001 the first lie [a primeira mentira]
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THE FIRST LIE (A PRIMEIRA MENTIRA)
A THE LYING GAME NOVELLA
SARA SHEPARD
THE LYING GAME NOVEL
THE LYING GAME NEVER HAVE I EVER
TWO TRUTHS AND A LIE HIDE AND SEEK
CROSS MY HEART, HOPE TO DIE
THE LYING GAME NOVELLA
THE FIRST LIE
1 HACKEAR O FACEBOOK É TÃO SEGUNDO ANO
uma típica tarde de sábado, e minhas melhores amigas Charlotte Chamberlain e Madeline Vega
e eu estamos sentadas do lado de fora do country club La Paloma, em Tucson, Arizona, onde
todas nós vivemos. São as últimas semanas de férias antes de começar o nosso primeiro ano e
não vamos perder um segundo do tempo de se bronzear. Estamos todas usando nossos biquínis
novos da marca Missoni que eram parecidos, mas não muito, o ar cheira a protetor solar Banana Boat
e limão recém-cortado dos coquetéis das mães que estavam próximas —, e os gritos agudos da
piscina infantil sendo carregados através dos pátios de pedra cuidadosamente paisagísticos.
Enquanto nós bebíamos Perrier com canudos finos e vermelhos — esse lugar é super-rigoroso sobre
menores bebendo — Char suspira. — Então, eu tenho uma ideia para a próxima brincadeira do Jogo
da Mentira, Sutton — ela diz, virando-se para mim. — Nós entramos no Facebook, e...
— Não, não, não — eu a interrompo, pressionando minha cópia da Us Weekly em meu peito. —
Nós já repetimos a coisa do Facebook várias vezes, Char. É muito fácil. O Jogo da Mentira é sobre
originalidade, lembra?
Charlotte ruboriza, o que faz suas sardas se destacarem mais. — Teria uma variação no enredo,
obviamente. — Ela empurra seus óculos de sol aviadores Chloe no topo da sua cabeça e dá um
encolher de ombros descuidado muito bem praticado que quase me convence de que ela não se
importa com a minha opinião. O problema, porém, é que ela se importa. Ela e Madeline... e todos os
outros da Hollier High. Não que eu esteja tentando me vangloriar ou algo do tipo. É apenas o jeito
que é.
— Variações no enredo... tipo? — eu estimulo.
— Tipo... mudar a foto do perfil de Nisha Banerjee pela foto mais atual de Lindsay Lohan na
delegacia? — Char sugere, dando risinhos.
Do meu lado esquerdo, Madeline, cujo cabelo escuro está recolhido para trás em um coque
bagunçado, ajusta os laços da parte de cima do seu biquíni de crochê. — Seria uma melhoria em
relação a foto com a equipe de tênis que está no perfil dela. Ela parece demente nela.
Eu cruzo e descruzo minhas pernas longas, que são mais torneadas do que as pernas flexíveis
de bailarina de Mads. — Ela não pode evitar. Nisha é demente. — Nisha Banerjee é uma garota
irritante e quase popular, que também é minha maior rival no tênis. Eu me sento ereta. — Mas é
muito fraca. A primeira brincadeira do ano do Jogo da Mentira tem que ser grande. Algo fora do
comum.
Minhas melhores amigas refletem sobre isso por um momento, sabendo que eu estou certa.
Mads, Char e eu começamos o Jogo da Mentira na sexta série, durante uma festa do pijama,
pretendendo fazer brincadeiras com todos os caras bonitos da nossa classe. Nós éramos as garotas
mais populares da escola e nós poderíamos fazer algo assim, sabendo que eles iriam cair aos nossos
pés ainda mais. Depois da primeira brincadeira — jogar balões de água neles do telhado da escola —
nós fizemos outras brincadeiras fracas, como prender Lori Sanchez no armário ou colocar uma carta
de amor de Darien Holbrook, o maior galã daquele ano, na mesa de Miranda Foos, uma nerd
incorrigível. As brincadeiras aumentaram desde então, algumas delas francamente assustadoras e
ilegais. Ainda assim, saímos impune na maioria delas. E todos da escola estão esperando nós
É
ultrapassarmos os limites. O que significa que não podemos fazer algo idiota como mudar uma foto
de perfil do Facebook.
— Isso me lembrou de uma coisa — diz Charlotte, mudando de assunto. — As Gêmeas do
Twitter querem saber se nós vamos para a festa de volta às aulas de Nisha na quinta-feira.
Reviro os olhos. — Não se elas forem. — Gabriella e Lilianna Fiorello, e o vício constante delas
por seus celulares e todos os tipos de redes sociais, são a chatice em pessoa. O desespero delas para
entrar no Jogo da Mentira fedem mais do que o perfume mais recente da marca Viktor and Rolf
Flowerbomb, que, apropriadamente, é o perfume delas desse verão.
Não que eu culpe elas por tentar tanto entrar, claro. Todo mundo quer estar no nosso grupo.
Mas eu disse as Gêmeas do Twitter a mesma coisa que eu digo a todos: A participação é estritamente
restrita a três, Madeline, Charlotte e eu. Sem exceções para ninguém.
Agora, Charlotte se senta para ficar de frente para Madeline e eu, ajustando a alça do seu maiô
de um ombro só. Eu não disse nada ainda, mas desde que Char começou a namorar Garrett Austin,
ela tem engordado um pouco, com certeza por causa de todas as saídas para tomar sorvetes e dos
jantares chiques que eles têm tido. Char come quando está apaixonada; disso eu tenho certeza.
— Nós meio que temos que ir para a casa de Nisha — Charlotte insiste, mordendo
pensativamente o lábio inferior. — Ela convidou a equipe de tênis inteira, incluindo os veteranos.
Você sabe como a equipe se importa com essas coisas. Se você quer tomar o lugar de capitã dela, você
deve pelo menos aparecer.
Eu fungo. — Eu não tenho que fazer nada. — Mas então eu dou de ombros. — Ah, tanto faz. Eu
vou. Com certeza mais pessoas vão se souberem que nós vamos, e Laurel esteve choramingando
porque está querendo que eu vá.
Depois disso, eu olho para a lanchonete. Laurel, minha irmã adotiva, está encostada na janela,
repetindo o nosso pedido com a sobrancelha franzida em concentração. Nós havíamos lhe dado uma
tonelada de coisas para lembrar — o pão tinha que ser a especialidade do clube, uma variedade sem
glúten e a salada de frutas só pode conter uvas, abacaxi e carambola — sem melão ou morangos.
Tenho certeza de que ela acha que é um teste, mas eu só queria alguns minutos extras de privacidade
para que pudéssemos conversar sobre as brincadeiras do Jogo da Mentira. Laurel praticamente
inventou a palavra parasita. Ela estava tão emocionada que eu relutantemente disse que hoje ela
poderia se juntar a nós na piscina, então ela imediatamente postou como seu status no Facebook.
Acho que várias garotas ficariam encantadas que suas irmãs mais novas as admirassem tanto, mas
para mim, é um pouco sufocante.
A voz animada de Madeline interrompe meus pensamentos. — Então está resolvido. Nós
vamos. A festa de Nisha será idiota, mas vamos torná-la divertida.
— Tudo bem, ótimo. — Eu agito a mão na frente do meu rosto. — Nós vamos para a casa de
Nisha. Vai ser tipo serviço comunitário. Mas muito mais importante do que isso é a brincadeira de
inauguração do Jogo da Mentira. — Eu tamborilo minhas unhas com desenho de melancia nas pontas
contra o braço de ferro da minha espreguiçadeira. — Quem vai ser o alvo? — Eu sorrio
maliciosamente na direção de Charlotte. — Garrett?
Charlotte aperta sua boca em uma linha, com as bochechas ficando vermelhas como seu cabelo.
— Não se atreva, Sutton.
— Ok, ok — eu digo, decidindo pegar leve com ela. Garrett, afinal, é o primeiro Grande
Namorado de Char.
— Que tal os não-namorados? — Madeline sugere. — Um garoto nojento, um senhor-malvado-
desprezível-idiota?
Eu levanto minha sobrancelha. — Estamos falando de um certo salva-vidas, Mads? — Eu olho
para Finn Hadley, o menino bronzeado, musculoso e loiro-do-sol no topo do posto salva-vidas perto
da piscina. Finn era a provável aventura de verão de Mads, e ele também parecia estar a fim dela,
mandando mensagens para ela regularmente, colocando o braço ao redor dela sempre que ele a via,
até mesmo dando a ela coisas da lanchonete. Mas, então, pegamos ele em uma... aula particular com
uma babá de folga nas quadras de tênis horas depois, há uma semana atrás. Isso dizia o suficiente.
— Não é uma má ideia — eu digo, estreitando os olhos para Finn. Eu não posso deixar os caras
por aí pensando que podem mexer com as minhas amigas. Especialmente trocá-las por babás cuja
ideia de estilo pessoal é a imitação do atual Keds.
— Mas eu ainda acho que ele não é um alvo grande o suficiente — eu digo depois de um
momento. Eu dou um tapinha na perna de Mads. — Que tal isso, nós o denunciamos dizendo à
gerência que ele fuma maconha em serviço?
Mads ergueu sua cabeça. — Colocar maconha no armário dele?
— Era isso o que eu estava pensando — eu digo, batendo minha palma da mão na dela.
Char faz uma careta. — Mas pessoal, isso é uma repetição. Fizemos isso com Dave Jaffrey na
primavera passada.
— Sim, mas... — Eu paro de falar, o meu olhar vai até alguém do outro lado da piscina. Ele é
alto, com cabelo escuro, ombros de Beckham e parecido com Ian Somerhalder. Seu torso é bronzeado
e ondulado com os músculos, e seu andar tranquilo é completamente impossível de ignorar — cada
menina que passa dá a ele um olhar apreciativo, e ele leva um tempo para cumprimentar um bom
número delas. Minha veia competitiva desperta dentro de mim. Esse cara pode ser um candidato
para mim para uma aventura de verão, mesmo que o verão esteja quase no fim — eu estive pesando
minhas opções por um tempo. Por um segundo na semana passada, Aidan Grove, um jogador de
lacrosse que esteve a fim de mim desde a sétima série, parecia um ótimo candidato porque eu sou
louca por panturrilha. Mas agora, eu não tenho tanta certeza. O Sr. Vampire Diaries acabou de tomar a
liderança.
Eu jogo meu rabo de cavalo baixo e brilhante sobre um ombro enquanto casualmente empurro
meus óculos de sol no meu nariz como intimidação de fator máximo. Para minha alegria, ele está
caminhando. Eu inclino meu corpo e coloco minha mão em um quadril bronzeado e nu. Ele está
vindo na minha direção. E agora ele está parando. Quem adivinharia que seria tão fácil?
— Ei, Sutton. Como vai? — o menino diz, oferecendo um sorriso sociável. Então ele olha para a
esquerda. — Ei, Char. Ei, Mads — ele diz depois de um tempo.
— Ei — Char diz, parecendo entediada. Mas eu estou confusa. Como é que esse cara sabe o meu
nome, todos os nossos nomes? E então, quando eu olho para ele, eu me dou conta. Meu queixo quase
cai. Mas... espera aí. De jeito algum. Esse não pode ser...
— Ei, Thayer — Mads diz, como se estivesse respondendo meus pensamentos.
É o irmão mais novo de Madeline.
Eu mexo com meus óculos escuros para disfarçar o meu choque. Eu tinha esquecido que o
irmão caçula de Mads, que eu nunca tinha prestado atenção antes, havia retornado do acampamento
de futebol na noite passada. Com o que diabos alimentaram ele lá? Esse era mesmo o garoto magro
que eu nunca conversei?
Thayer ainda está olhando para mim. — Descobrindo um monte de coisas boas sobre Will e
Kate, Sutton?
Por um momento, a minha mente está em branco — eu não tenho ideia do que ele está falando.
Então eu olho para a Us Weekly ainda virada no meu colo. Na capa está o casal da realeza em um
baile. — O-oh — eu digo pausadamente, como se eu nunca tivesse falado com um garoto na minha
vida. Eu posso sentir o rubor subindo para minhas bochechas. — Hum...
Thayer sorri, talvez sabendo que fez a minha língua ficar presa. Antes do acampamento de
futebol, ele nunca faria algo assim. Mas, entretanto, isso era quando ele tinha ombros usuais com
porte de calouro, olhos que nunca se preocupavam em realmente olhar, e, bem, não tinha voz. Eu não
consigo nem lembrar a nossa última conversa. Foi, provavelmente, quando ele foi ver Laurel, que tem
sido a melhor amiga dele por eras. Toda vez que eu atendia a porta em vez dela, o rosto dele ficava
roxo, e ele tropeçava nas palavras assim como eu estou fazendo agora.
Se recomponha, Sutton, eu digo a mim mesma, me endireitando. Os garotos dão em cima de mim,
e não o contrário.
Eu tiro a revista da minha barriga e ofereço a Thayer. — Você quer? Eu lembro o quão louco
você era pelas antigas edições da People de Mads.
Thayer cora. — Era apenas as edições sobre os nadadores olímpicos.
Eu riu e cutuco a panturrilha dele — o que devo acrescentar, é ainda mais sexy do que a de
Aidan. — Apenas admita. Você amava as fofocas das celebridades.
Thayer sorri e me cutuca de volta. — Eu não.
— Você sim! — eu digo, cutucando-o com o pé. As pernas de Thayer são super duras. Isso está
começando a ficar divertido.
— Ei pessoal — uma voz diz a alguns metros de distância. Quando eu olho para cima, Laurel
está lá com uma caixa de papelão da lanchonete nas mãos. Está cheia com refrigerantes, porém,
nenhum dos itens estranhos que pedimos. — Eles não têm pão sem glúten. Eles nunca tiveram pão
sem glúten.
— Sério? — Eu pisco inocentemente. — Eu jurava que tinha alguns na última vez que estive
aqui.
— Sim — Char concorda. — Era muito delicioso.
— E carambola? — Laurel estica seu lábio em um beicinho. — Eles riram de mim quando eu
pedi. Eles nem sequer sabiam do que eu estava falando!
Eu não consigo evitar de explodir em gargalhadas. Char faz o mesmo, e depois Mads, e nós três
de repente estamos rindo descontrolavelmente. Laurel está acima de nós parecendo desamparada. Ela
se vira para Thayer com uma expressão de olhos de coelho que ela sempre faz quando está com ele.
Laurel sempre teve uma queda por Thayer. — Elas me enganaram — ela se queixa.
A expressão brincalhona e de paquera de Thayer muda para uma de aborrecimento. Ele balança
a cabeça. — Vocês são horríveis. Quando é que vocês vão crescer?
Ele diz em voz alta, de modo que toda a piscina consegue ouvir. Nem um suspiro se ouve no
meio da multidão. Todos se viram e olham fixamente. Mads pisca como se tivesse sido esbofeteada.
Charlotte levanta as sobrancelhas. Eu tento ao máximo não alterar a minha expressão, mas é quase
impossível. Antes que qualquer uma de nós pudesse dizer qualquer coisa, Thayer acena com sua mão
em desdém, engancha seu braço no de Laurel e vai em direção à prancha.
Depois de um momento, todos da piscina voltam ao que estavam fazendo. Mas nem eu nem
minhas amigas conseguimos falar. Uma coisa é eu rebaixar elas duas, e, ocasionalmente, quando ela
está se sentindo mal-humorada, Char até mesmo dá umas boas alfinetadas em mim que eu deixo
passar. Mas um irmão mais novo de alguém sacaneando a gente? Nem um pouco legal.
Finalmente, Charlotte pousa o copo. — O que o seu irmão tem, Mads?
Madeline balança a cabeça. — Ele foi eleito o jogador de destaque do acampamento de futebol.
Eu acho que ele pensa que é alguma coisa agora. — Ela faz uma careta.
— Ele é alguma outra coisa, certamente — murmuro. Eu tento soar aborrecida, o que eu estou, é
claro. Mas eu sinto algumas outras coisas também. Coisas que eu não queria admitir para mim
mesma. Provavelmente deve ser o sol. Talvez alguém tenha batizado a minha bebida. Mas enquanto
eu observo Thayer se afastando com Laurel, sorrindo preguiçosamente para cada menina em seu
caminho, eu sinto os distintos ruídos de uma emoção que não me atinge há um longo, longo tempo.
Ciúme.
2 PRONTA PARA UM DESAFIO,
DESPREPARADA PARA A AÇÃO
qui está uma coisa sobre mim e festas: mesmo as que eu não quero ir eu tenho que ir gostosa.
Como a garota mais bonita de lá — é assim que eu mantenho meu status, afinal. Mas no
domingo, enquanto Mads e eu vasculhamos as prateleiras da Jolie, nossa loja favorita, as
opções são tão escassas que eu estou pensando em roubar um ou dois lenços Missoni em protesto.
O lugar também está lotado, então talvez tenha algo a ver com isso. Nós três estamos frustradas
— Madeline está em sua segunda caminhada pelo chão, e Charlotte está presa em uma briga no
vestiário por um minivestido amarelo de seda com mangas de fenda Elizabeth and James. Eu olho
uma linha de frascos de esmaltes coloridos Butter sobre uma mesa com vitrine de vidro. O turquesa
tem chances. Uma morena desajeitada em um vestido verde-limão e sandálias gladiador parece estar
considerando se aproximar da vitrine, mas um olhar meu manda ela de volta para a parede ao invés.
