2 - Caderno 1 - Organização Do Trabalho Pedagógico

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Caderno 01 Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Diretoria de Apoio à Gestão Educacional Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO Brasília 2014 PNAIC_MAT_Caderno 1_pg001-072.indd 1 21/3/2014 14:20:32

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  • Caderno 01

    Ministrio da EducaoSecretaria de Educao Bsica

    Diretoria de Apoio Gesto Educacional

    Pacto Nacional pela Alfabetizao

    na Idade CertaORGANIZAO DO

    TRABALHO PEDAGGICO

    Braslia 2014

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  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Centro de Informao e Biblioteca em Educao (CIBEC)

    Brasil. Secretaria de Educao Bsica. Diretoria de Apoio Gesto Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa: Organizao do Trabalho Pedaggico / Ministrio da Educao, Secretaria de Edu-cao Bsica, Diretoria de Apoio Gesto Educacional. Braslia: MEC, SEB, 2014. 72 p.

    ISBN 978-85-7783-146-3

    1. Alfabetizao. 2. Alfabetizao Matemtica. 3. Organizao do Trabalho Pedaggico.

    MINISTRIO DA EDUCAOSecretaria de Educao Bsica SEBDiretoria de Apoio Gesto Educacional DAGE

    Tiragem 362.388 exemplares

    MINISTRIO DA EDUCAOSECRETARIA DE EDUCAO BSICA Esplanada dos Ministrios, Bloco L, Sala 500CEP: 70.047-900Tel: (61) 2022-8318 / 2022-8320

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  • Sumrio

    ORGANIZAO DOTRABALHO PEDAGGICO

    05 Iniciando a Conversa

    06 Aprofundando o Tema

    06 Organizao do trabalho pedaggico para a Alfabetizao Matemtica

    07 Diferentes formas de planejamento

    16 Organizao da sala de aula: fazendo a aula acontecer

    27 O fechamento da aula

    40 Compartilhando

    65 Para Saber Mais

    65 Sugestes de Leituras

    68 Sugestes de Vdeos

    68 Sugesto de Entrevista

    69 Sugestes de Atividades para os Encontros em Grupos

    70 Atividades para Casa e Escola

    71 Referncias

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  • CADERNO 1 | ORGANIZAO DO TRABALHO PEDAGGICO

    Organizadores:Carlos Roberto Vianna, Emerson Rolkouski

    Autores:Adair Mendes Nacarato, Crmen Lcia Brancaglion Passos, Regina Clia Grando

    Autores dos Relatos de Experincia:Cidinia da Costa Luvison, Daniela Aparecida de Souza, Eliana Rossi, Elizangela da Silva Galvo, Ida Maria Marassatto, Mariana Pellatieri, Selene Coletti

    Comit Gestor:Adilson Oliveira do Esprito Santo, Liane Teresinha Wendling Roos, Mara Sueli Simo Moraes

    Consultores: Alexandrina Monteiro, Alina Galvo Spinillo, Antonio Jos Lopes, Celi Espasandin Lopes, Cristiano Alberto Muniz, Gilda Lisba Guimares, Maria da Conceio Ferreira Reis Fonseca, Maria Tereza Carneiro Soares, Rosinalda Aurora de Melo Teles

    Pareceristas ad hoc:Adail Silva Pereira dos Santos, Adriana Eufrasio Braga Sobral, Ana Marcia Luna Monteiro, Carlos Eduardo Monteiro, Cecilia Fukiko Kamei Kimura, Clarissa Arajo, Gladys Denise Wielewski, Iole de Freitas Druck, Lilian Nasser, Maria Jos Costa dos Santos, Paula Moreira Baltar Bellemain, Paulo Meireles Barguil, Rute Elizabete de Souza Rosa Borba

    Leitores Crticos: Camille Bordin Botke, Enderson Lopes Guimares, Flavia Dias Ribeiro, Helena Noronha Cury, Laza Erler Janegitz, Larissa Kovalski, Leonora Pilon Quintas, Luciane Ferreira Mocrosky, Luciane Mulazani dos Santos, Marcos Aurelio Zanlorenzi, Maria do Carmo Santos Domite, Michelle Tas Faria Feliciano, Nelem Orlovski

    Apoio Pedaggico:Laza Erler Janegitz, Nelem Orlovski

    Reviso:Clia Maria Zen Franco Gonalves

    Projeto grfico e diagramao:Labores Graphici

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    Iniciando a Conversa

    As diferentes unidades que compem o conjunto de Cadernos de Formao de Alfabetizao Matemtica visam proporcionar ao professor um repertrio de saberes que possibilitem desenvolver prticas de ensino de matemtica que favoream as aprendizagens dos alunos.

    A elaborao e execuo dessas prticas requer que se pense em modos de organizao do trabalho pedaggico que situem o aluno em um ambiente de atividade matemtica, possibilitando que ele aprenda, alm de codificar e decodificar os smbolos matemticos, a realizar variadas leituras de mundo, levantar conjecturas e valid-las, argumentar e justificar procedimentos.

    A sala de aula que vise Alfabetizao Matemtica do aluno, tal como concebida neste material, deve ser vista como um ambiente de aprendizagem pautado no dilogo, nas interaes, na comunicao de ideias, na mediao do professor e, principalmente, na intencionalidade pedaggica para ensinar de forma a ampliar as possibilidades das aprendizagens discentes e docentes. Tal intencionalidade requer um planejamento consistente do professor, uma sala de aula concebida como uma comunidade de aprendizagem e uma avaliao processual e contnua do progresso dos alunos, bem como dos vrios fatores intervenientes no processo como: a prtica do professor, o material e a metodologia utilizados, dentre outros.

    Desse modo, os objetivos deste caderno so:

    caracterizar a comunidade de aprendizagem da sala de aula com vistas Alfabetizao Matemtica de todos os alunos;

    destacar a intencionalidade pedaggica como elemento essencial no processo de alfabetizao;

    apontar possibilidades para a organizao do trabalho pedaggico;

    compartilhar vivncias de professores que buscam garantir os Direitos de Aprendizagem de Matemtica de todos os alunos.

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  • O R G A N I Z A O D OT R A B A L H O P E D A G G I C O

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    Aprofundando o Tema

    ORGANIZAO DO TRABALHO PEDAGGICOPARA A ALFABETIZAO MATEMTICAAdair Mendes NacaratoCrmen Lcia Brancaglion PassosRegina Clia Grando

    No primeiro ciclo de alfabetizao a sala de aula um ambiente formativo que ocupa uma posio central no processo de alfabetizao para as crianas do Ensino Fundamental. Alm disso, deve-se considerar que o direito alfabetizao um processo social e cultural mais amplo que inclui, alm da aprendizagem da leitura e da escrita, a Alfabetizao Matemtica.

    A sala de aula deve se constituir como um espao no qual as crianas ficaro imersas no processo de apropriao da leitura e da escrita da lngua materna, bem como da linguagem matemtica, com ampla exposio dos alunos aos materiais impressos que nos envolvem cotidianamente e possibilitam explicitar a funo social da escrita. Veremos a importncia da presena nesse espao de materiais que remetam tambm para a funo social da Matemtica, como: grficos, tabelas, informaes numricas diversas, etc.

    As brincadeiras e as expresses culturais da infncia precisam estar presentes na sala de aula de modo a t-la como um ambiente formativo/alfabetizador privilegiado e como um local em que ocorrem interaes e descobertas mltiplas, repletas de significao. Nesse sentido, importante que o professor, no momento de organizar a sala como um espao para a Alfabetizao Matemtica, considere que brincar, imaginar, expressar-se nas mltiplas linguagens so direitos da criana, que contribuem para a aprendizagem e para o desenvolvimento delas.

    Na Alfabetizao Matemtica, esse movimento de trazer para as aulas as experincias vividas imprescindvel, pois conhecendo e respeitando as culturas da infncia que o professor ter melhor condio para dar sequncia s falas dos alunos. nesse sentido que entendemos a sala de aula como uma comunidade de aprendizagem, onde alunos e professores aprendem de forma colaborativa.

    Pensar a organizao do trabalho pedaggico para a Alfabetizao Matemtica envolve as diferentes formas de planejamento, desde a organizao da sala at o fechamento da aula, entendidos de forma articulada e que orientam a ao do professor alfabetizador. O planejamento pode ser pensado como espao de antecipao do que dever ser feito o planejamento anual ou ainda como espao de reviso continuada do que ocorre em sala de aula (planejamento bimestral e similares), chegando ao planejamento semanal. Veremos em seguida cada uma dessas formas de planejamento e, depois, na continuao, trataremos da abertura da aula, da organizao da sala e do fechamento das atividades.

    Neste e nos demais cadernos que

    compem esse material de formao, no ser

    retomada a perspectiva de Alfabetizao Matemtica que

    permeia o programa, tendo em vista que a

    mesma est explicitada no Caderno de Apresentao.

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    DIFERENTES FORMAS DE PLANEjAMENTOUm dos elementos centrais para o sucesso escolar, em especial no ciclo de

    alfabetizao, o desempenho e as atribuies assumidas e conferidas aos professores. Acreditamos na capacidade do professor em desenvolver sua prtica com qualidade e de forma coerente atravs do dilogo com seus pares na escola e com os materiais curriculares. Cremos que o planejamento um dos meios para se programar as aes docentes, um momento inicialmente pensado no coletivo da escola, que requer conscincia do que se deseja fazer durante o ano letivo.

    Para que o planejamento se torne um orientador da ao docente, ele precisa refletir um processo de racionalizao, organizao e coordenao do fazer pedaggico, articulando a atividade escolar, as prticas culturais e sociais da escola, os objetivos, os contedos, os mtodos e o processo de avaliao. Esse planejamento deve ter o trabalho coletivo da comunidade escolar como eixo estruturante, sendo a coordenao pedaggica a instncia de formao e consolidao do coletivo da escola.

    O planejamento, tanto o anual como os demais produzidos ao longo do perodo, e o planejamento semanal do professor devem ser dinmicos e flexveis de modo a serem revistos sempre que necessrio, atendendo aos imprevistos e aos acontecimentos do cotidiano escolar. Apresentamos, a seguir, algumas orientaes sobre cada um desses planejamentos.

