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1 INTRODUÇÃO
As explorações das áreas de uso comum, originariamente, surgem no
Brasil, com as concessões, por parte da coroa portuguesa, de terras, que na
época eram denominadas de sesmarias. Isso ocorre logo após o
descobrimento (Prezia & Hoomeat, 2000).
A partir desse momento, introduz-se, uma modalidade de exploração
da terra, que já existia no continente europeu e que em virtude das
circunstâncias histórica não obteve êxito em sua aplicabilidade, pois, muitos
dos que recebiam as terras abandonavam-na, sem explora-las. Assim ela
pertencia a quem a ocupasse, ou seja, ao posseiro (Porto, S/D).
Os posseiros eram pequenos agricultores que não dispunham de
recursos financeiros para aquisição da terra e que utilizavam as áreas das
sesmarias, que estavam abandonadas, para realizarem o cultivo de
subsistência. Eram vários núcleos familiares, ligados por laços de
parentesco que seguiam regras e determinações específicas, que muitas
vezes refere-se estritamente àquele grupo. As decisões e orientações
normalmente eram dadas pelas pessoas mais idosas da comunidade (Silva,
1996).
Em estudos sobre comunidades tradicionais pesqueiras,
denominadas de neotradicionais, realizado na região de Mata Atlântica,
Begossi (2001), verificou que os caiçaras seguem os mesmos preceitos
organizacionais, de cultivo e exploração da terra, de manifestações culturais
e até mesmo nas tomadas de decisões.
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Desse modo as explorações das áreas de uso comum seguem
normas que ordenam a própria manutenção da subsistência dos agricultores
tradicionais, garantindo assim, seus objetivos básicos, que segundo Reijntjes
et al (1994), são: “a produtividade, a segurança, a continuidade e a
identidade”.
Essa prática de exploração da terra, que ocorre ocorrido no Brasil,
possui grande importância, pois, apresenta inúmeros aspectos positivos,
quanto suas formas de exploração e às relações sociais que envolvem a
comunidade.
O uso comum das áreas é estabelecido por regras e condições muito
restritas a cada grupo e local. Normalmente é realizado por pequenos
agricultores, que tomam suas decisões apoiadas na subsistência. O baixo
uso de insumos externos e o cultivo estritamente para atender as
necessidades familiares, aliados à rotatividade das roças, são fatores que
contribuem fortemente para um baixo impacto ambiental, pois a regeneração
dessas áreas cultivadas, denominadas de capoeiras, é um elemento que
pode ser observado e mensurado.
O uso comum das áreas, como forma de exploração, constitui uma
modalidade que está presente no sistema de produção brasileiro desde o
período do descobrimento, porém, sofreu desestruturação em conseqüência
da expansão do capitalismo (Diegues, 2002). A capacidade de
reorganização desses grupos, que andam na contra-mão das formas
tradicionais de ocupação espacial, como: a propriedade privada e a estatal
contrariam os argumentos de Hardin (1968), e apontam para situações que
viabilizam a prática de uso comum. Além disso, enfoca aspectos pertinentes
à conservação ambiental e étnocultura (Lescure et al, 2002).
Segundo Diegues (2002), no Brasil, o uso comum das áreas pode
ocorrer de várias maneiras, por exemplo: 1) as formas antigas: sesmarias e
sistemas faxinais: 2) formas mais recentes: as RESEX – Reservas de
extrativistas e os cultivos das áreas de várzea na região amazônica; os
caiçaras com a sua pesca na região litorânea do sudeste (Mata Atlântica); as
associações dos desabrigados de barragens e os exploradores dos
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manguezais, na região nordeste. Além disso, observa-se que vários
assentamentos agrários, promovidos por instituições governamentais ou
resultado de lutas de movimentos de trabalhadores rurais, vêm optando pelo
uso comum das terras.
As áreas de sesmarias, pelas suas características, asseguram as
mesmas prerrogativas da prática de uso comum. Isso motivou o
desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, na sesmaria de Santana, por
se saber dessa prática de exploração da terra realizada por esses
agricultores.
O trabalho centrou em responder as seguintes perguntas: 1. Que
aspectos caracterizam a exploração de uso comum da terra e qual a
ocorrência nesta área de sesmaria? 2. Como e quais áreas ocorrem as
práticas de uso comum da terra? 3. Qual o espaço geográfico ou territorial
utilizado pelos agricultores tradicionais com roças nas unidades produtivas?
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Sesmarias: como surgiram e o uso comum dessas áreas
Uso comum é uma expressão, que transmite a concepção de
comunitário. No sentido etimológico a palavra uso vem do latim usu, que
significa: ato ou efeito de usar; costume; prática consagrada pela tradição;
utilização; conhecimento adquirido pela experiência. A palavra comum vem
do latim commune, que significa: feito em comunidade ou que pertence
simultaneamente a mais de uma pessoa.
A expressão uso comum é abordada neste trabalho dentro da
concepção de: utilização dos espaços e os bens de forma comum ou
comunitária.
Os primeiros habitantes do Brasil tinham espaço suficiente para
plantar, pescar e caçar, e assim manter a sua sobrevivência. No entanto,
com a chegada do estrangeiro, no caso os portugueses, têm início os
conflitos sociais e ambientais e, conseqüentemente, a desestruturação
desse modo de vida. Primeiro, com as Capitanias Hereditárias,
posteriormente com a doação das sesmarias e, mais tarde, com a criação da
Lei da Terra de 1850. Todos esses mecanismos foram artifícios legais,
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criados pelo próprio Estado, para doar as terras às pessoas da corroa
portuguesa.
A partir de 1500, o rei de Portugal, que pelas perspectivas da época,
julgava-se dono da terra, passou a doá-la em forma de sesmarias a quem
tivesse condições de explorá-la, geralmente pessoas das classes mais
abastadas. Contudo, muitas vezes, após tentativas infrutíferas de ocupação,
a terra era abandonada. Assim ela pertencia, de fato, a quem a ocupasse,
isto é, ao chamado posseiro, Prezia & Hoomaet, (2000).
Em um primeiro momento, as terras doadas como sesmaria,
representavam grandes extensões de áreas, que segundo Porto (S/D),
eram: “... sesmarias de 6, 8 e mais léguas quadradas ...” A medição era
realizada em braças, ou seja, eram contadas seis léguas de comprimento
por duas léguas de terra de largura. Levando-se em consideração que cada
légua corresponde a 6.000 metros ou a 6 km, isso proporcionaria uma área
equivalente a 1200 hectares. Se, a princípio, as áreas de sesmaria foram
doadas com o objetivo de produzir alimentos, para abastecer a população,
essas grandes áreas e a dispersão desses agricultores pelo território
brasileiro não significaram o alcance desse objetivo, tanto que a Lei da Terra
de 1850, busca retomar essas áreas de terras novamente para o Estado.
“... Que todas as terras dadas por
sesmarias e não ... cultivadas, entrem,
outra vez, na massa dos bens nacionais,
deixando somente aos donos das terras
meia légua quadrada, quando muito, com
a condição de começarem logo a cultivá-
las em tempo determinado, que parece
justo (Porto, S/D).
O que normalmente ocorria com essas áreas de sesmaria, em termos
de exploração, seguindo o objetivo principal de produção de alimentos, fato
abordado por Proto, (S/D), por Diegues Jr. (1959) e por Prezia & Hoomaet,
(2000), é que eram áreas utilizadas por famílias numerosas e que ao longo
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do tempo passaram a serem exploradas e ocupadas por um contingente
cada vez maior de pessoas.
A organização dos grupos sociais que passaram a explorar essas
áreas, com o objetivo de manter a sua subsistência, nem sempre foi vista
como forma digna e proveitosa à sociedade. Essa prática de uso comum,
atribuída a essas comunidades, muitas vezes fechada por laços de
parentesco, que se organizam e obedecem regras que às vezes dizem
respeito somente a esse grupo de pessoas, pode ser analisada sob ótica
bastante controvertida, como é o caso em que, Hardin (1968), que analisa a
utilização de áreas exploradas comunitariamente. Mesmo buscando
argumentos junto à Teoria Mathusiana ou em fatos, em que há o surgimento
do processo de poluição, nas áreas de exploração comunitária, tentando
demonstrar a ineficiência e o prejuízo que essa prática de uso comum da
terra traz à sociedade, observa-se que existem inúmeros aspectos positivos
(Almeida, 1989). Hardin, (1968), sugere a extinção do uso comum das
terras, no entanto essa é uma decisão extrema e contrária ao que dizem
Mckean & Ostronm, (2001).
Nos dias de hoje, o uso comum das terras, possuem aspectos
extremamente relevantes:
1. Fixa o homem no campo;
2. Produz alimentos, mesmo que de subsistência, pois de
qualquer forma o excedente chega à cidade;
3. Preserva os mananciais e as áreas verdes;
4. Utiliza baixíssima quantidade de produtos químicos, como
por exemplo, os agrotóxicos;
5. Contribui para a promoção de formas socialmente justas de
uso da terra Anderson & Loris, (2001).
Os problemas relacionados à prática de exploração da terra
comunitária existem da mesma forma que os problemas relacionados à
produção comercial. Os exemplos estão em todos os lugares e das mais
variadas formas possíveis. Alguns aspectos podem ser tomados como
exemplos:
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1) Na produção de subsistência, o uso comunitário da terra, vale
também para as áreas de sesmaria:
• Uso da queimada para realizar a limpeza das roças de toco. Essa
prática, comum à categoria de agricultores tradicionais, talvez seja um
dos aspectos mais combatidos, inclusive por Hardin (1968), pois,
provoca poluição do ar e destrói em demasia a vegetação. Em
contrapartida o uso por alguns anos e o descanso dessa área,
deixando-a transformar em capoeira, provoca o processo de
regeneração e conseqüentemente menor dano ao ambiente, pois,
segundo, Dubois (1996):
“Várias espécies arbóreas e arbustivas de
capoeiras têm raízes que atingem
camadas mais profundas do solo. Dessa
forma, estas espécies vão buscar
nutrientes que não podem ser alcançados
pelas raízes de espécies agrícolas
cultivadas. Os nutrientes retirados das
camadas mais profundas do solo se
concentram nas folhas e ramos das
espécies arborescentes e arbustivas a
capoeira. Quando essas folhas e ramos
caem no chão, se decompõem aos
poucos e enriquece a terra em nutrientes
e matéria orgânica. Assim a capoeira
acumula progressivamente, na superfície
do solo, nutrientes e húmus e favorece, dessa maneira, uma boa reciclagem de
nutrientes, a qual preenche um papel
importante na recuperação do solo
aumentando sua porosidade, sua
capacidade de absorver a chuva e o ar,
diminuído, também, o risco de erosão.”
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2) Na produção comercial, em alta escala, com uso de alta tecnologia,
defendida por Hardin (1968):
• Uso demasiado ou intensivo de máquinas agrícolas provoca a
compactação do solo, isso pode interferir tanto na condição de
conservação do solo, como na própria degradação da estrutura do
solo. Em conseqüência disso, poderá interferir na rentabilidade
econômica da produção, ocasionar maior probabilidade do processo
erosivo, criando voçorocas e até contribuindo para o processo de
desertificação. Nos trabalhos realizados por Gupta & Allmanaras
(1987),
“... a compactação do solo possui efeitos
adversos como: Limitação de adsorção
ou absorção de nutrientes; dificuldades
de infiltração e redistribuição de água;
dificuldades nas trocas gasosas e no
desenvolvimento do sistema radicular
das plantas”. A prática de usar comunitariamente a terra faz parte do processo
histórico, datado desde o surgimento da agricultura. Verificando a origem do
modo de produção agrícola nota-se que desde o surgimento da agricultura,
já se compartilhavam a terra em muitos aspectos. Essa prática nem sempre
foi constituída de princípios pacíficos, em muitos casos a disputa entre os
que produziam e os que criavam entrava em conflitos de interesses.
Segundo Primavesi (1997):
“Quando o homem passou de caçador e
colecionador para agricultor ... os
pecuaristas continuaram nômades ... Isso
causou intermináveis guerras porque
nenhum país agrícola queria permitir a
passagem de grandes rebanhos por seus
campos plantados.”
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A estratégia de manejo dentro das áreas de uso comum, que também
está relacionada diretamente à prática desenvolvida pelos agricultores
tradicionais, possui primordialmente caráter de autoconsumo, no entanto,
não se pode associar a maneira de exploração, de uso da terra ou mesmo
daquilo que se produz, como meramente uma fórmula de se ganhar dinheiro
e assim obter cada vez mais o lucro. A lógica dessa prática vai muito além
do que apregoa Hardin (1968). Segundo Khatounian (2001):
“... a produção para consumo doméstico
contribui para mudar a relação das
pessoas envolvidas na propriedade com a
terra. A terra deixa de ser um meio de
fazer dinheiro, transformando-se na fonte
primária de alimento da vida. Transforma-
se na ‘Mão Terra’, a ‘Pacha Mama’, ‘o pó
de que fomos criados e para o qual
voltaremos’. Essa transformação
contribui para alimentar também o nosso
espírito e a nossa autoconfiança”.
Outros aspectos de tal relevância também têm que ser levados em
consideração, que segundo Khatounian (2001):
“Nas propriedades que incluem várias
famílias trabalhando, a produção de
consumo interno contribui para o
sentimento de pertencimento ao grupo,
para a solidificação dos laços afetivos e
sociais. Esse sentimento age como um
cimento, solidificando e dando coesão ao
empreendimento que passa a ser
percebido como um objetivo coletivo. (...)
pode facilitar a resolução de conflitos, por
proporcionar relações mais solidárias no
interior do grupo”.
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Na conceituação da agricultura tradicional, na qual um dos objetivos
abordado é a Identidade, nota-se que também há relevantes aspectos sobre
a lógica da prática do uso da terra, que segundo Reijntjes et al (1994):
“Identidade, é definida como o grau em
que o sistema de produção do
estabelecimento agrícola e as técnicas
específicas se harmonizam com a cultura
local e com a visão que as pessoas têm
de seu lugar na natureza. Embora
aspectos como as preferências pessoais
(por exemplo, a posse de muitos animais,
de modo a demonstrar riqueza ou para
emprestar aos mais necessitados); as
tradições (a realização de cerimônias); as
normas sociais (os papéis masculinos e
femininos) e as satisfações espirituais (o
sentimento de unidade com a natureza e
com Deus)”. Dessa forma o uso comum das áreas apresentam uma complexidade
de abordagens, que a própria história da agricultura tem demonstrado ser
objeto de inúmeras discussões e variados pontos de vistas. Segundo
Reijntjes et al. (1994):
“Os sistemas agrícolas tradicionais
continuam a se desenvolver numa
constante interação com a cultura e a
ecologia local. Na medida em que as
condições para a realização da
agricultura mudam por causa do
crescimento populacional ou da
influência de valores de fora (externos)
os sistemas agrícolas também mudam”.
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Os sistemas agrícolas tradicionais se mostraram sustentáveis durante
séculos, no que diz respeito à manutenção de sua capacidade em nível
estável e contínuo de produção (TAC/CGIAR, 1998). Esse sistema continua
a ser desenvolvido, mesmo em área de maior concentração urbana,
contrariando Hardin (1968), como, por exemplo, os que ocorrem em
assentamentos rurais no sul do Brasil. Tendo em vista que a organização da
exploração, tanto em áreas de uso comum, como a realização de algumas
atividades também de forma comum, propiciaram aos agricultores maior
satisfação pessoal e melhorias nas condições de vida.
Os problemas relacionados a categorias dos agricultores tradicionais,
são inúmeros. Porém, Hardin (1968), em sua analogia, maximizou
problemas que podem ser solucionados. A ênfase em determinada
problemática não é motivo suficientemente grande para que se possa
justificar ou encerrar o assunto de forma condenatória. Existem diversas
correntes filosóficas que em analogias refletem pontos contrários a Hardin
(1968), ressaltando a importância do uso comum, da diversidade e a
complexidade de elementos relacionados a essa categoria de agricultores.
A própria biodiversidade é elemento suficientemente importante para
delinear os trabalhos sobre os agricultores tradicionais, pois a manutenção
da diversidade biológica tornou-se, nos anos recentes, um dos objetivos
mais importantes da conservação. A biodiversidade é definida pela
Convenção sobre a Diversidade Biológica1 como sendo:
“a variabilidade entre os seres vivos de todas as origens, inter alia, a terrestre, a
marinha e outros ecossistemas
aquáticos e os complexos ecológicos
dos quais fazem parte: isso inclui a
diversidade no interior das espécies,
entre as espécies e entre espécies e
ecossistemas” (Art. 2). 1Conferência realizada no Rio de Janeiro-Brasil, em 1992.
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Conforme Diegues (2000), a diversidade biológica não é
simplesmente um conceito pertencente ao mundo natural. É também uma
construção cultural e social. As espécies são objetos de conhecimento, de
domesticação e uso, fonte de inspiração para mitos e rituais das sociedades
tradicionais e, finalmente, mercadoria nas sociedades modernas. Assim,
Brookfield & Stocking (1999), propõem o conceito de agrodiversidade, em
que, a idéia de biodiversidade não se restringe aos organismos e aos
ambientes nos quais esses organismos estão inseridos, mas considera
também os sistemas de produção dos agricultores, que dá sentido a essa
diversidade.
Diegues (2000), Brookfield & Stocking (1999), reconhecem na
agrodiversidade os seguintes componentes:
(a) Diversidade biofísica – aquela relativa ao ambiente
natural, incluindo entre outras, as características do solo, as
espécies, cultivadas ou criadas, a biota do solo e a
diversidade microclimática.
(b) Diversidade de manejo – aquela relacionada às
diferenças entre as técnicas empregadas na condução dos
sistemas de produção. Nesse particular, é importante
ressaltar que a utilização dos recursos pelos agricultores,
incluindo os recursos genéticos, está inserida na lógica de
seus sistemas de conhecimento.
(c) Diversidade organizacional – refere-se à diversidade de
modos de inserção socioeconômica dos agricultores.
A biodiversidade está associada às diversas práticas que envolvem o
conhecimento das comunidades tradicionais, tais como os sistemas de
plantios, manejo, conservação de materiais genéticos (bancos de
germoplasmas – conservação in situ), tradições e/ou aspectos culturais.
Azevedo (2003), relaciona três aspectos principais sobre as causas
da perda dos recursos genéticos na agricultura: (a) a transformação das
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paisagens naturais, especialmente pela ocupação agropecuária, eliminando
tanto espécies como variedades relacionadas aos pools gênicos das
espécies cultivadas, o que é especialmente grave nos centros de
diversidade; (b) a diminuição e perda dos territórios ocupados pelas
comunidades tradicionais de agricultores, reconhecidamente conservadores
da agrodiversidade e (c) a desestruturação dos sistemas agrícolas
tradicionais existentes, por ações das pressões econômicas e culturais que
os forçam à adoção de novos procedimentos técnicos. (d) Complementando
estas situações, atualmente, em se tratando das áreas de sesmaria, há
outros elementos lesivos às comunidades tradicionais, como se pode
observar: 1) não há o reconhecimento da parte governamental, dessas áreas
como sendo legitimamente ocupada e legalmente pertencente a seus
ocupantes originais, por direito e merecimento; 2) a falta de uma política ou
de regras claras sobre essa categoria de terras possibilitou invasões e brigas
entre posseiros e grileiros, resultando quase sempre em expulsões de seus
verdadeiros proprietários.
A quantidade e a diversidade de justificativas atribuídas à categoria
dos agricultores tradicionais, juntamente com a sua maneira peculiar de se
relacionar com o meio em que vivem, provoca incômodo às novas formas de
exploração e relações do homem com a terra, principalmente dos que estão
envolvidos com maior uso de pacotes tecnológicos.
Quem não está envolvido com as relações que se dão entre os
agricultores tradicionais e seu meio tem a impressão que o sistema é
extremamente inviável. Mesmo quando se estuda a agricultura tradicional e
busca nos números maior compreensão dessa situação, encontram-se
contradições, pois, os números acabam indicando a impossibilidade da
manutenção, no campo, dessa categoria de agricultores. Para essa situação
há uma pergunta a se fazer: Por que esses agricultores têm conseguido sua
sobrevivência por tantos anos, inclusive nos dias de hoje? A resposta a esta
pergunta é muito complexa, pois, somente os indicadores econômicos não
são suficientes para tal resposta. Dados de natureza social, histórica,
religiosa, filosófica e cultural também terão que ser analisados e levados em
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consideração. Isso dá a idéia da dimensão e complexidade dos fatores que
estão envolvidos no assunto.
As críticas negativas sobre a maneira de exploração do uso comum
das terras, mesmo nas áreas de sesmaria, que são feitas de forma direta e
indireta em comparação à agricultura tradicional, sendo direcionadas quase
sempre aos aspectos financeiros, esbarra também, no Brasil, em problemas
históricos, e com tonalidade “cultural”. No caso, a questão da posse e
concentração das terras.
A concentração de terras nas mãos de poucos é uma constante e,
cada vez maior, sua contrapartida é a crescente a pobreza no campo. Essa
situação que tem provocado graves conflitos. Além disso, a maneira de
aquisição da terra, também tem contribuído para aumentar a violência rural.
A falta de definição da titularidade da posse da terra gera preocupação entre
os agricultores, já que o assunto é bastante melindroso, pois envolve
questão de sobrevivência dassas pessoas.
Segundo Silva, (1996):
“Uma das principais distorções do nosso
sesmarialismo – fruto em grande parte, do
descaso em ignorar as peculiaridades da
capitania, aplicando-lhe o disciplinamento
imaginado para a metrópole – ocorreria
de respeito à estrutura fundiária e cuja
síntese seria esta: enquanto em Portugal
dos fins do século XVI, a prática do
sesmarialismo gerou, em regra, a
pequena propriedade, no Brasil foi à
causa principal do latifúndio”.
A questão da posse da terra, da legitimidade dessa posse tem
provocado grandes conflitos no campo. Essa situação se arrastao desde os
tempos do império, ainda com as doações das sesmarias, segundo Silva
(1996):
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“Em 1795, o Conselho Ultramarino,
alarmado com os abusos, irregularidades
e desordens ... resolve elaborar meios de
resolver o problema. ... Reafirmava-se a
necessidade de evitar doar terras já
ocupadas por moradores para prevenir a
ocorrência de novos conflitos”.
Na época os posseiros eram normalmente constituídos por
pequenos agricultores que não dispunham de recursos financeiros para
aquisição da terra e que normalmente utilizavam as áreas das sesmarias,
que não produziam para realizarem o cultivo de subsistência.
A situação não mudou muito nos dias de hoje e essa mesma questão
da legitimidade da posse, tem sido motivo de vários conflitos. A maneira
como agem os grileiros e todo o seu aparato logístico, com advogados,
influência política, condição financeira favorável e conhecimento da
legislação em detrimento do parco conhecimento e da simplicidade dos
camponeses. Normalmente esse processo adquiriu uma lógica favorável aos
grileiros, que levam grande vantagem nas disputas (Silva, 1996). Essa
mesma situação pode ser observada em relação à sesmaria de Santana,
pois os agricultores que fizeram uso do direito de comercializar a área que
lhes pertencia foram envolvido em artifícios jurídicos sendo levados a
assinarem documentos que resultaram em ordem de despejo. O comprador
aproveitou-se da ingenuidade e ignorância jurídica dos agricultores cercou
um grande espaço, expulsando-os em seguida.
A Sesmaria de Santana constitui-se como um “Latifúndio”, pois
possui aproximadamente 4.600 hectares. Na década de 50, já havia se
formado um aglomerado urbano, formado por 45 famílias, que somavam
aproximadamente 450 pessoas. Essa sesmaria possuía características
próprias de exploração comunitária da área. O uso comum das áreas
destinadas à criação extensiva de bovinos e das construções das roças de
toco, ambas destinadas ao autoconsumo, fortalece a justificativa para as
dimensões territoriais. Além disso, esses grupos de pessoas possuíam
28
outros aspectos que os uniam, como por exemplo: laços de família, tradições
culturais, práticas religiosas e místicas e o próprio gosto pela terra em que
vivem.
O modo de exploração comunitária, realizado nas áreas de sesmaria,
em particular, como ocorreu na Sesmaria de Santana, apresenta fortes
traços das relações de produção típica de uma exploração familiar. Segundo
Lamarche (1997),
“A exploração familiar, tal como
conhecemos, corresponde a uma unidade
de produção agrícola onde propriedade e
trabalhos estão intimamente ligados à
família”.
Esse fato de inter-relação, onde a propriedade, o trabalho e a família
se manifestam, em conjunto, podem ser observados naquilo que essa
categoria de agricultores vem realizando. Para isso, foram levados em
considerações para análise seus principais procedimentos:
1. Existem inter-relações entre os núcleos familiares e as
necessidades de produção desses grupos.
2. Existem inter-relações entre a quantidade de produção e a
necessidade de consumo familiar.
3. Tudo aquilo que produzem, tem como objetivo básico, atender
às necessidades familiares, ou seja, o autoconsumo;
4. A produção para subsistência está acima da valoração
econômica do que se produz, do local que produz e da própria
mão-de-obra.
5. Em razão da necessidade de subsistência, ocorre o fator da
ajuda mútua. Sempre que um individuo está passando por
algum tipo de necessidade é ajudado por aquele que está em
melhores condições.
Esse modo de exploração de forma comum está estruturado em um
modelo complexo de funcionamento. Essa estrutura, ocorrida na sesmaria
de Santana, foi desestabilizada com o surgimento de uma outra força
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concorrente a esse modo de vida, qual seja, aquela estabelecida pelo
sistema capitalista de produção. Pois, apresentou maior vigor e
agressividade na forma como vem se ramificando e se impondo junto aos
agricultores.
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3 MATERIAL E MÉTODOS
A área objeto de estudo é a sesmaria de Santana (Figura 1),
localizada no Estado de Mato Grosso, município de Cáceres, na Região da
Morraria, distantes aproximadamente 55 km da sede do município.
3.1 Caracterização da Área de estudo Aspectos físicos
A sesmaria de Santana encontra-se em uma área intermontana, ou
seja, em um vale, que está encaixado entre dois prolongamentos, ou braços
da Serra das Araras, que segundo Miranda & Amorim (2000), é uma faixa de
dobramentos (Proterozóico). A região caracteriza-se por apresentar relevo
FIGURA 1. Localização da área de estudo – Cáceres-MT.
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bastante desgastado, em função da ação dos agentes internos e externos
que contribuem para a modelagem.
A conformação estrutural e o fato da sesmaria de Santana estar em
uma região de morraria, possuindo em seus vales, áreas relativamente
planas ou com pouco aclive, possibilita aos agricultores a permanência e
conseqüentemente sua sobrevivência, nesta localidade. As características
de relevo e o longo período de subsistência desses agricultores, nesta
região, são fortes indícios de que as tomadas de decisões, desses
agricultores tradicionais tem sido elemento importante para a permanência
nesta localidade.
O clima encontrado na região é do tipo tropical típico, quente semi-
úmido, com duas estações bem definidas, uma chuvosa e outra seca,
apresentando de quatro a cinco meses de seca, ou seja, Aw, segundo
Köppen (Miranda & Amorim 2000).
No período da estação chuvosa, a região recebe forte influência da
massa de ar equatorial continental (mEc), proveniente da região amazônica,
caracterizada pela grande quantidade de água que carrega (Piaia, 1999).
