seus componentes por cordas deisolamento. Como a aquisio detrios eltricos uma transao que en-volve a mobilizao de substanciaisrecursos, a participao nesses blo-cos passa a custar caro e, conse-qentemente, a sua composio sabrigar pessoas de alto poder aqui-sitivo, ou seja, os brancos da terra.Ato continuo a populao negro-mestia da cidade passa a se organi-zar num tipo de bloco de ndio emba-lados pelo samba formando o contra-ponto daqueles denominados de blo-cos de baro, embalados pelo frevo

    baiano. Assim, a clivagem scio-ra-cial volta a se delinear com clareza edelimita os territrios festivos da se-guinte maneira: o segmento brancoda sociedade opta por brincar o car-naval ou nos tradicionais bailes dosclubes sociais privados ou nos blo-cos de baro, tais como Internacionais,Camaleo, Traz os Montes, etc. J osegmento negro mestio encontraespaos nos afoxs e nos blocos de n-dio, tais como Apaches do Toror,Sioux, Comanches, etc.

    Os pretos da Bahia se identifica-vam com grupos indgenas norte-americanos, que alm dos nomes dosblocos inspiravam tambm suas fan-tasias (tangas, cocar, arco e flecha) eseus gritos de guerra. Os seus desfi-les exibiam um gosto pela violncia,muito temido pelos folies brancos,a ponto de autoridades policiais im-porem limites para o nmero de par-ticipantes desses blocos (cerca de milpessoas), a fim de melhor controlar,nos dias da festa, os embates entreos blocos notadamente de carterclassista e racial (GODI, 1981).

    Roberto da Mata d uma pistainteressante para pensar a apropria-o da imagem do ndio por cama-das negro-mestias de Salvador. Nostermos do autor, o carnaval umcampo social cosmopolita e univer-sal, polissmico por excelncia (...) omundo da metfora (1990,p.49). Orecurso a um outro grupo tnico tam-bm oprimido, porm temido, comoeram os ndios do oeste americano(em que pese a fora do imperialis-mo cultural exercido pela Amricado Norte), tinha o sentido de reco-locar, metaforicamente, a opresso

    ... a participaonesses blocos passa acustar caro e a sua

    composio sabrigar os brancos

    da terra...

  • 64 Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BA RDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    vivida pelos pretos na nossa socie-dade, onde pode-se ler tambm a suadisposio de luta contra os bran-cos, vistos como opressores. A iden-tidade social aparece nos blocos dendio de maneira velada, travestida.De algum modo, o negro se disfarade ndio para manifestar-se no ce-nrio do carnaval (GODI, 1981). Noentanto, importante chamar aten-o para o fato de que mais um mo-delo de organizao negra se conso-lidava lanando uma nova sementepara a constituio dos blocos afro-carnavalescos.

    A efervescncia dos blocos de n-dio e dos blocos de baro, alm dos ter-ritrios livres dos trios eltricos aut-nomos, de certa forma determina-ram, j no incio dos anos 70, o desa-parecimento das escolas de sambada Bahia, como Ritmos de Liberda-de, Juventude do Garcia, Diploma-tas de Amaralina, entre outras. Es-sas escolas, muito populares nosanos 60, no resistiram crescenteocupao fsica e sonora dos blocosde trio (GOMES, 1989) e a maior par-te de seus integrantes foi cooptadapelos blocos de ndios.

    Os anos 70 representam um novoe importante momento para o carna-val de Salvador. No seu curso, nasceo movimento de negritude anuncian-do a conscincia racial entre as ca-madas negro-mestias da cidade daBahia. A primeira expresso dessaconscincia so os blocos afro-car-navalescos que comeam a se orga-nizar em torno da autovalorizaoda imagem do negro.

    Na criao do bloco Il Aiy, em1974, est o ponto de partida desse

    movimento que vem redefinir o es-pao e a posio dos negros de Sal-vador. O Il Aiy nasceu na Liberda-de, bairro proletrio de imensa po-pulao negro-mestia. AntonioRisrio (1981) tem razo quando afir-ma que os pretos da Liberdade fo-ram os primeiros a manifestar sinaisda conscincia da negritude procu-rando demonstr-la atravs das rou-pas, dos cabelos, da linguagem e,sobretudo pela sua capacidade deorganizao. Mobilizados em tornodo carnaval elaboraram um tipo demsica que, a partir da batida ma-triz Ijex deu origem a uma varieda-de de ritmos percussivos, respons-veis pela ascenso da msica afroem Salvador.

    A principal caracterstica do IlAiy, que de imediato demarca suadiferena, o fato de ser um bloco denegros onde rigorosamente vetadaa entrada de brancos. SegundoVov, como conhecido o fundadordo bloco, essa uma postura polti-ca. Sem duvida, evoca a noo deetnicidade e se desenha na medidaem que o Il Aiy celebra a frica emseus mltiplos aspectos, aproprian-do-se de elementos culturais rein-ventados, ao mesmo tempo em que,lanando mo do exclusivismo tni-co baseado na cor-da-pele, (antesnunca explicitado como regra) de-nuncia, s avessas, a intolernciados brancos em relao aos pretos.Assim, busca demolir o mito da de-mocracia racial que encontrou lar-gos espaos na Bahia.