    Planejamento anualO planejamento anual dever ser produzido no coletivo da escola, compartilhado

    entre professores do ciclo de alfabetizao e a coordenao pedaggica. Para tal, ser necessrio conhecer o que e como os professores dos anos anteriores trabalharam. No se trata de levantar o perfil de cada aluno, mas de ter uma noo a respeito dos conhecimentos nos quais a turma avanou, saber se os objetivos planejados foram atendidos no conjunto da turma, ter conscincia do que precisa ser melhorado, quais as lacunas que foram percebidas e quais conceitos no foram apropriados ou atingidos no ano anterior. Alguns registros produzidos ao final do ano devem estar disponveis para consulta. Nesse sentido, o trabalho ganha legitimidade quando organizado de modo coletivo e numa perspectiva colaborativa, em que cada professor interfere e contribui para a construo do planejamento para cada um dos anos do ciclo de alfabetizao.

    A escolha de contedos matemticos leva em conta documentos oficiais e deve estar intimamente vinculada construo do planejamento pedaggico pelo coletivo da escola. Isso significa organizar a aula de maneira intencional, portanto, planejada, criativa, capaz de produzir efeitos positivos para a aprendizagem dos alunos. Esse trabalho intencional mais do que fazer um planejamento de contedos a serem trabalhados, pois reflete a postura do professor que buscar dialogar o tempo todo com a turma, obtendo indcios do que o aluno sabe a respeito daquilo que ele intenciona ampliar/ensinar.

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    Como assinala Serrazina (2012, p. 273), o professor que ensina Matemtica no ciclo de alfabetizao necessita ter conhecimento do currculo de Matemtica com o qual tem que trabalhar, precisa identificar a Matemtica essencial e pertinente a ser ensinada aos seus alunos em cada ano, tomando como referncia o ano anterior e o posterior vivido pelo aluno. Alm disso, compete a ele selecionar/adaptar tarefas com critrio, escolher os recursos e pensar em estratgias da aula, no esquecendo o nvel etrio dos alunos com quem est a trabalhar.

    Ao eleger os contedos matemticos que sero tratados durante o ano letivo, o conjunto de docentes do ciclo da alfabetizao debater a respeito das abordagens metodolgicas e da organizao da sala de aula para que tais contedos sejam desenvolvidos. Essas etapas necessitam ser pensadas no momento do planejamento anual e revistas no momento dos demais planejamentos ao longo do ano letivo. Esses contedos precisam ser discutidos e escolhidos, por exemplo, em funo do material do Pacto, do livro didtico enviado pelo PNLD, das obras complementares da escola, dos livros de literatura infantil, dos projetos da escola, das diretrizes curriculares, das matrizes de avaliaes em larga escala, de revistas especializadas e de outros recursos. Alm disso, as informaes sobre onde se encontra o coletivo dos alunos da turma ou sobre onde deveriam estar no currculo devem ser consideradas para que os professores planejem o que necessita ser ampliado/ensinado.

    importante considerar que o planejamento flexvel, pois:

    O cotidiano da sala de aula tempo/espao de imprevisibilidade.

    O professor frequentemente se encontra diante de situaes comuns que alteram a dinmica da sala de aula, interferindo no processo ensino/aprendizagem. O planejado, vai sendo atravessado pelos fatos que se impem ao previsto, criando novas demandas, novas possibilidades, novos obstculos, fazendo com que o preestabelecido precise ser constantemente revisto e reorganizado. (ESTEBAN, 2001, p. 172)

    Dessa maneira, h que se considerar a flexibilidade como uma das caracterticas de um planejamento adequado.

    Planejamento durante o perodo letivoOs momentos de planejamentos compartilhados so extremamente importantes

    para o coletivo da escola e para os professores que atuam nos mesmos anos do ciclo da alfabetizao, por darem a conhecer como as diferentes turmas esto acompanhando a proposta pedaggica elaborada pela comunidade escolar. Alm disso, professores de diferentes anos podero discutir sobre a nfase dada a cada bloco de contedos, permitindo ao professor do ano seguinte reforar o trabalho com determinados conceitos que foram insuficientemente trabalhados.

    importante que ocorra uma avaliao de como foi o perodo, de modo que os professores possam projetar como ser o futuro das aes pedaggicas, sempre pensando onde o aluno est e onde deveria estar no currculo. O que fazer com os alunos que ainda no esto onde deveriam estar? A resposta a essa questo tambm precisa ser debatida no coletivo da escola. Sabe-se que os alunos aprendem de

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    modos diferentes e tm tempos diferentes de aprendizagem. No basta o professor repetir as mesmas estratgias para ensinar contedos em que identificou lacunas. Ser necessrio criar estranhamentos e novas estratgias de ensino de modo que os alunos sintam-se desafiados a avanar.

    Os professores podero perceber o desenvolvimento do aluno ao criar um ambiente favorvel comunicao e debates de ideias. Esse ambiente dever fazer parte das aulas de Alfabetizao Matemtica, sobretudo pela forte presena da oralidade. Pode-se dizer que, nesse planejamento, a intencionalidade do professor para trabalhar as noes pertinentes ao conhecimento matemtico precisa ficar explcita, deixando claro o que os alunos sabem a respeito e se compreenderam a proposta; ativar os conhecimentos prvios teis para a compreenso da proposta; estabelecer com eles as expectativas desejadas; possibilitar que os estudantes construam seu conhecimento, evitando antecipaes desnecessrias ou situaes que pouco ou nada contribuem para o conhecimento j construdo; escutar cuidadosamente os alunos, interpretando suas formas de raciocinar; fornecer sugestes adequadas; observar e avaliar o processo; possibilitar que os estudantes debatam sobre o assunto, cabendo ao professor encorajar a formao de uma comunidade de aprendizagem em sala de aula.

    medida que o professor vai ajustando seu discurso s questes apresentadas pelos alunos, contribui para que estes construam novos conhecimentos. Essa postura em nada se parece com a de transmisso ou informao de conceitos e teorias. Professor, a vida das aes docentes se sustentam no preparar e planejar cuidadosamente as aulas semanalmente.

    Planejamento semanalColocar o planejamento em ao no cotidiano das aulas do ciclo da

    alfabetizao requer que sejam elaborados planos de aulas a respeito do que ser trabalhado em Matemtica durante a semana, indicando os objetivos esperados para o aprendizado dos alunos. Dependendo do contedo que ser trabalhado, preciso pensar desde questes relativas necessidade e possibilidade de fornecer materiais impressos em tempo adequado at sobre a organizao do espao da sala de aula: os alunos trabalharo individualmente? Em duplas? Em grupo? Como ser a disposio das carteiras em cada situao? O mobilirio da escola favorece diferentes organizaes? O espao da sala de aula possibilita as arrumaes das carteiras de modo que favorea a interao entre os alunos e o professor? Os materiais de uso coletivo esto colocados ao alcance dos alunos possibilitando a iniciativa e a autonomia para escolhas?

    O planejamento semanal deve ser organizado a partir do trabalho realizado na semana anterior. O professor regente ser, sempre, a melhor pessoa para avaliar o que precisa ser retomado e criar estratgias para que essa retomada atinja o objetivo: a aprendizagem e Alfabetizao Matemtica dos alunos. Para atingir esse objetivo mais geral, necessrio que o professor tenha em mente objetivos especficos relativos a cada semana, em relao a um dado item do currculo ou contedo a ser trabalhado.

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    O que ser trabalhado na semana precisa contribuir para a continuidade da aprendizagem dos alunos, de modo que eles avancem e ampliem o conhecimento matemtico. Ao elaborar as sequncias de atividades, ser necessrio pensar como essa sequncia pode contribuir para a construo dos conceitos que sero trabalhados naquela aula. Os objetivos de aprendizagem necessitam estar explcitos no planejamento para que os alunos compreendam os contedos. As estratgias metodolgicas e os recursos didticos necessrios para que ocorra aprendizagem devero ser coerentes com o contedo que se pretende ensinar.

    O professor pode no possuir todas as respostas sobre os contedos que esto sendo trabalhados. Para que essa lacuna no impea dilogos e intervenes que possibilitem a compreenso e a ampliao dos contedos matemticos, enfatizamos a importncia da leitura, alm dos cadernos do Pacto, do manual para o professor presente nos demais materiais curriculares. De modo geral esses manuais apresentam muito mais do que respostas s atividades propostas; indicam procedimentos e estratgias para o professor diante de situaes relacionadas ao cotidiano da escola. Com isso, o professor ter condies de criar um ambiente de aprendizagem e de comunicao de ideias, debatendo e dialogando com as crianas.

    Assim, a escolha dos recursos metodolgicos envolve diversos aspectos. Por exemplo, se o professor partir de uma situao proposta pelo livro didtico que utilizado na escola imprescindvel a leitura do manual do professor para que compreenda a inteno do autor com aquela atividade proposta. Nessa leitura o professor identificar que materiais sero necessrios para aquela aula, alm disso, poder prever como ser a continuidade da abordagem daquele contedo, para alm do livro didtico, caso ele no seja suficiente. Se houver necessidade de consultar

    outros materiais, alm dos Cadernos do Pacto, por exemplo, poder consultar os livros da biblioteca do professor (PNBE) encaminhados pelo MEC para a escola e tambm as obras complementares disponibilizadas na escola, contando com tempo hbil para a leitura e a adequao do contedo a ser tratado, etc. Se o contedo demandar a utilizao de materiais manipulveis, o professor precisa investigar quais materiais so coerentes com a proposta a ser trabalhada, o que j existe na escola, se existe material suficiente para a turma toda, se o material dever ser preparado previamente, onde ele poder obter matria prima para confeccion-lo.

    Alm disso, o professor precisa ter em mente que o material no pode provocar induo ao erro nem a inverso didtica, que acontece quando o aluno abstrai o material em si e no o contedo/conceito pretendido. Geralmente a expectativa da utilizao de materiais manipulveis por parte de professores est na esperana de que as dificuldades de ensino possam ser amenizadas pelo suporte da materialidade. Contudo, a simples manipulao de objetos no leva compreenso dos contedos, podendo at mesmo causar problemas com a conceituao. No incomum que se acredite que, apenas manipulando um baco ou outro material manipulvel, o aluno est aprendendo a contar ou a fazer contas. De fato, o uso de um material manipulvel somente eficiente se utilizado adequadamente. A professora

    Reconhecemos os problemas referentes

    falta de tempo, espao e materiais

    que o professor possui. No entanto,

    ao indicarmos as necessidades para um

    trabalho pedaggico adequado, alertamos

    para a conquista desses aspectos junto

    s gestes das escolas e das redes municipais

    e estaduais.