No período da estação seca, a massa de ar que atua com mais
freqüência é a tropical continental (mTc), proveniente da região do chaco
argentino e boliviano, que forma uma área de baixa pressão (ciclonal),
dando origem aos ventos quentes e secos que ficam estacionados sobre a
região (Piaia, 1999). Também neste período, ocorre a penetração da massa
polar atlântica (mPa), causando queda na temperatura, conhecida como
frentes frias e/ou como o fenômeno da friagem.
A região da morraria está incluída na microrregião do pantanal mato-
grossense, em área de transição. A região possui vegetação de cerrado,
com todas as características típicas do cerrado brasileiro, apresentando:
estratificação diferenciada, com campos, cerrados limpos, cerradão,
caracterizada também pela presença de arbustos e árvores retorcidas, de
pequeno porte, casca grossa, permeadas com gramíneas, folhas que no
período da estação seca estão em queda, adaptadas a altas temperaturas,
provenientes de fatores climáticos e antrópicos – as queimadas. De acordo
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com as observações de Miranda et al (1996) e Rodrigues (1996) o fogo pode
influenciar o processo reprodutivo da vegetação do cerrado.
A maior evidência desse processo verifica-se nas decisões dos
agricultores tradicionais em colocarem o fogo, durante o período da estação
seca, para estimular a rebrota e assim fornecer o capim para o gado.
O cerrado é um bioma rico em biodiversidade, apresentando,
importantes potencialidades. Segundo Felfili et al, (2004):
“Essa diversidade manifesta-se também
na grande quantidade de espécies
potencialmente econômica que inclui as
alimentícias, medicinais, ornamentais,
forrageiras, apícolas, produtoras de
madeiras, cortiças, fibras, óleos, tanino e
material para artesanato”.
A imensa riqueza do cerrado constitui também fonte alternativa de
renda contribuindo para a complementação da subsistência das
comunidades tradicionais (Felfili et al, 2004).
É possível observar, também, que na área de estudo, junto as
nascentes e aos canais de água, há um tipo de vegetação diferenciada,
denominada de mata ciliar, que por receber maior oferta de água, possui
maior exuberância em relação às demais vegetações de cerrado. Esse tipo
de vegetação é muito importante para a preservação e manutenção dos
recursos hídricos do cerrado.
A região apresenta várias nascentes formadoras dos afluentes da
Bacia do Paraguai, o qual tem grande importância, na estrutura hidrográfica
brasileira, além disso, contribui para a formação de uma das áreas mais
ricas em biodiversidade: a bacia pantanal.
A região é banhada pela micro bacia do ribeirão Água Branca, um
pequeno riacho que nasce dentro da sesmaria de Santana, em sua porção
leste e corre em direção ao norte. O ribeirão Água Branca é perene e possui
água cristalina, no entanto, apresenta sabor salgado acentuado, sendo
classificado pelos agricultores, de água salobra, a qual é dispensado pelos
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agricultores no consumo diário. Aliás, segundo informações dos agricultores,
todas as nascentes que estão em sua margem direita são possuidoras
dessas características. A água destinada ao consumo doméstico vem de
uma pequena nascente que está dentro da propriedade do senhor Catulino
Lopes Viana, morador da margem esquerda do Ribeirão Água Branca. Toda
a região é regida pelo regime pluvial.
No período da estação seca, os pequenos riachos tornam-se
intermitentes, permanecendo apenas com água nas proximidades da
nascente. Em uma outra situação, as nascentes menores secam totalmente.
As duas comunidades: Sagrado Coração de Jesus/Santana e Água
Branca possuem sistemas canalizados de abastecimento de água, a qual é
retirada de nascentes próximas, após isso é feita a distribuição para as
residências, através de canos plásticos, que ocorre por gravidade.
As nascentes d’água que abastecem as residências não estão
protegidas, nem por cercas, que possa impedir o acesso de animais
domésticos e silvestres, nem por outros tipos de proteção que impeça a
entrada e o acúmulo de detritos externo que possam vir através das
enxurradas das chuvas.
Em ambas comunidades, a utilização da água vem de nascentes que
possui boa potabilidade. Altiere (2002), observa que a condição que esse
componente apresenta é de fundamental importância, para a manutenção de
todo o sistema de produção.
Aspectos humanos
Em 1908, um grupo de pessoas, formada por seis famílias, adquiriria,
por meio de contrato de compra e venda uma área de 1.592 hectares, que
era parte do desmembramento da sesmaria de Inhumas, e que passou a ser
denominada da sesmaria de Santana. Atualmente, a população que ocupa a
área da sesmaria de Santana é constituída basicamente de descendentes.
Em sondagem, verificou-se que essa população tem origens remotas,
desde o processo de ocupação de Mato Grosso. Os antepassados dos
atuais moradores, da área em estudo, são descendentes de pessoas que se
34
estabeleceram na região desde o descobrimento do ouro em Cuiabá, pelo
bandeirante Miguel Sutil, por volta do ano de 1722.
As descobertas de Miguel Sutil estimularam a migração para o estado
de Mato Grosso, provocando um adensamento populacional, contribuindo
para colocar a cidade de Cuiabá, como uma das mais populosas do país
(Piaia, 1999). Essa situação se expandiu para as regiões vizinhas, inclusive
Cáceres, que vai se tornar na época cidade de grande importância, tanto
pela sua localização estratégica como pela condição administrativa que
acabou ocupando devido às circunstâncias da época.
O arraial de Santana chegou a ter cerca de quarenta e cinco núcleos
familiares distintos, com residências independentes e um contingente
populacional de aproximadamente 450 pessoas. Porém, hoje, restam dos
remanescentes, vivendo na área da sesmaria de Santana, apenas quatorze
núcleos familiares distintos, com contingente populacional de sessenta e
cinco pessoas.
Em virtude das invasões e grilagem das terras da sesmaria de
Santana, existem formações de novos núcleos familiares, constituídas de
pessoas que vieram de outras partes do Brasil e que, portanto, não são
remanescentes do antigo arraial de Santana. Essas pessoas são
originariamente de Minas Gerais, Santa Catarina e do próprio estado de
Mato Grosso. As pessoas que estão chegando na região adquirem as terras
mediante a compra de direito de posse, de pessoas que já haviam entrado,
anteriormente, nesta área de terra, e reclamado-a como sendo de seu
direito.
3.2 Procedimentos Metodológicos Os procedimentos metodológicos tiveram como base, o levantamento
de dados mediante a utilização de entrevistas estruturadas e semi-
estruturadas e o mapeamento das áreas mediante a utilização do Sistema
de Posicionamento Geográfico. Além disso, foram utilizadas sobreposições
das espacializações com a utilização de SIG (Sistema de Informação
Geográfica).
35
As entrevistas estruturadas consistiram em perguntas que seguiram
um roteiro previamente estabelecido, sendo aplicado aos representantes de
cada residência, sem alteração das perguntas e sua seqüência (Marconi &
Lakatos, 1990). As entrevistas foram realizadas de acordo com o formulário
elaborado (Apêndice A), sendo aplicada nas comunidades de Santana e
Água Branca, também com informantes chaves dentro dessas comunidades.
As entrevistas semi-estruturadas, (Apêndice B) que buscam obter
uma visão geral do problema (Gil, 1987), foram realizadas com informantes
chaves dentro das comunidades de Santana e Água Branca. Esse
procedimento metodológico é uma forma de explorar mais amplamente uma
questão (Marconi & Lakatos,1990). Neste procedimento, foi detectada certa
dificuldade de compreensão de algumas perguntas, por parte dos
entrevistados. Neste caso, o pesquisador procurou esclarecer de maneira
mais simples tais perguntas, de acordo com o entendimento de cada
informante, tendo o cuidado de não alterar o teor do que estava sendo
indagado.
Para as entrevistas foram estabelecidos os seguintes critérios para a
escolha dos informantes chaves dentro das comunidades:
1. Os líderes da comunidade (segundo informações da
própria comunidade);
2. As pessoas mais idosas da comunidade, que
conseqüentemente possuem maior conhecimento dos
fatos ocorridos nessa comunidade;
3. Os chefes de famílias;
4. As pessoas que apresentassem o menor índice de
contradições quando ocorriam as entrevista, aspecto
que fortalece a confiabilidade;
5. Disponibilidade de tempo e aceitação para acompanhar
os trabalhos;
Cada fase dos trabalhos realizados dentro a sesmaria de Santana,
podem ser observados na Figura 2.
36
Esta pesquisa foi desenvolvida por etapas. Na primeira fase foi feita a
escolha e definição da área de estudo, em seguida passou-se a elaborar o
guia de assuntos a serem abordados com os entrevistados. O passo
seguinte foi a realização das visitas às unidades produtivas com o intuito de
marcar as entrevistas. Na medida em que as entrevistas foram marcadas,
concomitantemente, realizava-se também a coleta de dados para o
mapeamento dessas unidades produtivas, mediante a utilização do Sistema
de Posicionamento Geográfico.
FIGURA 2. Fluxograma retratando a sistematização dos procedimentos metodológicos.
Visitas para marcar as entrevistas
Mapeamento das unidades
produtivas Entrevista
Ordenamento dos dados coletados em campo
Análise e interpretação da ocupação espacial nas unidades produtivas
Descrição das unidades
produtivas
Sobreposição do mapeamento das
unidades produtivas
Guia Auxiliar/ Banco
de dados
Elaboração do Guia de Entrevista
Área de Pesquisa
Visitas complementares
37
Para a realização do mapeamento, que necessita da identificação dos
pontos extremos da sesmaria de Santana, utilizou-se de um informante da
comunidade com maior conhecimento da área, pois, a localização dos
agricultores, buscando descrevê-las, quanto aos aspectos históricos de
cultivo e ao seu deslocamento ao longo de sua história. As entrevistas foram
marcadas com antecedência, adequando-se à disponibilidade de cada
FIGURA 4. Demonstra a linha que delimita o norte da sesmaria de Santana, em área próximo a serra, porém já desmatada e cultivada com capim braquiarão (Brachiária brizantha cv. Maranduva).
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
4.
marcos que delimitam o
local, constitui aspecto
importante no processo
de identificar a
abrangência de toda a
área. (Figuras 3, 4, 5, 6
e 7).
Posteriormente,
com os dados dos
pontos extremos da
sesmaria de Santana, o
próximo passo foi a
elaboração do mapa da
área total da sesmaria.
Logo após a esse
processo de
mapeamento, também
com a utilização de um
guia da comunidade, foi
realizado levantamento,
com o auxilio do
Sistema de
Posicionamento
Geográfico, das
unidades de cultivo dos
FIGURA 3. Marcos de pedras encontrados na linha que delimita o norte da sesmaria de Santana, dispostos em forma de um triângulo.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
4.
38
produtor, pois, muitos deles estavam na lida de seus afazeres, em atividades
de seu cotidiano.
desenvolvendo, ocorreram necessidades de novas informações, quando se
buscou apoio no banco de dados do ProSA2. Quando o banco de dados não
atendia às reais necessidades, foram necessárias novas visitas à
comunidade, buscando complementar a deficiência de informações.
2 ProSa – Programa de Estudos de Sistemas Agrícola da FAMEV – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso.
A cada entrevista
realizada, realizava-se
análise parcial das
respostas, com o intuito
de verificar possíveis
discrepâncias ou
contradições.
Após as
entrevistas e coleta de
dados para o
mapeamento, a etapa
seguinte consistiu na
ordenação de todos os
dados.
Após a ordenação dos
dados, foram realizadas
as descrições as
análises do uso comum
dos espaços, bem
como a elaboração dos
respectivos mapas das
unidades produtivas.
Assim que os trabalhos
foram se
FIGURA 6. Marcos de pedras encontrados na linha que delimita o sul da sesmaria de Santana. Devido ao desmatamento só restam dois marcos.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
4.
FIGURA 5. Marcos de pedras encontrados na linha que delimita o sul da Sesmaria de Santana.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
4.
39
momento, todos os pontos, coletados em campo e identificados, foram
transferidos para o computador, interligando-os de acordo com as
informações de campo. Além disso, o Sistema de Posicionamento
Geográfico, utilizado em campo foi trabalhado com o Datum de WGS-84. A
fase de construção dos mapas foi desenvolvida com a utilização do
programa Autocad 2004.
Este processo de mapeamento foi registrado em dois momentos
distintos:
Para a
elaboração dos
mapas, tomou-se
como referência
básica, uma carta
topográfica do DSG –
Diretoria de Serviços
Geográficos –
Ministério do Exército,
denominada de Serra
das Palmeiras,
identificada com
índice de
nomenclatura SD-21-
Y-D-IV, com escala
de 1:100.000. Em
seguida, a carta e a
imagem do satélite
Landsat, fornecida
pelo INPE – Instituto
Nacional de
Pesquisas Espaciais
foram georeferencia-
das. A partir desse
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
4.
FIGURA 7. Marco de pedra encontrado na linha que delimita o sul da sesmaria de Santana. Devido ao plantio do capim e ao desmatamento, só resta um único marco, os outros já se perderam em meio às inúmeras ações do homem para trabalhar a terra, e nela se estabelecer.
40
1. Mapeamento referente a toda espacialização encontrado
na unidade produtiva, no ano de 2004, identificando as
áreas de pastagens, de cultivo e de reserva florestal
(cerrados, capoeiras, matas e matas ciliares).
2. Procurou-se mapear as áreas de produção do ano
seguinte, 2005, buscando delinear o comportamento
dessa espacialização, em comparação com o ano
anterior, bem como a progressão e espacialização da
produção agrícola.
É importante salientar que este trabalho, realizado na sesmaria de
Santana teve como base todos os agricultores considerados remanescentes,
ou seja, todos aqueles que estão ligados diretamente ao processo de
aquisição de terras, na área da sesmaria, através de parentesco (herança).
Esse trabalho foi realizado nas localidades de Água Branca e do Sagrado
Coração de Jesus (Santana), com dezesseis núcleos familiares de
agricultores tradicionais. Desse total, apenas os moradores da localidade do
Sagrado Coração de Jesus (Santana) tiveram mapeamento e detalhamento
de sua unidade produtiva, a fim de realizar a sobreposição do uso dos
espaços desses agricultores. Em razão da proposta de mapear apenas os
agricultores remanescentes, nesta localidade não foram realizados o
mapeamento em duas unidades produtivas, S-10 e S-11 em virtude desses
agricultores terem adquiridos suas propriedades, mediante contrato de
compra e venda de terceiros. Portanto, não são agricultores remanescentes
(Tabela 1).
As unidades produtivas da localidade de Água Branca não foram
mapeadas.
Nas discussões enfoca-se o modo do uso comum dos espaços dos
agricultores tradicionais, abordando principalmente a maneira de lidar com a
terra, destacando a dualidade entre aquilo que foi uma área de sesmaria,
com todas as suas características e prerrogativas, e a realidade vivida pelos
agricultores nos dias de hoje.
41
Pesquisa realiza nas safras –2003/2004 e 2004/2005.
TABELA 1. Propriedades pesquisadas na sesmaria de Santana.
SESMARIA DE SANTANA
LOCALIDADE CÓDIGO DA UP
PROPRIETÁRIO ATIVIDADE
S01 Catulino Lopes Viana E/M S02 Benedito Lopes Viana E/M S03 Máximo Lpes Viana E/M S04 Cecílio Lopes Viana1 E/M S05 Liduvino Lopes Viana1 E/M S06 Armindo Lopes Viana1 E/M S07 Antônio dos Santos Martins E/M S08 Paulo dos Santos Martins E/M S09 Gonçalo Martins Viana E/M S10 Antônio Viriato da Silva2 E
SAG
RA
DO
CO
RA
ÇÃ
O D
E JE
SUS
S11 Dielson Viriato da Silva2 E
S12 André Santana Lopes E S13 Liduvino Lopes Viana E S14 Cassiano Lopes Viana E S15 Luiz Corrêa E
ÁG
UA
BR
AN
CA
S16 Angelino da Silva E M – Mapeadas ·· E – Entrevista· 1 Esses agricultores foram considerados para efeito de estudo como grupo familiar. 2Propriedades não mapeadas, por serem consideradas de pessoas não remanescentes, pois adquiriram suas terras mediante compra de terceiros.
42
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracterização e descrição das unidades produtivas 4.1.1 Localidade de Santana – Comunidade Sagrado Coração de Jesus
A sesmaria de Santana possui duas localidades distintas: a localidade
de Santana formada pela comunidade do Sagrado Coração de
Jesus/Santana e a localidade de Água Branca formada pela Comunidade
Todos os Santos. A formação dessas duas comunidades distintas ocorreu
em virtude da grande pressão efetuada pela pessoa que se dizia dono de
todas as terras dessa área, conhecida na região por senhor Mário Japonês,
denominação dada pelos remanescentes da sesmaria de Santana.
Apesar das unidades produtivas estarem situadas em uma mesma
área territorial com características climáticas: de solo, relevo, vegetação
semelhantes e banhadas pela mesma rede hidrográfica (micro bacia do
ribeirão Água Branca), cada uma possui características peculiares que
possibilitam uma diferenciação ímpar, pois tais diferenças estão ligadas
diretamente ao manejo estabelecido pelo ocupante de cada propriedade,
com suas limitações naturais e constituições culturais.
4.1.1.1 Unidade produtiva – (UP-S01), do senhor Catulino Lopes Viana.
A unidade produtiva do senhor Catulino Lopes Viana, denominada de
Sítio Três Corações, não possui documentação, sendo parte de uma área da
sesmaria de Santana com área total de 145,2 hectares, localizada em uma
topografia em aclive abrangendo o sopé de uma montanha, a Serra
Morraria, possuindo vegetação de cerrado em sua grande maioria, com
43
áreas de campos e de várzea com pequenas nascentes d’água, além de
uma vegetação mais vigorosa, a mata ciliar, acompanhando o curso do
Córrego Água Branca, que drena a propriedade, cortando-a em sentido de
sul para norte (Apêndice G). A unidade produtiva está voltada a atender
estritamente as necessidades de sobrevivência de sua família, pois as áreas
de cultivos são pequenas. Em períodos de pico chega a aproximadamente
1,5 hectares. O cultivo consorciado é uma forma de tornar o uso da terra
mais eficiente, produzindo mais por área. Além disso, verifica-se que
vizinhos ocupam áreas com roças de banana e mandioca – como é o caso
do filho do senhor Armindo Lopes Viana, o Ailton Lopes Viana, seu sobrinho,
que utiliza esse espaço como forma de complementação da produção de
alimentos para sua família.
O uso, a distribuição das atividades e o manejo agrícola englobam
áreas com a produção de roças de arroz, milho, mandioca, banana, feijão;
áreas de pastagens e capoeiras; áreas de campo, utilizadas principalmente
no período das secas quando as áreas de pastagens cultivadas estão ruins
devido à escassez de água (falta de chuvas).
As pastagens nativas constituídas de campos cerrados estão
localizadas nas áreas de maior proximidade da serra, abrangendo várias
nascentes com solos não muito apropriados para se tocar uma roça, pois
segundo informa o senhor Catulino Lopes Viana, nessa área, a produção
somente é possível com a utilização de máquinas e de adubação, devido à
terra ser muito fraca.
As pastagens nativas são constituídas basicamente por um tipo de
capim, popularmente conhecido pelo nome de Fura Bucho, (Paspalum
carinatum). Na região encontram-se outros tipos de capim nativo, como por
exemplo, o capim Barba de Bode (Paspalum lineares), porém com menor
freqüência. Mesmo assim, ambos são aproveitados pelo gado somente
quando ocorrem a rebrota, após a queimada. Pois, esses tipos de capim
nativos quando amadurecem tornam-se amargo, característica que afeta o
paladar dos bovinos (EMBRAPA, 1987 e 1997).
44
Segundo informações colhidas junto aos agricultores, esse tipo de
capim possui pouca capacidade de suporte de gado. Além disso, o capim no
período da estiagem (seca), se torna muito duro e o gado deixa de comê-lo,
fato que os obriga a colocar o fogo para forçar a rebrota do capim e assim
servir de alimento para o gado, no período da estação seca. Outro aspecto
verificado nas áreas de pastagens de capim nativo, principalmente nas áreas
Foto
: R.S
. Bas
tos,
200
5.
FIGURA 8. Pastagens nativas – capim Fura Bucho, (Paspalum carinatum) - área com pisoteio do gado.
estudadas, é que
muitos desses locais
são próximos de
nascentes (Figura 9), e,
com o cercamento das
propriedades, está
ocorrendo maior
pisoteio do gado
(Figura 8) o que coloca
em risco a conservação
desse bioma (Felfili et
al, 2004).
FIGURA 9. Pastagens nativas – capim Fura Bucho, (Paspalum carinatum) - área sem pisoteio do gado.
Foto
: R.S
. Bas
tos,
2005
.
Para os
agricultores
tradicionais, as
pastagens nativas
têm assegurado a
possibilidade de
manutenção do gado
nos períodos de seca,
e, ao mesmo tempo
apresenta baixo
custo, neste tipo de
operacionalização.
45
O senhor Catulino Lopes Viana tem procurado não utilizar o fogo, nos
últimos anos, porém a necessidade de alimentar o gado pode obrigá-lo a
colocar fogo nas áreas de pastagens nativas. Essa é uma decisão, que o
agricultor vê como a última saída.
Apesar do desgaste, que o fogo provoca ao ambiente, para os
agricultores desta região constitui numa alternativa mais econômica, pois
nem sempre conseguem manter o gado em pastagens cultivada ou
complementar a alimentação do gado com forrageiras.
É importante salientar o fato que na área do senhor Catulino Lopes
Viana está sendo utilizada com roças de mandioca e de bananas
pertencentes a um de seus vizinhos, o senhor Ailton Lopes Viana, seu
sobrinho, filho do senhor Armindo Lopes Viana (Apêndice H), que utiliza a
referida roça como parte do sustento de si e de seus familiares, e nesse
caso não há nenhum tipo de ressarcimento ao proprietário da terra, o senhor
Catulino Lopes Viana, que dá a concessão do uso sem pedir nada em troca.
TABELA 2. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor Catulino
Lopes Viana e suas respectivas áreas, safras – 2003/2004 e
2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares)
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005 (Em hectares)
Arroz 1,6 -
Milho 0,30 1,02
Mandioca 0,84 0,84
Banana 0,20 0,20
Outros1 (abóbora, maxixe, quiabo,
batata doce e mamão) - -
Total da área em produção 2,94 2,04 1 Estes produtos são cultivados em consórcio, sem uma quantidade de área específica. Neste caso planta-se estritamente para o consumo. 2 Área cultivada fora de sua unidade produtiva.
46
Tanto o bananal como o mandiocal, segundo o proprietário da terra,
irá ficar naquele lugar enquanto a produção for satisfatória. Isso irá ocorre
até o momento em que a limpeza ou sua manutenção for compensatória.
Os produtos cultivados pelo senhor Catulino Lopes Viana nas safras
2003/2004 e 2004/2005, bem como as respectivas áreas de produção, estão
na Tabela 2. Nela podemos observar que as áreas de cultivo são
relativamente pequenas, levando-se em consideração que somente o senhor
Catulino Lopes Viana e sua esposa, a senhora Cecília Mendes Viana,
trabalham na propriedade. Todo o trabalho realizado está direcionado para o
autoconsumo.
Na safra 2004/2005, o agricultor cultivou 1,0 hectare de milho em
terras fora de sua unidade produtiva, que foram cedidas por um fazendeiro
que estava renovando suas pastagens e, como troca, ofereceu a área
preparada para o plantio e tendo em contra partida o plantio do capim.
A produção agrícola do senhor Catulino Lopes Viana, mesmo sendo
pequena tem conseguido manter sua subsistência:
“Todo ano aquilo que a gente planta, a
gente colhe menos. A terra parece que
está cansada. (...) Tem ano que não dá,
falta um pouquinho, ai a gente completa
com a venda de um animal; um porquinho
(...) um bezerro (...) empresta do vizinho
que tem (...) ou quando não tem jeito
mesmo a gente fica sem”.
A unidade produtiva do senhor Catulino Lopes Viana conta também
com a criação de gado leiteiro, sem raça definida, que contribui com uma
pequena renda mensal para a família. Essa criação é constituída de seis
vacas, todas paridas (três bezerras e três bezerros) e duas novilhas
solteiras, sendo que uma dessas novilhas encontra-se em outra propriedade.
No processo de reprodução foi utilizado um touro do vizinho como
reprodutor. O gado é utilizado para a produção de leite, que tem uma
produção média diária em torno de oito a dez litros de leites. Normalmente,
47
essa variação da quantidade de leite ocorre em função do horário em que
ocorre a apartação dos bezerros e da oferta de pasto durante o ano. No
período da estação seca acentuam-se os problemas na produção, pois, o
informante dispõe de pouca oferta de produtos como forrageiras, para que
possa complementar a alimentação. Segundo o agricultor, os produtos que
utiliza como forrageiras para o gado são: as palhas do arroz, após ser
batido; as palhas do milho e as folhas da cana. O reflexo desses aspectos é
a baixa produtividade do leite. Ao final de cada ano o informante diz que
possui renda extra na venda dos bezerros.
A criação de galinhas, que serve para abastecer a família com carne
e ovos, é realizada no sistema extensivo, soltas no quintal. São alimentadas
logo ao amanhecer e ao entardecer, com milho em grãos. Também existe
uma pequena criação de porcos, no sistema extensivo, soltos e alimentados
com milho e com outros subprodutos, como abóbora, mandioca, mamão e
restos de alimentos. Essas criações servem para a produção de carne e
banha. Normalmente, o excedente desses animais é comercializado.
4. 1.1.2 Unidade produtiva – (UP-S02) do senhor Benedito Lopes Viana
A unidade produtiva do senhor Benedito Lopes Viana está situada em
uma área pertencente ao Luciano Silva, casado com a irmã do senhor
Catulino Lopes Viana. O senhor Luciano Silva comprou a parte de terra que
pertencia à senhora Mariana Lopes Viana Lopes Viana, tia do senhor
Catulino Lopes Viana.
O senhor Benedito Lopes Viana, vivia na comunidade de Barreiro
Preto, localidade próxima à sesmaria de Santana, na mesma região da
morraria. Sua vinda para a comunidade de Santana, ocorreu em virtude de
convite de senhora Mariana Lopes Viana Lopes Viana. Esse pedido consistia
para que o senhor Benedito Lopes Viana viesse viver em suas terras. Esse
convite não ocorreu com vista à obtenção de algum lucro financeiro por parte
de dona Mariana Lopes Viana e sim com o intuito de ter os familiares
próximos a si. Posterior a esse convite a senhora Mariana Lopes Viana
48
Lopes Viana vendeu seu direito de posse ao senhor Luciano Silva, que é tido
como sobrinho, já que é casado com sua sobrinha.
A senhora Mariana Lopes Viana, para vender suas terras para o
senhor Luciano Silva, exigiu que não houvesse a retirada das pessoas que
ocupavam a área, que por sinal foram convidadas a utilizarem as terras de
acordo com suas necessidades. O senhor Benedito Lopes Viana e o senhor
Máximo Lopes Viana utilizam a área cultivando roças de toco em sistema
itinerante. A intenção é permanecer enquanto durarem as exigências da
senhora Mariana Lopes Viana.
Mesmo sabendo que o senhor Luciano Silva não reside na área, e
que no momento ele possui emprego em um frigorífico em Cáceres, o
senhor Benedito Lopes Viana está disposto a desocupar área, sem nenhum
conflito assim que houver o pedido por parte do proprietário.
