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2 Mapeamento Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Tapajós:Aldeia/Comunidade de Pinhel (Povo Maytapu)

Nova Cartografia Social da Amazônia

Participantes das ofcinas de mapas realizadas na

Aldeia/Comunidade de Pinhel em 19/06/2015 e 03 e

04/10/2015: Adriele Caetano Vaz, Alessandro Silva, AlexandreMartins da Silva, Alison Martins da Silva, Antônio Silva do Carmo,Apoená Henrique Vaz Lopes, Arlinda Pedroso Lopes, Belinho

Deodato da Silva, Belinho Deodato dos Santos, Benison PereiraLopes, Celestina Deodata da Silva, Daniel Lopes Caetano, Darcyde Oliveira Silva, Djavan Lopes Caetano, Edmira Lameira Paz,Elane Caetano Vaz, Elídio Cardoso Teodoro da Silva Cardoso, ÉricaJanaína Santiago, Estevão da Silva, Eucivalda de Oliveira Silva,Everton Adriano da Silva Lopes, Fábio Júnior da Silva, FabrineDeodata, Fernanda Amâncio dos Santos Santiago, FranciscaDeodata Rodrigues Neta, Fredson Dias Ferreira, Gil Denis Caetanodos Santos, Ítalo Caetano da Cruz, Ivanice Lopes Caetano, Ivete deOliveira Vaz, Ivo Caetano da Cruz, Jackeline Oliveira Vaz, JanaínaMendes Pereira, Jéssica Lúrian Paz Xavier, João Paulo Pinheiro,Jobert Mendes Pereira, Jocielson Nogueira Martins, Jonecy DeodatoPereira, Jorge Miguel Paz Xavier, José Antônio Santos Santiago,José Ferreira Santiago Neto, Josenilda Caetano Cardoso, JosimarPedroso Lopes, Joziene Caetano de Oliveira, Kenney de Cardosoda Silva, Leandersson Caetano Vaz, Leonice Caetano Lopes, LetíciaRafaela Caetano Lopes, Luciane Caetano, Luciele Poliane CaetanoLopes, Lucilane Laize, Lucivane Caetano Lopes, Margareth Pedrosodos Santos, Maria Eduarda Santos de Souza, Mayanne Kádyjá LopesOliveira, Orlando Parintins Lopes, Pablo Crislano da Silva, PâmelaSamara P. Cardoso, Pedro Henrique Cardoso, Raimundo Carlos VazXavier, Rosiane dos Reis, Sávio Tárcio Pimentel Cardoso, SebastiãoDiego C. Santos, Silvia Mara Parintins Pimentel, Teodoro da SilvaCardoso, Tiago Deodato da Silva, Valdenise Márcia Amancio dosSantos, Vaniria Corrêa de Oliveira, Wendel Cardoso da Silva, Zielda

Mendes Parintins, Zirlanny Mendes Parintins.

Coordenação geral do PNCSA:

Alfredo Wagner Berno de Almeida (UEA)

Núcleo Baixo Amazonas: equipe de pesquisa

Solange Maria Gayoso da Costa (PPGSS/ICSA/UFPA)

Marcos Vinícius Costa Lima (PPGEO/UFF/PNCSA)Gleyce Kelly Ramos Miranda (FASS/ICSA/UFPA)Mylena dos Santos Santana (FASS/ICSA/UFPA)Ricardo Almeida Paiva (FGEO/IFCH/UFPA)Sebastião Diego Cardoso dos Santos (FGEO/UFOPA)

Edição

Solange Maria Gayoso da Costa (PPGSS/ICSA/UFPA)

Fotografas

Acervo PNCSA – Solange Maria Gayoso da CostaFoto da Festa do Gambá – Acervo pessoal de FlorêncioAlmeida Vaz Filho

Cartografa: coleta de dados e croquis – equipe de pesquisae participantes da ocina;  ícones da legenda do mapa-

participantes das ofcinas de cartografa; cartografa -

Marcos Vinícius Costa Lima e Ricardo Almeida Paiva.

Revisão de texto

Iraneide Silva

 

Realização

Associação Indígena Patauí de Pinhel (AIPAPI)Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (CITA) 

Apoio

Universidade Federal do Pará (UFPA)Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)Universidade Estadual do Amazonas (UEA)Ministério da Educação (MEC/SESU) - EditalPROEXT/2015

Mapeamento social dos povos e comunidades tradicionaisdos rios Tapajós: aldeia/comunidade Pinhel - povo Maytapue a luta pelo reconhecimento do território, 2/coordenaçãogeral, Alfredo Wagner Berno de Almeida; coordenação de

 pesquisa, Solange Maria Gayoso da Costa ... {et al.}. –Manaus: UEA-Edições, 2015.

16p. :il. Color. ; 25 cm.

