20 Casos de Regressão - Mauro Kwitko

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  • Capa: Marco Cena Reviso: Rosngela Kila e Mait Cena Produo: BesouroBox Editorao eletrnica: Mait Cena Assessoramento de edio: Andr Luis Alt

    K98v Kwitko, Mauro 20 casos de regresso/ Mauro Kwitko

    6.ed. Porto Alegre: BesouroBox, 2012.

    240p. ISBN: 978-85-99275-52-8

    1. Regresso teraputica 2. Psicanlise-Regresso teraputica 3. Terapia psicanaltica-Regresso 4. Hipnose - Psicanlise I.Ttulo

    CDU: 159.962 159.964.2 616.89-008.441

    Catalogao: Agla Castilho Oliva CRB10/814

    Copyright Mauro Kwitko, 1998.

    Todos os direitos desta edio reservados Edies BesouroBox Ltda. Rua Brito Peixoto, 224 - CEP: 91030-400 Passo D'Areia - Porto Alegre - RS Fone: (51)3337.5620 [email protected] www.besourobox.com.br

    Impresso no Brasil Abril de 2012

  • "Somente aqui no Plano Astral pude re-conhecer os elos que faltam a Freud quanto ao sistema de positivao das origens das psicoses e desequilbrios diversos. Os 'complexos de infe-rioridade', o 'recalque', as 'emerses do subcons-ciente', e tc , no constituem fatores adquiridos no curto espao de uma existncia terrestre, e sim caractersticos da personalidade egressa das experincias passadas.

    A subconsciencia estende-se muito alm da zona limitada de tempo em que se move um aparelho fsico. Representa a estratificao de todas as lutas com as aquisies mentais e emotivas que lhes foram consequentes, depois da utilizao de vrios corpos.

    Faltam, pois, s teorias de Sigmund Freud e de seus continuadores a noo dos princpios reencarnacionistas. Precisamos divulgar no mun-do o conceito da Personalidade Congnita, em processo de melhoria gradativa."

    Palestra do Dr. Barcelos, psiquiatra desencarnado, na cidade Nosso Lar, em "Obreiros da Vida Eterna",de Andr Luiz, psicografado por Francisco Cndido Xavier.

  • NOTA - Antes de comearem os casos, quero explicar que tornei os relatos dos pacientes mais literrios. Eles so, na realidade, mais concisos, menos discursivos, mais frequentemente de frases curtas. Ento, para fins de literatura, deixei-os mais narrativos e mais fludos, para que a leitura transcorra mais facilmente. como se cada regresso se transformasse numa histria, mas de maneira nenhuma alterei os relatos. Eles so fiis ao que os pacientes vivenciaram nas sesses. Tambm no coloquei minhas intervenes nem meus estmulos para no truncar os relatos.

  • As lies 9

    Uma Viso tica da Regresso Teraputica 11

    CAS01 A Tristeza, a Maternidade, a Vaidade 17

    CASO 2 A Tristeza, a Melancolia, o Abandono 42

    CASO 3 A Raiva, a Mgoa, a Depresso 54

    CASO 4 O Isolamento, a Falta de Motivao, a Tristeza 65

    CASO 5 A Dependncia, a Depresso, a Falta de Confiana 74

    CASO 6 A Rejeio, o Abandono, a Autodestruio 81

    CASO 7 A Rebeldia, a Agressividade, a Rejeio 88

    CASO 8 A insegurana, o Medo, a Tristeza 101

    SUMRIO

  • CASO 9 A Tristeza, a Dependncia, a Melancolia 109

    CAS010 A Rejeio, a Insegurana, a Raiva 126

    CAS011 O Isolamento, a Falta de Rumo, a Autorrepresso 133

    CAS012 A Depresso, a Introverso, a Falta de Assertividade 149

    CAS013 A Tenso, a Falta de Confiana, a Mgoa 161

    CAS014 O Medo, a Autorrepresso, a Falta de Objetividade 166

    CAS015 A Tristeza, a Falta de Confiana, a Falta de Rumo 178

    CAS016 A Falta de Confiana, a Baixa Autoestima, a Vitimao 189

    CAS017 A Mgoa, a Tristeza, o Abandono 194

    CAS018 A Instabilidade, a Inconstncia, a Agitao 199

    CAS019 A Igualdade, o Poder do Bem, a Fora Espiritual 205

    CASO 20 A Falta de Rumo, a Introverso, a Falta de Motivao 218

    Comentrios finais 224

  • As lies

    As regresses nos tm trazido lies que iro, a seu tempo, promover uma enorme expanso dos conceitos psicolgicos. As premissas bsicas da Psicoterapia Reencarnacionista compro-vam-se nos casos de regresso s encarnaes

    passadas. A noo de Personalidade Congnita totalmente comprovada e isso, depois das descobertas de Freud, a maior revoluo na histria da Psicologia, pois se contrape noo da formao da personalidade na infncia, um conceito que desconsidera a Reencarnao.

    Quando lancei este livro, em 1996, ele iria chamar-se "As lies de 20 Casos de Regresso". As principais lies que as regresses nos trazem so:

    1) A Reencarnao um fato natural, ns no somos um livro em branco ao nascermos, pelo contrrio, trazemos conosco uma histria muito antiga de vivncias e experincias. Somos um Esprito eterno num corpo fsico perecvel, passando pela Escola terrestre, mais uma vez. Segundo Jung, em Complexo, Arqutipo, Smbolos, pg. 48: " um grande erro supor que a alma da criana seria uma tabula rasa no sentido de que nada houvesse dentro dela."

    2) A nossa Personalidade no se forma na infncia. Ela congnita, j nasce conosco e a nossa continuao das l-timas encarnaes, estando a embutida a finalidade da vida atual, que melhorarmos em relao a ns mesmos, ou seja, sairmos daqui melhor do que chegamos. Ns no formamos nossa personalidade na infncia, ns a a revelamos.

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    3) Os fatos da nossa infncia e da vida nos afetam nossa maneira, ou seja, ns sentimos e reagimos s circunstncias do nosso jeito, de acordo com a nossa Personalidade Congnita. Por isso, as pessoas reagem de modo diferente s mesmas si-tuaes, pois as sentem de maneira diferente. Nas consultas de Psicoterapia Reencarnacionista, ajudamos as pessoas a fazerem uma releitura de sua infncia segundo a tica reencarnacionista e a entenderem os gatilhos e as armadilhas da vida terrena. A nossa infncia estruturada por Deus segundo nosso mereci-mento e nossa necessidade. Uma famlia um agrupamento de Espritos unidos por laos de divergncia ou de afinidade.

    4) A finalidade da encarnao , em convivendo com as imperfeies do Plano Terreno, fazer aflorar as nossas prprias imperfeies e, pela autocura, obtermos uma evoluo. Isso realizado em nossos pensamentos, sentimentos e atos e, desta maneira, iremos elevando a nossa frequncia vibratria at que, um dia, consigamos nos desprender da atrao da fora da gravidade terrestre e continuemos nossa evoluo (elevao energtica) em outro lugar mais evoludo vibratoriamente.

    A Psicoterapia Reencarnacionista vem para trazer ao Plano Terreno uma maneira de tratar as pessoas de maneira semelhante realizada no Plano Astral, quando revisamos, de-pois de desencarnados, a nossa trajetria terrestre que findou. Podemos fazer isso aqui, durante a encarnao. Essa a propos-ta dessa nova Escola, que se baseia na Personalidade Congnita, na finalidade da encarnao e no seu real aproveitamento. Ela visa ajudar os Espritos encarnados a evitar padres negativos, repetitivos de comportamento, encarnao aps encarnao. Veio para continuar os trabalhos de pesquisa do Dr. Freud e de Jung quanto ao Inconsciente e afirma-se na Reencarnao.

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  • Uma Viso Etica da Regresso Teraputica

    Quero, primeiramente, falar sobre o aspecto mais importante da Terapia de Regresso: a tica. Essa terapia lida com o desligamento de uma pessoa de fatos traumticos do seu passado, geralmente de encarnaes anteriores,

    escondidos no Inconsciente, que ainda esto lhe afetando. Tais fatos trazem os sintomas das fobias, do transtorno de pnico, as depresses refratrias, crenas e ideias estranhas, concepes conflitantes, dores sem soluo, etc. Existe a Lei do Esquecimen-to e ela no pode ser infringida, pois uma circunstncia do Esprito reencarnado que, se reencarnasse sabendo do seu pas-sado, certamente no aguentaria o peso dessa memria, seja em relao ao que lhe foi feito como tambm ao que fez em outras pocas. Imaginem se soubssemos quem ns e nossos pais, filhos, demais parentes e conhecidos, fomos e fizemos em encarnaes passadas, seria praticamente impossvel nossa convivncia! E a busca dos resgates e das harmonizaes seria muitssimo prejudicada se no houvesse o Esquecimento. Por isso, quando o Esprito reencarna, vem com o seu passado oculto dentro do Inconsciente. Isso deve ser respeitado, ou seja, vem para no saber quem foi e o que houve no passado.

    Mas a Terapia de Regresso uma tcnica criada e incentivada pelo Mundo Espiritual para ser utilizada no Plano Terrestre. um benefcio para o Esprito encarnado, e isso que pode parecer uma contradio, pode ser conciliado, desde que seja observada a tica em relao ao Esquecimento. A regresso

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    deve ser realizada pelo Mentor Espiritual da pessoa e no pelo terapeuta. Essa a tica da regresso realizada por ns da As-sociao Brasileira de Psicoterapia Reencarnacionista (www. portalabpr.org), criada em 2004 por um pequeno grupo de terapeutas em Porto Alegre e que vem crescendo, atualmente com Cursos de Formao em 5 estados do Brasil e, em breve, em outros pases.

    A Terapia de Regresso no deve nunca ser colocada a servio da curiosidade. No devemos infringir a Lei do Es-quecimento conduzindo a regresso, dirigindo o processo, ajudando a pessoa a saber coisas como "Quem eu fui em outras vidas?", "Quem eu e minha ex-esposa fomos?", "Por que meu filho me odeia?", etc , e sim permitir que o Seu Mentor Espi-ritual, dentro do seu merecimento e necessidade, lhe mostre e possibilite seu acesso ao que pode ver, ao que merece ver, ao que aguenta ver... No incio do meu trabalho como terapeuta de regresso e quando lancei a l edio deste livro, cometia erros ticos que vim corrigindo com o tempo. Naquela poca, eu quem realizava a regresso, estabelecia o que a pessoa devia acessar, dirigia o trabalho, ajudava a pessoa a descobrir o que ela queria saber e at incentivava o reconhecimento de pessoas na vida que estava! Que erro! Ainda bem que Deus a Compreenso.

    Como fao regresso atualmente? Coloco-me como um auxiliar do Mentor Espiritual da pessoa, ajudo a promover um profundo relaxamento de seu corpo fsico, incentivo-a a expandir sua Conscincia, imaginando que est subindo... cres-cendo... sem induzir a nada, sem sugerir nada, sem conduzi-lo. Aps quinze ou vinte minutos, com a sensao corporal bastante diminuda e a Conscincia expandida, o seu Mentor Espiritual pode lev-la a encontrar uma situao traumtica do seu passado, em que est sintonizada, como se ainda estivesse

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    l. A partir da, o maior cuidado do terapeuta no atrapalhar quem est verdadeiramente dirigindo a regresso. De vez em quando, se necessrio, incentivo-a a continuar me contando o que est acontecendo, para que relembre at o final daquela si-tuao, at o seu desencarne naquela vida. Incentivo-a tambm a continuar me contando at recordar sua subida para o Astral, at eu perceber que est melhorando, que tudo est passando, at me referir que est sentindo-se bem. A vou preparando o final da sesso, digo que pode relaxar, permanecer em silncio, e vamos encerrando a sesso. Nunca devemos terminar uma regresso enquanto a pessoa no refere estar sentindo-se muito bem. Onde termina a regresso, fica a sintonia.