Quando aceitou o convite e veio para Santana com a família, o
primeiro local em que ficou foi a residência do seu cunhado, que ficava
localizada próxima, onde hoje, é a igreja católica. Ali viveram poucos anos,
pois achava o cunhado muito sistemático, além disso, as crianças mexiam
muito nos pertences pessoais e o cunhado não gostava. Percebendo que
isso poderia vir a causar algum tipo de atrito, saiu a procura de um lugar
mais afastado para construir uma nova casa. O local, onde hoje é a sua
residência, foi escolhido em função de uma série de fatores favoráveis,
como: disponibilidade de madeiramento para a construção da casa; de água
e de palha de indaiá (Orbignya eichleri Drude), para cobertura da casa. Além
disso, o senhor Benedito Lopes Viana buscou no relevo aspectos que
pudessem dar mais segurança à família. A altitude é um fator importante,
pois nesta região, algumas áreas, no período da estação chuvosa acabam
inundando; um outro aspecto levado em consideração foi a densidade da
mata, condição importante na hora de se fazer uma boa roça.
Na unidade produtiva do senhor Benedito Lopes Viana, existem duas
casas (Figura 10): uma principal, destinada ao dormitório da família e a
receber as visitas e a outra funciona a cozinha e a despensa. Ainda, há
também um pequeno galpão cercado de pau-a-pique, normalmente
49
destinado a guardar algum produto de utilidade, como: arreios; máquina de
plantar arroz, milho e feijão, conhecida como matraca; bicicletas e sacarias
em geral.
As paredes da casa principal são feitas com pau-a-pique, presas com
Taboca ou Taquara (Guadua weberbaweri ) e barroteada com, uma mistura
de barro e areia, coletadas nas imediações da própria construção; a
cobertura é feira com palhas de Indaiá (Orbignya eichleri Drude) coletada na
mesma região. A cozinha é feita também seguindo os mesmos moldes da
casa principal, ou seja, retangular com duas águas, cobertura com palha de
Indaiá (Orbignya eichleri Drude), porém, as paredes são apenas feitas de
pau-a-pique, sem reboco.
O senhor Benedito Lopes Viana é casado com a senhora dona Maria
Santana Lisboa, conhecida como dona Cotinha e possuem dois filhos que
moram em sua companhia, ambos solteiros, os senhores Basílio e Gonçalo.
FIGURA 10. Residência do senhor Benedito Lopes
Foto
: R. S
. Bas
tos,
2004
.
A residência do
senhor Benedito
Lopes Viana (Figura
10) é feita com
esteios de madeira de
lei – as aroeiras
(Myracrodruon
urundeuva Fr. All), as
vigas e as travessas
também são de
madeira resistente,
como Carijó, também
conhecido como Aricá
(Physocalymma
scaberrimum Pohl).
Esta mesma madeira
também é utilizada
como caibro.
50
O Gonçalo Lopes Viana, filho mais novo, possui um emprego em uma
empresa de reflorestamento, a Floresteca, vindo a casa dos pais somente
nos finais de semana ou nos feriados, mas contribui para com as despesas
da casa. O senhor Benedito Lopes Viana, não possui escolaridade, assim
como à senhora sua esposa, dona Cotinha e seu filho mais velho, Basílio
Lopes Viana. O filho mais novo, Gonçalo Lopes Viana possui a oitava série
do primeiro grau. Este ano de 2004 teve que parar de estudar, pois não
estava compatibilizando o tempo de estudo e o trabalho, mesmo trabalhando
durante o dia na empresa e só retornando a noite, para a Vila Aparecida,
onde possui escola de segundo grau, seu esforço físico no trabalho é muito
grande, e quando chega a sua casa na vila, não consegue mais se sentar
em um banco de escola para enfrentar mais quatro horas de estudos.
O agricultor planta as roças nas capoeiras da propriedade em que
vive, em alguns casos introduz o capim para o gado, pois já possui cabeças
de gado, sendo um touro e quatro vacas, além disso, possui também três
éguas, destinadas a tração, pois são mansas de carroça, para o transporte
de carga e também para a lida no campo.
O senhor Benedito Lopes Viana utiliza terras em torno de sua
residência para cultivar milho, arroz e feijão, normalmente planta sozinho. O
seu filho mais velho, o Basílio, também cultiva roças, porém, em separado,
mas coloca a produção a disposição das despesas da família, comercializa
somente o excedente. O senhor Benedito Lopes Viana trabalha fora de sua
unidade produtiva para o senhor João Batista, como tirador de leite,
ganhando R$ 120,00 reais mensais. Nesta propriedade do senhor João
Batista, ele vai pelo menos duas vezes ao dia, sendo que de manhã, tira o
leite e coloca-o para o caminhão e na parte da tarde, retorna para apartar os
bezerros. Além disso, está sempre cuidando dos animais para que não
peguem nenhum tipo de doenças ou bicheiras. A unidade produtiva ainda
conta com criação de porcos e galinhas, ambos para as despesas da casa
no que diz respeito à alimentação.
O senhor Benedito Lopes Viana cultiva qualquer área de roça que
esteja disponível para o plantio, podendo ser aquelas que estão em volta de
51
sua casa ou um pouco mais distantes, porém sempre em pequenas áreas,
variando em torno de 0,55 hectare. No ano agrícola de 2003/2004, chegou a
ter cinco roças em locais diferentes, sempre com a finalidade de abastecer a
família.
O arroz, o milho, o feijão, a mandioca e a banana são os produtos
mais cultivados em sua unidade produtiva e são destinados ao consumo
familiar. A preferência é o plantio da banana de fritar, pois além do consumo
também pode ser comercializada com maior facilidade, pois é um produto de
bastante aceitação e de bom preço no mercado. A área de plantio da
banana (Tabela 3) só perdeu para o arroz na safra 2003/2004. No ano
seguinte, a área de banana mantém-se e a área de arroz sofre diminuição. O
agricultor manifestou a intenção em aumentar a área da produção de
banana, justamente pela condição atrativa de mercado. Segundo o senhor
Benedito Lopes Viana, isso só não ocorreu porque as condições das
estradas são ruins, deixando a região praticamente isolada e isso atrapalha
na hora da comercialização.
A criação de animais também está voltada a atender as necessidades
básicas de subsistência da família (Tabela 3), por isso há pequena
quantidade de animais. Todas as vezes que a família está passando por
eventuais necessidades, seja na saúde, no abastecimento de alimentos ou
de qualquer outra natureza, são os animais domésticos, que atendem essas
necessidades, mediante sua comercialização.
O começo do plantio do milho ocorre em novembro e dezembro, na
lua crescente, para ser colhido em fevereiro e março. O plantio do arroz
ocorre nos meses de dezembro e janeiro, também na lua crescente, se o
plantio do arroz ocorrer no mês de janeiro, a colheita será no período
favorável, pois estará no período das secas. No entanto, se a área escolhida
for uma área propensa a ser alagada ou sujeita a ter muita umidade, então o
plantio será mais cedo, ou seja, nos meses de novembro ou dezembro. O
plantio do feijão ocorre nas áreas que se plantou o arroz ou milho,
normalmente planta-se na lua crescente, na primeira quinzena de março. A
área destinada ao plantio do feijão tem que ser novamente limpa, isso ocorre
52
com a utilização da enxada. Além disso, após o plantio a área passa
novamente por mais uma limpeza, para se ter uma boa colheita chamada
demão3.
TABELA 3. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor Benedito
Lopes Viana e suas respectivas áreas, safras 2003/2004 e
2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS
ÁREA CULTIVADA
Safra 2003/2004
(Em hectares)
ÁREA CULTIVADA
Safra 2004/2005
(Em hectares)
ANIMAIS DE
CRIAÇÃO
QUANTIDADE
Arroz 1,60 0,70 Bovinos 5
Milho 0,30 0,30 Eqüinos 3
Mandioca 0,40 0,40 Suínos 8
Banana 1,10 1,10 Aves
(galinhas) 35
Feijão 0,40 0,30 Cães 4
Cana-de-açúcar - 0,15 Gatos 2
Outros1 (milha
pipoca, abóbora, cará,
maxixe, melancia,
quiabo, abacaxi,
batata doce e
inhame).
- -
Animal
silvestre
(papagaio)
1
Total da área em produção
3,80 2,95 Total da
criação de animais2
58
1 Estes produtos não possuem uma quantidade de área específica. Nestes casos planta-se estritamente para o consumo. 2 Dados referentes ao ano de 2005.
3 Demão – expressão usada entre os agricultores tradicionais que possui vários significados. (1) ajuda a um vizinho; (2) para se referir à limpeza efetuada em uma determinada área de terra; (3) medida, relativo ao período que levou para realizar a limpeza de uma determinada área. Exemplo: O indivíduo levou dois dias ajudando seu vizinho, logo, ele diz que: “tenho duas demãos com meu vizinho”.
53
Nos meses de junho e julho plantam-se bananas e mandioca. Além
disso, tem que sobrar tempo para a limpeza do quintal, em volta da casa,
isso ocorre principalmente nos meses que estão mais frios. Ainda como
produtos complementares, o senhor Benedito Lopes Viana planta cana,
milho pipoca, abóbora, cará, maxixe, melancia, quiabo, abacaxi, batata doce
e inhame (Tabela 3).
O Basílio Lopes Viana, na safra 2003/2004, plantou roça de arroz em
terras do senhor João Batista. Em troca da roça, teve que plantar capim
baquearia. Toda a produção foi trazida para a residência da família, e
destinada estritamente ao autoconsumo.
O quintal do senhor Benedito Lopes Viana é muito diversificado, com
plantas medicinais, ornamentais, e árvores frutíferas, como: jambo, manga,
laranja, mexerica poncã, lima, limão, coqueiro da baia, fruta de conde,
laranja de fazer doce, caju e café. Essa constatação pode ser confirmada
por Godoy (2004):
“Os índices encontrados neste trabalho
são considerados altos. A alta
diversidade de citações de plantas
obtidas nas comunidades revela por parte
das famílias amplo conhecimento de
plantas e de usos de espécies vegetais, e
ainda, revela que o quintal representa um
espaço estratégico da unidade produtiva,
atuando na manutenção da diversidade
de plantas, sendo de grande importância
para as famílias”.
Segundo o senhor Benedito Lopes Viana, todos esses produtos não
têm finalidade comercial. O destino em primeiro lugar é para o consumo da
família e depois para atender os vizinhos ou mesmo servindo-lhe de um
pequeno agrado.
54
4. 1.1.3 Unidade produtiva – (UP-S03), do senhor Máximo Lopes Viana A unidade produtiva do senhor Máximo Lopes Viana, denominado de
Sítio Serra Linda, não possui documentação e nem delimitação que
assegure sua permanência na terra, sua unidade produtiva está dentro da
área do senhor Luciano Silva, juntamente com a propriedade do senhor
Benedito Lopes Viana. O senhor Máximo Lopes Viana, também recebeu
convite da senhora Mariana Lopes Viana para vir morar em suas terras.
Hoje, está na mesma situação do senhor Benedito Lopes Viana. O novo
proprietário da área não estando no momento ocupando a referida área e
nem tão pouco necessitando desta para a sua sobrevivência, continua
cedendo sua exploração.
O senhor Máximo Lopes Viana planta arroz, milho, mandioca,
abóbora e banana, todos esses produtos são destinados a sua
sobrevivência (Tabela 4). Além disso, realiza serviços de empreita, em
roçados de pastagens e de capina em áreas de roças dos vizinhos.
Apesar de ser remanescente do antigo arraial de Santana, vive uma
situação bastante complicada. Quando da primeira visita a sua unidade
produtiva, em fevereiro de 2004, desenvolvia suas atividades corriqueiras
que atendiam suas necessidades de subsistência, plantando pequenas
áreas de roças próximo a sua casa e fazendo pequenas empreitas, já que
sua família é composta apenas de sua filha, a senhorita Francelina Lopes
Viana, que cuida dos afazeres da casa e estuda em uma escola primária na
comunidade de Santana. Quando se realizou a segunda visita para coleta
de dados, em outubro de 2004, tomou-se conhecimento que o senhor
Máximo Lopes Viana sofrerá um acidente, sendo mordido por uma cobra e
que como conseqüência desse acidente ficou cego. Essa complicação,
segundo informações levantadas na própria comunidade ocorreu devido à
procura por recursos hospitalares tardios. Em conversa com o próprio
senhor Máximo Lopes Viana, a primeira procura por recurso foi a benzedura
de uma moradora da localidade. A procura por recurso médico hospitalar só
ocorreu dias após o acidente.
55
TABELA 4. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor Máximo
Lopes Viana, com suas respectivas áreas, safras 2003/2004 e
2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares).
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares).
Arroz 0,2 - Milho 0,3 - Mandioca 0,2 - Banana - - Outros1 (abóbora, moranga,
quiabo, maxixe, melancia, abacaxi.) - -
Total da área em produção
0,7 -
1 Produtos sem área específica, cultivados em consórcio com outras culturas, destinadas estritamente para o autoconsumo e para alimentar animais domésticos.
Em dezembro de 2004, quando realizava a terceira visita a campo,
certificou que a situação do senhor Máximo Lopes Viana tornou-se bastante
preocupante, pois a falta da visão afetava sua capacidade de suprir as
necessidades básicas da família, mesmo porque para ele a adaptação a
essa situação ainda era uma novidade. Entretanto, ele já consegue admitir
que o alimento que vinha das suas roças e da força de seu trabalho em
empreitas não será possível na mesma forma que antes. A sobrevivência do
Senhor Máximo Lopes Viana naquela localidade só está acontecendo por
que seus vizinhos, que também são familiares estão ajudando-o com a
alimentação.
4.1.1.4 Unidade produtiva – (UP-S06), do grupo familiar do senhor Armindo Lopes Viana
A propriedade do senhor Armindo Lopes Viana está localizada na
extremidade norte da sesmaria de Santana, fazendo divisa com a sesmaria
da Inhuma. O Sítio recebe o nome de Santo Antônio. Atualmente vivem
consigo, sua esposa, a senhora Ana Lopes Viana, e quatro filhos. Desses,
56
dois solteiros e dois casados. Os solteiros são: Ailton Lopes Viana e
Benedito Lopes Viana. Os casados são: o senhor Cecílio Lopes Viana e o
senhor Liduvino Lopes Viana, os quais constituem núcleos familiares
independentes e que serão abordados como unidades familiares distintas,
mesmo estando dentro de uma mesma área territorial.
O senhor Armindo Lopes Viana é nascido e criado na sesmaria de
Santana, sua propriedade é fruto de herança de seus pais. Mesmo tendo
recebido a área nestas condições, o senhor Armindo Lopes Viana não
possui documentação que a legitime. A princípio morava na colônia da
sesmaria de Santana, e com a entrada de pessoas de fora da comunidade,
mudou-se da colônia vindo para o local onde se encontra hoje.
para a plantação. Possui também um curral feito de lasca de madeira
encaixada uma sobre as outras e com dois mourões servindo de apoio para
cada lance de cerca (Figura 11).
O curral possui duas divisões e um brete com embarcador de gado,
feito de tábuas, retiradas na propriedade, com o auxilio de uma moto serra.
A residência é constituída por duas casas: sendo uma menor,
destinada à cozinha e a outra o dormitório e sala da visitas (Figura 12). A
casa menor, que é a cozinha, é feita de pau a pique, sem reboco, tendo
cobertura de palha de Indaiá (Orbgnya eichleri Drude), suas paredes são
A propriedade
possui benfeitorias,
como cercas de arame
farpado, cercas de
madeira, principalmente
as que cercam a roça;
que está próxima da
casa, que constitui uma
maneira de
reaproveitamento da
madeira derrubada
FIGURA 11. Curral do senhor Armindo Lopes Viana. Fo
to: R
. S. B
asto
s, 20
04.
57
feitas de madeira retiradas dentro de sua propriedade. Já a casa maior, ou
casa principal, também é feita em madeira (pau a pique), porém encontra-se
rebocada com barro proveniente de suas proximidades, a cobertura é feita
com palha de Indaiá (Orbgnya eichleri Drude). Os móveis da casa são
No sítio sempre foram utilizados métodos tradicionais no manejo de
sua propriedade, entretanto, ultimamente, principalmente nos últimos cinco
anos vem introduzindo a utilização do trator para o desmatamento, pois,
após, o primeiro plantio, logo em seguida, planta-se o capim e assim ocorre
a substituição de uma área destinada a virar capoeira em pastagem. Em
alguns casos planta-se a semente de capim logo após o plantio do produto
agrícola, causando de certa forma uma concorrência entre os produtos.
Porém, segundo o senhor Armindo Lopes Viana, se o objetivo principal for a
formação de pastagem compensa tal prática, mesmo tendo baixa
produtividade. A propriedade está voltada a atender as necessidades básicas de
subsistência da família, com: criação de gado, que também produz o leite;
criação de porcos e galinhas. Também, cultivam-se roças de milho, arroz,
feijão, abacaxi, café, abóbora, amendoim e uma pequena horta (Tabela 5).
Foto
: R. S
. Bas
tos,
2004
.
FIGURA 12. Residência do senhor Armindo Lopes Viana.
simples,
constituídos de
mesas e bancos de
madeira,
confeccionados no
próprio sítio com a
utilização de uma
moto-serra e de
ferramentas
manuais, como o
formão, machado e
facas.
58
Na tabela 5 estão descritos o que foi cultivado pelo grupo familiar do
senhor Armindo Lopes Viana, nela estão incluídos as produções dos
senhores Cecílio Lopes Viana e Liduvino Lopes Viana.
TABELA 5. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo grupo familiar do
senhor Armindo Lopes Viana e suas respectivas áreas, safras
2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares)
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005 (Em hectares)
Arroz2 1,10 2,07
Milho3 1,15 1,59
Mandioca 1,58 0,96
Banana 4,88 3,31
Batata doce 0,04 -
Cana de açúcar 0,01 0,01
Outros1 (abóbora, quiabo,
maxixe, moranga, amendoim,
café, mamão) - -
Total da área em produção
8,76 7,94
1 Estes produtos são cultivados em consórcio, sem uma quantidade de área específica. Neste caso planta-se estritamente para o consumo. 2 O arroz está consorciado com a banana. 3 O milho está consorciado com a banana.
O modo de produção nesta unidade produtiva ocorre de forma
comum, onde o patriarca congrega a sua volta os seus descendentes,
mesmo aqueles que já constituíram núcleos familiares independentes.
Porém, nas atividades de manejo, estabelecem relação comunitária de
trabalho. Aqui se verificou que as roças recebem a denominação de quem
está à frente dos trabalhos e que escolheu o local para o plantio. É possível
observar que entre esses agricultores, se diz que a roça do Ailton ou a roça
do senhor Armindo está precisando de nova demão. No entanto, isso não
significa que tal indivíduo seja o dono, de forma estrita ou ainda que ele não
59
deva atender primeiramente às necessidades do grupo familiar. Na safra
2004/2005, tanto o senhor Armindo Lopes Viana como o senhor Cecílio
Lopes Viana, seu filho, plantaram áreas de arroz, em ambos os casos
qualquer umas das áreas seria capaz de atender as necessidades do grupo
familiar. Nesta situação, retira de forma proporcional o suficiente para o uso
doméstico e após atender as necessidades de cada núcleo familiar permiti-
se a comercialização do excedente. Os dividendos dessa comercialização
ficam para aquele na qual a roça recebeu seu nome.
Na safra 2003/2004, o grupo familiar do senhor Armindo Lopes Viana
utilizou a consorciação de culturas para aumentar a área produzida,
principalmente de banana. Isso porque é o produto que tem maior aceitação
na hora da comercialização.
Para a safra 2004/2005, o grupo familiar do senhor Armindo Lopes
Viana preparou áreas para o plantio em novos locais, que constitui área de
expansão. Este trabalho foi realizado no braço, ou seja, primeiramente
escolheu-se a área, uma capoeira com mais de oito anos de descanso, onde
foi roçada a foice, derrubada a machado, e depois de um período em
repouso para a secagem da vegetação, colocou-se o fogo, para fazer a
limpeza da área. O plantio foi realizado assim que as chuvas começaram,
com arroz e milho e posteriormente, o feijão (Apêndice J).
4.1.1.4-A Unidade produtiva – (UP-S04), do senhor Cecílio Lopes Viana A unidade produtiva do senhor Cecílio Lopes Viana está localizada
dentro da propriedade de seu pai, o senhor Armindo Lopes Viana, distante a
poucos metros. Inclusive recebe a mesma denominação, para efeitos de
pagamentos de tributos, junto aos órgãos governamentais, como é o caso de
informações prestadas, junto ao INDEA – Instituto de Defesa Agropecuária
do Estado de Mato Grosso, quando das informações de vacinações de febre
aftosa, do rebanho bovino.
Esta unidade produtiva está incluída dentro do espaço territorial
pertencente ao senhor Armindo Lopes Viana, este tem utilizado de forma
comum os espaços e os recursos naturais, como a madeira, para a
60
construção de curral, chiqueiro de porcos, cercas de divisões de pastos,
lenha para geração de energia no dia-a-dia, e para a construção de casa e
depósitos, como tulhas e paióis. As pastagens são utilizadas de forma
comum, entre os membros da família, pois todos possuem gado e as
pastagens são para atender a todos.
No entanto, para a safra 2004/2005, fez-se uma roça de arroz e milho
(Figuras 13 e 14) em áreas dentro da propriedade de seu pai. Esta roça foi
feita em área de mata ciliar, constituindo em uma área de expansão agrícola
(Apêndice N).
O senhor Cecílio
Lopes Viana também
utiliza áreas próximas,
em propriedades de
vizinho, para o cultivo
de roças destinadas à
manutenção de sua
família. Normalmente,
todo o sustento de sua
família é oriundo da
produção das roças que
ficam tanto em área
dentro como fora da
propriedade de seu pai,
o senhor Armindo
Lopes Viana. Além
disso, o sustento de
sua família é
complementado com a
força de seu trabalho,
quando está realizando
empreitas para outros
FIGURA 13. Local, onde se bate o arroz – safra 2004/2005.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
5
FIGURA 14. Roça de arroz do senhor Cecílio Lopes Viana, safra 2004/2005.
Foto
: R. S
. Bas
tos -
200
5
61
proprietários da região, da produção do leite, no dia-a-dia e com a venda dos
bezerros, ao final do desmame. Às vezes, comercializa os animais que são
para descarte (animais velhos e defeituosos) e o excedente da produção,
arroz, milho, feijão, banana, e mandioca. Em situações esporádicas também
comercializa o excedente proveniente dos suínos e de suas aves (galinhas).
O núcleo familiar é constituído: pelo senhor Cecílio Lopes Viana,
viúvo e pelos seus quatros filhos; Luzia Auxiliadora Pereira Viana, Benedito
Pereira Viana, Joaquim Pereira Viana e Divino Pereira Viana. Apenas dois
de seus filhos estudam no momento.
4.1.1.4-B Unidade produtiva – (UP-S05), do senhor Liduvino Lopes Viana
A unidade produtiva do senhor Liduvino Lopes Viana não é
constituída de documentação que a legitime. A área que ocupa está dentro
de uma outra pertencente a seu pai, o senhor Armindo Lopes Viana. Nesta
área está vivendo, com o consentimento de seu pai, podendo produzir para
a subsistência de sua família.
Este agricultor, ao longo de sua história nunca saiu da região da
sesmaria de Santana e nem residiu fora dos seus limites. Desde o seu
nascimento sempre esteve ao lado de seu pai ajudando-o na lida do dia-a-
dia.
A residência está na propriedade do senhor Armindo Lopes Viana,
Sítio Santo Antônio, a poucos metros da casa de seu pai. Ali, redide com
toda a sua família: a esposa, a senhora Florentina Lopes Viana e quatro
filhas. Natalina Lopes Viana, Rosenil Lopes Viana, Rosilene Lopes Viana e
Elenice Lopes Viana. Apesar de residir em uma área territorial que pertence
a seu pai e explorando a terra de forma comum, mantém como área de uso
restrito, o quintal. Há também a utilização, para a subsistência familiar, dos
produtos derivados das criações, como por exemplo, o leite e a venda dos
bezerros quando ocorre a desmama. Este agricultor mantém, de forma
individual, a criação de porcos e de aves (galinhas), estritamente para a
subsistência familiar. Além disso, para complementar a subsistência de sua
62
família, na unidade produtiva, realiza trabalhos fora de sua área domiciliar
como empreiteiro e em roças de vizinhos, cultivando ou mesmo na limpeza
dessas áreas.
4.1.1.5 Unidade produtiva – (UP-S07), do senhor Antônio de Souza Ribeiro
A unidade produtiva do senhor Antônio de Souza Ribeiro, mais
conhecido pelo seu apelido de Totó, é denominando de Sítio São Jorge,
sem documentação, possui área de 250m x 500m, perfazendo um total de
12,5 hectares. Este local foi escolhido e demarcado pela pessoa que grilou a
sesmaria de Santana, o senhor Mário japonês. Isso aconteceu numa época
em que o senhor Antônio de Souza Ribeiro trabalhava para o senhor Mário
em 1984 e que num desentendimento cobrou uma antiga promessa, que
consistia neste pedaço de terra, por conta de um acordo de trabalho.
O núcleo familiar é constituído de sua esposa Zilda Mendes dos
Santos e de suas três filhas: Simone dos Santos Ribeiro, Silmara dos Santos
Ribeiro e Sirlene dos Santos Ribeiro. Todas estão estudando, inclusive sua
esposa.
O senhor Antônio de Souza Ribeiro nasceu na comunidade de
Santana, vivendo aí até os 15 anos de idade, quando sua mãe veio a
falecer, mudando em seguida para a cidade de Cáceres, onde viveu por oito
anos, e depois indo para Mirassol D’oeste, morando mais oito anos e
posterior a isso volta para a fazenda do Mário japonês, em Santana em
1984, passando a trabalhar por mais seis anos.
A propriedade está situada em um local que abrange partes de terra
de cerrado, com campo e várzeas e outra parte de terra de mata,
constituindo as mais férteis, porém é muito pequena. Praticamente toda a
unidade produtiva foi desmatada e cultivada com capim, do tipo grama
Humidícola (Brachiaria humidícola), destinado à criação de gado. Existe
ainda uma pequena parte da propriedade, 1,45 hectare que se tornou uma
capoeira e mais 1,7 hectare de mato. Segundo o informante serão
introduzidas máquinas tão logo a condição financeira o permita, para se
63
fazer o plantio de arroz, milho e feijão e, posteriormente, a introdução de
capim.
Na propriedade existem duas casas, uma delas não está sendo
ocupada atualmente, pois até o ano de 2003 moravam pessoas da família e
que mudaram para a cidade de Cáceres, em busca de melhores condições
de vida. A sua casa é construída de pau-a-pique, coberta com telhas de
barro, sendo que a cozinha fica em separado da casa principal, ou seja, dos
quartos e da sala de visita. Além disso, no ano de 2004, construiu uma
pequena varanda, ou como o agricultor a chama: de uma área coberta.
Ainda em sua propriedade encontra-se um curral de arame liso, galinheiro e
um chiqueiro de porco feito com tela. A área de pastagens apresenta duas
divisões.
