2 Pedagogia - Livro Educacao_Musical

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  • Educao MusicalCurso de Pedagogia

    UNIVALI Virtual

    Maria Luiza Feres do AmaralLuciano Py

  • CURSO DE PEDAGOGIA

    UNIVALI VirtualRua: Patrcio Antnio Teixeira, 317

    Jardim Caranda - Biguau/SCCep.: 88.160-000

    Telefone: 48 3279-9558

    A13e Amaral, Maria Luiza Feres do Educao Musical [recurso eletrnico] : curso de pedagogia/ Maria Luiza Feres do Amaral, Luciano Py . Itaja ; Biguau : Universidade do Vale do Itaja, [2011]. 105 f. : il. ; tab. ; qua.

    Inclui bibliografia Contm biografia

    O presente material didtico encontra-se dividido em quatro unidades.

    1. Educao Musical. 2. Funo social da msica na educao bsica. I. Py, Luciano II. Universidade do Vale do Itaja. III. Ttulo.

    CDU: 372.878

    Mrio Csar dos SantosAmndia Maria de BorbaVilson Sandrini FilhoMercio JacobsenCssia FerriValdir Cechinel Filho

    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJARua: Uruguai, 458Centro - Itaja/SCCep.: 88.302-202

    Telefone: 47 3341-7680

    Reitor: Vice-Reitora:

    Procurador Geral:Secretrio Executivo:

    Pr-Reitora de Ensino:Pr-Reitor de Pesquisa, Ps-Graduao, Extenso e Cultura:

    Clarice Pires

    Cintia Metzner de Souza

    Coordenadora do Ncleo das Licenciaturas:

    Coordenadora do Curso:

    MATERIAL DIDTICOCoordenadora de Educao a Distncia:

    Reviso Textual:

    Conteudista:

    Coordenao Geral do Projeto Grfico:

    Projeto Grfico e Reviso: Laboratrio de ProduoGrfica UNIVALI Unidade Florianpolis Ilha:

    Ilustraes:

    Diagramao:

    Jeane Cristina de Oliveira Cardoso urea Salete Moser Nunes Maria Luiza Feres do AmaralLuciano Py Renato Buchele Rodrigues

    Giorgio Gilwan da Silva

    Luan Figueir

    Dilsonir Jos Martins JuniorDiogo Mota DornelesFernando AndradeMateus Tell Erbs

    Ficha catalografica elaborada pela Biblioteca Central Comunitria UNIVALI

  • MA

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    O C

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    oBJEtiVoS

    iniCiAnDo o tEMA

    APrESEntAnDo A UniDADE

    PArA SintEtiZAr

    rEViSAnDo o VoCABUlrio A B C

    EXErCCioS DE APrEnDiZAGEM

    CoMEntrio DoS EXErCCioS

    SAiBA MAiS

    nA PrXiMA UniDADE

    rEFErnCiAS

    Alvo: simboliza o foco do objetivo.

    Boto Executar: incio da unidade.

    Pessoa lendo: simboliza o incio do estudo.

    Pessoa com o brao levantado: simboliza o professor enfatizando o contedo.

    Boto Anterior: significa voltar, retroceder o que j foi visto. ABC, representando o vocabulrio.

    Lpis: simboliza o momento prtico da apostila.

    Bales de fala: mostra a posio dos professores em relao aos exerccios.

    Crebro humano: momento de buscar conhecimento fora da apostila.

    Livro: demonstra a bibliografia utilizada.

    Boto Avanar: simboliza o trmino da unidade corrente e a continuao do contedo.

    Cmera de Vdeo: simboliza a chamada para visualizao de vdeos na web.

    CHAMADA DE VDEoS

  • BIO

    GR

    AFI

    A D

    O A

    UT

    OR

    MARIA LUIzA FERES DO AMARAL

    Mestre em Educao e Cultura pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2003) UDESC. Possui Especializao em Musicoterapia pela Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL.

    Coordena, na Univali, o projeto de Extenso de Capacitao docente: assessoria, pro-duo e socializao de conhecimento musical para professores da educao infantil do municpio de Itaja em parceria com o projeto Fundo do Milnio.

    Atuou como professora de: Instrumento Piano I, II, VIII, de 1996 a 2000; Instru-mento Eletivo Piano, de 1998 a 2002; de Harmonia II, em 2000; de Arranjo e Prtica Conjunto II, em 2002; de Intrprete de Evoluo da Msica I, II, III, IV, e VI, de 2004 a 2005 e de Leitura e Representao Mental da Partitura, em 2005, na Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC.

    Professora de Estrutura da Linguagem Musical, em 2003, e de Metodologia do Ensi-no da Msica, de 2006 a 2007, na Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC.

    Atua como professora das disciplinas de Teclado, Leitura Primeira Vista e Estgio Supervisionado: Pesquisa da Prtica Pedaggica, no Curso de Licenciatura em Msica, e como professora de Piano e de Grupos Musicais no Curso de Bacharelado em Msica da Universidade do vale do Itaja - UNIVALI.

  • LUCIANO Py

    Mestre em Msica (Etnomusicologia) pela Universidade Federal da Bahia (1999); licen-ciado em Educao Artstica - Msica pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1995).

    professor efetivo da Universidade Federal de Santa Catarina, da carreira do Magistrio Bsico, Tcnico e Tecnolgico, e responsvel pela disciplina de Msica do Colgio de Aplicao - Centro de Educao (CA-CED).

    Foi professor substituto do Departamento de Msica da Universidade do Estado de Santa Cata-rina nas disciplinas de Educao Musical e na orientao de Estgios Supervisionados Obrigatrios (2008-2011).

    professor ingressante da Universidade do Vale do Itaja, do curso de Pedagogia - Ensino a Dis-tncia (EaD), na disciplina de Educao Musical (2006-2010); professor da Universidade do Extre-mo Sul Catarinense, do curso de Especializao em Educao Esttica, na disciplina A Linguagem da Msica (2010).

    Possui experincia nas reas de Educao Musical, Etnomusicologia e Composio (especialmen-te trilhas sonoras para teatro e vdeo), tendo como instrumento de formao o piano. Somam-se experincias com instrumentos como teclados eletrnicos, flauta-doce, bateria e violo. Participa como tecladista do trabalho do artista e compositor Valdir Agostinho, com a banda Berncia Eltrica desde 2010.

  • AP

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    CIP

    LIN

    AOl!Voc est iniciando o estudo da disciplina Educao Musical na modalidade a distncia.

    O objetivo da disciplina refletirmos juntos sobre vrios aspectos que fundamentam a Edu-cao Musical, como as metodologias utilizadas e os princpios norteadores para uma atuao pedaggica, na perspectiva de compartilhar experincias e informaes que apontem um ca-minho e possibilitem o desenvolvimento de um trabalho com msica na escola.

    Na primeira unidade, analisaremos, de forma simples e objetiva, o que Educao Mu-sical, seu desenvolvimento ao longo do tempo, alm de sua trajetria no Brasil, entendendo a relevncia da presena desta manifestao cultural na formao de cada indivduo. Desse modo, ser possvel compreender a importncia do trabalho com msica na escola.

    Na segunda unidade, faremos uma reflexo sobre uma prtica musical significativa como um meio de integrao social, tendo em vista seu valor histrico e cultural e apro-ximando o aluno de sua cultura. Iremos, tambm, identificar as funes e significados da msica na escola e na sociedade, valorizando a diversidade cultural na prtica da Educao Musical.

    Na terceira unidade, investigaremos o que mais importante para a msica: o som. Iremos conhecer a classificao dos seus elementos, buscando sugestes de atividades para aplicar em sala de aula. Tambm abordaremos alguns conceitos sobre pulso, ritmo, notao musical e aprenderemos como confeccionar material didtico, como instrumen-tos musicais. Analisaremos a voz como recurso de aula e, ainda, algumas metodologias de ensino e aprendizagem da msica, desenvolvidas por alguns educadores, como Kodly, Dalcroze, Orff e Schafer.

    Na quarta e ltima unidade, refletiremos acerca de como e por que avaliar em msica, algumas funes da avaliao, de que diferentes formas ela se apresenta, e como a prtica de avaliar o desenvolvimento musical dos alunos pode sedimentar as aes e concepes musicais, tanto do educador como do educando.

    Assim, para voc compreender melhor o universo musical, sero apresentados, alm de textos e material didtico, alguns vdeos, no Ambiente Virtual, para que voc possa tirar suas dvidas. Lembre-se de que a msica uma linguagem universal e que deve ser compartilhada entre todos. Pratique e divirta-se. Bom estudo!

    Professora Maria Luiza Feres do Amaral

  • CURSO

    Pedagogia

    DISCIPLINA Educao Musical

    EMENTA

    Epistemologia da rea da Educao Musical. Funo social da msica e diversidade cultural. Educao Musical na Educao Bsica. Avaliao em msica.

    OBJETIVO GERAL

    Conhecer os fundamentos da educao musical, assim como as metodologias utiliza-das, promovendo a construo de princpios norteadores para uma atuao pedaggica compartilhando experincias e informaes que apontem um caminho e possibilitem o desenvolvimento de um trabalho com msica.

    CONTEDO PROGRAMTICO

    UNIDADE 1: Epistemologia da rea da Educao Musical 1.1 O que Educao Musical 1.2 Cronologias da Educao Musical 1.3 A escola pblica e o ensino de Msica 1.3.1 A Era Vargas: o Canto Orfenico 1.3.2 Educao Artstica e o ensino de Msica 1.3.3 A nova LDB

    UNIDADE 2: Funo social da msica e diversidade cultural 2.1 Funes da msica na sociedade 2.1.1 Funes e significados das prticas musicais na escola 2.2 Diversidade cultural 2.2.1 Etnocentrismo e Relativismo cultural 2.2.2 Interpretando a identidade musical Brasileira 2.2.3 Multiculturalismo

    PR

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  • UNIDADE 3: Educao Musical na Educao Bsica 3.1 Pressupostos tericos e metodolgicos do ensino da msica para a Educao Bsica 3.1.1 Murray Schafer 3.1.2 mile Jaques-Dalcroze 3.1.3 Carl Orff 3.1.4 Zoltn Kodly 3.2 Educao Musical na Educao Infantil 3.2.1 Timbre 3.2.2 Durao: os sons como ponto de partida 3.2.3 Intensidade 3.2.4 Altura 3.3 Educao Musical nas sries iniciais: pulso e ritmo 3.3.1 Notao musical das diferentes duraes 3.3.2 Aplicando conhecimento 3.3.3 Compasso 3.4 Oficinas de construo de instrumentos musicais 3.5 Os sons do corpo e sons alternativos UNIDADE 4: Avaliao em Msica4.1 Reflexes sobre avaliao e avaliao em msica 4.2 A avaliao em artes: como e por que avaliar

  • SUM

    R

    IO

    UNIDADE 1

    A Epistemologia da rea da Educao Musical........................................................13

    UNIDADE 2

    Funo social da msica e diversidade cultural.....................................................31

    UNIDADE 3

    Educao Musical na Educao Bsica....................................................................53

    UNIDADE 4

    Avaliao em Msica..................................................................................................91

  • Ao final desta unidade, voc dever ser capaz de:

    identificar o conceito de Educao Musical; conhecer a trajetria da educao musical ao longo da histria; compreender as implicaes afetivas, sociais e psicomotoras da Educao Musical; reconhecer a msica como rea de conhecimento especfica.