    No meu incio como terapeuta de regresso ainda no estava atento a isso. Eu estava procurando comprovar a Perso-nalidade Congnita. Por isso, neste livro, nas regresses que datam de 1994-1995, algumas vezes, as revivncias terminam ao final do trauma e at no meio de um relato... Nas regresses deste livro, quando a pessoa cita o local onde est, o ano, o seu nome, as pessoas que reconhece, porque eu a incentivei a saber isso. Era curiosidade minha. Hoje em dia, no pergunto mais nada, fico quieto a maior parte do tempo para no atrapalhar o trabalho do Seu Mentor. Durante a regresso, devemos dei-xar o Mundo Espiritual trabalhar, no mximo dizer "Sim...", "Continue...", "E depois?".

    Concordo com algumas pessoas do Movimento Esprita que questionam a Terapia de Regresso, pois, realmente, exis-tem muitos terapeutas realizando regresso sem cuidar com a tica. Eles conduzem o processo, dirigindo a sesso, fazendo com que seu paciente veja coisas que no poderia ver, acessar fatos que no poderia acessar e at reconhecer pessoas com as quais convive hoje. Isso errado, perigoso e antitico. Eu tambm j fiz isso, est feito, no fao mais.

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    A regresso tem uma ao teraputica potencial que poder desligar a pessoa de situaes traumticas de uma ou mais encarnaes passadas s quais est ligada, como se ainda estivesse l, mas tudo dentro do seu merecimento. Quem sabe se a pessoa j pode libertar-se de uma situao traumtica do seu passado o seu Mentor Espiritual e no eu. Por isso, no dirijo mais as regresses, apenas auxilio o Mundo Espiritual. Com isso, o trabalho cresceu muito.

    E por que no terminamos a regresso logo aps o final da situao traumtica? Eu percebia, algumas vezes, numa 2- sesso de regresso, que a pessoa retomava seu relato no ponto em que tinha parado na regresso anterior e eu percebia que ela ainda no estava bem. E isso, mesmo quando j estava desencarnada aps a vida referente quele trauma. Por isso, passei a realizar regresses completas que vo desde a situao traumtica at o desencarne. A regresso continua at a pessoa recordar sua subida para o Astral, at referir estar sentindo-se bem e informar que no sente mais aquele medo, aquela raiva, aquele sentimento de rejeio, aquela solido, a dor da facada, do tiro, etc. (Ponto timo). uma libertao.

    A maioria dos terapeutas de regresso, em todo o mun-do, faz com que o seu paciente reviva apenas at o final da situao traumtica de uma vida passada, mas isso, na minha opinio, pode ser uma regresso incompleta, pois onde termina a regresso, fica a sintonia, e se ele, aps o trauma, ainda no est bem? Regresso relembrar um momento traumtico do passado no qual a pessoa ainda ficou sintonizado. feita com a inteno de ajudar a pessoa a libertar-se daquela sensao desagradvel. Se a pessoa pode rememorar desde o trauma at o momento em que estava sentindo-se bem l no Astral, por que parar a recordao logo aps o trauma? E fcil fazer isso, s incentivar a narrao da pessoa at seu desencarne

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    naquela vida, pedir-lhe que continue seu relato aps sair do corpo, dizendo, por exemplo: "E agora que teu corpo morreu, para onde tu vais?", "Agora que tu s um Esprito... que podes subir... o que acontece?", "Continua me contando...". No es-tamos interferindo na regresso nem conduzindo ou direcio-nando, estamos apenas incentivando o seu relato a prosseguir. Com isso, ficar sintonizado num momento muito melhor do que logo aps o trauma, quando, frequentemente, ainda sentia dor, medo, tristeza, solido, raiva, insegurana, etc.

    Estamos seguindo os passos do Dr. Freud que descobriu esse mundo escondido, mas ficou restrito apenas a uma encarnao, que equivocadamente chamam de "a vida". Ns estamos indo Inconsciente adentro! E o que encontramos? A Reencarnao.

    A Psicologia e a Psiquiatria oficiais, coerentes com um Consciente Coletivo no-reencarnacionista, determinado pelas concepes das Religies predominantes no Ocidente, no lidam com a Reencarnao. Assim, no percebem que esto moldadas crenas religiosas limitadoras. Com isso, criam uma espcie de autoasfixia, pois limitam seus raciocnios diag-nsticos e teraputicos apenas da infncia morte, atendo-se nossa persona atual. A Psicoterapia Reencarnacionista vem para auxiliar na libertao dessas Instituies oficiais dessa limitao religiosa, propondo uma infinita expanso para o passado e para o futuro. A Reencarnao, at hoje encarada apenas como um conceito religioso, entra agora no set psico-terpico e prope uma investigao tica do Inconsciente, a ampliao da viso limitada da persona para nossa verdadeira realidade espiritual e a libertao dos psicoterapeutas de ar-caicas amarras religiosas.

    Aqui no Ocidente, muitas pessoas ainda tm uma dificul-dade em aceitar a veracidade da Reencarnao porque a maior

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    parte das religies por aqui so no-reencarnacionistas. Isso iniciou quando ainda se formatava a Igreja Catlica e deveu-se ao do Imperador Justiniano de conclamar o Conclio de Constantinopla no ano 553 d.C, convidando apenas os bispos no-reencarnacionistas. No evento, decretou que Reencarnao no existe, influenciado por sua esposa Teodora, ex-cortes, que para libertar-se de seu passado mandou matar antigas co-legas e para no sofrer as consequncias dessa ordem cruel em uma outra vida como preconiza a lei do Karma, empenhou-se em suprimir a Doutrina da Reencarnao. Esse Conclio no passou de um encontro que excomungou e maldisse a doutri-na da preexistncia da alma, com protestos do Papa Virglio, sequestrado e mantido prisioneiro de Justiniano por oito anos por ter-se recusado a participar desse conclave! Dos 165 bispos presentes, 159 eram no-reencarnacionistas e tal fato garantiu a Justiniano os votos de que precisava para decretar que Re-encarnao no existe. Assim, a Igreja Catlica tornou-se uma igreja no-reencarnacionista e, mais tarde, as suas dissidncias tambm levaram consigo esse dogma. Com o predomnio, no Ocidente, dessas igrejas no-reencarnacionistas, criou-se no Consciente Coletivo ocidental a ideia de que Reencarnao no existe, refletindo-se na formao da Psicologia e da Psiquiatria atuais que tambm no lidam com a Reencarnao.

    A Inquisio j terminou... A Nova Era apresenta-se, va-mos nos libertar, com seriedade, com compromisso, com amor, com respeito, com tica. Leiam esses 20 casos e as lies que nos trazem.

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  • "Penso em ter um filho, mas quero que ele tenha uma me melhor. Estou casada h cinco anos, meu marido vivo, tem um filho, o B., e uma filha, a D. Com ambos, eu tenho muitos problemas. O B. tem uma personalidade muito forte. Eu no tenho pacincia com ele. A D. me desafia o tempo todo! Tenho tristezas, depresses, perco a vonta-de de viver. Sinto muito medo do futuro, medo do meu marido morrer. Eu no vivo o presente. Eu vinha bem, mas desde que casei eu me enrolei. Apareceu um egosmo, uma irritabilidade... No entendo, amo demais o meu marido, mas algo est errado! Estou sem autoconfiana, com baixa autoestima, sem perseverana. Estou menstruando de dois em dois meses, com muita priso de ventre, queda de cabelo, estou gorda, cheia de espinhas. Na infncia, meu pai me assediou sexualmen-te, mas nem quero me lembrar disso."

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    1SESSO DE REGRESSO "Sinto muito calor, um lugar abafado, escuro, tem gen-

    te gritando. como se as minhas mos estivessem amarradas para trs. (angustiada) Parece um navio, so negros, eu tambm sou, esto nos levando para outro lugar, estou com muito medo, todos esto muito apertados, tenho vinte e poucos anos.

    Eu choro muito. Tenho medo, nos pegaram fora; um tipo de poro, muito calor, muito abafado. Somos de Zmbia. As pessoas choram, esto desesperadas... Homens mais velhos, mes no sabendo onde esto seus filhos.

    Parece que chegamos, mas estamos trancados, no consi-go ir em frente. Estamos descendo do navio, nos colocam todos juntos num lugar, estamos esperando, somos todos negros, estamos cansados, fracos, com muito medo.

    Agora e mais tarde, me vejo apanhando de um homem grande e alto. Ele gordo. Estou apanhando no rosto, acho que o meu orgulho, eu no deixo eles me dominarem, eu respondo para os homens da fazenda.

    em Minas Gerais em 1876. Estou num galpo de palha fechado, todos os negros esto l, um lugar abafado, estamos deitados no cho, amontoados, os filhos, os maridos, as crian-as. Eu me sinto sozinha, muito triste, muito revoltada, aqui que ns dormimos, (desalentada)

    Eu sou uma mulher, sou muito bonita, chamo a ateno dos homens que trabalham na fazenda, que me obrigam a ir com eles, me levam fora. Ficam dois comigo, um fica cuidando, eu me sinto mal, sinto muito nojo deles. Tenho muito medo, sinto muita raiva deles, se eu pudesse, matava eles! (com dio)

    Tem um rapaz negro que gosta de mim, parece que eu gosto dele, mas no me conformo com essa situao, eu rejeito ele, eu rejeito tudo, sou muito orgulhosa, no aceito nada dessa

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    situao, sou muito infeliz, (triste) s vezes quero ficar com ele, mas me vem uma revolta, por que sou negra? Eu queria ser branca, morar numa casa, no assim, todo mundo junto, sentindo o cheiro, eu no me conformo com essa situao, falam comigo, eu no quero escutar ningum, sinto muita raiva! (revoltada)

    Acho que esse rapaz que gostava de mim o meu marido hoje, tem o mesmo jeito de agora, uma pessoa calma, pondera-da, que tem muita f, muita confiana. s vezes eu tenho raiva desse jeito calmo dele!

    As pessoas no gostam de mim, me tornei ruim, algum que entrega os outros para os brancos, sofrem por minha causa, eu conto o que eles esto falando, os planos, conto para os fei-tores e ento pegam e batem neles. Eu fao s para me divertir, para me vingar, mas claro que os feitores sempre me fazem algum favor, algo de comer, mais folga no trabalho... Os negros me deixam de lado, no falam comigo, s uma senhora velhinha, ela me fala, me diz que isso est errado, que vou me prejudicar, mas eu no quero escutar ningum! Estou muito revoltada. Essa senhora gosta de mim, minha nica amiga, (triste)

    O tempo vai passando e nada muda, as mesmas coisas. Estou ficando mais velha, na mesma senzala, mas sempre sozinha, s que agora os brancos no me querem mais, estou com mais ou menos 65 anos, os cabelos brancos, agora j tenho outras ideias, comeo a me arrepender. Tenho medo do futuro, quando eu morrer, o que vai acontecer comigo? Os que preju-diquei e j morreram vo querer se vingar de mim, as pessoas da senzala at me dizem que alguns j esto me prejudicando, esto do meu lado, me perseguindo, fazendo com que eu fique triste.

    Eu peo perdo a Deus, que me perdoe, peo luz. Tem muitos negros que so videntes, eles fazem trabalhos de noite,

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    com animais, para os Espritos, trabalhos com galinhas, eu no gosto disso, tenho medo, fico de longe... Alguns tm raiva, mas as pessoas que comandam os trabalhos no deixam fazer nada de mal para os brancos. Isso me d raiva, eu acho que devamos nos vingar deles! Agora eu tenho pena dos negros e raiva dos brancos.

