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SUMÁRIO DO VOLUMELITERATURA

1. Arcadismo 51.1 Arcadismo em Portugal 81.2 Arcadismo no Brasil 12

2. Romantismo 292.1 Romantismo em Portugal 322.2 Romantismo no Brasil 402.3 O nacionalismo, o individualismo e o sentimento de liberdade 412.4 Prosa romântica no Brasil 73

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SUMÁRIO COMPLETOVolume 1 1. Arcadismo 2. Romantismo

Volume 23. Realismo/Naturalismo 4. Parnasianismo 5 Simbolismo6. Pré-Modernismo7. Vanguardas Europeias

Volume 38. Modernismo em Portugal9. Produção literária portuguesa contemporânea10. Modernismo no Brasil

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1. ARCADISMO

O século XVIII foi marcado por grandes transformações (econômicas, políticas e � losó� cas), cujas raízes estavam no século anterior, e que, aos poucos, foram in� uenciando o modo de o homem comum ver o mundo ao qual pertencia. A visão religiosa do mundo e da vida foi superada pela perspectiva terrena.

(...) Ao invés de continuar olhando para o passado como sendo a origem e a perfeição das coisas – já que o mundo era uma obra de Deus (...) – o homem do novo século passou a duvidar da legitimidade dos privilégios dos membros da nobreza, justi� cados por serem considerados os descendentes mais próximos de Adão e Eva. Os valores guerreiros e heroicos aristocráticos foram negados e duvidava-se das verdades proclamadas por autores da Antiguidade que haviam errado sobre tantas coisas e eram contestados pelas novas descobertas, principalmente as realizadas no campo da ciência. Em lugar do passado, os homens invertiam a perspectiva e olhavam para o futuro: o homem, através da razão, com sua capacidade de conhecer e chegar à verdade das coisas, seria capaz de corrigir o que houvesse de errado no mundo e, com isso, construir uma vida mais razoável e mais próxima da vida natural.

Luiz Roncari. Literatura brasileira – Dos primeiros cronistas aos últimos românticos

        Justamente no século XVIII ocorreu, na Europa, uma reação ao exagero e às tensões barrocas. A produção artística esteve centrada na exaltação da vida junto à natureza, à simplicidade da linguagem, à imitação dos modelos greco-romanos, ao equilíbrio emocional e à valorização da racionalidade. Esse período � cou conhecido como Arcadismo ou Neoclassicismo.    No século XVII, ocorreu na Inglaterra uma enorme revolução burguesa. A burguesia, parte da nobreza (médios fazendeiros), artesãos e camponeses se juntaram e lutaram contra o antigo poder do rei absolutista, dos senhores feudais e contra os altos impostos cobrados por eles. Depois de uma guerra civil e de um período turbulento na política e na religião, a Inglaterra se tornou uma monarquia parlamentar (o rei reinava, mas quem governava era o Parlamento, eleito pelos homens que tinham dinheiro).      A revolução burguesa trouxe para os ingleses certa tolerância religiosa, a apropriação capitalista dos campos feudais, a modernização do campo e o começo do desenvolvimento industrial. Dessa forma, a Inglaterra se tornava uma potência capitalista. John Locke, pensador inglês, propôs o liberalismo político, que pregava, entre outras coisas, a liberdade do homem para pensar e dizer o que quisesse.

Disponível em: <http://artesehumordemulher.wordpress.com>. Acesso em: 12 out. 2013.