    APrESEntAnDo A UniDADE

    Pessoas criam ou fazem msica mesmo no sendo msicos profissionais, respon-dem com vitalidade msica e so curiosas quanto ao seu valor e funo. Porm, quando pensamos em Educao Musical ou aulas de msica na escola, o que nos vem mente? Talvez a imagem de vrios alunos aprendendo smbolos grficos que no produzem significados especficos do encantador universo musical. Por isso, nes-ta unidade, vamos transitar de forma simples e objetiva sobre o que a Educao Musical, o seu desenvolvimento ao longo do tempo, alm de sua trajetria no Brasil, entendendo assim a relevncia da presena desta manifestao cultural na formao de cada indivduo. Desse modo, nesta unidade, voc poder conhecer novas formas de conhecimento musical, de apropriao, transmisso e diferentes abordagens no fazer musical, para que voc, acadmico, ainda que no seja um instrumentista, possa compreender a importncia do trabalho com msica na escola.

    iniCiAnDo o tEMA

    O conhecimento musical foi, por muito tempo, inacessvel populao, o que no quer dizer que as pessoas, de modo geral, no faam msica. A msica est presente em nosso cotidiano e devemos levar em considerao as diferentes maneiras de nos relacionarmos com ela. Aprender a escutar, perceber, sentir, pensar e comunicar-se atravs da msica de forma consciente parte do processo de formao do indivduo. A Educao Musical aparece citada como campo acadmico-cientfico em fins do sculo XIX, dentro do quadro de campos musicolgicos esboados por Guido Adler. De l para c, apesar das aparncias, sabemos que no h um consenso sobre o seu status epistemolgico. Indagar sobre tal status, que deve ter como bases a educao, a msica e o sentido de msica na educao, torna-se uma tarefa fundamental quando

  • 1Un

    idad

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    13Curso de Pedagogia Univali Virtual

    A Epistemologia da rea da Educao Musical

    oBJEtiVoS

    Ao final desta unidade, voc dever ser capaz de:

    identificar o conceito de Educao Musical; conhecer a trajetria da educao musical ao longo da histria; compreender as implicaes afetivas, sociais e psicomotoras da Educao Musical; reconhecer a msica como rea de conhecimento especfica.

    APrESEntAnDo A UniDADE

    Pessoas criam ou fazem msica mesmo no sendo msicos profissionais, respon-dem com vitalidade msica e so curiosas quanto ao seu valor e funo. Porm, quando pensamos em Educao Musical ou aulas de msica na escola, o que nos vem mente? Talvez a imagem de vrios alunos aprendendo smbolos grficos que no produzem significados especficos do encantador universo musical. Por isso, nes-ta unidade, vamos transitar de forma simples e objetiva sobre o que a Educao Musical, o seu desenvolvimento ao longo do tempo, alm de sua trajetria no Brasil, entendendo assim a relevncia da presena desta manifestao cultural na formao de cada indivduo. Desse modo, nesta unidade, voc poder conhecer novas formas de conhecimento musical, de apropriao, transmisso e diferentes abordagens no fazer musical, para que voc, acadmico, ainda que no seja um instrumentista, possa compreender a importncia do trabalho com msica na escola.

    iniCiAnDo o tEMA

    O conhecimento musical foi, por muito tempo, inacessvel populao, o que no quer dizer que as pessoas, de modo geral, no faam msica. A msica est presente em nosso cotidiano e devemos levar em considerao as diferentes maneiras de nos relacionarmos com ela. Aprender a escutar, perceber, sentir, pensar e comunicar-se atravs da msica de forma consciente parte do processo de formao do indivduo. A Educao Musical aparece citada como campo acadmico-cientfico em fins do sculo XIX, dentro do quadro de campos musicolgicos esboados por Guido Adler. De l para c, apesar das aparncias, sabemos que no h um consenso sobre o seu status epistemolgico. Indagar sobre tal status, que deve ter como bases a educao, a msica e o sentido de msica na educao, torna-se uma tarefa fundamental quando

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    Unidade 1 - a epistemologia da rea da edUcao mUsical

    curso de pedagogia

    da justificativa sobre o que entendemos por Educao Musical (Souza, 2001a, p. 16). Sendo assim, torna-se imprescindvel o conhecimento prvio dos significados inerentes a estas aes. Assim, o que entendemos por Educao Musical? Qual sua origem? E como decorreu sua trajetria no Brasil?

    1.1 O que Educao Musical

    Muitas pessoas ainda tm uma viso errnea sobre o ensino de msica na escola. Para muitos, a msica enten-dida apenas como entretenimento ou um produto que no necessita ser desenvolvido a partir de seus fundamentos tericos. Na maioria das vezes, o trabalho com msica no ambiente escolar resume-se unicamente a ensaios para apresentaes em datas comemorativas, no priorizando o aprendizado da msica como rea do conhecimento.

    No contexto das prticas educativas, a msica na escola, encontra-se mesclada aos outros contedos, tendo apenas fins metodolgicos. Dificilmente mencionada com o valor de uma disciplina ou uma rea do conhecimento, importante de ser trabalhada, que exige tempo para ser construda.

    A pedagogia da msica ocupa-se com as relaes entre a(s) pessoa(s) e a(s) msica(s) sob os aspectos de apropriao e de transmisso. Ao seu campo de trabalho pertence toda a prtica msico-educacional que realizada em ambientes escolares e no escolares, assim como toda cultura musical em processo de formao. (KRAEMER, 2000, p. 51).

    Esta a posio de Kraemer (2000), segundo o qual, a Educao Musical, por ocupar-se das relaes entre pessoa(s) e msica(s), divide seu objeto de estudo com as chamadas Cincias Humanas: Filosofia, Antropolo-gia, Pedagogia, Sociologia, Cincias Polticas e Histria. Alm disso, ao tratar sempre do objeto esttico msi-ca, est dada sua relao tambm com a Musicologia. (KRAEMER, 2000, p. 52).

    O trabalho musical visa no somente fazer da msica um recurso metodolgico para as demais disci-plinas, mas sim, que seja de modo significativo e articulado aos objetivos da rea, desafio constante no trabalho dos profissionais da unidocncia.

    Em sua complexidade, a msica sofreu alteraes ao longo do tempo, no entanto, mantm sua caracte-rstica de reunir pessoas, seja para apreciar, cantar e/ou tocar um instrumento. Atravs da vivncia musical, indivduos criam suas relaes sociais, manifestando sua identidade. Assim, compreendemos a msica como processo de comunicao sensorial, simblica, afetiva e, portanto, social.

    Segundo Koellreutter (1997), a msica , em primeiro lugar, uma contribuio para o alargamento da consci-ncia e para a modificao do ser humano e da sociedade (KOELLREUTTER, 1997, p. 72); ela impulsiona-o ao e promove nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidades e grau. (GAINZA 1988, p. 22).

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    A EpistEmologiA dA rEA dA EducAo musicAl - unidAdE 1

    curso de pedagogia

    A msica importante na formao do indivduo porque atinge o ser humano em sua totalidade, con-tribuindo para o desenvolvimento cognitivo/lingustico, psicomotor e socioafetivo. No contexto escolar, a msica tem a finalidade de ampliar e facilitar a aprendizagem do aluno, ensinando a ouvir, refletir, escutar de maneira ativa. Nessa proposta, a Educao Musical oportuniza o acesso msica como arte, linguagem e conhecimento.

    Musicalizar oferecer ferramentas bsicas para a compreenso e utilizao da linguagem musical, propor-cionando condies para que o aluno compreenda o que se passa no plano da expresso e no plano do signifi-cado, ao ouvir e/ou executar msica.

    O objeto do estudo da Educao Musical , portanto, a produo do fenmeno sonoro a msica e suas relaes com o ser humano, a maneira pela qual a msica percebida e manipulada por cada pessoa. Para se co-municar, expressar-se, compreender as mensagens que nos so transmitidas, necessrio que se conheam os ele-mentos dessa linguagem. A Educao Musical, ento, objetiva o conhecimento e o ensino da linguagem musical e tal conhecimento construdo atravs da prtica e pela vivncia na linguagem. A partir dessa vivncia, possvel criar e recriar significados, possibilitando a expresso na utilizao dos elementos que compem a msica.

    Assista ao vdeo Linguagem Musical no ambiente Sophia.

    O objetivo especfico da educao musical musicalizar, ou seja, tornar um indivduo sensvel e receptivo ao fenmeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de ndole musical. (GAINZA, 1988, p. 101).

    Musicalizar, portanto, objetiva despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rtmico, memria, concentrao, disciplina, respeito ao prximo, socializao e afetividade, tambm contribuindo para uma efetiva movimentao e conscincia corporal.

    Em uma aula de msica preciso que a msica seja o objeto de construo do conhecimento. A edu-cadora musical Ceclia Cavalieri Frana nos alerta sobre este aspecto, dizendo que aula de msica aula de msica, com msica e por meio da msica. (FRANA, 2009, p. 25). Ou seja, preciso orientar os alunos na compreenso do discurso musical.

    As atividades de musicalizao realizadas na escola no visam formao de msicos, mas sim propiciar a

    abertura dos canais sensoriais, promovendo a expresso das emoes, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formao integral do ser. [...] a msica pode melhorar o desempenho e a concentrao, alm de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemtica, leitura e outras habilidades lingusticas nas crianas. (BRSCIA, 2003, p. 60). Quanto maior a riqueza de estmulos proporcionados criana, melhor ser seu

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    Unidade 1 - a epistemologia da rea da edUcao mUsical

    curso de pedagogia

    desenvolvimento intelectual e, nesse sentido, as experincias rtmicas musicais que permitem uma participao ativa (ver, ouvir, tocar) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianas.

    As implicaes afetivas, sociais e psicomotoras abordadas anteriormente no devem nos afastar do foco principal da educao musical: a msica como rea de conhecimento especfica. preciso priorizar a vivn-cia musical apontando os elementos que compem a msica, sendo ela o objeto de estudo em sala de aula, tendo em mente que s possvel compreender msica fazendo msica, ouvindo msica e experimentando msica de forma prtica e consciente.

    O educador deve buscar ampliar seu conhecimento/desenvolvimento musical formal em cursos que habilitam ao ensino, pois, s assim, ser capaz de refletir criticamente sobre a sua prtica e sobre o fazer musical que realiza ou deixa de realizar.

    Portanto, torna-se necessrio que os professores se reconheam como sujeitos mediadores no processo educativo, que levem em conta a importncia do aprendizado da msica no desenvolvimento e formao dos alunos como indivduos produtores e reprodutores de uma cultura. S assim podero procurar e reconhecer todos os meios que tm em mos para criar, sua maneira, situaes de aprendizagem que deem condies aos alunos de construir conhecimento sobre msica.

