01 caminho
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A ANLISE COMPARADA ENTRE A VICTORIA DE LUCIFER E A PINTURA O ARCANJO EM LUTA COM O DIABO
CARDOSO, Fabiano (PPG-UEM), FECILCAM, [email protected] FERNANDES, Mnica Scio, UEPR/FECILCAM
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar comparativamente o conto A Victoria de Lcifer, de Coelho Neto e a pintura romnica O Arcanjo em luta com o Diabo, de autoria desconhecida. Sob o mbito da intertextualidade, o termo foi cunhado por Julia Kristeva fundamentada nos estudos de Bakhtin (2011). O conto e a pintura se expressam por linguagens diferentes, mas por explorarem uma mesma temtica podem ser cotejados. As noes de intertextualidade tm ajudado na interdisciplinaridade o que muito importante para aproximar linguagens que poderiam ser consideradas antagnicas, confirmando seu grande valor para as pesquisas das reas humanas. PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Pintura. Intertextualidade.
INTRODUO
O presente trabalho foi elaborado para entendermos um pouco mais sobre a
intertextualidade e a esttica comparada aplicada a um texto literrio (conto) e o gnero
pintura. A intertextualidade, bem como a esttica comparada um dos campos que
promovem o dilogo entre linguagens diferentes ampliando o campo de anlise literria.
Portanto, quando desenvolvemos um trabalho realizado sob a luz dessas teorias estamos
contribuindo para compreend-las melhor. O objetivo desta pesquisa ser mostrar que a
intertextualidade pode estar presente nas linguagens literrias e artsticas. Embora podemos
perceber a conectividade entre linguagens artsticas diferentes, mesmo sem recorrer s
teorias, somente ela pode nos mostrar de forma convincente e segura esta ligao que
intuitivamente sabamos, mas no poderamos provar teoricamente.
Toda ligao intertextual pressupem que discursos anteriores foram produzidos
para chegar-se aos discursos contemporneos. Todo saber desenvolvido no decorrer dos
sculos um acumular de conhecimento que construdo pouco-a-pouco por estudiosos
que se debruam sobre determinada teoria tentando alargar o conhecimento ou, at mesmo,
tentando refut-lo.
Este o trabalho de pesquisa volt-se anlise da diversidade artstica, buscando
estabelecer o dilogo entre a literatura e a pintura, artes que podem ser consideradas irms.
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Este dilogo estudado pelos pesquisadores e tem o objetivo mostrar quais so as
singularidades e diferenas inerentes nas obras consideradas artsticas.
A anlise dar-se- atravs de duas linguagens, a literria com o conto A Victoria de
Lucifer do autor Coelho Neto, que produziu sua obra no momento de transio entre
Simbolismo- Modernismo e, por fim, a artstica com a pintura romnica O Arcanjo em luta
com o Diabo que foi produzido por volta de 1200 e no conhecida sua autoria.
Ao analisarmos a linguagem literria e artstica poderemos compreender melhor a
teorias empregadas neste trabalho e como elas podem ser aplicada em uma situao
prtica, que o nosso caso. Esse um dos assuntos que abordaremos no decorrer desta
produo cientifica.
1. INTERTEXTUALIDADE E ESTTICA COMPARADA: CONCEITOS.
A literatura, com as suas devidas especificidades, pode ser comparada com qualquer
outro tipo de arte: Frente ao hibridismo das tendncias contemporneas, marcado pela
quebra dos limites que isolam os diversos campos do saber, conforme iderio tradicional, a
literatura, peculiarmente ligada a seu tempo e espao, apresenta marcas desse amlgama.
(FERNANDES, 2008, p. 1)
Podemos estudar diversos gneros literrios atravs da teoria da intertextualidade.
Ela um dos temas mais estudados em nossa contemporaneidade. O termo foi cunhado
pela francesa Julia Kristeva, grandemente influenciada pelos estudos dialgicos de Bakhtin,
consolidou os estudos intertextuais.
Mas o que teoria da intertextualidade? Quais so suas implicaes? A
Intertextualidade so as referncias ou retomadas de diversos textos fazendo reflexo na
produo de outros tantos textos. A teoria intertextual clarifica as diversas vises dentro de
um texto, ela nos remete a outras teorias e tantos conceitos formam um texto. Segundo
Izidoro Bliskstein(2003, p. 45).:Suportado por toda uma intertextualidade, o discurso no
falado por uma nica voz, mas por muitas vozes, geradoras de muitos textos que se
entrecruzam no tempo e no espao(...). Os textos so gerados no acumulo de vozes que
orientam e perspassam o texto. No h construo de ideias sem acumulo de
conhecimento, sem inferncia de conceitos anteriormente estabelecidos, portanto, o
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acmulo de vrios tipos de conhecimento traz criticidade e experincia para formulao de
novos textos.