Eu habilmente deslizo o esmalte turquesa da mesa para dentro da minha bolsa cinza Miu Miu.
Feito. Ninguém sequer olhou na minha direção.
— Ugh — Madeline geme atrás de mim.
Eu me viro para encará-la como se nada estivesse errado. — O que foi? — eu pergunto,
sondando a loja por algo que cairia bem com a minha nova conquista. Filas de tops pastéis
pendurados em prateleiras balançavam como massas de suspiros.
— Thayer — Madeline diz.
Eu endureço um pouco. — O que o seu irmãozinho fez agora? — eu pergunto, procurando
preguiçosamente através de um monte de pulseiras.
— Ele mandou uma mensagem perguntando se eu iria para a festa de Nisha — Madeline diz
com uma voz horrorizada como se ele tivesse acabado de mandar uma mensagem perguntando se ela
estava planejando raspar a cabeça. — Você acredita nisso?
Char, que tinha acabado de sair do vestiário com o vestido amarelo pendurado no braço, estava
boquiaberta. — Mas ele é apenas um estudante do segundo ano!
— Fala sério. — Madeline balança a cabeça para o seu celular como se Thayer pudesse vê-la.
— Espere, ele perguntou se você iria como se você ainda não tivesse sido convidada? — eu falo
precipitadamente.
Madeline concorda. — Como se ele fosse o popular, e não eu. — Então, ela aponta para uma
pulseira que eu peguei da mesa. — Eu amei essa.
— Ela é sua. — Eu pisco para ela, e ela arregala seus olhos, sorrindo, sabendo o que eu vou
fazer. Mas minha mente não está realmente no roubo. Está no Thayer 2.0. Quem é esse cara?
Espontaneamente, a imagem do abdome esculpido e panturrilhas definidas flutuam em minha mente.
Eu me obrigo a afastá-la.
— Ele definitivamente acha que é o cara desde que voltou do acampamento de futebol, não é? —
eu digo. — Como se ele fosse o único garoto que já jogou um esporte antes.
Madeline revira os olhos. — Thayer teve algum tipo de transformação louca enquanto estava
fora. De repente ele acha que é um deus do sexo ou algo assim. Aparentemente, ele tinha uma
A
namorada séria, enquanto esteve lá. Ela estava super a fim dele, e agora ela não para de ligar. Ele
alega que ela está perseguindo ele.
— Até parece — diz Charlotte enquanto vai em direção ao caixa. — Eu tenho certeza que ele
não se importa de estar sendo perseguido.
Eu sorrio, mas eu não estou tão certa sobre isso. Thayer costumava ser tão tranquilo, pelo
menos é o que eu achava dele. Mas está começando a parecer que eu tinha uma opinião totalmente
errada sobre Thayer.
Charlotte se contorce em torno das prateleiras, arranca um conjunto de sutiã e calcinha La Perla
e adiciona a sua pilha.
— La Perla? — Os cantos da minha boca se contraem. — Planejando uma noite picante com
Garrett?
As bochechas de Charlotte ficam um rosa brilhante, mas ela não nega. Enquanto a vendedora
registra a venda, eu deslizo a pulseira na minha manga, fácil desse jeito. Então eu olho para Madeline.
— Thayer está a fim da Garota Perseguidora, então? — Eu tento parecer indiferente, como se eu
realmente não me importasse.
Madeline se inclina contra o balcão. — Eu não sei qual foi o lance deles nesse verão, mas eu
definitivamente não acho que ele esteja a fim dela mais — diz ela, olhando para mim. —
Honestamente? Eu acho que ele pode ter uma queda por você, Sutton.
Eu sinto um pequeno agito inesperado no meu estômago. Então eu congelo, tentando suprimir
a minha reação. — Ah, que bonitinho — eu digo brincando. — Mas Sutton Mercer não fica com caras
mais jovens. Thayer deveria saber disso.
Minhas amigas acenam com a cabeça e viram as costas, mas meu coração está acelerado. Sim, eu
sei que Thayer gostava de mim antes, mas de repente ele parece diferente. Só que, eu estou louca?
Thayer pode estar gostoso agora, mas... ele ainda é Thayer. O irmão mais novo de Madeline. O
melhor amigo de Laurel. Quieto. Sensível. O oposto de mim. Thayer, o cara que passava horas na
nossa casa nos fins de semana, jogando cartas — cartas! — com a idiota da Laurel, o cara que
espreitava de noite o nosso galpão do quintal que nós fingíamos que era um clube. Ele é uma criança.
Não é do meu grupo.
Ainda assim, um nebuloso flash de memória passou em minha mente: no verão passado,
Thayer e Laurel passaram pela cozinha enquanto eu estava sentada na nossa mesa redonda de
carvalho mexendo no meu iPad. Eu mal olhei para eles quando Laurel abriu a geladeira e pegou uma
jarra de chá gelado. Mas isso não a impediu de se aproximar de mim animadamente. Seu rabo de
cavalo balançava como o pêndulo de um relógio.
— Quer um pouco? — ela ofereceu, esperançosa e alegre. Eu mal murmurei um agradecimento,
ignorando a expressão magoada dela. Eu senti Thayer me observando, mas isso só me irritava na
época. Quando eu olhei para cima, seus olhos cor de avelã estavam sobre mim, como se ele pudesse
saber o que eu estava pensando e estivesse decepcionado.
— O que foi? — eu falei abruptamente.
Seus lábios tremeram, e ele se virou em silêncio. Eu olhei para ele, enquanto ele e Laurel iam
para fora em direção ao clube, me perguntando o que aquele olhar significava. Ele pensava que eu
deveria ser mais legal ou algo assim? Quem era ele para me dizer o que fazer? E por que, acima de
tudo, eu ligava para o que ele pensava de mim? Mas o olhar ficou cravado na minha mente por dias.
Talvez não seja de hoje que Thayer desafiava a minha autoridade.
O som da caixa registradora abrindo me traz de volta à Jolie. Eu dou de ombros, afastando o
momento para longe de mim como uma toalha usada. A vendedora entrega a Charlotte sua sacola de
compras com as bordas cheias. Charlotte sorri e nós caminhamos para a saída. De repente, ela para no
meio do caminho com um sorriso lento se espalhando por todo o seu rosto.
— Pessoal, eu tive a melhor ideia do mundo — ela diz.
Madeline e eu olhamos para ela, e ela se inclina em conspiração.
— E se nós fizermos uma brincadeira com Thayer? — Seus olhos brilham. — Para o Jogo da
Mentira.
A boca de Madeline se vira para cima nos cantos em diversão. — Como? — ela pergunta,
acenando com a mão em um gesto de eu estou ouvindo.
Charlotte passa sua mão livre pelos seus cachos castanho-avermelhados. — Então, Sutton nunca
sairia com Thayer, certo?
— Certo — eu digo rapidamente. Talvez rápido demais.
— Bem, e se nós fizermos parecer que ela gosta dele? Sutton finge que está a fim dele, e então,
quando ele cair de joelhos declarando amor eterno, de preferência em um ambiente altamente público,
nós aparecemos e surpreendemos ele, dizendo que era uma grande brincadeira! — Ela praticamente
salta sobre os calcanhares de excitação.
Madeline morde o lábio, ponderando. — Isso definitivamente vai baixar a bola dele — ela
concorda. — O que ele merece, especialmente depois de falar conosco daquele jeito na piscina. —
Seus olhos brilham quando ela se entusiasma com o plano. — Eu gostei. Mas e você, Sutton? Você
quer fazer isso? Você acha que poderia enganar Thayer?
Eu arqueio uma sobrancelha para ela. — Com quem você pensa que está falando? — É uma
pergunta boba. Enganar caras inocentes é um pré-requisito do Jogo da Mentira. E eu faço isso melhor
do que todos. — Mas ele é seu irmão — eu continuo, considerando. — Tem certeza de que quer
magoá-lo tanto assim?
Madeline põe as mãos nos quadris estreitos. — Olha, você não precisa exterminar ele duzentos
por cento ou qualquer coisa assim, mas... sim. Ele merece. Você viu como ele ficou convencido
recentemente. E isso está me irritando, está deixando o meu pai louco, também.
Seus olhos escurecem, e ela se vira. Char e eu trocamos um olhar. Nós todas sabemos sobre o
temperamento do Sr. Vega, que parece se enfurecer por razões estúpidas. Eu não gostaria de ver o
lado ruim daquele homem.
Nós percorrermos a saída da loja até o calor escaldante de agosto de Tucson. Eu levanto o meu
braço e ofereço a vendedora um aceno, a pulseira cai da minha manga e desce até o meu pulso. Ela
sorri de volta, preocupada, com o cabelo loiro escuro caindo em uma cortina brilhante sobre os
ombros.
Me sentindo triunfante, eu me viro para as meninas. — Eu topo — eu decido. — Eu estou
sempre pronta para um desafio.
3 JOGO LIMPO
aquela noite, as minhas duas amigas e eu estamos andando pelas ruas da anual Feira de Verão
do Condado de Pima, no lado oeste da cidade. Mosquitos, abundantes por causa desse verão
particularmente quente e temporada de monções, voam ao nosso redor, e vagalumes cintilam.
O cheiro de bolo de funil se agarra a nossas roupas e nos deixa de água na boca, mesmo que não nos
atrevêssemos a pedir um. Quando a barca à nossa esquerda começa a balançar, os passageiros
começam a gritar entusiasmados. Você nunca me veria numa coisa dessas. Minha mãe sempre dizia
que os brinquedos da Feira do Condado são colados por chicletes, fitas adesivas e entre outras coisas.
Charlotte vem da cabine de algodão doce com um algodão doce rosa em sua mão. — Oh meu
Deus, vocês viram o cara do carrinho de algodão doce? Eu acho que ele só tinha, tipo, três dentes.
Eu dou ao cara magricela uma piscada, e Charlotte praticamente exala algodão doce pelo nariz.
— Que nojo — diz Madeline mais para Char do que para O Cara do Algodão Doce. Ela ri e
entrega a Charlotte um guardanapo. Mas seu queixo está todo pegajoso, e pequenos pedaços de papel
ficam presos lá, fazendo-a parecer ainda mais ridícula. Nós desmoronamos em gargalhadas, rindo
tanto que temos que nos segurar uma na outra para ficarmos de pé. Os fluxos da multidão em torno
de nós nos dão olhares estranho, mas nós não nos importamos.
— Qual é a próxima coisa da nossa agenda? — eu pergunto, finalmente me endireitando e
puxando a barra da minha camiseta de tecido Ella Moss.
Mads olha em volta. — Gabby e Lili querem nos encontrar perto do Skee-Ball. Aparentemente
Gabby está arrasando.
Ela coloca a tela do iPhone dela no meu rosto para que eu possa ver a Twitpic mais recente
delas.
— Essa foto poderia ser de qualquer outra coisa — eu zombo. — Eu preciso de uma
confirmação visual.
— Então vamos. — Mads engancha seus braços com cada uma de nós, radiante com
contentamento, e voltamos para a competição.
A feira está repleta de pessoas. Nós só andamos cerca de três metros de volta para o caminho
sujo entre as barracas, quando colidimos diretamente com Laurel.
— Ei! — Laurel diz ansiosa. Seus pés pisam diretamente nas minhas novíssimas sapatilhas de
balé bicudas Vince Camuto, e eu encaro ela.
— Eu pensei que tínhamos te dispensado na porta de entrada — eu falo rudemente. Eu não
consegui me livrar de trazer Laurel, mas Mads, Charlotte e eu nos afastamos dela no segundo em que
ela estava distraída com alguém da classe dela.
Uma expressão magoada atravessa o rosto dela, e eu me afasto. Às vezes eu me pergunto se eu
sou muito má com Laurel. Nós, na verdade, costumávamos ser amigas, mas então nós apenas... nos
afastamos. Isso acontece. Além disso, eu acho que no fundo, eu tenho um pouco de raiva dela. Laurel
é a filha biológica dos meus pais, a criança que eles acharam que nunca poderiam ter. Eu sempre tive
medo de que eles a amassem mais, mesmo que seja um pouquinho.
Laurel empurra os cabelos por cima dos ombros. — Eu acabei de ver Aidan Grove no Skee-Ball.
Ele perguntou se você estaria aqui essa noite — ela relata, parecendo orgulhosa de si mesma. — Eu
N
disse a ele que você estaria. — Ela me lembra um cachorrinho querendo uma recompensa por sentar
direito ou rolar.
— Ele está caidinho — Charlotte concorda. Ela não se preocupa em tirar o olhar do celular, o
qual ela está mandando mensagens furiosamente enquanto mal manobra a multidão de corpos
passando por nós por todos os lados. A mão dela é empurrada e ela grunhe um protesto. — Auto
correção estúpida! — Ela suspira de novo, mas os olhos dela brilham com entusiasmo. — Garrett
acabou de chegar. Oh! Lá está ele!
Ela avista uma pessoa caminhando no meio da multidão e começa a acenar. Todas nós torcemos
o pescoço para ver Garrett vindo em nossa direção. Ele tem cabelo repicado, maçãs do rosto salientes
e olhos pequenos e intensos que parecem estar sempre apertados — mas de um jeito bonito.
Madeline cutuca Charlotte, cujas faces estão cor de rosa de felicidade. — Está tudo bem para
Garrett você ter vindo com a gente para a feira ao invés de sair com ele? — ela pergunta.
Charlotte balança a cabeça parecendo envergonhada. — Aham.
— Por que você não veio com ele? — Laurel pergunta.
— Sutton me disse que quando se trata de garotos, nós temos que ser superiores em todos os
momentos. O que significa deixá-los querendo mais.
— E...? — eu incito-a.
— E você estava certa — Charlotte admite.
— Exatamente — eu digo. — Eu sempre estou certa sobre esse tipo de coisa.
— Ei — Garrett diz quando se junta a nós. Ele coloca o braço em volta dos ombros de Charlotte
e lhe dá um beijo na bochecha. Charlotte parece estar prestes a desmaiar. Então Garrett acena para o
resto de nós. — Para onde vocês vão?
— Skee-Ball — eu anuncio.
Garrett torce a boca. — Sutton quem manda, hein?
— Geralmente é dessa forma que funciona — Madeline responde, encolhendo os ombros.
Nós vamos ao jogo Skee-Ball, onde a multidão é mais espessa do que nunca. Há barulho de
bolas duras saltando através das metas, o que são recebidos por um rugido de vaias, assobios e gritos
entusiasmados. Mads e eu trocamos um olhar. Alguém claramente está em uma rodada. Essa
multidão toda é por causa de Gabby?
Mas, então, uma nuvem de Trident de Wintermint me rodeia, e eu ouço a voz esganiçada de
Gabby no meu ouvido. — Oh meu Deus, Sutton! — Ela me aperta em um abraço exagerado. — Você
perdeu completamente o meu momento de vitória!
Eu libero meus braços do torso dela, atirando a Mads um rolar de olhos. — Parece que estamos
aqui justamente na hora da verdadeira emoção, no entanto.
— É Thayer — grita Laurel, observando a cena e sorrindo. Ela se levanta na ponta dos pés para
dar uma olhada melhor. — Ele está ganhando!
Eu franzo a testa. Tem que ser outra pessoa. No ano passado, Laurel costumava sempre
reclamar que ela e Thayer nunca foram a um show bom porque ele não conseguia lidar com
multidões. E nem pensar em coisas como shows de talentos e batalha de bandas — embora nós, às
vezes, ouvíamos através das paredes Thayer tocar sua guitarra na casa de Mads, ele nunca iria a um
palco se apresentar na frente de muitas pessoas. Madeline costumava dizer que em vez de ter
distúrbio do déficit de atenção, ele tinha terror de atenção.
Eu empurro Laurel para o lado e me aproximo, focalizando a máquina de Skee-Ball, assim que
uma bola desaparece diretamente no buraco de maior pontuação. O placar se acende e a multidão
aplaude. Eu sigo a trajetória da bola de baixo para cima até um braço excepcionalmente gracioso e
bem musculoso usando uma camiseta cinza... uma camiseta que cobre seu torso esculpido de no
mínimo um candidato mais provável para o status de deus do rock da Hollier High que já vi...
Uau.
Thayer graciosamente pega outra bola de prata e atira no buraco. Bingo Bingo Bingo, outro
recorde. Ele se vira para a saudação da multidão.
Alguém certamente superou a timidez.
Char me cutuca. — Olha só a número um do fã clube dele.
Ela aponta para Nisha Banerjee, minha rival do tênis, que está colada ao lado de Thayer. Ela dá
uma mordida num cone de neve de arco-íris que mancha seus lábios em um roxo profundo. Ela
encontra meus olhos do outro lado da multidão e faz cara feia, mas eu afasto o meu olhar friamente.
Por causa da expressão presunçosa de Nisha, é claro. E porque ela não se curva a mim como ela
deveria. E por ela ser uma jogadora de tênis ridiculamente boa, e eu odeio ter competição. Não é
porque ela está de pé ao lado de Thayer. Eu não me importo com isso.
Thayer derruba outra bola no buraco de 50 pontos, e a multidão ruge mais uma vez. Lili me
cutuca. — Há rumores de que ele está tentando ganhar um desses brinquedos enormes para alguém.
— Ela aponta para os bonecos de pelúcia gordos parecendo enormes em uma prateleira frágil de
prêmios superlotada na parte de trás da cabine. Tem um Scooby-Doo, um Linguado de A Pequena
Sereia, um Snoopy, e um bebê cabeçudo, Stewie, de Family Guy. — Tem que chegar a mil pontos para
ganhar um, entretanto.
