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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA MECNICA

    COMISSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

    Autor: Klever Joao Mosqueira Salazar

    Uso de gua e anlise exergtica na produo integrada de etanol de primeira e segunda

    gerao a partir da cana-de-acar Campinas, 2012.

  • Klever Joao Mosqueira Salazar

    Uso de gua e anlise exergtica na produo integrada de etanol de primeira e segunda

    gerao a partir da cana-de-acar Orientador: Dra. Silvia Azucena Nebra de Prez Co-orientador: Dr. Joaquim Eugnio Abel Seabra

    Campinas 2012

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado da Faculdade de Engenharia Mecnica da Universidade Estadual de Campinas, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em Planejamento de Sistemas Energticos.

  • ii

    Dedico este trabalho aos meus pais e a Maribel, minha fiel companheira de batalhas infinitas.

  • iii

    Agradecimentos

    A Deus por ficar sempre do meu lado e por me ajudar a vencer os obstculos que encontrei

    no caminho.

    Prof Silvia Nebra, minha orientadora, quem confiou no meu trabalho desde o incio,

    muito obrigado pela sua amizade, orientao, ensinamento, confiana, preocupao, e pela

    oportunidade de estudar neste pas e, assim, poder cumprir um dos meus objetivos mais

    importantes na minha vida at hoje.

    Aos meus pais, Silvia e Pedro, e a minha famlia, pelo seu apoio e carinho incondicional.

    A minha esposa Maribel, quem sempre esteve ao meu lado, me apoiando, acompanhando e

    incentivando o meu trabalho com pacincia e amor.

    Ao Prof. Dr. Joaquim Seabra, meu co-orientador, pelo acompanhamento e orientao.

    Aos Professores do curso e das outras unidades da Unicamp pelo aprendizado durante as

    diferentes disciplinas e pela sua paixo pelo ensino.

    Ao Dr. Carlos Rossell e Prof. Dr. Marcelo Modesto, pelas crticas e sugestes que

    possibilitaram tornar este um trabalho melhor.

    Aos Profs. Dr. Miguel Angel Lozano e Dr. Luis M. Serra da Universidade de Zaragoza na

    Espanha, que me receberam cordialmente no curto perodo de intercambio em que estive l, e

    com os quais pude aprender e desenvolver parte dos conceitos apresentados neste trabalho, sendo

    ademais exemplos a seguir na minha vida pessoal e profissional.

    Ao Prof. Walter Galarza Soto, da Universidade Nacional de Ingeniera, em Lima - Per,

    pela sua amizade e motivao para realizar o mestrado, e um especial agradecimento porque sem

    sua ajuda no houvesse sido possvel a minha vinda ao Brasil e ter vivido esta grandiosa

    experincia.

    Aos meus amigos: Reynaldo, Juan, Edwin, Toms, Paola, Wilmer, Ral, Vanessa, Harold,

    Delia, Bruno e Louryval, obrigado pela sua amizade e companheirismo neste tempo.

    Ao CNPq e ao Grupo Santander pelo apoio financeiro concedido.

    Finalmente a todos, que direta ou indiretamente foram peas fundamentais para a realizao

    deste trabalho, os meus sinceros agradecimentos.

  • iv

    Voc aquilo que faz, no aquilo que diz

    Severn Cullis-Suzuki

  • v

    Resumo

    A produo e o consumo de biocombustveis tm aumentado rapidamente nos ltimos anos,

    no entanto, esse crescimento tem levantado questes a respeito da sua sustentabilidade. Uma

    nova configurao da produo de biocombustveis, chamados de segunda gerao, a partir

    principalmente de resduos agroindustriais como o bagao de cana-de-acar, se apresenta como

    uma soluo frente quelas questes, ao aumentar a produo com o mesmo volume de recursos.

    No obstante, a sua sustentabilidade ainda precisa ser comprovada, devido a que o consumo de

    gua na fase industrial considerado um ponto crtico decorrente do seu aumento durante o

    processo de hidrlise, ao se desenvolver este em solues com baixas concentraes de slidos.

    Assim, este estudo objetiva a avaliao da sustentabilidade da produo integrada de etanol de

    primeira e segunda gerao a partir da cana-de-acar comparada ao processo convencional,

    atravs do impacto no consumo de gua por litro de combustvel produzido, e mediante uma

    anlise exergtica do processo visando determinar a sua influncia nos custos exergticos dos

    produtos da planta. Foi realizado um inventrio dos consumos de gua por processo durante a

    produo de etanol, e identificou-se ainda o potencial de reso dos efluentes visando a reduo da

    captao externa de gua. Os resultados revelaram que atravs de adequadas medidas de reso

    como o fechamento de circuitos de gua, e o tratamento dos novos efluentes na produo

    integrada, produzindo inclusive biogs, possvel atingir patamares de captao de gua muito

    prximos aos j existentes no atual setor sucroalcooleiro. Por outro lado, desde a viso da

    exergia, quando considerados como produtos o etanol, a eletricidade excedente e o bagao

    excedente no processo convencional, foi alcanada uma eficincia de segunda lei igual a 55%,

    enquanto no processo integrado, apesar de produzir biogs, se atingiram menores desempenhos

    na gesto dos recursos com valores na faixa de 34 a 36% devido s irreversibilidades dos

    processos internos. Adicionalmente, aumentos entre 13,6% e 15,4% no custo exergtico do etanol

    anidro na produo integrada refletiram os resultados anteriores.

    Palavras Chave: Etanol; cana-de-acar, hidrlise enzimtica, reso de gua, exergia

  • vi

    Abstract

    Production and consumption of biofuels have been growing rapidly in the last few years;

    however, this rapid growth has raised questions regarding its sustainability. A new configuration

    of biofuel production, the so called second generation biofuels, mainly produced from agro-

    industrial residues such as sugarcane bagasse, appears as a solution to those issues, increasing

    production with the same amount of resources. Nevertheless, its sustainability has yet to be

    proven; because of water use in industrial stage is considered as critical, due to its increase during

    the hydrolysis process, which occurs in solutions with low concentrations of solids. Thus, this

    study aims the assessment of the sustainability of the integrated production of first and second

    generation ethanol from sugarcane compared to the conventional process, through the impact on

    consumption of water per liter of fuel produced, and by an exergy analysis of the process to

    determine its influence in the exergetic cost of the main plants products. It was perfomed an

    inventory of water consumption by process during ethanol production and it was even identified

    the potential of effluents for recycling in order to reduce water withdrawal. Results showed that

    through appropriate procedures of reuse, such as closing water circuits and treatments of new

    effluents from integrated production, producing even biogas, it is possible to achieve water

    withdrawals close enough to those existing in current ethanol plants. Moreover, since the view of

    exergy, considering ethanol, surplus electricity and surplus bagasse as the major products in the

    conventional process, it was obtained a second law efficiency equal to 55%, while in the

    integrated process, although producing biogas, it was reached a lower performance in resources

    management with values in the range of 34 to 36% due to irreversibilities in the new processes.

    Additionally, increases between 13,6 and 15,4% in the exergetic cost of second generation

    ethanol was found when compared to production of first generation ethanol, reflecting previous

    results.

    Key Words: Ethanol, sugarcane, enzymatic hydrolysis, water reuse, exergy

  • vii

    Lista de Figuras

    1.1. Disponibilidade e captao de gua per capita 3

    2.1. Diagrama de fluxo da produo de etanol em uma destilaria autnoma 7

    2.2. Esquema dos processos de limpeza, preparo e extrao da cana-de-acar 9

    2.3. Esquema do processo de tratamento do caldo 13

    2.4. Esquema do processo de concentrao do caldo 16

    2.5. Esquema do processo de fermentao 19

    2.6. Esquema do processo de destilao e retificao 21

    2.7. Esquema do processo de desidratao via destilao azeotrpica 23

    2.8. Esquema do processo de desidratao via destilao extrativa 24

    2.9. Esquema do sistema de cogerao com turbina a contrapresso 26

    2.10. Esquema do sistema de resfriamento por lagoas de asperso e torres de resfriamento 28

    2.11. Distribuio das componentes do material lignocelulsico 30

    2.12. Diagrama de fluxo da produo de etanol em uma destilaria autnoma integrada ao

    processo de hidrlise enzimtica do bagao 32

    2.13. Esquema do processo de hidrlise enzimtica do bagao de cana-de-acar com pr-

    tratamento a exploso a vapor 35

    2.14. Esquema do processo de concentrao do licor de glicose diludo atravs de um

    sistema de evaporao de mltiplo efeito acompanhado da detoxificao 36

    3.1. Mapa do Zoneamento Agroambiental - Resoluo SMA/SSA-004 - 2008 42

    3.2. Mapa atual do Zoneamento Agroambiental - Resoluo SMA/SSA-006 de 2009 44

    3.3. Distribuio do nmero de usinas do estado de So Paulo aderidas ao Protocolo

    Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro em base ao seu consumo de gua 45

