( Espiritismo) # - biografias # espiritas famosos

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BIOGRAFIAS INDICE ADENÁUER NOVAES_____________________________________________________2 ALEXANDRE N. AKSAKOF________________________________________________2 ALLAN KARDEC________________________________________________________4 AMÁLIA DOMINGO SOLER_______________________________________________40 AMÉLIA RODRIGUES___________________________________________________46 ANÁLIA FRANCO______________________________________________________48 ARTHUR CONAN DOYLE_________________________________________________51 AUTA DE SOUZA______________________________________________________53 BEZERRA DE MENEZES_________________________________________________56 BITTENCOURT SAMPAIO________________________________________________62 CAÍRBAR SCHUTEL____________________________________________________69 CAMILLE FLAMMARION_________________________________________________73 DIVALDO PEREIRA FRANCO_____________________________________________75 EMANUEL VON SWEDENBORG_____________________________________________79 EMMANUEL___________________________________________________________82 ERMANCE DUFAUX_____________________________________________________83 EURÍPEDES BARSANULFO_______________________________________________88 EUSÁPIA PALADINO___________________________________________________91 FLORENCE COOKE_____________________________________________________93 FRANCISCO PEIXOTO LINS (PEIXOTINHO)________________________________97 Sigmar Gama - [email protected] Página 1

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BIOGRAFIAS

INDICE

ADENÁUER NOVAES______________________________________________________________2

ALEXANDRE N. AKSAKOF_________________________________________________________2

ALLAN KARDEC__________________________________________________________________4

AMÁLIA DOMINGO SOLER_______________________________________________________40

AMÉLIA RODRIGUES_____________________________________________________________46

ANÁLIA FRANCO_________________________________________________________________48

ARTHUR CONAN DOYLE_________________________________________________________51

AUTA DE SOUZA________________________________________________________________53

BEZERRA DE MENEZES__________________________________________________________56

BITTENCOURT SAMPAIO_________________________________________________________62

CAÍRBAR SCHUTEL______________________________________________________________69

CAMILLE FLAMMARION__________________________________________________________73

DIVALDO PEREIRA FRANCO______________________________________________________75

EMANUEL VON SWEDENBORG___________________________________________________79

EMMANUEL_____________________________________________________________________82

ERMANCE DUFAUX______________________________________________________________83

EURÍPEDES BARSANULFO_______________________________________________________88

EUSÁPIA PALADINO_____________________________________________________________91

FLORENCE COOKE______________________________________________________________93

FRANCISCO PEIXOTO LINS (PEIXOTINHO)________________________________________97

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ADENÁUER NOVAESADENÁUER NOVAES

Adenáuer Novaes nasceu em 3 de abril de 1955, em Acajutiba, no sertão

da Bahia. Seus pais, Hostílio Freire de Novaes e Maria Terezinha Ferraz

Freire de Novaes tiveram dez filhos e ele foi a quinto.

Seu pai era militar do Exército, natural de Pernambuco e sua Mãe era

Advogada, natural de Sergipe. Ambos já falecidos.

Eles não mediram esforços na educação de seus filhos.

Adenáuer foi muito querido pelos pais, não só por ser o primeiro filho

homem após quatro mulheres, como por ter se revelado uma criança

muito viva e alegre.

Viveu sua infância, até os nove anos, na cidade de Acajutiba, e, em 1964,

seus pais se mudaram para Salvador.

Em 1972 e 73 prestou serviço militar na Escola Preparatória de Cadetes de

Campinas-SP. Formou-se 1981 em Engenharia Civil.

Concluiu o curso superior em Filosofia em 1986 e em Psicologia em 1997.

Em 1976 ingressou, mediante concurso público, no quadro de funcionários

da Caixa Econômica Federal, onde trabalhou por 22 anos.

Teve seu primeiro contato com o Espiritismo na adolescência, quando

freqüentou reuniões do Núcleo de Militares Espíritas na Escola de

Campinas.

Posteriormente, em Salvador iniciou seus estudos com o casal Rosita e

Barradas.

É casado e tem três filhos.

Fundou junto com outros companheiros, em 1994, um Centro Espírita em

Salvador, do qual, atualmente é director.

Trabalha como psicólogo clínico.

Pós-graduou-se em Psicologia Junguiana e ministra cursos nesta área.

É um dos diretores da Fundação Lar Harmonia, instituição filantrópica.

Escreveu vários livros sobre Psicologia e sobre Espiritismo.

ALEXANDRE N. AKSAKOFALEXANDRE N. AKSAKOF

Nasceu em Repievka (Rússia) em 27/05/1832 e desencarnou em S.

Petersburgo (o nome mudou depois para Leningrado), a 04/01/1903. Foi

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um dos grandes cientistas que notabilizou-se na investigação e análise dos

fenômenos espíritas, no século passado. Doutor em Filosofia e conselheiro

íntimo de Alexandre III, Tzar de todas as Rússias. 

Sua mocidade sempre tendeu à seriedade, preocupou-se com

investigações sérias o que o levou a enfrentar prolongados anos de

dificuldades espirituais e sociais. Conquistando o pergaminho de doutor,

enveredou pelos árduos caminhos que  conduzem ao êxito no campo do

conhecimento, tornando-se professor da Academia de Leipzig, na

Alemanha.  Integrando-se resolutamente no campo da investigação

psíquica, tornou-se diretor do jornal Psychische Studiem , órgão publicado

na Alemanha. Não satisfeito com o seu trabalho na direção deste órgão,

lançou em Moscou, em  1891, a revista de estudos psíquicos Rebus , a

primeira do gênero na Rússia. Sustentou viva polêmica com o filósofo

alemão Dr. Von Hartmann, no decurso da qual refutou, com sobeja

superioridade científica e demonstrações irretorquíveis, as explicações do

sábio alemão sobre os fenômenos espíritas, aos quais atribuia um fundo

biológico. 

Aksakof realizou numerosas experiências e observações no campo

científico, tendo realizado trabalhos tão profundos, tão interessantes, que

até hoje jamais foram esquecidos em matéria de espiritismo experimental.

Para a consecução dessa finalidade valeu-se do valioso concurso da

célebre médium italiana Eusapia Paladino. Fundamentado nesses

trabalhos publicou na Alemanha o seu famoso livro Animismo e Espiritismo

, em dois volumes, obra insuperável em todo o mundo.

Mais tarde com o valioso concurso dos médiuns Elisabeth D´Esperance e

Politi, além da já mencionada Eusapia Paladino, o grande criminalista

italiano Cesare Lombroso, expõe, de forma definitiva, o resultado das suas

experiências realizadas quinze anos depois. Esse trabalho de Lombroso

fortaleceu de forma decisiva tudo aquilo que Aksakof havia descrito em

sua obra. O livro de Aksakof Animismo e Espiritismo foi uma réplica à

brochura que o célebre filosofo alemão Eduardo von Hartmann -

continuador de Schopenhauer - fez editar em 1885, abordando aspectos

do Espiritismo. 

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Escreveu ainda Aksakof, em fevereiro de 1890: Interessei-me pelo

movimento espírita desde 1855 e, desde então, não deixei de estudá-lo

em todas as suas particularidades e através de todas as literaturas. Em

1870 assisti à primeira sessão, em um círculo íntimo que eu tinha

organizado. Não fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram reais

adquiri a convicção profunda de que eles nos ofereciam - como tudo o que

existe na Natureza - uma base verdadeiramente sólida, um terreno firme

para a fundação de uma ciência nova que seria talvez capaz, em um

futuro remoto, de fornecer ao  homem a solução do problema da sua

existência. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para tornar os fatos

conhecidos e atrair sobre o seu estudo a atenção dos pensadores isentos

de preconceitos . 

Baseado no livro Personagens do Espiritismo de Antônio de Souza Lucena

Paulo Alves Godoy Ed. FEESP - 1ª Ed. - 1982 - SP - BRASIL 

ALLAN KARDECALLAN KARDEC

Minhas senhoras, meus senhores:2

Muitas pessoas que se interessam pelo Espiritismo manifestam muitas

vezes o pesar de não possuírem senão muito imperfeito conhecimento da

biografia de Allan Kardec, e de não saberem onde encontrar, sobre aquele

a quem chamamos Mestre, as informações que desejariam conhecer.

Pois é para honrar Allan Kardec e festejar a sua memória que nos achamos

hoje reunidos, e mesmo sentimento de veneração e de reconhecimento

faz vibrar todos os corações. Em respeito ao fundador da filosofia espírita,

permiti-me, no intuito de tentar corresponder a tão legítimo desejo, que

vos entretenha alguns momentos com esse Mestre amado, cujos trabalhos

são universalmente conhecidos e apreciados, e cuja vida íntima e

laboriosa existência são apenas conjeturadas.

Se fácil foi a todos os investigadores conscienciosos inteirarem-se do alto

valor e do grande alcance da obra de Allan Kardec pela leitura atenta das

suas produções, bem poucos puderam, pela ausência até hoje de

elementos para isso, penetrar na vida do homem íntimo e seguí-lo passo a

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passo no desempenho da sua tarefa, tão grande, tão gloriosa e tão bem

preenchida.

1 Seu verdadeiro nome é Hippolyte Léon Denizard Rivail, conforme estudo

de autoria de Zêus Wantuil, inserto em “Reformador” de abril de 1963,

p.p. 95/6, intitulado “Kardec e seu nome civil”. Nota da FEB.

2 Conservamos no presente trabalho a forma de conferência que lhe deu

Henri Sausse, lendo-a por ocasião da solenidade com que os espíritas de

Lião celebraram, a 31 de março de 1896, o 27° aniversário do decesso de

Allan Kardec. - Nota do Tradutor.

Não somente a biografia de Allan Kardec é pouco conhecida, senão que

ainda está por ser escrita. A inveja e o ciúme semearam sobre ela os mais

evidentes erros, as mais grosseiras e as mais impudentes calúnias.

Vou, portanto, esforçar-me por mostrar-vos, com luz mais verdadeira, o

grande iniciador de quem nos desvanecemos de ser discípulos.

Todos sabeis que a nossa cidade se pode honrar, a justo título, de ter visto

nascer entre seus muros esse pensador tão arrojado quão metódico, esse

filósofo sábio, clarividente e profundo, esse trabalhador obstinado cujo

labor sacudiu o edifício religioso do Velho Mundo e preparou os novos

fundamentos que deveriam servir de base à evolução e à renovação da

nossa sociedade caduca, impelindo-a para um ideal mais são, mais

elevado, para um adiantamento intelectual e moral seguros.

Foi, com efeito, em Lião, que, a 3 de outubro de 1804, nasceu de antiga

família lionesa, com o nome de Rivail, aquele que devia mais tarde ilustrar

o nome de Allan Kardec e conquistar para ele tantos títulos à nossa

profunda simpatia, ao nosso filial reconhecimento.

Eis aqui a esse respeito um documento positivo e oficial:

“Aos 12 do vindemiário3 do ano XIII, auto do nascimento de Denizard

Hippolyte-Léon Rivail, nascido ontem às 7 horas da noite, filho de Jean

Baptiste-Antoine Rivail, magistrado, juiz, e Jeanne Duhamel, sua esposa,

residentes em Lião, rua Sala n° 76.

“O sexo da criança foi reconhecido como masculino.

“Testemunhas maiores:

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“Syriaque-Frédéric Dittmar, diretor do estabelecimento das águas

minerais da rua Sala, e Jean-François Targe, mesma rua Sala, à requisição

do médico Pierre Radamel, rua Saint-Dominique n° 78.

3 Veja-se “Reformador” de abril de 1947, pág, 85.

“Feita a leitura, as testemunhas assinaram, assim como o Maire da região

do Sul.

“O presidente do Tribunal,

(assinado) : Mathiou.”

O futuro fundador do Espiritismo recebeu desde o berço um nome querido

e respeitado e todo um passado de virtudes, de honra, de probidade;

grande número dos seus antepassados se tinham distinguido na advocacia

e na magistratura, por seu talento, saber e escrupulosa probidade. Parecia

que o jovem Rivail devia sonhar, também ele, com os louros e as glórias

da sua família. Assim, porém, não foi, porque, desde o começo da sua

juventude, ele se sentiu atraído para as ciências e para a filosofia.

Rivail Denizard fez em Lião os seus primeiros estudos e completou em

seguida a sua bagagem escolar, em Yverdun (Suíça), com o célebre

professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais eminentes

discípulos, colaborador inteligente e dedicado. Aplicou-se, de todo o

coração, à propaganda do sistema de educação que exerceu tão grande

influência sobre a reforma dos estudos na França e na Alemanha.

Muitíssimas vezes, quando Pestalozzi era chamado pelos governos, um

pouco de todos os lados, para fundar institutos semelhantes ao de

Yverdun, confiava a Denizard Rivail o encargo de o substituir na direção

da sua escola. O discípulo tornado mestre tinha, além de tudo, com os

mais legítimos direitos, a capacidade requerida para dar boa conta da

tarefa que lhe era confiada. Era bacharel em letras e em ciências e doutor

em medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido

brilhantemente sua tese.4 Lingüista insigne, conhecia a fundo e falava

corretamente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol; conhecia

também o holandês, e podia facilmente exprimir-se nesta língua.

4 Ver “Reformador” de março de 1958, pág. 67.

Denizard Rivail era um alto e belo rapaz, de maneiras distintas, humor

jovial na intimidade, bom e obsequioso. Tendo-o a conscrição incluído para

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o serviço militar, ele obteve isenção e, dois anos depois, veio fundar em

Paris, à rua de Sèvres n° 35, um estabelecimento semelhante ao de

Yverdun.

Para essa empresa se associara a um dos seus tios, irmão de sua mãe, o

qual era seu sócio capitalista.

No mundo das letras e do ensino, que freqüentava em Paris, Denizard

Rivail encontrou a senhorita Amélia Boudet, professora com diploma de 1ª

classe.

Pequena, mas bem proporcionada, gentil e graciosa, rica por seus pais e

filha única, inteligente e viva, ela soube por seu sorriso e predicados fazer-

se notar pelo Sr. Rivail, em quem adivinhou, sob a franca e comunicativa

alegria do homem amável, o

pensador sábio e profundo, que aliava grande dignidade à mais esmerada

urbanidade.

O registro civil nos informa que:

“Amélie Gabrielle Boudet, filha de Julien-Louis Boudet, proprietário e

antigo tabelião, e de Julie Louise Seigneat de Lacombe, nasceu em Thiais

(Sena), aos 2 do Frimário do ano IV (23 de novembro de 1795).”

A senhorita Amélia Boudet tinha, pois, mais nove anos que o Sr. Rivail,

mas na aparência dir-se-ia ter menos dez que ele, quando, em 6 de

fevereiro de 1832, se firmou em Paris o contrato de casamento de

Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, diretor do Instituto Técnico à rua de

Sèvres (Método de Pestalozzi), filho de Jean-Baptiste Antoine e senhora,

Jeanne Duhamel, residentes em Château-du-Loir, com Amélie-Gabrielle

Boudet, filha de Julien Louis e senhora Julie Louise Seigneat de Lacombe,

residentes em Paris, 35 rua de Sèvres.

O sócio do Sr. Rivail tinha a paixão do jogo; arruinou o sobrinho, perdendo

grossas somas em Spa e em Aix-la-Chapelle. O Sr. Rivail requereu a

liquidação do Instituto, de cuja partilha couberam 45.000 francos a cada

um deles. Essa soma foi colocada pelo Sr. e Sra. Rival em casa de um dos

seus amigos íntimos, negociante, que fez maus negócios e cuja falência

nada deixou aos credores.

Longe de desanimar com esse duplo revés, o Sr. e Sra. Rivail lançaram-se

corajosamente ao trabalho.

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Ele encontrou e pôde encarregar-se da contabilidade de três casas, que

lhe produziam cerca de 7.000 francos por ano; e, terminado o seu dia,

esse trabalhador infatigável escrevia à noite, ao serão, gramáticas,

aritméticas, livros para estudos pedagógicos superiores; traduzia obras

inglesas e alemãs e preparava todos os cursos de Levy-Alvarès,

freqüentados por discípulos de ambos os sexos do faubourg Saint-

Germain.

Organizou também em sua casa, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de

química, física, astronomia e anatomia comparada, de 1835 a 1840, e que

eram muito freqüentados.

Membro de várias sociedades sábias, notadamente da Academia Real

d’Arras, foi premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação da sua

notável memória:

Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da

época?

Dentre as suas numerosas obras convém citar, por ordem cronológica:

Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública, em 1828;

em 1829 5, segundo o método de Pestalozzi, ele publicou, para uso das

mães de família e dos professores, o Curso prático e teórico de aritmética;

em 1831 fez aparecer a Gramática francesa clássica; em 1846 o Manual

dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, soluções

racionais das questões e problemas de aritmética e geometria; em 1848

foi publicado o Catecismo gramatical da língua francesa; finalmente, em

1849, encontramos o Sr. Rivail professor no Liceu Polimático, regendo as

cadeiras de Fisiologia, Astronomia, Química e Física. Em uma obra muito

apreciada resume seus cursos, e depois publica: Ditados normais dos

exames na Municipalidade e na Sorbona; Ditados especiais sobre as

dificuldades ortográficas.

5 Houve engano dos biógrafos. Não foi em 1829, mas em 1824. Ver

“Reformador” de 1952, págs. 77 e 79. - Nota da FEB.

Tendo sido essas diversas obras adotadas pela Universidade de França, e

vendendo-se abundantemente, pôde o Sr. Rivail conseguir, graças a elas e

ao seu assíduo trabalho, uma modesta abastança.

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Como se pode julgar por esta muito rápida exposição, o Sr. Rivail estava

admiravelmente preparado para a rude tarefa que ia ter que desempenhar

e fazer triunfar.

Seu nome era conhecido e respeitado, seus trabalhos justamente

apreciados, muito antes que ele imortalizasse o nome de Allan Kardec.

Prosseguindo em sua carreira pedagógica, o Sr. Rivail poderia viver feliz,

honrado e tranqüilo, estando a sua fortuna reconstruída pelo trabalho

perseverante e

pelo brilhante êxito que lhe havia coroado os esforços; mas a sua missão o

chamava

a uma tarefa mais onerosa, a uma obra maior, e, como teremos muitas

vezes ocasião de o evidenciar, ele sempre se mostrou à altura da missão

gloriosa que lhe estava reservada.

Seus pendores, suas aspirações, tê-lo-iam impelido para o misticismo, mas

a educação, o juízo reto, a observação metódica, conservaram-no

igualmente ao abrigo dos entusiasmos desarrazoados e das negações não

justificadas.

Foi em 1854 que o Sr. Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas

girantes, a princípio do Sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha

relações, em razão dos seus estudos sobre o Magnetismo.

O Sr. Fortier lhe disse um dia: “Eis aqui uma coisa que é bem mais

extraordinária: não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas

também se pode fazê-la falar. Interroga-se, e ela responde.”

- Isso, replicou o Sr. Rivail, é uma outra questão; eu acreditarei quando vir

e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar,

nervos para sentir, e que se pode tornar sonâmbula.

Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula para provocar o

sono.

Tal era a princípio o estado de espírito do Sr. Rivail, tal o encontraremos

muitas vezes, não negando coisa alguma por parti pris, mas pedindo

provas e querendo ver e observar para crer; tais nos devemos mostrar

sempre no estudo tão atraente das manifestações do Além.

Até agora, não vos falei senão do Sr. Rivail, professor emérito, autor

pedagógico de renome.

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Nessa época, porém, da sua vida, de 1854 a 1856, um novo horizonte se

rasga para esse pensador profundo, para esse sagaz observador.

Então o nome de Rivail se obumbra, para ceder o lugar ao de Allan Kardec,

que a fama levará a todos os cantos do globo, que todos os ecos repetirão

e que todos os nossos corações idolatram.

Eis aqui como Allan Kardec nos revela as suas dúvidas, as suas hesitações

e também a sua primeira iniciação:

“Eu me encontrava, pois, no ciclo de um fato inexplicado, contrário, na

aparência, às leis da Natureza e que minha razão repelia.

Nada tinha ainda visto nem observado; as experiências feitas em presença

de pessoas honradas e dignas de fé me firmavam na possibilidade do

efeito puramente material; mas a idéia, de uma mesa falante, não me

entrava ainda no cérebro.

“No ano seguinte - era no começo de 1855 - encontrei o Sr. Carlotti, um

amigo de há vinte e cinco anos, que discorreu acerca desses fenômenos

durante mais de uma hora, com o entusiasmo que ele punha em todas as

idéias novas. O Sr.

Carlotti era corso de origem, de natureza ardente e enérgica; eu tinha

sempre

distinguido nele as qualidades que caracterizavam uma grande e bela

alma, mas

desconfiava da sua exaltação. Ele foi o primeiro a falar-me da intervenção

dos

Espíritos, e contou-me tantas coisas surpreendentes que, longe de me

convencerem,

aumentaram as minhas dúvidas. - Você um dia será dos nossos - disse-me

ele. - Não

digo que não, respondi-lhe eu -; veremos isso mais tarde.

“Daí a algum tempo, pelo mês de maio de 1855, estive, em casa da

sonâmbula

Sra. Roger, com o Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e

a Sra.

Plainemaison, que me falaram desses fenômenos no mesmo sentido que o

Sr.

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Carlotti, mas noutro tom.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 8

O Sr. Pâtier era funcionário público, de certa idade, homem muito

instruído,

de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo

entusiasmo,

produziu-me viva impressão, e, quando ele me convidou para assistir às

experiências

que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, rua Grange-Batelière n°

18, aceitei

com solicitude. A entrevista foi marcada para a terça-feira6 de maio, às 8

horas da

noite.

“Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas

girantes,

que saltavam e corriam, e isso em condições tais que a dúvida não era

possível.

“Aí vi também alguns ensaios muito imperfeitos de escrita mediúnica em

uma

ardósia com o auxílio de uma cesta. Minhas idéias estavam longe de se

haver

modificado, mas naquilo havia um fato que devia ter uma causa. Entrevi,

sob essas

aparentes futilidades e a espécie de divertimento que com esses

fenômenos se fazia,

alguma coisa de sério e como que a revelação de uma nova lei, que a mim

mesmo

prometi aprofundar.

“A ocasião se me ofereceu e pude observar mais atentamente do que

tinha

podido fazer. Em um dos serões da Sra. Plainemaison, fiz conhecimento

com a

família Baudin, que morava então à rua Rochechouart. O Sr. Baudin fez-

me

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oferecimento no sentido de assistir às sessões hebdomadárias que se

efetuavam em

sua casa, e às quais eu fui, desde esse momento, muito assíduo.

“Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos

ainda

por efeito de revelações que por observação. Apliquei a essa nova ciência,

como até

então o tinha feito, o método da experimentação; nunca formulei teorias

preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as

conseqüências; dos

efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento

lógico dos

fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia

resolver

todas as dificuldades da questão.

6 Esta data ficou em branco no manuscrito de Allan Kardec. - Nota do

Autor.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 9

Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores, desde a

idade de

quinze a dezessete anos. Compreendi, desde o princípio, a gravidade da

exploração

que ia empreender. Entrevi nesses fenômenos a chave do problema tão

obscuro e tão

controvertido do passado e do futuro, a solução do que havia procurado

toda a minha

vida; era, em uma palavra, uma completa revolução nas idéias e nas

crenças; preciso,

portanto, se fazia agir com circunspeção e não levianamente, ser

positivista e não

idealista, para me não deixar arrastar pelas ilusões.

“Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos,

não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana

sabedoria, nem a

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soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu

adiantamento, e que a

sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade,

reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua

infalibilidade

e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só

ou de

alguns.

“Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles

pudessem

dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente; era já um

ponto capital,

um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma

multidão de

fenômenos inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era

conhecer o

estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir.

Cedo,

observei que cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus

conhecimentos, desvendava-me uma fase desse mundo, exatamente

como se chega a

conhecer o estado de um país interrogando os habitantes de todas as

classes e

condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles

podendo,

individualmente, ensinar-nos tudo. Cumpre ao observador formar o

conjunto, com o

auxílio dos documentos recolhidos de diferentes lados, colecionados,

coordenados e

confrontados entre si. Eu, pois, agi com os Espíritos como teria feito com

os

homens: eles foram, para mim, desde o menor até o mais elevado, meios

de colher

informações e não reveladores predestinados.”

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BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 10

A estas informações, colhidas nas Obras Póstumas de Allan Kardec,

convém

acrescentar que a princípio o Sr. Rivail, longe de ser um entusiasta dessas

manifestações e absorvido por outras preocupações, esteve a ponto de as

abandonar,

o que talvez tivesse feito se não fossem as instantes solicitações dos Srs.

Carlotti,

René Taillandier, membro da Academia das Ciências, Tiedeman-Manthèse,

Sardou,

pai e filho, e Diddier, editor, que acompanhavam havia cinco anos o

estudo desses

fenômenos e tinham reunido cinqüenta cadernos de comunicações

diversas, que não

conseguiam pôr em ordem. Conhecendo as vastas e raras aptidões de

síntese do Sr.

Rivail, esses senhores lhe enviaram os cadernos, pedindo-lhe que deles

tomasse

conhecimento e os pusesse em termos -, os arranjasse. Este trabalho era

árduo e

exigia muito tempo, em virtude das lacunas e obscuridades dessas

comunicações; e o

sábio enciclopedista recusava-se a essa tarefa enfadonha e absorvente,

em razão de

outros trabalhos.

Uma noite, seu Espírito protetor, Z., deu-lhe, por um médium, uma

comunicação toda pessoal, na qual lhe dizia, entre outras coisas, tê-lo

conhecido em

uma precedente existência, quando, ao tempo dos Druidas, viviam juntos

nas Gálias.

Ele se chamava, então, Allan Kardec, e, como a amizade que lhe havia

votado só

fazia aumentar, prometia-lhe esse Espírito secundá-lo na tarefa muito

importante a

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que ele era chamado, e que facilmente levaria a termo.

O Sr. Rivail, pois, lançou-se à obra; tomou os cadernos, anotou-os com

cuidado. Após atenta leitura, suprimiu as repetições e pôs na respectiva

ordem cada

ditado, cada relatório de sessão; assinalou as lacunas a preencher, as

obscuridades a

aclarar, e preparou as perguntas necessárias para chegar a esse

resultado.

“Até então, diz ele próprio, as sessões em casa do Sr. Baudin não tinham

nenhum fim determinado; propus-me, aí, fazer resolver os problemas que

me

interessavam sob o ponto de vista da filosofia, da psicologia e da natureza

do mundo

invisível.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 11

Comparecia a cada sessão com uma série de questões preparadas e

metodicamente dispostas: eram respondidas com precisão, profundeza e

de modo

lógico. Desde esse momento as reuniões tiveram caráter muito diferente,

e, entre os

assistentes, encontravam-se pessoas sérias que tomaram vivo interesse

pelo trabalho.

Se me acontecia faltar, ficavam as sessões como que tolhidas, tendo as

questões

fúteis perdido o atrativo para o maior número. A princípio eu não tinha

vista senão a

minha própria instrução; mais tarde, quando vi que tudo aquilo formava

um conjunto

e tomava as proporções de uma doutrina, tive o pensamento de o

publicar, para

instrução de todos. Foram essas mesmas questões que, sucessivamente

desenvolvidas e completadas, fizeram a base de O Livro dos Espíritos.”

