1 Sessão 5 A Relação de Explicação II - Desenvolvimento.
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Sessão 5Sessão 5
A Relação de Explicação II -
Desenvolvimento
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• No Círculo de Viena o ideal da definição de um conceito é a análise lógica do conceito, por meio da qual se reduz o conceito à relação que tem que ser satisfeita.
• Esta análise é conhecida pelo nome de análise conceptual e na sessão anterior é apresentado um exemplo de análise de um conceito geométrico simples.
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• Aplicar este ideal de definição directamente ao conceito de “explicação”, i.e., especificando duas condições individualmente necessárias e conjuntamente suficientes não é possível, mas é possível proceder por analogia com o que é usualmente feito no caso da definição explícita.
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• No caso da definição explícita o termo que representa o conceito a definir, chamado tradicionalmente definiendum, é reconduzido a um outro termo, chamado tradicionalmente definiens.
• Ambos são ligados pelo sinal “=“ e um exemplo clássico de uma definição explícita é:
O logaritmo de um número a na base n é igual ao número b tal que ”=bn a
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5ª Sessão - Cont.5ª Sessão - Cont.• Com esta analogia vamos analisar o conceito de
“explicação” adaptando a terminologia usada para o conceito de definição explícita.
• Assim a relação de explicação é definida como uma relação binária entre dois termos, o termo a explicar, ao qual vamos chamar explanandum (no plural diz-se explananda) e o termo por meio do qual a explicação se realiza, o explanans (no plural explanantia).
• Para a notação da relação de explicação usamos a notação já corrente na teoria lógica das relações.
• Assim {<explanandum, explanans>} Denota a relação de explicação
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• Se o termo (ou termos) na posição de explanandum denota um acontecimento, então na posição de explanans ocorre um conjunto de condições, chamadas
as condições iniciais.• Exemplo:
Por que razão apareceu o cometa Halley em 1986?• Para que uma resposta a esta pergunta possa ser uma
explicação no sentido definido, é necessário que na posição de explanans da explicação ocorra uma descrição
i) da posição de Halley aquando da sua última observação;
ii) o valor da sua aceleração.• i) e ii) constituem as condições iniciais exigidas pela
definição.
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• Se o termo na posição de explanandum é uma lei então não se especificam condições iniciais.
• Exemplo: Por que razão é a gravitação inversamente
proporcional ao quadrado da distância?• Neste caso em vez de se especificar condições
iniciais, far-se-á referência a outras leis que conjuntamente explicam a verdade da lei no explanandum.
• O mais frequente formato de explicação contém condições iniciais e/ou leis físicas.
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• Exemplo:Por que razão parece (ou é) o céu azul?
• Esta pergunta é justificada pelo facto de a atmosfera de outros planetas parecer ser de outras cores, tal como a atmosfera de Marte parece ser vermelha.
• Para se ter uma explicação, no sentido definido, da razão pela qual a atmosfera da Terra parece ser azul, é necessário especificar
i) condições iniciais eii) leis que expliquem o fenómeno.
● Essas condições têm que incluir:i) a composição da atmosfera da
Terra, a qual é constituída por moléculas de Nitrogénio e de Oxigénio.
ii) leis:
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• A. 1ª Lei:
a quantidade de luz espalhada por uma molécula de gás é função do seu coeficiente de Rayleigh.
• B. 2ª Lei:
o comprimento de onda da luz azul é de 400 nanómetros.
• Ora como o valor do coeficiente de Rayleigh é de
tem-se que o valor do coeficiente de Rayleigh para a luz azul será de
• A título de comparação: o comprimento de onda da luz vermelha é de 640 nanómetros.
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• Assim o facto de as moléculas da atmosfera da Terra (lei 1.) espalharem mais luz azul do que qualquer outra, é expresso matematicamente pelo facto de o coeficiente de Rayleigh para a luz azul ser um número maior do que para qualquer outra luz.
• Se uma explicação científica tem que conter pelo menos uma lei, em que consiste então o poder
explicativo da lei?
• Para propor uma resposta a esta pergunta é útil contrastar a posição do Empirismo Clássico com a do Círculo de Viena.
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• I. A teoria do Empirismo Clássico
O poder explicativo de uma lei reside no facto de a lei identificar uma relação de causalidade.
• Assim pode-se resumir a posição empirista clássica em duas Teses:
• Tese 1: a equivalência simples:Condição necessária e suficiente de uma explicação
ser científica é ser uma explicação causal.• A ciência identifica causas a fim de poder melhor
controlar e prever os fenómenos que estuda.• Ora não se pode efectivamente controlar e prever sem
estar de posse da relação causal que produz o fenómeno a explicar.
