1ª Edição - Mineral Notícias

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Teresina-PI, Julho de 2012 | N. 01 Biblioteca comunitária promove inclusão social e trabalho voluntário Há quase 5 anos, a Organização Preparando Cidadãos (OPC) fundou a Biblioteca Comunitária Preparando Cidadãos (BICOPC): a primeira e única biblioteca comunitária do bairro Água Mineral. Além do acervo disponível para consulta e empréstimos, a BICOPC realiza a oficina de leitura “Ler é Necessário”, atendendo cerca de 40 crianças por ano. Os responsáveis pela manuntenção e funcionamento da Biblioteca, além dos membros da OPC, são homens e mulheres que moram no bairro e tornam possível a continuidade do projeto através do trabalho voluntário. Pág. 03 Pág. 08 O passado fazendo identidade: conheça um pouco da história do bairro Água Mineral Pág. 04 e 05 Versos Livres: a poesia de Ytalo Sousa Com apenas 12 anos de idade, Ytalo Rodrigues de Sousa já é autor de 63 poesias, geralmente inspiradas nas paisagens a sua volta e na realidade em que vive. Fã de Pedro Bandeira, ele sonha lançar seu próprio livro de poesias, e já está pensando em que título vai dar a ele. Pág. 07 Galeria

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Primeira edição do jornal comunitário Mineral Notícias. Um projeto desenvolvido no bairro Água Mineral, zona norte de Teresina, por alunos do Projeto de Extensão Mineral Notícias, do curso de Jornalismo da UFPI.

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Teresina-PI, Julho de 2012 | N. 01

Biblioteca comunitária promove inclusão social e trabalho voluntário

Há quase 5 anos, a Organização Preparando Cidadãos (OPC) fundou a Biblioteca Comunitária Preparando Cidadãos (BICOPC): a primeira e única biblioteca comunitária do bairro Água Mineral. Além do acervo disponível para consulta e empréstimos, a BICOPC realiza a oficina de leitura “Ler é Necessário”, atendendo cerca de 40 crianças por ano. Os responsáveis pela manuntenção e funcionamento da Biblioteca, além dos membros da OPC, são homens e mulheres que moram no bairro e tornam possível a continuidade do projeto através do trabalho voluntário. Pág. 03 Pág. 08

O passado fazendo identidade: conheça um pouco da história do bairro Água Mineral

Pág. 04 e 05

Versos Livres: a poesia de Ytalo Sousa

Com apenas 12 anos de idade, Ytalo Rodrigues de Sousa já é autor de 63 poesias, geralmente inspiradas nas paisagens a sua volta e na realidade em que vive. Fã de Pedro Bandeira, ele sonha lançar seu próprio livro de poesias, e já está pensando em que título vai dar a ele.

Pág. 07

Galeria

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Identidade pode ser considerada um conjunto de características próprias e exclusivas de uma determinada pessoa – suas atividades, sua história de vida,

seus sonhos e fantasias. A identidade de um povo ou comunidade também é resultado de sua própria história. Estudar a origem de um povo nos permite entender suas estruturas (sociais, econômicas, religiosas, políticas, ideológicas) e o processo de transformação que

levou a sua atual organização. Permite-nos identificá-lo. Dentre as diversas funções do jornalismo, fazer história talvez seja uma de suas mais importantes

contribuições para a humanidade. Matérias e artigos jornalísticos escritos hoje, poderão ser importantes fontes de pesquisa amanhã. Claro que devemos ter em mente que nem tudo o que está escrito corresponde necessariamente à verdade. Mesmo o mais ético dos jornalistas possui marcas de sua própria ideologia e

realidade social em seu texto. E um bom historiador sabe que a historia é descrita pelas sociedades dominantes, por homens e mulheres que podem ter sido motivados por pressões, perseguições, interesses

financeiros, e influências de sua própria cultura. Nesta primeira edição do Mineral Notícias, trazemos uma reportagem especial sobre a história do bairro Água Mineral. Buscamos resgatar, através de depoimentos dos próprios moradores, a identidade desta comunidade. Iluminando o passado, entende-se o presente e se constrói o futuro. Afinal, para evoluir e melhorar é preciso

compreender a origem dos problemas.A partir daqui, tentaremos contar – e contribuir para mudar – a história da comunidade do Água Mineral sob

o olhar dos seus moradores, com eles e para eles.Em nome de todos os estudantes que dedicaram tempo e esforço para que o Mineral Notícias surgisse, agradeço à Organização Preparando Cidadãos, em especial ao Sr. Antônio Castro Alves, cujo sonho de

criar um jornal comunitário nos incentivou a trabalhar voluntariamente para este fim; à jornalista Cibelle Resende, por ter divido um pouco de seu conhecimento conosco; à professora Denise Moura, que nos ajudou a diagramar esta edição e à professora Dra. Jacqueline

