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Número 143 Novembro 2013 Encontro em Aparecida

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Número 143 Novembro 2013

Encontro em Aparecida

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“Santa Cecília”Igreja de Santa Maria,Kitchener (Canadá)

ara mim, é glorioso e desejável sofrer todos

os tormentos para confessar a Jesus Cristo, pois nunca tive o menor apego a esta vida. Mas compadeço-me de vós, que pareceis estar ainda na juven-tude, pela desgraça de vos en-contrardes às ordens de um juiz tão cheio de injustiça. [...]

“Morrer por Cristo não é sacri-ficar a própria juventude, mas renová-la; é dar um pouco de barro para receber ouro; trocar uma morada estreita e vil por um palácio magnífico; oferecer algo perecível e receber em tro-ca um bem imortal”.

(Da Vida de Santa Cecília, pelos Petits Bollandistes)

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Pináculo de pedra, auge de amor

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50

Os santos de cada dia

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48

História para crianças... Nunca se ouviu dizer...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46

Aconteceu na Igreja e no mundo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40

A palavra dos Pastores – Batismo e Reconciliação

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38

São Martinho de Porres – “Martinho da Caridade”

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

Arautos no mundo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26

A virtude da Obediência – Jesus Se oculta nos superiores

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20

Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira – O calor dessa bondade

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18

Comentário ao Evangelho –A festa dos irmãos celestes

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10

A voz do Papa – Recomeçar de Cristo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6

“Sístole-diástole” (Editorial) . . . . . . . . . . . . . 5

Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

SumáriORevista mensal dos

Associação privada internacional de fiéis de direito pontifício

Ano XII, nº 143, Novembro 2013

ISSN 1982-3193

Publicada por: Associação Arautos do Evangelho do Brasil

CNPJ: 03.988.329/0001-09 www.arautos.org.br

Diretor Responsável: Pe. Pedro Paulo de Figueiredo, EP

Conselho de Redação: Guy Gabriel de Ridder; Ir. Juliane Vasconcelos

A. Campos, EP; Luis Alberto Blanco Cortés; M. Mariana Morazzani Arráiz, EP;

Severiano Antonio de Oliveira

Administração Rua Bento Arruda, 89

02460-100 - São Paulo - SP [email protected]

Assinatura Anual:Comum R$ 117,00Colaborador R$ 225,00Benfeitor R$ 350,00Patrocinador R$ 480,00Exemplar avulso R$ 10,20

Assinatura por internet: www.revista.arautos.org.br

Serviço de atendimento ao aSSinante: (11) 2971-9050

(nos dias úteis, de 8 a 17:00h)Montagem:

Equipe de artes gráficas dos Arautos do Evangelho

Impressão e acabamento: Divisão Gráfica da Editora Abril S/A.

Av. Otaviano Alves de Lima, 4.400 - 02909-900 - SP

A revista Arautos do Evangelho é impresa em papel

certificado FSC, produzido a partir de fontes responsáveis

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4      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

EscrEvEm os lEitorEs

Maria criou Muita união entre nós

A visita de Nossa Senhora à nos-sa comunidade paroquial, de 13 a 16 de junho passado, foi uma ocasião especial para redescobrir nossa de-voção à Mãe de Deus. Pudemos no-tar como Maria criou muita união nos dias em que esteve presente en-tre nós. O que mais marcou o cora-ção de todos foi o encontro pessoal com a imagem de Nossa Senhora, na igreja, bem como a visita aos doen-tes, que deixou neles muita consola-ção e aceitação da enfermidade co-mo meio para se aproximarem mais do Senhor.

O belo testemunho dos Arau-tos, a capacidade de compreender as várias vicissitudes de cada um e sua alegria ao oferecer a todos os ir-mãos e irmãs uma palavra, um ges-to de caridade, deixaram entre todos um caminho aberto para uma mis-são mais unida. Minha comunidade entrega a Nossa Senhora este dese-jo, na certeza de que o Senhor com-pletará a obra que aqui iniciou.

Muito obrigado, de minha parte e de toda a comunidade.

Pe. Francesco ZumpanoParóquia SS. Salvatore

Castrolibero – Itália

contos repletos de ensinaMentos

O que mais me atrai na Revista é a seção História para crianças... ou adul-tos cheios de fé? Na verdade, são con-tos muito bem ilustrados, repletos de ensinamentos que nos fazem progre-dir na vida espiritual. Temos muitas esperanças de que Nossa Senhora nos ajude a ter nossa capela e os Arautos novamente em nossa cidade.

Martha de ZambranaSanta Cruz de la Sierra – Bolívia

Missão evangelizadora eM ruanda

Quero agradecer-lhes por me te-rem enviado sua bela Revista de es-piritualidade. Tocou-me muitíssimo o artigo sobre a missão evangeliza-dora dos Arautos em Ruanda. Que a Virgem Maria — Nyina wa Jambo — os cumule de graças, bem como a todos os seus leitores.

Pe. Leo Panhuysen, SDBButare – Ruanda

leMos e MeditaMos

Estamos muito satisfeitas com nossa assinatura, pois recebemos o primeiro exemplar da revista Arau-tos do Evangelho em agosto passado. Lemos e meditamos todos os ótimos artigos ali contidos. Cada página nos traz lindos e profundos ensinamen-tos e, às vezes, é impossível segurar as lágrimas. A missão dos Arautos é encantadora, um verdadeiro teste-munho de Fé e um grande incentivo para todos nós.

Vivien RissatoLondrina – PR

ForMativa e inForMativa

Sempre espero com gosto e ale-gria a chegada da estupenda revista Arautos do Evangelho. É a mais for-mativa e informativa publicação so-bre distintos aspectos que conheço, da Igreja. Seus artigos encerram uma grande pedagogia cristã, que fortale-ce o coração de todo bom cristão que se preze. Ela é atual, profunda, agra-dável e muito bem estruturada. Mui-tíssimo obrigado por seu envio. Que sua difusão seja instrumento para a nova evangelização da Igreja.

José Cascales AlbarracínMúrcia – Espanha

doutrina católica de ForMa proFunda e acessível

Estamos na era dos mais avança-dos meios de comunicação. Contudo,

são escassos aqueles que nos trans-mitem verdadeiros ensinamentos e a boa doutrina. Entre estes se encontra a revista Arautos do Evangelho, que nos oferece a doutrina católica de forma profunda e acessível a todos. E isso, além de aumentar nosso conhe-cimento, faz crescer nosso amor pe-los santos mistérios de nossa Igreja.

Tatiana Carvalho ReisMontes Claros – MG

Manter a união coM a igreja

Quero deixar aqui meu reconhe-cido agradecimento pelo Divino Espírito Santo ter suscitado a obra dos Arautos do Evangelho, que contém diversos elementos que nos auxiliam a crescer na fé e a buscar uma acertada formação, com des-taque para a publicação desta Re-vista, a qual devemos não só ler, mas divulgar.

Busco em primeiro lugar o Co-mentário ao Evangelho, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, e de-pois as atividades dos Arautos no Mundo, porque Mons. João forma e os Arautos demonstram, exempli-ficam, dão o testemunho e o norte por onde se deve seguir para manter a união com a Igreja. Creio ser esta Revista o melhor, de mais fácil aces-so e mais coerente veículo de comu-nicação católico de nossos dias, de-vido à desinformação reinante.

Janel C. FerreiraSão Paulo – SP

revista evangelizadora

Aqui todos os assuntos aborda-dos me atraem, sobretudo o exem-plo da vida dos Santos e o testemu-nho do trabalho dos Arautos, que es-tá chegando a inúmeros países e le-vando tantas pessoas a se consagra-rem a Nossa Senhora. Muito obriga-da por esta Revista evangelizadora.

Vilma Vieira BorgesSalvador – BA

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Número 143

Novembro 2013

Encontro

em Aparecida

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“SíStole-diáStole”

Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      5

Editorial

pós o retumbante milagre da primeira multiplicação dos pães, Jesus des-pediu as multidões e “subiu à montanha, a sós, para orar” (Mt 14, 23). O Homem-Deus com frequência Se retirava a fim de mais especialmente

estar com o Pai. Grande lição dada àqueles que propendem à atividade febril, es-quecendo-se do sobrenatural, ou a um isolamento na contemplação, olvidando-se da ação. Ser Marta ou Maria, eis o equívoco. Pois a perfeição — da qual Nosso Se-nhor nos dá inigualável exemplo — está em ter o zelo operativo de Marta sem dei-xar de ter as vistas e o coração postos no sobrenatural, como Maria.

Bem acentuou esta verdade o Papa Francisco, em discurso de 27 de setem-bro, no qual conclamou os catequistas a imitarem Cristo, tendo a coragem de sair de si, de ir às periferias físicas ou espirituais, como a das crianças que não sabem sequer fazer o Sinal da Cruz, na certeza de lá encontrar Jesus em cada pessoa necessitada.

No intuito de, segundo as palavras do Pontífice, viver nesse “movimento de sístole-diástole”, os Arautos do Evangelho sempre procuram essa feliz harmo-nia entre o denodado apostolado externo e a contemplação regada por inten-sa vida de piedade. Em tudo visam eles o bem das almas e a glória de Deus, quer, de um lado, nas adorações ao Santíssimo Sacramento, em que cada qual se sente olhado com amor por Jesus, no canto da Liturgia das Horas, na par-ticipação diária na Eucaristia, nos empenhados estudos da doutrina católica, quer, de outro, na busca das ovelhas desgarradas onde estas estiverem, sobre-tudo os jovens tão necessitados de luz.

Pelo exemplo e pela palavra, empenham-se os Arautos do Evangelho em levar o bom odor de Cristo a favelas, orfanatos, asilos de idosos, hospitais, ofe-recendo ao irmão que sofre uma ajuda material, um olhar de carinho e um es-tímulo à Fé. E vários sacerdotes Arautos têm como missão prioritária o aten-dimento aos doentes em estado grave, administrando-lhes os Sacramentos e consolando-os com uma palavra de confiança, de que tanto necessitam ao se aproximarem dos umbrais da eternidade.

Nas Missões Marianas, caravanas de Arautos, de comum acordo com os pá-rocos, percorrem as ruas da paróquia, levando de casa em casa, incluindo esta-belecimentos comerciais, a imagem do Imaculado Coração de Maria. É verda-deiramente a Mãe que vai à procura dos filhos pródigos. E, tocados pela gra-ça, quantos retornam à casa paterna!

Insere-se nesse contexto a abençoada V Peregrinação Nacional a Apareci-da, promovida pelo Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações, uma iniciativa dos Arautos do Evangelho, realizada no dia 14 de setembro. Num ambiente de muita piedade e alegria, 11 mil participantes lotaram a grandiosa Basílica, onde puderam depositar seus pedidos aos pés da Virgem Mãe Apare-cida e agradecer-Lhe os incontáveis favores recebidos em situações por vezes críticas. “Este foi o dia mais feliz da minha vida!”, era a exclamação de muitos peregrinos, exultantes por terem saído de si e manifestado sua Fé. ²

Arautos do setor feminino condu-zem a imagem de Nossa Senhora Aparecida ao al-tar-mor do Santuá-rio durante a V Pe-regrinação Nacio-nal do Apostolado do Oratório

Foto: Leandro Souza

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Recomeçar de Cristo

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6      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

A voz do PAPA

O catequista tem a maravilhosa missão de educar na Fé, e deve exercê-la recomeçando de Cristo. Mas o que significa “recomeçar de Cristo”?

osto de que haja, no Ano da Fé, este encontro para vós: a catequese constitui uma co-luna para a educação da Fé,

e são precisos bons catequistas! Obri-gado por este serviço à Igreja e na Igreja.

Ser catequista requer um amor cada vez mais forte a Cristo

Embora possa às vezes ser difí-cil — trabalha-se tanto, empenha-se e não se veem os resultados deseja-dos —, educar na Fé é maravilhoso! É talvez a melhor herança que pos-samos dar a alguém: a Fé! Educar na Fé, para que essa pessoa cresça. Ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos a conhecerem e amarem cada vez mais o Senhor é uma das mais belas aventuras edu-cativas; está-se a construir a Igreja!

Ser catequista! Não trabalhar como catequista: isso não adianta! Trabalho como catequista, porque gosto de en-sinar… Se, porém, tu não és catequis-ta, não adianta! Não serás fecundo, não serás fecunda! Catequista é uma vocação. Ser catequista: esta é a voca-ção; não trabalhar como catequista. Atenção que eu não disse fazer o cate-quista, mas sê-lo, porque comprome-te a vida: guia-se para o encontro com Cristo, através das palavras e da vida, através do testemunho.

Lembrai-vos daquilo que nos dis-se Bento XVI: “A Igreja não cresce

por proselitismo. Cresce por atra-ção”. E aquilo que atrai é o testemu-nho. Ser catequista significa dar tes-temunho da Fé; ser coerente na pró-pria vida. E isto não é fácil. Não é fácil! Nós ajudamos, guiamos pa-ra chegarem ao encontro com Jesus através das palavras e da vida, atra-vés do testemunho.

Gosto de recordar aquilo que São Francisco de Assis dizia aos seus con-frades: “Pregai sempre o Evangelho e, se for necessário, também com as palavras”. As palavras têm o seu lu-gar… mas primeiro o testemunho: que as pessoas vejam na nossa vida o Evangelho, possam ler o Evangelho. E ser catequista requer amor: amor cada vez mais forte a Cristo, amor ao seu povo santo. E este amor não se compra nas lojas, nem se compra se-quer aqui em Roma. Este amor vem de Cristo! É um presente de Cristo! É um presente de Cristo! E se vem de Cristo, parte de Cristo; e nós de-vemos recomeçar de Cristo, deste amor que Ele nos dá.

Para um catequista, para vós e para mim, porque também eu sou catequista, que significa este reco-meçar de Cristo? Que significa?

Se estivermos unidos a Ele, poderemos dar fruto

Eu vou falar de três pontos: um, dois e três, como faziam os antigos jesuítas… um, dois e três!

Antes de tudo, recomeçar de Cris-to significa cultivar a familiaridade com Ele, ter esta familiaridade com Jesus: Jesus recomenda-o, com insis-tência, aos discípulos na Última Ceia, quando Se prepara para viver o dom mais sublime de amor, o sacrifício da Cruz. Recorrendo à imagem da vi-deira e dos ramos, Jesus diz: perma-necei no meu amor, permanecei liga-dos a Mim, como o ramo está ligado à videira. Se estivermos unidos a Ele, podemos dar fruto, e esta é a fami-liaridade com Cristo. É permanecer em Jesus! Permanecer ligados a Ele, dentro d’Ele, com Ele, falando com Ele: permanecer em Jesus.

A primeira coisa necessária para um discípulo é estar com o Mestre, ouvi-Lo, aprender d’Ele. E isto é sem-pre válido, é um caminho que dura a vida inteira! Recordo que, na dioce-se (na outra diocese que tinha antes), via muitas vezes, no fim dos cursos no seminário catequético, os catequistas saírem dizendo: “Tenho o título de ca-tequista!”. Isso não adianta, não tens nada, fizeste apenas um bocado de es-trada! Quem te ajudará? Isto sim, que vale sempre! Não um título, mas um procedimento: estar com Ele; e du-ra toda a vida! É estar na presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele.

Deixas-te olhar pelo Senhor?

Pergunto-vos: Como estais na presença do Senhor? Quando ides

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ter com o Senhor, enquanto olhais o Sacrário, que fazeis? Sem pala-vras… Mas eu falo, falo, penso, medito, ouço… Muito bem! Mas tu… deixas-te olhar pelo Senhor? Sim, deixar-se olhar pelo Senhor. Ele olha-nos, e esta é uma manei-ra de rezar. Deixas-te olhar pelo Senhor? Mas, como se faz? Olhas para o Sacrário e deixas-te olhar… é simples! É um pouco maçador, adormeço… Se adormeceres, ador-meces! Ele olhar-te-á igualmen-te, olhar-te-á igualmente. Mas, te-res a certeza de que Ele te olha é muito mais importante do que o tí-tulo de catequista: faz parte do ser catequista. Isto inflama o coração, mantém aceso o fogo da amizade com o Senhor, faz-te sentir que Ele verdadeiramente olha para ti, está perto de ti e te ama.

Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma Mis-sa, aproximou-se um senhor, rela-tivamente jovem, e disse-me: “Pa-dre, prazer em conhecê-lo; mas eu não acredito em nada! Não tenho o dom da Fé!”. Ele entendia que a Fé era um dom. “Não tenho o dom da

Fé! Que me recomenda o senhor?”. “Não desanimes! Deus ama-te. Dei-xa-te olhar por Ele. E basta”. O mesmo vos digo a vós: Deixai-vos olhar pelo Senhor!

Compreendo que, para vós, não é tão simples: especialmente para quem é casado e tem filhos, é difícil encontrar um tempo longo de tran-quilidade. Mas, graças a Deus, não é necessário que todos façam da mes-ma maneira; na Igreja, há variedade de vocações e variedade de formas espirituais; o importante é encon-trar o modo adequado para estar com o Senhor; e isto pode aconte-cer, é possível em todos os estados de vida. Neste momento, cada um pode interrogar-se: Como é que eu vivo este estar com Jesus?

Esta é uma pergunta que vos dei-xo: “Como é que eu vivo este estar com Jesus, este permanecer em Je-sus?”. Tenho momentos em que per-maneço na sua presença, em silên-cio, e me deixo olhar por Ele? Dei-xo que o seu fogo inflame o meu co-ração? Se, no nosso coração, não há o calor de Deus, do seu amor, da sua ternura, como podemos nós, pobres

pecadores, inflamar o coração dos outros? Pensai nisto!

União com Jesus e encontro com o outro

O segundo elemento é este — dois — recomeçar de Cristo signi-fica imitá-Lo na saída de Si mesmo para ir ao encontro do outro. Trata--se de uma experiência maravilho-sa, embora um pouco paradoxal. Por quê? Porque, quem coloca Cristo no centro da sua vida, descentraliza-se! Quanto mais te unes a Jesus e Ele Se torna o centro da tua vida, tan-to mais Ele te faz sair de ti mesmo, te descentraliza e abre aos outros. Este é o verdadeiro dinamismo do amor, este é o movimento do pró-prio Deus!

Sem deixar de ser o centro, Deus é sempre dom de Si, relação, vida que se comunica... E assim nos tor-namos também nós, se permane-cermos unidos a Cristo, porque Ele faz-nos entrar neste dinamismo do amor. Onde há verdadeira vida em Cristo, há abertura ao outro, há sa-ída de si mesmo para ir ao encon-tro do outro no nome de Cristo. E

“Pregai sempre o Evangelho e, se for necessário, também com as palavras”. As palavras têm o seu lugar… mas primeiro o testemunho.

Acima e nas páginas seguintes: Diversos aspectos da Audiência concedida na Sala Paulo VI aos catequistas vindos a Roma em peregrinação por ocasião do Ano da Fé e do Congresso Internacional de Catequese, 27/9/2013

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o trabalho do catequista é este: por amor, sair continuamente de si mes-mo para testemunhar Jesus e falar de Jesus, anunciar Jesus. Isto é im-portante, porque é obra do Senhor: é precisamente o Senhor que nos impele a sair.

O coração do catequista vive sempre este movimento de “sísto-le-diástole”: união com Jesus — en-contro com o outro. Existem as du-as coisas: eu uno-me a Jesus e saio ao encontro dos outros. Se falta um destes dois movimentos, o coração deixa de bater, não pode viver. Re-cebe em dom o querigma e, por sua vez, oferece-o em dom. Importante esta palavrinha: dom! O catequista está consciente de que recebeu um dom: o dom da fé; e dela faz dom aos outros. Isto é maravilhoso!

E não reserva uma percentagem para si! Tudo aquilo que recebe, dá--o. Aqui não se trata de um negó-cio! Não é um negócio! É puro dom: dom recebido e dom transmitido. E o catequista está ali, nesta encruzi-lhada de dom. Isto está na própria natureza do querigma: é um dom que gera missão, que impele sempre para além de si mesmo. São Paulo dizia: “O amor de Cristo nos impe-le”; mas esta expressão “nos impele”

também se pode traduzir por “nos possui”.

É assim o amor: atrai-te e envia--te, toma-te e dá-te aos outros. É nesta tensão que se move o coração do cristão, especialmente o coração do catequista. Perguntemo-nos, to-dos: É assim que bate o meu cora-ção de catequista: união com Jesus e encontro com o outro? Com es-te movimento de “sístole-diástole”? Alimenta-se na relação com Ele, mas para O levar aos outros e não para O reter? Eis o que vos digo: não compreendo como possa um ca-tequista ficar parado, sem este mo-vimento. Não compreendo!

Não ter medo de ir com o Senhor às periferias

E o terceiro elemento — três — situa-se também nesta linha: reco-meçar de Cristo significa não ter medo de ir com Ele para as perife-rias. Isto traz-me à mente a histó-ria de Jonas, uma figura muito inte-ressante, especialmente nos nossos tempos de mudanças e incerteza.

