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NOTÍCIAS

COMPILAÇÃO DO CONTEÚDO PUBLICADO NO SITE WWW.GONZAGA100.COM

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06 | CENTENÁRIO DE GONZAGÃO SERÁ FESTEJADO NO EXU E NO RECIFE08 | Entrevista - Dominique Dreyfus16 | Entrevista – Elba Ramalho19 | Legado de Gonzaga é debatido na Torre Malakoff20 | Entrevista - Chambinho do Acordeon22 | Filme explora a relação entre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha24 | No Sertão, forró começou na feira de Timorante26 | Marcelo Melo: “Gonzaga mexeu com o imaginário das pessoas”28 | Parque Aza Branca agora é patrimônio público30 | Oficinas começam no Exu com boa procura e interesse da população33 | Museu do Estado abre suas portas para Gonzaga34 | Grupo Magiluth emocionou o público com “Luiz Lua Gonzaga”36 | Mesa debateu a influência nordestina nas músicas de Gonzaga38 | Forró embalou o pátio da Casa da Cultura na terça39 | Diversidade cultural no palco e na plateia do Parque Aza Branca42 | um exemplo de empreendedor43 | Alvorada gonzagueana abriu dia do centenário no recife44 | Estreia do Palco Gonzagão emocionou público no Exu46 | Fazenda Araripe vira meca de forrozeiros no aniversário de Lua

Í N D I C E

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48 | Gil celebrou Seu Lula por quase duas horas de show50 | Com a praça cheia, o Recife prestou sua homenagem a Lua52 | Gonzaga foi reverenciado em sua casa54 | Selo comemorativo e estátua de Gonzaga foram entregues no Exu55 | Gonzaga sobrevive em seu público56 | Parque Aza Branca não deixou ninguém parado58 | Praça do Arsenal virou uma grande sala de reboco60 | Elba canta a coragem do nordestino através da obra de Gonzaga62 | Bodocó recebeu Cinema na Estrada63 | Viajando (e tocando) num pau de arara64 | Poetas pernambucanos homenagearam Gonzaga66 | Mistura de ritmos marcou a última noite de shows no Arsenal68 | Palco Gonzagão se despediu com festa do público do Exu70 | Maciel Melo levantou o público com clássicos de São João71 | Missa homenageou os 100 anos de Gonzaga72 | Emoção e chuva no encerramento do centenário de Lua74 | Coco de Umbigada celebra Velho Lua com festa em Olinda75 | Com cantorias, aula em homenagem a Gonzaga anima o Arraial76 | Programação

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N912 Notícias : Gonzaga 100 / textos Chico Ludermir ... [et al.] ; fotos Ricardo Moura ... [et al.]; projeto gráfico, diagramação e ilustrações Adeildo Leite. – Recife : Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco, 2013. 93p. : il.

Obra editada com encadernação em vê, título da capa “Gonzaga 100”.

1. SAFONEIROS – PERNAMBUCO – HISTÓRIA. 2. GONZAGA, LUIZ, 1912-1989 – COMEMORAÇÕES. 3. GONZAGA, LUIZ, 1912-1989 – BIOGRAFIA. 4. GONZAGA, LUIZ, 1912-1989 – FOTOGRAFIAS. 5. GON- ZAGA, LUIZ, 1912-1989 – OBRAS ILUSTRADAS. 6. MÚSICOS – BRASIL – HOMENAGENS. 7. CANTORES – BRASIL – HOMENAGENS. 8. MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. 9. DREVFUS, DOMINIQUE – ENTREVISTA. I. Ludermir, Chico, 1989-. II. Moura, Ricardo. III. Leite, Adeildo.

CDU 78.071.2 CDD 780.92

PeR – BPE 13-345

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N o t í c i a s

Gonzaga 100

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Falar sobre Luiz Gonzaga no ano do seu centenário é como tentar listar todos os temas e ritmos cantados e tocados por ele, com os respectivos desdobramentos que aconte-ceram com o forró, desde a invenção do baião até os dias de hoje. Não é uma tarefa das mais simples, muito menos cabe num texto só. Luiz Gonzaga é grande, é uma vida in-teira, um mito. De quem se fala sem medo de esgotar o assunto. Para completar, foi nascer no último mês do ano, no dia 13, dia de Santa Luzia. Daí o nome, Luiz. Nascer no final do ano, sobretudo neste 2012, que é o ano do seu centenário, deu a chance para que todas as homenagens fossem ocorrendo ao longo dos meses. E que agora, em dezembro, a festa de aniversário se tornasse o ápice de to-das as celebrações dedicadas a Gonzaga e seu afortunado universo musical.

O Governo de Pernambuco, através da Secretaria de Cul-tura e da Fundarpe, promoveu diversas homenagens ao Rei do Baião, desde o início de 2012 até aqui. A semana do aniversário, na qual foram investidos mais de R$ 3 mi-lhões, será a culminância de todas as homenagens. Do dia 10 ao dia 16 de dezembro, várias ações artísticas e shows ocorrerão em palcos de Exu – Parque Aza Branca, Palco Gonzagão (no Módulo Esportivo de Exu) e Fazenda Arari-pe – e no Recife, na Praça do Arsenal da Marinha.

Entre as maiores atrações que serão oferecidas à popula-ção das duas cidades estão os shows de Gilberto Gil, Da-niel Gonzaga, Joquinha Gonzaga e Dominguinhos (todos

Centenário oficial de Gonzagão será festejado no Exu e no RecifeProgramação intensa de shows, apresentações, espetáculos e outras ações vai de 10 a 16 de dezembro

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no dia 13, no Palco Gonzagão); Baile do Gonzaga, Fagner, Alceu Valença e Targino Gondim (todos no dia 13, na Pra-ça do Arsenal da Marinha, no Bairro do Recife), além de muitos outros nomes importantes do forró brasileiro. A programação completa do Centenário de Gonzagão, bem como a cobertura da festa, com textos, fotos e vídeos e reportagens especiais sobre o artista, estão disponíveis neste site, especialmente criado para a ocasião.

Dia de Festa

O dia do aniversário de Gonzagão, 13 de dezembro, come-ça no Recife, com a Alvorada Gonzagueana, às 5h, no Cais do Porto (próximo ao Cais de Sertão Luiz Gonzaga). Ha-verá salva de tiros de bacamartes, seguido de apresenta-ções de quadrilhas juninas, aboiadores, banda de pífanos e grupos de xaxado. O Espaço Cultural Alberto da Cunha Melo – tradicional reduto gonzagueano, no bairro do Bon-gi – será a concentração da caminhada Sanfona do Povo. Cinquenta sanfoneiros partirão em direção à Praça da República, tocando músicas de Gonzaga, até o Palácio do Campo das Princesas. Às 9h30, eles seguem em caminha-da para o Marco Zero e depois para a Torre Malakoff, onde se revezarão em curtas apresentações até às 17h.

Projeto Meu Araripe

No sábado (15), no Parque Aza Branca, diversos sanfonei-ros da região do Araripe se revezam no palco, no projeto

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intitulado Meu Araripe. Participam desta grande homena-gem os sanfoneiros Os Gonzaguinhas, Fuá Carvalho, Zezi-nho de Exu, Ana Paula, Forrozeiros de Gonzagão, Maurício Jorge, Leonardo Luna (CE), Edgar de Cedro, Baião Mais Eu, Sandra Leandro e banda Sotaque Nordestino, que fará a base instrumental do show.

Gonzaga nos equipamentos culturais

O centenário de Gonzaga se estenderá pelos equipamen-tos ligados à Secretaria de Cultura. A partir do dia 11 de dezembro, diversas exposições e mostras abordarão o ima-ginário gonzagueano. Na Torre Malakoff, será instalada a exposição “Gonzaga empreendedor”. No Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), é a vez da exposição “Os Santos de Gonzaga.” No Museu da Imagem e do Som (Mis-pe), haverá a exposição “Discos de Gonzaga”. No Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC-PE), um conjunto de instalações interativas e debates, intitulados “Ser tão conectado”. O Espaço Pasárgada dará vez ao Sa-rau Gonzagueano. No Museu Regional de Olinda (Mureo), haverá arrastão com boneco gigante de Gonzaga pelas ruas do Sítio Histórico e apresentação de coquistas. No Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), o projeto Reen-contrando Luiz Gonzaga irá promover série de exposição, debates e shows. Na Casa da Cultura Luiz Gonzaga (que recentemente recebeu este nome em virtude do centená-

rio do Rei do Baião), haverá encontro de sanfoneiros e de quadrilhas juninas. Para o Teatro Arraial já estão progra-mados dois espetáculos: “Lua baião” (dança) e “Cantigas do sol” (teatro). O projeto Cine Cabeça, em cartaz no Cine-ma São Luiz, exibirá o filme “Gonzaga, de pai para filho”.

Formação cultural

Não bastassem todas as apresentações e homenagens, na esteira do conceito do circuito Festival Pernambuco Nação Cultural, promovido pela Secult/PE e Fundarpe, o centenário de Gonzagão também será um momento para formar profissionais na área cultural. Uma série de ofici-nas, ligadas ao universo de Luiz Gonzaga, ocorrerá no pe-ríodo da festa, no Exu e também no Recife. “Xilogravura” (com José Lourenço), “Xaxado” (com o grupo Cabras de Lampião), “Iniciação aos oito baixos” (com Luizinho Calix-to), “Cinema de animação” (com lançamento da animação “A volta da Asa Branca”, de Lula Gonzaga), “A simbologia da moda através da indumentária de Luiz Gonzaga” (por Rebecca Menezes e Roberta Duarte) e outras oficinas se-rão ministradas no Colégio Municipal Bárbara Alencar. No Recife, haverá um workshop de confecção de capas de CDs de forró (de Paula Valadares) e Cinema Ágil Digital – Imaginando Luiz Gonzaga (com Jaime Fonseca).

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Gonzaga é a cama musical na qual me deito

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ENTREVISTA

Por Chico Ludermir Fotos Costa Neto

Dominique Dreyfus

De volta ao Brasil para as comemorações do centenário de Luiz Gonzaga, Dominique Dreyfus, autora da princi-pal biografia do Rei do Baião (“Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”, 1996), ainda escancara um sorriso doce quando fala de Luiz. Poderia não ser, mas, conhe-cendo a fundo vida e obra do “Pernambucano do Sécu-lo”, Dominique se tornou ainda mais admiradora do seu personagem. “Ele era extraordinário”, afirma. Francesa de nascimento, a escritora e jornalista tem sua história ligada ao Brasil desde sempre. Seu avô, representante de porcelana francesa na América do Sul, se aposentou no Brasil e atou forte os laços de sua família com o Brasil. Dominique foi criada em Garanhuns e estudou no Colé-gio 15 de Novembro, onde seus pais ensinavam por con-juntura de um pós-guerra que deixou seu país em crise. “O Gonzaga é a cama musical na qual eu me deito. A ma-madeira na qual eu bebi”. Quinze anos depois de lançada a biografia, Dominique relembra o dia em que se encon-trou com Gonzaga na frente do Teatro de Santa Isabel para passar dois meses hospedada em sua casa, no Exu.

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Biógrafa de Luiz Gonzaga esteve no Recife para as comemorações do centenário do seu personagem

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Gonzaga100De onde veio a ideia de fazer a biografia de Luiz Gonzaga? Dominique Dreyfus - O livro do Gonzaga me chegou de repente, quando ele participava de um grande festival de música brasileira em Paris, no ano de 1985. Eu já tinha visto vários shows de Gonzaga e sempre era uma emo-ção. Ele estava na minha vida desde que eu tinha 2 anos, quando eu cheguei ao Brasil. Então, eu, toda emocionada, comecei a escutar. Eu estava no meu canto sozinha quan-do entrou Gonzagão, todo vestido de couro, com aquele vozeirão. Depois de tocar umas três músicas, disse que estava cansado. “Tou ficando velho e a sanfona é meio pesada”. Então levaram um banco para ele tocar sentado. Na hora em que ele falou isso, me veio um insight. E eu pensei: “Mas é mesmo, ele está ficando velho e, a qual-quer hora, ele pode morrer. E, até hoje, ninguém escreveu nada bem aprofundado sobre ele. Quem poderia fazer a biografia dele? Ora, eu mesma. Eu gosto dele, eu conheço a música brasileira, eu tenho uma formação de pesquisa-dora, tenho tudo pra fazer. Vou fazer”.

Gonzaga100Como foi o contato com ele para fazer a biografia?Dominique - Depois do show, fui ao camarim, mas estava cheio de gente. Deixei para depois. Consegui o endereço dele por Gonzaguinha, que era mais próximo, e escrevi para o Gonzagão, explicando que eu era uma jornalista francesa criada no Brasil e que eu tinha interesse em fazer a biografia dele. Disse que achava que ele era uma figura importante da cultura nordestina e brasileira e que, se ele concordasse com esse meu projeto, eu alugaria uma casa no Exu por dois ou três meses para ficar perto dele e fazer a pesquisa. Ele demorou uns três meses para responder, porque estava fazendo uma turnê, mas, de repente, che-gou uma carta assinada do velho, escrita à máquina, di-zendo que estava muito honrado e feliz com ideia de uma francesa escrever a biografia dele. Claro que ele aceitava e que nada de alugar casa, eu ficaria hospedada na casa dele na Fazenda Aza Branca e que comeria muita buchada e carne de bode com ele. A partir daí, ficamos em contato, organizando minha vinda.

Foto | Acervo Memorial Luiz Gonzaga

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Gonzaga100E quando você chegou …?Dominique – Combinamos que eu chegaria no início de julho e ele marcou que nos encontraríamos em frente ao Teatro de Santa Isabel. E eu passei recentemente por lá e fiquei me lembrando (ela ri meio emocionada): eu esperando e, de repente, o carro que encostou e desceu Gonzagão.

Gonzaga100Como você fez para publicar o livro?Dominique - Fiquei julho, agosto e um pouco de se-tembro entrevistando ele, a família e os amigos. De-pois voltei para a França. Eu tinha pedido uma licença de três meses ao jornal onde eu trabalhava na época, e chegara a hora de voltar à França. Minha ideia era publicar o livro lá, então comecei a procurar um editor. Mas nenhum se interessou. Gonzaga era totalmente desconhecido por lá. Quando eu vi que ninguém que-ria saber disso na França, botei tudo num baú e fechei. Passaram alguns anos, Gonzaga morreu, e, um dia, em 1992, eu recebi um telefonema de um amigo querido, Tárik de Souza, do Jornal do Brasil, que me disse que ele assumira a direção da coleção “Ouvido musical” que a Editora 34 tinha decidido fazer, e queria inaugu-rá-la com uma biografia do Gonzaga.

Gonzaga100Como uma francesa escreve a biografia de Luiz Gon-zaga?Dominique - A conexão começou no dia em que eu che-guei aqui. Até os 13 anos, estive mergulhada na músi-ca brasileira. Então, essa música me impregnou e fui embora daqui com meus discos. Tinha estudado violão com um professor brasileiro que me ensinava a tocar toadas. Mesmo quando eu saí do Brasil, eu mantive o contato com o país. Em 1978, quando teve a anistia, a primeira coisa que eu fiz foi comprar uma passagem e vir ao Brasil. Nunca programei que iria escrever a bio-grafia do Gonzaga. Foi realmente naquele show que me bateu a ideia de que ele estava ficando velho e que eu tinha a consciência da importância dele para a mú-sica e a história do Brasil. Eu achei um absurdo que ninguém tivesse escrito nada sobre ele. O Gonzaga é a cama musical na qual, criança, eu dormi, a mamadei-ra na qual eu bebi. A infância é a coisa mais forte na vida da gente. Não é que ele me lembre a infância. Ele é a base da minha infância. Uma metáfora do Nordeste, que é a minha cultura básica, a cultura que me impreg-nou na infância.

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Gonzaga100Como pesquisadora de música, você é capaz de elabo-rar o que o repertório de Luiz Gonzaga revela do Brasil?Dominique - Ela revela tudo do Brasil. Vamos pegar “Asa branca”. Conta da seca e uma seca não resolvida. Um país no qual o governo não se interessa nem um pouco por uma região. Que permite que uma população pobre tenha que percorrer quilômetros e quilômetros a pé e de pau de arara para irem trabalhar no Sudeste, para comporem as favelas. Ele fala da espera, da soli-dão. Em uma música, ele conta todo um processo da sociedade rural nordestina, o que é a vida de um povo rural do Nordeste.

Gonzaga100O que fez de Gonzaga um ícone? Dominique - Tem gente que nasce para ser uma estrela. Tem um porte, criatividade, imaginação, carisma, ge-nialidade, talento, voz maravilhosa, generosidade com o público. Ele foi um homem que soube como transfor-mar, com sutileza, uma música rural numa música ur-bana, sem perder a essência. Soube, mais ainda, trans-mitir isso para o público com o qual ele sabia lidar de uma maneira extraordinária.

Gonzaga100Qual a importância de Gonzaga para o Nordeste?Dominique - Ele é o rei. O Nordeste tem figuras as-sim. A Vox Populi costuma citar como grandes figuras do Nordeste o Padre Cícero, Lampião, ambos figuras controversas, e Luiz Gonzaga. Eu prefiro colocar Luiz Gonzaga ao nível de João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos e José Lins do Rego.

Gonzaga100Como foi conviver com ele …? Dominique - Foi um privilégio enorme. Um dos gran-des da minha vida. Poder me aproximar de uma figura tão impressionante como o Gonzaga. Convivi com uma pessoa fora de ordem, extraordinária. Acho que apren-di muito com ele. Tenho belíssimas lembranças. É um trabalho a que eu me dediquei muitos anos. Uma con-vivência que se prolongou. Gonzaga, para mim, morreu várias vezes. Quando terminei de transcrever as entre-vistas, chorei muito. Quando entreguei o manuscrito da biografia, também chorei. Era como se estivesse me despedindo dele de novo.

Gonzaga100Quando se lembra dele, do que mais se lembra?Dominique - Eu lembro dele falando: “Ih, Francesa, tu é danada! Já sabe disso?” ou “Francesa, você tem que ligar para sua família, né?”. Mas ele queria era ligar pra Zuíta (sua amante). E eu ia com ele pra telefônica. Uma imagem que eu tenho muito forte, não sei por que, é ele andando de carro. Ele, de repente, me dizia: “Francesa, vamos embora”. E a gente entrava na van. Ele tirava a sandália de couro do pé direito e botava em cima do tabelier contra o vidro e ficava olhando a paisagem. Eu tenho essa imagem. Às vezes, a gente conversava; outras vezes, ficava calado. E volta e meia, o vozeirão de seu Luiz cantando rompia o silêncio. Era arrepian-te! Outra lembrança que eu tenho é ligada à comida. Ele gostava muito de comer, mas ele sempre tinha uma coisa para reclamar: que a comida não estava bastante quente, ou que não tinha bastante sal. Aí ele levantava e ia para a cozinha ensinar como se tinha que fazer à cozinheira! “Eu não sei cozinhar, mas eu sei explicar”, ele dizia.

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Gonzaga100E como é voltar ao Brasil?Dominique - É muito prazeroso e emocionante mergu-lhar de novo nessa história de Gonzaga. É um pouco como reviver um episódio passado. É possível que este centenário seja o momento que vai fixar a transforma-ção do homem no mito. Todo mundo tem ou quer ter a lembrança de um encontro com ele, de algum causo que ocorreu. O mito já começa assim. Para mim, que vivi toda essa aventura com ele, tenho que tomar cuida-do para não entrar na mitologia. Ele vai se tornar cada vez mais um mito. Como Padre Cícero e o Lampião.

Gonzaga100 Como foi participar da festa de centenário?Dominique - Em termos pessoais, foi uma honra ter sido convidada. É realmente muito emocionante o re-torno que recebi do público brasileiro. Como eu e o li-vro vivemos separados – eu na França, ele aqui no Bra-sil –, acaba que eu não acompanho a vida dele. Quando eu chego no Brasil, sempre me surpreendem as coisas lindas que me falam do livro e o carinho que recebo dos leitores. E assim foi na festa do centenário. Às vezes, até parecia que a festa era minha! Foi também muito prazeroso ver a mobilização do estado de Pernambuco em torno do Gonzaga. Aliás, não só Pernambuco como o Brasil inteiro. De um ponto de vista profissional, foi muito interessante, pois participei de vários eventos que me deram oportunidades de voltar a refletir so-bre aspectos da vida e da obra de Luiz Gonzaga para as palestras e os debates de que participei; de ouvir a palavra de colegas pesquisadores, de músicos, etc., ou seja, de ouvir novos testemunhos, outros pontos de vista. Pude ver que havia novos livros, novas pesquisas sobre o Gonzaga – alguns me foram presenteados, ou-tros eu comprei – e regressei à França com o dobro de bagagem!