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    1 Um material manipulvel estruturado aquele fabricado com finalidades didticas, por exemplo, os blocos lgicos, o material dourado, o baco, etc. Materiais manipulveis no estruturados so aqueles que, embora no tenham sido fabricados com finalidades didticas, podem ser utilizados para tal, como o caso do colar de contas.

    FIO DE CONTAS

    Mariana PellatieriE.M.E.F. Padre Emlio MiottiMunicpio de Campinas,SP

    Meu nome Mariana Pellatieri, leciono para uma turma de 1.o ano do Ensino Fundamental, composta por 24 alunos.

    A minha sala organizada, geralmente, com as carteiras em crculo e os alunos sentam de acordo com o planejamento do dia. Acredito que essa disposio, em que os alunos podem ver uns aos outros, possibilita uma melhor interao, principalmente nos momentos de socializao e discusso de ideias. Quando no usamos essa organizao, trabalhamos em grupos ou em duplas, dependendo da proposta de atividade.

    Juntamente com outras professoras de primeiro ano elaboramos uma sequncia de atividades com o fio de contas com o intuito de ser uma transio para o trabalho com a reta numrica. Nosso objetivo era trabalhar com as ideias de adio e conservao a partir de um material manipulvel como uma transio para os registros escritos.

    Elaboramos a sequncia de atividades com o fio de contas da seguinte forma: construir com os alunos o fio at o 40 (separando as dezenas por cores); propor alguns problemas para serem resolvidos usando o fio de contas.

    Arq

    uivo

    dos

    aut

    ores

    Mariana Pellatieri relata sua experincia com o uso de um material manipulvel no estruturado1 e de simples confeco.

    Para iniciar o trabalho eu levei para a sala um fio de contas montado. Mostrei para os alunos e perguntei: O que vocs acham que isso?. As respostas me surpreenderam. Todos tinham alguma ideia sobre o que era aquilo e a discusso foi longe:Lari: Acho que um colar.

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    12Nick: Eu acho que um presente para darmos s nossas mes.Professora: Olha s, isso aqui tem um nome. Chama-se fio de contas. O que ser que a gente pode fazer com isso?

    Crianas: A gente pode fazer contas.Professora: fio de contas porque cada bolinha dessa se chama conta, mas ser que pra fazer contas?

    Mari: sim Pr! Eu j vi isso s que era um pouco diferente. Era assim...tinha esse fio a com as bolinhas, mas eram trs fios e tinha uma madeirinha em volta. Da tinha os nmeros at dez e um reloginho no canto (baco horizontal).

    Professora: Ah! Acho que eu estou entendendo o que a Mari est falando. Vou fazer o desenho aqui na lousa pra ver se entendi direito.

    Professora: disso que voc estava falando?Mari: Isso Pr! Minha prima falou que pra fazer continha. Ela tem um.Tami: Tem um igual s que diferente Pr. Tem uns palitinhos de p no com bolinhas so com rodinhas coloridas (baco vertical).

    Expliquei que aquilo que elas estavam descrevendo chamava-se baco e que, apesar de no ser a mesma coisa que o fio de contas, bem parecido. Assim demos continuidade discusso:

    Professora: Olhando para o fio vocs sabem me dizer quantas contas tem aqui?Crianas: Cem! Vinte! Mil!Professora: Olha s. Vou separar as contas roxas. Quantas vocs acham que tem aqui?

    Vini: Acho que tem dez!Professora: Vamos ver se tem dez?

    Fizemos a contagem em voz alta e confirmamos a hiptese de Vini. Ento separei as contas brancas e perguntei:

    Professora: E aqui, quantas tem?Eri: Tem dez tambm, porque est do mesmo tamanho.Professora: Ser? Vamos ver se tem dez mesmo? Tem dez tambm, ento at agora a gente j contou quanto?

    Vini: Vinte, porque dez mais dez vinte, Pr.Professora: Ento ser que aqui pode ter cem ou mil?Crianas: No!Professora: Ento quanto ser que tem?Eri: fcil Pr! s fazer vinte mais vinte, porque do outro lado tambm tem vinte. Da a gente descobre.

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    Professora: E quanto vinte mais vinte?Eri: Eu no sei, mas a gente pode contar o resto.Professora: E pra contar o resto a gente precisa contar tudo de novo?Vini: No Pr, s continuar do vinte e um.

    E assim fizemos a contagem partindo do vinte e um e chegamos ao quarenta. Em seguida fizemos a contagem dos meninos e das meninas que estavam presentes no dia: 13 meninas e 8 meninos. Ento, perguntei a eles como ficaria no fio as 13 meninas:

    Vic: s pegar todas as roxas e trs brancas.Professora: E pra colocar os oito meninos?Eri: A gente pega as outras brancas e uma roxa. Da d oito.Professora: E agora? Olhando aqui pro fio d pra saber sem contar tudo de novo quantas crianas vieram hoje?Lari: D sim Pr. Tem vinte e uma. Porque duas partes vinte e mais uma bolinha branca, vinte e um.

    Aps toda a discusso cada criana confeccionou o seu fio de contas e eu propus a eles o seguinte problema: Pedro tinha sete mas. Ana deu a ele mais cinco mas. Quantas mas Pedro tem agora?

    Depois de ler o enunciado pedi que, com o fio de contas, as crianas resolvessem esse problema. A maioria chegou ao resultado rapidamente, outros precisaram de auxlio para entender o que o problema estava dizendo.

    Com o resultado no fio pedi que cada um explicasse como havia resolvido o problema. A maioria colocou as sete mas no fio, juntou com as cinco e chegou ao resultado. Durante as explicaes eles diziam: Da eu contei dez roxas mais duas brancas deu doze mas. Mas o aluno F, resolveu o problema de outra maneira e sua explicao foi a seguinte: Eu peguei metade do roxo pra por as mas que ele ganhou, da eu peguei a outra metade e coloquei mais duas brancas e deu doze.

    Para finalizar, pedi para que cada um registrasse a forma como resolveu o problema e na maioria dos registros o fio apareceu como forma de representao da operao e o movimento de pensamento de cada um.

    Fiquei muito empolgada com toda a discusso. Esperava que eles fossem ter mais dificuldade em entender a ideia de conservar as dezenas. Mas percebi que a possibilidade de visualizar as dezenas, movimentar, separar e juntar que o material oferece, facilitou muito, no s a conservao, mas as ideias de adio e o momento da socializao, j que era possvel mostrar para os colegas reproduzindo no fio a forma como cada um havia pensado para resolver o problema.

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    Na leitura do relato, percebe-se o cuidado do planejamento da professora, pois a sequncia gera discusses para mais de uma aula, podendo ser inserido no planejamento semanal. Alm disso, importante salientar que materiais manipulveis como o utilizado possibilitam a participao de alunos cegos. Destaca-se tambm, na narrativa da professora Mariana, a preocupao com a organizao da sala de aula, acomodando os alunos de forma que possam se ver, facilitando assim, as interaes. Ao longo de sua prtica possvel identificar as negociaes que ela faz com a turma ao introduzir um novo material manipulvel para o ensino da Matemtica, a explorao dos conhecimentos prvios dos alunos e o movimento de contagem que vai se estabelecendo entre eles.

    A narrativa da professora Mariana evidencia como esse momento de discusso sobre o prprio material foi trazendo os conhecimentos anteriores de outros materiais, ou mesmo dos usos possveis, como um instrumento de contagem (bacos). Ficou evidente que as relaes estabelecidas com o material que contriburam para as compreenses objetivadas.

    Se a atividade proposta envolver um jogo, ser preciso verificar quais so os materiais necessrios para a sua realizao, por exemplo: tabuleiros, pees, dados, etc. O jogo necessita ser planejado tanto em termos de como o aluno vai compreend-lo e se familiarizar com seu o material, quanto s possibilidades de problematizao a partir dele, para que no seja apenas um apndice atividade escolar. Nesse sentido, planejar uma situao pedaggica com o jogo envolve conhec-lo muito bem, para alm do domnio das regras, como tambm conhecer suas potencialidades pedaggicas.

    Se for requisitado aos alunos trazerem material para as aulas (recortes, embalagens, sucatas, etc.), esse material precisa ser solicitado com bastante antecedncia. Alm disso, o professor precisa disponibilizar espaos na sala para armazenar o que os alunos traro.

    Estante com materiais manipulveis: tampas e embalagens.

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    Se o professor prev a utilizao de recursos audiovisuais, ser preciso observar se na sala de aula existem tomadas eltricas suficientes e adequadas aos equipamentos; em caso de utilizar retroprojetor, gravador, DVD, TV, projetor multimdia, verificar as condies de uso.

    Alm da operacionalizao da aula, necessrio refletir profundamente sobre os conceitos a serem desenvolvidos. Quais atividades da semana garantiro continuidade na construo desse conceito? Qual objetivo de um determinado tpico matemtico? O que os alunos devem aprender? Como ser a continuidade da abordagem no desenvolvimento ou no percurso da aprendizagem? So questes que permeiam a planificao da aula, fazendo com que o professor preveja como os alunos transitaro nos nveis de pensamento e como desenvolvero compreenso e competncia a respeito daquele tpico trabalho. (SERRAZINA; OLIVEIRA, 2010).

    Faz parte do planejamento da aula prever quais instrumentos sero produzidos pelo professor (dirio de classe, registro reflexivo, narrativa de aula), pelos alunos (conforme exemplificado na prxima seo) e como ser o retorno aos alunos. A correo ser coletiva? Individual? Haver reescrita de textos? Como ser a socializao das produes dos alunos? Esse conjunto de produes dos alunos e do professor subsidiar o processo avaliativo. Por isso, fundamental que se planeje como ser a ficha de observao de cada aluno da turma e de que maneira isso pode ser utilizado enquanto instrumento de avaliao das aprendizagens. Alm disso, esses registros sero fundamentais como apoio ao trabalho do professor que assumir as aulas dessa turma no prximo ano.

    H que se considerar que, mesmo com toda a aula planejada, estudada e cuidada, no movimento da sala de aula que esse planejamento ganha vida. j dissemos que a organizao do trabalho pedaggico para a Alfabetizao Matemtica envolve as diferentes formas de planejamento, a organizao da sala e o fechamento da aula, entendidos sempre de forma articulada e que orientam a ao do professor alfabetizador. j vimos como o planejamento pode ser pensado tal qual espao de antecipao e reviso continuada do que acontece e do que dever ser feito em sala de aula.

    Na prxima seo vamos abordar a organizao da sala de aula, com nfase nas implicaes do espao fsico e do ambiente de aprendizagem. Posteriormente, na ltima seo, trataremos do fechamento da aula.