    Voc conseguiu compreender os objetivos e resultados que a Educao Musical pode proporcionar? Agora vamos conhecer seu desenvolvimento ao longo da histria.

    1.2 Cronologia da Educao Musical

    A msica e a Educao Musical estiveram presentes na histria da evoluo humana e essas prticas fo-ram influenciadas em cada poca por diferentes valores e vises de mundo, especialmente aqueles ligados s concepes cientficas vigentes em cada perodo histrico. O conhecimento dessa trajetria nos auxiliar na compreenso da questo do foco da educao musical nos dias de hoje. Iniciando nossa reflexo sobre a tra-jetria da Educao Musical ocidental, percebemos que, desde o perodo da Antiguidade Grega e Romana, a Educao Musical se fazia presente na educao dos jovens.

    Na antiga Grcia, nas principais cidades, a Educao Musical fazia parte da formao dos cidados e era entendida como uma prtica que contribua para o desenvolvimento tico, determinando a conduta moral e moldando o carter do homem. Alm disso, a compreenso da msica era relacionada a questes mitolgicas, da natureza e dos sentimentos. Sendo assim, pode-se dizer que entre os gregos, a msica vista, sobretudo de duas maneiras, uma que a concebe como regida por leis matemticas universais e outra que acredita que seu poder emana da relao estreita entre ela e os sentimentos. (FONTERRADA, 2005, p. 20). Ou seja, para a

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    A EpistEmologiA dA rEA dA EducAo musicAl - unidAdE 1

    curso de pedagogia

    civilizao grega, a msica estava em estreita ligao com a vida humana e a forma como se compreendiam os fenmenos naturais e a natureza dos afetos, sendo utilizada para entender e explicar esses fenmenos.

    Fortemente influenciada pela msica grega, a msica romana se fortaleceu com caractersticas prprias, sendo marcada pela inclinao ao grandioso e ao virtuosismo, afastando-se dos princpios gregos de estudos filosficos relacionados msica. Podemos dizer que, na Grcia, o estudo da msica e a Educao Musical es-tavam mais voltados ao plano cientfico e filosfico enquanto que, em Roma, a msica era predominantemente arte prtica. Somente no final da Antiguidade h um retorno aos princpios gregos de especulaes acstico-matemticas relacionadas msica.

    Mais adiante, os estudos da msica na Idade Mdia so fortemente marcados pelo pensamento cristo. A msica passa ser considerada uma cincia, sendo inserida no Quadrivium. Como uma rea de conhecimento, considerava-se que, sem a msica, nenhuma outra disciplina seria perfeita. O seu estudo estava ligado s suas bases numricas. O principal terico desse perodo foi Bocio (sculo V), que, em seu tratado De institutione musica, rene todos os escritos anteriores sobre msica, descrevendo os efeitos que a msica exerce sobre as pessoas. Para ele, a msica divide-se em trs tipos: a msica mundana referente ao movimento dos planetas; musica humana que controla a unio do corpo e da alma; e musica constituta in instrumentus a msica sonora, produzida por instrumentos e pela voz e que pode ser percebida sensorialmente, sendo, esta ltima, considerada a menos importante. Bocio se interessa pelos fenmenos fsicos e no pelos efeitos emocionais provocados pela msica no ser humano.

    Mnlio Severino Bocio, (c. 480; c. 524): escritor e estadista Romano, escreveu sobre as disciplinas matemticas (aritmtica, msica, geometria e astronomia), lgica, teologia e filosofia. Considerava a msica como princpio unificador tanto do corpo como da alma do ser humano.

    Figura 1: Bocio: importante filsofo na Idade Mdia

    Fonte: Wikipedia

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    Unidade 1 - a epistemologia da rea da edUcao mUsical

    curso de pedagogia

    Em contrapartida, ainda na Idade Mdia, a msica era considerada tambm como elo entre Deus e os homens. A Igreja como a grande disseminadora do conhecimento detinha o controle do aprendizado musical. Criam-se as scholae cantori, instituies que ensinavam msica a meninos pobres com o objetivo de suprir as necessidades litrgicas das igrejas, sem se preocupar com o desenvolvimento musical, educacional ou com o bem estar das crianas. As crianas estavam a servio dos adultos, numa concepo sobre a infncia que as considerava quase como servos.

    Somente no sculo XII, com as propostas educacionais de Guido DArezzo, a educao musical sofreu importantes transformaes. DArezzo passa a preocupar-se em educar o cantor o mais depressa possvel, dei-xando de considerar a msica como cincia, enfatizando seu trabalho na prtica do canto. Para isso, DArezzo cria um sistema de escrita que facilita a leitura da msica e usa um recurso pedaggico para o ensino do solfejo, denominado Mo Guidoniana, a qual consistia em atribuir a cada articulao dos dedos uma nota diferente. Assim, o professor virava a palma da mo para os alunos e, apontando para as vrias articulaes, ajudava os alunos a cantar os intervalos indicados. A partir da, o aprendizado da msica comea a privilegiar a formao do msico prtico e no mais o msico terico.

    Guido D`Arezzo: terico da msica. Criou o mtodo Micrologus sobre prtica musical e nele de-senvolveu um sistema de notao precisa de alturas, valendo-se, como a pauta moderna, de linhas e espaos representando alturas definidas por letras.

    Figura 2: Recurso pedaggico de Guido DArezzo.

    Fonte: Wikipedia

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    A EpistEmologiA dA rEA dA EducAo musicAl - unidAdE 1

    curso de pedagogia

    A partir da sistematizao da escrita musical, a teoria e a prtica musical se desenvolvem rapidamente. Na renascena (sculo XV e XVI), acontece a descoberta do mundo e do homem, e o rompimento de fronteiras do conhecimento humano leva a uma renovao dos estudos relacionados s formas de expresso artstica. H um retorno e uma valorizao da arte da Antiguidade e a msica recebe uma ateno bastante especial. As composies musicais tornam-se mais complexas, explicitando o desenvolvimento dos estudos sobre a prtica musical e as formas de ouvir a msica tambm se transformam. Alm disso, a inveno da imprensa, em 1473, por Gutenberg facilitou a disseminao de materiais e partituras musicais, ampliando os processos de ensino e aprendizagem da msica e seus registros.

    Johannes Gutenberg, (1400-1468): inventor e grfico alemo que introduziu a forma moderna de impresso de livros, possibilitando a divulgao e cpia muito mais rpida de livros e jornais. A partir da revoluo tecnolgica operada por Gutenberg, a escrita passou a ficar duradouramente fixada em letras de chumbo; as formas das letras j no evoluram exclusivamente pela inveno, destreza e flui-dez da mo do calgrafo, j no sofreram as mutaes prprias do gesto humano de escrever.

    Caro acadmico! Perceba como o valor dado msica e Educao Musical se transforma, fazendo com que ela esteja inserida de formas diferentes no currculo escolar no decorrer da histria. Para voc, qual a importncia do saber musical?

    No mbito da educao, uma importante mudana social contribuiu para o desenvolvimento da educao mu-sical: a criana passa a ser aceita como um ser que precisa ser cuidado, protegido e educado. Assim, no sculo XVI, so criadas escolas de formao bsica em msica, os colgios e seminrios, nos quais as crianas recebiam os cui-dados e instrues, sendo que a famlia, a Igreja e o Estado passam a assumir suas responsabilidades em relao criana. Essas escolas ainda se preocupavam com a formao e a transmisso da msica crist de maneira formal.

    Colgios catlicos e protestantes se difundem e mais um fator contribui para a popularizao da msica: a Reforma Protestante. Nas suas cerimnias religiosas, a congregao estimulada a participar do culto can-tando, formando assim os corais homofnicos. Dessa maneira, mesmo sem uma inteno explcita, as pessoas comuns passam a fazer msica, e isso no deixou de ser um tipo de educao musical. A preocupao em edu-car as crianas para serem cavalheiros transforma a maneira de organizao da educao, que passa a estar a cargo dos jesutas e doutrinrios.

    No Brasil, essa maneira de organizao escolar se faz presente com a vinda dos jesutas. Para facilitar o con-tato com os nativos indgenas, os jesutas se utilizavam dos autos encenaes musicadas de textos bblicos, alm de corais formados por rfos trazidos de Portugal para serem criados pelos padres. Esses corais encanta-vam os ndios nativos, facilitando a comunicao entre europeus e indgenas. Assim, a msica era usada como uma ferramenta pedaggica que servia a fins especficos: a catequizao.

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    Mais adiante, no sculo XVIII, pensadores passam a se preocupar cada vez mais com as questes pedag-gicas e, em relao educao musical, surge a figura de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Segundo sua proposta para a educao em msica, as crianas deveriam aprender atravs de canes simples, assegurando a igualdade das vozes e o cuidado com a sonoridade, considerando que a leitura musical acontecesse mais tarde, uma vez que a msica estava inserida na escola.

    Alm de Rousseau, outros pensadores abrem os caminhos para a msica na escola, como Pestalozzi (1746-1827) e Froebel (1782-1852). As principais orientaes desses pensadores estavam ligadas maneira como se deveria trabalhar o conhecimento musical. Entre seus princpios estavam questes como o ensino dos sons antes do ensino dos smbolos; ouvir os sons com ateno e em seguida imit-los; ensinar a teoria depois da prtica.

    A partir desse perodo, a Educao Musical passa a ter sua nfase direcionada prtica musical. Essas ideias esto muito ligadas s concepes da poca, valorizando cada vez mais o conhecimento humano.

    No sculo XIX, proliferam-se as escolas de msica com carter profissionalizante. As principais preocupa-es educacionais esto voltadas ao desenvolvimento tcnico do instrumentista, que deve ser desenvolvida ao mximo. Nessa concepo, somente os mais talentosos conseguem se desenvolver musicalmente. No Brasil, a chegada da corte portuguesa faz com que se criem escolas de msica no pas e com que a vida musical comece a se tornar mais intensa. No sculo XX,

    A dissoluo do ser humano em meio vida coletivizante ordenada pelas condies massificadoras, pela maquinaria e pela burocracia patente. O esforo do homem, no incio do sculo, assegurar sua existncia e, nisso, consome-se e se anula. Anulando-se, o indivduo, por sua vez, apresenta uma forte tendncia de extino da arte criativa. (FONTERRADA, 2005, p. 85).

    Sob essa concepo da vida humana, o fazer artstico e musical passou a ser considerado menos importante, em-bora no tenha sido totalmente subtrado da educao. As formas de expresso artstica, inclusive a msica, perdem espao na formao dos indivduos, e o ensino das artes recebe uma ateno secundria nesse processo de formao.

    Para transformar esse quadro educacional, alguns educadores surgem com novas propostas para a Educao Musical, os quais sero estudados posteriormente. Vamos agora descobrir como a msica e a Educao Musical se fizeram presentes em nosso pas a partir da criao da escola pblica.

