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UTILIZAÇÃO DE NOVAS LINGUAGENS NO ENSINO DE
GEOGRAFIA DE NÍVEL MÉDIO
Zenis Bezerra Freire1
Josandra Araujo Barreto de Melo2
Luiz Arthur Pereira Saraiva3
RESUMO
Diante das discussões referentes ao ensino de Geografia no Brasil, se faz necessário algumas reflexões
sobre a temática, sobretudo propondo novas linguagens e/ou metodologias de ensino, que visem
oportunizar maior dinamicidade no processo de ensino-aprendizagem nas escolas, no contexto do
ensino médio. O presente trabalho parte da análise de experiência desenvolvida no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID/Subprojeto de Geografia, da Universidade
Estadual da Paraíba, atuante no ensino médio da E.E.E.M.I Hortênsio de Sousa Ribeiro – PREMEN.
Sua contribuição consiste em resgatar a importância do ensino na formação da cidadania, rompendo
com o tecnicismo e conteudismo, (não desprezando a importância dos mesmos para a educação), na
tentativa de promover um ensino dinâmico, sem romper com o conteúdo programático previsto para a
disciplina. Neste contexto, a questão central do trabalho é como implementar novas linguagens e/ou
metodologias para dinamizar o ensino de Geografia? A partir de tal questão, partiu-se do propósito de
resgatar o uso da arte da pintura e expandir o uso de novas linguagens possíveis para os alunos
inseridos no ensino médio que, na maioria das vezes, são restringidos do exercício contínuo de tais
atividades ainda nas séries iniciais, tendo como objetivo contribuir com a perspectiva da aprendizagem
dos educandos, a partir da percepção do ser/estar no mundo, das relações e vivências cotidianas dos
lugares e dos territórios expressos na paisagem, através de múltiplos olhares das áreas de ocupação
irregulares na cidade de Campina Grande-PB articuladas a múltiplas escalas. O método utilizado tem
sido o fenomenológico-hermenêutico, através da implementação de um projeto de intervenção em
turmas do 3º ano do Ensino Médio da Escola acima mencionada. Apesar do projeto ainda estar em
andamento, já é possível verificar que vem constituindo uma experiência de aprendizagem
significativa para os educandos, o que é visível através do engajamento e participação dos alunos nas
atividades previstas, bem como nas discussões promovidas em cumprimento ao programa.
Palavras-Chave: Ensino de Geografia. Novas linguagens e metodologias. Pintura.
1.INTRODUÇÃO
A discussão em torno do ensino de Geografia nos diversos níveis da Educação Básica
vem tomando largas proporções ao longo do tempo, sobretudo nos últimos anos a partir de
uma maior abertura teórico-metodológica que permita pensar o ensino em uma escala ampla.
Neste contexto, são tomados debates que permeiam diversas temáticas, dentre elas, pode-se
1 Graduanda em Licenciatura em Geografia, Universidade Estadual da Paraíba/ Bolsista PIBID/CAPES. E-mail:
zenyys@gmail.com 2 Departamento de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba /Coordenadora de área do Subprojeto PIBID
Geografia/CAPES. E-mail:ajosandra@yahoo.com.br 3 Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Geografia UFPE/ Supervisor PIBID/ CAPES. E-mail:
saraivaluizarthur@yahoo.com.br
destacar a relação ensino-aprendizagem, acoplada a novas possibilidades metodológicas que
possam proporcionar uma melhoria no que concerne a aprendizagem dos alunos.
Os reflexos desta pesquisa são trazidos à luz da contribuição do PIBID (Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência) do Subprojeto de Geografia que atua no
contexto do ensino médio inovador, da E.E.E.M.I. Hortênsio de Sousa Ribeiro (PREMEN)
localizado na cidade de Campina Grande - Paraíba, o projeto realizado na escola mencionada,
foi desenvolvido em uma turma do 3º ano do Ensino Médio.