Em 1856, o Sr. Rivail freqüentou as reuniões espíritas que se realizavam à

rua

Sigmar Gama - [email protected] Página 15

Page 16: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Tiquetone, em casa do Sr. Roustan, com Mlle. Japhet, sonâmbula, que

obtinha como

médium comunicações muito interessantes, com o auxílio da cesta

aguçada7; fez

examinar por esse médium as comunicações obtidas e postas

precedentemente em

ordem. Esse trabalho foi efetuado, a princípio, nas sessões ordinárias; mas

a pedido

dos Espíritos, e para que fosse consagrado mais cuidado, mais atenção a

esse exame, foi continuado em sessões particulares.

“Não me contentei com essa verificação, diz ainda Allan Kardec, que os

Espíritos me haviam recomendado.

Tendo-me as circunstâncias posto em relação com outros médiuns, toda

vez que se oferecia ocasião, eu a aproveitava para propor algumas das

questões que me pareciam mais melindrosas.

Foi assim que mais de dez médiuns prestaram seu concurso a esse

trabalho.

E foi da comparação e da fusão de todas essas respostas, coordenadas,

classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação, que formei

a primeira edição de O Livro dos Espíritos, a qual apareceu em 18 de abril

de 1857.”

7 Arranjada em forma de bico. - Nota do Tradutor.

Esse livro era em formato grande, in-4, em duas colunas, uma para as

perguntas e outra, em frente, para as respostas.

No momento de publicá-lo, o autor ficou muito embaraçado em resolver

como o assinaria, se com o seu nome - Denizard-Hippolyte-Léon-Rivail, ou

com um pseudônimo.

Sendo o seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude dos

seus trabalhos anteriores, e podendo originar uma confusão, talvez

mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o alvitre de o

assinar com o nome de Allan Kardec que, segundo lhe revelara o guia, ele

tivera ao tempo dos Druidas.

Sigmar Gama - [email protected] Página 16

Page 17: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

A obra alcançou tal êxito que a primeira edição foi logo esgotada. Allan

Kardec reeditou-a em 1858 8 sob a forma atual in-12, revista, correta e

consideravelmente aumentada.

No dia 25 de março de 1856 estava Allan Kardec em seu gabinete de

trabalho, em via de compulsar as comunicações e preparar o “O Livro dos

Espíritos”,

quando ouviu ressoarem pancadas repetidas no tabique; procurou, sem

descobrir, a

causa disso, e em seguida tornou a pôr mãos à obra.

Sua mulher, entrando cerca das dez horas, ouviu os mesmos ruídos;

procuraram, mas sem resultado, de onde podiam eles provir.

Moravam, então, à rua dos Mártires n° 8, no segundo andar, ao fundo.

“No dia seguinte, sendo dia de sessões em casa do Sr. Baudim, escreve

Allan Kardec, contei o fato e pedi a explicação dele.

Pergunta: - Ouvistes o fato que acabo de narrar; podereis dizer-me a

causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta insistência?

Resposta: - Era o teu Espírito familiar.

P. - Com que fim, vinha ele bater assim?

R. - Queria comunicar-se contigo.

P. - Poderei dizer-me o que queria ele?

R. - Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.

8 A 2ª edição foi impressa em 1860, e não 1858. - Nota da FEB.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 13

P. - Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, agradeço-vos terdes vindo

visitar-me. Quereis ter a bondade de dizer-me quem sois?

R. - Para ti chamar-me-ei a Verdade, e todos os meses, durante um quarto

de

hora, estarei aqui, à tua disposição.

P. - Ontem, quando batestes, enquanto eu trabalhava, tínheis alguma

coisa de

particular a dizer-me?

R. - O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias; o que

escrevias

me desagradava e eu queria fazer-te parar.

Sigmar Gama - [email protected] Página 17

Page 18: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

NOTA - O que eu escrevia era precisamente relativo aos estudos que fazia

sobre os Espíritos e suas manifestações.

P. - A vossa desaprovação versava sobre o capítulo que eu escrevia, ou

sobre

o conjunto do trabalho?

R. - Sobre o capítulo de ontem: faço-te juiz dele. Torna a lê-lo esta noite;

reconhecer-lhe-ás os erros e os corrigirás.

P. - Eu mesmo não estava muito satisfeito com esse capítulo e o refiz hoje.

Está melhor?

R. - Está melhor, mas não muito bom. Lê da terceira à trigésima linha e

reconhecerás um grave erro.

P. - Rasguei o que tinha feito ontem.

R. - Não importa. Essa inutilização não impede que subsista o erro. Relê e

verás.

P. - O nome de Verdade que tomais é uma alusão à verdade que procuro?

R. - Talvez, ou, pelo menos, é um guia que te há de auxiliar e proteger.

P. - Posso evocar-vos em minha casa?

R. - Sim, para que eu te assista pelo pensamento; mas, quanto a respostas

escritas em tua casa, não será tão cedo que as poderás obter.

P. - Podereis vir mais freqüentemente que todos os meses?

R. - Sim; mas não prometo senão uma vez por mês, até nova ordem.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 14

P. - Animastes alguma personagem conhecida na Terra?

R. - Disse-te que para ti eu era a Verdade, o que da tua parte devia

importar

discrição; não saberás mais que isto.”

De volta a casa, Allan Kardec apressou-se a reler o que escrevera e pôde

verificar o grave erro que com efeito havia cometido. A dilação de um

mês, fixada

para cada comunicação do Espírito Verdade, raramente foi observada. Ele

se

manifestou freqüentemente a Allan Kardec, mas não em sua casa, onde

durante

Sigmar Gama - [email protected] Página 18

Page 19: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

cerca de um ano não pôde este receber nenhuma comunicação por

médium algum e,

cada vez que ele esperava obter alguma coisa, era obstado por uma causa

qualquer e

imprevista, que a isso se vinha opor.

Foi a 30 de abril de 1856, em casa do Sr. Roustan, pela médium Mlle.

Japhet,

que Allan Kardec recebeu a primeira revelação da missão que tinha a

desempenhar.

Esse aviso, a princípio muito vago, foi precisado no dia 12 de junho de

1856, por

intermédio de Mlle. Aline C., médium. A 6 de maio de 1857, a Sra.

Cardone, pela

inspeção das linhas da mão de Allan Kardec, confirmou as duas

comunicações

precedentes, que ela ignorava. Finalmente, a 12 de abril de 1860, em casa

do Sr.

Dehan, sendo intermediário o Sr. Croset, médium, essa missão foi

novamente

confirmada em uma comunicação espontânea, obtida na ausência de Allan

Kardec.

Assim, também, se deu a respeito do seu pseudônimo. Numerosas

comunicações,

procedentes dos mais diversos pontos, vieram reafirmar e corroborar a

primeira comunicação obtida a esse respeito.

Urgido pelos acontecimentos e pelos documentos que tinha em seu poder,

Allan Kardec formara, em razão do êxito de O Livro dos Espíritos, o projeto

de criar

um jornal espírita. Havia-se dirigido ao Sr. Tiedeman, para solicitar-lhe o

concurso

pecuniário, mas este não estava resolvido a tomar parte nessa empresa.

Allan Kardec

perguntou aos seus guias, no dia 15 de novembro de 1857, por intermédio

da Srta. E.

Sigmar Gama - [email protected] Página 19

Page 20: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Dufaux, o que deveria fazer.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 15

Foi-lhe respondido que pusesse a sua idéia em execução e que não se

inquietasse com o resto.

“Apressei-me em redigir o primeiro número, diz Allan Kardec, e o fiz

aparecer no dia 1° de janeiro de 1858, sem nada dizer a pessoa alguma.

Não tinha

um único assinante, nem sócio capitalista. Fi-lo, pois, inteiramente por

minha conta

e risco, e não tive de que me arrepender, porque o êxito ultrapassou a

minha

expectativa. A partir de 1° de janeiro, os números se sucederam sem

interrupção, e,

como o previra o Espírito, esse jornal se me tornou em poderoso auxiliar.

Reconheci, mais tarde, que era uma felicidade para mim não ter tido um

sócio

capitalista, porque estava mais livre, enquanto que um estranho

interessado teria

pretendido impor-me as suas idéias e a sua vontade e poderia embaraçar-

me a

marcha. Só, eu não tinha que prestar contas a ninguém, por mais onerosa

que, como

trabalho, fosse a minha tarefa.”

E essa tarefa devia ir sempre crescendo em labor e em responsabilidades,

em

lutas incessantes contra obstáculos, emboscadas, perigos de toda sorte. À

medida,

porém, que a lide se tornava mais áspera, esse enérgico trabalhador se

elevava,

também, à altura dos acontecimentos, que nunca o surpreenderam; e

durante onze

anos, nessa Revista Espírita, que acabamos de ver como começou tão

modestamente, ele afrontou todas as tempestades, todas as emulações,

todos os

Sigmar Gama - [email protected] Página 20

Page 21: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

ciúmes que não lhe foram poupados, como ele mesmo relata e como lhe

fora

anunciado ao ser-lhe revelada a sua missão. Essa comunicação e as

reflexões de que

as anotou Allan Kardec nos mostram, sob um prisma pouco lisonjeiro, a

situação

naquela época, mas fazem também ressaltar o grande valor do fundador

do

Espiritismo e o seu mérito em ter sabido triunfar:

Médium, Mlle. Aline C. - 12 de junho de 1856:

P. - Quais são as causas que me poderiam fazer fracassar? Seria a

insuficiência das minhas aptidões?

R. - Não; mas a missão dos reformadores é cheia de escolhos e perigos; a

tua

é rude; previno-te, porque é ao mundo inteiro que se trata de agitar e de

transformar.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 16

Não creias que te seja suficiente publicar um livro, dois livros, dez livros, e

ficares tranqüilamente em tua casa; não, é preciso te mostrares no

conflito; contra ti

se açularão terríveis ódios, implacáveis inimigos tramarão a tua perda;

estarás

exposto à calúnia, à traição, mesmo daqueles que te parecerão mais

dedicados; as

tuas melhores instruções serão impugnadas e desnaturadas; sucumbirás

mais de uma

vez ao peso da fadiga; em uma palavra, é uma luta quase constante que

terás de

sustentar com o sacrifício do teu repouso, da tua tranqüilidade, da tua

saúde e

mesmo da tua vida, porque tu não viverás muito tempo. Pois bem. Mais de

um recua

quando, em lugar de uma vereda florida, não encontra sob seus passos

senão

Sigmar Gama - [email protected] Página 21

Page 22: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

espinhos, agudas pedras e serpentes. Para tais missões não basta a

inteligência. É

preciso antes de tudo, para agradar a Deus, humildade, modéstia,

desinteresse,

porque abatem os orgulhosos e os presunçosos. Para lutar contra os

homens, é

necessário coragem, perseverança e firmeza inquebrantáveis; é preciso,

também, ter

prudência e tato para conduzir as coisas a propósito e não comprometer-

lhes o êxito

por medidas ou palavras intempestivas; é preciso, enfim, devotamento,

abnegação, e

estar pronto para todos os sacrifícios.

“Vês que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.

Espírito Verdade.”

NOTA - (É Allan Kardec que assim se exprime):

“Escrevo esta nota no dia 1° de janeiro de 1867, dez anos e meio depois

que

esta comunicação me foi dada, e verifico que ela se realizou em todos os

pontos,

porque experimentei todas as vicissitudes que nela me foram anunciadas.

Tenho sido

alvo do ódio de implacáveis inimigos, da injúria, da calúnia, da inveja e do

ciúme;

têm sido publicados contra mim infames libelos; as minhas melhores

instruções têm

sido desnaturadas; tenho sido traído por aqueles em quem depositara

confiança, e

pago com a ingratidão por aqueles a quem tinha prestado serviços. A

Sociedade de

Paris tem sido um contínuo foco de intrigas, urdidas por aqueles que se

diziam a

meu favor, e que, mostrando-se amáveis em minha presença, me

detratavam na

Sigmar Gama - [email protected] Página 22

Page 23: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

ausência.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 17

Disseram que aqueles que adotavam o meu partido eram assalariados por

mim

com o dinheiro que eu arrecadava do Espiritismo. Não mais tenho

conhecido o

repouso; mais de uma vez, sucumbi; sob o excesso do trabalho, tem-se-

me alterado a

saúde e comprometido a vida.

“Entretanto, graças à proteção e à assistência dos bons Espíritos, que sem

cessar me têm dado provas manifestas de sua solicitude, sou feliz em

reconhecer que

não tenho experimentado um único instante de desfalecimento nem de

desânimo, e

que tenho constantemente prosseguido na minha tarefa com o mesmo

ardor, sem me

preocupar com a malevolência de que era alvo. Segundo a comunicação

do Espírito

Verdade, eu devia contar com tudo isso, e tudo se verificou.”

*

Quando se conhecem todas essas lutas, todas as torpezas de que Allan

Kardec

foi alvo, quanto ele se engrandece aos nossos olhos e como o seu

brilhante triunfo

adquire mérito e esplendor! Que se tornaram esses invejosos, esses

pigmeus que

procuravam obstruir-lhe o caminho? Na maior parte são desconhecidos os

seus

nomes, ou nenhuma recordação despertam mais: o esquecimento os

retomou e

sepultou para sempre em suas sombras, enquanto que o de Allan Kardec,

o intrépido

lutador, o pioneiro ousado, passará à posteridade com a sua auréola de

glória tão

Sigmar Gama - [email protected] Página 23

Page 24: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

legitimamente adquirida.

A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas foi fundada a 1° de abril de

1858. Até então, as reuniões se realizavam em casa de Allan Kardec, à rua

dos

Mártires, com Mlle. E. Dufaux, como principal médium; o seu salão poderia

conter

de quinze a vinte pessoas. Cedo, aí reuniu ele mais de trinta. Tornando-se,

então,

esse local muito acanhado e não querendo onerar Allan Kardec com todos

os

encargos, alguns dos assistentes se propuseram formar uma sociedade

espírita e

alugar um outro local em que se efetuassem as reuniões. Mas era preciso,

para se

poderem reunir, obter o reconhecimento e a autorização da Polícia.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 18

O Sr. Dufaux, que conhecia pessoalmente o prefeito de polícia de então,

encarregou-se de dar os passos para esse fim, e, graças ao ministro do

Interior, o

general X., que era favorável às novas idéias, a autorização foi obtida em

quinze

dias, enquanto que pelo processo ordinário teria exigido meses, sem

grande

probabilidade de êxito.

“A Sociedade foi, então, regularmente constituída e reunia-se todas as

terçasfeiras,

no local que fora alugado no Palais-Royal, galeria Valois. Aí ficou durante

um ano, de 1° de abril de 1858 a 1° de abril de 1859. Não podendo lá

permanecer

por mais tempo, reunia-se todas as sextas-feiras em um dos salões do

restaurante

Douix, no Palais-Royal, galeria Montpensier, de 1° de abril de 1859 a 1° de

abril de

Sigmar Gama - [email protected] Página 24

Page 25: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

1860, época em que se instalou em sede própria, à rua e passagem

Sant’Ana n° 59.”

Depois de haver dado conta das condições em que se formou a Sociedade

e

da tarefa que teve a desempenhar, Allan Kardec assim se exprime

(Revista Espírita,

1859, pág. 169):

“Empreguei em minhas funções, que posso dizer laboriosas, toda a

solicitude

e toda a dedicação de que era capaz; do ponto de vista administrativo,

esforcei-me

por manter nas sessões uma ordem rigorosa e por imprimir-lhe um caráter

de

gravidade, sem o qual o prestígio de assembléia séria teria cedo

desaparecido.

Agora, que a minha tarefa está terminada e que o impulso está dado, devo

inteirarvos

da resolução que tomei, de renunciar de futuro a toda espécie de função

na

Sociedade, mesmo a de diretor dos estudos; não ambiciono senão um

título - o de

simples membro titular, com que me sentirei sempre feliz e honrado. O

motivo da

minha determinação está na multiplicidade dos meus trabalhos, que

aumentam todos

os dias, pela extensão das minhas relações; porque, além daqueles que

conheceis,

preparo outros trabalhos mais consideráveis, que exigem longos e

laboriosos estudos

e não absorverão menos de dez anos; ora, os trabalhos da Sociedade não

deixam de

tomar muito tempo, quer para o preparo, quer para a coordenação e a

passagem a

Sigmar Gama - [email protected] Página 25

Page 26: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

limpo. Reclamam assiduidade muitas vezes prejudicial às minhas

ocupações pes

soais, pois que se torna indispensável a iniciativa quase exclusiva que me

tendes

deixado.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 19

É a esse motivo, meus senhores, que eu devo o ter tantas vezes tomado a

palavra, lamentando com freqüência que os membros eminentemente

esclarecidos

que possuímos nos privassem das suas luzes. Desde muito tempo

alimentava o

desejo de demitir-me das minhas funções: manifestei-o de modo muito

explícito em

diversas ocasiões, quer aqui, quer em particular a muitos dos meus

colegas, e

especialmente ao Sr. Ledoyen. Tê-lo-ia feito mais cedo, se não fora o

temor de

produzir uma perturbação na Sociedade. Retirando-me no meado do ano,

poderiam

acreditar em uma deserção, e era preciso não dar esse prazer aos nossos

adversários.

Desempenhei, portanto, a minha tarefa até ao fim; hoje, porém, que esses

motivos

cessaram, apresso-me em vos dar parte da minha resolução, para não

embaraçar a

escolha que fareis. É justo que cada um tenha a sua parte nos encargos e

nas

honras.”

Apressemo-nos a acrescentar que essa demissão não foi aceita e que

Allan

Kardec foi reeleito por unanimidade, menos um voto e uma cédula em

branco.

Diante desse testemunho de simpatia, ele se submeteu e se conservou em

suas

Sigmar Gama - [email protected] Página 26

Page 27: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

funções.

Em setembro de 1860, Allan Kardec fez uma viagem de propaganda à

nossa

região, e eis aqui como a ela fez referência na Sociedade Parisiense de

Estudos

Espíritas:

“O Sr. Allan Kardec dá conta do resultado da viagem que acaba de fazer,

no

interesse do Espiritismo, e felicita-se pela cordialidade do acolhimento que

por toda

parte encontrou, especialmente em Sens, Mácon, Lião e Saint-Etienne.

Observou,

em todo lugar em que se demorou, os progressos consideráveis da

doutrina; mas o

que sobretudo é digno de nota, é que em parte alguma viu que dela se

fizesse um

divertimento, mas, que, ao contrário, dela se ocupam de modo sério, e

que por toda

parte lhe compreendem o alcance e as conseqüências futuras. Há, sem

dúvida,

muitos adversários, sendo os mais encarniçados os inimigos interessados,

mas os

motejadores diminuem sensivelmente; vendo que os seus

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 20

sarcasmos não colocam do seu lado os gracejadores, e que auxiliam mais

do que

impedem o progresso das novas crenças, começam a compreender que

nada ganham

com isso e que consomem o seu espírito em pura perda, e assim se calam.

Uma frase

muito característica parece ser em toda parte a ordem do dia, e é esta: o

Espiritismo

está no ar; só por si desenha ela o estado das coisas. Mas, é sobretudo em

Lião que

Sigmar Gama - [email protected] Página 27

Page 28: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

são mais notáveis os resultados. Os espíritas são, aí, numerosos em todas

as classes,

e na classe operária contam-se por centenas. A Doutrina Espírita tem

exercido sobre

os operários a mais salutar influência, sob o ponto de vista da ordem, da

moral e das

idéias religiosas; em resumo, a propagação do Espiritismo marcha com a

mais

animadora celeridade.”

No decurso dessa viagem, Allan Kardec pronunciou um discurso magistral,

no banquete realizado a 19 de setembro de 1860, do qual eis aqui

algumas

passagens, próprias a nos interessar, a nós que aspiramos a substituir

dignamente

esses trabalhadores da primeira hora:

“A primeira coisa que me impressionou foi o números de adeptos; eu sabia

perfeitamente que Lião os contava em grande escala, mas estava longe

de imaginar

que o número fosse tão considerável, porque é por centenas que eles se

contam, e,

em pouco tempo - eu o espero -, já se não poderão contar mais.

“Se, porém, Lião se distingue pelo número, não o faz menos pela

qualidade, o

que ainda vale mais. Por toda parte não encontrei senão espíritas

sinceros,

compreendendo a doutrina sob seu verdadeiro ponto de vista. Há, meus

senhores,

três categorias de adeptos: uns que se limitam a crer na realidade das

manifestações

e que procuram, antes de tudo, os fenômenos; o Espiritismo é

simplesmente para

eles uma série de fatos mais ou menos interessantes. Os segundos vêem

outra coisa

Sigmar Gama - [email protected] Página 28

Page 29: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

nele além dos fatos, compreendem o seu alcance filosófico, admiram a

moral que

deles decorre, mas não a praticam; para eles, a caridade cristã é uma bela

máxima, e

nada mais. Os terceiros, finalmente, não se contentam de admirar a

moral: praticamna

e aceitam-lhe as conseqüências.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 21

Bem convencidos de que a existência terrestre é uma prova passageira,

esforçam-se por aproveitar esses curtos instantes, para marchar na senda

do

progresso que lhes traçam os Espíritos, emprenhando-se em fazer o bem e

em

reprimir as suas más inclinações; as suas relações são sempre seguras,

porque as

suas convicções os afastam de todo pensamento do mal; a caridade é, em

toda

ocasião, a regra da sua conduta: são esses os verdadeiros espíritas, ou,

melhor, os

espíritas-cristãos.

“Pois bem, meus senhores, eu vo-lo digo com satisfação: ainda não

encontrei,

aí, nenhum adepto da primeira categoria; em parte alguma vi que se

ocupassem do

Espiritismo por mera curiosidade, com frívolos intuitos; por toda parte o

fim é grave,

as intenções são sérias; e, a crer no que me dizem, há muitos da terceira

categoria.

Honra, pois, aos espíritas lioneses, por terem, assim, entrado largamente

nessa senda

progressista, sem a qual o Espiritismo não teria objetivo. Este exemplo

não será

perdido, terá suas conseqüências, e não é sem razão - eu o vejo - que os

Espíritos me

Sigmar Gama - [email protected] Página 29

Page 30: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

responderam noutro dia, por um dos vossos médiuns mais dedicados,

posto que dos

mais obscuros, quando eu lhes exprimia a minha surpresa: “Por que te

admiras

disso? Lião foi a cidade dos mártires; a fé aí é vivaz; ela fornecerá

apóstolos ao

Espiritismo. Se Paris é a cabeça, Lião será o coração.”

Essa opinião de Allan Kardec, sobre os espíritas lioneses de sua época, é

para

nós grande honra, mas deve ser também uma regra de conduta. Devemos

esforçarnos

por merecer esses elogios, aprofundando por nossa vez as lições do

Mestre e,

sobretudo, conformando com elas o nosso proceder. Noblesse oblige, diz

um adágio;

saibamo-nos recordar sempre disso e conservar alto e firme o estandarte

do

Espiritismo.

Mas, Allan Kardec não se contentava em atirar flores sobre nossos

companheiros; dava-lhes, sobretudo, sábios conselhos, sobre os quais, por

nossa vez,

deveremos meditar.

“Vindo dos Espíritos o ensino, os diferentes grupos, tantos como os

indivíduos, se acham sob a influência de certos Espíritos, que presidem

aos seus

trabalhos, ou os dirigem moralmente.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 22

Se esses Espíritos não se acham de acordo, a questão está em saber qual

é o

que merece maior confiança; será, evidentemente, aquele cuja teoria não

pode

provocar nenhuma objeção séria, em uma palavra, aquele que, em todos

os pontos,

Sigmar Gama - [email protected] Página 30

Page 31: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

dá maior número de provas de superioridade. Se tudo nesse ensino é

bom, racional,

pouco importa o nome que toma o Espírito; e a esse respeito a questão de

identidade

é inteiramente secundária. Se, sob um nome respeitável, o ensino peca

pelas

qualidades essenciais, podeis imediatamente concluir que é um nome

apócrifo e que

é um Espírito impostor ou galhofeiro. Regra geral: o nome nunca é uma

garantia; a

única, a verdadeira garantia de superioridade é o pensamento e a maneira

porque é

ele expresso. Os Espíritos enganadores tudo podem imitar, tudo, exceto o

verdadeiro

saber e o verdadeiro sentimento.

“Acontece muitas vezes que, para fazer adotar certas utopias, alguns

Espíritos

fazem alarde de um falso saber e pensam impô-las, escolhendo no arsenal

das

palavras técnicas tudo o que pode fascinar aquele que é facilmente

crédulo. Eles

têm, ainda, um meio mais certo: é afetar as exterioridades da virtude;

com o auxílio

das grandes palavras - caridade, fraternidade, humildade - esperam fazer

passar os

mais grosseiros absurdos e é o que acontece muitas vezes, quando se não

está

precavido. É preciso, pois, evitar o deixar-se seduzir pelas aparências,

tanto da parte

dos Espíritos, quanto da dos homens; ora, eu o confesso, aí está uma das

maiores

dificuldades; mas, nunca se disse que o Espiritismo fosse uma ciência

fácil; tem seus

Sigmar Gama - [email protected] Página 31

Page 32: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

escolhos que se não podem evitar senão pela experiência. Para escapar à

cilada, é

preciso, antes de tudo, fugir ao entusiasmo que cega, ao orgulho que leva

certos

médiuns a acreditarem-se os únicos intérpretes da verdade; é preciso que

tudo seja

friamente examinado, maduramente pesado, confrontado, e, se

desconfiamos do

próprio julgamento, o que é muitas vezes mais prudente, é preciso

recorrer a outras

pessoas, segundo o provérbio: que quatro olhos vêem melhor do que dois.

Só um

falso amor próprio ou uma obsessão podem fazer persistir em uma idéia

notoriamente falsa e que o bom-senso de cada um repele.”

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 23

Eis os conselhos tão sábios e tão práticos dados por aquele que quiseram

fazer passar por um entusiasta, um místico, um alucinado; e essa regra de

conduta,

estabelecida no começo, ainda não foi invalidada, nem pela observação,

nem pelos

acontecimentos; é sempre a vereda mais segura, mais prudente, a única a

seguir por

aqueles que se querem ocupar do Espiritismo.

Allan Kardec trabalhava, então, em O Livro dos Médiuns, que apareceu na

primeira quinzena de janeiro de 1861, editado pelos Srs. Didier & Cia.,

livreiroseditores.

O mestre expõe a sua razão de ser nos seguintes termos, na Revista

Espírita:

“Procuramos neste trabalho, fruto de longa experiência e de laboriosos

estudos, esclarecer todas as questões que se prendem à prática das

manifestações; ele

contém, de acordo com os Espíritos, a explicação teórica dos diversos

fenômenos e

condições em que eles se podem produzir; mas a parte concernente ao

Sigmar Gama - [email protected] Página 32

Page 33: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi, sobretudo, de nossa

parte,

objeto de atenção toda especial.

“O Espiritismo experimental está cercado de muito mais dificuldades do

que

se acredita geralmente, e os escolhos, que aí se encontram, são

numerosos; é o que

produz tanta decepção aos que dele se ocupam sem ter a experiência e os

conhecimentos necessários. O nosso fim foi acautelar os investigadores

contra tais

dificuldades, nem sempre isentas de inconvenientes para quem quer que

se aventure,

com imprudência, por esse novo terreno. Não podíamos desprezar um

ponto tão

capital, e o tratamos com cuidado igual à sua importância.”

O Livro dos Médiuns é, ainda, o vade-mécum de quantos se querem

entregar

com proveito à prática do Espiritismo experimental; nada apareceu de

melhor nem

de mais completo nessa ordem de idéias. É ainda o mais seguro guia de

que nos

podemos servir para explorar, sem perigo, o terreno da mediunidade.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 24

*

No ano de 1861, Allan Kardec fez uma nova viagem espírita a Sens, Mácon

e

Lião, e verificou que em nossa cidade o Espiritismo atingira a maioridade.