    Aquela senhora fala para mim em Esprito, eu enxergo ela, diz que todos so irmos, os brancos e os negros, somos todos filhos de Deus. Estou ali, separada, com raiva, e essa senhora conversando comigo, querendo que eu entenda. Me sinto muito desanimada, com muito medo, sem esperana, com muita tristeza aqui dentro, (pe a mo no peito)

    E eu morri assim, sozinha, dormindo, ali no meu canto, (triste) Parece que fico assim muito tempo, est tudo escuro, no consigo entender bem, sinto muita fraqueza, sem vontade de nada, sem conscincia das coisas. Depois de um tempo, vou comeando a ficar mais consciente, e a vem o medo daqueles que eu tinha prejudicado. Escuto choro, tem muita gente chorando, eu no vejo, mas aos poucos comeo a enxergar, todos so muito tristes, uns gritam muito, esto desesperados, escuro, horrvel! (com medo)

    Que vontade eu tenho de sair daqui, os gritos me ago-niam, todos chorando, s gente sofrendo, gritando, alguns gritam que eles vo chegar, que eles vo voltar! So os Espritos maus. Eles vm aterrorizar, riem muito, so magros, altos, tm barba, como quando no faz a barba, uma expresso horrvel, feia, de dio, de ironia, eles tm animais, so cachorros furiosos, pretos, ficam latindo, ameaando a gente. Uns chegam perto de mim, me dizem: "A est a medrosa! Agora tu tem medo, mas antes tu no tinha!" Alguns deles parece que eu conheo, so dos brancos, eles gritam muito, xingam, dizem coisas horrveis, como: "Sua velha porca, agora tu t velha, agora ningum te

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    quer mais, ns no vamos te deixar sair daqui!" Tambm tem os negros, so feios, tem os olhos vermelhos, saltados, eles cospem em mim, tm raiva de mim, eu no consigo ter reao nenhuma, (aptica)

    Fico um tempo assim, nem sei quanto tempo fiquei ali. A um dia lembrei daquela senhora que falava comigo, rezei e pedi para ela me ajudar a sair desse lugar, eu no vejo, mas ouo ela dizer, como se fosse um pensamento: "Procura ficar calma, tu vai ficar a mais um tempo, mas procura elevar teus pensamentos e perdoa". E o tempo passa, aqueles homens vo e vm, alguns brancos, outros negros. muito ruim, muito triste aqui, parece que no tem tempo, s escurido, s sofrimento.

    Mas agora parece que vm vindo duas pessoas com uma expresso boa, eles tm luz, so dois rapazes. Eles me do a mo, eu estou numa espcie de lama, tem pessoas que esto dentro da lama, eu estou sentada em cima de uma pedra, tem alguns muito machucados, horrvel aqui!

    Eles tm que agir rpido, antes que aqueles venham. As pessoas pedem, gritam, eu no falo nada, no tenho foras, mas quero ir embora daqui, um horror, as pessoas se empurram para ir primeiro. Os rapazes dizem: "Calma, todos que querem ir, iro, todos sero buscados." Um deles olha para mim e per-gunta: "A senhora tambm quer ir?" Eu s consigo balanar a cabea que sim. Eles nos botam todos dentro de uma espcie de nibus, mas no tem rodas, parece um vago de metr. Tem motorista, janelas, fazem uma espcie de mentalizao e o nibus sai. muito rpido, tem um cheiro gostoso ali dentro, j comeo a me sentir melhor. Que bom! (suspira)

    Abre o porto e o nibus entra, um porto grande, no sei o que , parece um hospital. Tem muitas pessoas cami-nhando no ptio, alguns amparados por enfermeiros, tem um chafariz no meio. Nos levam para uma sala, tomamos banho,

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    parece chuveiro, mas no uma gua, ela no molha, mas nos limpa. Boto uma roupa branca e o chinelo. Vamos dormir para descansar. Ah! Que bom estar numa cama! Tem muitas camas, muitos enfermeiros, pessoas bondosas, sorrindo.

    Vem um doutor conversar com a gente, Dr. Marcos. Ele me diz: "Agora procura no pensar mais em nada, descansa primeiro, depois ns vamos conversar, procura se recuperar, ficar alegre, lembra o que aquela senhora dizia?" A vem uma moa, me d um passe, me acalmo.

    Eu vou me recuperando, j caminho, j converso com as pessoas. um lugar bem grande, tem claridade, parece sol que no queima, o ar perfumado. Tem muita gente trabalhando. Eu descanso, procuro no pensar, mas difcil, vm aquelas imagens na cabea, a minha vida toda, alguns deles ainda me chamam, eu sinto a voz deles, me d dor na cabea... Quero descansar primeiro, que Deus me ajude, vou melhorar. Tem enfermeiros, mdicos, tem pessoas que limpam, jardineiros, todos aqui trabalham muito.

    J me recuperei bem. Tem uma biblioteca, eu queria ler os livros, tem muitos livros, o Evangelho segundo o Espiritismo, livros de Andr Luiz. Tem vrios livros de escritores famosos, eu queria saber ler e no sei. Ainda sou velhinha, s que agora eu me sinto bem mais forte, essa correria das pessoas traba-lhando, contagiante. Pedi para ajudar em alguma coisa, a eles me deram um trabalho na limpeza, vou limpar o cho, j me sinto bem mais forte.

    Algumas pessoas dizem que posso mudar de aparncia fsica, se quiser, ficar mais jovem, ou assumir a aparncia de uma outra encarnao. Eu digo que no, agora gosto de ser negra e de ter o cabelo branco.

    Eles dizem que est na hora de mudar de lugar, ir para um lugar maior. Ento eu vou com o mesmo nibus para outro

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    lugar. uma colnia, tem um educandrio, crianas, parece uma cidade agora. Antes era o Hospital So Lucas, essa eles chamam de Colnia da Esperana. Tem casas, tem uma en-fermaria, o colgio das crianas, escolas para os mais velhos, tem at uma espcie de Faculdade, cada um estuda uma coisa diferente.

    Pode estudar o que quiser, at msica, tm vrias opes, eu vou aprender a ler. Tem uma moa muito querida que ensina as pessoas a ler, eu vou na aula, estou muito contente de apren-der a ler, que bom! E tenho um trabalho tambm, ajudo a cuidar das crianas na escola, elas me chamam de Tia Maria. Me sinto muito feliz com o estudo e o trabalho, as crianas so como um blsamo. Me sinto muito bem, muito tranquila, (feliz)

    Eu moro numa casa com vrias pessoas. Algumas pessoas comem s no comeo, depois no se come mais, comem frutas, muitas frutas, pes, sucos, tem rvores de ma, de laranja, tem umas frutas diferentes que no tem na Terra, umas frutas lindas, viosas. Depois no precisa comer mais. No comeo fazemos xixi e coc, depois no. Mas diferente, no tem cheiro.

    Passou o tempo, agora eu j sei ler e escrever. Eu li o Evangelho segundo o Espiritismo. Me indicaram livros, alguns do Erico Verissimo, alguns mais complicados que no consegui entender. Peguei um do Tolstoi, eles me dizem: "Maria, esse muito complicado, pega um mais simples." Tem um livro do Pierre Levy, um autor francs, e outros.

    Vm falar comigo, me dizem que est chegando a hora de reencarnar, que vou ter que voltar, s que eu tenho medo de voltar, dos resgates, no fcil estar encarnado. Tem instru-tores encarregados disso, dizem que tenho que comear a me preparar, fazer um Curso, tenho que comear a pensar nisso. Ah! Eu no queria reencarnar.

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    Tenho a mesma aparncia, mas mais saudvel, mais jovial, mais gil. As pessoas que moram comigo me falam, me explicam que tenho que progredir, que tenho que voltar para evoluir, crescer, me libertar. Ento eu vou me preparando para reencarnar. Tem um departamento que ajuda, o Departamento das Provas, eles pegam a minha ficha, comeam a olhar, a con-versar. Tem arquivos, a ficha vai aonde a gente vai, no Hospital, na Colnia.

    Dizem que eu vou reencarnar na Nicargua. Tenho que passar por coisas que esto ocorrendo l, guerras, dificuldades, junto com algumas pessoas da fazenda, os feitores, os negros, algumas pessoas da Casa Grande. Tem alguns deles aqui, mas a gente no pode se encontrar. Os Protetores esto preparando todos individualmente.

    Estou rezando, pedindo que Deus me ajude nessa vida, que me guie, me proteja. Sinto um frio na barriga, medo do que vai acontecer, medo de errar de novo. Meus pais so ligados quele passado, os irmos, uns so amigos, outros no. Os Guias me explicam que vai ser uma jornada muito difcil, vou encontrar muita pobreza, um ambiente de guerras, e eu tenho que procurar me manter calma, no ser orgulhosa, no me revoltar.

    Aquela senhora muito mais evoluda que ns, vai ser minha me, vai me ajudar, eu me abrao nela, choro, ela j est encarnada. Ela meio morena, meio ndia, eu me vejo criana, ela cuidando de mim, um fogo de pedra, cuidando dos filhos, sou bem pequena. Ela cuida de ns com muito carinho. um lugar empoeirado, uma casa pobre, de tijolo. Meu pai muito bravo, ele era aquele que me batia, ele no tem pacincia com as crianas, ele joga, bebe, tem os amigos dele.

    Tenho muitos irmos, tem trs meninos que eram l da senzala, os que no gostavam de mim, os meus maiores inimigos

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    l. Aqui parece que a gente se d mais ou menos bem, brigamos de vez em quando. A gente brinca de lata, coisas que a gente inventa, ns no temos brinquedos, a me d risada das nossas brincadeiras.

    Vejo a me nos escondendo num poro, vai ter tiroteio, ela manda todo mundo ficar quieto. A comea o tiroteio, todo mundo comea a chorar, eu me abrao nela, ela diz: "Calma, calma, vai dar tudo certo." Como bom ser filha dela. Termina o tiroteio, a gente sai e volta para casa. Esse lugar tambm muito quente, tem muito sol, tem muita mosca tambm.

    J estou grande, sou tipo ndia, em 1948. Eu sou mais calma agora, mas s vezes eu brigo com os outros irmos. A me nos acalma muito, o pai bravo, ele trabalha bastante, ele planta, depois vai vender na cidade. A gente trabalha muito, com os animais, vende as coisas, faz po. Mais tarde eu namo-ro e caso, muito bom, tenho um monte de filhos, alguns so de l, o marido aquele que gostava de mim na outra vida e que meu marido hoje, um dos filhos era filho do dono da fazenda, os outros so conhecidos daquela fazenda, outros de outras vidas.

    Tem muitas dificuldades para ter o que comer. Muito trabalho, me sinto to cansada s vezes, muitas brigas na re-gio, muita confuso. Fico velha, muitos problemas de sade, muitas dores no corpo, nas juntas, nos joelhos, nas pernas. Sou gordinha, tenho netos, estou muito triste por ter perdido meu marido, ele era uma pessoa muito boa. Mas j no me revoltei tanto, no fui to orgulhosa, me senti triste muitas vezes, mas estou bem mais realizada agora.

    Quando desencarnei, fui bem mais alegre, fui direto para o Hospital, no fiquei no Umbral, (sorrindo) Encontrei o meu marido, a minha me, todos contentes que eu tinha conseguido superar as dificuldades, tinha conseguido no odiar aqueles da

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    outra vida. Tinha mais admirao por uns filhos do que por outros, mas amei a todos. Como boa a sensao da Misso cumprida!"

    COMENTRIOS Ela se viu como uma mulher negra, muito bonita, no sculo

    XIX que, juntamente com outros, vem da Africa para Minas Gerais como escrava. Revolta-se com a situao, mas se alia aos brancos em troca de favores, mesmo odiando-os. Com isso, provoca uma reao de seus companheiros de infortnio, que passam a hostiliz-la e a evitar sua companhia, o que aumenta a sua revolta. A nica pessoa que conversa com ela e lhe d conselhos uma senhora negra, velhinha, que ser sua me na prxima encarnao e que um Ser muito evoludo.