A intertextualidade interferncia dos discursos influenciando outros discursos. Para
isso a intertextualidade usa de procedimentos especficos na composio do texto. Esses
procedimentos transformam o texto, embora o texto possa ser de um nico autor, h
diversos autores por trs de um determinado trabalho, orientando o discurso que o autor
esta trabalhando. Jos Luiz Fiorin (2003, p.35) enfatiza isso com muita propriedade: O
discurso no nico e irrepetvel, pois, um discurso discursa outros discursos. O discurso
no solitrio porque baseado em outros textos, e isso faz de seu autor(a) um(a)
conhecedor(a) de determinadas regras e teorias para desenvolver sua argumentao sem
erros conceituais, ou at mesmo, erros de redao.
O texto, ou o discurso contido numa determinada produo, uma colcha de
retalhos, pois o autor sempre carrega o peso de suas leituras, o contexto aonde vive, sua
histria familiar, sua personalidade, seu convvio na sociedade, se religioso ou no, dentre
tantas outras coisas que formam o ser humano. Nunca um discurso considerado solitrio,
o discurso marcado pelo posicionamento do autor e os discursos que ele assimilou para
fazer determinada obra muito importante na constituio da mesma.
Sendo a intertextualidade vrios discursos que dirigem para a elaborao de outros
discursos, ela pode abrir caminho de dilogo entre vrias linguagens. Por exemplo,
podemos relacionar a msica e o futebol, a literatura com obras de arte, obras de arte com
poesias e assim sucessivamente. A intertextualidade constri pontes, isso muito
importante porque ela faz nos entender o sentido de algo que poderamos no entender se
ela no existisse. Veja o exemplo que Laurent Jenny nos mostra:
Fora da intertextualidade, a obra literria seria muito simplesmente incompreensvel, tal como a palavra duma lngua ainda desconhecida. De facto, s se apreende o sentido e a estrutura duma obra literria se a relacionarmos com os seus arqutipos, provenientes de outros tantos gestos literrios, codificam as formas de uso dessas. (1979, p.5)
Jenny fala sobre a incompreensividade da literatura se no houvesse
intertextualidade. Sem a intertextualidade os textos ficariam desconexos. Como
compreenderamos gneros como charges sem intertextualidade? No teria como, ento,
ela vem para, como dito, criar pontes, amarrar o discurso ao contexto, ao j dito.
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J a esttica comparada pode ser caracterizada pela aproximao e diferenciao
de duas, ou mais, artes: o que queremos chamar de esttica comparada disciplina que
procura observar positivamente, pr em evidencia e anotar corretamente as similitudes e as
oposies que podem ser relacionadas com esses tratamentos diversos. (SOURIAU, 1983,
p. 5)
A esttica comparada trabalha com seus prprios mtodos delimitando seu campo
de atuao entre linguagens artsticas diferentes. Em nosso caso vamos trabalhar com a
literatura, conto, comparando analiticamente com uma obra de arte romnica. Segundo
Soriau (1983) a literatura pode ter o papel unificador entre as artes, mas deve-se evitar a
generalizao de que tudo pode ser comparado com a literatura:
Longe, pois, de aceitar uma correspondncia entre todas as artes por serem todas traduzveis em poesia, linguagem artstica universal, devemos tomar cada arte em seu idioma prprio e estabelecer com pacincia e cuidado o lxico das tradues. E registrar como intraduzvel aquilo em que se esvanece efetivamente a essncia artstica da obra pela traduo num outra arte. (SOURIAU, 1983, p. 7)
O que Souriau(1983) queria dizer era que as diversas manifestaes das artes tm
caractersticas semelhantes: nada mais evidente do que a existncia de um tipo de
parentesco entre as artes. (SOURIAU, 1983, p. 14). Embora as comparaes podem ser
feitas, elas devem partir, de um minucioso trabalho cientfico. Pois as diferenas entre as
artes tambm deve ser considerada, Souriau(1983) observa que algumas artes podem ser
vistas outras podem ser ouvidas. Por isso o seu carter unificador, mas, tambm,
diferenciador.