    1.3 A escola pblica e o ensino de Msica

    Antes do surgimento da escola pblica no Brasil, a Educao no estava ao alcance de todos. E o ensino das artes era ainda mais restrito. Somente quem tinha bero, fazia parte da nobreza ou de classes mais abastadas po-deria estud-las. Afinal, para que serve a arte seno para divertir e entreter? Msica diverso: esse pensamento, to comum, ainda hoje, talvez uma das maiores barreiras para o aprofundamento do ensino musical nas escolas.

    Apesar de diverso e entretenimento serem caractersticas importantes do fazer artstico, lembre-se de que estudar Msica proporciona diversos benefcios fsicos, cognitivos, emocionais e sensoriais.

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    No sculo XIX, surge a escola pblica no Brasil. O conceito pode ser criticado, uma vez que apenas uma pequena parcela da populao frequentava a escola. O ensino musical foi introduzido nessa poca, mas de uma maneira pouco sistematizada. As aulas de Msica, em geral, se resumiam ao canto coletivo. (FUCKS, 1993, p. 135). O gosto musical da burguesia incipiente era voltado para a msica da Europa; a escola acompanhava essa tendncia, incluindo em seu repertrio canonetas italianas e francesas.

    Nessa poca, apesar de o ensino musical ser obrigatrio na escola pblica, qualquer pessoa com um mnimo de conhecimentos especficos poderia ser professor de msica da instituio. Na virada do sculo, com o fortalecimento do pensamento nacionalista, a escola substituiria os cantos em lngua estrangeira por um conjunto de cnticos patriticos. (FUCKS, 1993, p. 144).

    Logo surgiria, no comeo do sculo XX, uma sistematizao do ensino da Msica que marcaria a educao musical por muito tempo, como vocs iro ver a seguir.

    E ento, est comeando a clarear um pouco o assunto? Vamos continuar nossa viagem no tempo!

    1.3.1 A Era Vargas: o Canto Orfenico

    Com a ascenso de Getlio Vargas ao poder, na dcada de 1930, comea uma nova fase da histria do Brasil. Foi dessa poca a criao de um rgo chamado Superintendncia da Educao Musical e Artstica (SEMA), o qual teve como primeiro diretor o compositor Heitor Villa-Lobos.

    Heitor Villa-Lobos, nascido no Rio de Janeiro, em 1887, foi talvez o mais importante compositor brasileiro, um dos primeiros a se dedicar Educao Musical no Brasil. Suas composies musicais evidenciam a cultura brasileira, como as Bachianas Brasileiras, Trenzinho Caipira, Cirandas, dentre mais de mil composies. Faleceu em 1959.

    Nesse momento, a prtica musical passaria a se chamar Canto Orfenico e buscava levar o canto a um grande nmero de pessoas. Seguindo a tendncia nacionalista do perodo, as canes tinham sempre temticas patri-ticas, de exaltao ptria, ou folclricas, valorizando a cultura nacional. Porm o grande objetivo poltico--ideolgico da prtica musical do canto orfenico era o de congregao das massas, atravs da qual o sentido de coletividade, patriotismo e disciplina fossem exaltados. (HENTSHCKE; OLIVEIRA, 2000, p. 47).

    Apesar de muito criticado pelo envolvimento com a ditadura de Vargas, devemos admitir que Villa-Lobos, ao criar o Canto Orfenico, proporcionou uma prtica musical sistematizada e de abrangncia nacional.

    Uma das maiores caractersticas dessa prtica musical eram as gigantescas apresentaes, que reuniam esco-las do pas inteiro em estdios de futebol. As apresentaes mais importantes eram realizadas na ento capital nacional, o Rio de Janeiro, com o estdio do Maracan lotado de alunos, muitas vezes regidos pelo prprio Villa-Lobos, todos cantando ao mesmo tempo!

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    Figura 3: Villa-Lobos, importante compositor brasileiro.

    Fonte: Wikipedia

    1.3.2 Educao Artstica e o ensino de Msica

    Aps o fim da era Vargas, o Canto Orfenico entrou em declnio. A grande transformao que se seguiu foi a promulgao da Lei n 5.692/71 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases LDB 4.024/61 (BRASIL, 1971). Essa lei criaria a chamada Educao Artstica, uma disciplina que abrangeria as diferentes linguagens artsti-cas: artes visuais, teatro e msica.

    Criava-se, ento, a figura do professor polivalente em Arte e o curso superior de Licenciatura em Educao Artstica. Apesar de importante, Hentshcke e Oliveira (2000, p. 48-50) mencionam que essa lei apresentava o seguinte problema: no definia precisamente como o professor deveria trabalhar as linguagens. Alm disso, a carga horria era mnima, uma hora semanal. Na prtica, cada professor conduzia suas atividades na rea em que mais se concentrava sua formao.

    A educao musical tornou-se, ento, privilgio de uns poucos, pois a maioria das escolas brasileiras aboliu o ensino de msica dos currculos escolares devido a fatores como a no-obrigatoriedade da aula de msica na grade curricular e a falta de profissionais da rea [...]. (NOVO MATEIRO, 1999).

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    Voc deve estar comeando a entender por que o ensino de msica no foi amplamente difundido nas escolas... mas ainda existe uma esperana! o que veremos a seguir.

    1.3.3 A nova LDB

    Criada em 1996, a nova LDB, n. 9.394/96, trouxe grandes mudanas para todos os nveis de ensino, inclusive para o ensino de msica. A Educao Artstica passa a se chamar Ensino das Artes. A lei determina tambm a obrigatoriedade do ensino de Arte, como previsto no artigo 26., pargrafo 2.: O ensino da arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis da educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (BRASIL, 1996).

    Outra grande mudana foi a criao de documentos curriculares, que so os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), para Ensino Fundamental e Mdio, e as Referencias Curriculares Nacionais (RCN), para a Educao Infantil. Esses documentos determinam que a arte seja constituda de quatro especificidades: artes visuais, dana, msica e teatro. Como essa lei admite a existncia de mais de uma arte, permite interpretar que elas devam ser trabalhadas por profissionais distintos. Contudo, ela ainda tem alguns pontos que so vagos na sua redao. No determina nem a carga horria e nem a maneira como a escola deve incluir a arte no seu currculo. (HENTSHCKE; OLIVEIRA, 2000, p. 51-53).

    No dia 18 de agosto de 2008, o presidente Lus Incio Lula da Silva sancionou a lei n 11.769/08 que torna a msica contedo obrigatrio na Educao Bsica de todo o pas, sendo que as escolas devem se adequar lei at agosto de 2011. Dessa forma, a msica dever retomar seu espao na educao de crianas e jovens.

    Nas dcadas de 80 e 90, surgem os cursos de ps-graduao em msica no Brasil e, a partir das pesquisas feitas nesses cursos, inicia-se um srio debate sobre a Educao Musical. Cria-se, em 1989, a Associao Na-cional de Pesquisa e Ps-Graduao em Msica (ANPPOM) e, em 1991, a Associao Brasileira de Educao Musical (ABEM).

    Dessa forma, a conscincia dos profissionais do ensino de msica foi ampliada a partir das oportuni-dades que eram criadas nos encontros anuais das associaes, propiciando, tambm, um maior enga-jamento com a poltica do ensino de msica no Pas. (HENTSHCKE; OLIVEIRA, 2000, p. 61).

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    A ABEM tem proporcionado um debate bastante rico acerca das prticas do ensino de msica no Brasil, divulgando as pesquisas mais recentes, desenvolvidas nos cursos de ps-graduao em msica e em Educao, mediante diversas publicaes e encontros regionais e nacionais.

    O momento atual de transio, mas o crescente nmero de cursos superiores de msica e o gradual in-teresse das escolas pela Educao Musical como uma disciplina especfica sugerem uma prtica cada vez mais aprofundada e difundida.

    A seguir voc ver um esquema da cronologia da Educao Musical:

    PArA SintEtiZAr

    Voc estudou, nesta unidade, que a Educao Musical concebe a msica como rea do conhecimento e tem como principal objetivo oferecer ferramentas bsicas para a compreenso e utilizao da linguagem musical para a expresso e comunicao do indivduo, dando a ele condies de manipular e vivenciar a linguagem musical.

    Percebeu, tambm, que a presena da msica na educao auxilia a percepo, estimula a memria e a inte-ligncia em diversas reas do conhecimento. De acordo com essa perspectiva, a msica concebida como um universo que conjuga expresso de sentimentos, ideias, valores culturais e facilita a comunicao do indivduo consigo mesmo e com o meio em que vive. Ao atender diferentes aspectos do desenvolvimento humano: fsico, mental, social e emocional, a msica pode ser considerada um agente facilitador do processo educacional.

    A msica, ao longo da histria, recebeu maior ou menor importncia no que se refere ao seu valor como conhecimento cientfico, prtico e filosfico e, de acordo com essas concepes, ela esteve presente na educa-o de diversas maneiras. Em alguns momentos, essas concepes privilegiavam a msica como cincia e em outros, como uma expresso artstica prtica. Desde a antiga Grcia at os dias atuais, vrias pessoas, como Bocio, Guido DArezzo e Rousseau se debruaram sobre a importncia da msica e as formas como ela de-veria ser ensinada e aprendida. A prpria histria da evoluo do pensamento e do conhecimento humano contribuiu para o desenvolvimento da educao musical, como ocorreu no perodo renascentista e em aconte-cimentos marcantes como a Reforma Protestante.

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    Alm disso, importante lembrar que o ensino de msica nas escolas brasileiras passou por vrios cami-nhos, sendo muitas vezes inexistente. Foi includo nos currculos escolares, pela primeira vez, no sculo XIX, mas, somente no governo de Getlio Vargas foi amplamente difundido. Heitor Villa-Lobos, idealizador do Canto Orfenico, foi um dos primeiros compositores a se preocupar com a Educao Musical no Pas.

    Atualmente, com a nova LDB n. 9.394/96, obtivemos alguns avanos, como a obrigatoriedade do ensino da Arte o que inclui a msica e a interpretao de que essas linguagens devam ser ministradas por profes-sores especializados. Muitas escolas ainda no tm ensino de Msica, mas, gradativamente, a msica dever de includa nas escolas da rede pblica e privada, para que seja cumprida a lei 11.769/08, em toda a educao bsica brasileira.

    rEViSAnDo o VoCABUlrio A B C

    Canoneta: uma pequena cano, geralmente com temas leves, por vezes humorsticos ou at mesmo picantes.

    Canto Orfenico: prtica musical desenvolvida por Villa-Lobos no governo de Getlio Vargas. Centrado no canto, seu repertrio basicamente era de canes patriticas e cvicas, acompanhando as tendncias nacio-nalistas da poca. Sua maior caracterstica eram as apresentaes que reuniam centenas de alunos.

    Corais Homofnicos: conjunto de vozes cantando.

    Cultura: o complexo dos padres de comportamento, das crenas, das instituies, das manifestaes ar-tsticas, intelectuais, transmitidos coletivamente e tpicos de uma sociedade.