O agricultor planta poucos produtos em sua propriedade, apenas um
pequeno canavial em consórcio com arroz e uma horta. A produção que
proporciona o sustento para si e a família é proveniente das áreas de
cultivos que ficam fora de sua unidade produtiva.
Para o sustento familiar, planta áreas de roça em propriedades de
vizinhos, como, por exemplo, a do senhor Ademar, que doa a área para o
plantio sem exigir nada em contrapartida. Essa área, que começou a ser
trabalhada na safra 2003/2004, será utilizada pelo menos mais um ano.
Serão cultivados: milho, arroz, mandioca, amendoim, abóbora, moranga e
milho pipoca (Apêndice O). Além disso, para complementar o sustendo de
sua família, trabalha em uma fazenda vizinha, por empreitada, roçando
pastagens e plantando capim, chegando a ganhar R$ 300.00, por mês.
Porém, esse trabalho de empreita só ocorre em alguns meses do ano,
principalmente no período das chuvas. Os produtos cultivados pelo senhor
Antônio de Souza Ribeiro, bem como suas respectivas áreas, estão
representados na Tabela 6. Estas culturas são referentes às safras
realizadas nos anos 2003/2004 e 2004/2005, nela podemos observar que
cada produto possui áreas de cultivo muito pequenas, que segundo o
agricultor são destinadas estritamente para o cunsumo familiar.
64
TABELA 6. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor Antônio
de Souza Ribeiro, safras 2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁRAE CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares)
ÁRAE CULTIVADA safra 2004/2005 (Em hectares)
Arroz 0,50 -
Milho 1,01 -
Mandioca 0,15 0,20
Banana 0,39 0,39
Cana-de-açúcar2 0,19 0,19
Outros1 (Milho pipoca,
abóbora, mamão, maxixe,
moranga, cará.) - -
Total da área em produção
2,24 0,78
1 Estes produtos são cultivados em consórcio, sem uma quantidade de área específica. Nestes casos planta-se estritamente para o consumo. O milho pipoca aparece circundando toda a roça do agricultor nos limites de uma cultura e outra. 2 A cana está em consórcio com arroz em uma pequena área.
Outro aspecto que pode ser observado é a diminuição significativa da
área de cultivo na safra 2004/2005 (Tabela 6). As roças de arroz e milho,
produtos essenciais na mesa do agricultor, deixaram de ser cultivadas.
Segundo o informante, a falta de estimulo é o principal motivo por esta
situação. Entretanto, as necessidades de subsistência da família serão
supridas com os trabalhos de empreitas, nas fazendas vizinhas.
As áreas de atividade agrícola que o agricultor utiliza reforçam a
característica de produção de autoconsumo, inclusive as que estão fora de
sua unidade produtiva (Apêndice O), e que constituem prolongamentos de
sua área territorial, as quais são essenciais à manutenção da subsistência,
sendo abordado por Azevedo (2001), como espaço funcional.
65
4.1.1.6 Unidade produtiva – (UP-S08), do senhor Paulo dos Anjos Martins
O senhor Paulo dos Anjos Martins morava no retiro da sesmaria de
Santana, onde nasceu em 1949 e permaneceu na localidade do retiro até
1978. Depois se casou com a senhora dona Margarida Viana Martins, e
tiveram 11 filhos: Maria José Martins de Oliveira, hoje casada; Sandrinei
Viana Martins; Adriana Viana Martins; Carlos Viana Martins Joani Viana
Martins; Alessandro Viana Martins; Vera Luzia Viana Martins, esta também
já se casou; Gilson Viana Martins; Marilene Viana Martins; Valdirene Viana
Martins; Juliano Viana Martins. Hoje, reside no Sítio São José, uma pequena
propriedade de 6,6 hectares, adquirida através de contrato de compra e
venda, efetuada com a senhora Mariana Lopes Viana Lopes Viana, tia do
senhor Catulino Lopes Viana. No entanto, não possui documento de
escritura que lhe dê a legitimidade da terra. O agricultor possui apenas o
direito de posse. A situação só não é mais grave porque o tempo de
permanência no local é bastante extenso.
Neste local já mora há dezessete anos. No início, a propriedade foi
aberta no braço, ou seja, na foice e no machado, desmatando e queimando
para plantar as roças. Porém como a propriedade é muito pequena, resolveu
abrir com máquina, para plantar o capim, logo após a lavoura. Hoje, sua
propriedade está formada com pastagens, onde cria gado, destinado ao
abate e a produção do leite para o consumo familiar. Essa criação é de 51
animais entre bovinos e eqüinos4. Um fato importante está na distribuição
desses animais, pois, cada membro da família possui entre dois e quatro
animais. O senhor Paulo dos Anjos Martins é o que possui menor
quantidade de animais.
O vizinho, Luciano Silva, possui também área de terra, adquirida
através da compra da dona Mariana Lopes Viana. Como no momento, não
está necessitando de usufruir dessas terras, ele desmatou uma pequena
área de terra, com a utilização de máquina de esteira, arou-a com trator e
plantou milho e capim, a partir do momento que retirou o milho, a área de
4 Dados referentes ao ano de 2003.
66
terra ficou toda formada com capim braquiarão (Brachiária brizantha cv.
maranduva).
A propriedade do senhor Luciano Silva faz divisão com as terras do
senhor Paulo dos Anjos Martins, que além de cuidar do gado de ambos,
realiza as tarefas de manutenção das cercas e de roçado da pastagem.
Neste local, o Paulo dos Anjos Martins também utiliza a mesma área como
extensão de suas pastagens, para a criação de todo o gado da família.
Em vista da unidade produtiva do agricultor ser muito pequena, de
apenas 6,6 hectares; da necessidade de se fazer correção de solo, pois,
este não consegue atingir alta produtividade; e da necessidade de priorizar
alimentação para o gado, através do plantio de pastagens, acabou forçando-
o a optar por não cultivar nenhum tipo de produto agrícola em sua unidade
produtiva. Sempre buscou suprir as necessidades alimentares da família
fazendo roças em áreas de terras que consegue com vizinhos, amigos e
conhecidos. O vizinho que mais tem atendido suas necessidades neste caso
é o senhor Ademar, que não tem utilizado suas terras e acaba concedendo a
exploração (Apêndice P).
TABELA 7. Produtos cultivados para o autoconsumo, pelo senhor Paulo dos
Anjos Martins com suas respectivas áreas, safras 2003/2004 e
2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares)
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares) Arroz 0,98 0,49
Milho - 1,32
Mandioca 0,36 0,85
Outros1 (abóbora,
amendoim, milho pipoca,
quiabo, maxixe, melancia). - -
Total da área em produção
1,34 2,66
1 Estes produtos são cultivados em consórcio, sem uma quantidade de área específica. Nestes casos planta-se estritamente para o consumo.
67
Na Tabela 7 encontram-se os produtos cultivados pelo senhor Paulo
dos Anjos Martins e suas respectivas áreas, nas safras 2003/2004 e
2004/2005. Como referimos anteriormente, este agricultor não possui
nenhum tipo de produto agrícola cultivado em sua unidade produtiva. Todos
são em áreas fora de sua unidade produtiva (Apêndices P e Q).
Como troca do favor que recebe do senhor Ademar, seu vizinho, para
trabalhar a terra e dela retirar o sustento de sua família, o senhor Paulo dos
Anjos Martins cuida de toda a área sem cobrar por isso. O senhor Ademar é
um técnico agrícola funcionário da Empaer – Empresa Mato-grossense de
extensão rural. Segundo informações do agricultor, a aquisição desta área
de terra, pelo senhor Ademar, foi através de compra do senhor Mário
Japonês.
4.1.1.7 Unidade produtiva – (UP-S09), do senhor Gonçalo Martins Viana A unidade produtiva do senhor Gonçalo Martins Viana está localizada
na mesma área territorial do senhor Catulino Lopes Viana que é seu irmão.
A exploração dessa área está ocorrendo em duas frentes, ou seja, o senhor
Catulino Lopes Viana vem explorando a região oeste, considerada pelos
agricultores como sendo o fundo do lote, margeando a serra; já o senhor
Gonçalo Lopes Viana vem explorando a região leste, que para os
agricultores é considerada como a frente do lote, margeando a rodovia. O
ribeirão Água Branca que corta a sesmaria de Santana está servindo de
linha divisória entre as duas áreas, que constituem propriedades
independentes apenas em acordo verbal entre os agricultores, que exploram
essas terras.
O senhor Gonçalo Lopes Viana possui uma família numerosa,
constituída por treze pessoas: a senhora sua esposa, Maria de Lourdes
Lopes e seus onze filhos: Odair Lopes Viana de vinte anos e que sofre de
deficiência mental, Leandro Viana Martins de dezoito anos, Rosana Viana
Martins de dezessete anos, os gêmeos Maria de Lourdes Lopes Viana filha e
Odailson Lopes Viana de quinze anos, Elizângela Lopes Viana de treze
anos, Flaviano Lopes Viana de nove anos, Fabiano Lopes Viana de sete
68
anos, Vando Lopes Viana de cinco anos, Adilson Lopes Viana de três anos e
Lucas Lopes Viana de um ano.
A promoção da subsistência familiar ocorre de forma variada, pois o
agricultor cultiva produtos destinados estritamente ao autoconsumo, que
ocorrem tanto em sua unidade produtiva como em outras áreas. Além disso,
busca trabalhos de empreitas em fazendas da região. Essas empreitas são
de qualquer tipo, sendo roçados de pastagens ou de roças, derrubadas a
machado ou mesmo à moto-serra, na lida com animais (vacinação e
cuidados diários), construção e consertos de cercas e na aplicação de
venenos em pastagens. Este último tipo de empreita é a que apresenta
maior rentabilidade, pois na aplicação de inseticidas, pode-se obter diárias
de trinta e cinco reais5, dependendo da negociação como o proprietário da
fazenda. Este é um fator muito atraente, principalmente para uma região que
dispõe de poucas ofertas de emprego e para um chefe de uma família
numerosa. Porém, a maneira como ocorrem as aplicações, sem nenhum tipo
de proteção, os danos à saúde são inevitáveis.
Em sua unidade produtiva são encontrados produtos como: o arroz, o
milho, a mandioca, a banana, a abóbora e a moranga (Tabela 8). Verificou-
se que a área destinada ao plantio do arroz é maior do que as outras áreas
destinadas aos outros produtos. Isso ocorre em virtude deste produto ter
maior consumo doméstico. A área destinada ao plantio de mandioca está
constantemente sendo renovada, ou seja, assim que colhe, mesmo que uma
pequena quantidade, planta-se imediatamente a mesma área. Essa
estratégia proporciona ao agricultor uma renovação constante de seu
mandiocal e a oferta do produto em diferentes períodos do ano, contribuindo
de forma positiva para a subsistência familiar.
A Tabela 8 revela outros dados importantes, como: a manutenção do
tamanho das áreas cultivadas de mandioca e banana. A mandioca pelo fato
de renovar a plantação constantemente, a banana, por ser uma cultura que
apresenta maior ciclo de produção, quando não apresenta doenças. Além
disso, para a safra 2004/2005, o agricultor deixou de plantar o arroz, pois
5 Dados referentes a dezembro de 2005.
69
achou melhor buscar trabalhos de empreita em propriedades vizinhas e por
considerar que a produção do ano anterior alcançaria a safra do ano
subseqüente (safra 2005/2006). Não acontecendo o esperado pelo menos
ficará muito próximo. Essa possível falta do arroz poderá ser suprida, com a
aquisição do produto mediante a compra. Esta certeza vem do possível
ganho financeiro dos trabalhos de empreitas.
TABELA 8. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor Gonçalo
Lopes Viana e suas respectivas áreas, safras 2003/2004 e
2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares)
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005 (Em hectares)
Arroz 1,02 -
Milho 0,61 0,50
Mandioca 0,28 0,28
Banana 0,20 0,20
Outros1 (abóbora, quiabo,
maxixe, moranga). - -
Total da área em produção
2,11 0,98
1 Estes produtos são cultivados em consórcio, sem uma quantidade de área específica. Neste caso planta-se estritamente para o consumo.
Todo o processo de produção desse agricultor constitui-se na força
física/braçal, com que realiza todas as etapas da produção. Neste processo,
roça o mato ou a capoeira na foice, derruba a vegetação de maior porte com
o machado, depois de algumas semanas em descanso, para a vegetação
secar, coloca-se fogo. Depois disso, se a queimada não estiver a contento e
ainda ficar muita vegetação sem queimar, faz-se a descoivara, ou seja, retira
essa vegetação que ainda não queimou, amontoado-a em locais dentro do
próprio roçado e coloca-se fogo novamente, limpando assim por completo a
área. Logo em seguida realiza-se o plantio.
70
Em virtude da escassez de emprego na região, da baixa
produtividade e da grande despesa com alimentação familiar, o senhor
Gonçalo Lopes Viana busca quase sempre trabalho em propriedades
vizinhas ou mesmo em localidades distantes, passando meses sem
comparecer em casa. Com isso, as roças que estão próximas à residência,
como bananal e o mandiocal, ficam na responsabilidade dos filhos mais
velhos, para limpá-los e garantir nas despesas do dia-a-dia da casa.
4. 1.1.8 Unidade produtiva – (UP-S10), do grupo familiar do Antônio Viriato da Silva
A unidade produtiva do senhor Antônio Viariato da Silva foi adquirida
através de compra do senhor José Norberto da Costa, conhecido como
“Teco”, ou seja, de terceiros, pessoa que não faz parte da comunidade de
Santana. Portanto não são remanescentes do antigo Arraial de Santana. Por
ocasião da compra, o negócio foi realizado em contrato de compra e venda,
tendo como documentação principal apenas o Direito de Posse, portanto,
não há escritura da propriedade. O total da área é de 26,4 hectares, sedo
que 4,4 hectares do senhor Antônio Viriato da Silva e os outros 22 hectares
distribuídos entre os seus dois filhos, o Dielso Viriato da Silva, o Duda com
11 hectares e o Valter Viriato da Silva com os outros 11 hectares. Porém
essa divisão não está registra, documentada ou mesmo formalizada, ela é
informal, e ocorre somente entre os membros da família.
A família do senhor Antônio Viriato da Silva é constituída pela sua
esposa, a senhora Maria Vieira da Silva e por mais oito filhos, sendo que
apenas quatro moram consigo, e desses um é casado. Dos filhos solteiros
que morando com o pai são: o Valter Viriato da Silva, o Ivan Viriato da Silva
e o Vandir Viriato da Silva.
O agricultor só trabalha em sua unidade produtiva, porém seus filhos,
o Valter Viriato da Silva, o Ivan Viriato da Silva e o Vandir Viriato da Silva,
constantemente estão trabalhando fora para complementar a renda da
família, quando estão de folga ou sem emprego passam a ajudar o pai nos
71
afazeres diários da propriedade, com a limpeza (capina) das roças de
mandioca, banana, milho, arroz e feijão.
O histórico de vida, que este agricultor possui, é de intensas
mudanças, sempre saindo de um lugar em busca de outro que lhe
oferecesse melhores condições de vida. Ao longo de seus 69 anos de
idade, nasceu em Pernambuco, na cidade de Timbaúba de Mocói, vivendo
na cidade até 1954, depois veio para Rio de Janeiro, onde arrumou emprego
de empreiteiro na Prefeitura, ganhando uns 50,00 cruzeiros, na época.
Porém logo em seguida vai para o interior do Estado de São Paulo, em
Presidente Prudente, mais precisamente no distrito de Ameliópolis, onde se
casou com a senhora Maria Vieira da Silva. Em Presidente Prudente
arrendou uma terra de um japonês, trabalhou uns dois anos, e saiu
novamente, vindo para a Cidade de Jaciara em Mato Grosso, onde comprou
11 hectares de terra, passando a cultivar, milho arroz e algodão, com isso
conseguiu comprar mais terras, chegando a 39,6 hectares. Em 1975 vende
tudo, e novamente vai buscar outro local para morar, desta vez o destino é
Salto do Céu, também em Mato Grosso, onde comprou 88 hectares, porém
neste local ficou só quatro (04) anos. Em 1979 veio para Cuiabá, capital
mato-grossense, onde fez casa, tocou um bar e trabalhou de carpinteiro. Em
1981 vai para Guanandi, município de Cáceres, em Mato Grosso, para ser
administrador de uma fazenda. Logo em seguida, nesta mesma região
compra 22 hectares de terra, onde fica por quase nove anos. Depois vende
tudo novamente e vai para a Agrovila das Palmeiras, Município de Santo
Antônio de Leverger, em Mato Grosso, onde comprou duas (02) Chácaras,
passando a cultivar verduras. Novamente, vende tudo e se muda, em 2003,
para a região da morraria, em Santana, onde permanece até nos dias de
hoje em seu Sítio. Em todas as mudanças, do senhor Antônio Viriato da
Silva, os filhos tiveram em sua companhia, mesmo os que estão casados, as
exceções são as filhas que decidiram seguirem seus maridos.
A unidade produtiva ainda não possui nome definido, a propriedade
possui delimitação com cercas de arame liso, no limites norte, sul e leste. O
limite oeste, considerado pelo agricultor, como o fundo da propriedade, é
72
delimitado naturalmente pelo ribeirão Água Branca. Com relação às divisões
internas, são inexistentes.
Quando a propriedade foi adquirida, havia uma área
desmatada e plantada de capim, que fica bem nos fundos, próximo ao
ribeirão Água Branca. No mesmo ano mandou gradear com máquina e
passou a plantar nesta área. Hoje segue um calendário de plantio, assim
distribuído: na primeira quinzena de março realiza o plantio das favas e do
feijão; na primeira quinzena de maio planta-se o feijão de corda; no mês de
junho efetua a limpeza da roça; em julho começa a realizar as primeiras
colheitas das favas e do feijão; no mês de outubro fica destinado ao plantio
de banana e milho, se não estiver muito seco, caso contrário o milho passa a
ser plantado em novembro. Quando a roça tem que ser preparada no braço,
começa a roçar no mês de agosto, para que em outubro esteja tudo pronto,
para a queimada.
Na unidade produtiva, cultiva-se produto destinado primeiramente à
subsistência da família e posteriormente comercializa-se o excedente. No
quintal de casa cultiva-se uma pequena horta, com: alface, couve, cebolinha,
pimentão e plantas medicinais. Além disso, cultiva-se árvore frutífera, como
laranja, manga, mamão, caju, jambo, abacate e limão. Já nas roças cultiva-
se: arroz, milho mandioca, banana, feijão carioca, fava branca, feijão fava,
feijão de corda, melancia, abóbora, moranga, e cará.
Em relação à criação de animais, o grupo familiar cria galinhas,
porcos, vacas. É importante ressaltar que, por não possuir nenhuma divisão
interna em sua propriedade, os animais bovinos ficam em uma propriedade
do vizinho, em pasto alugado, em um total de quatro animais.
A residência da propriedade é constituída de uma casa feita de
tábua e coberta com telha eternit (fibrocimento). Ainda como benfeitoria, a
propriedade conta com um galpão de tábua, um pequeno paiol, galinheiro,
chiqueiro de porcos e uma garagem para o carro, uma caminhonete D-10.
73
4.1.1.8-A Unidade produtiva – (UP-S11), do senhor Dielso Viriato da Silva
A unidade produtiva do senhor Dielso Viriato da Silva está na mesma
área territorial de seu pai, o senhor Antônio Viriato da Silva, porém com área
maior que a de seu pai, ou seja, com 11 hectares. Todo o sistema de
produção é aplicado em um espaço de exploração e de uso comum entre
grupo familiar. A produção e sua distribuição ocorrem de acordo com as
necessidades das duas famílias.
A área foi adquirida mediante contrato de compra e venda, não possui
escritura, o único documento que lhe proporciona a sua ocupação é o
direito de posse. Esse foi feito em nome do senhor Dielso Viriato da Silva,
que inclusive inclui toda as demais áreas de seus familiares.
A família do senhor Dielso Viriato da Silva, o Duda, como é
conhecido, é constituída pela sua esposa, a senhora Lourença da Silva,
seus dois filhos, o Leandro Viriato da Silva e o Diego Viriato da Silva; moram
em uma casa construída com tábuas e cobertura de telhas de eternit. A
cozinha foi construída em separado, parte está fechada com tábuas e parte
está aberta, com cobertura também de eternit. Em sua unidade produtiva
possui outras construções como: chiqueiro de porcos, feito com madeira
roliça, apoiada uma sobre a outra e presas entre dois troncos fixados ao
solo; o galinheiro é feito de tela e taboca (Guadua weberbaweri ); o paiol é
feito de madeiras roliças e tabocas (Guadua weberbaweri ) com cobertura de
palha do capim sapé (Imperata brasiliensis).
O agricultor trabalha muito fora de sua unidade produtiva, durante os
meses de outubro/2004, por exemplo, estava trabalhando no município de
Tangará da Serra, na construção civil, como pedreiro. Também o seu filho
mais velho, o Leandro Viriato da Silva, trabalha em uma empresa de
reflorestamento, que fica próxima a região, porém só retorna para a casa
nos finais de semana.
Todos os aspectos que envolvem o sistema de produção, como por
exemplo, os tipos de produto a ser cultivado, o calendário e até mesmo a
74
área a ser plantada seguem as determinações de seu pai, o senhor Antônio
Viriato da Silva.
Toda a produção está voltada a atender as necessidades de
sobrevivência da família. A intenção é comercializar apenas aquilo que
exceder ao consumo familiar.
4.1.2. Caracterização das unidades produtivas da localidade de Água Branca A localidade de Água Branca constitui uma pequena comunidade de
moradores instalada ao sul na sesmaria de Santana. Todas as unidades
produtivas estudadas são constituídas por pessoas remanescentes do
arraial ou retiro de Santana. Essas pessoas, bem como as que formam a
comunidade de Sagrado Coração de Jesus/ Santana, foram expulsas de
suas residências e orientadas a residirem nestas localidades pelo próprio
indivíduo que estava expulsando-as.
Todas as pessoas que estão ocupando o espaço na localidade de
Água Branca estiveram, sob ordem de despejo. As pessoas foram colocadas
em um caminhão com todos os seus pertences. O ato de despejo só não se
concretizou em virtude de uma pessoa amiga dos familiares da região
embargar essa ação com mandado de segurança. Em virtude desse litígio
entrou-se em acordo, através do qual os moradores acabaram se
estabelecendo esta localidade.
A localidade de Água Branca é constituída por cinco núcleos
familiares, que estão distribuídos em cinco pequenos sítios: Sítio Três
Irmãos, Sítio São Sebastião da Água Branca, Sítio São Luiz, Sítio Água
Branca. Este último sítio, Água Branca, corresponde respectivamente ao
nome de dois núcleos familiares.
4.1.2.1 Unidade produtiva – (UP-S12), do senhor André Santana Lopes A unidade produtiva do senhor André Lopes Viana é de
aproximadamente 44 hectares, essa é uma metragem estimada, pois não
possui qualquer tipo de documentação que assegure a posse de terra e nem
75
essa delimitação espacial. O André Lopes Viana é aposentado, casado com
a senhora Maria Aparecida Marques Rodrigues e atualmente moram cinco
pessoas na residência: sua netinha, Ana Tália Marques Rodrigues, a filha
Aparecida Marques Rodrigues e o filho Marcos Aurélio Rodrigues de
dezesseis anos de idade, que atualmente não estuda, mas está trabalhando
na propriedade do pai, ajudando no sustento da família.
Na unidade produtiva cultiva-se banana, mandioca, abóbora, milho,
arroz, feijão, batata doce e cará. Nos últimos quatro anos, a sua produção de
arroz foi muito pequena, sendo necessário comprar quase todo o produto na
vila, assim o dinheiro de sua aposentadoria complementou a compra da
alimentação da família. Aliás, esse é um recurso que se tornou muito
importante para a manutenção da família. Por conta disso, a senhora dona
Maria Aparecida Marques Rodrigues está entrando com a documentação de
sua aposentadoria, junto ao INSS – Instituo de Seguridade Social, pois já
possui idade exigida por lei, para se aposentar.
O senhor André Lopes Viana segue o seguinte calendário agrícola:
nos meses de outubro e novembro, planta-se o milho, condicionado à
existência das chuvas. Em caso de atraso das chuvas, o plantio do milho
passa para a primeira quinzena de dezembro. No mês de dezembro planta
arroz, mandioca, banana e os produtos de pequeno porte consorciados,
como o cará, a abóbora, a moranga, o maxixe e o quiabo. Quando ocorre o
atraso ou diminuição das chuvas, o plantio fica para a primeira quinzena do
mês de janeiro, pois neste mês as chuvas são de maior regularidade. No
mês de março dobra-se o milho e em abril colhe. Ainda no mês de abril,
colhe-se o arroz. Logo após a colheita do milho e do arroz limpa-se a terra
para o plantio do feijão; em maio e junho colhe-se o feijão, neste mês bate o
arroz que está empilhado na roça; no mês julho, agosto e setembro preparo
da terra para plantar, onde começa com o roçado depois a derrubada, em
seguida a queimada, a destoca e a descoivara. Outro aspecto que influencia
o calendário agrícola, desse agricultor, são as fazes da lua, que condiciona
todo o plantio.
76
Na safra 2003/2004, o senhor André Lopes Viana cultivou uma área
de dois hectares, sendo que desse total, apenas a metade foi cultivada em
sua unidade produtiva, com milho, mandioca e banana.
TABELA 9. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor André
Lopes Viana, com suas respectivas áreas, referentes às safras
2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares).
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares). Arroz 1,0 0,3
Milho 0,3 0,3
Mandioca 0,3 0,3
Banana 0,4 0,4
Outros1 (abóbora, batata doce,
quiabo, maxixe e cará) - -
Total da área em produção 2,0 1,3 1 Produtos sem área específica, cultivados em consórcio com outras culturas, destinadas estritamente para o autoconsumo e para alimentação dos animais domésticos.
A Tabela 9 representa as áreas e os produtos cultivados na safra
2003/2004. Nela verifica-se maior destaque para dimensões da área
cultivada com arroz, porém isso ocorreu em virtude de ter sido cultivada em
terras de um vizinho, o senhor José, uma das pessoas que adquiriu suas
terras mediante a compra de terceiros. Esse plantio foi realizado tendo em
contrapartida o empenho da palavra e o trabalho do senhor André Lopes
Viana em plantar o capim para o proprietário da área, mesmo antes de
retirar o arroz que havia sido plantado.
A roça da safra 2004/2005 é pequena sendo 60 braças de
comprimento por 20 braças de largura (medidas fornecida pelo informante,
que não permitiu que fosse feito por outra pessoa que não ele), ou seja, 132
metros por 44 metros, que corresponde a uma área de 5.808 m2, pouco mais
de meio hectare. Nesta área serão cultivadas: metade de arroz e metade de
77
milho e após a colheita do milho, a área será limpa e em seguida, cultivada
com feijão. As roças de banana e mandioca vem sendo cultivadas desde
anos anteriores, que correspondem a 0,3 hectare de mandioca e 0,4 hectare
de banana. Ainda cultiva outros produtos de uso estritamente para a
subsistência, como por exemplo: a batata doce, a abóbora, maxixe, quiabo,
abacaxi e o cará.
Os moradores da região utilizam diversos tipos de medidas (Apêndice
F). Essas medidas fornecidas por eles constituem uma prática comum na
região, pois segundo o agricultor, como não têm pretensões com a
comercialização esses valores de metragem não necessitam de exatidão. A
averiguação só ocorre de forma mais criteriosa quando se emprega mão de
obra remunerada, em tarefas de empreitadas.