    Aps desencarnar, devido sua baixa frequncia vibratria, consequncia de seus maus atos e de seus pensamentos e senti-mentos de raiva, de revolta, de mgoa e de tristeza, ela permanece em sintonia (afinidade vibratria) com alguns negros e brancos desencarnados. Uns so antigos companheiros que a odiavam pelo que ela fez e outros, antigos opressores. A sua descrio do Umbral uma plida imagem do verdadeiro horror que essa zona to prxima crosta terrestre, onde permanecem as pessoas que desencarnam com uma frequncia to baixa que no lhes possibilita acessar o Plano Astral, onde esto as colnias, as cidades, os hospitais, as escolas, etc.

    Mais tarde, chegam as equipes de resgate que conseguem levar consigo vrios sofredores, inclusive ela. A sua descrio

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    do Hospital, dos mdicos, enfermeiros, etc, vai repetir-se em vrios outros casos de regresso. Mas ela entra em detalhes, ao nos citar livros, autores, alimentao e at a minha constrange-dora pergunta sobre as necessidades fisiolgicas...

    A sua prxima encarnao ocorre na Nicargua, como filha de um dos brancos da fazenda e daquela senhora negra que lhe dava conselhos. Entre seus irmos encontram-se antigos amigos e inimigos. Isso nos ajuda a entender por que, em certas famlias, observam-se grandes conflitos entre seus membros, antigos desafetos que esto prximos em busca de harmonizao entre eles, e tambm grandes afinidades.

    Posteriormente, ela casa com o mesmo homem que j gos-tava dela na encarnao passada e que hoje tambm o seu mari-do. Isso que persistncia. Atualmente ele vivo e tem dois filhos do seu casamento anterior que ela ajuda a criar, e veremos na prxima sesso de regresso que essas crianas aparecero numa outra encarnao, no Marrocos, quando ela uma das mulheres de um Sulto e o menino B. seu filho e a menina D., uma das esposas e sua maior rival l! E agora voltaram todos a se encontrar, numa famlia, com a mudana apenas das cascas. Nessa poca, eu incentivava o reconhecimento nas regresses, por isso ela reconheceu o B. e a D. Hoje em dia, nunca incen-tivo o reconhecimento, pois, como falei antes, uma infrao gravssima Lei do Karma!

    Quando ela desencarna nessa vida na Nicargua, a sua frequncia vibratria mais elevada j permite que acesse um Hospital no Plano Astral, sem ficar emaranhada nas ligaes energticas com obsessores do Umbral. Encontra l o seu pai e sua me, que haviam desencarnado antes, e descobre, ento, com muita alegria, que nessa encarnao ela conseguiu evoluir em suas metas pr-reencarnatrias, pois no havia se revoltado

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    tanto, no havia sido to orgulhosa, no havia odiado. E foi muito emocionante ouvi-la afirmar: "Como boa a sensao da Misso cumprida!"

    2SESSO DE REGRESSO "Um lugar grande, de pedras, no meio de um deserto.

    Tem um sol forte, muito bonito, enorme, como se fosse uma cidade l dentro. Tem muitas empregadas, muita gente cami-nhando, eu sou uma das esposas do Sulto, meu nome lika, ele Raja. Eu sou muito bonita, tenho os olhos pretos, grandes, uso o rosto coberto, tenho dezoito anos, ele tem uns trinta anos. Eu me sinto feliz, tenho tudo, tem muita riqueza no castelo, em Marrocos, 1653.

    Tem outras esposas, bem mais velhas, mas ele nem liga para elas, ele gosta mais de mim. Eu dano para ele, a eu tiro o vu, ele se diverte muito, ri muito. Ele viaja bastante, visita as outras cidades, os amigos, mas eu no saio nunca daqui. Todos os empregados servem as esposas, eu gosto muito de conversar com as pessoas do castelo, eles gostam de mim, as outras esposas no conversam com os empregados.

    A minha famlia, eu no vejo mais. Minha me vem de vez em quando me visitar. Ela mora muito longe, leva muito tempo. O Sulto foi um dia passear perto da casa dos meus pais, se apaixonou por mim e me levou. Eu era muito criana, catorze anos, no sabia de nada, fiquei no castelo, ele esperou eu crescer mais.

    Gosto de fazer trabalhos com tapetes, quadros de tapetes. As mulheres se renem para fazer os trabalhos, a muito

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    divertido, falamos de tudo, damos risada. Eu tinha vontade de viajar, conhecer outros lugares, peo para ele me levar junto, ele diz que no, que as viagens so s para os homens. Mas ele procura me agradar, me traz tecidos transparentes, bem leves, roupas lindas, maravilhosas. Quando ele chega uma festa, parece que eu comeo a gostar dele, est com uns quarenta anos.

    Tem uma mulher dele que no gosta de mim, tem inveja, porque eu sou mais nova, ele fica mais tempo comigo, ela no conseguiu ter filhos. Eu tenho um filho, um menino, ele brin-calho, divertido, muito bom ter ele, me lembra o filho do S., o B.! O Sulto o meu pai (atual), aquela mulher dele, a que no gosta de mim, a D.! Que coisa ...(sorrindo)

    Ela ficou com mais inveja ainda depois do menino, co-mea a querer me prejudicar, principalmente quando ele est viajando. Pediu que algum colocasse veneno na minha comida, mas eu tenho muitos amigos no castelo, e ento eu no comia nada que no era seguro. Contei tudo isso, ele falou, mas ela nega tudo. Ele briga com ela, deixa de lado, mas no pode man-dar embora, se divorciar, contra a lei, ela fica com mais raiva de mim ainda! (orgulhosa)

    O Sulto voltou de uma viagem com outra esposa, mais nova. Eu j estou com uns trinta anos, perguntei para ele por que trouxe outra esposa, se no gosta mais de mim, ele diz que assim mesmo. Eu no gosto disso, no gosto dela, mas to criana ainda. No fim acabo me aproximando da menina, tenho um pouco de inveja, mas me sinto quase como sua me. Ela muito bobinha, fica num canto, queria ficar com a me, chora muito. Eu fico com muita pena dela, a minha irm! (atual) Ela no gosta de sexo, eu tento conversar com ela, que tem que se conformar, assim mesmo, as mulheres no podem fazer nada.

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    As mulheres do Sulto brigam pelas jias, cada uma quer uma maior, mais bonita. um ambiente de muita inveja. Eu tambm sou assim, a gente chega criana e vai se contami-nando com aquilo, at aquela nova tambm fica assim. O Sulto se diverte com tudo isso, ele e os amigos fazem festas, mulheres lindas, mas as esposas no podem participar. Tem muitas crianas agora, os filhos das esposas, elas no deixam eles brincarem com os filhos dos empregados, no podem se misturar, eu tambm no deixo.

    Eu sou alegre, brincalhona, mas tenho muita inveja das outras esposas, das crianas, todas querem competir, qual a mais bonita, a mais inteligente. Todas rezam por um filho, as meninas tem m sorte, todas vo ser levadas um dia, ficar com um homem, mesmo que no gostem dele.

    A me do Sulto mora l ainda, est bem velhinha, ela conversa com as esposas, d conselhos. Criou-se um ambien-te de muita rivalidade, entre as crianas tambm, so muitos filhos, muito cime, todos querem o lugar do Sulto. Ela fala com cada uma em separado, procura mostrar que a riqueza no vale nada, que devamos ajudar os empregados, dividir, tratar melhor essas pessoas, com mais humildade. s vezes eu fao, mas na maioria das vezes, no, as outras no fazem, me d uma compaixo por eles, mas quando o clima est ruim, todas descontam nos empregados. Eles sofrem muito, decepam dedos, mos, tem muitos aleijados, eu s tratava com aspereza, nunca cheguei a esse ponto.

    O meu filho ficou muito ligado no pai dele e aquela esposa procura me prejudicar de todos os modos. Agente briga muito, muitos gritos, muita confuso. uma vida muito vazia, no tem o que fazer, muito montona. No comeo, as festas eram boas, agora no tem mais graa, vai cansando. Estou com uns 55 anos. Me magoa muito que o meu filho no conversa muito

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    comigo, ele um homem egosta, gosta de se divertir com os pobres, machuca os empregados, humilha. Eu nunca fui de fazer tanto mal como eles fazem, no achava graa nessas coi-sas. Os filhos homens no conversam muito com as mes, eles viajam, ele no me procura. Eu procuro, mas ele nunca tem tempo, no quer conversar. No quer saber de esposas, s de festas, prostitutas, (triste)

    O Sulto j morreu e os filhos brigam, disputam os bens, os postos, cada um tem um ttulo, por idade. Depois que o Sulto morreu, eu procurei deixar aquela esposa de lado, j estava bem mais velha, j tinha me prejudicado muito, eu no gostava dela. Ficou isolada, ela tinha uma doena, no lembrava das coisas. Eu tinha muito dio, no conseguia ter compaixo dela. Depois fiquei tambm muitos anos sem nimo, fraca, sem vontade de viver, muito triste, muito sozinha, apesar de tanta gente em volta. Eu no gostava do que os outros faziam, mas no fazia nada para impedir essas coisas contra os menos favorecidos, eu podia fazer alguma coisa, como esposa eu ti-nha autoridade, mas se eu no fazia o mal, tambm no fazia o bem... Fui ficando muito triste, aptica, muito cansada, com dores, j nem me mexia mais. (triste.)

    Agora estou bem velha, com muita mgoa das coisas que eu tinha passado e aquilo vai remoendo na cabea, no peito. Ficava pensando que podia ter feito tanta coisa diferente, ter lido, estudado, me interessado mais pelas pessoas, sido mais amorosa, mais compreensiva. Podia ter ensinado os filhos das outras, mas no fiz nada disso. Certos dias, eu estava bem e tratava eles bem, outros eu estava mal, no queria ningum perto. Eu sou muito incoerente nos atos, nas palavras. Passava um tempo bem, depois mudava, ficava mal, de mau humor. Lembrava os dias felizes com o Sulto. Quando ele ia para o meu quarto, ele ficava mais tempo comigo. Eu tinha saudade,

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    se pudesse voltar, teria feito muita coisa diferente, mas agora no adianta mais. (desalentada)

    Minha doena foi ficando pior, no fazia mais nada sozinha, j no falava, s o crebro funcionava. As pessoas em volta falando, eu entendia tudo, mas no podia mais falar. Eles achavam que eu no entendia.

    Acho que morri. Est tudo escuro. Estou junto do meu corpo, no quero sair dali, tenho medo de sair de perto. Meu corpo j est enterrado, mas eu tenho medo, muito confuso. Fiquei muito tempo ali do lado do corpo. Est tudo escuro, te-nho muito medo. Comeo a escutar vozes e gritos. Alguns que foram empregados do castelo gritam: "Onde esto as tuas jias agora? E as tuas roupas bonitas? No apodreceram junto com teu corpo? No estamos no mesmo lugar? De que adiantaram as jias? Onde esto os guardas que te protegem? Aqui tu no tem guardas, aqui somos todos iguais... Isso no te d medo?".

    Ento todos iam para o mesmo lugar? Como podia os empregados irem para o mesmo lugar? Eles ficam falando em minha volta, me cercam, riem de mim, eu tenho medo. Dizem: "Sabe que teu filho continua fazendo as mesmas coisas? Ele vai queimar no fogo!". E a eu choro muito quando lembro dele. Queria poder avisar que depois todos vo para o mesmo lugar, mas como eu posso ajudar? Eles me perguntam: "Tu quer ir l? A gente te leva." Eu volto para o castelo e vejo que ele continua o mesmo, at pior. Fico em volta dele, tento avisar, mas ele no ouve, no me v, continua agindo do mesmo jeito. Esses que me levaram l, ainda dizem para ele: "Faz, faz mais!"