    Epistemologia: teoria das cincias; estudo crtico dos princpios, hipteses e resultados das cincias j constitudas.

    Quadrivium: etimologicamente o cruzamento de quatro ramos ou caminho, est voltado para o estudo da matria por meio do domnio das seguintes disciplinas: aritmtica (a teoria do nmero); msica (a aplicao da teoria do nmero), geometria (a teoria do espao) e astronomia (a aplicao da teoria do espao). No mbito do quadrivium, a msica entendida como o estudo dos princpios musicais, tais como harmonia.

    Unidocncia: refere-se ao professor unidocente que possui os conhecimentos musicais bsicos para que possa utilizar a msica de forma mais consciente, proporcionando assim experincias musicais significativas aos alunos.

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    EXErCCioS DE APrEnDiZAGEM

    1. Segundo Gainza (1988), o objetivo especfico da educao musical musicalizar, ou seja, tornar um indivduo sensvel e receptivo ao fenmeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de ndole musical. (GAINZA, 1988, p. 101). Nesta perspectiva, classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afir-maes que seguem sobre o que musicalizar:

    ( ) Oferecer ferramentas bsicas para a compreenso e utilizao da linguagem musical.

    ( ) Realizar ensaios musicais com o nico objetivo de apresentaes em datas comemorativas.

    ( ) Despertar o gosto musical dos alunos.

    ( ) Propiciar a abertura dos canais sensoriais, promovendo a expresso das emoes, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formao integral do ser.

    ( ) Priorizar a formao de msicos profissionais.Assinale a sequncia correta:

    a) F, V, F, V e F;b) F, F, V, V, e F;c) V, V, F, F, e V;d) V, F, F, V e F;e) F, V, V, V e V.

    2. Analise o discurso de professores ao falar do trabalho com msica na escola. Assinale a alternativa con-dizente com os objetivos da Educao Musical:

    a) [] Podemos trabalhar qualquer contedo, levando a msica, cantando com eles. Por exemplo, ao en-sinar o alfabeto, voc pode cantar para facilitar a fixao do contedo.

    b) [] Eu acho que por a, trazendo alguma msica para dramatizar, colocando gestos, at mesmo cons-truindo instrumentos musicais, pra formar uma bandinha visando apresentao do trabalho []

    c) [] Dentro dos projetos, a gente procura sempre globalizar os contedos com msicas. A maioria base-adas em datas [] ou que envolvam o contedo da disciplina, at porque de outra forma, no h sentido para se trabalhar com msica na escola [...]

    d) [] A aula de msica sempre um momento de descontrao, relaxamento. Os alunos trazem CDs de suas preferncias musicais, e ouvem durante a aula. Assim, conseguem aliviar as tenses do cotidiano escolar,

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    tendo a aula de msica como um espao para socializar-se com os colegas ou colocar os contedos, trabalhos de outras disciplinas em dia []

    e) [...] Eu trabalho com atividades musicais em sala de aula para que os meus alunos vivenciem o fazer musical, atravs dos elementos bsicos da msica, construindo o conhecimento musical [...]

    3. A msica esteve presente de diversas maneiras nas prticas pedaggicas no decorrer da histria. A partir dessa cronologia, descreva, de forma sintetizada, como a Educao Musical se apresenta hoje, quais seus obje-tivos, e que ferramentas bsicas ela oferece para a compreenso e utilizao da linguagem musical.

    4. Assinale a alternativa correta:

    a) O ensino de msica no Brasil sempre esteve ao alcance de todos.b) O ensino de msica no Brasil s foi introduzido recentemente no currculo escolar, com a LDB n. 9.394/96.c) O ensino de msica no Brasil foi introduzido no sculo XIX e se resumia ao canto coletivo.d) O ensino de msica no Brasil se d oralmente e no formalmente.e) Msica apenas diverso, por isso no componente obrigatrio do currculo escolar.

    CoMEntrio DoS EXErCCioS

    Questo 1:A alternativa D a opo correta. A musicalizao deve oportunizar o acesso msica enquanto arte, lin-

    guagem e conhecimento, oferecendo ferramentas bsicas para a compreenso e utilizao da linguagem musical.

    Questo 2: A alternativa E a opo correta. No contexto escolar, a realizao do trabalho musical deve ser voltada

    construo do conhecimento musical de modo significativo, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo/lingustico, psicomotor e socioafetivo do aluno, e no somente utilizar a msica como recurso metodolgico para os demais componentes curriculares.

    Questo 3: A partir da vivncia musical, possvel criar e recriar significados, possibilitando a expresso na utilizao

    dos elementos que compem a msica. Nesse , a Educao Musical, ento, objetiva o conhecimento e o ensino da linguagem musical.

    Questo 4: A alternativa C a opo correta, pois as demais no correspondem realidade da Educao Musical no Brasil.

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    SAiBA MAiS

    Para aprofundar o conhecimento sobre o que Educao Musical, os benefcios que ela pode trazer, discus-ses acerca de sua utilizao em sala de aula, sugiro as seguintes obras para sua leitura:

    Koellreutter (1997) O esprito criador e o ensino pr-figurativo. O professor Koellreutter afirma que a m-sica tem a capacidade de fazer a pessoa se abrir, expressar sentimentos que proporcionam uma atuao mais direta em relao s mudanas e ao desenvolvimento das potencialidades, respeitando sua personalidade, indi-vidualidade e o momento em que se encontra. A msica transcende o simples aspecto de sua utilizao formal, principalmente em se tratando de educao.

    Joly (2003) Educao e Educao Musical: conhecimentos para compreender a criana e suas relaes com a msica A autora afirma que a msica, entre outras artes, tem sido considerada como parte fundamental da histria da civilizao e tambm como excelente ferramenta para o desenvolvimento de inmeras capacidades humanas, entre elas o autoconhecimento e a autoexpresso.

    Penna (2001) este o ensino de arte que queremos? A concepo do ensino de msica bem direcionada, uma vez que consideramos que a funo da Educao Musical na escola de ensino fundamental ampliar o universo musical do aluno. Acrescentamos nfase no conhecimento das diferentes culturas, a importncia das discusses sobre o inter-relacionamento entre elas.

    Confira mais informaes sobre Villa-Lobos no site do Museu Villa-Lobos (2007). Verifique o link nas referncias.

    No site da ABEM (2008), voc pode encontrar informaes atuais sobre a Educao Musical no Brasil, como polticas pblicas, teses e dissertaes, publicaes e encontros.

    Sobre a Histria da Educao Musical no mundo, confira o artigo de Beyer (1993).

    Para aprofundar o conhecimento sobre Canto Orfenico e Nacionalismo, leia Squeff e Wisnik (1983).

    rEFErnCiAS

    ASSOCIAO Brasileira de Educao Musical. Florianpolis, 2008. Disponvel: . Acesso em: 9 jun. 2008.

    BELOCHIO, Cludia Ribeiro. Educao musical: olhando e construindo na formao e ao de professores. Revista da ABEM, Porto Alegre: Associao Brasileira de Educao Musical, n. 6, p. 41-47, set. 2001.

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    curso de pedagogia

    BEYER, Esther. A Educao Musical sob a perspectiva de uma construo terica: Uma anlise histrica. In: MARTINS, Raimundo (ed.). Fundamentos da Educao Musical 1. Porto Alegre: Associao Brasileira de Educao Musical, 1993, p. 5-25. (Srie Fundamentos).

    BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n. 5692, de 11 de agosto de 1971. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 12 ago. 1971. Disponvel em: . Acesso em: 09 jun. 2008.

    ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educao. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Bras-lia: Presidncia da Repblica, 1996. Disponvel em .

    BRSCIA, Vera Lcia Pessagno. Educao Musical: bases psicolgicas e ao preventiva. So Paulo: tomo, 2003.

    FONTERRADA, Marisa Trench de OLiveira. De Tramas e Fios: um ensaio sobre msica e educao. So Paulo: Editora Unesp, 2005.

    FRANA, Ceclia Cavalieri. Sozinha eu no dano, no canto, no toco. In: Msica na educao bsica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, outubro de 2009. ISSN 2175 3172.

    FUCKS, Rosa. Transitoriedade e permanncia na prtica musical escolar. In: MARTINS, Raimundo (ed.). Fundamentos da Educao Musical 1. Porto Alegre: Associao Brasileira de Educao Musical, 1993, p. 134-156. (Srie Fundamentos).

    GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. So Paulo: Summus, 1988.

    HENTSCHKE, Liane; OLIVEIRA, Alda. A educao musical no Brasil. In: HENTSCHKE, Liane (Org.). Educao musical em pases de lnguas neolatinas. Porto Alegre: UFRGS, 2000.

    JOLY, Ilza Zenker Leme. Educao e Educao Musical: conhecimentos para compreender a criana e suas relaes com a msica. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana (Org.). So Paulo: Moderna, 2003. Cap. 7, p. 113-126.

    KOELLREUTTER, Hans-Joachim. O esprito criador e o ensino pr-figurativo. In: KATER, C. (Org.). Educa-o Musical: Cadernos de estudo n 6. Belo Horizonte: Atravez/EMUFMG/FEA/FAPEMIG, p. 53-57, 1997.MUSEU Villa-Lobos. Rio de Janeiro, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 10 maio 2008.

    NOVO MATEIRO, Tereza da Assuno. Educao musical nas escolas brasileiras: Retrospectiva histrica e tendncias pedaggicas atuais. Revista Arte On-Line, v. 2, nov. 1999. Disponvel em: . Acesso em: 19 maio 2008.

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    curso de pedagogia

    Ao final desta unidade, voc dever estar apto a:

    conhecer aspectos relacionados funo social da msica;

    compreender as funes e significados das prticas musicais na escola;

    relacionar as culturas afro-descendentes, indgenas e portuguesas com a cul-tura Brasileira;

    compreender a importncia da valorizao da diversidade cultural na prtica da educao musical.

    APrESEntAnDo A UniDADE

    A msica faz parte da vida social das pessoas, quer seja para ouvir, cantar, tocar, dan-ar, nos rituais religiosos, ou festejos populares entre outros. A educao musical surge como uma alternativa para integrar a msica na escola regular e em espaos no for-mais, objetivando uma prtica musical significativa como um meio de integrao social, tendo em vista seu valor histrico e cultural, e aproximando o aluno de sua cultura. Por isso, nesta unidade, voc poder identificar as funes e significados da msica na escola e sociedade, valorizando a diversidade cultural na prtica da educao musical.

    iniCiAnDo o tEMA

    A msica tem um carter universal e exerce um papel importante nas sociedades e culturas. Segundo Gregory (1997), a msica um fenmeno social que vem man-tendo funes tradicionais e sentidos prprios em diferentes sociedades, no decorrer da histria. Para os Iorubas da frica, por exemplo, o uso da msica implica a ideia de parentesco, religio, poltica e economia. J para os capoeiras, a msica est asso-ciada ao movimento corporal, ao ritual e libertao. (ILARI, 2001).