Em épocas de maior dificuldades, ocasionadas por qualquer
eventualidade ou mudanças climáticas, como uma seca prolongada, ou por
baixa produção, esse agricultor tem recorrido à comercialização dos animais
de criação, como os bovinos, os suínos e as aves, para garantir sua
sobrevivência no meio rural. Outro fator que contribui para a sobrevivência,
já dita anteriormente, é o uso da aposentadoria para complementar a renda.
Em anos anteriores, os cultivos desses produtos seguiam os mesmos
modelos dos que estão sendo cultivados, nos dias de hoje. As áreas de
produção apresentam pouca ou quase nenhuma variação quanto ao
tamanho. O que apresenta variabilidade é a quantidade dos produtos
colhidos, pois em alguns anos essa produtividade chega a comprometer a
sobrevivência desses agricultores.
Mesmo tendo um acréscimo em até 65%, na área cultivada, na safra
de 2003/2004 em relação à safra 2004/2005, isso não representou grande
significado econômico para a família, pois a produtividade foi muito baixa,
não conseguindo nem manter a subsistência durante o ano.
A área cultivada, principalmente a de arroz, na safra 2003/2004 foi
muito maior do que a que a cultivada na safra 2004/2005 (Tabela 9), isso
poderia significar aumento na produção e conseqüentemente maior
quantidade de recursos para suprir as necessidades da família, no entanto,
78
não foi isso que aconteceu. Segundo informações, os agricultores que
plantaram nas terras do vizinho, em troca do plantio do capim, tiveram baixa
produtividade em virtude de dois fatores: a) seca prolongada, em um período
não normal (fenômeno conhecido como veranico); b) concorrência do arroz
com o capim, pois ambos foram plantados praticamente no mesmo período.
Outros produtos, utilizados na subsistência da família, tiveram a
mesma área cultivada. A mandioca e a banana são culturas que ocupam
grande importância como produtos de subsistência e tiveram suas áreas de
cultivo sem variação (Tabela 9), isso se deu em virtude de serem culturas de
ciclo mais longo que as demais. No caso da mandioca, o agricultor adota a
estratégia de renovar a plantação tão logo ela seja colhida, pois assim que
colhe um pé ou talhão, limpa e planta-se imediata a mesma área. Essa
estratégia tem garantido a utilização, inclusive, por um período maior da
mesma área.
O agricultor possui criação de gado, com total de nove animais; trinta
galinhas, aproximadamente, entre todos as idades (a quantidade de animais
é flutuante, pois se usa com freqüência para o autoconsumo); um casal de
patos e um cavalo. Possui também um porco para engorda. Em se tratando
de suínos não gosta de criar, prefere comprar os animais dos vizinhos para
engorda-los. A produção de leite é destinada apenas para o consumo da
família.
As benfeitorias da propriedade são constituídas de duas casas, sendo
uma, com sala e quartos, servindo de dormitório e a outra de cozinha e
despensa. Essas construções são feitas de madeira (pau-a-pique),
barroteada6 e tem como cobertura a palha do Indaiá (Orbgnya eichleri
Drude). A cozinha é feita de madeira (pau-a-pique), porém não é barroteada.
Na propriedade existem duas tulhas, construídas no mesmo processo das
residências, porém com 30 centímetros de elevação da superfície. Na
unidade produtiva há um curral feito de arame e um chiqueiro de porcos,
destinados à engorda, feito com madeiramento entrelaçado retirados na
própria unidade produtiva. 6 Palavra que segundo os agricultores, significa espécie de reboco de paredes, feito com uma mistura de argila, arreia e estrume fresco de bovinos.
79
4.1.2.2 Unidade produtiva – (UP-S13), do senhor Liduvino Lopes Viana A unidade produtiva do senhor Liduvino Lopes Viana, conhecido
também como Lidu Branco, isso porque também existe outra pessoa com o
mesmo nome, na comunidade de Santana. O outro homônimo é o senhor
Liduvino Lopes Viana, filho do senhor Armindo Lopes Viana. Sua
propriedade é denominada de Sítio Três Irmãos, possui área estimada de
quarenta e quatro hectares de terra, não possui documentação, que
assegure sua legitimidade como proprietário. Porém, o fato de residir nesta
localidade há mais de quinze anos, plantando e trabalhando a terra como
forma de sustentar a sua família possibilita ao trabalhador rural certos direito,
e um deles é o uso capião da terra, que o assegura como proprietário.
O agricultor nasceu e criou na região, é oriundo do antigo Arraial da
sesmaria de Santana. O deslocamento para essa localidade ocorreu em
virtude de uma ordem de despejo, promovido pelo senhor Mário Japonês.
Essa ordem de despejo era para ter expulsado todos os agricultores para
fora da sesmaria de Santana, porém em virtude de uma liminar os
agricultores puderam ficar e se instalar nesta localidade, transformando-a
em um pólo de resistência.
O senhor Liduvino Lopes Viana é casado com a senhora Vitorina
Lopes Martins, com quem tivera quatro filhos: Antônio Lopes Martins Viana,
Luiz Lopes Martins Viana, Aloísio Lopes Martins Viana e Jorgina Lopes
Viana Martins, ambos os filhos estão estudando em uma escola localizada
na Vila Aparecida. Apesar dos filhos estudarem, ainda ajudam os pais, nos
finais de semana e em parte do período da manhã, nas atividades cotidiana
do sítio, como: roçar a pastagem, carpir as roças de milho, arroz, banana e
mandioca. Cuidam dos animais, tiram o leite, além de buscar a lenha para o
fogão. No período das férias, os rapazes saem para trabalhar em
empreitadas, de roçado de pastagens nas proximidades, assegurando assim
a complementação de renda para a toda a família.
O senhor Liduvino Lopes Viana cultiva pequenas áreas de terra
destinadas à subsistência da família, a cada ano derruba o mato para plantar
o arroz, o milho, o feijão, a mandioca, a banana, e a cana-de-açúcar. Essas
80
áreas de terra chagam a medir uma quarta de terra (1/4), o que equivale
50m X 50m, ou seja, 2.500m2 de área, o que equivale a 0,25 hectare
(Apêndice F).
Nas safras 2003/2004 e 2004/2005 a complementação do que faltou
foi suprida com a venda da força de trabalho dos três filhos e do seu
Liduvino Lopes Viana, em trabalhos de empreitas que se realizaram
principalmente no período das férias escolares, período em que os filhos têm
maior disponibilidade de colaborarem com a família.
Na safra 2004/2005, houve pouca variação no tamanho das áreas de
produções e os produtos foram praticamente os mesmos, porém com a
introdução da cultura da cana-de-açúcar, que foi utilizada para a confecção
de rapaduras (Tabela 10).
TABELA 10. Produtos cultivados, para o autoconsumo, pelo senhor Liduvino
Lopes Viana, com suas respectivas áreas, referente às safras
2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares).
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares). Arroz 2,2 0,3
Milho 0,4 2,2
Mandioca 0,4 0,4
Banana 0,3 0,3
Cana-de-açúcar - 0,2
Outros1 (abóbora, batata doce,
quiabo, maxixe, melancia e abacaxi) - -
Total da área em produção 3,3 3,4 1 Produtos sem área específica, cultivados em consórcio com outras culturas, destinadas estritamente para o autoconsumo e para alimentação dos animais domésticos.
Na safra 2004/2005, o senhor Liduvino Lopes Viana está esperando
outra área de terra na propriedade do senhor José Donato, de
aproximadamente 2,2 hectares, no entanto, este ano será plantado o milho.
81
O arroz será plantado na área aberta em sua propriedade, que corresponde
a 0,3 hectare. A cana-de-açúcar terá área de 0,2 hectare e será em área de
palhada7 do milho da safra do ano anterior. As culturas de banana e
mandioca permanecem com a mesma área de cultivo.
De um ano para o outro, o tamanho da área cultivada
permanecera praticamente dentro dos mesmos parâmetros, sem alterações
significativas que pudesse interferir na subsistência da família (Tabela 10).
Nestas duas últimas safras, o senhor Liduvino Lopes Viana complementará
sua produção, cultivando em terras, cedidas por vizinhos. Essas terras
passaram por processos de aragem e gradagem e o cultivo do milho terá
como contrapartida o plantio de capim, para o proprietário da terra, seguindo
o mesmo modelo do que ocorrera no ano anterior. Essa estratégia constitui
em um mecanismo de melhorar as condições de subsistência da família.
A unidade produtiva do senhor Liduvino Lopes Viana conta com uma
casa principal, feita de madeira (pau-a-pique), barroteada e coberta com
palha de Indaiá (Orbignya iechleri Drude) (Figura 15). Conta também com
uma cozinha, separada da casa principal, feita também de madeira (pau-a-
pique), porém sem ser barroteada, com cobertura de palha de Indaiá
7 Palhada – Termo usado pelos agricultores para designar uma área que foi abandonada com restos de culturas. Difere da acapoeira por ser apenas por um curto período, normalmente inferior a um ano.
(Orbignya iechleri Drude).
O curral é feito com
lascas de madeira
encaixadas com duas
divisões (Figura 16). Há
na unidade produtiva um
engenho, feito em
madeira (Figura 17); um
galpão aberto com
cobertura de palha de
Indaiá (Orbignya iechleri
Drude), utilizado para
Foro
: R. S
. Bas
tos,
2005
.
FIGURA 15. Residência do senhor Liduvino Lopes Viana.
82
guardar arreios, ferramentas e uma carroça (Figura 20); um paiol, feito de
pau a pique com cobertura de palha de Indaiá (Orbignya iechleri Drude);
uma tulha, feita de pau-a-pique com uma pequena elevação da superfície da
terra com o intuito de evitar a umidade, é barroteada e também possui
cobertura de palhas de Indaiá (Orbignya iechleri Drude); um galinheiro, feito
4.1.2.3 Unidade produtiva – (UP-S14), do senhor Cassiano Lopes Viana A unidade produtiva do senhor Cassiano Lopes Viana, que possui o
nome de Sítio Água Branca, não tem documentação e o informante não
sabe ao certo qual o tamanho de sua área. O agricultor é viúvo e mora
sozinho. É a pessoa mais idosa da comunidade com oitenta e sete (87) anos
FIGURA 17. Engenho de moer cana-de-açúcar e ao fundo Galpão aberto.
Foro
: R. S
. Bas
tos,
2005
.
FIGURA 16. Curral, construído com lascas de madeira.
Foro
: R. S
. Bas
tos,
2005
.
de varas e um
chiqueiro de porco,
feito de madeira.
As construções
são muito simples e
rústicas, porém
funcionais. O
desempenho dessas
construções atende
satisfatoriamente a
que foi proposto.
As construções
apresentam aspectos
rudimentares, porém
funcionais e são
feitas de acordo com
as tradições da
comunidade, as quais
foram adquiridas
através das gerações
passadas.
83
de idade, é um dos que viveram no antigo Arraial da sesmaria de Santana.
Apesar da idade e sendo aposentado, ainda trabalha muito na roça para
retirar o seu sustento. Planta arroz, milho, banana, cana-de-açúcar,
mandioca, batata doce, cará e frutas, como: o abacaxi e mamão. Cuida das
galinhas e de dois animais de serviço, um cavalo e um burro. Os animais
são peças importantes no período de moagem da cana-de-açúcar, em seu
engenho, pois é através da tração animal que realiza a moagem e a retirada
da garapa para fazer a rapadura e o melado. Além disso, esses animais são
utilizados em carroças, que constitui o transporte. A pesar de não saber ler e
nem escrever, o senhor Cassiano Lopes Viana vendeu e assinou direito de
sua herança sem saber das implicações em que isso poderia acarretar. A
sua vinda para a localidade de Água Branca é fruto dessa venda, pois logo
em seguida foram expulsos do Arraial da sesmaria de Santana, mediante
ordem de despejo, impetrada
pelo advogado do senhor
Mário Japonês.
A unidade produtiva
está localizada próxima a de
sua filha, a senhora Vitorina
Lopes Martins, esposa do
senhor Liduvino Lopes
Viana, que estão sempre
olhando e zelando pelo
senhor Cassiano Lopes
Viana.
O senhor Cassiano
possui em sua propriedade,
uma casa principal feita de
madeira (pau-a-pique),
barroteada e com cobertura
de palha de Indaiá (Orbignya
iechleri Drude); a cozinha
FIGURA 18. Residência do senhor Cassiano Lopes Viana.
Foto
: R.S
. Bas
tos,
2004
.
84
fica em separada, feita também de madeira (pau-a-pique), porém, sem ser
barroteada (Figura 18). Há também outras construções de grande
importância para auxiliar as atividades de seu dia-a-dia, como: tulha, paiol,
engenho de moer cana e chiqueiros de porcos. A tulha segue os mesmos
padrões de construção da casa, porém, possui certa elevação da superfície
terrestre (30 centímetros) como forma de evitar as enxurradas e
conseqüentemente o excesso de umidade (Figura 19); o paiol é feito de
madeira (pau-a-pique), também barroteada e com cobertura de palha de
Indaiá (Orbignya iechleri Drude); há outros tipos de construções, como por
exemplo, os galinheiros, os chiqueiros de porcos, que contribuem para
atender as necessidades e o bom andamento das atividades do agricultor.
FIGURA 19. Tulha, da unidade produtiva do senhor Cassiano Lopes Viana.
Foto
: R.S
. Bas
tos,
2004
.
O senhor
Cassiano Lopes Viana
planta apenas para o seu
sustento, com isso todas
as suas construções são
adequadas à capacidade
de sua força de trabalho,
refletindo em construções
relativamente pequenas,
na tulha cabe
aproximadamente vinte
sacas de arroz (Figura
19).
A construção
desses utensílios
desempenha papel de
extrema importância
dentro da vida dos
agricultores tradicionais,
em função da
possibilidade de
85
mandioca, que servem para complementar a renda e também para a
alimentação dos animais domésticos, como por exemplo: os porcos e
galinhas.
TABELA 11. Produtos, para o autoconsumo, cultivados pelo senhor
Cassiano Lopes Viana, com suas respectivas áreas, referente
aos anos safra 2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares).
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares). Arroz - -
Milho 0,6 0,4
Mandioca 0,4 0,4
Banana 0.3 0,4
Cana-de-açúcar - 0,3
Outros1 (abóbora, batata doce,
quiabo, abacaxi, moranga e maxixe). - -
Total da área em produção 1,3 1,5 1 Produtos sem área específica, cultivados em consórcio com outras culturas, destinadas estritamente para o autoconsumo e para alimentação dos animais domésticos.
FIGURA 20. Engenho na unidade produtiva do senhor Cassiano Lopes Viana.
Foto
: R.S
. Bas
tos,
2004
.
contribuir com a melhoria
da renda familiar. Neste
caso, temos como bom
exemplo o engenho de
moer a cana-de-açúcar
para a fabricação da
rapadura.
O senhor
Cassiano Lopes Viana
tem se dedicado
ultimamente ao cultivo da
banana, do milho e da
86
As áreas destinadas ao cultivo são pequenas. Para a safra de
2003/2004, foi cultivado em sua unidade produtiva 0,3 hectare de banana,
0,6 hectare de milho e 0,4 hectare de mandioca. Para a safra 2004/2005,
foram cultivados 0,4 hectare de banana, 0,4 hectare de milho, 0,4 hectare de
mandioca e 0,3 hectare de cana (Tabela 11). O arroz e o feijão não têm sido
cultivados, a preferência é adquirir esses produtos na cidade. Isso ocorre
normalmente uma vez no mês, quando sai a aposentadoria. O agricultor
ainda cultiva outros produtos de consumo pessoal, como quiabo, maxixe,
diversos tipos de abóboras, abacaxi e melancia.
Em virtude da idade e a pouca resistência ao calor, seus netos, filhos
do senhor Ludivino Lopes Viana, sempre estão ajudando-o, nos trabalhos de
limpeza e até mesmo no preparo da terra para o plantio.
O senhor Cassiano Lopes Viana utiliza várias estratégias para
conseguir sua sobrevivência no campo. Ainda hoje, aos 87 sete anos,
continua a buscar formas alternativas de viver com dignidade e
tranqüilidade, sempre trabalhando.
4.1.2.4 Unidade produtiva – (UP-S15), do senhor Luiz Corrêa. A unidade produtiva do senhor Luiz Corrêa possui o nome de Sítio
São Luiz, que não tem documentação, que lhe assegure como proprietário,
somente a posse da terra. Segundo o informante a sua área é de
aproximadamente de trinta e sete hectares, porém não há documentos que
confirme isso.
O senhor Luiz Corrêa é casado com a senhora Maria Lopes Viana e
em sua companhia vivem o seu filho Lourenço Viana e o seu irmão Pedro de
Souza, que por sinal é deficiente físico e em vista disso foi aposentado.
Outros dois filhos trabalham em Cáceres e aos finais de semana vêm para o
sítio ajudar o pai, nos trabalhos que precisam ser realizados.
O senhor Luiz Corrêa, na safra 2003/2004, plantou nas terras do
senhor José, um dos vizinhos, posseiro, que adquiriu suas terras mediante a
compra de terceiros. Em depoimento, o agricultor, expõe sua preocupação
para a safra 2003/2004:
87
“Neste ano plantei seis litros de arroz, foi
só pra despesa. Ta muito difícil a gente
mexer com o arroz, todo ano a gente
planta, mais não consegue colhê. Acho
que não vai dá nem pra despesa. (...) o
tamanho da roça deste ano não é muito
grande não, é pequena, dá quinze braças
de largura por trinta e cinco braças de
comprimento”.
Apesar dos agricultores tradicionais utilizarem várias formas de
medidas, não foi empecilho converte esses dados em uma única unidade.
O senhor Luiz Corrêa realizou o plantio de seis litros de arroz, que
correspondem ao equivalente para efetuar toda a cobertura da área
preparada para o plantio de quinze braças de largura por trinta e cinco de
comprimento. Isso equivale a 0,25 hectare.
Posteriormente, em meados de julho de 2004 soube-se que a sua
colheita foi irrisória, pois colheu apenas uma saca de sessenta quilos. Com
esse resultado de produção, o agricultor teve que comprar o produto de
vizinhos e da Vila Aparecida. O agricultor também plantou duas tarefas de
milho, o equivalente a 0,16 hectare. A mandioca e a banana tiveram uma
área total de 0,4 hectare. Durante o ano foram cultivados vários outros
produtos, complementares à subsistência, como a abóbora, a moranga, (que
são utilizados na alimentação de animais domésticos), o quiabo, o maxixe e
a batata doce (Tabela 12).
Na safra 2004/2005, foi desmatada uma área de cerradão, logo em
frente a residência (Figura 21), de setenta e três por trinta braças, ou seja,
1,07 hectares. Serão cultivados em consórcios: banana e arroz, banana e
milho.
Em meio às culturas de banana, arroz e milho serão introduzido
plantios de abóbora, melancia, maxixe, abacaxi.
Segundo o agricultor, a área que aparece na Figura 21, será utilizada
por aproximadamente quatro anos, por causa da banana, que vai sombrear
88
A estratégia de se queimar a roça, constitui a forma que
tradicionalmente se executa e que nos dias de hoje vem sofrendo sérias
críticas e entrando em contradição com a legislação ambiental. No entanto,
ainda é uma forte tradição e segundo essa categoria de agricultores, o modo
mais econômico de se fazer à roça e assim garantir a subsistência da
família.
As dimensões das roças da safra 2004/2005 sofreram grandes
variações em relações à safra do ano anterior (Tabela 12).
Mesmo sendo um dos produtos com maior incidência de doenças,
na região, a banana foi o produto que teve maior área de crescimento, pois
consegue ter maior valor comercial e assim contribuir para a melhoria da
renda familiar.
O agricultor possui uma pequena criação de gado com seis animais,
sendo duas vacas, duas novilhas e dois bezerros, todos os animais são da
família, ou seja, pertencem aos filhos. Possui ainda criação de galinhas, que
muito e assim
inibir a
surgimento de
pragas1 e em
conseqüência
disso vai
requerer menor
tempo com
limpeza.
Porém, assim
que o bananal
começar a dar
prejuízo será
introduzido o
capim, para a
criação de
gado.
FIGURA 21. Área desmatada, preparada para o plantio.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
2005
.
89
corresponde aproximadamente a trinta aves. Os animais domésticos, como
por exemplo, as galinhas e os porcos possuem número flutuante, pois são
utilizados constantemente no consumo.
TABELA 12. Produtos, para o autoconsumo, cultivado pelo senhor Luiz
Corrêa, com suas respectivas áreas, referente às safras
2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares).
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares). Arroz 0,25 0,54
Milho 0,16 0,53
Mandioca 0,2 0,4
Banana 0,2 1,27
Outros1 (abóbora, batata doce,
quiabo, maxixe) - -
Total da área em produção 0,81 1,27 1 Produtos sem área específica, cultivados em consórcio com outras culturas, destinadas estritamente para o autoconsumo e para alimentação dos animais domésticos.
A unidade produtiva do agricultor conta com duas casas: sendo uma
principal, onde se tem a sala e os quartos, feita de madeira (pau-a-pique),
barroteada e com cobertura de palha de indaiá; a outra, destinada à cozinha,
segue os mesmos padrões de construção, porém sem ser barroteada. Há
outras construções como curral de madeira encaixada, galinheiro e chiqueiro
para porcos.
Nos últimos anos a produção diminuiu de forma significativa,
chegando a ponto de não haver a necessidade de se guardar o que colhe
em lugar específico como, por exemplo, o paiol e a tulha. Ultimamente tudo
o que tem colhido consegue armazenar dentro da própria residência.
4.1.2.5 Unidade produtiva – (UP-S16), do senhor Angelino da Silva A unidade produtiva do senhor Angelino da Silva é denominada sítio
São Sebastião. A área esta localizada ao sul da sesmaria de Santana, na
90
divisa com a Bocaina do Vão. O Sítio do agricultor não possui documentação
que assegure a posse definitiva da terra em que vive. A área total estimada
de sua propriedade é de 67,2 hectares.
O núcleo familiar é constituído por oito pessoas, sendo sua esposa, a
senhora Ilda Oliveira Viana e seis filhos: Sebastiana Viana da Silva, Zita
Aparecida Viana da Silva, Maria José Viana da Silva, Meire Viana da Silva,
Fátima Viana da Silva e Silvio Viana da Silva.
A maior parte da unidade produtiva do agricultor está destinada à
pastagem, onde se cultivada capim Braquearão (Brachiária brizantha cv.
Maranduva) para o sustento do gado, formado por cinqüenta animais. Todo
esse gado se destina a manutenção da família.
Na unidade produtiva cultiva-se: arroz, milho, mandioca, banana,
feijão, abóbora, moranga, abacaxi, quiabo, mamão, cana-de-açúcar e
maxixe (Tabela 13). Todos os produtos estão voltados a atender às
necessidades de subsistência da família. Comercializa-se apenas o
excedente, quando há algum. Na safra 2003/2004, a área cultivada foi
destinada estritamente ao sustento da família e correspondeu a 2,1
hectares, assim distribuída: 0,3 hectare de arroz, 0,5 hectare de milho, 0,4
hectare de mandioca, 0,4 hectare de banana, 0,2 hectare de cana-de-açúcar
(Tabela 13).
Outros produtos, como: a abóbora, o quiabo, o maxixe, o mamão e o
abacaxi também foram plantados, entretanto, em meio às outras culturas,
como às de milho e banana. O cultivo do feijão ocorreu na mesma área em
que o milho foi cultivado, porém em menor área de plantio, 0,3 hectares.
Para a safra 2004/2005, a nova área aberta para o cultivo
corresponde a 2,2 hectares, com isso houve um aumento da área cultivada,
situação que pode refletir em maior oferta no momento de suprir as
necessidades alimentícias da família. Entretanto, se porventura faltar algum
produto à manutenção da subsistência, será suprida com a comercialização
dos animais, principalmente os bezerros. Além disso, o agricultor, conta
também com a sua aposentadoria e também com eventuais trabalhos de
empreitas que porventura possam surgir.
91
TABELA 13. Produtos, para o autoconsumo, cultivados pelo senhor
Angelino da Silva, com suas respectivas áreas, referente as
safras 2003/2004 e 2004/2005.
TIPOS DE PRODUTOS ÁREA CULTIVADA
safra 2003/2004 (Em hectares).
ÁREA CULTIVADA safra 2004/2005
(Em hectares). Arroz 0,3 0,3
Milho 0,5 0,6
Mandioca 0,4 0,4
Banana 0,4 0,4
Feijão 0,3 -
Cana-de-açúcar 0,2 0,2
Outros1 (Abóbora, batata doce,
quiabo, maxixe) - -
Total da área em produção 2,1 2,2 1 Produtos sem área específica, cultivados em consórcio com outras culturas, destinadas estritamente para o autoconsumo e para alimentação dos animais domésticos.
Na safra 2004/2005, serão cultivados: 0,3 hectare de arroz, 0,6
hectare de milho, 0,4 hectare de mandioca, 0,4 hectare de banana e 0,2
hectare de cana-de-açúcar (Tabela 13). Tão logo se realizar a colheita do
milho a pretensão é plantar o feijão.
Entre as safras 2003/2004 e 2004/2005 há pequena variação no
tamanho total da área cultivada. Também pode ser observado que ocorre
pouca variação de área quando se trata dos produtos cultivados (Tabela 13).
Segundo informações da senhora Ilda Oliveira Viana, esposa do
senhor Angelino, não há grandes preocupações em relação ao
abastecimento de alimentos à família. Pois, é dessa maneira que
sobrevivem. Plantam estritamente o necessário para a sobrevivência em
pequenas áreas de roças.
4.2 As migrações internas da sesmaria de Santana A maneira da utilização das terras e o processo migratório dentro da
sesmaria de Santana foram estabelecidos de acordo com as necessidades e
92
circunstâncias do momento em que viviam as populações desta área de
sesmaria. O Apêndice G representa o local onde esse contingente
populacional vivia, ou seja, em uma área de concentração populacional,
constituindo assim um vilarejo, ou Arraial, pois, contava com infra-estrutura
modesta. Como exemplo dessa infra-estrutura, foram citadas uma igreja e
uma escola. O Arraial de Santana está localizado praticamente no centro da
sesmaria de Santana, a fim de facilitar o deslocamento e o cuidado com os
animais. As áreas propícias ao cultivo das roças encontram-se
aproximadamente a 1500 metros afastadas do Arraial, isso para que os
animais domésticos, de pequeno porte, como por exemplo, os porcos e
galinhas, não causem nenhum prejuízo às culturas de subsistência, pois o
sistema de criação desses animais é de forma extensiva, soltos no ambiente
sem espaços definidos ou cercados. Essas áreas de cultivo ficam quase
sempre à margem esquerda do ribeirão Água Branca, onde as terras são de
melhor qualidade, segundo a observação dos próprios agricultores. Nestas
áreas, a mata possui maior vigor, exuberância e as terras eram mais escuras
e quando se plantava, a colheita sempre era abundante, além disso, podia-
se cultivar por mais de um ano a mesma área sem problema da redução da
produtividade. Isso deixava os agricultores mais tranqüilos em relação à
produção, pois a certeza de produzir para o sustento da família traduzia-se
em boa produção, ano após ano.