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• Tese 2: Se E1 e E2 são eventos naturais e
se já se estabeleceu que E1 é causa de E2,então tem que existir uma lei geral da qual E1 e E2
são instâncias.
• De acordo com o modelo descrito acima, as condições iniciais que ocorrem no explanans contêm a causa do explanandum e este é o efeito referido na lei que ocorre no explanans.
• Esquematicamente seria:<efeito, causa>
<E2, E1>.
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• Um problema específico da posição empirista é assim a caracterização da relação de causalidade.
• À primeira vista a relação de causalidade é uma sucessão.• Mas obviamente existem sucessões que não são relações de causalidade, como
é o caso de sucessões aleatórias.• Enquanto que numa sucessão causal o efeito depende da causa, numa
sucessão aleatória não há sequer relação entre o efeito e a causa.• Que propriedades são comuns a todas as sucessões causais?
i) Todas as sucessões causais são sucessões temporais.ii) Todas as sucessões causais são casos particulares
ou instanciações de uma lei geral.
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• Os exemplos contrastantes:
I.) Entre o choque de 2 bolas de bilhar existe uma relação causal que éi) uma sucessão temporal e que é ii) uma instanciação das leis de Newton.
II.) Entre o número que ganhou a lotaria e a cor do céu no dia da extracção, existe uma
relação aleatória. O número obtido pela lotaria não é função da cor do céu.
• Assim na sucessão causal o papel da lei é articular a causa com o efeito.
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• Constitui-se assim o slogan empirista:“Da causa ao efeito só pela lei”.
• Em particular, não se exige que esta lei seja especificada explicitamente na asserção causal.
• É suficiente que seja especificável em princípio.
• Fica assim demonstrado que qualquer explicação causal é uma explicação científica.
• Logo está provada a primeira metade da equivalência:“uma explicação é científica se e somente se
é uma explicação causal”.
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• A nossa questão é agora procurar demonstrar que qualquer explicação científica é também uma explicação causal, tal como esta é definida acima.
• A principal dificuldade está em conciliar o requisito da ordem temporal na relação de causa e efeito com o conteúdo usual das leis científicas onde uma tal ordem é em geral excluída.
• Exemplo: A Lei de Boyle.• Pela Lei de Boyle a equação
T = P x Vexprime o facto de que a temperatura é igual ao produto da pressão pelo volume.
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• No formato proposto a temperatura é o explanandum e o produto da pressão pelo volume é o explanans. Logo o efeito é a temperatura e a causa é o produto da pressão pelo volume.
• Mas a lei de Boyle exprime no entanto a ocorrência simultânea do explanandum e do explanans.
• É assim um contra-exemplo da tese de que qualquer lei científica identifica uma relação causal, definida esta como sucessão temporal.
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• Repare-se ainda que a sucessão temporal não é condição suficiente de causalidade.
• Exemplo: O relâmpago precede o trovão.
• Mas o relâmpago não é a causa do trovão, na verdade são ambos efeitos.
• A causa comum aos dois é a descarga eléctrica.
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• II. Teoria do Poder Explicativo da Lei: O Círculo de Viena.
• O conceito de um elo imaterial, sem conteúdo empírico e testável que articula o explanandum com o explanans é uma noção típica no
2º estado da lei dos 3 estados de Auguste Comte.• No 3º estado (o estado científico), a meta a alcançar é
i) explicar a ocorrência de uma lei no explanans sem referência ao conceito de causalidade e
ii) exigir de uma explicação científica que constitua uma relação objectiva entre o explanandum e o explanans.
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• O modelo de explicação a que o CV aspira é o das ciências dedutivas, no qual uma asserção verdadeira
i) não depende do assentimento subjectivo;ii) não depende das circunstâncias
contextuais da sua asserção.• Metodologicamente é necessário, para alcançar este
modelo, distinguir uma teoria lógica de uma teoria psicológica da explicação.
• Se se define o assentimento subjectivo de i) como uma relação de relevância psicológica entre o explanandum e o explanans vivida pelo sujeito cognitivo, então o assentimento subjectivo não faz parte da teoria lógica.
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• Igualmente excluído da teoria lógica da explicação está o conceito de
rede de crenças (the web of belief)
de interesses individuais e das circunstâncias contingentes de uma explicação.
• O conceito chave da teoria lógica, enquanto oposta à teoria psicológica, é o conceito de
relação de relevância explicativa como sendo uma relação objectiva (com 1 valor de verdade) entre as proposições que se afirmam.
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