ISBN 978-85-7883-360-2

1. Identidade. 2. Povos indígenas Maytapu Aveiro (PA). 3.Territorialidade – Baixo Tapajós – Rio. 5. Cartograa. I.

Almeida, Alfredo Wagner Berno de. II. Gayoso da Costa,Solange Maria. III. Série.

M297

Foto: Participantes da Ofcina de Mapas de 04/10/2015Foto: Participantes da Ofcina de Mapas de 19/06/2015

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3Mapeamento Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Tapajós:Aldeia/Comunidade de Pinhel (Povo Maytapu)

Nova Cartografia Social da Amazônia

Identidade

Indígena

“Pinhel era conhecida como a missão São José dos Maytapus, fundada pelos Jesu-ítas Portugueses em 1722. Quando os portugueses aqui chegaram trouxeram a questãoreligiosa, vinham para catequisar os indígenas e com eles também vinha a questão doSanto. Pra cá veio São José. Já cou como padroeiro daqui, São José. Então o nome era

São José dos Maytapus, porque eram os indígenas que aqui viviam. E aqui tornou-se mis-são. Então a gente sabe que no período dos primeiros contatos que eles faziam, pegavamcomo na beirada de todo o rio Tapajós onde tinha pequenas aldeias. Então, pra facilitar aquestão da catequização aí, a ideia da missão pra trazer todo esse povo e concentravamapenas aqui para facilitar o trabalho”. (Eucivalda de Oliveira Silva, Aldeia/Comunidadede Pinhel, Ocina de Mapas, em 03/10/2015).

“A história aqui de Pinhel,[...] porque eu não pensando quemeu pai ia morrer logo tão cedo

também, que ele que sabia demais bem coisa, mas ele de vezem quando conversava com agente e contava que Pinhel, a pri-meira comunidade é onde era Ca-marão. Mas depois que o povo foimorrendo foi que mudaram pracá, pra Pinhel. Por causa de queum pássaro chamado “vivió”, queenterraram lá no Camarão, aí as

 pessoas foram morrendo. Quandoforam descobrindo que vieram

História da Aldeia/Comunidade

Foto: São José de Pinhel Foto: Igreja Católica de Pinhel

 pra Pinhel. Quando vieram pra Pinhel, que já veio o tempo da guerra. Ele dizendo que o povoera os cabano. Os primeiros povo, era os cabano. Então o que que eles zeram? Quando veio aguerra, que eles queriam assim, fazer escravos dos índios. O que eles zeram, foi o tempo queeles se reuniram, zeram aquelas trincheiras grandes. Papai dizia que eles botavam os pau node coisa pra cobrir com a palha e jogavam as folhas pra cobrir aquilo, mas ali eles deixavamuns estrepes de inajá (inajá, que aquilo é duro) estrepado, pra quando eles corressem, foi aondeeles caíam e se estrepavam [...] e depois viraram essa guerra grande aí que eles pensavam queiam acabar com eles. Muitos foi embora, essa minha sogra que era mãe desse meu cunhado,

que era mãe do meu marido, ela disse que eles foram embora aí pro lugar das terras pretasque tinha e cavam tudo dentro do buraco do tatu-canastra. Que o tatu-canastra ele faz um buracão! Aí eles cavam. Teve mulher até que teve lho ali dentro! [...] quando já acabou aguerra, mandaram ver se ainda tinha gente; parece que quando eles vieram voltando pra dentroda aldeia, que naquela época não tinha assim como é agora a vila mesmo. Era só uns caminhos[...]. Isso já conto o que meu pai contava, que eu mesmo não cheguei a ver essas coisas. Mas

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4 Mapeamento Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Tapajós:Aldeia/Comunidade de Pinhel (Povo Maytapu)

Nova Cartografia Social da Amazônia

“Por que Pinhel? Segundo a história, porque era Pinhal. O primeiro nome, no caso, trazido pelos portugueses, era Pinhal, que era uma cidadezinha lá de Portugal. Então aqui, como as pes-soas aqui, os indígenas eles tinham a diculdade de falar o português, no caso Pinhal, aí cava só“Pinhé” e facilitava devido também a questão do canto de um pássaro, que era um gavião chama-do “cacaraí”, que canta “pinhé, pinhé, pinhé”. Aí pronto cou Pinhel. Tanto que ainda assim, porexemplo, se a gente for ler algumas coisas, a gente encontra muito a questão de Pinhal, porqueera a história do branco que valia [...]. Porque Pinhel? Por causa dessa questão e da resistênciatambém, porque esses nomes eram trazidos, porque a ideia dos brancos era realmente acabar comtudo isso aqui [...] mas aí a resistência do povo foi que valeu a pena. [...] depois deles terem se

estruturado tudo aqui e começa a questão da exploração, a resistência e aí que levou à guerra, quenão foi só aqui. Engraçado que a mamãe diz assim: – a Cabanagem começou aqui. Eu disse: – Nãomamãe, aqui teve o seu começo sim, mas foi em todo o estado.” (Eucivalda de Oliveira Silva,Aldeia/Comunidade de Pinhel, Ocina de Mapas, em 03/10/2015).