Jonas é um homem piedoso, com uma vida tranquila e bem ordena-da; isto leva-o a ter bem claros os seus esquemas e a julgar rigida-mente tudo e todos segundo esses

esquemas. Vê tudo claro, a verda-de é esta. É rígido! Por isso, quando o Senhor o chama e lhe diz para ir pregar à grande cidade pagã de Ní-nive, Jonas não quer. “Ir lá! Mas eu tenho toda a verdade aqui!”. Não quer ir… Nínive está fora dos seus esquemas, está na periferia do seu mundo. Então escapa, vai para a Espanha, foge, embarca num na-vio que vai para aqueles lados. Ide ler o Livro de Jonas! É breve, mas é uma parábola muito instrutiva, es-pecialmente para nós que estamos na Igreja.

Que nos ensina? Ensina-nos a não ter medo de sair dos nossos es-quemas para seguir a Deus, porque Deus vai sempre mais além. Sabeis uma coisa? Deus não tem medo! Sa-bíeis isto?! Não tem medo! Ultra-passa sempre os nossos esquemas! Deus não tem medo das periferias. Se fordes às periferias, encontrá-Lo--eis lá. Deus é sempre fiel, é criativo. Mas, por favor, não se compreen-de um catequista que não seja cria-tivo. A criatividade é como que a co-luna do ser catequista. Deus é cria-tivo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido! Acolhe--nos, vem ao nosso encontro, com-preende-nos.

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O coração do catequista vive sempre este movimento de “sístole-diástole”: união com Jesus — encontro com o outro

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Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va

Para sermos fiéis, para ser-mos criativos, é preciso saber mu-dar. Saber mudar. E por que de-vo mudar? É para me adequar às circunstâncias em que devo anun-ciar o Evangelho. Para permane-cermos com Deus, é preciso sa-ber sair, não ter medo de sair. Se um catequista se deixa tomar pe-lo medo, é um covarde; se um ca-tequista se fecha tranquilo, acaba por ser uma estátua de museu: e temos muitos! Temos muitos! Por favor, estátuas de museu, não! Se um catequista é rígido, torna-se encarquilhado e estéril.

Pergunto-vos: Alguém de vós quer ser covarde, estátua de mu-seu ou estéril? Algum de vós tem vontade de o ser? [Catequistas: Não!] Não? Têm certeza?… Está bem! Aquilo que vou dizer ago-ra, já o disse muitas vezes; mas sinto no coração que o devo di-zer. Quando nós, cristãos, estamos fechados no nosso grupo, no nosso movimento, na nossa paróquia, no nosso ambiente, permanecemos fe-chados; e acontece-nos o que suce-de a tudo aquilo que está fechado: quando um quarto está fechado, co-meça a cheirar a mofo. E se uma pessoa está fechada naquele quar-to, adoece!

Quando um cristão está fechado no seu grupo, na sua paróquia, no seu movimento, está fechado, adoe-ce. Se um cristão sai pelas estradas, vai às periferias, pode acontecer--lhe o mesmo que a qualquer pes-soa que anda na estrada: um aciden-te. Quantas vezes vimos acidentes “estradais”! Mas eu digo-vos: pre-firo mil vezes uma Igreja acidenta-da a uma Igreja doente! Prefiro uma Igreja, um catequista que corra co-rajosamente o risco de sair, a um ca-tequista que estude, saiba tudo, mas

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Vós sabeis uma das periferias que me faz doer? É a das crianças que não

sabem fazer o Sinal da Cruz

sempre fechado: este está doente. E às vezes está doente da cabeça…

Jesus nos precede na evangelização

Atenção, porém! Jesus não diz: “Ide, arranjai-vos”. Não, não diz is-so! Jesus diz: Ide, “Eu estou con-vosco!”. Nisto está o nosso encan-to e a nossa força: se formos, se sair-mos para levar o seu Evangelho com amor, com verdadeiro espírito apos-tólico, com franqueza, Ele caminha conosco, precede-nos, — digo-o em espanhol — nos primerea.

O Senhor sempre nos primerea! Decerto já aprendestes o significado desta palavra! E isto é a Bíblia que o diz, não eu. A Bíblia diz, ou melhor, o Senhor diz na Bíblia: Eu sou como a flor da amendoeira. Por quê? Por-que é a primeira flor que desabro-cha na primavera.

Ele é sempre o primero! Ele é o primeiro! Para nós, isto é funda-

mental: Deus sempre nos prece-de! Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma perife-ria extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas, na realida-de, Ele já está lá: Jesus espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimi-da, na sua alma sem fé. Vós sa-beis uma das periferias que me faz tão mal, tão mal que me faz doer (senti-o na diocese que tinha antes)? É a das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Em Buenos Aires, há muitas crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz. Esta é uma periferia! É pre-ciso ir lá! E Jesus está lá, espera por ti para ajudares aquela crian-ça a fazer o Sinal da Cruz. Ele sempre nos precede.

Amados catequistas, acaba-ram-se os três pontos. Recomeçar sempre de Cristo! Agradeço-vos

pelo que fazeis, mas sobretudo por-que estais na Igreja, no povo de Deus em caminho, porque caminhais com o povo de Deus. Permaneçamos com Cristo — permanecer em Cristo —, procuremos cada vez mais ser um só com Ele; sigamo-Lo, imitemo-Lo no seu movimento de amor, no seu sair ao encontro do homem; e saiamos, abramos as portas, tenhamos a au-dácia de traçar estradas novas para o anúncio do Evangelho.

Que o Senhor vos abençoe e Nos-sa Senhora vos acompanhe! Obriga-do!

Maria é nossa Mãe; Maria, sem-pre, nos leva a Jesus! Elevemos uma oração, uns pelos outros, a Nossa Senhora.

Discurso aos catequistas vindos a Roma em peregrinação por ocasião do Ano da Fé e do Congresso Inter-

nacional de Catequese, 27/9/2013

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10      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

“Naquele tempo, 1 vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-Se. Os discípulos aproximaram-se, 2 e Jesus começou a ensiná--los: 3 ‘Bem-aventurados os pobres em espíri-to, porque deles é o Reino dos Céus. 4 Bem--aventurados os aflitos, porque serão conso-lados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão sa-ciados. 7 Bem-aventurados os misericordio-sos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-

-aventurados os puros de coração, porque ve-rão a Deus. 9 Bem-aventurados os que pro-movem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os que são per-seguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de Mim. 12a Alegrai-vos e exul-tai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus’” (Mt 5, 1-12a).

“Os Bem-aventurados celestes”, detalhe de “O Juízo Final”, por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença (Itália)

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A festa dos irmãos celestes

Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      11

Comentário ao evangelho - Solenidade de todoS oS SantoS

Na Solenidade de Todos os Santos a Igreja nos convida a ver com esperança nossos irmãos celestes, como estímulo para percorrermos por inteiro o caminho iniciado com o Batismo e atingirmos a plena felicidade na glória da visão beatífica.

I – Os santOs, IrmãOs celestes?Na Solenidade de Todos os Santos a Igre-

ja celebra todos aqueles que já se encontram na plena posse da visão beatífica, inclusive os não canonizados. A Antífona da entrada da Missa nos faz este convite: “Alegremo-nos to-dos no Senhor, celebrando a festa de Todos os Santos”.1 Sim, alegremo-nos, porque santos são também — no sentido lato do termo — todos os que fazem parte do Corpo Místico de Cris-to: não só os que conquistaram a glória celes-te, como também os que satisfazem a pena tem-poral no Purgatório, e os que, ainda na Terra de exílio, vivem na graça de Deus. Quer estejamos neste mundo como membros da Igreja militan-te, quer no Purgatório como Igreja padecente, quer na felicidade eterna, já na Igreja triunfan-te, somos uma única e mesma Igreja. E como seus filhos temos irmandade, conforme diz São Paulo aos Efésios: “já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus” (Ef 2, 19).

Os Santos intercedem por nós e dão exemplo

É por isso que o Prefácio desta Solenida-de reza: “Festejamos, hoje, a cidade do Céu, a

Santos são todos os que fazem parte do Corpo Místico de Cristo, não só os que conquistaram a glória celeste

Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos ir-mãos, os Santos, vos cercam e cantam eterna-mente o vosso louvor. Para essa cidade cami-nhamos pressurosos, peregrinando na penum-bra da fé. Contemplamos, alegres, na vossa luz, tantos membros da Igreja, que nos dais como exemplo e intercessão”.2

Assim, caminhando “na penumbra da fé”, voltemos a atenção para os Bem-aventurados, — nossos irmãos, se vivermos na graça de Deus —, pois eles estão mais perto d’Aquele que é a Cabeça desse Corpo, Nosso Senhor Jesus Cris-to. Eles são motivo de esperança para os que padecem nas chamas do Purgatório. E para nós, que possuímos pelo Batismo o germe dessa gló-ria da qual eles já gozam, são modelo da santi-dade de vida que devemos alcançar. Todo nos-so empenho será pouco para obter que essa se-mente se transforme em árvore frondosa, no pleno desabrochar de suas flores e com abun-dância de frutos, isto é, a glória eterna, nossa meta última.

Precisamos avançar, então, rumo aos que es-tão na presença de Deus com o mesmo dese-jo com que procuraríamos nossa família, caso não a conhecêssemos, pois, entre os membros

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

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de uma família harmônica e bem constituída existe um im-bricamento, fruto da consan-guinidade, tão inquebrantável que, por exemplo, se um dos irmãos atinge uma situação de prestígio, todos os demais se regozijam. Muito maior há de ser a união daqueles que, pe-la filiação divina, pertencem à família de Deus, e maior tam-bém a alegria ao contemplar-mos nossos irmãos louvando a Deus no Céu, por todo o sem-pre, e intercedendo por nós junto a Ele.

Tais pensamentos nos dão a clave para analisar o flori-légio das leituras que a Santa Igreja separou para esta So-lenidade.

II – chamadOs a nOs reunIrmOs nO céu

A primeira leitura, do Apocalipse (7, 2-4.9-14), é cheia de beleza e, ao mesmo tempo, difícil de ser explicada com profundidade, em todos os seus simbolismos. Detenhamo-nos apenas em dois aspectos que a relacionam especialmente com esta comemoração. “Eu, João, vi um outro Anjo que subia do lado onde nasce o Sol. Ele trazia a marca do Deus vivo, e gritava, em al-ta voz, aos quatro Anjos que tinham recebido o poder de danificar a terra e o mar, dizendo-lhes: ‘Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às ár-vores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus’” (Ap 7, 2-3). Este bonito trecho deixa patente que Deus só promoverá o fim do mundo quando forem ocupados todos os lugares do Céu e a coorte dos Bem-aventurados se tenha completado. Vemos como Deus, para além das ofensas cometidas contra Ele e antes de enviar o castigo à Terra, cuida de seus San-tos, daqueles que Ele escolheu.

Logo em seguida, continua São João: “ Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: eram cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel” (Ap 7, 4). Este nú-mero dos que seguem o Cordeiro por toda par-te (cf. Ap 14, 4) é simbólico, pois a quantidade de Santos do Céu é incalculável. Ao criar o Céu

Empíreo — que, segundo São Tomás,3 foi a pri-meira criatura a sair das mãos de Deus, junto com os Anjos —, tinha Ele, desde toda a eterni-dade, o plano de povoá-lo com outros seres in-teligentes que, além dos espíritos angélicos, fos-sem partícipes da natureza divina e, portanto, sócios de sua felicidade eterna.

Eis o apelo feito a nós na Liturgia de hoje: desejar e abraçar a via da santidade para fazer parte destes cento e quarenta e quatro mil.

O predomínio do mal depois do pecado original

Ora, a partir do pecado original o homem pas-sou a se interessar de forma intemperante pe-las coisas materiais, e aos poucos se esqueceu de Deus. Estabeleceu-se na face da Terra a luta en-tre o bem e o mal, entre as volúpias da carne e o chamado de Deus à santidade, e no relaciona-mento humano entrou o mal com uma virulência extraordinária, pois este é dinâmico, enquanto o bem é apenas difusivo.4 Com efeito, se não fosse a sustentação da graça, o mal dominaria comple-tamente em nós e derrotaria o bem.

Desde o primeiro Santo, até Nosso Senhor Jesus Cristo

Isto se faz patente logo após a saída de Adão e Eva do Jardim do Éden, na história

Ao criar o Céu Empíreo, tinha Deus, desde toda a eternidade, o plano de povoá-lo com outros seres inteligentes

“Descida ao Limbo”, por Fra Angélico - detalhe do Armadio degli Argenti Convento de São Marcos, Florença (Itália).

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de seus dois primeiros descendentes, Caim e Abel. Abel era um filho da luz, reto e jus-to, cujos sacrifícios oferecidos a Deus eram aceitos com enorme benevolência (cf. Gn 4, 4). Caim, pelo contrário, nutria em sua alma o nefasto vício da inveja que, tendo chegado ao auge, levou-o a matar seu irmão, derra-mando sangue inocente. Em seguida, toma-do de amargura e depressão, em consequên-cia de seu pecado, Caim quis fugir da face do Senhor, com a ilusão característica do peca-dor que julga poder ocultar-se de Deus, as-sim como se esconde do olhar dos homens (cf. Gn 4, 8.14).

Qual não terá sido o espanto de Eva ao car-regar o cadáver de seu filho nos braços e depa-rar-se, pela primeira vez, com o efeito do peca-do cometido no Paraíso! A alma de Abel, po-rém, no instante em que se destacou do corpo foi para o Limbo dos Justos, à espera da vinda do Salvador que lhe abriria as portas do Céu. Precedendo os pais, ele encabeçou o cortejo dos Santos, daqueles que, aos poucos, constituiriam o número dos que deveriam passar desta vida à eterna bem-aventurança.

A Encarnação do Verbo trouxe ao mundo uma plêiade de Santos

Entretanto, a Encarnação do Verbo e sua presença visível entre os homens trouxe ao mundo uma plêiade de Santos: desde os már-tires inocentes, até o Bom Ladrão que, tendo implo-rado misericórdia, obte-ve dos lábios do próprio Deus o prêmio de ser per-doado e santificado: “Ho-je estarás comigo no Paraí-so” (Lc 23, 43). Quando Je-sus expirou na Cruz, sua Al-ma desceu ao Limbo, on-de, decerto, o primeiro a re-cebê-Lo foi São José, que O aguardava havia poucos anos. Mas foi no dia de sua gloriosa Ascensão que o Redentor levou consigo es-sa coorte exultante de jus-tos, introduzindo-os no Céu a fim de começar a povoá--lo. Em certo momento, com gáudio para os Bem-

-aventurados, Maria Santíssima subiu em corpo e alma, e foi coroada como Rainha do universo.

Ficaram escancaradas as portas da santidade

Ao longo dos vinte séculos de História da Igreja, as moradas eternas acolheram os márti-res, os doutores, os confessores... pois foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem abriu definitivamen-te as portas da santidade a todos os homens, com a superabundância de sua graça e sua dou-trina nova dotada de potência (cf. Lc 4, 32; Mc 1, 22).

Sinopse desta doutrina é o Sermão da Mon-tanha, cujo centro é o Evangelho escolhido para esta Solenidade: a proclamação das Bem-aven-turanças. De fato, elas são o resumo de toda a moral católica, de toda via de perfeição, de toda a prática da virtude, e se neste dia comemora-mos as miríades de Santos que habitam o Paraí-so Celeste, é porque eles realizaram em sua vida aquilo que o Divino Mestre delineia como cau-sa de bem-aventurança.

Tendo comentado este Evangelho em outras ocasiões,5 nos limitaremos agora a dar uma sín-tese dos ensinamentos nele contidos, em har-monia com a Solenidade hoje celebrada.

O contraste entre a Antiga e a Nova Lei

Em primeiro lugar, apreciemos o contraste desta cena do Sermão da Montanha com outro importante discurso da História Sagrada: a pro-

Quando Jesus expirou na Cruz, sua Alma desceu ao Limbo, onde, decerto, o primeiro a recebê-Lo foi São José

“Anunciação”, por Giusto di AlemagnaIgreja de Santa Maria do Castelo, Gênova (Itália)

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O inédito sobre os EvangelhosEditada pela Libreria Editrice Vaticana, a coleção O inédito sobre os

Evangelhos apresenta os comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, aos Evangelhos de todos os domingos e solenidades do ciclo litúrgico.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

VII

Solenidades Festas Tríduo Pascal

O inédito sobre os Evangelhos

A obra “O inédito sobre os Evangelhos” não é só exegética e pastoral, mas tem o mérito de pôr a Teo-logia ao alcance de todos, seja qual for a condição so-cial do leitor ou seu grau de formação. Porque para voar nos céus da Teologia é pre-ciso, sobretudo fé, mais do que cultura ou inteligência. É ela que nos permite pe-netrar verdades e mistérios que estão fora do alcance da compreensão humana. Para crer não é preciso ser letrado ou ter grande ca-pacidade intelectual, bas-ta abrir a alma à luz de Deus. E só na Fé católica o mundo contemporâneo poderá encontrar resposta para os grandes problemas que o perturbam. E, qui-çá, por isso, haja crescente interesse entre os fiéis em

aprofundar o conhecimen-to da Doutrina Católica.

Será este o motivo do êxito da publicação dos pri-meiros volumes desta cole-ção? Publicada em quatro línguas – inglês, espanhol, italiano e português – sua primeira edição se escoou rapidamente, atingindo a divulgação de quase setenta mil exemplares. Ela resgata do esquecimento preciosos ensinamentos dos Padres e dos Doutores da Igreja, e atende a valiosa e enfática recomendação do Concílio Vaticano II de dar primazia ao tomismo (cf. Optatam totius, n.16) no estudo dos mistérios da salvação. A obra tem encontrado gran-de aceitação entre os sacer-dotes, a quem se destina em primeiro lugar, para servir de subsídio na preparação de homilias. Mas também entre os fiéis leigos, desejo-sos de alargar seus conheci-mentos religiosos, a procura não tem sido menor.

Talvez seja este um sin-gular sintoma da situação espiritual de nossa época: a sede do divino. É esta uma sede que quanto mais se sa-cia mais cresce, sem causar angústia ou dor, mas ale-gria, para quem procura sa-ciá-la nas fontes cristalinas da Palavra de Deus.

[A obra é] “de uma grande riqueza teológica, de uma doutrina católica segura, equilibrada, que não se limita ao que poderíamos chamar de doutrina tradicional, mas vai até o Concílio Vatica-no II, sempre presente no pensamento de Mons. Scognamiglio”. [Destaca-se] “uma grande certeza de que a verdade é forte em si mesma, como afirma São Tomás de Aquino (Cf. Summa contra gentiles. L.IV, c.10). Mons. Scognamiglio crê na força da verdade, e apresenta esse pensamento de forma muito acertada, indicando, ao mesmo tempo, a alegria da verdade — gaudium de veritate —, sobre a qual fala Paul Claudel e o próprio Santo Agostinho”

(Card. Franc Rodé, CM, Prefeito Emérito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica)

“Em cada uma de suas homilias, o pregador revela duas preocu-

pações, que nem sempre aparecem juntas. De um lado ele descreve de modo imaginário a cena evangélica na qual se situa o episódio considerado. (...) De outro lado, confere profundidade teológica à cena, interrogando os Padres da Igreja”

“Nesta coletânea encontramos uma espécie de compêndio de ho-milias tomistas para os homens de hoje”

(Dom Jean-Louis Bruguès, OP, Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana)

“O inédito sobre os Evangelhos (...) basta folheá-los para perceber que se trata de algo diferente dos livros de comentários a que esta-mos acostumados. Na obra de Mons. João, as imagens utilizadas para ilustrar o texto têm por finalidade dizer algo do Mistério”

(Mons. Giuseppe Scotti, Presidente da Fundação Joseph Ratzinger – Bento XVI e da Libreria Editrice Vaticana)

A coleção O inédito sobre os Evange-lhos é uma publicação conjunta inter-nacional em quatro línguas da Libreria Editrice Vaticana e do Instituto Lumen Sapientiæ dos Arautos do Evangelho.

Comentários aos Evangelhos dominicaisSolenidades - Festas que podem ocorrer em domingo

Quarta-Feira de Cinzas - Tríduo Pascal

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

LIBRERIA EDITRICE VATICANA

Comentários aos Evangelhos dominicaisComentários aos Evangelhos dominicaisComentários aos Evangelhos dominicaisComentários aos Evangelhos dominicais

O inédito sobre os Evangelhos Já estão disponíveis: vol. I (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa - Ano A)

vol. II (Tempo Comum – Ano A) vol. VII (Solenidades – Festas que podem ocorrer em domingo – Quarta-Feira de Cinzas – Tríduo Pascal)

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mulgação da Antiga Lei, no Monte Sinai (cf. Ex 19—23). Parece que Nosso Senhor quis estabe-lecer de propósito uma contraposição entre am-bos os episódios, a fim de mostrar a beleza exis-tente na Nova Lei que Ele veio trazer, levando a Lei Antiga a maior perfeição (cf. Mt 5, 17).

