Post on 09-Feb-2019
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM TURISMO
MÔNICA DE CARVALHO GARCIA
TURISMO CINEMATOGRÁFICO NO PERÍODO PÓS-GUERRA: O RIO DE
JANEIRO DO FILME INTERLÚDIO (1946)
NITERÓI
2016
MÔNICA DE CARVALHO GARCIA
O TURISMO CINEMATOGRÁFICO NO PERÍODO PÓS-GUERRA: O RIO DE
JANEIRO DO FILME INTERLÚDIO (1946)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientador: Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho.
NITERÓI
2016
G216 Garcia, Mônica de Carvalho.
Turismo cinematográfico no período pós-guerra: o Rio de Janeiro
do filme Interlúdio (1946) / Mônica de Carvalho Garcia. – 2016.
76 f. ; il.
Orientador: Ari da Silva Fonseca Filho.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) –
Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Turismo e
Hotelaria, 2016.
Bibliografia: f. 72-75.
1. Turismo cinematográfico. 2. Rio de Janeiro, RJ. 3. Interlúdio
(Filme). 4. Guerra Mundial, 1939-1945. I. Fonseca Filho, Ari da Silva.
II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Turismo e
Hotelaria. III. Título.
O TURISMO CINEMATOGRÁFICO NO PERÍODO PÓS-GUERRA: O RIO DE
JANEIRO DO FILME INTERLÚDIO (1946)
Por
MÔNICA DE CARVALHO GARCIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientador: Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Presidente: Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho – Orientador – UFF
___________________________________________________________________
Membro Departamento de Turismo – UFF – Profª. Erly Maria de Carvalho e Silva
___________________________________________________________________
Membro convidado – UFF – Profª. Valéria Lima Guimarães
Niterói, março de 2016.
Dedico aos meus pais, como forma de mais um
resultado da educação a qual me ofereceram por toda
minha vida.
AGRADECIMENTOS
Preciso e quero agradecer primeiramente a Deus pela determinação e coragem
que sempre peço.
Aos meus pais, Rosalva e Antônio Carlos, por tudo que puderam fazer por mim e,
às minhas irmãs, Débora e Renata, que mesmo de longe, sinto o incentivo e de
quem me orgulho e me inspiro.
Aos excelentes professores que a UFF me proporcionou conhecer. Com eles
aprendi lições não só sobre a profissão e a academia, mas também sobre a vida. E
agradeço, em especial, ao querido professor, meu orientador, Ari Fonseca Filho,
pelos conhecimentos partilhados e orientações com os quais se tornou possível
realizar esta monografia.
Aos meus amigos que me apoiaram com palavras.
Aos meus colegas da turma 2010.2 e todo o curso de Turismo por essa fase da
faculdade que compartilhamos.
Obrigada!
“Num filme o que importa não é a realidade, mas que
dele possa extrair a imaginação.” (Charlie Chaplin)
RESUMO
GARCIA, Mônica de Carvalho. O turismo cinematográfico no período pós-guerra: o Rio de Janeiro do filme Interlúdio (1946). 2016. 76 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Turismo e Hotelaria, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.
O Turismo é uma atividade que se divide em vários segmentos, sendo o Turismo Cinematográfico um dos segmentos que move milhões de pessoas pelo mundo mostrado nas telonas. Com a popularização do cinema se estabelecem cada vez mais as parcerias entre produções cinematográficas e governos receptivos às filmagens, promovendo destinos. Baseado nesse fato, o presente trabalho tem por objetivo geral identificar o legado do filme Interlúdio (1946) para o turismo no Rio de Janeiro atualmente. Os objetivos específicos são: analisar a relação do turismo com o cinema, bem como abordar a contribuição para economia local, verificar o contexto do período da Segunda Guerra Mundial e o cenário do Rio de Janeiro de 1940, e constatar a imagem que o filme Interlúdio mostra do Rio de Janeiro. Para realização desta pesquisa o presente trabalho dispõe de uma coleta de dados permeada na natureza qualitativa, com entrevistas semiestruturadas e uma análise fílmica. Por fim, os resultados revelam que existe uma relação visível entre o cinema e a promoção de um destino turístico, uma vez que a economia do destino turístico em questão cresce. O trabalho apresenta também suas conclusões sobre a análise realizada a partir do problema base deste estudo.