“Por volta de 1997, quando foi a primeira mobilização do baixo e médio Tapajós, vamos dizerassim, pra reconhecimento das famílias indígenas. Porque na época, que eu lembro, eu tinha 10 anos.Então, foi uma formação de mobilização que foi feito pra criar a reserva, quando estava acontecendoa invasão de madeireiros nas comunidades. [...] Então o povo se mobilizou, vamos criar a reserva e

vai ser bom pra gente, por conta das madeireiras. E nesse período, realmente, todas as comunidadesse mobilizaram e faziam reunião e faziam movimento, mobilização, encontro e tudo mais. Quandofoi pra época de regularizar a reserva, aí impactamos com o IBAMA. Por que? Naquele período, oque a gente pensava que era bom pra nós, não se tornou mais bom. Já não era mais agradável a nóse sim aos outros. Porque a partir daquele momento se tornou assim como obra do governo, vamosdizer. O governo pagava para as pessoas que estavam na frente, já tomavam rumos diferentes que não

Fotos: Trincheiras da Cabanagem preservadas pelos moradores.

Organização do movimento

isso foi antes”. (Arlinda Pedroso Lopes, Aldeia/Comunidade de Pinhel, depoimento gravadoem 18/06/2015).

“A cabanagem, aqui existia. [...]. Os antigos falavam pra gente, os nossos avós, queaqui é que tinha [...]. Esse Pinhel aqui era uma vila e era comandada por esse povo, os portu-gueses. Então existia os cabanos, eles trouxeram esse povo. Os portugueses vinham trazendo

esse povo como escravo deles. Era tempo da escravidão, então eles vieram trazendo esse povoindígena daqui como escravos e trabalhavam muito pra eles. Então, depois eles tiveram umadesavença aí um com o outro e foram brigar – os cabanos, os índios com os portugueses [...].Então, o que os cabanos, os índio zeram, eles se reuniram e foi que eles zeram essas valas.Conto porque eu ouvi contarem, não vi. Então, dentro dessa vala eles zeram uma trincheira,que chamam trincheira, que era uma trincheira, se cair dentro dessa vala, depois de pronto,eles zeram um negócio de uma trincheira [...]. Então eles zeram tudo isso aqui, era apontadoisso aqui, parecia uma lança, eles ncava tudo com a ponta pra cima [...]”. (Estevão da Silva,Aldeia/Comunidade de Pinhel, Ocina de Mapas, em 19/06/2015).

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Nova Cartografia Social da Amazônia

Fotos: Participantes da Ofcina de Mapas de 19/06/2015.

era o nosso. Não era o que a gente queria. [...] Então, nesse período foi que tomou rumos diferentes.Então a gente criou a reserva pra nos ajudar e acabou num contexto que não veio mais pra nos ajudar.[...] E aí foi o tempo que a gente pensou em outras questões. O povo é todo morador da reserva, dascomunidades, já vêm lutando aí há 500 anos, e nós estamos aqui em defesa dos nossos direitos. Nósqueremos isso, nós somos o dono da terra, então nós não vamos deixar ninguém vir lá de fora mandarem nós aqui. [...] E então foi quando daí surgiu o movimento indígena também. No mesmo períodoque foi criada a reserva extrativista, foi criado o movimento indígena. Que justamente seria já reivin-dicando o direito dos povos indígenas. Então, desde 1997 a luta vem em bem de todos, saúde, educa-ção e território. [...] a mobilização era grande, intensa que a gente ia praticamente de comunidade emcomunidade fazendo essa mobilização. Tinha encontros, nais de ano, que iam todas as comunidadesindígenas, se fazia nos territórios [...]. E começou através de Taquara, que Taquara já se armavacomo indígena também na época, com o Sr. Laurelino. [...] Então, aqui, na época, o meu irmão quemora em Manaus hoje, ele também foi um dos que também se criou aí na militância do movimento,e onde teve o primeiro encontro na Bahia, ele foi. E também foi nesse mesmo período que Camarãose autoidenticou como indígena. Veio um de Escrivão, um de Camarão e um daqui de Pinhel. Éinteressante porque Escrivão, na época, todo mundo se assumia como indígena. Todo mundo [...].O que levou as pessoas, no meu ponto de vista, a se afastarem do movimento, foi por conta do que