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    ORGANIZAO DA SALA DE AULA:FAZENDO A AULA ACONTECER

    O que almejamos para os alunos no ciclo de alfabetizao se efetiva na realizao do planejado. Para tanto, preciso pensar nas diferentes formas de organizao tanto do espao fsico da sala de aula quanto do movimento de problematizao, discusso e sistematizao de conhecimentos matemticos.

    O espao fsico da sala de aulaCom relao ao espao fsico da sala de aula, entendemos que este necessite

    ser reconhecido como um espao alfabetizador em Matemtica, com instrumentos, smbolos, objetos e imagens pertencentes ao campo da Matemtica escolar e no escolar. Assim, sugere-se que cada sala de aula disponha de alguns materiais que possam ser providenciados pelo professor e pelos alunos ou que possam ser adquiridos pela escola, tais como:

    portadores de textos com diferentes usos e representaes numricas, como por exemplo: reportagens de jornal com grficos, tabelas de pontuao de jogos e brincadeiras, rtulos de embalagens, placas de carro, etc.;

    tabela numrica com nmeros de 1 a 100 para a explorao de regularidades;

    varal com os smbolos numricos, construdos com os alunos. No h necessidade de que este varal s contemple nmeros at o 10;

    mural que possibilite afixar as produes dos alunos, textos complementares do professor, curiosidades matemticas que os alunos desejem compartilhar, etc.;

    calendrio para reconhecimento e contagem do tempo (dia, ms, ano);

    listas variadas de assuntos que o professor deseja discutir com os alunos, tais como: nomes dos alunos, datas de aniversrio, eventos da escola, brinquedos e brincadeiras preferidas, etc.;

    rgua para a medio de altura dos alunos (instalar a rgua na parede para que os alunos possam medir sua altura no decorrer do ano);

    balana que possibilite identificar o peso (a massa corporal);

    relgios para a medio do tempo (seria interessante que tivesse tambm um relgio analgico uma vez que a escola possivelmente seja um dos poucos espaos atualmente em que esse tipo de relgio aparea e que em muito contribui para a compreenso da contagem do tempo);

    armrios e/ou outros espaos para o armazenamento de materiais de uso contnuo, como jogos, materiais manipulveis (bacos, material dourado, slidos geomtricos, etc.), papis variados e materiais confeccionados pelos alunos;

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    Estante com materiais manipulveis.

    Com um ambiente fsico preparado para o acolhimento dos alunos e para que a aula de matemtica acontea, importante que o professor estabelea uma orientao inicial aos alunos, apresentando uma proposta de rotina de trabalho no dia. Nesse sentido, possvel que o professor, ao entrar em sala de aula, explicite na lousa ou quadro uma rotina do que ir acontecer naquele dia, listando e numerando cada atividade. Mesmo que os alunos ainda no saibam ler, o professor pode ir fazendo a leitura e listando as atividades no canto da lousa ou quadro, reduzindo a ansiedade e expectativa dos alunos quanto ao trabalho do dia. Ao mesmo tempo, vai criando o hbito e identificando o tempo que cada uma das atividades foi planejada e como as diferentes disciplinas vo sendo contempladas na rotina do dia e da semana.

    A organizao das carteiras na sala de aula, conforme j observamos no relato da professora Mariana Pellatieri, tambm necessita ser pensada com antecedncia e executada em sala de aula. A deciso sobre como as carteiras so organizadas tem a ver com a atividade planejada para aquele dia. As carteiras podem ser organizadas em duplas, o que uma disposio interessante para o coletivo das atividades em aulas de Matemtica, uma vez que propicia a troca, a negociao de estratgias e significados na resoluo de problemas; podem ser organizadas em grupos maiores (4 alunos) para atividades com jogos, por exemplo; organizadas em U para momentos de discusso coletiva e/ou socializao de registros e de resoluo de atividades. As carteiras uma atrs da outra, como tradicionalmente as salas de aula eram dispostas, pouco contribuem para que o coletivo de alunos participe da aula;

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    conjunto de calculadoras bsicas que pode ser adquirido pela escola, preferencialmente do tipo solares para evitar o uso de pilhas. Seria interessante que fosse 1 calculadora para, no mximo, 2 alunos;

    outros materiais que o professor julgar necessrio, segundo os projetos e as atividades que desenvolve no decorrer do ano, como: livros de histrias infantis, revistas para recorte, caixas, cordas, etc.

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    geralmente aqueles que esto no fundo da sala se distraem mais facilmente e o professor, que fica frente, pouco consegue interagir com esses alunos, bem como pouco favorece para uma reflexo compartilhada entre os alunos na resoluo dos problemas. Pensar na organizao das carteiras contribui significativamente para a criao de um ambiente propcio e favorvel aprendizagem, problematizao, dialogicidade e comunicao pela leitura e escrita, tambm em Matemtica.

    O ambiente propcio aprendizagem

    Cabe ao professor criar um ambiente problematizador que propicie a aprendizagem matemtica, uma comunidade de aprendizagem compartilhada por professor e alunos. Tal comunidade pode ser entendida como um cenrio de investigao, tal como proposto por Skovsmose (2000), que defende um espao de aprendizagem em que os alunos possam matematizar, ou seja, formular, criticar e desenvolver maneiras matemticas de entender o mundo. Nesse ambiente problematizador, os alunos podem formular questes e planejar linhas de investigao de forma diversificada. Eles podem participar do processo de investigao (ALRO; SKOVSMOSE, 2006, p. 55).

    Investigar experimentar coletivamente, ler, escrever e discutir matematicamente, levantar hipteses, buscar indcios, observar regularidades, registrar resultados provisrios, compartilhar diferentes estratgias, variar procedimentos, construir argumentos matemticos, como tambm ouvir os argumentos matemticos dos colegas, buscar generalizar, conceituar. Professor e alunos participam desse movimento questionando, apresentando seu ponto de vista, oferecendo contraexemplos, argumentando, matematizando. A comunicao acontece por meio da dialogicidade.

    Em Boavida et al. (2008, p. 62), observamos um momento de comunicao do raciocnio de alunos que procuraram, sem que houvesse dilogo entre eles, obter o resultado da adio 9 + 11.

    Quatro alunos verbalizaram a forma por meio da qual efetuaram a adio e, com isso, deram ao professor pistas a respeito do que sabem sobre os nmeros:

    Brbara: 9 e 9 so 18, mais 2 so vinte.Ado: 7 e 7 so 14, portanto, 8 e 8 so 16, 9 e 9 seriam 18, assim, 9 + 11 deve ser igual a 20.Cristina: 11 e 11 igual a 22. 10 e 11 igual a 21. 9 e 11 igual a 20.joana: 11 e 9 mais 12, 13, ....18, 19, 20.

    Ao possibilitar verbalizaes desse tipo, em que o clculo mental est implcito, criam-se oportunidades para investigarem novas relaes entre os nmeros e as operaes.

    Segundo Freire (2005), ensinar criar possibilidades para a produo e construo de conhecimento. Nesse sentido, a dialogicidade o caminho para se constituir

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    essas possibilidades. A relao dialgica que necessita ser estabelecida em sala de aula envolve a compreenso de que, em uma investigao, todos se envolvem em uma relao horizontal, em que todos aprendem, professores e alunos, em que o que detm mais experincia ou mais conhecimento sobre um assunto contribui com o seu saber e ajuda os outros a avanar. Para Freire, a dialogicidade uma prtica (prxis) libertadora.

    Alm disso, aprender Matemtica em um ambiente colaborativo importante para a leitura e a escrita. Ler e escrever so aes no somente restritas ao campo da linguagem e da alfabetizao em lngua. Compreender um texto em lngua materna, que apresenta escritas prprias da Matemtica e representaes de conceitos e ideias matemticas, exige um conhecimento pelo aluno para alm da decodificao da lngua para um conhecimento de uma linguagem especfica matemtica. Nesse sentido, da mesma forma que os conceitos matemticos vo sendo construdos pelos alunos por meio das investigaes e problematizaes, uma linguagem matemtica tambm vai sendo produzida a fim de comunicar ideias ou mesmo servir de instrumento de reflexo do conhecimento produzido. Dessa forma, focamos na importncia da valorizao da leitura e escrita em aulas de Matemtica como possibilidade de acesso a uma cultura escrita, ao letramento.

    Em muitas atividades relacionadas s prticas sociais dos alunos os textos informativos, explicativos, narrativos, dentre outros, apresentam escritas que so prprias da linguagem matemtica: porcentagens, tabelas, grficos, algarismos romanos, nmeros na forma decimal, na forma fracionria, etc. A compreenso do texto, muitas vezes, perpassa o reconhecimento dessa linguagem. Desse modo, a leitura matemtica necessita ser explorada no processo de alfabetizao para que o aluno se torne um leitor crtico desses textos. O papel social da leitura em Matemtica transcende essa necessidade e assume tambm um papel poltico, como pontua Fonseca (2013):

    as prticas sociais envolvendo quantificao, medio, orientao, ordenao ou classificao compem os modos de usar a lngua escrita e so por eles constitudas, no s porque representaes matemticas aparecem nos textos escritos ou porque nossa herana cultural nos legou modos escritos de fazer Matemtica, mas porque a prpria cultura escrita, que permeia e constitui as prticas matemticas das sociedades grafocntricas, , em geral, permeada tambm por princpios calcados numa mesma racionalidade, que forja ou parametriza essas prticas matemticas e que por elas reforada. (p. 9)

    A escrita nas aulas de Matemtica necessria como forma de registro e comunicao de ideias. O registro matemtico entendido como uma comunicao sobre ideias, objetos e processos matemticos. constitudo no somente por termos tcnicos da linguagem matemtica, mas por expresses que incluem certos modos caractersticos de argumentar, representados por meio do texto matemtico (PIMM, 1999).