    O Il Aiy se prope a mostrar agrandeza do universo negro a fim demodificar a auto-imagem dos pretosde Salvador. Como qualquer blococarnavalesco caracteriza-se pelaindumentria (ou fantasia) e pelamsica. A composio das roupasdo Il Aiy cuidadosamente prepa-rada a partir de pesquisas sobre po-vos e regies da frica que o blocotematiza a cada ano. Os cabelos apa-recem tranados de variadas manei-ras ou ainda em forma de gomos,popularizando o estilo rastafari. Es-ses so elementos que denotam a

    preocupao esttica do grupo. Amusicalidade do bloco caracteriza-se pelo uso de tambores percutidospor uma banda ou bateria que rein-venta ritmos de sonoridade africanacomo o ijex e o reggae, originandoum ritmo caracterstico dos blocosafros que o samba-reggae.

    Misturando referncias delineiaa contemporaneidade musical afro-baiana. A cano de estria do IlAiy mostra claramente a sua pro-posta: que bloco esse? / eu querosaber/ o mundo negro/ que vie-mos mostrar pra voc/ somos criou-lo doido, somos bem legal/ temoscabelo duro, somos Black Power(...).

    No rastro do Il Aiy surgiu umasrie de outros blocos afro comoOlodum, Muzenza, Araketu, Mal deBal, etc, que conscientemente expli-citaram, no bojo do movimento denegritude, o conflito racial na cida-de de Salvador.

    A presena dos blocos afro trazuma nova marca para o carnavalbaiano as danas. Muito inspira-das nos movimentos das danas ri-tuais do candombl, a cada ano sorecriadas, nos ensaios dos blocos,novas coreografias, que em geral re-cebem nomes de animais como a dan-a da galinha, do crocodilo, a do macacoetc. O movimento musical afro-baiano evidencia tal como no can-dombl e em frica, a inseparabi-lidade entre msica e dana.

    Os blocos afros, com sua grandecapacidade de organizao e agluti-nao, alcanaram a partir dos anos70 uma crescente popularizao,no somente devido a sua estticaneo-africana, evidenciada nos teci-dos coloridos de desenhos geogrfi-cos, nos cabelos tranados ou moda rastafari, no modo de tocar tam-bor, na sua postura corporal, na dan-a estilizada dos orix, mas sobretu-do, a sua imensa aceitao e conso-lidao deve-se fora de sua msi-ca , cuja vitalidade influenciou deci-sivamente a msica produzida nosblocos de trio, dando tambm origemao suingue afro-baiano, aqui conheci-do como dana de rua baiana, que

    De algummodo, o negro sedisfara de ndio para

    manifestar-seno cenrio do

    carnaval...

  • 65Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BARDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    conquista e seduz os turistas, dadaa fora da sensualidade que os ne-gros conseguem passar danando.Assim comea a se delinear aqueleque ser no incio dos anos 90 umdos mais importantes acontecimen-tos musicais no circuito meditico dopas: a Ax Music.

    Inicialmente, muitos blocos detrio passaram a tocar as canes dosblocos afro sob uma instrumentaoeletrificada e assim nasce o afro-pop.A matriz dessa funo musical acano Fara Divindade do Egi-to, composta pelo bloco afro Olodum,que em 1987 estarreceu fazendo umsamba-reggae cuja letra estabeleciauma relao entre Faras do Egito,os reinados africanos e a Bahia.

    A repercusso do samba-reggaeFara foi explosiva. Cantadaexaustivamente pelo povo nas ruasda cidade antes mesmo do carnaval,durante as festas de largo. Ao toc-la com seus instrumentos eletrni-cos, os trios eltricos, incrementarama fuso da msica afro com a pop.Fara apenas um nome de umaimensa lista de canes de blocoafro-baianos que foram incorpora-das ao repertrio dos trios por pres-so popular, pois at ento (1987) amdia ainda no as veiculava.

    O processo que desencadeava apopularidade das canes afro, j noperodo anterior ao carnaval, era in-formaes passadas de boca-a-boca,prtica conhecida em Salvador comocorreio nag. Durante os ensaios dosblocos afro, ao longo do ano, as m-sicas so continuamente tocadas erapidamente tornam-se conhecidasnos populosos bairros negros-mes-tios da cidade, tais como Liberda-de, Pelourinho, Itapu, Periperi, etc,locais de origem dessas organiza-es carnavalescas. So nesses terri-trios, portanto, que o fluxo deafricanizao da cidade da Bahiaganha seus contornos mais defini-dos. O binmio musica-lazer , semdvida, o grande catalisador deimensos contingentes de jovens quese dirigem para as quadras de en-saio a fim de cantar e reafirmar a for-

    a e a riqueza da cultura afro-baiana,fortemente valorizada no movimen-to negritude.

    A popularidade das canes dosblocos afro detona o novo movimen-to musical baiano, hoje conhecidonacionalmente como Ax Music in-ternacionalmente como World Music.Este estilo musical funde os ritmosde sonoridade africana desenvolvi-dos na Bahia (do Candombl aosblocos afro) e o frevo baiano de ins-truo pop.