No Sinai, Deus permanece no cume da montanha e Moisés tem de subir até lá para re-ceber as Tábuas da Lei. Cristo, pelo contrário, desce à meia altura do monte para Se encon-trar com o homem e entregar-lhe, Ele próprio, a Nova Lei. Assim, uma Lei é promulgada no cimo da montanha, outra na orla. Enquanto no Sinai o homem deve subir até Deus, na monta-nha em que Jesus faz seu sermão, Deus desce até o homem.

No Sinai, o Todo-Poderoso se apresenta em meio a trovões, relâmpagos, escuridão e som ensurdecedor de trombeta; na montanha, o Sal-vador senta-Se entre os homens, num ambien-te suave, sereno e tranquilo, sem especiais ma-nifestações da natureza. No Sinai, o povo tinha proibição de tocar a base do monte, pois mor-reria se o fizesse; na montanha, a multidão está próxima de Jesus e pode tocá-Lo, porque d’Ele emana uma virtude que cura a todos.

No Sinai, foi dado a Moisés um código de leis, verdadeiro código penal, com severos cas-

tigos para quem o transgredisse; na montanha, Nosso Senhor mostra, com misericórdia sem li-mites, quais os prêmios, os benefícios e as ma-ravilhas concedidas por Deus a quem pratica a virtude e cumpre a Lei. No Sinai, Moisés re-presenta a Lei, servindo de exemplo por seu ze-lo em cumprir essa mesma Lei; na montanha, Jesus Cristo é o modelo perfeito da lei da bon-dade.

No Sinai, para ouvir as prescrições divinas poderia subir qualquer homem, desde que fos-se eleito por Deus; na montanha, porém, só o Homem-Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Se-gunda Pessoa da Santíssima Trindade Encarna-da, podia pronunciar aquele Sermão, pois uni-camente Ele, enquanto Messias, tinha autorida-de para aperfeiçoar a Lei Antiga.

Nessa perspectiva de bondade, Jesus procla-ma as Bem-aventuranças, mostrando a que altu-ras é capaz de se elevar uma alma pelo floresci-mento dos dons do Espírito Santo, produzindo atos de virtude heroica. Tais frutos podem bro-tar de maneira isolada, mas, em geral, quando o santo chega à plenitude da união com Deus, todas as bem-aventuranças se verificam numa única florada. Ser santo, então, significa ser um bem-aventurado no tempo para depois sê-lo na eternidade.

No Sinai, Deus permanece no cume da montanha e Moisés tem de subir até lá para receber as Tábuas da Lei

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A filiação divina nos confere uma qualidade

Em que consiste, pois, es-sa bem-aventurança? Na se-gunda leitura (I Jo 3, 1-3) desta Liturgia, um lindíssi-mo trecho da Primeira Epís-tola de São João — o Após-tolo do Amor, exímio espiri-tualista, sempre dado a res-saltar a vida sobrenatural — nos dá a resposta, lembran-do o valor da nossa condi-ção de filhos de Deus: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos cha-mados filhos de Deus. E nós realmente o somos” (I Jo 3, 1a). Na verdade, por ocasião do Batismo, embora a natu-reza humana continue a mes-ma, com inteligência, vontade e sensibilidade, acrescenta-se em nós uma qualidade: a par-ticipação na própria nature-za divina, que nos assume por completo. A graça, explica São Boaventura, “é um dom que purifica, ilumina e aper-feiçoa a alma; que a vivifica, a reforma e a consolida; que a eleva, a assimila e a une a Deus, tornando--a aceitável; pelo que semelhante dom justa-mente chama-se graça, pois nos faz gratos, is-to é, graça gratificante”.6

Sendo um bem do espírito, não pode ser vis-ta com os olhos materiais, pois estes captam só o que é sensível, mas comprovamos, isto sim, seus efeitos. Santa Catarina de Sena, a quem Nosso Senhor concedera a graça de contem-plar o estado das almas, chegou a afirmar a seu confessor: “Meu pai, se vísseis o fascínio de uma alma racional, não duvido que daríeis cem vezes a vida pela sua salvação, porque nes-te mundo nada há que se lhe possa igualar em beleza”.7

Certas imagens podem servir para termos uma ideia, ainda que pálida, das maravilhas operadas pela graça nas almas. Imaginemos um vitral esplendoroso, com uma perfeita combi-nação de cores, fabricado com vidro da melhor qualidade, contendo até ouro na sua composi-

ção. Uma vez posto na janela, se não é iluminado, que valor terá peça tão espetacular? En-tretanto, a partir do momen-to em que os raios de luz so-bre ele incidem, brilhará com extraordinários matizes, des-dobrando-se em mil reflexos multicoloridos.

Outra comparação que também nos aproxima da rea-lidade sobrenatural é a de um litro de álcool no qual são der-ramadas algumas gotas de fa-bulosa essência, finíssima e de requintado aroma. Sem deixar de ser álcool, o líquido torna--se perfume, pois é assumido pela essência.

Da mesma forma como a luz ilumina o vitral e a es-sência assume o álcool — e ainda poderíamos encontrar na natureza outras imagens ilustrativas —, também a graça confere nova qualida-de à alma humana, que é, por assim dizer, submersa na na-tureza divina, como comenta Scheeben: “Se dentre todos os homens e todos os Anjos

escolhesse Deus uma só alma, para comuni-car-lhe o esplendor de tão inesperada digni-dade, [...] deixaria estupefatos não só os mor-tais, mas ainda os mesmos Anjos, que se sen-tiriam quase tentados a adorá-la, como se fo-ra Deus em pessoa”.8 Tal é a excelência da fi-liação divina!

Uma semente da glória futura

Filhos de Deus... “nós o somos! Se o mundo não nos conhece é porque não conheceu o Pai. Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos” (I Jo 3, 1b-2a). De fato, enquanto permanecemos neste mundo, em estado de prova, temos a gra-ça santificante, recebida no Batismo, e as graças atuais, que Deus derrama sobre nós ao longo da nossa existência. Todavia, estamos apenas no começo do caminho, pois, só quando contem-plarmos a Deus face a face, esta graça se trans-formará em glória e chegaremos ao “estado de

Cristo, pelo contrário, desce à meia altura do monte para Se encontrar com o homem e entregar-lhe, Ele próprio, a Nova Lei

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“A Transfiguração” (detalhe) Catedral de Hamilton (Canadá)

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homem feito, a estatura própria da maturidade de Cristo” (Ef 4, 13).

A ideia da felicidade eterna

Esta é a felicidade absoluta da qual nossos irmãos, os Santos, já gozam em plenitude na eternidade e com a qual nenhuma consolação desta vida é comparável. Nossa ideia a pro-pósito da felicidade é tão humana, que julga-mos, muitas vezes, possuí-la em grau máximo ao obter algo que muito desejamos. A mera inteligência do homem não alcança a compre-ensão da felicidade do Céu, pois em relação a Deus somos como formigas que, andando pela terra, levantassem a cabeça para olhar o voo de uma águia no céu. A diferença entre uma formiga e uma águia é ridícula perto da infinitude existente entre a razão humana e a inteligência divina. E ainda que, dotados de uma capacidade incomum, passássemos tre-zentos bilhões de anos estudando, nosso ver-bo continuaria falho e não encontraríamos termos para nos expressarmos devidamente a respeito de Deus.

A essência divina é definida pela teolo-gia como o Ser subsistente por Si mesmo,9 que Se conhece, Se entende e Se ama por in-teiro, tal qual é.10 Desde toda a eternidade, is-to é, sem haver princípio, Deus, contemplan-do-Se, Se compreende inteiramente enquanto Ser incriado, necessário e superexcelente, que não depende de ninguém, que se basta; e nisto consiste sua felicidade absoluta. Contudo, seu próprio conhecimento é tão rico que gera uma Segunda Pessoa, o Filho, idêntico a Ele e tão feliz como Ele. Ambos Se amam, e deste mú-tuo amor entre Pai e Filho procede uma Ter-ceira Pessoa, também feliz: o Espírito Santo. Assim, há três Pessoas, num só Deus, a Se co-nhecerem, Se entenderem e Se amarem, numa perpétua alegria, sem origem no tempo e sem fim, eternamente!

Um empréstimo da inteligência divina

Pois bem, em seu infinito amor, Deus quis dar às criaturas inteligentes, Anjos e homens, um empréstimo de sua luz intelectual, o lumen gloriæ, para que possam nela entendê-Lo tal qual Ele Se entende — guardadas as propor-ções entre criatura e Criador —, já que, segun-do explica São Tomás, “a capacidade natural do intelecto criado não basta para ver a essência de Deus” sem ser aumentada pela “graça divi-na”.11 E por mais que seccione sua luz, Ele sem-pre permanecerá imutável e em nada será dimi-nuído, pois é infinito.

O eminente dominicano padre Santiago Ra-mírez define o lumen gloriæ como “um hábito intelectual operativo, infuso per se, pelo qual o entendimento criado se faz deiforme e torna-se imediatamente disposto à união inteligível com a própria essência divina, e se torna capaz de re-alizar o ato da visão beatífica”.12

Esse “fazer-se deiforme” significa que quem entra na bem-aventurança e contem-pla a Deus face a face se torna semelhante a Ele, como afirma São João na continuação de sua Epístola: “Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, por-que O veremos tal como Ele é” (I Jo 3, 2b). Só no Céu veremos a Nosso Senhor Jesus Cristo de fato, uma vez que enquanto viveu na Ter-ra ninguém O viu tal qual Ele é. Nem mes-mo na Transfiguração, quando tomou, en-quanto qualidade passageira, a claridade ine-rente ao corpo glorioso13 — como tivemos oportunidade de analisar em comentários an-teriores —, São Pedro, São Tiago e São João chegaram a contemplar a essência de sua di-vindade, pois, do contrário, a alma deles ter--se-ia destacado do corpo.

“Todo o que espera n’Ele purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro” (I Jo 3, 3). Quanto mais aumenta em nós a esperança des-se encontro e dessa visão, e, portanto, quanto

Em seu infinito amor, Deus quis dar às criaturas inteligentes, Anjos e homens, um empréstimo de sua luz intelectual

1 SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS. Antífona da entrada. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2a. edição típi-ca para o Brasil realizada e pu-blicada pela CNBB com acrésci-mos aprovados pela Sé Apostóli-ca. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.691.

2 Idem, Prefácio, p.692.3 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO.

Suma Teológica. I, q.61, a.4.4 Cf. Idem, q.5, a.4, ad 2.5 Cf. CLÁ DIAS, EP, João Scogna-

miglio. Radical mudança de pa-drões no relacionamento divino e humano. In: Arautos do Evan-

gelho. São Paulo. N.109 (Jan., 2011); p.10-16.

6 SÃO BOAVENTURA. Brevilo-quio. P.V, c.1, n.2. In: Obras. 3.ed. Madrid: BAC, 1968, v.I, p.324.

7 BEATO RAIMUNDO DE CÁPUA. Santa Caterina da Sie-na. 5.ed. Siena: Cantagalli, 1994, p.149.

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      17

mais crescemos no desejo de nos entregarmos a Deus e de Lhe pertencermos por inteiro na ca-ridade, mais nos purificamos do amor-próprio e do egoísmo profundamente enraizados em nos-sa natureza. Devemos ter bem presente que não existem três amores, mas apenas dois: o amor a Deus levado até o esquecimento de si mes-mo ou o amor a si levado até o esquecimento de Deus.14

III – sIgamOs O exemplO daqueles que nOs precederam na graça

e nOs esperam na glórIa!

O homem, ainda quando privado da graça, tem uma apetência de infinito que não descansa enquanto não for saciada pela união com Deus. É o que revela Santo Agostinho, em suas Con-fissões: “E eis que Tu estavas dentro de mim e eu fora, e fora Te procurava; e, disforme como era, lançava-me sobre as coisas belas que crias-te. Tu estavas comigo, mas eu não estava con-

tigo. Retinham-me longe de Ti aquelas coisas que, se não estivessem em Ti, não existiriam”.15 Essa felicidade imensa e indescritível, para a qual todos nós somos criados, só a atingiremos seguindo os passos daqueles que nos precede-ram com o sinal da Fé e que já gozam dela, por sua fidelidade a tal chamado.

Peçamos que essa bem-aventurança eterna seja também para nós um privilégio, pelos mé-ritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, das lágri-mas de Nossa Senhora e da intercessão de to-dos os Santos que hoje comemoramos, a fim de um dia nos encontrarmos em sua companhia no Céu. Enquanto lá não chegarmos, podemos nos relacionar com essa enorme plêiade de irmãos celestes, membros do mesmo Corpo, por um canal direto muito mais eficiente do que qual-quer meio de comunicação moderno: a oração, o amor a Deus e o amor a eles enquanto unidos a Deus. Tenhamos a certeza de que, do alto, eles nos olham com benevolência, rogam por nós e nos protegem. ²

Essa felicidade imensa e indescritível só a atingiremos seguindo os passos daqueles que nos precederam com o sinal da Fé

“Santos adorando Jesus Ressuscitado”, por Fra Angélico - Detalhe da Pala de Fiesole, Museu de São Marcos, Florença (Itália)

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8 SCHEEBEN, Matthias Joseph. As maravilhas da graça divina. Petró-polis: Vozes, 1952, p.29.

9 Cf. ROYO MARÍN, OP, Antonio. Dios y su obra. Madrid: BAC, 1963, p.47-49.

10 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.14, a.2-4; q.20, a.1.

11 Idem, q.12, a.5.

12 RAMÍREZ, OP, Santiago. De ho-minis beatitudine. In I-II Summæ Theologiæ Divi Thomæ commen-taria (QQ. I-V). II P., Q.II, Sect.III, n.298. Madrid: Instituto de Filo-sofía Luis Vives, 1972, t.IV, p.342.

13 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.45, a.2.

14 Cf. SANTO AGOSTINHO. De Ci-vitate Dei. L.XIV, c.28. In: Obras.

Madrid: BAC, 1958, v.XVI--XVII, p.984.

15 SANTO AGOSTINHO. Con-fessionum. L.X, c.27, n.38. In: Obras. 6.ed. Madrid: BAC, 1974, v.II, p.424.

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O calor dessa bondade

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“Tia Lucilia ficou marcada para mim a vida inteira como uma santa. Porque uma tão grande bondade ficou como que impregnada em mim, e até hoje ainda sinto o calor dessa bondade”.

largueza de alma e genero-sa bondade de Dona Luci-lia não se restringiam aos limites do lar, levando-a a

tratar como filhos também as outras crianças, em especial aquelas que ti-vessem a idade de Rosée e Plinio.

A paciência em tratar um sobrinho surdo-mudo

Assim, era objeto de carinho e pa-ciência verdadeiramente maternais da parte de Dona Lucilia um sobri-nho, de nome Agostinho — Tito para os mais íntimos — que se mostrava de trato difícil com os parentes. Surdo--mudo de nascença, aprendera a falar em Viena, mas se exprimia de modo rouco e meio desagradável, por nunca ter ouvido o verdadeiro timbre da voz humana. Era inevitável que a maior parte das pessoas procurasse subtrair--se ao convívio dele, o que o deixava muito nervoso. Costumava ir ao pala-cete Ribeiro dos Santos, e às vezes se desentendia até com Dona Gabriela. Esta, apesar de tudo, tinha pena de-le e não lhe dizia “vá embora!”, mes-mo porque, para ela, era ponto pací-fico que uma avó devia aturar o neto.

Dona Lucilia, de seu lado, a fim de tornar a vida de sua mãe o mais leve possível, chamava sobre si os proble-mas que apareciam. Assim, ficava ob-

dona luCilia ribeiro doS SantoS Corrêa de oliveira

servando a discussão com Tito. Ao atingir esta certo paroxismo, voltava--se para o sobrinho e lhe dizia, silaban-do as palavras, movendo devagar os lá-bios para bem se fazer compreender:

— Tito, acompanhe-me, vamos conversar um pouco.

Ele, que não queria outra coisa — estava mesmo à espera de ser cha-mado por Dona Lucilia — tranquili-zava- se e ia com ela para uma sale-ta. Conversavam uma hora, às vezes hora e meia. Ele não conseguia gra-duar de forma conveniente o volume de voz, de maneira que falava alto de-

mais. Às vezes gritava, sem perceber, chegando mesmo os parentes a ou-vir trechos da conversa. Eram queixas amargas, mal-entendidos, que ela precisava lhe explicar pacientemente.

Ao cabo daquela hora e tanto, saía Tito tranquilizado, beijava a tia, dizia “até logo”, e ia-se embora. Do-na Lucilia voltava para a sala onde estavam os outros, às vezes um tan-to cansada, mas sem nada comen-tar. Nunca a viram se queixar, nem procurar chamar a atenção para a paciência de que dava provas.

Além de Tito, também outros sobri-nhos se beneficiaram dessa envolvente benquerença, como veremos a seguir.

Carinho e bondade incomparáveis, salvaguardados os princípios

Yelmo, primogênito de Antônio — irmão de Dona Lucilia — saudoso de-clarava: “De tia Lucilia? Lembro-me perfeitamente, era uma pessoa extra-ordinária. Jamais encontrei em minha vida afeto que superasse o dela”.

Já em idade de ser avô, quase bi-savô, Dr. Yelmo se recordava de um fato de infância, como se tivesse acontecido no dia anterior.

Certa feita, seus pais foram ao Rio de Janeiro com a filha, Dalmacita, dei-xando-o com seu irmão mais moço, Marcelo, na casa de Dona Gabriela.

Foto enviada por Dona Lucilia ao seu futuro esposo, por ocasião

do seu noivado

Agostinho Ribeiro dos Santos (Tito), o sobrinho surdo-mudo

Page 19: 201311 143

Dona Lucilia

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, ep

Mons. João

Scognamiglio

Clá Dias, ep

Dona L

ucilia

da Sociedade Clerical de Vi-

da Apostólica Virgo Flos Car-

meli, além de fundador da

Sociedade Feminina de Vida

Apostólica Regina Virginum,

entidades de direito pontifí-

cio que estendem suas ativi-

dades a 78 países.

Para dar uma sólida for-

mação aos Arautos, fundou

o Instituto Teológico São

Tomás de Aquino e o Insti-

tuto Filosófico Aristotélico

Tomista. Também é funda-

dor e assíduo colaborador

da revista acadêmica Lumen

Veritatis e da revista Arautos

do Evangelho, publicada em

inglês, português, espanhol

e italiano, totalizando uma

tiragem mensal de cerca de

um milhão de exemplares.

Escreveu 16 obras, entre

as quais algumas superaram

a tiragem de dois milhões

de exemplares, publicadas

em sete idiomas.

Mons. João Clá é Cônego

Honorário da Basílica Papal

de Santa Maria Maior, em

Roma, Protonotário Apostó-

lico supranumerário, mem-

bro da Sociedade Interna-

cional Tomás de Aquino, da

Academia Marial de Apare-

cida e da Pontifícia Acade-

mia da Imaculada. Foi con-

decorado em diversos países

por sua atividade evangeli-

zadora, cultural e científi-

ca, tendo recebido de Bento

XVI, em 15/08/2009, a me-

dalha Pro Ecclesia et Pontifice.

Mons. João Scognamiglio

Clá Dias, EP, é natural de

São Paulo, Brasil. Nasceu a

15 de agosto de 1939, sendo

filho de Antonio Clá Díaz

e de Annitta Scognamiglio

Clá Díaz.

Cursou Direito na Facul-

dade do Largo de São Fran-

cisco, aprofundou seus estu-

dos teológicos com grandes

catedráticos de Salamanca,

da Ordem Dominicana, e

obteve láureas em Filoso-

fia, Teologia, Psicologia e

Humanidades em diversas

universidades, sendo dou-

torado em Direito Canônico

pela Pontifícia Universidade

São Tomás de Aquino (An-

gelicum) de Roma e em Teo-

logia pela Universidad Ponti-

ficia Bolivariana, de Medel-

lín (Colômbia).

Mons. João Clá é funda-

dor e atual Superior-Geral

dos Arautos do Evangelho e

[O livro que o leitor tem em suas mãos] trata-se de uma autêntica e

completíssima Vida de Dona Lucilia, que pode equiparar-se às melhores

“Vidas de Santos” aparecidas até hoje, no mundo inteiro. Sobretudo tem

um valor inapreciável a correspondência epistolar entre ela e seus filhos

(...). Em suas magníficas cartas, Dona Lucilia diz com freqüência coisas

tão sublimes e de uma espiritualidade tão elevada que o leitor é tomado

por uma emoção parecida à que produz a leitura do inimitável epistolário

de Santa Teresa de Jesus.

Precisamente por isto me atrevo a formular muito concretamente uma

pergunta que se desprende, clara e espontânea, da leitura desta maravi-

lhosa Vida de Dona Lucilia. A pergunta concreta é esta: foi Dona Lucilia

uma verdadeira santa, em toda a extensão da palavra? Ou, de outra for-

ma: suas virtudes cristãs alcançaram o grau heróico que se requer indis-

pensavelmente para ser alguém reconhecido pela Igreja com uma beatifi-

cação e canonização?