— Para Nisha? — Laurel diz, soando magoada.
— Talvez — Gabby gorjeia.
— Sério? — O pensamento queima como bile no fundo da minha garganta. De jeito nenhum ele
gosta dela. Certo?
Laurel olha para mim, então olha para o Scooby. — Oh meu Deus, lembra, Sutton? Scooby-
Dooby-Doo! — Ela diz com a voz de pateta do Scooby, balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Há alguns anos atrás? Você tentou ganhá-lo, também!
Eu me dirijo bruscamente para longe dela. — Não, eu não lembro. — Ela tinha que falar isso tão
alto? Eu odeio quando minha irmã diz coisas idiotas do meu passado. Ok, ok, sim, eu costumava
realmente gostar do Scooby-Doo. Quando Laurel e eu éramos mais jovens — quando éramos
realmente amigas — uma vez eu joguei Skee-Ball como Thayer está fazendo agora, determinada a
conseguir o Scooby para mim. Eu não cheguei remotamente perto, no entanto.
Eu dou um grande passo para longe de Laurel, indicando que eu quero deixar isso pra lá, agora.
Madeline está sacudindo a cabeça enquanto Thayer levanta seu punho em um gesto bobo de vitória.
— Meu irmão precisa seriamente voltar a ser ele mesmo — ela fala rispidamente.
De repente, Thayer olha para mim. Eu aperto meus olhos, mas ele não parece notar. Os cantos
de sua boca se espalham em um sorriso enorme e lindo. E então ele pisca.
Uma onda de algo passa por mim, mas eu me viro, fingindo estar com raiva. — Sim — eu digo
para Madeline. — Definitivamente.
4 PULGAS E OBRIGADA?
ma hora mais tarde, Madeline, Charlotte, Garrett e eu estamos sentados em uma mesa de
piquenique fora do estande frágil de pretzel, onde estamos devorando pretzels quentes
salpicados de canela, açúcar e manteiga. Algumas coisas valem a pena as calorias. O cheiro forte
de fumaça de churrasco enche o ar, e grilos gorjeiam em um ritmo calmo. Um bebê quase cai quando
passa por nós segurando um balão de poliéster. Assim que eu me pergunto a quem ele pertence, uma
mulher de aparência cansada, com um sorriso cansado rapidamente corre atrás dele com uma bolsa
de lona estofada batendo contra seu quadril à medida que ela anda. O ar está frio e seco contra a
minha pele, e apesar das multidões ao nosso redor estarem agitadas com energia, eu me sinto
relaxada e feliz. Eu mordo avidamente o meu pretzel, empurrando-o com uma limonada azeda e
gelada.
Char pressiona a parte lateral do seu corpo na de Garrett e solta um suspiro feliz. Eles estão
compartilhando um sundae cheio de calda quente de chocolate e chantilly. Char não deveria ingerir
tantas calorias e ela sabe disso — mas como eu disse, ela come quando está feliz. Eu considero se
devo falar isso, mas depois percebo que seria muito cruel fazer isso na frente do namorado dela, até
mesmo para mim.
De repente, Garrett se inclina sobre a mesa enquanto olha para o meu pretzel. — Posso dar uma
mordida?
Concordo com a cabeça, tomando mais um gole da limonada. — Vá em frente.
Ele chega perto do pretzel. Quando ele se aproxima, sua mão roça a minha.
Eu endureço um pouco. Isso foi... intencional? Algo no toque fugaz de Garrett pareceu um
pouco com... flerte.
Um sentimento de Mamãe Urso inflama dentro de mim... ao lado de uma pequena e presunçosa
centelha de satisfação. Eu não tenho orgulho disso, mas ela está lá. Talvez tenha a ver com eu ter sido
dada para adoção quando era pequena, mas é bom ser desejada.
O sentimento de proteção ganha, e eu olho para Charlotte, mas ela está absorta em uma
narrativa de Madeline sobre ter encontrado mais cedo uma garota em sua aula de balé vomitando
atrás de um banheiro portátil. Quanto a Garrett, ele está lambendo os dedos e olhando para algo em
seu celular.
Eu me viro para Madeline, que está terminando sua história. — Eu acho que é o que acontece
quando a única coisa que você “come” o dia todo é uma Coca Diet extra grande, e com álcool! — Ela
gargalha, seu coque balança de um lado para o outro em cima de sua cabeça enquanto ela ri. — Essa
vadia faz o pior battement1 da aula — ela conclui com um gole ruidoso da sua própria limonada.
Eu me inclino para a frente para interromper quando, do outro lado da mesa, os olhos de
Charlotte se arregalam em alguma coisa sobre o meu ombro. — Hum, olá, Scooby-Doo! — A voz dela
está com um toque de surpresa.
Eu me viro no banco e encontro a minha irmã com Thayer e um gigante Scooby a reboque.
Laurel está olhando para ele, e ri quando ele ajusta o animal de pelúcia enorme contra o quadril.
1 Battement: Um movimento de balé em que o atleta executa um chute alto para frente, lados ou para trás.
u
Eu reprimo um sorriso. Há algo de absurdo vendo o forte e musculoso Thayer carregando um
cão de pelúcia de desenho animado que é praticamente tão grande quanto ele. E eu fico com ciúmes
por Thayer ter ganho ele. Aquele cachorro era para ser meu.
— Eu acho que você não estava brincando sobre o desejo de ganhar essa coisa — diz Madeline,
brincando com o canudo.
— Bem, eu posso ser muito determinado quando eu quero alguma coisa — ele diz, dando de
ombros.
Debaixo da mesa, Mads me cutuca. Ouve só essa.
Todos os três — Thayer, Laurel e Scooby — sentam na outra extremidade da mesa. — Nisha
ficou chateada por você não ter dado o Scooby a ela, sabe — Laurel diz a Thayer, sacudindo a cabeça.
— Ela estava em cima de você o tempo inteiro que você jogou.
O rosto de Thayer se abre em um sorriso fácil e arrogante. — Sim, bem. Você pode culpá-la?
Eu reviro os olhos para Madeline.
— Então, para quem você vai dar ele, cara? — Garrett pergunta.
Há uma longa pausa. Thayer aperta suas mãos no topo da cabeça grande do Scooby. — Eu acho
que eu vou ter que escolher, hein?
Garrett gargalha alto. Madeline fica roxa. Charlotte me cutuca nesse momento, e eu belisco ela
de volta. A brincadeira começa agora.
Eu giro no banco de piquenique, dobrando um joelho no meu peito e inclinando a cabeça em
direção a Thayer. — O que você diria de uma aposta amigável? — eu pergunto, olhando-o
diretamente nos olhos.
Thayer arqueia a sobrancelha, intrigado. — O que você quer dizer?
— Eu te desafio para outro jogo de Skee-Ball, o vencedor leva o Scooby e outro bicho de pelúcia.
Eu também posso ser determinada quando eu quero algo. — Eu cubro minha voz com duplo
significado.
Thayer encolhe os ombros. — Bem, Laurel e eu iríamos jogar carros de bate-bate em seguida, na
verdade. Deixa para a próxima?
Eu abro minha boca, em seguida, fecho-a novamente. Não era para acontecer isso. Sabendo que
minhas amigas estão observando, eu decido fingir que não quis dizer nada com o meu desafio. Eu me
levanto, amasso meu guardanapo e prato de plástico usados e vou em direção à lata de lixo. — Tanto
faz.
Mas então, de repente, Thayer está agarrando minha mão. Seu aperto é surpreendentemente
quente e firme. Subitamente, eu fico instável em meus pés. — Sutton — ele diz, olhando
disfarçadamente para os outros no banco. Ele empurra o Scooby para mim. — Prometa que vai dar a
ele um bom lar.
Eu fico olhando para o animal de pelúcia agora em meus braços. Parte de mim está feliz. Thayer
jogou por horas para ganhar o Scooby. Mas, então, eu me sinto incomodada. Ele só está me dando o
Scooby por pena, por ele não ter aceitado a minha aposta?
— Lembra do ano que você tentou ganhar ele? — ele diz em voz baixa.
Eu pisco. É claro. Thayer já esteve na feira com Laurel e eu também — ele tinha estado tão
quieto que eu mal o tinha notado. Ele tentou ganhar o Scooby especificamente para mim? Meu
coração começa a bater um pouco mais rápido. Eu não posso acreditar que ele até se lembrou que eu
gostava do Scooby, depois de todos esses anos.
Mas, então, eu me sinto ridícula. — Eu não sei do que você está falando — eu digo.
— Sim, você sabe. — O olhar de Thayer é ininterrupto. — Eu sei que você se lembra, Sutton.
Você só está fingindo ser indiferente.
Inacreditável! O impulso de empurrar o Scooby de volta para Thayer surge dentro de mim, mas
com o canto do meu olho eu vejo Mads mostrando sutilmente para mim os polegares na mesa de
piquenique. Thayer me dar o Scooby é uma coisa boa. É o primeiro passo da nossa brincadeira do
Jogo da Mentira.
Eu viro o Scooby, desconfiada. — Essa coisa provavelmente deve estar cheia de pulgas.
— Eu tenho certeza de que ele está bem — diz Thayer, estendendo a mão e dando tapinhas na
cabeça do Scooby carinhosamente. — Então, você gostou dele?
Quando eu estendo a mão e cautelosamente coloco meu dedo na pata do Scooby, esfregando os
tufos do pêlo entre o polegar e o indicador, percebo que os meus dedos estão tremendo. Então eu
ergo meus ombros. — Você está disfarçando. Você só está me dando o Scooby porque você não quer
aceitar o meu desafio. Porque você sabe que teria perdido. — Eu pisco para ele, brincando.
Thayer ri e encontra o meu olhar. — Talvez — ele responde. — Ou talvez não. — E antes que eu
possa dizer outra palavra, ele pisca, e depois desaparece no meio da multidão com Laurel.
5 NADA COMO O PRESENTE
a tarde de segunda-feira, o Jogo da Mentira está tendo uma conversar oficial por mensagem
instantânea para verificar sobre todos os trabalhos atuais em andamento. Levamos nossas
brincadeiras muito a sério. Eu me inclino contra a cabeceira ornamentada da minha cama com
o laptop quente contra as minhas pernas.
Charlotte, cujo nome é RuivaSexxy, digita, Temos certeza de que uma brincadeira com Thayer é
suficiente para a nossa primeira brincadeira do ano?
MáfiaNoLagoDosCisnes, vulgo Mads, responde: Eu estava pensando a mesma coisa.
Mas agora que eu comecei a flertar com Thayer, eu não sei se quero parar. Nós temos que fazer
isso, eu, SuttondeAZ, respondo. Mas apenas como um favor para a minha BFF. Eu sei que Thayer está
incomodando você, Mads. Vamos pensar em algo maior para a grande brincadeira de volta às aulas.
MáfiaNoLagoDosCisnes: Obrigada, Sutton. Você está certa. E, ótimo trabalho com o Scooby ontem à
noite!
Assistam e aprendam, senhoritas, eu digo com indiferença. Mas estou feliz por minha webcam não
estar ligada agora, porque eu estou corando — e aconchegada ao lado do Scooby. Eu não quero que
minhas amigas vejam ele aqui e achem que eu realmente gosto de Thayer ou algo assim. É que ele é
tão aconchegante para dormir. E ele mal cheira a bolo de funil e cachorro-quente.
Nós ainda precisamos inventar a nossa brincadeira DE VERDADE então, eu digito, meus dedos com
as unhas feitas voando pelo teclado. Coloquem a cabeça para pensar!
Depois de um momento, uma imagem carrega na tela do chat: Charlotte, piscando com um
chapéu Eugenia Kim de palha e feltro inclinado em sua testa. Bonita. Essa é a visão dela de colocar a
cabeça para pensar. Ela parece um pouco com a Britney Spears pré-colapso #1.
Gostei, eu digito. Mas mantenham as ideias vindo. Nós temos uma reputação a defender.
Vou sair para ir ao balé, vadias. Eu declaro essa reunião do Jogo da Mentira oficialmente terminada,
Mads digita antes de sair.
Até mais, Char, eu digito, fecho meu laptop com força e saio da minha cama. Mesmo com as
janelas fechadas e o ar-condicionado ligado, eu ainda posso ouvir um farfalhar alto e insistente de
folhas zumbindo como uma motosserra lá fora.
Rangendo os dentes, eu ando em direção à janela e empurro as cortinas de lado. Sem duvida, do
outro lado da rua, um jardineiro assíduo usando um boné de beisebol azul deve estar ajeitando o
perímetro do gramado dos Donovan mais uma vez. O quintal deles não é tão grande assim, mas ele
não parece estar nem remotamente perto de terminar. Eu suspiro de frustração, considerando um
longo banho quente com meu esfoliante Fresh de lavanda, então eu vejo quem está espalhando as
folhas do jardim. Eu reconheceria esse emaranhado de cabelos escuros e brilhantes em qualquer
lugar.
Thayer.
Ele está na borda do quintal da frente, próximo as hedges cortadas cuidadosamente que
alinham o caminho da entrada da garagem da casa dos Donovans. Ele não está usando camisa, e os
braços fortes e definidos que ele estreou no country club no outro dia estão em plena exibição. De
onde eu estou, parece que eles estão recebendo uma boa malhação também.
N
Por um lado, um banho com esfoliante Fresh é delicioso. Por outro, não é como se eu fosse ser
capaz de realmente relaxar enquanto o espalhador de folhas está fazendo todo esse barulho do lado
de fora.
O terceiro motivo — e contanto que Thayer continue sem camisa, eu decido dar a mim mesma
tantos argumento quanto eu precisar — Thayer está lá fora. Implorando freneticamente para eu ir. É
como se o destino me entregasse um presente de Natal antecipado, envolvido em um papel de
presente brilhante e reluzente.
Que comece o jogo.
Leva apenas um minuto para eu bagunçar meu cabelo no espelho e passar um dos meus glosses
de lábios NARS favorito em um tom de pêssego. Algo me dizia que Thayer é o tipo de cara que
aprecia a aparência natural em uma menina. Eu sorrio para o meu reflexo e disparo um olhar rápido
para o Scooby na cama. Olhar para ele me dá um entusiasmo caloroso e uma dose dupla de confiança.
— Scooby-Dooby-Doo! — eu sussurro, então sorriu para mim mesma.
Entrar em contato com o calor de Tucson é como rastejar dentro de um forno, mas eu me
mantenho focada quando me aproximo de Thayer. Ele está agachado no chão agora, puxando uma
erva daninha particularmente teimosa.
— Oh, meu Deus — eu digo, surpresa soando em minha voz. — O que você está fazendo aqui?
Você trabalha para os Donovans? — Como se eu não tivesse espionado ele pela janela.
Thayer se vira, pousa suas tesouras e me avalia friamente. Baseado em sua expressão, eu sei que
ele compartilha da minha opinião de que meus shorts mostram a quantidade certa de pernas longas e
bronzeadas. Mas até mesmo isso não parece intimidá-lo muito.
— Não — ele responde, sorrindo com facilidade. — Eu trabalho para os paisagistas. Eles
trabalham para os Donovans. — Seus olhos brilham com malícia.
Eu inclino minha cabeça para baixo, oferecendo meu sorriso mais provocante. — Eu acho que
você tinha que encontrar alguma forma de se manter fora de problemas, agora que o acampamento
de futebol acabou. — Meu tom sugere que se meter em problemas é muito mais divertido do que a
alternativa, é claro.
— É. E eu acho que tenho um monte de energia em excesso para queimar, agora que eu não
estou fazendo exercícios todas as manhãs às cinco horas.
— Isso soa horrível — eu digo, fazendo uma careta enquanto amarro meu cabelo em um coque
frouxo e casual na minha nuca. Eu li em algum lugar que os caras amam quando as meninas mexem
em seus cabelos. — No acampamento de tênis eles nos deixavam dormir até às seis.
— Mimada — ele brinca.
— Normalmente eu costumo conseguir o que eu quero — eu digo.
Thayer encontra os meus olhos e com uma pequena distância passa por mim. — Foi o que eu
soube — ele diz. — Como está o Scooby, a propósito?
— Coberto de pulgas — eu respondo rapidamente, apenas uma ligeira hesitação em minha voz.
— Que pena — Thayer responde com tristeza fingida. Nós olhamos um para o outro por um
momento, cada um desafiando o outro a fazer o próximo movimento.
Uma erva daninha enorme farfalha no quintal dos Donovans, tirando-nos do concurso de
encarar. Thayer limpa a garganta. — De qualquer forma, não é um trabalho ruim, na verdade — ele
diz, apontando para o exuberante gramado largo e verde dos Donovans. — Eu gosto de estar fora.
Mas eu sinto falta da Califórnia. Temos que atravessar a estrada Pacific Coast Highway para chegar
ao acampamento.
— Nós já atravessamos também, um milhão de anos atrás, em uma viagem para a Disneylândia
para o aniversário de seis anos de Laurel — eu falo. Inesperadamente, a memória corre de volta para
mim: eu, com o cabelo com dois rabos de cavalo, balançando minhas pernas curtas contra o couro frio
do banco de trás do nosso velho sedã Audi, o nariz de Laurel pressionado contra a janela em busca de
um r para o jogo de placas. Eu já tinha visto um r, mas eu fingi que não. Eu estava deixando ela
vencer. Isso aconteceu quando nós gostávamos uma da outra.
Eu olho para Thayer. — Meu pai nos obrigou a parar em Gilroy, a...