    3.4. gua consumida no processo de converso das matrias primas em combustveis 46

    3.5. Evoluo de captao de gua na indstria canavieira 47

    3.6. Avaliao da eficincia da lavagem do bagao pr-tratado para diferentes vazes de

    gua 49

    3.7. Esquemas de recirculao das correntes do processo de produo de etanol de segunda

    gerao a partir de madeira 51

  • viii

    3.8. Possveis configuraes dos processos e potenciais produtos no tratamento de

    materiais lignocelulsicos 66

    3.9. Sistemas compostos por reatores anaerbios seguidos por algum processo de ps-

    tratamento 69

    3.10. Fluxograma da instalao proposta de um filtro prensa para desaguamento da torta de

    lignina 72

    3.11. Fluxograma da instalao proposta de uma prensa desaguadora para desaguamento da

    torta de lignina 73

    3.12. Alternativas industriais na minimizao do consumo de gua 74

    3.13. Esquema do mtodo heurstico para gerenciamento dos fluxos de gua 77

    5.1. Consumo de gua na produo de etanol de segunda gerao com concentrao do

    licor de glicose via sistema de evaporao de mltiplo efeito considerando circuito

    aberto 107

    5.2. Consumo de gua na produo de etanol de segunda gerao com concentrao do

    licor de glicose mediante sistema de membranas considerando circuito aberto 108

    5.3. Diagrama do processo integrado de produo de etanol de primeira e segunda gerao

    considerando o fechamento dos circuitos de resfriamento 110

    5.4. Captao de gua por processo na produo de etanol de segunda gerao com

    concentrao de licor de glicose via sistema de evaporao de mltiplo efeito com o

    fechamento de circuitos 113

    5.5. Captao de gua por processo na produo de etanol de segunda gerao com

    concentrao de licor de glicose por sistema de membranas com o fechamento de

    circuitos 114

    5.6. Potenciais fluxos de gua para reso na produo de etanol de primeira gerao 115

    5.7. Distribuio da gua dentro dos principais fluxos na produo de etanol de segunda

    gerao 116

    5.8. Potenciais fluxos de gua para reso na produo de etanol de segunda gerao 117

    5.9. Potencial de reso de gua considerando o uso da vinhaa 118

    5.10. Captao efetiva total de gua para cada cenrio avaliado 120

    5.11. Captao de gua por litro de etanol produzido 121

  • ix

    5.12. Reso das correntes de gua na produo de etanol de primeira gerao de acordo ao

    mtodo heurstico visando o seu gerenciamento em base qualidade das demandas de

    gua e dos efluentes 122

    5.13. Esquema proposto para a minimizao de gua captada na produo integrada de

    etanol de primeira e segunda gerao: Estao de Tratamento de gua 123

    5.14. Esquema proposto para a minimizao de gua captada na produo integrada de

    etanol de primeira e segunda gerao: Tanque de condensados 125

    5.15. Esquema proposto para a minimizao de gua captada na produo integrada de

    etanol de primeira e segunda gerao: Sistemas de resfriamento 126

    5.16. Reso das correntes de gua na produo integrada de etanol de primeira e segunda

    gerao de acordo ao mtodo heurstico 127

    6.1. Definio do sistema a ser avaliado pela anlise exergtica e do custo exergtico 128

    6.2. Diagrama de fluxos de exergia utilizado para a anlise exergtica e de custo

    exergtico - Caso I 131

    6.3. Diagrama de fluxos de exergia utilizado para a anlise exergtica e de custo

    exergtico - Caso II 136

    6.4. Diagrama de fluxos de exergia utilizado para a anlise exergtica e de custo

    exergtico - Caso III 142

    6.5. Irreversibilidade gerada por litro de etanol produzido em cada subsistema nos trs

    casos avaliados 146

    6.6. Contribuio de cada subsistema no total da irreversibilidade gerada 148

    6.7. Formao do custo exergtico unitrio dos produtos Caso I 157

    6.8. Formao do custo exergtico unitrio dos produtos Caso II 159

    6.8. Formao do custo exergtico unitrio dos produtos Caso III 160

  • x

    Lista de Tabelas

    2.1. Caracterizao dos principais parmetros da moenda e do difusor 12

    2.2. Classificao das correntes de acordo ao sistema de resfriamento 29

    2.3. Tecnologias mais promissoras no pr-tratamento de materiais lignocelulsicos 33

    3.1. Consideraes no uso de gua segundo o Zoneamento Agroambiental do Estado de

    So Paulo 43

    3.2. Fluxos de gua requeridos na produo de etanol de primeira gerao 52

    3.3. Principais efluentes na produo de etanol de primeira gerao com potencial de reso

    dentro da usina 59

    3.4. Composio em base mssica do vapor flash do pr-tratamento do bagao 61

    3.5. Composio em base mssica do licor de pentoses 62

    3.6. Composio em base mssica da gua da prensagem da torta de lignina 62

    3.7. Composio em base mssica do permeado da separao por membranas 63

    3.8. Eficincias de remoo tpicas dos principais poluentes no tratamento de efluentes

    domsticos 70

    4.1. Composio mssica em base seca das biomassas usadas como insumos 84

    4.2. Exergias padres de componentes qumicos 92

    4.3. Principais parmetros de operao na produo de biogs 93

    5.1. Parmetros de operao do processo convencional 101

    5.2. Parmetros de operao na produo de etanol de segunda gerao 103

    5.3. Usos de gua na destilaria autnoma considerando circuito aberto Caso Base 105

    5.4. Perdas de gua nos circuitos fechados 109

    5.5. Captao de gua na destilaria autnoma com o fechamento de circuitos 111

    5.6. Captao de gua quando considerado o reso da gua total contida na vinhaa 119

    6.1. Caracterizao dos fluxos de entrada e sada por subsistema - Caso I 132

    6.2. Definio dos produtos e insumos para os subsistemas - Caso I 134

    6.3. Caracterizao dos fluxos de entrada e sada por subsistema - Caso II 135

    6.4. Definio dos produtos e insumos para os subsistemas - Caso II 140

    6.5. Caracterizao dos fluxos de entrada e sada por subsistema - Caso III 141

    6.6. Definio dos produtos e insumos para os subsistemas - Caso III 145

  • xi

    6.7. Eficincias exergticas por subsistema dos casos avaliados 147

    6.8. Eficincias exergticas globais dos casos analisados 149

    6.9. Dados para a determinao da eficincia de primeira lei 150

    6.10. Eficincias de primeira lei dos casos analisados 150

    6.11. Custos exergticos unitrios dos principais fluxos da planta 155

    A.1. Consumo de gua na planta integrada Caso de concentrao do licor de glicose por

    sistema de evaporao 184

    A.2. Usos de gua na planta integrada Caso de concentrao do licor de glicose por

    sistema de membranas 185

    A.3. Captao de gua na usina integrada com o fechamento de circuitos - Caso de

    concentrao do licor de glicose por sistema de evaporao 186

    A.4. Captao de gua na usina integrada com o fechamento de circuitos - Caso de

    concentrao do licor de glicose por sistema de membranas 187

    A.5. Potenciais efluentes para reso na usina integrada Caso de concentrao do licor de

    glicose por sistema de evaporao 188

    A.6. Potenciais efluentes para reso na usina integrada Caso de concentrao do licor de

    glicose por sistema de membranas 189

    B.1. Dados termodinmicos dos fluxos envolvidos na planta modelada do Caso I 190

    B.2. Dados termodinmicos dos fluxos envolvidos na planta modelada do Caso II 192

    B.3. Dados termodinmicos dos fluxos envolvidos na planta modelada do Caso III 195

  • xii

    Lista de Smbolos, Abreviaturas e Siglas

    Letras Latinas

    a atividade

    b Exergia especfica [kJ/kg]

    B Exergia [kW]

    B* Custo exergtico [kW]

    Bx Brix [%]

    cp Calor especfico a presso constante [kJ/kg K]

    F Fuel (Insumo)

    FC Fator de correo de temperatura

    g Energia livre de Gibbs especfica [kJ/kg]

    h Entalpia especfica [kJ/kg]

    I Taxa de irreversibilidade [kW]

    k Custo exergtico unitrio

    Kp Constante de equilibrio

    MM Massa molar [kg/kmol]

    m Fluxo mssico [kg/s]

    p Presso [bar]

    P Produto

    Pol Teor de sacarose [%]

    Pz Pureza [%]

    R Constante universal dos gases [kJ/kmol K]

    Q Fluxo de calor [kW]

    s Entropa especfica [kJ/kg]

    T Temperatura [C]

    W Potncia [kW]

    x Frao mssica

    y Frao molar

    Y Produo de biogs [L/g DQOremovido]

  • xiii

    z Concentrao de slidos

    ................................................... Letras Gregas

    Variao

    Coeficiente de atividade

    Razao beta

    Eficincia [%]

    Densidade [kg/m3

    ................................................... ]

    Superescritos

    00 Componente padro

    ................................................... Subscritos

    0 Condies de referncia

    1G Primeira gerao

    2G Segunda gerao

    af Afluente

    ag gua

    bag Bagao

    bs Base seca

    C Carbono

    cin Cintica

    e Entrada

    et Etanol

    f Fsica

    fg Mudana de fase

    H Hidrognio 2

    i Inicial

    mis Mistura

    N Nitrognio 2

  • xiv

    O Oxignio 2

    op Operao

    pal Palha

    pot Potencial

    q Qumica

    s Sada

    S Enxofre

    sac Sacarose

    sat Saturado

    scoa Soluo compostos orgnicos-gua

    sea Soluo etanol-gua

    ssa Soluo sacarose-gua

    temp Temperatura

    tot Total

    z Cinzas

    ................................................... Abreviaes

    AEAC lcool Etanol Anidro Carburante

    AEHC lcool Etanol Hidratado Carburante

    APA rea de proteo ambiental

    ATR Acares totais recuperveis

    BEN Balano Energtico Nacional

    COT Carbono orgnico total

    DBO Demanda bioqumica de oxignio

    DQO Demanda qumica de oxignio

    ETA Estao de tratamento de gua

    GL Graus Gay Lussac

    INPM Graus INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas)

    MEG Monoetilenoglicol

    MP Material particulado

    PCI Poder calorfico inferior

  • xv

    PCS Poder calorfico superior

    PNRH Poltica Nacional de Recursos Hdricos

    SHF Separate Hydrolysis and Fermentation (Hidrlise e fermentao separadas)

    SSF Simultaneous Sacharification and Fermentation (Sacarificao e fermentao

    simultnea)

    SSCF Simultaneus Saccharification and Combined Fermentation (Simultnea sacarificao

    e fermentao combinada)

    SST Slidos solveis totais

    STD Slidos totais dissolvidos

    TIR Taxa interna de retorno

    UASB Upflow anaerobic sludget blanket (Reator anaerbio de fluxo ascendente e manta de

    lodo)

    ................................................... Siglas

    ANA Agncia Nacional de guas

    CETESB Companhia Ambiental do Estado de So Paulo

    CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    CTBE Laboratrio Nacional de Cincia e Tecnologia do Bioetanol

    CTC Centro de Tecnologia Canaviera

    DAIA Departamento de Avaliao de Impactos Ambientais

    NREL National Renewable Energy Laboratory

    SMA Secretaria do Meio Ambiente

    UDOP Unio dos Produtores de Bioenergia

    NICA Unio de Indstrias de Cana-de-acar

  • xvi

  • xvii

    SUMRIO 1 INTRODUO 1

    1.1. Objetivo 4 1.2 Estrutura do trabalho 5 2 DESCRIO DO PROCESSO 7

    2.1 Produo de etanol de primeira gerao a partir da cana-de-acar 7 2.1.1. Recepo e limpeza da cana-de-acar 8 2.1.2. Preparo da cana e extrao do caldo 9 2.1.3. Tratamento do caldo 13 2.1.4. Concentrao do caldo por evaporao 16 2.1.5. Fermentao 18 2.1.6. Destilao 20 2.1.7. Desidratao 22 2.1.8. Cogerao 25 2.1.9. Resfriamento dos efluentes 28

    2.2 Produo de etanol de segunda gerao a partir da cana-de-acar 30 2.2.1. Pr-tratamento 32 2.2.2. Hidrlise enzimtica 34 2.2.3. Concentrao do licor de glicose e detoxificao 36

    3 USO DE GUA NA PRODUO DE ETANOL 38

    3.1 Legislao no uso da gua 38

    3.1.1. Cobrana pelo uso da gua 39 3.1.2. Legislao no estado de So Paulo para o setor sucroalcooleiro 40 3.1.3. Protocolo agroambiental do setor sucroalcooleiro 44

    3.2 A gua na produo de etanol de primeira e segunda gerao 46

    3.3 Caracterizao das demandas de gua 52 3.3.1. Caracterizao das demandas na produo de etanol de primeira gerao 52

    3.3.1. 1. gua para reposio na caldeira 53 3.3.1.2. gua para diluio do fermento 54 3.3.1.3. gua para preparo do polmero 55 3.3.1.4. gua para a lavagem da torta do filtro 55 3.3.1.5. gua para o preparo do leite de cal 55 3.3.1.6. gua para embebio 55 3.3.1.7. gua para reposio nas torres de resfriamento 56 3.3.1.8. gua para reposio nas lagoas de resfriamento 57 3.3.1.9. gua para lavagem dos gases CO2

    da fermentao 57

  • xviii

    3.3.1.10. gua para reposio de lavagem dos gases da caldeira 58 3.3.1.11. gua para limpezas gerais e usos potveis 58