Lima Dourado, cujo apoio e orientação foram indispensáveis para que este projeto fosse, de fato, iniciado.

Boa leitura.

Tertuliano Filho

Editorial2

Universidade Federal do PiauíPró-Reitoria de Extensão (PREX)

Centro de Ciências da Educação (CCE)Departamento de Comunicação Social (DCS)

Curso de Comunicação Social : Hab. Jornalismo

Projeto de Extensão Mineral Notícias

Reitor da UFPI: Prof. Dr. Luiz de Sousa Santos Júnior

Pró-Reitora de Extensão:Profª. Drª. Maria da Glória Carvalho Moura

Diretor do CCE: Prof. Dr. José Augusto de Carvalho Mendes

Sobrinho Chefe do DCS:

Profª. Drª. Jacqueline Lima DouradoCoordenador do Curso:

Prof. Dr. Paulo Fernando de Carvalho LopesCoordenadora do Projeto:

Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado

ReportagensAline Rocha

Claryana Alves Edilberto Marques

Isabela LopesJamila Carvalho

Lísia Gomes, Luana FurtadoTertuliano Oliveira

Victor Lages

FotosEdilberto MarquesMarcela Pachêco

[email protected]

Projeto Gráfico Aline Rocha

Apoliana OliveiraDenise MouraLaize Basílio

Tertuliano Oliveira

Jornalista Responsável Denise Moura (DRT/PI - 1529)

Expediente

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3Inclusão social na biblioteca comunitária “Preparando cidadãos”

Oficina de leitura “Ler é necessário” ajuda no desempenho escolar das crianças da comunidade

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Tertuliano Filho

“O projeto surgiu na necessidade de atender o pessoal da comunidade que não tinha uma biblioteca comunitária nem um projeto de incentivo à leitura”, conta o au-xiliar administrativo e líder comunitário, Antônio Castro Alves. Ele morou pratica-mente a vida toda no bairro e mesmo pos-suindo apenas o ensino médio completo sempre teve uma paixão pela leitura. Em 2007, precisou arrecadar livros para estu-dar para um concurso público e depois dis-so sentiu que seu bairro precisava de uma biblioteca comunitária. Como não conse-guiu apoio nem do poder público nem de instituições privadas, Castro passou a jun-tar livros através de doações e montou um acervo na sala de sua própria casa. “Todo mundo dizia que eu tava ficando era louco, arrecadando livro pra botar na sala de casa pra montar uma biblioteca”, diz ele.

Foi por sugestão de um amigo que Castro decidiu iniciar a oficina de leitura para que as crianças do bairro, que não ti-nham aulas durante as manhãs de sábado, pudessem se ocupar com alguma ativida-de. E foi ali mesmo, na sala de sua casa, que a oficina “Ler é necessário” surgiu. Para isso, ele contou com a ajuda de ou-tros moradores com os quais fundou a Organização Preparando Cidadãos (OPC), no dia 21 de setembro de 2007.

Ao longo do tempo, as atividades da biliboteca foram sendo ampliadas, e um novo espaço era necessário. A nova sede seria a sala montada na Unidade Escolar Wall Ferraz, cedida pela então diretora da escola como forma de reconhecimento do trabalho da Organização Preparando Ci-

dadãos, que já oferecia aulas de dança a cerca de 40 alunos da escola, os quais de-monstravam melhoras no comportamento e no rendimento escolar por conta da ati-vidade. Assim, em 31 de outubro de 2009, foi inaugurada a nova BICOPC, que pas-sou a funcionar numa sala própria, com estantes para os livros e materiais pedagó-gicos, além de computadores para uso dos alunos da oficina de leitura.