À vista dos dados rigorosamente históricos que nos oferece com grande

abundância a biografia que estamos apresentando, atrevo-me a responder

com um sim rotundo e sem a menor vacilação.

Longe de mim a ridícula e irreverente pretensão de adiantar-me ao juí-

zo infalível da Igreja! O que me cabe como próprio é dar uma opinião

sinceríssima, mas perfeitamente falível. A Igreja nunca erra, nós podemos

errar sempre. (...)

A última palavra pertence à Santa Igreja Católica, Apostólica e Roma-

na, que é a mestra infalível da verdade. Mas a nós nos incumbe o doce

dever e o sagrado direito de pedir humildemente à Divina Providência

que leve a feliz termo nossa entranhada petição, para a glória de Deus e

grande proveito das almas.

(Excertos do prefácio de Fr. Antonio Royo Marín, OP)

O livro Dona Lucilia é uma publicação

conjunta internacional em quatro lín-

guas da Libreria Editrice Vaticana e do

Instituto Lumen Sapientiæ dos Arautos

do Evangelho.

LIBRERIA EDITRICE VATICANAL.E.V.

Uma biografia de Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, escrita por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, e editada pela Libreria Editrice Vaticana.

Pedidos pelo telefone (11) 2971-9040, ou pelo Fax: (11) 2971-9067

Dona Lucilia

Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      19

Cada um havia recebido de pre-sente uma bicicleta, e estavam dese-josos de experimentar todos os de-leites que um menino costuma fruir com tão fascinante brinquedo. O principal deles talvez fosse a sensa-ção de independência que Yelmo, em seus “provectos” 12 anos de ida-de, anelava desfrutar. Os estreitos es-paços do jardim da casa de sua avó eram limitados, não se prestando a isso. Propôs a seu irmão mais jovem lançarem-se à aventura pelas amplas e tranquilas ruas do então aristocráti-co Bairro dos Campos Elíseos, e irem tomar lanche em casa de seus pais.

Seus infantis anseios de liberda-de, porém, não levaram em conside-ração o feitio grave e autoritário da avó — uma senhora ao estilo antigo, em todo o sentido da palavra — habi-tuada a mandar pelo olhar, sem haver quem se atrevesse a contestá-la.

Demorando eles muito a retornar, Dona Gabriela ficou receosa de que algo lhes tivesse acontecido. Quando voltaram, já tarde, e foram cumpri-mentar a avó, a justa repreensão não se fez esperar, dirigindo-se ela princi-palmente ao mais velho, Yelmo, por isso mesmo o mais culpado:

— Onde vocês estiveram? — Saímos um pouquinho, só para

tomar um lanche em casa... — Mas chegam a esta hora, sem

me ter avisado? Vocês não sabem em que casa estão? Não mediram a preocupação que me podiam cau-sar? E escolhem logo essa hora tar-dia para chegar?! Saibam respei-

tar sua avó, saibam respeitar todas as pessoas que estão aqui, evitando afligi-las sem necessidade!

Diante da imponência e severida-de com que ela se expressava, Yel-mo, como tanto meninote de 12 anos, pôs-se a chorar. Dona Gabrie-la, senhora de muita energia, não podia tolerar as lágrimas de fraque-za de seu neto e chamou-o aos brios:

— Homem não chora! Pare de chorar!

Como era natural, ele chorou ainda mais, pois a tragédia estava se tornando maior...

Dona Lucilia, que ali perto pre-senciava a cena, compadeceu-se de seu sobrinho e, fazendo-lhe um dis-creto sinal, chamou-o à parte, dizen-do-lhe com voz amena:

— Yelmo, meu filho, venha aqui.

Ele, soluçando, foi até junto de sua tia e, jogando-se em seus bra-ços, desatou num mais copioso pranto, dando largas à sua dor.

Para o consolar, Dona Lucilia lhe disse:

— Meu filho, você precisa com-preender... Sua avó é assim mesmo. É uma senhora dos antigos tempos, e não permite nada que não esteja inteiramente correto. É claro que ela podia ter um pouco de pena de você.

No entanto, apesar de suas cari-nhosas palavras, em nenhum mo-mento deixou Dona Lucilia de dar razão a sua própria mãe, por ser sagrado o princípio de autorida-de que esta representava naquela casa. E continuou:

— Mas sua avó tem razão, vocês não devem chegar tarde sem avisar. Não chore mais. Sua tia está aqui com pena de você, está lhe agradando. Sossegue um pouquinho, isso passa.

O menino notou que defluía de Do-na Lucilia tanta bondade e compaixão pelo que ele estava sofrendo, tanto de-sejo de lhe fazer bem, que logo parou de chorar, sentindo-se consolado.

“Tia Lucilia ficou marcada para mim a vida inteira como uma santa... — lembrava ele saudoso — Porque uma tão grande bondade ficou como que impregnada em mim, e até hoje ainda sinto o calor dessa bondade”. ²

Extraído de: CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Dona Lucilia.

Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2013, p.115-118.

Yelmo Ribeiro dos Santos (esquerda) junto a Dalmacita e Marcelo

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E

Jesus Se oculta nos superiores

20      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

Todos procuram continuamente a felicidade. Consistirá ela em fazer sempre a própria vontade, não depender de ninguém e satisfazer os próprios caprichos?

stupefata, a multidão con-templava o prodígio.

— Será possível!? — ex-clamavam uns.

— Viste o que acabo de ver? — indagavam outros.

Aquele que, em vida, tantas vezes doara suas roupas aos pobres; que, apesar de dolorosa enfermidade, tan-tas vezes transportara lenha às costas para aquecer nos duros invernos as choças dos mais necessitados; aquele homem tão afável com os seus, consi-derado “pai dos pobres e consolador dos aflitos”, acabara de operar, mes-mo morto, portento inaudito.

Após a sua exumação, o corpo do Beato Stefano Bellesini estava sen-do transferido para um esquife dig-no de conter tão excelsa relíquia. Entretanto, constatou-se que o no-vo féretro, mal calculado, era dema-siado pequeno. E assim, a alegria da solene cerimônia parecia encami-nhar-se para uma situação vexatória.

Então o Cardeal Pedecini, num gesto de confiança, dirigiu ao Santo estas palavras:

— Padre Bellesini, tão obediente como fostes em vida, não poderíeis

Diác. Flávio Roberto Lorenzato Fugyama, EP

diato conhecimento do fato, chamou o jovem Mauro e o mandou ir salvar seu irmão de hábito. Após receber a bênção de seu pai espiritual, o discí-pulo partiu com tal ímpeto que, co-mo se estivesse ainda em terra fir-me, correu sobre as águas, segurou o pequeno pelos cabelos e o trouxe de volta são e salvo. Só então deu-se conta do milagre que fora operado.

De regresso ao mosteiro, narrou, estupefato, o sucedido. Porém, “o venerável Bento começou a atribuir isso não a seus próprios méritos, mas aos da fiel obediência do discí-pulo. Mauro, pelo contrário, susten-tava que tudo era unicamente efei-to de sua ordem, e que ele parte al-guma tivera naquele prodígio obra-do sem consciência”.3

O certo é que a Providência, agra-dada pela ordem de São Bento e pe-la pronta obediência de São Mauro, suspendera as leis da natureza para salvar o menino que, no futuro, viria a ser o grande São Plácido.

As feras tornam-se mansas

Dos monges dos primeiros tem-pos contam-se, também, fatos admi-

agora acomodar-vos neste estreito caixão? E qual não foi a surpresa de todos quando, sem intervenção hu-mana, o corpo se encolheu o sufi-ciente para adequar-se à urna!1

Bela é a pobreza, por amor à qual o religioso renuncia aos bens exte-riores. Esplendorosa é a castida-de que o leva a abdicar dos praze-res corporais. Mais magnífica, en-tretanto, é a virtude da obediência, em aras da qual as almas consagra-das imolam aquilo que têm de mais precioso: a própria vontade.2

Àquele beato que em vida pratica-ra eximiamente os conselhos evangé-licos, a simples invocação desta vir-tude por um Prelado da Santa Igreja foi-lhe irresistível, como irresistíveis são para Deus os pedidos feitos pelas almas obedientes.

Um monge anda sobre as águas

Certo dia, encontrava-se o gran-de patriarca São Bento recolhido em sua cela quando o menino Plácido, um de seus noviços, caiu num lago e foi arrastado pela correnteza à dis-tância de um tiro de flecha. O san-to varão teve milagrosamente ime-

a virtude da obediênCia

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      21

ráveis relacionados com essa ele-vada virtude.

Sabia-se que um discípulo do Abade Paulo, de nome João, ja-mais resistia a qualquer ordem recebida, por mais árdua que fosse. Assim, em certa ocasião em que o abade o encarregou de uma incumbência na aldeia vizi-nha, aprestou-se a obedecer, mas preveniu o superior:

— Pai e senhor meu, ouvi di-zer que ronda por aquelas ban-das uma leoa feroz.

— Se a leoa te atacar, detém--na e traze-a contigo — respon-deu o ancião, gracejando.

Ao cair da tarde, de fato, a leoa saltou sobre ele. Sucedeu, então, o inverossímil: a fera tor-nou-se presa e o monge, caça-dor. Cumprindo a ordem dada pelo superior, João quis sujeitá--la, mas ela escapou. Então ele a perseguiu, bradando:

— Mandou-me o abade pren-der-te e levar-te a ele!

A estas palavras, a fera deteve--se imediatamente. João a segurou e empreendeu o caminho de volta ao mosteiro, onde o abade mostrava-se pesaroso e preocupado por seu filho espiritual que tanto tardava. Ao vê--lo retornar arrastando a leoa, en-cheu-se de admiração e deu graças a Deus. Cheio da alegria dos obedien-tes, disse-lhe o discípulo:

— Eis aqui, pai, a leoa que me mandaste trazer.

Para o bem daquela alma, a fim de que não viesse a envaidecer-se, o abade deu-lhe ordem de soltar a fe-ra.4 O fato tornou-se logo conhecido entre os monges, que engrandeceram a Deus pelo prodígio realizado para enaltecer o valor da obediência.

União de vontade com o superior

Muitos volumes seriam necessá-rios para se relatar os exemplos ti-rados da vida dos Santos no sentido de mostrar o quanto Deus ama a vir-

Oriunda do termo latino ob-audire — escutar com atenção —, a obediência é “uma virtude moral que torna a vontade pron-ta para executar os preceitos do superior”.5 E tanto mais perfei-ta ela será, “quanto mais rapi-damente se adiante a executar aquilo que se entende ser von-tade do superior, mesmo antes de este a manifestar”.6 Pois, co-mo ensina São Tomás, “a vonta-de do superior, de qualquer ma-neira como ela se manifeste, é uma ordem tácita; e a obediên-cia se mostrará tanto mais solí-cita quanto mais o obediente se antecipar à expressão do precei-to, compreendida a vontade do superior”.7

Portanto, a prática da obedi-ência não se restringe ao cumpri-mento das ordens e preceitos cla-ramente expressos por parte da-quele que manda. Quem almeja praticá-la em grau excelente de-

ve assumir a postura de um bom fi-lho em relação ao pai, ou seja, estar extremamente atento àquilo que o superior quer.

Porque “a obediência é, antes de tudo, uma atitude filial. É aquele ti-po particular de escuta que só mes-mo o filho pode prestar ao pai, por estar iluminado pela certeza de que o pai só pode ter coisas boas a dizer e a dar ao filho; uma escuta embe-bida naquela confiança que permi-te ao filho acolher a vontade do pai, certo de que esta será para seu bem. Isto é imensamente mais verdadeiro em relação a Deus. Com efeito, nós atingimos a nossa plenitude somen-te na medida em que nos inserimos no desígnio com que Ele nos conce-beu em seu amor de Pai”.8

As molas propulsoras da obediência

Assim, podemos afirmar que as molas propulsoras e o dinamismo desta virtude são a fé e a caridade.

tude da obediência, e os inimaginá-veis esforços realizados pelos Bem--aventurados para praticá-la de for-ma exímia. Mas deixemos de lado por enquanto o florilégio hagiográfi-co e adentremo-nos no conhecimen-to dessa pérola preciosa, ainda que num voo muito rápido.

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“São Mauro resgata São Plácido ”, por Lourenço Monaco - Retábulo da Coroação da Virgem,

Galleria degli Uffizi, Florença (Itália)

Mais magnífica, entretanto, é a virtude da obediência, em aras da qual as almas consagradas imolam aquilo que têm de mais precioso

Page 22: 201311 143

P

Obediente como um menino para

com seus pais

22      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

rolongados jejuns, penitên-cias extraordinárias, bem

como a sua constante união com Deus, combinavam-se admira-velmente para fazer do padre Charbel um anjo em carne hu-mana. [...]

A sua obediência foi a de um menino para com seus pais; is-to era o que o diferenciava dos seus irmãos. Vendo nos supe-riores a pessoa de Cristo, obe-decia todas as suas ordens, com uma total naturalidade e com grande alegria. Não se limita-va a obedecer ao seu superior, cada um de seus irmãos, era a seus olhos outro Cristo, e obe-decia-os. Gostava de fazer os ofícios mais humildes da casa, ninguém o viu jamais descontente, nem se ouviu que murmurasse algo contra o modo de proceder do su-perior, ou de qualquer dos seus irmãos.

Como testemunho do que temos afirmado, aqui vai um depoimento do padre Nehmetallah Nehme, então superior do mosteiro de Annaya:

“Certo dia estava o padre Charbel trabalhando com os outros ir-mãos no vinhedo do Convento. Ao anoitecer, saí para visitá-lo, en-contrando-o a trabalhar bem longe dos outros. Como eu sabia que ele só comia quando lhe ordenavam, me aproximei d’ele e lhe perguntei:

— O Senhor já tomou o seu café da manhã?— Não, foi a resposta do nosso Santo. Ninguém me mandou co-

mer ainda qualquer coisa.Então ordenei a um monge que fosse até o Mosteiro, e que de lá

trouxesse qualquer coisa para o irmão Charbel.Jejuara durante 30 horas, sem comer absolutamente nada, só por

não faltar à obediência”.

(DAHER, Paul. Taumaturgo Universal. Servo de Deus Pe. Charbel Makhlouf. São Paulo: Safady, 1955, p.82-83.)

São Charbel Makhlouf

Segundo o padre Royo Marín, o assunto da obediência “se reduz, em realidade, a um problema de fé”.9 E o Beato Columba Marmion nos apresenta uma ousada e elucidativa comparação a este propósito.

Diz ele que quando contempla-mos a sagrada Hóstia, não vemos se-não pão. Ora, Cristo afirmou: “isto é o meu Corpo” (Mt 26, 26). Assim, deixando de lado o testemunho de nossos sentidos, cremos estar Jesus real e substancialmente presente sob as Sagradas Espécies. Diante delas nos ajoelhamos em adoração à Segunda Pessoa da Santíssima Trin-dade. De modo semelhante, Nos-so Senhor Se oculta a nós em nossos superiores. Constatando seus defei-tos, vemos que eles são falíveis, mas nossa fé nos diz que é um represen-tante de Cristo, e, por assim dizer, apalpamos Cristo através das im-perfeições do homem. “Se tivermos fé nos veremos obrigados a excla-mar: ‘Creio!’. E obedeceremos a es-te homem, porque nos submetendo a ele obedecemos ao próprio Cristo e permanecemos a Ele unidos”.10

Por outro lado, na caridade se unificam as ações e os sentimentos “e, mesmo não havendo total coin-cidência de pareceres, haverá uma mútua predisposição para receber e compreender o ponto de vista do outro e um íntimo desejo de agradar a quem se ama”.11

De tal forma a caridade e a obedi-ência se complementam que o Dou-tor Angélico assevera não ser possí-vel existir uma sem a outra,12 sendo a obediência louvável por proceder da caridade.13 É por isso que “a obe-diência cristã, descobrindo nas or-dens e mandatos a presença da von-tade de Deus, deve ver-se necessa-riamente auxiliada pela presença da divina caridade que a faz atuar com um espírito totalmente sobrenatu-ral. Donde se deduz que, para a obe-diência ser cristã, deve estar infor-mada da divina caridade, a qual só

São Charbel makhlouf

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      23

pode existir numa alma em estado de graça”.14

Só os padres e religiosos devem obedecer?

Evidentemente, a virtude da obe-diência compete sobretudo aos clé-rigos e aos membros dos Institutos religiosos, vinculados pela profissão dos votos, cada qual a seu respectivo superior. Constitui, aliás, o elemen-to mais importante da vida religio-sa, conforme demonstrou o Doutor Angélico15 e lembra o padre Royo Marín: “o estado religioso, em vir-tude principalmente do voto de obe-diência, é um verdadeiro holocaus-to que se oferece a Deus”.16 Como diz São Gregório Magno: “com ra-zão se antepõe a obediência aos sa-crifícios, posto que mediante as víti-mas se imola a carne alheia, enquan-to que, pela obediência, se imola a vontade própria”.17

Sem embargo, apesar de concer-nir de modo especial os clérigos e membros de Institutos religiosos, a virtude da obediência abrange uma gama de pessoas muito mais ampla.18 Na Epístola aos Efésios, depois de incentivar todos a serem “submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5, 21), São Paulo mostra, fun-dando-se em argumentos elevadíssi-mos, como ela deve ser praticada em todos os âmbitos das relações huma-nas, mesmo na ordem temporal. As-sim, por exemplo, exorta os filhos a obedecerem aos pais, lembran-do-lhes que é cumprindo o manda-mento de honrar pai e mãe que se-rão felizes (cf. Ef 6, 1-3). Não deixa, porém, de alertar estes últimos pa-ra que, no exercício de sua autorida-de, não provoquem a ira dos filhos, mas os eduquem na disciplina e ins-truções do Senhor (cf. Ef 6, 4).

E São Pedro afirma que deve-mos ser submissos “a toda autorida-de humana” (I Pd 2, 13); portanto, não somente àquelas que julgamos serem boas e justas. Também São

“E, sendo exterior-mente reconhecido como Homem, humi-lhou-Se ainda mais, tornando-Se obe-diente até a morte, e morte de Cruz”

Tim

othy

Rin

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“Jesus de Medinaceli” - Basílica de Jesus de Medinaceli, Madri

Paulo é claro nesse sentido: “Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há auto-ridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus” (Rm 13, 1). Logo em segui-da, o Apóstolo alerta para o pre-juízo da insubordinação: “Quem resiste à autoridade, opõe-se à or-dem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação” (Rm 13, 2).

A obediência de Jesus Cristo e de Maria Santíssima

Desta santa virtude da obedi-ência deram-nos o mais sublime exemplo Jesus e Maria. Como diz São Paulo, em sua Epístola aos Fi-lipenses: “Sendo Ele [Cristo] de condição divina, não Se prevale-ceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, as-sumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E, sendo exteriormente reconheci-do como Homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obedien-te até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 6-8).

Com efeito, o Verbo eterno e consubstancial ao Pai dignou-Se assumir nossa carne mortal, fa-zendo-Se verdadeiro Homem, en-tre outras razões, para nos ensinar e recomendar, por meio de seu su-blimíssimo exemplo, esta virtude. De fato, “de um a outro extremo, da Encarnação ao Calvário, a vida de Jesus aparece dominada pela lei da obediência”.19 Idêntica afirma-ção faz o Beato Columba Marmion: “O Consummatum est é a expressão mais exata e completa de sua vida, regida toda ela pela obediência; é o eco do Ecce venio pronunciado no instante da Encarnação. Estas du-as palavras são duas grandes afirma-ções de obediência, e toda a existên-cia terrena de Cristo Jesus gira em torno de um eixo que passa por estes dois polos”.20

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24      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

Frac

isco

Lec

aros

Maria Santíssima, por sua vez, cer-ta de que “a Deus nada é impossível” (Lc 1, 37), realizou “da maneira mais perfeita a obediência da fé”,21 quando disse: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em Mim segundo a tua pala-vra” (Lc 1, 38). Comenta Santo Iri-neu: “O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Ma-ria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé”.22

Como atesta a Lumen gentium, com este consentimento, abraçando de to-do o coração a vontade divina de sal-vação, Maria tornou-Se Mãe de Jesus e “consagrou-Se totalmente, como es-crava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e junta-mente com Ele, servindo pela graça de Deus onipotente o mistério da Reden-ção”.23 E acrescenta: “Por isso, conside-ram com razão os Santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens”.24

A verdadeira liberdade e a ufania da obediência

“Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade co-

mo hoje”,25 já dizia o Concílio Vati-cano II, apontando também para os perigos de uma falsa concepção des-te termo: “Os homens de hoje apre-ciam grandemente e procuram com ardor esta liberdade; e com toda a razão. Muitas vezes, porém, fomen-tam-na de um modo condenável, co-mo se ela consistisse na licença de fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto que agrade”.26

Os anos se passaram, e é o caso de nos perguntarmos se isso mudou... Se não, nada mais atual do que a neces-sidade de deitar luz sobre o tema.