    A primeira expresso da AxMusic cooptada pela mdia foi o rit-mo conhecido como fricote capitane-ada pelo cantor de trio Luiz Caldasdo bloco Beijo. Seu trabalho lana namdia a ponte entre a msica afro e amsica de trios. Misturando, portan-to, os estilos mais marcantes damusicalidade baiana.

    tambm no seio do carnaval quenasce a rainha da Ax Musica can-tora Daniela Mercury. Cantando hmuitos anos no trio eltrico do blocoInternacionais (bloco de baro), aartista consegue, na virada dos anos90, projeo nacional com um reper-trio basicamente montado a partirdas composies dos blocos afromais famosos de Salvador, imprime-lhes uma roupagem pop, mas nodispensa a percusso de tambor queos caracteriza. Nas estrofes da m-sica que a popularizou...quem quesobe a ladeira do Curuz,que a coisamais linda de se ver o Il Ay elareverencia o bloco e a beleza da cul-tura negra alm de projetar para omundo o bairro pobre onde fica situ-ado o bloco, fazendo com que vriasinstituies e turistas passassem aquerer freqent-lo e a realizar fil-mes mostrando a vida no local emudando a imagem de bairro vio-lento antes vigorante.

    A fuso que desemboca na AxMusic faz a conexo entre a msicade preto (ritmos afro-baianos) e a

    msica de branco (frevo baiano), ede certa forma reorganiza o espaointer-tnico no carnaval de Salvador.Muitos brancos atrados pela forada cultura afro baiana procuramparticipar de seus espaos dando-lhes uma composio multitnica (obloco afro Olodum, aglutinador demuitos brancos um bom exemplodisso). No entanto os territrios es-tabelecidos pelo espectro racial con-tinuam demarcados.

    No seio do carnaval, o movimen-to de negritude organiza-se em blo-cos afro e sinaliza o processo de cons-truo de uma nova identidade ne-gra. Um mergulho mais aprofun-dado na musicalidade afro-baianaser capaz de delinear os contornosdesse processo.

    Balano de um mega evento

    O carnaval de Salvador constituiatualmente um dos maiores eventosculturais do Pas, sendo considera-do por alguns estudiosos do assun-to como a maior festa popular de ruado mundo. Sendo uma festa mvelocorre entre os meses de janeiro emaro de cada ano, tendo em Salva-dor uma durao oficial de seis diascomeando na quinta feira noitee encerrando-se na madrugada daquarta feira de cinzas.8 Em 2003ocupou 25 km de ruas das quais 50%foram utilizadas para os desfiles nos

    O carnavalde Salvador constituiatualmente um dos

    maiores eventosculturais do

    Pas...

    8 Os dados desta pesquisa referem-se a este perodo. Na realidade Salvador vive em carnavalgrande parte do ano, notadamente no perodo de vero que se estende de dezembro (quandocomea o ciclo de festas populares) at maro quando se inicia o inverno. As principaiscidades do interior do estado promovem ao longo do primeiro semestre de cada ano, os seuscarnavais fora de poca (micartas) que constituem um slido mercado para as empresascarnavalescas estabelecidas em Salvador.

  • 66 Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BA RDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    trs circuitos em que se dividiu a fes-ta e nos quatro bairros onde forammontados palcos .

    Fizeram a festa 199 entidadescarnavalescas compostas por 14afoxs ; 32 blocos afros; 15 blocosalternativos; 32 blocos de trio; 02 blo-cos de ndios; 06 blocos infantis;14de percusso; 14 de percusso e so-pro; 11 travestidos; 03 orquestras; 01bloco especial; 26 pequenos grupose 29 trios independentes.

    Alm destas entidades se apre-sentaram nas ruas da cidade 445grupos musicais, envolvendo umcontingente de 7.000 artistas.

    Segundo as estimativas da Empre-sa Municipal de Turismo - Emtursa,registrou-se um fluxo dirio de 2,2milhes de pessoas nos circuitos car-navalescos, sendo 950 mil turistas e1,15 milho de moradores. O pbliconos bairros atingiu um total de 270mil pessoas que se distriburam porCajazeira (30%); Liberdade (28%);Itapu (25%) e Periperi (17%). Segun-do as pesquisas oficiais cerca de 450mil pessoas participaram como foli-es nos blocos, contudo, dadas ascondies econmicas da populao,foram majoritrios os folies pipo-ca9 que representaram 45% do p-blico participante.

    Em 2003, segundo a Emtursa, ofluxo de turistas foi inferior ao re-gistrado nos anos anteriores de2002 e 2001. Isso reflete, naturalmen-te a conjuntura de crise internacio-nal e nacional nos planos poltico eeconmico. Os turistas estrangeirosem 2003, corresponderam a 25% dototal de visitantes com o predom-

    nio de norte-americanos (14%); is-raelenses (13%) e italianos (13%).Tambm compareceram significati-vamente, mas em menor nmero, osalemes (5%); franceses (4%) e in-gleses (4%). Os argentinos que res-ponderam por 5% dos visitantes em2002, em decorrncia da grave criseatravessada por seu pas, no apa-recem nos registros significativosdeste ltimo carnaval. Entre os tu-ristas nacionais predominaram em2003 os paulistas (19%) que supe-raram os cariocas (majoritrios em2002 com 21% declinando para 18%em 2003); os mineiros (14%) e osbrasilienses (11%).