Gonzaga100 Que importância esta festa tem para a história de Luiz Gonzaga?Dominique - Acho que a celebração do centenário de Luiz Gonzaga foi a homenagem indispensável a um grande homem que faz parte da história do país. Seria um escândalo deixar em branco essa data. No entanto, além da homenagem, esta celebração permitiu mostrar e até mesmo ensinar às novas gerações que não conhe-ceram Luiz Gonzaga um capítulo importante da histó-ria cultural, musical, social do Brasil.

As últimas duas perguntas desta entrevista foram feitas em março de 2013, especialmente para esta publicação.

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Luiz Gonzaga é muito mais do que um maravilhoso

sanfoneiro, mÚsico, cantor. ele é uma figura emblemática do

Brasil. Por isso, a celebração era imprescindível,

obrigatória.

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Elba e Lua nos anos 1980

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Em 1980, quando começava a despontar como cantora, Elba Ramalho conheceu pessoalmente Luiz Gonzaga. A partir do primeiro encontro, numa recepção de hotel, as trajetórias deles se cruzaram em diversos momentos e renderam parcerias, como o sucesso “Sanfoninha chora-deira” (Luiz Gonzaga/João Silva, 1984). A cantora parai-bana, que gravou em 2002, quando o amigo faria 90 anos, o disco “Elba canta Luiz”, volta a homenagear o mestre na noite da próxima sexta-feira (14/12), na ocasião do seu centenário no Exu, a terra natal de Gonzaga. Em uma pro-gramação repleta de discípulos do rei, Elba sobe ao Palco Gonzagão. Em entrevista realizada por e-mail, Elba Ra-malho diz que pressentiu em 2010 que estaria na terra na-tal do Rei do Baião no ano de seu centenário. Conta ainda que, para além dos palcos e estúdios, o convívio dos dois chegou ao ponto de Gonzagão ter sido um dos primeiros a segurar seu filho recém-nascido, em 1987. Em suas pala-vras, Lua foi um gêniozzz que “mostrou para o Brasil um outro Brasil”. “Desde que me entendo por cantora, acho que não existe um único show meu em que eu não tenha cantado Luiz Gonzaga”, diz Elba.

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ENTREVISTA

Por André ZaharElba Ramalho

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Gonzaga100Após participar de outras homenagens aos 100 anos de Luiz Gonzaga ao longo deste ano, como é se apresentar na cidade natal do Rei do Baião no mês de seu aniversário?Elba Ramalho - É um presente para mim. Um presente para o povo. E uma homenagem para o Rei. Em 2010, me apresentei no Exu, no dia 13 de dezembro, e tinha muito claro em minha mente que, no ano do centenário, eu iria me apresentar na terra de Luiz Gonzaga. Quase como uma peregrinação, eu tinha certeza de que eu iria cantar na terra dele, neste momento tão especial. Desde que me entendo por cantora, acho que não existe um único show meu em que eu não tenha cantado Luiz Gonzaga.

Gonzaga100O público pode esperar no Exu o repertório do disco “Elba canta Luiz”?Elba - E muito mais. Tenho feito minha reverência em to-dos os shows este ano. Estou abrindo o show com “Sanfona branca”, de Benito di Paula, e emendo com “Viajante”, “Es-trada de Canindé”, “Numa sala de reboco”, e não paro mais.

Gonzaga100Quais músicos vão acompanhá-la no show? Haverá par-ticipações especiais?Elba - Não tenho nenhuma participação definida. A minha banda de sempre é que vai me acompanhar. Certamente vamos ter vários forrozeiros na cidade e vou gostar de re-ceber outros parceiros que estejam participando da festa.

Gonzaga100 Você conheceu pessoalmente Luiz Gonzaga no início de sua carreira como cantora. Pode falar deste encontro e do que ele representava pra você?Elba - Primeiro, desde a infância, eu já escutava Luiz Gonzaga, como todo nordestino que ficava ao lado do rádio. Depois que eu já tinha disco gravado, acabei me encontrando com ele na recepção de um hotel e, desde o primeiro momento, ele foi muito carinhoso comigo. Nossa amizade se consolidou, e ele estava ao meu lado no nas-cimento do meu filho. Eu estava no oitavo mês de gravi-dez, tinha acabado de fazer um grande show em Campina Grande (PB) juntamente com o Seu Luiz, Fagner e outros artistas. No dia seguinte, já era uma tradição nesta época de São João, um grande almoço na casa da minha irmã, em Campina Grande. Seu Luiz me ligou cedo de manhã para o hotel, me acordou chamando para irmos para a casa de minha irmã. Chegamos e a farra não tinha fim. Muito forró, muita dança, até que a bolsa estourou…. Todo mundo correndo para o hospital. Inclusive ele! Luiz Gon-zaga foi uma das primeiras pessoas a segurar meu filho no colo e entoar os seguintes versos: “Cabeça grande é sinal de inteligência, agradeço a providência em ter nascido lá” (da música “Baiano burro nasce morto”, de Gordurinha, 1959).

Gonzaga100E o que ele representa para a cultura nordestina?Elba - Não só para a cultura nordestina, para cultura do nosso país. Ele foi um gênio, como Villa Lobos, Caymmi e Tom Jobim. E ainda se tornou um grande ícone da cultura popular com suas vestes, seu estilo e suas canções. Ele mostrou para o Brasil um outro Brasil.

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“É impressionante como Gonzagão cantou tudo do Ser-tão”, começou Santanna, o Cantador, no seminário “Luiz Gonzaga: a enciclopédia sonora do Nordeste”, realizado na segunda-feira (10/12), na Torre Malakoff, no Bairro do Recife. Junto com ele, o também músico Genaro e os pesquisadores Paulo Wanderley e Dominique Dreyfus ca-minharam por vida e obra do “Pernambucano do Século”, com a mediação do poeta José Mauro Alencar.

Foi senso comum da mesa que, até Gonzaga, a imagem que se tinha do Nordeste era tão negativa que nem ele imaginava ser possível tocar aqueles “sambas” que ele cantava com o pai. “Ele só tocou o Sertão por insistên-cia de estudantes cearenses, mas todo mundo gostou e aplaudiu, e ele percebeu que isso poderia interessar”, ex-plicou Dominique Dreyfus, autora da biografia “Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”. Segundo ela, o Rei do Baião criou, a partir da música tradicional do Sertão, uma música urbana.

Depois que descobriu que “podia” cantar o Nordeste, Gon-zaga acabou virando especialista. Desde os ritmos, temas, motes até a própria formação de sua banda. “Ele queria colocar nos músicos dele a cara do seu lugar”, disse San-

Por Chico Ludermir Foto Ricardo Moura

Legado de Gonzaga é debatido na Torre MalakoffMúsicos e pesquisadores participaram de ciclo de seminários sobre Lua

tanna. Por isso, buscou inspiração nas bandas de pífano. A sanfona assumiu o lugar do instrumento de sopro, e os pratos deram lugar ao triângulo. “Do mesmo jeito que os americanos descobriram a trindade guitarra, baixo e bate-ria, Gonzaga descobriu a sanfona, a zabumba e o triângu-lo”, emendou o Cantador.

“A obra de Luiz Gonzaga é uma enciclopédia do Nordeste, mas, ao invés de ser em livro, é em música. Fala de gastro-nomia, geografia, fauna e flora. Descreve costumes, conta das danças, e, até nas músicas de amor, o que seria uni-versal, ele canta o Nordeste”, disse Dominique. “Ele era um codificador do Nordeste”, completou Santanna.

Com a obra vasta de Gonzaga, os palestrantes passaram também pelo seu posicionamento político. “O que impor-ta é o que ele fez. E o que a obra dele revela é que ele era um homem que reclamava das injustiças e tinha uma bela ideologia, e é isso que a gente tem que ver”, defen-deu Paulo Wanderley, colecionador de discos e acessórios do ídolo. “Do jeito que era a a situação na época, Gozan-ga tinha que pedir ajuda a quem encontrasse primeiro”, completou Genaro, que tocou com Luiz no consagrado Trio Nordestino.

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Da esquerda para a direita: Santanna, Genaro, Paulo Wanderley e Dominique Drey-

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Gonzaga100Como foi viver um ícone da música como Gonzaga no cine-ma? Chambinho – Foi muito emocionante. Eu sabia da responsa-bilidade de representar o grande Gonzaga. Tive que deixar de lado o Gonzaga lenda, rei, mestre, e encará-lo como um per-sonagem. Se eu não fizesse isso, não conseguiria representá--lo. Mas, acima de qualquer sentimento, me senti um privile-giado, foi uma honra imensurável ter nas mãos essa missão.

Gonzaga100Como foi a preparação para o papel? Chambinho – Eu me preparei por mais de seis meses, estudei muito! Todos os vídeos da produção, todo o material visual, de áudio, as leituras, tudo. Depois fiz aula de dança, expressão corporal, fonoaudiologia, tratamento com otorrino, e ema-greci 10 quilos. Foi uma transformação muito grande para chegar ao personagem.

Gonzaga100Qual era a sua relação com Gonzagão antes de interpretá-lo? Chambinho – Gonzagão sempre foi minha referência musi-cal. Eu era e sou fã, muito fã. Ele sempre esteve presente em minha vida, suas músicas eram (e ainda são) tocadas em to-das as festas da minha família.

Gonzaga100O que você está preparando para o concerto desta quarta (12/12)? Chambinho – Bem, quero fazer uma homenagem a ele e a to-dos que gostam de Gonzaga. Quero que cada um que esteja ali assistindo sinta um arrepio de lembrar do Gonzaga e uma alegria imensa em poder homenageá-lo. Acho que ele se ale-gra quando vê a multidão cantando suas músicas em coro.

Gonzaga100Para você, qual o papel que Gonzaga ocupa na música bra-sileira?Chambinho – Gonzaga urbanizou a música nordestina. Ele apresentou para o Brasil e o mundo nossa música de raiz. Ele foi, com certeza, um dos maiores músicos que o Brasil já teve.

No meio de 5 mil concorrentes, o sanfoneiro Chambinho do Acordeon ganhou do diretor carioca Breno Silveira o papel de Luiz Gonzaga no filme “Gonzaga: de pai para fi-lho”. De origem piauiense, o sanfoneiro nasceu em São Paulo e, pela primeira vez, trabalhou como ator no cine-ma. No início do processo para a escolha do elenco, Breno Silveira foi em busca de atores que pudessem aprender a tocar sanfona para ser o Rei do Baião, mas logo percebeu que só um sanfoneiro poderia dar vida a um dos maiores músicos do País.

Nesta quarta-feira (12/12), Chambinho do Acordeon se apresenta no Palco Gonzagão, no Exu, com um repertório baseado nas canções do sanfoneiro pernambucano, exa-tamente na semana em que comemoramos o centenário de nascimento de Lua.

No filme, Chambinho é o grande responsável por interpre-tar as canções de Luiz Gonzaga e dar vida ao sanfoneiro.

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ENTREVISTA

Por Dora Amorim Foto DivulgaçãoChambinho do Acordeon

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Filme explora a relação entre Luiz Gonzaga e GonzaguinhaDirigido por Breno Silveira, “Gonzaga: de pai para filho” será exibido no dia do centenário

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Chambinho do Acordeon vive Luiz Gonzaga no filme de Breno Silveira

Por Dora Amorim Foto Divulgação

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Dois músicos que cantaram suas lutas e popularizaram suas crenças. Um deles cantou sobre o povo do Nordes-te, a seca e a saudade do Sertão. O outro cantou para um Brasil repleto de proibições. Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, pai e filho, trazem a música brasileira na história, ao mes-mo tempo em que protagonizaram uma relação bastante tumultuada. Interessado por cinebiografias que exploram o universo familiar, como fez em “Dois filhos de Francis-co”, o cineasta carioca Breno Silveira assina a produção “Gonzaga: de pai para filho”, sobre a relação entre os dois músicos. Na próxima quinta-feira, quando Gonzagão completaria 100 anos, o filme terá uma das suas exibições mais especiais, no Parque Aza Branca, no Exu – uma das locações da obra.

Com cuidado estético e apoiado nas canções do Rei do Baião, Breno Silveira fala da conturbada relação do san-foneiro com o seu filho Gonzaguinha, interpretado pelos atores Alison Santos e Giancarlo di Tommaso e pelo gaú-cho Júlio Andrade. O último deles, inclusive, é um dos destaques da produção. Além da semelhança física com o cantor e compositor Gonzaguinha, ele impressiona por conseguir incorporar as singularidades do músico: seu jeito de caminhar, o ar crítico, a forma como se portava nas apresentações.

“Gonzaga: de pai para filho” mostra ainda como Gonza-guinha, mesmo bastante afastado do pai, queria reconhe-cer a sua história a partir da figura do Rei do Baião. Breno

Silveira quis fazer o filme depois que teve acesso a fitas cassetes com conversas entre o pai e o filho. Nos encon-tros, Gonzaguinha queria saber da relação de Gonzaga com a sua mãe e da sua infância no Exu. Essas passagens estão presentes no filme e mostram o renascer da relação entre os dois, num dos momentos mais significativos da produção, protagonizados por Adélio Lima, como Gonza-gão, e Júlio Andrade, como Gonzaguinha.

O “querer saber” do filho permeia toda a produção. É assim que ficamos sabendo que Gonzaga passou anos no exército, mas nunca atirou em ninguém. Sabemos que ele deixou o Exu, pois se apaixonou pela filha do coronel da cidade. Sabemos ainda que conheceu a mãe de Gonzaguinha em um bairro boêmio do Rio de Ja-neiro. Sabemos que o homem bruto do Sertão sofreu e muito para se adaptar ao “moderno” e nunca teve pro-blema em cantar para os “milicas”, em plena ditadura militar, enquanto o seu filho se transforma num dos representantes da liberdade no País.

“Gonzaga: de pai para filho” tem o mérito de apresentar ao público brasileiro um dos seus maiores defensores, a partir da interpretação de três atores: Land Vieira, Cham-binho do Acordeon e Adélio Lima. Mesmo se aproximan-do dos dramas novelescos, o filme não passa vergonha, como achavam os críticos – quando as gravações foram anunciadas. É uma obra que sabe se comunicar com o seu público e faz isso bem!

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Grupos locais embalaram público na feira de Timorante.

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De que os talentos brotam no Sertão do Araripe ninguém duvida. Luiz Gonzaga foi o mais conhecido e nos mostrou a importância de regá-los, para que possam crescer e dar frutos. Daí o simbolismo de terem sido artistas locais a iniciarem, na manhã da terça-feira (11/12), a programa-ção musical da festa do centenário de Gonzagão no Exu. Por iniciativa do projeto Cultura Livre nas Feiras, da Se-cretaria de Cultura de Pernambuco, Ivonete Ferreira, Léo Barros e Hellen e Mistura Nordestina se apresentaram na feira livre de Timorante, distrito da cidade onde nasceu Luiz Gonzaga.

O projeto ajuda a valorizar o artista local, dando a opor-tunidade de tocar num ambiente tradicionalmente fre-quentado por toda a cidade: as feiras livres. Compareceu uma plateia de cerca de 100 pessoas de todas as idades. Uma das mais empolgadas era Maria Mirtes de Deus, de 67 anos, que dançou ao som da sanfona de Léo Barros. “Só não estou adorando mais porque não estou cantando”,

Por André ZaharFotos Eric Gomes

No Sertão, forró começou na feira de TimoranteArtistas locais abriram grade musical na terça (11/12), em Timorante, distrito do Exu

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brincou, antes de tomar o microfone e entoar uma música de sua autoria sobre a Festa do Vaqueiro, que ela organiza em Timorante todo mês de janeiro.

Assim como outros conterrâneos, Maria Mirtes traz na memória histórias de Seu Lua. Segundo ela, sua mãe, Ro-sina Alves, vendia tripa de gado para Seu Januário, pai de Luiz Gonzaga, fazer buchada. “Tinha show de Januário no sítio de minha avó, Henriqueta, na Rua Velha. Depois que ele se cansava, pedia para Luiz, que então tinha uns 12 anos, tocar. Ele era tão pequeno que se sentava e as per-nas não tocavam no chão. Eu tinha 4 anos nessa época. Quando eu fiz 18 anos, vi Luiz tocando em cima de cami-nhão na praça de Timorante”, contou.

Responsável pelo primeiro show do dia, Ivonete Ferreira, 29, resumiu parte da trajetória dos artistas populares, que frequentemente fazem eco à história de Gonzagão. Ela, que trabalha em plantações para ajudar a família, aprendeu a tocar violão sozinha. Após passar cerca de nove anos pegando o instrumento emprestado, acaba de comprar o seu próprio violão, em oito prestações que ain-da não terminou de quitar.

Para tocar no palco armado na Rua Nelson Araújo, ao lado de barracas de frutas e carne, Ivonete preparou um reper-tório de MPB. Foi a primeira vez que tocou para o público de sua cidade: “Tem gente que nem sabia que eu triscava violão”, revelou. Ivonete destacou ainda a importância de projetos como o Cultura Livre: “Quando tem um evento desses, é preciso abraçar. As oportunidades são poucas, não dá pra desperdiçar”.

Depois dela, foi a vez de Hellen Maria Souza Alencar, 14 anos, tocar forró pé de serra ao lado do grupo Mistura Nordestina. A banda de Exu deu destaque para clássicos de Luiz Gonzaga, como “Vem morena”, “Hora do adeus” e “Cintura fina”. O forrozeiro Léo Barros, também do Exu, completou o tributo ao Rei do Baião, e botou o povo para dançar tocando sucessos como “Numa sala de reboco”, “Sabiá”, entre outros.

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A multiplicidade de assuntos a serem discutidos sobre a obra e a vida de Gonzagão foi ressaltada no seminário “Luiz Gonzaga – 100 anos do Rei do Baião”, que aconte-ceu na tarde desta terça-feira (11), na Torre Malakoff, em frente à Praça do Arsenal, no bairro do Recife. Com a par-ticipação do radialista Xico Bezerra, o jornalista Anselmo Alves e o músico Marcelo Melo, do Quinteto Violado, a conversa mediada por José Mauro Alencar girou em torno da importância do centenário de Gonzaga.

Para aqueles que reclamam sobre a quantidade de cele-brações em torno do centenário do Rei do Baião, Marcelo

Por André ZaharFotos Eric Gomes

Marcelo Melo: “Gonzaga mexeu com o imaginário das pessoas”Seminário “Luiz Gonzaga - 100 anos do Rei do Baião” aconteceu na Torre Malakoff

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Mediada por José Mauro, com microfone, mesa foi composta por Marcelo Melo, Chico Bezerra e Anselmo Alves

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Alencar deu a resposta: “Gonzaga não era só um sanfo-neiro, não era só o Rei do Baião. Ele mexeu com o ima-ginário das pessoas, com o urbano, o amor, a tristeza, a covardia. Tudo isso ele mexeu, e ele mexeu porque ia buscar nos poetas aquilo que ele queria dizer. Outra pes-soa veio, uma vez, me dizer: ‘Não sei por que esse pesso-al fala tanto de Luiz Gonzaga, que, na verdade, era um analfabeto, nunca escreveu um verso’. É preciso ter a compreensão pra entender o poeta que teve a capacida-de de traduzir no verso o sentido das coisas…. Esses poe-tas todos não teriam nunca o realce se não fosse através da voz de Gonzaga. Então são todos esses valores que a gente tem que ter a consciência crítica para observar”.

Durante a palestra, Marcelo Alencar destacou as razões que fazem de Gonzaga uma figura tão importante, ho-menageada durante um ano inteiro pelo centenário do seu aniversário (13/12). “Ele é de uma grandiosidade ar-tística que a gente tem que realmente tirar o chapéu, e eu tenho o prazer de dizer a vocês que eu tive o privilégio de conviver com ele. É uma grandeza que a gente tem na vida artística nacional”, complementou o músico.