Pode por certo o homem, com su-as simples forças naturais, conhe-cer muitas verdades e praticar vá-rias virtudes; não lhe é possível, po-rém, sem o auxílio da graça, perma-necer estavelmente no conhecimen-to e na prática de todos os Manda-mentos. Isto porque na natureza hu-mana decaída pelo pecado original persiste sempre a debilidade da in-teligência e a má tendência, anterior a qualquer raciocínio, que o incita a revoltar-se contra a Lei.

Se consentir nessa tendência, transgredindo algum Mandamento, pode o homem chegar ao ódio, mais ou menos inconfessado, à própria

ordem moral em seu conjunto. Esse ódio pode não só dar origem a erros doutrinários, mas até levar à profis-são explícita de princípios contrários à lei moral e à doutrina revelada, enquanto tais. Ou seja, a cometer um pecado contra o Espírito Santo: negar a verdade conhecida como tal.

Obediência, hierarquia e autori-dade são pilares indispensáveis pa-ra uma sociedade bem constituída. E o conceito de liberdade, em seu sentido moral verdadeiro, não se ci-fra na capacidade de fazer sempre a própria vontade (inclusive poden-do escolher o mal), mas sim em fa-zer o bem, cumprindo a vontade de Deus, ainda que à custa de sacrifí-cios, renúncias e abnegação. Nesta obediência cheia de liberdade o ho-mem se livra da escravidão da liber-tinagem. Só assim terá ele autêntica e duradoura felicidade, pois o peca-do não traz alegria e paz, mas ape-nas fruição passageira.

Por intermédio de Maria Santís-sima, peçamos, pois, a graça de pra-ticar eximiamente esta santa virtu-de da obediência, a fim de gozar-mos da infinita felicidade que nos está reservada por Jesus Cristo na eternidade. ²

“O nó da desobe-diência de Eva foi desatado pela obe-diência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé”

“A Anunciação” - Afresco da capela da Porciúncula, Assis (Itália)

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Um princípio fundamental para a vida cotidiana

Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      25

1 Cf. CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Mãe do Bom Conselho. São Paulo: Art-press, 1995, p.240.

2 “Por parte do que se sacrifi-ca e imola perante Deus, a obediência é a primeira e mais excelente de todas as virtudes morais” (ROYO MARÍN, OP, Antonio. Te-ología Moral para segla-res. Madrid: BAC, 2012, v.I, p.784). Ver também SÃO TOMÁS DE AQUI-NO. Suma Teológica. II-II, q.104, a.3.

3 SÃO GREGÓRIO MAG-NO. Vida e milagres de São Bento. São Paulo: Artpress, 1995, p.44-45.

4 Cf. RUFINO DE AQUI-LEIA. Verba Seniorum. L.III, n.27: ML 73, 755-756.

5 ROYO MARÍN, op. cit., p.783.

6 Idem, ibidem.

7 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., a.2.

8 CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VI-DA CONSAGRADA E AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA. O Serviço da Autoridade e a Obediên-cia, n.5.

9 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La vida religiosa. 2.ed. Ma-drid: BAC, 1968, p.332.

10 MARMION, OSB, Colum-ba. Jesucristo, ideal del mon-je. Conferencias espiritua-les sobre la vida monástica y religiosa. 2.ed. Barcelona: Litúrgica Española, 1949, p.335.

11 PALMÉS DE GENOVER, SJ, Carlos. La obediencia religiosa ignaciana. Barce-lona: Eugenio Subirana, 1963, p.227.

12 “Se alguém padecesse o mar-tírio, ou distribuísse todos os seus bens aos pobres, se

não orientasse tudo isto pa-ra o cumprimento da vonta-de divina, o que diz respei-to diretamente à obediên-cia, tais obras não teriam o menor mérito; como tam-bém se feitas sem a carida-de, a qual não pode exis-tir sem a obediência” (SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., a.3.).

13 Cf. Idem, ibidem.14 LÓPEZ, Rafael. El Espíri-

tu Santo y la obediencia con-sagrada. México: La Cruz, 1981, p.251-252.

15 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q.186, a.7-8.

16 Cf. ROYO MARÍN, Teolo-gía Moral para seglares, op. cit., p.784.

17 SÃO GREGÓRIO MAG-NO. Moralium in Job. L.XXXV, c.14, n.28: ML 76, 765.

18 Lembre-se que o Catecismo da Igreja Católica afirma que os conselhos evangéli-cos — pobreza, castidade e obediência — “são propos-tos a todo discípulo de Cris-to” (CCE 915).

19 ESPINOSA POLIT, SJ, Ma-nuel María. La obedien-cia perfecta. Comentario a la Carta de la obediencia de San Ignacio de Loyola. 2.ed. México: Jus, 1961, p.292.

20 MARMION, op. cit., p.317.21 CCE 148.22 SANTO IRINEU. Adver-

sus Hæreses. L.III, c.22, n.4: MG 7, 959.

23 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.56.

24 Idem, ibidem.25 CONCÍLIO VATICANO II.

Gaudium et spes, n.4.26 Idem, ibidem.

omo obedecer a um superior cujos defeitos são patentes? O

problema é complexo e infelizmente frequente... Entretanto, há um prin-cípio fundamental para ser sempre aplicado nos casos concretos: é pre-ciso procurar ver a Deus no superior com os olhos da fé, lembrando-se que, na vida religiosa, ele representa Nosso Senhor Jesus Cristo.1

Exemplo da aplicação desse prin-cípio à vida cotidiana nos dá São Tomás de Aquino em um episó-dio pouco conhecido. Sendo o tur-no dele de fazer a leitura no refeitó-rio, aquele que presidia a mesa lhe fez sinal, em determinado momen-to, para colocar um acento sobre ou-tra sílaba que não a correta. Se bem que sua pronúncia estivesse certa, ele imediatamente retificou-a, aca-tando a vontade do superior.

Na recreação seus irmãos comen-taram que não deveria tê-lo feito, posto que evidentemente ele esta-va com a razão. Mas, São Tomás res-pondeu: “É pouco importante pro-nunciar uma palavra dessa ou da-quela maneira, mas é sempre impor-tante a um religioso exercer a obedi-ência e a humildade”.2

São Luís Gonzaga, por sua vez, não se permitia uma ação, mesmo ínfima, contra uma ordem de seus superiores. Certo dia em que lhe im-puseram um afazer, no momento de forte atração à oração e à medita-ção, disse a Deus de um modo filial: “Ide, Senhor, a fim de que eu possa obedecer a meu superior”.3

E Santa Teresa de Ávila dizia que nunca agiria contra uma ordem, mesmo se um Anjo pretendesse li-berá-la da obrigação da obediência.4

1 ROYO MARIN, OP, Antonio. La vida re-ligiosa. 2.ed. Madrid: BAC, 1968, p.332.

2 SCHÉRER, OSB, Augustin; LAMPERT, OSB, Johannes B. (Ed.). Dictionnai-re d’exemples a l’usage des prédicateurs et des catéchistes. Tournai/Paris: Caster-man, 1936, t.V, p.75.

3 Idem, p.74.4 Cf. Idem, p.73.

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“São Bento” - Mosteiro de Santa Maria de Valbuena (Espanha)

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V Peregrinação Nacional a Aparecida

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enti-me mais perto de Nossa Senhora e de Jesus, e jamais conseguirei retribuir os benefícios que d’Eles recebi”, foi o comentário de uma senhora

que participou da V Peregrinação Nacional do Apostolado do Oratório a Aparecida, realizada no dia 14 de setembro.

Onze mil pessoas, provenien-tes de dez Estados, se reuni-ram junto à imagem de Nos-sa Senhora da Conceição Aparecida para manifes-tar sua devoção à Mãe de Deus e nossa, agradecen-do todos os favores conce-didos às famílias que rece-bem mensalmente em suas casas o Oratório do Imacula-do Coração de Maria.

São incontáveis as pessoas que re-tornaram à prática religiosa em razão das graças recebidas pela visita do Oratório. Cada qual se sente especialmente olhado pela Mãe de Misericór-dia que convida a todos com doçura e compaixão, instilan-do nas almas uma grande confiança na misericórdia divina.

Onze mil fiéis – Vindos de dez Estados da Federação, participantes do Apostolado do Oratório acorreram aos pés da imagem da Padroeira do Brasil. Coordenadores de diversas paróquias entraram em cortejo

no Santuário portando os respectivos oratórios antes da Celebração.

A peregrinação anual à Padroeira do Brasil é oca-sião de grande afervoramento dos participantes do Apostolado do Oratório das mais diversas regiões

do País, que trocam impressões e experiên-cias, propiciando um incremento des-

se valioso instrumento de evange-lização em nossos dias. Um dos

participantes comentou ao fim da cerimônia: “Pude-

mos ver a grande devoção dos filhos e filhas de Nos-sa Senhora que, sem me-dir esforços, vieram de todos os lugares do Bra-

sil para prestar a devida homenagem merecida por

nossa Mãe Santíssima”. E um coordenador desse aposto-

lado acrescentou: “Que maravilha ver todo o apostolado mariano desen-

volvido por Monsenhor João crescendo pelo mundo inteiro!”.

E todos se despediram com o firme propósito de tra-zer mais fiéis no próximo ano! ²

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Missa no Santuário – Com o templo lotado, o Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo Metropolitano de Aparecida e Presidente da CNBB (foto em destaque), presidiu a Eucaristia, tendo entre outros concelebrantes

Dom Benedito Beni dos Santos, bispo emérito de Lorena (SP).

Terço na esplanada – No início da manhã, os peregrinos se reuniram na Esplanada João Paulo II para a recitação do terço, assim como cada família faz ao receber a visita do Oratório em seu lar. Antes da oração, uma cópia da

Imagem de Nossa Senhora Aparecida (em destaque) foi conduzida em cortejo até a Tribuna Bento XVI.

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Cuiabá – No início de setembro, arautos deram palestra de formação na 2ª Concentração Arquidiocesana dos Servos do Altar, que reuniu mais de dois mil jovens (esquerda). E no primeiro sábado do mês, a Catedral-Basílica

do Senhor Bom Jesus encheu-se de fiéis para a prática da devoção dos Cinco Primeiros Sábados (direita).

Curitiba – Visando evangelizar de forma viva e atraente, o Pe. Ryan Francis Murphy, EP, tem feito palestras acompanhadas de apresentação musical realizada por jovens arautos em diversas instituições de

ensino da capital paranaense, como a Escola Estadual Ângelo Trevisan (fotos acima).

Nova Friburgo (RJ) – Entre as escolas em que foi desenvolvido o Projeto Futuro e Vida, cabe destacar a Escola Municipal Umbelina Breder, pela ativa participação dos alunos na visita de 20 de agosto (esquerda) e a acolhida

dada à apresentação musical realizada pelo setor feminino no CIEP de Monnerat, em 20 setembro (direita).

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UVisitando o hospital geriátrico Dom Pedro II

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m grupo de participantes do Curso de Formação Teo lógica, ministrado na sede do Apostolado do

Oratório em São Paulo, visitou em 31 de agosto o Hospi-tal Geriátrico Dom Pedro II, situado numa antiga chácara no Bairro de Jaçanã, na capital paulista. Vinculado à San-ta Casa de Misericórdia, ele acolhe anciãos que levam uma vida isolada por não terem mais nenhum parente na cidade. Muitos deles se encontram em estado grave ou terminal.

O grupo estava formado por quarenta pessoas, entre as quais dois sacerdotes e alguns missionários arautos. Eles fizeram uma doação de cobertores à Instituição e percor-reram os quatrocentos leitos cantando músicas, levando palavras de estímulo e portando o Oratório.

Setenta e oito Unções dos Enfermos foram ministra-das pelos Pe. José Luis de Zayas y Arancibia, EP, e Pe. Juan Navarro Barba, EP.

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Imagem peregrina percorre Comayagua

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Chorreritas e San Ignacio – Como em todas as comunidades, Chorreritas (esquerda) e San Ignacio (direita) receberam com calorosa devoção a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria. As respectivas capelas

ficaram lotadas de fiéis desejosos de venerar a imagem da Mãe de Deus e agradecer a inesperada visita.

Canais de TV – Os meios de comunicação locais deram cobertura ao evento, especialmente os canais de TV Centro de Notícias (à esquerda) e TELESIG (à direita), que receberam a Imagem de Nossa Senhora em seus

estúdios e transmitiram entrevistas com os arautos sobre o carisma da Associação.

ooperadores dos Arautos do Evangelho de Hondu-ras organizaram uma Missão Mariana na Diocese

de Comayagua, a primeira a ser erigida no país e uma das mais antigas da América. Nessa diocese, o Aposto-lado do Oratório está implantado desde o ano de 2000, desenvolvendo-se especialmente nas comunidades ru-rais e periféricas, as quais recebem a visita de um sacer-dote apenas uma vez ao mês.

Localidades como Siguatepeque, Chorreritas, San Igna-cio, El Porvenir, Las Lajas, La Libertad e Flores recebe-ram com alegre surpresa a imagem do Imaculado Coração

de Maria levada pelos Arau-tos do Evangelho. Dada a difi-culdade de acesso a esses povoa-dos localizados na serra central, pou-cos esperavam ter esse privilégio. Em todos esses vilarejos, o Pe. Javier Pérez Beltrán, EP, celebrou Eucaristias, deu palestras de formação e atendeu confissões auxiliado pelo Pe. Israel Orellana, vigário paroquial em Siguatepeque.

Durante a Missão Mariana, muitos fiéis fizeram a sua consagração solene a Nossa Senhora, segundo o método de São Luís Grignion de Montfort.

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Guatemala: Missa pelas vítimas de acidente

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“Dia com Maria” em Siguatepeque – Antes de se reunirem na Paróquia Nossa Senhora do Carmo para “Um dia com Maria”, os participantes do Apostolado do Oratório percorreram em procissão as ruas da cidade (direita).

Durante o evento (esquerda), vários coordenadores consagraram-se a Jesus Cristo pelas mãos de Maria.

o dia 1º de setembro, um trágico acidente de ônibus ocorrido na rodovia que conduz a San Martín Jilote-

peque deixou mais de 50 mortos. O pároco dessa cidade organizou no local uma Missa em sufrágio pelas suas al-mas e convidou o Pe. Javier Pérez Beltrán, EP, para fa-zer a homilia (foto 1) perante as 5 mil pessoas presen-

tes, em sua maioria indígenas (foto 2). Cooperadores e simpatizantes dos Arautos levaram a Imagem Peregri-na do Imaculado Coração de Maria que esteve presente durante a Missa junto ao altar (foto 3). Após a celebra-ção, todos retornaram em procissão até a paróquia, dis-tante oito quilômetros (fotos 4 e 5).

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Colômbia – Participantes do Apostolado do Oratório de Bogotá fizeram no mês de setembro uma visita evangelizadora às cidades de Pacho, Fusagasugá, Ibagué e Neiva. Só nesta última estiveram presentes em sete paróquias, entre as quais a de Nossa Senhora de Fátima (esquerda) e a de Nossa Senhora do Rosário (direita)

Peru – A pedido de cooperadores e simpatizantes da cidade de Trujillo, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria visitou essa cidade do norte do país, além de Chimbote e Chiclayo. Houve solene Celebração Eucarística

na Basílica-Catedral (esquerda) e visita a diversos Colégios, como o Champagnat (direita).

Equador – Os Arautos do Evangelho participaram das celebrações em honra de Nosso Senhor da Boa Esperança do Convento Máximo de Santo Agostinho. Após a Santa Missa, celebrada com grande solenidade na igreja do

convento, houve procissão com a histórica imagem do Santo Cristo pelas ruas do centro colonial.

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“Martinho da Caridade”

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Irmã Maria Teresa Ribeiro Matos, EP

“São Martinho de Porres” Paróquia de Santa Beatriz, Lima

São martinho de PorreS

s vastidões do Novo Mun-do deslumbravam o ho-mem europeu no longín-quo despontar do século

XVI. Terras férteis, abundantes rique-zas naturais e a esperança de um fu-turo promissor tornaram-se em pouco tempo uma atração irresistível para os fidalgos ibéricos, que viam nas Amé-ricas uma oportunidade de expandir a Igreja de Deus, os domínios do Rei e abrilhantar a honra da sua estirpe.

O entusiasmo que os anima-va não carecia de fundamento, pois Deus parecia sorrir aos bravos ex-pedicionários, soprando vento favo-rável nas velas de suas frágeis naus e coroando com o êxito temerárias empresas, movidas muitas vezes pe-lo desejo de conquistar almas para Cristo, mas muitas outras também por motivos bem menos elevados.

O que reservava a Providência para essas terras infindas, habitadas por povos das mais diversas índoles? O que desejava Ela para aqueles na-tivos, ora pacíficos, ora belicosos, ora de temperamento selvagem, ora dotados de cultura e técnicas muito desenvolvidas? Algo mais elevado que qualquer consideração política ou sociológica: dar-lhes o tesouro da Fé, a Celebração Eucarística, a gra-ça santificante infundida através dos Sacramentos.

Fruto da heroica ação dos mis-sionários, logo começaram a sur-gir no Novo Continente Santos dos mais ilustres, que perfumavam com o bom odor de Jesus Cristo os no-vos domínios e faziam expandir ne-les, pela oração ou pelo apostolado, as sementes do Reino. Pensemos, por exemplo, na Lima quinhentista.

Nela conviviam Santa Rosa, terci-ária dominicana, hoje padroeira da América Latina, São João Macías, evangelizador infatigável, ou esse modelo de Pastor que foi São Turí-bio de Mongrovejo.

Contemporâneo de todos eles, superando-os no dom dos milagres e em manifestações sobrenaturais, brilhou no convento dominicano do Santo Rosário um humilde irmão leigo chamado Martinho de Porres. “Misto de fidalgo e homem do po-vo, suas virtudes esplendentes con-tribuíram para conferir à civilização

Misto de fidalgo e homem do povo, ele nos mostra uma singular via para alcançar a santidade, amando a Deus com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente, e ao próximo como a nós mesmos.

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peruana do seu tempo uma beleza e uma ordenação católicas até hoje in-superáveis”.1

Desejo de servir, à imitação do próprio Cristo

Nasceu ele a 9 de dezembro de 1579 na florescente Lima do tempo colonial, capital do vice-reinado do Peru, filho natural de João de Por-res, cavaleiro espanhol, e Ana Ve-lázquez, panamenha livre, de ori-gem africana.

Em sua infância, experimen-tou ora as larguezas e as exigên-cias da vida nobre ao lado do pai, em Guayaquil — atual Equador —, ora a simplicidade e o trabalho jun-to à mãe, em Lima, sem apegar-se a um modo de vida nem reclamar do outro. Mas tanto em uma quanto em outra circunstância ele se sentia atraído pela vida de piedade, servin-do como coroinha nas Missas paro-quiais ou passando noites em claro, de joelhos, rezando diante de Jesus Crucificado.

Contando apenas 14 anos dirigiu--se ao Convento do Rosário e fez um pedido ao provincial dos Pregadores, Frei João de Lorenzana. Que deseja-

va ele ao bater à porta daquela casa de Deus? Tornar-se um servidor dos frades, na qualidade de “doado”, co-mo então eram designados aqueles que se dedicavam às tarefas domés-ticas e se hospedavam nas dependên-cias dos dominicanos. O superior, discernindo nele um chamado autên-tico, recebeu-o de bom grado.

Doravante suas funções seriam varrer salões e claustros, a enferma-ria, o coro e a igreja da grande pro-priedade, que abrigava por volta de 200 religiosos, entre noviços, irmãos leigos e doutos sacerdotes. De ma-neira alguma Frei Martinho se en-vergonhava dessa condição. Sua vi-são sobrenatural das coisas fazia--o compreender bem a glória que há em servir, à imitação do próprio Cristo Jesus, que Se encarnou para nos dar exemplo de completa sub-missão.

Após dois anos no exercício des-sas árduas tarefas, vinculado à co-munidade apenas como terciário, um irmão o chama à portaria. Ali es-tão à sua espera o superior e seu pai que, regressando de um longo perío-do a serviço do vice-rei, no Panamá, quer reencontrar o filho.

Indignado por vê-lo ocupando posição tão humilde, o fidalgo exige do provincial que promova seu filho pelo menos a irmão leigo. O prior acede, mas os olhos de Frei Marti-nho, em lugar de se iluminarem de contentamento, ficam umedecidos por lágrimas. Era a sua humildade que falava mais alto, levando-o a im-plorar ao superior que não o privas-se da alegria de poder dedicar-se à comunidade como vinha fazendo até então.

Vocação de remediar os males alheios

No dia 2 de junho de 1603 ele faz a profissão solene dos votos religio-sos, recebendo, além das funções de sineiro, barbeiro e encarregado da rouparia, o cuidado da enfermaria. Ali exerce também, à falta de médi-co, o ofício de cirurgião, cujos rudi-mentos aprendera antes de ingres-sar no convento.