    3.3.2. Caracterizao das demandas na produo de etanol de segunda gerao 58

    3.4 Caracterizao dos efluentes na produo de etanol 59 3.4.1. Efluentes na produo de etanol de primeira gerao 59

    3.4.1. 1. Condensados do vapor vegetal do caldo 59 3.4.1.2. Purgas da caldeira 60 3.4.1.3. Efluente da gua de limpeza 60 3.4.1.4. Purgas da gua de lavagem dos gases da caldeira 61 3.4.1.5. gua obtida no processo de desidratao 61

    3.4.2 Efluentes na produo de etanol de segunda gerao 61

    3.4.2. 1. Vapor flash do pr-tratamento 61 3.4.2.2. Licor de pentoses 61 3.4.2.3. gua da prensagem da torta de lignina 62 3.4.2.4. Condensados do vapor vegetal do licor de glicose 62 3.4.2.5. Permeado do processo de separao por membranas 63

    3.5 Tratamento dos efluentes na produo de etanol 63

    3.5.1. Tratamento da gua da lavagem dos gases da caldeira 64 3.5.2. Vinhaa 64 3.5.3. Tratamento e uso do licor de pentoses 66

    3.5.3. 1. Produo de biogs 67 3.5.3.2. Produo de xilitol 70

    3.5.4. Recuperao do vapor flash do pr-tratamento do bagao 71 3.5.5. Tratamento da torta de lignina 72

    3.6 Tcnicas de otimizao para a minimizao do uso de gua 74

    3.6.1. Mtodo heurstico de reso 76 4 A EXERGIA NA PRODUO DE ETANOL 78

    4.1 Exergia 78

    4.2 Anlise exergtica 80 4.3 Clculo da exergia das correntes na produo de etanol de primeira e

    segunda gerao 82 4.3.1. Exergia do bagao da cana-de-acar 82 4.3.2. Exergia da soluo sacarose-gua 84 4.3.3. Exergia da soluo etanol - gua 88 4.3.4. Exergia de solues compostos orgnicos-gua 90 4.3.5. Exergia do biogs 92

  • xix

    4.4 A Termoeconomia 93

    4.4.1. Teoria do custo exergtico 95 4.4.2. O processo de formao de custos 96

    4.5 Reviso de estudos de anlise exergtica e de custo exergtico na produo de etanol de primeira e segunda gerao 97

    5 AVALIAO DO CONSUMO DE GUA E DOS EFLUENTES NA PRODUO

    DE ETANOL CONSIDERANDO ALTERNATIVAS DE RESO 101

    5.1 Metodologia 104

    5.2 Consumo de gua na produo de etanol 104 5.2.1. Etanol de primeira gerao 104 5.2.2. Etanol de primeira e segunda gerao 106

    5.3 Economia de gua atravs do fechamento de circuitos 108

    5.3.1. Etanol de primeira gerao 111 5.3.2. Etanol de primeira e segunda gerao 112

    5.4 Avaliao dos efluentes para reso 114 5.4.1. Etanol de primeira gerao 114 5.4.2. Etanol de primeira e segunda gerao 115 5.4.3. O potencial da vinhaa 118

    5.5 Mnima captao de gua 119 5.6 Oportunidades de reso 121

    5.6.1. Minimizao de gua na produo de etanol de primeira gerao 122 5.6.2. Minimizao de gua na produo integrada de etanol de primeira e segunda gerao 123

    6 ANLISE EXERGTICA E DOS CUSTOS EXERGTICOS DOS PRODUTOS

    DA PRODUO DE ETANOL 128

    6.1 Descrio dos cenrios e definio do sistema avaliado 128

    6.2 Anlise exergtica 129 6.2.1. Anlise exergtica da produo de etanol de primeira gerao 130 6.2.2. Anlise exergtica da produo de etanol de primeira e segunda gerao 133 6.2.3. Irreversibilidades e eficincia de segunda lei 145 6.2.4. Eficincia de primeira lei 150

    6.3 Anlise do custo exergtico 151

    6.3.1. Consideraoes na produo de etanol de primeira gerao 151 6.3.2. Consideraoes na produo de etanol de primeira e segunda gerao 153 6.3.3. Custos exergticos 155

  • xx

    6.4 A formao dos custos dos produtos 156

    6.4.1. Formao dos custos na produo de etanol de primeira gerao 156 6.4.2. Formao dos custos na produo de etanol de primeira e segunda gerao 158

    7 CONCLUSES E SUGERNCIAS PARA TRABALHOS FUTUROS 161

    Referncias 165

    APNDICE A 184

    APNDICE B 190

  • 1

    1 INTRODUO

    Com preos do petrleo flutuando em uma economia mundial baseada principalmente em

    combustveis fsseis, como o petrleo e o gs natural, o transporte tem mostrado as maiores taxas

    de crescimento de emisses de gases de efeito estufa (GEE) nos ltimos dez anos sobre qualquer

    outro setor, com um aumento previsto de 80% no consumo de energia e nas emisses de carbono

    em 2030 (IPCC, 2007).

    Assim, o interesse por novas alternativas deu origem a um aumento na produo de

    combustveis a partir de matrias-primas renovveis como a biomassa, onde o seu uso criou duas

    importantes correntes ou geraes na produo de biocombustveis (BRINGEZU et al., 2007).

    Por um lado, os biocombustveis de primeira gerao so produzidos a partir de culturas para

    produo de alimentos, como o milho e a cana-de-acar, e constitudos principalmente por

    etanol e biodiesel. Enquanto, os biocombustveis de segunda gerao so produzidos a partir de

    materiais lignocelulsicos, como o bagao, a casca do arroz e do trigo, entre outras, que so

    resduos ou subprodutos do processamento de determinadas biomassas, sendo a maioria deles

    disponveis em abundncia e baixo custo. Algumas biomassas cultivadas, como o capim e o

    sorgo, so tambm fontes ricas em celulose e hemicelulose, que constituem importantes

    substratos para a produo de biocombustveis (NAIK et al., 2010; PINZI e DORADO, 2011).

    Em 2011 a Agncia Internacional de Energia publicou o relatrio Biofuels Technology

    Roadmap (IEA, 2011a), no qual encoraja aos governos a se deslocar para biocombustveis mais

    avanados, derivados principalmente de resduos de biomassa ao invs de combustveis derivados

    de culturas alimentares como o milho, a cana de acar, entre outros. Porm, enquanto a

    produo de biocombustveis de primeira gerao est em um estado avanado tanto em relao

    produo, e infraestrutura, tecnologias de segunda gerao esto principalmente em uma fase

    piloto ou de demonstrao e ainda no esto operando comercialmente, apesar de que grandes

    esforos em pesquisa e desenvolvimento esto sendo realizados sob diferentes rotas de

    converso, sem uma tendncia clara mostrando qual tecnologia ser a opo futura

    economicamente mais promissora (IEA, 2010).

  • 2

    Nessa linha de pesquisas, a produo de etanol a partir de materiais lignocelulsicos atravs

    do processo de hidrlise enzimtica uma das principais rotas de converso sendo estudadas em

    todo o mundo (BALAT, 2011). O bagao de cana-de-acar pode ser tambm utilizado para a

    produo de etanol, mas, a introduo do processo de hidrlise do bagao no sistema atual de

    produo de etanol todo um desafio desde um ponto de vista energtico e hdrico, uma vez que

    o bagao o combustvel do processo atual e matria-prima para o processo de hidrlise

    (PALACIOS-BERECHE, 2011).

    Do ponto de vista dos recursos hdricos, a produo de biocombustveis afeta a estes de

    duas maneiras: diretamente, atravs das captaes de gua para a irrigao e para o processo

    industrial; e indiretamente, aumentando a perda de gua atravs da evapotranspirao, gua que

    em outro caso estaria disponvel como corrente de escoamento ou recarga das fontes subterrneas

    (BERNDES et al., 2003; PATE, 2012).

    Adicionalmente, uma das principais questes dos biocombustveis onde e como so

    cultivadas ou produzidas as biomassas que servem de matria-prima. Atualmente, existe uma

    grande polmica sobre se os biocombustveis atuais so produzidos de forma sustentvel, se

    fornecem considerveis redues de CO2, ou se podem ter impactos negativos na segurana

    alimentar e nos mercados agrcolas (ZUURBIER e VAN DE VOOREN, 2008; DALE, 2011). As

    respostas dependem de cada situao, mas em geral os biocombustveis hoje em dia no

    proporcionam significativos benefcios lquidos, a exceo, do etanol a partir da cana-de-acar

    no Brasil, onde, os custos so baixos e as redues de emisses de CO2

    parecem ser substanciais

    (IEA, 2011b).

    Especificamente, a intensidade do consumo de gua no cultivo de biomassas para a

    produo de biocombustveis pode variar grandemente dependendo da matria-prima utilizada. O

    aumento na presso sobre o consumo de gua pode contribuir em um uso excessivo dela em uma

    determinada regio, isto , chegar a uma situao em que a captao da gua exceda taxa de

    renovao natural como mostrado na Figura 1.1., onde representado o perfil da gua captada e a

    disponibilidade per capita em um modelo sobre o impacto do cultivo de culturas energticas em

    pases selecionados para o ano 2075 (BERNDES, 2008).

  • 3

    Os crculos slidos representam a situao inicial em 1995, e as flechas indicam a mudana

    para dois cenrios que incluem o impacto do cultivo de culturas energticas, tanto em sistemas

    sem irrigao (crculos abertos), nos quais as perdas por evapotranspirao so maiores levando a

    uma menor disponibilidade de 6gua; ou com irrigao parcial (quadrados), aumentando a

    captao de gua para compensar parte das perdas do primeiro cenrio. Alm disso, a escassez de

    gua em um pas definida na figura em base ao limite de estresse hdrico (rea rosa) como uma

    relao entre a captao de gua e a sua disponibilidade igual ou menor a 25%.

    Figura 1.1: Disponibilidade e captao de gua per capita. Fonte: Berndes (2008)

    De acordo Figura 1.1 a disponibilidade hdrica no parece apresentar alguma restrio no

    Brasil a diferena de outros pases como a China e a ndia, os que j esto atravessando situaes

    de escassez hdrica. Porm, o modelo no considera casos especficos como aqueles existentes na

    regio nordeste do Brasil onde situaes muito prximas ao estresse hdrico so atingidas, com

    longos perodos de seca em algumas zonas.

    Ademais, apesar de que, em forma geral, as principais biomassas para a produo de

    biocombustveis precisam de grandes quantidades de gua na sua produo, a cana-de-acar

    uma exceo a esta regra (WEF, 2011). Em um caso particular, os canaviais brasileiros so

    irrigados na sua maior parte pela gua de chuva, principalmente na regio de produo centro-sul,

  • 4

    onde produzida cerca de 90% da cana-de-acar. A chuva complementada com a

    fertirrigao, uma prtica que envolve a aplicao de vinhaa, um resduo base de gua na

    produo de etanol, que rico em nutrientes orgnicos (DONZELLI, 2005; NEVES et al., 2011).