Alselmo Alves concordou com o colega e acrescentou: “É muito interessante a reflexão do centenário de Luiz Gonzaga, porque ele está na padaria, nos cinemas, em todos os lugares. Gonzaga é uma entidade, mas gosto da dessacralização dele. Não tem como falar do sertão sem citar Gonzagão no meio. Acho que quem melhor o defendeu foi Patativa, que diz que ‘Gonzaga foi o sertão de carne e osso’”.

“A cada fala, a cada linha de livro, a cada verso de músi-ca, a gente fica impressionado com a genialidade dele. Ele sempre se juntou com gente que complementou sua arte. E tudo que fez, fez muito bem feito. Uma vez eu es-tava conversando, não sei se era com Maciel [Melo] ou com Petrúcio [Amorim]. Mas lembro que disse: ‘Mas, ra-paz, Gonzaga lascou a gente, porque tudo que ele fez foi tão bem feito, que o que a gente for falar agora nem vai ter mais graça’. (risos) Então a gente faz sabendo que todos nós estamos aquém da capacidade, da genialidade de Gonzaga”, adicionou Xico Bezerra.

Para os debatedores, o centenário de Luiz Gonzaga foi importante principalmente por romper barreiras regio-nais, ressaltando a importância do músico não só no Nordeste, mas na música brasileira e mundial. “Gonzaga está voltando com a força total e trazendo a beleza dos violeiros, cantadores, tudo, como um deus imaginário. Tenho uma certa crítica apenas aos ‘gonzagueanos’ mui-to conservadores, porque Gonzaga tocou guitarra, tocou com órgão, ele não era conservador, era transgressor”, afirmou Anselmo Alves.

“Há pouco tempo, eu vi um depoimento de Gilberto Gil onde ele dizia: ‘se não fosse Gonzaga, eu não era nin-guém’. É muito forte isso, mas é o tamanho da importân-cia dele. Gil inclusive começou tocando sanfona. O que tento dizer é que essas coisas são suficientes pra gente perceber que tudo o que acontecer nesse centenário e posterior a esse centenário é louvável e meritório”, fina-lizou Marcelo Melo.

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Governador Eduardo Campos assina decreto que transforma Parque Aza Branca em área de utilidade pública, no Exu-PE

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Aproveitando a data oficial do centenário de Luiz Gonzaga, o governador do Estado, Eduardo Campos, assinou um decreto que torna o Parque Aza Branca de utilidade pública. O anúncio foi feito na tarde desta quinta-feira (13/12), no próprio parque, que, um dia, abrigou Gonzagão e, até hoje, é considerado um san-tuário para os seus seguidores e fãs.

O governador ressalvou que, há oito meses, negocia com os proprietários do Parque Aza Branca – respon-sáveis por manter parte do acervo de Gonzagão, du-rante anos. “Temos que ter o parque como um patri-mônio público para que a história de Luiz Gonzaga possa continuar de geração em geração”, reforçou ele, ao falar da importância desta ação.

A cerimônia contou ainda com o lançamento de um medalhão confeccionado pela Casa da Moeda, em co-memoração ao centenário, e do selo produzido pelos

Parque Aza Branca agora é patrimônio públicoGovernador do Estado assinou um decreto para o espaço que guarda a memória de Lua

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Correios, também em homenagem ao centenário, que será comercializado em todo o Brasil.

O prefeito do Exu, Leo Saraiva, ressalvou ainda a importância do centenário para cidade e para a cultura nordestina, sem deixar de agradecer aos fãs que cruzaram fronteiras e vieram ao Exu cele-brar o aniversario de Luiz Gonzaga. O Secretário da Cultura Fernando Duarte e o Ministro da Inte-gração Nacional Fernando Bezerra também esta-vam presentes na cerimônia.

Logo após o anúncio, foi exibido o filme “Gonzaga: de pai para filho”, do cineasta carioca Breno Silveira. O Parque Aza Branca estava cheio para a sessão, o pú-blico acompanhou todas as canções e se emocionou ao ver a história de Gonzagão e Gonzaguinha na tela de cinema. O longa-metragem teve locações no Reci-fe e na própria cidade do Exu.

Foto Eric Gomes

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Oficinas de animação, oito baixos e xilogravura compuseram a grade formativa no Exu. Destaque à esquerda: Caíque, de apenas 8 anos.

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Aline Gonçalves de Lima, de 20 anos, começou a desenhar croquis de roupas antes de saber o que é a profissão de estilista. Aprendeu sozinha e, atualmente, já tem mais de 800 desenhos acumulados em casa. Nesta terça-feira (11/12), ela era uma entre as alunas da oficina de moda realizada no Exu, por ocasião do centenário de Luiz Gon-zaga. Mas Aline está longe de ser um caso isolado. Nas salas do Colégio Municipal Bárbara de Alencar, onde es-tão sendo oferecidos, para mais de 50 inscritos, esse e os outros cursos (xilogravura, cineclubismo, cinema de ani-mação, oito baixos e patrimônio), é fácil encontrar talen-tos natos em busca de aprimoramento.

Iniciada dia 5/12, a oficina de oito baixos, por exemplo, reúne desde o pequeno Caíque Bezerra de Carvalho, de 8 anos, até a professora de biologia Ana Varcan, de 24. Os dois compartilham a mesma paixão por Lua e pelo instru-mento que ele tocou no começo da carreira. Caíque deseja fazer carreira como sanfoneiro e piloto de helicóptero. Já Ana levou seis alunos seus para fazerem o curso e, anima-da com as aulas, comprou o seu próprio fole.

Por André ZaharFotos Eric Gomes e Marcelo Soares

Oficinas começam no Exu com boa procura e interesse da populaçãoAções de formação cultural estimulam a criatividade da população da cidade sertaneja

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Durante as aulas, o sanfoneiro Luizinho Calixto utiliza um método próprio, para que, até o final da semana, aprendam duas músicas de Gonzaga – “Asa branca” e “Assum preto” – e o “Parabéns para você”, para tocar, no domingo (16/12), na missa do Parque Aza Branca. O sanfoneiro já esteve no Exu em 2010, ministrando um curso de uma semana, e em 2011, para tocar. Pretende voltar ano que vem. “Quando eu vier de novo, a semen-te estará plantada”, disse.

“Assum preto”e “Asa branca”, ao lado de “A volta da asa branca”, também são algumas das canções de Gonzagão utilizadas como trilha sonora na oficina de animação que tem Lula Gonzaga, homônimo do Rei do Baião, como facilitador. Tal como Luizinho Calixto, ele também se gratifica em abrir, desde 1981, portas para alunos de escolas públicas que geralmente não possu-íam qualquer noção sobre o assunto abordado antes do curso. Ao final das aulas, será exibida a animação “A volta da Asa Branca”, produzida por alunos de oficinas em diversas cidades do estado ao longo do ano.

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Lula destaca que alguns de seus ex-alunos hoje traba-lham no cinema ou na indústria de videogames. Esse pode ser, quem sabe, um caminho a ser seguido por Antônio Gevisson dos Santos, de 16 anos. Em sua segunda aula, ele caprichava nas canetinhas coloridas ao desenhar uma animação sobre a música Forró de Zé Buchudo. “Eu dese-nho desde pequeno, mas nunca fiz curso. Soube da ofici-na pelo rádio e vim para cá. Talvez, no futuro, eu queira ser professor de arte”.

Na oficina de xilogravura, Zé Lourenço enfatiza que a téc-nica empregada para ilustrar cordéis hoje movimenta um comércio bem mais amplo – está presente, por exemplo, em camisas, canecas, azulejos, bolsas e capas de CD. O grafiteiro Sérgio Oliveira, 28, levou a esposa, Leila, de 21, e o irmão, Edgar, de 27, que também participam de sua equipe, para assistirem às aulas. Esta oficina é mais uma atividade para o nosso currículo”, diz.

Na oficina “A ressignificação da indumentária de Luiz Gonzaga”, a designer Roberta Duarte e a historiadora Rebecca Menezes abordam a estética das vestimentas de Luiz Gonzaga e os expoentes do mundo da moda que buscaram inspiração na temática nordestina. “A maior importância é ensinar os alunos a valorizar o território deles, para que saibam aplicar estes elementos de forma ampla”, diz Roberta.

Na aula desta terça, Aline, que deseja fazer faculdade de design de moda, preparou um croqui de um colar utilizan-do a ideia de um cinto de munição e a estrela de seis pon-tas dos chapéus de cangaceiros. “Eu já queria trabalhar com roupas inspiradas na nossa cultura, mas ainda não tinha formação”, disse.

Oficina de xilogravura no Colégio Municipal Bárbara de Alencar

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Foto Ricardo Moura

O Museu do Estado de Pernambuco (Mepe) abriu suas portas na terça (11/12) para a exibição da mostra “Luiz Gonzaga, Rei do Baião”, com uma coleção de objetos rela-cionados à vida e obra do ilustre sanfoneiro do Exu.

As peças apresentadas fazem parte do acervo pessoal do colecionador Paulo Vanderley, um bancário que, há vin-te anos, se dedica a reunir diversos objetos relacionados a Gonzaga. “Aqui nós temos apenas uma mostra do meu acervo, cerca de 10%, dos livros, revistas, discos e outros registros que tenho. Mas fiz questão de selecionar os ob-jetos mais raros”, comenta Paulo.

Entre esses objetos especiais, o visitante poderá ver a sanfona de oito baixos dada por Luiz Gonzaga a Arlindo dos Oito Baixos, um dos sanfoneiros mais tradicionais se-diados na nossa região metropolitana. Também é possível ver réplicas de diversas roupas usadas pelo próprio Gon-zagão, como gibão e chapéu de couro, e diversos vídeos de performances do sanfoneiro.

Museu do Estado abre suas portas para Gonzaga

Paulo, que morou três anos no Exu quando era menino, teve contato direto com Gonzagão e, até hoje, vive os ecos de sua presença. “Luiz Gonzaga foi muito influente na minha formação como cidadão. Na enciclopédia musical dele, estão presentes o debate sobre a terra, sobre a so-ciedade, as desigualdades, o amor, etc. No Exu, meu pai chegou a comprar um carro dele”, relembra.

Na opinião de Anselmo Alves, curador convidado pelo Mu-seu do Estado para montar o recorte da mostra, “Paulo é a maior referência em memória de Gonzaga”. Foi ele, in-clusive, que deu assessoria ao filme “Gonzaga: de pai para filho”, em cartaz em cinemas de todo o Brasil.

A homenagem ficou completa com as apresentações mu-sicais de Leda Dias e do músico Ari de Arimatéa.

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Abertura da exposição ” Xote, Maracatu e Baião” no Museu do Estado de Pernambuco

Exposição conta com livros, discose até sanfona de oito baixos

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“A grandeza de Luiz Gonzaga não cabe dentro de um fil-me”, afirmou diversas vezes o diretor Breno Silveira, ao falar de seu longa “Gonzaga – de pai para filho”. Mas, se existe um espaço infinito que comporta bem a enti-dade gonzagueana, esse espaço é o imaginário popular. E é seguindo essa premissa que os rapazes do Grupo Magiluth montaram o espetáculo “Luiz Lua Gonzaga”, apresentado na noite de terça-feira (11/12), na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife.

“A gente não queria fazer desse trabalho um especial de televisão, a gente queria mesmo era botar o Luiz Gonza-ga a partir das nossas memórias. Trazer o que tinha den-tro da gente, da nossa infância, o interior, o São João,

Por Gabriela Alcântara Fotos Ricardo Moura

Espetáculo sobre o Rei do Baião resgatou o imaginário gonzagueano

Grupo Magiluth emocionou o público com “Luiz Lua Gonzaga”

que é uma coisa que está dentro do imaginário de todo mundo que é daqui de Pernambuco. Claro que não tem como escapar da figura dele, que é uma coisa muito for-te, então, dentro desse trabalho, a gente trouxe muitas referências, lemos a biografia da Dominique Dreyfus, assistimos documentários, para trazer essa atmosfera para o trabalho”, afirmou o ator Giordano Castro.

Montado em três meses, a partir do Prêmio Funarte do Centenário Luiz Gonzaga, o espetáculo alcançou o dese-jo de seus criadores. Com uma cenografia tão simples, aos modos gonzagueanos, “Luiz Lua Gonzaga” cativou de imediato o público da Praça do Arsenal, que até com-partilhou com os atores a saudade dos momentos da in-

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Grupo Magiluth apresentou a peça em frente à Torre Malakoff

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“um relato de como o povo nordestino partilha os mesmos costumes de Gonzaga”

fância, dos causos familiares que estão presentes nos festejos juninos, entre outras lembranças.

E são as memórias que levantam as conversas dos perso-nagens, que esperam “o homem” vir de volta ao seu Sertão para uma grande festa. Sem imaginarem que o visitante não chegará, eles desfilam lembranças lúdicas e poéticas, convidando o público a interagir a todo momento.

Sem perder o ritmo, a peça do Magiluth atinge o objetivo de não ser mais uma biografia do Rei do Baião, mas, sim, um divertido relato de como o povo nordestino partilha os mesmos costumes de Gonzaga até hoje. Misturando as canções do Lua com experiências dos atores e da plateia,

o espetáculo de rua se entrega ao acaso de forma praze-rosa. Ao final de sua fala como personagem e ator, ele re-velou que sempre lembrará de “Onde o Nordeste garoa”, música do Rei do Baião que fala de sua cidade natal, Gara-nhuns, que seus pais cantavam como canção de ninar até os seus 10 anos.

Para a sertaneja Odília Nunes, que assistiu ao espetáculo com a filha e alguns amigos, o trabalho foi um belo pre-sente. Há quase 17 anos sem visitar o Sertão do Pajeú, onde nasceu, ela diz que se divertiu e se emocionou: “Sou sertaneja e estou superemocionada. Acho que consegui voltar para a minha terra, mesmo estando fisicamente aqui no Recife. Foi lindo”.

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Mesa debateu a influência nordestina nas músicas de Gonzaga

“A história de Gonzaga é a história do Nordeste, é a histó-ria dos nordestinos”, afirmou Dominique Dreyfus, duran-te o debate “Formação cultural do povo sertanejo”, que aconteceu na tarde da terça-feira (11/12) na Torre Ma-lakoff, bairro do Recife, no centro. Acompanhada do com-positor Onildo Almeida e do poeta José Mauro de Alencar, a jornalista francesa conversou sobre as influências da cultura nordestina nas canções do Rei do Baião.

Visivelmente presente nas vestimentas de Gonzaga, a cul-tura dos vaqueiros sertanejos é encontrada também nas suas músicas e em alguns comportamentos. “Gonzaga adotou o chapéu de vaqueiro e, na música, entre outras coisas, o aboio”, afirmou Dominique Dreyfus.

Compositor do sucesso “A feira de Caruaru”, Onildo Al-meida concordou e acrescentou: “O aboio é uma canção que o vaqueiro tem na garganta e que solta na hora de tanger o gado. E que emociona. O aboio é como uma lá-grima que cai, é muito bonito. E Gonzaga traz isso para a sua música”.

Outro traço forte de Luiz Gonzaga destacado pelos deba-tedores era a dualidade entre a influência dos coronéis e dos cangaceiros. Negro e de família pobre, o Rei do Baião tinha “um pé em cada lado”, afirmou Dominique Dreyfus. “Ele sempre falava que gostava da autoridade. E, ao mes-mo tempo, tinha admiração pelo herói, pelo mito do can-gaceiro. E tinha também esse lado um pouco subversivo, como o Lampião. Então ele retomava todas essas caracte-rísticas da sociedade nordestina, os vaqueiros sofridos, os

Fotos Ricardo Moura

Jornalista, poeta e músico conversaram sobre a obra do Rei do Baião

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José Mauro e Dominique Dreyfus debateram na Torre Malakoff

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Humberto Teixeira foi exatamente o rojão que os repen-tistas tocam. Eles fazem um bordão, um trechinho ins-trumental, enquanto a voz vai lançar a próxima estrofe. E foi esse ritmo que Gonzaga pegou para fazer o baião dele, a base mesmo da inspiração dele é o repentista”, esclareceu Dreyfus.

“O que mais me admira no repentista é que ele não fez nenhuma faculdade, nenhuma universidade, mas, quando se reporta ao mar, ele conhece todos os peixes, cita nome por nome. E eles mostram o que sabem cantando o ver-so. Isso está na veia do nordestino. Nossos violeiros são realmente verdadeiros professores. E Luiz Gonzaga, faço questão de dizer, está presente em todos esses aspectos. Porque Gonzaga, através do seu baião, da sua música, re-trata tudo isso também”, finalizou Onildo Almeida.

bandidos que se revoltavam e a disciplina. Ele tinha tudo isso no vestuário, no canto e no comportamento”, defen-deu a jornalista.

Na opinião de Onildo Almeida, o cangaço estava presen-te na vida de Gonzaga e vice-versa. “Há quem diga que Lampião tirava de quem tinha pra dar a quem não tinha. Essa atitude era simpática a Luiz Gonzaga. Ele sempre achou que isso era certo. Não enveredou para endeusar essa coisa, porém valorizava. E foi inspirado nisso que ele criou a sua indumentária, para mostrar a sua músi-ca nordestina, a música do seu povo, através do chapéu de couro, do gibão, e enriquecida liricamente com a sua sanfona”, complementou.

Os palestrantes lembraram também curiosidades de Luiz Gonzaga, como a religiosidade, muito mais presente em suas músicas do que no seu comportamento cotidiano. “É curioso quando se convive com o Gonzaga.… Ele cantou muito todos os santos, São José, São Pedro. E, na prática, foi ele quem financiou, acho, os vitrais da igreja do Exu. Ele criou a Missa do Vaqueiro, uma missa muito linda. E, ao mesmo tempo, na convivência que eu tive com ele, ele nunca ia pra uma missa, não tinha uma atitude religiosa. Então, a obra dele era mais de uma referência às crenças, à cultura, mas não era obrigatoriamente o modo dele de fazer”, afirmou Dreyfus.

A mesa lembrou ainda a relação de Gonzaga com a mú-sica dos repentistas, cancioneiros típicos do Nordeste. “Ele sempre falou que a base do baião que ele criou com

“A história de Gonzaga é a história do Nordeste,

é a história dos nordestinos”Dominique Dreyfus

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Forró embalou o pátio da Casa da Cultura na terça

Neste mês de dezembro, a Casa da Cultura é um oásis mu-sical no meio do corre-corre do centro do Recife. No pátio

que dá para a Rua Floriano Peixoto, na terça-feira (11/12), as atrações do Centenário de Gonzaga atraíam a atenção de turistas, trabalhadores e transeuntes, interessados pe-los ritmos que embalaram o mestre Luiz Gonzaga.

Pela manhã, Seu Nikanor, sanfoneiro, acompanhado por zabumba e triângulo, passeava de raio a raio do prédio da Casa da Cultura, prestando sua homenagem. A apresenta-ção foi um presente que ele fez questão de dar ao mestre que lhe inspirou até no nome, já que ele faz questão de ser chamado de Seu Nikanor, assim como Gonzaga era cha-mado por muitos de Seu Luiz, em tom de respeito.

À tarde, o forró tomou conta de um espaço montado no pátio especialmente para a apresentação de diversos san-foneiros durante a semana. Nesta terça, passaram por lá Zequinha de Aleixo, Paulo dos Oito Baixos e Bidinga do Arcodeon. Muitos turistas se aproximavam, como Félix dos Santos, professor de capoeira, que fez questão de ti-rar foto com a família inteira ao lado do sanfoneiro Paulo, durante sua apresentação. Para Félix, que é de Salvador e estava levando sua família pela primeira vez à Casa, a apresentação é uma iniciativa muito boa. “Já vi a progra-mação e pretendo comparecer a outros eventos, principal-mente aos shows no Arsenal”, comentou.

No fim da tarde, a Quadrilha Junina Tradição, do Morro da Conceição, fez uma apresentação especial ao som das músicas mais conhecidas de Gonzaga, como “São João na roça” e “Olha pro céu”. Muitos turistas, que chegavam das Ilhas Canárias no navio Costa Favolosa, fizeram questão de registrar a dança típica do período junino.