logo no início surgiram alguns comentários. Depois dessa nossa mobilização que tivemos, surgiramvários comentários. Que comentários foram esses? A oposição, vamos dizer assim, chegou pra algunsindígenas e disse assim – “ó, se vocês virarem índios” [que eles dizem assim né? Que a gente nãovira] – “se vocês passarem pra esse lado, vocês não vão ter direito a salário, benefício nenhum social,vocês vão ter que trocar todos de nome e vocês vão ter que andar do jeito que a gente andava antes”.E aí o quê que o pessoal pensa? – “Pô, a gente já evoluiu um pouquinho, pra gente voltar tudo outravez, o quê que vai acontecer de nós?” Então, o que dá pra perceber é isso, um grande [...] vamosdizer assim, mal entendido. As pessoas assim, têm medo de se autoidenticar mesmo, e hoje a gente percebe que muitos querem voltar, mas só que têm aquele medo, porque como todos logo no início,todos se assumiram como indígenas [...].” (Margareth Pedroso dos Santos, Aldeia/Comunidade Pi-nhel, depoimento gravado em 18/06/2015).

“A gente que veio pra Santarém – eu e a comadre Marilza, que sempre era nós que andava junto e aí a gente enfrentou aquela mata toda [...]. Aí na virada do ano a gente reunia todas as aldeias.Fomos pra São Pedro, fomos pra São Francisco do Arapiuns. Aí fomos até na Cachoeira do Maró.Depois, com o tempo, foi que muitos diziam assim: – porque a gente não passa na aldeia da gente?Porque que tem que se deslocar pra comunidade dos outros? Aí foi que parou, fomos ali adiante deTaquara [...] Bragança! De lá a gente não saiu mais pra outro lugar. Que aqui assim, nunca veio umavirada do ano pra nós. Todo mundo junto. Todo mundo das aldeias iam participar e a gente juntotambém. [...]. Sim, a gente passava em outras aldeias. Em outras aldeias. A primeira foi em São Fran-cisco, a segunda foi em São Pedro, já a terceira foi no Maró e a quarta já foi lá em Bragança. Eu achoque nunca mais aconteceu isso”. (Arlinda Pedroso Lopes, Aldeia/Comunidade de Pinhel, depoimentogravado em 18/06/2015).

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Nova Cartografia Social da Amazônia

“O que a gente faz é isso mesmo. Se tem algum problema, se tem reuniões, setem encontros, o direito do cacique é convidar o povo, convidar os seus associados da

Associação, e quando, vamos dizer, um encontro desse, é convidada toda a comunida-de, não só o movimento. A gente trabalha não em bem só dos indígenas e sim da nossacomunidade inteira. Não é só os indígenas que moram em Pinhel, tem os não indígenasque participam. Então é uma luta que é em bem de todos, não é só do movimento. É dacomunidade toda, seja branco, seja negro, seja índio, seja ele quem for. Mas é uma lutaem bem de todos. E quando fala assim, em termos de educação; educação é pra todos,não tem diferença de negro, índio, branco. Que seja pra todos. E é o nosso trabalho,como cacique, é reunir o nosso povo, é fazer reuniões, ver o que tá certo, o que não tácerto. É um trabalho imenso, mas é bom que a gente tem, vamos dizer, as nossas vitó-

rias, temos as nossas lutas mesmo, mas a gente só consegue as coisas lutando, e é assimque o nosso movimento trabalha. Não só o movimento, mas em questão da comunidadeinteira. Esse que é o nosso trabalho. Foi uma fala que ela falou a verdade aqui, é issoque a gente faz mesmo”. (Tiago Deodato da Silva - Cacique, Aldeia/Comunidade dePinhel, Ocina de Mapas, em 03/10/2015).

“Hoje está bem diferente, por conta de quê foi criada a associação local, que é aPatauí, que defende as causas indígenas, e dentro dela a gente faz algumas ações, queassim se tornou mais visível. Quando as coisas acontece, a gente leva pra comunidade,

até mesmo porque assim, a maioria que está na direção da comunidade são indígenas,mas tudo que acontece no movimento a comunidade no geral é ciente. A gente nãoesconde nada. Até porque, como a gente diz assim, o que o movimento traz não é só

 para o movimento. É em torno da comunidade. Porque tudo o que a comunidade, a as-sociação, os próprios indígenas fazem, é o bem da própria comunidade. Então, hoje euvejo assim, que a maior força que está tendo na comunidade é o movimento indígena.Temos o Cacique, o Tuxaua e o Pajé. Então, a função do Cacique é chamar o povo prase juntar, por exemplo: a associação, ela conduz assim o burocrático, vamos dizer, elatem um projeto, então é a associação que faz encaminhamentos. O que acontece, por

exemplo: tem um problema hoje, o Cacique chama o povo e lá ele vai colocar o que estáacontecendo, quais são as decisões que podem ser tomadas [...] que nem aconteceu noinício do ano: a escola ia ser fechada, por conta de que não tinha acesso de alunos, ouseja, não tinha aluno suciente de 5ª a 8ª. Ia todo mundo pra Cametá. Então foi a horaque o Cacique disse assim: – Não, não vai car assim. Nós temos nossos direitos. Aío que que ele fez: ele reuniu o povo, chamou todo mundo, olha é assim, assim, assime vamos na luta. E foi como a gente ganhou a causa, porque o movimento uniu com a