    No entanto, embora o impacto da etapa industrial sobre o consumo de recursos hdricos

    substancialmente menor do que o incorrido na fase agrcola para muitas culturas (BERNDES,

    2002), a produo de biocombustveis de segunda gerao ainda poder exigir um aumento do

    uso dos recursos hdricos nesta fase da converso, sendo este o indicado como um dos pontos

    crticos, uma vez que os novos processos acontecem em meios aquosos com baixa concentrao

    de slidos (2% - 8%), tendo, portanto que ser ainda comprovada a sua sustentabilidade.

    Desse modo, na determinao da sustentabilidade de um processo, o uso de indicadores e

    ferramentas adequadas fornece aos tomadores de deciso uma avaliao integrada, localizada e

    global do sistema sociedade-natureza em perspectivas de curto e longo prazo, a fim de ajudar a

    definir quais aes devem ou no ser tomadas visando tornar o processo sustentvel sociedade

    (SINGH et al., 2012). Diferentes ferramentas tm sido desenvolvidas e categorizadas de acordo a

    numerosos fatores e dimenses, incluindo entre elas a anlise de ciclo de vida, a pegada

    ecolgica, a pegada hdrica, a anlise de insumo-produto, entre muitas outras (NESS et al., 2007).

    Outra ferramenta para analisar a eficincia dos processos de produo de biocombustveis a

    partir de um ponto de vista integrado oferecida pela anlise exergtica, a qual, em base ao

    conceito de exergia, uma tcnica adequada para promover o uso mais eficiente dos recursos,

    pois permite a localizao, classificao e identificao das magnitudes reais dos resduos e

    perdas durante um processo; revelando assim se e possvel ou no, e por quanto, projetar sistemas

    energticos mais eficientes, reduzindo as ineficincias nos sistemas j existentes (DINCER, 2002;

    ROSEN et al., 2008).

    2.1. Objetivos

    Este trabalho tem como objetivo determinar a sustentabilidade da produo integrada de

    etanol de primeira e segunda gerao a partir da cana-de-acar, em comparao com a produo

    convencional de primeira gerao, atravs de dois indicadores de anlise.

  • 5

    Do ponto de vista hdrico, visa-se determinar a mnima captao de gua durante a fase

    industrial por litro de etanol produzido, mediante a avaliao do consumo dela e a identificao

    do potencial de reso dos efluentes dentro da planta.

    Atravs de uma anlise mais abrangente avaliado o adequado uso dos recursos da

    natureza sob o conceito da exergia, determinando o desempenho exergtico dos processos bem

    como os custos exergticos dos produtos finais.

    2.2. Estrutura do trabalho

    O captulo 2 apresenta a descrio dos processos que compem a produo de etanol a

    partir da cana-de-acar em uma destilaria convencional e quando considerada a integrao da

    hidrlise enzimtica do bagao, ressaltando em cada um deles o consumo da gua e a sua

    relevncia dentro dos mesmos.

    No captulo 3 realizada uma reviso bibliogrfica a respeito do uso de gua no setor

    sucroalcooleiro, bem como um estudo de caracterizao das demandas de gua e dos efluentes

    lquidos no processo de produo de etanol de primeira e segunda gerao. Uma identificao de

    alternativas e tratamento desses efluentes visando a reduo de gua externa a ser fornecida

    planta tambm descrita.

    O captulo 4 apresenta uma reviso geral dos mtodos de anlise exergtica e de custo

    exergtico a serem utilizados nos estudos de caso avaliados. Alm disso, so mostradas as

    metodologias necessrias para o clculo das propriedades e exergias dos fluxos envolvidos no

    processo. Apresenta-se no fim uma reviso bibliogrfica sobre a aplicao da anlise exergtica

    em processos de produo de etanol de primeira e segunda gerao.

    O captulo 5 desenvolve um inventrio do consumo de gua e identifica oportunidades de

    reso dos efluentes dos processos em uma destilaria convencional e na produo integrada de

    etanol de primeira e segunda gerao visando determinar a mnima captao de gua da planta.

    No ltimo caso so considerados vrios cenrios com diferentes concentraes de slidos no

    reator de hidrlise bem como no sistema de concentrao do licor de glicose, atravs de um

    sistema de evaporao ou via um sistema de separao por membranas. Finalmente feita uma

  • 6

    proposta de distribuio dos efluentes com o seu reso direto ou indireto, mediante tratamentos

    fsico-qumicos adequados.

    J no captulo 6 so apresentadas a anlise exergtica e de custo exergtico para trs dos

    casos estudados previamente, definindo em primeiro lugar os volumes de controle e as correntes

    em cada um deles, definindo ademais os produtos e insumos em cada caso. Com as exergias

    determinadas, so avaliadas as irreversibilidades e eficincias exergticas de cada componente da

    planta para finalizar com a anlise de custo exergtico, determinando os custos exergticos

    unitrios dos produtos finais e dos fluxos internos da planta a serem comparados entre os

    cenrios estudados.

    Finalmente, o captulo 7 apresenta as concluses e sugestes para trabalhos futuros.

  • 7

    2 DESCRIO DO PROCESSO

    Neste captulo so descritas as operaes que compem o processo industrial na produo

    de etanol em destilarias autnomas a partir da cana-de-acar, ademais dos processos necessrios

    na converso dos acares contidos no bagao em etanol via a hidrlise enzimtica.

    2.1. Produo de etanol de primeira gerao a partir da cana-de-acar

    A unidade industrial pode ser dividida nas seguintes sees, que sero descritas a seguir:

    recepo, limpeza, preparao, extrao dos acares, tratamento e concentrao do caldo,

    fermentao, destilaria de etanol, sistema de produo de energia eltrica e trmica, e sistema de

    resfriamento. A Figura 2.1 apresenta aqueles processos, a exceo do sistema de resfriamento,

    indicando, alm dos principais fluxos na produo de etanol, os requerimentos de gua e

    efluentes envolvidos durante a produo do mesmo.

    Figura 2.1: Diagrama de fluxo da produo de etanol em uma destilaria autnoma

    Limpeza, Preparo eExtrao

    Tratamento do caldo

    Concentrao do caldo Fermentao Destilao Desidratao

    Sistema de Cogerao

    Cana-de-acar

    - gua para caldeira- Lavagem dos gases da caldeira- Resfriamento dos turbogeradores

    - Embebio- Resfriamento de mancais- Resfriamento do leo de lubrificao

    Caldo misto

    Caldo tratado

    Xarope Vinho

    Etanol

    hidratado

    Etanol

    anidro

    Bagao

    Condensados de VV - Resfriamento do mosto- Resfriamento das dornas- Diluio do fermento- Lavagem dos gases CO2

    - Calagem- Filtro rotativo- Lavagem da torta- Preparo do polmero

    Condensador de evaporao do caldo

    VinhaaCondensadores Condensadores

    VaporEletricidade

    Palha

  • 8

    2.1.1. Recepo e limpeza da cana-de-acar Aps a colheita mecanizada ou manual, obtida cana picada ou inteira, respectivamente,

    sendo logo transportada o mais cedo possvel para a usina, a fim de evitar perdas de acares. O

    sistema de transporte normalmente baseado em caminhes, a exceo de algumas poucas

    empresas que utilizam transporte fluvial (BNDES, 2008).

    Na usina, os caminhes so pesados antes e aps o descarregamento em balanas

    eletrnicas, visando obter o peso real da cana pela diferena entre as duas medidas. Algumas

    cargas so selecionadas aleatoriamente para extrair amostras, que so homogeneizadas e

    analisadas para determinar a qualidade da matria-prima recebida, em base ao teor de sacarose e

    ao ATR (acar total recupervel), parmetros que ajudam no controle de moagem e ao clculo

    do desempenho industrial (ELIA NETO, 2009)

    A cana pode ser descarregada na mesa alimentadora de 45 e transferida para as esteiras de

    transporte que a levam para o setor de preparo, ou pode ser descarregada diretamente nas esteiras

    quando for picada. A cana arrasta tanto impurezas minerais como vegetais que precisam ser

    removidas, devido a que se no forem separadas, podem provocar problemas como a presena de

    slica, a qual danifica os equipamentos da extrao; o aumento de umidade no bagao; o aumento

    significativo da pol do bagao; a perda de capacidade de moagem; entre outros.

    Assim, quando a cana colhida manualmente, esta lavada com gua para diminuir as

    impurezas na prpria mesa de recepo em circuito fechado, recirculando a gua, que recebe

    tratamento; no caso da cana picada, o sistema de limpeza a seco sugerido, pois as perdas de

    sacarose so muito elevadas quando for usada a limpeza com gua (LEITE, 2009).

    Existem atualmente duas maneiras de limpeza a seco da cana que carrega palhas, pontas e

    minerais para a usina: limpeza na mesa alimentadora, e limpeza direta na esteira de cana, sendo a

    primeira a mais comum usada nas usinas (JORNAL CANA, 2010a). No obstante, a segunda

    alternativa sendo nova apresenta menores custos de investimento, uma reduo considervel de

    potencia eltrica instalada e um aumento de eficincia de limpeza.

  • 9

    Outro sistema de limpeza a seco a contrafluxo, com base no uso de ventiladores

    industriais que sopram ar contra o fluxo da cana, fazendo a remoo das impurezas minerais e

    vegetais, coletando elas em uma cmara especial e sendo retornadas para a lavoura (JORNAL

    CANA, 2011). Por outro lado, existem sistemas de limpeza a seco mediante filtros eletroestticos

    ou baseados em tambores rotativos com chapas perfuradas. Depois da remoo das impurezas, a

    cana cai na esteira transportadora para ser enviada para a etapa de preparo e extrao do caldo.

    2.1.2. Preparo da cana e extrao do caldo

    Decorrente de a cana-de-acar oferecer uma maior ou menor resistncia recuperao dos

    acares contidos, o preparo tem a finalidade de condicion-la e extrair a maior quantidade de

    caldo, soluo constituda basicamente de gua e sacarose, com um mnimo de perda de acares.

    O preparo da cana importante porque a transforma em um material homogneo, aumentando a

    sua densidade, promove a ruptura da estrutura da cana, rompendo as suas clulas, o que facilita e

    melhora a posterior extrao dos acares fermentescveis.

    Na Figura 2.2 se apresenta o diagrama dos processos integrados da limpeza a seco, preparo

    e extrao do caldo da cana, bem como o incio do tratamento do caldo com o uso de peneiras

    rotativas a ser descrita na seo seguinte.

    Figura 2.2: Esquema dos processos de limpeza, preparo e extrao da cana-de-acar. Fonte:

    Adaptao de UDOP (2012)

    Picador 01Picador 02

    Desfibrador

    Eletro-Im

    gua para EmbebioExtrao de vapor para acionamento das turbinas da moenda

    Refrigerao de

    Mancais

    Vapor de Escape

    Refrigerao de leo

    LubrificantePeneira Rotativa

    Caldo Primrio

    Caldo Misto

    Tanque Caldo

    Sistema de Limpeza a

    Seco

    Caldo Misto para Decantao

    gua de Refrigerao

    Bagao para Caldeira

    Bagacilho para Lodo dos Decantadores

    Cana-de-acar

    Excedente de Bagao

    Bagacilho

    Caldo Peneirado

    Energia Eltrica

  • 10

    Da mesa de alimentao, a cana transportada por esteiras at os equipamentos de preparo.