    Eles vo embora e me deixam ali. Quanta misria mistu-rada com tanta riqueza. Uns com tudo de bom e outros sem nada... E eu comeo a me sentir do mesmo jeito de quando mor-ri, as dores no corpo, fico paralisada ali, fico bastante tempo. A me lembro daquela senhora, a me do Sulto, comeo a pedir

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    ajuda, que me ajude, que me leve para um lugar melhor. E um dia ela vem em Esprito. Comea a falar comigo, vem com alguns outros. Comeam a me ajudar a mexer com os braos, comas pernas, um vai falando e os outros vo me contornando com as mos, e eu comeo a me movimentar. Peo que me le-vem embora, me tirem dali. A cada um me segura num brao e a gente sai voando, o castelo vai ficando pequeno, pequeno e desaparece, (suspira)

    Chegamos a um lugar muito bonito, muito claro, um lu-gar calmo. Aquela senhora diz que eu vou descansar um pouco, depois temos muito o que conversar. De vez em quando, me sinto do mesmo jeito, como se estivesse doente. Eles me dizem que no tenho mais o corpo fsico, passam a mo no meu peito, me acalmam, me do gua, dizem que aquela gua vai me curar por dentro, estou deitada numa cama. (tranquila)

    Algumas daquelas mulheres esto aqui e ainda tm o vu. Muitas no falam, ficam quietas, outras dormem. Aquela que no gostava de mim no est aqui e quando eu penso nela me d uma dor no peito. Tem pessoas que vm conversar, que nos ajudam, tem uns que limpam. Tem os mdicos, os Missio-nrios. Eles vm conversar sobre as pessoas, do notcias de quem a gente quer saber, explicam que devemos perdoar-lhes para que eles se sintam melhor, e para ns tambm nos sen-tirmos melhor. Dizem que se ns no perdoamos aos outros, como vamos evoluir?

    Um deles me pergunta se eu no quero ajudar aquela senhora que era minha rival e que continua presa l no castelo, mas dizem que eu procure no me afetar muito com o que enxergar. Ento vamos at l e eu peo perdo a ela, mas ela ainda est muito revoltada. Eu conto como o lugar onde estou agora, como bom, mas ela no quer ir, diz que ali o lugar dela, quer ficar ali, gosta do castelo, ali a casa dela. Eu digo que

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    no, tento convenc-la, mas a vontade dela deve ser respeitada e os Missionrios lhe dizem que quando ela quiser ir, que pea, que eles viro busc-la. Ela no me perdoou, (triste)

    Eu pergunto pelo Sulto e eles me dizem que ele est preso por obsessores, por Espritos que ele prejudicou. Est num vale escuro, escravo deles, ele quem serve agora e s poder sair de l se lhes perdoar. Primeiro o perdo, depois o arrependimento profundo dos males causados, a ento ele poder sair de l. As vezes fico muito agoniada, muito triste, pensando como ajudar essas pessoas, mas eles me dizem que a vontade de cada um deve ser respeitada, que o progresso depende de cada um.

    Eu fao longas meditaes com alguns amigos sobre a vida; ns debatemos, conversamos, vemos o que pode ser modificado. Eu queria tanto poder ajudar o meu filho... Na verdade, fui uma das culpadas por ele ser como . Eu devia t-lo ensinado a respeitar os outros. Ele cresceu num ambiente de rivalidade, de inveja, eu fui responsvel, a minha omisso... (triste) Quando o filho pequeno, a me tem que ensinar. Muita coisa pode ser cultivada e eu no fiz isso. O meu filho agora est muito doente e eu peo permisso para ficar com ele, quero ajudar, mas tem muitos Espritos ruins perto dele, esperando ele morrer. Tem uma desencarnao muito ruim, tambm levado para aquele vale. (suspira)

    Eu fico muitos anos tentando ajudar os que ficaram no castelo e os que esto no vale. Somos uma equipe de amigos, os Missionrios coordenam, no nosso grupo tem alguns dos empregados, alguns daqueles filhos. L no vale, ficamos s de longe, os prprios pensamentos deles atrapalham o nosso trabalho. Eles atraem aqueles Espritos ruins, uma simbiose entre eles, uns alimentando os outros com seus pensamentos e isso faz uma espcie de rede.

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    Mas aos poucos, um a um, a gente consegue ir tirando de l, tentamos nos aproximar. No comeo, eles no querem nem ouvir, dizemos que eles devem perdoar e eles no querem per-doar. Quando comeam a pensar em perdoar, uma luz comea a brilhar no centro do peito deles; comeam a chorar, choram muito, e com isso eles repelem os outros, que no conseguem se aproximar muito deles, e assim a nossa equipe consegue ir tirando um por um. Mas leva muito, muito tempo.

    Ento comea a se preparar novamente a famlia para voltar. Eu vou reencarnar na Frana, porque l mais evoludo. Aquele meu filho vai ser meu filho de novo. Aquela mulher vai tambm, a que era minha inimiga, vai ser uma conhecida, o que meu marido hoje tambm vai. Eu vou para ajudar as pessoas contra as injustias. Vou procurar educar melhor o meu filho, passar coisas boas para ele, ajud-lo a vencer suas dificuldades, que sero muitas. Ele vem de muitas encarnaes assim, ruim, revoltado, isso dele.

    Quem escolheu foram os Guias, a nica coisa que eu pedi foi que meu filho fosse meu filho novamente, e foi concedido. Tudo preparado pelos Guias, pelos Mentores. Tudo vai sendo preparado medida que as coisas vo acontecendo, dentro da necessidade de cada um. um arranjo muito perfeito, meus pais vo ser pessoas pobres, eu vou sentir como ser pobre, como ser deixado de lado. Eu vou para me testar, para ver se eu aprendi.

    S que eu no aprendi (triste), eu quero ter dinheiro, no me acostumo com a pobreza. Estou numa casa de luxo, muito luxo, uma casa de companhia, em Lion. Eu sou uma pros-tituta, Zil, em 1790. Sou muito voluntariosa, querendo ser a mais bonita de todas, a que todos querem. A dona cobra caro, so muitos quartos, muita gente, s vo homens de muito di-nheiro. Tudo muito sigiloso, ningum pode contar com quem

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    esteve. Meus pais nem sabem para onde fui, eu fugi. Aqui no se pode ter filhos, eu no vou ter filhos. Mas eu no sou feliz, no comeo parece que tudo vai ser bom, a gente vem em busca do dinheiro, mas o dinheiro no resolve nada. Todos sabem quem somos, no se pode sair muito. Os vestidos so grandes, muito bonitos, muito luxo, todas muito bem arrumadas, tem msica, uma casa muito movimentada, sempre tem gente entrando e saindo.

    As mulheres precisam fazer os abortos, tem uma mulher que vem fazer. A dona no deixa ir embora e obriga a fazer aborto. Estou com 28 anos agora, eu fiz muitos abortos, muito dolorido, no fundo eu tenho muita vontade de ter um filho, podia ser um s, mas a dona no deixa. Quem quiser ter, tem que ir embora, mas para onde? (angustiada.)

    Aquela que era minha inimiga naquela vida tambm uma prostituta, tem muita rivalidade entre a maioria das moas. Quando estou dormindo, sonho com um menino que quer nascer. Sinto muita tristeza, muito sofrimento, dele e meu tambm, encontro com ele, com outras pessoas que ficaram l naquele lugar bonito, que me ensinavam. Eles tentam me avisar, imploram que eu mude, que retome os objetivos, s que tarde agora. Eu desencarno num dos abortos, aquela criana ia nascer. Ah, que desespero! Eu grito, vendo meu corpo ali, no acredito no que estou vendo. Eu consegui esconder o que pude, os vestidos eram grandes e largos, ele nasceu vivo, e sobrevive, era o filho que eu queria ter! (sofrendo muito)

    Uma das moas fica com ele, era uma amiga minha nessa vida, ela vai embora de l com a criana. Vai cri-lo como filho dela. Mas ele nasceu com problemas mentais, no se mexe, no tem os braos, mas isso por ele ter feito tanta maldade, ter mandado cortar os braos de outros. como se fosse um bicho, muito feio, mas ela cuida bem dele, com muito amor, muito

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    carinho. Todos tm at medo dele, coitado, to feio, parece um monstro, mas entende tudo o que falam, por dentro ele chora, chora muito. Quando ele dorme, v pedaos de outras vidas, as maldades que ele fez, as pessoas que sofreram por causa dele. Eu fiquei junto da criana, no subi, e isso piora a situao dele, porque estou muito agoniada, muito triste. s vezes ele me v dormindo e s vezes acordado tambm, ele sabe quem eu sou. (triste.)

    Eles vm falar comigo, mas eu no quero sair dali, quero cuidar dele. Por que eu no fugi daquela casa? A eu ia cuidar dele, ele ia nascer assim, eu j sabia, mas ia cuidar dele, com o meu carinho eu ia abrandar o sofrimento dele. Minha amiga no me v, mas reza por mim. As pessoas da cidade descobrem que ela era uma prostituta e comeam a persegui-la, acham que ele filho dela, que ele filho do pecado. Ningum d trabalho para ela, ningum ajuda, ela est desesperada.

    Ento ela vai embora, pega uma carona numa carroa, so camponeses, vo para outra cidade. Ela fica trabalhando na casa, trabalha de cozinheira, num campo, so pessoas muito bondosas, ela bota a criana na cozinha do lado dela e ele fica ali, quietinho, olhando. Eu no fui junto, aqueles amigos con-seguiram me levar de volta. Chego l muito ruim, ainda sinto as dores, mas aos poucos vou melhorando e novamente tenho que enxergar os erros, as falhas... (suspira.)

    Aquela criana agora desencarna e a moa que cuidava dele pede muito para que ele no sofra mais, reza muito, que se existe alguma coisa alm, que ajude a criana a ficar bem. E ela atendida, ele levado para o hospital e aos poucos vai melhorando. Eu encontro com ele, peo perdo, converso com ele, digo que se for possvel, vamos nos reencontrar. Est no Hospital da Luz, no espao espiritual da Frana, em cada pas tem um espao espiritual. Ele no vai reencarnar agora, tem

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    que se recuperar, o perisprito dele est muito prejudicado, mas ele vai se recuperar, ele vai com outros Espritos, nessa encarnao na frica. Hoje ele o B. Minha prxima vida vai ser na frica."

    COMENTRIOS Nessa encarnao, no Marrocos, no sculo XVII, ela

    uma das esposas do Sulto Raja, que o seu pai atual e que lhe assediou sexualmente na infncia, provavelmente motivado por uma atrao inconsciente por ela, a sua esposa daquela vida. Ela vive num castelo, em um ambiente de muita futilidade, rivalidade, sexualidade desregrada, competio e inveja. Tem um filho, o B., que hoje o filho do seu atual marido, e a sua maior rival l a filha dele hoje, a D.. A personalidade de B. hoje ainda muito forte, como era l, e por isso as suas dificuldades em lidar com ele, a D. compete com ela o tempo todo, como fazia l!

    Ela tinha uma boa ndole, como hoje, mas aquele ambiente fez com que se contaminasse e passasse a agir como as outras esposas do Sulto, disputando seus favores, os vestidos, as jias, etc. Quando ele chega de viagem trazendo uma nova esposa, ela sente muito cime, mas acaba por ter pena daquela menina, em quem reconheceu a sua irm atual.

    O seu filho muito egosta e cruel com os empregados, mandando decepar dedos e mos como castigo, o que lhe ocasiona srias consequncias aps desencarnar, quando vai para aquele vale no Umbral e em sua prxima encarnao, na Frana, quan-do nasce aleijado e com srios problemas mentais.