“Ela promove também cursos de qua-lificação profissional, curso pra mãe dos alunos, doação de alimentos, doação de roupa, tudo isso a gente já fez.”, acrescen-ta Castro Alves, coordenador executivo da OPC desde sua fundação. Além dos demais integrantes da organização, traba-lham na biblioteca o Flaubert Alves, a Da-nielle Carvalho e o Jucélio Alencar, todos como voluntários. “É um projeto que be-neficia muito à sociedade, o nosso bairro, a nossa comunidade, englobando o hábito da leitura, da aprendizagem das crianças e até mesmo tirando elas da rua”, comenta Jucélio, 26 anos, que trabalha durante a

manhã como cozinheiro e passa as tardes na biblioteca recebendo os visitantes.

Em quase 5 anos, o trabalho realizado pela OPC conquistou grande aceitação na comunidade e a biblioteca, principalmente pela oficina “Ler é necessário”, é bastante procurada. “Eu acho muito bom esse pro-jeto, eles trabalham bem com as crianças. Eu acho que abre mais a inteligência das crianças”, declara a Dona Áurea Isabel. Ela diz que sua filha Carolina, 12 anos, gosta de ir à BICOPC para fazer redação e participar dos passeios educativos. A mãe do Marcos Vinícius, Dona Márcia Regina, diz que o filho melhorou o comportamento em casa depois que passou a frequentar a oficina e que “ele aprendeu mais a ler, que ele não sabia ainda direito. Depois que ele entrou lá que ele aprendeu.”

Assim como os demais voluntários, Castro reconhece que nem sempre é fácil. Falta apoio e incentivo, mas sobra força de vontade e esperança em melhorar a re-alidade do bairro Água Mineral. “A minha expectativa é que o projeto possa crescer de uma forma mais aperfeiçoada, mais profissional, com um melhor atendimento para as crianças”, diz. Ele espera que ou-tras comunidades da periferia de Teresina sigam o exemplo e acredita que se houves-se maior incentivo à leitura, haveria tam-bém mais pessoas qualificadas nos bairros menos desenvolvidos da cidade.

Ainda não há acesso à internet, mas os alunos têm a oportunidade de aprender a usar os com-putadores, digitar e, claro, brincar!

Os voluntários Castro Alves, Maria do Socorro, Francisco Gomes e Danielle Carvalho.

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Quem observa o Bairro Água Mineral hoje, com suas casas, igrejas, comércios, ruas asfaltadas, energia elétrica, escolas e muitas famílias que ali moram, nem sempre se dá conta do passado por trás dessas conquistas.

“Quando eu cheguei aqui era tudo mata, só tinha uma varedinha da gente entrar”, recorda a moradora Maria José Alves de Oliveira, 66 anos, que reside no bairro há trinta e três.

No final da década de 70 e inicio da década de 80 a visão de quem morava no Água Mineral em nada lembrava a que vemos agora. Nesse período, contava-se nos dedos os moradores, e alguns se tornavam ponto de referência como “A Casa da Velha dos Gatos”, “ A Casa do Prefeito”, e a “Casa da Dona Maria”.

Não havia água encanada, nem postes, nem ruas definidas, nem grandes construções e as casas eram todas de taipa. A única forma de conseguir água era através do famoso poço do “Compadre Zequinha”, hoje falecido.

O hospital mais próximo ficava no bairro Primavera e a falta de condições financeiras e de transportes obrigavam

os que precisavam de atendimento médico a ir caminhando até o hospital.

O bairro só passou mesmo a ser povoado entre as décadas de 80, 90. Com a chegada de mais moradores o bairro foi evoluindo, tomando forma e melhorando as condições de vida dos que lá habitavam.

Uma curiosidade que a maioria dos habitantes do bairro desconhece é a origem do seu nome. Segundo dados da Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação de Teresina, o bairro teria ficado conhecido assim por ter se desenvolvido em torno da fonte de água mineral York, fabricada pela empresa Norsa.

Já Dona Duquinha, primeira moradora do bairro, afirma ter sido ela a dar esse nome ao Água Mineral. Ela diz que quando o Seu Aragão (personalidade da época, dono do pesque e pague próximo dali) visitava a região, sempre parava na sua casa e pedia um copo d’água. Ao beber, sempre exclamava “Oh! Que água boa, parece água mineral!”. Ela conta que passou a chamar o local de Água Mineral, e o nome permaneceu.