A esttica comparada tem o objetivo de mostrar estas semelhanas e diferentes que
correspondem as artes diferentes. Tenta, com isso, mostrar a importncia do fazer artstico
e sua funo dentro da sociedade.
2. COELHO NETO
A histria da literatura brasileira, em geral, no atribui muito valor biografia e obra
de Coelho Neto. Maranhense de nascimento, mudou-se com a famlia para o Rio de Janeiro
aos 6 anos. Tentou medicina, mas formou-se em Direito. Desde cedo j ingressou em
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grupos polticos. Coelho Neto se destacou entre os escritores de sua poca, escreveu uma
vasta obra literria, sendo o brasileiro mais lido no comeo do sc.XX.
Muitos crticos literrios no vem com bons olhos a obra de Coelho Neto, um dos
exemplos BOSI:
No havia no Brasil do comeo do sculo aquela espessura cultural que faz do fenmeno artstico em encontro permanente de significados sociais, existenciais e propriamente estticos. Tomavam-se de emprstimo atitudes, formas de pensamento e de estilo, na falta de uma percepo radicalmente nova do real. verdade que as mesmas falhas j se reconheciam nos naturalistas de 80 como Alusio e Adolfo Caminha; mas o fato de eles se oporem viso romntico-idealista e estrutura escravocrata lhes conferia uma consistncia literria e ideolgica, que acabou resultando numa fisionomia cultural inequvoca. Tal fisionomia falta ao fecundo Coelho Neto e ao raso Afrnio Peixoto, para citar apenas os nomes ento mais relevantes. Dessa indefinio adveio uma prosa ficcional compsita, misto de documento e ornamento, aqum do Naturalismo na medida em que se perdia em veleidades fantasistas, mas igualmente incapaz de se fixar no Simbolismo pela carncia de uma imaginao realmente criadora. (1979, p.221).
Alfredo Bosi critica a literatura do comeo do sculo XX, tanto Coelho Neto, como
Afrnio Peixoto, escreviam sem identificao com uma corrente literria. A produo literria
de Coelho Neto sempre foi motivo de controvrsias para os crticos de sua poca e
contribuiu para que ele chegasse quase ao anonimato em nossos dias. Segundo Bosi: Lima
Barreto o chama de o mais nefasto que tem aparecido no nosso meio intelectual e Otvio
de Faria:maior romancista brasileiro (1979, p. 222). Foi duramente criticado pelos
modernistas, ele produziu a sua obra entre o Naturalismo e o comeo do Modernismo.
Sua obra foi exaltada por COUTINHO: Coelho Neto pode ser considerado, no
domnio da prosa, um escritor dos mais complexos, devendo seus romances e crnicas,
contos e crticas, e mesmo suas peas de teatro, ser colocados entre os melhores dos
nossos melhores autores (2004, v.4, p.225). Da forma-se a ideia do quo complexa a
leitura de suas obras.
Coelho Neto produziu sua obra em um momento de transio literria no Brasil, no
se encaixando em nenhum dos movimentos literrios brasileiros. Sua produo refletia seu
esprito, no a sociedade de sua poca. Esta transformao gradual que a literatura estava
passando causou um impacto negativo em sua produo literria. Mesmo sendo fecundo ele
se encontrava numa poca de negao do passado e construo do futuro.
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Embora renegado pela nova produo literria, Coelho Neto chegou presidncia da
Academia Brasileira de Letras em 1926 e em 1928 foi eleito o Prncipes dos prosadores
brasileiros atestando a importncia da sua obra em sua contemporaneidade.
Seus principais trabalhos so: Romances: A Capital Federal(1893); Miragem(1895);
O Rei Fantasma(1895); Inverno em flor(1897); O Morto(1898); O Paraso(1898); O Raj de
Pendjab(1898); A Conquista(1899); Tormenta(1901) entre outros; e contos, dentre eles
citamos A Victoria de Lcifer inserido dentro do livro Melusina(1913), ser o conto que
trabalharemos neste artigo.
Coelho Neto foi influenciado pela Bblia, pelo clssico Mil e uma noites, Ea de
Queirs, Camilo Castelo Branco, Maupassant, Flaubert, Goucourt, Thophile Gautier. O
escritor costumava dizer que sua formao literria foi desenvolvida no apenas por autores
que leu, mas tambm pelas pessoas que escutava, ele sofria influncias do serto onde
tinha nascido: Foram as histrias, as lendas, os contos ouvidos em criana, histrias dos
negros cheios de pavores, lendas de caboclos palpitando encantamentos, contos de
homens brancos, a fantasia do sol, o perfume das florestas, o sonho dos civilizados(...).