    O registro pode ser realizado por meio de diferentes gneros textuais, assumindo sentidos diversos no contexto de aulas de Matemtica: registro reflexivo para os alunos,

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    H que se considerar que o registro necessita ter um sentido no contexto do problema, da ao ou da atividade e que ele acontece por uma necessidade, por exemplo, em uma situao de jogo de boliche em que os alunos necessitam saber, ao final de 4 partidas, qual o total de pontos obtidos. necessrio registrar em cada partida quantos pontos obteve para que, ao final, a soma total de pontos seja realizada. Para esse registro, os dados tambm necessitam ser organizados. Esse problema foi experimentado na sala de aula da professora Iara,

    Propositalmente entreguei apenas uma folha em branco para cada grupo marcar os pontos. Imaginei que o fato de cada um marcar seus pontos individualmente numa nica folha para o grupo j seria um bom problema. (...) Quando o jogo acabou, sentamo-nos em roda para a socializao. Ento, questionei quem tinha feito mais pontos. Foi a maior confuso! Eles olhavam para a folha e no sabiam dizer, pois haviam marcado os pontos aleatoriamente, sem os nomes, no sabendo quem fez o qu. Somente depois, percebi que fizeram o registro de pontos dessa forma porque entenderam que marcariam os pontos em equipe. As crianas deram a ideia de que para o prximo jogo precisariam de uma tabela com nomes e sugeriram: Professora, da prxima vez voc marca os nomes num cartaz e deixa um espao na frente para a gente marcar cada rodada. (COSTA, 2009, p. 21)

    registro de comunicao aos colegas e professor, registro do processo para constituir memria, registro como forma de sistematizao, registro como apropriao de uma linguagem, registro como forma de comunicao da resoluo e/ou formulao de um problema.

    Registros de atividade investigativa.

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    Alm do que j foi dito, importante considerar a funo social do registro enquanto o gnero textual que representa. Por exemplo, pode-se solicitar aos alunos que escrevam cartas sobre o que esto descobrindo, sobre a resoluo de um problema e troquem cartas entre duas salas de aula do mesmo ano (turma da manh e turma da tarde) sobre suas hipteses, argumentos, etc. Nesse caso, o gnero carta necessita ser considerado quanto sua configurao lingustica. Deve conter local, data, saudaes, assuntos, despedida e dados no envelope. Pode-se colocar em um local para que seja remetido ao receptor daquele texto, cumprindo sua funo social de comunicao distncia, em que o leitor no est fisicamente presente na situao de produo do texto. A carta pode ser coletiva e, caso os alunos ainda no escrevam, o professor assume o papel de escriba. Ela deve ser endereada, por exemplo, ao coordenador, a outro professor da escola, etc. que assume o papel de respond-la. No exemplo a seguir, os alunos de uma turma de 4. ano escrevem para uma professora que no conheciam sobre as estratgias que desenvolveram em um jogo.

    Itatiba, 04 de maio de 2010.

    Cara Professora Regina

    Hoje a nossa turma do 4. ano ns jogou o NIM, a maioria de ns gostou do jogo.

    As regras do jogo so: Pegar27palitos 2jogadores Pegar no mnimo 1 palito e

    no mximo 4 palitos.O objetivo do jogo sempre deixar

    1 palito para o seu adversrio.O jogo foi muito legal.O jos Ricardo achava que deixar

    7 palitos para o adversrio seria uma boa estratgia, mas discutimos na sala e chegamos a concluso que s temos a possibilidade de ganhar se deixarmos 6 palitos para o adversrio.

    Vamos te ensinar como:Se eu deixo 6 para o meu colega e

    ele tira 1, eu tiro 4 e ele perde. Se ele tira 2 e eu tiro 3 e ele perde. Se ele tira 3, eu

    tiro 2 e ele perde. Se ele tira 4, eu tiro 1 e ele perde.A tia Elizangela perguntou que outro nmero podemos deixar para o colega para

    ganharmos o jogo, mas ainda no descobrimos.Na prxima aula tentaremos descobrir e a te contaremos.

    Com carinho 4. ano.

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    Fonte: PELLATIERI, 2013, p. 80.

    A alfabetizao acontece, na maioria das vezes, por meio de desenhos, tabelas, grficos, diagramas, relatrio, registro de uma estratgia de resoluo, elaborao de textos de problema, produo de cartas, produo de regras de jogo, produo de tirinhas ou histrias em quadrinho, produo de cartazes, produo de livros, relatrios de entrada mltipla, etc.

    Toda escrita pressupe um leitor, seja ele um leitor possvel ao qual endereamos a escrita de nosso texto, seja ele um leitor presencial que assume o papel de interlocutor no momento da escrita. A existncia desse elemento impulsiona as crianas a pensarem sobre quais elementos necessitam estar presentes em seus registros. Quando o aluno l, escreve ou desenha, revela no apenas os procedimentos, as estratgias que esto sendo desenvolvidas, como tambm os conceitos que domina e as dificuldades que encontra. Quando as crianas escrevem ou desenham o que vivenciaram, elas esto em intenso letramento com gestos, sons (enativos), grafismos, como desenhos, rabiscos (icnicos) e letras, nmeros e frmulas lgicas. (KISHIMOTO, 2004, p. 365).

    As vrias formas de registro possibilitam a produo de sentidos prprios do objeto matemtico pelas crianas, a produo de significados compartilhados entre alunos e o professor no contexto de aulas e a reflexo do professor sobre sua prtica. O saber dizer depende do saber fazer, e o saber escrever, do saber interiorizado da criana (BRUNER apud KISHIMOTO, 2004, p. 365). Nessa direo, o dizer relaciona-se ao vivenciada e o escrever depende de uma reflexo pela criana. Com relao ao desenho, importante valoriz-lo como forma de registro de modos de pensar matematicamente. O que acontece na maioria das vezes que, medida que os alunos avanam na escolaridade, o desenho passa a deixar de ser reconhecido como uma forma de registro de ideias matemticas. No entanto, h de se considerar a sua importncia como um esboo que pode contribuir para organizar outras escritas em textos matemticos. Por exemplo, na resoluo do problema a seguir:

    Nos cadernos de formao do Pacto nos referiremos ao termo desenho para simplificar a linguagem. No entanto, na literatura especializada da rea de Educao Matemtica, encontraremos o uso do termo representaes pictogrficas.

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    Para o mesmo problema, outra soluo apresentada no registro de outro aluno:

    Fonte: PELLATIERI, 2013, p. 80.

    O desenho combinado ao registro escrito realizado por esses alunos do 2. ano explicitam as diferentes formas de resoluo do mesmo problema. Alm disso, o desenho pode contribuir para que o aluno visualize uma regularidade presente em uma sequncia, como no registro realizado pelos alunos do 3. ano, da professora Cidinia, com relao a uma sequncia do tipo par, mpar:

    Fonte: narrativa da professora Cidinia da Costa Luvison, 2012.

    As listas, grficos e tabelas tambm contribuem para um trabalho de organizao de dados, possibilitando a problematizao pelo professor dos resultados evidenciados, como no exemplo a seguir, em que so registradas as brincadeiras preferidas das crianas por meio de lista:

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    Ou o registro na tabela, do que aconteceu em um jogo de bolinhas de gude.

    Fonte: PEREIRA, 2009, p. 51.

    Nessa tabela, vrias problematizaes podem ser realizadas, como as propostas pela professora Mrcia:

    1. Se o Thiago ganhasse um ponto, o que teria acontecido?

    2. Se o Roger tivesse tirado um, o que teria acontecido?

    3. Se todos tivessem tirado o nmero igual de bolinhas, o que teria acontecido?

    4. Se a Prof. Mrcia tivesse ganhado dois pontos, o que teria acontecido?

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    Esse movimento de resoluo dos problemas possibilita a anlise do que foi registrado e a possibilidade de mudanas nos dados da tabela.

    Para a anlise do movimento de pensamento dos alunos pelo professor e pelos prprios alunos tem se mostrado favorvel o relatrio de entrada mltipla, que segundo Powell e Bairral (2006),

    um veculo para refletir e construir imagens de uma determinada parte da Matemtica e um meio de registro, em prosa, de mltiplas verses das reflexes em determinada tarefa. Alunos criam esse veculo pessoal e reflexivo ao dividir uma folha de papel em trs sees iguais. (p.79)

    Segundo esses autores, na 1. coluna apresenta-se um texto problema, notcia, imagem; na 2. coluna o aluno produz uma primeira reflexo e tentativa de resoluo. O professor intervm nessa reflexo com o objetivo de problematizar a soluo, propondo novas reflexes ou chamando a ateno para o aprimoramento da resposta (contraexemplos, por exemplo). Na 3. coluna, o aluno refaz a sua soluo, responde s problematizaes do professor e depura a soluo anteriormente apresentada. Um exemplo de entrada mltipla pode ser observado na seo seguinte sobre o fechamento da aula.

    A produo de tais registros, principalmente no ciclo de alfabetizao, vem sempre acompanhada da oralidade. Nas atividades em sala de aula os alunos participam oralmente da leitura coletiva de problemas com o professor, da manifestao de estratgias e procedimentos de resoluo, levantamento de hipteses e argumentaes, para complementar ou refutar uma argumentao de um colega, na manifestao dos seus modos de pensar matematicamente. A comunicao oral possibilita uma maior interatividade entre alunos e professor em sala de aula. Muitas vezes no momento da exposio oral de um raciocnio que o aluno toma conscincia sobre o seu modo de pensar, correto ou no. Dessa forma, a oralidade necessita ser reconhecida enquanto um registro de resoluo do problema e considerada como instrumento importante para a elaborao escrita.

    Captar os registros orais nem sempre uma tarefa simples. Por isso, importante que o professor disponha de recursos tecnolgicos a fim de facilitar a produo de registros. Cmeras de vdeo, gravadores, cmeras fotogrficas digitais ou um caderno de anotaes para os registros rpidos, em sala de aula so instrumentos que deveriam estar presentes nas escolas. Muita coisa acontece em uma sala de aula. Dessa forma, para que no haja um apelo ao ativismo, sem um trabalho voltado problematizao e explorao da atividade vivenciada, o registro tecnolgico pode ser uma forma de envolver os alunos na ao e possibilitar que essas no se percam aos olhos do professor.

    Todas as diferentes formas de registro aqui apresentadas acontecem em meio a um ambiente de mediao pelo professor e alunos quando esses se encontram

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    em atividades de produo em Matemtica. No trabalho em grupo destacamos a importncia de o professor percorrer os grupos para que os alunos sejam ouvidos e possam manifestar no somente suas dvidas, mas os diferentes caminhos que esto encontrando para a resoluo do problema. O professor, ao assumir o papel de um ouvinte atento, busca intervir nos grupos, possibilitando aos alunos a compreenso dos problemas e o avano nas suas formas de anlise e resoluo.

    Vimos at aqui o planejamento das aulas e como podemos pensar este planejamento adequado ao espao fsico que temos, ou como podemos pensar em modificar esse espao fsico para torn-lo mais propcio s nossas prticas de Alfabetizao Matemtica. O prximo artigo aborda o fechamento da aula, um dos momentos que proporcionam ao professor e alunos uma oportunidade de estabelecer e deixar claro o que foi visto e elaborado at ento.

