15-Hemorroida
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Projeto DiretrizesAssociação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina
O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal
de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas
neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela condutaa ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.
Autoria: Sociedade Brasileira de Coloproctologia
Elaboração Final: 31 de janeiro de 2006
Participantes: Oliveira Jr O, Moreira JPT, Araújo SEA
Hemorróida: Manejo N ão-Cirúrgico
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2 Hemorróida: Manejo Não-Cirúrgico
DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA:Busca na literatura científica, na rede da Internet, em base de dados pri-mários (PubMed) por acesso e revisão de artigos originais; também, por
meio de consensos de sociedades de especialistas envolvidas no manejo
da doença hemorroidária.
GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.
B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
C: Relatos de casos (estudos não controlados).
D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos
fisiológicos ou modelos animais.
OBJETIVO:Analisar, baseado em evidências científicas, as propostas de tratamento
clínico e conservador para a doença hemorroidária.
CONFLITO DE INTERESSE:Nenhum conflito de interesse declarado.
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INTRODUÇÃO
O tratamento das hemorróidas depende mais do conjunto desintomas de cada paciente e dos achados objetivos ao exame físicoe proctológico. Portanto, apenas as hemorróidas sintomáticas pre-cisam ser tratadas1(D).
Uma vez feito o diagnóstico de hemorróida sintomática, otratamento dependerá do grau e da extensão da lesão. As opçõesincluem:
1. TRATAMENTO
CLÍNICO
;2. TRATAMENTO CONSERVADOR (MAIS FREQÜENTEMENTEREALIZADO EM NÍVEL AMBULATORIAL / CONSULTÓRIO); E
3. TRATAMENTO CIRÚRGICO.
Poucos estudos clínicos recentes abordam os resultados do tra-tamento clínico e do tratamento conservador.
TRATAMENTO CLÍN ICO
A modificação dos hábitos alimentares, com maior ingesta delíquidos e de fibras, objetivando diminuir o trauma e o esforçoevacuatório, representa recomendações universais a todos os por-tadores de doença hemorroidária a despeito do grau 2(D).
Uma vez que a diarréia e o aumento do número de evacuaçõeslevam à exacerbação dos sintomas de hemorróidas, a regulariza-ção do hábito intestinal, em pacientes com diarréia crônica esíndrome do cólon irritável, possivelmente, resulta em alívio
sintomático2
(D).
O emprego de pomadas, cremes e supositórios vendidos emfarmácias e sem prescrição médica, da mesma forma que as reco-mendações dietéticas, tornaram-se ubiquitários, porém evidênciaconsistente acerca da eficácia do uso destes agentes tópicos(antiinflamatórios, corticóides e anestésicos) ainda éaguardada2(D). Os riscos de medicações tópicas incluem reações
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alérgicas, seqüelas do uso de longo prazo de
esteróides tópicos e o potencial atraso na inves-tigação diagnóstica1(D).
O emprego de laxantes formadores de bolofecal resulta em diminuição dos sintomas desangramento e de dor à evacuação3,4(A).
Nos pacientes portadores de hemorróidasinternas de terceiro grau, inicialmente tratadospor meio da ligadura elástica, a administração
posterior de uma dieta rica em fibras diminuiua incidência de recorrência dos sintomas5(A).
Outras medidas são consideradas benéficas,incluindo-se, dentre elas, orientações higiêni-cas (abolição do papel higiênico) e banhos deassento com água morna. A água morna, apli-cada na região anal, diminui, significativamen-te, a pressão de repouso do canal anal provocadapor espasmo esfincteriano, conseqüentemente,
diminuindo o sintoma de dor anal6
(B).
Pacientes portadores de hemorróidas nãoprolapsadas e com sangramento agudo, tratadoscom suplemento de fibras associado a derivadosflavonóides micronizados, podem controlar, deuma maneira mais segura e rápida, o sangramento,quando comparado com o uso da ligadura elásticaassociada a suplemento de fibras; entretanto, nãohouve diferença significativa na taxa de recidivados sintomas, após seis meses de acompanhamento
destes pacientes7(B). Pacientes portadores dehemorróidas internas de primeiro e segundo graus,com sangramento ativo e agudo, se beneficiam,quando comparados ao grupo placebo, com a ad-ministração de derivados flavonóides micronizados,podendo ser postergado, para um momento maisconveniente para o paciente, procedimentos maisinvasivos8(B).
TRATAMENTO CONSERVADOR
O tratamento em consultório da doençahemorroidária inclui algumas opções clínicas.Dentre elas, destacam-se a ligadura elástica, afotocoagulação por raios infravermelhos e aescleroterapia. Os objetivos destes tratamentossão diminuir a vascularização ou o volume dashemorróidas e/ou aumentar sua fixação à pare-de retal. Como resultado, obtém-se a reduçãodos sintomas de prolapso e sangramento2(D).
Em metanálise de 18 ensaios clínicosrandomizados, a ligadura elástica sobressaiu-secomo a melhor forma de tratamento não-cirúr-gico da doença hemorroidária como resultadoda menor ocorrência de recidiva resultante deseu emprego. Está indicada para o tratamentoinicial de todos os casos de hemorróidas inter-nas grau 1 a 39(A).
Comparando-se a tripla ligadura elástica dos
mamilos hemorroidários principais, em sessãoúnica, com a ligadura elástica convencional(quando é ligado um mamilo por sessão), am-bos os métodos são efetivos no tratamento dahemorróida de primeiro e segundo grau, e a in-cidência de dor e de complicações, após o pro-cedimento, são semelhantes10(A). Portanto, noque diz respeito ao quesito custo benefício, aligadura elástica tripla, em sessão única, é a maisrecomendada10(A).