“Com efeito, não é mais por centenas, diz ele, que aí se contam os

espíritas,

como há um ano; é por milhares, ou, para melhor dizer, já se não contam,

e pode-se

calcular que, seguindo a mesma progressão, dentro de um ano ou dois

eles serão

Sigmar Gama - [email protected] Página 33

Page 34: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

mais de trinta mil. O Espiritismo, aí, tem feito adeptos em todas as

classes, mas é

sobretudo na classe operária que se tem propagado com maior rapidez, e

isso não é

de admirar: sendo essa classe a que mais sofre, volta-se para o lado que

lhe oferece

maior consolação. Se aqueles que clamam contra o Espiritismo lhe

oferecessem

outro tanto, essa classe se voltaria para eles; mas, ao contrário, querem

tirar-lhe

exatamente aquilo que a ajuda a carregar o seu fardo de miséria. E isto

tem sido o

meio mais seguro de perderem as suas simpatias e fazê-la engrossar as

nossas

fileiras. O que vimos com os nossos próprios olhos é de tal modo

característico e

encerra ensino tão grande, que acreditamos dever consagrar aos

operários a maior

parte do nosso relatório.

“No ano passado, só havia um único centro de reunião, o dos Brotteaux,

dirigido por Dijoux, chefe de oficina, e sua mulher; depois, formaram-se

outros em

diferentes pontos da cidade: em Guillotière, em Perrache, em Croix-

Rousse, em

Vaise, em Saint-Just, etc., sem contar grande número de reuniões

particulares.

Então, havia apenas dois ou três médiuns neófitos; hoje os há em todos os

grupos e

muitos são de primeira ordem; em um só grupo vimos cinco escreverem

simultaneamente. Vimos, igualmente, um rapaz muito bom médium

vidente, no qual

pudemos verificar essa faculdade desenvolvida no mais alto grau.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 25

Sigmar Gama - [email protected] Página 34

Page 35: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

“Sem dúvida, muito é para desejar que se multipliquem os adeptos, mas o

que

mais vale ainda do que o número é a qualidade. Pois bem, declaramo-lo

bem alto:

não vimos, em parte alguma, reuniões espíritas mais edificantes do que as

dos

operários lioneses, quanto à ordem, ao recolhimento e à atenção que

prestam às

instruções dos seus guias espirituais; há homens, velhos, senhoras,

jovens, crianças

mesmo, cuja atitude respeitosa contrasta com a sua idade; jamais uma

única criança

perturbou por instantes o silêncio das nossas reuniões, muitas vezes

longas;

pareciam quase tão ávidas quanto seus pais, em recolher as nossas

palavras.

“Mas, isto não é tudo: o número das metamorfoses morais é, entre os

operários, quase tão grande quanto o dos adeptos: hábitos viciosos

reformados,

paixões acalmadas, ódios apaziguados, lares tornados tranqüilos, em uma

palavra, as

mais legítimas virtudes cristãs desenvolvidas, e isso pela confiança, de

agora em

diante inabalável, que lhes dão as comunicações espíritas, no futuro em

que não

acreditavam; é uma felicidade para eles assistirem a essas instruções, de

que saem

reconfortados contra a adversidade; muitos chegam a galgar mais de uma

légua, sob

qualquer tempo, inverno ou verão, tudo arrostando para não faltarem a

uma sessão; é

que neles não há a fé vulgar, mas a baseada sobre uma convicção

profunda,

raciocinada e não, cega.”

Sigmar Gama - [email protected] Página 35

Page 36: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Por ocasião dessa viagem, um banquete novamente reuniu sob a

presidência

de Allan Kardec os membros da grande família espírita lionesa. No dia 19

de

setembro de 1860 os convivas eram apenas uns trinta; a 19 de setembro

de 1861 o

número era de cento e sessenta, “representando os diferentes grupos,

que se

consideram todos como membros de uma grande família, entre os quais

não existe

sombra de ciúme e de rivalidade, o que - diz o Mestre -, temos, de

passagem, grande

satisfação em registrar. A maioria dos assistentes era composta de

operários e toda

gente notou a perfeita ordem que não cessou de reinar um só instante. É

que os

verdadeiros espíritas põem sua satisfação nas alegrias do coração e não

nos prazeres

ruidosos.”

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 26

A 14 de outubro do mesmo ano encontramos Allan Kardec em Bordéus,

onde,

como em todas as cidades por que passava, semeava a boa-nova e fazia

germinar a fé

no futuro.

Além das viagens e dos trabalhos de Allan Kardec, esse ano de 1861

permanecerá memorável nos anais do Espiritismo por um fato de tal modo

monstruoso que quase parece incrível. Refiro-me ao auto-de-fé levado a

efeito em

Barcelona, e em que foram queimadas pela fogueira dos inquisidores

trezentas obras

espíritas.

O Sr. Maurício Lachâtre estava nessa época estabelecido como livreiro, em

Sigmar Gama - [email protected] Página 36

Page 37: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Barcelona, em relações e em comunhão de idéias com Allan Kardec.

Assim, pediu a

este que lhe enviasse certo número de obras espíritas, para as expor à

venda e fazer

propaganda da nova filosofia.

Essas obras, em número de trezentas aproximadamente, foram expedidas

nas

condições ordinárias, com uma declaração em ordem do conteúdo das

caixas. À sua

chegada à Espanha, foram os direitos da alfândega cobrados ao

destinatário e

arrecadados pelos agentes do governo espanhol; mas a entrega das

caixas não se fez:

o bispo de Barcelona, tendo julgado esses livros perniciosos à fé católica,

fez

confiscar a expedição pelo Santo-Ofício.

Uma vez que não queriam entregar essas obras ao destinatário, Allan

Kardec

reclamou a sua devolução; mas a sua reclamação foi de nulo efeito, e o

bispo de

Barcelona, erigindo-se em policiador da França, fundamentou a sua recusa

com a

seguinte resposta: “A Igreja Católica é universal, e sendo esses livros

contrários à fé

católica, o governo não pode consentir que eles passem a perverter a

moral e a

religião de outros países.”

E não somente esses livros não foram restituídos, mas também os direitos

aduaneiros ficaram em poder do fisco espanhol. Allan Kardec poderia

promover uma

ação diplomática e obrigar o governo espanhol a efetuar o retorno das

obras. Os

Espíritos, porém, o dissuadiram disso, dizendo que era preferível para a

propaganda

Sigmar Gama - [email protected] Página 37

Page 38: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

do Espiritismo deixar essa ignomínia seguir o seu curso.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 27

Renovando os fastos e as fogueiras da idade Média, o bispo de Barcelona

fez

queimar em praça pública, pela mão do carrasco, as obras incriminadas.

Eis aqui, a título de documento histórico, o processo verbal dessa infâmia

clerical:

“Aos nove dias de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas

e

meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no lugar em que

são

executados os criminosos condenados à pena última, por ordem do bispo

desta

cidade foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o

Espiritismo, a saber:

“A Revista Espírita, diretor Allan Kardec;

“A Revista Espiritualista, diretor Piérart;

“O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;

“O Livro dos Médiuns, pelo mesmo;

“O que é o Espiritismo, pelo mesmo;

“Fragmento de Sonata, ditado pelo Espírito de Mozart;

“Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo Doutor Grand;

“A História de Joanna d’Arc, por ela mesma ditada a Mlle. Ernance Dufaux;

“A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo Barão de

Guldenstubbé.

“Assistiram ao auto-de-fé:

“Um padre revestido de hábitos sacerdotais, trazendo em uma das mãos a

cruz

e, na outra, uma tocha;

“Um tabelião encarregado de redigir o processo verbal do auto-de-fé;

“O escrevente do tabelião;

“Um empregado superior da administração das alfândegas;

“Três mozos (serventes) da alfândega, encarregados de alimentar o fogo;

Sigmar Gama - [email protected] Página 38

Page 39: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

“Um agente da alfândega, representando o proprietário das obras

condenadas

pelo bispo;

“Uma multidão incalculável aglomerava-se nos passeios e cobria a

esplanada

em que ardia a fogueira.

“Quando o fogo consumiu os trezentos volumes e brochuras espíritas, o

padre

e os seus ajudantes se retiraram cobertos pelos apupos e as maldições

dos numerosos

assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição!

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 28

“Em seguida muitas pessoas se acercaram da fogueira e apanharam

cinzas.”

Seria diminuir o horror de tais atos, acompanhá-los com a narrativa dos

comentários; constatemos somente que ao clarão dessa fogueira o

Espiritismo tomou

um incremento inesperado em toda a Espanha e, como o haviam os

Espíritos

previsto, conquistou, aí, um número incalculável de adeptos. Só podemos,

pois,

como o fez Allan Kardec, alegrar-nos com o grande reclamo que esse ato

odioso

operou em favor do Espiritismo. A propósito, porém, da propaganda que

nós

mesmos devemos fazer da nossa filosofia, nunca deveremos esquecer

estes

conselhos do Mestre (Revista Espírita, 1863, pág. 367):

“O Espiritismo se dirige aos que não crêem ou que duvidam, e não aos

que

têm fé e a quem essa fé é suficiente; ele não diz a ninguém que renuncie

às suas

crenças para adotar as nossas, e nisto é conseqüente com os princípios de

tolerância

Sigmar Gama - [email protected] Página 39

Page 40: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

e de liberdade de consciência que professa. Por esse motivo não

poderíamos aprovar

as tentativas feitas por certas pessoas para converter às nossas idéias o

clero, de

qualquer comunhão que seja. Repetiremos, pois, a todos os espíritas:

acolhei com

solicitude os homens de boa-vontade; oferecei a luz aos que a procuram,

porque com

os que crêem não sereis bem sucedidos; não façais violência à fé de

ninguém, muito

mais quanto ao clero que aos seculares, porque semeareis em campos

áridos; ponde

a luz em evidência, para que a vejam os que quiserem ver; mostrai os

frutos da

árvore e deles dai de comer aos que têm fome e não aos que se dizem

saciados.”

Estes conselhos, como todos os de Allan Kardec, são claros, simples e

sobretudo práticos; cumpre que deles nos recordemos e os aproveitemos

oportunamente.

*

O ano de 1862 foi fértil em trabalhos favoráveis à difusão do Espiritismo.

No

dia 15 de janeiro apareceu a pequenina e excelente brochura de

propaganda: O

Espiritismo em sua mais simples expressão.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 29

“O fim desta publicação, diz Allan Kardec, é apresentar, em quadro muito

resumido, um histórico do Espiritismo e uma idéia suficiente da doutrina

dos

Espíritos, para permitir ser compreendido o seu fim moral e filosófico. Pela

clareza e

simplicidade do estilo, procuramos pô-lo ao alcance de todas as

inteligências.

Sigmar Gama - [email protected] Página 40

Page 41: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Contamos com o zelo de todos os verdadeiros espíritas, para que lhe

auxiliem a

propagação.”- Este apelo foi ouvido, porque a pequena brochura se

espalhou em

profusão, devendo muitos a esse excelente trabalho o terem

compreendido o fim e o

alcance do Espiritismo.

Tendo os nossos predecessores no Espiritismo transmitido a Allan Kardec,

por ocasião do Ano-Novo, a expressão dos seus sentimentos de gratidão,

eis aqui

como respondeu o Mestre a esse testemunho de simpatia:

“Meus caros irmãos e amigos de Lião:

“A manifestação coletiva que tivestes a bondade de transmitir-me, por

ocasião

do Ano-Novo, produziu-me vivíssima satisfação, provando-me que

conservastes de

mim uma boa recordação; mas, o que me causou maior prazer, nesse ato

espontâneo

de vossa parte, foi encontrar, entre as numerosas assinaturas que nele

figuram,

representantes de quase todos os grupos, porque é um sinal da harmonia

que reina

entre eles. Sou feliz por ver que compreendestes perfeitamente o fim

dessa

organização, cujos resultados desde já podeis apreciar, porque deve ser

agora

evidente para vós que uma sociedade única seria quase impossível.

“Agradeço, meus bons amigos, os votos que fazeis por mim; eles me são

tanto

mais agradáveis quanto sei que partem do coração, e são os que Deus

atende. Ficai,

pois, satisfeitos, porque Ele os ouve todos os dias, proporcionando-me a

extraordinária satisfação no estabelecimento de uma nova doutrina, de

ver aquela a

Sigmar Gama - [email protected] Página 41

Page 42: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

que me tenho dedicado engrandecer e prosperar, em minha vida, com

uma rapidez

maravilhosa; considero um grande favor do céu ser testemunha do bem

que ela já

produz.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 30

“Esta certeza, de que recebo diariamente os mais tocantes testemunhos,

me

paga com usura todos os meus sofrimentos, todas as minhas fadigas; não

peço a

Deus senão uma graça, e é a de dar-me a força física necessária para ir

até ao fim da

minha tarefa, que longe se encontra de estar concluída; mas, como quer

que suceda,

possuirei sempre a maior consolação, pela certeza de que a semente das

idéias

novas, espalhada agora por toda parte, é imperecível; mais feliz que

muitos outros,

que não trabalharam senão para o futuro, é-me permitido contemplar os

primeiros

frutos.

“Se alguma coisa lamento, é que a exigüidade dos meus recursos pessoais

me

não permita pôr em execução os planos que concebi para um avanço

ainda mais

rápido; se Deus, porém, em sua sabedoria, entendeu dispor de modo

diferente,

legarei esses planos aos nossos sucessores, que, sem dúvida, serão mais

felizes. A

despeito da escassez dos recursos materiais, o movimento que se opera

na opinião

ultrapassou toda a expectativa; crede, meus irmãos, que nisso o vosso

exemplo não

Sigmar Gama - [email protected] Página 42

Page 43: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

terá sido sem influência, Recebei, portanto, as nossas felicitações pela

maneira

porque sabeis compreender e praticar a Doutrina.

“No ponto a que hoje chegaram as coisas, e tendo em vista a marcha do

Espiritismo através dos obstáculos semeados em seu caminho, pode dizer-

se que as

principais dificuldades estão superadas; ele conquistou o seu lugar e está

assente

sobre bases que de ora em diante desafiam os esforços dos seus

adversários.

“Perguntam como uma doutrina, que torna feliz e melhor, pode ter

inimigos; é

natural; o estabelecimento das melhores coisas choca sempre interesses,

ao começar.

Não tem acontecido assim com todas as invenções e descobertas que têm

revolucionado a indústria? As que hoje são consideradas como benefícios,

sem as

quais não se poderia mais passar, não tiveram inimigos obstinados? Toda

lei que

reprime um abuso não tem contra si todos os que vivem dos abusos?

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 31

Como quereríeis que uma doutrina que conduz ao reino da caridade

efetiva

não fosse combatida por todos os que vivem no egoísmo? E sabeis que

são eles

numerosos na Terra!

“No começo contaram sepultá-la com a zombaria; hoje vêem que essa

arma é

impotente e que, sob o fogo dos sarcasmos, ela prosseguiu o seu caminho

sem

tropeçar. Não acrediteis que se confessem vencidos; não, o interesse

material é

tenaz. Reconhecendo que é uma potência com que é necessário de hoje

em diante

Sigmar Gama - [email protected] Página 43

Page 44: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

contar, vão dirigir-lhe assaltos mais sérios, mas que só servirão

diretamente por

palavras e atos, e a perseguirão até na pessoa dos seus adeptos, que eles

se

esforçarão por desalentar a poder de embaraços, enquanto que outros,

secretamente e

por caminhos disfarçados, procurarão miná-la surdamente.

“Ficai prevenidos de que a luta não está terminada; fui avisado de que

eles

vão tentar um supremo esforço. Não tenhais, porém, receio: o penhor da

vitória está

nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros espíritas: Fora da caridade

não há

salvação. Arvorai-a bem alto, porque ela é a cabeça de Medusa para os

egoístas.

“A tática, posta já em prática pelos inimigos dos espíritas, mas que eles

vão

empregar com novo ardor, é tentar dividi-los criando sistemas divergentes

e

suscitando entre eles a desconfiança e o ciúme. Não vos deixeis cair no

laço, e tende

como certo que quem quer que procure um meio, qualquer que seja, para

quebrar a

boa harmonia, não pode ter boa intenção. É por isso que vos recomendo

useis da

maior circunspeção na formação dos vossos grupos, não somente para

vossa

tranqüilidade, como no próprio interesse dos vossos labores.

“A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora, não

recolhimento possível se se está preocupado com discussões e com a

manifestação

de sentimentos malévolos. Não haverá sentimentos malévolos se houver

Sigmar Gama - [email protected] Página 44

Page 45: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

fraternidade; não pode, porém, haver fraternidade em egoístas,

ambiciosos e

orgulhosos.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 32

Entre orgulhosos, que se suscetibilizam e ofendem por tudo, ambiciosos

que

se sentirão mortificados se não tiverem a supremacia, egoístas que não

pensam senão

em si, a cizânia não pode tardar a introduzir-se, e com ela a dissolução. É

o que

desejariam os nossos inimigos, e é o que eles procuram fazer.

“Se um grupo quer estar em condições de ordem, de tranqüilidade e de

estabilidade, é preciso que nele reine o sentimento fraternal. Todo grupo

ou

sociedade que se formar, sem ter caridade efetiva por base, não tem

validade;

enquanto que aqueles que forem fundados de acordo com o verdadeiro

espírito da

doutrina olhar-se-ão como membros de uma mesma família que, não

sendo possível

habitarem todos sob o mesmo teto, moram em lugares diferentes. A

rivalidade entre

eles seria um contra-senso; ela não poderia existir onde reina a verdadeira

caridade,

porque a caridade não se pode entender de duas maneiras.

“Reconhecei, pois, o verdadeiro espírita na prática da caridade por

pensamentos, palavras e obras, e persuadi-vos de quem quer que nutra

em sua alma

sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja ou de ciúme,

mente a si

próprio se tem a pretensão de compreender e praticar o Espiritismo.

“O egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam

os

novos e a sociedade em geral...”

Sigmar Gama - [email protected] Página 45

Page 46: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Tudo mereceria citação nestes conselhos, tão justos quão práticos; mas é

preciso que nos limitemos, em razão do tempo de que podemos dispor.

*

A pedido dos espíritas de Lião e de Bordéus, Allan Kardec fez, em

setembro

e outubro, uma longa viagem de propaganda semeando por toda parte a

boa-nova e

prodigalizando conselhos, mas somente aos que lhos pediam; o convite

feito pelos

grupos lioneses estava subscrito por quinhentas assinaturas. Uma

publicação

especial deu conta dessa viagem de mais de seis semanas, durante a qual

o Mestre

presidiu a mais de cinqüenta reuniões em vinte cidades, onde por toda

parte foi alvo

do mais cordial acolhimento e se sentiu feliz por verificar os imensos

progressos do

Espiritismo.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 33

A respeito das viagens de Allan Kardec, como certas influências hostis

houvessem espalhado o boato de que eram feitas a expensas da

Sociedade Parisiense

de Estudos Espíritas, sobre cujo orçamento igualmente ele sacava de

antemão todos

os seus gastos de correspondência e de manutenção, o Mestre rebateu,

assim, essa

falsidade:

“Muitas pessoas, sobretudo na província, pensaram que as despesas

dessas

viagens oneravam a Sociedade de Paris; tivemos que desfazer esse erro

quando se

ofereceu a ocasião; aos que ainda o pudessem partilhar, recordaremos o

que

Sigmar Gama - [email protected] Página 46

Page 47: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

afirmamos noutra circunstância (número de junho de 1862, página 167,

Revista

Espírita), que a Sociedade se limita a prover às suas despesas correntes e

não possui

reservas; para que pudesse acumular capital, ser-lhe-ia preciso que

tivesse em mira o

número; e isto é o que ela não faz nem quer fazer, porque o seu fim não é

a

especulação e porque o número nada acrescenta à importância dos

trabalhos. Sua

influência é toda moral e está no caráter de suas reuniões, que dão aos

estranhos a

idéia de uma assembléia grave e séria; aí está o seu mais poderoso meio

de

propaganda. Ela, pois, não poderia prover tal despesa. Os gastos de

viagem, como

todos os que as nossas relações reclamam para o Espiritismo, são tirados

dos nossos

recursos pessoais e das nossas economias, aumentadas com o produto

das nossas

obras, sem o qual nos seria impossível prover a todos os encargos, que

são para nós

a conseqüência da obra que empreendemos. Isto é dito sem vaidade e

unicamente

para render homenagem à verdade, e para edificação daqueles aos quais

se afigura

que nós capitalizamos.”

Em 1862 Allan Kardec fez também aparecer uma Refutação às críticas

contra

o Espiritismo9, no ponto de vista do materialismo, da ciência e da religião.

9 Allan Kardec, no livro “Voyage Spirite en 1862” (Ledoyen, Paris, 1862,

Gr.in-8°, 64 p.p.), revela ter

desistido da idéia de publicar o opúsculo que anunciara um ano antes

(Revue Spirite, 1861, dez., p. 371) e

Sigmar Gama - [email protected] Página 47

Page 48: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

que seria intitulado “Réfutation des critiques contre le Spiritisme au point

de vue matérialiste, scientifique et

religieux”. - Nota da FEB.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 34

Em abril de 1864 publicou a Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo,

com a explicação das máximas morais do Cristo, sua aplicação e sua

concordância

com o Espiritismo. O título dessa obra foi depois modificado, e é hoje O

Evangelho

segundo o Espiritismo.

Aproveitando-se da época das férias, Allan Kardec fez em setembro de

1864

uma viagem a Antuérpia e a Bruxelas. Expondo aos espíritas belgas o seu

modo de

ver acerca dos grupos e sociedades espíritas, recorda o que já havia dito

em Lião, em

1861: “Vale mais, portanto, haver em uma cidade cem grupos de dez a

vinte adeptos,

em que nenhum se arrogue a supremacia sobre os outros, do que uma

única

sociedade que a todos reunisse. Esse fracionamento em nada pode

prejudicar a

unidade dos princípios, desde que a bandeira é uma só e que todos se

dirigem para

um mesmo fim.”

As sociedades numerosas têm sua razão de ser sob o ponto de vista da

propaganda; mas, quanto aos estudos sérios e continuados, é preferível

constituíremse

grupos íntimos.

No dia 1° de agosto de 1865, Allan Kardec fez aparecer uma nova obra - O

Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo, na qual são

mencionados numerosos exemplos da situação dos Espíritos, no mundo

espiritual e

na Terra, e as razões que motivaram essa situação.

Sigmar Gama - [email protected] Página 48

Page 49: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Os admiráveis êxitos do Espiritismo, seu desenvolvimento quase incrível,

criaram-lhe inúmeros inimigos e, à proporção que ele se foi

engrandecendo,

aumentou, também, a tarefa de Allan Kardec. O Mestre possuía uma

vontade de

ferro, um poder de combatividade extraordinários; era um trabalhador

infatigável; de

pé, em qualquer estação, desde às 4 horas e meia, respondia a tudo, às

polêmicas

veementes dirigidas contra o Espiritismo, contra ele próprio, às numerosas

correspondências que lhe eram dirigidas; atendia à direção da Revista

Espírita e da

Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, à organização do Espiritismo e

ao

preparo das suas obras.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 35

Esse excesso físico e intelectual esgotou-lhe o organismo, e repetidas

vezes os

Espíritos precisam chamá-lo à ordem, a fim de obrigá-lo a poupar a saúde.

Ele,

porém, sabe que não deve durar mais que uns dez anos ainda: numerosas

comunicações o preveniram desse termo e lhe anunciaram mesmo que a

sua tarefa

não seria concluída senão em nova existência, que sucederia a breve

trecho à sua

próxima desencarnação; por isso ele não quer perder ocasião alguma de

dar ao

Espiritismo tudo o que pode, em força e vitalidade.

Em 1867 faz uma curta viagem a Bordéus, Tours e Orleans; em seguida

põe

novamente mãos à obra, para publicar, em janeiro de 1868, A Gênese, os

milagres e

as predições segundo o Espiritismo. É das mais importantes esta obra,

porque

Sigmar Gama - [email protected] Página 49

Page 50: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

constitui, sob o ponto de vista científico, a síntese dos quatro primeiros

volumes já

publicados.

Allan Kardec ocupa-se, em seguida, de um projeto de organização do

Espiritismo, por meio do qual espera imprimir mais vigor, mais ação à

filosofia de

que se fez apóstolo, procurando desenvolver-lhe o lado prático e fazer-lhe

produzir

seus frutos. O objeto constante das suas preocupações é saber quem o

substituirá em

sua obra, porque sente que o desenlace está próximo; e a constituição

que elabora

tem precisamente por fim prover às necessidades futuras da Doutrina

Espírita.

Desde os primeiros anos do Espiritismo, Allan Kardec havia comprado,

com

o produto das suas obras pedagógicas, 2.666 metros quadrados de

terreno na avenida

Ségur, atrás dos Inválidos. Tendo essa compra esgotado os seus recursos,

ele

contraiu com o Crédit Foncier um empréstimo de 50.000 francos para

fazer construir

nesse terreno seis pequenas casas, com jardim; alimentava a doce

esperança de

recolher-se a uma delas, na Vila Ségur, e torná-la-ia depois da sua morte

asilo a que

se pudessem recolher na velhice os defensores indigentes do Espiritismo.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 36

Em 1869 a Sociedade Espírita era reconstituída e tornada sociedade

anônima,

com o capital de 40.000 francos, dividido em quarenta ações, para a

exploração da

livraria, da Revista Espírita e das obras de Allan Kardec. A nova sociedade

devia

Sigmar Gama - [email protected] Página 50

Page 51: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

instalar-se no dia 1° de abril, à rua de Lille n° 7.

Allan Kardec, cujo contrato de arrendamento na passagem Sant’Ana

estava

quase a terminar, contava retirar-se para a Vila Ségur, a fim de trabalhar

mais

ativamente nas obras que lhe restava fazer e cujo plano e documentos se

achavam já

reunidos. Estava, pois, em todos os preparativos de mudança de domicílio,

quando a

31 de março a doença de coração que o minava surdamente pôs termo à

sua robusta

constituição e, como um raio, o arrebatou à afeição dos seus discípulos.

Essa perda

foi imensa para o Espiritismo, que via desaparecer o seu fundador e mais

poderoso

propagandista, e lançou em profunda consternação todos os que o haviam

conhecido

e amado.

Hippolyte-Léon-Denizard Rivail - Allan Kardec - faleceu em Paris, rua e

passagem Sant’Ana, 59, 2ª circunscrição e mairie de la Banque, em 31 de

março de

1869, na idade de 65 anos, sucumbindo da ruptura de um aneurisma.

Unânimes sentimentos acolheram a dolorosa notícia, e numerosíssima

concorrência acompanhou ao Père Lachaise10, sua derradeira morada, os

despojos

mortais daquele que fora Allan Kardec, daquele que, através dos tempos,

brilhará

como um meteoro fulgurante na aurora do Espiritismo.

10 Ver “Reformador” de abril de 1957, pág. 93.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 37

Quatro orações foram proferidas à beira do túmulo do Mestre: a primeira,

pelo Sr. Levent, em nome da Sociedade Espírita de Paris; a segunda, pelo

Sr. Camilo

Sigmar Gama - [email protected] Página 51

Page 52: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Flammarion, que não fez somente um esboço do caráter de Allan Kardec e

do papel

que cabe aos seus trabalhos no movimento contemporâneo, mais ainda, e

sobretudo,

um exame da situação das ciências físicas, no ponto de vista do mundo

invisível, das

forças naturais desconhecidas, da existência da alma e da sua

indestrutibilidade. Em

seguida, tomou a palavra o Sr. Alexandre Delanne, em nome dos espíritas

dos

centros afastados; e, depois, o Sr. E. Muller, em nome da família e dos

seus amigos,

dirigiu ao morto querido os últimos adeuses.