    Como sugere Gregory (1997), tanto as funes quanto os significados do fazer musical dependem de aspectos especficos de cada sociedade e cultura. No Mundo Ocidental, a msica vem exercendo funes especficas em atividades humanas como

    PENNA, Maura. Msica na Escola: analisando a proposta dos PCN para o ensino fundamental. In: _______ (coord.). este o ensino de arte que queremos?: uma anlise das propostas dos parmetros Curriculares Nacionais. Joo Pessoa: Editora Universitria, 2001. Disponvel em: Acesso em: 10 maio 2011.

    SQUEFF, Enio; WISNIK, Jos Miguel. O nacional e o popular na cultura brasileira: msica. 2. ed. So Paulo: Brasiliense, 1983.

    nA PrXiMA UniDADE

    J sabemos que o acesso msica favorece o aluno, integrando-o ao mundo e propiciando o seu desen-volvimento psicomotor, lingustico, musical e afetivo. Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Educao Musical, na prxima unidade vamos refletir sobre a funo social da msica e sobre diversidade cultural por meio de exemplos prticos. Discutiremos, tambm, o multiculturalismo e a identidade musical brasileira.

    Vamos fazer msica?

  • 2Un

    idad

    e 2

    Funo Social da Msica e Diversidade Cultural

    Univali Virtual 31Curso de Pedagogia

    oBJEtiVoS

    Ao final desta unidade, voc dever estar apto a:

    conhecer aspectos relacionados funo social da msica;

    compreender as funes e significados das prticas musicais na escola;

    relacionar as culturas afro-descendentes, indgenas e portuguesas com a cul-tura Brasileira;

    compreender a importncia da valorizao da diversidade cultural na prtica da educao musical.

    APrESEntAnDo A UniDADE

    A msica faz parte da vida social das pessoas, quer seja para ouvir, cantar, tocar, dan-ar, nos rituais religiosos, ou festejos populares entre outros. A educao musical surge como uma alternativa para integrar a msica na escola regular e em espaos no for-mais, objetivando uma prtica musical significativa como um meio de integrao social, tendo em vista seu valor histrico e cultural, e aproximando o aluno de sua cultura. Por isso, nesta unidade, voc poder identificar as funes e significados da msica na escola e sociedade, valorizando a diversidade cultural na prtica da educao musical.

    iniCiAnDo o tEMA

    A msica tem um carter universal e exerce um papel importante nas sociedades e culturas. Segundo Gregory (1997), a msica um fenmeno social que vem man-tendo funes tradicionais e sentidos prprios em diferentes sociedades, no decorrer da histria. Para os Iorubas da frica, por exemplo, o uso da msica implica a ideia de parentesco, religio, poltica e economia. J para os capoeiras, a msica est asso-ciada ao movimento corporal, ao ritual e libertao. (ILARI, 2001).

    Como sugere Gregory (1997), tanto as funes quanto os significados do fazer musical dependem de aspectos especficos de cada sociedade e cultura. No Mundo Ocidental, a msica vem exercendo funes especficas em atividades humanas como

  • Unidade 2 - FUno social da msica e diversidade cUltUral

    32 - Univali Virtual Curso de Pedagogia

    ninar crianas, danar, contar estrias, comemorar eventos especiais, vender produtos, entreter, curar e rezar, anunciar eventos, entre outras. (GREGORY, 1997; ILARI e MAJLIS, 2002).

    Pensando assim, que funes e significados o fazer musical apresenta? Que culturas musicais influenciaram na formao da identidade musical brasileira? Como a educao musical pode valorizar a diversidade cultural na sala de aula?

    2.1 Funes da msica na sociedade

    Msica para ouvir no trabalhoMsica para jogar baralhoMsica para arrastar correnteMsica para subir serpenteMsica para girar bambolMsica para querer morrerMsica para escutar no campoMsica para baixar o santo

    Msica para ouvir Msica para ouvirMsica para ouvir

    Msica para compor o ambienteMsica para escovar o denteMsica para fazer choverMsica para ninar nenMsica para tocar novelaMsica de passarelaMsica para vestir veludoMsica pra surdo-mudo...

    Msica para ouvir Arnaldo Antunes

    No h dvidas de que a msica est presente em nossas vidas em diversos lugares e em diferentes momen-tos. Podemos encontrar a msica nos meios de comunicao em diversos ambientes como restaurantes, lojas, supermercados.

    A msica tambm usada pelas pessoas, de diversas maneiras, nas mais diferentes situaes. A percepo de que a msica faz parte do nosso dia a dia de forma to marcante e recorrente nos faz pensar que a presena da msica em nossa vida cotidiana to importante que podemos consider-la como um fato social a ser es-tudado. (GREEN, 1988, p. 88).

  • Funo social da msica e diversidade cultural - unidade 2

    Univali Virtual - 33Curso de Pedagogia

    A msica uma importante rea do conhecimento humano. Mas voc j parou para pensar por que m-sica importante? Para que serve, afinal, a msica? Essas perguntas so muito debatidas entre pesquisadores e acadmicos. A Etnomusicologia, cincia que estuda a msica de todos os povos do mundo, apresenta ideias interessantes em torno das funes da msica nas sociedades humanas.

    A Musicologia surgiu juntamente com outras disciplinas das Cincias Humanas, como a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia. Inicialmente, existiam trs vertentes da Musicologia: Histrica, Sistemtica e Comparada.

    A Musicologia Histrica se ocuparia com o estudo das notaes, categorias histricas fundamentais e ins-trumentos musicais da msica ocidental, assim chamada de msica erudita ou clssica.

    Os termos msica clssica e msica erudita so popularmente utilizados para definir um repertrio muito grande da Msica Ocidental.

    A Musicologia Sistemtica se ocuparia de aspectos como harmonia, ritmo, melodia, esttica musical e peda-gogia musical. (NATTIEZ, 2005, p. 8). A Musicologia Comparada ou Comparativa inicialmente se ocuparia com o estudo comparativo de msicas das vrias culturas do mundo. Com o tempo, depois de muitas discus-ses sobre quais seriam os objetos de estudo e metodologias de pesquisa de cada Musicologia, o nome da Mu-sicologia Comparada mudou para Etno-Musicologia e, finalmente, Etnomusicologia. (OLIVEIRA, 2000).

    Atualmente, a musicologia (dentre suas variadas vertentes) no a nica rea do conhecimento humano que estuda a msica. reas como a Lingustica, a Sociologia, a Psicologia e a Antropologia tambm tm gran-des contribuies sobre o estudo da msica de uma maneira mais ampla.

    Se voc quiser saber mais sobre as vrias ramificaes da Musicologia, leia o artigo de Nattiez (2005). Consulte a lista de referncias.

    Um dos mais importantes pesquisadores da msica foi o norte-americano Alan Merriam. Em sua obra intitulada The Anthropology of Music (1964), Merriam (1964) categorizou as funes da msica na sociedade, procurando compreender o papel da msica na cultura humana.

    Merriam: (1923/1980) foi um etnomusiclogo durante a ltima metade do sculo XX. Ele lem-brado, principalmente, por seu livro The Anthropology of Music, em que promove o estudo da msica a partir de uma perspectiva antropolgica e com mtodos antropolgicos. Em A Antropologia da Msica, Merriam props um modelo tripartido para o estudo da etnomusicologia, centrado no estudo da msica na cultura. Em obras posteriores, Merriam alterou o seu conceito original de msica na cultura para msica como cultura.

  • Unidade 2 - FUno social da msica e diversidade cUltUral

    34 - Univali Virtual Curso de Pedagogia

    Vamos ento refletir sobre as funes da msica na sociedade e tambm na escola.

    Funo de expresso emocional est relacionada com a liberao e expresso dos sentimentos, uma ma-neira de demonstrar os pensamentos e ideias que muitas vezes no so expressos atravs da fala. A msica usada como um desabafo das emoes e oportuniza a manifestao da criatividade. (MERRIAM, 1964, p. 219).

    Funo do prazer esttico concebe a esttica tanto do ponto de vista do criador como do receptor da m-sica. A esttica da msica deve ser demonstrada e percebida em outras culturas alm da nossa. (MERRIAM, 1964, p.223). A experincia esttica uma resposta por meio dos sentidos, dos sentimentos e da imaginao. Quando ouvimos uma msica recebemos um estmulo que requer uma resposta de natureza afetiva.

    Funo de divertimento e entretenimento funo presente em todas as sociedades. Est ligada ao diver-timento produzido pelo tocar e pelo cantar, mas tambm pelo ouvir msica.

    Funo de comunicao a msica entendida como uma forma de comunicar alguma coisa. A msica no entendida como uma linguagem universal, mas sempre inserida em um contexto cultural. Assim, preciso que a pessoa conhea a linguagem para poder compreender as informaes transmitidas pela msica, como, por exemplo, o significado das msicas em rituais da regio de Angola, Moambique e do Congo. Ou seja, a msica comunica emoes e informaes a quem compreende sua linguagem.

    Funo de representao simblica a msica serve como um smbolo para representar ideias, comporta-mentos e outras coisas. Essa funo est presente em todas as sociedades e, atravs das letras e dos elementos que compem a msica, as emoes sugeridas representam os pensamentos e sentimentos. Para Swanwick (2003), essa funo envolve representao interna dos sons, manipulao de imagens, a relao entre as imagens, a criao e o desenvolvimento de vocabulrios partilhados e a troca de ideias com os outros. (SWANWICK, 2003, p. 49).

    Funo de reao fsica a msica pode ser usada para provocar reaes fsicas nas pessoas, como, por exemplo, estimular os guerreiros a lutar, os caadores em busca da caa. A partir de um som que se ouve, a msica tambm pode mudar e incitar diferentes comportamentos nos indivduos, como danar, pular ou se movimentar, podendo estar modelados de acordo com a cultura em que a pessoa est inserida.

    Funo de impor conformidade s normas sociais considerada por Merriam (1964) uma das principais funes da msica, usada para transmitir comportamentos e condutas sociais. Ela pode ser usada como advertncia queles que no se encaixam nas normas impostas como para louvar aqueles que se conduzem de maneira correta.

    Funo de validade das instituies sociais e dos ritos religiosos muito parecida com funo de conformi-dade s normas sociais, a msica manifesta os pressupostos da religio ou da instituio social a qual ela represen-ta, indicando os comportamentos prprios ou imprprios a serem adotados pelos membros dos grupos sociais. Por exemplo, os escoteiros cantam em suas msicas sobre estar sempre alerta, o que lhes confere uma conduta exemplar.

    Funo de contribuio para a continuidade e estabilidade da cultura como a msica expressa ideias, usada como comunicao, como prazer esttico e impele conformidade com as normas sociais. Ela tambm transmite os valores culturais, fazendo com que a cultura tenha continuidade.

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    Funo de contribuio para a integrao da sociedade a msica agrega as pessoas em diferentes con-textos (em shows, cerimnias religiosas, movimentos culturais entre outros). Seus membros podem se reunir para participar de atividades que exigem cooperao e coordenao do grupo. A msica atrai seus membros e os recorda de sua unidade. (MERRIAM, 1964, p. 226).