Nunca mais essa mistura de ideais e de raas deixou de predominar, e at hoje se faz sentir
meu ecletismo(COUTINHO, 2004, p. 227).
O estilo contemporneo a Coelho Neto foi comentado por Bosi:
Esteticismo, evasionismo, pureza verbal precriamente definida, sertanismo de fachada, lugares-comuns herdados divulgao de Darwin e de Spencer, resduos da dico naturalista de cambulhada com clicls do romance psicolgico Bourget carreiam para a prosa de um Coelho Neto...(1979, p.220)
O estilo da poca ainda muito refinado, nesta poca estava surgindo um
movimento contrrio ao refinamento na literatura, posteriormente, este mesmo grupo
proporia a Semana de Arte Moderna que aconteceu em 1922. Mesmo a produo literria
de Coelho Neto sendo muito lida, comearam as crticas ao seu trabalho, e aos escritores
de sua poca que ainda estavam presos esttica literria considerada ultrapassada.
3. A INTERTEXTUALIDADE NO CONTO A VICTORIA DE LUCIFER E A PINTURA
ROMNICA: O ARCANJO EM LUTA COM O DIABO.
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Sabendo que tanto a intertextualidade quanto a esttica comparada produz discursos
que unem ou aproximam duas linguagens. Passaremos a analisar o encontro da
linguagem literria e a linguagem artstica. Sobre esta aproximao Cortez afirma:
A relao entre a palavra e a imagem, entre a palavra e as coisas (e sua representao) tem sido um tema constante nos processos de comunicao entre os homens. Desde os mais remotos tempos, essa ideia de fraternidade das artes esteve presente no pensamento humano, justificando algo muito mais profundo do que a mera especulao. (CORTEZ, 2009, p. 355)
No de hoje que a literatura e a arte dialogam entre si, diversos quadros foram pintados baseados na literatura e a literatura j reproduziu vrios quadros. Trabalhos da teoria de Esttica Comparada tem produzido publicaes cientificas excelentes neste vasto campo que agora esta sendo descoberto por pesquisadores dos gneros literrios e artsticos.
No conto A Victoria de Lcifer a personagem principal Lucifer, tambm conhecido por Satans ou diabo. Depois de ser banido por Deus da sua habitao no cu, Lcifer cai na terra e traz consigo todas as maldies que sua traio, a Deus, proporciona.
O Diabo tem vrias representaes ao longo dos sculos, a mais conhecida a retratada na Bblia. A literatura tambm j apresentou vrias verses do diabo. Nas conhecidas obras de Dante Divina Comdia(2002) e John Milton Paraso Perdido(2002) h descries sobre o diabo e sua queda. Vejamos alguns versos de Paraso Perdido:
Deus, coa de mo cheia de fulmneos dardos, O arrojou de cabea ao fundo do Abismo, Mar lgubre de runas insondvel, A fim que atormenta ali vivesse, Com grilhes de diamantes e intenso fogo, O que ousou desafiar em campo o Eterno. (p. 13, 2006)
Lcifer o representante de todo mal na terra, e tambm fora dela. Segundo Menon:
O Diabo constitui uma dessas feies do mal, talvez a mais conhecida de todas. (p. 2,
2008)
No conto A Victoria de Lcifer o Diabo retratado como um legtimo representante
do mal que, ao rebelar-se contra Deus, expulso do cu, conforme Menon explica:
Coelho Neto, no entanto, prope um Diabo mais altura do personagem bblico e do pico de Milton, em um conto denominado A vitria de Lcifer. A queda do anjo de luz e o efeito disso sobre o cosmos faz-se presente no conto de forma grandiosa. (p. 8, 2008)
Na descida a terra, Lcifer perseguido por um dos anjos (Kerub) mais valentes,
ento comea uma perseguio entre o bem e o mal. O diabo por onde passa destri a
criao do Todo Poderoso, enquanto o kerub tenta consertar os estragos feitos pela
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criatura do mal. Um exemplo que aproxima o conto com a narrativa bblica o encontro
entre Lcifer e a criao mais preciosa de Deus, Ado e Eva:
Foi ento o Senhor, descendo terra e achando-se graciosa, mas triste, plasmou o corpo de Ado e tirou-lhe o flanco a formosura no den. Ora, uma tarde, passando Lcifer no den, com fragoroso estrondo drvores abatidas, viu o innocente casal margem duma ribeira e logo, tomando a forma serpentina, trahiu a mulher ingnua, cavando entre a Humanidade e Deus o abysmo do tumulo. E fez nascer o espinho no caule e a tristeza no corao. (s/d, p.103)
J na pintura O Arcanjo Luta com o Diabo(anexo I)observamos o arcanjo com uma
balana e o diabo querendo subir em cima ela, ou em uma outra leitura, o diabo querendo
arrancar o balans das mos do diabo. Um dos simbolismos da balana a justia e,
podemos, ento, interpretar a pintura o diabo querendo tirar das mos do anjo divino a
justia que Deus exerce sobre a humanidade.