    Os picadores, que so dois conjuntos de facas rotativas girando no mesmo sentido do movimento

    da cana na esteira, picam ela em pedaos menores, facilitando o trabalho do desfibrador mais a

    frente. Conforme o trabalho que devem desempenhar, existem dois tipos de picadores: os

    niveladores, que regulam a camada de cana, e os cortadores, que trabalham sobre essa massa.

    Seguindo aos picadores, vm os desfibradores, que so martelos oscilantes empregados para

    aumentar a densidade da massa e formar um material mais homogneo e com fibras longas, para

    facilitar a etapa seguinte de extrao do caldo. Mas, previamente, a massa de cana passa por um

    eletrom que retira materiais metlicos estranhos, que por ventura no foram separados durante a

    limpeza ou desprendidos nos picadores e desfibradores (ZOCCA, 2011).

    J preparada, a cana encaminhada para a etapa da extrao do caldo em moendas ou,

    alternativamente, em difusores. Um segundo objetivo da extrao produzir bagao, no final do

    processo, com um grau de umidade que permita sua utilizao como combustvel nas caldeiras

    para produzir vapor, usado nos diferentes processos da usina. Alm disso, nesta etapa, onde se

    apresenta o primeiro grande uso da gua: a embebio.

    A extrao por moagem um processo estritamente fsico, onde a cana passa por um

    conjunto de trs a quatro rolos de esmagamento denominados ternos. Normalmente, as moendas

    so constitudas de quatro a seis ternos. A liberao do caldo conseguida atravs da passagem

    do colcho de cana desfibrada entre dois rolos, submetida a determinadas presses, e por

    lavagens constantes (embebio). de fundamental importncia no processo de moagem a

    extrao no primeiro terno, decorrente de que este responsvel por cerca de 70% de todo caldo

    contido na cana. Nele, obtm-se o caldo primrio, seguindo a massa para o segundo at passar no

    ltimo terno, de onde o bagao final segue para as caldeiras.

    Durante a moagem ocorre a embebio da massa, que consiste em adicionar gua em

    contracorrente com a direo da moagem, favorecendo a diluio da gua com a sacarose contida

    na massa. A embebio pode ser simples, composta e com recirculao, sendo o tipo composta o

    mais usado. Neste caso, a gua injetada na camada de cana entre os dois ltimos ternos e o

    caldo de cada terno injetado antes do terno anterior at o segundo terno, obtendo-se nele o caldo

    misto.

  • 11

    A taxa de embebio mdia situa-se na faixa de 250 a 300 litros de gua por tonelada de

    cana moda. A variao refere-se s condies que a usina suporta maior ou menor quantidade de

    gua adicionada ao caldo, uma vez que esta gua dever ser evaporada posteriormente na fbrica

    (ELIA NETO, 2009).

    Por outro lado, na difuso, diferentemente da moenda, no ocorre esmagamento,

    propiciando-se a extrao de caldo da cana a atravs de duas operaes: a difuso (separao por

    osmose, relativa apenas s clulas no rompidas da cana) e a lixiviao (arraste pela gua da

    sacarose e das impurezas contidas nas clulas abertas).

    No processo de difuso, a cana desfibrada alimenta um transportador de cana com fundo

    perfurado para permitir a passagem do caldo extrado. A camada de cana preparada dentro do

    difusor de aproximadamente um metro e a gua de embebio aplicada no final do difusor na

    temperatura de 90 C. No final do difusor so montados dois ternos de moenda: o desaguador e o

    secador, com a finalidade de retirar o excesso de gua do bagao.

    Outros usos de gua durante extrao encontram-se principalmente para o resfriamento dos

    os mancais das moendas e do leo para o resfriamento dos equipamentos do preparo e extrao.

    Um avano tecnolgico importante quanto ao sistema de preparo e de extrao da cana o

    emprego de motores eltricos para acionamento dos equipamentos, em substituio s turbinas a

    vapor usadas na maioria das usinas brasileiras. A eletrificao desses sistemas reduz gastos como

    manuteno e consumo de vapor, alm de uma melhor preciso no controle, um processo mais

    compacto, nveis de rudo reduzidos, facilidade operacional e economia de energia.

    Alternativamente, algumas usinas tm empregado sistemas de acionamento hidrulico, que

    representam uma soluo intermediria, do ponto de vista da eficincia e da gerao de

    excedentes eltricos, entre o acionamento puramente eltrico e o acionamento puramente

    mecnico diretamente viabilizado por turbinas a vapor (LEITE, 2009).

    Em resumo, a moagem e a difuso so dois processos de extrao do caldo, sendo apenas

    distinto o modo como este processo realizado, apresentando vantagens e desvantagens uma

    frente outra. Na Tabela 2.1 so resumidas as principais caractersticas de ambos os processos.

  • 12

    Tabela 2.1: Caracterizao dos principais parmetros da moenda e do difusor. Fonte: Elaborado a

    partir de Nazato et al. (2011); Lemos (2010); Ensinas et al. (2007); Rocha (2010)

    Atributo Difusor Moenda

    Extrao Por lixiviao Por presso

    Capacidade de extrao de 97,5% a 98,5% de caldo

    Extrao em torno de 96,5% a 97,5%

    POL% variando entre 0,7% a 1%, no excedendo este limite

    Variao da POL% em torno de 1,6% a 2,3%

    Qualidade da matria-prima

    Extrao deficiente quando a matria-prima possui baixo teor de fibra

    No h dificuldades de extrao relacionadas qualidade da matria-prima

    ndice de Preparo da Matria-Prima

    Para eficincia satisfatria obrigatrio um ndice de preparo de 90% a 92%

    Este ndice no precisa ser alto podendo variar entre 80% e 92% para o mesmo grau de eficincia

    Caldo O caldo obtido mais limpo e parcialmente clarificado, devido s impurezas retidas pelo bagao.

    H bagacilho contido no caldo. Porm aps peneiramento este caldo pode seguir para o setor de fabricao.

    Bagao O bagao apresenta uma alta umidade (~80%) e precisa de um desaguador

    Bagao com uma umidade mdia de 50%

    Custo Inicial Possui custo inicial maior H a possibilidade de expanso dos ternos conforme a necessidade

    Manuteno Manuteno fcil e de baixo custo Manuteno difcil e de alto custo

    Flexibilidade Operacional

    Processo contnuo e automtico, onde interrupes frequentes no so encontradas

    Apresenta problemas com interrupes com alta probabilidade de parar a produo

    No necessita de operadores especializados

    Exige funcionrios especializados em tal processo

    Espao Fsico Exige maior espao horizontal, podendo ser instalado ao ar livre

    Exige estrutura predial

    Mercado Consumidor

    Modelo pouco utilizado no Brasil, porm em ascenso

    Modelo ainda priorizado nas usinas brasileiras

  • 13

    2.1.3. Tratamento do caldo

    O caldo de cana obtido proveniente do processo de extrao apresenta impurezas, que

    precisam ser eliminadas por processos fsico-qumicos com o fim de obter um caldo de melhor

    qualidade para os seguintes processos como a fermentao. O tratamento do caldo pode se

    descrever como o conjunto das seguintes operaes: peneiramento (Figura 2.2), aquecimento,

    degasagem, calagem, decantao e filtrao do lodo (Figura 2.3), cuja rigorosidade menor

    quela observada na produo de acar (DIAS, 2011).

    Figura 2.3: Esquema do processo de tratamento do caldo. Fonte: Adaptao de UDOP (2012)

    Peneiramento

    O caldo comea a ser purificado pela remoo dos materiais em suspenso como o

    bagacilho cujo teor varia entre 0,1% e 1,0%, e cuja quantidade presente no caldo depende do grau

    de preparo da cana, da variedade de cana e de outros fatores (COPERSUCAR, 1989). A limpeza

    do caldo extrado continua atravs de peneiras rotativas integradas ao conjunto de extrao,

    enquanto um segundo peneiramento ocorre em peneiras hidrodinmicas, visando a remoo de

    material fibroso de menor tamanho, assim como parte dos inertes. O uso de hidrociclones tem

    como fim remover partculas mais pesadas como areia e terra (DIAS, 2011).

    Sangra do Vapor Vegetal

    Condensado da Sangria do

    Vapor Vegetal

    CaldoMisto

    Caldo aquecido

    Vapor flash

    Balo de Flash

    gua de diluio do polmeroPolmero

    Soluo gua polmero

    Caldo clarificado para concentrao

    Lodo

    Bagacilho

    Leite de Cal

    Cal

    gua para o Leite de Cal

    gua para Lavagem da Torta do Filtro

    Torta de Filtro

    Caldo Filtrado (retorno)

    gua de Refrigerao

    para o Condensador Baromtrico

    do Filtro Rotativo

    Caldo flasheado

    Decantador

    Tanque de Lodo

    Filtro Rotativo a

    vcuo

    Misturador Esttico Caldo clarificado para preparo do mosto

    Caldo Filtrado (retorno)

    Energia Eltrica

  • 14

    Aquecimento e degasagem

    Para descontaminar e facilitar a decantao das impurezas do caldo, com a diminuio da

    sua viscosidade, realiza-se o seu aquecimento usando aquecedores tipo tubo e casco com vapor

    saturado (de escape ou vegetal) visando elevar a temperatura a 105 C. O aquecimento do caldo

    tem como finalidade tambm acelerar e facilitar a coagulao e floculao de coloides e no

    acares proteicos; diminuir a densidade e viscosidade do caldo; impedir o desenvolvimento de

    bactrias; emulsificar graxas e ceras, acelerando o processo qumico e aumentando a eficincia da

    decantao; alm de possibilitar a degasagem do caldo.

    Com o objetivo de evitar a flotao por ar disperso na etapa de decantao, uma operao

    de degasagem segue ao aquecimento. Ademais, so removidos gases incondensveis, que

    prejudicam a decantao, atravs de um balo de flash para alcanar esse fim.

    Calagem

    A calagem o processo de adio do leite de cal (hidrxido de clcio) ao caldo, elevando o

    seu pH a valores da ordem de 6,8 a 7,2. O leite de cal produzido dentro da planta a travs da

    mistura da cal virgem (CaO) com gua em tanques apropriados. Esta neutralizao visa eliminar

    corantes do caldo, a neutralizao de cidos orgnicos e a formao de sulfito e fosfato de clcio,

    produtos que, ao sedimentarem, arrastam impurezas presentes no lquido (ELIA NETO, 2009).

    Rein (2007) estima uma proporo do consumo de gua para o preparo igual a 15,6 litros por kg

    de CaO para 7Be, enquanto Pizaia et al. (1999), estima um valor de 21,54 litros por kg de CaO

    para 5Be para o seu preparo. Ensinas (2008) cita que gua dos condensados de vapor vegetal

    pode ser usada para esse fim.

    O pH do caldo submetido calagem deve se manter em um valor pouco menor daquele

    usado na fabricao de acar (7 a 7,2), decorrente de que a cal pode promover uma

    impermeabilizao na parede celular, prejudicando a fermentao e tambm induzindo a

    floculao e favorecendo a formao de incrustaes nas colunas de destilao (DIAS, 2011).