Seus diagnósticos certeiros so-bre o verdadeiro estado dos doen-tes logo começam a se comprovar pelos fatos, muitas vezes contra as aparências. Por exemplo, a um en-fermo que todos consideram já às

Fruto da heroica ação dos missionários, logo começaram a surgir no Novo Continente Santos dos mais ilustres

São João Macías e Santa Rosa, convento de São Domingos, Lima; São Turíbio de Mongrovejo, Palácio Arcebispal de Lima

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portas da morte anuncia que des-sa vez não morrerá; e de fato, em poucos dias encontrava-se curado. Em outra ocasião, vendo Frei Lou-renço de Pareja caminhando pelo claustro, comunica-lhe que em bre-ve deixará seu corpo mortal e cha-ma um sacerdote para administrar--lhe os Sacramentos. Instantes de-pois de recebê-los, o frade expira em seu leito.

Incontáveis curas milagrosas por ele realizadas fazem sua fama ultrapassar os muros do Convento do Rosário. Pequenos e grandes, espanhóis e índios, ricos e pobres vêm pedir auxílio ao santo enfer-meiro.

Começa assim a manifestar-se a vocação de Martinho, que “pa-rece ter sido a de remediar os ma-les alheios”,2 não poupando esforços para dar-lhes bom exemplo, confor-to físico e espiritual no exercício de suas funções.

“Desculpava as faltas dos outros; perdoava duras injúrias, convenci-do de que era digno de penas maio-res por seus pecados; procurava com todas as suas forças trazer pa-ra o bom caminho os pecadores; as-sistia comprazido os enfermos; pro-porcionava alimento, vestuário e re-médios aos fracos; favorecia com to-

das as suas forças os camponeses, os negros, os mestiços que naquele tempo desempenhavam os mais hu-mildes ofícios, de tal maneira que foi chamado pela voz popular Mar-tinho da Caridade”.3

Frequentes manifestações sobrenaturais

De onde vinham estas qualidades incomuns? Sem dúvida, de uma in-tensa espiritualidade, pois “uma vi-da como a de Martinho, consagra-da por inteiro ao serviço do próxi-mo, com perfeito esquecimento de si, não se explica sem uma intensa vida interior, sem o estímulo da cari-dade que, [...] mesmo sob o peso da fadiga, não chega a sentir cansaço”.4

Uma noite, quando a hora já ia avançada, o cirurgião Marcelo Rive-ra, hóspede do convento, o procura sem conseguir encontrar. Pergunta a este, pergunta àquele, mas ninguém o vira. Acha-o, por fim, na sala capi-tular, “suspenso no ar, com os braços em cruz, com suas mãos coladas às de um Santo Cristo crucificado, que es-tá num altar. E mantinha todo o cor-po junto ao do Santo Crucifixo, como que O abraçando. Estava elevado a cerca de três metros do solo”.5

Incontáveis testemunhas presen-ciaram fatos semelhantes. Assim,

por exemplo, numa noite em que poucos conseguiam conciliar o sono no prédio do noviciado, devido a uma epidemia que prostrava com al-tas febres a maioria dos frades, ou-ve-se de uma das celas:

— Ó, Frei Martinho! Gostaria de ter uma túnica para trocar-me!

É Frei Vicente que, revolvendo--se no leito, entre os suores da febre, clama pelo enfermeiro, sem espe-rança de ser atendido, pois as portas daquele prédio já estavam trancadas e Frei Martinho vivia fora do mes-mo. Mas, mal termina de falar, vê o irmão enfermeiro junto a ele, tra-zendo nas mãos uma camisa limpa e bem passada. Assustado, pergunta--lhe como fizera para entrar.

— Não cabe a vós saber isso — responde com bondade Frei Marti-nho, fazendo com o dedo sinal de si-lêncio.

Não longe dali o mestre de novi-ços, Frei André de Lisón, ouve a voz de Frei Martinho e coloca-se no cor-redor para verificar por onde entra-ra. Passa-se o tempo, e nada! Resol-ve então abrir a porta da cela do do-ente: estava sozinho e dormia um sono profundo... A admiração es-tende-se por todo o convento.

Frei Francisco Velasco, Frei João de Requena e Frei João de Guia

O superior, discernindo nele um chamado autêntico para a vida religiosa, recebeu-o de bom grado

Frei João de Lorenzana e São Martinho de Porres, quadros do Mosteiro de São Domingos, Lima. Ao centro: vista atual do claustro do convento.

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São Martinho de Porres e o Concílio Vaticano II

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também recebem visitas semelhan-tes. Em outra ocasião, um frade, ca-minhando pelo claustro, vê passar pelos ares um facho luminoso, fixa as vistas e discerne Frei Martinho voando envolto em luz.

Certa madrugada, ao toque do si-no, toda a comunidade se reúne na igreja, como de costume, para can-tar Matinas. De súbito, um clarão vindo do fundo ilumina todo o re-cinto sagrado. Voltam-se para trás os religiosos e descobrem o foco de tão intensa luminosidade: o rosto de Frei Martinho que, tendo desci-do para ajudar o sacristão, ali estava ouvindo o cântico sacro.

“Deus seja louvado por utilizar tão vil instrumento”

Fatos como estes ocorrem em quantidade e tornam-se públi-cos e notórios. Aos poucos a fa-ma do Santo se espalha por toda

Lima, chegando inclusive até o vi-ce-rei e o Arcebispo. Nada disso, contudo, perturba sua humildade. De maneira alguma consente em perder o convívio com o sobrena-tural, voltando-se para si mesmo a fim de desfrutar uma glória huma-na que passa “como um sonho da manhã” (Sl 89, 5).

Em certa ocasião ele vai visitar a esposa de seu antigo mestre de barbearia, a qual padecia de grave enfermidade. Convidando-o a sen-tar-se aos pés de seu leito, ela es-tica discretamente o braço até to-car com a mão na ponta do hábito do Santo. No mesmo instante, sen-te-se curada e exclama, pervadida de admiração:

— Tão grande servo de Deus sois, Frei Martinho, que até vossas vestes têm poder de curar!

Com a esperteza própria à humil-dade, responde o Santo:

esde criança, Martinho amou a Deus, dulcíssimo Pai de todos, com tais características de inocência e sim-

plicidade que não poderiam deixar de agradar-Lhe. Quan-do, posteriormente, ingressou na Ordem Dominicana, ar-deu de tal modo em piedade que mais de uma vez, enquan-to rezava com a mente livre de todas as coisas, parecia estar arrebatado ao Céu. [...]

Além disso, seguindo os ensinamentos do Divino Mestre, São Martinho amou seus irmãos com profun-da caridade, nascida de uma fé inquebrantável e de um abnegado coração. Amava os homens porque os considerava seus irmãos, por serem filhos de Deus. Mais ainda, amava-os mais do que a si mesmo, pois, em sua humildade, julgava-os todos mais justos e me-lhores do que ele. Amava seus próximos com a bene-volência própria dos heróis da Fé cristã. [...]

Veneráveis irmãos e queridos filhos. Como afirma-mos no início desta homilia, julgamos muito oportu-

no que, neste ano em que se há de ce-lebrar o Concílio, Martinho de Porres seja enumerado en-tre os Santos. Pois a senda de santi-dade por ele segui-da e os resplendo-res de preclara vir-tude que brilharam em sua vida podem ser considerados como os saluta-res frutos que desejamos para toda a Igreja Católica e para todos os homens, como consequência do Concí-lio Ecumênico.

Excertos da homilia do Rito de Canonização do Beato Martinho de Porres, 6/5/1962

Beato João XXIII

— Aqui está a mão de Deus, se-nhora. Ele a curou, através do há-bito de nosso pai, São Domingos. Deus seja louvado por utilizar tão vil instrumento para operar tamanha maravilha, e porque o hábito de nos-so pai não perde seu valor e devo-ção, mesmo vestido por tão grande pecador como eu.6

“Não sou digno de estar na casa de Deus”

Outro episódio, desta vez ocor-rido dentro dos muros do conven-to, atesta a mansidão de Frei Mar-tinho em suportar as fraquezas que por vezes seus irmãos de hábito ma-nifestavam. Ele as sofria com excep-cional cordura, tomando-as sempre como merecidas e úteis para a ex-piação de seus pecados.

Aconteceu que um antigo re-ligioso acamado mandou chamá--lo na enfermaria, mas como Frei

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      37

Três séculos após a sua morte, o exemplo de São Martinho de Porres

faz elevarem-se aos Céus os nossos pensamentos

Túmulo de São Martinho de Porres, na capela erigida no local da antiga enfermaria -

Convento de São Domingos, Lima

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lj Martinho estivesse ocupado num assunto urgente, demorou um pouco a chegar. Enquanto esco-avam-se os minutos o doente to-mou-se de impaciência e come-çou a deblaterar contra o Santo, dizendo toda espécie de injúrias, externando queixas descabidas, fruto do egoísmo.

Logo acudiu ele e pediu des-culpas, mas teve de ouvir uma no-va catilinária, desta vez pronun-ciada em alta voz, de modo que os outros frades também escuta-ram. Preocupados, alguns irmãos se aproximaram e um deles, ao ver Frei Martinho ajoelhado junto ao doente, perguntou-lhe o que esta-va acontecendo.

— Padre — respondeu o hu-milde Irmão —, estou recebendo cinzas sem ser a quarta-feira de-las. Este padre me ofereceu o pó de minha baixeza e me pôs a cinza de minhas culpas diante de mim, e eu, agradecido por tão importante lembrança, não lhe beijo as mãos porque não sou digno de colocar nelas os meus lábios, mas fico aos seus pés de sacerdote. E, creia-me, este dia foi proveitoso para mim porque dei-me conta de que não sou digno de estar na casa de Deus e en-tre os seus servos.7

Numa fase de privação pela qual passava a comunidade, o padre prior encontrava-se muito aflito por não dispor da quantia necessária pa-ra sanar as dívidas da casa, que eram numerosas. Frei Martinho então perguntou-lhe se não queria vendê--lo como escravo, pois devia valer um preço considerável e se sentiria

muito honrado por ser útil ao con-vento. O sacerdote, comovido com esta atitude heroica de amor à Or-dem, respondeu-lhe:

— Que Deus te pague, Frei Mar-tinho, mas o Senhor, que te trouxe até aqui, Se encarregará de resolver o problema.8

O caminho que Cristo nos ensina

A vida do despretensioso irmão transcorria serena, consumindo-se em longas vigílias de oração junto ao crucifixo e serviços na aparência

muito comuns, mas sempre fei-tos com a intenção de glorificar a Deus, sendo amiúde coroados por milagres. Faltando um mês pa-ra completar 60 anos, uma febre violenta e frequentes desmaios o obrigaram a guardar repouso. Tu-do indicava aproximar-se o fim de seu estado de prova.

A notícia se espalhou pela cida-de e sua cela logo se tornou obje-to de contínua peregrinação. Nes-sa mesma noite ele entrou em ago-nia. Os circunstantes o viam deba-ter-se com gestos violentos e, es-treitando em seu peito o crucifixo, increpar o maligno:

— Vai embora, maldito! Não me hão de vencer tuas ameaças!

Três dias depois, a 3 de novem-bro de 1639, diante dos seus ir-mãos de vocação que junto de-le recitavam o Credo, nasceu São Martinho de Porres para a ver-dadeira vida, deixando atrás de si um rastro luminoso que ainda ho-je suscita a veneração de incontá-veis fiéis.

“Este santo varão que, com seu exemplo de virtude, atraiu tan-tos à Religião, agora também, três séculos após sua morte, faz eleva-rem-se aos Céus nossos pensamen-tos”, lembrou o Beato João XXIII ao canonizá-lo.9 Pois, com o exem-plo de sua vida ele nos demons-tra ser possível alcançar a santida-de pelo caminho que Cristo nos en-sina: amando a Deus, em primeiro lugar, com todo o coração, com to-da a alma e com toda a mente; e, em segundo, ao próximo como a nós mesmos.10 ²

1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Extrato de conferência. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano X. N.116 (Nov., 2007); p.2.

2 VARGAS UGARTE, SJ, Rubén. El santo de los pobres. San Martín de Porras. Lima: Paulinas, 2001, p.61.

3 BEATO JOÃO XXIII. Rito de Canonização do Beato Martinho de Porres, 6/5/1962.

4 VARGAS UGARTE, op. cit., p.97.5 VELASCO, OP, Salvador. San Martín de

Porres. La vida de “Fray Escoba”. 10.ed. Madrid: Edibesa, 2004, p.132.

6 Cf. VELASCO, op. cit., p.189-190.7 VARGAS UGARTE, op. cit., p.42-43.8 Idem, p.36.9 BEATO JOÃO XXIII, op. cit.10 Cf. Idem, ibidem.

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Batismo e Reconciliação

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A pAlAvrA dos pAstores

O Sacramento do Batismo nos introduz na grande família dos filhos de Deus. E quando dela nos excluímos, pelo pecado mortal, o da Reconciliação nos regenera, limpa e purifica.

Igreja guarda em pleni-tude os meios de santi-ficação instituídos por Jesus Cristo. As palavras

e as ações de Nosso Senhor durante a sua vida terrena estavam impregnadas de conteúdo salvífico, e não nos sur-preende, antes nos parece lógico, que as multidões se aproximassem de Je-sus, querendo ouvi-Lo e tocá-Lo, por-que “saía d’Ele uma força que a todos curava” (Lc 6, 19).

Estas palavras e estas ações anun-ciavam e antecipavam a eficácia do seu mistério pascal, com o qual iria vencer definitivamente o demônio, o pecado e a morte, e preparavam o que Ele iria transmitir à Igreja quan-do tudo tivesse sido cumprido. “Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos do que, daí em dian-te, pelos ministros da Igreja, Cristo dispensa nos Sacramentos, porque ‘o que era visível no nosso Salvador passou aos seus mistérios’”.1

Os Sacramentos conferem a graça que significam. O nosso Padre escre-via, em 1967: “Que são os Sacramen-tos senão pegadas da Encarnação do Verbo divino, clara manifestação do modo que Deus escolheu e deter-minou — ninguém senão Ele o po-dia fazer — para nos santificar e con-

duzir ao Céu, instrumentos sensíveis dos quais o Senhor Se serve para nos conferir realmente a graça, segundo a significação própria de cada um?”.2

O Batismo, porta dos outros Sacramentos

Que agradecidos havemos de es-tar à nossa Santa Mãe Igreja por con-servar e nos oferecer este tesouro, com plena fidelidade a Jesus Cristo! E co-mo havemos de o proteger e defender em toda a sua integridade! Damos gra-ças particularmente pelo Batismo, que nos introduziu na grande família dos fi-lhos de Deus. Recebê-lo quanto antes adquire uma importância capital, por-que este Sacramento — ou o seu dese-jo, pelo menos implícito — é necessá-rio para alcançar a salvação: “Ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito Santo” (Jo 3, 5), anunciou Jesus a Nicodemos.

Certamente que o Espírito po-de atuar, como a doutrina da Igreja expõe, e de fato atua, também fora dos confins visíveis da Igreja. Mas o próprio Deus estabeleceu que a for-ma comum de participar na Morte e Ressurreição de Cristo, pela qual somos salvos, é fruto da incorpora-ção na Igreja através do Batismo. Consequentemente, “a prática de

batizar as crianças é tradição ime-morial da Igreja”.3

Lemos também no Catecismo da Igreja Católica: “a pura gratuida-de da graça da salvação é particu-larmente manifesta no Batismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam a criança da graça inesti-mável de se tornar filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo pou-co depois do seu nascimento”.4 E conclui: “Os pais cristãos reconhe-cerão que esta prática corresponde, também, ao seu papel de sustentar a vida que Deus lhes confiou”.5

O Batismo não só perdoa os pe-cados e infunde a primeira graça, co-mo é a porta dos outros Sacramentos e torna assim possível que os cristãos se configurem cada vez mais com Jesus Cristo, até chegarem a identifi-car-se com Ele. A fé, a esperança e a caridade hão de crescer em todos os batizados, crianças e adultos, de-pois do Batismo. E isto verifica-se na Igreja, depositária, como já foi dito, dos meios de salvação.

Assim o afirmava o Papa numa das suas catequeses do mês passa-do: “Uma mãe não se limita a dar a vida, mas com grande atenção ajuda os seus filhos a crescer, dá-lhes o lei-te, alimenta-os, ensina-lhes o caminho

Dom Javier Echevarría RodríguezPrelado do Opus Dei

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da vida, acompanha-os sempre com as suas atenções, com o seu carinho e com o seu amor, até quando são adul-tos. E nisto sabe também corrigir, per-doar e compreender, sabe estar próxi-ma na enfermidade e no sofrimento”.6

Assim faz a Igreja com os filhos que gerou no Batismo: “acompanha o nos-so crescimento, transmitindo a Palavra de Deus (…) e administrando os Sa-cramentos. Alimenta-nos com a Euca-ristia, concede-nos o perdão de Deus através do Sacramento da Penitência e apoia-nos na hora da doença com a Unção dos Enfermos. A Igreja acom-panha-nos durante toda a nossa vida de Fé, em toda a nossa vida cristã”.7

Reconciliação, o Sacramento da alegria

Que grande é a misericórdia do nosso Pai Deus! Sabendo que somos débeis e que, apesar da nossa boa vontade, caímos uma vez ou outra em pecados e faltas, confiou à sua Esposa o Sacramento do Perdão “pa-ra todos os membros pecadores da sua Igreja, antes de mais para aque-les que, depois do Batismo, caíram em pecado grave e assim perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial”.8 Este Sacramento também perdoa os pecados veniais e as faltas,

infunde novas forças para a luta in-terior e se apresenta a nós, assim di-ziam os Padres da Igreja, como “a se-gunda tábua (de salvação), depois do naufrágio que é a perda da graça”.9

Recordo o grande amor de São Josemaría ao Sacramento da Recon-ciliação — o Sacramento da alegria, gostava de o chamar — e como ani-mava a recebê-lo com frequência, impulsionando a fazer um constan-te apostolado da Confissão. Limi-to-me agora a citar umas palavras suas, durante uma reunião de cate-quese com muitas pessoas.

“À Confissão, à Confissão, à Con-fissão! Porque Cristo derramou miseri-córdia nas criaturas. As coisas não an-dam porque não recorremos a Ele pa-ra nos limpar, para nos purificar, pa-ra nos incendiar. Muita higiene, mui-to desporto… Ótimo, maravilhoso! E este outro desporto da alma? E es-tas duchas que nos regeneram, que nos limpam e nos purificam e nos incen-deiam? Por que não procuramos re-ceber esta graça de Deus? Vamos ao Sacramento da Penitência e à Sagra-da Comunhão. Ide, ide! Mas não vos aproximeis da Comunhão se não estais certos da limpeza da vossa alma”.10

Noutra altura, insistia: “Meus fi-lhos, levai os vossos amigos à Con-

fissão, os vossos familiares, as pesso-as que amais. E que não tenham me-do. Se tiverem de cortar alguma coi-sa, cortarão. Dizei-lhes que não se-rá suficiente recorrer uma só vez à Confissão, que precisam de ir mui-tas vezes, com frequência, como quando se chega a uma certa idade, ou quando surge uma doença, não se vai ao médico uma única vez, mas frequentemente. E marcam-se ou-tras consultas, e mede-se a tensão, e fazem-se análises. Pois a mesma coi-sa, a mesma coisa com a alma […]”.

“O Senhor está à espera de mui-tos para que tomem um bom banho no Sacramento da Penitência! E tem preparado para eles um grande ban-quete, o das bodas, o da Eucaristia, o anel da aliança e da fidelidade e da amizade para sempre. Que se confes-sem! […]. Que sejam muitos os que se aproximam do perdão de Deus!”.11 ²

Excertos da “Carta do Prelado”, 1/10/2013 — Texto integral em

http://www.opusdei.pt

1 CCE 1115; Cf. SÃO LEÃO MAGNO. Sermo LXXIV, c.2: ML 54, 398.

2 SÃO JOSEMARÍA. Carta, n.74, de 19/3/1967.

3 CCE 1252.4 Idem 1250; Cf. CIC, can.867.5 Idem 1251.6 FRANCISCO. Audiência geral, de

11/9/2013.7 Idem, ibidem.8 CCE 1446.9 Idem, ibidem.10 SÃO JOSEMARÍA. Notas de uma tertú-

lia, de 2/7/1974.11 Idem, de 6/7/1974.

“Uma mãe não se limita a dar a vida, mas com grande atenção ajuda os seus filhos a crescer”

Bento XVI administra o Sacramento do Batismo, 9/1/2011

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Embaixador brasileiro junto à Santa Sé apresenta suas credenciais

No dia 13 de setembro o Dr. Denis Fontes de Souza Pinto, novo embaixador do Brasil junto à Santa Sé, entregou suas cartas credenciais ao Papa Francisco durante uma au-diência privada. Nela, o Santo Padre atendeu com grande cordialidade o representante diplomático do nosso País e relembrou com muitas sauda-des sua recente viagem ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Ju-ventude.