A senhora Allan Kardec tinha 74 anos por ocasião da morte de seu esposo.

Sobreviveu-lhe até 1883, ano em que, a 21 de janeiro, se extinguiu, na

idade de 89

anos, sem herdeiros diretos.

Erraria quem acreditasse que, em virtude dos seus trabalhos, Allan Kardec

devia ser uma personagem sempre fria e austera. Não era, entretanto,

assim. Esse

grave filósofo, depois de haver discutido pontos mais difíceis da psicologia

e da

metafísica transcendental, mostrava-se expansivo, esforçando-se por

distrair os

convidados que ele freqüentemente recebia na Vila Ségur; conservando-se

sempre

digno e sóbrio em suas expressões, sabia adubá-las com o nosso velho sal

gaulês em

rasgos de causticante e afetuosa bonomia. Gostava de rir com esse belo

riso franco,

largo e comunicativo, e possuía um talento todo particular em fazer os

outros

partilharem do seu bom-humor.

Todos os jornais da época se ocuparam da morte de Allan Kardec e

Sigmar Gama - [email protected] Página 52

Page 53: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

procuraram medir-lhe as conseqüências. Eis aqui, a título de lembrança, o

que a esse

respeito escrevia o Sr. Pagès de Noyez, no Journal de Paris, de 3 de abril

de 1869:

“Aquele que por tão longo tempo ocupou o mundo científico e religioso

sob o

pseudônimo de Allan Kardec, chamava-se Rivail e morreu na idade de 65

anos.

“Vimo-lo deitado num simples colchão, no meio da sala das sessões a que

tantos anos ele presidia; vimo-lo com o semblante calmo como se

extinguem aqueles

a quem a morte não surpreende e que, tranqüilos quanto ao resultado de

uma vida

honesta e laboriosamente preenchida, imprimem como que um reflexo da

pureza de

sua alma sobre o corpo que abandonaram.

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC 38

“Resignados pela fé em uma vida melhor, e pela convicção da

imortalidade da

alma, inúmeros discípulos tinham vindo lançar um derradeiro olhar

àqueles lábios

descorados que, ainda na véspera, lhes falavam a linguagem da Terra.

Mas eles

recebiam já a consolação de além-túmulo: o Espírito de Allan Kardec veio

dizer-lhes

quais haviam sido as suas comoções, quais as suas primeiras impressões,

quais, dos

que o haviam precedido no além-túmulo, tinham vindo ajudar-lhe a alma a

desprender-se da matéria. Se “o estilo é o homem”, aqueles que

conheceram Allan

Kardec em vida não podem deixar de ficar emocionados pela

autenticidade dessa

comunicação espírita.

Sigmar Gama - [email protected] Página 53

Page 54: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

“A morte de Allan Kardec é notável por uma coincidência estranha. A

Sociedade fundada por esse grande vulgarizador do Espiritismo acabava

de

desaparecer. Abandonado o local, retirados os móveis, nada mais restava

de um

passado que devia renascer sobre novas bases. No fim da última sessão, o

presidente

fizera as suas despedidas; preenchida a sua missão, retirava-se da luta

cotidiana, para

se consagrar inteiramente ao estudo da filosofia espiritualista. Outros,

mais jovens -

intrépidos - deveriam continuar a obra e, fortes por sua virilidade, impor a

verdade

por sua convicção.

“Para que referir os detalhes da morte? Que importa o modo por que se

partiu

o instrumento, e por que consagrar uma linha a esses fragmentos de ora

em diante

mergulhados no turbilhão imenso das moléculas? Allan Kardec morreu na

sua hora

própria. Com ele terminou o prólogo de uma religião vivaz, que, irradiando

todos os

dias, cedo terá iluminado toda a Humanidade. Ninguém melhor que ele

podia

conduzir a bom termo essa obra de propaganda, à qual era necessário

sacrificar as

longas vigílias que alimentam o espírito, a paciência que educa com o

correr do

tempo, a abnegação que afronta a estultícia do presente, para não ver

senão a

irradiação do futuro.

“Allan Kardec terá, com suas obras, fundado o dogma pressentido pelas

mais

Sigmar Gama - [email protected] Página 54

Page 55: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

antigas sociedades. Seu nome, apreciado como o de um homem de bem,

está há

muito tempo vulgarizado pelos que crêem e pelos que receiam. É difícil

praticar o

bem sem chocar os interesses estabelecidos. O Espiritismo destrói muitos

abusos,

reanima muitas consciências doloridas, dando-lhes a certeza da prova e a

consolação

do futuro.

“Os espíritas choram hoje o amigo que os deixa, porque o nosso

entendimento, por assim dizer, material, não se pode submeter a essa

idéia de transição; pago, porém, o primeiro tributo a essa inferioridade do

nosso organismo, o pensador ergue a cabeça e através desse mundo

invisível, que ele sente existir além do túmulo, estende a mão ao amigo,

que já não existe, convencido de que o seu Espírito nos protege sempre.

“O presidente da Sociedade Espírita de Paris está morto; mas o número de

adeptos cresce todos os dias, e os corajosos, os quais pelo respeito ao

Mestre se deixavam ficar no segundo plano, não hesitarão em se

evidenciarem, por bem da grande causa.

“Esta morte, que o vulgo deixará passar indiferente, não deixa de ser, por

isso, um grande fato para a Humanidade.

Não é mais o sepulcro de um homem, é a pedra tumular enchendo esse

imenso vácuo que o materialismo cavara aos nossos pés e sobre o qual o

Espiritismo esparge as flores da esperança.”

Um ponto sobre o qual não atraí a vossa atenção, mas que devo assinalar,

é a caridade verdadeiramente cristã de Allan Kardec; dele se pode dizer

que a mão esquerda ignorou sempre o bem que fazia a direita, e que esta

ainda menos conheceu os botes que à outra atiravam aqueles para quem

o reconhecimento é um fardo excessivamente pesado.

Cartas anônimas, insultos, traições, difamações sistemáticas, nada foi

poupado a esse intrépido lutador, a essa alma grande e varonil que

penetrou integralmente na imortalidade.

O despojo mortal de Allan Kardec repousa no Père Lachaise, em Paris, sob

modesta lápide erigida pela piedade dos seus discípulos; é aí que se

Sigmar Gama - [email protected] Página 55

Page 56: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

reúnem todos os anos, desde 1869 11, os adeptos que têm guardado

fidelidade à memória do Mestre e conservam preciosamente no coração o

culto da saudade.

E já que um sentimento análogo nos reúne hoje, repitamos bem alto,

minhas senhoras, meus senhores:

Honra! Honra e glória a Allan Kardec!12

Henri Sausse.

11 Ver “Reformador” de abril de 1957, pág. 93.

12 Recomendamos, aos que o desejarem, a leitura da obra “ALLAN

KARDEC” (Meticulosa Pesquisa Biobibliográfica e Ensaios de

Interpretação), de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, em três volumes, na

qual se encontram valiosos subsídios para o conhecimento da vida e obra

do Mestre Allan Kardec. - Nota da FEB.

AMÁLIA DOMINGO SOLERAMÁLIA DOMINGO SOLER

Amália Domingo Soler nasceu na cidade de Sevilha, na região da

Andaluzia, Espanha. Sua cidade natal, cujo simbolo é a "Torre da Giralda",

antigo minarete mouro transformado em campanário (com um ornamento

em seu topo que gira com o vento: La Giralda), tem brilhante participação

na história da Espanha e do Ocidente. 

Durante a idade média foi uma das principais cidades de Al-Andalus e um

dos focos mais brilhantes da civilização árabe medieval, a fama de seu rei

poeta Almotamid permanece como testemunho de uma época de

esplendor. Após  a reconquista, foi importante centro de transmissão da

cultura muçulmana para seus novos senhores cristãos. O Alcazar de

Sevilha e a própria Giralda são testemunhos vivos desta mescla que

marca até nossos dias o povo da Andaluzia.  

Durante os séculos em que o sol não se punha no vasto império espanhol -

que cobria as Américas e se estendia pelo Pacifíco - a cidade, onde Amalia

nasceu, era o principal porto de acesso aos territórios de além-mar. 

Riquezas de todos os cantos fluiam por seus armazens e dalí seguiam para

financiar as incontáveis guerras que travaram seus reis.  Foi justamente

após o desmoronar desse império, ferido mortalmente pelas guerras

napoleônicas e pela perda da maioria de suas colônias americanas, que

Sigmar Gama - [email protected] Página 56

Page 57: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

nasceu Amalia, em 10 de dezembro de 1835. Estava no trono da Espanha

uma criança, a rainha Isabel II (proclamada em 24 de outubro de 1833),

com sua mãe - Maria Cristina - como regente. 

Este reinado tornou-se um período extremamente conturbado, marcado

por ministérios de curta duração, crises religiosas (supressão da

Companhia de Jesus e extinção de diversos conventos), epidemias e uma

guerra civil - as  guerras Carlistas (Don Carlos, cunhado de Maria Cristina

não reconheceu Isabel II como rainha, contando com o apoio de parte do

clero, grandes proprietários e parte do exército) - cujas sequelas ainda se

fariam sentir no século seguinte. Conseqüência direta de tantas

dificuldades foi a penuria econômica que caracterizou a vida de grande

parcela da população. Devido a miséria e a anarquia, esta também foi a

época dos "bandoleros andaluzes" (aprox. 1817 a 1850), grupos de

bandidos, que a partir da Serra Morena aterrorizavam os campos

andaluzes. 

Alguns destes bandidos se transformaram em figuras do folclore e foram

imortalizados em canções populares. É neste cenário conturbado que se

passa a infância de Amalia Domingo Soler. Infância que não pode ser

considerada feliz. Já antes de nascer, tem sua primeira grande perda, pois

seu pai parte em uma longa viagem e nunca mais retorna.  Aos oito dias

de idade fica cega, sendo curada aos três meses por um farmaceútico.

Problemas com a vista a seguiriam por toda a vida, sempre ameaçando-a

com a cegueira. Os anos seguintes de sua vida passam em relativa

segurança, amparada pela  mãe, com quem tinha grande afinidade: 

"Em meus olhos, que ficaram muito imperfeitos, não sei o que via, mas o

certo é que se consagrou em absoluto a mim e não teve outro afã senão o

de tornar-me feliz, zelando para não se descuidar, nem de leve com minha

educação; basta dizer que quando completei dois anos começou ela a

tarefa penosa de ensinar-me a ler, obtendo como prêmio de seu afã que

aos cinco anos eu lesse corretamente, fazendo-me ler em voz alta duas

horas por dia. 

Nossos espíritos se uniram de um modo tão admirável que só no olhar

Sigmar Gama - [email protected] Página 57

Page 58: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

adivinhávamos os nossos pensamentos". Amalia Domingo Soler, Minha

Vida. Amalia escreveu suas primerias poesias aos dez anos de idade e aos

18 publicou seus primeiros versos. Uma de suas poesias, recorda os

melhores dias de sua juventude, de seus passeios com a mãe e os amigos

nos jardins do Alcazar de Sevilha: 

A una Rosa 

Flor de hermosura ideal, 

Bella y delicada rosa, 

Yo te contemplé orgullosa 

En un jardín oriental. 

Hubo un ser que compreendió 

Que admiraba tu hermosura; 

Temerário te arrancó: 

En mi mano te dejó, 

Y le miré con ternura. 

Otra vez nos encontramos 

Y en memoria de la rosa 

Cariño eterno juramos; 

De amistad pura y preciosa 

Un santo lazo formamos. 

Hoy tus hojas sin color 

Las contemplo y bendigo; 

Pues me dieron un amigo 

Que es una ignorada flor. 

Amalia Domingo Soler 

Memorias de una Mujer

Esta poesia, escrita em sua juventude, foi-lhe relembrada, muitos anos

depois, pelo espírito do amigo citado. Amalia não chegou a casar-se e aos

vinte cinco anos, com o falecimento de sua mãe, começou a fase mais

dificil de sua existência. Os recursos que sua mãe dispunha, praticamente

se esgotaram no tratamento de sua saúde e as relações com seus

familiares - parentes do pai - não eram das melhores. 

Assim, além da solidão, começaram para Amalia dias de grande penuria.

As soluções propostas por seus familiares lhe foram impossiveis de

Sigmar Gama - [email protected] Página 58

Page 59: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

aceitar: entrada no convento ou casamento arranjado com um senhor de

muito mais idade, em boa situação financeira. Assim ela se dirigiu a

Madrid, capital do país, na esperança de encontrar melhores condições de

sobreviver, com suas poesias e com um trabalho modesto. Suas

dificuldades foram imensas, até fome passou e teve de  recorrer a

instituições de caridade, pois raríssimas as possibilidades de trabalho

honrado para uma moça pobre e desamparada. Nesse período, no

desespero da fome e da solidão, pensa até em matar-se. 

Em uma noite de grande amargura, em que tinha perdido até mesmo a

noção de Deus e debatia-se na duvida do destino de sua mãe, esta lhe

aparece e causa-lhe viva impressão. Impressionada pela visão de sua

mãe, recorda-se da religião e busca reconforto nas igrejas. É porém junto

a uma igreja luterana que encontra o apoio que procura. A palavra de seus

pastores e a convicção de seus fiéis lhe trazem de novo a fé e o consolo

da confiança em Jesus.  O esforço de escrever versos, dos pequenos

trabalhos de costura, unidos a dificil condição em que vivia, lhe pioraram

significativamente a vista e  somente graças ao tratamento feito por um

médico homeopata, salvou-se da cegueira. 

Foi também este médico que lhe fala pela primeira vez de uns "loucos",

adeptos de uma novidade chamada Espiritismo, e lhe empresta um

exemplar do jornal espírita "El Critério". O curioso é que o médico era

materialista e lhe fala do Espiritismo para consola-la de suas aflições. É

lendo um artigo deste jornal - reproduzido nas suas memórias - que ela  se

convence da verdade do Espiritismo e busca maiores informações. Estuda

o que lhe chega as mãos sobre o Espiritismo e para poder ter acesso as

revistas espíritas, começa a escrever artigos para elas. O primeiro de seus

trabalhos espíritas é uma poesia para o jornal "El Critério", que embora

não tenha sido publicada, lhe valeu uma carta do editor - Visconde de

Torres Solanot - com um livro espírita de sua autoria (Preliminares del

Espiritismo). 

É no periódico espírita "La Revelación", da cidade de Alicante, que pela

primeira vez sai publicado um texto de Amalia Domingo Soler, uma

poesia. Seu primeiro artigo doutrinário, "La Fe Espiritista" sai pelo "El

Critério", em seu número 9, de 1872. Seus artigos chamaram a atenção e

Sigmar Gama - [email protected] Página 59

Page 60: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

aos poucos integra-se ao movimento espírita espanhol, participando de 

reuniões. Foi em 31 de março de 1875 - aniversário da desencarnação de

Allan Kardec - que no salão da Sociedad Espiritista Española, diante dos

membros desta sociedade, Amalia lê sua poesia "A la Memoria de Allan

Kardec" e - como registra em suas memórias - passa a fazer parte das

fileiras dos propagandistas da Doutrina Espírita.  Grande escritora, com

textos que falam tanto ao coração como a razão, e de espírito tão

extraordinário como seu talento com as letras, conquistou totalmente as

simpatias dos espíritas espanhóis. Fernandes Colavida a presenteia com a

coleção das obras de Allan Kardec. 

Os espíritas de Alicante a convidam a ficar junto a eles, sob sua proteção,

dedicando-se exclusivamente a divulgação da Doutrina. Junto aos espíritas

de Murcia permanece 4 meses recuperando-se de uma enfermidade.

Amalia, firmemente acreditando que seria errado viver do Espiritismo,

continua a trabalhar de dia e escrever de noite. Permance em Madrid até

que se muda para Barcelona, em 10 de agosto de 1876, convidada pelo

grupo espírita "Circulo La Buena Nueva" e com a esperança de encontrar

melhores condições de trabalho na capital Catalã, já então cidade

empreendedora e  de grande atividade econômica. Três meses após

chegar a Barcelona, novamente os problemas de visão  voltaram a

atormentar Amalia e quase cega encontrou amparo na familia de Luís

Lach, presidente do Circulo. Lhe deram abrigo e condições de dedicar-se

integralmente ao Espiritismo. Nas reuniões do Circulo, Amalia  veio a

conhecer Miguel Vives, médium extraordinário, através do qual recebeu

mensagens de sua mãe. 

Também entre os espíritas barcelonenses conheceu o médium sonâmbulo

Eudaldo, que se tornou seu colaborador e através do qual recebeu grande

número de mensagens, incluse as que foram reunidas no livro "Memórias

del Padre German". O Padre Germano, guia espiritual de Amalia, se

apresentou pela primeira vez em 9 de maio de 1879 e a publicação de

suas memórias foi feita em partes a partir de 29 de abril de 1880. Além de

publicar artigos em periódicos espíritas, Amalia também refutou ataques

ao Espiritismo em jornais como a "Gaceta de Cataluña", ficando célebre

sua polêmica com o orador católico Vicente de Manterola. Em 1878,

Sigmar Gama - [email protected] Página 60

Page 61: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Vicente iniciou uma série de conferências combatendo o Espiritismo, as

quais Amalia assistia e respondia em artigos na "Gaceta de Cataluña". O

mesmo orador chegou a publicar, em 1879, um livro intitulado "El

Satanismo, o sea la Catédra de Satanás, combatida desde la Cátedra del 

Espíritu Santo - Refutación de los errores de la Escuela Espiritista". Este foi

refutado em uma série de 46 artigos de Amalia, reunidos posteriormente

no livro "El Espiritismo refutando los errores del Catolicismo". Em 22 de

maio de 1879 sai o primeiro número do periódico "La Luz del Porvenir",

dirigido por Amalia Domingo Soler. O periódico surgiu devido a insistência

de Luís Lach e do editor Juan Torrents que convenceram-na a aceitar a

tarefa de criar um periódico direcionado a "mulher espiritista". 

No primeiro número saiu o artigo "La idea de Dios" que foi denunciado as

autoridades e provocou a suspensão do periódico por 42 semanas (voltou

a ser publicado antes devido a um decreto do rei Alfonso XII). Durante a 

suspensão do periódico, foi publicado um substituto "El Eco de la Verdad",

que chegou a ser denunciado por outro artigo ("Los Obreros" de Cándida

Sanz) e absolvido. Importante notar que estas denuncias - embora uma

reação de setores  religiosos que se sentiam ameaçados pelo Espiritismo -

não são tão dificeis de se compreender, se considerarmos o clima geral da

época de Alfonso XII. Este rei subiu ao trono com 17 anos em 29 de

dezembro de 1874, em meio a uma crise politica que levou a abdicação de

sua mãe, a rainha Isabel II. A Espanha vivia um clima de extremismos,

com o governo tendo que defender-se tanto contra os "Carlistas", que

retomam a guerra civil, quanto contra os republicanos que querem o fim

da monarquia. Reformas liberais necessarias a modernização do pais,

misturavam-se com manifestos militares, crises politícas e novas guerras

na África. O Catolicismo é a religião oficial do estado e procura reagir com

todas as suas forças as mudanças liberalizantes que podem comprometer-

lhe essa posição. 

O periódico "La Luz del Porvenir" foi publicado até 1899 e muitos dos

artigos de Amalia Domingos Soler publicados durante este período -

incluindo "La Idea de Dios" - foram, a partir de 1972, reunidos por

Salvador Sanchís Serra nos livros "La Luz del Porvenir" e "La Luz del

Sigmar Gama - [email protected] Página 61

Page 62: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Camino", distribuidos gratuitamente por ele e pelo grupo espírita "La Luz 

del Camino" de Orihuela, Alicante. As memórias de Amalia Domingo Soler

foram escritas em 1891, sob orientação do Padre Germano. Até aquela

data ela tinha escrito 1286 artigos, que foram publicados em periódicos na

Espanha e no exterior: "El Critério" e "El Espiritismo", de Madri; "La Gaceta

de Cataluña", "La Luz del Porvenir" e a "Revista de Estudos Psicológicos"

de Barcelona;" La Revelación", de Alicante; "El Espiritismo", de Sevilha;

"La Ilustración Espirita", do  México;" La Ley del Amor", de Mérida de

Yucatán; "La Revista Espiritista", de Montevidéu; "La Constancia", de

Buenos Aires; os" Annali dello Spiritismo" na Italia;" El Buen Sentido", de

Lérida e outros dos quais não há mais registro. 

Em 29 de abril de 1909, de Barcelona, Amalia retornou ao plano espiritual,

o que não significa que se afastou de seu labor em pról do Espiritismo. Em

10 de julho de 1912, por intermédio da médium Maria - que colaborou com

ela em vida, substituindo Eudaldo - completou suas memórias e,

recentemente, nas viagens do médium Divaldo Pereira Franco à Espanha,

tem transmitido mensagens de orientação e encorajamento aos espíritas

espanhóis. O Espiritismo na Espanha continuaria a progredir até as

vespéras da Guerra Civil de 1936-1939, quando o conflito latente desde a

regência de Maria Cristina entre uma Espanha que queria ser moderna e

uma que sonhava com o passado, transformou-se em uma sangrenta

guerra civil. 

As proporções do conflito, se hoje não causam espanto, é porque foram

eclipsadas pela II Guerra Mundial, imediatamente posterior. Ao final desta

guerra civil, a Espanha mergulhou nos 40 anos da ditadura do General 

Franco, que tudo fez para abafar qualquer idéia que não se enquadrasse

na visão de mundo de seu regime.  O Espiritismo, perseguido e jogado na

clandestinidade, porém voltou a surgir imediatamente ao fim do regime

franquista, em uma Espanha nova, liderada por políticos mais maduros e

por um rei esclarecido e humano, Juan Carlos I. 

O balanço da obra de Amalia Domingo Soler é dificil de se fazer, pois os

seus frutos ainda continuam surgindo. O movimento espírita espanhol do

final do século XIX, obra de Amalia e de outros grandes pioneiros, como

Fernandes Colavida e Miguel Vives y Vives, abrigou o primeiro congresso

Sigmar Gama - [email protected] Página 62

Page 63: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

espírita internacional em 1888, influenciou os movimentos nascentes nos

vários países de lingua espanhola da América Latina e - como precedente

histórico - é a base para o atual renascimento do espiritismo espanhol.

Seus artigos são hoje, como foram ontem, exposições claras e diretas do 

Espiritismo. Fieis interpretes da Doutrina Espírita codificada por Allan

Kardec. Lidos e veiculados pelos meios de comunicação modernos, entre

eles a Internet. 

--------------------------------------------------------------------------------

Bibliografia

A Serviço do Espiritismo (Divaldo Pereira Franco na Europa), Nilson de

Souza Pereira e Divaldo Pereira Franco, editora Leal, Bahia, Brasil; 

Historia de España, Jose Terrero, Editorial Ramón Sopena, Barcelona,

España; 

Historia de Sevilha, José Maria de Mena, Plaza & Janes Editores, Barcelona,

España; 

La Luz del Camino, Amalia Domingo Soler, Editora Espírita Allan Kardec,

Málaga; 

La Luz del Porvenir, Amalia Domingo Soler, Editora Espírita Allan Kardec,

Málaga; 

Memórias de una Mujer, Amalia Domingo Soler, Editora Amelia Boudet,

Barcelona, Espanha; 

Memórias del Padre Germán, Amalia Domingo Soler, Editora Amelia

Boudet, Barcelona, Espanha;

Minha Vida, Amalia Domingo Soler (trad. das Memórias por Isolina Bresolin

Vianna e Wallace Leal V. Rodrigues), Casa Editora O Clarim, Matão, Brasil;

Reencarnação e Vida, Amalia Domingo Soler (trad. do livro "Hechos que

Prueban" por Jurema de Castro), Instituto de Difusão Espírita, Araras,

Brasil; 

AMÉLIA RODRIGUESAMÉLIA RODRIGUES

Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues foi, quando encarnada, notável

poetisa, professora emérita, escritora consagrada, teatróloga, legítimo

expoente cultural das Letras da Bahia. Nasceu na Fazenda Campos,

Sigmar Gama - [email protected] Página 63

Page 64: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Freguesia de Oliveira dos Campinhos, Município de Santo Amaro da

Purificação, Estado da Bahia em 26 de maio de 1861.

Qualquer de seus conterrâneos, por mais jovem que seja, conhece a vida

dessa extraordinária mulher e seu esforço a fim de atingir os seus ideais.

Estudou com o cônego Alexandrino do Prado, em seguida foi aluna dos

professores Antônio de Araújo Gomes de Sá e Manuel Rodrigues M. de

Almeida. Sua vocação para o magistério era inata. A par disso, matriculou-

se no colégio mantido pela professora Cândida Álvares dos Santos e

começou a lecionar no Arraial da Lapa. Posteriormente lecionou em Santo

Amaro da Purificação por oito anos consecutivos.

Em 1891, graças à sua capacidade para lecionar e ao seu amor à causa do

ensino, foi transferida para Salvador e lotada na Escola Central do Bairro

Santo Antônio. Um de seus alunos, adolescente ainda, em 1905, foi

selecionado para lecionar inglês pelo sistema do filósofo Spencer. Amélia

Rodrigues não só o ajudou a compreender o pensamento daquele filósofo,

como complementou o seu aprendizado. Disse a ele: "O jovem precisa de

educação moral, que é o princípio fundamental da disciplina social; sem

apelar para o coração, educar é formar no homem as mais duradouras

forças da ordem social."

O pensamento de Amélia Rodrigues se identifica com o pensamento de

Fénelon, contido em "O Evangelho Segundo o Espiritismo": "Educar é

formar homens de Bem, e não apenas instruí-los". Aposentada, não

abdicou de seu ideal de ensinar. Retornou ao magistério de forma ainda

mais marcante. Fundou o Instituto Maternal Maria Auxiliadora, que mais

tarde transformou-se na "Ação dos Expostos." Dedicou-se ao jornalismo

como colaboradora das publicações religiosas "O Mensageiro da Fé", "A

Paladina" e "A Voz". Escreveu algumas peças teatrais, entre as quais

"Fausta" e "A Natividade". É autora dos poemas "Religiosa Clarisse" e

"Bem me queres". Produziu ainda obras didáticas, literatura infantil e

romances. Desencarnou em Salvador em 22 de agosto de 1926.

No Plano Espiritual, continuou seu trabalho esclarecedor e educativo,

baseado principalmente no Evangelho de Jesus, fonte inspiradora de suas

obras quando encarnada. Encontrou na Espiritualidade - seara infinita da

imortalidade - maior expansão para seu espírito sequioso de

Sigmar Gama - [email protected] Página 64

Page 65: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

conhecimento e faminto de amor, dando vazão aos anseios mais nobres.

Aprofundou-se na mensagem de Jesus e, na atualidade, participa da

falange de Joanna de Ângelis, mentora de Divaldo Pereira Franco. Pela

psicografia do abnegado medianeiro, vem trazendo páginas de beleza

intraduzível, que abordam os mais variados assuntos sobre o Evangelho,

seu tema predileto, de onde extrai lições edificantes para aqueles que

estão cansados e sobrecarregados, necessitados de orientação e de

consolo.

ANÁLIA FRANCOANÁLIA FRANCO

Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 10 de

fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de

1919. Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar-se

em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser

Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.

Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e

logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou

como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente

a 1875 diplomou-se Normalista, em S. Paulo.

Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou:

a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista

e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de

escravas estavam previamente destinados à "Roda" da Santa Casa de

Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas,

os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho. Não

eram, como até então "negociáveis", com seus pais e os adquirentes de

cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre. 

Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo

na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as

criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de

S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma

fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi

frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de

crianças brancas e negras. 

Sigmar Gama - [email protected] Página 65

Page 66: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da

casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à

altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua

primeira e original "Casa Maternal". Começou a receber todas as crianças

que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e

desvios dos caminhos. 

A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua

casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos,

resolveu acabar com aquele "escândalo" em sua fazenda. Promoveu

diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da

professora. 

Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o

aluguel correspondente à metade do seu ordenado. Como o restante era

insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir,

pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, à pé,

levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de

"meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado da

escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças

desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora,

encheu a cidade. 

A curiosidade popular tomou-se de espanto, num domingo de festa

religiosa. Ela apareceu nas ruas com seus "alunos sem mães", em bando

precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura

de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou-se o escândalo

do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos. Seu afastamento

da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas

farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e

republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e

monarquistas.

Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no

Interior, veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo

abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua

preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a

fundar uma revista própria, intitulada "Álbum das Meninas", cujo primeiro

Sigmar Gama - [email protected] Página 66

Page 67: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

número veio a lume a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo tinha o título

"Às mães e educadoras". Seu prestígio no seio do professorado já era

grande quando surgiram a abolição da escravatura e a República. O

advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios

gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela,

secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que

se denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva", no dia 17

de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.

Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares",

instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu

Feminino", que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a

direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de

"Escolas Maternais" e de três anos para as "Escolas Elementares".

Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos

cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância,

nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades

afetivas e morais das crianças, instruindo-as ao mesmo tempo. O seu

opúsculo "O Novo Manual Educativo", era dividido em três partes: Infância,

Adolescência e Juventude.

Em 10 de dezembro de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista

mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em

oficinas próprias.

A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário n.o. 18, em

S. Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal

desse estabelecimento na Ladeira do Piques n.o. 23.

Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no

Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado,

Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica,

Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária,

Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura,

Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de

37 instituições.

Sigmar Gama - [email protected] Página 67

Page 68: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade

de livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são

dignos de serem adotados nas Escolas públicas.

Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas

atinentes à Doutrina Espírita.

Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: "A Égide Materna", "A

Filha do Artista", e "A Filha Adotiva". Foi autora de numerosas peças

teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando-se "Hino a Deus",

"Hino a Ana Nery", "Minha Terra", "Hino a Jesus" e outros.

Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara

Paraíso". Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o

restante ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho

solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da

História do Brasil: Diogo Antônio Feijó.

Nessa chácara fundou Anália Franco a "Colônia Regeneradora D.

Romualdo", aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala,

internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura,

a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças

desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.

A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues,

1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1

Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas

para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do

Interior e da Capital.

Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a

deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa

concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o "Asilo

Anália Franco".

A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e

meritórias da História do Espiritismo.

ARTHUR CONAN DOYLEARTHUR CONAN DOYLE

Sigmar Gama - [email protected] Página 68

Page 69: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Segundo escreveu o saudoso Prof. José Herculano Pires, prefaciando a

obra de Arthur Conan Doyle, "História do Espiritismo", é um nome

conhecido e lido no mundo inteiro.

Dotado Conan Doyle de fértil imaginação, comunicabilidade natural de seu

estilo, a espontaneidade de suas criações tornaram-no um escritor

apreciado e amado por todos os povos.

Em nosso país a série Sherlock Holmes, a série Ficção Histórica e a série

Contos e Novelas Fantásticas aqui estão para comprovar a afirmação feita

em favor do extraordinário escritor.

Entretanto, é bom que se diga que ele não apenas se destacou naquelas

linhas compostas com três séries, pois além de historiador, pregou o uso

de métodos científicos na pesquisa policial, destacou-se também como um

lúcido escritor espírita em todo o mundo, revelando notável compreensão

do problema espírita in-totum (como ciência, filosofia e religião).

Então, além daquelas séries enumeradas no início destas considerações

existem mais duas séries: a de História e a do Espiritismo.

Ao ser lançada a primeira edição da obra "História do Espiritismo", a

revista inglesa "Light" destacou o equilíbrio e a imparcialidade com que o

assunto foi abordado. Uma extensa Nota assinada por D.N.G. destacou

que os críticos haviam sido "agradavelmente surpreendidos", porque

Conan Doyle, conhecido como ardoroso propagandista do Espiritismo, fora

de uma imparcialidade a toda prova. E o articulista da revista "Light"

continuava: "Uma obra de história, escrita com preconceitos favoráveis ou

contrários, seria, pelo menos, antiartística, pecado jamais cometido pelo

autor de - The White Company -, em nenhum de seus trabalhos".

O próprio Autor define aquele critério ao falar do desejo de contribuir para

que o Espiritismo tivesse sua história e o objetivo da obra não era o de

fazer propaganda de suas convicções, mas o de historiar o movimento

espírita. Daí, colocar-se imparcial e serenamente como observador dos

fatos que se desenrolam aos seus olhos, através do tempo e do espaço.

(Ipsis litteris).

Reconhecendo a magnitude e amplitude do trabalho que se propôs

realizar pediu auxílio a outras pessoas e encontrou em Mrs. Leslie Curnow

Sigmar Gama - [email protected] Página 69

Page 70: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

uma dedicada e eficiente colaboradora e com essa ajuda prosseguiu

investigações até concluir a obra.

Reconheceu não haver realizado um trabalho completo porque não

dispunha de recursos necessários e tempo, mas, com satisfação verificou

que fez o que era possível no momento, diante da enorme extensão e

complexidade do assunto, além das condições de dificuldades do próprio

movimento espírita da época. Arthur Conan Doyle nasceu em 22 de maio

de 1859, em Edimburgo, faleceu em 7 de julho de 1930, em Cowborough

(Susex), após viver 71 anos bem proveitosos.

Em junho de 1887 escreveu uma carta ao Editor da revista "Lìght"

explicando as razões de haver se convertido ao Espiritismo. Tal carta foi

publicada na edição de 2 de julho de 1887 da referida revista e

republicada na edição de 27 de agosto de 1927. Em 15 de julho de 1929 a

"Revista Internacional do Espiritismo", de Matão, São Paulo, dirigida por

Cairbar Schutel, publicou no Brasil a primeira tradução integral daquela

carta, documento importante, onde o jovem médico em 1887 revelava

ampla compreensão do Espiritismo e a importância da Mensagem que a

Doutrina trazia para o mundo inteiro.

Conan Doyle ainda escreveu um pequeno livro traduzido por Guillon

Ribeiro e sob o título "A Nova Revelação", que descreve em detalhes como

se deu sua conversão. Outras obras doutrinárias de grande mérito,

revelando perfeito entendimento do problema religioso do Espiritismo,

afirmando a condição essencialmente psíquica da religião espírita, "A

Religião Psíquica".

A doutrina da reencarnação determinou o aparecimento de uma

divergência entre aquilo que se estabeleceu chamar Espiritismo Latino e

Espiritismo Anglo-Saxão. Estes, particularmente os ingleses e americanos,

embora aceitassem a Doutrina Espírita não admitiam o Princípio

Reencarnacionista e tal motivou os ataques e críticas ao Espiritismo.

Embora a resistência mantida na Inglaterra e nos Estados Unidos contra o

Princípio Reencarnacionista, Conan Doyle e outros espíritas americanos e

ingleses, de renome, admitiam a reencarnação.

Na obra "A Nova Revelação", Conan Doyle declara que "muitos estudiosos

têm sido atraídos ao Espiritismo, uns pelo aspecto religioso, outros pelo

Sigmar Gama - [email protected] Página 70

Page 71: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

científico, mas, até agora ninguém tentou estabelecer a exata relação que

existe entre os dois aspectos do problema". Tal foi escrito entre 1927 e

1928, sessenta anos após a desencarnação de Kardec.

Sabemos que Kardec definiu e solucionou aquele problema ao apresentar

o Espiritismo como Doutrina sob tríplice aspecto: filosófica, científica e

religiosa.

E Conan Doyle identificava-se com o pensamento de Kardec, aguardando

que a codificação kardequiana aparecesse, sem perceber que ela já existia

e estava ao seu lado, para lá do Canal da Mancha.

AUTA DE SOUZAAUTA DE SOUZA

Nasceu em Macaíba, então Arraial, depois cidade do Rio Grande do Norte

a 12 de setembro de 1876, era magrinha, calada, de pele clara, um

moreno doce à vista como veludo ao tato. Era filha de ELOI CASTRICIANO

DE SOUZA, desencarnado aos 38 anos de idade e de Dona HENRIQUETA

RODRIGUES DE SOUZA, desencarnada aos 27 anos, ambos tuberculosos.

Antes dela ter completado 3 anos ficou órfã de mãe e aos 4 anos de pai. A

sua existência, na terra foi assinalada por sofrimentos acerbos. Muito cedo

conheceu a orfandade e ainda menina, aos dez anos, assistiu a morte de

seu querido irmão IRINEU LEÃO RODRIGUES DE SOUZA, vitimado pelo fogo

produzido pela explosão de um lampião de querosene, na noite de 16 de

fevereiro de 1887.

Auta de Souza e seus quatro irmãos foram criados em Recife no velho

sobrado do Arraial, na grande chácara, pela avó materna Dona SILVINA

MARIA DA CONCEIÇÃO DE PAULA RODRIGUES, vulgarmente chamada

Dindinha e seu esposo FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES, que

desencarnou quando Auta tinha 6 anos.

Antes dos 12 anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de Paulo, no

bairro da Estância, onde recebeu carinhosa acolhida por parte das

religiosas francesas que o dirigiam e lhe ofereceram primorosa educação:

Literatura, Inglês, Música, Desenho e aprendeu a dominar também o

Francês, o que lhe permitiu ler no original: Lamartine, Victor Hugo,

chateubriand, Fénelon.

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De 1888 a 1890, a jovem Auta estuda, recita, verseja, ajuda as irmãs do

Colégio, aprimora a beleza de sua fé, na leitura constante do Evangelho.

Aos 14 anos, ainda no Educandário Estância, em 1890, manifestaram-se

os primeiros sintomas da enfermidade que lhe roubou, em plena

juventude, o viço e foi a causa de sua morte, ocorrida na madrugada de 7

de fevereiro de 1901 - Quinta-feira à uma hora e quinze minutos, na

cidade de Natal, exatamente com 24 anos, 4 meses e 26 dias de idade. Os

médicos nada puderam fazer e Dindinha retornou com todos para a terra

Norte-Rio Grandense. Ei-los todos em Macaíba. Foi sepultada no cemitério

do Alecrim e em 1906, seus restos mortais foram transladados para o

jazigo da família, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Macaíba,

sua terra natal.

O forte sentimento religioso e mesmo a doença não impediram de ter uma

vida absolutamente normal em sociedade.

Era católica, mas não submissa ao clero. Ela não se macerou, não sarjou

de cilícios a pele, não jejuou e jamais se enclastou. Era comunicativa,

alegre, social. A religiosidade dela era profunda, sincera, medular, mas

não ascética, mortificante, mística. Seu amor por Jesus Cristo, ao Anjo da

Guarda, não a distanciaram de todos os sonhos das donzelas: Amor, lar,

missão maternal. Com 16 anos, ao revelar o seu invulgar talento poético,

enamorou-se do jovem Promotor Público de Macaíba, João Leopoldo da

Silva Loureiro, com a duração apenas de um ano e poucos meses. Dotada

de aguda sensibilidade e imaginação ardente dedicava ao namorado amor

profundo, mas a tuberculose progredia e seus irmãos convenceram-na a

renunciar. A separação foi cruel, mas apenas para Auta. O Promotor não

demonstrou a menor reação.... É verdade que gostava de ouvi-la nas

festas caseiras a declamar com sua belíssima voz envolvente, aveludada e

com ela dançar quadrilhas, polcas e valsas, mas não era o homem

indicado para amar uma alma tão delicada e sonhadora como Auta de

Souza. Faltava-lhe o refinamento espiritual para perceber o sentimento

que extravasava através dos olhos meigos da grande Poetisa.

Essa sucessão de golpes dolorosos, marcou profundamente sua alma de

mulher, caracterizada por uma pureza cristalina, uma fé ardente e um

profundo sentimento de compaixão pelos humildes, cuja miséria tanto a

Sigmar Gama - [email protected] Página 72

Page 73: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

comovia. Era vista lendo para as crianças pobres, para humildes mulheres

do povo ou velhos escravos, as páginas simples e ingênuas da "História de

Carlos Mágno", brochura que corria os sertões, escrita ao gosto popular da

época.

A orfandade da Poetisa ainda criança, o desencarne trágico de seu irmão,

a moléstia contagiosa e a frustração no amor, esses quatro fatores

amalgamados à forte religiosidade de Auta, levaram-na a compor uma

obra poética singular na História da Literatura Brasileira "Horto", seu único

livro, é um cântico de dor, mas, também, de fé cristã. A primeira edição do

Horto saiu do prelo em 20 de Junho de 1900.

O sofrimento veio burilar a sua inata sensibilidade, que transbordou em

versos comovidos e ternos, ora ardentes, ora tristes, lavrados à sombra da

enfermidade, no cenário desolador do sertão de sua terra.

Em 14 de novembro de 1936, houve a instalação da Academia Norte-Rio

Grandense de Letras, com a poltrona XX, dedicada a Auta de Souza.

Livre do corpo, totalmente desgastado pela enfermidade, Auta de Souza,

irradiando luz própria, lúcida e gloriosa alçou vôo em direção à

Espiritualidade Maior. Mas a compaixão que sempre sentira pêlos

sofredores fez com que a poetisa em companhia de outros Espíritos

caridosos, visitasse, constantemente a crosta da terra. Foi através de

Chico Xavier, que ela, pela primeira vez revelou sua identidade,

transmitindo suas poesias enfeixadas em 1932, na primeira edição do

"PARNASO DE ALÉM TÚMULO", lançado pela Federação Espírita Brasileira.

Em sua existência física, Auta de Souza foi a AVE CATIVA que cantou seu

anseio de liberdade; o coração resignado que buscou no Cristo o consolo

das bem-aventuranças prometidas aos aflitos da terra. Além do túmulo, é

o pássaro liberto e feliz que, tornado ao ninho dos antigos infortúnios, vem

trazer aos homens a mensagem de bondade e esperança, o apelo à FÉ e a

CARIDADE, indicando o rumo certo para a conquista da verdadeira vida.

A Campanha de Fraternidade Auta de Souza, idealizada pelo companheiro

Nympho de Paula Corrêa e aprovada em 3 de fevereiro de 1953, pelo

Departamento de Assistência Social da Federação Espírita do Estado de

São Paulo, então dirigido pelo saudoso confrade José Gonçalves Pereira, é

uma bela homenagem à nossa querida Poetisa, AUTA DE SOUZA.

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BEZERRA DE MENEZESBEZERRA DE MENEZES

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Page 75: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Adolfo Bezerra de Menezes nasceu na antiga Freguesia do Riacho do

Sangue (hoje Jaguaretama), no Estado do Ceará, no dia 29 de agosto de

1831, desencarnando no Rio da Janeiro, no dia 11 de abril de 1900.

No ano de 1838 entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde, em

dez meses apenas, preparou-se, suficientemente, até onde dava os

conhecimentos do professor que dirigia a primeira fase de sua educação.

Muito cedo revelou a sua fulgurante inteligência, pois aos 11 anos de

idade iniciava o curso de Humanidades e, aos 13 anos, conhecia tão bem

o latim que ele próprio o ministrava aos seus companheiros, substituindo o

professor da classe em seus impedimentos.

Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente- coronel da Guarda

Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a

toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de

criação. Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar

abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar- lhe

os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo,

porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e

lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para

integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a

proposta, dizendo- lhe que pagasse como e quando quisesse.

O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores

sobre essa resolução, por isso deliberou tornar- se mero administrador do

que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente

necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da

abastança às privações.

Animado do firme propósito de orientar- se pelo caráter íntegro de seu pai,

Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram,

e animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de

Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a

Medicina.

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Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da

Santa Casa de Misericórdia. Doutorou- se em 1856 pela Faculdade de

Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro".

Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas

Adolfo Bezerra de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao

quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com a

memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do

Tratamento". O parecer foi lido pelo relator designado, Acadêmico José

Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de

maio do mesmo ano e a posse a 1.o. de junho. Em 1858 candidatou- se a

uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de

Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho,

então Cirurgião- Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu

assistente, no posto de Cirurgião- Tenente.

Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve sua eleição

impugnada pelo chefe conservador Haddock Lobo, sob a alegação de ser

medico militar. Com o objetivo de servir o seu partido, que necessitava

dele para ter maioria na Câmara, resolveu afastar-se do Exército. Em

1867, foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado numa lista tríplice

para uma carreira no Senado.

Quando político, levantaram-se contra ele, a exemplo do que sucede com

todos os políticos honestos, rudes campanhas de injuria, cobrindo seu

nome de impropérios entretanto, a prova da pureza de sua alma, deu-a,

quando deliberou abandonar a vida publica e dedicar-se aos pobres,

repartindo com os necessitados o pouco que possuía. Corria sempre ao

casebre do pobre onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o

conforto de sua palavra de bondade, o recurso da sua profissão de médico

e o auxilio da sua bolsa minguada e generosa.

Sigmar Gama - [email protected] Página 76

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Afastado interinamente da atividade política, dedicou-se a

empreendimentos empresariais criou a Companhia Estrada de Ferro

Macaé/Campos, na então província do Rio de Janeiro. Posteriormente,

empenhou-se na construção da via férrea de Santo Antônio de Pádua,

pretendendo levá-la ate o Rio Doce, desejo que não conseguiu realizar. Foi

um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872 abriu o

Boulevard 28 de Setembro , no então bairro de Vila Isabel. Em 1875, foi

presidente da Companhia Carril de São Cristóvão. Voltando a política, foi

eleito vereador em 1876, exercendo o mandato ate 1880. Foi ainda

presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro,

no ano de 1880.

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras

de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos

Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao

deputado Bezerra de Menezes, entregando- o com dedicatória. O episódio

foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu- mo na

cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde.

Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem,

disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois,

é ridículo confessar- me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado

todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi- me a

ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que

fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para

mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos

Espíritos". Preocupei- me seriamente com este fato maravilhoso e a mim

mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se

diz vulgarmente, de nascença".

Sigmar Gama - [email protected] Página 77

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Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico, que pelas

replicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da

União Espirita do Brasil incumbiu Bezerra de Menezes de escrever, aos

domingos, no O Paiz , tradicional órgão da imprensa brasileira, dirigido por

Quintino Bocaiúva, uma serie de artigos sob o titulo O Espiritismo -

Estudos Filosóficos . Os artigos de Max , pseudônimo de Bezerra de

Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espirita no Brasil.

Esses artigos foram publicados, ininterruptamente, de 1886 a 1893.

Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do

Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as

medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação",

"Breves considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A

Loucura sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica",

"Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro -- o Leproso", "História

de um Sonho", "Evangelho do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de

homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas,

etc. Foi um dos redatores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e redator

do jornal "Sentinela da Liberdade".

No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas

da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da

Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em

silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do

eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra

de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo.

Sigmar Gama - [email protected] Página 78

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Bezerra de Menezes tinha o encargo de medico como verdadeiro

sacerdócio por isso, dizia: Um medico não tem o direito de terminar uma

refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se e´ longe ou perto,

quando um aflito qualquer lhe bate a porta. O que não acode por estar

com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta

noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro o que,

sobretudo, pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou

diz a quem chora a porta que procure outro, esse não e´ medico, e´

negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos

gastos da formatura. Esse e´ um infeliz, que manda para outro o anjo da

caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única esportula que

podia saciar a sede de riqueza do seu Espirito, a única que jamais se

perdera nos vais-e-vens da vida.

No ano de 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do

Espiritismo no Brasil, e os que dirigiam os núcleos espiritas do Rio de

Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais estreita e indestrutível.

Os Centros Espiritas, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma

autônoma. Cada um deles exercia sua atividade em um determinado

setor, despreocupado em conhecer as atividades dos demais. Esse estado

de coisas levou-os a fundação da Federação Espirita Brasileira (FEB).

Nessa época, já existiam muitas sociedades espiritas, porem as únicas que

mantinham a hegemonia eram quatro: a Acadêmica, a Fraternidade, a

União Espirita do Brasil e a Federação Espirita Brasileira. Entretanto, logo

surgiram entre elas rivalidades e discórdias. Sob os auspícios de Bezerra

de Menezes, e acatando importantes instruções, dadas por Allan Kardec,

através do médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso Centro Espirita

porem nem por isso deixava Bezerra de dar a sua cooperação a todas as

outras instituições.

O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu

desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único

freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados

"místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo

em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado

científico e filosófico.

Sigmar Gama - [email protected] Página 79

Page 80: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada,

ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal

do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha

publicando no "O Paiz".

Em 1894, o ambiente demonstrou tendências de melhora e o nome de

Bezerra foi lembrado como o único capaz de unificar a família espírita. O

infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da

Federação Espirita Brasileira.

Iniciava- se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de

violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde

não mais se levantaria.

Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o

pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía.

Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do

grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades

financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse,

de forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas,

delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que

lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu- se por ver ali desde o tostão do

pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...

Desencarnou em 11 de abril de 1900. Ocorrida a sua desencarnação,

verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar- lhe a

última visita.

No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram- se alguns

amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor

maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma

comissão que funcionou sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador

da República, para se promover espetáculos e concertos, em benefício da

família daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro".

Sigmar Gama - [email protected] Página 80

Page 81: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes,

quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias

dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis

(antiga moeda brasileira), para pagamento das taxas da Faculdade e para

outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem

qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo.

Desesperado -- uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na

vida -- e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a

Deus.

Poucos dias após bateram- lhe à porta. Era um moço simpático e de

atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática.

Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais

detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando- se de sua

situação desesperadora, resolveu aceitar.

O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai,

pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas

adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço

entregou- lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a

hora para o início das aulas, o visitante despediu- se, deixando Bezerra

muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade.

Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o

rapaz nunca mais apareceu.

No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo

brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio,

resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação

Espírita Brasileira.

Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou-

se a seguinte conversação:

-- Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela

velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos

metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses

bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia.

Sigmar Gama - [email protected] Página 81

Page 82: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

-- O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado.

A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui

a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as

simpatias dos servos do Senhor.

-- De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando

exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica

que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e

recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata.

Isto aliás me tem criado sérias dificuldades, tornando- me um médico

inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos

Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão.

-- E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.

-- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos

médicos.

Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S.

Agostinho, deu um aparte:

-- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos

nossos irmãos.

-- Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?

-- Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do

teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou

nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo:

Trazendo- te, quando precisares, novos discípulos de Matemática . . .

BITTENCOURT SAMPAIOBITTENCOURT SAMPAIO

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, filho de um negociante português

do mesmo nome e de D. Maria de Santa Ana Leite Sampaio, nasceu em

Laranjeiras, localidade da então Província de Sergipe, no dia 1o. de

Fevereiro de 1834, e desencarnou no Rio de Janeiro a 10 de Outubro de

1895.

Foi jurisconsulto, magistrado, político, alto funcionário público, jornalista,

literato, renomado poeta lírico e excelente médium espírita.

Tendo principiado seus estudos de Direito na Faculdade do Recife,

continuou-os na Academia de São Paulo (atual Faculdade de Direito),

Sigmar Gama - [email protected] Página 82

Page 83: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

fazendo parte da turma de Bento Luis de Oliveira Lisboa, Manoel Alves de

Araújo, Eleutério da Silva Prado e outros nomes notáveis da política e da

jurisprudência brasileiras. Interrompeu, em 1856, o seu curso acadêmico

para acudir os conterrâneos enfermos, por ocasião da epidemia de cólera.

Por esses serviços, a que se entregou desinteressadamente, foi

condecorado pelo Governo Imperial com a Ordem da Rosa, que não

aceitou por incompatível com suas idéias políticas.

Bastante querido pelos seus colegas, colaborou na revista "O Guaianá"

(1856), dos estudantes de Direito, e em outras publicações literárias de

São Paulo, como em "A Legenda", nos "Ensinos Literários" do Ateneu

Paulistano, na "Revista Mensal do Ensaio Filosófico Paulistano", no

"Correio Paulistano", etc...

O ilustre jornalista, político e historiador professor Dr. Almeida Nogueira,

que o conheceu de perto, deixou-nos, em rápidas pinceladas, esta

descrição de sua figura: "Alto, louro, pálido, olhos azuis, encovados e

muito expressivos, cabelos crescidos e atirados para trás, descobrindo-lhe

a fronte iluminada pelo talento e pela inspiração. Fisionomia romântica e

extremamente simpática."

No "O Kalidoscópio", jornal acadêmico de 1860, publicação do Instituto

Acadêmico Paulista, um estudante, que se assinava Sandoval, assim

retratou Bittencourt Sampaio aos 26 de maio de 1860:

"Contam que Buffon não escrevia uma só das admiráveis páginas da

História dos Animais, sem que estivesse de casaca bordada, e chapéu de

pasta ao lado; O Sr. Bittencourt Sampaio não rima uma quadra sem que

tenha envergado sua casaca azul, de botões amarelos, e um boné a

mesma fazenda na cabeça. O Hino Ao Sol foi escrito assim, sob os

auspícios dos heróicos botões amarelos da casaca azul."

"Ele começa uma poesia: - se lhe falta um termo para completar um verso,

atira a pena, e vai passear. "Ainda não é tempo"- diz, muito senhor de si.

Ele já sabe o que lhe vai pelo espírito e pelo papel, quando a inspiração o

subjuga. Ao terminar a Ode à Liberdade, às seis horas da tarde, de 7 de

Setembro de 1857, tremia que nem vara verde. Se quiseram ouvi-la, foi

preciso que um dos amigos presentes lha arrebatassem das mãos."

Sigmar Gama - [email protected] Página 83

Page 84: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

"Era então bem restrito o número de seus íntimos. Destes só me lembra o

Sr. Tavares Bastos. Conversava-se sobre arte, discutiam-se as teorias dos

contrastes de Victor Hugo, bebia-se champagne, assentavam-se as bases

do futuro literário da Pátria, e fumava-se um cigarro de Campinas, no meio

de bons ditos e dos propósitos sisudos."

"Enquanto isto, as casuarinas sussurravam, e abriam aquelas boas noites,

que o poeta depois cantou num metro delicado, numa canção de

extasiar."

"E esses tempos não voltarão mais..."

"Às vezes some-se. Ninguém sabe dele. Em casa não está. O que anda

fazendo aquele doido? Perguntam os seus íntimos. Ora, o que anda

fazendo? Anda sonhando, conversando a Natureza, fazendo devaneios. E

tudo isso com tanta habilidade e paixão, como a George Sand fazia seus

doces ao forno, nas horas que não trabalhava em Lélia, ou na Indiana."

"Não visita a muita gente. Vai pouco ao espetáculo. Mas ama a

conversação, como ama as mulheres e as flores, e a poesia e a musica.

Toca violão, e canta lundus da Bahia: é uma das suas boas horas."