    Na Figura 2.3 no est representada esta etapa, mas sim a adio de leite de cal no tanque

    de lodo segundo Palacios-Bereche (2011).

  • 15

    Decantao

    No decantador adicionado polmero floculante, cujo fim promover a formao de

    flocos, a base de impurezas, de maior tamanho e densidade visando a sua precipitao para logo

    serem eliminados. Na decantao devem ocluir nos flocos, o maior nmero de microrganismos

    originalmente presentes no caldo. O processamento deve ser realizado a temperaturas que

    controlem a propagao dos microrganismos (LEITE, 2009).

    Nesta etapa, utiliza-se um decantador ou clarificador continuo, seguindo o caldo clarificado

    para as outras etapas do processo. As impurezas sedimentadas na etapa anterior se constituem no

    lodo, que enviado para o setor de filtrao com o objetivo de recuperar acar.

    Filtrao do lodo

    O tanque de lodo tem como finalidade receber o lodo do decantador onde misturado com

    o bagacilho, resduo da etapa da extrao, por meio de um agitador. O bagacilho tem a finalidade

    de aumentar a reteno dos flocos e, consequentemente, a separao de slidos na etapa de

    filtrao. A temperatura do lodo no deve ser menor que 80C, porque diminui a viscosidade e

    impede a solidificao de gomas e ceras.

    A filtrao do lodo realizada com o auxilio de equipamentos rotativos a vcuo para a

    extrao do caldo, recebendo gua para aumentar a remoo de aucares. O sistema de vcuo

    trata-se de um condensador baromtrico, requerendo gua quente, com temperatura superior a

    80C, assim, segundo Ensinas (2008), os condensados de vapor vegetal podem ser usados para

    esse fim. O objetivo da filtrao processar todo o lodo, obtendo uma torta com pol menor que

    1% sendo esse parmetro para avaliao do desempenho da extrao de filtrao.

    O caldo filtrado reciclado ao processo, sendo misturado ao caldo antes da adio de leite

    de cal. Aproximadamente, entre 30 e 40 kg de torta de filtro so produzidos para cada tonelada de

    cana moda (DIAS, 2011), a qual apresenta uma grande umidade de aproximadamente 70%

    (CAMARGO et al., 1990).

  • 16

    2.1.4. Concentrao do caldo por evaporao

    Visando alcanar concentraes adequadas do caldo (Brix na faixa de 18 a 19) para atingir

    uma fermentao com alto grau alcolico do vinho final a destilar, uma frao do caldo tratado,

    com um Brix de 15, concentrada atravs de um sistema de evaporao para logo ser misturada

    com a parcela restante at atingir os patamares desejados e formar o mosto.

    Uma prtica comum em destilarias autnomas a de realizar a concentrao do caldo em

    um nico estgio de evaporao (pr-evaporador). Por outro lado, em usinas de acar com

    destilaria anexa, a concentrao do caldo, para fabricao de acar, geralmente realizada em

    sistemas de evaporao de cinco estgios (Figura 2.4), at uma concentrao de 65 Brix, assim, o

    mosto destinado fabricao de etanol preparado com caldo tratado, xarope concentrado, e

    melao proveniente do processo de fabricao de acar (PALACIOS-BERECHE, 2011)

    Figura 2.4: Esquema do processo de concentrao do caldo. Fonte: Adaptao de UDOP (2012)

    No caso do evaporador de mltiplo efeito ele est formado por sees, ligadas em srie, de

    maneira que o caldo sofre uma concentrao progressiva da primeira ltima. No primeiro efeito

    (ou pr-evaporador) injetado vapor de escape, formando vapor vegetal que utilizado no

    Caldo clarificado

    Vapor de Escape

    Condensado do Vapor de Escape

    Caixa de Condensados

    Pr-Evaporador

    Vapor Vegetal do 2do Efeito

    Condensados do Vapor Vegetal

    Xarope

    gua Fria

    gua Quente

    Bomba a vcuo

    Sangra do Vapor Vegetal

    Condensado da Sangria do Vapor Vegetal

    Vapor Vegetal do 3ro Efeito

    Vapor Vegetal do 4to Efeito

    Vapor Vegetal do 5to Efeito

    Vapor Vegetal do 1ro Efeito

    Condensado do Vapor

    Vegetal do 1ro Efeito

    Condensado do Vapor

    Vegetal do 2do Efeito

    Condensado do Vapor

    Vegetal do 3ro Efeito

    Condensado do Vapor

    Vegetal do 4to Efeito

    Energia Eltrica

  • 17

    segundo efeito e assim, sucessivamente, at o ltimo efeito, onde o vapor final condensado em

    um condensador baromtrico sob vcuo.

    O pr-evaporador auxilia na evaporao da gua contida no caldo e gera a maior quantidade

    possvel de vapor vegetal, resultando um caldo clarificado na primeira caixa de evaporao mais

    concentrado. A temperatura do caldo clarificado tem uma relao direta com a superfcie

    necessria neste primeiro efeito (REIN, 2007).

    Normalmente a temperatura do caldo clarificado que entra no pr-evaporador de

    aproximadamente de 115 C (aps pr-aquecimento) que entrar em ebulio dentro do corpo. Se

    a temperatura de alimentao for inferior a 115 C parte da superfcie disponvel no pr-

    evaporador ser destinada, exclusivamente a aquecer o caldo at 115 C e posteriormente

    evaporar.

    A funo dos evaporadores retirar gua presente no caldo para promover a concentrao

    do mesmo e possibilitar o processo de formao do cristal aproveitando os vapores gerados. Entre

    os fatores que influenciam na eficincia dos pr-evaporadores e evaporadores esto as

    incrustaes, mtodos de limpeza, retirada de gases incondensveis, entre outros.

    Em qualquer equipamento que utiliza vapor como fonte de calor, aps a sua condensao

    necessria uma continua retirada de incondensveis, pois ocupam espao e impedem a entrada de

    vapor naquela regio, reduzindo significativamente o processo de transferncia de calor. Se estes

    gases no forem retirados continuamente eles iro se acumular e num caso extremo, tomam toda

    a calandra interrompendo rapidamente a evaporao. Alm de problemas relacionados com a

    diminuio da transferncia de calor, normalmente estes so os principais causadores de

    corroso.

    A coleta dos condensados dos vapores vegetais de primeiro ao quarto efeito realizada em

    um nico tanque que recebe todos os fluxos e que podem ser distribudos para as demandas de

    gua com temperatura acima da ambiente como gua de embebio, lavagem de filtro, e preparo

    do leite de cal (ENSINAS, 2008).

  • 18

    2.1.5. Fermentao

    Aps o preparo do mosto, este esterilizado promovendo a inativao trmica dos

    contaminantes bacterianos, os quais tm um efeito negativo na fermentao alcolica, assim se

    apresenta como uma estratgia preventiva no controle da fermentao em oposio s estratgias

    corretivas baseadas no uso de antibiticos (PALACIOS-BERECHE, 2011). Logo, tem-se o

    resfriamento do mosto para ser conduzido s dornas de fermentao.

    O mosto, sendo uma soluo aucarada, sofre um processo de fermentao alcolica com

    leveduras (Saccharomyces cerevisiae), que convertem os acares em etanol, emitindo dixido

    de carbono em uma reao exotrmica, seguindo as seguintes reaes simplificadas:

    )()()()( 612661262112212 frutoseOHCseglicoOHCguaOHsacaroseOHC ++ (2.1)

    kcalCOanoletOHCHCHfrutoseoseglicOHC 5,232)(2)/( 2236126 ++ (2.2)

    O processo de transformao dos acares em etanol ocorre em tanques, denominados

    dornas de fermentao, onde h a mistura do mosto e do leite de levedura, onde ao terminar a

    fermentao, a mistura recebe o nome de vinho (Figura 2.5). Os parmetros caractersticos da

    fermentao, atualmente, so (LEITE, 2009):

    Rendimento de converso de acar acima de 90%

    Teor de etanol em volume no vinho entre 8 - 12 GL

    Tempos de fermentao de 6 a 11 horas

    Concentrao de fermento no vinho final tpica de 13% v/v

    Volume final de vinhoto aps destilao 12-15 litros/litro de etanol

    O processo recomendado uma fermentao com vinho final de graduao elevada

    (10GL). Isso requer uma fermentao estvel com fermento ativo, livre de inibio, infeco e

    floculao. Para atingir essas condies e alta eficincia de converso de acares em etanol,

    deve ser instalado um sistema de resfriamento eficiente, devido necessidade da temperatura ser

    mantida abaixo de 34 C, assim, preciso realizar o resfriamento das dornas com gua e com o

    auxlio de serpentinas ou trocadores de calor a placas, apresentando este ltimo um melhor

    desempenho no controle de temperatura.

  • 19

    As serpentinas so geralmente de cobre instaladas no interior das dornas, e tem como

    principal inconveniente o custo da sua manuteno e que a sua troca trmica relativamente

    baixa em relao aos trocadores (ZOCCA, 2011). Elia Neto (2009) estima um consumo de 60 a

    80 litros de gua por etanol produzido em circuito fechado e com o uso de torres de resfriamento.

    Figura 2.5: Esquema do processo de fermentao. Fonte: Adaptao de UDOP (2012)

    O processo de fermentao utilizado nas destilarias do Brasil o Melle-Boinot, cuja

    caracterstica principal a recuperao de leveduras a travs da centrifugao do vinho. Assim, a

    recuperao de fermento se faz com centrfugas de alta eficincia capazes de concentrar o leite

    at 65% em volume, estando prevista a centrifugao sequencial em duas etapas com diluio

    intermediria do fermento com gua (LEITE, 2009). Uma centrifugao bem operada ajuda no

    controle microbiolgico da fermentao, atravs da eliminao de bactrias no momento da

    centrifugao. Dentro dos fatores que comprometem a eficincia das centrfugas se tm o vinho

    sujo, fermento infeccionado, etc. (ZOCCA, 2011).

    Cuba Dorna de Fermentao

    TanqueH2SO4

    Leite de Levedura

    Tratado(p-de-cuba) Mosto para

    Fermentao

    Leite de Levedura Recuperado

    Xarope

    Caldo clarificado

    Mosto Mosto Aquecido Mosto Resfriado

    Extrao de vapor para Esterilizao do Mosto

    gua de Resfriamento do Mosto

    gua para Diluio do Fermento

    cido Sulfrico

    Gases (CO2)

    Gases de Fermentao

    gua de Resfriamentodas Dornas de Fermentao

    gua para Lavagem de Gases

    Vinho Delevedurado

    Turbinamento

    Vinho

    Licor de Glicose

    Energia Eltrica

  • 20

    Decorrente das reaes qumicas da fermentao ocorre a produo de gs carbnico CO2

    proveniente das dornas, o qual contm etanol em forma de vapor. Um sistema de lavagem de

    gases em torres de absoro permite canalizar o gs e recuperar a soluo alcolica, a qual

    encaminhada para o preparo do mosto. O dixido de carbono recuperado na forma liquefeita pode

    ser encaminhado a outros mercados, j que o CO2

    usado em larga escala em tratamento de

    efluentes industriais, como corretor de pH em efluentes alcalinos. O dixido de carbono tambm

    utilizado como gs inerte para armazenamento de carvo mineral, carvo vegetal, p de carvo,

    combustveis, etc.