Foto Costa Neto

Durante comemoração do centenário, local vira palco para homenagear Gonzaga

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Seu Nikanor animou a Casa da Cultura

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Apresentações de música e filmes no espaço do Parque Aza Branca, no Exu, entre as casas onde viveram Luiz Gonzaga e seu pai, Januário, mostraram, na quarta-feira (12/12), a diversidade do universo gonzagueano. Não só nas exibi-ções do Caboclinho 7 Flexas, do grupo de xaxado Cabras de Lampião e do II Cine Exu – Mostra Sertões do Estado de Pernambuco esta pluralidade ficou evidente, mas também no público, que, além de Pernambuco, veio de locais como Bahia, Ceará, Maranhão e até de fora do país.

De Juazeiro do Norte (CE), o poeta Pedro Bandeira, 74, foi um dos homenageados durante o II Cine Exu. O escritor, que acaba de lançar um cordel sobre o centenário de Lua – “Cem anos de Gonzagão: nascimento, vida e morte” –, foi um dos criadores da Missa do Vaqueiro, em 1970, jun-to com o Rei do Baião e o Padre João Câncio. Ele conta que conheceu Lua no Crato (CE) “procurando uma barraca

Por André Zahar Fotos Marcelo Soares

Diversidade cultural no palco e na plateia do Parque Aza BrancaCaboclinhos, xaxado e cinema para público da Bahia, do Ceará e Maranhão

Acima apresentação de xaxado Cabras de Lampião. Abaixo, público assistindo à Mostra Sertões.

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Cine Exu

Durante o II Cine Exu, foram exibidos oito curta-metra-gens produzidos por comunidades dos sertões pernam-bucanos durante as oficinas do projeto Cinema no Inte-rior. Presente na cerimônia, o presidente da Fundarpe, Severino Pessoa, elogiou a iniciativa do cineasta Marcos Carvalho, que coordena o projeto. “Fazer cinema no ser-tão é um sacerdócio. As dificuldades são muito grandes e a produção requer muito esforço. Temos que continuar investindo na produção do sertão e na formação de pú-blico”, disse Pessoa.

Marcos Carvalho afirmou que o projeto, este ano, supe-rou suas expectativas. “Fizemos oito oficinas no sertão, em todas as regiões. Foi muito sacrifício, mas valeu a pena. Na primeira edição, alguns curtas foram selecio-nados para festivais. Embora este não seja nosso obje-tivo principal, pela dedicação e talento das pessoas en-volvidas, alguns filmes também podem fazer carreira”, apostou.

Foram exibidos os filmes “Umbilina”, “Verde vento”, “O ca-valeiro de São José”, “A promessa”, “O saco do velho”, “Amor ao pôr do sol”, “Zoma e Entra Lua”, “A casa é sua”. Com base na obra de Pedro Bandeira, este último foi produzido pelos representantes de todos os sertões em homenagem a Luiz Gonzaga. Também houve entrega de prêmios de melhor ator, atriz, coadjuvantes, figurino, produção, argumento, roteiro e filme, escolhidos por júris técnico e especial.

para comer baião de dois com pequi” e se lembra com ca-rinho de quando foi recebido por Gonzaga no Rio de Janei-ro. O sanfoneiro o levou ao programa de Flávio Cavalcanti e para as rádios cariocas.

Em relação ao centenário, Bandeira comemora a pro-dução cultural gerada pela data. “O mais importante são os filmes, livros, cordéis que estão sendo feitos. O que se diz o vento carrega, mas o que se escreve não morre”, assinalou.

Diego Andrade, de 27 anos, de Juazeiro (BA), se consi-dera privilegiado por poder, como consultor de vendas, estar toda semana no Exu. Ele é fã de Luiz Gonzaga e coleciona LPs do ídolo. “Desde 1945, na primeira gra-vação, até 1989, Luiz Gonzaga cantou o Nordeste de A a Z”, opina.

Filha da exuense Suzana Teixeira, a norte-americana Lais Lacher, de 29 anos, moradora do Texas, se encantou com a apresentação de xaxado. Ela se disse empolgada com a oportunidade de se aprofundar na cultura da mãe, em especial no que se refere a Gonzagão.

“Já conhecia algumas músicas de Luiz Gonzaga. Gosto muito de Asa Branca. Viemos por causa do centenário, e está sendo muito bom ver com meus olhos uma cultu-ra tão diferente. Minha família aqui é grande e se junta todo dia para tocar forró. Já aprendi a tocar triângulo e zabumba. Talvez agora eu faça aula de sanfona”, afirma.

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Xaxado

A apresentação do grupo Cabras de Lampião, de Serra Talhada, contou a história do bando de Lampião e do ritmo do xaxado, criado por cangaceiros para se dis-traírem nos momentos entre os combates. Por conta do centenário, foi incluída uma introdução em versos, declamada pelo ator Carlos Silva, sobre a história de Luiz Gonzaga.

Com base de zabumba, sanfona e triângulo, músicas como “Olha a pisada”, de Gonzaga e Zé Dantas, inte-graram o repertório do espetáculo, protagonizado por dez dançarinos e conduzido por quatro músicos. Dire-tora artística da companhia, Cleonice Maria, comemo-rou a receptividade do público no Exu.

“Tivemos um público diferente, com pessoas de vários estados. Foi ótimo. Nada identifica melhor o Nordeste do que o xaxado, que acaba sendo uma linguagem uni-ficada para toda a região”, afirma.

Caboclinho

A agremiação Caboclinho 7 Flexas prestou sua home-nagem a Luiz Gonzaga tocando Asa Branca no ritmo guerra, que caracteriza o folguedo. Mas também mos-trou seus outros ritmos – baião, perré e toré. Ao som das melodias executadas em surdo, exeres, atabaque e gaita, apresentaram-se 40 integrantes. Poeta Pedro Bandeira foi um dos homenageados do Cine Exu

Irmã de Paulo Sérgio dos Santos, o Paulinho, sucessor do fundador José Severino dos Santos, o Zé Alfaiate, a dançarina Carla Andréa Santos representou o Brasil em seu diadema. Ela frisou a importância de a diversi-dade cultural do Nordeste estar representada na festa do centenário de seu maior expoente. “Além do forró, o caboclinho, o maracatu e outros ritmos fazem parte da cultura nordestina”, expressou.

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um exemplo de empreendedor

Quem chega ao salão da exposição “Luiz Gonzaga Empre-endedor”, na Torre Malakoff, organizada pelo Sebrae com o apoio da Fundarpe/Secult, encontra, já na entrada, um comentário do colecionador Paulo Vanderley, que resume esse lado pouco conhecido de Gonzaga. Está escrito: “Foi um gestor espontâneo e intuitivo. Era um cara que tinha uma visão, uma iniciativa empreendedora, instintiva. Ele ia vendo que as coisas iam dando certo, ia fazendo, ia criando, ia inventando. Quando as pessoas falavam que não ia funcionar, aí que ele queria fazer mesmo”.

E essa fala aproxima a figura de Gonzaga de diversas ou-tras pessoas que, assim como ele, tiveram a coragem de se aventurar na cultura pernambucana e fazer dela um meio de sobrevivência e, mais que isso, uma história de suces-so. Na Torre Malakoff, o visitante poderá ver exemplos de pessoas e iniciativas que caminharam nesse sentido.

“O objetivo era materializar para o pequeno empreende-dor como fazer uso da cultura como elemento na constru-ção dos serviços com foco na economia criativa”, comen-ta o coordenador da exposição, Eduardo Maciel, gerente de comunicação do Sebrae. “Selecionamos Luiz Gonzaga como um exemplo empreendedor, por conta da empatia

Por Joana Pires Foto Costa Neto

Na Torre Malakoff, exposição compartilha as invenções de Gonzaga e de outros pernambucanos

que as pessoas têm com a sua história e a facilidade de aproximá-lo do cotidiano do público”, informa.

Com a assessoria do consultor empresarial, professor Luiz Carvalheira, responsável pela fundamentação teórica da exposição, e da consultora Germana Uchoa, da área de economia criativa, a exposição foi definida em seis seg-mentos: moda, design, instrumentos e escolas musicais, música, entretenimento e gastronomia. “Escolhemos um grande nome de cada área e mais três pequenos casos para ilustrar nosso ponto de vista”.

Entre os grandes nomes, está o chef de cozinha César San-tos, do restaurante Oficina do Sabor, que trabalha com novas reformulações de receitas regionais, valorizando a cultura gastronômica local. Além dele, outras iniciativas são destacadas como “Jean do Mato”, dono do Restauran-te do Matuto, em Salgueiro. Em um dos quadros da expo-sição, ele diz: “Gonzaga teve visão, atitude e acreditou no que ele sabia fazer, que era tocar e cantar o Nordeste”.

A presença do Rei do Baião funciona como uma referência cultural para a exposição. “Para falar dele, não precisa-mos necessariamente nos referir ao gibão, mas à sua ini-ciativa de sempre buscar na cultura uma inspiração para a sua produção”, completa Eduardo Maciel. Também estão presentes na exposição os trabalhos do designer tipográ-fico Bugg, da designer de bijouterias Simone de Andrade, do dono de restaurante Seu Celé, do ilustrador Derlon, en-tre outros. A exposição permanece em cartaz até o dia 11 de janeiro de 2013. A entrada é gratuita.

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Salão da exposição Luiz Gonzaga Empreendedor, na Torre Malakoff

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Alvorada gonzagueana abriu dia do centenário no recife

Os tiros dos bacamarteiros de Abreu e Lima anunciaram o nascer da quinta-feira (13/12), comemorando o cente-nário de Luiz Gonzaga na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife. Enquanto o dia começava, sanfoneiros, maracatu e bacamarteiros se uniam para celebrar Gonzagão em um só canto, lembrando a canção “Pau de arara”, na qual Lua afirmava carregar “xote, maracatu e baião”.

Foi com essa referência que o mestre Antônio Roberto No-gueira, do Maracatu Nação de Luanda, explicou a relação entre Gonzaga e o maracatu: “O xote, o maracatu e o baião são peças do mesmo jogo. O maracatu é muito mais anti-go, vem de 400 anos. E depois foi chegando a bagagem de cultura grande, que trouxe o baião e o xote. Luiz Gonzaga foi o continuador do maracatu, do coco, de tudo. Luiz Gon-zaga levou o maracatu também na bagagem dele, e isso a gente agradece. Gonzaga é um universo de musicalida-de”, afirmou Nogueira.

Depois do forró que reuniu os passantes do bairro em uma grande festa, um grupo de sanfoneiros se reuniu em fren-

Por Gabriela Alcântara Foto Ricardo Moura

Forró, xote, maracatu e baião para homenagear o Rei

te ao Palácio do Governo, na Praça da República, onde fez uma roda de forró em homenagem ao Lua. Entre as can-ções tocadas, sucessos como “Que nem jiló” animavam turistas e recifenses. No meio dos tocadores, estava a jo-vem Francieli Veredas da Silva, de 11 anos.

“Comecei a tocar sanfona com 9 anos, gosto muito de Luiz Gonzaga. A música que mais gosto é ‘Asa branca’. Estou gostando muito da festa, valoriza também a sanfona, que muita gente não presta atenção”, afirmou a menina, que disse ainda fazer sucesso entre os amigos do colégio, que sempre pedem para ela tocar.

Ainda mais novo, o pequeno Cauã Vilarin, de apenas 8 anos, estava acompanhado do pai, o sanfoneiro Ari de Ari-matéa. “Ele já sabe tocar umas três músicas de Gonzaga, fico muito feliz. Gonzaga disse uma vez a Alceu Valença: ‘Não deixe o meu forrozinho morrer’. E a gente vê um me-nino assim, desse tamanho, gostando de tocar Luiz Gon-zaga. Isso me deixa muito feliz”, afirmou o pai.

Cauã, assim como Francieli, diz que gosta muito de “Asa branca”: “É uma música brasileira que fala muito bem do Sertão”, disse, sorridente. Ao falar sobre o que pensa em ser quando crescer, repete o que dizem os amigos do colé-gio: “Eles sempre me falam que vou ser artista!”.

A festa para o velho Lua continuou ao longo da manhã, quando os sanfoneiros foram até o Marco Zero, onde fi-caram se revezando até o final da tarde para celebrar o aniversário de Gonzaga. Muito forró e arrasta-pé.

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Nação de Luanda lembrou relação de Gonzaga com o maracatu

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Estreia do Palco Gonzagão emocionou

público no Exu

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Fotos Eric Gomes

Festa contou com a Orquestra Sinfônica de Teresina, Danilo Pernambucano,

Zé Nilton e Santanna

Depois de Chambinho do Acordeon (acima), que interpretou Gonzaga em “De pai para filho”, Santanna (abaixo) fechou a noite

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“Luiz Gonzaga é tudo”. A frase sussurada entre a pla-teia do Palco Gonzagão, montado no Módulo Esportivo da cidade do Exu, representa o sentimento do público em relação a um dos seus maiores “reis”. Na noite de quarta-feira (12/12), Luiz Gonzaga foi celebrado por vá-rios artistas na estreia do Palco Gonzagão, que, até o próximo sábado, recebe atrações musicais para celebrar o centenário do Rei do Baião, comemorado oficialmente nesta quinta-feira (13/12).

No meio da plateia, um grupo de pessoas vestidas de amarelo se destacava cantando as versões da Orquestra Sinfônica de Teresina, primeira atração da noite, que era acompanhada pelo humorista e cantor João Cláudio. Este grupo era formado por 26 pessoas, que saíram de Picos, no Piauí, para celebrar o Rei do Baião na sua cidade natal. “Luiz Gonzaga é a cultura viva da nossa música, é a nossa tradição. Meu pai cantava sempre ‘Asa Branca’ para mim e ainda me emociono muito”, lembra Maria José Cipriano. Ela está hospedada com os amigos e familiares no Jua-zeiro do Norte e saiu do Piauí para o Exu, especialmen-te para acompanhar as comemorações do centenário de Luiz Gonzaga. A segunda atração da festa, o sanfoneiro Danilo Pernam-bucano, de Salgueiro, animou o público com versões das músicas “Meu pé de serra”, “Que nem Jiló”, “Hora do adeus”, entre outras. O músico subiu ao palco vestindo um gibão para homenagear Gonzaga e conquistou a sim-patia da plateia.

O forrozeiro Zé Nilton também fez parte da festa e ressal-tou a importância de Gonzagão. “Vamos cantar Luiz Gon-zaga, que cantou o Brasil para o mundo e cantou o nosso Sertão. Ele falou da nossa roça e da nossa seca, e, graças a Deus, já voltou a chover”, lembrou o músico, emendan-do a fala com a canção “Asa Branca”.

Um dos grandes nomes da festa, o sanfoneiro Chambinho do Acordeon, que interpretou Luiz Gonzaga no filme “Gon-zaga: de pai para filho”, do cineasta Breno Silveira, não decepcionou a plateia do Exu, que estava ansiosa para re-cebê-lo. De origem piauiense, o músico cantou “Parabéns para você”, no ritmo de baião, e ainda lembrou: “Gonzaga faz 100 anos e a sorte é nossa”. Chambinho apresentou as suas versões das músicas “Respeita Januário”, “Sabiá”, “17 e 700”, “A vida do viajante”, entre outras e saudou as pessoas de todo o Nordeste que vieram para o Exu cele-brar a data.

Para fechar o dia de festa, Santanna correspondeu às ex-pectativas do público, falou da sua relação com Luiz Gon-zaga e lembrou do pai – que também nasceu no Exu.

Aniversário

No dia oficial do centenário, o Palco Gonzagão recebe atrações especiais que prometem marcar a história da ci-dade, como Daniel Gonzaga. Filho de Gonzaguinha e neto do Rei do Baião, o cantor é reconhecido pela semelhança com seu pai e vai ao Exu com um show que destaca a pre-sença e importância da música na sua família. Domingui-nhos, Gilberto Gil e Joquinha Gonzaga, sobrinho de Seu Luiz, completam a festa que começa a partir das 21h.

Penúltimo da noite, Chambinho tocou “Parabéns” em ritmo de baião para Gonzaga

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Fazenda Araripe vira meca de forrozeiros no aniversário de Lua

No dia em que Luiz Gonzaga completaria cem anos, os shows na Fazenda Araripe, no Exu, confirmaram, nes-ta quinta-feira (13/12), que a cidade natal de Lua virou uma espécie de meca para forrozeiros de todo o País. As apresentações de músicos da região do Araripe e arre-dores atraíram para o local, onde fica a casa onde viveu Seu Januário (pai de Gonzagão), visitantes de Marabá (PA) até São Bernardo do Campo (SP), além muitas ou-tras caravanas. Tinha até gente que pedalou 750 km para participar da festa.

O arrasta-pé começou cedo, por volta das 9h30. No meio de músicos que chegaram a conhecer e tocar com Gonza-gão, como Epitácio Pessoa e Vital Barbosa, um garoto de 12 anos chamou atenção logo na segunda apresentação, dos Cabas de Gonzaga. Wanderson Araújo de Oliveira toca triângulo feito gente grande. Começou aos 7 anos e já perdeu a conta de quantos shows já fez. “Eu ouvia as músicas no rádio e treinava sozinho. Quero ser artista, ter banda de forró”, disse.

No dia do centenário, músicos e admiradores de Gonzaga vieram de várias partes do BrasilPor André Zahar Fotos Marcelo Soares

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Sanfoneiros de todas as idades tocaram no lugar onde Luiz cresceu. Epitácio Pessoa (acima). Na página ao lado, Wanderson de Oliveira, 12 anos, e banda Chá Cutuba

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Aos 59 anos, o sanfoneiro Epitácio Pessoa, que acompa-nhou o velho Lua tocando triângulo em excursões pelo Nordeste, cantou músicas do patrão e contou causos vi-vidos ao lado dele. Depois da apresentação, só lamentou a ausência do amigo na festa: “No centenário do Araripe, quando ele tocou aqui, eu tinha 11 anos. Não dava para pisar no chão”.

Vital Barbosa, 60, também aproveitou sua apresentação para falar da convivência com o homenageado. Ele lem-brou de quando ganhou uma sanfona de 120 baixos, trazi-da por Luiz Gonzaga do Rio de Janeiro, em 1975. “Ele era muito generoso. Distribuiu mais de 100 sanfonas pelo Bra-sil inteiro”, contou. Durante a festa, apresentaram-se ainda os Seguidores do Rei, Chá Cutuba, Flávio Baião, Leninho de Bodocó, Tácyo Carvalho, Coral de Aboios de Serrita, Donizete Batista, An-tônio da Mutuca e Os Três do Cariri. Com direito a muito forró pé de serra, os shows foram pontuados por clássicos

de Gonzagão, com o devido destaque que a ocasião pedia para a música “Meu Araripe”.

Na plateia, a devoção por Seu Lua também era grande. A escritora Raimunda Frazão, 61, veio de São José de Riba-mar (MA) para fazer sua homenagem ao Rei do Baião, que o pai levou para conhecer no trem da Estrada de Ferro São Luís-Teresina quando ela tinha 4 anos.

Perto dela, o cordelista Paulo de Tarso, de Tauá (CE), exibia os 11 livretos que fez sobre Lua desde 1989. Somente este ano, ele escreveu três: “Assim cantou Gonzagão”, “O Gon-zagão centenário” e “Luiz Gonzaga e o estado do Ceará”.

Já o baiano Roberto Encarnação, de 44 anos, não poupou esforços. Literalmente: pedalou de Salvador até Exu, per-correndo 750 km em sete dias. Chegou na última terça--feira (11/12). “Sou apaixonado pela obra de Lua, queria conhecer sua cidade. Estar aqui e respirar Luiz Gonzaga o tempo inteiro é um sonho”, comemorou.