Outro aspecto importante é que a área se mantinha limpa por um
período de tempo bem maior do que nos dias de hoje. Quase sempre a
colheita acontecia com a roça limpa, sem ervas daninhas, praticamente só
encontrava as moitas provenientes das rebrotas.
Segundo relatos do senhor Cassiano Lopes Viana, a convivência no
Arraial de Santana sempre transcorreu de forma tranqüila e pacífica, sem
grandes conturbações. Porém, quando ocorriam alguns desentendimentos,
sem muita importância, como por exemplo, uma palavra mal compreendida,
desavenças entre as crianças, algum animal doméstico do compadre que
comia ou estragava a horta do outro, sempre havia interferência dos mais
velhos, contornando a situação. Essas pequenas desavenças provocaram a
93
saída de uma, duas, três ou mais famílias, no entanto, a saída do Arraial,
não significa uma rixa permanente. É apenas uma maneira de prosseguir em
paz, sem brigas.
Foram encontrados vestígios do processo migratório em várias partes
da sesmaria de Santana, como esteios de casas, utensílios domésticos e
pedaços de engenhos (Figura 24).
Segundo o senhor Catulio Lopes Viana, existem inúmeros locais de
construções antigas, porém, em algumas situações a utilização de máquinas
Em alguns
locais, devido ao tempo
prolongado dos
acontecimentos e a
ação do fogo,
encontraram-se apenas
resquícios de
construções. Isso só foi
possível, sob
orientação de um guia
prático, que conhece os
locais com exatidão.
FIGURA 22. Vestígios de construções antigas e plantações de frutas – em terras do senhor Armindo Lopes Viana.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
2005
. Fo
to: R
.S. B
asto
s, 2
005.
FIGURA 23. Construções antigas – esteios de casa.
para abertura de
pastagem, destruiu
quase por completo
esses vestígios,
dificultando sua
localização.
As Figuras 22,
23, 24, retratam, ainda
hoje, a permanência de
vestígios de
construções na
94
dois momentos distintos. No primeiro momento ocorreram migrações
provocadas pela própria necessidade do grupo em preservar e manter as
relações sociais. O próprio grau de parentesco acaba por influenciar esse
processo.
Normalmente, essa migração não traz prejuízos ao grupo, no tocante
ao convívio ou na forma de se relacionarem. Segundo o senhor Catulino
Lopes Viana é uma forma de evitar maiores desavenças; um refúgio.
Em um segundo momento, ocorrem migrações provocadas pela
pressão exercida pelo grileiro. Essa é a segunda fase migratória dentro da
sesmaria de Santana, isso ocorre por volta da década de 1980. Essa ação
foi forçada em virtude das pressões que os agricultores tradicionais sofrem
pelo grileiro da área, o senhor Mário Japonês. Essa migração interna,
ocupando áreas dentro da sesmaria de Santana, ocorreu como forma de
defesa desses agricultores, pois, estavam na iminência de serem
despejados.
Nesta segunda fase, das migrações internas, dentro da sesmaria de
Santana, vão ocorrer basicamente em duas frentes: uma em direção ao
norte, onde é hoje a comunidade do Sagrado Coração de Jesus, localidade
de Santana; e outro em direção ao sul da sesmaria de Santana, onde é hoje
FIGURA 24. Vestígios de construções – antigo engenho. No detalhe engrenagens da moenda.
Foto
: R.S
. Bas
tos,
200
5.
sesmaria de Santana.
Muitas dessas
construções estão
localizadas em áreas
estratégicas de
produção, ou seja, em
locais onde há água em
abundância e mata
para produzir o
sustento familiar. As
migrações dentro da
área da sesmaria de
Santana ocorrem em
95
a Comunidade de Todos os Santos, localidade de Água Branca (Apêndice
G).
O desmembramento dessa estrutura, que um dia chegou a ser
denominada de Arraial de Santana, ocorreu, segundo o senhor Catulino
Lopes Viana e o senhor Liduvino Lopes Viana, quando da chegada de um
indivíduo que adquiriu uma pequena parcela de terra de um dos herdeiros e
acabou cercando uma área bem maior do que aquela que havia adquirido e
que realmente lhe pertencia por direito. A atitude desse indivíduo, chamado
pelos agricultores tradicionais de grileiro “Mário Japonês”, foi além da
compreensão dos agricultores, pois, através de uma ordem de despejo, o
senhor “Mário Japonês” consegue retirar todos os agricultores, que após
muita confusão e interferência de uma outra pessoa com maior
esclarecimento jurídico, conseguem entrar em acordo, deslocando esse
contingente populacional para duas regiões dentro da sesmaria de Santana.
O Apêndice G retrata o deslocamento migratório interno. Um contingente,
formado por cinco famílias de agricultores tradicionais desloca-se para o sul
da sesmaria de Santana, onde hoje, é conhecido como, a localidade de
Água Branca. Neste local, as famílias se estabeleceram de forma mais
definitiva, permanecendo até os dias de hoje. Um segundo contingente
populacional, foi deslocado para a região mais ao norte da sesmaria de
Santana, localidade de Sagrado Coração de Jesus, próximo ao ribeirão
Água Branca, e que segundo o senhor Armindo Lopes Viana e o Senhor
Catulino Lopes Viana, foi empurrado para a margem esquerda do ribeirão
Água Branca, estabelecendo-se na região norte-noroeste da sesmaria.
O desmembramento do grupo em dois, ocorreu basicamente por dois
motivos: 1°) em uma única localidade, Água Branca ou Santana, não
suportaria esse número de pessoas; 2º) as áreas escolhidas não chamavam
a atenção do grileiro, pois até aquele momento constituíam áreas formadas
por relevo mais acidentado. Além disso, os dois grupos ficaram afastados
das pretensões de domínio territorial do grileiro.
O senhor Catulino Lopes Viana e o senhor Cassiano Lopes Viana,
relatam que houve também o deslocamento de um terceiro grupo de
96
pessoas que se dirigiram para a cidade de Cáceres, buscando melhores
condições de vida, emprego e mais tranqüilidade. A partir desse momento, o
aglomerado populacional, Arraial de Santana, começou a se desmoronar.
No local onde se encontrava o arraial da sesmaria de Santana, há
apenas vestígios de antigas construções (Figura 25). Nem mesmo o trabalho
de demolições e as sucessivas aragens e gradagens para o plantio de capim
foram suficientes para apagar as marcas dessas construções. Nem o capim
consegue nascer e permanecer no local.
Foto
: R.S
. Bas
tos,
200
4.
FIGURA 25. Vestígios de construções – Local onde estava edificada a Escola do Arraial de Santana – “Escola João Ferreira Mendes”.
Os agricultores
tradicionais, que
construíram o Arraial
de Santana, possuem
tradições marcantes
em seu meio social,
como as danças de
cururu e siriri; festas
de santos; A divisão
dos cemitérios do
R. S
. Bas
tos,
200
5.
FIGURA 26. Cemitério dos anjos do Arraial de Santana.
97
povoado em: cemitério dos anjos (Figura 26) e cemitério de adultos (Figura
27); reuniões de cultos religiosos (missas); e as benzeções. Além disso,
esse aspecto cultural também faz parte do cotidiano da produção, pois o
plantio apresenta fortes relações com esses aspectos culturais, como por
exemplo, o plantio e a colheita que só ocorrem em determinadas fases da
lua.
A utilização
do monjolo, era uma
prática comunitária,
que caracterizava
parte das tradições,
desses agricultores
tradicionais, que
residiam no Arraial
de Santana. O
monjolo era utilizado
para a realização
dos trabalhos de
limpeza do arroz, da
quebra do milho
para canjica e para
triturar outros
cereais. Hoje,
existem, apenas os
resquícios do que
um dia foi um
monjolo (Figura 28).
Essa prática não
existe mais dentro
dessa comunidade,
em virtude de vários
fatores, como: A
R. S
. Bas
tos
- 200
5
FIGURA 27. Cemitério do Arraial de Santana.
R. S
. Bas
tos
- 200
5
FIGURA 28. Pilão do monjolo, do antigo Arraial de Santana.
98
desestruturação da comunidade, a delimitação espacial das propriedades,
pois os locais adequados para a implantação do monjolo são raros. Além
disso, a modernização ocorrida nos últimos anos, também tem contribuído
para o uso dessa prática tradicional.
4.3 Espacialização e uso comum na sesmaria de Santana
Em levantamento, para delimitar a área total da sesmaria de Santana,
foi constatado que a dimensão espacial da sesmaria de Santana é superior
do que aquela apresentada em documento de compra e venda, que é de
2300 hectares, e que é do conhecimento dos membros da comunidade.
Chegou-se a um cálculo aproximado de área territorial equivalente a
4.621,70 mil hectares de terra. Para chegar a esses cálculos, foram
utilizadas as cotas da carta topográfica de maior altitude em ambas as
serras (Apêndice G).
A sesmaria de Santana possui dimensão relativamente pequena em
relação ao tamanho de outras áreas de sesmarias existentes na região, no
entanto, isso ocorreu em virtude desta área de terra ter sido desmembrada
de uma outra, no caso, a sesmaria de Inhumas, conforme documento de
compra e venda, datado de 1908, em favor de Claudino Lopes Viana,
Estevão Satyro Lopes Viana, Ciryaco Lopes Viana, Irineu Lopes Viana,
Manoel Procópio Martins e Manuel Santana Lopes Viana.
A área destinada aos agricultores tradicionais, após as invasões
ocorridas com a chegada do senhor Mário Japonês, constitui uma pequena
parcela de toda a área (Apêndice G), e que antes da expulsão dos
agricultores estava destinada ao cultivo, à extração e a convivência mútua. A
Tabela 14 representa a distribuição das terras na sesmaria de Santana, após
a grilagem. É possível observar que os agricultores ocupam uma pequena
parcela de toda a área. Essa distorção de concentração de terras provoca
alterações na estrutura produtiva desses agricultores tradicionais, pois
estavam habituados a exercer suas atividades de produção e criação de
forma diferente da atualidade. As alterações na estrutura da sesmaria
forçaram os agricultores a buscarem mecanismos que possibilitassem suprir
99
suas necessidade de subsistência. Uma das alternativas encontrada sem
dúvida é a produção agrícola fora de sua unidade produtiva. Essa estratégia
tem-se constituído numa prática comum entre os agricultores, garantindo a
subsistência e a permanência no campo.
TABELA 14. Área que cada agricultor tradicional ocupa dentro da sesmaria
de Santana – 2005.
CÓDIGO DA UP
PROPIETÁRIOS AREA DAS
PROPIEDADES (Em Alqueire)
AREA DAS PROPIEDADES
(Em hectares)
S01 Catulino Lopes Viana 66 145,2
S02 Benedito Lopes Viana2 07 15,4
S03 Máximo Lopes Viana2 07 15,4
S04 Cecílio Lopes Viana3 20 44
S05 Liduvino Lopes Viana3 20 44
S06 Armindo Lopes Viana 20 44
S07 Antônio dos Santos
Martins 5,5 12
S08 Paulo dos Santos Martins 03 6,6
S09 Gonçalo Martins Viana1 66 145,2
S10 Antônio Viriato da Silva4 10 22
S11 Dielson Viriato da Silva4 2 4,4
S12 André Santana Lopes 20 44
S13 Liduvino Lopes Viana 20 44
S14 Cassiano Lopes Viana 22,7 49,9
S15 Luiz Corrêa 28 61,6
S16 Angelino da Silva 28 61,6
Total da área ocupada 220,3 837,98 1 Ocupa a mesma área de terra do senhor Catulino Lopes Viana. 2 Ocupam uma mesma área de terra, que pertence ao senhor Luciano Silva. 3 Ocupam uma mesma área de terra, que pertence ao senhor Armindo Lopes Viana. 4 Agricultores tradicionais que não foram considerados remanescente da área da sesmaria.
100
As terras configuradas e destinadas como áreas de sesmaria,
possuíam particularidades bem definidas sob vários aspectos. A sesmaria de
Santana também apresentou essas características, como por exemplo:
• O uso coletivo da área para a criação de bovinos de
forma extensiva formada por vários criadores.
• Construções de casas em torno de uma mesma área,
formando assim pequenos aglomerados populacionais, que na sesmaria de
Santana, era denominada de Arraial. Normalmente com alguma infra-
estrutura. No caso da sesmaria de Santana, essa infra-estrutura se resumia
em uma igreja e uma escola primária.
• Localização das roças em uma mesma área, para
favorecer os cuidados principalmente com o manejo e com as cercas contra
animais domésticos e também os silvestres.
• As roças eram feitas e cultivadas entre dois e três anos e
em seguida abandonadas para serem cultivadas em outro lugar, de forma
itinerante.
• Utilização de formas de trabalhos variadas, como:
mutirão, troca ou permuta de dias de serviços, empreitas, etc.
• Fabricação de vários produtos dentro da sesmaria,
basicamente como uma forma de auto abastecimento e para isso
fabricavam: farinha de mandioca e de milho, polvilho, rapadura e açúcar,
banha de porcos para uso alimentar.
• Fabricação de utensílios para uso doméstico, como
gamelas, colheres de pau, peneiras, engenhos para moer a cana-de-açúcar.
Além disso, havia a fabricação de utensílios destinados à utilização no
trabalho cotidiano da sesmaria, como: cochos para ração animal, carros de
bois e seus apetrechos (cambão, canga, canzil e cordas).
Na Figura 29, notar-se o trabalho de aprendizagem realizado desde
muito cedo pelas crianças da comunidade Sagrado Coração de
Jesus/Santana, isso constitui uma atividade comum, praticada no cotidiano
da comunidade.
101
As habilidades que cada um pode desenvolver são incentivadas
desde cedo, como forma de superar as dificuldades que possam surgir no
dia-a-dia. Assim as crianças, mesmo brincando exercem um aprendizado
constante, absorvendo grande conhecimento dos antepassados, dando
prosseguimento às tradições.
alimentares. Assim, todas as atividades executadas dentro da sesmaria de
Santana estão voltadas a manter a subsistência e na medida do possível
produzir algum excedente para servir como base de troca ou de entrada de
algum capital para atender as necessidades de alguns produtos que vierem
a faltar na comunidade, como por exemplo: sal e remédios.
Segundo relatos do informante mais idoso da comunidade de todos
os Santos, na localidade de Água Branca, o senhor Cassiano Lopes Viana:
“Quando nossos pais utilizavam as terras
da sesmaria de Santana, para qualquer
coisa que fosse, sempre seguia as
orientações dos mais velhos. Não havia
nenhuma disputa entre as pessoas, nem
mesmo para produzir mais que o outro.
Nem para retirar da natureza qualquer
produto só por dinheiro. A criação do
As atividades
desenvolvidas dentro da
área da sesmaria de
Santana também
reforçam o caráter de
povoamento, no qual o
tipo de concessão que a
coroa portuguesa
possibilitou aos colonos
ou súditos, possuíam
características de auto-
suficiência e de provisões
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
5.
FIGURA 29. Crianças, da comunidade de Sagrado Coração de Jesus, confeccionando copos, em bambu.
102
gado era na larga8, todas as famílias da
comunidade criavam o gado junto. Nessa
época os animais jovens, os bezerros,
eram sinalados9 na orelha e somente
depois de desmamados, já quase adultos
é que recebiam a marca do dono (...)
Quando, íamos plantar, a área era
escolhida em comum acordo, e cada um
já definia o que ia plantar e muitas vezes
também já havia acordos de cultivar a
roça em sistema de meia. (...) Isso tudo
sempre ocorria com a orientação dos
mais velhos”.
Adams (2000), Souza & Barrella (2004) e Mansano (2004), também
expõem as práticas de tomadas de decisões entre comunidades tradicionais
de caiçaras, onde se observa que vários pontos são idênticos,
principalmente, no que se refere à liderança. Neste aspecto os membros
mais idosos da comunidade possuem papel fundamental nas decisões.
A área da sesmaria de Santana teve a prática de uso comum desde o
início de sua aquisição, a qual, foi realizada por um grupo de pessoas que a
obtiveram mediante uma parceria na hora de realizarem a compra. Essa
união não ficou somente na forma da aquisição ela passou a ser inserida
dentro de todas as atividades exploratórias para a sobrevivência do grupo.
Outros agricultores remanescentes e descendentes dos pioneiros, da
ocupação desta área, são coesos, afirmando em seus relatos a prática do
modo de uso comum da sesmaria.
O uso comum ganhou formas mais abrangentes, pois, passou a fazer
parte do cotidiano e como necessidade de sobrevivência, ganhou aspectos 8 Na larga – Expressão usada pelos agricultores, que designa a criação de animais, no caso bovinos, de forma extensiva, sem a utilização de cercas. 9 Sinalados – expressão que designa, segundo essa categoria de agricultores, um pequeno sinal, feito na orelha do animal, para identificar o seu dono, pois cada criador escolhia um sinal, que poderia ser um pequeno corte em forma de ‘v' na orelha do animal, assim todo animal que tivesse com seu devido sinal, quando adulto receberia a marca definitiva de seu dono.
103
diferenciados. Segundo o senhor Catulino Lopes Viana e o Senhor Cassiano
Lopes Viana, até as compras na cidade de Cáceres, que aconteciam mais
ou menos entre duas ou quatro vezes ao ano, ocorriam em forma de
caravana, com carros de bois e normalmente, cada família encomendava o
que ia precisar. Na viagem de ida, os carros de bois sempre estavam
carregados com mantimentos básicos, como: arroz, feijão, carne seca de
vaca, latas de banha de porco, toucinho de porco, rapadura, melado e em
alguns casos utensílios domésticos, como as gamelas, muito utilizada na
região. No retorno, realizavam-se as compras de acordo com as
encomendas de cada família, que normalmente, constituía grande
quantidade de carga. Os produtos mais comuns de compra eram: sal, café,
açúcar, ferramentas para a lida no campo, tecidos, calçados e remédios.
Outro aspecto importante a ser abordado está relacionado na maneira
da convivência dessa comunidade. Pois, segundo relatos do senhor
Cassiano Lopes Viana:
“Quando uma família estava em falta de
algum produto, como arroz, sal, café ou
açúcar, sempre era socorrido pelo
vizinho, que emprestava aquilo que lhe
faltava”.
Dessa forma o uso comum também se estendia inclusive aos
produtos que eram adquiridos na cidade de Cáceres. Continua o agricultor:
“Em uma próxima viagem à cidade, o
vizinho que emprestara qualquer
produto, tinha por obrigação restituir o
que lhe foi cedido”.
Essa prática possui reflexos, inclusive nos dias atuais. Ainda hoje, na
falta de um determinado produto, busca-se no vizinho mais próximo, a
resposta para o problema. Outra prática que ainda perdura nos dias atuais,
nestas comunidades, é a oferta ao vizinho mais próximo ou ao compadre, a
retribuição dos favores através de um pequeno agrado, que pode vir de
várias formas, como por exemplo: a doação de um frango, uma dúzia de
104
ovos, um cacho de banana ou mesmo um pedaço de carne, quando se
abate um animal.
A exploração das áreas de uso comum segue normas que ordenam a
própria manutenção da subsistência dessa categoria de agricultores
tradicionais. A exploração ocorrida na sesmaria de Santana também segue
os mesmos preceitos que datam desde os primórdios da instituição desse
tipo de concessão de posse da terra no Brasil, essa maneira de uso da terra
está ligada diretamente a duas formas básicas de subsistência:
1. As áreas de construções das roças;
2. As áreas utilizadas na criação extensiva de bovinos e
eqüinos.
As normas de uso de exploração ocorridas na sesmaria de Santana
eram estabelecidas de acordo com as decisões tomadas pelos mais velhos,
ou seja, as pessoas de maior idade. Normalmente o local da roça era
escolhido pelas pessoas de maior idade da comunidade, onde roçavam,
derrubavam, queimavam e para só depois plantar seus mantimentos.
Normalmente, toda o trabalho que envolvia a construção da roça era
realizado em conjunto com os membros da comunidade, sempre orientado
pelos mais idosos, até mesmo a decisão sobre o tamanho da parte de roça
que cada membro poderia ficar. As famílias mais numerosas ficavam com
partes maiores e as famílias menores com as menores. Na colheita, os
trabalhos eram realizados em forma de mutirão. Atendendo assim as
necessidades de todas as famílias da comunidade.
Em relação às áreas onde ocorria a criação extensiva de bovinos,
também se seguiam normas de procedimentos voltados a proporcionar,
além do bom desempenho, um estado de harmonia entre toda comunidade,
pois, os animais eram constantemente acompanhados e seguidos de
cuidados que proporcionassem todos essas condições. A visita ao gado,
denominada pelos mais antigos de “campear o gado”, consistia em sair em
grupo de três ou mais cavaleiros à procura do rebanho bovino espalhados
por toda a área da sesmaria. Esse trabalho também era feito pelos membros
da comunidade, envolvendo várias famílias. Os animais jovens recebiam no
105
próprio campo um corte na orelha, como sinal de identificação do
proprietário, até chegar o período da marcação, onde todo o rebanho era
levado ao curral a fim de realizar a identificação definitiva do proprietário
com um ferro quente, normalmente na perna direta do animal, região inferior.
O modo de uso comum, da área da sesmaria de Santana também
pode ser observado, na maneira de como essa categoria de agricultores
tratam e trabalham a terra. Esses agricultores possuem um processo de
rotação das áreas de cultivo, chamadas de capoeiras, que constitui a
maneira natural da reestruturação do ambiente ocupado pelo homem.
Segundo depoimentos de vários agricultores, como o senhor Cassiano
Lopes Viana, o senhor Catulino Lopes Viana e o senhor Armindo Lopes
Viana, que constituem os moradores de maior idade e mais antigos na
sesmaria de Santana. Não era raro o agricultor cultivar por dois a quatro
anos em uma mesma área, sem diminuir a produtividade e que a próxima
derrubada da mata para o plantio ocorria não porque aquela área de terra
diminui sua produtividade, mas sim porque a limpeza dessa área se tornava
muito mais trabalhosa. O fato é que as áreas de capoeira chegavam a ficar
por oito, dez e mais anos sem que esses agricultores voltassem a derrubá-
las novamente, condição que contribui em muito para o processo de
regeneração. Essa prática de construção itinerante das roças observadas
por Wagley (1988), por Adams (2000) e por Mckean & Ostronm (2001), é
fundamental para se restabelecer um novo equilíbrio neste ambiente, que
segundo Dubois (1996):
“(...) a capoeira acumula
progressivamente, na superfície do solo,
nutrientes e húmus e favorece, dessa
maneira, uma boa reciclagem de
nutrientes, a qual preenche um papel
importante na recuperação do solo
aumentando sua porosidade, sua
capacidade de absorver a chuva e o ar,
diminuído, também, o risco de erosão.”
106
O ambiente passou por um processo traumático, ou seja, a derrubada
da mata e, em seguida, a queimada para dar lugar a um produto agrícola.
Ainda nos dias de hoje, o processo de exploração da terra para o
cultivo dos produtos agrícolas persiste em ocorrer sob a mesma forma que
ocorria quando da aquisição da área da sesmaria, em 1908, por parte dos
pioneiros.
Esse modo particular de exploração das áreas de uso comum dentro
da sesmaria Santana está ameaçado, em virtude de vários aspectos
externos e alheios a essa prática de subsistência. Hoje há grandes conflitos
envolvendo essa categoria de agricultores tradicionais. Dentre os principais
pontos conflitantes, há três que surgiram com maior ênfase nos últimos
anos, que são:
1. A delimitação das áreas, que cada agricultor possui,
imposta pelas próprias circunstâncias do momento, pois antes toda a área
era aberta e de uso comum. Hoje, cada agricultor está sobre uma área
delimitada e isso trouxe problemas imediatos. O mais grave é o pouco tempo
de regeneração que as capoeiras possuem, pois com a delimitação das
áreas, o uso dos espaços passou a ser mais intenso, como não há tempo
suficiente para que as capoeiras se regenerem, a conseqüência imediata é a
diminuição significativa da produtividade, sentida e reclamada por todos os
agricultores. Conforme o relato do senhor Cassiano Lopes Viana:
“Antigamente, com a planta de seis litros
de arroz, a gente chegava a colher até
dezoito volumes, o suficiente para
abastecer toda a família por um ano; e se
a família fosse pequena dava até para
emprestar um pouco pro vizinho ou
vender um pouco”. 2. Os aspectos culturais causam fortes interferências,
no dia-a-dia desses agricultores, caminhando lado-a-lado com o processo de
cultivo. Mckean & Ostronm (2001), também reforçam a influência
estabelecida entre a cultura e a maneira de produção. Nas comunidades de
107
Santana e Água Branca observa-se que os agricultores deixam guiar por
aspectos culturais, que começa com a derrubada da mata até chegar à
colheita. O agricultor segue, por exemplo, o calendário lunar, plantando
somente na lua que tradicionalmente julgue correta, ou favorável a
determinado produto. Notadamente algumas vezes, esses agricultores
tiveram perdas relacionadas diretamente a esse aspecto cultural. O senhor
Catulino Lopes Viana, observa que:
“já houve ocasiões onde a demasiada
demora para realizar a colheita do arroz, a
espera da lua adequada, fez com que a
estiagem, fosse embora e se revertesse
em chuva e fazendo com que o arroz
viesse a ter quase que sua totalidade de
perdas, pois, acabou por arder”.
Dentre outros fatos observados, sobre esse aspecto, pode-se citar
como forte exemplo, aquilo que aconteceu com o senhor Máximo Lopes
Viana, quando, no final do ano de 2004 veio a ser mordido por um animal
peçonhento (cobra), e o primeiro recurso a procurar foi a benzedura e
somente dias depois que procurou recursos hospitalares. Porém, segundo
os médicos, a seqüela imediata foi a cegueira total, agravada pela catarata.
Hoje, o senhor Máximo Lopes Viana tornou-se uma pessoa extremamente
dependente de seus parentes para sobreviver, pois não consegue mais
realizar as tarefas mais corriqueiras de seu dia-a-dia.
3. O modelo externo de produtividade é tratado com
muita ênfase, aspecto que vem impondo, nova perspectiva de produção e ao
mesmo tempo vem moldando e servindo de espelho para essa categoria de
agricultores tradicionais. O problema é que esses agricultores não têm
conseguido seguir esse modelo e no primeiro momento a impressão que
fica, segundo depoimentos, é uma certa angústia e aflição por não se
adequar a esse modelo. Há fatos que exemplificam a situação em relação à
criação do gado bovino, em que a exigência do mercado vem introduzindo,
forçadamente a criação do gado da raça nelore. Essa exigência ocorre no
108
momento da venda da produção, no caso os bezerros, pois o mercado
passou a diferenciar monetariamente os animais dessa raça em detrimento
das demais. Isso está fazendo com que esses agricultores, mesmo tendo no
leite uma opção a mais de renda, introduza de maneira cadenciada aquilo
que o mercado vem estabelecendo.
Essa situação enfrentada por essa categoria de agricultores
tradicionais é muito diferente da qual estavam habituados. Quando viviam
em uma comunidade fechada – o Arraial de Santana, não havia delimitações
de cercas na área da sesmaria e as exigências e necessidades de produção
também eram diferentes.