    Esta levedura recuperada, antes de retornar ao processo fermentativo, recebe um

    tratamento, que consiste em diluio com gua numa proporo de 2 a 1 vezes, e adio de cido

    sulfrico at o pH de 2,5, eliminando-se bactrias indesejveis e formando o assim chamado p-

    de-cuba, que retornado dorna de fermentao.

    2.1.6. Destilao

    A destilao e a retificao so operaes unitrias que permitem a separao de misturas

    de lquidos, em componentes mais simples prximos sua pureza. Assim, o vinho, procedente da

    fermentao, com um teor de etanol entre 7 e 10% em massa, concentrado nestas etapas

    visando a sua separao da gua, sendo o principal produto o etanol hidratado (AEHC), que

    possui 92,6 e 93,8 % de etanol em massa (92,6 - 93,8 INPM). O diagrama simplificado desses

    processos mostrado na Figura 2.6.

    O processo de obteno de etanol hidratado desenvolve-se atravs de duas etapas. A

    primeira se realiza nas colunas de esgotamento, epurao e esgotamento, comumente chamadas

    colunas A, A1 e D, as quais, no seu conjunto conformam a coluna de destilao. J a segunda

    etapa, realiza-se no conjunto de retificao, composta esta pelas colunas de retificao (coluna B)

    e de esgotamento (coluna B1).

  • 21

    Figura 2.6: Esquema do processo de destilao e retificao. Fonte: Adaptao de UDOP (2012)

    O vinho aquecido previamente no condensador E da coluna de retificao, passando, em

    seguida, pelo trocador de calor de vinhaa K da coluna de destilao, visando atingir a

    temperatura ideal de operao na coluna de destilao. Quando o vinho submetido ao processo

    de destilao resulta em trs componentes: a flegma, uma mistura de vapores hidroalcolicos de

    45 a 50 GL; o etanol de cabea ou de segunda, onde se concentram os componentes mais

    volteis e nocivos; e a vinhaa, resduo da destilaria a uma taxa mdia de produo de 11 a 13

    litros por litro de etanol produzido, com uma riqueza alcolica quase nula, e acumulando nela

    todas as substncias fixas do vinho, bem como uma parte das volteis.

    A flegma produzida direcionada coluna de retificao B onde concentrada e

    purificada. Ao igual que na coluna de destilao se apresentam trs sadas: o etanol hidratado

    (AEHC); flegmaa, resduo da retificao da flegma, tambm com uma riqueza alcolica

    irrelevante; e o leo fsel, uma mistura concentrada de alcois superiores, etanol, gua e outros

    componentes.

    Vinho

    VinhoParcialmente

    Aquecido

    VinhoAquecido

    Vinhaa

    Vapor de Escape

    Vapor de Flegma

    Flegmaa leo Fselleo Alto

    EtanolHidratado

    gua de Resfriamento da Coluna de Retificao

    gua de Resfriamento da Coluna de

    Destilao

    VinhaaResfriada

    E1E2E

    R1 R

    K

    Vapores Alcolicos

    Refervedor

    Vapores Alcolicos

    Flegma Lquida

    lcool de 2da

    A

    B

    B1

    A1

    D

    Vapor de Escape Refervedor

    Energia Eltrica

  • 22

    As duas colunas, de destilao e retificao, so operadas presso ambiente, empregando

    como fonte de calor, vapor de escape de baixa presso (2,5 bar), nos trocadores de calor de

    contato indireto (refervedores) no fundo das colunas, a uma taxa mdia de 3 a 3,5 kg vapor por

    litro de etanol produzido (LEITE, 2009).

    A respeito dos condensadores, eles so trocadores de calor que tem como principal funo

    resfriar os vapores alcolicos provenientes das colunas, e cujas necessidades de gua dependem

    do tipo de etanol produzido. Apresentando taxas de gua de resfriamento de 50 a 70 litros de

    gua por litro de etanol hidratado, ou de 80 a 100 litros para o caso do etanol anidro (ELIA

    NETO, 2009).

    Novas opes de melhora esto sendo implantadas na indstria, destacando-se a otimizao

    do nmero de pratos das colunas, utilizao de vinhos de maiores teores alcolicos, estudos de

    internos de torres e de configuraes duplo e mltiplo efeito, otimizao da posio de

    alimentao, e da razo de refluxo das colunas. O processo por destilao e retificao em

    mltiplos efeitos permite uma reduo do consumo de vapor de processo e da demanda de gua

    de resfriamento (DIAS, 2011).

    2.1.7. Desidratao

    Aps a retificao, o etanol recuperado inicialmente na forma hidratada, com

    aproximadamente 96 GL (porcentagem em volume), correspondentes a cerca de 6% de gua em

    peso. Nesse ponto, as temperaturas de ebulio do etanol e da gua se tornam iguais e no

    possvel mais a sua separao por destilao convencional. Portanto, a partir desse ponto, para

    concentrar o etanol a nveis prximos a sua pureza (99,3INPM) se adiciona uma terceira

    substncia (solvente) ao sistema que altera o ponto de ebulio da soluo etanol-gua,

    permitindo novamente sua separao por meio da destilao, obtendo o etanol anidro (AEAC).

    Os principais mtodos para desidratao de etanol que esto sendo aplicados na indstria

    sucroalcooleira atualmente so: a destilao azeotrpica com cicloexano, a destilao extrativa

    com monoetileno glicol (MEG) e a adsoro com peneiras moleculares. Nos dois primeiros

    mtodos, duas colunas so usadas: a coluna de desidratao C, onde se realiza a separao do

    etanol a partir da nova mistura; e a coluna P para a recuperao do solvente.

  • 23

    Destilao azeotrpica

    Nesta operao, o solvente normalmente utilizado o cicloexano (antigamente era usado o

    benzeno, mas pelas suas caractersticas cancergenas foi proibido seu uso). Esse solvente, durante

    a destilao, tem a capacidade de formar uma nova mistura com a gua (azetropo), que

    retirada no topo da coluna em forma de vapor. J o etanol prximo a sua pureza obtido no

    fundo da coluna. O novo azetropo condensado e resfriado, para logo ser encaminhado ao

    decantador alocado no topo da coluna C (Figura 2.7).

    Figura 2.7: Esquema do processo de desidratao via destilao azeotrpica. Fonte: Adaptao

    de UDOP (2012)

    O decantador um equipamento circular que envolve o topo da coluna C, onde a gua do

    condensado dos vapores alcolicos separada por decantao. Na camada superior tem-se uma

    fase rica em solvente, que retorna internamente para a coluna C como refluxo, enquanto na parte

    inferior forma-se uma camada rica em gua, mas com traos de solvente e lcool, que enviada

    para a coluna de recuperao P.

    Refervedor

    Extrao de Vapor para refervedores

    Refervedor

    Vapores Alcolicos

    Vapores Alcolicos

    EtanolAnidro Resfriado

    gua de Resfriamento da Coluna de Recuperao

    gua de Resfriamento

    da Coluna Extrativa

    Mistura Solvente-gua

    gua de Resfriamento do Etanol Anidro

    H H1

    I I1

    J

    Etanol Anidro

    Etanol Hidratado

    Soluo Alcolica Recuperada

    gua Recuperada

    Decan-tador

    Energia Eltrica

    Extrao de Vapor para refervedores

  • 24

    A coluna de recuperao fornece gua como produto de fundo, enquanto que no topo saem

    os vapores alcolicos, ricos em solvente, que ao serem condensados, uma parte deles retornada

    coluna C.

    Destilao extrativa

    O solvente, mormente usado neste mtodo, o monoetilenoglicol (MEG), o qual

    adicionado no topo da coluna C arrastando a gua contida no etanol hidratado que introduzido

    no fundo. Nessa coluna se obtm o etanol anidro no topo, enquanto no fundo uma mistura de

    solvente e gua, que encaminhada coluna de recuperao P, na qual gua recuperada no topo

    e o solvente no fundo. J o solvente recuperado resfriado e bombeado novamente at a coluna

    extrativa (Figura 2.8).

    Figura 2.8: Esquema do processo de desidratao via destilao extrativa. Fonte: Adaptao de

    UDOP (2012)

    Refervedor

    Extrao de Vapor para refervedores

    Refervedor

    Vapores Alcolicos

    Vapores Alcolicos

    EtanolAnidro Resfriado

    gua de Resfriamento da Coluna de Recuperao

    gua de Resfriamento

    da Coluna Extrativa

    Mistura Solvente-gua

    gua de Resfriamento do Etanol Anidro

    H H1

    I I1

    J

    Etanol Anidro

    Etanol Hidratado

    gua de Resfriamento do Solvente

    Solvente Recuperado

    Solvente Recuperado Resfriado

    gua Recuperada

    Energia Eltrica

    Extrao de Vapor para refervedores

  • 25

    Em ambos os mtodos, as colunas C e P so aquecidas indiretamente nos refervedores com

    vapor de escape de 6 a 10 bar, e com consumos na faixa de 1,5 a 1,6 kg vapor por litro de etanol

    produzido para o caso da destilao azeotrpica, e de 0,6 a 0,7 kg vapor para o caso de destilao

    extrativa com MEG (MEIRELLES, 2006).

    Processos de separao por membranas

    O inconveniente dos mtodos clssicos que frequentemente so utilizadas substncias que

    possuem caractersticas de toxidez, criando situaes de risco aos operadores das destilarias, alm

    de consumirem mais vapor. O sistema de separao por peneiras moleculares dispensa o uso de

    colunas desidratadoras, utilizando no seu lugar vasos com materiais filtrantes que tem a

    propriedade de reter algumas molculas em detrimento de outras. Nesse sistema, as molculas de

    gua ficam retidas no material filtrante e posteriormente so retiradas por um processo de

    regenerao a vcuo, dando incio a um novo ciclo.

    Novas tecnologias esto sendo desenvolvidas e testadas, tais como a pervaporao,

    processos termicamente integrados, novos solventes e novas configuraes de colunas visando a

    reduo do consumo energtico (WOLF MACIEL, 2009).

    2.1.8. Cogerao

    O sistema de cogerao fornece vapor e eletricidade para suprir as necessidades trmicas e

    eltricas na produo de etanol a partir do bagao de cana-de-acar, baseado no ciclo

    termodinmico de Rankine, composto fundamentalmente por uma caldeira, turbina a vapor e um

    gerador eltrico.

    Do total de bagao produzido nas usinas, uma parcela destinada como reserva tcnica

    para partidas do sistema, enquanto a parte restante queimada em caldeiras no prprio ambiente

    onde produzida, para a gerao de vapor (CONAB, 2011). Considerando valores

    representativos das usinas brasileiras na atualidade, no processamento de uma tonelada de cana, a

    disponibilidade de bagao (com 50% de umidade) da ordem de 250 kg, que permite produzir

    entre 500 kg e 600 kg de vapor, da mesma ordem do consumo no processo, entre 400 kg e 600 kg

    de vapor (BNDES, 2008).