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Gil celebrou Seu Lula por quase duas horas de show

No dia 13 de dezembro de 1984, Gilberto Gil estava no Exu para celebrar o aniversário de Luiz Gonzaga, ao lado de nomes como Gonzaguinha, Dominguinhos e o sanfoneiro Waldonys, que só tinha 10 anos na época. À noite, quan-do foram para o sítio de Seu Lula, o baiano observou os sapos saltitando, o barulho dos trovões de longe e escre-veu uma das suas maiores homenagens ao Rei do Baião: a música “Treze de dezembro”. Quando Gilberto Gil cantou essa mesma canção na noite desta quinta-feira (13/12),

Por Dora Amorim Fotos Eric Gomes

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Também subiram ao palco principal do Exu Dominguinhos e Daniel e Joquinha Gonzaga

No dia do centenário, Gil (acima) fez show em homenagem ao seu mestre e lotou a casa. Na página ao lado, Daniel Gonzaga cantou para o avô

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26 anos depois, o público do Palco Gonzagão acompa-nhou a homenagem entoando os versos: “E a treze de dezembro nasceu nosso rei/ O nosso Rei do Baião/ A maior voz do Sertão”.

Quando Gonzagão completaria 100 anos, Gilberto Gil es-tava mais uma vez presente na terra natal do seu mestre, desta vez como um dos grandes nomes da festa do cente-nário. Durante a apresentação, o cantor baiano celebrou Seu Lula durante quase duas horas e incluiu no seu reper-tório canções significativas do sanfoneiro pernambucano, como “Óia eu aqui de novo”, “Xote das meninas”, “Respei-ta Januário” e “Vem morena”. E também fez toda a plateia dançar com músicas de sua autoria, como a canção “Va-mos fugir”, uma das mais celebradas da noite.

Seguidor de Luiz Gonzaga, Gilberto Gil não escondeu o entusiasmo por estar participando da festa do centená-rio. Ele comentou sobre a sua relação com Gonzaga e dis-se que considera o sanfoneiro um pai musicalmente. “Foi ele e a música dele, o alumbramento dele, o seu espírito elevado que me influenciaram na infância e me ajudaram a compreender a música”, lembrou. “Ainda é pouco tudo que a gente faça para homenageá-lo”, completou.

Noite A abertura da noite ficou por conta de Daniel Gonzaga, neto de Seu Lula, que animou o público do Palco Gon-

zagão. “Quero cantar no pé da serra, nesta cidade que sempre me acolheu tão bem”, lembrou antes de entoar os versos de “No meu pé de serra”, uma das canções mais significativas do avô. Emocionado, Daniel ressalvou a im-portância de Luiz Gonzaga para a música e a história do País e cantou ainda “Vida do viajante”, “Xote das meni-nas” e “Riacho do navio”.

Dominguinhos, parceiro de Gonzaga e um dos maiores responsáveis por divulgar o seu legado até hoje, também fez parte do dia oficial do centenário. Ele começou o con-certo afirmando que o centenário é apenas um número e que Seu Lula deve ser louvado independente das datas comemorativas. Num dos momentos mais significativos da noite, cantou “Asa Branca” e falou da seca: “Nunca foi tão necessário tocar ‘Asa branca’ novamente. A seca está muito grande e está matando tudo, mas não vai demorar muito para a água voltar a bater por aqui, e nós vamos pa-rar de tocar um pouco esta canção”.

O sobrinho de Gonzagão, Joquinha Gonzaga, fechou a noi-te e não deixou de homenagear o tio, com um repertório repleto das suas canções. Esta sexta é a vez de Joãozinho do Exu, Amazan, Elba Ramalho e Waldonys celebrarem o centenário no Palco Gonzagão, também a partir das 21h.

Público

No dia 13 de dezembro, a cidade do Exu acordou diferente. Desde cedo, várias pessoas foram para as ruas celebrar o Rei do Baião e cantar as suas músicas. Há nove anos, Mira Vilas-Boas vem ao Exu, com um grupo de amigos, celebrar o aniversário de Seu Lula, na sua terra natal. No ano do centenário, não podia ser diferente. “Somos um grupo que gosta e faz forró. Então, para todos nós, Luiz Gonzaga é tudo. É mais que uma inspiração”, lembrou. Para José Ma-nuel Filho, natural do Exu, Luiz Gonzaga mudou a cidade: “Ele foi uma astro do mundo. Ele fez a cidade do Exu ficar conhecida e maravilhosa para todos. Cheguei a conhecê--lo. Foi rápido e muito significativo”, completou.

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Com a praça cheia, o Recife prestou sua homenagem a Lua

Era gente por tudo quanto é lado. Na frente do palco, nas ruas laterais, na Praça do Arsenal, em frente à Torre Ma-lakoff. O aniversariante era ilustre e o povo fez questão de ir à festa. Luiz Gonzaga, que faria 100 anos ontem (13/12), se vivo estivesse, com certeza se sentiria homenageado ao ver aquelas pessoas todas contando seus causos, falando seus nomes – Seu Luiz, Gonzagão, o Rei do Baião.

Na abertura da festa, diversos artistas se revezaram no Baile do Gonzaga para recepcionar o público, que não pa-

Fagner, Alceu Valença e Targino Gondim fizeram os shows do tributo

Por Joana Pires Fotos Cosa Neto

rava quieto. Tocaram um repertório cheio das músicas mais emblemáticas de Gonzagão e até o “parabéns”. O público se vestiu a caráter: era chapéu de vaqueiro, de cangaceiro, e todo tipo de indumentária. Valia tudo para prestar uma homenagem ao rei do Sertão pernambucano.

Muita gente estava ali aproveitando as músicas de Gon-zaga, mas também à espera das músicas próprias que artistas como Fagner e Alceu entoariam naquela noite tão especial.

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Fagner (acima) emocionou o público com suas músicas e as de Luiz Gonzaga. Alceu Valença (na página ao lado) também mesclou seus sucessos aos do Rei do Baião

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Fagner começou e terminou o show com forró, mas con-quistou o público mesmo quando cantou os grandes suces-sos de sua carreira, como “Deslizes”, “Canteiros”, “Notur-nos” e a divertida “Cartaz”, guardada para os momentos finais do show. Emocionada, a plateia do Arsenal cantou junto todas as músicas. “Esperei 46 anos por esse momen-to”, disse Márcio Arcoverde, com a voz embargada. “Na minha infância, meu irmão ouvia muito Fagner e eu não entendia o porquê daquilo. Só depois que cresci é que fui entender a força dessas letras”, confessou.

Para Fagner, a oportunidade de estar em um show especial, numa noite dedicada a Gonzagão, também emocionou. “Foi maravilhoso ver os olhos das pessoas brilhando. Isso mo-tiva muito, especialmente hoje, por conta do que estamos comemorando. Gonzaga me botou na cena de novo no Nor-deste. Ele me disse ‘Vem cá, menino’ e me mostrou o forró”, contou Fagner enquanto atendia aos pedidos dos fãs.

No palco, junto com ele, uma banda luxuosa conquistou o público com arranjos fortes e emocionantes. Entre os músi-cos, uma prata da casa, o Maestro Spok, completava a festa. “Toquei com Fagner há anos. Receber esse convite de tocar de novo com ele e na noite do aniversário de Gonzaga é ma-ravilhoso. Não tive a felicidade de conhecer o Rei do Baião, mas tive a felicidade de trabalhar com um príncipe, que é Fagner, e tantos outros artistas influenciados por esse Rei, como Elba, uma princesa do forró. Agradeço a eles por não me deixarem perder o que eu tenho de mais precioso, que é a alma do meu povo”, expressou Spok.

Logo em seguida, foi a vez de Alceu Valença fazer um show quase todo baseado no forró gonzagueano, mas trazendo também algumas de suas composições mais importantes. “Vem morena”, “Cintura fina”, “Karolina” e “Baião” divi-diram palco com “Anunciação”, “Tropicana”, “Pelas ruas que andei” e “La belle du jour”. No meio da festa, Alceu fez questão de contar o dia em que conheceu Luiz Gonzaga: “Eu estava fazendo um show em Juazeiro e ele estava as-sistindo. Quando terminei o show, ele disse: ‘Alceu!’ E eu: ‘O senhor veio fazer show também aqui em Juazeiro?’ E ele: ‘Não, vim de novo do Exu só pra lhe ver’. Fiquei sem saber se ele tinha gostado da minha música, das guitarras. Então perguntei, e ele respondeu: ‘Adorei, Alceu. É uma banda de pífanos elétrica’”.

No fim da noite, o sanfoneiro Targino Gondim, compositor da música “Esperando na Janela”, encerrou a celebração com mais forró.

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Gonzaga foi reverenciado em sua casa

A história de Gonzaga começou a ser traçada há exatos 100 anos, quando nasceu, no dia 13 de dezembro de 1912, na Fazenda Araripe. Conta-se até que uma estrela cadente rasgou o céu confirmando que o menino ia ter boa sorte. Se houve ou não o episódio astrológico não se sabe, mas de que o menino foi longe ninguém duvida. De uma vida tipicamente sertaneja ao sucesso absoluto em todo o País. Sucesso tão grande que foi capaz de mu-dar não só sua própria vida, como de toda uma cidade. O que se viu, na quinta-feira (13/12), no Exu, com milha-res de pessoas reunidas para celebrar o centenário do seu filho mais célebre, foi a prova de que Gonzaga é, de fato, um marco do Sertão.

Por Chico Ludermir Foto Marcelo Soares

Na noite do centenário do Rei do Baião, Parque Aza Branca

também recebeu shows

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Alcymar Monteiro foi um dos que fizeram show para Gonzagão

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Em 1982, já no final da vida, o Rei do Baião voltou defini-tivamente à sua cidade natal para morar na Fazenda Aza Branca. O lugar, que ele fez questão de construir como um museu de sua própria trajetória, também foi palco, na noi-te de ontem (13/12), para a festa dos seus 100 anos.

Se a obra de Gonzaga tem a cara de sua vida, estar no Par-que Aza Branca nesse dia 13/12 foi talvez a forma de estar mais perto de Luiz. É lá onde está intacta sua última casa, com todos os seus móveis e quadros. É lá onde está o seu Juazeiro, em referência àquele que lhe inspirou para can-ções de amor. É lá ainda onde está o mausoléu com os res-tos mortais de Gonzagão. Mas, no dia do seu centenário, ele estava vivo. Vivo porque foi cantado e revisitado com tanto carinho por seus parceiros e admiradores. Vivo por-que foi dançado por seus conterrâneos e por aqueles que vieram de longe para saudá-lo. Vivo porque foi celebrado, por seus contemporâneos ou não.

Shows

A noite de shows começou com um “parabéns” cantado por João Silva, um de seus maiores parceiros musicais, ao lado de Taís Nogueira. Teve até bolo dividido com a plateia e queima de fogos. Depois da primeira apresentação, que contou com a participação de Dominguinhos, João saiu do palco querendo ficar. “Quando estou aqui no Exu, parece que ele está aqui de novo”, disse o compositor, que tem cerca de 130 músicas com Gonzaga, dentre elas “Vou te matar de cheiro”, “Meu Araripe” e “Deixa a tanga voar”, que ele não poderia deixar de cantar.

Quando Josildo Sá entrou no palco, já encontrou o terre-no quente. E dançava gente de toda idade. Desde os que viveram o apogeu de Gonzaga aos que chegaram depois que o rei já tinha ido. Emocionado, Josildo prestou reve-rência ao seu ídolo. “Estar aqui hoje é muito emocionante. As minhas palavras de homenagem vão vir em forma de música”, disse, emendando mais forró.

Com um repertório generoso, deu ainda para Alcymar Monteiro e Adelmário Coelho, que fecharam a noite,

cantarem versões sem que houvesse repetição. Alcymar lembrou que foi seu compadre Gonzaga, padrinho de seu filho, que lhe deu a dica de adotar uma identidade visu-al. Por isso que, mais uma vez, Alcymar apareceu todo de branco.

Público

Na plateia, Sr. Portela e D. Delma dançavam em meio a um sem número de casais. Vieram de Salgueiro (PE), no Ser-tão Central, com camisa especialmente feita para home-nagear o rei. O público era tão repleto que contava ainda com exuenses, recifenses, paulistas, cearenses,… gente de gibão, bota e chapéu de couro, só para festejar. Ao lado da mãe, Hyalu e Hyago, de 6 e 7 anos, cantaram suas músicas preferidas. Para ela, “A Feira de Caruaru”. Para ele, “Res-peita Januário”, que eles já sabem de cor.

Na noite de quinta (13/12), Gonzaga provou mais uma vez sua universalidade, permitindo que todo mundo se esbal-dasse ao som do seu repertório. E ainda teve gente que, 100 anos depois, jura que viu de novo caindo estrela ca-dente na noite do 13 de dezembro….

De pai pra filho

No início desta mesma noite, a exibição do filme “Gon-zaga: de pai para filho” lotou o Parque Aza Branca. O longa-metragem do cineasta carioca Breno Silveira teve uma das suas sessões mais especiais no Exu, uma das lo-cações da obra. Na plateia, estavam os moradores da ci-dade e pessoas que conheceram Seu Lula. “Esse filme é bom mesmo”, sussurrou um espectador. “Esse menino se parece muito com o filho de Gonzagão”, lembrava outro. Observando a reação do público, era impossível não notar que todos, ao seu modo, acompanhavam todas as músicas do filme, seja cantando mais alto ou batendo o pé. Ao que tudo indica, “Gonzaga: de pai para filho” parece ter tido a sua aprovação no berço do sanfoneiro.

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Lançamento ocorreu também no Recife (PE), em Brasília (DF), Juazeiro do Norte (CE) e Entre Rios (BA)

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Selo comemorativo e estátua de Gonzaga foram entregues no Exu

No dia oficial de seu centenário, o Rei do Baião foi home-nageado também pelos Correios, que enviou uma equipe para o Exu, no Sertão pernambucano, para o lançamento do selo comemorativo. A cerimônia aconteceu às 16h30 da quinta-feira (13/12), no Palco Juazeiro do Parque Aza Branca, e contou com a presença do diretor regional dos Correios, Pedro Mota Soares, além de outros nomes.

Criado pelo artista Jô Oliveira, o selo comemorativo tem cerca de 300 mil exemplares. Ele foi lançado também no Recife, às 19h, no palco externo do Teatro Luiz Mendonça, em Boa Viagem, e nas cidades de Juazeiro do Norte (CE), Brasília (DF) e Entre Rios (BA).

Um pouco depois, às 17h, o Parque Aza Branca recebeu a Assembleia Itinerante, cerimônia da Assembleia Le-gislativa de Pernambuco (Alepe). Durante a Assembleia Itinerante, foram entregues dez medalhas do centenário de Gonzaga, uma delas in memorian a Francisco Parente, antigo administrador do Parque Asa Branca, que foi rece-bida por sua viúva, Clemilce Parente. Além disso, a Alepe

entregou o título de cidadão pernambucano ao músico Jo-quinha Gonzaga, sobrinho do Rei do Baião, que lutou para manter o acervo de seu tio no Exu. A celebração da Alepe se encerrou com a entrega de uma estátua em tamanho real de Gonzagão, confeccionada por J. Maciel, que ficará na entrada do Parque Aza Branca.

Selo lançado pelos correios conta com elementos de músicas de Gonzaga, tais como: mandacaru, asa branca e os verdes olhos de Rosinha

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Quando chegou a hora de tocar, o músico Rock da Zabum-ba, que acompanhava Seu Neo do Arcodeon, confessou: “Eu num sei nem como é que vou tocar essa zabumba de tão emocionado que eu tô”. Ele tinha acabado de assis-tir ao documentário “Luiz Gonzaga, a luz dos sertões”, de Anselmo Alves e Rose Maria. A exibição fez parte do evento realizado no Museu do Estado de Pernambuco, na sexta-feira (14/02) para a celebração do centenário de Luiz Gonzaga.

No encontro, o público pôde assistir à intervenção do realizador do filme. Na sua fala, Anselmo fez questão de destacar que a música de Gonzaga sobrevive por conta das pessoas. Idealizador do Memorial Luiz Gon-zaga, no Pátio de Sao Pedro, Anselmo acha que há uma euforia muito grande para homenagear Luiz mas que essa overdose é boa porque abre espaço para o que é bom e para novas formas de ver sua obra. “Esse cente-

nário traz a oportunidade para isso”, opina.

Em seu filme, conta com os depoimentos de familiares de Gonzaga e de personalidades ilustres como Gilberto Gil, Dominguinhos e Patativa do Assaré. Para Patativa, Luiz Gonzaga é a joia pernambucana. Na opinião de Gil, Gonzaga está entre as maiores referências na cultura po-pular brasileira.

No final do encontro, Seu Neo puxou seu acordeon para fazer homenagem a Luiz também com música, bem como ele gostava. Neste sábado (15/12), o encontro continua com a palestra “A origem da sanfona no mun-do, sua chegada ao Brasil e os diferentes sotaques nas regiões do País”, com Leda Dias. Logo depois, segue a exibição do vídeo “Raízes de fole”, de Amaro e Rafael Coelho. A noite será encerrada com a apresentação mu-sical de Seu Adriano.

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“Gonzaga sobrevive em seu público”Em exibição no MEPE, diretor de “Luiz Gonzaga, a luz dos sertões” debateu com espectadores

Foto Ricardo Moura

Para Anselmo Alves, Gonzaga sobrevive em seu povo

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Parque Aza Branca não deixou ninguém parado

A relação entre o Quinteto Violado e Luiz Gonzaga é an-tiga. O primeiro álbum do grupo pernambucano, lançado em 1972, trazia versões das canções “Asa branca” e “Vo-zes da seca”, com belíssimos arranjos. “Luiz Gonzaga está presente na nossa história musical com muita força”, lem-brou Marcelo Melo antes do concerto desta sexta-feira (14/12), no Palco Aza Branca.

Lugar onde Gonzaga viveu últimos anos de sua vida recebeu Quinteto Violado e Flávio Leandro

Por Dora Amorim Fotos Eric Gomes

O show começou com uma gravação de Gonzaga falando do Quinteto Violado e ressalvando que fez parte da histó-ria do grupo. “Estamos felizes por estar dando continui-dade à nossa trajetória de homenagens ao Rei. A nossa sonoridade só existe graças às releituras que fizemos de Luiz Gonzaga. É muito bom estarmos no Exu, onde costu-mávamos vir com ele”, completou Marcelo.

Com nova formação Quinteto Violado lembrou tempos antigos de parceria. Na página ao lado Zé Calixto no Palco Aza Branca e Edla (de xadrez) celebrando com amigos

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Praticamente todo o show do Quinteto foi embalado pelas canções imortalizadas na voz de Gonzaga, como: “Tarde tristonha”, “Nem se despediu de mim”, “A volta da asa branca”. A versão de “Que nem jiló” do grupo, inclusive, era tida por Gonzaga como o arranjo mais bonito dessa canção. No final da apresentação, o baterista Roberto Me-deiros pediu para o público cantar “A vida do viajante”, e o Quinteto se despediu do palco.

A abertura da noite ficou por conta de três sanfoneiros: Zé Calixto, Luizinho Calixto e Trunvinca, que colocaram todo mundo para dançar forró. Um dos grandes representantes da sanfona dos oito baixos, Zé Calixto mandou um recado para o público logo no início do show: “Quero que todo mundo dance balançando o esqueleto na base do bucho com bucho”. E a plateia obedeceu.

Outra atração da noite, o Trio Nordestino começou a sua estrada musical em 1957 e foi contemporâneo de Luiz Gonzaga. Hoje, com uma nova formação, o grupo está circulando pelo País com um show em homenagem a Seu Lula e não deixou de fora do repertório canções como “Xote das meninas”, “Numa sala de reboco”, “Na emen-da”, “Asa branca” e “Pagode russo”.

O forrozeiro Flávio Leandro fechou a festa no Parque Aza Branca e fez sua homenagem a Gonzaga. Neste sábado (15/12), Bia Marinho, Maria Lafaete, o projeto Meu Arara-ripe e Maciel Melo são as atrações do Parque Aza Branca.

Público

Na noite desta sexta-feira (14/12), o público do Parque Aza Branca era um espetáculo à parte. Todos estavam se sentin-do na casa de Gonzagão e não pararam de dançar e cantar as suas músicas. O parque abriga a casa, que um dia, foi do sanfoneiro, além do seu mausoléu e o Museu Luiz Gonzaga, sendo um ambiente perfeito para a celebração.