Hoje, em suas unidades de produções, os agricultores tradicionais,
mesmo enfrentando todas essas divergências, têm procurado ao longo de
sua jornada de trabalho, complementar seus rendimentos, com outras
atividades. Uma das alternativas encontradas por esses agricultores é a
utilização de espaços fora de sua unidade de produção. De certa forma um
suporte a mais para sua subsistência, pois nessas áreas que funcionam
como uma extensão de sua unidade produtiva, há possibilidades de
obtenção de vários produtos complementares à subsistência, como, por
exemplo, matéria prima para desenvolver outra atividade, como o
artesanato, ou mesmo áreas para realizarem o cultivo, que por sua vez pode
ocorrer em forma de arrendamento, parceria, meeiro ou mesmo cedida sem
qualquer pretensão financeira em troca. Essa busca do agricultor, fora de
seu espaço territorial, ocasionado pela sua necessidade de sobrevivêmcia é
uma característica do espaço necessário à manutenção da subsistência,
pois a ação do trabalho do agricultor está além dos limites territoriais de sua
propriedade. Nas relações resultantes da exploração espacial realizada
pelos agricultores tradicionais, que abrange todas as áreas de uso para sua
subsistência, é abordado por Azevedo (2001), como espaço funcional.
4.4 Os espaços funcionais dos agricultores tradicionais O espaço funcional utilizado por cada agricultor está sempre
condicionado a inúmeras variáveis, pois o agricultor está sempre buscando
109
suprir suas necessidades básicas em todo espaço que encontre disponível.
Normalmente isso tem ocorrido em áreas próximas, pois assim facilita os
cuidados com o manejo de limpeza e cuidados com os animais silvestres e
os domésticos que por ventura possam atacar suas roças.
O conceito de espaço funcional constitui a soma de todas as áreas de
exploração pelos agricultores tradicionais, quer as áreas que estejam
delimitadas, como sendo de sua propriedade, quer aquelas que utilizem fora
de sua unidade produtiva como forma de complementar sua renda familiar
ou mesmo para atender suas necessidades de subsistência (Azevedo,
2001).
A ocupação do espaço dentro da área da sesmaria de Santana, pelos
agricultores tradicionais remanescentes da antiga colônia ou antigo Arraial
de Santana, apresenta-se como forma primordial de sobrevivência, pois a
cada instante há necessidade de buscar suprir suas necessidades em áreas
de terras fora de seu espaço delimitado. A importância dessa prática reflete
no modo de sobrevivência dos agricultores, que nos últimos anos tem
aumentado a incidência desse mecanismo. Esse fato é perceptível até pelos
agricultores, que afirmam unanimemente. Isso se deve a vários fatores, o
mais notório é a grilagem, pois, segundo o senhor Cassiano Lopes Viana:
“(...) eles, os grileiros desmatam de
forma indiscriminada, espremem a gente
para as furnas de serras e a gente não
tem outra saída, a não ser, se virar”.
Os espaços que os agricultores tradicionais vêm utilizando fora de
suas unidades de produção, como maneira de suprir ou complementar as
necessidades alimentares de suas famílias, constituem, em observação de
Azevedo (2001), como espaço de expansão de cada unidade produtiva.
Essa prática pôde ser observada em todas as unidades produtivas
estudadas: ela torna-se importante estratégia de sobrevivência para as
famílias das localidades – Água Branca e Santana, pois as famílias possuem
poucas ou quase nenhuma possibilidade de conseguir renda proveniente de
outras fontes.
110
A diversificação da renda, que poderia ser gerada dentro das
unidades produtivas, é inexistente. Com isso passam a buscar esse tipo de
alternativa, para aumentar as possibilidades de renda e sobrevivência.
TABELA 15. Áreas cultivadas, para o autoconsumo, pelos agricultores
tradicionais em suas unidades produtivas e fora de sua
unidade produtivas.
ÁREA CULTIVADA
Código
das UPs
Proprietário NA UP
2003/2004 (Em hectares)
FORA DA UP
2003/2004
NA UP 2004/2005
(Em hectares)
FORA DA UP
(2004/2005)
S01 Catulino Lopes Viana 2,94 - 2,04 1,00
S02 Benedito Lopes Viana 2,40 - 1,21 -
S03 Máximo Lopes Viana 0,30 - - -
S04 Cecílio Lopes Viana1 - - - -
S05 Liduvino Lopes Viana1 - - - -
S06 Armindo Lopes Viana1 8,76 1,31 7,94 3,31
S07 Antônio de S. Ribeiro 2,77 2,39 0,73 0,59
S08 Paulo dos A. Martins - 1,35 - 2,67 S09 Gonçalo M. Viana 2,11 - 0,98 -
S10 Antônio V. da Silva2 2,91 - 2,87 -
S11 Dielson V. Silva2 - - - -
A12 André Santana Lopes 2,00 1,00 1,30 0,30
A13 Liduvino Lopes Viana 3,30 2,20 3,40 2,20
A14 Cassiano Lopes
Viana 1,30 - 1,50 -
A15 Luiz Corrêa 0,81 0,25 1,27 -
A16 Angelino da Silva 2,10 - 2,20 -
TOTAL 31,70 8,50 25,44 10,07 1 Produção do grupo familiar do senhor Armindo Lopes Viana (uso comum). 2 Produção do grupo familiar do senhor Antônio Viriato da Silva (uso comum).
111
O uso da força física, como único processo para o funcionamento das
roças, restringe muito a utilização das terras; isso faz com que cada
agricultor tenha em média uma capacidade de aproximadamente 1,87
hectare/ano (Tabela 15).
Para essa categoria de agricultores, o tamanho dessas áreas é
extremamente importante por envolver vários fatores que podem interferir na
produção e na produtividade, como, por exemplo: o baixo uso de insumos
agrícolas, que inclui a não utilização de:
1. Máquinas agrícolas, para o preparo das terras,
2. Defensivos químicos, como: fungicidas e herbicidas, para
contenção de pragas nas roças,
3. Adubos para correção do solo, para o cultivo dos produtos
4. Recursos financeiros de maior vulto destinados ao cultivo.
Esses fatores acabam interferindo de forma negativa, para a
manutenção desses agricultores em suas terras. Entre os vários agricultores,
estudados verificou-se que essas áreas de terras vêm diminuindo em muito
sua capacidade de produtividade, comprometendo assim a sobrevivência
dessas famílias. Esses agricultores estavam habituados a cultivar a terra de
forma itinerante e comunitária, pois a própria área de sesmaria possibilitava
essa prática, hoje a nova conjuntura, que esses agricultores estão
vivenciando, estrangula todo esse processo de produção tradicional. O
surgimento dos grileiros e a delimitação das áreas com cercas de arame,
força-os a cultivar de forma mais sistemática a mesma área, ou seja,
fazendo com que as capoeiras passassem a ter menor tempo de
regeneração. Isso faz também com que se busquem alternativas de
produzir. Umas delas, encontrada é a utilização de espaços fora de sua
unidade de produção.
O espaço funcional não se resume estritamente na ocupação de
espaços fora de sua área delimitada para a produção de roças, com a
finalidade de produzir para o auto-sustento; entretanto, verifica-se maior
complexidade, quando os agricultores tradicionais, além da roça, utilizam
112
espaços para a retirada de madeira, para a construção de cercas, casas,
chiqueiros de porcos; e palhas para cobertura de casas e de outras
atividades dentro de unidades produtivas, que os circunda. Além disso, o
uso desses espaços também complementa outras necessidades de que
necessitam no dia-a-dia, como lenha, destinada ao preparo dos alimentos,
ou ainda a madeira que é utilizada para a fabricação de utensílios
domésticos, como, cochos, gamelas, colheres de pau e pilões.
O espaço funcional proporciona aos agricultores tradicionais muitas
vantagens; a sua ausência colocaria em risco a própria sobrevivência do
agricultor. Um exemplo nítido é o sítio do senhor Antônio de Souza Ribeiro,
que apresenta as seguintes características: pequena propriedade, com 12,5
hectares, em área de cerrado apresentando partes de alagamento, no
período chuvoso, parte como reserva 1,7 hectares e 86,40% da área da
propriedade são cultivas com pastagens de capim humidícula (Brachiaria
humidícula). Essa situação ocorre basicamente por dois motivos:
1) Falta de recursos financeiros, que possibilitariam
investimentos na correção de solo, pois consideram o solo
muito fraco/ruim.
2) Falta de condições de escoamento da produção, pois a
região não é beneficiada com meios de transporte
satisfatórios.
Levando em consideração o tamanho da família do senhor Antônio de
Souza Ribeiro, constituída por cinco pessoas; o tamanho de sua área; a
qualidade do solo e a disponibilidade de recursos financeiros da família;
verifica-se que seu espaço territorial delimitado não oferece condições que
atenda às necessidades básicas de sua família, forçando o agricultor a
buscar espaços de expansão, para cultivar e prover a subsistência familiar.
Dentre os nove agricultores pesquisados, todos utilizam espaços fora
de sua unidade produtiva. No entanto, dois agricultores obtiveram maior
interação com essa prática: os senhores Antônio de Souza Ribeiro e Paulo
dos Santos Martins.
113
O senhor Antônio de Souza Ribeiro cultivou na safra 2003/2004, 2,24
hectares, sendo que desse total apenas 0,19 hectares foram cultivados em
suas terras, as demais áreas de cultivos foram realizadas fora de sua
unidade produtiva. Essa situação é vivenciada por outros agricultores
tradicionais, na sesmaria de Santana. O senhor Antônio de Souza Ribeiro
retrata bem esta situação, pois 73,28 %, ou seja, mais da metade desta área
está destinada a pastagens, mesmo o agricultor possuindo apenas sete
animais bovinos. A sobra da pastagem é aproveitada para arrenda-la aos
vizinhos e com isso garantir uma renda extra para a família. A situação do
agricultor em relação à ocupação de espaços fora de sua unidade produtiva
é muito abrangente em termos de espacialização, uma vez que cultiva áreas
nas propriedades dos senhores Ademar e Gonçalo (Apêndice O).
O Apêndice O representa, graficamente e com clareza, que o senhor
Antônio de Souza Ribeiro, possui áreas de cultivo fora de seu espaço
territorial, o qual denomina-se de espaço que complementa a subsistência
do agricultor ou conforme Azevedo (2001), espaço expandido. O agricultor
explora mais de uma área, pois cultiva banana e mandioca, em terras de
exploração do senhor Gonçalo Lopes Viana. Cultiva ainda, milho, arroz,
milho pipoca e abóbora em terras do senhor Ademar. É importante salientar
que em ambos os casos as terras foram cedidas sem que nada fosse pedido
em contrapartida. No entanto, este espaço funcional é de vital importância
para o agricultor propiciar melhores condições de vida à sua família.
Outra opção encontrada pelo senhor Antônio de Souza Ribeiro refere-
se às inúmeras empreitas de roçados que realiza no decorrer do ano,
também como forma de complementar a renda familiar. O agricultor expôs,
que uma das pessoas para qual realiza trabalhos de roçada de pastagem na
forma de empreita, vem fazendo convites para que ele vá trabalhar no país
vizinho, a Bolívia, onde há mais oferta de emprego e melhores propostas de
remuneração. Segundo o agricultor, isso só não ocorreu ainda porque suas
filhas e sua esposa estão estudando. A preferência é ficar, mesmo
consciente que o local em que está vivendo com a sua família necessita de
muitas melhorias em infra-estruturas.
114
Todo o desdobramento que o agricultor tem feito em busca de
trabalho, a fim de proporcionar melhorias em sua condição social ou mesmo
trabalhando e produzindo em áreas de terras que os vizinhos cedem; a
dedicação de seus filhos nos estudos, mesmo apresentando dificuldades
com a distância e falta de material escolar. Tudo isso contribui
negativamente, desestimulando o agricultor, porém acredita que as tão
sonhadas melhorias virão somente para os seus netos.
A produção que o senhor Antônio de Souza Ribeiro vem realizando
ao longo de sua vida, sem o auxilio de máquinas ou de financiamentos de
órgãos governamentais, dificilmente permitirá a saída do padrão de vida em
que se encontra. Isso porque sua capacidade de produção tanto em suas
terras como em áreas cedidas por vizinhos é de 2,24 hectares/ano, em se
tratando de produção de alimentos para a família (Tabela 6). Essa
capacidade aumenta a medida que o agricultora busca outras forma de
complementar sua subsistência, como por exemplo as empreitas.
Outro aspecto importante está relacionado às áreas que o agricultor
utiliza para o cultivo fora de sua unidade produtiva, que corresponde 2,05
hectares. Neste caso, verifica-se que há uma necessidade espacial maior
para complementar a renda e a alimentação de sua família (Apêndice L).
Além disso, o mapa representa os demais espaços funcionais utilizados para
manutenção de sua família, com destaque para as áreas de cultivo, fora de
sua unidade produtiva.
Na safra 2004/2005, o senhor Antônio de Souza Ribeiro deixou de
cultivar o arroz e o milho e manteve apenas as culturas de mandioca,
banana e cana-de-açúcar, que totalizam uma área de 0,78 hectare, sendo
que desse total, apenas 0,19 hectares estão em sua unidade produtiva, as
outras, 0,59 hectares estão em áreas fora dela, ou seja, em áreas que
denomina de espaço expandido (Azevedo, 2001), fundamental à
manutenção da subsistência desse agricultor.
A situação do senhor Antônio de Souza Ribeiro evidencia a situação
da busca de novos espaços, ou seja, espaço expandido (Azevedo, 2001),
pois, passou a cultivar áreas de terra fora de sua unidade produtiva, onde
115
plantou em áreas de terras do senhor Ademar e em áreas do senhor
Gonçalo Martins Viana (Apêndice O). A área de terra cultivada em sua
propriedade corresponde a uma parcela muito pequena em relação às
necessidades de consumo alimentar, a área per capita foi de 0,55 hectare
para a safra 2003/2004 e de 0,15 hectare para a safra 2004/2005.
A área plantada com arroz e cana-de-açúcar corresponde a 0,19
hectare de terra, que são cultivados sem a utilização dos defensivos
químicos, como: adubos, herbicidas e fungicidas, aspectos que
conseqüentemente interferem na produtividade, fazendo com que haja
diminuição dessa produtividade e interferindo na renda familiar. Isso reforça
a necessidade de buscar áreas de plantio fora de sua unidade produtiva.
O Senhor Paulo dos Anjos Martins possui uma pequena área de terra,
cerca de três alqueires, o que corresponde a 6,6 hectares. Toda a área está
beneficiada com máquina e cultivada com pastagens, onde se cria gado. A
sua produção alimentar vem em sua integralidade de áreas fora de sua
unidade produtiva, como na safra 2003/2004, em terras cedidas pelo senhor
Ademar. Nela cultivou mandioca e arroz. As áreas de abrangência do uso
dos espaços estão próximas à sua moradia, pois, para a safra 2003/2004 o
senhor Ademar cedeu uma área de 1,34 hectares, sendo que desse total,
destinou 0,36 hectare para o plantio de mandioca e 0,98 hectare para o
cultivo consorciado de arroz, abóbora e milho pipoca. Em virtude de não ter
cultivado o milho, neste ano, as despesas aumentaram, pois, a ração para
os animais domésticos, como: galinhas e porcos tiveram que ser adquiridas
através de compra, e isso pesou no orçamento doméstico. A área de cultivo
na safra 2003/2004 (Apêndice Q) está fora da unidade produtiva do
agricultor. O espaço de cultivo fora de sua unidade produtiva é a forma
encontrada pelo agricultor de suprir as necessidades de subsistência da
família.
Na safra 2004/2005, o agricultor, novamente, busca em áreas fora de
sua unidade produtiva novos espaços para realizar o cultivo de subsistência
da família. Para essa safra novamente o senhor Ademar cede outra área de
terra para a produção, com isso ocorre uma expansão da área de produção.
116
No entanto, para que isso ocorresse, houve a necessidade de promover a
limpeza da área destinada à safra 2003/2004 de forma braçal, além de
realizar a limpeza desta nova área com maquinário, ou seja, com a utilização
de um trator que arou e depois nivelou a terra, onde foi destinada ao cultivo
de milho, que corresponde a 1,32 hectare (Tabela 7) e (Apêndice R). A área
total correspondente para a safra 2004/2005 a de 2,66 hectares (Tabela 7),
que segundo o agricultor, se produzir satisfatoriamente trará tranqüilidade
para a família e pensa em até comercializar o excedente. As áreas de
cultivos do agricultor são pequenas e destinadas à subsistência. A área per
capita foi de 0,10 hectares na safra 2003/2004 e de 0,20 na safra 2004/2005
(Apêndice E). Neste caso, o tamanho da família e a idade dos membros são
fatores que exercem forte influência sobre as dimensões da área per capita,
pois o agricultor cultiva áreas de roças em tamanhos similares a de outros
membros da comunidade.
Outros agricultores tradicionais também utilizam a prática de buscar
novos espaços para cultivar e assim garantir a subsistência.
O senhor Catulino Lopes Viana, no ano safra 2003/2004, cultivou
apenas em área de terra de sua propriedade, porém para o ano safra
2004/2005, utilizou áreas fora de sua unidade produtiva.
O senhor Catulino Lopes Viana, para a safra 2003/2004 cultivou uma
área de terra que totalizou 2,94 hectares, sendo que esse total foi assim
distribuído: 0,30 hectare com o cultivo de milho, 1,6 hectare com o cultivo de
arroz, 0,20 hectare com o cultivo de banana e 0,84 hectare com o cultivo de
mandioca (Tabela 2) e (Apêndice H). Para a safra de 2004/2005, deixou de
cultivar o arroz, porém manteve as mesmas áreas do bananal e do
mandiocal (Tabela 2) e (Apêndice F). Entretanto, nesta safra cultivou milho
em terras de um vizinho, que segundo acordo entre ambos, obteve a terra
preparada para o plantio e tendo em contrapartida, o plantio do capim para o
proprietário das terras. Essa área de cultivo correspondeu a 1,0 hectare
aproximadamente e foi cultivado com milho.
A área per capita foi de 1,47 hectares na safra 2003/2004 e de 1,02
na safra 2004/2005.
117
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
5.
FIGURA 30. Casa abandonada da senhora Mariana Lopes Viana – tapera.
FIGURA 32. Palmeira indaiá (Orbignya eichleri Drude), utilizada na cobertura das residências.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
5.
FIGURA 31. Madeira para o reaproveitamento em outras construções. Fo
to: R
. S. B
asto
s-20
05.
Ainda com
relação ao uso e
exploração do espaço,
o agricultor buscou nas
propriedades vizinhas a
disponibilidade da palha
do indaiá (Orbignya
eichleri Drude) (Figura
32), para a cobertura da
ampliação de sua
cozinha. Além disso,
parte do
madeiramento foi
adquirido do
reaproveitamento de
uma tapera, ou seja,
antiga casa
abandonada dentro da
área da sesmaria de
Santana, a casa da
senhora Mariana Lopes
Viana. (Figuras 30 e
31). Essa estratégia se
estende a outros
membros da
comunidade, como
é o caso do senhor
Gonçalo Lopes Viana,
irmão do senhor
Catulino Lopes Viana
que moram e exploram
a mesma área
territorial.
118
No ano de 2005, o agricultor, começou a construir uma nova
residência, pois a que habitava estava comprometida, colocando em risco a
vida de seus familiares.
O senhor Gonçalo Lopes Viana também fez uso do reaproveitamento
do madeiramento da residência abandonada (Figura 31). Dela retirou esteios
de aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All) e barrotes, para a nova
construção.
O senhor Gonçalo Lopes Viana passa a maior parte do tempo
trabalhado fora de sua unidade produtiva. Os trabalhos são variados, no
entanto, as empreitas de roçado são as que apresentam maior freqüência,
normalmente, são realizadas em área fora da sesmaria de Santana, que
contribui para o espaço expandido, pois quase sempre consegue pequenas
áreas para desenvolver o cultivo de algum produto, caracterizando-se como
espaço funcional, pois de certa forma, este espaço está contribuído para a
manutenção e sobrevivência de sua família.
A roça próxima a sua casa, produziu arroz, milho, banana e mandioca
(Apêndice S). Em virtude dos freqüentes trabalhos realizados pelo senhor
Gonçalo Lopes Viana, em outras unidades produtivas, seus filhos
contribuem para a manutenção da roça, principalmente na limpeza (capina).
Os produtos cultivados e o tamanho das áreas refletem na condição
alimentar dos agricultores tradicionais. Verifica-se que as áreas de cultivo
FIGURA 33. Tipos de coberturas encontradas nas residências.
Foto
: R. S
. Bas
tos,
200
5.
No detalhe, aspecto interno da cobertura das residências.
119
são pequenas e que aliado aos inúmeros fatores que interferem na
produtividade, acabam comprometendo a subsistência desses agricultores.
Não houve a preocupação em mensurar a produtividade, porém verificou-se
que entre os agricultores entrevistados, todos foram unânimes a afirmar, que
de tudo o que plantam, sempre há falta na mesa, de um produto ou outro no
decorrer do ano. Isso ratifica a idéia de que esses agricultores em razão
daquilo que produzem e do tamanho das áreas, estão produzindo de forma
insatisfatória para sua subsistência, dessa forma, essa categoria de
agricultores tradicionais se vêem obrigados a buscarem formas alternativas
de suprirem suas necessidades de subsistência.
A Tabela 8 representa graficamente os produtos cultivados pelo
senhor Gonçalo Lopes Viana e suas respectivas áreas, nas safras
2003/2004 e 2004/2005, onde temos as áreas cultivadas, em duas safras
consecutivas. Considerando que a família do senhor Gonçalo Lopes Viana é
constituída por onze pessoas e que apenas três membros da família são
utilizados como força de trabalho; percebe-se que a área per capita, é
extremamente pequena, ou seja, 0,16 hectare na safra 2003/2004 e 0,07
hectare por pessoa na safra 2004/2005. Dessa forma, a manutenção da
subsistência da família desse agricultor só ocorre, tendo em vista, das
buscas de novas alternativas, como por exemplo, os espaços de cultivo fora
de sua unidade produtiva e nas empreitas.
O Senhor Armindo Lopes Viana, juntamente com seus filhos, também
realizam o cultivo em terras fora de sua unidade produtiva. O Ailton Lopes
Viana, seu filho, que ainda está vivendo em sua companhia, cultiva banana e
mandioca em terras do senhor Catulino Lopes Viana, sem ter que dar nada
em troca (Apêndice M). Os seus outros dois filhos, que constituem núcleos
familiares independentes e que moram em sua propriedade, os senhores
Liduvino Lopes Viana e Cecílio Lopes Viana também cultivam em terras de
conhecidos e amigos, inclusive até mesmo fora da área da sesmaria de
Santana. Segundo o senhor Liduvino Lopes Viana, o cultivo fora de sua
unidade produtiva é realizado até em propriedades de pessoas fora de seu
relacionamento. Para que isso aconteça, basta pedir e explicar a situação ao
120
proprietário que cede a área; que pode ser em forma de arrendamento
(pagando percentagem), partilha da produção, ou somente cedida. Porém, o
tempo de permanência é menor do que quando a pessoa é conhecida,
talvez pelo medo da grilagem de terras.
O grupo familiar do senhor Armindo Lopes Viana é o que apresenta
as maiores roças, no entanto, a área per capita foi de 0,58 para a safra
2003/2004 e 0,52 para a safra 2004/2005 (Apêndice E). Novamente o
tamanho da família e a pouca contribuição de seus membros como força de
trabalho, pois, seus filhos ainda são menores de idade, foram fatores que
novamente exercem forte influência sobre a área per capita, provocando
diminuição da mesma.
A relação de exploração da terra observada entre essa categoria de
agricultores tradicionais ocorre por meio de mecanismos complexos, que nos
dias de hoje, dificilmente conseguiríamos compreender sob a lógica
capitalista, onde imperam as leis de mercado. A ocupação e a exploração de
uso, estabelecidas pela família do senhor Benedito Lopes Viana e seu
Irmão, o senhor Máximo Lopes Viana, exemplificam essa situação. As áreas
exploradas pelo senhor Benedito Lopes Viana e seu irmão são de
propriedade do senhor Luciano Silva, que não estabelece nenhum tipo de
exigência financeira, para que ambos explorem a área.
O senhor Luciano Silva adquiriu essas terras da senhora Mariana
Lopes Viana Lopes Viana, tia do senhor Catulino Lopes Viana. O senhor
Luciano Silva não faz uso dessas terras em benefício próprio, entretanto,
permite que as terras sejam exploradas, sem pedir nada em contrapartida.
Desse modo, tanto o senhor Benedito Lopes Viana como o seu irmão, o
senhor Máximo Lopes Viana, vivem explorando as terras, cultivando, arroz,
banana, milho, mandioca, abóbora e cana-de-açúcar. Além disso, criam
animais: bovinos, eqüinos, suínos e aves, ambos para suprir as
necessidades de subsistência da família. A Tabela 3 representa a área
cultivada pelo senhor Benedito Lopes Viana, nas safras 2003/2004 e
2004/2005, onde estão discriminados os produtos e o tamanho de cada área
de produção, incluindo todas as áreas cultivadas pelos membros da família
121
(Benedito e Basílio Lopes Viana), pois tudo o que produz é destinado ao
consumo próprio. De forma geral, o espaço destinado à produção agrícola,
tanto aquele cedido pelo senhor Luciano Silva, como aquele que é utilizado
em áreas de vizinhos, são essenciais para promover a subsistência da
família. A área per capita foi de 0,60 hectare na safra 2003/2004 e 0,30 na
safra 2004/2005, apresentando diminuição de 50%. (Apêndice E).
É nesse espaço que se concentram os esforços para compreender a
lógica e a dinâmica que envolve o uso do espaço. Segundo o senhor
Benedito Lopes Viana:
“Se não fosse a boa vontade do senhor
Luciano Silva em ceder essas terras,
muito provavelmente, estaria encostado
nas cidades passando necessidade ou
em um acampamento de sem terras,
debaixo de uma lona preta. (...) se um dia
o senhor Luciano Silva pedir essas terras,
vou sair, pois, sei que não é minha e ele
já fez muito por mim, até hoje”.
O uso das terras pelo senhor Benedito Lopes Viana e sua maneira de
pensar sobre a propriedade retratam a fidelidade com que o agricultor trata
do cumprimento dos acordos estabelecidos entre a categoria. Isso expressa,
a demonstração de princípios que esse agricultor mantém sobre o uso e a
exploração comum da terra. O espaço de exploração para a subsistência,
inclusive aquele fora de sua unidade produtiva, tem acontecido graças ao
cumprimento desses acordos.
O Senhor Benedito Lopes Viana passou a introduzir de maneira lenta
o capim cultivado para alimentação bovina, pois já possui cinco cabeças de
animais voltados para produção de leite.
A área explorada pelo senhor Benedito Lopes Viana e o senhor
Máximo Lopes Viana aparecem com uma série de pequenas roças
(Apêndice J). A produção está voltada para o consumo de subsistência da
sua família, essas áreas são abertas em capoeiras antigas, que segundo o
122
agricultor, possui entre dois e quatro anos de descanso. Esse tempo em
descanso vem a cada ano diminuído, pois o próprio tempo de permanência
cultivando, na mesma área, também tem diminuído. O Apêndice L
representa a áreas cultivadas do senhor Benedito Lopes Viana na safra
2004/2005.