Em entrevista à Radio Vaticana, o diplomático pernambucano ava-liou que as relações atuais do Brasil com o Vaticano “não poderiam estar melhor”, lembrando eventos como a mencionada JMJ e a audiência con-cedida pelo Papa Francisco à presi-dente brasileira, Dilma Rousseff.

cia da Imaculada Conceição, situada na capital norte-americana.

As sessões de trabalho se desen-volveram entre os dias 30 de junho e 5 de julho. O horário de cada ci-clo de palestras foi organizado de tal forma a privilegiar a Celebração Eu-carística. Foram também recitados em conjunto o Santo Rosário e o Ofício Divino. O celebrante de hon-ra e pregador da Missa de abertura foi o Arcebispo de Washington, Car-deal Donald Wuerl. Entre os confe-rencistas cabe destacar a Dom Char-les Morerod, OP, Bispo de Lausan-ne, Genebra e Friburgo, que era até à sua nomeação Secretário Geral do Comitê Teológico Internacional. A Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, Angelicum, foi represen-tada pelo Decano de Filosofia, Do-minic Holtz e o Professor Efrém Jin-drácek.

A excelente qualidade das con-tribuições acadêmicas e os frutos obtidos pelo evento no seu conjun-to levaram a decidir a convocação de um congresso similar em 2016. Nesse ano comemora-se o VIII centenário da fundação da Ordem dos Pregadores por São Domingos de Gusmão.

Mais de 3 mil jovens prometem manter a castidade em Guayaquil

Organizada pela Pastoral da Família da Arquidiocese foi cele-brada entre os dias 16 e 22 de se-tembro em Guayaquil, Equador, a Semana da Família. O lema que guiou todas as reflexões neste ano foi A minha família e eu servimos o Senhor.

Como parte das atividades, no dia 19 de setembro perto de 3,5 mil jovens prometeram na catedral me-tropolitana de São Pedro Apóstolo guardar a castidade de acordo com seu respectivo estado. Este ato de fé é repetido todos os anos após as-sistirem a palestras que fazem parte de um programa de formação para a

futura vida matrimonial e preparam para a idônea recepção desse Sacra-mento.

Previamente, no dia 16, foram celebradas Missas em todas as pa-róquias da arquidiocese pelos avós e netos. O dia 17 foi dedicado ao te-ma A família como escola de fé. No dia 20, 75 casais contraíram Matri-mônio dando assim publicamente testemunho da sua fé neste Sacra-mento.

Atualidade do ensinamento de Santo Tomás

Mais de 100 padres dominica-nos participaram na cidade de Wa-shington do congresso Dominicans and Renewal of Thomism (Domini-canos e a Renovação do Tomismo) dedicado ao desenvolvimento do te-ma A doutrina de Deus, uno e trino. O evento foi organizado pelo Insti-tuto Tomístico da Faculdade Pontifí-

Presidente de Timor Leste em peregrinação a Fátima

O Presidente de Timor Leste, Jo-sé Maria de Vasconcelos, visitou no dia 21 de setembro o Santuário de Fátima para agradecer a Nossa Se-nhora as bênçãos que Ela tem con-cedido ao seu país desde que ele as-sumira as rendas do governo em maio de 2012.

Taur Matan Ruak — nome que em tétum significa “dois olhos vi-vos”, pelo qual também é conhecido o mandatário — esteve acompanha-do de sua esposa e de uma comiti-va na qual se encontrava a embaixa-dora de Timor Leste em Lisboa, Na-tália Carrascalão, e o embaixador de Portugal em Díli. O presidente de-clarou aos jornalistas que tinha ido a Fátima também para pedir à Mãe de Deus “o seu apoio ao desenvol-vimento” de Timor Leste, lembran-do que “a maioria do povo de Timor é católica” e que “todos rezam pa-ra pedir a Deus que continue a aju-dar o país”.

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O reitor do Santuário, Pe. Carlos Cabecinhas, recebeu a comitiva, que começou sua peregrinação partici-pando da Eucaristia das 9h da ma-nhã na Basílica de Nossa Senhora do Rosário.

Libreria Editrice Vaticana recebe Prêmio Capri-San Michele

A Libreria Editrice Vaticana (LEV), editora da Santa Sé, foi a vencedora da 30ª edição do Prê-mio Capri-San Michele na categoria “paisagem” com a obra Na Turquia, seguindo os passos de Paulo, de Gio-vanni Uggeri.

Não é a primeira vez que a LEV é premiada nesse certame. Em 2010 ela foi galardoada na catego-ria “imagens” pela obra Bento XVI, Urbi et Orbi: com o Papa em Roma e nas Ruas do Mundo, da qual Mons. Georg Gänswein foi o curador. E em 2012 foi agraciada a obra Pensa-mentos de Arte, do professor Anto-nio Paolucci.

Criada no dia 27 de abril de 1587 por decreto do Papa Sis-to V, a Libreria Editrice Vaticana (LEV) tem por função publicar as atas e documentos oficiais da San-ta Sé, além de obras diversas rela-cionadas com o mundo católico e eclesiástico. Desde 31 de maio de 2006 é também detentora dos di-reitos autorais de todos os escritos do Santo Padre.

martirizado no ano 305 durante a perseguição do imperador Diocle-ciano.

Nessa data aconteceu o mila-gre que se repete há vários séculos, (a primeira vez foi em 1389, mas al-gumas fontes históricas constatam o milagre já no ano 315): o sangue do mártir, coagulado, de cor escu-ra, conservada num relicário de cris-tal, como que adquire vida, ficando líquido e de cor rubro brilhante, se-melhante ao sangue recém-derra-mado.

Numerosos fiéis congregaram-se na Capela do Tesouro da Igreja Ca-tedral de Nápoles para venerar a re-líquia e observar o milagre, que este ano aconteceu durante a Celebração da Eucaristia. Alguns participantes da mesma foram os primeiros a per-ceber o fato, espalhando-se rapida-mente a notícia, que ocasionou uma calorosa salva de palmas por par-te de todos os fiéis. Estiveram pre-sentes para venerar a relíquia o Ar-cebispo de Nápoles, Cardeal Cres-cenzio Sepe, junto com autoridades eclesiásticas, bem como o rei Alber-to II da Bélgica e sua esposa.

A liquefação acontece em três datas relacionadas com a vida de São Januário: no sábado anterior ao primeiro domingo de maio, quan-do se comemora o traslado das relí-quias do Santo a Nápoles; no dia de sua festa, 19 de setembro, e no dia 16 de dezembro, pois nessa data no ano 1631, e por sua intercessão, fo-ram evitados os terríveis efeitos de uma erupção do vulcão Vesúvio so-bre a cidade.

Londrinos manifestam entusiasmo por São Maximiliano Kolbe

No dia 27 de setembro as relí-quias de São Maximiliano Kolbe fo-ram veneradas em Londres, na Igre-ja de Notre Dame de France. E de 1º a 6 de outubro foi apresentada no Teatro de Leicester Square uma pe-ça sobre a vida do Santo com o título

O dom de Kolbe. Martin O’Brien, diretor artístico da obra, declarou: “Estamos muito surpresos com a avidez pela história de São Maximi-liano Kolbe. Muitas pessoas têm en-trado em contato conosco para ma-nifestar o seu entusiasmo”.

São Maximiliano Maria Kolbe, sacerdote missionário nascido na Polônia, morreu em 1941 no cam-po de concentração de Auschwitz, na Alemanha, ao apresentar-se co-mo voluntário para morrer no lu-gar de outro prisioneiro condena-do à morte. Uma imagem do Santo franciscano, fundador da “Milícia da Imaculada” orna a fachada da Aba-dia de Westminster, como parte de um conjunto dedicado aos mártires do século XX.

Liquefação do sangue de São Januário

Na quinta-feira, dia 19 de setem-bro, celebrou-se em Nápoles a festa de São Januário, Bispo de Beneven-to e padroeiro dessa cidade italiana

Biografia de São Josemaría para crianças

Blanco e as viagens a Barbastro é o título da primeira biografia mul-timídia sobre São Josemaría Escri-vá de Balaguer, escrita especialmen-te para crianças pelo peruano Car-los Zambrano e ilustrada por Luis Chumpitaz. O livro toma seu nome do pombo “Blanco”, que junto com seu amigo, o pequeno Miguel, visi-tam Barbastro, a cidade onde nas-ceu o fundador do Opus Dei, e os lugares onde passou a sua infância.

“Esta versão digital”, explica a página www.josemariaescriva.in-fo, “inclui 8 canções para crianças, em versão karaokê. Oferece tam-bém a possibilidade de escutar o tex-to contado pelo narrador. Os pro-motores da edição consideram que

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é especialmente apropriada para crianças que se preparam para rece-ber a Primeira Comunhão”.

tas em para veneração dos fiéis nas igrejas da cidade.

Cardeal Filoni preside aniversário da Diocese de Suwon

Com uma multitudinária Euca-ristia presidida pelo Cardeal Fer-nando Filoni, Prefeito da Congrega-ção para a Evangelização dos Povos, na qual participaram mais de 45 mil fiéis, a Diocese de Suwon, na Co-reia do Sul celebrou no dia 3 de ou-tubro seu 50º aniversário, que coin-cidiu com o término do ano jubilar diocesano.

Na sua homilia, o Cardeal ita-liano fez um histórico dessa Dioce-se fundada pelo Papa Paulo VI, no dia 7 de outubro de 1963 e concluiu apontando que “o crescimento pa-tente da comunidade católica nestes anos nos estimula e nos encoraja a compreender quanto as pessoas têm necessidade de Deus e quão poucos são sempre os operários no seu cam-po”. Dom Filoni lembrou também “todos aqueles que deram a vida pe-lo Evangelho nesta terra gloriosa”.

A Diocese de Suwon conta com 430 sacerdotes e por volta de 1 mi-lhão de fiéis. No seminário interdio-cesano estão atualmente sendo for-mados 190 seminaristas e 1,3 mil jo-vens do ensino médio frequentam cursos propedêuticos para descobrir sua vocação religiosa.

Em declarações concedidas à agência Fides, o Bispo Diocesano, Dom Matthias Ri Iong-hoon, expli-cou que a diocese conta com 202 pa-róquias, cada uma frequentada por uma média de 4 mil fiéis. Nelas “da-mos ênfase sobretudo às missões pa-ra jovens, aprisionados na rede de uma cultura que frequentemente distancia de Deus”. A Igreja admi-nistra também 40 jardins de infân-cia, 5 escolas primárias, 5 de ensino médio e 2 liceus. “Nestas obras, que mostram a presença viva da Igre-ja na sociedade — continuou Dom Ri Iong-hoon — o laicato católico

é muito ativo, dinâmico e bem or-ganizado. Mais de 30 associações e movimentos eclesiais oferecem um contributo fundamental no trabalho pastoral”.

Paróquias das Filipinas retomam a oração a São Miguel Arcanjo

O site da Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas anunciou em 26 de setembro ter enviado uma car-ta circular a todas as dioceses do ar-quipélago, incentivando instante-mente a recitação da oração a São Miguel Arcanjo composta pelo pa-pa Leão XIII no ano de 1896, e que durante muito tempo foi rezada nas igrejas ao final das Missas.

O Arcebispo Dom José Palma, presidente da Conferência Episco-pal, qualificou a oração como “mui-to oportuna”, em vista das “muitas situações problemáticas e de confli-tos” que hoje em dia vivemos. Por ela “invocamos a São Miguel para defender, a nós e ao nosso país, con-tra os ardis e ciladas do maligno... Miguel, que significa Quem como Deus, vencerá sempre sobre aquele que tenta desfigurar a fisionomia da humanidade, porque Deus, mais po-deroso, atua nele”.

A oração foi composta em latim e sua tradução é a seguinte: “São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio con-tra as maldades e ciladas do demô-nio. Ordene-lhe Deus, instantemen-te o pedimos, e vós, príncipe da mi-lícia celeste, pela virtude divina, pre-cipitai no inferno a satanás e aos ou-tros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém”.

Centro Comercial no Rio de Janeiro tem Missa aos domingos

O Centro Comercial Via Parque do Rio de Janeiro, na Barra da Ti-juca, anunciou o início da celebra-ção de Missas dominicais às 16h, a partir do mês de outubro. Para esta

Piedade popular na Andaluzia

Numa impressionante manifesta-ção de fé, a cidade de Córdoba, Es-panha, congregou no dia 14 de se-tembro, na opinião da Polícia, “um volume de pessoas como nunca an-tes tinha sido visto na cidade”. Com efeito, quase 180 mil pessoas, de acordo com cálculo feito pelo jornal Sur, congregaram-se para participar nessa data da Via-Sacra Magna do Ano da Fé realizada nessa cidade.

Para realizar o percurso, as con-frarias e irmandades da Paixão en-galanaram com os melhores ornatos seus respectivos passos e imagens, obras de grande valor artístico que convidam ao recolhimento e à de-voção. O ato, que começou às 17h, terminou às 23:30h na Catedral, on-de todos os passos convergiram para os fiéis fazerem uma oração em con-junto e receberem a bênção do Bis-po de Córdoba, Dom Demetrio Fer-nández.

Quinze dias depois, no sábado dia 28 de setembro, celebrou-se na cidade de Málaga, também na An-daluzia, a procissão denominada Mater Dei — Mãe de Deus, na qual as oito imagens das principais con-frarias percorreram as ruas da cida-de nos seus “tronos”, indo desde a Praça da Constituição até a Cate-dral. Como preâmbulo da procis-são, desde as 9h da manhã do dia anterior até às 3h da madrugada do sábado, 60 imagens de diversas in-vocações marianas, tanto da Pai-xão quanto de Glória, foram expos-

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finalidade foi erigida a capela de São Judas Tadeu, que ficará aberta das 9:30h até às 20h durante a sema-na para todos aqueles que desejem se recolher em oração.

A iniciativa foi fruto da exposição Quem é o homem do Sudário? que realizou-se no mesmo centro comer-cial entre os dias 23 de março e 6 de maio de 2012. Nela eram exibidas imagens detalhadas da Sagrada Sín-done, réplicas dos instrumentos da Paixão, assim como uma represen-tação holográfica de Nosso Senhor feita com base na silhueta visível no Sudário.

dusan, onde se encontram os restos de mais 28 mártires.

No dia 20 de setembro cele-bra-se a memória litúrgica de 103 mártires mortos durante as per-seguições ocorridas entre os anos 1839 e 1867. Nesse número in-cluem-se apenas os oficialmen-te reconhecidos pela Igreja, mas os historiadores calculam que te-nha havido nesse período por volta de 10 mil pessoas assassinadas por ódio à Fe. O mês de setembro foi proclamado pela Arquidiocese de Seul, a capital do país, como o Mês dos Mártires.

Arquidiocese de Washington imprime Bíblia em chinês

Uma versão comparada inglês--chinês do Antigo Testamento foi publicada nos Estados Unidos no mês de setembro, abrindo novas possibilidades evangelizadoras entre os fiéis oriundos desse imenso país asiático.

Ao comunicar a notícia, Carolyn Ng, membro da Missão Pastoral de Nossa Senhora da China, da arqui-diocese de Washington, mostrou--se “exultante” com a nova tradu-ção. Em entrevista à agência CNA, ela afirmou que “será uma ferra-menta maravilhosa” para a evan-gelização de chineses ateus ou ag-nósticos “que estão sôfregos de aprender inglês e tem curiosidade de saber mais sobre o Cristianis-mo, e mais especificamente sobre a Fé Católica”.

De sua parte, o Bispo de Reno, Nevada, Dom Randolph Calvo, pre-sidente do Comitê para assuntos da Ásia e do Pacífico, organismo da conferência de Bispos americanos, afirmou que esta tradução compara-da “ajuda a Igreja em todo o mundo a compreender a história e as lutas da Igreja Católica na China”.

O Novo Testamento, em versão comparada ao chinês tradicional, já tinha sido editado em 2009, e uma

versão em chinês simplificado, em 2011. Perto de 340 mil chineses ca-tólicos vivem nos Estados Unidos. O texto base foi uma tradução do Bem-aventurado Pe. Gabriele Al-legra, que completou uma primeira tradução da Bíblia em 1968, depois de 40 anos de trabalho.

Coreia do Sul venera seus mártires

No dia 10 de setembro, 21 Bispos coreanos fizeram pela primeira vez uma peregrinação a pé pelos locais mais significativos relacionados com os mártires da Coreia, sendo acom-panhados no seu percurso pelo clero e numerosos fiéis.

Partindo da capela da faculdade de Teologia da Universidade Católi-ca da Coreia, onde foram veneradas as relíquias de Santo André Kim Ta-egon, primeiro sacerdote de origem coreana e mártir, dirigiram-se em seguida até a sede da polícia onde aconteceram alguns dos martírios. Particularmente evocativas foram as estações ao Santuário de Seosu-mun, onde pereceram 44 dos márti-res e ao de Danggogea, onde foram martirizados 10 cristãos, assim como à catedral de Myeong-dong, em cuja cripta se veneram as relíquias de no-ve desses mártires. Também foi visi-tado o lugar onde foram assassina-dos 11 sacerdotes, o Santuário de Seanamteo, e o Santuário de Jeol-

Igreja dedicada a São José é sagrada no Cazaquistão

Após ter passado 10 anos em construção devido a dificuldades fi-nanceiras, foi sagrada a 15 de setem-bro em Astana, capital do Cazaquis-tão uma nova igreja de rito Greco--Católico, erigida sob a invocação de “São José Prometido em Matrimô-nio”.

A solene dedicação do templo, realizada em rito ucraniano, foi le-vada a cabo por Dom Joseph Milian, Bispo-auxiliar da Arquieparquia Maior de Kiev–Galícia. Participa-ram da cerimônia Dom Janusz Kale-ta, Bispo de Karaganda, e o Cardeal Leonardo Sandri, que veio de Ro-ma trazendo dois presentes do San-to Padre: um cálice e algumas relí-quias de São Josafá. Estiveram pre-sentes também membros do Gover-no cazaque e dos corpos diplomá-ticos da Geórgia, da Ucrânia e dos Estados Unidos.

Arcebispo de Czestochowa consagra a Nossa Senhora o ano letivo

Em uma carta pastoral intitula-da Confiemo-nos a seu Coração Ima-culado, o Arcebispo de Czestocho-wa, Dom Wacław Depo consagrou a Nossa Senhora o ano letivo 2013-2014, que na Polônia começa no mês

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Seja também um coordenador do oratório do imaculado coração de maria!

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ApostolAdo do orAtório MAriA rAinhA dos CorAções

44      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

de setembro. Nessa missiva, o pre-lado pede seu maternal auxílio pa-ra fazer frente a um mundo cada vez mais secularizado.

“Infelizmente, ainda hoje, mui-tos países, inclusive parlamentos democraticamente eleitos, promo-vem uma cultura que elimina Deus da vida individual e social” — afir-ma Dom Depo. E conclui sua mis-siva convidando a ter confiança em Maria Santíssima, a exemplo do Ser-vo de Deus Cardeal August Hlond, Arcebispo Primaz da Polônia faleci-do em Varsóvia em outubro de 1948.

cerdócio para o ano letivo 2013-2014. Os jovens que se apresenta-ram para as provas preliminares fo-ram 410, dos quais serão seleciona-dos apenas 40 após rigoroso escru-tínio composto por um exame desti-nado a avaliar seus conhecimentos sobre Sagradas Escrituras, espiritu-alidade cristã e cultura geral, e uma ou duas entrevistas individuais de discernimento vocacional.

A partir de 1987, houve um reflo-rescimento de seminários no Vietnã. Além do já mencionado, a provín-cia eclesiástica de Hanói conta com quatro, enquanto Ho-Chi-Minh, Bùi Chu e Thái Binh já contam com um. Houve também nesse período um incremento de vocações femininas.

Jornada Mariana da Família em Torreciudad

Sob a presidência de Dom Fran-cisco Pérez, Arcebispo de Pamplo-na e Bispo de Tudela, Espanha, foi celebrada pelo 24º ano consecutivo no Santuário de Torreciudad a Jor-nada Mariana da Família. Realizado em 14 de setembro, o evento reuniu cerca de 10 mil pessoas, que conver-giram para o Santuário de diversas regiões da Espanha a fim de meditar sobre o tema A família, formadora de valores humanos e cristãos. Mais

de 100 ônibus foram fretados por as-sociações juvenis, paróquias e cen-tros educativos para facilitar o tras-lado dos peregrinos.

O ato iniciou-se com a leitura da Oração das Famílias, seguida de uma pitoresca oferenda com alguns dos mais escolhidos produtos do ar-tesanato e da agropecuária, tais co-mo presuntos de Teruel, azeites da Andaluzia, mel de La Alcarria, ce-râmicas granadinas, doces de Tor-reciudad. Um grupo de meninas em preparação para receber a Primeira Comunhão ofereceu trabalhos ma-nuais.