Quando tinha 15 anos, Edla Silva veio ao Exu pela pri-meira vez acompanhar o enterro de Gonzagão. “Lembro

do caixão dele à noite na igreja, era muito nova. A cada canto da cidade, em cada barzinho, havia um sanfoneiro cantando as músicas de Seu Lula. Até hoje, me arrepio ao lembrar deste dia”, contou. Hoje, Edla Silva voltou à cida-de com mais três amigos para celebrar o centenário onde ele viveu. “O fato desta festa ser realizada aqui é perfeito, pois estamos na casa dele. Luiz é a nossa essência, nossa raiz. Ele falou deste povo sofrido do Sertão, mas que nun-ca deixou de se alegrar”, completou Edla, que nasceu em Araripina e mora em Petrolina.

No meio do Parque Aza Branca, um grupo do Maranhão se destacava. Mais de 90 pessoas vieram ao Exu para ce-lebrar o centenário e estão hospedadas em Bodocó. “Luiz Gonzaga representa a nossa infância, e o Parque Aza Branca é o melhor lugar para festejar Gonzaga. Fico emo-cionado de estar na sua casa”, lembrou Jonas Eloy, um dos representantes do grupo. “Hoje fizemos uma festa no centro, tocando sanfona e triângulo”, completou.

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“Todo tempo quanto houver pra mim é pouco, pra dançar com o meu benzinho numa sala de reboco”. A canção mais tocada de sexta (14/12) no Recife, “Sala de reboco”, um

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Praça do Arsenal virou uma grande sala de rebocoDe Azulão a Nando Cordel, ninguém ficou parado na festa Por Gabriela Alcântara Foto Costa Neto

De cima da Torre Malakoff dava para ver todo mundo arrastando o pé

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dos maiores sucessos de Gonzagão, traduziu bem o es-pírito da noite na Praça do Arsenal. Para onde se olhava, havia um par arrastando o pé. Jovens, crianças, idosos, ninguém queria ficar parado.

A animação começou com Azulão, que, com sua estatura pequena e voz poderosa, animou o público, dançando e fa-zendo caretas ao som de sucessos seus e do Rei do Baião. Entre as canções mais aplaudidas, estavam “Mané gosto-so” e “Cabecilé”, que arrancaram risadas e aplausos dos presentes e da sua própria banda, diante da irreverência e animação de Azulão no palco.

O cantor foi seguido por vários artistas do projeto Viva Gonzagão. Entre eles, estava o sanfoneiro Beto Ortiz, que levou consigo a filha de 7 anos, apaixonada pela sanfona, assim como o pai. Com chapéu de vaqueiro e vestido flo-rido, a pequena arriscou alguns acordes de “Asa branca”, acompanhada pelo pai orgulhoso. “Ela foi quem me dis-se: ‘Painho, também quero fazer uma homenagem a Luiz Gonzaga!’. É isso que eu quero ver, uma criança tocando e escutando música de verdade! Eu não forço nada, ela que gosta!”, afirmou, sorrindo.

A apresentação do Viva Gonzagão fechou com Santanna, o Cantador, um dos mais aguardados pelo público. O músico fez uma rápida e emocionante participação na homena-gem a Lua, iniciando sua apresentação com uma declama-ção que exaltava o reinado de Gonzaga. Depois de cantar sucessos do Rei do Baião, Santanna fechou sua participa-ção com um pot-pourri que foi de “Asa branca” ao hino de

Pernambuco, sendo acompanhado em coro pelo público do Arsenal.

O penúltimo a se apresentar foi Assisão, que completa 50 anos de carreira e fez um grande show em homenagem a Gonzaga, afirmando que “onde ele estiver, certamen-te está agradecendo por todas essas festas em sua me-mória”. Sem deixar o público parado, o cantor emplacou várias músicas dançantes, como “Xote das meninas”, “Riacho do navio”, “Nem se despediu de mim” e “Forró pesado”, esta última gravada pelo Trio Nordestino, que se apresentou no Exu na noite de sexta (14/12).

Fechando a noite, Nando Cordel divertiu o público, que teve que votar quais canções seriam tocadas na apresen-tação. “A noite é de Gonzaga, pessoal! O resto a gente dei-xa para outros shows!”, brincou o cantor. As músicas mais votadas arrancaram um coro emocionado do público, que cantou feliz os sucessos “De volta pro meu aconchego”, “Você endoideceu meu coração” e “Gostoso demais”. Como havia prometido, o músico homenageou o Rei do Baião, a quem diz dever muito do seu sucesso, cantando algumas das músicas mais conhecidas de Lua, como “Sa-biá”, regravada por Nando em parceria com Gonzaga, no disco que leva seu nome, de 1999.

Neste sábado (15/12), o Arsenal recebe os shows de Ge-nival Lacerda e João Lacerda, Anastácia, Baião Polinário (com Jr. Black, Silvério Pessoa e Isaar, entre outros) e Pe-trúcio Amorim, que fecha a série de shows do centenário na Praça do Arsenal.

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Na comemoração do centenário de Gonzagão, e na cida-de natal do Rei do Baião, Elba não cantou Luiz. Fez muito mais. Através da obra do filho mais notório do Exu, no Ser-tão do Araripe, Elba Ramalho cantou todo o povo nordes-tino. Numa apresentação em que não conteve as lágrimas ao entoar “Asa branca”, a cantora paraibana narrou a epo-peia do homem e da mulher do Sertão, personificados na figura de Gonzaga, que, para ela, foi um “bravo sertanejo que sobreviveu a muitas dificuldades”. “O maior legado que Seu Luiz deixou para a gente é a coragem que todo nordestino tem. Coragem, amor pela vida e prazer de ser quem a gente é”, disse para a plateia.

Logo na abertura, Elba homenageou Gonzagão nos versos de “Sanfona branca”, de Benito di Paula: “Luiz Gonzaga é de ouro / Aquele tom nordestino / A voz sai do coração / É ele o Rei do Baião, é Luiz / É cantador do Sertão”. O show, de uma hora e meia, foi quase totalmente dedicado

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Elba canta a coragem do nordestino através da obra de Gonzaga

Por André Zahar Fotos Marcelo Soares

Em show histórico, a paraibana homenageou seu ídolo e amigo

às canções consagradas pelo amigo e parceiro de estúdio e de palco. Elba evocou uma miríade de sentimentos, pas-sando por saudade (“Qui nem Jiló”), alegria dos festejos juninos (“São João na roça”), carinho (“Sala de reboco”) e a dor da partida (“Asa branca”).

Também houve uma versão nova para “Um bilhete pro Seu Lua”, de Gonzaguinha, citando o centenário do Rei. Após terminar a apresentação, em entrevista à rádio comunitá-ria itinerante No PE do Ouvido, Elba falou do “aperto no peito” que sentiu ao cantar “Asa branca”: “Eu já chorei on-tem e, no palco, quando comecei a cantar, não aguentei, não. Veio aquela emoção, aquela lágrima, aquele aperto no peito”, disse.

“A obra de Luiz Gonzaga fala tudo. De ‘Acauã’ a ‘Assum Preto’, ‘Asa branca’, passando por ‘Estrada do Canindé’, ‘Juazeiro’,… tem todos os elementos que estão no nosso co-

Em misto de animação e emoção, Elba cantou Luiz.

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ração: nossa dor, nossa alegria, a chuva e a seca, as plan-tas, as flores, os pássaros. Tudo está na obra de Luiz Gon-zaga, é um espetáculo”, acrescentou.

Virtuosismo

Mantendo aceso o público após o show de Elba, a terceira noite do Palco Gonzagão foi encerrada pelo sanfoneiro ce-arense Waldonys, que surpreendeu a todos já na chegada do Exu. Por volta de 17h, ele, que é piloto de avião e mem-bro honorário da Esquadrilha da Fumaça, atraiu os olha-res da cidade executando uma série de piruetas no céu com um monomotor, com direito a rasante sobre o Parque Aza Branca, onde ficam as casas nas quais moraram Luiz Gonzaga e seu pai, Januário.

O show também foi eletrizante. Nele, Waldonys mostrou seu virtuosismo executando o hino do Brasil e muitos su-cessos de Gonzagão, como “Asa branca”, “Óia eu aqui de novo” e “Olha pro céu”. Ao tocar esta última, houve quei-ma de fogos. “Luiz Gonzaga é o norte de minha vida, o alicerce da minha casa musical e pessoal. Aprendi muito com ele e continuo aprendendo”, disse, em entrevista an-tes do show, o músico que Gonzaga apelidou carinhosa-mente de “garoto atrevido”.

A noite contou ainda com shows de Joãozinho do Exu— que revisitou músicas menos conhecidas de Luiz Gonza-ga, como “Vaca estrela e boi fubá” e “Mané gambá” — e de Amazan, de Campina Grande (PB), que preparou um pot--pourri de músicas emblemáticas do Nordeste.

Público

Na plateia, a autônoma Marieta Luna Alencar, de 70 anos, representava um pouco da história do Exu e do Nordeste. Pertencente a uma família envolvida na rixa que, durante décadas, culminou em aproximadamente 80 mortes, in-clusive de um irmão e um tio dela, Marieta deixou a terra natal sem levar nada.

Atualmente mora em Campo Grande (MS), porém nunca deixou para trás suas origens. Este ano, veio ao Exu para celebrar o aniversário de um homem que, segundo ela, “sempre procurou o bem da nossa terra”. E que, segundo confirma, foi um dos que se empenhou para serenar os ânimos entre os Alencar e os Sampaio.

“Faz 47 anos que eu fui embora por causa das brigas. Fi-quei 28 anos sem voltar. Agora vim de Campo Grande ao Exu, novamente, para a festa de Luiz Gonzaga. Nosso rei merece”, afirmou.

Marieta Alencar veio de Campo Grande de volta para a terra natal para festejar o centenário

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Na noite desta sexta-feira (14/13), a cantada Bodocó re-cebeu a Mostra Cinema na Estrada. No centro da cidade que permeia o imaginário das canções de Luiz Gonzaga, os seus habitantes lotaram as cadeiras dispostas na Praça da Matriz para verem a exibição de cinco curtas-metra-gens, todos de temática sertaneja.

“Até o sol raiá”, de Fernando Jorge e Leandro Amorim; “Zé Monteiro – o homem que venceu as 5 mortes”, de Wilson Freire; ”Dia estrelado”, de Nara Normande; “Exu de Gon-zaga”, de Guida Gomes; e, por último, a grande atração da noite, o curta “Umbilina”, produção local, dirigida por Marcos Carvalho. Todos cativaram a atenção de um públi-co eclético em idades e que não tirava os olhos da telona.

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Bodocó recebeu Cinema na Estrada

O filme, também gravado em Bodocó, está fazendo sua pré-estreia no Sertão do Araripe. O roteiro, que é base-ado no romance do escritor bodocoense Cícero Belmar, lançado em 2001, é fruto de uma oficina do projeto “Cinema no interior”.

Para o diretor, foi muito gratificante ver o filme sendo passado na cidade em que foi feito, ao lado daqueles que participaram do processo. “Os integrantes estão aqui. Fo-ram eles que decidiram a temática da sua cidade”, disse Marcos. A atriz bodocoense Alba Pierre estava emocio-nada após a exibição. “Estou muito feliz. É sempre um aprendizado”, definiu sua experiência Alba, que é artesã de profissão. Os pais de Belmar também estiveram pre-sente e receberam homenagem.

Neste sábado, a mostra itinerante segue para o distrito de Tabocas, na cidade do Exu, a partir das 19h. O Ci-nema na Estrada já passou por cerca de 80 cidades em 112 exibições ao ar livre em todo o estado. O evento é sempre gratuito.

Por Chico Ludermir Foto Marcelo Soares

Um dos cinco filmes da mostra foi produzido na própria cidade

Público assistiu a “Dia estrelado” (foto) e outros quatro filmes

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Viajando (e tocando) num pau de arara

Por Chico Ludermir Foto Eric Gomes

“Quando eu vim do Sertão […...] só trazia a coragem e a cara, viajando num pau de arara”, dizem os versos cantados por Luiz Gonzaga, em composição de 1951 ao lado de Guio Mo-raes. Mais de meio século depois, dez sanfoneiros subiram no transporte que, durante muito tempo, marcou a ida dos retirantes nordestinos para o Sudeste brasileiro, para tocar essa e outras tantas músicas em homenagem a Gonzagão.

Boiadeiro, Ênio, Joãozinho do Exu, William, Cosmo, Fa-gluze, Leo Barros, Jonnês, Edcarlos e Klebson Iran saíram na manhã do sábado (15/12) da Fazenda Araripe (Exu), de onde Luiz partia até 1930. Como parte das celebrações do centenário na cidade, reviveram o caminho que o Rei do Baião fazia, muitas vezes a pé ou de jumento, até a Feira do Exu. Com a poeira da estrada de barro subindo, os músicos tocaram “Xote ecológico”, “Sabiá”, “Respeita Januário”, “Riacho do Navio”, “Orélia.”…

Como parte da programação do centenário e do projeto Cultura Livre nas Feiras, dez sanfoneiros reviveram o caminho de Gonzaga

No triângulo, o músico Boiadeiro foi em pé, marcando aquele “tengo, lengo, tengo”, como fez durante os oito anos em que tocou com Luiz. Além dele, Ênio, que tocava zabumba, também fez parte dos músicos que acompanha-ram Gonzaga nos shows do Exu.

“Toda vez que ele vinha ao Exu, ele já ligava: ‘os meninos tão por aí pra tocar comigo?’”, lembrou o trianguleiro. “Ele sempre tratou seus músicos muito bem. Era bom demais tocar com Gonzaga”, acrescentou, numa sessão de causos, que aconteceu em roda quando ainda estavam reunidos na fazenda, antes de partir tocando no pau de arara.

De outra geração, o sanfoneiro mais novo do grupo, Edcar-los, também fez o trajeto. “Meu bisavô tocava com Janu-ário”, contou o menino de 12 anos, explicando “de onde vem”. “Eu me interessei por causa de Luiz Gonzaga, que sempre escutei…”, disse o menino, reafirmando a importân-cia de Gonzagão também para os mais novos.

Quando os músicos chegaram à feira, por volta das 11h, feirantes e compradores aplaudiram, cantaram, dançaram…. Ainda mais quando o grupo tocou embaixo do coreto arma-do por trás da Igreja Matriz.

Sanfoneiros durante o percurso até o centro do Exu

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Assim como a música, a poesia fez parte da vida de Luiz Gonzaga, a poesia dos sertanejos que cantavam a terra seca e a aridez da alma de quem espera, um dia, o sertão florescer. Suas letras falavam das aves, dos homens, da dura realidade que viviam, de suas tradições, seus mo-mentos de festa, sua vida cotidiana. Seus versos imorta-

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Poetas pernambucanos homenagearam GonzagaMesa de Glosa improvisou para o Rei do BaiãoPor Joana Pires Foto Ricardo Moura

Poetas encheram o auditório de versos

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lizaram o sertão brasileiro, trouxeram identidade ao Nor-deste e levaram o Brasil a ser conhecido e reconhecido pelo mundo.

Por isso, na comemoração do centenário de Gonzaga não poderia faltar uma celebração também em poesia. Foi o que aconteceu no sábado (15/12), na Mesa de Glosa, re-alizada na Livraria Cultura do Paço Alfândega às 16h. O evento, que tem percorrido todas as regiões do Estado, chegou ao Recife reunindo diversos poetas, poetisas e ad-miradores das letras regionais.

Funciona como uma mesa de desafio, em que diversos convidados se reúnem para o improviso de poesias. Para isso, a cada rodada de improviso, eles recebem um mote— dois versos metrificados que são ditos na hora e que de-vem ser encaixados para compor uma décima, ou seja, uma estrofe de dez versos. “O desafio é encontrar a poesia nessa estrutura”, comentou Wellington de Melo, coorde-nador de Literatura da Secult-PE / Fundarpe.

Esse tipo de encontro é uma tradição do Pajeú que tem sido levada por Pernambuco. “É um momento muito emo-cionante trazer para o Recife essas estrelas capazes de transformar oxigênio em poesia”, afirmou Wellington, em referência aos poetas convidados para compor a mesa: Henrique Brandão, de Serra Talhada; Alexandre Morais, de Afogados da Ingazeira; Zé Adalberto, de Itapetim; Caio Menezes, de São José do Egito; Gleison Nascimento, do Recife; Lima Jr., de Tuparetama; Clécio Rimas e George Alves, de Tabira.

Entre um e outro improviso, poetas que estavam ali

apenas para assistir à apresentação eram convidados ao microfone para declamar algum texto ou poesia. O resultado foi um encontro marcado por trocas espe-ciais, a troca das palavras.

Os motes remetiam a temas diversos, como política, amor, coragem e, entre eles, o imaginário sertanejo, que acabou trazendo à tona diversas homenagens a Luiz Gonzaga. “Criei um mote que era ‘o trovão pre-para a festa para a Asa Branca voltar’, baseado num trovão que ouvi no sertão na semana passada e que encheu o povo de alegria esperando a hora de chover”, comentou o anfitrião do encontro, o poeta Dedé Mon-teiro. O trovão sertanejo era alarme falso, mas, no sá-bado, ele virou poesia.

Outras Conversas

O sábado também foi o dia de retomar alguns aspectos históricos sobre a vida de Luiz Gonzaga. No Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), a pesquisadora Leda Dias, uma das fundadoras do Memorial Luiz Gonzaga, ministrou a palestra “A origem da sanfona no mundo, sua chegada ao Brasil e os diferentes sotaques nas re-giões do País”. No encontro, ela comentou a origem do instrumento, sua base na harmônica e a importância de Gonzaga na reformulação de um jeito próprio de tocar a sanfona. Na mesma tarde, no Museu de Arte Contem-porânea de Pernambuco (MAC), em Olinda, aconteceram as rodas de conversa, debates recuperando aspectos discutidos na exposição de interatividade “Ser Tão Co-nectado”, na Mostra de Arte e Tecnologia do MAC, com a curadoria de Ricardo Ruiz.

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Tango, rap, reggae e outros ritmos se uniram ao baião no matulão gonzagueano do sábado (15/12), quando a Praça do Arsenal recebeu a última noite de shows em homena-gem ao centenário de Gonzaga. A mistura aconteceu gra-ças ao Baião Polinário, grupo formado por vários artistas contemporâneos, entre eles Publius, Isaar, Rogerman, Jr. Black e Zé Brown.

16|12|2012 Mistura de ritmos marcou a última noite de shows no Arsenal

Por Gabriela Alcântara Fotos Costa Neto

Baião Polinário reuniu cantores contemporâneos em releitura de Gonzaga

Baião Polinário foi uma das atrações na última noite de shows no Arsenal. Na página ao lado, Isaar e Anastácia

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A noite começou com um dos ícones da música pernam-bucana, Genival Lacerda. Acompanhado do filho João Lacerda, ele fez o público dançar e se divertir muito com sua excentricidade, tocando não só sucessos de Gonzagão como “Deixa a tanga voar”, mas também canções do seu próprio repertório. Sorridente, o público adorou cantar em coro “Radinho de pilha”, “Mate o véio” e “Severina xique-xique”.

Com uma apresentação emocionante, Anastácia também subiu ao palco do Arsenal, onde foi ovacionada pelo pú-blico. Ela iniciou o show com uma canção composta em homenagem ao Rei do Baião, quando ele ainda era vivo. “Quando me ouviu cantar essa música, ele levantou a ca-beça e perguntou: ‘Tu acha que eu mereço tudo isso?’. E eu disse: ‘Merece muito mais!’. Gonzaga pensava que o povo ia se esquecer dele quando ele morresse, mero engano. Ele está na memória dos nordestinos e de quem valoriza as coisas do Nordeste! E eu vou cantar Gonzaga enquanto tiver minha voz!”, afirmou, apresentando, em seguida, vá-rios sucessos de Lua, como “Assum preto” e “Asa branca”, que emocionaram o público.

Em seguida, o Baião Polinário subiu ao palco, surpreen-dendo o público. E se, de início, muitos não entenderam a mudança do forró para o groove de Jr. Black, logo fo-ram cativados pelas novas versões das canções do Rei do Baião. “Perto do que foi Gonzaga, a gente está só engati-nhando! Espero que vocês gostem!”, disse Isaar, antes de entoar sua versão para “Paraíba masculina”.