A problemática sobre a qual foi centrada a presente discussão teve como objetivo
trazer novas linguagens e/ou metodologias para dinamizar o ensino de Geografia. Tendo em
vista que esta disciplina viveu/vive um dilema no contexto educacional, ter se tornado
“enfadonhora” e “decorativa”, paradigmas estes que se vem tentando mudar através dos
direcionamentos docentes e do olhar voltado para a escola não mais como um campo de
regência educacional e sem importância, mas sim um espaço vivido, político, praticado,
produzido e (re)produzido pelos agentes educacionais.
Para tanto a importância do desenvolvimento deste trabalho se dá pela possibilidade de
pensar outras composições metodológicas no Ensino Médio que deem aos alunos um
conhecimento significativo. Neste contexto o presente artigo tem como objetivo contribuir
com a perspectiva da aprendizagem dos educandos, a partir da percepção do ser/estar no
mundo, das relações e vivências cotidianas dos lugares e dos territórios expressos na
paisagem, através de múltiplos olhares das áreas de ocupação irregulares na cidade de
Campina Grande-PB articuladas a múltiplas escalas, visando fazer com que os alunos a partir
de um olhar cotidiano possam expor suas percepções acerca destas áreas na cidade que por
muito passam despercebidas aos olhares apressados dos sujeitos que habitam a cidade.
Por fim para alcançar tal objetivo a metodologia desenvolvida inicialmente se deu a
partir da aplicação de questionários diagnósticos, bem como a analise dos mesmos para
identificar possíveis metodologias de trabalho em sala de aula, a posteriori com a discussão do
conteúdo de Geografia Urbana se enveredou pela percepção das problemáticas ambientais que
estão presentes no espaço urbano de Campina Grande, tendo em vista esta questão se
manifestar em vários veículos de comunicação, como também está presente na realidade de
alguns dos alunos da escola, fazendo com que fosse estimulada a percepção dos mesmos
através do estimulo do olhar. Por fim a pintura foi escolhida para expressar a percepção tendo
em vista uma atração da turma pela arte, observada em meio aos trabalhos desenvolvidos para
a disciplina de artes na escola.
2.ENSINO DE GEOGRAFIA: apontamentos iniciais
O ensino de Geografia no Brasil atualmente ainda tem perpassado por diversos
processos preocupantes que se posicionam a partir de processos históricos oriundos da
constituição da própria disciplina no contexto escolar, como problematiza Pontuschka (2007).
Nesta ótica o desafio concerne em pensar uma Geografia Tradicional de base Positivista – que
teve grande importância - no processo inicial de ensino de Geografia no Brasil, sobretudo no
que concerne a influencia da geografia francesa com os desdobramentos do método regional
discutidos por Paul Vidal de La Blache, que ganha amplitude no Brasil nos ensinamentos de
Pierre Deffontaines.
A Geografia que chega ao Brasil na ideologia a favor de uma geopolítica de Estado,
com a perspectiva do “conhecer para dominar” como critica Lacoste. Nestes direcionamentos
o ensino da geografia enquanto disciplina escolar tinha como objetivo o conhecimento do
território para um maior domínio do mesmo, no entanto, nos anos finais da década de 1970
em uma emergência de novas discussões sociais, que permeavam as consequências das
Guerras, e pós maio de 1968, a geografia enquanto ciência através de Santos (1992), em sua
obra Por Uma Geografia Nova , passa a questionar as produções geográficas que vigoravam
até então e seus dimensionamentos sociais.
No âmbito da escola este contexto não poderia ser diferente, se fazia necessário um
debate centrado em uma critica a sociedade que estava a se formar, com uma forte produção e
(re) produção do capital, e a produção das desigualdades sociais que começam a se tornar
cada vez mais presentes no espaço. Nos anos 1990 começam a surgir novos questionamentos
na sociedade, embasados no processo de globalização, o acirramento das desigualdades
sociais, e os debates em torno da diversidade cultural, bem como a discussão sobre construção
e desconstrução de identidades, assim incluindo no debate as questões de gênero, como nos
traz ao debate Silva (2011).