— A Capital do Olho do Mundo! — Thayer interrompe, rindo. Ele passa a mão no cabelo,
tirando-o da testa com gotas de suor. — Nós também paramos lá. Com certeza valeu a pena a
demora.
Eu fico olhando para ele, me perguntando se ele está realmente falando sério. — Estávamos
prontas para matar o meu pai — eu digo. — Laurel e eu estávamos tão loucas para ver a Princesa
Jasmine pessoalmente, e ele queria parar por causa de um alho fedido? — Eu faço uma careta. — Ugh,
e você experimentou o sorvete de alho?
— Obviamente — ele diz, dando de ombros como se eu fosse a estranha dessa conversa. —
Como eu poderia não provar?
— Facilmente — eu digo. — Muito, muito facilmente. — E nós rimos.
Thayer cruza os braços sobre o peito. — Sabe, Sutton, eu aposto que você não é nem metade
mimada quanto você finge ser. — Ele franze a testa, como se considerasse, então concorda. — Eu
aposto que, sob certas circunstâncias, você é o tipo de garota aventureira que pensa que sorvete de
alho é para os fracos.
Eu sei que ele quer dizer isso como um elogio, mas eu tremo. O problema é, desde que eu era
pequena, eu tinha um segredo, um medo lá no fundo de que ter sido adotada significa que eu sou a
segunda melhor, e às vezes eu simplesmente exijo coisas para ver até onde eu posso pressionar as
pessoas para ver o quanto elas realmente se preocupam comigo. É estranho que Thayer pareça
entender isso, basicamente. Ninguém jamais adivinhou isso.
— Eu posso ser muito aventureira — eu admito. — Mas talvez não tão aventureira para tomar
um sorvete de alho. Todo mundo tem seus limites.
— Então, que tipo de sorvete você tomou? — Thayer pergunta. — De pimenta malagueta?
— Por que não? — Eu encolho os ombros. — Eu gosto de um pouco de tempero.
— E o de missô?
— Com certeza, eu amo sushi. — Eu aponto para ele. — O de presunto?
— Presunto? — Ele faz uma careta. — Não tenho certeza sobre isso.
Eu finjo choque. — Eu já cheguei no imperturbável, Thayer Vega?
— Talvez — diz Thayer, e ambos rimos. De repente, algo me impressiona: estar em pé aqui, na
frente do quintal dos Donovans conversando com Thayer como se ele fosse... um cara, parece tão
normal e natural. Mais do que isso, é divertido, e isso me enche com um sentimento brilhante que eu
não posso ignorar.
Mas, então, uma voz dentro de mim fala muito, muito alto: Isso é apenas uma brincadeira. Nada
mais.
Eu me endireito, ajeito meus shorts nos meus quadris, e limpo a garganta, de repente
desanimada. — Bem, eu deveria ir.
— Nós não queremos manter o seu público adorador te esperando — ironiza Thayer.
Eu mordo o meu lábio. — Não, definitivamente não. — Eu lanço meus olhos sobre o seu corpo
musculoso de novo, para dar uma boa avaliada. — Não trabalhe muito.
— Ok — ele me assegura. — De qualquer forma, eu vou te ver mais tarde.
Eu levanto as sobrancelhas, sentindo um movimento no meu peito. — Você vai?
Ele acena com a cabeça. — Eu vou sair com Laurel.
Mas é claro. — Legal — eu digo. Estou prestes a me virar e caminhar de volta para casa quando
Thayer se aproxima e coloca a mão no meu antebraço. O contato envia uma emoção diretamente em
mim. — Cuidado — ele diz, apontando para o ancinho que eu estava prestes a pisar.
— Certo — eu digo, recuperando o meu equilíbrio. Mas eu sinto que ele também quis dizer
cuidado com outra coisa. Cuidado, Sutton. Isso é mais do que você pode lidar.
6 ZEN E AGORA
respire...
É noite de terça-feira, e Alexis, a minha instrutora favorita de Prana Yoga, está se
movimentando pelo estúdio, seus pés com pedicure bem feita quase não fazem som
contra o assoalho de bambu claro e brilhoso. Seu anel de prata que está situado em torno do terceiro
dedo do pé esquerdo faz um pequeno clique a cada passo, mas é quase inaudível sobre a respiração
ujjayi forçada de Charlotte. Isso não parece muito yoga, e eu tenho que me conter para não beliscá-la
para ela se acalmar.
Om, eu me lembro. Respire. Eu me concentro nos cliques do anel do pé de Alexis batendo de
forma constante ao ritmo do código Morse e atraio minha concentração interior. Se eu conseguir
deixar a minha mente em branco, talvez eu pare de pensar no sorriso preguiçoso de Thayer. Ou no
jeito que ele tocou o meu braço antes de eu sair do quintal dos Donovans ontem. Ou em como ele
disse cuidado como se isso significasse algo. Ou o fato de que eu realmente dormi com o braço
dobrado em torno do Scooby na noite passada. E quando eu acordei às 02:00 e não achei ele, eu meio
que me apavorei um pouco. Ele só tinha caído no chão, mas, fala sério — quantos anos eu tenho? Eu
não tinha parado de dormir com brinquedos quando eu tinha três anos?
Eu dobro a perna direita até a minha coxa para ficar quase paralela ao chão, me inclinando mais
para baixo para a liberação dos músculos enquanto Alexis delicadamente cutuca o meu braço
estendido em frente, alinhando-o adequadamente. — Uma linha longa — ela me lembra, assentindo
quando eu me ajusto. Os cachos claros dela se sacodem enquanto ela analisa a postura de Madeline,
que é, naturalmente, uma postura perfeita de bailarina.
— Chaturanga para cima — Alexis entoa com a voz baixa e hipnótica como pneus de carro
esmagando cascalho. Madeline cai graciosamente como uma tábua firme e forte na minha esquerda,
enquanto na minha direita, Charlotte grunhe enquanto se abaixa para fazer a pose. Estamos todas de
volta para a posição cão para baixo, em seguida, de pé, e depois nos sacudimos por um momento e
arrastamos os nossos colchonetes pegajosos para a parede para plantar bananeira.
— Lembrem-se que plantar bananeira, como todas as inversões, o principal é a clareza.
Perspectiva — diz Alexis. Ela se ajoelha na frente do estúdio e liga um conjunto de velas de eucalipto,
em seguida, se levanta e escurece as luzes do teto. O quarto é banhado por uma luz suave, as velas
dão um cheiro fresco e limpo.
Clareza. Perspectiva. É uma coisa boa nós estarmos aqui, eu acho. Eu poderia usar ambos.
Thayer não apareceu para ver Laurel ontem. E o pior é que eu notei. E me importei.
O que tem de errado comigo?
Quero dizer, eu não posso realmente gostar de Thayer, posso? E eu definitivamente não posso
ser vista saindo com ele ou qualquer coisa assim. Eu tenho uma reputação a zelar. Ainda assim,
porém — pensando em ontem, a pele dele tocando a minha, as piadas indo e voltando, o jeito
confortável em que eu me senti ao redor dele, eu sinto os cabelos da parte de trás do meu pescoço se
arrepiarem.
Isto está errado. Só tem uma coisa que eu tenho que fazer.
-E...
Eu tenho que cancelar a brincadeira, enfiar os meus sentimentos em algum tipo de caixa de
bloqueio emocional antes de se tornar algo maior, e fingir que nada dessa insanidade aconteceu em
primeiro lugar.
Eu pressiono meus punhos firmemente no chão e envio toda a minha energia para as minhas
pernas, imaginando atirando-as para cima no céu. Mas depois o rosto de Thayer se materializa em
minha mente novamente. Eu estremeço e minhas pernas oscilam.
Há um baque suave ao meu lado quando Charlotte permite que suas pernas caiam sobre sua
cabeça fazendo a pose da guilhotina. Como se pudesse ler a minha mente, ela sussurra: — Como está
indo com Thayer, Sutton?
Aqui vou eu, eu penso. Nada como o presente.
— Eu não sei, gente — eu digo, colocando tanto tédio em meu tom quanto eu posso. Eu sou
grata por Charlotte e Madeline estarem ambas torcidas como pretzels humanos e não poderem ver o
meu rosto quando eu respondo. — Eu estive pensando, e a brincadeira com Thayer parece meio...
idiota. Eu acho que pode estar abaixo dos padrões do Jogo da Mentira.
Elas ficam em silêncio ao meu lado. Talvez elas aceitem. — Além disso — eu continuo. — E se
as pessoas realmente acreditarem que eu gosto dele? Eu tenho uma reputação para pensar. Sem
ofensa, Madeline — eu acrescento como uma reflexão tardia.
Madeline não parece remotamente ofendida — na verdade, o rosto dela é uma máscara de
tranquilidade, suas feições delicadas serenas e imparciais, mas Charlotte parece ter confirmado
alguma coisa.
— Eu sabia! — ela vocifera com a voz alegre.
— Sabia o quê? — eu pergunto trêmula, virando o rosto. Meu coração de repente acelera. É
óbvio o que eu estou começando a sentir? Mads também sabe?
— Você acha que não consegue fazer Thayer cair de amor por você, não é? — Char
triunfantemente pergunta.
O quê? Eu saio da pose e olho para ela. Eu não esperava que ela dissesse isso. — Não, eu...
Madeline me interrompe. — Oh, por favor — ela diz, a expressão angelical no rosto dela nunca
vacila. — Ele já está meio apaixonado por Sutton. Ele tem uma foto sua no quarto dele — ela me diz,
inclinando um pouco o queixo em direção a mim, mantendo os olhos fechados.
Por mais que eu não quisesse que isso acontecesse, meu pulso acelera com o pensamento. — Ele
tem?
— Sim, ele tem desde o ano passado, pelo menos — diz Madeline. — Eu achei debaixo de um
dos livros de matemática dele. Não me pergunte onde ele conseguiu ou o que ele faz com ela — ela
estremece, fazendo seu corpo esbelto vacilar brevemente. — Mas essa brincadeira deve ser moleza
para você. — Então ela ri. — Eu mal posso esperar para ver o olhar no rosto dele quando ele perceber
que foi tudo uma brincadeira. Quero dizer, qual é. Meu irmão mais novo com uma menina gostosa e
mais velha? Nunca. Vai. Acontecer. — De cabeça para baixo, seu sorriso realmente se parece com uma
carranca, enchendo-me com um pressentimento enjoado.
— Ele merece a brincadeira só por pensar que poderia! — Charlotte se intromete. — Vai ser
ótimo, você não acha, Sutton?
— Uhum — eu digo com a voz trêmula. Mas, quando Alexis nos conduz para o shavasana, o
relaxamento final, a última coisa que eu me sinto é calma. A líder do Jogo da Mentira não pode ser
vista implorando para sair de uma brincadeira. Eu não posso parecer um fracasso na frente das
minhas amigas.
Eu vou ter que passar por isso. É a única opção.
Mas então, eu penso no que Mads disse. Eu mal posso esperar para ver o olhar no rosto dele quando
ele perceber que foi tudo uma brincadeira. Eu já disse isso de um monte de brincadeiras que nós fizemos:
Eu vou morrer de rir quando ela perceber que nós enganamos ela; a expressão dele vai ser impagável; eu aposto
que eles vão gritar. Nunca antes, porém, eu pensei em como as pessoas realmente se sentiam. E a
maioria das pessoas com quem fazemos as brincadeiras merecia por um motivo ou outro. Mas Thayer
realmente merecia? Então ele voltou do acampamento de futebol agindo como se ele fosse o cara. Mas
então eu penso no sorriso maroto de Thayer quando ele me deu o Scooby, o jeito que ele parecia ver
através de mim ontem no quintal dos Donovans.
Eu tremo. A temperatura na sala cai, e o tecido com absorção de umidade da minha camiseta de
repente parece frágil e fino.
Um suave ronco vem da direção de Charlotte, me sobressaltando. Eu acotovelo ela suavemente
quando Alexis liga as luzes novamente. Nós três ficamos de pé, endireitamos as nossas camisetas e
enrolamos os colchonetes pegajosos, nos preparando para sair.
— Então, qual vai ser, Sutton? — Charlotte pergunta, ajustando sua faixa de cabeça branca e
dando um sorriso suave na direção de Alexis. Alexis abaixa seu queixo em um aceno rápido de
resposta. — E a Operação Garoto Apaixonado vai acontecer ou não?
Eu cerro os dentes. É isso, eu digo a mim mesma. Clareza.
— Só se você prometer que nunca mais vai chamar assim de novo — eu falo asperamente,
estreitando meus olhos. Eu pego o meu iPhone do bolso da minha bolsa de ginástica cinza de nylon.
— Ele vai ser meu até o fim da semana.
E então eu digito furiosamente uma mensagem para Thayer. Não te vi ontem. É melhor eu te ver
hoje ou vai ter sorvete de presunto para você. É mais agressivo do que o que eu normalmente sou — do
que eu normalmente preciso ser — mas eu poderia muito bem pensar nesse plano do mesmo jeito que
se tira um Band-Aid. É melhor puxar a parte dolorosa o mais rápido possível.
7 NADA COMO O NOSSO LAR
utton! — Minha mãe chama lá de baixo. — O café da manhã está pronto!
— Uma menina não pode dormir pra variar? São férias! — eu grito de volta, mas na
verdade, eu estive acordada por horas. Eu estou sentada na minha mesa, mexendo
preguiçosamente no Facebook e olhando com raiva para o meu celular. Thayer ainda não respondeu
a mensagem que eu enviei ontem à noite. Nem mesmo com um smiley. Eu não consigo acreditar.
Não importa, eu tento dizer a mim mesma. Você vai conquistar ele. Então, novamente, se Thayer
eventualmente gostar de mim, o resultado final vai ser o mesmo: todas nós vamos rir na cara dele.
Talvez seja melhor ele não se apaixonar por mim.
Mas isso não parece bom, tampouco.
Coloco o celular no bolso do meu roupão e desço para o andar de baixo. Assim que eu estou
cruzando o hall de entrada, a campainha toca. Meu coração acelera — é Thayer? Eu fico ainda mais
animada quando vejo uma pessoa alta e forte através do vidro opaco da porta. Mas quando eu abro a
porta, é Garrett em pé na varanda. Eu franzo a testa.
— Uh, você está procurando por Charlotte? — eu pergunto timidamente. Garrett sorri sem jeito,
então, tira algo de sua bolsa.
— Na verdade, eu vim para saber se isso é seu. — Ele está com um celular com uma case com
cristais swarovski ofuscantes. — Eu achei no clube ontem. A bateria está descarregada, então eu não
tenho certeza, mas eu achei que já tinha visto ele.
Eu fico olhando para o celular sem tocar nele. Ele acha que essa monstruosidade brilhante e
ofuscante é o meu celular? Eca. Todas nós do Jogo da Mentira temos cases combinadas da Tory Burch
— clássicas e chiques. — Não é meu — eu digo. — Você deveria levar de volta ao clube para os
achados e perdidos.
— Oh, ok, me desculpe. — Garrett me dá outro sorriso vacilante enquanto desliza o celular no
bolso dos shorts de carga. — Então... como vai?
Eu olho para o meu roupão e chinelos, em seguida, de volta para ele. — Uh, eu acabei de
acordar. Eu estou horrível.
Os olhos de Garrett se ampliam. — Não, você não está. Você está bonita.
Ele está falando sério? — Garrett, eu mal estou acordada — eu digo. — Podemos nos falar
depois? — Ou nunca mais? Eu penso.
— É claro. — Garrett parece envergonhado. — Eu vou deixar você tomar café da manhã ou seja
lá o que for. — Ele pisa na varanda, fazendo alguns movimentos atrapalhados demais. — Vejo você
por aí, Sutton.
— Sim, te vejo por aí. — Eu fecho a porta rapidamente, observando ele correr de volta para o
carro dele, que está estacionado no meio-fio. Estranho. Talvez ele esteja apenas sendo simpático com
todas as BFFs de Char como uma maneira de fazer nós gostarmos dele. De algum modo, porém, eu
duvido.
Ignorando a situação o quanto eu posso, eu vou para a cozinha com azulejos de terracota. No
interior, Laurel está apoiada nas mãos e nos joelhos, esfregando o nosso piso com um pano de prato
molhado. Uma piscina de líquido laranja está ao redor dela como um fosso. Minha mãe se inclina
—S
sobre a mesa da cozinha com um rolo de guardanapo e um frasco de spray de limpeza, e meu pai está
com um saco de plástico para recolher os guardanapos encharcados de suco de laranja.
Eu contorno eles e vou em direção à cafeteira. — Quantos Mercers precisam para limpar um
suco de laranja derramado? — eu digo sarcasticamente.
Minha mãe olha para mim. A luz da manhã ilumina suas rugas finas nos cantos dos olhos,
fazendo-a parecer mais cansada e mais vulnerável do que normalmente. — Quem estava na porta?
— Ninguém — eu digo rapidamente, pego uma caneca de café fumegante que já estava na
xícara e sento na mesa.
Minha mãe me dá um olhar furioso. — Você poderia ajudar, sabe, Sutton.
Eu me enfureço. Não foi minha bagunça. — Parece que Laurel tem tudo sob controle — eu digo,
encolhendo os ombros.
Laurel se levanta e espreme o pano de prato úmido na pia de aço inoxidável. — Desculpa de
novo, mãe. Todas as suas laranjas recém-espremidas pelo ralo.
Nossa mãe toca o ombro de Laurel suavemente. — Não se preocupe com isso, querida.