Continuando com o caráter experimental que sempre es-teve presente em Gonzagão, o Baião Polinário desmisti-ficou as canções de Lua, trazendo também o rap do Alto José do Pinho, com o cantor Zé Brown, que colocou suas rimas em “Sanfona sentida” e “Estrada de canindé”. Ro-german também arriscou uma versão reggae para “No meu pé de serra”. “Ouvi dizer que Gonzaga, quando ouviu reggae pela primeira vez, perguntou: ‘Quem é que está fa-zendo esse xote metido a besta?’. E era simplesmente ‘Bo-binho’! Nosso amigo Bob Marley”, brincou, conversando

com Publius. A apresentação contou ainda com Silvério Pessoa, Herbert Lucena e Mônica Feijó, que trouxe tango para “Noites brasileiras”.

Fechando a noite, o cantor Petrúcio Amorim subiu ao palco após uma breve chuva, trazendo de volta o públi-co, que chegou a fazer uma quadrilha debaixo d’água. Além das canções de Lua, como “Riacho do navio” e “Forró no escuro”, Petrúcio cantou também sucessos como “Meu cenário”.

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Palco Gonzagão se despediu com festa do público do Exu

Por Dora Amorim Fotos Marcelo Soares

Com mais de 60 anos de sanfona, o Mestre Camarão foi amigo e seguidor de Luiz Gonzaga. Na noite do sábado (15/12), ele abriu o projeto “Sanfona de Januário”, que reuniu oito músicos e sanfoneiros para homenagear Seu Lula, no último dia do Palco Gonzagão. Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco desde 2003, Mestre Camarão é, como Gonzaga, um dos maiores representantes da música regional nordestina.

“É muito bom estar aqui celebrando um cabra que foi muito meu amigo. Costumava vir ao Exu com ele para as

Durante quatro dias, o palco recebeu shows e animou o público do Exu. Na despedida, o projeto “Sanfona de Januário”, “Xote das meninas”, Novinho da Paraíba e Jorge de Altinho foram as atrações.

festas”, lembrou Camarão. O sanfoneiro chamou o filho Salatiel Camarão para cantar “A triste partida”, música do poeta Patativa do Assaré e de Luiz Gonzaga. Mestre Camarão ainda brincou com o público e deu um CD para o espectador que soubesse o seu nome: Reginaldo Alves.

Outro amigo de Gonzaga, Agostinho do Acordeon também fez parte do projeto e lembrou de quando o Rei do Baião o presenteou com uma sanfona, no ano de 1979. “Passei mais de 30 anos com a sanfona que ganhei de Gonzaga em Floresta. Ela ainda existe, mas só o restinho”, disse o pai

Público se despede do Palco Gonzagão. Na página seguinte, Mestre Camarão e Cezzinha, que fez parte do “Sanfona de Januário”

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do também forrozeiro Josildo Sá. Agostinho ainda cantou as músicas “Paraíba” e “Tarde tristonha” para homenage-ar Gonzaga.

O “Sanfona de Januário” reuniu ainda Dudu do Acorde-on, Genaro, Zé Bicudo, Beto Hortis e Cezzinha. O último deles, inclusive, foi um dos mais celebrados pelo público com a sua versão de “Pense ne’u”, uma das músicas mais belas de Seu Lula. Cezzinha chamou ao palco o sanfoneiro Cícero Paulo, de apenas oito anos, que também participou do concerto de Dominguinhos na quinta-feira (13/12). “Lembro de mim jovem, na época que ia conversar com Genaro, Dominguinhos, Camarão. Tenho certeza que esse menino vai ser um grande sanfoneiro”, completou.

Outro projeto da noite, o “Xote das meninas” era formado apenas por mulheres. “Luiz Gonzaga cantou o amor, a na-tureza e as mulheres”, lembrou Cristina Amaral antes de entoar os versos de “Adeus Iracema”, canção gravada por Gonzagão e o filho, Gonzaguinha. Liv Moraes, filha de Do-minguinhos, também integrou o projeto e mostrou as suas versões das músicas “A dança da moda” e “A dança do pé de serra”, gravadas por Gonzaga. Quem ficou responsável por cantar a música tema do projeto, “Xote das meninas”, foi a forrozeira Nádia Maia. “Tudo que Luiz fez e cantou foi perfeitamente bem”, comentou antes da apresentação.

O forrozeiro Novinho da Paraíba foi o terceiro da festa e ressalvou a importância de se celebrar o centenário e tornar conhecida a história de Luiz Gonzaga. No reper-tório, ele colocou o público para dançar com canções conhecidas, como “Vem morena” e “Paraíba”. Jorge de Altinho fechou a festa e as homenagens do Palco Gon-zagão a Seu Lula.

Festa

Durante quatro noites, o Palco Gonzagão festejou Gon-zaga e recebeu concertos belíssimos, como o de Gilber-to Gil e Dominguinhos, na quinta-feira (13/12), quando o sanfoneiro pernambucano completaria 100 anos. A festa

do centenário de Gonzagão fez com que a cidade do Exu recebesse visitantes de vários estados. Não era difícil en-contrar na plateia do Palco Gonzagão pessoas da Bahia, do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão. As ruas da cidade estavam cheias e, a cada esquina, se escutava forró pé de serra e baião. Todo o Nordeste veio celebrar Seu Lula na sua terra. Um viva para Luiz!

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“Pra se cantar Luiz Gonzaga é preciso ter no sangue a co-ragem de um povo farto de sol, à espera de que um dia a chuva venha. É preciso saber das crenças, dos costumes e ter o sotaque de quem traz na alma a aridez aguda de um povo sofrido, que depois de tudo continua sendo ainda muito forte”. Os versos, declamados pelo cantor e compo-sitor Maciel Melo no Palco Aza Branca, no Exu, sintetizam o espírito das apresentações musicais realizadas ali na noite do sábado (15/12). Ao todo, Gonzagão foi cantado por 14 bandas nos mais variados ritmos, mas sempre com a mesma energia e o mesmo sotaque do povo do sertão.

Melo, nascido em Iguaraci, no sertão do Pajeú, fez o úl-timo show, com um repertório para não deixar ninguém com saudade das noites de São João. Acompanhado por Josildo Sá, levantou a plateia com “Quer ir mais eu”, “Noi-

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Maciel Melo levantou o público com clássicos de São João

Por André Zahar Foto Eric Gomes

tes brasileiras”, “Aproveita, gente”, “Nem se despediu de mim”, entre outras. E intercalou os clássicos consagrados por Luiz Gonzaga com músicas próprias como “Caboclo sonhador”. Ao falar do mestre, durante o show, afirmou que “a música popular brasileira se divide em antes e de-pois de Luiz Gonzaga”.

A noite começou com show de Bia Marinho, natural de São José do Egito. Ela privilegiou a diversidade musical de Gonzaga, mesclando o tradicional forró pé de serra com outros ritmos, como chorinho e polca. Ao lado dos filhos Miguel (pandeiro) e Greg (violão), a cantora caprichou no lamento ao incorrer em músicas como “Estrada de Canin-dé” e “Aquarela nordestina”. “Gonzaga passeou por vários ritmos. A influência dele é total para qualquer um que de-seje viver de música”, observou após a apresentação.

Depois dela, Maria Lafaete desfiou seu repertório de pé de serra construído em parceria com artistas da região como Leninho do Bodocó, Flávio Leandro e DiJesus. O show teve a participação de Sérgio Gonzaga, filho de Chiquinha, irmã caçula de Luiz. Ele prestou homenagem à mãe, fale-cida em 2011, e ao tio cantando composições como “Ve-lho novo Exu”, “Penerô Xerém” e o xaxado “Óia eu aqui de novo”. Em entrevista após o show, Maria lembrou que, assim como Gonzagão, nasceu na Fazenda Caiçara, no Exu. “Respiramos o mesmo ar e pisamos no mesmo solo”, orgulha-se.

O fole continuou a roncar com as apresentações de grupos da região do Araripe. A programação incluiu desde a can-tora de Granito (PE) Ana Paula Nogueira, que se destacou no programa de TV “Ídolos”, até o conjunto Os Gonzagui-nhas, no qual voz, zabumba, duas sanfonas e triângulo são executados por meninos de 11 e 12 anos, todos do Exu.

No palco do Parque Aza Branca, os clássicos de Gonza-gão foram revisitados ainda por Fua Carvalho, Zezinho de Exu, Forrozeiros do Gonzagão, Maurício Jorge, Leonardo Luna, Edgar do Cedro, Baião Mais Eu, Sotaque Nordesti-no e Sarah Leandro.

Além dele, outras 14 bandas cantaram Gonzagão

Maciel Melo foi a grande atração do Parque Aza Branca no sábado (15)

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Ainda estava escuro quando começou a missa em home-nagem ao centenário de Luiz Gonzaga, às 4h45 do domin-go (16/12). Os fiéis de Cristo e de Gonzagão madrugaram para ver celebrado o maior ícone pernambucano no Par-que Aza Branca, embaixo do Juazeiro, enquanto os passa-rinhos cantavam as primeiras horas do dia.

O evento religioso foi celebrado pelo bispo da diocese de Salgueiro, Dom Magnus Henrique, junto com o adminis-trador paroquial do Exu, o padre Domingo Pedra da Silva. O culto foi todo permeado pelo cancioneiro gonzagueano tocado por amigos e discípulos do Rei do Baião. Josildo Sá cantou o “Baião da Penha”; Waldonys, a “Ave Maria Ser-taneja”; Joquinha Gonzaga, “Légua tirana”; e Santanna, o “Pai Nosso” de Luiz Gonzaga; enquanto comungavam os cristãos. Danilo Pernambucano apresentou a sua canção feita especialmente para o momento.

“Há cem anos, o choro de uma criança preconizava, de forma afinada, que alguém estava chegando para cantar o Nordeste em suas alegrias e tristezas. As suas músicas ti-nham capacidade de alimentar a esperança do seu povo”, disse o bispo, prosseguido pela cantoria de Asa Branca,

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Missa homenageou os 100 anos de Gonzaga

Por Chico Ludermir Foto Eric Gomes

Ao som das músicas do Rei do Baião, fiéis se emocionaram

em um dos momentos mais fortes da celebração que emo-cionou os espectadores.

A questão da atual seca foi lembrada pelo clérigo. Segun-do Dom Magnus, o povo continua cantando seus lamen-tos e esperando ouvir o ronco do trovão, que anuncia a chuva. “Luiz, a Asa Branca ainda não voltou. No ano do seu centenário, a seca assola o Sertão”, afirmou, fazendo referência à música “Volta da Asa Branca” que também foi cantada, junto ao coro de fiéis. “Luiz Gonzaga, vem cantar de novo para nos alegrar”, rogou o bispo.

No altar, ao invés do Jesus crucificado, estava a imagem de Luiz Gonzaga sorrindo.

Homenagem

Durante a missa, que foi transmitida ao vivo pela Rede Glo-bo, o antigo administrador do Parque Aza Branca Francis-co Hélinton Saraiva, conhecido como Béba, recebeu uma homenagem. Sua mulher, Clemilce, e seu filho, Francisco Hélinton Júnior, ganharam uma placa do presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernam-cubo (Fundarpe), Severino Pessoa. Béba morreu este ano.

Desde as 5h, fiéis acompanharam missa em homenagem a Luiz Gonzaga

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Um dos momentos mais emocionantes da comemora-ção do centenário de Luiz Gonzaga foi reservado para a tarde do domingo (16/12), o último dia de festejos. Sob a copa do juazeiro onde a missa anual em homenagem a Gonzagão foi realizada horas antes, o céu desabou por quase meia hora. A chuva torrencial caiu durante um dos últimos tributos ao Rei do Baião, no Parque Aza Branca, no Exu. E o povo do Sertão, que enfrenta uma das piores secas dos últimos 40 anos, não arredou pé. Continuou a dançar forró como se, além do aniversário do sertanejo mais notório, comemorasse as súplicas atendidas, a tré-gua líquida na judiação e uma esperança renovada para milhares de alazões.

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Emoção e chuva no encerramento do centenário de Lua

Por André Zahar Fotos Marcelo Soares

No último dia de festa, Targino Gondim tocou enquanto Giderson Silva, na plateia, se divertia a caráter. Ao lado, público se protegendo da chuva

Água caiu durante os shows da tarde deste domingo (16/12) no Aza Branca

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A sequência de shows começou com João do Pife (Carua-ru/PE), que acumula mais de 50 anos de carreira no Brasil e fora do País, e terminou com Targino Gondim, sanfoneiro que já recebeu premiações importantes como o Grammy (em 2001, com o álbum “Esperando na Janela”, de Gilber-to Gil) e o 21º Prêmio da Música Brasileira (em 2010, pelo CD “Canções de Luiz”).

A chuva começou por volta de 15h30, pouco depois de o cantor Ivan Ferraz dar início aos shows no Palco Jua-zeiro, no Aza Branca. Diante do mausoléu onde estão os restos mortais de Luiz Gonzaga, de seu pai Januário e da mãe, Santana, a apresentação começou com o pedido de um minuto de silêncio em homenagem a Gonzagão e seus familiares já falecidos. As primeiras gotas começaram quando, após “A vida do viajante” e “O xote das meninas”, Ferraz entoava “Riacho do Navio”. “Está chovendo. Deus está ouvindo as preces e Gonzaga está ajudando”, disse o cantor de Floresta (PE).

Um dos mais empolgados em dançar na chuva era Gider-son Tenório Silva, de 67 anos. Trajando uma vestimen-ta estilizada misturando elementos de Lampião e Luiz Gonzaga, com direito a chapéu de cangaceiro espelhado, bacamarte e calça com gravuras de cordel, ele se intitu-la “Capitão Tenório, defensor da cultura popular”. “Vivi uma seca em Caruaru quando tinha 10 anos. As coisas melhoraram muito no Nordeste através de Luiz Gonzaga. A chuva foi uma glória, sinal de que ele, até lá do céu, continua olhando por nós. Deve ter falado: ‘Vamos man-

dar uma aguinha para esse povo que vai dançar forró no pé de Juazeiro’”, brincou.

O repertório de João do Pife foi dividido: metade dedi-cado a músicas de Gonzaga, como “Asa branca” e “Xote das meninas”; e o restante, às de sua banda, Dois Irmãos, como “Valsa de meu pai” e “Viajando pelo Brasil”. “É uma alegria muito grande estar aqui na data de aniversário de Gonzaga. A gente se sente reconhecido”, disse João do Pife após o show.

Targino abriu o show com sua composição mais famosa, “Esperando na Janela”, destacando que foi inspirada em “Daquele Jeito”, de Luiz Gonzaga. O sanfoneiro não se li-mitou a tocar músicas de Lua, mas também contou episó-dios da história dele de forma dramatizada.

E, como não poderia faltar numa festa de Gonzaga, o fole roncou a tarde toda. Bell Lima, Jaiminho de Exu, DiJesus e Claudiana di França tocaram forró pé de serra. Toinho do Baião, sósia de Luiz Gonzaga, celebrou o ritmo que consa-grou o rei, e fez o povo lembrar do ídolo com sua aparência física e timbre semelhantes.

O grupo de dança Xamego Bom apresentou um número de dança baseado em pássaros cantados por Gonzaga (assum preto, asa branca e sabiá). Já a dupla de aboia-dores Chico Justino e Cícero Mendes também protago-nizou um momento emocionante, fazendo o povo can-tar “Asa branca” em coro.

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O coco tomou conta do Museu Regional de Olinda (Mu-reo) na quarta-feira (19), quando o espaço recebeu o grupo Coco de Umbigada, da comunidade do Guadalupe e seu entorno. Valorizando a tradição de seus antepas-sados, idosos, jovens e crianças dançavam e entoavam os cantos do coco. A festa foi uma das últimas celebra-ções ao centenário do Velho Lua, que certamente teria “vadeado” um pouco nesse coco.

Durante a cantoria, o Mestre Pombo Roxo fez questão de incluir, na sua apresentação, músicas que compôs para Gonzaga. “O trem na estação chegou, traz de volta Gonzagão”, afirmava, seguido em coro pelos presentes. “O coco é primo do xote, forró, baião. Gonzaga foi pro-tagonizado como Rei do Baião, mas ele tinha também cocos, xotes, e por aí vai”, afirmou a Mãe Beth de Oxum, para então emendar em versões de “Forró no escuro” e

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Coco de Umbigada celebra Velho Lua com festa em Olinda

Por Gabriela Alcântara Foto Costa Neto

“Derramaro o gái”, canção gonzagueana sobre o coco.A noite contou ainda com apresentações de Mestre Zeca do Rolete e Mãe Lúcia de Oyá, entre outros que não deixaram a roda de coco ficar parada. Avó de algumas crianças que já ensaiavam os passos do coco, Mãe Lúcia de Oyá falou sobre a importância de preservar a tradi-ção: “Todos os folguedos populares saíram dos terrei-ros, das senzalas. Hoje, elas ‘acabaram’. Continuam de outras formas, nos guetos, nas favelas, nos becos. E foi de lá que saíram todas as riquezas dos folguedos popu-lares, como o coco, a ciranda, os maracatus, blocos, tro-ças. E quando a gente tem um ícone como Luiz Gonzaga, que foi capaz de transformar em música a tristeza, a mi-séria do nordestino, e levar isso pro mundo, a gente tem mais é que reverenciar. Cultura não tem idade, pode ser aos três anos, como minha neta, aos 70, o que importa é que te faça bem”.

Roda de coco lembrou aproximação entre Luiz e ritmos tradicionais

Mestre Pombo Roxo, Beth de Oxum e Zeca do Rolete conduziram a festa

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Um grande baile, com sons diferentes que se unem com o objetivo de fazer boa música e não deixar ninguém para-do. De acordo com Salatiel Camarão, filho do Mestre Ca-marão, essa é a origem da palavra baião, ritmo que ficou conhecido especialmente por conta de Luiz Gonzaga. Esse e outros depoimentos foram dados na aula-espetáculo “O Novo Gonzagueano”, apresentada nesta quarta-feira (19) no Teatro Arraial.

Entre incríveis apresentações de Mestre Camarão e sua sanfona, que parecia tornar-se um brinquedo em suas mãos, Salatiel passava para o público alguns conheci-mentos sobre a música de Gonzaga e também um pouco da personalidade dos músicos que conviveram com seu pai. Com muita poesia, a aula montada por Camarão traz conhecimentos vitais para todo bom gonzagueano.

“Ainda não existia uma formação certa do baião, até que Gonzaga chegou ao Rio de Janeiro, levado por um amigo para tocar na noite. Quando ele estava tocando certa vez,

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Com cantorias, aula em homenagem a Gonzaga anima o Arraial

Por Gabriela Alcântara Foto Costa Neto

três universitários do Ceará o convenceram a tocar uma coisinha do ‘Norte’. E eles começaram a perturbá-lo, dis-seram que, da próxima vez que fossem ao bar, só dariam a gorjeta se ele tocasse umas coisinhas do ‘Norte’”, ex-plicou Salatiel, lembrando o momento em que Gonzaga tocou o ritmo nordestino em festas do Sudeste.

Quando colocou o pires para receber as gorjetas e viu que ele encheu muito rápido, Luiz Gonzaga pediu outro, que foi logo substituído por um prato, em seguida trocado por uma bacia de alumínio, que também se encheu. Nascia aí o reinado de Gonzaga, que percebeu logo o poder que ti-nha a sua música e o seu carisma.

Os músicos lembraram ainda os vários traços que eram carregados no matulão de Gonzaga, como o aboio, canto entoado principalmente por vaqueiros do sertão pernam-bucano. “Foram essas influências, presentes na infância de Gonzaga – como as rezadeiras, os cantadores, violei-ros, que ele trouxe para o baião”, afirmou Salatiel.