Palavras-chave: Turismo cinematográfico. Rio de Janeiro. Interlúdio. Segunda
Guerra Mundial.
ABSTRACT
GARCIA, Mônica de Carvalho. O turismo cinematográfico no período pós-
guerra: o Rio de Janeiro do filme Interlúdio (1946). 2016. 76 p. Monography
(Graduation) - Faculdade de Turismo e Hotelaria, Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2016.
Tourism is an activity that is divided into multiple segments and film induced tourism is one of the segments that moves millions of people around the world shown on the big screen. With the popularity of the movies is set increasingly partnerships between film productions and governments receptive to filming, promoting destinations. Based on this fact, the present work has the objective to identify the legacy of film Notorious (1946) for tourism in Rio de Janeiro today. The specific objectives are: to analyze the tourism relationship with movies, as well as addressing the contribution to the local economy, check the period of the context of World War II and the setting of Rio de Janeiro in 1940, and find the image that the film Notorious shows about Rio de Janeiro. For this research the present work offers a permeated data collection in qualitative nature, with semi-structured interviews and film analysis. Finally, the results shows that there is a visible relationship between movies and the promotion of a tourist destination, since the economy of the tourist destination in question grows. The research also presents its findings on the analysis carried out on the basis of this study problem.
Keywords: Screentourism. Rio de Janeiro. Notorious. World War II.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Chegada de turistas por região de destino de 1950-2007........................21
Figura 2: Impactos do Turismo Cinematográfico.....................................................22
Figura 3: Roosevelt, Vargas e militares...................................................................27
Figura 4: Símbolo da Força Expedicionária Brasileira (FEB)...................................28
Figura 5: Cassino da Urca na década de 40............................................................31
Figura 6: Cartaz do filme Interlúdio (1946)...............................................................40
Figura 7: O Rio de Janeiro visto do avião................................................................42
Figura 8: O Rio de Janeiro visto do avião................................................................42
Figura 9: Avenida Rio Branco e seus principais atrativos........................................44
Figura 10: Praça Floriano (Cinelândia)....................................................................45
Figura 11: Mirante Vista Chinesa.............................................................................46
Figura 12: Mirante Vista Chinesa.............................................................................47
Figura 13: Palácio Pedro Ernesto............................................................................48
Figura 14: Palácio Pedro Ernesto............................................................................48
Figura 15: Vista da orla da praia de Copacabana....................................................49
Figura 16: Vista da orla da praia de Copacabana....................................................50
Figura 17: Aterro do Flamengo e Outeiro da Glória.................................................50
Figura 18: Outeiro da Glória.....................................................................................51
Figura 19: Jockey Club Brasileiro.............................................................................52
Figura 20: Palácio Monroe.......................................................................................53
Figura 21: Praça Mahatma Gandhi..........................................................................54
Figura 22: Praça Floriano (Cinelândia)....................................................................55
Figura 23: Praça Floriano (Cinelândia)....................................................................55
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1 TURISMO, CINEMA E O PERÍODO PÓS-GUERRA......................................13
1.1 TURISMO, CINEMA E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
CINEMATOGRÁFICO................................................................................................13
1.2 O TURISMO NO PÓS-GUERRA MUNDIAL E A INFLUÊNCIA DO AUDIOVISUAL
PARA O DESTINO.....................................................................................................19
2 O CONTEXTO HISTÓRICO DO FILME INTERLÚDIO...................................24
2.1 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O BRASIL..................................................24
2.2 O RIO DE JANEIRO TURÍSTICO E O CENÁRIO CULTURAL DA DÉCADA DE
1940............................................................................................................................29
3 ANÁLISE DO IMAGINÁRIO TURÍSTICO DO RIO DE JANEIRO NO FILME
INTERLÚDIO..............................................................................................................32
3.1 IMAGENS E IMAGINÁRIOS NO CINEMA E NO TURISMO................................32
3.2 ANÁLISE FÍLMICA E A IMAGEM DO RIO DE HITCHCOCK...............................37
3.3 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS............................................................................58
3.4 TURISMO CINEMATOGRÁFICO A PARTIR DO LEGADO DO FILME
INTERLÚDIO..............................................................................................................68
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................71
REFERÊNCIAS..........................................................................................................73
APÊNDICE.................................................................................................................77
11
INTRODUÇÃO
O turismo é um fenômeno social que pode colaborar para o desenvolvimento
cultural e econômico de um determinado local, porém, para que isso ocorra é
necessário que além da obtenção do tempo livre e do dinheiro (retirando casos de
turismo social subvencionado por instituições, podendo ser gratuito), que se tenha
também o desejo de viajar. Através de viagens, turistas podem aprender muito sobre
os países e suas histórias, culturas, costumes, guerras, confrontos, reis, políticos,
personagens históricos, assim como o cinema também ensina aos espectadores.