Festa no jardim – Jean Antoine Walteau

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No século XVIII, muitos pensadores (� lósofos, escritores e cientistas) passaram a re� etir sobre a organização dos Estados, sobre os direitos dos reis, nobres, burgueses e cidadãos comuns e sobre a natureza humana. Sob a in� uência da revolução inglesa e suas ideias liberais, voltaram a acreditar na racionalidade como meio para que o homem pudesse mudar o mundo. A razão humana era a luz que traria esclarecimento, conhecimento e verdade e que combateria a ignorância. Assim, o século XVIII foi chamado de século da luzes. Tais pensadores foram chamados de iluministas. Já o conjunto das tendências ideológicas, � losó� cas e cientí� cas desenvolvidas no período foi chamado de Iluminismo. O povo europeu e o americano encontraram, na França, o modelo de renovação cultural, pois os pensadores franceses foram os mais famosos e in� uentes. Alguns se tornaram ateus, mas a maioria acreditava que Deus se manifestava através das leis da natureza. A investigação da natureza signi� cava um desenvolvimento acentuado das ciências e técnicas, numa verdadeira revolução mental e contemporânea da de� nitiva ascensão das classes burguesas. Os iluministas acreditavam que as pessoas só aceitavam a autoridade do rei e da Igreja sem questionamentos porque elas foram educadas para tal. Sendo assim, todos os iluministas eram contra a opressão do Antigo Regime (rei absolutista mandando em todos) e da Igreja medieval. Dessa forma, os iluministas valorizavam o saber cientí� co e especializado. Com esse saber os homens estariam livres do medo e seriam transformados em senhores de si; a crença na superioridade do outro seria anulada; o conhecimento verdadeiro deveria ser buscado sempre para que as certezas fáceis e não questionadas fossem postas em causa. A subordinação à Natureza deixaria de existir, a partir de seus próprios exemplos. A Natureza, então, seria colocada a serviço dos homens. A publicação mais signi� cativa do Iluminismo foi a Enciclopédia das Ciências, das Artes e dos Ofícios, obra que tinha por objetivo reunir e difundir o saber humano, combater preconceitos e dogmas tradicionais e propiciar um pensamento crítico e livre. Tal produção foi organizada pelos pensadores Diderot, D’Alembert e Voltaire. Todas essas ideias e discussões sobre a liberdade de pensamento e expressão, sobre a igualdade entre os homens, sobre a justiça, contra o absolutismo e a opressão in� uenciaram a Independência dos EUA (1776) e preparavam terreno para a Revolução Francesa (1789). Sendo expressão artística da burguesia, o Arcadismo identi� ca-se com as ideias da Ilustração e as veicula sob forma de valores opostos ao tipo de vida levado pelas cortes aristocráticas e à arte que consumiam, o Barroco. Daí a idealização da vida natural em oposição à vida urbana; a humildade em oposição aos gastos exorbitantes da nobreza; o racionalismo em oposição à fé; a linguagem simples e direta em oposição à linguagem complexa e elitista do Barroco.

“O objetivo de uma Enciclopédia é o de reunir os conhecimentos que estão esparsos sobre a superfície da Terra, expor o sistema geral desses conhecimentos a todos os homens, e transmitir àqueles que virão depois de nós esse mesmo sistema, pois é preciso que os trabalhos dos homens dos séculos passados não tenham sido inúteis para aqueles dos séculos que ainda estão por vir”. Diderot (1713-1784)

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Tais valores artísticos e culturais assumiram no contexto da sociedade europeia do século XVIII um signi� cado de contestação política, pois evidenciavam os privilégios e a vida luxuosa da nobreza e do clero. As principais características literárias do Arcadismo são:• Fugere urbem (“fugir da cidade”). “O mito do bom selvagem”, de Rousseau, aliado à expansão do meio urbano, provoca o bucolismo – a evocação nostálgica do campo e da natureza. A cidade é vista como fonte de tormentos. Assim, o cenário campestre é constantemente o pano de fundo; cria-se um “universo arti� cial” de caráter bucólico e pastoril. O eu lírico integra-se ao campo, menosprezando os valores da cidade.• Inutilia truncat (“cortar o inútil)”. Esse clichê é uma reação aos excessos formais barrocos. Ao contrário do rebuscamento da escola anterior, os árcades preferiam a clareza, a simplicidade e a ordem direta na linguagem.• Carpe diem (“colher o dia”). Os árcades, da mesma forma que os barrocos, tinham consciência da fugacidade do mundo material, mas utilizaram essa máxima por razões diferentes. Enquanto os barrocos procuravam viver intensamente em função da angustiante certeza da morte, os árcades – por serem materialistas e racionais, – consideravam: se a vida é fugaz, melhor aproveitá-la; vale a pena.• Locus amoenus (“lugar ameno”). Os árcades viam a natureza como um lugar ameno, aprazível, onde o homem poderia encontrar equilíbrio e paz interior – pregavam ainda um ideal de vida simples, sem miséria, nem riqueza, sempre junto à natureza, que proporcionasse ao homem tempo para exercer a virtude e a arte.• Aurea mediocritas. A tradução literal dessa expressão não conduz à ideia que se busca expressar. Seria algo como “equilíbrio de ouro”, baseado na máxima latina in médio est virtus, ou seja, “a virtude está no meio”. Os árcades pregavam o ideal de vida simples, sem miséria, nem riqueza, em que a posse do essencial à manutenção física do homem proporcionasse tempo para a virtude e a arte. No Arcadismo, os autores usavam pseudônimos pastoris, inspirados na Arcádia grega. Esta pintura traz os elementos constituintes da produção artística neoclássica. Veja:

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Fugere urbem: a tranquilidade da vida no campo, junto à natureza, desencadeou o budismo e o pastoralismo. Assim, a integração do homem à natureza era valorizada e a cidade, menosprezada. Observe as personagens descalças e vestidas com roupas leves e simples. Debaixo de uma árvore, os pastores descansam tais como alguns animais. O Locus amoenus é representado pelas árvores, pela sombra, pela água, pelo céu, ou seja, pelos elementos naturais que formam o lugar ameno e aprazível, ideal para a tranquilidade de um descanso. O Carpe diem e o Aurea mediocritas são representados pela despreocupação das pessoas que desfrutam o prazer do momento presente, construído sobre a simplicidade da vida em equilíbrio. A in� uência da Grécia antiga foi percebida em diferentes áreas do pensamento e da produção artística do mundo ocidental. Seu valor cultural tem grande relevância, ao ponto de suas histórias e de seu padrão artístico terem sido retomados ao longo do tempo como modelo de perfeição, de ideal artístico a ser buscado. Isso não foi diferente no Arcadismo, pois a mitologia grega esteve presente também na produção artística desse período. Veja neste trecho um exemplo de como isso aconteceu:

Eu vejo, eu vejo ser a Formosuraquem arrancou da mão de Coriolanoa cortadora espada.Vejo que foi de Helena o lindo rostoquem pôs em campo, armada,toda a força da Grécia.E quem tirou o certo aos reis de Roma,só foi, só foi Lucrécia.

(GONZAGA, Tomás Antônio. Encheu, minha Marília, o grande Jove - 21. In: EULÁLIO, Alexandre (Sel.).Tomás Antônio Gonzaga. 5. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 94.)

Coriolano = imperador romano que desistiu da vingança contra a pátria, a pedido da mãe e da esposa.Helena = esposa de Menelau, rei de Esparta, foi raptada por Páris, o que ocasionou a guerra de Troia.Lucrécia Bórgia = matrona romana, foi violentada por Tarquínio, que perdeu o trono de Roma.

1.1 Arcadismo em Portugal

A fundação da Arcádia Lusitana, em 1756, é o marco inicial do Arcadismo em Portugal, escola que se estendeu até o ano de 1825. O século XVIII, em Portugal, foi marcado pelo longo reinado de D. João V, reinado esse � nanciado pelas riquezas do ciclo mineiro do ouro. A primeira metade do século � cou marcada pelo desperdício, pelas obras monumentais (como o convento de Mafra e o aqueduto das Águas Livres, de Lisboa), pela manutenção dos poderes da inquisição, pela in� uência jesuítica, e pela permanência dos valores tradicionais – aristocráticos e clericais – em torno da monarquia absoluta. Na segunda metade do século (1750 – 1777), o “déspota esclarecido” Marquês de Pombal, ministro de D. José I, procurou, com reformas, alinhar Portugal com a Europa Iluminista. O Neoclassicismo corresponde ao período do governo pombalino.

Bocage

Manuel Maria Du Bocage (1765 – 1805) foi o maior representante do Arcadismo português. Bocage nasceu em Setúbal (1765) e morreu em Lisboa, em 1805. Filho de intelectuais, manifestou, desde pequeno, temperamento irrequieto. Sua obra Rimas, de 1791, valeu-lhe o convite para a Nova Arcádia, onde usava o pseudônimo Elmano Sadino (Elmano é anagrama de Manoel; Sadino é homenagem ao rio Sado, que passa pela terra natal do poeta).