Com mais de 50 anos de carreira, Mestre Camarão tocou em aula-espetáculo

Mestre Camarão dividiu seus conhecimentos com o público

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PRO GRAMAÇÃO

e xu e rec ife

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PRO GRAM AÇÃO

exuPALCO GONZAGÃO

Módulo esportivo

• Orquestra Sinfônica de Teresina, com João Cláudio – Danilo Pernambucano – Zé Nilton – Chambinho do Acor-deon – Santanna

• Daniel Gonzaga – Dominguinhos – Gilberto Gil – Joqui-nha Gonzaga

• Joãozinho de Exu – Amazan – Elba Ramalho – Waldonys

• Sanfona de Januário: Genaro, Beto Hortis, Agostinho do Acordeon, Camarão, Zé Bicudo, Mahatma, Cezzinha e Dudu do Acordeon – Xote das Meninas: Cristina Amaral, Edilza Aires, Irah Caldeira, Liv Moraes, Nádia Maia, Patrí-cia Cruz, Terezinha do Acordeon e Walkiria Mendes – No-vinho da Paraíba – Jorge de Altinho

Quarta-feira 12 | 12

Quinta-feira

13 | 12

Sexta-feira 14 | 12

Sábado 15 | 12

• Taís Nogueira e João Silva (com participação especial de Domin-guinhos) – Josildo Sá – Alcymar Monteiro – Adelmário Coelho

• Luizinho Calixto, Zé Calixto e Truvinca – Trio Nordestino – Quinteto Violado – Flávio Leandro

• Bia Marinho/Em Canto e Poesia – Maria Lafaete (com participa-ção de Sérgio Gonzaga) – Projeto Meu Araripe – Os Gonzaguinhas, Fua Carvalho, Zezinho de Exu, Forrozeiros do Gonzagão, Ana Paula Nogueira, Maurício Jorge, Leonardo Luna, Edgar do Cedro, Baião

PALCO AZA BRANCA Parque Aza Branca

Quinta-feira 13|12

Sexta-feira 14|12

Sábado 15|12

PALCO GONZAGÃOMódulo esportivo

Quarta-feira 12 | 12

Quinta-feira 13 | 12

Sexta-feira 14 | 12

Sábado 15 | 12

PALCO AZA BRANCA Parque Aza Branca

Quinta-feira 13|12

Sexta-feira 14|12

Sábado 15|12

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PALCO JUAZEIRO Parque Aza Branca

PALCO ARARIPE Fazenda Araripe

AUDIOVISUAL

• Missa em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga Celebrada pelo Dom Magnus Henrique Lopes (Bispo da Diocese de Salgueiro) e Padre Domingos Pedro da Silva (Administrador paroquial do Exu)

• João do Pife e Banda Dois Irmãos – Ivan Ferraz – Bel Lima – Jaiminho de Exu – Claudiana di França – Toinho do Baião – DiJesus

• Seguidores do Rei – Os Cabas de Gonzaga – Chá Cutuba – Vital Barbosa – Epitácio Pessoa – Donizete Batista – Leninho de Bodocó – Tácyo Carvalho – Coral de Aboios de Serrita – Flávio Baião – Antônio da Mutu-ca – Os Três do Cariri

II Cine ExuMostra Sertões do Estado de Pernambuco

Exibição gratuita do filme “Gonzaga, de pai para filho”Com a presença do diretor Breno Silveira

Domingo16 | 12

Quinta-feira 13 | 12

Quarta-feira12 | 12

Parque Aza Branca

Quinta-feira13 | 12

Parque Aza Branca

PALCO JUAZEIRO Parque Aza Branca

PALCO ARARIPE Fazenda Araripe

AUDIOVISUAL

Domingo16 | 12

Quinta-feira 13 | 12

Quarta-feira12 | 12

Parque Aza Branca

Quinta-feira13 | 12

Parque Aza Branca

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AUDIOVISUAL(Cont.)

CULTURA POPULAR

DANÇA

CULTURA LIVRE NAS FEIRAS

•Mostra Itinerante Cinema na EstradaPROGRAMAÇÃO - Boi Ventania (ficção, 14 minutos, PE, 2010), de Marcos Carvalho, Ednéia Campos e Herbert Santos- Até o Sol Raiá (animação, 12 minutos, 2008), de Fernando Jorge e Leandro Amorim- Zé Monteiro – O Homem que venceu as 5 mortes (documentário, 20 minutos, 2012, PE), de Wilson Freire- Dia Estrelado (animação, 17 minutos, 2011), de Nara Normande- Exu de Gonzaga (documentário, 20 minutos, 2012, PE), de Guida Gomes

• Apresentação do grupo “Caboclinho 7 Flexas”

– Apresentação “Xaxado, Meu Bem Xaxado – O Centenário de Luiz Gonzaga” – Grupo de Xaxado Cabras de Lampião (Serra Talhada-PE)

Apresentações na Feira Livre de TimoranteIvonete Ferreira, Forrozeiro Léo Barros, Hellen e Mistura Nordestina

Dias 14 a 15 | 12Praça de Eventos de Bodocó

15 | 12Distrito de Tabocas (Exu)

Quarta-feira12 | 12

Parque Aza Branca

Quarta-feira12 | 12

Palco Juazeiro (Parque Aza Branca)

Terça-feira11 | 12

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CULTURA LIVRE NAS FEIRAS

(Cont.)

FEIRAS DE CULTURA

• Apresentações na Feira Livre de Granito Poetisa Socorro Oliveira, Grupo Pisando no Terreiro (dança), Encontro de Aboiadores (Pedro Brígido e Antônio), Forró Raízes do Brígida

Apresentações na Feira Livre de Exu • Roda de Contos e Prosa com Amigos do Araripe• Saída em Caravana no Pau de Arara com os sanfoneiros do Exu (William Sanfoneiro, Jonnes, Serginho Gomes, Boiadeiro Franco, Ed Carlos do Exu, Clebson, Mauro Sanfoneiro, DiJesus, Epitácio Pessoa, Vital Barbosa, Elmo Oliveira e Januário)• Causos contados por amigos exuenses de Luiz Gonzaga• Cortejo com a Banda Cabaçal Exuense, Grupo de Flautista Sabiás e a chegada no Pau de Arara com os sanfoneiros do Exu• Forró de encerramento com Joãozinho do Exu e convidados

• Culminância do projeto Feiras de Cultura das Escolas Públicas, com participação de alunos de Araripina, Exu, Granito, Ouricuri e Trindade. Exposição de pesquisas so-bre os patrimônios culturais de cada município e produ-ções dos estudantes das redes públicas de ensino.

Quarta-feira12/12

Sábado15/12

Sábado e domingo 15 e 16 | 12

Praça da Catedral de Exu

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FORM AÇÃO

exu

Xilogravura FacilitadorJosé Lourenço

CineclubismoFacilitadorasNatália Lopes e Marlova Cinema de animação e lançamento da animação “A volta da Asa Branca”FacilitadorLula Gonzaga

Oito Baixos (Iniciação)FacilitadorLuizinho Calixto A ressignificação da indumentária de Luiz GonzagaFacilitadorasRebecca Menezes e Roberta Duarte Patrimônio e PreservaçãoFacilitadoresDiomedes Neto e Mário Gouveia

Nas Teias do PatrimônioFacilitadoresDiomedes Neto e Mário Gouveia

11 a 14 | 12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

11 a 13 | 12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

10 a 14 | 12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

05 a 14 | 12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

10 a 14 | 12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

12 | 12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

10 a 11 | 12Escola de

Referência de Exu

OFICINAS

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XaxadoFacilitadoresIntegrantes do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião COLÓQUIO100 ANOS DO REI DO BAIÃO

Oficina Cineclubismo Foto | Marcelo Soares

Oficina de 8 Baixos, iniciação com Luizinho Calixto Foto | Eric Gomes

Oficina de cinema de animação e Lançamento da animação “A Volta da Asa Branca”Facilitador | Lula GonzagaFoto | Eric Gomes

12/12 Colégio Municipal

Bárbara de Alencar

12 e 13 | 12 em Exu-PE e no Crato-CE Mais informações no site

www.gonzaga100.com

WORKSHOP

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PRO GRAM AÇÃO

RECIFEPALCO ARSENAL

Praça do Arsenal • Recife Antigo

• Baile do GonzagaDerico Alves, Karolinas com K, Ed Carlos, Sevy Nascimento, Carlinhos Montever-de, Fabiana, Cilene Araújo, Marcelo de Feira Nova e Duda da Passira – Fagner – Alceu Valença – Targino Gondim

Espetáculo “Luiz Lua Gonzaga” – Grupo Magiluth (Recife-PE)

– Genival Lacerda e João Lacerda– Petrúcio Amorim - Baião Polinário Isaar, Publius, Jr. Black, Zé Brown, Rogerman, Juliano Holanda, Pierre Leite, Guga Azevedo, Sanzyo, Carlos Amarelo, Júlio Cesar, Pablo Ferraz. Convidados: Silvério Pessoa, Hebert Lucena e Mônica Feijó.- Anastácia

– Azulão – Viva Gonzagão Almir Rouche, André Macambira, Andrezza Formiga, Bia Marinho, Em Canto e Poesia, Roberto Cruz, Rogério Rangel e Santanna – Assisão – Nando Cordel

Quinta-feira 13 | 12

Terça-feira 11 | 12

Sábado 15 | 12

Sexta-feira 14 | 12

TEATRO DE RUAPraça do Arsenal

PALCO ARSENALPraça do Arsenal • Recife Antigo

Quinta-feira 13 | 12

Terça-feira 11 | 12

Sábado 15 | 12

Sexta-feira 14 | 12

TEATRO DE RUAPraça do Arsenal

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LITERATURA

AÇÕES ESPECIAIS

Mesa de Glosa sobre o imaginário de Luiz GonzagaCom Alexandre Morais (Afogados da Ingazeira), Zé Adalberto (Itapetim),George Alves (Tabira), Caio Menezes (São José do Egito), Lima Júnior (Tuparetama), Henrique Brandão (Serra Talhada), Gleison Nascimento (Recife).Apresentação: Dedé Monteiro

Alvorada GonzagueanaApresentações de sanfoneiros, quadrilhas juninas, aboiadores, banda de pífanos, bacamarteiros, vaqueiros e xaxados

Sanfona do Povo Caminhada de Sanfoneiros - Com Marcelo de Feira Nova, Jó Silva, Arlindo Moita, Geno Melo, Nerilson Buscapé, Vinicius, Néo, Zé Bicudo, João Carlos, Deda, Lenílson Filho, Patrí-cio, Alisson, Thiago, Ceça, Mariano, Luizinho dos 8 Baixos, Severino dos 8 Baixos, Valkíria e outros.Percurso: Praça da República (Palácio do Campo das Princesas) ao Marco Zero (porto)

Sábado15 | 12

Livraria CulturaPaço Alfândega

Quinta-feira13 | 12

Praça do Arsenal

Quinta-feira13 | 12

Concentração naPraça da República

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PAUTAS NOS EQUIPAMENTOS

CULTURAIS

Abertura da exposição “Gonzaga empreendedor” (Sebrae), com a apresentação musical de Benedito da Macuca. A exposição segue aberta ao público até 11/1/2013.

Abertura da exposição “Os santos de Gonzaga”, com apresentação musical de Muniz do Arrasta-pé. A exposição segue aberta ao público até 11/1/2013.

Exposição “Capas de discos de Gonzaga”.

Lançamento do livro “Luiz Gonzaga – centenário do Rei do Baião”, de Edvaldo Arlego. Com apresentação musical de Augustinho do Acordeon.

Coco de Umbigada e Grandes Coquistas cantam Luiz Gonzaga, com Mestre Pombo Roxo, Dona Glorinha, Zeca do Rolete e Mãe Lúcia de Oyá.

• Exposição “Seu Lua no Mureo: 100 anos de Gonzaga, o rei do Nordeste”, de Cláudia Cassemiro. A exposição segue até 30/12/2012.

…• Apresentação da Orquestra do Centro Educacional Musical de Olinda – Cemo e Arrastão do Mureo ao Maspe, com o Boneco Gigante de Luiz Gonzaga, de Sílvio Botelho, e a Orquestra Henrique Dias.

Torre Malakoff Quarta-feira

12 | 12

Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe)

Terça-feira12 | 12

Acervo do Museu da Imagem e do Som

de Pernambuco (Mispe) na Sede da Fundarpe

de 10 a 21 | 12

Terça-feira18 | 12

Quarta e quinta-feira19 e 20 | 12

Museu Regional de Olinda (Mureo)

Sexta-feira14 | 12

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Abertura da Exposição “Ser tão conectado”, dos artistas Ricardo Brazileiro, Ronaldo Eli e do Coletivo 192.198. A exposição segue até 5/1/2013.

Sarau Gonzagueano, com Susana Morais, Clécio Rimas, Rita Marise.

Abertura da exposição “Xote, maracatu e baião”. Cerâmicas de Jacira Lucena. A exposição segue até 11/1/2013.

Abertura da exposição “Luiz Gonzaga, Rei do Baião”. Acervo de Paulo Vanderley. Apresentações musicais de Leda Dias e Arimatéa. A exposição segue aberta ao público até 31/12.

– Palestra “Luiz Gonzaga e a sua contribuição para a consolidação da identidade brasileira”, com Anselmo Alves.– Exibição do vídeo “Luiz Gonzaga, a luz dos sertões”, de Anselmo Alves e Rose Maria. – Apresentação musical de Seu Neo do Acordeon.

Roda de conversa “Qual a influência do nomadismo na criação artística?”, com Ronaldo Eli, Ricardo Brazileiro e Jeraman. Moderação de Ricardo Ruiz.

Apresentação musical de Eli Vieira.Apresentação musical de Paulinho do Acordeon.

Museu de Arte Contemporânea de

Pernambuco (MAC/PE)Quinta-feira

13 | 12

Espaço PasárgadaQuinta-feira

13 | 12

Centro de ArtesanatoTerça-feira

11 | 12

Museu do Estado de Pernambuco (Mepe)

Terça-feira11 | 12

Sexta-feira14 | 12

Sábado15 | 12

Acervo do Museu da Imagem e do Som

de Pernambuco (Mispe) na Sede da Fundarpe (cont.)

Terça-feira12 | 12

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– Palestra “A origem da sanfona no mundo, sua chegada ao Brasil e os diferen-tes sotaques nas regiões do País”, com Leda Dias.– Exibição do vídeo “Raízes do fole”, de Amaro e Rafael Coelho. – Apresentação musical de Seu Adriano.

– Apresentação musical de Seu Nikanor e seu trio pé de serra.

– Arraial Instrumental: Cláudio Rabeca homenageia Luiz Gonzaga.– Esquetes: “Lua do amor”, de Williams Santana; e “Contos de uma asa branca”, de Heron Villar.

– Exposição “Gonzagueando com a arte popular”. Acervo da Fundação de Cultura de Caruaru.

– Encontro de Sanfoneiros de Oito Baixos, com Zequinha de Aleixo e Paulo dos 8 Baixos.– Apresentações de quadrilhas juninas.

– Encontro de Sanfoneiros de Oito Baixos, com Severino dos 8 Baixos e Zé Car-los dos 8 Baixos.– Apresentações de quadrilhas juninas.

– Lançamento do CD de Seu Nikanor.– Encontro de Sanfoneiros de Oito Baixos, com Aécio dos 8 Baixos e Tião dos 8 Baixos. – Apresentações de quadrilhas juninas.

– Orquestra Sanfônica de 8 Baixos de Santa Cruz do Capibaribe.– Apresentações de quadrilhas juninas.

Museu do Estado de Pernambuco (Mepe)

(cont.)Sábado15 | 12

Casa da Cultura Luiz Gonzaga

de 01 a 05 | 12

Teatro ArraialSexta-feira

14 | 12

de 11 a 29 | 12

Terça-feira11 | 12

Quarta-feira12 | 12

Quinta-feira13 | 12

Sexta-feira14 | 12

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– Espetáculo “Lua baião”, de Criart Cia de Dança.

– Exibição do filme “Gonzaga – de pai para filho”, de Breno Silveira – Conspiração Filmes.

– Exposição “Gonzagueando com a arte popular”. Acervo da Fundação de Cultura de Caruaru.

– Lançamento da exposição “Gonzagueando com a arte popular”. Acervo da Fundação de Cultura de Caruaru. A exposição segue aberta ao públi-co até 12/1/2013.

– Aula-espetáculo “O novo gonzagueano”, com Mestre Camarão.

Teatro Arraial(cont.)Sábado15 | 12

Cinema São Luizde 23 | 11 a 20 | 12

Casa de Câmara e Cadeia de Brejo

da Madre de Deusde 03 a 13 | 12

Museu do Barro de Caruaru (Mubac)

Quinta-feira 13 | 12

Quarta-feira19 | 12

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FORM AÇÃO

RECIFE

“Luiz Gonzaga – a enciclopédia sonora do Nordeste”FacilitadoresDominique Dreyfus, Santanna, Genar, Paulo Vanderley. MediaçãoJosé Mauro Alencar.

“Luiz Gonzaga – 100 anos do Rei do Baião”FacilitadoresXico Bezerra, Anselmo Alves e Marcelo MeloMediaçãoJosé Mauro Alencar.

“Formação cultural do povo sertanejo”FacilitadoresDominique Dreyfus e Onildo AlmeidaMediaçãoJosé Mauro Alencar.

“Formação cultural do povo sertanejo”FacilitadoresDominique Dreyfus e Onildo AlmeidaMediaçãoJosé Mauro Alencar.

10 | 12 Anfiteatro da

Torre Malakoff

11 | 12 Anfiteatro da

Torre Malakoff

11 | 12 Anfiteatro da

Torre Malakoff

11 | 12 Anfiteatro da

Torre Malakoff

SEMINÁRIOSSEMINÁRIOS

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“Cinema ágil digital – imaginando Luiz Gonzaga”FacilitadorJaime Fonseca Neto

“Design de capas de CDs de forró” Facilitadora Paula Valadares

10 a 14 | 12 Cinema São Luiz

13 | 12 Espaço Pasárgada

OFICINA

RODA DE DIÁLOGO

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EXPEDIENTEFICHA TÉCNICAGONZAGA 100 - NOTÍCIAS

Edição geralChico Ludermir

Edição de textosOlívia Mindelo e Chico Ludermir

TextosChico Ludermir André ZaharDora AmorimGabriela AlcântaraJoana Pires

Fotos Ricardo Moura Costa NetoEric GomesMarcelo SoaresChico Ludermir

Direção de ArteAdeildo Leite

Projeto gráfico, diagramação e Ilustrações Adeildo Leite

RevisãoMariana Maris

ColaboraçãoGabriela Valadares, Fernanda Cristina, Michelle de Assumpção. Gilberto Tenório,Tiago Montenegro, Mariana Melo,Giselly Andrade, Julya Vasconcelos.

Governador Eduardo Campos

Vice-governador João Lyra Neto

Secretário da Casa Civil Tadeu Alencar

SECRETARIA DE CULTURA

Secretário Fernando Duarte

Secretário Executivo Beto Silva

Diretores Executivos Vinícius Carvalho e Beto Rezende

Diretor de FormaçãoFélix Aureliano

Diretor de Gestão José Mário Duarte Coelho

Diretora de Planejamento Amara Cunha

Diretor de Políticas Culturais Carlos Carvalho

Coordenadora de Artes Cênicas Teresa Amaral

Assessora de Dança Marília Rameh

Coordenador de Artes Visuais Félix Farfan

Assessora de Design e Moda Cecília Pessoa

Assessor de Fotografia Jarbas Araújo

Coordenadora de Audiovisual Carla Francine

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FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO | FUNDARPE

Presidente Severino Pessoa

Diretora de Gestão Sandra Simone dos Santos Bruno

Diretor de Gestão do Funcultura Emanuel Soares de Lima

Diretor de Gestão de Equipamentos Culturais André Araripe

Diretora de Preservação Cultural Célia Campos

Diretor de Produção Fernando Augusto

Coordenadora de Cultura Popular Alexandra Lima

Assessor de Artesanato Breno Nascimento

Coordenador de Literatura Wellington de Melo

Coordenadora de Música Andreza Portella

Coordenador de Articulação Institucional Claudemir Souza

Coordenador de Economia Criativa Luciano Gonçalo

Coordenador do Projeto Cultura Livre nas Feiras Alexandre Sena

Coordenadora para Populações Rurais e Povos Tradicionais Erika Nascimento

Coordenador do Festival Pernambuco Nação Cultural Leo Antunes

Assessores do Festival Pernambuco Nação Cultural Adriana Teles e Guilherme Gatis

Gestoras de Comunicação Michelle Assumpção e Olívia Mindêlo

Assessores de Comunicação/Imprensa Tiago Montenegro, Gilberto Tenório, Giselly Andrade e Fernanda Cristina

Assessores de Comunicação/Internet Chico Ludermir, Dora Amorim, Gabriela Valadares e Leonardo Vila Nova.

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