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    Quando ela morre, tem medo de se afastar do corpo f-sico e permanece ao seu lado at ser acossada por empregados desencarnados, que aproveitam para retribuir-lhe os maus tratos, ofendendo-a, humilhando-a e oferecendo-se para lev-la ao castelo para rever seu filho. L ela o encontra cercado por obsessores que o incentivam mentalmente a cometer ainda mais crueldades! Ela quer ajud-lo, dar conselhos, mas ele no a v nem a ouve. A me do Sulto, desencarnada, com outros Amigos Espirituais, vem resgat-la, e a levam para um hospital no Plano Astral, em que ir se recuperar. Encontra l algumas das esposas do Sulto, mas no aquela rival, que permaneceu no castelo. O Sulto, desencarnado, agora vive em um vale escuro, servindo os seus ex-escravos, o mesmo acontecendo com seu filho, ao desencarnar.

    interessante a descrio energtica da simbiose entre obsessores e obsediados, que ela refere como uma espcie de rede. Na verdade isso mesmo o que acontece, por isso muitas vezes a enorme dificuldade em um trabalho de desobsesso, devido atrao com os obsessores que exercida pelo prprio obsediado! Essa atrao geralmente um sentimento negativo como raiva, desejo de vingana, inveja, cime, etc.

    Mais tarde, ela se prepara para reencarnar, dessa vez na Frana, e faz questo que aquele filho seja novamente seu fi-lho. Deseja cri-lo com muito amor, educ-lo, ajud-lo em sua evoluo espiritual, pois ele vem de muitas encarnaes preju-dicadas por atos cruis e revolta. Mas o que acontece muito semelhante ao que ocorre com a maioria das pessoas encarnadas, devido ao "esquecimento" e manuteno da personalidade: ela se torna uma prostituta em busca de dinheiro, vivendo em um ambiente de futilidade, rivalidade e sexualidade desregrada, muito semelhante ao castelo em que vivia na encarnao anterior.

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    E pior, comete uma srie de abortos, evitando assim, sem saber, que nasa aquele filho que ela tanto queria criar.

    De noite, durante o sono, projeta-se em Conscincia e tem contato com seus Amigos Espirituais, que lhe orientam para que mude de vida e cumpra a sua Misso, mas essas informaes permanecem em seu corpo Astral, no se recordando desses encontros ao despertar, quando a Conscincia volta para o corpo Fsico. Quando ela consegue enganar a dona do bordel e manter uma gravidez at um certo tempo, o seu filho consegue encarnar, mas ela morre no parto. Enxerga seu corpo e o filho, que nasce com problemas mentais e sem os braos, consequncia dos seus terrveis atos do passado.

    Por fim, ela retorna ao Plano Astral em pssimo estado emocional, necessitando novamente de atendimento em um hospital. Aps recuperar-se e avaliar seu grande erro, comea a preparar sua nova encarnao, na frica, que ela referiu na Ia sesso de regresso.

    evidente que muitas pessoas estaro lendo esses relatos como se fosse uma novela, uma obra de fico. de lamentar que isso acontea, pois esse caso apenas um dentre numerosos semelhantes em que, ao reencarnarmos, esquecemos comple-tamente os objetivos e as finalidades da nossa encarnao, e cometemos os mesmos erros j cometidos anteriormente. Mm dos objetivos da Psicoterapia Reencarnacionista , justamente, procurar ajudar as pessoas encarnadas a aproveitarem a sua encarnao, alcanando a evoluo almejada, evitando essa re-petio. Claro que nem sempre os fatos e as consequncias so to fortes e dramticos como aqui, mas a tendncia repetio de um padro negativo de comportamento e ao erro extremamente comum, como veremos em todo o livro.

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    Sugiro a todos que leiam com muita ateno os vrios li-vros espritas que tratam desse assunto, como, por exemplo, a coleo Nosso Lar, de Andr Luiz, psicografada por Chico Xa-vier, na qual encontramos a descrio perfeita do Plano Astral, em todos os seus subplanos. muito conveniente que se saiba exatamente como "o lado de l", pois assim aprende-se a viver melhor do lado de c...

    E percebam que nessas ltimas encarnaes, ela esteve como uma africana, uma nicaraguense, uma marroquina, uma francesa e agora est em uma brasileira. Por isso eu digo que no sou o Mauro Kwitko, no sou brasileiro, no sou branco, no sou homem, etc, so apenas rtulos da minha casca atual. A difuso do conceito reencarnacionista, a seu tempo, acabar com as desigualdades e o racismo em nosso planeta, mantidos pela viso imediatista de nacionalidade, cor da pele, classe social, etc. Como vemos, a noo de Reencarnao pode no ser vista apenas do ponto de vista religioso, e sim, tambm, com um en-foque psicoteraputico e sociocultural.

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  • "Sinto abandono, tristeza, melancolia. Tenho medo de namo-rar, medo de assumir emoes. Sou homossexual vivo s, sempre com um p atrs, medo de arriscar. A questo do abandono, da perda, mui-to forte para mim. Tive trs relacionamentos srios, no deram certo, sofri demais, no me permito mais me apaixonar. Eu s trabalho, leio, tenho pouqussimos amigos. Meu pai sempre foi muito ausente, mora em outra cidade, nunca nos vemos, minha me era uma ligao muito forte, morreu de cncer, foi horrvel para mim a perda."

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    Ia SESSO DE REGRESSO "Uma mulher de cabelos compridos, moa, perto de uma

    carruagem, um tempo antigo, usa uma roupa comprida. Est sozinha, parada, muito assustada, chorando. No tem ningum mais ali (chorando), numa estrada, tem um mato perto. Est encontrando um homem, ele alto, de uniforme. Ela conhece ele, est assustada e brava, esto falando, ela fala, ele no diz nada, est cobrando alguma coisa dele. Ela chegou perto dele, deu um abrao, mas ele no se mexe. Ela voltou para a car-ruagem, ele dirige a carruagem, est levando ela. (chorando angustiado)

    um vilarejo, ruas de pedras, Irlanda, 1680. A carruagem para em frente a uma casa, ela entrou, ele foi embora com a carruagem. Ela trabalha ali, Mariane, serve mesas, uma es-talagem, tirou o chapu, est mexendo nas mesas, mas ainda est vazio, no tem ningum. Ela est triste, parece que eles brigaram, acho que ele a est abandonando, ela gosta muito dele. (chorando)

    Ela tem cabelo castanho, quase vermelho, meio comprido, encaracolado, o nariz fino, a pele bem branca. Est pensando nele, mexe nas mesas, na cadeiras, comea a chegar gente. Sen-tam nas cadeiras, conversam, pedem coisas, mas ela est brava, as pessoas pegam nela, passam a mo, ela reage. Est muito triste, no tem vontade de fazer mais nada. Tem movimento na rua, cavalos, bandeiras, flmulas. As pessoas foram embora, ela est l sozinha, sentada numa mesa de madeira escura, tem uma vela, de noite, (chorando)

    O homem da carruagem voltou, ele alto, bonito, cabelo preto. Acho que ela pergunta por que ele voltou, ele vai e volta, ela fica brava com isso. Esto conversando, ele abraa ela, beija, esto chorando, serve uma caneca de vinho. Ela est mais feliz

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    agora, esto conversando, sentados, de mos dadas. Ele vai embora, ela fica ali, pensativa, resignada, (suspira)

    uma cidadela, pequena, de muros altos de pedra, tem florestas em volta, Dublnia. Ela caminha por esses bosques, gosta de colher ervas, flores, usa como tempero na comida. A impresso que tenho que ela no tem famlia, no vejo nin-gum, s aquele homem. Ela moa, romntica, melanclica, triste.

    Ela est na cozinha agora, magra, tem mos delicadas. Tem algum ajudando ela, uma senhora grande, nariguda, uma tia dela. Tem uns paneles de ferro, as duas esto cozi-nhando galinha, usam temperos, ervas. Elas brigam um pouco, mas se do bem. Aquele homem passou dirigindo uma carru-agem, com uma criana, uma menina, filha dele. A Mariane viu, ficou triste, acho que eles esto terminando o romance, no sei por que, parece que no d para ser. (triste)

    Ela est deitada, foi dormir, de camisola branca, est chorando, se sente s, est cansada, tem 24 anos. Ela quase ruiva, tem os olhos castanhos, muito branca, a pele to branca que aparecem as veias.

    O homem da carruagem vai e volta, ele lembra meu pai quando era moo, sei l, parece ele, sim. (chorando) As coisas vo fechando, ela com esse homem, que parece meu pai, que tambm vai e volta, uma ausncia, eu vou entendendo, Acho incrvel que se repetiu a histria, naquela vida, nessa vida, o homem ausente, o pai ausente, aquele pai dela o meu pai hoje, sim. A minha relao com cozinha, com ervas, temperos, eu tambm adoro cozinhar, adoro cantinas. A maneira de ser, a tristeza, a solido, o abandono, igual. Incrvel!

    O homem est de novo com ela, esto conversando, isso me incomoda. Fica tolhendo ela, sempre a mesma coisa. Ela est brigando, mandando embora, gritando com ele! Ele

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    foi embora, (suspira) Ela est muito triste, est cozinhando e chorando. o pai dela, mas so amantes? Teve um beijo na boca, no sei, acho que ela filha dele, sim, uma filha bastarda. Tem incesto, estou tentando entender. Aquela senhora sabe de tudo, parente dele, muito parecida com uma tia que eu tive aqui, uma prima-irm do meu pai. O meu pai l mesmo o meu pai hoje.

    Ela est andando pelas ruas, fala com algumas pessoas, tem muita gente. Tem uns que olham com cara feia para ela, no sei por que acham que ela puta, mas ela no . A cidade tem um astral pesado, chove muito, tem vielas, barro. Ela est bem agora, est rindo, caminhando, vai para um campo ali perto, tem um rio, ela est tomando banho no rio, chega o homem de novo. Ela est assustada, sentindo teso por ele, esto tran-sando, os dois pelados, na beira do rio. Ele tem 42 anos, pai dela, sim, esto transando, Mark, acho que esse o nome dele. Eles esto transando ainda. Agora terminou, ele se levantou, ela ficou deitada l. Ela voltou para o rio, est nadando, uma felicidade estranha essa. Saiu, foi embora, (suspira)

    Aquela mulher est brigando com ela, sabe de tudo. inverno, est muito frio. Ela jovem ainda, mas est muito doente, est enrolada num monte de cobertas. Aquela senhora traz uma comida para ela. Ele vai l de novo, esto conversando, est preocupado com ela. Ela no quer nem olhar para ele, fala com o rosto virado, ele a abraa, est chorando tambm, no sei se pede desculpas. Agora foi embora de novo e ela ficou ali. (triste)

    Agora est mais velha, no se mexe mais, deu algum tipo de distrbio, est meio paralisada, sentada, na cozinha. Ela uma senhora agora, a vida dela horrvel, no faz nada, s fica parada, olhando. Tem gente mais moa ali, so duas ajudando, no aquela senhora, aquela j morreu, o pai dela

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    tambm j morreu. Ela est meio paraltica, horrvel, parece que desligou. Ela pegou sfilis dele. (chorando)

    Agora ela morreu, ali sentada, foi desligando, (chorando, muito triste) Estou flutuando, leve, muito leve, como se tudo parasse...Tem umas pessoas sentadas, no so concretas, so pessoas que j morreram. Tem muito azul, muito branco, mas no tem paredes, tem uns de p, uns sentados, tem nens, tem mais velhos, tem moos, como se fosse uma grande sala. Tem um ptio, tem pessoas ajudando, esses esto de branco, so muito gentis, eles conversam conosco, perguntam se est tudo bem, mostram para onde ir. Sentamos no cho, mas o cho no existe, no se come, no se bebe, no tem hora, no tem dia, no tem noite, um lugar suspenso. Falamos sobre as experincias, de onde a gente veio, o que aconteceu, o que fizemos, os nossos erros.