 própria comunidade e fomos até Aveiro, e foi uma das grandes vitórias que nós tivemos[...]. O Cacique faz isso. Aí, vamos dizer, olha, tem encontro, o Cacique que tem que

ver quem é que vai. Se não der pro Cacique, o Cacique indica quem vai pra defender.Se tem problemas, o Cacique chama pra reunir e vamos lá ver o que decidir, o que émelhor. São essas providencias que ele toma. E o Tuxaua está junto com ele. Tem algu-mas questões – ó, vamos lá, vamos ver, e é mais mesmo pra chamar atenção. Tá tendoalguma coisa errada, então chama atenção – é dessa forma que funciona.” (MargarethPedroso dos Santos, Aldeia/Comunidade Pinhel, depoimento gravado em 18/06/2015).

Organização da Aldeia/Comunidade

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Nova Cartografia Social da Amazônia

“Quando já estava entendida (crescida), aquele caminho era só mato aqui, e aondeaparecia muito os mitos da estória, dos espíritos da natureza, que era o Patauí; e tinha oLavrajé, que até hoje ele mora aí naquela ponta de pedra. Ele mora aí o Lavrajé; é um

 boto. O Patauí é uma cobra. Lá no fundo, lá no fundo onde é a morada dele, é uma cobra.

Quando ele sai é uma pessoa, que lá no encante é o bicho e fora é uma pessoa. O Lavrajéele ainda mora [...] porque quando ele vinha, ele passava naquela travessa, agora lá como já cresceu mais, tem coisa lá, agora ele passa aqui nessa travessa. Eu perguntei pro me-nino, e ele disse assim – D. Darci, cedo ele assovia. Ele passa por lá toda noite. É só aluz apagar, assovia e já passa, dia de sexta e quinta-feira. E que ele ia visitar o compadredele, o Macacão. Tem o Macacão também! Ele morava no igarapé, ali. O Macacão, donamenina, ele ainda existe aqui, eu vi com meus olhos, o Macacão. Depois que Pinhel sedesenvolveu, porque pessoas viam, meu pai contava, via o assopro do Patauí. Ele saía de

Foto: Croqui elaborado durante Ofcina de Mapas de 19/06/2015

lá pra passear aqui na beirada [...]. E eu vou contar agora o que eu vi. Então, nessa épocanão tinha ainda luz, não tinha água, era mesmo um deserto aqui. E o povo, ele baixava

quatro horas da tarde pra tomar banho no igarapé, era até tempo de seca aqui [...]. E aí agente ia tomar banho sempre às quatro horas. E eu sou uma pessoa assim, que eu gosto devarrer meu terreno, assim de tarde. Eu me “interti” (distraí) varrendo, que quando eu dei,

 já ia dar cinco, seis horas. Aí quando eu olhei, o pessoal já estava subindo. Eles baixavamtudo pra tomar banho, a gente ia pra lá. Disse – meu Deus! Aí peguei uma vasilha, porquea gente cozinha com a água de lá. Então eu baixei, peguei o sabão, saí, cheguei lá sozinha;

Encantados

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Nova Cartografia Social da Amazônia

Foto: Morada do Lavrajé.

o pessoal já tinha subido, já vinha chegando a noite. Fizmergulhar, enchi minha vasilha de água e subi, quandoeu cheguei bem aí no igarapé, tem um caminho quevai daqui da mata. Aí tem o caminho que vem lá doigarapé, que era esse que a gente saía nesse dia [...]. Euvinha subindo; já era mesmo seis horas. Eu vinha ligei-

ro. Quando eu olho, lá vem ele andando. Olha assim o bichão, preto! Eu não quis nem olhar – “meu Deus, mesalve meu Deus, que isso é um bicho” – eu parei lá. Eaí ele veio. Quando ele chegou no caminho que eu ia

 passar, pois ele só deu um pulo, dona menina, que pas-sou pro outro lado pra onde ele ia. Quando eu abri meu olho, vim correndo pra cá. Aí omenino disse: - olha, isso é um buraco muito fundo, diz que é lá que ele mora. Pra lá. Eudisse – meu Deus, agora que eu vi!.” (Darci de Oliveira Silva, Ocina de Mapas, Aldeia/Comunidade Pinhel, em 19/06/2015).