    Diante desses diferentes tpicos da funo da msica, faa uma lista de momentos, lugares ou ocasies em que a msica est presente na sua vida. Em quais momentos ela mais importante, mais marcante? Como voc experimenta a msica em seu dia a dia?

    2.1.1 Funes e significados das prticas musicais na escola

    Educadores musicais tambm se preocuparam com as funes da msica na sociedade, pois este conheci-mento de grande importncia. Podemos dizer que a Educao Musical est ligada histria das culturas da humanidade. Mesmo as culturas tradicionais, erroneamente chamadas de primitivas, possuem prticas de ensino que so efetuadas por pessoas especializadas, transmitindo habilidades musicais para os educandos.

    Estes processos variam de acordo com os tipos de cultura, nos credos, nos princpios, nos objetos e fun-es, nas tcnicas, nos repertrios e nas reas de atuao. (OLIVEIRA, 1993, p. 27). Se a msica tem variadas funes nas sociedades, e estando a Educao inserida dentro de uma determinada sociedade,

    Ser sem dvida alguma, bem mais relevante o processo adotado pelo educador que considerar a fun-cionalidade da msica no contexto. Aquele processo educativo desvinculado dos valores scio-culturais ser sem dvida muito mais desarticulado da realidade e por conseqncia, ineficaz. (OLIVEIRA, 1993, p. 27).

    Descobrir exatamente quais as funes da msica na educao para, posteriormente, aplicar em sala de aula no uma tarefa simples, no ? E ainda carece de mais estudos, assim, para sua melhor com-preenso, sero apontados mais aspectos a esse respeito.

    Como j vimos anteriormente, a msica configura-se como um fenmeno de comunicao social, fazendo

    parte da cultura de uma sociedade. Da mesma maneira, a escola est inserida na sociedade, articulando os saberes da cultura humana. Na escola podemos encontrar e listar algumas formas de uso e funes da msica, a saber:

    Funo de controle a msica ocupa os espaos entre as atividades do cotidiano escolar, organizando o ritual do dia a dia da escola. Desse modo, a msica serve como uma forma de controle estabelecido pela escola. (TOURINHO, 1993).

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    Controle pelo repertrio a msica utilizada para transmitir contedos afetivos, integrar seus par-ticipantes e delimitar suas caractersticas de idade, funo, gnero. Assim, os alunos devem se comportar de acordo com o que a msica diz. (TOURINHO, 1993).

    Questes culturais e emocionais a msica aqui usada para transmitir aspectos extramusicais relacio-nados aos sentimentos e s questes culturais, no se preocupando com elementos do conhecimento musical propriamente dito. (DEL BEN, 2002).

    Funo utilitarista a msica usada como ferramenta que auxilia em outras atividades, como o ensino de idiomas, de matemtica, o desenvolvimento psicomotor, o divertimento e prazer das crianas ou divulgao da escola. (BEYER, 2001).

    Funes perifricas a msica desempenha um papel secundrio, estando presente em eventos cvicos, nos ensaios da banda marcial ou mesmo como msica de fundo para aliviar as tenses dos alunos. (SOUZA, 2002).

    Funo de orientao social a msica o elo entre a escola e a comunidade, pelo seu aspecto social e o relacionamento com as famlias. (BRESLER, 1996).

    Funo de subservincia s outras disciplinas a msica concebida como auxiliar para o aprendizado nas outras disciplinas na crena de que quem se desenvolve na msica se sair melhor nas outras reas. (BRES-LER, 1996).

    Funo de autoexpresso a msica usada para que os alunos expressem livremente seus pensamentos em um momento de relaxamento. (BRESLER, 1996).

    Funo de disciplina com conhecimento e habilidades especficas essa funo demanda a presena de um professor com conhecimentos especializados da rea musical, que transmita e oportunize os conhecimen-tos especficos da disciplina. (BRESLER, 1996).

    Funo de desenvolvimento do corpo a msica desenvolve, atravs das reaes fsicas, a coordenao motora ampla e fina, alm do raciocnio. (HUMMES, 2004).

    Funo de entretenimento a msica est presente nas datas comemorativas, festas escolares ou espe-tculos que entretm os membros da comunidade escolar, alegrando, divertindo e descontraindo as pessoas. (HUMMES, 2004).

    Voc pode perceber que a msica est presente na escola de diversas maneiras e utilizada para di-ferentes finalidades. Mas poderamos questionar o porqu de conhecer e compreender essas funes. preciso no somente falar sobre msica, mas sim, fazer msica, proporcionando a participao musical na sala de aula, onde o aluno interage com a msica.

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    Para Beinecke (2001), preciso [...] compreender os caminhos que a prpria msica trilha, a forma como diferentes grupos se relacionam com ela e os processos de construo de significados. (BEINECKE, 2001, p. 9). Assim, embora a msica seja usada nessas diversas funes, no se pode esquecer de que o principal obje-tivo da educao musical ensinar msica. Dessa maneira, a educao musical estar verdadeiramente ligada vida cotidiana, carregando os significados adquiridos e aprendidos no fazer musical genuno. Ou seja, a aula de msica no pode estar descontextualizada ou isolada das prticas musicais dos alunos.

    Ainda podemos exemplificar as funes de algumas atividades prticas de msica em sala de aula registradas por Tourinho (1993). Ela destaca trs modalidades de atividades possveis de serem aplicadas na escola:

    1. Execuo: cantar ou tocar, incluindo o corpo como instrumento. De acordo como Tourinho (1993, p. 94-107), dentre atividades de execuo, o canto a mais utilizada, por haver uma tradio histrica do canto nas escolas e por ser uma ferramenta muito utilizada por vrios outros profissionais da Educao.

    O corpo pode ser um instrumento musical o qual pode produzir vrios sons percussivos. Sua utilizao ainda pouco observada, pois a maioria dos educadores no se sente seguro para atividades que envolvam o ensino de msica atravs do corpo. Na maioria das vezes, limitam-se s atividades mais seguras, como jogos e brinquedos cantados e danas folclricas. O uso de instrumentos musicais ainda mais restrito, considerando que, se de fato existem nas escolas, no passam de um conjunto de instrumentos de percusso que no conse-gue suprir a demanda de vrias turmas.

    2. Descrio: demonstrar, por algum meio, a compreenso de sons presentes ou interiorizados (movimen-tos, imagens, palavras, notaes). Isto , as atividades de descrio tm como principal objetivo o aprimora-mento da audio, podendo ou no ser combinadas com a execuo. No existe uma maneira certa de se apreciar msica; desse modo, uma funo educativa de atividades descritivas a variao de experincias de forma a permitir que os alunos tenham diferentes oportunidades de entender formas distintas de msica. (TOURINHO, 1993, p. 108).

    3. Criao: composio e improvisao. (TOURINHO, 1993, p. 92). Atividades de criao so atividades mais complexas e que exigem muita pesquisa e envolvimento de educadores e educandos. O prprio termo criatividade tem sido amplamente debatido, merecendo estudos de vrios autores. Na maioria das vezes, atividades de criao so fundamentadas por uma expresso muito livre, at mesmo vazia de contedo, de reflexo e informao.

    Faz-se indispensvel, ento, promover um ensino que respeite a natureza social da msica, contri-buindo para um fazer musical apoiado em prticas musicais autnticas, sendo esse processo analisa-do criticamente em relao aos significados musicais construdos em diferentes contextos culturais. (BEINECKE, 2001, p. 11).

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    A educao musical pressupe reflexo e ampliao das nossas prprias concepes e das concepes dos alunos sobre a msica e suas funes na sociedade e na escola. No podemos deixar de analisar de forma crtica as diferentes maneiras como a msica usada na sociedade e na escola. Isso faz parte do processo educativo.

    preciso

    auxiliar os jovens e todas as pessoas a compreender as muitas influncias da msica no comportamento humano e as vrias funes da msica na sociedade, de forma que possam usar a magnificncia da msica mais efetivamente nas necessidades e desafios de suas prprias vidas dirias. (HAACK, 1995, p. 92).

    Ignorar as funes e os significados da msica na sociedade e na escola pode fazer com que o trabalho mu-sical seja mecnico e distante da realidade do aluno. Nesse sentido, Souza (2000) comenta que,

    a tarefa bsica da msica na educao fazer contato, promover experincias com possibilidades de expresso musical e introduzir os contedos e as diversas funes da msica na sociedade, sob condies atuais e histricas. (SOUZA, 2000, p. 176).

    J para Vulliamy (1997),

    Quanto ao fazer musical, necessrio focar abordagens multiculturais, que incluem todas as possi-bilidades de audio e prticas musicais, favorecendo as escolhas de todos em geral sem negligenciar a variedade de estilos que os jovens habitualmente ouvem fora da escola. (VULLIAMY, 1977, p. 303).

    Alm de compreender as funes da msica na sociedade em que vivemos, ampliar a viso de mundo e o conhecimento das diferentes manifestaes culturais possvel atravs do trabalho com msica. A educao musical deve abranger os diferentes mundos musicais de uma cultura, seus discursos e significados. A msica pode ser a porta de acesso ao conhecimento, aceitao e compreenso de outros modos de ser e viver. Inclu-sive, diferentes maneiras de utilizar e vivenciar a msica.

    Para melhor ilustrar as atividades de Execuo e Criao, voc deve assistir ao vdeo O ritmo na edu-cao musical no ambiente Sophia.

    Voc pde ver que a msica compreende muitas funes, no ? Agora vamos viajar e descobrir quais so os principais mundos musicais que formam a cultura musical brasileira?

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    2.2 Diversidade cultural

    Vamos pensar um pouco sobre o que cultura: um produto do ser humano, envolvendo todo o seu conhe-cimento, passvel de ser aprendido, e que diferencia o homem de outros animais.

    O ser humano tem um relacionamento diferenciado com a natureza porque tem a seu dispor duas notveis propriedades: a possibilidade da comunicao oral e a capacidade de fabricar instrumentos, capazes de tornar mais eficiente o seu aparato biolgico. (LARAIA, 1996, p. 28-29). Em outras palavras, [o homem] o nico ser possuidor de cultura. (LARAIA, 1996, p. 29).

    Desta forma, entender as diversas culturas que existem no mundo amplia horizontes e abre as portas para outras expresses culturais que podem ser utilizadas e praticadas por ns. Assim, a seguir iremos conhecer outras culturas musicais, entendendo seus processos de criao e seus instrumentos musicais para podermos compreender melhor a nossa prpria cultura, nossa identidade. Vamos l?

    2.2.1 Etnocentrismo e Relativismo cultural

    O sculo XIX foi marcado pelo surgimento das cincias humanas, como a Psicologia, a Sociologia e a An-tropologia. Na poca, os cientistas buscavam seus resultados com base em experimentos e testes de laboratrio. No caso da Antropologia e da Musicologia Comparada, esses dados experimentais eram somados aos dados relacionados a outras culturas do mundo, obtidos atravs dos relatos de viajantes e missionrios. Era a chamada pesquisa de gabinete.