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Bocage viveu um tempo de transição que in� uenciou sua poesia. Às in� uências camonianas juntaram-se a das Arcádias e a dos românticos, que já se faziam sentir na Alemanha, na Inglaterra e na França. A poesia de Bocage se divide em lírica e satírica. Parte da obra lírica do autor é árcade, apresentando as seguintes características: uso de pseudônimo; recorrência aos padrões de composição clássicos, como a busca do equilíbrio e a referência à mitologia; presença de elementos comuns ao Arcadismo (inutilia truncat, fugere urbem, aurea mediocritas, locus amoenus). Em sua produção lírica, também há textos pré-românticos, os quais apresentam ausência do � ngimento poético; tom confessional; a razão em choque com o sentimento; preferência por ambientes noturnos; valorização do sentimento; exagero na exposição dos sentimentos, das tristezas; visão da morte como solução para os sofrimentos. Bocage poetizou ideais sociais de origem iluminista, tais como o combate aos privilégios da aristocracia e a condenação da guerra. Fugiu dos padrões da poesia da época, introduzindo na linguagem poética estereotipada dados como o erotismo e a autoironia, criando um discurso crítico em relação à literatura, que se limitou a usar os mesmos eternos elementos. Ainda fez parte dessa poesia o ataque a outros autores e suas obras.

Leia um texto satírico de Bocage:

RETRATO DO GUARDA-MOR DA ALFÂNDEGA DO TABACO, JOÃO DA CRUZ SANCHES VARONA

O guarda-mor da calva para baixoÉ mais desagradável que um capucho;Não tem bofe, nem fígado, nem bucho,Mais chato me parece que um capacho:

As costas são cavernas de um patacho,Os queixos são as guelras dum cachucho,Não tem fi gura de mágico, ou de bruxo,Na cabeça miolos lhe acho:

Afeta no exterior santo de nicho,Por dentro é mais sinistro do que um mocho,E aloja mais peçonha do que um bicho:

O que os outros têm cheio ele tem chocho;O que é mais vassoura, nele é lixo;E anda isto entre nós? Ah bom arrocho!

BOCAGE, Manuel Maria de Barbosa du. Retrato do guarda-mor da alfândega do tabaco, João da Cruz Sanches Varona. In:___Sonetos completos de Bocage. São Paulo: Núcleo, 1989, p. 102.

arrocho: pau torto e curto; situação difícil.bucho: estômago dos mamíferos e dos peixes.cachucho: peixe do mar.capacho: espécie de tapete de fi bras grossas e ásperas.capucho: frade franciscano, conhecido no Brasil como capuchinho.chocho: oco, vazio, seco.mocho: coruja.nicho: lugar afastado, retiro.patacho: embarcação mercante de dois mastros.peçonha: veneno.

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Nesse soneto, o eu lírico critica um funcionário público careca; observe que o deboche, as palavras depreciativas e o uso constante do fonema (x) constroem tal crítica. A terceira estrofe enfatiza a avaliação negativa ao falso moralismo do funcionário público e, por extensão, à instituição a que ele pertence. Bocage identi� cou-se com Camões (tanto no plano pessoal quanto no leituário) a ponto de aceitar a in� uência artística camoniana. Veja um exemplo disso neste soneto.

A CAMÕES, COMPARANDO COM OS DELE OS SEUS PRÓPRIOS INFORTÚNIOS

Camões, grande Camões, quão semelhanteAchou teu fado ao meu, quando os cotejo!Igual causa nos fez perdendo o TejoArrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante, Da penúria cruel no horror me vejo;Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,Também carpindo estou, saudoso amante:

Ludíbrio, como tu, da sorte duraMeu fi m demando ao Céu, pela certezaDe que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...Se te imito nos transes da ventura,Não te imito nos dons da Natureza.

BOCAGE. Poemas Escolhidos. São Paulo, Cultrix, s.d.

cotejo: comparo.arrostar: encarar, enfrentar.ganges: rio Ganges, na Índia. É considerado um rio sagrado.carpindo: lamentando.ludíbrio: enganado, logrado.