“A estória do Sapo Cunauaru? Pois é: a mamãe contava que tinha uma velha quetrabalhava lá na colônia dela. Uma noite ela estava sozinha lá, foi quando ela ouviu aquelegrito. O sapo vinha cantando. A cantiga dele era muito feia. Era só ela lá, mas o forno esta-va aceso. Ela disse: – Ai meu Deus, isso é o Cunauaru, e agora, só eu aqui? Ela pediu praDeus que afastasse aquele bicho. Mas não, ele veio. Acho que ela até estava torrando umafarinha; isso era meio cedo ainda. Ela estava com forno acesso, e ele veio perto dela, aí elasó fez pegar um tição e tocou na costa dele. Ele saiu com a costa acesa de brasa e voltou. Amamãe contava isso mesmo. Tem muita estória aqui de Pinhel, muita estória mesmo, dos

 bichos daí da mata. Olha o Fon Fon! O Fon Fon ninguém conta a estória dele aqui, masele fez muita coisa aqui. O Fon Fon ele era um homem que só andava vestido de preto.Quando ele via uma mulher sair, ele vinha pra pegar as mulheres. Eu tinha uma primaque morava lá no Badajó, e um dia quando ela vinha andando, ele ia puxando o paneirodela – o Fon Fon. Quando chegou aí perto da casa dela, ele puxou que ela caiu. Então elagritou, e o marido dela foi lá e trouxe ela. Ele carregava a gente! Só que nesse dia ele não

 podia carregar porque ela vinha com o paneiro na costa, e não dava de carregar. Eu contoessa história, porque no meu tempo [...], eu já conto porque aconteceu com a minha irmãlá no centro. A mamãe foi lá no mutirão do homem pras colônias e nós deixemos ela lá.A mamãe disse: – olha, tu não sai daqui. Ela de teimosa baixou pra ir pra beira, onde amamãe ia pescar toda tarde, ela baixou pra lá. Ela tinha um cachorrinho que acompanhavaela; ele só não carregou ela por causa do cachorro. O cachorrinho sempre acompanhavaela. Quando ela chegou lá pra descer pra beira, ela escorregou; parece que ele empurrouela. Ela vem com o paneirinho na costa; ele empurrou ela; ela caiu. A “valência” (sorte)dela é que ela caiu lá onde já tinha gente, que a casa do homem cava bem pertinho. Ele

 jogou ela, então ela gritou. O pessoal de lá da casa escutou; foram ver, ela estava no chão jogada. Ela desmaiou, levaram ela lá pra casa do homem, chegou lá e fedia lá onde estava,aquele jamaru que chama. [...] quando recordou (acordou do desmaio) perguntaram praela: – o que foi que te aconteceu? Ela contou que era o Fon Fon que vinha atrás dela, quede longe, logo antes dela sair de casa, ele gritava, ele fazia “foooon fon fon fon...” – eraassim a cantiga dele. Então ele foi atrás dela na beira; dessa vez ela ainda se salvou. Tem

muita história do Fon Fon. Aqui, o que eu posso contar é isso.” (Celestina Deodoro daSilva, Aldeia/Comunidade de Pinhel, Ocina de Mapas, em 03/10/2015).

Outras encantarias: Pataui; Matinta; Jurapari; Cabeça de Cuia; Tatu; Porco; Curupi-ra; Cobra Grande; Calça Molhada; Sino; Capote; Pretinho; Bode; Galinha; Mãe da Roça;Cachorro/Cavalo (Engerado).

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Nova Cartografia Social da Amazônia

“Das festas da cultura daqui de Pinhel é o Gambá; a festa do Gambá. E essa cultura[...], tem as festas de santo, mas a cultura daqui é o gambá, que é da comunidade. Essesanto ele tem um protetor dele. Ele tem um dono do santo. Aí acontece aquelas rezas;

coisa toda lá do santo. Mas o gambá, ele é a nossa cultura daqui, a nossa dança. Ela é co-nhecida agora aqui em todo lugar. Que até antigamente quando tinha o gambá, os nativosmesmo, eles dançavam com a roupa feita deles mesmo. Roupa rasgada, calção, era tudoassim. Depois chegou uma mulher e deu a ideia de roupa de rei e rainha. Hoje aquela rou-

 pa que fazem. Mas antigamente não era assim. Se tocava o gambá a noite inteira, o dia,mas cada um dançava com a sua veste, indígena e as coisas nativas. Hoje não, já é roupasque a gente compra e faz  pra’quele movimento todo. Mas antigamente era assim, e tinhaos mestres, os cantores, tinha os que batiam na caixinha, tinha os que batiam no gambá.E dos antepassados que vieram já se foram, foram morrendo, se acabando, e hoje a gente,graças a Deus, a gente ainda fez o festejo, o nosso gambá e da nossa cultura. Hoje, eusou Tiago, sou o mestre cantor, tenho meus irmãos, que é o Teodoro, tem o Belinho, temo João e os outros que batem com a gente e a gente teve essa oportunidade de saber pranão perder. E isso é muito importante pra gente hoje, pra nossa comunidade, da gente terainda. E isso jamais a gente quer perder, porque a nossa cultura é daqui; é uma cultura na-tiva, nossa mesmo; não foi inventada por coisas de fora, e sim criada pelos nativos daqui.E é graticante a gente ter ainda hoje essa dança, essa cultura nossa. E a gente, daqui prafrente, a gente quer ensinar pros nossos lhos, nossos netos, pra nunca perder. Porque essegambá é uma dança tão gostosa. Porque chama gambá? Porque gambá é um animalzinho,