    Esse tipo de pesquisa no valorizava as diversas culturas do mundo como nicas. A aplicao distorcida do Evolucionismo produziu o chamado Etnocentrismo, prevendo que as culturas do mundo teriam graus dife-rentes de evoluo. As mais primitivas seriam as culturas tribais, como os indgenas e os africanos; num estgio intermedirio estariam as culturas orientais; e as mais desenvolvidas seriam as sociedades europeias.

    Com o aumento da conscincia crtica nas cincias humanas, em especial na Antropologia Cultural, a orientao evolucionista e etnocntrica foi sendo abandonada em favor de uma orientao que valoriza as culturas como elas so de fato, relativizando-as e no as comparando. (REILY, 1990, p. 22-28).

    Essa transformao significativa no pensamento acadmico gerou o chamado Relativismo Cultural, em oposio a outras correntes de pensamento, como o Determinismo Biolgico e o Determinismo Geogrfico. (LARAIA, 1996, p. 17-24). Ao conhecer alguns aspectos sobre cultura, vamos descobrir como a diversidade cultural formou a identidade musical brasileira.

    2.2.2 Interpretando a identidade musical Brasileira

    O Brasil um pas formado por diferentes culturas e manifestaes musicais. So diversos estilos, gneros musicais, ritmos e instrumentos, oportunizando o conhecimento de diferentes culturas e hbitos, valorizando o outro, aquilo que constitui ou no a nossa prpria forma de ver o mundo.

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    O universo musical brasileiro riqussimo, mas ns, muitas vezes, no conhecemos muito sobre ele. H diferentes produes e manifestaes culturais, de norte a sul do pas, todas elas formadas e influenciadas por diferentes contextos e culturas.

    Para compreender o universo musical brasileiro, podemos iniciar estudando as principais culturas musicais que ajudaram a formar a identidade musical brasileira. Na formao dessa identidade, temos a msica indge-na, a msica portuguesa e a msica africana. Vamos compreender e conhecer melhor cada uma delas.

    Msica indgena:

    Os ndios j habitavam nosso pas quando os portugueses aqui chegaram e as suas manifestaes musicais estavam e ainda esto presentes em sua cultura. A msica, para muitas tribos indgenas, est ligada aos rituais religiosos, rituais de passagem e dana. As principais caractersticas da msica indgena so o timbre anasa-lado caracterstica que encontrada na msica brasileira, influenciando nosso jeito de cantar em um timbre nasal; o uso de instrumentos de percusso variados, como chocalhos, maracs, tambores paus de chuva, alm de instrumentos de sopro, como flautas e zunidores; a msica indgena deu origem danas, como a catira, dana comum em regies centrais do pas, na qual os batimentos de ps e mo so fortes traos da cultura indgena.

    Figuras 1, 2 e 3: Instrumentos musicais de origem indgena

    Fonte: Almeida; Pucci (2003, p. 54-55).

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    Msica portuguesa:

    A cultura musical portuguesa rica em estilos musicais como as modas, fados, fandangos e chulas. Suas caractersticas influenciaram a msica brasileira e podemos citar o perfil meldico e a forma como a msica construda com estrofes padronizadas. As quadrinhas esto presentes na nossa literatura e na msica, como no exemplo a seguir:

    O cravo tem vinte folhasA rosa tem vinte e umaAnda o cravo em demanda,Porque a rosa tem mais uma.O cravo brigou com a rosaDebaixo de uma sacadaO cravo saiu feridoE a rosa despedaada.

    Muitas danas portuguesas exerceram influncia no Brasil, como o caso da ciranda. Esta dana de roda e forma de fazer msica est presente em todo o territrio brasileiro. Os instrumentos musicais portugueses tam-bm so uma herana brasileira, especialmente os instrumentos de corda, como o violo, a viola, o cavaquinho e a rabeca, e os instrumentos de percusso, como caixas e pandeiro-adufe (um pandeiro quadrado, originrio dos rabes). A msica portuguesa originou alguns gneros musicais brasileiros como as modinhas e modas-de--viola, alm dos acalantos e rodas infantis.

    Msica africana:

    A msica, para os africanos, parte da vida social, usada como comunicao e com funes espirituais ou ritualsticas, tambm estando muito ligada dana. As principais caractersticas da msica africana encontra-das na msica brasileira so o ritmo - bastante marcado por acentos no contratempo, e uso de tercinas; o canto em forma de responsrio em que se alterna o canto individual e o canto coletivo; a dana e sua relao com a msica para os africanos dana e msica esto totalmente ligadas.

    Instrumentos musicais africanos esto presentes na nossa msica, como o agog, xequer, caxixi, atabaque, bastes, ganz, o tamborim e o pandeiro, revelando a caracterstica rtmica e percussiva da nossa msica.

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    Figuras 4, 5, 6 e 7: Instrumentos musicais de origem africana

    Fonte: Almeida; Pucci (2003, p.101 -102).

    Figuras 8, 9, 10 e 11: Instrumentos musicais de origem africana

    Fonte: Almeida; Pucci (2003, p.101 -102).

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    Univali Virtual - 43Curso de Pedagogia

    Para complementar seus conhecimentos, o livro Outras Terras, Outros Sons (2003), de Magda Pucci e Berenice de Almeida, traz muitas informaes sobre as culturas formadoras da msica brasileira, com sugestes de atividade para sala de aula. Confira!

    Realmente, o Brasil conta com uma grande diversidade cultural que se expressa na msica e na forma como usamos a msica em nossa cultura. Articular os conhecimentos sobre a diversidade cultural nas aulas vem ao encontro das orientaes dos PCNs de Artes, que consideram a msica como produto cultural e histrico, incluindo nas orientaes o trabalho com movimentos musicais e obras de diferentes pocas e culturas, asso-ciados a outras linguagens artsticas no contexto histrico, social e geogrfico, observados na sua diversidade. (BRASIL, 1997, p. 56).

    Assista ao vdeo Diversidade cultural no ambiente Sophia e aprenda um pouco mais sobre a cultura africana, indgena e portuguesa.

    2.2.3 Multiculturalismo A msica define o territrio e atualiza o modo de ser humano de forma integral e total. Dessa forma, com

    o surgimento de gravadores e dos diferentes meios de registro e difuso da msica, as possibilidades de troca de informaes interculturais foram sendo ampliadas. (DELALANDE, 1984). Assim, a msica transcende fronteiras geogrficas e lingusticas, promovendo um interessante dilogo entre diferentes povos. preciso compreender a msica como resultado criativo de diferentes etnias.

    A diversidade cultural um fato. O universo cultural diz respeito ao modo de vida dos grupos sociais, e nesse sentido organiza identidades individuais e coletivas. Assim, a cada cultura corresponde uma forma de estar no mundo. a partir dessa forma que indivduos e coletividade pensam no outro, como estranho, diferente, estrangeiro. (VITULE, 1999, apud ALMEIDA; PUCCI, 2003, p. 23 ).

    Ao reconhecermos a multiculturalidade da sociedade brasileira, compreendemos ento a diversidade tnica e cultural dos diferentes grupos sociais que a compem. Entendemos que a preocupao em bus-car e compreender as diversas culturas existentes no mundo amplia possibilidades para outras expresses culturais. No entanto, a temtica do multiculturalismo, muitas vezes, gera receio nos educadores, que a apontam como obstculo no planejamento da aula, considerando, aqui, o hbito do desenvolvimento de um trabalho baseado no repertrio do folclore brasileiro/europeu. Porm, explorar o novo, amplia as possibilidades de conhecimento. Toda cultura delimita possibilidades incomensurveis de realizao das potencialidades humanas, e para Freyre, (1984) desse modo, o encontro cultural enriquecedor por defi-nio, pois no encontro das diferenas, encontramos a unidade na multiplicidade.

    O que o autor est comentando a necessidade de se refletir sobre a prtica musical escolar, sistematizando,

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    historicizando, propondo audies sobre os objetos musicais, contextualizando os prprios meios em si, como construes humanas (condies histricas, sociais) visando ao processo de transformao, desenvolvimento humano. Observamos, hoje, que a msica brasileira que se faz na escola, muitas vezes, to destituda de ele-mentos verdadeiramente brasileiros que chegamos ao ponto de questionar sua insero no currculo escolar.

    Torna-se imprescindvel encontrar meios que nos aproximem dessas culturas, evitando folclorismos reple-tos de preconceitos. Dentre a msica tnica a ser aplicada na educao, cabem todas as manifestaes possveis de expresso de uma cultura, inclusive o folclore, porm, no apenas ele. E dentro dessa ideia, seria apropriado revermos nossos conceitos sobre o que o folclore, para ento desfrut-lo em sala de aula. Mais do que assimi-lar peculiaridades, devemos concatenar as origens e causas de determinada msica e no us-la simplesmente como uma melodia a mais no repertrio.

    Deve-se procurar entender o contexto (funo, gestos, dana, figurinos, instrumentos musicais, ritmos, formas de execuo) no qual a msica est inserida, vivenciando os elementos de cada cultura, buscando com-preender o sentido real de cada manifestao.

    Nesse sentido, preciso que ouamos a msica das etnias formadoras do ethos brasileiro, que pro-curemos olhar cuidadosamente para as suas particularidades, preciso que cantemos sua msica, que faamos um esforo para toc-la, conhecendo de perto seus instrumentos, um pouco dos seus hbitos e artes em geral. Isso tudo pode ser muito mais rico do que simplesmente falar sobre a influncia des-sas etnias, sem conseguir detectar onde ela se encontra. (ALMEIDA; PUCCI, 2003, p.21).

    A abordagem da msica, baseada no contexto sociocultural que a envolve, de fundamental importncia para o aprimoramento crtico-musical dos alunos, pois desenvolve a sensibilidade, a capacidade de compre-enso do mundo que os cerca, a criao, bem como as experincias estticas, a fruio, o prazer artstico. Conhecer outras culturas musicais, entender os processos de criao, os instrumentos musicais pode facilitar a compreenso de nossa prpria cultura.

    A escola, dessa forma, torna-se o veculo para a humanizao dos sentidos, tal como a educao musical. Cabe a ela, disseminar o patrimnio musical (erudito, popular, folclrico) edificado em diferentes tempos e contextos sociais ainda presentes na histria e no padro do que se ouve, canta e consome no Brasil. Como afirma Werneck (2008), [...] preciso considerar que a educao prope-se transformao da sociedade, ao desenvolvimento de suas potencialidades, ao seu crescimento moral e sua humanizao. (WERNECK, 2008, p. 415).

    Festejar a mistura tnica de forma superficial desnecessrio, no agrega valor musical e conhecimen-to multicultural.

    Para compreender a msica de outros povos, preciso considerar que cada etnia possui cdigos e formas de pensar e agir que nem sempre so comuns nossa cultura. Temos a tendncia de evitar o desconhecido, de tratar as expresses culturais de outros povos com preconceito, pois temos uma viso de mundo em que