A temática árcade e seus elementos são evidenciados em poemas do autor, tais como este:

RECREIOS CAMPESTRES NA COMPANHIA DE MARÍLIA

Olha, Marília, as fl autas dos pastoresQue bem que soam, como estão cadentes!Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentesOs Zéfi ros brincar por entre as fl ores?

Vê como ali beijando-se os AmoresIncitam nossos ósculos ardentes!Ei-las de planta em planta as inocentes,As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,Ora nas folhas a abelhinha para.Ora nos ares sussurrando gira.Que alegre campo! Que manhã tão clara!Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não viraMais tristeza que a morte me causara.

ósculos = beijos

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A vivência de Bocage num tempo de transição foi expressa em poesias cujas referências românticas foram notadas:

INSÔNIA

Oh retrato da morte, oh Noite amigaPor cuja escuridão suspiro há tanto!Calada testemunha de meu pranto,De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor, que a ti somente os diga,Dá-lhes pio agasalho no teu manto;Ouve-os, como costumas, ouve, enquantoDorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós, oh cortesãos da escuridade,Fantasmas vagos, mochos piadores,Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;Quero a vossa medonha sociedade,Quero fartar meu coração de horrores.

pio = piedoso, que tem piedade.

Exercícios de salaExercícios de sala

Leia os textos seguintes para resolver as questões propostas.

Texto IESPERANÇA AMOROSA

Grato silêncio, trémulo arvoredo,Sombra propícia aos crimes, e aos amores,Hoje serei feliz! – Longe, temores,Longe, fantasmas, ilusões do medo.

Sabei, amigos Zéfi ros, que cedo,Entre os braços de Nise, entre estas fl ores,Furtivas glórias, tácitos favores,Hei-de enfi m possuir: porém, segredo!Nas asas frouxos ais, brandos queixumesNão leveis, não façais isto patente,Quem nem quero que o saiba o pai dos numes.

Cale-se o caso a Jove omnipotente;Porque, se ele o souber, terá ciúmes,Vibrará contra mim seu raio ardente.

BOCAGE. Obras. Porto: Lello & Irmão, 1968. P. 143.

propícia: Favorável, favorecedora, adequada, apropriada, oportuna.zéfi ros: Entre os antigos, ventos do Ocidente.furtivas: Ocultas, escondidas.tácidos: Silenciosos, calados, subentendidos, implícitos, ocultos, secretos.queixumes: Queixas; lamentações; gemidos.numes: Deuses, divindades.jove: O mesmo que Júpiter (Zeus, para os gregos), o pai de todos os deuses.

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Texto II

O céu, de opacas sombras abafadoTornando mais medonha a noite feia;Mugindo sobre as rochas, que se salteia,O mar, em crespos montes levantado;

Desfeito em furacões o vento irado;Pelos ares zunindo a solta areia;O pássaro noturno, que vozeiaNo agoireiro cipreste além de pousado,

Formam quadro terrível, mas aceito,Mas grato aos olhos meus, gratos à ferezaDo ciúme e saudade, a que ando afeito.

Quer no horror igualar-me a Natureza;Porém cansa-se em vão, que no meu peitoHá mais escuridade, há mais tristeza.

Bocage. In: Os amores (poemas escolhidos). Seleção, introdução e notas de Álvaro Cardoso Gomes. São Paulo. Círculo do Livro, s/d. p. 66.

1 Qual é a função da natureza nos dois textos?

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2 Indique quais elementos árcades estão presentes no Texto I.

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3 O que revelam os adjetivos utilizados no Texto II para retratar a natureza?

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4 Considerando a resposta anterior, como pode ser classifi cado o Texto II: árcade ou pré-romântico? Justifi que.

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(UNIFESP-SP) Leia este poema de Bocage para responder às questões de 5 a 7.

Olha, Marília, as fl autas dos pastoresQue bem que soam, como estão cadentes!Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentesOs Zéfi ros brincar por entre fl ores?

Vê como ali, beijando-se, os AmoresIncitam nossos ósculos ardentes!Ei-las de planta em planta as inocentes,As vagas borboletas de mil cores.

Naquele arbusto o rouxinol suspira,Ora nas folhas a abelhinha para,Ora nos ares, sussurrando, gira:

Que alegre campo! Que manhã tão clara!Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,Mais tristeza que a morte me causara.