Acidentes acontecem.
Eu encaro elas sob o meu café. Se fosse eu que tivesse derramado o suco de laranja no chão, a
mamãe estaria me dando um olhar decepcionado, aquele que dizia que eu consigo tudo fácil e sempre
consegui. E o meu pai passaria os dedos pelos cabelos das têmporas, e ficaria subitamente estressado
porque a mamãe ficaria estressada. É como uma reação em cadeia com eles quando se trata de mim.
Mas quando Laurel estraga tudo, fica tudo bem. Mamãe tira uma jarra de Tropicana da geladeira.
Papai amarra o saco de lixo preto cheio e atravessa a cozinha para colocá-lo na porta que conduz até a
mudroom2, em seguida, para pra dar um tapinha na cabeça de Drake, o grande dinamarquês da
família.
Eu tomo um gole de café e quase cuspo. É puro — quem bebe desse jeito? Abro um saquinho de
açúcar Splenda e despejo dentro do café. Atrás de mim, Laurel suspira alto.
— Eu coloquei para mim, Sutton. — Ela olha para mim. — Eu preciso disso.
Engraçado, quando Laurel está em torno da nossa família, ao invés das minhas amigas, ela
assume o papel de chorona, chata, hipócrita, a irmã mais nova vítima. — Por que você precisa tanto
assim? — eu pergunto. — Ainda estamos de férias. É só ir para a cama.
— Eu vou passar o dia inteiro com Thayer, e estamos planejando assistir uma chuva de
meteoros nesta noite — Laurel fala asperamente. — Eu vou precisar de energia.
Thayer. Eu mordo com força o interior da minha bochecha. Foi por isso que ele não respondeu a
minha mensagem — porque ele estava trocando mensagens com Laurel? — Onde você vai ver essa
chuva de meteoros?
Laurel ergue as sobrancelhas, e de repente eu me pergunto se eu pareço muito ansiosa e
curiosa. — Por que você se importa? — ela pergunta.
— Eu não me importo — eu digo rapidamente.
Laurel ofensivamente coloca mais café para ela mesma. Nossos pais passam rapidamente em
volta tentando se preparar para seus trabalhos — meu pai é médico, minha mãe advogada. Eu checo
o meu celular debaixo da mesa, olhando para ele sem realmente esperar muito — mas eu sou
recompensada por um balão de diálogo brilhante indicando uma nova mensagem. Um pequeno
arrepio desce pela minha espinha. Eu silenciosamente rolo o polegar sobre a tela.
É Thayer.
Onde se acha sorvetes salgados?
2 Mudroom: É um espaço entre a porta de entrada da casa e o primeiro ambiente, geralmente a sala de estar. Serve
basicamente para acomodar sapatos, casacos, chapéus, guarda-chuvas e outras coisas que geralmente trazemos da rua e que
podem estar sujas ou molhadas.
Eu sorrio. Ok, essa mensagem foi fofa. Talvez, apenas talvez, tenha valido a pena a espera. É
algum tipo de convite? Eu disse que queria vê-lo — ele quer sair para tomar sorvete?
Eu suprimo um sorriso, deslizando o celular de volta no bolso. Eu me sinto aliviada, talvez
aliviada demais, que ele tenha me respondido. Mas eu não estou com pressa para responder.
Agora, ele pode esperar.
Mamãe se senta na mesa com uma tigela de granola e leite de soja. — Então, Laurel, é bom
Thayer estar de volta do acampamento de futebol?
Thayer. Ele está em toda parte. Esse sentimento oscilante volta.
— Uhum — Laurel gagueja. Seu olhos vão de um lado para o outro nervosamente e seus
movimentos são de repente irregulares, como uma marionete.
— Ele cresceu alguns centímetros, não foi? — Mamãe pergunta entre mordidas.
— Eu não notei — Laurel diz, mas um rubor rosado sobe em seu pescoço e aparecem gotas de
suor em seu lábio superior. Ela mexe com sua pulseira de couro cravejada da Tory Burch, virando-a
de um lado para o outro em seu pulso.
Eu engulo em seco, a sensação palpitante dentro de mim se tornando ligeiramente amarga. Eu
sempre soube que Laurel gostava de Thayer, mas me pergunto se os sentimentos dela se
intensificaram com a melhora dele nesse verão. O pensamento me enche de ciúme — e determinação.
Roubar a paixonite da minha irmã é ultrapassado, outro truque que está inferior a mim. Mas talvez,
apenas talvez, essa seja outra vantagem para conseguir fazer Thayer gostar de mim. Vai ser bom para
lembrar a Laurel que não importa como as coisas são com a mamãe e o papai em casa, ela não é o
cometa em todos os lugares que vai.
8 O SONO DE BELEZA É SUPERESTIMADO
u abro os olhos e olho ao redor. A sala está coberta por uma névoa azul-preta com imagens
disformes e sons abafados como se toda a cena se desdobrasse debaixo d’água. Onde quer que
eu esteja, é de noite, e eu não estou sozinha.
Na penumbra, eu posso ver as quatro paredes de uma sala pequena e quase sem móveis, uma
janela sem cortina com vista para um estacionamento. O ar cheira a spray aromático de pinho e
fumaça de cigarro velho. Eu ouço um barulho, então murmúrios de conversas vindas de algum lugar
perto, algum lugar fora da sala.
Eu não tenho certeza de onde estou. Eu não tenho certeza de quantos anos eu tenho, tampouco.
Não 17, certamente — talvez quatro ou cinco. Eu olho para baixo e vejo uma camisola florida surrada
que mal chega aos joelhos do meu corpo. Os elásticos das mangas dos meus punhos machucam a pele
dos meus braços e uma manta de motel de poliéster dura e áspera está puxada até o meu queixo.
Quando eu ergo os olhos, eu vejo uma figura sombria sentada em uma mesa pequena de metal perto
da janela, tamborilando os dedos sobre a superfície e olhando para o nada.
— Mãe? — eu chamo.
A figura se vira, mas eu não consigo ver seu rosto. Eu tento ao máximo — eu quero pelo menos
uma memória da minha mãe verdadeira, algo que eu possa agarrar. Só que, isso não faz sentido: eu
fui adotada quando eu tinha apenas algumas semanas de idade, e não quatro anos. Eu não tenho
nenhuma lembrança da minha mãe. Eu não tenho nenhuma ideia de quem ela é ou como ela é. Ainda
assim, eu me esforço para ver. Em seguida, uma mão que é da forma exata e do tamanho exato das
minhas próprias me toca no ombro. Eu me viro mais uma vez e olho para o outro rosto. Um espelho.
— Olá? — eu pergunto. Minha imagem do espelho não fala.
Eu acordo com um pequeno grito. Dessa vez, eu estou no meu quarto de sempre. Meus lençóis
de algodão egípcio macios como manteiga estão enrolados em uma bola suada em meus tornozelos.
Minhas pernas nuas estão frias e pegajosas das rajadas de vento do ar-condicionado. Eu olho para o
relógio — não é nem mesmo meia-noite. Eu adormeci cedo essa noite, exausta depois de várias horas
de jogar tênis com Charlotte na quadra do final da rua, eu não quero dar a Nisha a satisfação de estar
enferrujada quando a temporada começar na próxima semana.
Eu me espreguiço e suspiro. Eu não vou mais conseguir dormir agora. Eu rapidamente visto um
moletom de malha com capuz e desço as escadas pisando suavemente.
Eu encho um copo de água na pia. De repente, algo atrás de mim chama a minha atenção. No
final do nosso quintal com um jardim impecável, uma luz suave amarela brilha de dentro de galhos
entrecruzados.
O clube. Laurel e Thayer estão lá fora, olhando as estrelas. Eu posso imaginar as silhuetas deles
de perfil. Eles se inclinando um na direção do outro, sussurrando no espaço escuro. Sobre o que, eu
me pergunto. Qual seria a sensação, de estar enrolada lá, com Thayer só para mim?
— Nós acordamos você?
Eu salto quando vejo uma pessoa na porta, deixando cair o meu copo de água. Ele atinge a
bancada de granito e se quebra. Quando eu puxo minha mão, eu vejo sangue.
— Ai! — O corte é superficial, mas tem uma grande quantidade de sangue. Eu me encosto na
bancada, de repente tonta.
E
Thayer se aproxima de mim. — Oh meu Deus. Você está bem?
— Estou bem — eu falo com dificuldade. — Mas você pode pegar um Band-Aid para mim?
Thayer parece não querer sair do meu lado. — Onde tem?
— No banheiro do corredor, no armário de remédios. — Eu aponto com a minha mão ilesa.
Thayer vai embora rapidamente, e eu uso o tempo para recuperar o fôlego. O que há de errado
comigo? Eu não deixo cair copos de vidro, nem mesmo no meio da noite. Ele sabe que eu estou sendo
extremamente desajeitada por causa dele? Ele sabe como eu estou começando a me sentir?
Como eu estou começando a me sentir? Eu ainda não respondi a mensagem sobre sorvetes. Eu
digo a mim mesma que é porque eu quero mantê-lo sob controle, mas na verdade, eu não decidi o
que responder. Eu estou percebendo que as regras usuais de flertar não se aplicam necessariamente a
Thayer.
Um momento depois, Thayer reaparece com um kit de primeiros socorros na mão. Ele pega
uma gaze quadrada e prende firmemente contra a palma da minha mão, levando-me gentilmente
para a mesa da cozinha para eu me sentar. — Fique pressionando enquanto eu limpo — ele diz.
— Obrigada — eu murmuro.
— Sem problema — diz Thayer sobre seu ombro enquanto limpa a bancada, pegando os cacos
de vidro maiores e jogando em um saco de lixo. — Eu não deveria ter assustado você assim. O que
você está fazendo acordada?
— Um sonho me acordou, eu acho — eu digo.
— Sobre o quê?
Eu olho para longe, tímida. Eu não costumo falar sobre a minha mãe biológica com garotos. Ou
com qualquer outra pessoa, aliás.
Thayer amarra o saco plástico e pendura em volta da maçaneta da porta que leva até a
mudroom. Então ele pega o kit de primeiros socorros e se senta ao meu lado na mesa, arrastando a
minha cadeira e inclinando-a de modo que estamos frente a frente. Eu arfo, sentindo o ar carregado e
vivo entre nós, e ele se inclina na minha direção. Gentilmente, ele pega a minha mão machucada e
abre-a, remove a gaze e a coloca de lado sobre a mesa.
— Isso vai arder — ele adverte, seus olhos nunca deixando os meus.
Ele abre um antisséptico novo e passa no meu corte. Eu tremo com a ardência rápida e aguda.
Em seguida, ele levanta a minha mão até seu rosto e sopra suavemente. Eu tremo novamente. Dessa
vez, eu acho que tem mais a ver com Thayer do que com o corte.
— Você tem certeza de que está bem? — Thayer pergunta baixinho.
— Eu estou bem — eu digo, estremecendo.
— Eu não quero dizer em relação ao corte — ele diz. — Eu estou perguntando em relação... ao
seu sonho. O que te acordou. Você parece... — ele se cala, talvez incapaz de encontrar as palavras.
— Eu estava sonhando com a minha mãe — eu digo de repente. — Minha mãe verdadeira,
quero dizer. Você sabe que eu sou adotada, certo?
— Sim. — Se Thayer sabe que eu estou nervosa, ele não demonstra. Ele só rasga a parte de trás
de um grande Band-Aid, fixando-o firmemente sobre o meu corte. Então ele fecha a minha mão em
um punho, colocando-a na dele e fazendo pressão sobre a ferida para parar de sangrar. Seu aperto
forte me conforta, e eu continuo.
— Isso acontece às vezes — sonhar com ela. Eu me acordo todas as vezes. Só que não é
realmente ela — não que eu realmente saiba como ela é. Eu não tenho lembranças dela. E foi uma
adoção fechada, então meus pais — os Mercers, eu quero dizer — não irão falar sobre isso.
Por um momento, a cozinha fica quieta, o zumbido baixo do ar-condicionado é o único som a
não ser a minha respiração e a de Thayer. Quando mais alguns segundos se passam e Thayer não diz
nada, eu começo a entrar em pânico. Talvez eu tenha compartilhado muito. Talvez ele não queira
ouvir sobre os meus sonhos idiotas ou a angústia sobre os meus pais biológicos. Não é algo que eu
goste de pensar sobre mim mesma. Eu nem escrevo esses sentimentos no meu diário.
Mas então Thayer aperta a minha mão com mais força. — Deve ser difícil — ele diz
simplesmente.
Uma onda de emoção me purifica. É realmente a melhor coisa, a única coisa, a dizer.
— Você quer conhecer ela algum dia? — Thayer pergunta.
Eu considero isso. Surpreendentemente, é uma pergunta que ninguém nunca me fez. — Acho
que sim — eu digo. — Quer dizer, há uma parte de mim que está muito zangada com ela, é claro —
toda criança adotada provavelmente se sente assim. Eu quero saber por que ela desistiu de mim, por
que ela não pôde ficar comigo.
— Talvez ela tenha uma boa razão.
— Talvez. — eu aceno. — Mas mais do que isso, eu gostaria de ver ela. Falar com ela. Descobrir
se temos mesmo alguma coisa em comum. — De repente, eu sinto lágrimas nos cantos dos meus
olhos. Eu engulo em seco, terrivelmente envergonhada. Eu não vou chorar perto de Thayer.
Eu dou de ombros exageradamente. — De qualquer forma, tanto faz. Você perguntou o que eu
sonhei, então aí está.
— Obrigado por me dizer — Thayer diz. Então, ele dá um suspiro. — Eu também não sou um
grande dorminhoco.
— Por que não?
— Insônia, na maioria das vezes. Mas eu costumava ser sonâmbulo — ele confessa parecendo
envergonhado. — Eu enlouquecia os meus pais.
— O que você fazia?
Ele ri. — Bem, uma vez eles desceram as escadas e me encontraram sentado na sala de estar
com o controle remoto na mão enquanto passava um infomercial em um volume bem alto.
— E você não se lembra?
Ele balança a cabeça. — Não. Eu estava dormindo.
Eu esmurro o braço dele. — Eles têm sorte de você não ter comprado nada. Eles poderiam ter
que ficar com um monte de Snuggies3.
— Ou um daqueles alarmes de emergência — Thayer brinca.
— Ou aquelas lanternas infravermelhas que mostram onde os cães e gatos fizeram xixi no
tapete — eu acrescento.
Nós dois rimos, e eu sou grata a Thayer por desviar a conversa para longe da minha mãe e
aliviar o clima. Quando ele afasta a mão dele da minha, eu percebo que sinto falta do calor dele.
Então eu pergunto: — Onde foi o lugar mais estranho que você já acordou?
— Na banheira, com a água ligada — ele responde sem qualquer hesitação. — Eu tinha doze
anos, e meus pais enlouqueceram, achando que eu poderia me afogar algum dia. Meu pai ameaçou
me levar a um especialista de sono e fazer testes. Sabe, com eletrodos e monitoramentos, como se eu
fosse algum tipo de rato de laboratório. Eu não aceitei. — Seus olhos escureceram. — Ele ficou tão, tão
irritado.
— Ele estava preocupado — eu digo diplomaticamente.
Thayer bufa. — Eu acho que não.
Eu não digo mais nada, mas eu acho que sei o que Thayer está querendo dizer. Uma vez, o Sr.
Vega surtou por que Madeline estava andando descalça no bairro. Não porque ele estava preocupado
que ela pisasse em algo afiado, mas por causa do que os vizinhos iriam pensar. Eu não quero dizer
que ele não estava preocupado com Thayer se afogar na banheira, é claro, mas eu me pergunto se um
3 Snuggies: Cobertores com manga.
pouco da raiva dele era porque a coisa toda era uma complicação adicional, um aborrecimento, uma
esquisitice, para ele.
— Pais são estranhos, não são? — eu pergunto baixinho.
Thayer concorda. — Verdade.
Nós olhamos um para o outro como se nós tivéssemos um tipo especial de entendimento. Eu
quero estender a mão e tocar os ângulos agudos das maçãs do rosto dele, virar o olhar dele de volta
para mim. Ou, no mínimo, pegar a mão dele e apertar firmemente. Mas eu percebo que estou com
medo. E se ele se afastar? E se ele rir?
— Então, você ainda é sonâmbulo? — eu pergunto.
— Não. — Thayer balança a cabeça. — Eu superei isso, eu acho. Mas eu ainda tenho sonhos de
ansiedade o tempo todo. O meu maior foi ir para a escola e descobrir que eu só estou usando minha
cueca.
— Esse é clássico.
— Você também sonha com isso? — ele pergunta.
Eu balanço a minha cabeça. — Não, eu tenho outros sonhos recorrentes.
— Sobre...?
Você, eu quase digo, então me controlo.
Mas Thayer olha para mim como se ele estivesse lendo a minha mente. De repente, ele
engancha seus pés ao redor das pernas da minha cadeira e me puxa em direção a ele. Sem conseguir
evitar, eu suspiro, mas eu não digo nada, e eu certamente não me afasto. Estamos tão perto agora que
estou envolta no seu cheiro limpo de gramado. Eu fico olhando para ele, e ele olha de volta. Há um
som correndo em meus ouvidos, talvez o barulho do meu sangue bombeando rapidamente pelas
minhas veias.
Eu me esforço para não pirar completamente. — Então, você vai na festa de Nisha amanhã a
noite? — eu pergunto casualmente.