    A economia do carnaval

    O carnaval a base a partir daqual pode-se compreender a amplia-o do mercado de msica baiana,uma das mudanas mais importan-tes do cenrio soteropolitano nosanos 90, pois implica o fim dasazonalidade de seu consumo e naconsolidao da ax-music como es-tilo no mercado fonogrfico local enacional. Os blocos carnavalescosampliaram as atividades de suasrespectivas bandas e se transforma-ram em produtoras com sedes pr-prias e expediente corrente, criandoempregos diretos e indiretos duran-te todo o ano. Segundo Ary da Mata,diretor da Casa do Carnaval, Quemprimeiro apontou para o caminhoda profissionalizao foram os blo-cos de trio10. Estes blocos colhem afatia mais lucrativa desse setor daeconomia baiana, que atrai para Sal-vador milhares de turistas no pero-do carnavalesco. O lucro dessas em-presas vem da venda de vestimentaspara os associados dos blocos, pa-trocnios e shows. Os blocos de trio,mesmo competindo pela conquistade novos associados, se unem emtorno de interesses comuns e impul-sionam a indstria ax. O capitalque move este mercado vem de to-

    dos os lados. A fonte mais conheci-da a dos blocos e seus associados,mas h tambm o patrocnio paratrios e a publicidade veiculada noscaminhes-palco.

    A cada ano acentua-se mais aprofissionalizao dos blocos carna-valescos e a explorao da festa,exemplo disto a criao da Centraldo Carnaval que rene quinze enti-dades para a comercializao dosseus ingressos. Com a Central o fo-lio pode variar o seu cardpio departicipao na festa, variando deblocos, assim como regular o nme-ro de dias em que deseje participarda festa.

    As produtoras comearam a mo-vimentar dinheiro contratando suasbandas e trios para outros eventosligados ao Carnaval (alm das tra-dicionais micartas que se realizamem todo o interior do Estado daBahia). Amparadas na consolidaodo estilo ax, as bandas baianas, apartir de 92, organizam um circuitode festas no Brasil, chamado car-navais fora de poca, um novo filodo mercado que estende as suas ati-vidades, na medida em que promo-ve o consumo desta msica e suapermanncia nas paradas de suces-so em qualquer poca do ano.

    O mercado tambm se expandeatravs dos chamados blocos al-ternativos como o Nana Banana doChiclete com Banana; Ado do Eva;Ccobambu do Asa de guia, Eu Voudo Pinel; etc, espcies de filiais dosgrandes blocos, que mantm a estru-tura bsica, mas barateia os custospara os associados e no desfilamno circuito central da cidade, e simno circuito da orla. Os blocos alter-nativos desfilam no circuito Barra-Ondina, para onde a folia se esten-deu nos ltimos anos, devido ao au-mento do nmero de folies trazidossobretudo pelo turismo.

    Um outro brao da atuao em-presarial das bandas baianas de trioeltrico so os franchises. Este tipo de

    9 Folio que no participa de qualquer entidade carnavalesca e que brinca livre nas ruas.10 Ary da Mata in Jornal A Tarde, A baianizao do Brasil, 30.5.95.

    O carnaval a base a partir daqual pode-se

    compreender aampliao do

    mercado de msicabaiana...

  • 67Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BARDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    negcio, iniciado pelas bandas degrande porte, a partir de 93, colocaos blocos em outras praas e envol-ve o prestgio da banda e, na maiorparte dos casos, na utilizao donome do bloco. O setor de relaespblicas da Mazana, produtora daBanda Chiclete com Banana, a pri-meira a se lanar neste novo neg-cio, explica suas intenes: O nos-so projeto estar em cada capital egrande cidade brasileira11. Paratanto, a indstria ax movimenta umalto capital financeiro e simblico.

    Aliado ao carter empresarial,outro fator que explica a ascensoda msica produzida na Bahia e si-naliza a profissionalizao crescen-te dos msicos locais, o acesso auma parafernlia eletrnica de altaqualidade.

    Alm disso, nos anos 90, houveainda a diluio do fluxo migratrioem direo ao Sudeste, que caracte-rizou a trajetria de artistas baianosem dcadas anteriores. Desde osanos 30, para inserir-se no mundoda msica no Brasil era preciso mo-rar no Rio de Janeiro, a capital dopas. Ali se encontravam todas aspossibilidades de ascenso profissi-onal dos msicos. O mercado fono-grfico, os estdios de gravao, adistribuio e divulgao dos discos,os grandes eventos musicais, a visi-ta de artistas internacionais, etc.