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    O FECHAMENTO DA AULA

    Todo o trabalho que foi planejado e desenvolvido em sala de aula necessita de um fechamento. As formas de fazer esse fechamento precisam constar no planejamento do professor. Apresentaremos algumas sugestes de como esse momento da aula pode acontecer.

    Momento de socializao ou entrega das produes

    Momento de socializao

    As atividades desenvolvidas foram coletivas e em situaes de oralidade ou em um contexto de jogo ou de manipulao de materiais

    Isso ocorre principalmente no 1. ano quando nem todos os alunos esto alfabetizados e o registro escrito fica mais demorado. Nesse caso, o professor pode produzir, coletivamente com os alunos, um texto sntese, discutindo com eles as principais ideias que foram trabalhadas, organizando-as num texto curto, escrito na lousa o professor como escriba e copiado pelos alunos, dependendo do nvel de alfabetizao das crianas.

    Esse tipo de texto no apenas constitui mais um momento de aprendizagem para os alunos, como os coloca em contato com a escrita e torna-se uma forma de registrar o trabalho do dia, possibilitando que a famlia possa acompanhar o que a criana fez na escola.

    Muitas vezes todo o tempo da aula foi dedicado a uma negociao coletiva e oral com os alunos, ou a um jogo ou a alguma atividade envolvendo manipulao de materiais e, nesse caso, a ausncia de registro pode passar a ideia para as pessoas externas sala de que nada aconteceu naquele dia, impossibilitando que a famlia, quando desejar, retome o que foi discutido em aula.

    As atividades desenvolvidas foram realizadas individualmente ou em grupos

    Se os alunos trabalharam, individualmente ou em grupos, e o professor previa em seu planejamento o momento de socializao, de trocas de ideias matemticas, h diferentes formas de promover essa socializao.

    A atividade foi individual, mas envolvia resoluo de situaes-problema. Nesse caso, os prprios alunos contam aos demais colegas como pensaram na situao proposta. A cada exposio o professor registra na lousa as ideias apresentadas. No h necessidade de solicitar que todos os alunos da classe apresentem e discutam suas estratgias de resoluo. O professor, desde o incio do ano, estabelece com a turma um contrato de que, a cada aula, alguns alunos sero chamados para socializar suas ideias, porm ao longo de um perodo, por exemplo, todos tero tido vez para expor como pensaram. importante tambm que, desde o 1.o ano, os alunos adquiram o hbito de ouvir o que o colega est dizendo e sejam capazes de sinalizar se isso faz sentido ou no. importante evitar dizer se est certo ou errado, mas solicitar a participao dos alunos na discusso, problematizando as suas falas.

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    Veja o exemplo de um contexto de sala de aula do 2.o ano, no qual os alunos de posse de rgua, fita mtrica, trena e outros instrumentos estavam realizando medies. Um dos alunos, ao ver a colega mostrando para a professora como a me costureira media a cintura das pessoas com uma fita mtrica, diz:

    Giovani: Pr, eu tambm sei medir. Vou medir com a caneta.[Nesse momento ele mostra uma caneta e um caderno para a professora chamada pelos alunos de Pr].Professora: O Giovani est dizendo que consegue medir com a caneta. Vocs acham que possvel medir com a caneta?Alunos: Sim.Professora: Giovani, o que voc gostaria de medir com a caneta?Giovani: Uma folha... (BAGNE, 2012, p. 117).

    Observe que a fala do aluno tem importncia para a professora e, prevendo que nem todos tinham ouvido sua interveno, ela convida a turma para participar da discusso, problematizando:

    Vocs acham que possvel medir com a caneta?. Como a autora relata em seu trabalho, imediatamente os alunos se mobilizaram para resolver o problema posto: como medir com um objeto que no a unidade padronizada?

    Se essa no uma prtica usual em sala de aula, os alunos demoram um tempo para aprender a se engajar nas discusses que emergem. Da a importncia de o professor problematizar as falas e, em muitos momentos, fazer mesmo uma sntese do que j foi dito ou realizado.

    A atividade foi realizada em grupo ou em dupla e o professor previa em seu planejamento o momento de socializao das ideias matemticas. Durante a realizao das atividades propostas, o professor deve ter circulado pelos grupos e j identificado as diferentes resolues ou respostas dadas pelos alunos. Ao acompanhar os grupos, selecionou quais discutir e pode escolher trs ou quatro duplas ou grupos para fazer a exposio, procurando escolher respostas ou estratgias diferenciadas, comeando pelas menos elaboradas, visto que estas que geraro maior discusso. O grupo elege um relator do trabalho.

    importante que a cada apresentao seja aberto um espao para debate e discusso das respostas apresentadas. Quando o professor problematizador em sala de aula, os alunos tambm aprendem a formular boas perguntas aos colegas.

    Como j foi dito anteriormente, o professor precisa valorizar as falas dos alunos e as inconsistncias ou respostas inadequadas ou incompletas, remetendo-as para a turma discutir. Se houver um ambiente de respeito pela fala dos alunos, eles no tero dificuldades em expor suas ideias, mesmo que elas no estejam corretas.

    Cabe ao professor organizar esse momento de forma que os alunos no se desmobilizem para o que est sendo apresentado nem que a discusso se alongue demais. Assim, se o professor constatar que no est ocorrendo avano das ideias, deve formular questes que ajudem os alunos a avanarem. A narrativa da professora Elizangela da Silva Galvo apresenta o desenvolvimento de uma aula que ilustra o trabalho em grupos e a postura do professor durante esta dinmica.

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    O GIRAFO qUE ADORAvA GRAvATAS...Elizangela da Silva Galvo

    E.M.E.B. Prof. Maria Gemma Rela ReinaldoMunicpio de Itatiba/SP

    2 GWINNER, P. Pobremas: enigmas matemticos Petrpolis: Vozes, 1992.

    Hemengardos um girafo. Ele adora gravatas-borboleta. Diz que elas valorizam seu pescoo. Hemengardos tem vinte e uma gravatas lisas, quinze de bolinhas, trinta e quatro listradas, oito de estampados diversos, dezesseis floridas e trinta cachecis. Quantas gravatas Hemengardos tm?

    Trago um episdio dos momentos de mediao e dilogo entre mim e os alunos enquanto resolviam a tarefa.

    Episdio de Marcelo e LeandroT 01 Marcelo: Pr, s pra contar esse aqui de gravatas?

    T 02 P: O que o problema quer saber?

    T 03 Leandro: Quantas gravatas ele tem no total!

    T 04 P: Vocs acham que para contar s as gravatas, ou as gravatas e os cachecis?

    T 05 Leandro: As gravatas e os cachecis.

    T 06 P: E voc, Marcelo?

    T 07 Marcelo: Tambm!

    Meu propsito nessa tarefa era que os alunos conseguissem analisar, por meio de estratgias pessoais, visto no saberem o algoritmo da adio, quais informaes seriam necessrias para resolver o problema proposto. Os alunos foram agrupados em duplas, para que um pudesse contribuir com o outro.

    A leitura inicial foi realizada de forma coletiva, sempre com pausas para que os alunos tirassem suas dvidas no que se refere tanto aos aspectos lingusticos quanto aos aspectos matemticos; em seguida, os grupos se debruaram na tarefa, a fim de resolv-la.

    A situao proposta foi adaptada de Gwinner (1992, p. 22)2

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    30 T 08 P: Mas o que o problema quer saber?T 09 Marcelo: Quantas gravatas ele tem?

    T 10 P: E a, o que vocs iro contar?

    T 11 Leandro: A gente vai contar assim: 21, 22, 23, 24, 25 (para somar 21+15 e assim por diante).

    Os alunos grafaram a soma disposta na horizontal (21+15+34+8+16). Percebi que compreenderam quais eram as informaes relevantes para resolver o problema, visto que no somaram a quantidade de cachecis.

    Nesse episdio, possvel destacar o quanto o discurso de um aluno pode influenciar a argumentao do outro.

    Inicialmente, Marcelo (T 01) questiona se na soma deveria entrar a quantidade de cachecis. Intervi, no no sentido de fornecer a resposta, mas de ajudar a dupla a encontr-la por si mesma (T 02 e T 04). Minha inteno era encorajar os alunos a se concentrarem naquilo que solicitado no problema. Nesse sentido, Leandro, mesmo respondendo corretamente a pergunta, no se convenceu de que o nmero de cachecis era um dado excedente do problema. Assim, busquei colocar Marcelo no movimento do pensamento, na expectativa de que ele refutasse a resposta de Leandro. No entanto, ele tambm concordou que o nmero de cachecis deveria ser somado.

    Novamente, insisti na pergunta do problema (T 08), a qual ele responde corretamente. Busquei faz-los avanar no raciocnio e lhes perguntei o que deveriam contar (T 10). Nesse momento, Leandro prontamente j apontou os nmeros a serem somados, sem considerar o total de cachecis.

    Diante da resposta de Leandro, percebi que eles entenderam quais seriam as parcelas a serem somadas.

    No entanto, eles tentaram resolver a soma com o clculo mental, mas no conseguiram.

    T 12 Leandro: Eu disse para o Marcelo que era pra fazer com barrinha, ele disse que era com cubinhos.

    T 13 P: Olhem aqui, vocs fizeram duas barrinhas e um cubinho, certo?

    T 14 Dupla: Uma barrinha e cinco cubinhos, trs barrinhas e quatro cubinhos.

    T 15 Leandro: E aqui so oito cubinhos.

    T 16 P: Leiam o problema novamente e vejam se vocs colocaram tudo.

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    Esse episdio refora a importncia de uma cultura social de sala de aula, na qual o professor esteja o tempo todo problematizando, isto , colocando os alunos no movimento do pensamento, no lhes fornecendo respostas, mas novas questes. Pode-se dizer que o meu papel nesse episdio foi de ensinar aos alunos como se resolve um problema, ou seja, o que relevante a ser destacado no texto e qual a pergunta proposta. O gnero textual problema precisa ser trabalhado em sala de aula, pois somente dessa forma o aluno ficar mais atento pergunta que o problema traz.

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    Os alunos leram novamente e observaram se colocaram todas as informaes.

    T 17 Leandro: Ah, t faltando as 16!

    T 18 Marcelo: E 30 cachecis (lendo o problema pergunta) Conta?.

    T 19 P: O que vocs acham?