Thayer parece surpreso por um momento, como se ele não esperasse por essa pergunta. — Eu
não sei. Provavelmente. Por que, você quer que eu vá?
Eu abro a minha boca, em seguida, fecho-a novamente. Claro que sim. Mas a ideia de dizer isso
me enche de nervosismo. Faz eu me sentir carente, perdedora, nem um pouco parecida comigo
mesma. — Bem, eu não me importo — eu digo despreocupadamente, embora minha voz tenha
falhado no final. — Mas, hum, eu acho que a minha irmã se importa. Eu acho que ela tem uma queda
por você. — Eu levanto uma sobrancelha, esperando a reação dele, qualquer coisa que sugira que ele
pode retribuir os sentimentos dela.
Thayer não se mexe. Um sorriso lento irrompe em seu belo rosto. Ele inclina a cabeça tão perto
do meu rosto que está praticamente respirando o mesmo ar que eu. — Você realmente quer falar
sobre Laurel agora? — ele sussurra.
Minha boca se abre em estado de choque. — Hum — eu digo, mas depois a minha mente fica
vazia. Ele vai me beijar? A confiança dele é inebriante. Eu olho para longe, meu coração bate como
um martelo contra as minhas costelas.
Thayer estende a mão e coloca o meu cabelo atrás dos meus ombros. — Hum — ele provoca,
virando o meu rosto em direção ao dele.
Então vai acontecer. Eu abaixo meus olhos e me movo dois centímetros na direção dele. A mão
áspera de Thayer roça a minha testa suavemente. Eu prendo a respiração, excitada e com expectativa,
então os nossos rostos se aproximam, e...
— Thayer?
Pela segunda vez desde que eu acordei, eu pulo. Thayer se move para longe de mim e se
levanta. Laurel aparece na porta com os braços cruzados sobre o peito. Há uma expressão
impenetrável em seu rosto, e eu me pergunto por quanto tempo ela esteve ali.
— Eu queria saber por que você estava demorando tanto — Laurel diz depois de um momento.
As bochechas de Thayer ficam vermelhas. Ele levanta sua calça jeans e caminha até o kit de
primeiros socorros da mesa. — Sutton quebrou um copo. Eu estava ajudando ela a limpar.
Seu olhar está apenas em Laurel, não em mim. Eu me afasto, olhando para a minha mão
enfaixada. De repente, a perspectiva de Thayer me beijando parece impensável, impossível. Talvez
ele nunca tenha tido a intenção de me beijar, afinal, talvez ele só estivesse brincando comigo. E ele se
afastou de mim como um estilingue, como se ele tivesse ficado horrorizado com a ideia de Laurel nos
pegar juntos. Ele não me acha beijável? Tanto faz, eu acho. Eu me levanto da cadeira e pego o kit de
primeiros-socorros da mesa. — Obrigada pela ajuda, Thayer — eu digo friamente. Então, eu me viro
para Laurel. — Se divirta no seu pequeno clube — eu falo asperamente.
Eu passo bruscamente por eles e atravesso o corredor com os ombros erguidos. Eu quero me
virar para ver se Thayer está olhando, mas eu não me atrevo. No caminho até as escadas, eu digo a
mim mesma severamente: Isso não significou nada.
Você não tem sentimentos por Thayer. Você não tem sentimentos por Thayer.
Mas não importa quantas vezes eu repita, parece que, pela primeira vez, eu estou mentindo
para mim mesma.
9 UM DESPERDÍCIO TOTAL DE PEDICURE
a noite de quinta-feira, enquanto o entardecer pinta o céu como uma aquarela brilhante e
listrada de rosa, laranja e amarelo, Charlotte, Madeline e eu entramos no meu Volvo vintage,
Floyd, e nos direcionamos para a festa de Nisha. Eu agarro o volante firmemente e acelero nas
curvas. O ar cheira a grama cortada e churrasqueiras a carvão, e as montanhas de Catalina do Sabino
Cânion se elevam grandes e bonitas na minha frente. Finalmente, eu viro na rua de Nisha, o vento faz
cócegas no meu rosto quase divertidamente. Eu sorrio e aumento o volume do rádio quando um
remix de Jay-Z começa a tocar. Madeline solta um grito. Charlotte põe a cabeça fora da janela como
um cachorro, em seguida, coloca-a de volta para dentro quando percebe que está bagunçando seu
cabelo.
— Hoje à noite vai ser vital para a Operação Garoto Apaixonado, eu já posso sentir! — Charlotte
grita ao meu lado, fazendo uma dançinha improvisada em seu assento. Seus brincos turquesa
pendurados balançam de um lado para o outro, e o aroma inebriante e enjoativo de Candy Prada que
ela se encharcou sopra na minha direção.
— Operação o quê? — eu pergunto, atirando-lhe um olhar severo.
— Operação Garoto Apaixonado — repete Charlotte. — Você sabe. Você e Thayer, sentados em
uma árvore?
Nós estacionamos na calçada a algumas casas abaixo da casa de Nisha, um rancho estilo
espanhol — chegar elegantemente atrasadas significa perder os melhores lugares de estacionamento,
infelizmente. Quando eu desligo a ignição, eu dou um olhar irritado a Char. — Eu pensei que tinha te
dito para não chamar assim.
— Tanto faz. — Charlotte agita uma mão para mim com desdém. — Eu não me importo com o
que chamamos. Eu só quero fazer isso. É hoje a noite, Sutton. Você está super-gostosa.
Eu engulo em seco. Meu estômago revira, mas talvez seja porque eu mal comi durante o dia
inteiro. Eu vejo o meu reflexo no espelho retrovisor, e tenho que confessar que Char está certa. Meu
cabelo está caído até os meus ombros em ondas suaves. O top de seda estampado com vermelho e
branco deixa minha pele com uma cor rosada e realça os meus olhos verdes. E o meu sorriso é maior e
mais trêmulo do que o habitual, porque, bem, eu estou animada. Pronta para a possibilidade de... a
possibilidade. Não me lembro da última vez que eu fiquei tão inquieta por causa de um cara, me
importei tanto, fiquei tão obsecada com cada cílio com rímel Diorshow e cada fio de cabelo. Mas,
depois de ontem à noite eu simplesmente não posso ignorar esses sentimentos. Eles estão me
dominando. Como letras enormes em um letreiro. O primeiro pensamento que eu tenho quando eu
vou dormir e quando eu acordo.
Eu mal posso acreditar nisso, mas, sim: eu estou a fim ele. De verdade. E agora eu preciso saber
de uma vez por todas se ele está a fim de mim.
O que isso vai significar para as minhas amigas, os outros alunos da escola... Laurel, eu não faço
ideia. Mas eu não posso me preocupar com isso agora — eu tenho que descobrir isso com Thayer
primeiro.
Saímos do carro. Do outro lado da rua, duas garotinhas vestidas exatamente iguais estão em
cima de bicicletas combinadas, pedalando em torno da garagem delas. As fitas de gorgorão em suas
tranças são perfeitamente combinadas com as cestas das suas bicicletas, e as sandálias são de um tom
N
exato de rosa chiclete. Laurel e eu costumávamos nos vestir assim quando nós ainda éramos amigas e
tínhamos menos controle sobre o nosso guarda-roupa. Um sentimento de culpa passa por mim
quando eu considero o quanto nós nos afastamos, e o que eu posso fazer essa noite. Roubar Thayer
dela. Se eu conseguir.
Mas eu preciso ir adiante por um pouco mais de tempo, porque se Thayer não gostar de mim...
eu seguro um arrepio.
— Pessoal, vocês deveriam ter estado lá ontem à noite, na cozinha — eu digo para as minhas
amigas quando nós caminhamos na calçada. — Thayer, tipo, vai se apaixonar por mim,
completamente. Eu vou convidar ele para fazermos um piquenique amanhã à noite. Eu vou terminar
a brincadeira lá.
— Isso mesmo — Charlotte silva.
— Ele merece — Mads acrescenta.
Eu ergo meus ombros com confiança quando nós atravessamos a garagem de Nisha. Um bass
soa do quintal. Os adolescentes também estão no gramado da frente, e, o que não é surpreendente,
cada menino que nós passamos olha para nós. Quando eu ligo a trava de Floyd, eu vejo uma cortina
balançando na porta ao lado. Se eu não estou enganada, é a casa de Ethan Landry. Por que ele não
veio hoje à noite? Ele não é feio — ele poderia perfeitamente ir a uma festa se agisse normalmente.
De repente, eu sou bombardeada por vozes: “Sutton! Você está incrível!” “Esse top é Thakoon?”
Então eu ouço o clique eletrônico inconfundível de uma câmera de um iPhone e olho para cima.
Gabby e Lili estão sorrindo para mim com os celulares na mão.
Eu estendo a mão. — Meninas, sem fotos de mim no Twitter sem a minha permissão.
Gabby olha a tela, em seguida, mostra a foto para mim em busca de aprovação. Eu olho a foto
de mim mesma na calçada. Meu sorriso é largo e surpreso. Mas eu pareço um pouco nervosa
também. Um pouco, eu ouso dizer, apaixonada.
Lili já está teclando furiosamente. — Graças a Deus vocês chegaram. E fizeram uma grande
entrada, como de costume. — Então ela olha para Charlotte. — Ah. Garrett estava procurando por
você.
Charlotte sorri friamente. — Tanto faz. Não faz mal nenhum manter um cara esperando. —
Mas, mesmo dizendo isso, ela está na ponta dos pés para procurar ele no meio da multidão. Eu quero
tirar sarro dela, mas então eu me lembro que Garrett apareceu na minha varanda no outro dia com
aquela história estranha sobre o celular. Eu tinha esquecido de mencionar isso a ela, ou talvez eu não
queira. Eu só espero que Garrett não diga nada, tampouco. Char poderia pensar que eu estava
deliberadamente escondendo isso ou algo assim.
Nós entramos na sala de estar, que é espaçosa e decorada em tons neutros e elegantes. Um
conjunto de luzes pequenas brilha da mesa de console de mármore e o cheiro de gardênia misturado
com cerveja me envolve. Quase todos os meus colegas de classe estão aqui — pelo menos os que
deveriam estar, conversando e apreciando ansiosamente o último suspiro de verão. Starling Russe,
que está na equipe de tênis, me reconhece e acena amplamente, agitando um gigante copo de plástico
vermelho. A tonalidade vermelha do nariz arrebitado dela me diz que o que ela está bebendo, não é a
primeira bebida. Vários copos de plástico vermelhos estão descartados no chão, um monte de batatas-
fritas derramadas sobre a mesa e um pouco de algo suspeito em uma das paredes. A música está tão
alta que está fazendo tudo vibrar.
— Perdemos alguma coisa boa? — Madeline pergunta alto a Gabby, esticando o pescoço para
ver lá dentro.
Gabby revira os olhos. — Na verdade não. Nisha surtou, no entanto. Eu acho que ela achou que
íamos manter a casa dela impecável ou algo assim.
Eu bufo. — Ela é tão nervosinha.
Então eu vejo Nisha no pé das escadas, circulada por um conjunto de outras meninas da equipe.
Mas ela não parece estressada para mim. Ela gesticula excessivamente e joga seu rabo de cavalo
escuro e brilhante sobre um ombro. Várias das meninas de tênis olham na minha direção e acenam,
mas Nisha só arqueia uma sobrancelha de maneira esnobe. Tanto faz. A minha presença aqui faz a
festa, e ela sabe disso.
Eu continuo obsevando a sala. Ali está Jeff Katz, do time de futebol, e Greg Richter, o presidente
de classe bem legal. Duas meninas veteranas usando vestidos BCBG estão paradas impassíveis perto
das portas deslizantes de vidro, olhando para seus celulares. Meu olhar observa os rostos de novo e
de novo, mas então eu percebo: Thayer não está em lugar nenhum. Será que ele não veio?
Eu me inclino na direção de Madeline. — Está muito quente aqui. Eu vou pegar uma bebida e ir
para o quintal.
Ela acena com a cabeça. — Boa sorte para encontrar o meu irmão.
Eu congelo, me perguntando se eu estou sendo muito transparente. Ela sabe como eu me sinto?
Ela percebe que, para mim, não é mais uma brincadeira? Mas Madeline está sorrindo para mim
animadamente sem um traço de malícia em sua expressão. Eu expiro, sentindo uma embriaguez
embora não tenha tomado um gole de nada ainda. De repente, eu realmente preciso sair para esfriar a
cabeça.
Eu me empurro através das pessoas que estão andando pela casa. A cozinha é o lugar onde a
multidão está maior, há adolescentes se movimentando em torno de um barril cheio, amontoados na
mesa da cozinha e pousados com as pernas balançando na bancada de pedra calcária. Garrett está
ajeitando a bomba para uma multidão de atletas musculosos, embora ele mesmo não estivesse
segurando um copo de cerveja. Eu debato se chamo a atenção dele para dizer que Charlotte chegou,
mas eu decido rapidamente que não. Ele pode pensar que eu o estava procurando deliberadamente.
Em seguida, uma onda da colônia Polo quase me atinge. — Ei, Sutton, está bonita — diz uma
voz, e um rosto sardento com olhos verdes aparece em meu campo de visão. É Aidan Grove, a minha
paixão de verão por cinco segundos. Agora ele está me olhando ansiosamente, como se essa noite
pudesse ser a nossa noite. Mas não é por ele que eu estou aqui.
— Oi, Aidan — eu digo distraidamente, olhando por cima do ombro dele para o quintal. Onde
está o cabelo bagunçado escuro e os olhos castanhos brilhantes? E se Thayer tiver decidido não vir?
Eu penso na conversa que tivemos no meio da noite. Você vai na festa de Nisha? Provavelmente. Por que,
você quer que eu vá?
— Então, como está sendo o seu verão? — Aidan pergunta. — Ansiosa para voltar a Hollier?
— Uh, claro — eu digo, meus olhos ainda sobre a multidão. Então eu tenho uma epifania:
Talvez Thayer esteja atrasado, mais atrasado do que eu. O que é irritante, porque eu programei a
nossa chegada para um maior impacto possível, mas talvez Thayer saiba como ganhar de mim no
meu próprio jogo.
Eu enfio a mão na minha bolsa e retiro o meu celular. Talvez ele tenha mandado uma
mensagem. Mas eu vejo imediatamente que o meu papel de parede da tela inicial está totalmente
intacto. Uma foto recente de Charlotte, Madeline e eu me cumprimenta brilhantemente, sem bolhas
de diálogos ou notificação de chamadas perdidas.
— Como está o seu jogo de tênis desse ano? — Aidan pergunta.
Eu olho para cima, surpresa por ele ainda estar ali. — Uh, bem.
— Você quer uma cerveja?
Eu mal murmuro uma resposta. Minhas entranhas parecem estar em chamas. Eu nunca fiquei
tão completamente perturbada por um membro do sexo oposto. Sempre fui eu quem deu as ordens.
O que quer que esteja acontecendo com Thayer, é totalmente desconhecido e novo.
E sinceramente? É meio que emocionante.
Minha excitação deve ter aparecido no meu rosto, porque a boca de Aidan se vira para cima nos
cantos. — Eu vou pegar uma cerveja, então! — Ele diz enfaticamente. — Vamos festejar!
Eu coloco a mão no ombro dele, interrompendo-o. — Uh, pensando bem, não precisa. Eu acho
que vi Madeline lá fora — eu digo, apontando para a porta de trás. — Eu tenho que perguntar a ela
uma coisa.
Ele franze a testa. — Madeline não está ali?
Ele aponta atrás de mim, e eis que Madeline está conversando com Finn Hadley, o grande idiota
que abandonou ela por uma babá no início desse verão. Se eu não estivesse tão preocupada, eu iria
até lá e daria um sermão nela.
Eu me viro para Aidan. — Hum, eu só preciso de... — Eu lhe ofereço um sorriso de desculpas e
passo empurrando até a porta. Quem se importa se eu não tenho uma boa desculpa? Aidan é
passado.
Há menos adolescentes lá fora, e o som dos grilos e do burburinho surdo de conversas se
fundem em um zumbido agradável. O ar da noite é frio e úmido, a grama orvalhada faz cócegas em
meus dedos através das minhas sandálias de cunha de tiras. Eu inalo o cheiro da noite quente de
verão, aromatizada com o cheiro de fumaça de lenha de algumas casas abaixo.
E então, do outro lado do gramado, eu vejo um farfalhar de hedges quando o portão da
garagem se abre. Um menino aparece do outro lado do pátio. A minha respiração fica presa na minha
garganta. Thayer.
Meu coração martela quando ele atravessa o portão, seus cabelos ainda úmidos de uma
chuveirada. Uma mecha cai de forma desarrumada em sua testa. Ele está usando uma camisa de
botão de mangas curtas que cai perfeitamente em sua estrutura sólida e jeans que delineiam suas
pernas musculosas.
— Thayer — eu chamo, levantando uma mão para acenar. Mas depois, quando meu olhar trava
na pessoa atrás dele, eu abaixo a minha mão imediatamente. A menina fecha a trava do portão de
madeira e caminha para pegar a mão de Thayer. Seu agarre é possessivo e ostentoso. Ele é meu, ele
diz. Todo meu.
Eu dou um grande passo para trás, torcendo, rezando para que ele não tenha me ouvido chamar
o nome dele. E quando os dois dão um passo para a luz, eu dou uma boa olhada no rabo de cavalo
loiro, o corpo firme e em boa forma por causa do tênis, e o par de jeans James que ela só comprou
porque eu também tinha. E meu estômago revira.