Então, primeiramente, para iniciar este trabalho, deve-se definir exatamente o que é
o Turismo Cinematográfico, com a finalidade de apresentar a relação entre o cinema
e o turismo, objeto do presente estudo. Segundo o “Estudo de Sinergia e
Desenvolvimento entre as Indústrias do Turismo & Audiovisual Brasileiras”, lançado
pelo Ministério do Turismo, no ano de 2007, o turismo cinematográfico é definido
como a visitação de turistas a locais e atrações a partir da exposição do destino na
telona do cinema, na telinha da TV e na Internet.
Sendo o turismo uma atividade socioeconômica de grande poder sobre o
desenvolvimento cultural, é necessário que haja a promoção dele. O cinema faz
parte da grande cadeia de promoção turística. Ele ajuda a construir imagens dos
destinos turísticos. Através de curtas e longas metragens, novelas, séries, filmes
publicitários, Internet, vídeos, as mais diversas pessoas conhecem e se encantam
ou se aterrorizam com o que é vendido nas telas. Os filmes têm a capacidade de
mexer com a pessoa que assiste. Eles podem oferecer novos conhecimentos, criar
motivação para se fazer algo e trazer reflexões sobre o tema trabalhado.
No turismo, há muitas vantagens de se usar o cinema como um meio de
atração de demanda para os destinos. Pensando nisso, há inúmeros longas
metragens sobre o Rio de Janeiro, a cidade do Brasil mais retratada no cinema. Dois
exemplos de filmes recentes, famosos e queridos pelos espectadores são as
animações Rio (2011) e Rio 2 (2014), de Carlos Saldanha, que lidam com o
imaginário de quem vê o Rio de Janeiro na telona.
A imagem de um destino turístico é adquirida de diversas formas. A televisão,
os jornais, instituições de ensino, o cinema e a Internet são alguns meios de
propagar uma imagem de um produto. O produto no caso é o destino turístico. Há
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uma infinidade de produtos de audiovisual que oferecem o primeiro olhar sob um
lugar desconhecido.
O cinema traz entretenimento e reflexão junto ao seu público, além de
também promover lugares pouco conhecidos e fazer deles grandes anfitriões. Cada
vez mais é frequente o número de pessoas que buscam visitar locais que foram
imortalizados por cenas de filmes para realizar os mesmos roteiros dos grandes
sucessos.