    Sem responder, os alunos realizaram a soma das dezenas e das unidades e chegaram ao resultado. Para comunicar a resoluo representaram por meio pictrico o material dourado e no o utilizaram de forma concreta.

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    Gostaramos de destacar, inicialmente, a partir da narrativa da professora Elizangela, a organizao das duplas pois ambos podem se beneficiar da parceria, tendo vez e voz na resoluo do problema.

    importante tambm que essas duplas sejam trocadas, de forma que possa haver maior socializao entre os alunos, trabalhando com diferentes parceiros. Dessa forma, faz parte do planejamento do professor pensar em como organizar seus alunos, segundo os objetivos que necessita atingir com a atividade.

    O ambiente de aprendizagem criado pela professora Elizangela pautado na resoluo de problemas e, como nem todas as crianas esto alfabetizadas, a professora faz as mediaes em cada dupla, questionando os alunos de forma que eles possam compreender o problema que foi proposto.

    Alm disso, ela promove o confronto de opinies, no fornecendo respostas, mas problematizando, colocando os alunos no movimento de pensar matematicamente e de debater pontos de vista distintos.

    Entrega de produes escritas

    O professor poder ainda optar por no socializar coletivamente as respostas ou estratgias dos alunos, mas recolher o registro produzido por eles. Nesse caso o retorno que dar fundamental.

    Se tiver solicitado a produo de um gnero textual, a correo deve ser feita levando em considerao tanto as ideias matemticas registradas quanto a adequao do gnero escolhido.

    As correes que apenas sinalizam se as respostas esto certas ou erradas em nada contribuem para os avanos dos alunos. Assim, nas respostas incompletas ou incorretas, preciso fazer observaes, chamar a ateno para os aspectos que forem necessrios, dar sugestes de como ampliar ou refazer. Nas respostas corretas, pode-se sinalizar quais foram os pontos de destaque.

    Veja o exemplo de um relatrio de entrada mltipla com as mediaes da professora Brenda. A professora havia proposto aos alunos o seguinte problema:

    No prximo sbado iremos participar da Praa de Leitura, no bairro do Tanque. A prefeitura ir disponibilizar Vans de 15 lugares para levar os alunos. Nossa sala tem 34 alunos. Quantas Vans sero necessrias para nos levar at o evento?

    Esse problema foi apresentado no relatrio de entrada mltipla, na primeira coluna. A dupla resolveu o problema na mesma coluna e explicou o raciocnio na segunda. A partir das mediaes da professora, a dupla de alunos foi complementando as ideias iniciais, nas demais colunas. Abaixo da figura est a transcrio dos registros, de forma a facilitar a leitura.

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    Dupla: Eu pensei em adio porque 4 alunos faltaram e de 34 4 igual a 30 que tambm d para pensar em 2 x 15 = 30 que o resultado. 2 vans sero necessrias.

    Professora-pesquisadora: E se eles no tivessem faltado. O que vocs sugerem para resolver essa situao?

    Dupla: 2 vans e um carro.

    Professora-pesquisadora: Mas a prefeitura no mandar carro, somente van. E agora? O que vocs sugerem?

    Dupla: Eu sugiro 17 crianas em cada van.

    Professora-pesquisadora: Mas s cabem 15 pessoas. O que fazer? Como levar 17?

    Dupla: A prefeitura mandar trs vans.

    Fonte. MENGALI, 2011, p. 117.

    Esse tipo de mediao ocorre durante a prpria aula, medida que as duplas vo concluindo a atividade, o professor j analisa e faz as mediaes e a imediata devolutiva.

    Muitas vezes pode-se concluir que as intervenes feitas no esto contribuindo para o avano, ou que os alunos no do conta de ir alm daquilo que j produziram. Em casos como esses, os momentos de socializao podem ajudar para provocar avanos. H ainda situaes em que os alunos j perderam o interesse em continuar pensando no problema, como o caso ilustrado a seguir.

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    A professora Brenda, visando explorar a importncia do resto numa diviso com nmeros naturais, props o seguinte problema:

    Jos Carlos pai de trs filhos. No ms passado ele faleceu. Agora seus filhos tero que dividir os 19 cavalos deixados pelo pai. O que vocs sugerem que faam para que essa diviso no deixe nenhum dos filhos em desvantagem?

    Veja no relatrio de entrada mltipla as solues e intervenes da professora:

    Dupla: Ns pensamos assim: Se 19 cavalos pra dividir entre 3 filhos a eu falei vamos desenhar que fica mais fcil ns desenharmos 3 filhos e 19 cavalos demos 6 para cada um e sobrou 1 que vendemos.

    Professora-pesquisadora: Vocs sugeriram a venda do cavalo que sobrou. E depois o que fazer com o dinheiro da venda?

    Dupla: Com o dinheiro ns dividiremos com os trs filhos.

    Professora-pesquisadora: E por quanto vocs acham que os filhos devem vender esse cavalo?

    Dupla: Por 1000 reais.

    Professora-pesquisadora: E depois da venda, como dividiriam esse dinheiro de maneira que nenhum deles saia prejudicado?

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    Dupla: Cada um receber 300,00.

    Professora-pesquisadora: E o que fazer com o dinheiro que sobrou?

    Dupla: Ns doaramos para os mais necessitados.

    Fonte: MENGALI, 2011, p. 111.

    Observe que, diante da insistncia da professora para anlise do resto da diviso, a dupla vai para uma soluo que considera uma prtica social no escolarizada, encerrando a possibilidade de continuidade da discusso.

    Se o professor optar por um gnero tirinha ou histria em quadrinhos, por exemplo, poder expor as produes dos alunos no mural da classe para que todos possam ter acesso.

    Dependendo do gnero solicitado como registro da atividade, poder ser trabalhada a reescrita do texto. Essa reescrita pode ser individual (ou em dupla, se a escrita inicial tiver sido em dupla), a partir das observaes e comentrios ao texto produzido, com as sugestes para a reescrita. Ou o professor poder selecionar um texto, pedir autorizao do autor e trabalhar com a reescrita coletiva. Nesse caso ou ele faz cpia do texto ou registra-o na lousa e, com a ajuda dos alunos e sua interveno, faz as correes necessrias. Esse tipo de prtica bastante interessante, por exemplo, em contextos de elaborao de textos de problemas. Muitas vezes os alunos criam contextos irreais ou usam dados inadequados para o contexto. Ou, ainda, elaboram um problema com algum sentido, porm apresentam uma resoluo que no tem relao com o contexto criado, como no exemplo a seguir, extrado de Nacarato, Mengali e Passos (2009, p. 90-91):

    joo tinha 45 kg e Maria tinha 28 kg. Quanto joo tinha mais que Maria?

    Em seguida, ele apresentou o seguinte algoritmo:

    Logo, abaixo, colocou a resposta: joo 17 vezes mais pesado.

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    36O que nos chama ateno nesse caso:

    O enunciado do problema est correto, inclusive sem erros ortogrficos.

    O algoritmo da diviso est correto e nele Dan indicou todos os procedimentos que devem ser feitos.

    No entanto, usou o algoritmo da diviso para um contexto de subtrao. Mas a sua resposta revela que ele, provavelmente, j o conhecia, pois ele se refere ao resto da diviso, e no ao quociente, ou seja, indica estabelecer a diferena entre 45 e 28, embora use de forma equivocada na resposta a expresso 17 vezes mais pesado, visto que esta se refere a um pensamento multiplicativo, e no aditivo.

    Chamamos a ateno para a particularidade do caso. Embora dividir possa ser interpretado como subtrair sucessivamente o divisor do dividendo, nesse caso particular, o resto corresponde soluo do problema proposto porque o quociente foi unitrio. Numa situao como essa a professora poderia instigar seus alunos a investigarem outras situaes em que o quociente fosse maior que um.

    Os diferentes registros produzidos pelos alunos precisam ser anotados numa ficha de observao para que possa ser feito o acompanhamento do progresso, diagnosticando os problemas e avaliando se as intervenes esto contribuindo ou no para o avano das aprendizagens.

    O congresso matemtico como possibilidadede socializao de ideias

    A ideia de congresso matemtico relaciona-se com a perspectiva de se pensar na sala de aula como espao de produo matemtica dos alunos. Parte-se de uma situao--problema que possibilite diferentes estratgias de resoluo, ou seja, um problema aberto ou de natureza investigativa. Os alunos, preferencialmente em duplas, iro trabalhar na resoluo, sabendo de antemo qual o produto esperado deles.

    Concluda a resoluo, os alunos a organizam numa folha de papel kraft, na forma de pster. Durante a realizao da atividade, o professor seleciona quais sero as duplas que faro comunicao oral e quais as que tero seus psteres expostos na sala. Ao trmino da atividade, a classe organizada tal como uma plateia de um congresso, para apresentao de comunicao oral. As carteiras podem ser dispostas na forma de U e os expositores penduram seus psteres na lousa e apresentam aos colegas suas resolues. A sequncia de apresentao deve ser das estratgias menos elaboradas para as mais elaboradas. Ao trmino de cada apresentao, abre-se um tempo para o debate, propiciando aos alunos questionar os colegas que esto apresentando, solicitar-lhes explicaes, apresentar-lhes sugestes, etc.

    Os demais psteres ficam expostos na sala e poder haver um momento de visitao a eles, de forma que os autores possam contar aos colegas como pensaram na resoluo da situao proposta.

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    Outra ideia expor os psteres sem apresentao e dar um tempo para que os alunos analisem as estratgias dos colegas e formulem questes para apresent-las no dia determinado para as apresentaes.

    Sntese final do trabalhoAps a etapa de socializao ou fechamento do trabalho do aluno, o momento

    que o professor precisa fazer a sntese da aula.

    Se a atividade proposta tinha como objetivo desencadear o contedo a ser trabalhado, preciso fazer a sntese das respostas dos alunos, explorando as ideias que foram apresentadas e complementando as que forem necessrias. Por exemplo, suponha que o professor decidiu propor uma situao-problema para desencadear o raciocnio multiplicativo e, a partir dessa situao, trabalhar o conceito de multiplicao. Para ilustrar uma situao, vamos expor o trabalho da Prof.a Elizangela3, que apresentou aos alunos o seguinte problema: No lbum de Carla cabem 9 fotos em cada pgina. Ela acabou de completar 4 pginas. Quantas fotos ela j colou? Veja as estratgias de dois alunos:

    3 GALVO, E. S. A resoluo de problemas nas aulas de matemtica de um 3.o ano de ensino fundamental. Relatrio de Pesquisa de Iniciao Cientfica (Graduao em Pedagogia) - Universidade So Francisco, Itatiba, 2011.