A menina que está segurando Thayer como se corresse risco de vida é minha irmã. Laurel.
10 REVIRAVOLTA É UM JOGO LIMPO
hayer! Ei, cara!
Eu estou parada, presa na beira do quintal de Nisha, observando enquanto os
amigos de futebol de Thayer se agrupam em torno dele saudando-o ansiosamente. É um
monte de caras dando tapinhas nas costas e acenos de cabeça discretos concordando. Laurel continua
ao lado de Thayer em cada segundo, com os olhos colados no rosto dele. Quando ela é forçada a
soltar a mão dele enquanto ele diz oi para a equipe, ela parece quase como um barco se afastando. Ela
mantém uma mão pálida pairando perto das costas dele e olha para ele com adoração,
possessivamente.
O que eu não sei, porém — e está seriamente me matando agora — é se Thayer sente o mesmo
por ela. Eu penso na coisa idiota eu-não-quero-revelar-meus-sentimentos-então-eu-vou-fazer-você-
pensar-que-eu-não-me-importo que eu disse ontem à noite: Eu acho que Laurel quer que você vá. Ela tem
uma queda por você. E se Thayer levou a sério? E se quando eles voltaram para o clube na noite passada
Thayer confrontou ela sobre isso? Talvez Laurel tenha dito, Sim, eu realmente gosto de você. Você gosta de
mim? E Thayer, pensou que eu nunca gostaria dele, e talvez deu de ombros e disse: Muito. Vamos ser
um casal.
Ele nunca negou ter sentimentos por ela, afinal. E eles estavam de mãos dadas. Minha cabeça
começa a girar. Eu não consigo acreditar que estou com ciúmes de Laurel, por causa de Thayer. Tudo
nessa noite está totalmente às avessas e eu acabei de chegar.
— Sutton! Aqui está a sua cerveja!
Eu me viro. Aidan está vindo em minha direção, segurando uma garrafa nas mãos. Há uma
expressão esperançosa em seu rosto, ou seja, ele se esqueceu completamente dos meus sinais lá
dentro.
Mas talvez esse seja o timing perfeito.
Eu olho para trás para Thayer, que ainda não notou a minha presença. Dois podem jogar esse jogo,
eu penso. O único jeito de descobrir exatamente o que Thayer acha de mim: fingir interesse em
alguém. É geralmente o último dos meus truques, mas eu estou seriamente ficando sem opções aqui.
Eu me viro para Aidan. — Muito obrigada — eu sussurro, pegando a cerveja oferecida por ele e
tinindo minha garrafa contra a dele. — Saúde.
Quando eu tomo um gole profundo, eu quase posso sentir o momento em que Thayer vira e
trava os olhos em mim. Eu espio, e sim, ele está me encarando. Bom. Mas então ele me pega olhando
e arqueia a sobrancelha em questionamento em minha direção. Não um arquejo ciumento. Não uma
expressão invejosa e apaixonada. É quase como se ele estivesse me desafiando: Qual é, Sutton. Eu sei
que você está fazendo isso só para me deixar com ciúmes. Você é uma garota tão boba.
Eu me viro firmemente de volta para Aidan e empurro a minha cerveja para ele. — Você pode
segurar isso por um segundo? Eu preciso ajeitar o meu top.
— Claro — diz Aidan, e me olha quando eu estendo a mão até o meu pescoço, desato as
correias finas da minha blusa e permito que o tecido deslize ligeiramente, de modo que um pouco
mais da minha clavícula fica exposta. — Você pode segurar o meu cabelo? — Eu murmuro para
Aidan.
-T
— Uh... — Aidan se atrapalha por um momento, em seguida, coloca as duas garrafas
desajeitadamente em uma mesa de pátio de ferro. Ele se aproxima e levanta o meu cabelo para que eu
possa atar o meu top. Suas mãos tremem um pouco. Espero que eu esteja tendo o mesmo efeito sobre
Thayer, mas eu não vou dar a ele a satisfação de olhar para checar.
— Está bom? — Aidan pergunta.
— Está perfeito — eu ronrono, me virando para Aidan e passando um dedo através dos meus
cachos soltos. Aidan ri. Ele pega sua cerveja e toma mais um gole. Eu tomo um gole da minha
também. Finalmente, eu não aguento mais. Eu me viro e olho para Thayer. Ele está no mesmo lugar
com os caras do futebol, mas seu olhar ainda está em mim. Quando ele me vê olhando em sua
direção, ele levanta a mão em um aceno casual.
Eu viro rapidamente a minha cabeça de volta para Aidan. Thayer vai ter que se esforçar muito,
muito mais do que isso.
— Então — eu digo a Aidan, deslizando para mais perto dele. — Alguém já te disse que os
músculos das suas panturrilhas são surpreendentes?
Aidan fica rosa. — Oh, bem, corremos muito na educação física, eu acho.
Depois da confiança magnética de Thayer, o nervosismo de Aidan é uma decepção. Eu me
pergunto o que eu vi nele. Mas eu sorriu e ronrono. — Oh, dá para perceber.
Incentivado por minha resposta, Aidan começa uma palestra sobre os exercícios de peso
diferentes que ele faz para melhorar suas panturrilhas. Eu esquivo outro olhar para Thayer, e meu
coração acelera. Ele está atravessando a multidão, indo diretamente para mim. Laurel foi deixada de
lado, e parece desolada e um pouco perdida. Eu sinto uma pontada de arrependimento — embora
Laurel me deixe louca, ela ainda é minha irmã. Mas o que eu sinto por Thayer é totalmente diferente
do que o que eu senti por outra pessoa. Vale tudo no amor e na guerra, certo?
Eu me aproximo de Aidan, tocando o braço dele levemente. — Quer dançar?
Ele sorri amplamente. — Claro. — Ele pega a minha mão e me leva de volta para a casa. Ele
atravessa a entrada da cozinha lotada, e eu me viro, dando um último olhar sobre o meu ombro para
Thayer. A boca dele está apertada em uma linha fina e firme, e sua testa está enrugada de frustração.
É assim que eu sei que o meu plano está funcionando.
11 Você poDE DANÇAR SE QUISER
sala de jogos do subsolo da casa dos Banerjee foi transformada em uma pista de dança
improvisada. O espaço é enorme e tem azulejos lisos de estuque cor de creme e adobe
decorado nas paredes com uma paisagem de deserto impressionante e melancólica. Os sofás
seccionais estão de lado para dar espaço para os corpos. Velas cintilam aqui, também, lançando
sombras oscilantes nas paredes.
Alguém seleciona uma lista de reprodução de danças dos anos oitenta, e a sala fica frenética e
cheirando a uma mistura de suor de verão e perfumes florais. É realmente um pouco sufocante, e eu
prefiro estar fora novamente no ar frio e fresco da noite, mas dançar com Aidan é a melhor maneira
de acelerar o meu plano. Eu olho em volta, quando eu conduzo Aidan para a pista de dança. Thayer
não entrou. Mais uma vez, eu fico tensa. Ele decidiu que não vale a pena?
Aidan e eu balançamos com alguns clássicos de Madonna — Aidan fazendo uma coisa idiota
agachamento com o joelho/inclinando a cabeça e eu tento me perder na música, fechar os olhos e
sentir o ritmo. Mas minha mente está espalhada em milhões de direções diferentes. O que Thayer está
fazendo agora? Ele voltou para Laurel? Eu me aproximo de Aidan, descansando a mão em seu
quadril provocantemente e puxo o rosto dele em direção ao meu. Aidan sorri e envolve seus braços
em volta dos meus ombros em resposta, apoiando levemente as mãos entrelaçadas na parte de trás do
meu pescoço. Nós viramos e giramos, deslizando na pista de dança lotada enquanto as pessoas se
afastam de nós. Até que alguém dá um tapinha no ombro de Aidan e paramos a meio-passo.
Eu olho para cima, e meu coração dispara. Dois belos olhos intensos cor de avelã procuram os
meus.
— Se importa se eu interromper? — Thayer pergunta, seu olhar implica que não há uma opção.
A pergunta é para mim, não para Aidan, e eu não posso negar.
Aidan incha o peito como se fosse um pássaro macho durante o acasalamento. Mas algo no
rosto de Thayer faz ele retroceder. — Tudo bem — ele diz relutante. Ele olha para mim. — Outra
cerveja?
— Obrigada, Aidan. — Eu ofereço-lhe um sorriso doce para suavizar o momento.
Thayer se move em direção a mim, e quando ele toca o meu quadril, ondulações de antecipação
descem na minha espinha. A música muda de agitada para uma balada lenta e sem vida. Trocamos
um olhar, quase hesitamos antes de nos aproximarmos um do outro.
De repente, tudo parece absolutamente certo. Ele gosta de mim. Eu posso sentir isso em seu
batimento cardíaco rápido, sua respiração, seu suspiro. Eu inalo profundamente, respirando o aroma
limpo de Thayer. Ele coloca uma mão nas minhas costas e minha pele formiga. Eu descanso meus
dedos nos ombros dele, traçando formas contra os músculos firmes e fortes de suas costas. Nós nos
afastamos por um momento e olhamos um para o outro, ambos com pequenos sorrisos em nossos
rostos. Nós não falamos. Não há necessidade de falar.
Thayer se inclina para sussurrar no meu ouvido. — Vamos sair daqui — Ele diz em voz baixa.
Seus lábios contra o meu rosto me fazem tremer.
Eu concordo devagar com a cabeça. — Ok.
Ele pega a minha mão e me arrasta através da multidão de pessoas de novo, no andar de cima e
fora da porta da frente.
A
Não tem mais ninguém no jardim da frente, e nós atravessamos o cascalho até que estamos fora
das luzes da varanda. Uma leve brisa sopra os galhos espinhosos de uma árvore algaroba, e em cima
as estrelas psicodélicas brilham contra um pano de fundo obsidiana. Do outro lado do quintal, Thayer
se vira para mim e coloca suas mãos sobre os meus ombros. Há um sorriso lindo de partir o coração
em seu rosto, e de repente, eu me sinto tola pelos jogos que eu joguei.
—Thayer, eu sinto muito — eu começo.
— Shh — ele diz. Ele coloca o dedo sobre os lábios, então se move para a frente para me beijar.
Suavemente primeiro, e depois, com mais urgência. Eu me agarro nele, envolvendo as minhas mãos
na cintura dele e puxando-o para mim com força. Suas mãos deslizam nas minhas costas enquanto eu
passo meus dedos por seus cachos bagunçados.
Seus lábios traçam a minha orelha, meu queixo, meu pescoço. Eu gemo, me arqueando para trás
e agarrando-o com mais força. Eu já beijei outros caras antes, mas nada se compara a isso.
Nós não falamos, apenas nos beijamos, tocamos e inspiramos um ao outro. Nós estamos
completamente interligados, como se nós fôssemos as duas únicas pessoas que existissem no
universo. Na verdade, é quase como se nós fôssemos uma única pessoa, estamos tão completamente e
totalmente em sintonia com o outro. Eu nunca quero me separar.
Até que eu ouço um farfalhar das hedges. E então uma gargalhada exagerada. Eu me afasto
rapidamente. Essa risada é de Madeline.
Mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, antes que eu possa pará-las, Charlotte e Madeline
saem dos arbustos, com os celulares com câmera nas mãos e com olhares triunfantes em seus rostos.
— Te pegamos, Thayer! — elas gritam quando os flashes se apagam.
12 SURPRESA, SURPRESA
hayer e eu piscamos com os flashes de luz. — Te pegamos! — Char vocifera novamente.
— Você foi humilhado, Thayer! — Madeline grita.
Thayer faz uma cara aborrecida. — O que diabos é isso, pessoal?
— Diga xis! — Madeline fala trêmula enquanto tira outra foto. Então ela se vira para Charlotte e
dá um tapa na palma dela. — Outra vitória do Jogo da Mentira!
Thayer estreita os olhos. — Jogo da Mentira? — ele fala como se nunca tivesse ouvido falar
disso antes. Mas eu sei que ele já ouviu. Eu tenho certeza que Laurel já disse a ele sobre isso, se ele já
não tivesse ouvido na escola. Eu me sinto paralisada. Eu quero de alguma forma colocar freios nisso,
fazer tudo isso parar, mas as palavras não saem da minha boca. Tudo está acontecendo muito rápido.
Madeline se endireita e vira em direção a mim, seus olhos azuis brilhando como pedras
preciosas. — Desculpe termos interrompido antes de você ter a chance de convidar ele para o
piquenique, Sutton — ela diz. — Mas quando vimos vocês dançando, sabíamos que íamos finalizar a
brincadeira essa noite. Nós simplesmente não conseguimos nos segurar.
Thayer olha para mim. — Finalizar a brincadeira? Do que elas estão falando?
Madeline coloca a mão no quadril. — Do que você acha que estamos falando, Thayer?
Charlotte gargalha. — Você não acha que Sutton estaria realmente a fim de você, não é?
Compreensão deixa as características esculpidas de Thayer sombrias. Ele olha para mim com os
olhos arregalados. — Sutton? — ele pergunta. — O que diabos está acontecendo?
— Eu... — Essa palavra vem de dentro de mim como um arroto. Apenas diga, eu digo a mim
mesma. Apenas diga a suas amigas que você realmente quis beijá-lo. Mas a minha boca não consegue
formar as palavras. Se eu disser, as minhas amigas vão perder todo o respeito por mim. O que eu
estava pensando, dançando com Thayer de verdade, para valer, na frente de todos? Como eu poderia
ter pensado que elas simplesmente iriam aceitar isso? E é tudo minha culpa. Se eu tivesse lutado mais
para parar a brincadeira, isso não teria acontecido. Mesmo se eu tivesse me afastado de Thayer,
fingido não gostar dele, pelo menos seria melhor do que isso.
Charlotte suspira. — Oh meu Deus. Ele realmente acreditou! Ele realmente achou que ela
gostava dele!
— Isso é melhor do que imaginávamos — Madeline diz. — Você realmente achou que a garota
popular mais gostosa da escola queria sair com você?
Thayer dá passos para trás, como se nós tivéssemos dado um soco nele. — Sutton, isso é
verdade?
Uma onda de náusea passa através de mim. Não, eu quero dizer. É claro que não. Mas, então,
meu estômago revira. Eu sei o que eu tenho que fazer. Eu não tenho escolha.
Eu empurro minhas mãos em meus bolsos e me esforço para manter a minha voz firme. — Foi
uma brincadeira, Thayer — eu sibilo, reunindo cada pedaço de desprezo que eu posso. — Você
precisava ser parado. Você pode nos agradecer mais tarde.
As sobrancelhas de Thayer se unem. Ele aperta as mãos em punhos. — Você está brincando
comigo?
— Não! — Charlotte fala alegremente.
T
Ele cambaleia para trás, quase esbarrando em um cacto. — Então, tudo o que conversamos? O
momento que tivemos na sua casa? As mensagens? Nada disso foi verdade?
Eu não consigo nem olhar para ele. — Não.
Thayer sacode a cabeça lentamente. — Deus, Sutton. Você é mais vadia ainda do que todo
mundo diz.
Eu me sinto tonta, o ar sai em uma velocidade alta dos meus pulmões. Eu sei o que as pessoas
dizem sobre mim, claro. Eu sei o que elas pensam. É só que, eu não me importo com as opiniões
delas.
Apenas a de Thayer.
— Está tudo bem, maninho — Madeline fala alegremente. — Podemos encontrar alguém do seu
tipo. Talvez uma estudante do ensino médio?
Mas Thayer mal ouve ela. Ele ainda está olhando para mim. — Isso seria melhor do que me
envolver com você — Thayer diz, sua voz cheia de desgosto. — Você já foi honesta algum dia em sua
vida?
Por dentro, eu vacilo, mas a minha expressão está totalmente controlada. — Com os caras que
eu gosto, Thayer. Não com você.
O rosto de Thayer se contorce em uma careta feia, e ele se vira, chutando nuvens de poeira do
cascalho da garagem frontal dos Banerjee enquanto ele corre para o meio da rua.
Um nó se forma em meu peito. Eu quero segui-lo. Eu quero corrigir isso. Mas com as minhas
amigas aqui de pé, olhando para mim, eu não posso.
Charlotte gargalha, se dobrando. — Oh meu Deus, Mads, eu acho que ele vai chorar.
Ainda rindo, Madeline se endireita e bate no meu ombro. — Isso. Foi. Incrível. Bom trabalho,
Sutton.
— Aham — eu digo estupidamente.
— Eu mal posso esperar para enviar a foto por aí — Charlotte exclama.
— Nós sabíamos que você poderia enganar ele — Madeline diz.
E então minhas melhores amigas engancham os braços nos meus, uma de cada lado, e me
levam de volta para a festa. Não que eu esteja mais no clima. Neste momento, há apenas um
pensamento em minha mente:
O que eu acabei de fazer?
13 SÓ ARREPENDIMENTOS
utton, você pode por favor parar de amassar os Twizzlers4?
— O quê? Ah, com certeza. Desculpe. — Eu jogo com preguiça o saco gigante de
doce de morango no sofá de Charlotte. É mais tarde daquela mesma noite, e estamos de
volta na sala da família de Madeline. Nós saímos da festa um tempo depois da “brincadeira” ser
exposta, e eu estou me comunicando da melhor forma que posso, mas não consigo tirar Thayer — e o
olhar devastado no rosto dele — da minha mente. Eu não vi ele novamente na festa, não que eu
soubesse o que fazer ou dizer para ele se eu o tivesse visto. Uma parte de mim não quer estar aqui. Eu
prefiro estar em casa, aconchegada com o Scooby-Doo, pensando no que eu senti ao beijar Thayer e
como eu poderia corrigir tudo o que aconteceu nessa noite.