A Festa do Gambá

Foto: Imagem da Festa do Gambá

como a comadre ali falou, mas aí dá

o nome de gambá porque é uma torade pau. Ela é ocada, e ela é cobertacom couro de boi; e esse couro, quan-do eles vão cobrir logo ele, ele sai daágua, aí eles colocam no oco do paue colocam tampado. Aí uns três diasele ca com aquele cheiro, entendeu?Cheira mal... Mas quando ele seca,

 pronto, acabou o cheiro dele. Aí ogambá, ele cou por isso. Mas é uma

tora de pau, com couro de animal,aquilo ali a gente bate nele pra dar osom com as músicas que a gente sabe

 pro povo dançar. Ele é batido naquelecouro. [...] O violão você tem que to-car, você tem que anar ele, tem quefazer tudo isso, uma guitarra, uma ba-teria. E o gambá não, ele não precisade tá anando. Aquilo ali você bateunele ali, tá anado já. Só engrossa a

mão da gente, mas aí a gente toca, o pessoal dança, aquela alegria toda. Émuito bonito. Esse é o nosso gambá.”(Tiago Deodato da Silva - Cacique,Aldeia/Comunidade de Pinhel, Oci-na de Mapas, em 03/10/2015).

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14 Mapeamento Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Tapajós:Aldeia/Comunidade de Pinhel (Povo Maytapu)

Nova Cartografia Social da Amazônia

“Pois é, então eu me criei com esse padrasto que era meu pai de criação. Ele me criouassim, desde criancinha trabalhando com ele em roça: plantava mandioca com ele, junto comminha mãe e o tempo ia correndo, e eu ia me criando. Ele gostava da caçada, e eu fui parceirodele desde criança, andando com ele na mata, caçando. E aí, depois que eu me entendi, com12 anos, aí eu fui tirar da minha parte, eu comecei a caçar, só eu, já da minha parte [...]. E aímeu pai de criação nem sabia que eu saía pra caçar. Só eu. Eu aprendi a atirar, só eu. Não porele, que ele não deixava, que era criança, mas sabe como é menino. Como eu pensei, pegava a

arma dele e saía escondido pra mata. E aí eu ia pra mata, só. Tomei a conhecer a mata; já tinhaconhecimento, que andava com ele na mata e via. Eu mesmo via caça, mandava ele, por exem- plo, tem um veado, topava um veado deitado, andando na mata nós [...] aí ele não via; dizia pra ele: “olha”, chamava ele não de pai, chamava de tio pra ele: – ó tio, olhe pra’li. Ele olhavae o veado estava deitado, aí atirava, matava, ia embora pra casa. E aí eu fui pegando aquelacoisa. Isso ainda era com ele, depois [...]. É, a gente saía de casa pelo um caminho e ia embora.Até no nal da picada, lá tirava o rodeio. Entrava, ia dar volta, nessas voltas que topava com acaça. Pegava, atirava e matava. Que tem gente que conhece a mata e sabe andar, tirar o rumo pelo sol. Por exemplo: o sol nasce daqui, nasce daqui pra cá, sempre; senta pra cá. O que eufaço? Saio de casa, chego lá onde eu vou tirar meu bordo pra pegar alguma coisa, alguma caça,

aí eu marco. Ou o sol ou as nuvens. Se a nuvem tá correndo pra cá, acompanhando também osol, se eu for pra cá pra esse lado, eu estou indo; o sol vai aqui, eu tenho que ir pra cá. Já sei, euvou aqui pra dobrar pra cá, pra depois sair aqui, da onde a gente veio. Pra dar volta. E assim eufazia. [...]. Meu pai de criação conou, aí pronto, quei liberado; aí liberou a arma pra mim; aíeu saía, caçava de cachorro. Eu me criei mais foi dentro da mata!” (Estevão da Silva, Ocinade Mapas, Aldeia/Comunidade Pinhel, em 19/06/2015).