A ligadura múltipla de mamilos he-morroidários internos, em uma única sessão, podeparar o sangramento de uma maneira mais efeti-va quando comparada à ligadura simples (96,7%dos pacientes submetidos à ligadura múltipla pa-raram de sangrar na primeira semana, compa-rando-se com 79% no grupo de ligadura sim-ples). Quanto à incidência de dor, tenesmo, sin-
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tomas urinários e incidência de ressangramento
pós-ligadura, após um ano de acompanhamen-to, não houve diferença entre os dois grupos11(A).
O uso de anestésico injetável (Lidocaína a2%) no tecido hemorroidário ligado não reduzo desconforto após o procedimento de ligaduraelástica tripla12(A).
Antes de se indicar o tratamento cirúrgicode um caso de doença hemorroidária interna desegundo ou terceiro grau, deve-se considerarprimeiramente a indicação de ligadura elástica,a qual apresenta resultados satisfatórios em re-lação à recidiva dos sintomas; é um procedi-mento com pouca incidência de dor e permite,ao paciente, um retorno bem mais precoce àssuas atividades laborativas13(A).
A fotocoagulação com raios infravermelhosé um método ambulatorial simples, rápido, se-guro e eficiente no tratamento de hemorróidas
internas de primeiro e de segundo graus, apre-sentando menor incidência de efeitos adversos eboa aceitabilidade pelos pacientes, quando com-parada à ligadura elástica14,15(A). Em um perí-odo de um ano de acompanhamento, quandose utilizou a ligadura elástica para o tratamentoda hemorróida em estágio inicial (segundo grau)obtiveram-se melhores resultados no controle erecidiva dos sintomas, quando comparada àfotocoagulação; por outro lado, apesar de sermenos eficiente, a fotocoagulação com raios
infravermelhos é um procedimento menos do-loroso no pré e pós-procedimento e, conseqüen-temente, mais aceitável pelo paciente16(A).
Na abordagem da doença hemorroidária deprimeiro ou segundo graus, as complicações(sangramento, dor e desconforto anal) são maiscomuns após o procedimento com ligadura elás-
tica, quando comparada à fotocoagulação; po-
rém, o acompanhamento dos pacientes, após afotocoagulação, por um período de até um ano,mostrou que outros tratamentos (inclusive ahemorroidectomia cirúrgica) são maisfreqüentemente necessários16(A).
A escleroterapia envolve a injeção de umagente esclerosante (fenol 5% em óleo de amên-doas, mais freqüentemente em nosso meio) nointerior do mamilo hemorroidário17(D). Assimcomo a ligadura elástica, a esclerose é um pro-cedimento relativamente rápido e realizado semnecessidade de anestesia com o auxílio de umanuscópio18(A). A escleroterapia parece associ-ada a menor dor se comparada à ligaduraelástica19(B ). Para pacientes portadores dehemorróidas de primeiro ou segundo grau, aescleroterapia tem eficácia de até 90% para oalívio ou abolição de sintomas de formaindepedendente do número de sessões20(A). Háevidências acerca dos melhores resultados da
associação da escleroterapia e da ligadura elásti-ca com relação aos desfechos de alívio ou aboli-ção de sintomas21(A).
COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTOCONSERVADOR
A complicação mais comum do tratamentoconservador da doença hemorroidária é a dorque está estimada entre 5% e 60% dospacientes16,18(A). O manejo é mais comumenterealizado com o emprego de analgésicos e ba-nhos de assento9(D ). Abscesso, retençãourinária, escape da banda elástica, prolapso etrombose podem ocorrer, porém sua freqüênciaestá estimada em menos do que 5%22(C). Aocorrência de sangramento importante está as-sociada à queda da escara resultante da necrosedo mamilo hemorroidário e pode necessitar con-
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trole por injeção, nova ligadura ou sutura sob
anestesia9(D). Complicações infecciosas graves,como a gangrena de Fournier, são extremamenteraras, e estão associadas à realização do proce-dimento em pacientes imunocomprometidos,neutropênicos ou diabéticos23(C).
ESCOLHENDO ENTRE OS MÉTODOS
É difícil encontrar evidência consistenteacerca da superioridade de um método sobre ooutro9(D).
Com relação ao desfecho de eficácia do tra-tamento conservador, uma metanálise de cincoensaios que incluíram 862 pacientes submeti-dos a tratamento conservador da doençahemorroidária por meio de escleroterapia, liga-dura elástica e fotocoagulação apontou a liga-dura elástica como o método mais eficaz namedida em que um menor número de pacientessubmetidos a este tratamento necessitou de re-
petição de sessões24(A). O mesmo resultado de
maior eficácia foi obtido pela ligadura elástica
em outro estudo de mesmo desenho maisrecente25(A).
Com relação ao desfecho de dor pós-trata-mento, em ambas as metanálises citadas aci-ma, a ligadura elástica esteve mais associada àdor do que a escleroterapia ou a fotocoagulaçãopor infravermelho24,25(A).
Entende-se do acima exposto que é possívelconcluir pela eficácia superior comprovada dotratamento conservador em consultório pormeio da ligadura elástica24(A). Também é ne-cessário que a analgesia pós-procedimento parapacientes submetidos à ligadura elástica deve serotimizada25(A). Quando esta não estiver dispo-nível ou for tecnicamente de difícil realização(mamilo hemorroidário pequeno, favorecendoo escape precoce da banda elástica), conclui-seque o emprego da escleroterapia ou dafotocoagulação por raios infravermelhos passa
a ser a melhor opção de tratamento2(D).
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