    Tem uma senhora falando comigo, passa a mo no meu rosto, no sei quem , parece algum conhecido. a minha me! (atual) Que saudade, ela est superbem! (chorando, muito emocionado) Est bem moa, est fazendo carinho no meu rosto (emocionadssimo!). Diz para eu ter paz, ficar tranquilo, no me preocupar tanto, para eu me ouvir mais. Me diz tantas coisas bonitas, ela me transmite muita paz, muita luz. Agora est indo embora." (suspira)

    COMENTRIOS Vemos nessa regresso como o seu modo de ser, de pensar,

    de sentir, de agir e de reagir extremamente semelhante ao daque-la vida. No sculo XVII ele j era triste, melanclico, rejeitado

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    e abandnico, e ainda . Quando mudar? Vamos e voltamos, vamos e voltamos e no mudamos quase nada...

    Enquanto naquela vida esse paciente era uma mulher apaixonada por seu pai e sofria muito com isso, sendo de per-sonalidade triste, melanclica e resignada, ao reencarnar traz consigo esse modo congnito de ser, embora no tenha o mesmo tipo de relao com seu pai atual (que o mesmo daquela encar-nao), homossexual e nunca transou com mulher. E ento, quem sabe ainda tem a Mariane dentro de si, em busca do pai? Ento quem sabe no homossexual, ainda "" a Mariane?

    Percebe-se como difcil mudarmos e melhorarmos em nossas caractersticas negativas congnitas e o que se v, ge-ralmente, uma repetio, encarnao aps encarnao, de uma maneira equivocada de ser, com pouqussima evoluo quanto aos objetivos evolutivos. Mas isso que parece um impasse in-transponvel, torna-se mais fcil quando descobrimos essa repe-tio de padres de conduta atravs da Regresso Teraputica e tomamos a firme deciso de mudarmos. Mas mesmo quem no viu essa repetio em regresso, se concordar com essa premissa da Psicoterapia Reencarnacionista, pode raciocinar teoricamente e tomar a deciso de melhorar suas caractersticas negativas congnitas, mudar o seu modo de ser, o que no gosta em si, o que o prejudica.

    Mas para tanto, no deve culpar ningum, no deve mais atribuir a origem dos seus problemas infncia, culpar pai e me, marido, filhos e interiorizar que reencarnou com essas tendncias e deve ento se empenhar para evoluir, assumindo essa meta, adultamente.

    Nesse caso, percebe-se at gostos semelhantes quanto cozinha, aos temperos, frequentar cantinas. Tambm trabalha muito e sente-se s, com pouqussimos amigos.

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    O encontro com sua me atual, desencarnada h dez anos, ocorrido durante a sesso de regresso, deveu-se ao fato de que a sua Conscincia projetada para seu corpo Astral e, portanto, em sintonia com o Plano Astral, permitiu que fizesse uma "ponte" e, da vivncia do perodo intervidas daquela poca, transportou-se para o momento atual, em condies de estabelecer um contato com ela. Foi muito emocionante compartilhar da sua emoo de rev-la e saber que ela est muito bem, remoada, com sade perfeita, quando havia desencarnado em pssimas condies, aps vrios anos de tratamento para cncer.

    So muito importantes esses encontros com parentes desencarnados, pois trazem a certeza de que, realmente, no existe uma perda quando algum "morre", e sim apenas um afastamento temporrio. Claro que quando ele desencarnar e encontrar-se com sua me no Plano Astral, a sua relao ser de ex-filho para ex-me, pois esses rtulos eram os dessa en-carnao. muito conveniente que ns vivamos a vida com a perfeita noo da relatividade dos rtulos.

    Mas nem sempre, aps nos libertarmos do corpo Fsico ("morte"), iremos para o mesmo local onde est nosso ex-pai, nossa ex-me, nosso ex-marido, nosso ex-filho, etc. So muitas as moradas...

    2 SESSO DE REGRESSO "Um jovem, de cabelo preto, de chapu, parece que usa

    culos, com um casaco preto comprido. Est numa biblioteca, ele judeu, uma cidade antiga. Europa, acho que a Frana,

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    no tenho certeza. Ele l muito, est sempre sozinho, ele pensa muito, estuda muito. Parece que uma cidade grande, Paris, j tem automveis nessa poca. Mora numa casa grande com a me, o pai, uma governanta. So ricos, uma casa muito bonita, tem escadarias, luminrias, tapetes. O pai comerciante, tem uma cara brava, fechada, muito sisudo, fuma charuto, mas parece um bom homem. Ele filho nico, muito mimado, tem tudo o que quer, o nome Franois Chagall ou Francis. Passa muito tempo estudando, meio reservado, gosta de ficar lendo. Tem uma tenso no ar, uma grande preocupao. Acho que final da dcada de trinta.

    uma guerra, eles perderam quase tudo, esto com rou-pas mais simples. Ele no vai mais naquela biblioteca, fica em casa, lendo escondido, ele adora ler. Mas a casa est muito suja, muito p, parece que querem fugir. Saem de carro, no campo, tem uns morros, esto numa estrada, acho que fronteira, tem um posto policial, uma barreira, ficam ali parados. Acho que eles querem ir para a Sua, comea a juntar gente, tem outras famlias tambm, no sei se foram pegos, (com medo)

    So os alemes, foram colocados num trem, botaram uns pijamas neles, vo para um tipo de acampamento, casas gran-des, de madeira. So separados, mas o pai e ele ficam juntos, o pai o abraa, sinto muito medo, no se sabe o que vai acontecer. Tem muitos beliches, acho que um campo de concentrao, muita sujeira, fede. Tem muitos soldados, a me est l no ptio, ela est desesperada, no d para chegar perto! (desesperado) Ela est sendo arrastada, levaram ela e a gente no pode fazer nada... (chorando)

    Estamos de novo ali nos beliches, tem muitos homens, uns esto mal, eu e o pai ficamos juntos, temos medo de nos separar. Agora nos soltaram no ptio, mandaram a gente correr, come-aram a atirar na gente! (desespero) Vo nos matar! "Corre,

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    corre!" Ai! Me acertaram nas costas! (chorando desesperado, com muito medo) No vejo mais nada. (acalma-se)

    Estou flutuando, em cima, me vendo l no cho, estou meio perdido. Tem uma luz muito branca, muito intensa, vejo algumas pessoas, esto paradas, parece que esto de branco, mas no uma coisa material. Tem um senhor de barba, grisalho. Olha para mim, pe a mo na minha cabea, boto a cabea no colo dele, est me fazendo carinho. Parece que est me consolando, diz para eu ter calma, para no me assustar. Ele diferente dos outros, mais iluminado, os outros so mais jovens, So... So... So Pedro! (d um grito, em xtase, levanta da cama!) No pode ser! (rindo) Um santo! Ele super gentil, carinhoso, est me acolhendo. Que coisa louca... Ele muito querido, est fazendo uma brincadeira comigo. Me faz carinho nas costas, na cabea, como que pode? (rindo e chorando)

    Tudo meio suspenso, tem outras pessoas, tem muita gente. Parece um campo, mas no tem cho, tem umas pessoas sentadas, umas caminhando. grande, no tem paredes, um azul profundo, muito luminoso. Vejo uma casa branca, um jardim, tem sol, grama, rvores, estou sentado numa grama, eu acho, sou muito parecido como sou hoje, mas mais magro, estou deitado, descansando. Estou flutuando, estou vendo, passando, sou o Franois, a Mariane... Continuo flutuando.

    Sou eu, acho que voltei, (chorando muito emocionado) Estou na barriga da minha me, muito pegajoso, tem um corao batendo, (sorrindo) Eu vejo minha me falando sobre mim, o nosso filho, ela diz, com muito amor. (chorando) Eles ficam em volta de mim, meu pai bem moo, numa sala do apartamento. Eles falam em comprar mveis, j tem um bero, acho que recm se mudaram para ali. Eu vejo a me barriguda, comigo dentro, o pai falando com ela, mas eu estou fora, estranho.

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    o mesmo apartamento, (chorando muito emocionado) Esto conversando, abraados, o pai bem jovem, passa a mo na barriga dela, ela tambm bem jovem. Acho que tenho que entrar, acho que vou nascer! Tem muita luz (chorando muito emocionado), muito rpido! Sa para fora, nasci!"

    COMENTRIOS Observamos como a personalidade do Franois, no sculo

    XX, parecida com a de Mariane, no sculo XVII; era sensvel, reservado, gostava de ficar s, lia muito. Como morreu muito cedo, no nos foi possvel saber como ele reagiria s questes afetivas e sentimentais, mas provavelmente, seria do mesmo modo como reagia naquela encarnao na Irlanda: com tristeza, melancolia e abandono, pois essa era sua maneira congnita de reagir e que ainda se observa hoje, na atual encarnao, em sua nova "casca".

    Esse paciente teve a oportunidade de encontrar-se com So Pedro, que provavelmente seu Mentor Espiritual.

    Outra constatao importante da perfeita noo que te-mos dos nossos pais e do ambiente da casa, quando ainda estamos dentro do tero, formando nosso novo corpo fsico, nosso veculo encantatrio atual. E fica fcil perceber, ento, como certos rela-cionamentos difceis, conflituados, entre pais e filhos, crmicos de outras encarnaes ou no, podem ser melhor entendidos com base em uma anlise das aes, pensamentos e sentimentos dos pais em relao quele filho que est chegando. Outros relatos no livro confirmam a capacidade do "nen" de sair de dentro

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    do corpo da me, projetado em Conscincia, e perambular pela casa, percebendo o que est acontecendo, o que esto pensando e sentindo a seu respeito.

    enorme a responsabilidade dos pais e dos demais familia-res quanto a isso! Muitos pais que se queixam do distancia-mento de um certo filho, de uma mgoa da parte dele "sem motivo", podem com essas constataes entender o que gerou esse conflito, quando isso no vem, claro, de mais tempo... Os terapeutas precisam saber que isso ocorre para poderem entender melhor os processos psicopatolgicos de seus pacientes magoados, ressentidos, depressivos, inseguros, raivosos, "sem causa" ou por fatos no to graves da sua infncia. Mas e os fatos da fase intrauterina? E de antes?

    enorme a responsabilidade dos pais sobre os seus atos, pensamentos e sentimentos em relao ao Espirito reencarnante que est formando seu atual corpo Fsico dentro do tero mater-no. Imaginem os casos de rejeio da gravidez, tentativas de abortamento, situaes de conflito entre os pais, etc., o quanto podem repercutir sobre o ser que se encontra apenas aparente-mente escondido e resguardado. Tambm j observei casos de nens, dentro do tero, perceberem em seu pai ou sua me, ou um irmo, antigos desafetos e no quererem nascer, quererem sair dali, completamente esquecidos de seus objetivos pr-reen-carnatrios! J ouvi relatos de sentarem, virar de costas e at de autoabor tarem-se...

    E se sabemos que todas essas informaes permanecero inconscientes naquele ser reencarnante, pode-se imaginar que, quem sabe, o desencadeamento dos distrbios psicticos e at o autismo podem ter a a sua explicao? A psicose como uma perpetuao de um estado infantil ou a fixao em uma vida pas-sada e o autismo como uma recusa em relacionar-se, em abrir-se,

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    consequncia de traumas serssimos muito antigos ? Mas sempre dentro do raciocnio da continuao, pois necessrio um subs-trato anterior muito forte de rejeio, de medo, de rebeldia, de autodestrutividade, de insegurana, de abandono, para que os fatos traumticos durante a fase intrauterina ou na infncia, gerem quadros psicopatolgicos to severos. Se no houver essas tendncias anteriores, formar-se-o apenas as neuroses.