Pensar em aulas de Geografia apenas dentro dos parâmetros tradicionais e com a
utilização de materiais didáticos que pelo excesso de uso vem perdendo seu encantamento
foi/é a força motriz para o desgaste da disciplina, trazendo assim consequências não apenas
para os alunos, que por sua vez perdem o entusiasmo nas aulas por pensarem no processo de
ensino-aprendizado da Geografia apenas como uma obrigação escolar, e sem exercer
nenhuma conexão com o cotidiano que o rodeia e por sua vez não percebendo a Geografia
que acontece a cada passo que os mesmos dão. Mas também para os professores, que por
perceberem o pouco interesse do alunado na disciplina acabam por ministrarem aulas,
desmotivados.
Desta forma é preciso pensar a construção do conhecimento como um processo que
necessita da atuação de vários atores para a boa obtenção de resultados. E para a participação
desses atores se faz necessário à elaboração de estratégias onde todos estes sejam construtores
ativos deste processo. Retirando assim o corpo discente da inatividade ou da atividade passiva
que o mesmo vem exercendo.
Para tanto, pensar em algumas questões que perpassam a prática da docência, como é
o caso da leitura e da escrita é fundamental. Para Martins apud Pillar (2011, p.8) “a leitura é
um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio
de que linguagem” desta forma percebe-se que a possibilidade de leitura não está centrada em
apenas uma forma de linguagem e com isto percebemos que a escrita que se configura como
formas de expressão e comunicação, não estão apenas pautados na produção textual composta
por letras, palavras e frases, esta linguagem também pode ser encontrada nas diversas formas
de expressão da arte seja ela na música, no teatro, na pintura dentre outros.
Direcionando os aspectos acima elencados, no âmbito das reflexões evidenciadas pelo
ensino de Geografia no Ensino Médio, é perceptível através da experiência na escola, a
necessidade de traçar novas estratégias metodológicas que possibilitem um ensino dinâmico, a
partir destes pressupostos o trabalho da pintura como uma nova linguagem de expressão do
espaço pelos alunos, teve sua raiz no pensamento de Kaercher, em minicurso ministrado no
XVII Encontro Nacional de Geógrafos, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, o
autor afirmava que a grande maioria dos estudantes tinham suas habilidades para arte de
modo geral podada na escola do âmbito do Ensino Fundamental, pois a partir do 6º ano
começavam a ser direcionados a estudos com foco no âmbito profissional e para o mercado de
trabalho, esta realidade por sua vez ainda é muito mais intensa no contexto do Ensino Médio,
onde a preparação voltada para os exames que possibilitam o ingresso na Universidade
passam a ser centrais para os educandos.
Para tanto, é necessário que haja uma multiplicidade de possibilidades no ensino para
que se possa pensar novas formulações no âmbito da discussão geográfica levando os alunos a
novas formas de ler/pensar o espaço sobre o qual estes estão inseridos, bem como se
expressam sobre ele o transformando e o (re)organizando dando aos alunos a possibilidade
do pensamento pois para Alves (2004, p.58)
“O pensamento é como águia que só alça vôo nos espaços vazios do desconhecido.
Pensar é voar sobre o que não se sabe. Não existe nada mais fatal para o pensamento
que o ensino das respostas certas. Para isto existem escolas: não para ensinar
respostas, mas para ensinar perguntas. As respostas nos permitem andar em terra
firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.”
(p.58).
O alçar voo neste desconhecido para o autor, permite dentro do dialogo com novas
formas de perceber o espaço geográfico e transformá-lo, esta forma de pensar e expressar o
pensamento através da arte denota novas formas do olhar, este por sua vez que vai para além
do campo da visão, mas que perpassa pelo campo da percepção dos sujeitos sobre o espaço
vivido, possibilitando um conhecimento significativo e eficaz.
3. A PINTURA E A CONSTRUÇÃO DO OLHAR GEOGRÁFICO
A pintura é uma gravação da emoção.