Dom Pérez manifestou seu apoio às famílias que sofrem por causa da crise financeira e afir-mou em sua homilia que “amor e dor são dois semicírculos que uni-dos formam o anel da compreen-são, misericórdia, perdão, fideli-dade, generosidade, fecundidade e doação total, e dentro desse círculo está enquadrada a vida da família cristã”. De como enfrentar as difi-culdades nos dá exemplo a Virgem Santíssima: “Na Mãe Dolorosa que esteve ao pé da Cruz, da qual esta-va pendurado Jesus, encontramos o mais perfeito equilíbrio entre o amor e a dor: Maria nos ensina a viver com a cruz de cada dia”.

Seminário do Vietnã bate recorde de admissões

A direção do seminário de Vinh Thanh, que atende as dioceses de Vinh e de Thanh Hóa, deu a conhe-cer em setembro o resultado das ins-crições de novos candidatos ao sa-

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Dez santuários marianos conectados em oração

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      45

Jornada mariana em roma

omo preparação para a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria promovida pelo Papa

Francisco no dia 13 de outubro, realizou-se em Roma a Jornada Mariana.

O evento iniciou-se com a acolhida na Praça de São Pedro da imagem de Nossa Senhora de Fátima da Cape-la das Aparições, trazida especialmente para a ocasião. Durante o ato foi rezada a oração do Via Matris, uma de-voção que, à semelhança da Via-Sacra, percorre os mo-mentos mais significativos da vida da Mãe Dolorosa. Vá-rias associações marianas, entre as quais os Arautos do Evangelho, se revezaram para levar o andor da imagem da Casa Santa Marta até o obelisco. Dali ela foi condu-zida até o Santo Padre por sediários pontifícios, escolta-dos pela Guarda Suíça.

Em seguida, a imagem foi transportada de helicóp-tero ao Santuário do Divino Amor, situado a 18 km do

centro de Roma, onde o Vicariato da Urbe organizou uma vigília de oração que se estendeu até as celebrações do dia seguinte. O ato, intitulado Com Maria para além da noite, iniciou-se com a recitação simultânea do San-to Rosário em 10 dos mais importantes santuários ma-rianos do mundo: Aparecida (Brasil); Luján (Argenti-na); Lourdes (França); Czestochowa (Polônia); Ban-neux (Bélgica); Nazaré (Israel); Nairóbi (Quênia); Akita (Japão); Vailankanni (Índia) e o Santuário Nacional da Imaculada Conceição (Estados Unidos).

Na manhã do dia 13, na Praça de São Pedro, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima o Papa Fran-cisco celebrou a Eucaristia, realizou a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e rezou o Ange-lus. A Jornada Mariana se inclui dentro das comemora-ções do Ano da Fé, que será encerrado na Solenidade de Cristo Rei, no próximo dia 24 de novembro.

À esquerda: arautos conduzem a imagem da Capelinha das Aparições. À direita, diversos aspectos das vigílias realizadas simultaneamente em Roma, Lourdes, Nazaré, Luján, Vailankanni e Nairóbi.

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Nunca se ouviu dizer...

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46      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

hiStória Para CriançaS... ou adultoS CheioS de fé?

Gustavo caiu numa poltrona e ali mesmo adormeceu. Maria Santíssima, porém, Se compadeceu daquele filho ingrato e lhe enviou um sonho.

á era noite e Gustavo esta-va exausto: aquele dia fora ár-duo. Contudo, o cansaço físi-co do jovem não era nada se

comparado ao seu lamentável estado espiritual.

Nascera ele numa peque-na aldeia, em uma família cris-tã fervorosa. Sendo ainda be-bê, ficara órfão de pai, um ho-nesto marceneiro. A partir de então, dona Catarina, sua mãe, esmerou-se em sua educação. Não poupava esforços para que o menino se tornasse não só um bom profissional no futuro, mas, sobretudo, fosse um exce-lente católico. Todas as tardes, quando encerrava os trabalhos, ela se ajoelhava diante de uma imagem de Nossa Senhora, ten-do ao seu lado Gustavinho, e re-zavam juntos, encomendando--se Àquela que, sempre solíci-ta, era o porto seguro em todas as aflições. Nessa atmosfera de esforço e confiança sem limites em Maria Santíssima, mesmo nas maiores angústias, cresceu Gustavo.

Estando na flor da juventu-de, porém, o infortúnio bateu à

sua porta: dona Catarina ficou terri-velmente doente. Com os poucos re-cursos que possuíam, tudo fizeram para que se recuperasse, mas foi em vão. Soara para ela o instante temí-vel de prestar contas a Deus de sua

vida. Em seus últimos haustos, es-tando Gustavo desconsolado à sua cabeceira, ela lhe disse:

— Meu filho, Deus vai me cha-mar a Si quando mais precisas de mim. No entanto, passamos muitas

dificuldades juntos e em ne-nhuma delas desamparou-nos Nossa Senhora. A Ela te con-fio! Sei que fará por ti muito mais do que estaria ao meu alcance. Todavia, para tua po-bre mãe morrer em paz, peço--te prometer-me que não dei-xarás de n’Ela esperar e de a Ela recorrer em qualquer ocasião; e que todos os dias, ainda estando muito fatigado ou cheio de ocupações, nun-ca deixarás de rezar ao menos três Ave-Marias...

O jovem, chorando, garan-tiu-lhe que assim o faria.

Depois de receber os últi-mos Sacramentos e com o no-me de Maria nos lábios, a boa senhora entregou sua alma a Deus.

Chegou então para o inex-periente rapaz a hora da pro-va, do combate, que faz do ho-mem, segundo suas ações, um

Todas as tardes, ela se ajoelhava diante de uma imagem de Nossa Senhora,

tendo ao seu lado Gustavinho

Maria Beatriz Ribeiro Matos

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      47

herói ou um infame, um santo ou um malvado. Os dias se sucederam e Gustavo teve de tomar providências e traba-lhar para se manter. Co-mo um alento, as últimas palavras de sua mãe lhe acompanhavam a todo momento nos primeiros meses de sua ausência, a ponto de se tornarem uma regra de vida.

Não obstante, ao ad-quirir uma situação es-tável e se acalmarem as primeiras preocupa-ções com a subsistência, o jovem deixou-se arras-tar pelo turbilhão mun-dano, tornando-se ami-go de gente gananciosa e avara. A devoção a Nos-sa Senhora ainda vivia um tanto agonizante na alma do rapaz. Sua vida espiritual, entretanto, fi-cara reduzida a quase nada, pois só não tivera coragem de abandonar as três Ave-Marias.

Nessa situação se encontrava Gustavo naquela noite. Ao voltar tão fatigado do trabalho, pensava apenas em descansar. Passando pela sala, seus olhos pousaram por aca-so na imagenzinha que há não mui-to tempo tanto lhe tocara... Pensou ele: “Rezar... a estas horas? Não dá! Mas... e minha promessa? Por hoje, passa! Estou com tanto sono!...”.

Caiu numa poltrona e ali mesmo adormeceu.

Maria Santíssima, porém, Se compadeceu daquele filho ingrato e lhe enviou um sonho. Gustavo viu como a desolação se espargia em to-da a Terra: mares e rios transborda-vam, os vulcões lançavam fogo e la-va, os astros caíam do firmamento, cidades inteiras eram sepultadas, as montanhas fundiam-se com um es-trondo ensurdecedor, e a fome, a

guerra, a peste, a miséria e a morte espalhavam-se por todos os cantos. Era o fim do mundo!

Foi então que o som de uma trom-beta fez-se ouvir, chamando os que dormiam o sono eterno para compa-recerem ao Juízo Final. Enquanto to-dos os homens e mulheres acorriam ao Vale de Josafá, em uma nuvem de glória descia o Homem-Deus para julgar os vivos e os mortos.

Jesus Cristo mandava uns à di-reita e outros à esquerda. Cada qual respondia por seus próprios atos an-te o temível Juiz: os pais eram inca-pazes de salvar seus filhos, ou os fi-lhos, seus pais. Gustavo, aterroriza-do, viu-se entre os que seriam julga-dos e compreendeu de que lado es-taria... Levantou os olhos à busca de socorro e avistou a Santíssima Vir-gem, que o fitava séria e desgostosa.

Ao ver a sempre tão misericor-diosa Mãe descontente consigo, o jovem caiu em si e clamou aflito:

Foi então que o som de uma trombeta fez-se ouvir, chamando aqueles que dormiam o sono eterno para comparecerem ao Juízo Final...

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— Senhora, Vós que sois a advo-gada e o refúgio dos pecadores, ten-de pena de mim! Nunca se ouviu di-zer que algum daqueles que tenham recorrido à vossa proteção, implo-rado vossa assistência e reclamado vosso socorro, fosse por Vós desam-parado! Não serei eu o primeiro! In-tercedei por mim!

De joelhos e chorando, pôs-se a rezar as três Ave-Marias abandona-das. Viu, então, o rosto de Nossa Se-nhora iluminar-se com um sorriso, recolher bondosamente sua prece e apresentá-la ao seu Divino Filho.

Gustavo acordou sobressaltado!... O sonho produziu-lhe tal impressão que, ao amanhecer, seus cabelos, an-tes negros como o ébano, haviam se tornado brancos como a neve. Ele compreendeu que recebera um aviso de Maria Santíssima para que se cor-rigisse e voltasse ao bom caminho. A partir daí fez penitência e retomou a via da santidade. ²

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48      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

Os santOs de cada dia ________________________ nOvembrO1. Beato Teodoro Jorge Romzsa,

Bispo e mártir (†1947). Bispo da Eparquia Greco-Católica de Mukachevo, Ucrânia, foi vítima de um atentado e posteriormen-te envenenado por manter sua fi-delidade à Igreja em tempos de proibição da Fé.

2. Comemoração de todos os fiéis defuntos.

Beata Margarida de Lore-na, religiosa (†1521). Duquesa de Alençon, França, que após fi-car viúva, abraçou a vida religio-sa num mosteiro de Clarissas que ela mesma mandara construir.

3. XXXI Domingo do Tempo Comum. Solenidade de Todos os Santos. (Transferida do dia 1º).

São Martinho de Porres, reli-gioso (†1639).

Santo Ermengol, Bispo (†1035). Foi durante 25 anos Bis-po de Urgell, Espanha, numa época de grandes mudanças his-tóricas.

4. São Carlos Borromeu, Bispo (†1584).

Beata Helena Enselmini, vir-gem (†1242). Religiosa Claris-sa, recebeu o hábito das mãos de São Francisco e teve por diretor espiritual Santo Antônio de Pá-dua. Após enfermar-se deu he-roicas provas de resignação e pa-ciência.

5. Beato Gômidas Keumurgian, presbítero e mártir (†1707). Nas-cido e ordenado na Igreja da Ar-mênia, sofreu muito e foi degola-do em Constantinopla, por man-ter e propagar a Fé Católica pro-fessada no Concílio de Calcedô-nia.

6. São Melânio de Rennes, Bis-po (†depois de 511). Dotado de

grande espírito de oração, cons-truiu com suas próprias mãos uma igreja em Rennes, França, e congregou diversos monges ao serviço de Deus.

7. São Pedro Wu Guosheng, cate-quista e mártir (†1814). Conver-tido à Fé Católica, deixou o ofí-cio de estalajadeiro para se tor-nar catequista. Recusando-se a apostatar, foi estrangulado em Zunyi, China.

8. São Vileado de Bremen, Bis-po (†789). Nascido na Inglater-ra, pregou o Evangelho na Frísia e na Saxônia, depois de São Bo-nifácio. Foi o primeiro Bispo de Bremen, Alemanha.

9. Dedicação da Basílica de Latrão.Beato Henrique Hlebowicz,

presbítero e mártir (†1941). Pro-fessor do seminário e universida-de de Vilna, atual Lituânia, foi fuzilado durante a guerra, num bosque próximo a Borysów, Be-larus.

10. XXXII Domingo do Tempo Comum.

São Leão Magno, Papa e Dou-tor da Igreja (†461).

São Baudolino, eremita (†séc. VIII). Eremita favorecido com os dons de milagre e profecia. Fale-ceu em Villa del Foro, Itália.

11. São Martinho de Tours, Bispo (†397).

Beato Vicente Eugênio Bossi-lkov, Bispo e mártir (†1952). Re-ligioso da Congregação da Paixão de Jesus Cristo, fuzilado em Só-fia, Bulgária, por negar-se a rom-per com o Papa.

12. São Josafá, Bispo e mártir (†1623).

São Cuniberto, Bispo (†cerca de 663). Renovou na Diocese de

Colônia, Alemanha, a vida eclesi-ástica e a piedade dos fiéis depois das invasões dos bárbaros.

13. São Nicolau I, Papa (†867). Em-penhou-se com vigor apostólico a consolidar a autoridade do Ro-mano Pontífice em toda a Igre-ja de Deus.

14. Beato João Liccio, presbíte-ro (†1511). Religioso dominica-no, destacou-se por sua infatigá-vel caridade com o próximo, pelo empenho na propagação do San-to Rosário e observância da Re-gra. Faleceu em Caccamo, Itália, aos 111 anos.

15. Santo Alberto Magno, Bispo e Doutor da Igreja (†1280).

São José Pignatelli, presbíte-ro (†1811). Jesuíta espanhol que teve um importante papel na res-tauração da Companhia de Jesus, após a supressão em 1773.

16. Santa Margarida da Escócia, rainha (†1093).

Santa Gertrudes, virgem (†1302).

Santo Otmar, abade (†759). Construiu na Suíça um pequeno hospital para leprosos e um mos-teiro sob a regra beneditina.

17. XXXIII Domingo do Tempo Comum.

Santa Isabel da Hungria, reli-giosa (†1231).

Beata Salomé, abadessa (†1268). Esposa do rei da Hun-gria, após ficar viúva fez-se reli-giosa Clarissa e tornou-se aba-dessa num mosteiro fundado por ela mesma, próximo a Cracóvia, Polônia.

18. Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo, Apóstolos.

Beato Leonardo Kimura e companheiros, mártires (†1619).

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Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      49

Os santOs de cada dia ________________________ nOvembrOJesuíta queimado vivo junto com mais quatro companheiros em Nagasaki, Japão.

19. Santos Roque González, Afon-so Rodríguez e João del Castillo, presbíteros e mártires (†1628).

São Barlaão, mártir (†cerca de 303). Lavrador rústico e ile-trado que se recusou a queimar incenso aos ídolos, sendo por isso martirizado em Antioquia.

20. São Francisco Xavier Cân, már-tir (†1837). Catequista estran-gulado e decapitado em Hanói, Vietnã, no tempo do imperador Minh Mang.

21. Apresentação de Nossa Senhora.

São Mauro de Cesena, Bispo (†946). Sobrinho do Papa João X nomeado Bispo de Cesena, Itá-lia. O culto as suas relíquias deu origem à Abadia de Santa Maria do Monte.

22. Santa Cecília, virgem e mártir (†séc. inc.).

Beato Tomás Reggio, Bispo (†1901). Arcebispo de Gênova, Itália, fundou a Congregação das Irmãs de Santa Marta.

23. São Clemente I, Papa e mártir (†séc. I).

São Columbano, abade (†615).

Beato Miguel Agostinho Pró, presbítero e mártir (†1927). Je-suíta fuzilado após uma condena-ção sem processo, em Guadalu-pe, México, durante a persegui-ção contra a Igreja.

24. XXXIV Domingo do Tempo Comum. Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Santo André Dung-Lac, pres-bítero, e companheiros, mártires (†1625-1886).

Beato Bálsamo, abade (†1232). Em meio às confu-sões e contradições de seu tem-po, dirigiu com sabedoria e pru dência a Abadia da Santíssi-ma Trindade de Cava de’ Tirreni, Itália.

25. Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir (†séc. inc.).

Beata Isabel Achler, virgem (†1480). Religiosa da Ordem Terceira Regular Franciscana vi-veu em Reute, Alemanha, pra-ticando a humildade, pobreza e mortificação do corpo.

26. São Silvestre Gozzolini, abade (†1267). Após viver retirado como eremita, fundou próximo a Fabriano, Itália, o Mosteiro de Montefano, dando origem à Congregação Beneditina Silvestrina.

27. Santo Acário de Noyon, Bispo (†cerca de 640). Sendo monge de Luxeuil, foi eleito Bispo

de Noyon (França) e Tournai (Bélgica) que formavam uma única diocese naquela época.

28. Santo Irenarco, mártir (†séc. IV). Carrasco convertido durante a perseguição de Diocleciano, ao ver a firmeza e força das mulhe-res cristãs. Morreu decapitado.

29. São Francisco Antônio Fasa-ni, presbítero (†1742). Sacerdo-te da Ordem dos Frades Meno-res, de apurada cultura, grande amor pela pregação e pela peni-tência, e sempre atento ao servi-ço dos necessitados. Morreu em Lucera, Itália.

30. Santo André, Apóstolo. Segun-do a tradição, foi crucificado em Pátras, Grécia, por volta do ano 60.

Beato Frederico de Ratisbo-na, confessor (†1329). Religioso da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, sendo hábil carpintei-ro, destacou-se por seu fervor na oração, obediência e caridade.

“Santa Isabel da Hungria curando um doente”, por Lucas Valdés Museu de Belas Artes, Sevilha (Espanha)

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Pináculos de pedra, Pináculo de pedra, auge de amor

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50      Arautos do Evangelho · Novembro 2013

Aquele bom homem construiu uma catedral. Mas a Doutora da Pequena Via levou a cabo uma obra incomparavelmente mais grandiosa.

am! Pam! Pam!— O martelo! — pede

alguém.— Cuidado com as pe-

dras! — avisa outro.Estamos em meio a uma grande

construção. Às tantas, alguém resol-ve inquirir os operários a respeito do trabalho que realizam.

— O que fazes?— Como vês, estou quebrando

pedras — responde o primeiro.

A mesma pergunta é feita a ou-tro, que diz:

— Trabalho arduamente, levan-tando estas sólidas paredes de pe-dra, para ganhar o sustento de mi-nha família.

Por fim, a indagação é dirigida a um terceiro trabalhador:

— E tu, o que fazes?— Para glória do bom Deus e sal-

vação das almas, estou construindo uma catedral!

Aos olhos dos homens esses três operários realizavam o mes-mo trabalho, mas os dois primei-ros tinham os olhos da alma vol-tados para o chão, enquanto o es-pírito do terceiro apontava para o Céu, como o fariam em breve as pedras que lavrava com esmero para finalizar os pontos mais al-tos da catedral.

Com efeito, parecendo de-safiar a lei da gravidade, os tão

Fahima Spielmann

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Pináculo de pedra, auge de amor

Novembro 2013 · Arautos do Evangelho      51

Santa Teresinha do Menino Jesus, aos 22 anos; ao fundo, Catedral

Notre Dame, Bayeux (França)

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Bré

get

donado tudo para encerrar-se na clausura do Carmelo, sentia-se ainda insatisfeita. “Sinto em mim a vocação de guerreiro, de sacer-dote, de Apóstolo, de doutor, e de mártir” — clamava essa alma ino-cente. “Sinto a necessidade, o de-sejo de realizar por Ti, Jesus, to-das as obras, as mais heroicas... [...] Ó Jesus! Meu amor, minha vi-da!... Como conciliar estes con-trastes? Como realizar os desejos de minha pobre alminha?...”.1

A Doutora da Pequena Via compreendeu que não era impossí-vel alcançar este auge. Bastava um elemento: o amor. Sua vida, que nas exterioridades nada parecia ter de extraordinário, transformou-se em modelo para o mundo. Soube

ela colocar nos mínimos atos de sua existência o impulso que inspi-rava o nosso terceiro trabalhador, o qual sabia que cada martelada, cada parede levantada era, na ver-dade, um ato de amor a Deus. E se aquele bom homem colaborou para construir uma catedral, Santa Te-resinha levou a cabo uma obra in-comparavelmente mais grandiosa, a qual ultrapassou a elevação das agulhas de todas as catedrais da Terra. ²

1 SANTA TERESA DE LISIEUX. Manuscrito B. Todas as obras, as mais heroicas. In: Obras Completas. São Paulo: Paulus, 2002, p.171.

característicos pináculos da arqui-tetura gótica dão-nos a impressão de querer perfurar o firmamento, assemelhando-se à alma que, es-tando ainda na Terra, vive nas co-gitações do Céu. Simbolizam es-sas agulhas de pedra a oração da Igreja ao Espírito Santo: “Ut men-tes nostras ad cælestia desideria eri-gas! — Dai às nossas mentes o de-sejo das coisas do alto!”.

Ora, almas há que procuram viver o tempo todo buscando au-ges, como que “na ponta dos pés”, propondo-se metas ousadas para as quais apenas o Céu é o li-mite.

Um exemplo dessas almas pi-naculares foi Santa Teresinha do Menino Jesus. Tendo ela aban-

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Porta do Céu

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Santíssima Virgem é chamada, com toda

propriedade, “Porta do Céu”, porque d’Ela emanou toda a graça criada e Incriada que veio ou há de vir alguma vez ao mundo. Ela é Mãe de todo o bem, Mãe da graça, Mãe de misericórdia. D’Ela brotou e fluiu para o mundo, como por um aqueduto, a própria Graça Incriada.

(Santo Alberto Magno)

Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria pertencente aos Arautos do Evangelho