Declara Spencer Vampré que Bittencourt Sampaio se celebrizou na

Academia de Direito não pelos seus versos ingênuos e bucólicos, mas pelo

hino – "A Mocidade Acadêmica", "cujos acentos entusiásticos e arrojadas

hipérboles, não parecem condizer com um sereno e risonho contemplador

da Natureza." E continua Vampré: "Escreveu a musica, verdadeiramente

inspirada, do Hino Acadêmico, o gênio de Carlos Gomes, que assim legou

à mocidade do Brasil uma das suas mais emocionantes criações. Quem

quer que tenha percorrido, estudante, os sombrios corredores do velho

Convento de São Francisco, ouve, sempre, com redobrada emoção, as

estrofes cheias de fé, e a música cheia de arrancos heróicos, do Hino

Acadêmico."

Bacharelando-se em 1859, Bittencourt Sampaio exerceu a promotoria

publica em Itabaiana e Laranjeiras, em 1860-1861, trabalhando ainda

como inspetor do distrito literário na primeira dessas comarcas. Em março

de 1861, retirou-se da Província de Sergipe, vindo para a antiga Corte do

Rio de Janeiro, onde abriu banca de advogado, que freqüentou por muitos

anos.

Sigmar Gama - [email protected] Página 84

Page 85: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Por essa época, o jornalista, critico e ensaísta fluminense José Joaquim

Pessanha Povoa conheceu Bittencourt Sampaio na republica de Macedo

Soares, situada na Rua do Ouvidor, e onde se reuniam, por vezes, os

estudantes de Direito, entre eles Belisário S. de Souza, Melo Matos, G.

Pinto Moreira, afinal, "a boêmia literária daquele quarteirão latino". E eis

como Pessanha Povoa se refere ao primoroso artista de "Flores Silvestres":

"Sempre cheio de alegrias íntimas, simpático, traquinas como um colegial

em hora de recreio, de casaca azul de botões amarelos, chapéu branco,

luvas e calçado parisienses, ora em passeio pelos arrabaldes, ora nos

teatros ou em diversas reuniões de estudantes, era estimado e seu

coração justamente recompensado na lealdade com que servia aos seus

amigos".

E, mais adiante, lembrava ainda:

"Era a alegria da casa, o iniciador de divertimentos úteis, de saraus

literários e musicais. Não desperdiçava seus talentos no emprego de horas

consagradas à crápula dos lupanares, ao assassino regaço das camélias.

Nunca amesquinhou a sua individualidade, nem aviltou sua inteligência."

Na sessão fúnebre celebrada em 1858, em homenagem ao Dr. Gabriel

José Rodrigues dos Santos, lente catedrático da Academia de Direito,

profunda sensação apoderou-se de todo o auditório quando, ao assomar à

tribuna, Bittencourt Sampaio recitou comovente poesia, iniciada pelo

tocante quarteto:

 

    Morte! palavra que traduz mistério!

    Sombra nas trevas a vagar perdida!

    Pálido círio de clarões funéreo!

    Negro fantasma que se abraça à vida!

 

Esta quadra – diz-nos Armindo Guaraná – por muito tempo serviu de

epígrafe às noticias fúnebres e aos discursos necrológicos.

Militando na política, filiou-se ao Partido Liberal. Eleito, pela sua Província,

deputado à Assembléia Geral Legislativa, nas legislaturas de 1864-1866 e

1867-1870, foi, nesse último período, Presidente do Espírito Santo,

nomeado por carta imperial de 29 de setembro de 1867, cargo que

Sigmar Gama - [email protected] Página 85

Page 86: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

exerceu até 26 de abril de 1868, para voltar ao desempenho do mandato

legislativo na Corte.

Em 1870, abraçando as idéias republicanas, desligou-se do partido a que

pertencia e fez-se ardoroso propagandista da República. Nessa qualidade,

assinou, ao lado de Saldanha da Gama, Quintino Bocayuva e outros, o

célebre Manifesto de 3 de Dezembro de 1870, que tão larga repercussão

teve, tornando-se importantíssimo documento histórico. Como político,

colaborou ativamente em "A Reforma", órgão do Partido Liberal da Corte,

e em algumas folhas mais, entre elas "A Republica", da qual era um dos

redatores. Com Aristides Lobo, Alfredo Pinto, Pompílio de Albuquerque e

outros, foi um dos fundadores do Partido Republicano Federal, em 12 de

Janeiro de 1873.

Jornalista, não só era deputado pelo brilho de seus artigos, mas também,

grandemente respeitado pela elevação, sinceridade e firmeza com que

sustentava e defendia seus ideais políticos.

Proclamada a Republica, foi comissionado para inventariar todos os papéis

existentes na Câmara dos Deputados, cargo que deixou para exercer o de

redator dos debates na Assembléia Constituinte, em 1890. Foi o primeiro

administrador da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro a gozar do titulo

oficial de Diretor, já que até ao fim do Império os titulares a dirigiam como

"bibliotecários". Nomeado a 12 de Dezembro de 1889, empossou-se dois

dias depois, tendo exercido o cargo até 15 de Outubro de 1892.

Entre os poetas de sua geração, destacou-se tanto, que Silvio Romero

disse a seu respeito:

"Em Bittencourt Sampaio predomina o lirismo local, tradicionalista,

campesino, popular. Por este lado é um dos melhores poetas do Brasil; é

mais natural e espontâneo do que Dias carneiro, Trajano Galvão e Bruno

Seabra, e é mais elevado e artístico do que Juvenal Galeno. Rivaliza com

Joaquim Serra e Melo Moraes Filho."

Elogiando as verdadeiras jóias de "Flores Silvestres", Silvio Romero

salientou:

"Há nelas duas qualidades de composições: as de inspiração local e

sertaneja e as de inspiração mais geral. Numas e noutras os dotes

principais do poeta são - a melodia do verso, a graciosidade que o faz

Sigmar Gama - [email protected] Página 86

Page 87: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

primar em pequenos quadros, e certa nostalgia pelas cenas, pela vida

simples, fácil, descuidada das regiões sertanejas e campesinas."

No "Compêndio da História da Literatura Brasileira" (1906), de Silvio

Romero e João Ribeiro, de novo é enaltecida, nas paginas 221 a 223, a

obra poética de Bittencourt Sampaio.

Macedo Soares, por sua vez, num estudo crítico, lhe deu, entre os líricos

brasileiros, o primeiro lugar, logo depois de Gonçalves Dias.

Citemos algumas das principais obras, em prosa e verso, que lhe

granjearam tão elevada reputação como prosador e poeta em que desde

cedo se patenteara o "filósofo idealista": Harmonias Brasileiras – Poesias

de Bittencourt Sampaio, Macedo Soares e Salvador de Mendonça,

publicadas em São Paulo, 1859; Flores Silvestres; Lamartinianas (tradução

de poesias de Lamartine); Poemas da Escravidão (versos originais e

tradução de versos de Longfellow); A Bela Sara (tradução das "Orientais",

de Victor Hugo); A nau da liberdade (poema épico); Hiawatha (versos);

Cartas de Além Túmulo (publicadas no "Cruzeiro" e na "Gazeta da Tarde"

do Rio de Janeiro); Nossa Senhora da Piedade (legenda publicada no

"Monitor Católico"); Dicionário da Língua Indígena; além de inéditos.

Valentim Magalhães disse, a propósito dos "Poemas da Escravidão", que

Bittencourt Sampaio "foi um dos mais admiráveis talentos da nossa

literatura no período de transição; dir-se-ia que conhecia os segredos das

supremas tristezas humanas e foi o representante dedicado da escola

criada por Goeth, Byron...".

Reveladores de inteligência superior e invulgar, de uma cultura vastíssima

e de uma alma que já dos paramos espirituais descera enamorada dos

sublimados ideais que inspiram as grandes e imorredouras obras, os

trabalhos que vimos de mencionar, muitos deles, senão todos, dignos de

figurar nas seletas que os estudantes manuseiam nas escolas.

Entretanto, a relação acima não se acha completa, pois que um, deixamos

intencionalmente de incluir ali, para realçá-lo, porque, dentre todos, é o

que, ao nosso ver, mais avulta, não somente pelo fulgor inexcedível da

forma, como, sobretudo, pela "A Divina Epopéia de João Evangelista

originalidade do assunto cuja altitude imprime à obra valor inestimável.

Sigmar Gama - [email protected] Página 87

Page 88: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Aludimos à sua" (Rio de Janeiro, Tipografia Nacional, 1882), única, cremos,

no gênero, em todo o mundo.

Dos que compõem a presente geração de espíritas, poucos hão de ser,

provavelmente, os que saibam o que seja essa Divina Epopéia, cumprindo-

nos, portanto, dizer-lhe que é o quarto Evangelho, o de João, posto em

versos decassílabos, soltos, metro empregado sempre nas composições

épicas, por ser sem dúvida o que melhor lhes imprime a grandiosidade

que as deve caracterizar e que sobreleva na obra a que aludimos.

E não é tudo: essa composição poética ele a completou, escrevendo para

o volume uma segunda parte, em prosa, na qual o que em cada um dos

cantos se contém é explicado à luz da Revelação Espírita, precedidas tais

explicações de longa "Prefação", onde exuberantemente explanada se

acha a questão da divindade de Jesus.

Salientou Almeida Nogueira que, "quanto ao merecimento literário da

obra, foi objeto de justa admiração da crítica a felicidade com que o poeta

reproduziu em belos versos o texto quase literal da epopéia do discípulo

amado."

Armindo Guaraná, no seu "Dicionário Bio-Bibliográfico Sergipano",

escreveu que A Divina Epopéia "é talvez a melhor obra deste autor".

Colaborou em vários jornais e revistas de São Paulo e do Rio, havendo

nessas cidades ruas como o nome de Bittencourt Sampaio. Do Rio,

podemos citar, afora as publicações já relacionadas aqui, a "Revista

Popular", a "Revista Brasileira", "O Cruzeiro", a "Gazeta da Tarde", etc.

Por ocasião da visita de Bittencourt Sampaio a Ouro Preto (Minas Gerais),

em 1875, o grande poeta e romancista Bernardo Guimarães (1825-1884)

dedicou-lhe "Estrofes", poesia datada de Novembro de 1875, e que assim

se inicia (Poesias Completas de Bernardo Guimarães), organização,

introdução, cronologia e notas por Alphonsus de Guimaraens Filho, INL,

Rio, 1959,pp.328 a 340:

 

    "Eu te saúdo, ó cisne de outras margens,

    que o vôo teu abates.

    Por um momento nestas fundas vargens

    Ninho de ilustres vates,

Sigmar Gama - [email protected] Página 88

Page 89: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

    cujo canto até hoje inda inspira

    na viração, que pelos montes gira".

 

Não se sabe quando ele entrou para o Espiritismo, mas em 2 de Agosto de

1873 já fazia parte da Diretoria do "Grupo Confúcio", primeira sociedade

espírita surgida em terras cariocas. Lá desenvolveu sua mediunidade

receitista, curando muitos doentes com remédios homeopatas. Assinala

Almeida Nogueira que Bittencourt Sampaio foi atraído pelo Espiritismo

pelos fenômenos, assunto este que ele estudou profundamente, mas foi a

parte moral que mais impressionou o poeta-filósofo.

Funda, em 1876, a "Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e

Caridade", presidindo-lhe os trabalhos, nos quais era parte importante o

estudo dos Evangelhos à luz do Espiritismo.

Fundado, em 1880, o "Grupo Espírita Fraternidade", a ele Bittencourt

Sampaio também empresta sua valiosa colaboração.

O respeitável vulto do Espiritismo Cristão no Brasil, Dr. Antônio Luís Saião,

que se convertera graças à mediunidade curadora de Bittencourt

Sampaio, reúne então os médiuns da referida sociedade no "Grupo

Ismael", por ele criado e até hoje existente, e ali Bittencourt Sampaio se

constituiu num dos intermediários de belas e instrutivas mensagens de

Espíritos Superiores.

Quando do falecimento de José Bonifácio, o Moço, em 26-10-1886,

choraram a sua morte os mais belos talentos da época: Machado de Assis,

Valentim Magalhães e Bittencourt Sampaio, entre os poetas, Rui Barbosa,

entre os prosadores. Bittencourt escreveu esses versos de espírita:

 

    Sim! Ele entrou, de bênçãos radiante,

    Pelo portão de luz da eternidade,

    Qual águia, que, dos céus na imensidade,

    Livre revoa, tão de nós distante!

 

Declara o "Reformador" de 15 de Outubro de 1895, que Bittencourt "se

preparava para escrever a Divina Tragédia do Gólgota, quando, fruto

maduro, foi colhido pela mão do celeste jardineiro".

Sigmar Gama - [email protected] Página 89

Page 90: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Depois de sua desencarnação, o Espírito de Bittencourt Sampaio escreveu,

pelo médium Frederico Junior, as seguintes obras: "Jesus Perante a

Cristandade", "De Jesus para as Crianças", e "Do Calvário ao Apocalipse".

Tais, em ligeiro e imperfeito escorço, a personalidade humana e a

individualidade espiritual daquele que se chamou, entre nós, Francisco

Leite de Bittencourt Sampaio e que, desde quando volveu à vida de

Espírito livre, se constituiu, entre os eleitos do Senhor, guia indefeso,

protetor caridoso e clarividente orientador da Federação Espírita

Brasileira, que nunca deixou de lhe sentir o braço potente a ampará-la,

nos momentos difíceis ou graves, que bastas vezes tem ela atravessado,

no transcurso da sua existência de quase um século.

CAÍRBAR SCHUTELCAÍRBAR SCHUTEL

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, a 22 de setembro de 1868 e

desencarnado em Matão, Estado de S. Paulo, no dia 30 de janeiro de 1938.

No dealbar do século XX, quando eram ensaiados os primeiros passos no

grandioso programa de divulgação do Espiritismo, e quando a Doutrina

dos Espíritos era vista como uma novidade que vinha abalar os conceitos

até então prevalecentes sobre a imortalidade da alma e a

comunicabilidade dos Espíritos, dentre os pioneiros da época, surgiu um

vulto que se destacou de forma inusitada, fazendo com que a difusão da

nova Doutrina tivesse uma penetração até então desconhecida.

O nome desse seareiro era Caírbar de Souza Schutel, nome esse que se

impôs, em pouco tempo, ao respeito e consideração de todos. Ele jamais

esmoreceu no propósito de fazer com que a nova revelação, que vinha

fazer o mundo descortinar novos horizontes e prometia restaurar, na

Terra, as primícias dos ensinamentos legados por Jesus Cristo quase vinte

séculos antes, pudesse conquistar os corações dos homens, implantando-

se na face do nosso planeta como uma nova força cujo objetivo básico era

de extirpar o fantasma do materialismo avassalador.

Biografar um vulto dessa estirpe não é fácil tarefa, uma vez que as suas

atividades não conheciam limitações nem eram bitoladas por

conveniências de grupos ou de pessoas. Conseqüentemente, tudo aquilo

que se disser sobre Caírbar Schutel não passa de uma súmula muito

Sigmar Gama - [email protected] Página 90

Page 91: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

apagada de uma vida cheia de lutas, de percalços e sobretudo de ardente

idealismo.

Registraremos, entretanto, alguns dados biográficos desse insigne

batalhador espírita:

Caírbar de Souza Schutel, aos nove anos de idade, ficava orfão de pai e,

seis meses após, de mãe. Seu avô, Dr. Henrique Schutel, interessou- se

pela sua educação, matriculando- o no Colégio Nacional, depois Colégio D.

Pedro II, onde estudou durante dois anos.

Animado de novos propósitos, abandonou os estudos e a casa do avô,

passando a trabalhar como prático em farmácia, o que fez com que, aos

17 anos de idade já se tornasse respeitaável profissional desse ramo.

Nessa época abandonou a antiga Capital Federal e rumou para o Estado

de S. Paulo, onde se localizou primeiramente em Piracicaba e logo após

em Araraquara e Matão. Esta última cidade era então um lugarejo muito

singelo, com poucas casas e dependendo quase que exclusivamente do

comércio de Araraquara, a cujo município pertencia.

Nessa humilde cidade, Caírbar Schutel acalentou o propósito de servir à

coletividade, o que fez com que batalhasse arduamente para que Matão

subisse à categoria de Município. Conseguindo colimar esse desiderato, foi

eleito seu primeiro Prefeito.

Homem dotado de ilibado caráter, de ampla visão e de grande humildade,

conseguiu conquistar os corações de todos. Na política não enfrentava

obstáculos. Deve- se a ele a edificação do prédio da Câmara Municipal, o

que fez com seus próprios recursos financeiros.

A política, no entanto, não era o seu objetivo, por isso, tão logo ele teve a

sua Estrada de Damasco, representada pela sua conversão ao Espiritismo,

abandonou esse campo, passando a dedicar- se inteiramente à nova

Doutrina.

Conheceu o Espiritismo através de Manoel Pereira do Prado, mais

conhecido por Manoel Calixto, que na época era um dos poucos e o mais

destacado espírita do lugar. Embora não sendo profundo conhecedor dos

princípios básicos da Codificação Kardequiana, Manoel Calixto conseguiu

impressionar o futuro apóstolo, com uma mensagem mediúnica de

elevado cunho espiritual, recebida por seu intermédio.

Sigmar Gama - [email protected] Página 91

Page 92: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Em seguida a esse episódio, Caírbar integrou- se no conhecimento das

obras fundamentais da Doutrina Espírita e, tão logo se sentiu

compenetrado daquilo que ela ensina, fundou, no dia l5 de julho de 1904,

o primeiro núcleo espírita da cidade e da zona, denominando- o "Centro

Espírita Amantes da Pobreza".

Não satisfeito com essa arrojada realização, no mês de agosto de 1905,

lançou a primeira edição do jornal "O Clarim", órgão esse que vem

circulando desde então e que se constituiu, de direito e de fato, num dos

mais tradicionais e respeitáveis veículos da imprensa espírita.

Numa época quando pontificava verdadeira intolerância religiosa e

quando o Espiritismo e outras religiões sofriam o impacto da ação

exercida pela religião majoritária, Caírbar Schutel também teve o seu

Calvário: um sacerdote reacionário e profundamente intolerante, resolveu

promover gestões no sentido de fechar as portas do Centro Espírita,

usando como arma ardilosa uma campanha persistente no sentido de

fazer com que a farmácia de Caírbar fosse boicotada pelo povo.

Com o apoio do delegado de polícia, conseguiu deste a ordem para o

fechamento do Centro onde se difundia o Espiritismo. Caírbar Schutel, no

entanto, não era dos que se intimidam e, contra o padre e o delegado,

levantou a barreira da sua autoridade moral e da sua coragem. A ordem

do delegado não foi respeitada por atentar contra a letra da Constituição

Federal de 1891, e o valoroso espírita foi à praça pública protestar contra

tamanho desrespeito. O padre, não tolerando aquela manifestação

promovida por Caírbar, também promoveu uma passeata de desagravo.

Outros sacerdotes, nessa época, já estavam em Matão, apregoando a

necessidade de se manter o "herético" circunscrito, de nada se adquirirem

sua farmácia, e, sobretudo proibindo a todos a freqüência ao Centro

Espírita.

Em face da tremenda pressão exercida, Caírbar anunciou que falaria ao

povo em praça pública, refutando ponto por ponto todas as acusações

gratuitas que lhe eram atribuídas pelos sacerdotes. O delegado proibiu- o

de falar. Caírbar não acatou a proibição do delegado e, estribando- se na

Constituição, dirigiu- se para a praça pública, falando aos poucos que, não

temendo as represálias do padre, tiveram a coragem de lá comparecer.

Sigmar Gama - [email protected] Página 92

Page 93: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Este, por sua vez, expressou a idéia de que, se a liberalíssima Constituição

brasileira permitia esse direito a Caírbar, a Igreja de forma alguma

consentiria e, aliciando um grupo de homens fanatizados, marchou para a

praça pública, cantando hinos e cantorias fúnebres, portando, além disso,

vários tipos de armas. O objetivo da procissão noturna era de abafar a voz

do orador e atemorizar o povo.

Essa barulhenta manifestação provocou a repulsa de algumas pessoas

cultas da cidade, as quais, dirigindo- se à praça, pediram a aquiescência

do orador para, de público, manifestarem a desaprovação àquelas

manifestações e responsabilizando o padre pelas conseqüências danosas

daquele desrespeito à Carta Magna, afirmando que o orador tinha todo o

direito de falar e de se defender. Diante dessa reação, o padre ficou

assombrado e decidiu dispersar os acompanhantes, o que possibilitou a

Caírbar prosseguir na defesa dos seus direitos e dos seus ideais.

Caírbar sabia ser amigo até dos seus próprios inimigos. Sempre inspirava

simpatia e respeito. Sempre feliz no seu receituário, tornou- se, dentro em

pouco, o Médico dos Pobres e o Pai da Pobreza, de Matão. Além de

prescrever o medicamento, ele o dava gratuitamente aos necessitados.

Sua residência tomou- se um refúgio para os pobres da cidade. Muitas

pessoas eram socorridas pela sua generosidade. Muitos recebiam socorros

da mais variada espécie, em víveres, em roupas e sobretudo assistência

espiritual.

O sentimento de amor ao próximo teve nele incomparável paradigma.

Estava sempre solícito e pronto para socorrer um enfermo ou um

obsediado. Atos de renúncia e de desapego eram comuns em sua vida.

Sua residência chegou a ser transformada em hospital de emergência

para doentes mentais e obsediados. Em vista do crescente número de

enfermos, em 1912 alugou uma casa mais ampla, na qual tratava com

maiores recursos e com mais liberdade todos aqueles que apelavam para

a sua ajuda fraternal.

No dia 15 de fevereiro de 1925, lançou o primeiro número da "Revista

Internacional de Espiritismo", órgão que desde então vem circulando sem

solução de continuidade.

Sigmar Gama - [email protected] Página 93

Page 94: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Quando foi rasgada a Constituição ultra- liberal de 1891, Caírbar Schutel

foi à praça pública apoiando a Coligação Nacional Pró- Estado Leigo,

entidade fundada no Rio de Janeiro pelo Dr. Artur Lins de Vasconcelos

Lopes. Nesse propósito combateu sistematicamente a pretensão,

esposada por alguns grupos, de se introduzir o ensino religioso obrigatório

nas escolas. Certa vez programou uma reunião num cinema de cidade

vizinha para abordar esse tema. Na hora aprazada ali estavam apenas

alguns dos seus amigos, dentre eles José da Costa Filho e João Leão Pitta.

Caírbar não se perturbou. Mandou comprar meia dúzia de foguetes e

soltou- os à porta do cinema. Daí a 20 minutos o recinto estava repleto.

Foi pioneiro no lançamento de programa espírita pelo rádio, pois em 1936

inaugurou, pela PRD- 4 -- Rádio Cultura de Araraquara, uma série de

palestras que mais tarde publicou num volume de 206 páginas.

Como jornalista escreveu muito. Durante muito tempo manteve uma

secção de crônicas e reportagens no "Correio Paulistano" e na "Platéia",

antigos órgãos da imprensa leiga.

Sua bibliografia é bastante vasta, dela destacamos as seguintes obras:

"Espiritismo e Protestantismo", "Histeria e Fenômenos Psíquicos", "O Diabo

e a Igreja", "Médiuns e Mediunidade", "Gênese da Alma", "Materialismo e

Espiritismo", "Fatos Espíritas e as Forças X", "Parábolas e Ensinos de

Jesus", "O Espírito do Cristianismo", "A Vida no Outro Mundo", "Vida e Atos

dos Apóstolos", "Conferências Radiofônicas", "Cartas a Esmo" e

"Interpretação Sintética do Apocalipse".

Fundou também a Empresa Editora "O Clarim", que passou a editar livros

de outros autores.

Caírbar Schutel foi um homem de fé, orador convincente, trabalhador

infatigável, dinâmico, realizador e portador dos mais vivificantes exemplos

de virtude cristã.

CAMILLE FLAMMARIONCAMILLE FLAMMARION

Nascido em Montigny- Le-Roy, França, no dia 26 de fevereiro de 1842, e

desencarnado em Juvissy no mesmo país, a 4 de junho de 1925.

Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX.

Ele era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde

Sigmar Gama - [email protected] Página 94

Page 95: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

muito jovem se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava- se

constantemente que o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo

que planejava. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio

sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e

aritmética. Tornou- se o primeiro aluno da escola onde freqüentava.

Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram- no a aprender

latim com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento

e a Oratória. Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e

Bonsuet. O padre Mirbel falou da beleza da ciência e da grandeza da

Astronomia e mal sabia que um de seus auxiliares lhe bebia as palavras.

Esse auxiliar era Camille Flammarion, aquele que iria ilustrar a letra e a

significação galo- romana do seu nome -- Flammarion: "Aquele que leva a

luz".

Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: "a

salvação da alma", e os mestres falavam: "De que serve ao homem

conquistar o Universo se acaba perdendo a alma?".

Foi dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito de seu

pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo

de energia e trabalho, entretanto, essa situação levou- o a viver com

poucos recursos.

Camille, depois de muito procurar, encontrou serviço de aprendiz de

gravador, recebendo como parte do pagamento casa e comida. Comia

pouco e mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto; era áspero

o trabalho e o patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Pretendia

completar seus estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o

latim. Queria obter o bacharelado e por isso estudava sozinho à noite.

Deitava- se tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e

considerava- se feliz. Apesar de estudar à noite, trabalhava de 15 a 16

horas por dia. Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São

Roque, a qual freqüentava todas as quintas- feiras. Naturalmente tinha os

domingos livres e tratou de ocupá-los. Nesse dia assistia as conferências

feitas pelo abade sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as

associações dos alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles

Sigmar Gama - [email protected] Página 95

Page 96: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

aprendizes residentes nas vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências,

literatura e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.

Aos 16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a

qual, ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema "As

Maravilhas da Natureza". Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia

Universal", um livro de quinhentas páginas; o irmão, também muito seu

amigo, tomou- se livreiro e publicava- lhe os livros. A primeira obra que

escreveu foi "O Mundo antes da Aparição dos Homens", o que fez quando

tinha apenas 16 anos de idade. Gostava mais da Astronomia do que da

Geologia. Assim era sua vida: passar mal, estudar demais, trabalhar em

exagero.

Um domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio muito

providencial. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua

cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmologia Universal". Após ver

a obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu- lhe, então,

colocá-lo no Observatório, como aluno de Astronomia. Entrando para o

Observatório de Paris, do qual era diretor Levèrrier, muito sofreu com as

impertinências e perseguições desse diretor, que não podia conceber a

idéia de um rapazola acompanhá-lo em estudos de ordem tão

transcendental.

Retirando- se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais

liberdade os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais

belos ensinamentos sobre as regiões silenciosas do Infinito. Livre da

atmosfera sufocante do Observatório, publicou no mesmo ano a sua obra

"Pluralidade dos Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo

estudioso. Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano

de 1868, algumas ascensões aerostáticas.

Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia

Francesa, no ano de 1880, o prêmio Montyon. Em 1870 escreveu e

publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual

demonstrou que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da

gravidade às suas densidades respectivas. Tornando- se espírita convicto,

foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador

Sigmar Gama - [email protected] Página 96

Page 97: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do

Codificador do Espiritismo, a quem denominou "o bom senso encarnado".

Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da

pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: "Os Mundos

Imaginários e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na

Natureza", "Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre

Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do

Céu", "O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas

Mal- Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia",

"Estela", "O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas

Psíquicos", "O Fim do Mundo" e outras.

Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo enxertado

em sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte.

Flammarion--"poeta dos Céus", como o denominava Michelet -- tornou- se

baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções

inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador.