  • 26

    A tradio brasileira definiu um padro de caldeira com gerao de vapor na presso de 22

    bar, a uma temperatura de 300 C. Nessas condies, ele expandido em turbinas de

    contrapresso at 2,5 bar, turbinas estas que acionam os principais equipamentos mecnicos da

    usina como picadores, desfibradores, moendas, exaustores e bombas de gua de alimentao das

    caldeiras, bem como os geradores de energia eltrica, que fornecida para os vrios setores da

    indstria (Figura 2.9). O vapor a 2,5 bar, denominado de vapor de escape, ajustado para a

    condio de saturao e enviado para o processo, fornecendo toda a energia trmica necessria na

    produo de acar e etanol.

    Figura 2.9: Esquema do sistema de cogerao com turbina a contrapresso. Fonte: Adaptao de

    UDOP (2012)

    A grande demanda por excedentes de energia eltrica tem levado as usinas a optarem pela

    gerao de vapor em alta presso, em torno de 65 bar, e temperatura entre 480 e 515C, sendo

    esses valores o padro hoje no Brasil (LEAL, 2010). Usinas com caldeiras operando a maiores

    presses e temperaturas j existem no mercado na faixa de 90/100 bar e 520/530 C.

    As caldeiras usadas no setor sucroalcooleiro so aquatubulares, com queima em suspenso,

    e suas fornalhas possuem na parte inferior um sistema de grelhas onde ocorre a queima da parcela

    Bagao

    leoLubrificante dos Turbogeradores

    gua de Refrigerao

    Vapo

    r de

    Esca

    peEsterilizao do Mosto

    Sistemas de Evaporao

    Colunas de Destilao

    Colunas de Desidratao

    Retorno dos Condensados do Vapor de Escape

    gua de Reposio para a Caldeira

    Desaerador

    Caldeira

    Lav. de

    gases

    Gases de Combusto

    gua para Lavagem dos Gases da Caldeira

    gua para Lavadores dos

    Gases da Caldeira

    gua para a Caldeira

    Energia Eltrica gerada

    Panel de Distribuio de Energia

    Energia Eltrica para Consumos Prprios

    Vapor Gerado

    Extrao de Vapor para Moendas, Picadores, Desfibrador

    Purgas da Caldeira

    Palha

    Extrao de Vapor para oPr-Tratamento do Bagao

    para Hidrlise

    Turbo Gerador

    ExcedenteEnergia Eltrica

    Extr

    ao

    de

    Vapo

    r pa

    ra o

    Pro

    cess

    o

  • 27

    de combustvel que no queimou em suspenso. As grelhas podem ser do tipo rotativo, onde a

    retirada de cinzas constante, feita pela injeo de vapor, ou do tipo basculante, onde o

    acionamento do sistema hidrulico feito manualmente.

    O uso das caldeiras aquatubulares decorre de um maior rendimento e presso em

    comparao com as caldeiras fogotubulares. Nas primeiras, o fluxo de gua passa pelo interior

    dos tubos da caldeira, ficando os gases de combusto do lado exterior, aumentando assim a

    superfcie de contato, possibilitando uma maior produo de vapor e uma presso de operao

    maior (ALTAFINI, 2002).

    A gua de alimentao da caldeira deve ser tratada para remover gases dissolvidos,

    especialmente dixido de carbono e oxignio, os quais atacariam as tubulaes nas altas

    temperaturas envolvidas. Assim, a gua passada a travs de um desaerador onde atomizada

    em vapor a baixa presso (0,29 bar) ou a uma presso relativamente acima da atmosfrica, onde o

    vapor injetado aumentado a 1,37 bar. Logo tratado com um adequado reagente como o sulfito

    de sdio ativado para trabalhar mais rapidamente (HUGOT, 1986).

    A prtica das purgas da caldeira usualmente um procedimento realizado para remover

    slidos suspensos que decantam e formam uma capa grossa. As purgas superficiais removem

    slidos dissolvidos que se concentram perto da superfcie do liquido, sendo este tipo de purga

    mais frequente (CHVEZ-RODRGUEZ, 2010).

    Os gases de combusto das caldeiras a bagao so caracterizados basicamente por dois

    poluentes: o NOx e o material particulado (MP). Para conter a emisso desses poluentes so

    utilizados os lavadores de gases, os quais demandam razovel quantidade de gua e geram igual

    volume de gua residual, sendo usados em circuitos semifechados (TORQUATO et al., 2004).

    As turbinas podem ser de extrao-condensao ou de contrapresso. Denomina-se turbina

    de contrapresso quando a presso de vapor de escape da turbina superior presso

    atmosfrica, e isto s se justifica quando se deseja utilizar este vapor como fonte de energia

    trmica. Quando se deseja produzir apenas energia eltrica, o vapor de escape condensado e

    retorna para a caldeira e, neste caso, a presso de escape inferior presso atmosfrica (entre

    0,06 e 0,15 bar), sendo a turbina denominada de condensao.

  • 28

    O aproveitamento da palha da cana para gerao de energia uma alternativa promissora

    visando o aproveitamento integral dos resduos da produo da cana-de-acar, j sendo testada

    est tecnologia em usinas piloto visando a sua factibilidade (OLIVARES et al., 2010)

    2.1.9. Resfriamento dos efluentes

    Efluentes quentes dos sistemas de resfriamento so normalmente tratados em circuitos

    fechados para a remoo da carga trmica e ser novamente reutilizados dentro da usina. Na

    indstria sucroalcooleira, dois sistemas so encontrados comumente: lagoas de asperso ou torres

    de resfriamento (Figura 2.10).

    Figura 2.10: Esquema do sistema de resfriamento por lagoas de asperso e torres de resfriamento.

    Fonte: Adaptao de UDOP (2012)

    As lagoas de asperso (spray-pond) esto dimensionadas para ter um colcho de neblina

    que permita ao ar circular internamente, promovendo a evaporao da gua quente que

    pulverizada atravs de uma srie de bicos, sendo retirado o calor latente do sistema, e por

    conseguinte, resfriando a gua do sistema que recirculada ao processo.

    gua Fria para os Circuitos Fechados

    gua Fria para os Circuitos FechadosTorres de Resfriamento

    Aspersores

    Canal

    gua de Reposio

    Caixa Pulmo

    Caixa Pulmo

    gua de Reposio

    Perdas de gua

    Dornas de Fermentao

    Mosto para Fermentao

    Turbogeradores

    Mancais das Moendas

    leo de Lubrificao

    Etanol Anidro

    Evaporadores

    Filtro Rotativo

    Colunas de Destilao

    Colunas de Desidratao

    Solvente

    gu

    a Q

    uent

    e do

    Res

    fria

    men

    to

    gua

    Que

    nte

    do R

    esfr

    iam

    ento

    Perdas de guaEnergia Eltrica

  • 29

    No caso das torres de resfriamento midas, a gua quente do processo distribuda no topo

    da torre (por vertedores de gravidade ou bicos sob presso), descendo em contra corrente (ou em

    corrente cruzada) com ar frio. Este aspirado ou insuflado por ventiladores, forando o ar atravs

    do enchimento interno, aumentando-se assim o contato ar-gua. A gua fria recolhida na bacia

    da torre, sendo da recalcada para o reuso. Na torre de resfriamento, ocorre evaporao por parte

    da gua, transferncia de massa da fase lquida (gua) para a fase gasosa (ar), causando o

    abaixamento da temperatura da gua que circula na torre (ELIA NETO, 2009).

    Uma alternativa torre mida a torre de resfriamento do tipo seco ou fechado. Neste

    sistema, como acontece no radiador do carro, no existe perda de gua. O ar circula atravs das

    serpentinas de resfriamento por meios naturais ou mecnicos. Contudo, o custo financeiro de uma

    torre seca aproximadamente quatro vezes maior por kilowatt que o de uma torre mida natural;

    nas torres de resfriamento mido, a prpria evaporao da gua j um processo de resfriamento

    (HINRICHS e KLEINBACH, 2001).

    De acordo a Ensinas (2008), as torres de resfriamento so usadas para o resfriamento de

    efluentes a 30C, saindo a uma temperatura de 25C. Enquanto as lagoas de resfriamento so

    utilizadas em correntes com maior carga trmica, diminuindo a temperatura de 50C para 30C.

    As correntes utilizadas para cada tipo de resfriamento so descritas na Tabela 2.2.

    Tabela 2.2: Classificao das correntes de acordo ao sistema de resfriamento

    Torres de Resfriamento Aspersores Dornas de fermentao Sistemas de vcuo: Mosto para fermentao - Filtragem da torta Turbogeradores - Evaporadores Mancais das moendas - Condensadores das colunas de: leo de lubrificao das moendas - Destilao - Retificao - Extrao - Recuperao

    Solvente Etanol anidro

  • 30

    2.2. Produo de etanol de segunda gerao a partir do bagao da cana-de-acar As matrias-primas, de natureza lignocelulsica, remanescentes aps o corte, colheita e

    processamento da cana, para a obteno de acar e etanol, apresentam um grande potencial de

    emprego na obteno de etanol de segunda gerao atravs do processo de pr-tratamento e

    hidrlise enzimtica. Convertendo a celulose e hemicelulose, principais componentes do material

    lignocelulsico, a uma mistura de acares redutores para uma posterior fermentao e

    recuperao do etanol por destilao.

    A composio do material lignocelulsico consiste, em base seca, principalmente por:

    celulose, entre 30-60%; hemicelulose, entre 20-40%; e lignina, entre 15-25% (BALAT, 2011). Os

    dois primeiros componentes so polissacardeos, sendo a celulose um polmero linear, rgido e

    difcil de ser quebrado, e cuja hidrlise gera glicose, um acar de seis carbonos, com a

    possibilidade de ser fermentado atravs da Saccharomyces cerevisiae. A hemicelulose, por seu

    lado, est constituda por uma cadeia principal de xiloses, outro acar de cinco carbonos, com

    varias ramificaes de manose, arabinose, galactose, etc., e apesar de ser muito ms fcil de ser

    hidrolisada do que a celulose, a sua fermentao ainda no to desenvolvida quanto aos

    processos envolvendo a glicose. J a lignina um composto qumico complexo que responde

    pela resistncia mecnica das plantas e que mantm as clulas unidas (Figura 2.11). Alm disso,

    devido a que no est relacionada aos acares, pode ser usada como fonte de energia para o

    processo (BNDES, 2008).

    Figura 2.11: Distribuio das componentes do material lignocelulsico. Fonte: Tabil et al. (2011)

  • 31

    O uso do bagao como matria-prima no processo de hidrlise enzimtica se apresenta

    como uma promissria alternativa visando o aumento da oferta de etanol, decorrente do aumento

    de excedentes deste.

    A procura pela produo de etanol de segunda gerao geralmente avaliada

    independentemente da produo de etanol de primeira gerao, no obstante, no caso do Brasil,

    devido a que o bagao j se encontra disponvel na planta de produo convencional, a integrao

    de ambos os processos se apresenta como uma oportunidade de grande potencial, podendo atingir

    uma reduo nos custos de produo do etanol (DIAS, 2011). Desse modo, as duas rotas podem

    compartilhar operaes unitrias ta