(Edward Hopper)
A dinâmica aplicada foi pensada dentro de todo um contexto pedagógico relacionado
às possibilidades trazidas pelo Ensino Médio Inovador que está dentro de um plano maior de
reformulação da educação no país. O Ensino Médio Inovador tem como força motriz a
implantação da interdisciplinaridade. Para tanto a metodologia abordada na aula busca esta
interação com a disciplina do Ensino das Artes, quando traz a produção artística, mesmo não
tendo a intenção do ensino da estética, para se produzir um olhar Geográfico. A pintura assim
foi percebida como arte de escrita, escrita esta produzida pelo corpo discente a partir do
entendimento que os mesmos tiveram sobre o conteúdo de Geografia Urbana centrada na
análise da cidade de Campina Grande-PB, através dos múltiplos olhares acerca das áreas de
ocupação irregulares existentes na cidade.
Para a realização da atividade dividiu-se em dois momentos, o primeiro momento
contou com a abordagem teórica e aula expositiva com indagações tais como: O que são áreas
de ocupações irregulares? Como as questões ambientais interferem neste processo de
funcionamento e organização da cidade? E como o planejamento urbano pode contribuir para
a diminuição dos riscos que envolvem habitar as áreas de ocupação irregulares?
Posteriormente os alunos a partir do que foi entendido e observado sobre as áreas de risco,
escreveram a partir da linguagem da pintura a compreensão de cada um sobre estas áreas.
Articulando desta forma as diversas escalas sejam elas locais e/ou globais.
Para realização desta análise lançou-se mão, sobretudo, da Paisagem enquanto
categoria de análise geográfica, pois esta como expõe Dardel (2011, p.31) “[...] não é um
circulo fechado, mas um desdobramento. Ela não e verdadeiramente geográfica a não ser pelo
fundo, real ou imaginário, que o espaço abre além do olhar”. Neste sentido trabalhar o
conceito de paisagem em sala de aula vai para além do domínio do visível, se estende para a
percepção de mundo que os sujeitos compreendem do espaço onde vivem, e é possível
observar tais elementos em Santos (1998) elenca a paisagem para além do que pode ser
abarcado pela visão complementando com a percepção a partir dos odores, movimentos sons,
ou seja, os elementos que direcionam a sensibilidade e o sentido da experiência, esta que por
sua vez é direcionada pelo olhar.
Alfredo Bosi (1988, p.66), nos traz que “O olhar não está isolado, o olhar está
enraizado na corporeidade enquanto sensibilidade e enquanto motricidade.” Motricidade está
que impulsionou a construção do ensino-aprendizagem de forma encantadora. Uma espécie de
abrir janelas para a percepção dos estudos e acontecimentos geográficos que se dão no
cotidiano de cada aluno. A pintura é a expressão de um olhar sobre algo ou alguém, é assim
como nos fala Hopper quando diz que “A pintura é uma gravação da emoção” aquilo que toca
a cada sujeito de forma mais intensa será transmitida na pintura, talvez por isso alguns artistas
afirmem que a obra de arte fala mais sobre quem a produziu do que do objeto produzido.
Desta forma temos na produção da aula a composição de várias paisagens, pois cada uma
destas serão observada a partir do ângulo de cada um dos “pintores/alunos”.
Na figura 1, percebe-se a (re)organização diferenciada que se tem na sala de aula, pois
uma metodologia diferente precisa romper não apenas com os padrões teóricos do
entendimento da docência, mas perpassa os aspectos físicos como se faz possível ver na figura
abaixo:
Figura 1: Alunos do 3º ano produzindo as telas sobre a ocupação irregular em Campina Grande- PB
Fonte: Zenis Freire, Bolsista PIBID subprojeto Geografia/UEPB
A liberdade da pintura trouxe cores e movimentos para a sala de aula, olhares atentos e
preocupados com os detalhes. As cadeiras enfileiradas, voltadas para o quadro branco deu
lugar a um grande circulo onde os alunos se movimentavam com maior facilidade e onde os
mesmos se olhavam frente a frente. O quadro branco e o pincel para quadro deram espaço às
cartolinas que foram coloridas. Cada uma trazendo uma escrita/pintura diferente, pois cada
escritor/pintor/aluno expressava-se em múltiplos olhares proporcionando uma possibilidade
de reorganização espacial.