DIVALDO PEREIRA FRANCO DIVALDO PEREIRA FRANCO

DIVALDO PEREIRA FRANCO nasceu em 05 de Maio de 1.927, na cidade de

Feira de Santana, Bahia, Brasil.

Filho de Francisco Pereira Franco e Ana Alves Franco, falecidos.

Cursou a Escola Normal Rural de Feira de Santana, onde recebeu o

diploma de Professor Primário, em 1.943. Desde a infância que se

comunica com os espíritos.

Quando jovem, foi abalado pela morte de seus dois irmãos mais velhos, o

que o deixou traumatizado e enfermo, sendo conduzido a diversos

especialistas, na área da Medicina, sem contudo, lograr qualquer resultado

satisfatório.

Apareceu, então, em sua vida, D. Ana Ribeiro Borges, que o conduziu à

Doutrina Espírita, libertando-o do trauma e trazendo consolações, tanto

para ele como para toda a familia. Dedicou-se, então, ao estudo do

Espiritismo, ao tempo em que foi aprimorando suas faculdades

mediúnicas, pelo correto exercício e continuado estudo do Espiritismo.

Sigmar Gama - [email protected] Página 97

Page 98: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Transferiu residência para Salvador no ano de 1.945, tendo feito concurso

para o IPASE(Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do

Estado), onde ingressou a 05 de Dezembro de 1.945, como escriturário.

Espírita convicto, fundou o Centro Espírita"Caminho da Redenção", em 07

de Setembro de 1.947, que mantém, atualmente vários departamentos:

"Mansão do Caminho" – Lar de crianças carentes, fundado em 15.08.1952;

"A MANJEDOURA" - Creche para crianças de 02 meses até 03 anos de

idade;

Escola de 1º Grau "Jesus Cristo"(níveis I e II), fundada em Março de 1.950;

Escola "Allan Kardec", fundada em 1965. Escola de 1º Grau (Nível I);

Jardim de Infância "Esperança", fundado em Fevereiro de 1.971.

Atendendo crianças na faixa etária de 3 a 6 anos de idade em tempo

integral;

Escola de Datilografia "Joana de Ângelis";

Escola de Evangelização para crianças;

Juventude Espírita "Nina Arueira" - para formação moral-espírita de jovens;

Caravana "Auta de Souza" - Organização que ampara inúmeras famílias

irrecuperáveis socialmente;

Assistência "Lourdes Saad" - setor de distribuição diária de sopa e pão;

Casa da Cordialidade - Organização que ampara uma quantidade enorme

de famílias socialmente recuperáveis;

Abulatório Médico "J. Carneiro de Campos";

Gabinete Odontológico "J.J. Silva Xavier";

Laboratório de Análises Clinicas;

Sala de Fisioterapia;

Livraria Espírita "Alvorada" - Editora e Gráfica;

Diversas mensagens foram escritas pelo seu intermédio, sob a orientação

dos Benfeitores Espirituais, até que um dia, recebeu a recomendação para

que fosse queimado o que escrevera até ali, pois não passavam de

simples exercícios.

Com a continuação, vieram novas mensagens assinadas por diversos

Espíritos, dentre eles, Joana de Ângelis, que durante muito tempo

apresentava-se como "Um Espírito Amigo", ocultando-se no anonimato, à

espera do instante oportuno para se fazer conhecida.

Sigmar Gama - [email protected] Página 98

Page 99: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Joana revelou-se como sua Orientadora Espiritual, escrevendo inúmeras

mensagens, num estilo agradável, repassado de profunda sabedoria e

infinito amor, que conforta aos mais diversos leitores e necessitados de

diretriz espiritual.

Em 1.964, Joana de Ângelis selecionou várias das mensagens de sua

autoria e enfeixou-as num livro, que recebeu o sugestivo título de "Messe

de Amor". Foi o primeiro livro que o médium publicou. Logo em seguida,

Rabindranath Tagore ditou "Filigranas de Luz". E vários outros vieram a

lume, conforme listagem ao final da Biografia.

A seu respeito, foram escritos os seguintes livros:

"Divaldo, médium ou gênio?" - pelo jornalista Fernando Pinto;

"Moldando o Terceiro Milênio - Vida e obra de Divaldo Pereira Franco" -

pelo jornalista Fernando Worm;

"Viagens e entrevistas" - Obra organizada por Yvon ª Luz, relacionando

algumas viagens e entrevistas de Divaldo;

Divaldo, desde jovem, teve vontade de cuidar de crianças. Educou mais de

600 filhos, hoje emancipados, a maioria com família constituída e a

própria profissão, no magistério, contabilidade, serviços administrativos e

até medicina, tem 200 netos. Na década de 60 iniciou a construção de

escolas oficinas profissionalizantes e atendimento médico. Hoje a Mansão

do Caminho é um admirável complexo educacional que atende 3.000

crianças e jovens carentes, na Rua Jaime Vieira Lima, 01 – Pau de Lima,

um dos bairros periféricos mais carentes de 

Salvador; tem 83.000 m2 e 43 edificações. A obra é basicamente mantida

com a venda de livros mediúnicos e das fitas gravadas nas palestras.

Como Orador começou a fazer palestras em 1.947, difundindo a Doutrina

Espírita, codificada por Allan Kardec e hoje apresenta uma histórica e

recordista trajetória de orador no Brasil e no exterior, sempre atraindo

multidões, com sua palavra inspirada e esclarecedora, acerca de

diferentes temas sobre os problemas humanos e espirituais.

Há vários anos, viaja em média 230 dias por ano, realizando palestras e

Sigmar Gama - [email protected] Página 99

Page 100: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

também seminários no Brasil e no mundo.

Em levantamento preliminar, sua atuação é a seguinte:

BRASIL: Esteve em mais de 1.000 cidades, onde realizou mais de 8.000

palestras, concedeu mais de 970 entrevistas de rádio e TV, em cerca de

300 emissoras e retransmissoras, tendo recebido cerca de 200

homenagens da maioria dos Estados do País, possuindo 68 títulos de

cidadania honorária de vários estados e municípios brasileiros, concedidos

por unanimidade de votos. Já falou em várias Universidades e nos

principais teatros e auditórios do País.

AMÉRICAS: Esteve em 18 países, em mais de 119 cidades, onde realizou

mais de 1.000 palestras, concedeu mais de 180 entrevistas de rádio e TV

para cerca de 113 emissoras, inclusive por 3 vezes na Voz da América, a

maior cadeia de rádio do continente. Recebeu cerca de 50 homenagens de

vários países, destacando-se o honorífico título de Doctor Honoris Causa

em Humanidades, concedido pela Universidade de Concórdia em Montreal,

no Canadá, em 1.991. Por 3 vezes fez palestras na ONU, no departamento

de Washington e fez conferências em mais de 12 Universidades do

continente.

EUROPA: Esteve em mais de 20 países, em mais de 80 cidades, onde

realizou mais de 500 palestras, concedeu mais de 50 entrevistas de rádio

e TV para cerca de 40 emissoras, tendo recebido homenagens de vários

países; fez conferência em cerca de 10 Universidades européias e, por 2

vezes, na ONU, departamento de VIENA.

ÁFRICA: Esteve em mais de 5 países, em 25 cidades, realizando 150

palestras, concedeu mais de 12 entrevistas de rádio e TV, em 11

emissoras; recebeu 4 homenagens.

ÁSIA: Esteve em mais de 5 países, em 10 cidades, realizando mais de 12

palestras.

O médium Divaldo, desde jovem apresentou diversas faculdades

mediúnicas, de efeitos físicos e de efeitos intelectuais. Destaca-se a

psicografia, que representa um fenômeno editorial pois em 31 anos de

médium publicou 150 títulos, totalizando mais de quatro milhões e

quinhentos mil exemplares, onde se apresentam 211 Autores Espirituais,

muitos deles ocupando lugar de destaque na literatura, no pensamento e

Sigmar Gama - [email protected] Página 100

Page 101: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

na religiosidade universal; destas obras, houve 80 versões para 13

idiomas (alemão, castelhano, esperanto, francês, italiano, polonês, tcheco,

braille, etc....). Os livros possuem uma grande variedade de estudos

literários, como prosa, romances, narrações e etc., abrangendo temas

filosóficos, doutrinários, históricos, infantis, psicológicos e psiquiátricos.

EMANUEL VON SWEDENBORG EMANUEL VON SWEDENBORG

Swedenborg nasceu na Suíca e foi educado pela nobreza de sua pátria,

deslocando-se para Londres onde iniciou-se a sua "iluminação", porquanto

desde o dia de sua primeira visão até a sua morte, 27 anos após, esteve

ele em contínuo contato com o mundo espiritual de maneira ostensiva.

Naquela noite, diz ele, o mundo dos espíritos, do céu e do inferno abriu-se

convincentemente para mim e aí encontrei, muitas pessoas do meu

conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor

abria os olhos do meu espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se

passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com os

anjos e espíritos.

Swedenborg, considerado como precursor do Espiritismo, foi antes de tudo

um homem de gênio, cuja genialidade empolgada o fez perder-se em

algumas interpretações, naquilo que lhe era dito ou mostrado. Aceitava a

Bíblia como obra de Deus, com significação diferente de seu óbvio sentido

e que ele, só ele, ajudado pelos anjos seria capaz de transmitir aquele

verdadeiro sentido. Essa pretensão é intolerável e por causa dela a sua

obra tornou-se contraditória e nem sempre inteligível como simples e

compreensíveis são os ensinamentos dos missionários quando têm por

missão divulgar as leis divinas.

Swedenborg era certamente em sua época, o homem que mais

conhecimentos detinha em seu possante cérebro. Era um grande

engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro

militiar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos XII,

da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e em Astronomia, autor

de importantes trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das

Sigmar Gama - [email protected] Página 101

Page 102: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se

às conclusões de Adam Smith. Finalmente, era um profundo estudioso da

bíblia, procedimento este que lhe marcou de maneira negativa a obra

fenomenal que realizou no campo intelectual.

Em suas visões o médium falava de uma espécie de vapor que exalava

dos poros do seu corpo, que sendo aquoso e muito visível caía no solo

sobre o tapete. É uma perfeita descrição do ectoplasma utilizado nos

efeitos físicos. Em uma dessas visões Swedenborg descreveu um incêndio

em Estocolmo, a 300 milhas de distância, com perfeita exatidão. Estava

ele em um jantar acompanhado de 16 pessoas que serviram como

testemunhas do evento, investigado pelo grande filósofo Kant. A partir de

então ele teve o privilégio de examinar várias esferas do outro mundo e,

conquanto as suas idéias sobre teologia tivessem marcado as suas

descrições, por outro lado a sua imensa cultura lhe permitiu excepcional

poder de comparação e de observação.

Eis alguns fatos por ele observados em suas jornadas: verificou que o

outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas,

representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada

um de nós ir para aquela a que se adapta à nossa condição espiritual.

Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o

resultado é determinado pelo resultado global de nossa vida, de modo que

a absolvição ou o arrependimento no leito de morte têm pouco proveito.

Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste mundo eram

reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade.

Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam culto, auditórios

onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes.

A morte era suave, dada a presença de seres celestiais que ajudavam os

recém-chegados na sua nova existência. Esses recém-vindos passavam

imediatamente por um período de absoluto repouso. Reconquistavam a

consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem. Havia anjos e

demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram seres

Sigmar Gama - [email protected] Página 102

Page 103: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

humanos, que tinham vivido na terra e que ou eram almas retardatárias,

como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.

De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte:

sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito

do que quando na matéria. Leva consigo não só as suas forças, mas os

seus hábitos mentais adquiridos, as suas preocupações, os seus

preconceitos. Todas as crianças eram recebidas igualmente, fossem ou

não batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhes serviam de mães,

até que chegassem as mães verdadeiras.

Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam

trabalhar para a sua saída, desde que sentissem vontade. Os que se

achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por uma

posição mais elevada.

Havia casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde

um homem e uma mulher constituíam uma unidade completa. É de notar-

se que Swedenborg jamais se casou.

Não havia detalhes insignificantes para a sua observação no mundo

espeitual. Fala de arquitetura, do artesanato, das flores, dos frutos, dos

bordados, da arte, da música, da literatura, da ciência, das escolas dos

museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes. Nada lhe fugia a

observação, embora que algumas vezes tenha enxertado ao ensinamento

recebido as suas convicções pessoais amortecendo o brilho da revelação.

Todavia, Swedenborg foi o primeiro e, sob vários aspectos, um grande

médium, sujeitos aos erros e acertos decorrentes da mediunidade quando

não devidamewnte educada. Seu trabalho foi de imenso valor, no que

tange aos ensinos que seriam confirmados pelo Espiritismo, e pode-se

dizer que, pondo-se de lado a sua exegese bíblica, a sua obra foi um

marco, um porto seguro, no imenso oceano de superstições e fanatismo

em que viviam os homens de sua época.

Sigmar Gama - [email protected] Página 103

Page 104: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

EMMANUEL EMMANUEL

Emmanuel é o nome do espírito que vem tutelando a atividade mediúnica

de Franscisco Cândido Xavier, o maior médium psicógrafo de sempre, hoje

com mais de 350 obras psicografadas.

Ao tempo da passagem de Jesus pela Terra, chamou-se Públio Lentulus -

senador romano -, e, ao que se sabe, foi a única autoridade que efetuou

perfeito descrição Dele, através da célebre carta, publicada em numerosas

línguas, autêntica obra-prima do gênero pessoalmente, encontrou-O,

solicitando-Lhe auxílio para a cura de sua filha Flávia, que, supomos,

estaria leprosa desencarnou em Pompeia, no ano 79, vítima das lavas do

Vesúvio, encontrando-se na altura invisual anos depois, reencarnaria como

judeu na Grécia, em Éfeso, já não mais sob a toga de orgulhoso senador

romano, mas sim na estamenha de modesto escravo Nestório, que, na

idade madura, participava das reuniões secretas dos cristãos nas

catacumbas de Roma.

Podemos ficar com melhor conhecimento da história dessse espírito

através das suas obras: Há Dois Mil Anos e Cinquenta Anos Depois ,

transmitidas mediunicamente através de Chico Xavier. Estas obras

constituem verdadeiras obras primas de literatura mediúnica e histórica.

O dr. Elias Barbosa diz-nos que Emmanuel, o mentor espiritual que todos

respeitiamos, foi a personalidade de Manol da Nóbrega, renascido em 18

de Outubro de 1517, em Sanfins, Entre Douro e Minho, Portugal, quando

reinava D. Manuel I, o Venturoso . Inteligência privilegiada, ingressou na

Universidade de Salamanca, Espanha, aos 17 anos, e, com 21, inscreve-se

na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, frequentando

aulas de Direito Canónico e Filosofia a 14 de Junho de 1541, em plena

mocidade, recebe a láurea doutoral, sendo, então, considerado

doutíssiomo Padre Manoel da Nóbrega , pelo doutor Martim Azpilcueta

Navarro.

Mais tarde, a 25 de Janeiro de 1554, seria um dos principais fundadores da

grande metrópole São Paulo. Foi também o fundados da cidade de

Salvador, Bahia, a primeira capital do Brasil.

A informação de que Emmanuel teria sido o Padre Manoel da Nóbrega, foi

Sigmar Gama - [email protected] Página 104

Page 105: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

dada pelo próprio Emmanuel em várias comunicações através da

mediunidade idónea e segura de Francisco Cândido Xavier.

No início da actividade mediúnica de Chico, nos anos trinta, ainda sem se

identificar, disse-lhe que gostaria de trabalhar com ele durante longos

anos, mas que necessitaria de três condições básicas para o fazer: 1ª

disciplina, 2ª disciplina e 3ª disciplina. O que Chico cumpriu até hoje. Foi

um modesto funcionário público do Ministério da Agricultura que jamais

misturou a sua actividade profissional com o exercício da mediunidade.

Não poderemos deixar de registrar, sob pena de cometermos grave

omissão, que, durante as décadas que esteve ao serviço do Estado, nunca

- não obstante a sua precária saúde e o trabalho doutrinário, fora das

horas de serviço - deu uma única falta ou gozou qualquer tipo de licença,

conforme documentos facultados pelo M.A. Também no início da sua

nobre missão, Emmanuel disse-lhe que se alguma vez ele o aconselhar a

algo que não esteja de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, deverá

procurar esquecê-lo, permanecendo fiel a Jesus e Kardec.

Emmanuel fez também parte da falange do Espírito da Verdade que

trouxe à Terra o Cristianismo restaurado, definição sua da Doutrina

Espírita. No Evangelho Segundo o Espiritismo , Allan Kardec inseriu uma

mensagem de Emmanuel, recebida em Paris, 1861, intitulada O Egoísmo

(Cap. XI - 11)

Para além dos dois livros históricos citados, temos ainda várias dezenas de

outros, dos quais destacamos: Paulo e Estevão , obra que, segundo

Herculano Pires, justificaria, por si só, a missão mediúnica de Francisco

Cândido Xavier Ave, Cristo e Renúncia , livros estes que, juntamente com

os citados anteriormente, ajudam-nos a entender o nascimento do

Cristianismo e, depois, à sua gradual adulteração este cinco livros são

baseados em factos históricos verdadeiros. Foi considerado o 5º

evangelista, pela superior interpretação do pensamento de Jesus

analisemos os seus livros: Caminho, Verdade e Vida , Pão Nosso , Vinha de

Luz e Fonte Viva .

Visto ser completamente impossível, num trabalho deste gênero, falar de

toda a sua obra transmitida através de Chico Xavier, gostaríamos, no

entanto, de registrar os livros: A Caminho da Luz , que nos relata uma

Sigmar Gama - [email protected] Página 105

Page 106: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

História da Civilização à Luz do Espiritismo e Emmanuel , livro constituído

por diversas dissertações importantes sobre Ciência, Religião e Filosofia,

que preocupam a Humanidade.

ERMANCE DUFAUXERMANCE DUFAUX

Ermance De La Jonchére Dufaux nasceu em 1841, na cidade de

Fontainebleau, França. Próxima a Paris, abrigava a residência oficial de

Napoleão III e de outros nobres. O pai de Ermance, rico produtor de vinho

e trigo, era um deles. Tradicional, a família Dufaux residia num castelo

medieval, herança de seus antepassados.

Em 1853, a filha dos Dufaux começou a apresentar inquietante

desequilíbrio nervoso e a fazer premonições. Por causa desse problema,

seu pai procurou o célebre médico Cléver De Maldigny.

Pelo relato do Sr. Dufaux, o médico disse que Ermance parecia estar

sofrendo de um novo distúrbio nervoso, que havia feito diversas vítimas

na América e que, agora, estava chegando à Europa. As vítimas da doença

entravam numa espécie de transe histérico e começavam a receber

hipotéticas mensagens do Além.

O médico aconselhou o Sr. Dufaux a trazer Ermance a seu consultório, o

mais rápido possível. Assim foi feito. Alguns dias depois, a mocinha

comparecia à consulta.

Maldigny colocou um lápis na mão da menina e pediu que ela escrevesse

o que lhe fosse impulsionado. Ermance começou a rir, gracejando, mas, de

súbito, seu braço tomou vida própria e começou a escrever sozinho. Ao

ver-se dominada por uma força estranha, Ermance assustou-se, largou o

lápis e não quis continuar a experiência.

Maldigny examinou o papel e confirmou seu diagnóstico. Os pais de

Ermance ficaram extremamente preocupados. Como a família era famosa

na corte, a notícia logo se espalhou em Paris e Fontainebleau, chegando

aos ouvidos do Marquês de Mirvile, famoso estudioso do Magnetismo.

Sigmar Gama - [email protected] Página 106

Page 107: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

O Marquês visitou o castelo dos Dufaux e pediu para examinar Ermance.

Os pais aquiesceram, mas a mocinha teve que ser convencida. Por fim,

Ermance colocou-se em posição de escrever e Mirvile perguntou ao

invisível:

- Está presente o Espírito em que penso? Em caso positivo, queira

escrever seu nome por intermédio da garota.

A mão de Ermance começou a se mover e escreveu:

- Não, mas um de seus parentes remotos.

- Pode escrever seu nome?

- Prefiro que meu nome venha diretamente à sua cabeça. Pense um

instante.

- São Luís, rei de França (1), primo do primeiro nobre de minha família?

- Sim, eu mesmo.

- Vossa Majestade pode dar-me um prova de que é realmente o nosso

grande rei?

- Ninguém nesta casa sabe que você e seus parentes me consideram o

Anjo da Guarda da família.

Se Maligny via o caso de Ermance como doença, o Marquês também tinha

suas explicações preconcebidas. Na sua opinião, ela apenas captava as

idéias e pensamentos presentes no ambiente. Isso na melhor das

hipóteses. Na pior, a jovem estava sendo intérprete do Diabo, pois, como

católico, ele não acreditava que os mortos pudessem se comunicar. Uma

análise conclusiva deveria ser feita pela Academia de Ciências de Paris.

O Sr. Dufaux, no entanto, não levou o caso adiante. Embora também fosse

católico, ele preferiu acreditar que sua filha não era doente ou possessa,

mas apenas uma intermediária entre os vivos e os mortos. A família foi se

acostumando com o fato e a faculdade de Ermance passou a ser vista

como uma coisa natural e positiva.

Os contatos com São Luís passaram a ser frequentes. Sob seu influxo, ela

escreveu a autobiografia póstuma do rei canonizado, intitulada "A história

de Luís IX, ditada por ele mesmo". Em 1854, esse texto foi publicado em

livro, mas a Censura do Governo de Napoleão III proibiu a sua distribuição.

Sigmar Gama - [email protected] Página 107

Page 108: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Os censores acharam que algumas passagens podiam ser entendidas

como críticas ao Imperador e à Igreja.

O posicionamento favorável dos Dufaux ao neo-espiritualismo

(spiritualisme) gerou retaliações. Numa confissão, Ermance recusou-se a

negar sua crença nos Espíritos, atribuindo suas mensagens a Satanás, e

foi proibida de comungar. A Imperatriz também esfriou seu

relacionamento com a família. No entanto, o Imperador Napoleão III ficou

curioso e pediu para conhecer a Srta. Dufaux.

Ela foi recepcionada no Palácio de Fontainebleau e recebeu uma

mensagem de Napoleão Bonaparte para o sobrinho. A mensagem

respondia a uma pergunta mental de Luís Napoleão e seu estilo

correspondia exatamente ao de Bonaparte.

Com o tempo, os Espíritos também começaram a falar por Ermance. Em

1855, com 14 anos, Ermance publica seu segundo livro "spiritualiste" (na

época, não existiam os termos espírita, mediunidade, etc). O primeiro a

ser distribuído e vendido: "A história de Joana D'Arc, ditada por ela

mesma" (Editora Meluu, Paris).

Segundo Canuto Abreu, a família Dufaux conheceu Allan Kardec na noite

do dia 18 de abril de 1857. O Codificador teria dado uma pequena

recepção em seu apartamento e os Dufaux foram levados por Madame

Planemaison, grande amiga do professor lionês.

No final da reunião, Ermance recebeu uma belíssima mensagem de São

Luís, que, a partir dali, tornaria-se uma espécie de supervisor espiritual

dos trabalhos do Mestre. Segundo o ex-rei, Ermance, assim como Kardec,

era uma druidesa reencarnada. Os laços entre os dois se estreitaram e ela

se tornou a principal médium das reuniões domésticas do Prof. Rivail.

No final de 1857, Kardec teve a idéia de publicar um periódico espírita e

quis ouvir a opinião dos guias espirituais. Ermance foi a médium escolhida

e, através dela, um Espírito deu várias e ótimas orientações ao Mestre de

Lion. O órgão ganhou o nome de "Revista Espírita" e foi lançado em

Sigmar Gama - [email protected] Página 108

Page 109: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Janeiro do ano seguinte.

Como o apartamento de Allan Kardec ficou pequeno para o grande

número de frequentadores da sua reunião, alguns dos participantes

decidiram alugar um local maior.

Para isso, porém, precisavam de uma autorização legal. O Sr. Dufaux

encarregou-se de obter o aval das autoridades, conseguindo em quinze

dias o que, normalmente, levaria três meses. Conquistada a liberação, o

Codificador e seus discípulos fundaram a Sociedade Parisiense de Estudos

Espíritas, em Abril de 1858. Ermance foi uma das sócias fundadoras.

Durante o ano de 1858, Ermance recebeu mais duas autobiografias

mediúnicas. Desta vez, os autores foram os reis franceses Luís XI e Carlos

VIII. O Codificador elogiou o trabalho da Srta. Dufaux (2) e transcreveu

trechos das "Confissões de Luís XI" na Revista Espírita(3). Nesse mesmo

ano, Kardec divulgou três mensagens psicografadas pela jovem sensitiva

(4). Não temos notícia sobre a possível publicação das memórias de Carlos

VIII.

Canuto Abreu revelou que Rivail a utilizou como médium na revisão da 2ª

edição de O Livro dos Espíritos.

Em 1859, Ermance não é mais citada como membro da SPEE nas páginas

do mensário kardeciano. Isso leva-nos a crer que ela teria saído da

Sociedade. Outro indício dessa suposição é que São Luís passou a se

comunicar através de outros sensitivos (Sr. Rose, Sr. Collin, Sra. Costel e

Srta. Huet). Não há, igualmente, registros da continuidade do seu trabalho

em outros grupos.

O que teria acontecido com Ermance? Teria casado e deixado a militância,

como Ruth Japhet e as meninas Baudin? Teria se desentendido com

Kardec? Teria mudado da França? Teria desanimado com o Espiritismo?

São perguntas que só ela poderia responder. Seja como for, o Codificador

continuou a divulgar seu trabalho. Em 1860, ele noticiou a reedição de "A

história de Joana D'Arc ditada por ela mesma", pela Livraria Lendoyen de

Paris.

Sigmar Gama - [email protected] Página 109

Page 110: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Em 1861, enviou vários exemplares desse livro, junto com suas obras,

para o editor francês Maurice Lachâtre, que se encontrava exilado em

Barcelona, Espanha. O objetivo era a divulgação do Espiritismo em solo

espanhol. Esses volumes acabaram confiscados e queimados em praça

pública pela Igreja

Católica no famoso Auto-de-fé de Barcelona.

"A história de Luís IX ditada por ele mesmo", foi liberada pela Censura e

finalmente publicada pela revista La Verité de Paris em 1864. No início de

1997, a editora brasileira Edições LFU traduziu "A história de Joana D'Arc"

para o português.

NOTAS: (1) Rei francês, filho de Luís VIII e Branca de Castela, nascido em

1215, coroado em 1226 e morto em 1270. Luís IX teve um reinado

bastante conturbado. Até 1236 enfrentou a Revolta dos Vassalos e a

Guerra dos Albigenses. Venceu duas batalhas contra os ingleses em 1242.

Em 1249, organizou uma Cruzada, foi vencido e aprisionado. Resgatado,

ficou na Palestina até 1252, quando voltou à França. Empreendeu mais

uma Cruzada e morreu de peste ao desembarcar em Tunis. Foi canonizado

pela Igreja em 1297.

(2) Página 30 do Volume 1858, EDICEL.

(3) Páginas 73, 148 e 175, ibidem.

(4) Páginas 137, 167 e 317, ibidem.

BIBLIOGRAFIA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS E SUA TRADIÇÃO HISTÓRICA E

LENDÁRIA, Silvino Canuto Abreu, Edições LFU, São Paulo, 1992.

- OBRAS PÓSTUMAS, Allan Kardec, FEB, Rio de Janeiro, 1993.

- COLEÇÃO DA REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec, EDICEL, São Paulo.