    No final dos anos 80, este fluxomigratrio se desfaz. Todos os artis-tas produtores de ax-music moramem Salvador. Para Caetano Veloso,o que inegvel que um fenme-no de propores estupendas se evi-denciou. Na minha gerao tivemosque sair da Bahia para trabalhar.Daniela Mercury e Netinho so mi-lionrios em Salvador e so pessoasdas mais trabalhadoras da MPB.12

    A suspenso do fluxo migratrio emdireo ao sudeste s foi possvel apartir da ascenso comercial da ax-music, que ancora a indstria fono-grfica da Bahia e desafia a hege-monia do eixo Rio So Paulo.

    Paulo Miguez tem razo quandoafirma:

    O carnaval baiano na sua configu-rao atual de carnaval-negcio oucarnaval-produto qualifica-se, por-tanto, como um megaempreendi-mento capaz de gerar, transformare realizar seus mltiplos produtosarticulando-se, de forma multifa-cetada, com a indstria cultural eseus aparatos (rdio, televiso, in-dstria fonogrfica, indstria dolazer) e, neste ritmo, explicita in-tensamente uma contemporanei-dade onde se inscrevem possibili-dades reais de construo de pol-ticas culturais e estratgias de mer-cado.Vale a pena ressaltar, entre-tanto, que o carnaval, ainda queno represente a totalidade do uni-verso da produo cultural daBahia, apropria, transforma, bene-ficia, e realiza grande parte dessaproduo. (MIGUEZ,1988)

    Este rentvel mercado de msicabaiana, expandido a partir da festacarnavalesca, reorganiza tambmoutros setores da produo cultural.Os grupos musicais estenderamsuas atividades em alguns delestransformaram-se em holding esp-cie de empresa com vrios ramos deatuao. O Olodum, por exemplo,comercializa em sua boutique vri-os produtos que levam sua marcacomo camisetas, bons, chaveiros,sapatilhas, adesivos, toalhas etc. Se-gundo o presidente da entidade, JooJorge, todo o dinheiro arrecado servepara viabilizar a Fbrica de Carna-val, que produz todos os tens ven-da na boutique, alm das fantasiasdo bloco e de instrumentos per-cussivos. Parte desta produo ex-portada. Mesmo antes de ser insta-lada a Fbrica j tem encomendas deum bloco afro- londrino e de outro dosEstados Unidos13, afirma Joo Jorgeque promete emprego para cerca de350 pessoas da comunidade.

    Estas atividades desenvolvidascom as comunidades locais tm

    grande importncia mercadol-gica14. Tudo isso implica produode artesanato local. Sabemos que amaior parte dos produtos baianoscomercializados no Mercado Mode-lo, no Pelourinho e na Feira de SoJoaquim vem de fora (Cear, So Pau-lo, China, pases da frica, etc). Oque fabricado aqui justamente aproduo inspirada no mundo afro-baiano (tambores, e produtos dasgriffes dos blocos).

    Os blocos afro-carnavalescos in-vestem ainda numa variedade decursos profissionalizantes, geral-mente relacionados aos seus interes-ses, como, por exemplo, corte e cos-tura, onde os alunos so aproveita-dos para a confeco das fantasiasdos blocos; cursos de estamparia; ouainda cursos para cabeleireiras. Ocampo da moda em Salvador se be-neficia, portanto, da atuao das or-ganizaes musicais afro-baianas.

    Todos esses elementos (carnaval,msica/dana, artesanato, moda) seconcatenam no mundo do turismo.Salvador uma das cidades que maistm investido nas conexes entrecultura e turismo e se diferencia nomercado turstico pela singularida-

    11 Jara Zeidjen, in Jornal A Tarde, 31.5.95.12 Caetano Veloso in FSP, Ilustrada, Caetano, de novo, 22.11.97.13 Joo Jorge in Tribuna da Bahia, Olodum cria griffe de moda e inaugura Fbrica de Carna-

    val, 19.12.91.14 Atividades como cursos de capoeira e cursos de teatro que formam atores negros tambm

    so oferecidos pelas organizaes mais estruturadas. Exemplo disso a ONG Escola deEducao Percussiva Integral que trabalha com 100 adolescentes no bairro da Engomadeira,ensinando a tocar e a fabricar instrumentos de percusso alm de portugus, matemtica,informtica, ingls e ancestralidade, entre outras disciplinas.

    Os blocosafro-carnavalescosinvestem ainda numavariedade de cursosprofissionalizantes,

    geralmenterelacionados aos seus

    interesses...

  • 68 Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BA RDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    de e diversidade de sua produocultural. A expresso cultural sote-ropolitana ocupa um lugar privile-giado no marketing publicitrio edesempenha um papel importantena formulao de estratgias tursti-cas, que permitem atrair fluxos naci-onais e internacionais.