Atualmente com 92 anos, lúcida

e ainda residente no bairro, Dona Duquinha (como prefere ser chamada) foi responsável pela construção da Igreja Católica da comunidade, ensinou catecismo durante muito tempo, fundou o centro de apoio da diocese e acompanhou todo o processo de evolução do local.

Infelizmente, Dona Duquinha é uma das poucas moradoras que presenciou a criação do bairro. Muitos se mudaram, faleceram ou não possuem condições de nos fornecer mais detalhes dessa rica história, como datas precisas.

Aline Rocha

O passado fazendo identidade: uma história sobre o bairro Água Mineral

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Dona Duquinha é a moradora mais antiga do bairro.

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O passado fazendo identidade: uma história sobre o bairro Água Mineral

Vila Cristalina vista de um dos pontos mais altos do bairro

Água Mineral

Vila CristalinaLuana Furtado

Há 10 anos, a vila situada dentro do bairro Água Mineral, vem conquistando aos poucos melhorias urbanas, e passa por um crescente desenvolvimento, que é possível graças à força de vontade dos moradores.

Ali, onde hoje fica a vila Cristalina, havia um clube de caça e pesca que era freqüentado por algumas autoridades, o que fazia muitos acreditarem que o terreno era uma área federal, impossibilitando dessa forma a invasão. No entanto, se tratava de um clube privado e que segundo Washington Luís de Sousa, um dos habitantes mais antigos da vila e que participou do processo de invasão, estava depredado e com uma grande dívida com a prefeitura, motivos estes que ajudaram o movimento a ganhar força.

“A vila cristalina foi uma invasão pacífica, não vou dizer que tenha sido 100% pacífica, mas, porque sempre tem aquele confronto entre poder público e a população, uma hora se entende, outra hora não se entende, foi isso que

aconteceu”, explica Washington.

Em 2007 a vila recebeu iluminação pública, um ano depois a água, com oito anos houve a instalação do de uma creche e com nove anos o calçamento em grande parte das ruas. Hoje a vila também conta com transporte público e carro de lixo, e mais na frente com galerias de esgoto que estão terminando de serem construídas. Quanto ao desenvolvimento Washington ainda fala: “Apesar da vila ser muito jovem, eu acho ela desenvolvida, porque a gente vê outras vilas por ai que já tem 30 anos e não tem o desenvolvimento que a Vila Cristalina tem.”

Melhorou alguma coisa?Claryanna Alves eVictor Lages

As mudanças nos últimos anos no bairro foram bem significativas, como conta o diretor da Unidade Escolar Raimundo Wall Ferraz, João Patrício, pois “antes havia uma carência muito grande de infra-estrutura em todos os aspectos. Hoje já têm duas quadras grandes construídas, escolas funcionando nos três turnos com alguns projetos que auxiliam na educação

desses jovens da periferia carente”.

Mesmo com essas melhorias, ainda falta muito. Há carência de creches onde as mães possam deixar seus filhos e irem trabalhar e muitos reclamam da falta de segurança no bairro. A assistência médica é apontada pela manicure Eunice da Costa como um outro problema. “Há 24 anos que moro aqui e nunca consegui ser atendida. Vou para o bairro Primavera ou pro Buenos Aires por que, pra ser sincera, não gosto do atendimento daqui”, diz ela sobre o único posto de saúde do bairro.

As melhorias, ainda que aconteçam vagarosamente, também são apontadas pelos moradores. Desde a água e a luz, que hoje chegam à boa parte das casas e o calçamento, presente nas principais ruas. No entanto, o diretor João Patrício acredita que a comunidade deve cobrar do governo por serviços mais eficientes.

Porém, nem a carência que o bairro apresenta impediu que o dono de lanchonete José Tavares se mudasse para cá, mas o que lhe encantou mesmo foi a dona Eunice. “Eu vim pra cá porque eu gostei. Eu vim pra cá por ela!”, diz.

5Teresina-PI, Julho de 2012 | N. 01

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Teresina-PI, Julho de 2012 | N. 01

Dedicado às muitas “Meires” do Água Mineral

6Ações de valorização aos idosos são realizadas no bairroEdilberto Marques

Dona Mazé, 66 anos, não perde os passeios promovidos pelo grupo de Idosos.