EURÍPEDES BARSANULFOEURÍPEDES BARSANULFO

Nascido em 1º de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento,

Estado de Minas Gerais, e desencarnado na mesmo cidade, aos 38 anos

de idade, em 1o. de novembro de 1918.

Logo cedo manifestou- se nele profunda inteligência e senso de

responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de

vidas pretéritas.

Sigmar Gama - [email protected] Página 110

Page 111: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o

ensino, por isso foi incumbido pelo seu mestre- escola de ensinar aos

próprios companheiros de aula. Respeitável representante político de sua

comunidade, tornou- se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula,

tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gazeta de

Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu- se guindado à posição

natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores

da vida.

Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou

conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da

Codificação Kardequiana. Diante dos fatos voltou totalmente suas

atividades para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e

maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas.

Despertado e convicto, converteu- se sem delongas e sem

esmorecimentos, identificando-se plenamente com os novos ideais, numa

atitude sincera e própria de sua personalidade, procurou o vigário da

Igreja matriz onde prestava sua colaboração, colocando à disposição do

mesmo o cargo de secretário da Irmandade.

Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da

cidade e entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou

a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida.

Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo,

provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos

pais dos alunos, que chegaram a oferecer- lhe dinheiro para que voltasse

atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados

um a um.

Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu

forte traumatismo, retirando- se para tratamento e recuperação em uma

cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades

mediúnicas, em especial a de cura, despertando- o para a vida

missionária. Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua

própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus

trabalhos.

Sigmar Gama - [email protected] Página 111

Page 112: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para

Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando- se nos

hotéis e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos

Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o

lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da

cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais.

Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse

necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições

materiais.

Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de

percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a

necessidade de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus

seguidores. Para isso fundou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no

ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns

amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo

doutrinário, como nas atividades de assistência social.

Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma

aula. Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo

após a I Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata

da reunião quando foi assinado o célebre tratado.

Em 1o. de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou

verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a

ser conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde

a sua inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de

outubro, quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo,

devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.

Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem- se as inscrições para

matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de

alunos, obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da

Ordem de S. Francisco, a encerrar suas atividades por falta de

freqüentadores.

Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia- se o movimento

espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico,

passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente,

Sigmar Gama - [email protected] Página 112

Page 113: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

a desenvolver uma campanha difamatória envolvendo o digno missionário

e a doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por

Eurípedes, através das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo

principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com

argumentação abalizada e incontestável, determinando fragorosa derrota

dos seus opositores que, diante de um gigante que não conhecia

esmorecimento na luta, mandaram vir de Campinas, Estado de S. Paulo, o

reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos,

convencidos de que com suas argumentações e convicções infringiriam o

golpe derradeiro no Espiritismo.

Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em

praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo

conhecido apóstolo do bem.

No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo

e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das

penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim

testemunho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intolerância e

de sectarismo.

A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor

do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade

dos seus argumentos vazios e inconsistentes.

O missionário sublime, aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando

sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e

tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício

para inspiração e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defesa

dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos.

Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou

os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo- o

à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela

manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou

naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados

pelo Espiritismo.

Sigmar Gama - [email protected] Página 113

Page 114: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do

Reverendo, Eurípedes aproximou- se dele e abraçou- o fraterna e

sinceramente, como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes.

Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último

instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe

que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e

aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito

antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da

situação que ela acarretaria.

Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus

enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao

término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido,

desencarnou no dia 1o. de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de

parentes, amigos e discípulos.

Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou- lhe o corpo

material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais

elevada e mais sublime.

EUSÁPIA PALADINO EUSÁPIA PALADINO

 

Eusápia Paladino foi a primeira médium de efeitos físicos a ser submetida

a experiências pelos cientistas da época, tais como César Lombroso,

Alexandre Aksakof, Charles Richet e muitos outros.

Nasceu em Nápoles, Itália, em 31 de janeiro de 1854, e desencarnou em

1918, com a idade de sessenta e quatro anos.

Sua mãe morrera quando ela nasceu e o pai quando ela alcançou a idade

de doze anos.

As primeiras manifestações de sua mediunidade consistiram no

movimento e levitação de objetos, quando ainda muito jovem, pois

contava apenas quatorze anos.

Esses fenômenos eram espontâneos e se verificavam na casa de um

amigo com quem ela morava.

Somente aos vinte e três anos é que, graças a um espírita convicto, Signor

Damiani, ela conheceu o Espiritismo.

Sigmar Gama - [email protected] Página 114

Page 115: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Por volta do ano 1888 é que Eusápia tornou-se conhecida no mundo

científico em virtude de uma carta do Prof. Ércole Chiaia enviada ao

criminalista César Lombroso, relatando detalhadamente as experiências já

realizadas por ele com a médium, carta essa publicada no jornal "Il

Fanfulla dela Domênica".

Entre outras coisas, dizia o missivista: "A doente é uma mulherzinha de

modestíssima condição social, com cerca de trinta anos, robusta, iletrada

e cujo passado, porque vulgaríssimo, não merece esquadrinhado; que

nada apresenta de notável, a não ser as pupilas de fascinante brilho e

essa potencialidade, que os criminalistas diriam irresistível."

Em outro trecho da carta , dizia: "Quando quiserdes, essa mulherzinha

será capaz de, encerrada numa sala, divertir durante horas, por meio de

surpreendentes fenômenos, todo um grupo de curiosos mais ou menos

céticos, ou mais ou menos acomodatícios".

Através dessa carta, convidava, também, o célebre alienista, a investigar,

diretamente, os fenômenos por ele constatados na médium.

Três anos mais tarde, em 1891, Lombroso aceitou o convite, realizando,

com Eusápia, uma série de sessões.

Esses trabalhos foram seguidos pela Comissão de Milão, integrada pelos

professores Schiaparelli, diretor do Observatório de Milão; Gerosa,

Catedrático de física; Ermacora, Doutor em Filosofia, de Munique, e o prof.

Charles Richet, da Universidade de Paris.

Além dessas sessões, muitas outras foram realizadas, com a presença de

homens de ciência, não só da Europa, como também da América.

Lombroso, diante da evidência dos fatos, converteu-se ao Espiritismo,

tendo declarado: "Estou cheio de confusão e lamento haver combatido,

com tanta persistência, a possibilidade dos fatos chamados espíritas."

A conversão de Lombroso deveu-se também ao fato de o Espírito de sua

mãe haver-se materializado em uma das sessões realizadas com Eusápia.

Antes de encerrarmos esta ligeira exposição sobre a preciosa mediunidade

de Eusápia Paladino, convém citarmos um trecho do relatório apresentado

pela Comissão de Milão que diz: "É impossível dizer o número de vezes

que uma mão apareceu e foi tocada por um de nós.

Basta dizer que a dúvida já não era possível.

Sigmar Gama - [email protected] Página 115

Page 116: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

Realmente, era uma mão viva que víamos e tocávamos, enquanto, ao

mesmo tempo, o busto e os braços da médium estavam visíveis e suas

mãos eram seguras pelos que achavam a seu lado."

Como se vê, a Comissão que ofereceu este relatório era constituída por

homens de ciência, o que não deixa dúvida quanto à veracidade dos

fenômenos por eles constatados.

O prof. Charles Richet, em 1894, também realizou várias sessões

experimentais em sua própria casa, obtendo levitações parciais e

completas da mesa, além de outros fenômenos de efeitos físicos.

Sir Oliver Lodge, prof. de Filosofia Natural do Colégio de Bedford,

Catedrático de Física da Universidade de Liverpool, Reitor da Universidade

de Birmingham, e que foi, também, por longos anos, presidente da

Associação Britânica de Cientistas, após as experiências realizadas com

Eusápia, apresentou um relatório à Sociedade de Pesquisas da Inglaterra,

dizendo, entre outras coisas, o seguinte: "qualquer pessoa, sem invencível

preconceito, que tenha tido a mesma experiência, terá chegado à mesma

larga conclusão, isto é, que atualmente acontecem coisas consideradas

impossíveis... O resultado de minha experiência é convencer-me de que

certos fenômenos geralmente considerados anormais, pertencem à ordem

natural e, como um corolário disto, que esses fenômenos devem ser

investigados e verificados por pessoas e sociedades interessadas no

conhecimento da natureza".

Eis aí, em linhas gerais, o que foi a excepcional mediuni-dade de Eusápia

Paladino, figura de destaque na história do Espiritismo, que veio à Terra

para cumprir a sublime missão de demonstrar a sobrevivência do Espírito,

após a desencarnação.

Fonte: ABC do Espiritismo de Victor Ribas Carneiro.

FLORENCE COOKEFLORENCE COOKE

Os primeiros pormenores da vida de Florence são fornecidos por ela

própria, em carta dirigida a Mr. Harrison em maio de 1872.

Diz a carta: "Tenho 16 anos de idade. Desde a minha infância vejo os

espíritos e ouço-os falar. Tinha o costume de sentar-me a sós e conversar

com eles. Eles me cercavam e eu os tomava por pessoas vivas. Como

Sigmar Gama - [email protected] Página 116

Page 117: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

ninguém os via nem ouvia, meus pais procuraram inculcar em mim a idéia

de que tudo era produto de minha imaginação.

Todavia não conseguiram modificar o meu modo de pensar a respeito do

assunto e foi assim que passei a ser considerada como uma menina

excêntrica. Na primavera de 1870 fui convidada a visitar uma amiga de

colégio.

Ela me perguntou se eu já ouvira falar de Espiritismo, acrescentado que

seus pais e ela se reuniam em torno de uma mesa. Nessa situação

obtinham certos movimentos; disse que, se eu consentisse, ainda naquela

tarde ensaiariam uma experiência comigo".

Miss Cook pediu permissão a sua mãe e, em seguida, realizaram a

primeira sessão, obtendo-se a comunicação de um espírito que se dizia ter

sido a sua tia.

Mais tarde, quando a jovem ficou em pé junto a mesa, esta se ergueu a

uma altura de 4 pés.

Miss Cook dá continuidade ao seu relato: "Na segunda sessão os espíritos

nos deram provas de identidade, mas não chegamos a ficar de todo

convencidas. Por fim, recebemos por tiptologia, uma comunicação

orientando-nos para que deixássemos o aposento em penumbra.

Eles me ergueriam e dariam comigo volta à sala. Não consegui conter o

riso. Aquilo não era possível.

Entretanto, decidiu-se apagar a luz. Apesar disso, a claridade que entrava

pela janela não deixou a sala inteiramente às escuras.

De imediato senti que alguém me tirava da cadeira, e, no instante

seguinte, fui erguida até o teto, fato que todas as pessoas presentes na

sala puderam ver.

Sob meu espanto, transportaram-me sobre as cabeças dos assistentes,

até que fui posta sobre uma mesa existente no extremo da sala. Minha

mãe indagou se podíamos obter esse fenômeno.

A mesa respondeu que sim, visto que eu era médium. Reunimo-nos em

nossa casa. Os espíritos quebraram a nossa mesa e duas cadeiras,

fazendo ainda outros estragos.

Em vista disso, resolvemos que, de modo algum tornaríamos a realizar

sessões. Então os espíritos começaram a nos atormentar, atirando sobre

Sigmar Gama - [email protected] Página 117

Page 118: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

mim livros e outros objetos; as cadeiras passeavam sozinhas pela sala, a

mesa se erguia violentamente, enquanto fazíamos as refeições, e fortes

ruídos eram ouvidos durante a noite, fazendo-nos estremecer de medo.

Por fim nos vimos obrigadas a nos reunirmos em torno da mesa e a tentar

um diálogo com eles. Os espíritos disseram que fôssemos a Navarino

Street, 74" onde existia uma sociedade espírita.

O endereço estava certo. Lá encontramos Mr. Thomas Blyton que nos

convidou a assistir a uma sessão onde entrei em transe e, por

incorporação, uma entidade disse aos meus pais que, se contássemos

com o auxílio de Mr. Herne e Mr. Williams, obteríamos comunicações de

valor.

Reunimo-nos várias vezes e, finalmente, obtivemos os fenômenos

prometidos. O espírito que dirigiu a sessão disse chamar-se Katie King".

No dia 21 de abril de 1872, em sessão organizada para estudos de sua

mediunidade, conforme ata publicada no "The Spiritualist", ouviu-se um

bater de vidros da janela sem que ninguém descobrisse a causa.

Então ouviu-se a voz de um espírito que disse: "Mr. Cook, é preciso que

façais desobstruir o canal da calha, se desejais evitar que os alicerces da

casa sofram".

Surpresos, os presentes procederam a exame imediato, havendo a

confirmação do que fora dito.

No dia seguinte, em outra sessão, o espírito Katie King se materializou

parcialmente pela primeira vez.

Katie mostrou-se na abertura da cortina e falou durante alguns minutos,

ocasião em que os presentes puderam acompanhar o movimento de seus

lábios.

Florence Cook foi a primeira médium entre os médiuns ingleses a obter

materializações integrais em plena luz.

Com o avanço das experiências, Florence, que antes, nas materializações

parciais permanecia consciente, passou a cair em transe à medida que

Katie King ia adquirindo domínio da situação e conseguindo-se mostrar

mais perfeitamente.

Seu rosto a princípio dava a impressão de ser oco por trás.

Sigmar Gama - [email protected] Página 118

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Mais tarde preencheu-se, os crepes ectoplásmicos se tornaram menos

abundantes e, um ano depois, ela já conseguia caminhar do lado de fora

da cabine.

Quando lhe pediram para se deixar fotografar à luz de flashes, observou-

se que a sua semelhança com Florence era muito grande.

Era um problema, e, para provar que era um ser distinto de Miss. Cook, ela

alterou a cor de sua face para tons de chocolate e azeviche.

Em uma experiência feita logo em seguida, a médium foi amarrada

apertadamente pelos assistentes no interior do gabinete.

Depois foi observada toda uma gradação de diferenças entre ela e a

médium.

Estava reservado a Sir William Crookes fornecer as provas definitivas de

que Katie King tinha uma existência à parte da de Miss Cook.

É preciso consignar que foi a própria Florence quem procurou o professor

Crookes a fim de solicitar-lhe que investigasse a sua mediunidade.

Eis como ela narra o episódio: Fui à casa de Mr. Crookes sem dizer nada

aos meus pais nem aos meus amigos. Ofereci-me como um sacrifício

voluntário perante a sua incredulidade. Pouco antes se dera o

desagradável incidente com Mr. Volckman.

Os que não conheciam o fenômeno dirigiam palavras cruéis contra mim.

Mr. Crookes fizera um comentário que me atormentava e foi por isso que

me decidi a ir procurá-lo.

Ele me recebeu e eu lhe disse:

- Já que acreditais que sou uma impostora, se quiserdes virei submeter-me

a experiências em vossa própria casa.

Vossa esposa poder vestir-me como quiserdes e deixarei convosco o que

tiver trazido.

Podereis vigiar-me como vos aprouver; submeter-me-ei às experiências

que desejardes, de modo que vos contenteis em todos os sentidos.

Só imponho uma condição: se verificardes que sou agente de uma

mistificação, denunciai-me publicamente; mas se vos certificardes de que

os fenômenos são reais e de que eu mais não sou que o instrumento de

forças invisíveis, isso direis ao público de modo que todo o mundo tome

conhecimento da verdade.

Sigmar Gama - [email protected] Página 119

Page 120: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

William Crookes aceitou o repto, disso resultando um dos mais

tumultuosos e dramáticos episódios da História do Espiritismo.

Após da despedida do espírito Katie King, a mediunidade de Miss Florence

foi utilizada por outra entidade que dizia chamar-se Marie, a qual, por

mostrar-se cantando e dançando, foi denominada Marie, a dançarina.

Em 1899, atendendo a um convite da Sphiny Society, de Berlim, Miss Cook

já então Mrs. Corner pelo casamento, assentiu em realizar algumas

sessões, nas quais Marie se materializou e produziu fenômenos

sensacionais.

Por essa altura Florence já se havia casado, em 1874, com um cavalheiro

chamado Elgie Corner e vivia em Usk, no País de Gales, onde teve vários

filhos.

Em 1904, William Crookes recebeu uma carta, datada de 24 de abril, na

qual era-lhe comunicado o falecimento de Mrs. Corner.

Ele respondeu expressando viva simpatia e declarando ainda que a vida

post-mortem muito devia, quanto à sua certeza, à mediunidade da antiga

Miss Florence Cook.

Com esse episódio se encerra uma vida que conheceu tanto

sensacionalismo quanto o das grandes atrizes da atualidade.

A Doutrina Espírita deve eterna gratidão à menina de 15 anos, que,

sacrificando sua juventude nos laboratórios dos sábios, prestou os mais

relevantes serviços à comprovação científica da imortal obra de Allan

Kardec.

FRANCISCO PEIXOTO LINS (PEIXOTINHO) FRANCISCO PEIXOTO LINS (PEIXOTINHO)

Nasceu na cidade de Pacatuba, Estado do Ceará, no dia 1º de fevereiro de

1905, desencarnando na cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, 16

de junho de 1966.

Seus pais foram Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto.

Bem cedo ficou órfão de pai e mãe e passou a conviver com seus tios

maternos, em Fortaleza, Estado do Ceará, onde fez o curso primário.

Em seguida matriculou-se no Seminário Católico, de acordo com o desejo

de seus tios, que desejavam vê-lo seguir a carreira eclesiástica.

Sigmar Gama - [email protected] Página 120

Page 121: ( Espiritismo)   # - biografias # espiritas famosos

No Seminário sofreu várias penas disciplinares por manifestar a seus

educadores dúvidas sobre os dogmas da Igreja.

Observando as desigualdades humanas, tanto no campo físico como no

social, ficou em dúvida no tocante à paternidade e bondade de Deus.

Se todos eram seus filhos, por que tantas diversidades? Indagava.

Por que razões insondáveis uns nascem fisicamente perfeitos e outros

deformados?

Uns portadores de virtudes angelicais e outros acometidos de mau

caráter? Dizia então: “Se Deus existe, não é esse ser unilateral de que fala

a religião católica.” Desejava saber e inquiria os seus confessores, os

quais, diante das indagações arrojadas do menino, usavam o castigo e a

penitência como corretivo.

Aos 14 anos de idade desistiu do Seminário e, com a permissão dos tios,

transferiu-se para o Estado do Amazonas, em busca de melhores dias,

enfrentando os trabalhos árduos dos seringais. Ali trabalhou cerca de dois

anos, resolvendo voltar para Fortaleza. Nessa fase de sua vida, nele se

manifestaram os primeiros indícios de sua extraordinária mediunidade,

sob a forma de terrível obsessão. Envolvido por espíritos menos

esclarecidos, era tomado de estranha força física, tornando-se capaz de

lutar e vencer vários homens, apesar de Ter menos de 18 anos e ser

fisicamente franzino. Esse estado anômalo acontecia a toda hora e

Peixotinho, temendo conseqüências mais graves, deliberou não mais sair

de casa. Ali ficou acometido de nova influenciação dos espíritos trevosos,

ficando desprendido do corpo cerca de 20 horas, num estado cataléptico,

quase chegando a ser sepultado vivo, pois seus familiares o tinham dado

como desencarnado.

Depois desse episódio, sofreu uma paralisia que o prostrou num leito de

dor durante seis meses. Nessa fase, um dos seus vizinhos, membro de

uma sociedade espírita de Fortaleza, movido de íntima compaixão pelos

seus sofrimentos, solicitou permissão à sua família, para prestar-lhe

socorro espiritual, com passes e preces. Ninguém em sua casa tinha

conhecimento do Espiritismo e seus familiares também não atinavam com

o verdadeiro estado do paciente, uma vez que o tratamento médico a que

se submetia não lhe dava qualquer esperança de restabelecimento. O seu

Sigmar Gama - [email protected] Página 121

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vizinho iniciou o tratamento com o Evangelho no Lar, aplicando-lhe passes

e dando-lhe a beber água fluida. A fim distrair-se, Peixotinho começou a

ler alguns romances espíritas e posteriormente as obras da Codificação

Kardequiana. Em menos de um mês apresentava sensível melhora em seu

estado físico e progressivamente foi libertando-se da falsa enfermidade.

Logo que conseguiu andar, passou a freqüentar o Centro Espírita onde

militava o grande tribuno Vianna de Carvalho, que na época estava

prestando serviço ao Exército Nacional em Fortaleza. A terrível obsessão

foi a sua Estrada de Damasco. O conhecimento da lei da reencarnação

veio equacionar os velhos problemas que atormentavam a sua mente,

dirimindo todas as dúvidas que o Seminário não conseguira desfazer.

Passou assim a compreender a incomensurável bondade de Deus, dando a

mesma oportunidade a todos os seus filhos na caminhada rumo à

redenção espiritual.

Orientado pelo major Vianna de Carvalho, Peixotinho iniciou o seu

desenvolvimento mediúnico. Tornou-se um dos mais famosos médiuns de

materializações e efeitos físicos. Por seu intermédio produziram-se as

famosas materializações luminosas e uma série dos mais peculiares

fenômenos, tudo dentro da maior seriedade e nos moldes preceituados

pela Doutrina Espírita.

Em 1926, foi convocado para o serviço militar e transferido para o Rio de

Janeiro, sendo incluído em um batalhão do exército, na cidade fluminense

de Macaé. Ali se dedicou com amor à prática do Espiritismo e, com um

grupo de abnegados companheiros, fundou o Centro Espírita Pedro,

instituição que por muito tempo se tornou a sua oficina de trabalho.

Em 1933, consorciou-se com Benedita Vieira Fernandes, de cujo

matrimônio tiveram vários filhos. Por força da sua carreira militar, foi

transferido várias vezes, servindo em Imbituba, Santa Catarina; Santos,

São Paulo; no antigo Distrito Federal e em Campos, Rio de Janeiro. Onde

chegava, procurava logo servir à causa espírita.

No ano de 1945, na cidade do Rio de Janeiro, encontrou-se com vários

confrades, dentre eles Antônio Alves Ferreira, velho companheiro no

Grupo Espírita Pedro, de Macaé. Nessa época passou a freqüentar o Culto

Cristão no Lar, realizado sistematicamente na residência daquele

Sigmar Gama - [email protected] Página 122

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confrade. Posteriormente, unindo-se a Jacques Aboab e Amadeu Santos,

resolveram fundar o Grupo Espírita André Luiz, que inicialmente funcionou

na Rua Moncorvo Filho, 27, onde se produziram, pela sua mediunidade, as

mais belas sessões de materializações luminosas, as quais ensejaram ao

Dr. Rafael Ranieri a oportunidade de lançar um livro com esse mesmo

título. Peixotinho prestava também o seu valioso concurso como médium

receitista e curador.

No ano de 1948, encontrando-se pela primeira vez com o médium

Francisco Cândido Xavier, na cidade de Pedro Leopoldo, teve a

oportunidade de propiciar aos confrades daquela cidade, belíssimas

sessões de materializações e assistência aos enfermos.

Em 1949 foi transferido definitivamente para a cidade de Campos, onde

participou dos trabalhos do Grupo Joana D’Arc.

Fundou também o Grupo Espírita Araci, em homenagem ao seu guia

espiritual.

Peixotinho sofria de broncopneumonia, enfermidade que lhe causava

muitos dissabores, porém ele suportava tudo com estoicismo, o mesmo

podendo-se dizer das calúnias de que foi vítima, como são vítimas todos

os médiuns sérios que se colocam a serviço do Evangelho de Jesus, dando

de graça o que de graça recebem.

FRANZ ANTON MESMERFRANZ ANTON MESMER

Mesmer foi o médico austríaco criador da teoria do magnetismo animal conhecido pelo nome de mesmerismo. Nasceu a 23 de maio em Iznang, uma pequena vila perto do Lago Constance. Estudou teologia em Ingolstadt e formou-se em medicina na Universidade de Viena. Provido de recursos, dedicou-se a longos estudos científicos, chegando a dominar os conhecimentos de seu tempo, época de acentuado orgulho intelectual e ceticismo. Era um trabalhador incansável, calmo, paciente e ainda um exímio músico.

Em 1775, após muitas experiências, Mesmer reconhece que pode curar mediante a aplicação de suas mãos. Acredita que dela desprende um fluido que alcança o doente; declara: "De todos os corpos da Natureza, é o próprio homem que com maior eficácia atua sobre o homem". A doença seria apenas uma desarmonia no equilíbrio da criatura, opina ele. Mesmer, que nada cobrava pelos tratamentos, preferia cuidar de distúrbios ligados ao sistema nervoso. Além da imposição das mãos sobre os doentes, para estender o benefício a maior número de pessoas, magnetizava água, pratos, cama, etc., cujo contato submetia os enfermos.

Mesmer praticou durante anos o seu método de tratamento em Viena e em Paris, com evidente êxito, mas acabou expulso de ambas as cidades pela inveja e incompreensão de muitos. Depois de cinco tentativas para conseguir exame judicioso do seu método de curar, pelas academias, é que publica, em 1779, a "Dissertação sobre a descoberta do magnetismo animal", na qual afirma

Sigmar Gama - [email protected] Página 123

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que este é uma ciência com princípios e regras, embora ainda pouco conhecida. A sua popularidade prosseguiu por muitos anos, mas outros médicos o taxavam de impostor e charlatão. Em 1784, o governo francês nomeou uma comissão de médicos e cientistas para investigar suas atividades. Benjamin Franklin foi um dos membros dessa comissão, que acabou por constatar a veracidade das curas, porém as atribuíram não ao magnetismo animal, mas a outras causas fisiológicas desconhecidas.

Concentrado no alívio à dor, Mesmer não chegou a perceber a existência do sonambulismo artificial, que seu ilustre e generoso discípulo, conde Maxime Puységur, descobre (inclusive a clarividência a ele associada), o qual se desenvolve durante o transe magnéticos em certas pessoas.

Em 1792, Mesmer vê-se forçado a retirar-se de Paris, vilipendiado, e instala-se em pequena cidade suiça, onde vive durante 20 anos sempre servindo aos necessitados e sem nunca desanimar nem se queixar. Em 1812, já aos 78 anos, a Academia de Ciências de Berlim convida-o para prestar esclarecimentos, pois pretendia investigar a fundo o magnetismo. Era tarde; ele recusa o convite. A Academia encarrega o Prof. Wolfart de entrevistá-lo. O depoimento desse professor é um dos mais belos a respeito do caridoso médico:

"Encontrei-o dedicando-se ao hospital por ele mesmo escolhido. Acrescente-se a isso um tesouro de conhecimentos reais em todos os ramos da Ciência, tais como dificilmente acumula um sábio, uma bondade imensa de coração que se revela em todo o seu ser, em suas palavras e ações, e uma força maravilhosa de sugestão sobre os enfermos."

No início de 1814, ele regressou para Iznang, sua terra natal, onde permaneceria os seus últimos dias até falecer em 05/03/1815.

Assim foi Mesmer. Durante anos semeou a cura de enfermos doando de seu próprio fluido vital em atitude digna daqueles que sacrificam-se por amor ao seu trabalho e a seus irmãos. Suas teorias atravessaram décadas e seu exemplo figura luminoso entre os missionários que sob o açoite das críticas descabidas e as agressões da calúnia, passam incólume escudado pelo dever retamente desempenhado. Seu nome jamais se desligar do vocábulo "fluido" e sua vida valiosa pelos frutos que gerou, jamais ser esquecida por aqueles cuja honestidade de propósitos for o ornamento de seus espíritos. A sua obra foi decisiva para demonstrar a realidade da imposição das mãos como meio de alívio aos sofrimentos, tal como a utilizavam os primeiros cristãos antigamente e os espíritas atualmente.

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