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5 A descrição que o eu lírico faz do ambiente é uma forma de mostrar à amada que o amor:a) acaba quando a morte chega.b) tem pouca relação com a natureza.c) deve ser idealizado, mas não realizado.d) traz as tristezas e a morte.e) é inspirado por tudo o que os rodeia.

6 O emprego de mas, na última estrofe do poema, permite entender que:a) todo o belo cenário só tem tais qualidades se a mulher amada fi zer parte dele.b) a ausência da mulher amada pode levar o eu lírico à morte.c) a morte é uma forma de o eu lírico deixar de sofrer pela mulher amada.d) a mulher amada morreu e, por essa razão, o eu lírico sofre.e) o eu lírico sofre toda manhã pela ausência da mulher amada.

7 O soneto de Bocage é uma obra do Arcadismo português, que apresenta, dentre suas características, o bucolismo e a valorização da cultura greco-romana, que estão exemplifi cados, respectivamente, em:a) Tudo o que vês, se eu te não vira/ Olha, Marília, as fl autas dos pastores.b) Ei-las de planta em planta as inocentes,/ Naquele arbusto o rouxinol suspira.c) Que bem que soam, como estão cadentes!/ Os Zéfi ros brincar por entre fl ores?d) Mais tristeza que a morte me causara./ Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes.e) Que alegre campo! Que manhã tão clara!/ Vê como ali, beijando-se, os Amores.

1.2 Arcadismo no Brasil

No século XVIII, no Brasil colonial, a produção literária constituía o nosso Arcadismo, que conjugou a permanência do modelo neoclássico europeu com a realidade brasileira. A descoberta do ouro em Minas Gerais (� nal do século XVII) fez com que o centro econômico da Colônia se deslocasse do Nordeste para o Sudeste. Tal região, assim, tornava-se também o centro político e cultural. As ideias iluministas eram propagadas, principalmente, pelos jovens brasileiros das camadas privilegiadas da sociedade que iam estudar em Coimbra e para cá retornavam. Em Vila Rica, hoje Ouro Preto, tais ideias levaram vários intelectuais e escritores a sonhar com a independência do Brasil, principalmente- após a repercussão do movimento de independência dos EUA (1776). Esses sonhos e a cobrança exagerada de impostos sobre a mineração brasileira (derrama) levaram ao movimento da Incon� dência Mineira.

  Alguns escritores árcades mineiros participaram diretamente da Incon� dência: Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.     No grupo dos incon� dentes, havia um homem que não tinha a mesma formação intelectual dos demais nem era escritor: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.     O grupo foi preso devido à traição de um membro: Joaquim Silvério do Reis, que devia altas somas ao governo e teve a dívida perdoada com a delação.        Além das convenções árcades (amor, natureza, equilíbrio...), nossos escritores também abordaram as questões da realidade brasileira.

Ouro Preto, de Guignard

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Produção literária

Cláudio Manuel da Costa

   Cláudio Manuel da Costa nasceu em Minas Gerais, era � lho de portugueses ligados à mineração. Estudou no Rio de Janeiro e cursou Direito em Coimbra. Voltou ao Brasil, foi secretário de governo, advogado, administrador e um dos principais nomes da Incon� dência Mineira.     Cláudio Manuel adotou o pseudônimo pastoral de Glauceste Satúrnio. Sua produção literária se iniciou com a publicação de Obras poéticas e seus sonetos apresentam grande a� nidade com a lírica de Camões. Situado num momento de transição entre o Barroco e o Arcadismo, esse poeta não se libertou completamente dos padrões cultistas, cultivando as metáforas e as inversões sintáticas de caráter barroco.  Sua produção é composta de poesia lírica e épica. Nesta, Cláudio escreveu o poema Vila Rica, inspirado nas epopeias clássicas, que

abordam a penetração bandeirante, a descoberta das minas, a fundação de Vila Rica e as revoltas locais. Naquela, o destaque é para a desilusão amorosa: o eu lírico pastor lamenta por não ser correspondido por sua musa, Nise. Também lamenta estar num lugar de grande beleza natural sem a companhia da amada. Nise é uma personagem � ctícia, não se manifesta, corresponde ao ideal da amada inalcançável – nítido traço de recorrência ao neoplatonismo renascentista. Os elementos da paisagem local estão presentes na poesia desse escritor: o ribeirão do Carmo, rio que corta a região; os vaqueiros, em lugar de pastores gregos; as montanhas e os vales; e as constantes referências às penhas, pedras que sugerem o ambiente agreste e rústico de Minas Gerais. A respeito desse escritor manifestou-se Antonio Candido:

Não será excessivo acrescentar que, enquanto a maioria dos poemas pastoris, desde a Antiguidade, tem por cenários prados e ribeiras, nos de Cláudio há vultosa proporção de montes e vales, mostrando que a imaginação não se apartava da terra natal e, nele, a emoção poética possuía raízes autênticas.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 6. Ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. V. 1. p. 89

Conheça, a seguir, alguns textos de Cláudio Manuel da Costa.

Destes penhascos fez a natureza O berço, em que nasci: oh quem cuidara, Que entre pedras tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara.

Que não me foi bastante a fortaleza. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura. Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei; que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura.

Nesse texto, há o contraste entre o modo de ser do eu lírico e a paisagem do lugar onde nasceu.

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Já neste outro texto, o eu lírico expressa os sentimentos decorrentes do contraste entre um passado feliz e um presente infeliz:

Memórias do presente, e do passado Fazem guerra cruel dentro em meu peito; E bem que ao sofrimento ando já feito, Mais que nunca desperta hoje o cuidado.

Que diferente, que diverso estado É este, em que somente o triste efeito Da pena, a que meu mal me tem sujeito, Me acompanha entre afl ito, e magoado!

Tristes lembranças! E que em vão componho A memória da vossa sombra escura! Que néscio em vós a ponderar me ponho!

Ide-vos; que em tão mísera loucura Todo o passado bem tenho por sonho; Só é certa a presente desventura.

Tomás Antônio Gonzaga

Português nascido na cidade do Porto, Tomás Antônio Gonzaga viveu parte de sua infância no Brasil, depois voltou a Portugal para se formar em Direito, em Coimbra. Em 1782, de volta ao Brasil, exerceu o cargo de ouvidor

em Vila Rica. Aos 40 anos, Tomás apaixonou-se por uma adolescente de 17, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a quem chamou de Marília. Tomás adotou o pseudônimo de Dirceu, fez parte da Incon� dência Mineira e, quando o movimento foi descoberto, foi preso e mandado em degredo para Moçambique, na África. Lá se casou com a � lha de um mercador de escravos e faleceu ali, sem nunca voltar ao Brasil. Como foi preso pela participação na Incon� dência, Tomás nunca se casou com Maria Dorotéia. Porém, esse namoro inspirou sua

importante obra lírica: Marília de Dirceu. Tomás Antônio Gonzaga escreveu obra lírica e satírica.

Em 1788, Tomás Antônio Gonzaga estava com 44 anos. Seu futuro parecia claramente delineado; seria feito de tranquilidade, prestígio social, amorosa harmonia doméstica (...) Sua carreira de magistrado acabava de atingir um ponto alto. (...) Em breve – depois de vencidas as restrições da rica família da noiva –, iria casar-se com uma jovem de vinte anos, a “Marília bela”, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, na vida real ou civil, por quem se apaixonara quando ela era ainda uma adolescente de dezessete anos. (...) Então veio a mudança brutal em seu destino. A 15 de março de 1789, o coronel Joaquim Silvério dos Reis denunciava ao visconde de Barbacena, governador de Vila Rica, um grupo de conspiradores que preparava um plano de sublevação armada contra o governo português. A 21 de maio era decretada a prisão de Tomás Antônio Gonzaga, acusado de participar, ao lado de seus amigos, os poetas Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto e do alferes Joaquim José da Silva Xavier, da Inconfi dência Mineira. Com esse golpe, Gonzaga perdia tudo: a carreira, o prestígio e a mulher amada. Duda Machado. In: Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu &

Cartas Chilenas. São Paulo: Ática, 1997.

Edição de 1792, publicada em Lisboa, de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga.

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