Outra importante evidencia na pintura so as cores utilizadas pelo artista. As cores
que representam o anjo so claras e iluminadas, por conseguinte, a do diabo negra,
mostrando o contraste entre os dois. Pode simbolizar as cores mais claras o bem versus as
cores mais escuras do demnio, o mal. Outro contraste ntido o semblante do anjo,
humilde, compassivo versus o rosto irado, cheio de dio do diabo.
Nessas duas linguagens h manifestao da intertextualidade temtica como
salienta Ingedore Koch(2007, p. 18): intertextualidade temtica encontrada, por exemplo,
entre textos[...]que partilham temas e se servem de conceitos e terminologia prprios, j
definidos no interior dessa rea ou corrente terica.. O tema evidente tanto no conto como
na pintura a religio judaico-crist simbolizada aqui na figura de Deus, de Lcifer(ou diabo)
e o anjo(querub no conto e Gabriel na pintura).
As duas linguagens tratam do mesmo tema: o diabo e a luta com Deus. Mesmo no
aparecendo no texto sabemos que tanto o conto como a pintura fazem referncia implcita a
Bblia, o livro sagrado dos cristos e judeus. As duas linguagens remetem a luta da criatura
Lcifer e seu criador o Deus. Esta luta comeou quando Deus expulsa Lcifer do cu.
Naquele lugar ele, o diabo, era um ser angelical, mas foi lanado fora por causa da sua
cobia em querer apropriar-se do trono do Todo-Poderoso e incitar um tero dos anjos a
levantarem uma rebelio contra Deus.
Tanto no conto como na pintura no h referncia a histria relatada na Bblia, mas o
discurso destas linguagens remetem aos fatos narrados nela. Como a Bblia o livro mais
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vendido no mundo e que grande maioria das pessoas tem algum conhecimento bblico no
difcil fazer esta conexo.
CONCLUSO
A aproximao entre a Bblia, conto e pintura um exemplo de como a
intertextualidade e a esttica comparada est presente nas diversas linguagens. Em
diversas situaes passam despercebidas diante de ns estas multifacetadas formas de
comparaes e intertextualidade.
Esta anlise mostra que muitas das manifestaes artsticas podem ser analisadas
comparativamente. E, tambm, podemos entender que no somente pela semelhana que
pode analisar comparativamente as artes, podemos tambm mostra as suas diferenas. No
caso da nossa anlise o conto A Victoria de Lcifer e a obra de arte romnica as
diferenas entre elas so que uma construda a partir da palavra e a outra a partir de uma
tela. Uma para ser lida, outra para ser vista. S nesta diferena j encontramos subsdios
para mostra que as correspondncias, entre ambas, podem ser marcadas, tambm, pelas
singularidades de cada uma.
Contudo, o estudo comparativo e intertextual nos faz refletir sobre a importncia do
trabalho artstico. Embora muito pouco reconhecido, o trabalho das artes, pode ser
considerado como fonte de inspirao para uma parcela considervel da populao, pois,
ns somos, como afirma Bakhtin, um pouquinho dos discursos de outrem. Estamos em
construo pelos muitos discursos que esto a nossa volta. Penso no velho ditado Nada
novo, tudo recriado. E podemos ter certeza que se lutarmos o discurso hoje produzido por
ns tambm encontrar eco em discurso de outros pesquisadores em um futuro prximo.
REFERNCIAS ALIGUIERI , Dante. Divina Comdia. Ed. 1. Editora : Martin Claret. So Paulo-SP, 2002. ANNIMO. O Arcanjo em kuta com o Diabo. Museu de Arte da Catalunha-Espanha, 1200.
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ANEXO I PINTURA O ARCANJO EM LUTA COM O DIABO Annimo.