O agricultor cultiva área de terra cedida pelo senhor Luciano Silva,
portanto, toda a produção ocorre em um espaço territorial que não lhe
pertence de fato. Mesmo assim, na safra 2003/2004, seu filho Basílio Lopes
Viana cultivou 1,0 hectare de roça de arroz, em terras do senhor João
Batista. Em contrapartida, o agricultor plantaria o capim, nesta área de terra
cedida. Apesar do senhor Benedito Lopes Viana não ser possuidor de terras,
foi considerado como um espaço de uso de sua unidade produtiva, pois, a
utilização dessa área, em função do tempo de exploração lhe garante esse
direito. De qualquer forma, o mais importante consiste na prática de uso
comum do espaço, pela família, que em sua abrangência caracteriza a forma
do espaço funcional, cuja abrangência espacial, é necessário para a família,
suprirem suas necessidades de subsistência.
As áreas exploradas pelo agricultor apresentam formatos irregulares,
algumas dessas roças não possuem cercas de proteção contra os animais
(Apêndices J e L). Além disso, cultivam vários produtos em consórcio,
utilizando assim, as áreas abertas de forma mais intensa e segundo o
senhor Benedito Lopes Viana: “de forma mais proveitosa”.
A unidade produtiva do senhor Armindo Lopes Viana é a que possui a
maior área de cultivo, 8,76 hectares na safra 2003/2004 e 7,94 hectares na
safra 2004/2005 , fato que pode ser justificado, tendo em vista que é
possuidor de três indivíduos em atividade de plena força de trabalho. Além
disso, seus outros dois filhos que moram em sua unidade produtiva e
constituem núcleos familiares independentes, permutam dias de serviço, em
períodos de maior necessidade. Mesmo assim, seu filho Ailton Lopes Viana,
que ainda mora na companhia do pai e que produz para a subsistência da
família, cultiva 0,49 hectare de mandioca em terras do senhor Catulino
Lopes Viana (Apêndices M e N).
123
A utilização de espaços fora da unidade produtiva possui tendências
de se tornar uma prática cada vez mais forte, pois os agricultores
tradicionais vêm introduzindo, nas áreas de roças, o capim para a criação de
gado, assim sendo os espaços destinados à agricultura estão se tornando
mais escassos. A substituição das áreas de roças por capim é uma
modalidade que afeta de forma implacável a regeneração das matas através
das capoeiras, pois se não houver esse processo de regeneração,
conseqüentemente, o processo de produção e a subsistência ficam
ameaçados. O exemplo dessa situação pode ser encontrado na unidade
produtiva do senhor Paulo dos Santos Martins, que em função da plantação
integral de pastagens, hoje, se vê obrigado a cultivar em terras de vizinhos
(Apêndices Q e R), porque em sua unidade produtiva não consegue retirar
nem a lenha para preparar os alimentos.
Na localidade de Água Banca, os agricultores também utilizam a
prática de cultivar em terras fora de sua unidade produtiva. No entanto, o
registro dessa prática demonstrou que essas ocorrências estão mais ligadas
à utilização de áreas de vizinhos que estão em processo de formação de
pastagens. Pois, estes cedem as áreas já beneficiadas, ou seja, preparadas
para o plantio, em troca da força de trabalho dos agricultores, que realizam o
plantio da pastagem. A única exceção ocorrida é em relação ao senhor
Cassiano Lopes Viana, pois, sua aposentadoria e aquilo que produz na roça
considera suficiente para se manter. Segundo o senhor Cassiano Lopes
Viana: “Ainda atendo aos vizinhos, quando falta alguma coisa”.
Essa situação vivida pelos agricultores, ou seja, pequenas áreas e
sua delimitação com cercas, fazem com que busquem novos mecanismos
de se reestruturarem dentro de suas unidades produtivas, como forma de
assegurarem sua subsistência. Assim, mesmo tendo adquirido
conhecimentos de manejo estritamente dentro de suas terras, diga-se
sesmaria de Santana, hoje, o que se vê, é a busca incansável de
alternativas para garantir a sobrevivência. Sob essa ótica, o agricultor as
busca de maneira variada, como: o trabalho remunerado (na forma de
empreitas), a troca de dias de trabalhos com os vizinhos, mutirão, produção
124
no sistema de meia, roças em terras de terceiros – cedidas, ou a extração de
produto em áreas adjacentes para as benfeitorias, como por exemplo, a
retirada de palha para a cobertura das casas; madeira para a construção de
cercas, casas currais e outras benfeitorias.
O espaço funcional é o processo de utilização dos recursos naturais
do espaço geográfico, tanto aqueles constituídos por delimitações de
fronteiras, como os que simplesmente são utilizados, de forma comum, pelos
agricultores tradicionais para atender às suas necessidades de subsistência.
A utilização comum do espaço funcional ocorre em toda a área da
sesmaria de Santana, tornando-se uma prática comum, sem distinção deste
ou aquele agricultor. Todos os agricultores tradicionais pesquisados têm
recorrido a essa prática.
4.5 Espacialização e sobreposição das unidades produtivas mapeadas O processo de mapeamento foi realizado com nove agricultores
tradicionais, sendo que destes; três estão explorando a mesma área, que
compreende a unidade produtiva, UP-S06, do grupo familiar do senhor
Armindo Lopes Viana, a qual foi a que maior complexidade apresentou nas
relações de ocupação do espaço, (Apêndices M e N).
Essa complexidade está ligada diretamente à convivência em um
mesmo espaço territorial de três núcleos famíliares. Essas famílias são
constituídas por seus filhos, os senhores Liduvino Lopes Viana e Cecílio
Lopes Viana, que exploram a mesma área de terra, buscando obter a
subsistência para suas respectivas famílias. Mesmo podendo haver conflitos
de interesses sobre as maneiras de explorações e a decisão sobre o que
será explorado nessas áreas, esses grupos de famílias trabalham em
harmonia, respeitando os acordos estabelecidos entre ambos. Segundo o
senhor Armindo Lopes Viana, quando o espaço fica comprometido por
alguma razão, busca-se em áreas de vizinhos a complementação para
garantir a subsistência das famílias.
Os filhos do senhor Armindo Lopes Viana, tanto o Cecílio Lopes Viana
como o Liduvino Lopes Viana, plantam em áreas separadas dentro da
125
propriedade e quando exploram a produção de leite, também utilizam
rebanho próprio e pastagens separadas. A manutenção da pastagem ocorre
de acordo com a necessidade e é feita com a utilização de serviços de todos
os membros do grupo familiar.
Com 54,39 hectares a unidade produtiva do grupo familiar do senhor
Armindo Lopes Viana é a que apresenta a maior área aberta. Sendo que
desse total 7,94 hectares são cultivadas com produtos agrícolas e 46,45
hectares com pastagens. As pastagens são constituídas de capim
braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Maranduva) e humidícola, (Brachiaria
humidícola).
A área destinada ao cultivo corresponde a 8,76 hectares na safra
2003/2004, desse total 1,31 hectares é cultivada em áreas fora de sua
umidade produtiva (Tabela 5). Na safra 2004/2005, a área destinada ao
cultivo é de 7,94 hectares, sendo que desse total 3,31 hectares são
cultivadas fora da unidade produtiva e 3,82 hectares constituem áreas de
expansão, ou seja, novas áreas abertas. Em sua unidade produtiva
praticamente toda a área encontra-se explorada (Apêndices N). As que
ainda não foram são:
1. Duas pequenas áreas de cerrado; uma localizada logo atrás
de sua residência e uma segunda localizada na parte sul da
propriedade. Segundo informações do senhor Armindo
Lopes Viana, a abertura das áreas de cerrado é mais
complicada, pois, normalmente são terras mais fracas, para
plantar o arroz e o milho, além disso, há maior dificuldade
na manutenção dessas áreas. A abertura dessas está
condicionada a utilização de máquinas. No entanto, como o
custo dessa operação é maior que aquele realizado de
forma braçal, o agricultor vem protelando a abertura e
utilização dessas áreas.
2. Partes da mata ciliar, mesmo sendo, áreas de preservação
permanente, já foram explorada, tendo em vista serem as
126
terras de maior fertilidade, segundo informações dos
próprios agricultores.
3. Áreas de maior elevação que se encontram localizadas no
sopé da serra Morraria, constituindo área de preservação
permanente. Porém esse não foi o principal motivo dessas
áreas não terem sido abertas ainda. Essas áreas possuem
forte aclive e dificulta inclusive a formação, manutenção e a
própria efetivação como áreas de pastagens.
O Apêndice N representa a unidade produtiva do grupo familiar do
senhor Armindo Lopes Viana na safra 2004/2005. Representa três pequenas
áreas de expansão. A primeira área está localizada próxima a serra Morraria
e foi cultivada com milho, arroz e abóboras pelo senhor Armindo Lopes
Viana. A expansão agrícola na safra 2004/2005 é de 3,82 hectares. A
segunda e a terceira área de expansão agrícola estão em locais de mata
ciliar. A área que está próxima à residência do senhor Armindo Lopes Viana
foi cultivada com arroz pelo senhor Liduvino Lopes Viana e a que está mais
afastada, próxima à divisa da sesmaria de Inhumas, foi cultivada com arroz,
milho e abóboras pelo senhor Cecílio Lopes Viana. As escolhas dessas
áreas ocorreram em função desses agricultores terem considerado os solos
de maior fertilidade e a proximidade de suas residências. A intenção é
cultivar essas áreas o maior tempo possível e depois introduzir o capim para
alimentação do gado.
Os Apêndices M e N retratam grande irregularidades, na forma de
divisões de pastagens. As cercas são tortuosas e por várias ocasiões há
misturas de diferentes tipos de arames e alguns postes são de árvores
nativas, que servem como postes das cercas. Essa lógica provoca certa
conturbação no aspecto da propriedade. Porém, é justificável, tendo em vista
que esses agricultores são de baixo poder aquisitivo e o reaproveitamento é
uma prática importante, que se sobrepõe à estética. Além disso, a
funcionalidade não deixa de existir.
O Senhor Armindo Lopes Viana vem introduzindo o capim cultivado,
para alimentação bovina, já que as pastagens nativas têm diminuído muito
127
nos últimos anos em razão do processo de delimitação das áreas pelas
cercas que ocorrem tanto por parte dos grileiros das terras da sesmaria
como pelos membros da própria comunidade. As delimitações das áreas
através de cercas ocorrem por vários motivos. Quando se refere aos
grileiros, estas cercas têm basicamente dois objetivos:
1) Demarcar a área de ocupação propriamente dita;
2) Delimitar as pastagens cultivadas, inclusive para favorecer
o próprio manejo dentro dessa área.
As delimitações efetuadas pelos agricultores tradicionais possuem
caráter semelhante aos dos grileiros:
1) Demarcar as áreas de ocupação, onde estão sendo
desenvolvidas suas atividades de subsistência e assim estabelecer
resistência à ocupação de grileiros.
2) Delimitar com cercas suas roças, como forma de proteção
dos animais. Os agricultores tradicionais realizam essa tarefa de duas
maneiras:
a) Com cercas de arame farpado, que normalmente são
provisórias, constituída por três fios de arames,
reaproveitando muitas vezes o madeiramento de antigas
cercas, ou ainda, aproveitando os troncos das árvores
que estão em pé entre as pastagens ou na mata e por
isso, apresentam aspectos tortuosos (Figura 34);
b) Outra maneira do agricultor realizar essa tarefa, ocorre
quando derrubam e queimam a roça, onde utilizam a
própria madeira que não foi queimada para construir a
cerca, e nesse caso possui caráter de proteção contra
os animais, inclusive os silvestres (Figura 35).
O senhor Armindo Lopes Viana, vem explorando suas terras e introduzindo o
capim cultivado, para alimentação bovina. Em vários locais verifica-se a
utilização de máquinas para trabalhar a terra. Porém essa utilização só
ocorre quando a área vai ser definitivamente ocupada com o capim, pois,
128
dessa forma, os agricultores acreditam que irão ter menor custos em
manutenção dessas pastagens.
FIGURA 35. UP-S06 – Cerca de Madeira, reaproveitada da área desmatada, para proteção da roça conta animais domésticos e silvestres.
Foto
: R..S
. Bas
tos,
200
5.
Foto
: R..S
. Bas
tos-
2005
.
FIGURA 34. UP-S06 – Cerca de arame farpado, delimitando pastagens.
A unidade
produtiva do
senhor Catulino
Lopes Viana
apresenta igual
irregularidade
quanto aos
aspectos de
divisões de
pastagens e na
própria forma de
cultivo. No
entanto, isso não
interfere na
praticidade e
manutenção da
subsistência.
Essa lógica de
estruturação
irregular pode
ser encontrada
em todas as
unidades
produtivas. Pois
ela consiste em
praticidade para
atender às
necessidades
que surgem no
129
dia-a-dia. A ocupação espacial da unidade produtiva do senhor Catulino
Lopes Viana segue a mesma forma de exploração e uso das demais áreas
de terras.
Entretanto, verifica-se que a abrangência das áreas abertas em
relação aquelas encontradas em outras propriedades, como por exemplo, a
do senhor Armindo Lopes Viana, apresenta áreas abertas com dimensões
menores (Apêndice I). A explicação para esse fato está centrada em três
aspectos:
1. O uso exclusivo da força física (trabalho braçal) para a
abertura das áreas de produção.
2. Falta de recursos financeiros para financiar a abertura de
novas áreas.
3. Menor intensidade do uso das áreas abertas, favorecendo
assim, a renovação das matas, através das capoeiras.
A não utilização de maquinários favorece o surgimento das capoeiras
e com isso a regeneração da mata. Portanto, a área do senhor Catulino
Lopes Viana apresenta um número maior de capoeiras com períodos de
regeneração superior às demais áreas. Este é uma aspecto importante para
o agricultor, que passa a ter, após alguns anos, nova possibilidade de
produção agrícola, em áreas já regeneradas, a um custo financeiro menor,
pois o ambiente se encarregou de recompor parte dos nutrientes exauridos
do solo.
As terras do senhor Catulino Lopes Viana apresentam grande parcela
de cerrado campo, ou seja, o capim nativo está provocando o adiamento a
introdução do cultivo do capim, situação vista em outras propriedades,
principalmente na Localidade de Água Branca. As características do cerrado,
encontradas na área do senhor Catulino Lopes Viana, contribuem para a
manutenção da vegetação de capoeiras, pois o agricultor remaneja o gado
para as áreas de capim nativo. Com isso o cultivo do capim nas áreas das
roças é realizado de forma mais lenta, retardando o a substituição da
vegetação nativa por capim.
130
A área total aberta do senhor Catulino Lopes Viana, na safra
2003/2004 é de 6,10 hectares, sendo que desse total 0,49 hectare foi
destinado ao plantio da roças do vizinho (Ailton Lopes Viana, filho do senhor
Armindo Lopes Viana); 1,67 hectares destinados ao plantio de capim e o
restante 2,94 hectares ao cultivo de produtos agrícolas (Apêndice H). Na
safra 2004/2005, o senhor Catulino Lopes Viana, não abriu novas áreas de
terra, pelo contrário, deixou que as áreas de milho e arroz virassem
capoeiras (Apêndice I). Nesta safra, para não ficar sem produzir, a estratégia
foi o cultivo de 1,0 hectare de milho, fora de sua unidade produtiva. Em sua
unidade produtiva cultivou apenas mandioca, banana, abóbora, maxixe e
quiabo.
A unidade produtiva do senhor Benedito Lopes Viana também
apresenta grande quantidade de capoeiras em processo de regeneração
(Apêndices J e L). Suas roças são pequenas e isso provoca maior
rotatividade no cultivo dos produtos agrícolas, aspecto que favorece o
ambiente das capoeiras, esse mesmo aspecto é enfatizado por DUBOIS
(1996). As áreas de cultivo do senhor Benedito Lopes Viana são em locais
de capoeiras. Essa quantidade maior de capoeiras é em decorrência da
exploração mais antiga, cerca de vinte e cinco anos. Além disso, somente
nos últimos três anos é que passou a introduzir o capim para a criação de
gado. Este procedimento de cultivo itinerante, utilizando as capoeiras, tem
contribuído para o retardamento do processo de substituição da vegetação
nativa por capim.
As áreas de capoeiras estão espalhadas por todas a unidade
produtiva do agricultor, que vão desde o entorno de sua residência até áreas
mais afastadas (Apêndice J). Essas capoeiras apresentam vários estágios
de repousos, algumas chegam a oito anos, que pelo aspecto apresentado,
em função de sua exuberância, praticamente já se transformou em mata.
A unidade produtiva do senhor Antônio de Souza Ribeiro apresenta a
substituição da vegetação por capim cultivado em sua maior parte. O
agricultor utiliza o trator para o preparo da terra e com isso não se verifica a
existência de capoeiras em sua propriedade, a única área que possui
131
características que se assemelha a uma capoeira, foi trabalhada com
máquina. Foi desmatada e posteriormente a arou e gradeou-a. Em virtude
da intensa agressão que a máquina provoca ao realizar seu trabalho, esta
pequena parcela possui apenas ramagens esparsas e de pequeno porte,
mesmo um ano de pousio.
Na safra 2003/2004, o senhor Antônio de Souza Ribeiro
cultivou em sua unidade produtiva, apenas 0,19 hectare, de cana-de-açúcar
consorciada com arroz (Apêndice O). As demais áreas de sua propriedade
são cultivadas com capim humidícola (Brachiária humidícola) destinado ao
consumo dos animais. Além disso, existe uma pequena área com mata
nativa que ainda não foi derrubada, no entanto, o madeiramento de maior
valor comercial e de melhor aproveitamento na propriedade, esses sim já
fora retirados desta área.
A produção agrícola do senhor Antônio de Souza Ribeiro está
centrada em sua grande maioria nas áreas fora de sua unidade produtiva
(Apêndices O e P). Na safra 2004/2005, o agricultor deixou de cultivar milho
e arroz, manteve apenas as áreas de mandioca, banana e cana-de-açúcar,
ambas por terem ciclo de maior duração. O agricultor depende das áreas
fora de sua unidade produtiva, para realizar o cultivo de subsistência, uma
vez que as condições de sua propriedade, não lhe garantem boa
produtividade e sua condição financeira não lhe permite realizar
investimentos constantes, na propriedade em vista de obter melhor
produtividade.
A unidades produtivas do senhor Paulo dos Anjos Martins, apresenta
em sua integralidade o cultivo de capim braquiarão (Brachiária brizantha cv.
Maranduva) (Apêndice Q). Toda a propriedade foi desmatada e cultivada
com capim para o gado. O agricultor se tornou extremamente dependente de
espaços territoriais fora de sua unidade produtiva. Essa dependência vai
desde a madeira para a lenha, que é utilizada para o preparo dos alimentos
até o próprio alimento que é consumido pela família. O senhor Paulo dos
Anjos Martins, não possui espaço territorial suficiente, em sua unidade
132
produtiva, que suporte toda a criação bovina, que ultrapassa cinqüenta
animais, e ainda cultivar os produtos destinas à alimentação.
Nos Apêndices Q e R verifica-se que a unidade produtiva do
agricultor não apresentou nenhuma alteração, quanto à introdução ou
práticas de cultivos. A área aberta encontra-se ocupada com capim
braquiarão (Brachiária brizantha cv. Maranduva) e assim permaneceu.
133
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A complexidade das ações que envolvem o modo de exploração das
unidades produtivas dos agricultores tradicionais requer que se considere:
1. Os aspectos culturais que exercem forte influência sobre o
modo de produção agrícola;
2. A utilização das práticas de uso comum, dessa categoria de
agricultores tradicionais, mesmo estando com suas áreas
delimitadas;
Capoeira com 4 ano
Capoeira com 2 ano
Capoeira com 1 ano
Produto agrícola
Roça de toco
Mata
FIGURA 36. Síntese do ciclo de regeneração, da vegetação nativa, realizado pelas capoeiras.
3. A prática da
agricultura
itinerante, onde
ocorre a
renovação da
natureza através
das capoeiras
(Figura 36),
contribui de
maneira decisiva
para a
manutenção da
subsistência dos
agricultores;
134
4. A constante busca dos agricultores tradicionais, de espaços
fora de sua área delimitada para suprir suas necessidades de
subsistência;
5. O cultivo de pequenas áreas, representados nos Apêndices H,
I, J, L, M, N, O, P, Q, R, S, e T;
6. Os agricultores, possuem estratégias diferentes e diversificadas
para conseguirem a subsistência.
135
6 CONCLUSÃO
A pesquisa revelou que as unidades produtivas dos agricultores
tradicionais possuem uma estrutura de grande complexidade, por apresentar
relação muito forte com os conhecimentos empíricos e com aspectos
culturais que orientam o processo de produção. No entanto, essa
interferência, não revelou riscos ao modo tradicional de cultivo e nem
constitui ameaça à subsistência desses agricultores. No entanto, O uso
comum dentro da área da sesmaria de Santana está ameaçado, devido ao
cercamento, à modernização e aos fatores culturais.
As áreas de sesmaria possuem características peculiares de uso
comum, que refletem na manutenção e na promoção à sobrevivência dos
agricultores, apesar de ter sofrido danos à sua estrutura de funcionamento.
Essa categoria de agricultores tradicionais se mantém sobre
pequenas áreas de roças: a área per capita das roças foi de: 0,45 ha/hab na
safra 2003/2004 e 0,40 ha/hab na safra 2004/2005.
O espaço espandido constitui uma forma eficiente encontrada por
esses agricultores para atender suas necessidades de subsistência, uma
vez que as delimitações fronteiriças se tornaram práticas comuns, porém
contrárias à produção agrícola em área de uso comum.
A delimitação das áreas, com cerca, constitui entrave para a prática
de uso comum, porém não impediu essa ocorrência.
Há necessidade de acompanhamento da evolução comportamental
da ocorrência da prática de uso comum nesta localidade.
136
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140
10 APÊNDICES
141
APÊNDICE – A
1UP – Unidade produtiva.
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS DOS AGRICULTORES I – INFORMAÇÕES ESPECÍFICAS E DIRETAS
NOME DO AGRICULTOR (informante)
IDENTIFICAÇÃO DA UP1 1. 2. 3. 4.
CONSTITUIÇÃO FAMILIAR
5. RENDA FAMILIAR (2003/2004) ESCOLARIDADE DO INFORMANTE
1. 2. 3. 4.
ESCOLARIDADE DOS FAMILIARES
5. FORMA DE AQUISIÇÃO DA TERRA
QUE PRODUTOS CULTIVAM
ÁREA CULTIVADA NA UP ÁREA CULTIVADA FORA DA UP ÁREA TOTAL CULTIVADA NA UP
ESPÉCIES QUANTIDADE
TIPOS DE ANIMAIS DE CRIAÇÃO
ENTREVISTADOR DATA / /
142
- Áreas de Cultivo - Capoeiras - Áreas de pastoreio
- senhor Catulino Lopes Viana - senhor Cassiano Lopes Viana
APÊNDICE – B
II. INFORMAÇÕES INDIRETAS (RESQUÍCIOS/SINAIS)
- do antigo Arraial de Santana 1. LOCALIZAÇÃO - das moradias antigas NA SESMARIA - das antigas unidades de manejo
2. LOCALIZAÇÃO DAS MORADIAS ATUAIS 3. LOCALIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS E LOCAIS DE USO COMUM (Casa de farinha, engenho, currais, roças, escolas, igrejas,)
- Individual (com cada agricultor) 4. ROTA MIGRATÓRIA DENTRO DA SESMARIA DE SANTANA
- Com informantes chave -
5. FORMAS DE PROVER A SUBSISTÊNCIA FAMÍLIAR. 6. SISTEMA DE PRODUÇÃO/CULTIVO QUANDO A SESMARIA ÉRA EXPLORADA APENAS PELOS MEMBROS FAMILIARES. (USO COMUM)
143
Continuação do Apêndice B
7. IDENTIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO/CULTIVO NOS DIAS ATUAIS.
144
APÊNDICE – C
III. MAPEAMENTO DAS UNIDADES PRODUTIVAS (2003/2004)
1. LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS EXTREMOS DA SESMARIA DE SANTANA
2. LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE CADA UNIDADE PRODUTIVA.
3. LOCALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS UNIDADES DE MANEJO DENTRO DA UNIDADE PRODUTIVA.
4. LOCALIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS UNIDADES DE MANEJO FORA DA UNIDADE PRODUTIVA.
145
APÊNDICE – D
IV. MAPEAMENTO DAS UNIDADES PRODUTIVAS (2004/2005)
1. IDENTIFICAÇÃO NAS UNIDADES PRODUTIVAS, DAS ALTERAÇÕES SOFRIDAS PELAS UNIDADES DE MANEJO ENTRE UMA SAFRA E OUTRA.
146
APÊNDICE – E
Representação da área cultivada, por cada agricultor, nas safras 2003/2004
e 2004/2005 e as respectivas áreas Per capita.
ÁREA CULTIVADA
Código
das UPs
Proprietário Safra
2003/2004 Em hectares
ÁREA Per Capita
2003/2004
Safra 2004/2005 Em hectares
ÁREA Per Capita
2004/2005
S01 Catulino Lopes Viana 2,94 1,47 2,04 1,02
S02 Benedito Lopes Viana 2,40 0,60 1,21 0,30
S03 Máximo Lopes Viana 0,30 0,15 - -
S04 Cecílio Lopes Viana1 - - - -
S05 Liduvino Lopes
Viana1 - - - -
S06 Armindo Lopes
Viana1 8,76 0,58 7,94 0,52
S07 Antônio de S. Ribeiro 2,77 0,55 0,73 0,15
S08 Paulo dos A. Martins 1,35 0,10 2,67 0,20
S09 Gonçalo M. Viana 2,11 0,16 0,98 0,07
S10 Antônio V. da Silva2 2,91 0,32 2,87 0,31
S11 Dielson V. Silva2 - - -
A12 André Santana Lopes 2,00 0,40 1,30 0,26
A13 Liduvino Lopes Viana 3,30 0,55 3,40 0,56
A14 Cassiano L. Viana 1,30 1,30 1,50 1,50
A15 Luiz Corrêa 0,81 0,20 1,27 0,32
A16 Angelino da Silva 2,10 0,26 2,20 0,27 1 Produção do grupo familiar do senhor Armindo Lopes Viana (uso comum). 2 Produção do grupo familiar do senhor Antônio Viriato da Silva (uso comum).
147
APÊNDICE – F Unidade de medidas encontradas e utilizadas na sesmaria de Santana pelos
agricultores tradicionais.
Tipos de medidas (valores unitários)
Unidades de medidas correspondentes
Hectare 10.000 m2 (100 x 100 metros)
Alqueire 2,2 hectares
Braça 2,2 metros
Palmo 22 centímetros
Polegada 2,54 cm
Carro Medida utilizada para a cultura do milho – 1 carro
corresponde a 40 balaios, que equivale
aproximadamente a 11 sacas de 60 kg milho.
Jaca ou Balaio Medida utilizada para a cultura do milho, que
corresponde a 120 espigas de milho.
Mão Medida utilizada para a cultura do milho, que
corresponde 12 espigas de milho.
Litro Medida correspondente a 302,5 m2 (1 alqueire = 80
Litros)
Tarefa Áreas correspondentes a 12 m2 ou a 15 m2, essa tarefa
também pode ser correspondente em braças.
Uma quarta (1/4)
Medida correspondente a ¼ de hectare ou 2500 m2 (25
x 25 metros), quando se trata de hectares; ou a metade
de meio alqueire (75 x 73,35 metros), quando se trata
de alqueire.
Volume Não é uma medida que estabelece um valor
quantitativo específico. Corresponde a quantidade que
o recipiente consegue receber.
Saca 60 Kg