    Os nmeros do carnaval de 2003fornecidos pela Emtursa demons-tram o impacto produzido por estafesta popular na economia da cida-de. Assim, em termos da gerao denegcios foram mobilizados nesteano valores estimados em R$ 821,4milhes15. Como demonstra a Tabe-la 1, seguinte, a apropriao diretadestes recursos pela populao debaixa renda, inserida nas categoriasde ambulantes, barraqueiros e baia-nas de acaraj totalizou R$ 33,2 mi-lhes, ou seja, 4,05% do montantedos recursos gerados pela festa. Ob-serve-se que parte substancial destareceita (85%, ou sejam R$ 28,4 mi-lhes) constituiu receita da venda debebidas, uma atividade de margemmuito pequena para o vendedor.Considerando que trabalharam nes-tas categorias 54.005 pessoas, (verTabela 2) obtm-se uma renda percapita de R$ 615,87 no perodo. J os83.180 cordeiros16, seguranas, re-cepcionistas, garons e pessoal delimpeza empregados temporaria-mente auferiram R$ 17,6 milhes, ouseja, 2,14% da renda total da festa eo equivalente a um rendimento percapita de R$213,60.

    Os resultados produzidos pelocarnaval esto concentrados em umgrupo restrito de organizaes pri-vadas (Empresas Carnavalescas35,42%; Empresas de Transporte24,40%; Indstria Fonogrfica eMdia 16,59%; Bebidas 7,67%)17 queabsorvem 84,08% de toda a rendagerada. Atividades que podem serclassificadas como de pequeno emdio porte como os restaurantes,bares e lanchonetes se apropriamapenas de 6,40% dos resultados, en-quanto os servios de txis, alugu-is de imveis e reciclagem no res-pondem, no conjunto, por 1% dos

    Tabela 1 Gerao de renda pelo carnaval de Salvador, 2003

    GNERO DE ATIVIDADE

    Ambulantes, barraqueiros, baianas de acaraj ............................Cordeiros,seguranas,recepcionistas,garons,pessoal delimpeza ................................................................................................

    Indstria de confeces .....................................................................Indstria de bebidas ..........................................................................Empresas de transporte ....................................................................Mdia .....................................................................................................Indstria Fonogrfica .......................................................................Empresas carnavalescas ....................................................................Indstria hoteleira .............................................................................Restaurantes, bares e lanchonetes ..................................................Servios de txis .................................................................................Locao de veculos ...........................................................................Estacionamentos ................................................................................Reciclagem de latas de cerveja ........................................................Aluguel de imveis ...........................................................................

    TOTAL .................................................................................................

    VALORAUFERIDO

    EM R$

    33.260.000,00

    17.600.000,00

    2.397.769,0062.900.000,00

    200.401.949,0045.000.000,0091.300.000,00

    290.979.930,0015.600.000,0052.600.000,00

    2.300.000,002.246.000,001.100.000,001.280.000,002.500.000,00

    821.465.648,00

    (*) Neste valor esto computados R$ 80 milhes gerados por festas no perodo de outubro a fevereiro.Fonte: Emtursa, Relatrio 2003.

    15 No se teve acesso metodologia adotada pela Emtursa para chegar a estes valores quepodem, inclusive, estar subestimados dado o elevado grau de informalidade que caracterizaa economia cultural da cidade do Salvador. No foi estabelecida comparao com a receitagerada nos anos anteriores tendo em vista que os dados apresentados no estabelecem seos preos esto registrados em bases nominais ou reais.

    16 Cordeiros so pessoas contratadas para segurar as cordas que delimitam o espao privativodos blocos, separando seus integrantes dos folies pipoca circundantes..

    17 Nas informaes prestadas pela Emtursa no constam dados relativos indstria de gelo,sabidamente atuante neste perodo de festejos. Segundo dados da Federao das Indstriasdo Estado da Bahia, existia em 2003 apenas uma indstria de gelo em atividade na cidade doSalvador. Pesquisa de campo da UNIFACS constatou, no entanto, a existncia de cincofabricas em funcionamento nesta cidade.Segundo informaes destes fabricantes a deman-da aumenta cerca de 50% no carnaval.

    resultados. A rede hoteleira absorveapenas 1,5% da renda gerada poruma festa que, em 2003, trouxe a Sal-vador 950 mil turistas.

    Em termos de marketing o carna-val baiano representou um evento parte.Foi coberto por 2.446 profissi-onais de imprensa entre os quais 320do exterior, destacando-se dentreestes os norte-americanos (18%); se-guidos pelos portugueses, alemes,franceses, italianos, ingleses, japone-ses e argentinos, com uma partici-pao mdia de 8% respectivamen-te. O tempo de cobertura pela televi-so atingiu 272 horas, das quais 56%locais, 24% nacionais e 44% inter-nacionais. Registre-se que estes n-

    meros so ligeiramente inferiores aosde 2002 e 2001 quando se atingiu amarca de 275 horas.