Nas figuras 2 e 3, as telas/cartolinas sendo expostas na sala de aula, trazendo assim um
colorido permanente para o espaço, pois as telas continuaram na sala após a atividade. O que
propicia a continuidade do trabalho, pois cada sujeito que adentrar este espaço observará nas
paisagens elementos diferente e de formas múltiplas.
Figura 2: Alunos do 3º ano, finalizando as atividades da oficina.
Fonte: Zenis Freire, Bolsista PIBID subprojeto Geografia/UEPB
Outro ponto que é de fundamental importância no desenvolvimento da atividade é a
percepção da maior interação entre os alunos e dos mesmos com os docentes, pois estes
passam a se ver não apenas como receptores de conhecimentos, mas como produtores do
mesmo junto com os docentes.
Figura 3: Exposição das telas produzidas na oficina
Fonte: Zenis Freire, Bolsista PIBID subprojeto Geografia/UEPB
Na “gravação das emoções” feitas por estes alunos o exercício da docência foi
motivadora, não apenas pela atividade proposta ter ocorrido de forma positiva com relação as
suas produções, mas pela relação que se estabeleceu entre discentes e docentes e a percepção
do entendimento por parte dos alunos com relação ao que se propunha na atividade e a
importância da mesma na formação geográfica e pessoal de cada um destes sujeitos.
Observando por esta ótica, foi pensada a aplicação de atividades que utilizaram
recursos matérias, pouco explorados, principalmente quando se trata das turmas do Ensino
Médio. A utilização da prática da pintura rompeu com dois paradigmas existentes na sala de
aula, o primeiro diz respeito à renovação com elementos que não incluem alta tecnologia,
fazendo-se uma (re) utilização de elementos simples e tradicionais para outros ciclos da
educação, as series iniciais, porém com uma reconfiguração no uso, ao fazer o deslocamento
dessa metodologia, o processo como um todo se tornou estimulante. O segundo rompimento
que se tem é a descentralização da figura do professor, pois a aula teve o aluno como
produtor, já que os mesmos produzindo as pinturas construíram um olhar Geográfico, a partir
dos elementos discutidos em sala de aula.
A experiência ainda buscou articular a ideia das áreas de ocupações irregulares
discutidas no plano teórico com o cotidiano daqueles que vivenciam estes espaços. Diversas
são as experiências que podem ser citadas possibilitando integrar o cotidiano às práticas
escolares, através da articulação entre as diversas escalas geográficas. Assim como a pintura,
trabalhas com outras linguagens como músicas, cinema e charges humorísticas, por exemplo,
também podem ser mencionados enquanto formas de articular o cotidiano ao espaço escolar.
Nesse direcionamento, é possível mencionar o trabalho de Alves et. al. (2012) que
relata a experiência de utilização de charges e tiras humorísticas em sala de aula. Através
desses recursos, foi possível trabalhar com questões ambientais cotidianas que estão, assim
como as áreas de ocupação irregulares e os problemas ambientais urbanos presentes no dia-a-
dia dos alunos, não se faz necessário, portanto que haja um alto grau de abstração para
explicar fenômenos conhecidos na prática pelos alunos, mas sim explicar cientificamente
como tais fenômenos se dão e as possíveis soluções para os mesmos.
A mencionada autora destaca que tal recurso não se restringe a utilização apenas no
ensino superior, podendo ser trabalhado também no Ensino Básico, constituindo mais uma
possibilidade de flexibilização curricular, em que o cotidiano dos alunos é pensado e discutido
em sala de aula.
Neste contexto, Moreira (2012) recomenda a utilização de filmes no ensino de
Geografia como uma possibilidade de dinamizar a aprendizagem. Destacando sua importância
para os alunos, o autor afirma: “[...] todo filme é ambientado em um dado local, representa
certa realidade, e, deste modo, contém muitos aspectos a serem analisados geograficamente e
discutidos em sala de aula” (ibidem, p.63).