Thayer deve ter vindo para casa mais cedo do que nós, e nós não ouvimos um pio do quarto
dele desde que chegamos aqui. Ainda assim, traços dele permanecem na sala de estar dos Vegas: uma
cópia maltratada de Spin na mesa de café elegante e do século moderno, uma linha de troféus de
futebol um pouco manchados trancados em um armário alto de vidro, um chaveiro jogado em uma
tigela decorada com o logotipo da Hollier High. Thayer está totalmente ao meu redor.
Pena que ele não quer nada comigo agora.
Madeline se levanta. — Charlotte, tenha cuidado com a Coca Diet! Se você derramar no sofá de
couro, o meu pai vai me matar. — Algo em seu tom sugere que não é um exagero.
— Deus, me desculpe. — Charlotte coloca seu copo na mesa de café. — Nós não deveríamos
beber refrigerante, de qualquer forma, deveríamos ter champanhe para celebrar o sucesso estrondoso
da primeira brincadeira dessa temporada do Jogo da Mentira!
— É pra já — diz Madeline. — E talvez ela vá nos dar alguma inspiração para a brincadeira de
volta às aulas. Enquanto nós estamos com sorte. — Então, ela se levanta e caminha até o armário
estilo Mad Men que fica ao lado da TV de tela plana enorme do outro lado da sala. Ela abre as portas
do armário e apalpa dentro, seu coque sobe e desce levemente enquanto ela procura.
Depois de um momento ela sai, triunfantemente agitando uma garrafa meio cheia de Absolut.
— Vodca serve?
— Absoluta-mente — Charlotte gorjeia, mas eu ainda não consigo reunir energia para revirar os
olhos para a nerdice dela.
Madeline vai para a cozinha, e volta com três taças limpas empilhadas na dobra do braço e uma
caixa de suco de laranja debaixo do queixo, de alguma forma conseguindo fazer um malabarismo
estranho parecer gracioso.
— Vamos guardar a champanhe para depois da festa de volta às aulas. Como um grand finale.
Essa foi apenas um aquecimento. — Ela pisca, seus cílios tremulando com força contra o seu rosto de
alabastro.
Ela derrama três generosos coquetéis de vodca nos lados das taças, o que ela rapidamente
enxuga com a bainha da sua regata cinza Calvin Klein. Ela passa duas das bebidas para mim e
Charlotte. Cada uma de nós toma um gole e levanta os braços, tinindo as taças.
4 Twizzlers: Doces.
-S
Eu forço os cantos da minha boca para o sorriso mais convincente que eu consigo simular. Meu
rosto parece duro como uma máscara de carnaval. — Saúde — eu murmuro.
— Pelo Jogo da Mentira! — Madeline brinda cheia de entusiasmo. Ela fixa os seus olhos azuis
brilhantes em mim. — Sério, Sutton, o seu trabalho foi inspirador. Muito obrigada por colocar Thayer
em seu devido lugar por mim. — Ela soa intensamente sincera. O que é quase alarmante.
— Não foi nada — eu digo, acenando com a mão para ela com desdém.
Meu estômago revira apenas em pensar no olhar no rosto de Thayer, antes dele ir embora.
— Honestamente, você é a mestre. A rainha do Jogo da Mentira — Charlotte elogia. Ela soa
mais do que um pouco impressionada, o que aumenta o caroço do fundo da minha garganta
novamente. Eu engulo um gole da minha bebida, o ácido da vodca queima enquanto desce.
— Bajulação vai levar vocês em todos os lugares, senhoritas — eu digo o mais
despreocupadamente que eu posso. — Mas, por favor, a rainha está cansada da noite de trabalho
duro. Podemos ver o filme e parar de conversar?
— Sim! É claro — Madeline concorda. Ela caminha até o Blu-ray de Titanic que ela tinha tirado
da prateleira com um super estoque de DVDs e o coloca dentro do leitor de DVD. O DVD pisca e
zumbe quando liga e ela coloca play.
— Contanto que você não ache que nós vamos te alimentar com uvas e abanar você —
resmunga Charlotte, sorrindo, bem-humorada. Ela toma mais um gole da sua bebida, suspirando
satisfeita.
— Você sabe que faria se eu lhe pedisse — eu brinco.
Eu estou agindo como a minha antiga eu, mas meu coração não é o mesmo. Na verdade, eu
acho que eu o deixei em algum lugar no gramado frontal de Nisha, ou enterrado no fundo dos
penhascos do Sabino Cânion. Até mesmo quando começa o filme e quando o rosto de Leo enche a tela
enorme, eu não consigo parar de pensar em Thayer. O olhar em seus olhos em sua expressão
magoada. O desgosto em seu rosto quando ele percebeu que tinha sido alvo do Jogo da Mentira.
E... aquele beijo.
Mais do que tudo, aquele beijo.
Foi incrível; emocionante, fez a terra tremer, foi monumental. Foi totalmente diferente dos
outros beijos que eu experimentei na minha vida. E eu não sou exatamente uma novata quando se
trata de beijar meninos.
Porque eu não posso namorar um cara mais novo? Isso seria tão ruim assim? Eu cogito a ideia
em minha mente, considerando todos os ângulos.
Ok, talvez as minhas amigas zombem de mim. Tá legal, talvez definitivamente zombem de mim.
Mas, provavelmente, não por muito tempo, certo? Elas vão me provocar no início, é claro, mas
quando elas se acostumarem com a ideia, talvez elas até achem que está tudo bem. Quem sabe —
talvez eu comece uma tendência de alguma forma, desencadeando em várias meninas com caras mais
novos à espreita nos corredores de Hollier.
O problema é, estar com Thayer pode me fazer realmente... feliz. E eu acho que eu poderia
merecer isso. Eu acho que as minhas amigas iriam concordar.
E depois daquele beijo, talvez eu realmente não ligue para o que elas pensem. Talvez eu só
queira Thayer.
Os créditos de abertura do filme rolam e as ondas de trilha sonoras imponentes e orquestrais
enchem a sala. De repente, eu não consigo ficar parada por mais um segundo. É como se eu tivesse
formigas rastejando sobre a superfície exposta da minha pele. Eu pulo do sofá, ignorando os olhares
assustados que Charlotte e Madeline atiram na minha direção.
— Eu, uh, preciso ir ao banheiro — eu murmuro, percorrendo o corredor.
— Você quer que a gente pause? — Madeline pergunta atrás de mim, parecendo confusa.
— Não, tudo bem — eu respondo. — Eu sei o filme inteiro de cor.
Eu passo pelo banheiro na ponta dos pés e caminho furtivamente pelo corredor. Eu não sei
exatamente o que estou fazendo, mas quase inconscientemente, eu me encontro na porta do quarto de
Thayer. A luz brilha de debaixo dela, e o meu coração salta. Eu não tenho nenhuma ideia do que eu
vou dizer para ele... mas eu tenho que dizer alguma coisa.
Eu bato levemente, mudando meu peso nervosamente de um pé para o outro. Mas não há
resposta. Eu bato de novo, rapidamente, e quando ele ainda continua dentro em silêncio, eu
cautelosamente abro a porta.
Eu sou recebida por uma rajada de ar fresco de uma janela aberta, mas não por Thayer. Um
casaco de capuz da marinha está amassado na cama desfeita dele, e estou tentada a correr até ele e o
esfregar entre os meus dedos, cheirá-lo e vestir por cima da minha regata. Seria quase como ter os
braços dele em volta de mim novamente.
Avaliando o quarto, eu percebo que o computador de Thayer ainda está ligado, lançando um
brilho estranho na mesa dele. Uma janela de chat está aberta piscando chamativamente na tela.
Estou indo, a mensagem diz.
A mensagem é para a minha irmã.
Meu sangue corre frio. Ele foi ver Laurel? Ele vai dizer o que aconteceu essa noite, e ela vai
consolá-lo... e depois o quê? É óbvio que ela está totalmente apaixonada por ele. E eles são tão
próximos. Só porque eles não estão namorando, não quer dizer que nunca namorarão.
Eu saiu do quarto dele e caminho em direção a cozinha, tomando cuidado para não fazer
barulho. Esqueça a festa do pijama. Esqueça as minhas amigas. Eu tenho que encontrar Thayer. Eu
tenho que falar com ele, pedir desculpas, explicar, fazê-lo entender...
Tão silenciosamente quanto eu posso, eu desbloqueio a trava da porta traseira e escapo para a
noite. O gorjear dos grilos e o vento soprando as folhas me incentivam. Antes que eu possa dar mais
um passo, eu ouço uma voz.
— Sutton.
Meu nome soa baixo e rouco, um pouco sufocado. E eu reconheceria a voz de olhos vendados.
Eu não poderia esquecer nem se eu quisesse. Eu estive pensando nela a noite toda.
É Thayer.
14 APENAS ENTRE NÓS
er Thayer ali, banhado pelo luar, fazem minhas pernas fraquejarem e vacilarem. O ar está
perfumado com o abundante cheiro de flores de acácia, e uma leve brisa agita o ar fresco da
noite. Em algum lugar distante, um cão uiva tristemente.
— Thayer! — eu grito. Antes que eu possa me parar, eu corro em direção a ele com os
braços estendidos para um abraço. Mas quando eu chego perto dele, ele recua, seus olhos frios e
apertados. Seu rosto está desprovido de emoção, o que é quase pior do que se ele me olhasse com
ódio ou aversão.
— Eu sinto muito — eu insisto. — A brincadeira não foi ideia minha. E não é o que você pensa.
— Está frio aqui fora com o vento, e meus braços nus se arrepiam. Eu esfrego as mãos em meus
braços, tentando me aquecer. Mas eu não posso chegar a esse poço frio que é a base do meu
estômago. Eu pisco, sentindo meus olhos lacrimejarem com a emoção.
Os olhos de Thayer analisam o meu corpo, o que me faz tremer ainda mais. Sua mandíbula está
apertada e sua postura rígida. — Eu não deveria estar surpreso, eu acho — ele diz, levantando a
cabeça e olhando por cima do meu ombro para a distância. — Vocês são do Jogo da Mentira. Eu fui
apenas o idiota que agiu como um pegador. — Ele ri uma vez, uma risada curta e amarga. — Eu não
consigo acreditar no quão ingênuo eu fui.
— Thayer, não — eu imploro. — Você não entende. Eu não queria fazer a brincadeira com você,
eu juro. Eu estava mentindo para as minhas amigas — eu admito, enrolando uma mecha de cabelo
em volta do meu dedo indicador. — Aquele beijo... foi real para mim. Honestamente.
— E por que eu tenho que acreditar em você agora?
Eu mordo meu lábio. — Eu não culpo você por não acreditar. Mas... me ouça, ok? Eu sou a
garota mais popular da Hollier. Eu tenho melhores amigas que acham que eu sou impressionante. E
em comparação a como eu sou tratada em casa, é meio que uma sensação incrível.
Ele bufa. — Como você é tratada em casa?
— Mais ou menos como... a segunda melhor, eu acho. Como se eu não pertencesse àquela casa.
Thayer abaixa o queixo. — Eu nunca vi nenhuma evidência disso.
— Bem, se é verdade ou não, é como eu me sinto — eu digo. — Talvez seja apenas a minha
paranoia por ser adotada me dominando. Mas Thayer, é por isso que eu tenho tanto medo de perder
as minhas amigas. Era com isso que eu estava preocupada, é por isso que eu não parei a brincadeira e
não disse a verdade quando elas nos pegaram. Eu não queria que elas rissem de mim. Mas então eu
percebi o quão estúpida eu fui. Tipo, inacreditavelmente estúpida. Eu deveria decidir de quem eu
gosto. — Eu engulo em seco, em seguida, levanto os meus olhos para ele. — E eu gosto de você.
Está aí. Eu disse. Não dá para voltar atrás agora. Mas eu ainda estou apavorada demais para
realmente olhar para Thayer. — Você não tem que me perdoar ou também gostar de mim. Eu
entendo se você quiser alguém que sempre foi boa com você, tipo Laurel. Mas eu achei que deveria
dizer a você como eu realmente me sinto. Você me perguntou se eu já fui honesta um dia na minha
vida, e com você, eu me sinto honesta. E eu estou dizendo a você algo honesto agora.
Então eu me afasto, envergonhada pelo meu pequeno discurso. Eu ando quase o caminho
inteiro quando sinto a mão de Thayer no meu ombro. Ele me gira de volta para ele. Há um olhar sério
V
em seu rosto, e por um momento, eu não consigo dizer se ele está com raiva ou não. Ele pega as
minhas mãos e aperta com força.
— Eu também gosto de você, Sutton — ele diz.
Meu coração salta em uma batida feliz, mas rapidamente muda bruscamente para uma parada
quando eu vejo sua expressão de dor. Algo está errado, muito errado.
Ele solta os dedos dos meus. — Eu apenas não tenho certeza se é uma boa ideia nós sairmos
publicamente agora.
— Por que não? — eu digo.
Thayer suspira, passando os dedos pelo cabelo, então ele se levanta como um ponto de
exclamação em cima de sua cabeça. — É complicado — ele diz finalmente.
Eu me sinto como se tivesse acabado de usar algum tipo de droga que altera a mente. — Bem, é
claro que é complicado — eu digo. — É complicado para mim, também. Mas por que para você,
exatamente? Porque você é irmã de Mads? Por causa de Laurel?
Thayer encontra meus olhos sem piscar. — Por parte é isso, eu acho. Há uma série de fatores
envolvidos. — Ele olha para longe. — Eu nunca conheci ninguém como você, Sutton. Mas você
também me assusta um pouco.
— O que você quer dizer? — Minha voz treme.
Ele faz uma pausa para pensar. — É como se você fosse duas Suttons diferentes — ele diz, o seu
discurso é lento e deliberado. Ao longe, há sons agudos de alarme de carro. — A Sutton que eu vi na
outra noite, em sua cozinha, era incrível: engraçada, calorosa e honesta. — Ele enfatiza a palavra,
fazendo-me estremecer. — Eu sinto que essa Sutton... me atrai. Acredite ou não, eu não saio por aí
dizendo às pessoas sobre o meu sonambulismo.
— Eu nunca contei a ninguém sobre os meus sonhos — eu respondo com a minha voz suave.
— Certo — ele concorda. — Essa Sutton e eu temos uma ligação. E é incrível.
Eu lanço os meus olhos para baixo, olhando as pedras irregulares que alinha o jardim dos
Vegas. — Mas...
— Mas a outra Sutton, a Sutton pública, ela não é muito legal. E eu não tenho certeza se quero
fazer parte desse mundo.
Eu fico olhando para ele. — Mas você ama toda a atenção que está recebendo agora. Eu sei!
Ele me para com a palma da mão levantada. — Eu gosto de ter amigos, com certeza. Mas eu não
quero ser parte de traições, envolvimentos rápidos e a multidão de jogos de vocês. Não é o meu estilo.
Eu engulo em seco. — Eu sinto muito pela brincadeira que envolvemos você. Mas eu posso ser
melhor, eu vou ser mais agradável. Eu posso até acabar com o Jogo da Mentira, se você quiser. As
coisas podem mudar.
Ele coloca a palma da mão firmemente em cada um dos meus ombros, inclinando-se tão perto
de mim que seus cílios quase roçam a minha testa. — Você acabou de me dizer o quanto você precisa
do seu mundo. Eu não vou pedir para você mudar isso. — Ele estende a mão e alisa meu rosto
levemente. — Eu quero ficar com você, também. Mas eu prefiro ir devagar no momento. — Ele me
olha suplicante. — Você pode fazer isso?
Eu pisco, totalmente desconcertada. Nunca alguém me disse que não queria ficar comigo por
causa de quem eu sou, isso normalmente é o que puxa um cara na minha direção. Mas Thayer
também tem um ponto. No fundo, eu já sabia há muito tempo que o Jogo da Mentira não é
exatamente agradável. Nós ficamos presas nele, porém, preenchidas por ele, e seria difícil parar
agora. Eu me imagino tentando dizer a Madeline e Char que o clube vai acabar. Vai ter coisas
suficientes para nos manter unidas? Elas vão atrás de outra pessoa e me deixar no escanteio? E se elas
culparem Thayer, o que vai acontecer entre ele e Madeline?
Eu deveria me importar por ele querer que isso seja um segredo? Ou eu devo apenas jogar a
precaução ao vento? E se eu nunca encontrar algo assim de novo?
Eu inclino minha cabeça, enrolando as mãos em torno da parte inferior das costas dele e
puxando-o para mim. — Vamos tentar — eu sussurro, sorrindo. Porque o que está acontecendo entre
nós, o que quer que isso seja, eu quero mais. Muito mais.
Um sorriso cauteloso se espalha em todo o rosto de Thayer, e seus lábios encontram os meus.
Ele me beija suavemente, depois inclina seus lábios contra o meu ouvido. — Ok.
Ele passa os dedos na minha espinha e eu derreto, beijando-o novamente com mais urgência,
mais emoção. Não há mais nada para falar agora.
Ter um namorado secreto poderia realmente ser meio excitante. É claro, ele vai ser apenas mais
um segredo para manter, outra mentira para contar.
Eu tenho a sensação de que será a primeira de muitas. Mas se isso significa estar com Thayer,
vai valer a pena.
FIM...
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