    A nova Psiquiatria reencarnacionista ir saber tratar ade-quadamente esses casos. E o Dr. Freud que se encontra ainda desencarnado, est feliz porque com a Psicoterapia Reencar-nacionista e a Regresso Teraputica surge uma maneira mais ampla de investigar o Inconsciente. uma viso transpessoal muito mais profunda, capaz de explicar as depresses, as fobias, o vnico, a tendncia de magoar-se, sentir-se rejeitado, a sensao de abandono, de solido, etc.

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  • "Tenho muita angstia, uma tendncia depressiva, sou muito agressiva, revoltada, brigona, nem eu me aguento! Fao escndalos! Tenho uma irritao enorme, uma mgoa profunda com minha infncia, meu pai sempre foi muito omisso, nunca nos demos bem, sempre me senti rejeitada por ele. Vou da euforia para a depresso, me acho o mximo ou um lixo. J tentei suicdio. No tenho persistncia nos estudos, no trabalho, desisto facilmente."

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    1 SESSO DE REGRESSO "Um tipo de castelo, num morro, de tardezinha. Uma

    mulher, meio ruiva, com uma criana pequena. Uma porta redonda, muitas correntes, tem gente l dentro, um tumulto, muita gente pobre, como se fosse um povoado. Eu me sinto essa ruiva com a criana no colo. Sou muito agressiva, enrgi-ca, brava, irritada, at no jeito de pegar a criana no colo, estou andando de um lado para o outro.

    Tem um homem que se chama Raul, estou discutindo com ele, sou muito ciumenta, ele est calmo. Eu quero sair dali, ele no quer, parece uma invaso e eu no quero ir sozinha, mas eu vou com meu filho, (chorando) Eu saio correndo, ele vai at um pedao e para. Alguma coisa ia acontecer l, naquele lugar, tenho medo de ficar l. O nome do meu filho Toms.

    Eu encontro um senhor de idade, de barba, ele usa cha-pu. Eu estou bem mal vestida, de avental. Acho que ele um soldado, tem um chapu redondo, uma bata azul com dois "X" na frente. Agora vm muitos soldados, uma poca medieval, Europa norte. Estou parada, falando com esses homens, tem um caolho, eles me levam de cavalo, meu filho vai no meu colo. Vai acontecer alguma coisa, pegaram meu filho! Eu perdi meu filho! Um deles levou, pegou de mim, me deixou na estrada, (chorando)

    Agora me vejo com umas margaridas na cabea, uma roupa bonita, leve, sou a mesma mulher, mas bem mais jovem, agora bem mais menina, foi antes do filho, tenho quinze anos. Ela era bem rica, naquele tipo de castelo, s que foi antes, do meu pai, ele bom, agora mataram ele, est morto, (chorando) Foi esse Raul. Eu era feliz, e o meu filho com ele, eu no sabia que tinha sido ele. A gente vivia bem, eu estava grvida, eu fugi porque ele matou meu pai. Tudo ficou horrvel, eu de vestido

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    de trapo, o cabelo sujo, antes aqui era tudo bonito, agora parece que o pessoal do povoado invade.

    Quando roubaram meu filho, passou um e me matou com a lana. Estou sentada, chorando, sinto muita tristeza, eu estou ali, eu morri, mas continuo ali, vejo tudo o que eu tinha vivido. Eu vejo o meu corpo, sou eu mesma, mas agora uso uns panos brancos, tem duas pessoas de mos dadas comigo, esto me tranquilizando. Parece que a gente pisa no ar, vamos subindo, tem um lago, uma ponte, meu pai est numa mesa comprida, ele levanta e me abraa, a minha me tambm est ali, com uma bata branca. Aquele filho me odeia, ele j est grande, ele no gosta de mim, disseram mentiras de mim para ele, quanta mentira e ele acreditou. Estou sofrendo tanto com tudo isso, eu no queria me separar dele. (angustiada)

    Agora outra vida. Eu sou um homem ruim, ruim, ruim, que bebe, que mata. Eu saio batendo em todo mundo, chutando crianas, os bichos, eu que pareo um bicho... Tenho muita raiva, vontade de fazer mal para as pessoas. Uma taberna es-cura, s tem homens mal-encarados, est passando uma moa, eu puxo, ela no quer saber dele, ele empurra, ela cai, bate a ca-bea. Ele nem tem pena, continua bebendo. Est envelhecendo, est velho, sozinho. Morre de velho, bebendo, podre, morreu e continua ruim, debocha dos outros, um lugar nojento, parece um pntano. O tempo vai passando, ele est encolhendo, vai ficando em posio fetal, encolhendo, encolhendo...

    Parece que veio um raio e me vejo, me sinto numa barriga. um menino que nasceu, no sou eu hoje. Uma choupana de palha, humilde, um casal bem feliz, uma criana bem amada. A casa pegou fogo. (assustada) Caiu o lampio, foi um acidente. Eu estava no mato, a minha me morreu, o pai est ferido. Eu sou filho nico. Agora estou maior, numa escola, o pai est velho, doente, eu cuido dele.

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    Agora parece no Oriente, uns cavalos estranhos, homens vestidos de preto, com turbante, com faces. Estou com eles, so tipo rabes, num deserto. Estou levando uma caixa, tenho que entregar para uma moa, muito bonita, so umas jias que estou levando, entreguei, sa. Agora estou fugindo, uma caixa que no querem que eu entregue, so muitos homens, me ma-taram, fui atingido em cima do umbigo, sangue, empurraram meu corpo. S vejo areia em volta.

    Mudou de novo, sou uma mulher doente, um aspecto velho, sofrido, parece que esto tirando sangue de mim. um hospital antigo, 1858, parece interior do Brasil. Somos muito humildes, eu vou sempre fazer tratamento nesse hospital, tenho um problema na perna direita, uns buracos. Sou uma velha to feia, meu marido est ali na porta me esperando, o meu pai! (atual) Ele no est nem a para mim... Eu me incomodei muito, me traa com muitas mulheres, at com minha irm ele me traiu. Ele no presta, mas nem tenho mais mgoa, antes eu gostava muito dele, fiquei velha muito rpido, se eu morrer, ele at se alivia. Sou muito rabugenta, ele indiferente. A minha irm a minha irm mesmo, (atual)

    Estou na cama rezando, com um rosrio, e morro. Vai um padre l me benzer, meu marido est bem faceiro, mas eu nem tenho raiva dele. Eu ainda estou presa no corpo, ali deitada, agora me vejo na cozinha, tem uma mulher bonita ali, uma loirinha, que ele levou. Ele me paga, vou incomodar tanto! (sorrindo) Estou com raiva, mas no consigo fazer nada, ele at impotente est, umas mulheres com idade para serem netas dele... Eu estou ali naquela casa, no saio dali. Um dia bateram na porta, era uma moa, me chamou: "Helga, vamos, Helga!" Eu saio com ela, conversamos bastante l fora, ela quer que eu v embora com ela, eu digo que s depois que ele morrer. Agora eu vejo ele morrer, agora eu vou.

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    Parece um colgio, estamos todos sentados, escutando um homem com uma batina branca, falando da natureza, a transformao das coisas, ele tem um vocabulrio to difcil, o que a gente planta, o que colhe. Ele faz um tipo de mgica, coloca umas sementes, vira uma planta... Eu estou inquieta. Ele diz que a gente tem que aprender ali. Sai ele, entra outro, a gente tem que ficar ali, como se fosse um colgio interno. um lugar amplo, as pessoas so quietas, ningum de muita conversa, todos tm uma mgoa, uma tristeza. Ele tipo um psiclogo, Geraldo. No grupo dele todos so sorridentes, alegres, so to bons com a gente.

    Estou aprendendo a me desligar daquela vida anterior, foi tanta dor, mas eu estou crescendo. Dizem que estou me-lhor, estou mais feliz, tem um tipo de trabalho manual, eu fao bordado. No sinto mais dor, como uma clnica, tem umas peas com camas, colches, a gente dorme, cochila, tem uma mesa com bancos, tem algumas pessoas ali sentadas, cada um faz uma coisa.

    Eles esto me chamando, o seu Geraldo vem me dizer que querem falar comigo, as crianas doentes, eu tenho que ajudar, fazer curativos, fazer carinho. Meu trabalho dar amor, eu gosto disso, por mim ficava sempre ali. Sou quieta, calma, uma pessoa tranquila, aquilo me preenche tanto, me faz to feliz.

    Vieram me buscar, eu vou com eles, descem uma escada comigo, vejo pessoas muito mal, sofridas, que tm dor, com raiva, no tem assassinos, s sofredores, gente negativa, pessi-mista. O seu Geraldo vai na frente, caminha ali no meio deles, tenta ajudar, eles olham torto para ele, eles tm que querer, ele tem uma tranquilidade para lidar com eles... Vejo o meu mari-do, ele est ali! (surpresa) Est sofrendo, coitado, o seu Geraldo quer que eu ajude ele, mas eu consigo ter amor por todos, menos por ele, ainda estou curando a mgoa, no consigo, mas o meu

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    desafio esse. Estou sofrendo muito por no estar pronta para ajudar ele como um irmo, ele est ali, agora que estou bem, eu devia ajud-lo, mas no consigo! (decepcionada)"

    RECONSULTA " incrvel como estou me sentindo outra pessoa! Agora

    que sei quem ns fomos antes, no tenho mais raiva do meu pai e quando vou deitar noite, eu perdoo ele, mando muita luz, muita paz. Tenho muita pena dele, coitado, tomara que ele consiga se libertar do materialismo, da riqueza. Estou calma, paciente, no tenho mais depresses nem angstia. Agora eu entendo porque vim filha dele, eu no consegui ajud-lo l em cima, tenho que ajudar agora.

    Estou comendo menos carne, mais verduras, comendo mais devagar. Eu no conseguia ficar sozinha, era dependente das amigas, seno entrava em depresso, agora eu leio um bom livro, acendo um incenso, ouo msica. Comecei a ler O Nosso Lar, do Andr Luiz, acho que era l que estava antes de reencarnar."

    2 SESSO DE REGRESSO "Uma porta, com correntes grossas, uma escada, estou

    entrando ali, tem algum comigo, um homem de barba, com um caneco de cerveja. Tem muita gente, escuro ali dentro,

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  • M A U R O KWITKO

    mido, eu atendo nesse tipo de bar, no balco, meu nome Sara. Tem algum sentado ali comigo. Parece o R. (ex-marido atual) mais ou menos 1500, na Dinamarca ou Esccia, um nome com Bom no sei o qu, bem antigo. Ele est com medo, fugindo de alguma coisa, tenho pena, quero ajudar. Ele meu irmo mais novo, tenho um sentimento bem maternal por ele. Dou um jeito dele passar a noite ali, ningum pode saber que ele est l, eu levo comida l embaixo.

    Na infncia, nossos pais morreram, ramos muito pobres, fomos separados. Eu acabei indo trabalhar naquele bar, ele ficou na rua, roubou para comer, foi preso, mas conseguiu escapar. Nosso pai era alcolatra, batia na me, em mim, tentou me es-tuprar, meu irmo era pequeno, o R. sim, atirou um lampio nele, ele espancou todos ns, matou minha me e depois se matou, (triste)

    A gente est sentado nesse poro conversando, tem sacos de batata, de farinha, ele vai passar a noite. Ningum pode saber que ele est aqui, quer que eu procure a namorada dele, quer fugir com ela, eu ajudo ele, me agradece tanto.

    Eu tenho uns trinta anos, no tenho muita perspectiva, quem vai querer me levar, casar comigo, os homens que vo ali? Minha vida ficar ali, dou um pouco de dinheiro que tenho, um saquinho de moedas, (resignada)

    Agora