Moreira (op. cit.) destaca temáticas como a violência urbana, conflitos em diversas
escalas, relações de gênero, entre outros, que possibilitam ao professor utilizar os filmes em
sala de aula, visto que constituem possibilidades de integrar o espaço vivido ao contexto de
sala de aula. Nessa perspectiva, o autor destaca a necessidade de articulação das diversas
escalas geográficas.
Apesar da experiência em análise não ter efetivado o uso do cinema no ensino de
Geografia, foi possível perceber, através da produção das pinturas efetuada pelos alunos de
como a imagem suscita a aprendizagem, assim como também o redimensionamento da
dinâmica de sala de aula facilitam a integração entre os atores que constroem a partir de uma
experiência cotidiana algo significativo ligado à percepção da cidade.
Martins (2008) analisa a experiência desenvolvida a partir da utilização de imagens
midiáticas com alunos do ensino fundamental (6º ano) para esta, a experiência contribuiu para
trazer a tona discussões de conteúdos cotidianos “[...] relacionadas a fatos do cotidiano do
país, tais como violência, meio ambiente, política, mercado de trabalho, educação etc., que
contribuíssem para o desenvolvimento da reflexão, do questionamento e o confronto de
ideias.” Nesse encaminhamento metodológico, recomenda a prática da pesquisa pelos alunos
como uma possibilidade de dinamizar as aulas de Geografia e construir um conhecimento
significativo.
Percebe-se, quão rica é a experiência do trabalho com a imagem em sala de aula seja ela
em forma de pintura ou não. A partir dessa base teórica, buscou-se, através da experiência do
PIBID/CAPES/UEPB, Subprojeto de Geografia, ao se trabalhar com alunos do 3º ano do
Ensino Médio, produzir painéis demonstrando suas apreensões sobre as áreas de ocupações
irregulares de forma interativa, procurando provocar reflexões e questionamentos acerca das
dimensões destes no cotidiano dos alunos, ou em outras escalas de análise.
Outrossim, o trabalho com a pintura possibilitou aos alunos e a equipe do PIBID como
um todo o exercício da observação, que constitui um dos princípios lógicos da Geografia. O
trabalho executado levou os alunos a descobrir um novo mundo de possibilidades e
perspectivas inseridas na arte percebendo, desta maneira, as formas de apropriação dos
espaços, bem como as territorializações aparentes na paisagem além de perceberem os
elementos que aproximam e afastam a interrelação do homem e da natureza.
4.AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio concedido, mediante bolsas, efetuado pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, através do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das questões expostas acima, pode-se dizer quão importante à abordagem de
novas linguagens no ensino de geografia abordando elementos interdisciplinares, mas também
partindo da realidade dos alunos, valorizando os aspectos das paisagens sobre os quais
produzem e (re)produzem o espaço urbano através de sua percepção e de seus olhares.
Também é possível perceber a dinâmica do ensino interligado a experiência com o
espaço de vivência e o modo de ler/pensar a cidade, além de estimular os alunos do Ensino
Médio a outras possibilidades de aprendizagem significativa pelo conhecimento cotidiano
pensando a formação dos alunos em sentido amplo, com uma formação cidadã que vá além do
conhecimento técnico, e que perpasse por um conhecimento de mundo, uma vez que estes
alunos serão agentes transformadores do espaço daí a importância de estimula-los aos olhares
geográficos e a novas maneiras de poder olhar a paisagem do espaço onde habitam.
A experiência de trabalho com novas linguagens na geografia foi satisfatória e o
objetivo alcançado ao passo que através de uma grande interação entre alunos, professor e
bolsista, se conseguiu uma aprendizagem significativa de modo a estimular os olhares dos
alunos as multifaces das ocupações irregulares na cidade, estes resultados proporcionaram aos
alunos apresentações de trabalhos nos eventos escolares onde os mesmos apresentam o
conteúdo com segurança, demonstrando assim que o conteúdo significativo não é obtido
somente através de aulas expositivas, mas também é possível a partir de novas linguagens
mesmo no contexto do Ensino Médio da Educação Básica.
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