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    Observe que esses alunos j tm a noo de agrupamentos em quantidades iguais e, a partir dessas estratgias, a professora poderia introduzir a multiplicao como adio de parcelas iguais.

    Se a atividade proposta visa avaliar a compreenso que os alunos tiveram de um determinado conceito, no registro escrito ou numa prtica de socializao, o professor conseguir diagnosticar os equvocos e os avanos dos alunos. Poder fazer as retomadas que julgar necessrias, produzir textos sntese com os alunos ou elaborar outras situaes que possam contribuir para avanos na compreenso matemtica.

    Se o professor apenas recolheu os registros dos alunos para uma avaliao individual, precisar dar um retorno a eles, destacando as boas ideias, analisando as que estavam bem elaboradas, propondo outras semelhantes para ampliar os conceitos que esto sendo trabalhados.

    Enfim, toda aula precisa ter um fechamento. Assim, o planejamento precisa prever que a aula tenha incio, meio e fim. Deve ser elaborado sempre com base no horrio da semana, das aulas com especialistas que os alunos tero no dia ou outros eventos da escola, de forma a garantir continuidade.

    A tarefa de casaA tarefa de casa importante para o momento de estudo individual do aluno.

    No entanto, essa tarefa deve ser para o aluno e no para a famlia. Assim, sempre propor tarefas que sejam exequveis pelos prprios alunos.

    H diferentes tipos de tarefas que podem ser propostas:

    Tarefas de retomada e/ou fixao do contedo trabalhado. O professor poder propor pequenas tarefas que possibilitem aos alunos continuar pensando sobre o assunto tratado em aula. No entanto, essas tarefas precisam ser planejadas para que haja tempo suficiente de correo na aula seguinte.

    Tarefas que iro desencadear a prxima aula. O professor poder propor, por exemplo, a resoluo de uma situao pelos alunos, na qual eles utilizaro diferentes formas de resolv-la. No dia seguinte essa tarefa desencadear a aula. Parte-se da socializao das resolues dos alunos e introduz o assunto da aula, ou pode-se colocar os alunos, inicialmente, para trocarem ideias em duplas ou grupos para, num momento posterior, promover a socializao. Essa forma de tarefa possibilita que os alunos comecem a pensar num determinado conceito/contedo antes mesmo de o professor introduzi-lo. Ao proceder assim, o trabalho ser norteado pela resoluo de problemas como meio para se ensinar Matemtica, ou seja, a introduo de um conceito se d a partir de problemas resolvidos pelos alunos.

    Tarefas que exigem coleta de material. Muitas vezes a tarefa a ser proposta exige a coleta de material em jornais ou revistas, escolha de sucatas ou outros materiais que sero utilizados na aula seguinte. Pode-se solicitar tambm que os alunos faam entrevistas em sua casa ou na comunidade.

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    As formas de correo dependero dos tipos de tarefas que foram propostas. Todo o material produzido pelos alunos, individualmente ou em grupos, em sala ou em casa, pode se constituir em objeto de avaliao. Nele, o professor tem elementos para acompanhar o progresso dos alunos, os desafios e dificuldades que por ventura experimentem:

    se conseguem explicar de forma mais clara e adequada um procedimento;se esto conseguindo ler e interpretar a instruo de um exerccio ou o enunciado de um problema;se esto se apropriando das ideias/estratgias que so compartilhadas nos trabalhos em grupo ou nos momentos de socializao.

    O caderno do aluno mostra-se como um instrumento favorvel para o registro de todo o movimento de resoluo de atividades propostas, bem como das snteses produzidas e negociadas pelo coletivo da turma. Nos momentos de socializao de diferentes estratgias, por exemplo, os alunos podero ser incentivados a copiar da lousa outras estratgias a fim de se posicionar, argumentar, construir um repertrio, estabelecer contraexemplos, etc.

    O conjunto de registros produzidos representa uma sntese provisria dos conhecimentos matemticos desenvolvidos em sala de aula. Tais snteses vo sendo ampliadas a cada nova etapa do processo de discusso e sistematizao dos conceitos trabalhados. importante que no material do aluno fique registrado tambm o fechamento de uma etapa.

    Avaliao, progresso e continuidade das aprendizagensNas sugestes dadas anteriormente, a avaliao vai ocorrendo ao longo do processo,

    seja pela observao sistemtica e intencional do professor, seja pelos registros produzidos por alunos e professores. Espera-se que esses momentos de avaliao tenham sido registrados e que possibilitem replanejamentos ao longo do processo.

    Esse trabalho sistemtico possibilitar que o professor diagnostique as necessidades e avanos dos alunos em termos da Alfabetizao Matemtica e possa dar continuidade ao processo de ensino com vista aprendizagem do aluno. Entendemos que no ciclo de alfabetizao no faz sentido interromper o movimento de aprendizagem de sala de aula para realizao de uma prova formal pelo professor. A avaliao precisa ser contnua e formativa.

    Concluindo

    Neste caderno tratamos de questes referentes ao planejamento das aulas de Matemtica para o ciclo de alfabetizao. Em um sentido bastante abrangente, observamos que este planejamento perpassa questes referentes estrutura fsica da escola e disponibilidade de materiais e recursos e chega at as atividades dos alunos.

    Salientamos que, independente de recursos materiais, h uma grande variedade de possibilidades de utilizao de sucata que servem perfeitamente aos nossos propsitos. Esperamos que, aps a leitura dos textos e a realizao das atividades da seo Compartilhando, voc tenha ampliado suas possibilidades para a Alfabetizao Matemtica na sua sala de aula.

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    CompartilhandoAtividade 1O texto Diferentes Formas de Planejamento destaca a importncia do planejamento anual e durante o perodo letivo. Divida com seus colegas os encaminhamentos que planejou para este ano com relao Alfabetizao Matemtica. Informe e discuta o que houve de mudanas em relao ao que fez no ano passado. O planejamento deste ano est considerando as ideias presentes no texto?

    Atividade 2Leia a narrativa abaixo e discuta com seus colegas como tem sido a sua prtica de sala de aula com relao Resoluo de Problemas.

    NEGOCIANDO SIGNIFICADOS NA LEITURADE UM TExTO DE PROBLEMA

    Eliana RossiEMEB Prof. Benno Carlos Claus

    Municpio de Itatiba, SP

    Faz parte da minha prtica nas aulas de Matemtica focar as resolues de situaes-problema com o objetivo de envolver os alunos em situaes problematizadoras, que possibilitem a reflexo durante as atividades, a interao, a argumentao, o levantamento de hipteses e a exposio das mesmas, bem como a validao de suas hipteses facilitando a construo e apropriao de conhecimentos mais significativos.

    Leciono em um 3.o ano, numa turma com 23 alunos. No dia 17/05/2013, trabalhei com os alunos o seguinte problema, com o objetivo dos alunos aprenderem a interpretar situaes-problema e analisar esse gnero textual, familiarizando-se com sua estrutura e linguagem:

    Fonte: GWINNER, P. Pobremas: enigmas matemticos 1. Petrpolis: Vozes, 1992.

    RSULA UMA URSINHA. ELA PRECISA APRENDER A ANDAR NA CORDA-BAMBA PARA GANHAR UM EMPREGO NO CIRCO COMO MALABARISTA. TODOS OS DIAS RSULA AUMENTA EM 5 CENTMETROS A ALTURA DO ARAME EM QUE ELA TREINA. HOJE O ARAME ESTAVA A QUINZE CENTMETROS DO SOLO.

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    O R G A N I Z A O D OT R A B A L H O P E D A G G I C O C A D E R N O 1

    Esses alunos j tiveram contato com outras situaes-problema anteriormente, por isso optei por trazer essa em que no est presente o questionamento, com a inteno de observar se os mesmos iriam perceber. Para a resoluo desse problema os alunos estavam sentados individualmente. No entanto, a primeira parte da atividade foi realizada no coletivo. Cada aluno sentado em sua carteira recebeu uma cpia do texto do problema. Pedi para realizarem a leitura da situao-problema individualmente, j que a maioria dos alunos alfabtica. Aps a leitura, questionei se haviam entendido o problema, os alunos responderam que no, ento realizei a leitura em voz alta, e novamente questionei: Quais as informaes que traz esse problema?. Os alunos ficaram por um momento em silncio. Propus ento a leitura por trechos, escolhi uma aluna que possui uma leitura fluente e a partir dessa leitura eram retiradas as informaes contidas, atravs de meus questionamentos. Exemplo: RSULA UMA URSINHA., Qual a informao que contm esse trecho?, ELA PRECISA ANDAR NA CORDA-BAMBA PARA GANHAR UM EMPREGO NO CIRCO COMO MALABARISTA., E nesse?... No momento em que os alunos iam dizendo as informaes eu escrevia na lousa.

    Aps a retirada de todas as informaes questionei Qual o problema dessa situao? Uma aluna de imediato disse que o problema era que a rsula no tinha um emprego. Perguntei se tinha como resolver essa situao, ento vrios alunos comearam a procurar uma soluo para o problema da ursinha, dizendo: Ela pode trabalhar como palhaa, ela muito grande para andar na corda bamba., Procurar um emprego em outro lugar., Andar com a bicicleta de uma roda. Nesse momento os alunos procuraram trazer solues usando conhecimentos prvios do seu meio social.

    Aps as discusses questionei Ser que essa situao para resolver o problema de desemprego da ursinha? Vamos ler novamente o problema. Realizei a leitura e perguntei quais as informaes que havia na situao-problema, os alunos fizeram a leitura na lousa, ento questionei O que precisa ter em uma situao-problema para ser possvel resolver? No est faltando nada?, no primeiro momento houve silncio, pedi para um aluno ler novamente e perguntei No est faltando nada? Quando resolvemos uma situao-problema em Matemtica, primeiro retiramos as informaes, depois o que preciso ler?, depois de um tempo um aluno respondeu: A pergunta!.

    Assim que perceberam a falta da pergunta, propus no coletivo a elaborao da mesma. Para isso leram novamente a situao-problema e as informaes retiradas, questionei quais as informaes necessrias para a elaborao da pergunta, se todas as informaes eram importantes nesse momento. Os alunos leram novamente as informaes e selecionaram as mais importantes Todos os dias rsula aumenta em 5 centmetros a altura do arame / hoje o arame estava a quinze centmetro do solo. A partir dessas informaes elabora