O Mateiro

Fotos: Paisagem Local

Festas Comemorativas

FESTA PERÍODO

Clube Ipiranga – Aniversário 16 de janeiro

Festa do Padroeiro S. José 19 de março

Festa Junina Junho

Festa do Gambá e de São Benedito 28 a 30 de junho

Santíssima Trindade 25 de julho

Clube Juventus e Garota Verão Novembro

Festival do Coco 22 de agosto

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15Mapeamento Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Tapajós:Aldeia/Comunidade de Pinhel (Povo Maytapu)

Nova Cartografia Social da Amazônia

“Eu sei umas tantas áreas de terra preta. [...] tem meios aqui dentro da vila mesmo, meioque é preta mesmo; preta mesmo a terra. Então, aqui os antepassados, os índios que trabalha-vam aí, eles tiveram acampamento aqui; eles trabalharam aqui. Que era terra preta, que era sa-ída deles, de outra terra preta que os índios, naquela época, eles só trabalhavam em terra preta.Eu não cheguei a ver esse coisa aqui que era, isso aqui era, era fundo isso. Olha, esse buracoaí era bem fundo [...]. Até agora ainda tem. Ali tinha outro abismo que era uma vala grande,funda também. E assim ia até lá no m, perto do m do igarapé, ndava. E aqui pra cá; pra baixar daí do centro pra colônia deles, eles tinham um caminho. O caminho deles era mais oumenos, tinha essa fundura, essa largura, essa baixada. Era bonito. Até hoje ainda tem lugares

dentro da mata que ainda aparece a trilha deles, quando baixava, indo direto aqui.” (Estevãoda Silva, Ocina de Mapas, Aldeia/Comunidade Pinhel, em 19/06/2015).

“Meu pai era um homem que ele caçava muito [...] ele caçava muito, então nós fomoscriados assim, com carne do mato mesmo, parece que na época ainda nem criava o gado. Sómesmo caça do mato. Olha, tinha o veado [...] tinha o queixada, tem o caititu, tinha paca, tinhatatu, tinha cotia aí; fora inambu, tem também de pena: papagaio, arara, tudo isso eram as caças

que existia naquela época, anta também; meu pai matou muita anta. Quando matava anta, pa-rece que matava um boi. Era carne pra passar muitos dias. [...]. Olha, ele salgava. Aí colocavano sol. Se não, ele defumava. Defumava a carne. Aí botava assim no fogo, que naquele temponão existia esse fogão que nem agora existe. Só era mesmo no fogo de lenha. Aí botava assimno varal e ia secando [...]. Ela demorava um mês, quando não existia muita gente pra comer.”(Arlinda Pedroso Lopes, Aldeia/Comunidade de Pinhel, depoimento gravado em 18/06/2015).

“Então, nessa colônia aí, a gente vai fazer tudo lá dentro da colônia. O roçado pra man-dioca, pro milho, pro arroz, etc. Hoje, depois que eu passei já uns tempos casado, já tinhacriança, lho, aí eu investi o meu trabalho em criação de gado. Isso depois de tá com meus 50anos; 40 e poucos anos pra cá eu fui investir meu trabalho em criação de gado. Pensei em criar

gado, deixei a lavoura. Deixei o plantio da lavoura de mandioca, o arroz e milho. Depois eucomecei a criar gado, e conseguimos o gado, então fui trabalhando em outra coisa, pastagem pro gado. [...] a distância da colônia, eu tenho agora, onde eu tenho a criação é na Águas Boas,daqui até lá é 45 minutos a pé. Agora, como a gente tem moto, é poucos minutos. Por exemplo,eu tenho meu lho; ele tem a moto dele; ele me leva de graça, às vezes eu coopero com umagasolina, mas ele me leva de graça. Agora os outros, os outros não. Se eu quiser, eu pago cinco,dez reais, conforme a distância: leva, deixa e vai buscar.” (Estevão da Silva, Ocina de Mapas,Aldeia/Comunidade Pinhel, em 19/06/2015).

“Outra questão também é da educação. Nós temos alunos que estão estudando em Ca-metá, que também é meia hora de transporte. Então, só pra vocês terem uma ideia, nós pega-mos aquele mínimo de vento. Então os alunos daqui têm que fazer esse percurso. Como nósnão temos estrada terrestre, é só esse percurso que eles têm que fazer. E quer ver no tempo deseca, que o transporte não chega até lá. Aí eles têm que ir por terra. E aí o prefeito diz: – não,tem transporte pra esses alunos. E a lancha vem uma semana. Com uma semana parou. Não

tem transporte mais, porque não tem gasolina. E os próprios alunos tiram do próprio bolso prasustentar combustível pra ir e voltar. E aí também nós estamos com uma demanda de ensinomédio modular, desde 2011, pra cá pra Pinhel, [...] e com uma demanda bem grande de alunosque estão aí parados. Ensino médio modular. Falta de medicamentos; transporte (Escolar, Saú-de); merenda Escolar; Luz 24 horas; parque/quadra coberta.” (Margareth Pedroso dos Santos,Aldeia/Comunidade Pinhel, depoimento gravado em 18/06/2015).

Terra Preta

Demandas

A Vida de Antes e de Agora

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