Jamila Carvalho

A terceira idade na Água Mine-ral também é foco de ações sociais que estimulam a melhor qualidade de vida através de palestras sobre saúde, passeios e atividades físicas. O grupo possui cerca de 30 participantes e é li-derado por Francisco Gomes. “O nosso papel é acompanhar a saúde do idoso para que ele tenha uma vida saudável”, comenta Francisco.

Por conta da falta de assistência, discriminação e até muitas vezes aban-dono da família, o líder do grupo conta o quanto é gratificante trabalhar com a terceira idade através da luta do traba-lho voluntario.

Francisco ainda revela as dificulda-des de conseguir apoio e patrocínio para o grupo. Os ônibus para os passeios são

cedidos pela SEMEC, e algum material necessário para a realização das ações são pedidos em forma de ofício aos políticos, que negam ajuda e tentam se autobeneficiar com o apoio na prática social. Cabe então a cada membro do grupo contribuir financeiramente para a realização das ações

Uma das frequentadoras das ações do grupo de idosos do Água Mineral é Dona Mazé, aposentada, 66 anos e mãe de seis filhos, ela diz que os eventos e passeios ajudam a espairecer, como lembra uma das ações realizadas no Zoobotânico. Percebendo algumas mu-danças adquiridas com as ações, Dona Mazé diz que o sonho para o resto de vida é o sossego ali mesmo naquele bairro, onde mora há mais de 30 anos.

A quem deseja ajudar o grupo de idosos do Bairro Água Mineral basta procurar a Associação de Moradores e prestar qualquer auxílio voluntário que beneficie os participantes.

Ela acorda cedo todos os dias. Prepara o café da manhã, arruma a casa, depois ar-ruma o seu marido. Sim, o seu marido. A rotina da dona de casa e artesã Maria do Socorro Castro (35), mais conhecida como Meire, é semelhante ao de muitas donas

de casa espalhadas pelo Brasil, tirando um aspecto: Meire também é responsável pelo bem estar do marido, o ex-músico Francis-co de Assis (43), desde que este sofreu um acidente grave, ao cair de uma Mangueira, na qual subiu pra tentar colher algumas fru-tas para suas filhas.

O acidente, que ocorreu há cerca de dois anos, surpreendeu toda a família, que além do pai e da mãe, é composta por mais três filhos. Francisco caiu de cabeça no chão, o que afetou a sua medula. “Quan-do eu cheguei lá no HUT, ele só mexia os olhos. Todos os oito médicos que conver-saram comigo diziam que não sabiam por que que ele ainda estava vivo. Hoje ele deu a volta por cima.”, conta Meire. Desde que o tratamento começou, Meire, que além de fazer artesanato com biscuit, era também

empregada doméstica, teve que deixar o trabalho fora de casa de lado para cuidar do esposo, com a ajuda dos filhos. O biscuit é o que complementa a renda da família. Hoje, Francisco é cadeirante e recuperou parte dos movimentos, ao contrário das expectativas da medicina sobre o seu caso. Faz fisioterapia todos os dias e tem a espe-rança de melhorar cada vez mais.

A história de Meire e sua família, mo-radora do Água Mineral há onze anos, nos conta não só de como a vida pode nos trazer dificuldades, mas nos mostra que é possível superá-las a cada dia. Não é difícil imagi-nar que existam várias “Meires” espalha-das pelo bairro Água Mineral, com vontade de seguir em frente, mesmo diante das difi-culdades. É para essas mulheres guerreiras que dedicamos os nossos parabéns!

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Teresina-PI, Julho de 2012 | N. 01 7Versos livres

A história de Ytalo Sousa contada em prosa

ano de 2011, quando Ytalo passou a frequentar a Biblioteca Comuni-tária “Construindo Cidadãos”. Lá, o garoto teve contato com seus pri-meiros livros de poesia e literatura. Ao término de um trabalho feito em classe, Ytalo folheou um livro de sobre Lampião e a partir disso, escreveu seu primeiro poema, cha-mado “A paisagem natural”.

Desde então, Ytalo não parou mais de escrever. Ao todo, o meni-no possui 63 poesias escritas, com

uma métrica própria e temas livres. Ele adora escrever sobre paisagens e a realidade a sua volta.