    A tabela seguinte, informa que157.022 empregos foram criados noperodo da folia momesca. Dessesdados foram excludos os funcion-rios pblicos estaduais e municipaismobilizados para trabalhar na fes-ta, (26.860, ou seja, 15%), pois se ima-gina ser esta uma mo de obra fixaque continuar existindo indepen-dente da realizao do carnaval. Aose estabelecer a comparao dos n-meros do perodo de 1998/2003conclui-se que ocorreu um acrsci-mo liquido de 67% no nmero de ocu-paes geradas pelo carnaval baia-

  • 69Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BARDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    no. Observa-se, ainda que a mo-de-obra no qualificada e de baixo n-vel de instruo18 a predominantenas ocupaes da festa com umaparticipao de 52,84% (cordeiros(41,91%); seguranas de blocos(9,20%); seguranas e pessoal de lim-peza particulares (1,31%) e guarda-dores (0.42%). Os microcomerciantes(barraqueiros, ambulantes e baianasde acaraj) participam com 34,39%.Estes dois grandes grupos somadostotalizam 87,23% das pessoas quetrabalham nos festejos. A mo-de-obra qualificada (excludos da con-ta os servidores pblicos) deve com-preender a participao restante comdestaque para o segmento dos artis-tas (4,46%); pessoal tcnico de ilu-minao (1,26%); tcnicos de som(0,76%); motoristas (0,24%); pessoalde montadoras (0,71%); pessoal dedecorao (0,37%); pessoal de con-feces e brindes (0,67%) corretoresde imveis (0,20%) e o pessoal deimprensa (1,56%) que no conjuntototaliza 10,23%.

    Segundo os dados da Emtursaforam consumidos ao longo da festa14,4 milhes de litros de cerveja e derefrigerantes alm de 8,9 milhes delitros de gua mineral. Os turistasnormalmente gastam mais que a po-pulao local. Os que despenderammais de R$ 100,00 totalizam 12,1%contra 4,3% dos residentes. A pre-dominncia dos gastos para os tu-ristas situou-se entre R$ 31,00 e R$50,00 (28,4%) enquanto os residen-tes posicionaram-se na faixa deR$11,00 a R$20,00 (22,6%).

    As observaes resultantes destapesquisa indicam a necessidade daadoo de medidas que possibilitemuma maior desconcentrao da ren-da gerada pelo evento, de forma apermitir que o carnaval venha a seconstituir tambm numa alternativagenuna de subsistncia dos estra-tos de baixa-renda que so maioriana cidade, transitam preponderan-

    temente na informalidade, e so es-magadoramente constitudos pelapopulao negra.

    Como demonstram as estatsticasoficiais, o carnaval baiano transfor-ma-se cada vez mais num mega-em-preendimento capitalista, onde aschances de gerao de micro e pe-quenos negcios esto sendo grada-tivamente eliminadas pela maiorcapacidade de articulao e competi-tividade de diversos grupos de inte-resse internos e externos festa.

    Ao observar-se os rumos que as-sume este evento eminentementepopular pode-se perceber o conside-rvel crescimento ( e uma tendnciaoligoplica) de uma elite artstica,associada indstria do entreteni-mento que, utilizando um discursoracial de apologia aos negros, na re-alidade apenas os manipula paraatender ao seus projetos de acumu-lao. E, neste plano, estimuladapelo poder pblico (principalmentepor aqueles interesses vinculados mdia, notadamente televisiva) que,por conta de um processo organiza-cional dos palcos da cidade, vai tor-nando, gradativamente, mais difcila explorao da folia pelo pequenonegociante do carnaval, pelos peque-nos blocos, pelos vendedores ambu-lantes etc. Isto confirmado pelosdados aqui apresentados.

    A anlise deste fenmeno se en-quadra com perfeio na hiptesebsica de Singer (1980) de que tantoo progresso como a misria so pro-dutos do mesmo processo, que con-siste na penetrao e na expansodo capitalismo num meio em quepredominavam outros modos deproduo. Trata-se de um processode transformao estrutural, queevolui ao longo do tempo.O capitalpenetra em determinados ramos deatividade em que possui maioresvantagens em relao ao modo deproduo preexistente, revolucio-nando os mtodos de produo eintroduzindo outras relaes de pro-

    Tabela 2 Carnaval de Salvador Gerao de empregos temporrios, 2003

    (*) Foram excludos 26.860 funcionrios pblicos estaduais e municipais mobilizados para trabalhar nafesta por constiturem emprego permanente.

    (**) Mo de obra no qualificada que contratada para formar o cordo de isolamento que demarca oespao ocupado exclusivamente pelos membros dos blocos.Fonte: Emtursa.

    CATEGORIA PROFISSIONAL*

    Artistas .............................................................................................................Pessoal e tcnicos de iluminao ................................................................Tcnicos de Som .............................................................................................Cordeiros** .....................................................................................................Seguranas de Blocos ....................................................................................Seguranas e pessoal de limpeza particulares .........................................Recepcionistas e garons (Camarotes/Hotis) ........................................Motoristas .......................................................................................................Guardadores ...................................................................................................Barraqueiros,Ambulantes,Baianas de acaraj ..........................................Pessoal de montadoras .................................................................................Pessoal de decorao .....................................................................................Pessoal de confeces e brindes ..................................................................Pessoal de alimentao e comercializao de bebidas em blocos .......Pessoal temporrio contratado por hotis ...............................................Corretores de imveis para aluguel ..........................................................Pessoal de imprensa credenciado ...............................................................Outras funes ................................................................................................

    TOTAL ..............................................................................................................

    Quant. (%)

    7.0001.9761.200

    65.80014.450

    2.050880380665

    54.0051.120

    5801.050

    7501.280

    3202.4461.070

    157.022

    18 Trata-se de uma inferncia baseada na tradio. Sabe-se que diante da recesso e do desem-prego vigentes, registra-se nmero considervel de pessoal com nvel universitrio trabalhan-do no comrcio ambulante, por exemplo.

  • 70 Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BA RDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    duo. Ou ento, ele surge mediantea implantao de atividades novas,que s ele capaz de suscitar. Cria-se, ento, um inter-relacionamentodinmico entre o segmento capita-lista e os outros modos de produoque so postos disposio do capi-tal, transformando-se, por exemplo,em reservatrio de mo-de-obra.

    Concluso

    A pesquisa sobre a economiacultural de Salvador (ver Fig. 1),onde o carnaval, abordado nesteartigo constitui apenas um dos oitosegmentos estudados19 constatou,como se presumia, a complexidadedesse setor que deve ser objeto deestudos mais aprofundados. Naexecuo desse trabalho, torna-senecessria a utilizao de instru-

    mentos especficos da metodologiada pesquisa qualitativa, entre asquais se destaca a pesquisa partici-pante, visto que vrios segmentosdo objeto de estudo no se adaptama aplicao de questionrios oumesmo entrevistas estruturadas.

    Os segmentos pesquisados tran-sitam entre a formalidade e a infor-malidade. Entre empreendimentosde grande a pequeno e microportes.No existe como formular-se umapoltica uniforme para o setor. Umprograma de fomento economiacultural na cidade do Salvador de-ver assumir contornos multifaceta-dos compostos por projetos que aten-tem para os seguintes princpios:respeitem a cultura especfica do seg-mento estudado, nunca procurando

    impor modelos exgenos de organi-zao empresarial quando na pre-sena de comportamentos arraiga-dos da comunidade; preocupem-secom a preservao da pureza tradi-cional do segmento estudado, evi-tando a introduo de modernida-des que possam prostitu-lo e, con-seqentemente, eliminar o seu valorintrnseco que constitui um patrim-nio; aceitem o status quo informal, oque implica admitir que, se forem for-malizadas, determinadas atividadespodero desaparecer, dado que suaslideranas atingiram o limite de suascompetncias e que for-las a mi-grar para novos patamares consisteem conden-las a uma situao piordo que a anterior; exercitem a criativi-dade na construo de modelos in-

    19 Foram estudados tambm o candombl, o artesanato, a culinria, a moda tnica, a indstriafonogrfica, a produo de instrumentos musicais de percusso e a indstria editorial.

    Figura 1 Cadeia produtiva da economia cultural de Salvador (modelo preliminar para discusso).Fonte: Criao Noelio Dantasl Spinola.

  • 71Ano VI N 9 Janeiro de 2004 Salvador, BARDE REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    ditos e ajustados realidade estu-dada, despidos da preocupao mo-nocrdia que consiste na usual c-pia medocre dos modelos organi-zacionais ditados pela cultura anglo-saxnica; criem mecanismos e alter-nativas que efetivamente garantamespaos para os pequenos e que pos-sibilitem uma efetiva democratiza-o na gerao da renda, notada-mente no Carnaval; promovam umacompreenso no fiscalista de queperseguir camels, alm de desuma-no, constitui uma insanidade polti-ca e econmica e, por fim, assumamque no existe desenvolvimento ape-nas sob a tica capitalista da acumu-lao e que existem outras lgicaseconmico-culturais que podem so-breviver, mesmo num mundo globa-lizado, e que entend-las e proteg-las constitui um desafio.

    O Carnaval, no estgio em que seencontra, produto de uma polticaneoliberal, desenvolvida pela Prefei-tura Municipal do Salvador PMS,atravs da Emtursa, notadamente nosltimos anos. A PMS, centrou seusesforos em preparar o palco (a cida-de e seus circuitos), desobstru-lo etorn-lo mais funcional para que apopulao local e externa pudessebrincar confortavelmente ao longodos seis dias de festas. Criadas ascondies, prosperou uma indstriaque fatura milhes de reais e surgiuuma nova classe, a do artista - em-presrio que acumula fortunas.Como demonstrado neste artigo, exis-tem distores a corrigir. Por exem-plo: a acelerada concentrao da ren-da em poder de um pequeno grupo,que j assume caractersticas oligo-polsticas (da para a formao decartis um passo), eliminando aschances competitivas dos pequenosempresrios, e a reduo do espaoda festa para os folies pipocas queconstituem, ainda, e provavelmentepor muito tempo, parcela majoritriado pblico brincante.

    A expanso de novos negcios apartir do Carnaval dever ser funoda expanso do pblico consumi-dor.20 As empresas eminentemente

    locais como a fonogrfica, a de con-feces, comidas, gelo, etc. j atendemsatisfatoriamente demanda atual ecada vez mais substituem as impor-taes de insumos de outros estados.

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    20 Segundo os dados disponveis para o Carnaval de 2004, a quantidade de participantesna festa continua estacionada nos mesmos nmeros de 2003, no ocorrendo acrsci-mos significativos.

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