Filho mais velho de quatro ir-mãos, Ytalo mora com os avós pa-ternos, que o cria junto com seu se-gundo irmão. A família do garoto passa por dificuldades, pois a avó, além de cega, ficou paraplégica, necessitando do auxílio de cadeira de rodas para se locomover. O me-nino, emocionado, conta que fez uma poesia ao ver a situação da vó.

Ytalo afirma que já sofreu preconcei-to de garotos mais velhos por escrever. “Já fui chamado de homossexual por escrever poesias, não que eu seja, mas não me im-porto. Já até botei muitos garotos pra correr, só usando poesia”.

Fã de Pedro Bandeira, autor de

Quando na minha terra o pássaro cantar

Ytalo Sousa

Onde fica essa terra?Que tem um pássaro a cantarQuantas portas se abrem a ficar.

Quantas pessoas ficam lá?Pro lado, pro centro a rodar,Será que estão procurando do sabiá?

Qual será o pássaro, que envolve todos a cantar?Qual a paisagem dessa terra, que a música afeta.

Quando a música bate no meu coração,Eu me lembro da minha canção.

Ytalo escrevendo sua poesia (transcrita ao lado)

Lísia Alexandre e Isabela Lopes

Com quase 12 anos completos, o garoto simples, falante, vaido-so e brincalhão Ytalo Rodrigues Sousa, tem um sonho: lançar um livro com suas próprias poesias.

Tudo come-çou no início do

livros infanto-juvenis, Ytalo man-tém o hábito de leitura, para me-lhorar sempre a sua escrita. Gasta seu tempo ocioso com os livros da biblioteca da escola, entre um jogo de futebol com os amigos e as tarefas escolares.

Ainda não existe previsão para o livro de Ytalo ser lançado, mas o garoto já anda pensando no nome de obra, dentre eles estão “Poesias do Ytalo” e “Poesias e Paisagens”.

Jornalismo Comunitário: fala cidadão, com a voz da comunidadeLuana Furtado e Tertuliano Filho

A comunicação comunitária serve para desenvolver a qualidade crítica do cidadão em relação a sua própria realidade, desenvolvendo também a prática da luta por seus direitos. É um tipo de jornalismo difícil de ser encontrado por se tratar, normalmente, de um trabalho voluntário, que demanda jornalistas e pessoas da comunidade que se disponham a assumir um compromisso com o veículo. Além disso, há a necessidade de recursos financeiros para manter o jornal.

O Mineral Notícias é uma tentativa de fazer jornalismo comunitário no bairro Água Mineral, e daqui para toda Teresina. É uma

tentativa de dar voz a todos os moradores deste bairro, que como a maioria dos cidadãos teresinenses, precisam de (e merecem) um espaço para expressar-se, criticar e reivindicar.

Por isso, convidamos você, leitor, a apoiar e participar deste veículo através do simples ato de ler e/ou entrar em contato conosco para sugerir matérias para as próximas edições. E aproveitamos também para promover uma campanha a favor da Biblioteca Comunitária Preparando Cidadãos (BICOPC), que inspirou a idealização deste jornal.

A BICOPC recebe durante todo o ano doações de livros de literatura em geral e infantojuvenil, além de livros didáticos de edições renovadas há pelo menos 2 anos. As doações podem ser entregues na Rua

B, nº 610, bairro Água Mineral, próximo a Vila Cristalina. Qualquer dúvida entre em contato com o Sr. Antônio Castro Alves através dos números (86) 9910-0359 ou (86) 9444-9674. Ou ainda, através do e-mail [email protected] semestre, a BICOPC precisa de,

pelo menos:

40 lápis com borracha 40 cadernos de caligrafia40 cadernos de desenho

25 tesouras pequenas (sem ponta)20 caixas de tinta guache02 tubos de cola grande

02 resmas de papel A4“Muitas vezes uma pequena oferta

produz grandes efeitos” (Séneca)

Contamos com sua ajuda!

Page 8: 1ª Edição - Mineral Notícias

Galeria

Fotos para Galeria: Edilberto Marques

(Imagens capturadas durante festa de Natal realizada na Unidade Escolar Raimundo Wall Ferraz, sede da BICOPC, em dezembro de 2011)

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