Esta pesquisa é sobre o conhecimento da importância que o turismo
cinematográfico proporciona às localidades turísticas a partir da exibição de uma
produção cinematográfica realizada. Já são muitas as pesquisas registradas sobre a
relação do cinema com o turismo, mas um trabalho sobre um filme como o Interlúdio
(1946), que no ano de 2016 completa 70 anos, é original. A autora foi apresentada
ao filme pelo seu orientador professor Dr. Ari Fonseca Filhos, e juntamente com ele,
chegaram a essa questão do filme com o turismo. Seu contexto histórico e suas
imagens são estudados. Assim, o presente trabalho tem como objetivo geral estudar
a imagem turística e o legado do filme Interlúdio para o Rio de Janeiro a partir das
locações que foram exibidas. Os objetivos específicos são: analisar a relação do
turismo com o cinema, bem como abordar a contribuição para a economia local;
verificar o contexto do período da Segunda Guerra Mundial e o cenário do Rio de
Janeiro da década de 1940 e constatar a imagem que o filme Interlúdio mostra do
Rio de Janeiro.
A metodologia aplicada para a realização deste trabalho consiste na
pesquisa bibliográfica e na pesquisa de campo (observação sistemática com base
nos locais exibidos no filme, a exibição do filme para composição da análise do filme
e entrevistas com sujeitos que estudam e pesquisam a relação de turismo e cinema
e que participaram de duas edições de cine clube com o filme Interlúdio). As fontes
bibliográficas fornecem auxílio para a construção teórica com objetivo de estabelecer
a fundamentação do tema, incluindo pesquisas em fontes na Internet. Juntamente
com a pesquisa teórica, uma aplicação prática sobre o filme ajudará aos resultados
finais: de natureza qualitativa foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Faz
também parte da pesquisa uma análise do filme em questão.
Com o material coletado, é feita uma análise sobre a imagem do Rio de
Janeiro a partir do filme, com destaque para os atrativos exibidos. As informações
13
obtidas (coleção de teorias, conceitos e ideias; estudo comparativo de diferentes
enfoques; crítica de um método individual) são discutidas e analisadas em capítulos
pertinentes. A pesquisa bibliográfica propiciará compreensão e entendimento do
assunto abordado com informações sobre a investigação acerca do turismo no Rio
de Janeiro.
Este trabalho está estruturado em cinco partes que incluem a introdução, três
capítulos de desenvolvimento e as considerações finais. O primeiro capítulo traz os
conceitos do turismo, cinema e o turismo cinematográfico. Ele discorre sobre o
crescimento e influência dessa modalidade nos destinos turísticos e a importância
que pode exercer sobre o local receptor. Faz-se uma análise sobre os mais famosos
filmes, de acordo com a opinião pública em geral, que adotaram o turismo
cinematográfico como elemento de promoção de seus destinos de escolha.
O segundo capítulo apresenta o contexto histórico da época que é a década
da Segunda Guerra Mundial. A americanização do Brasil nesta fase, o nazismo com
os possíveis meios para se inserir no país e a sua participação na guerra também
fazem parte desta etapa, além do seu cenário turístico e cultural do Rio de Janeiro
de 1940.
Finalmente, no terceiro e último capítulo, realiza-se uma discussão sobre
imaginários turísticos no cinema e a análise fílmica decorrente da imagem que o
filme Interlúdio (1946) transmite. Conta também com a demonstração dos dados
coletados com a pesquisa prática pelas entrevistas com três alunos e o professor da
disciplina Turismo e Cinema da Universidade Federal Fluminense que assistiram ao
filme Interlúdio em cineclubes e a observação do turismo cinematográfico a partir do
legado do filme de Alfred Hitchcock.
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1 TURISMO, CINEMA E O PERÍODO PÓS-GUERRA
Falar sobre o turismo e o cinema é desafiador quando se leva em
consideração a abrangência que esses dois temas possuem. Assim, a proposta do
presente capítulo é apresentar as definições, autores que discutem as relações entre
o turismo e o cinema, bem como o desenvolvimento e influência dessa união.
1.1 TURISMO, CINEMA E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
CINEMATOGRÁFICO
A busca em qualquer dicionário do que significa turismo terá como resultado
uma curta explicação, por exemplo, segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
(2001, p. 692) é definido como “Viagem ou excursão feita por prazer, a locais que
despertam interesse”. Porém, sabe-se que a motivação de uma viagem não é
exclusivamente por prazer. Há diversas motivações, formando alguns segmentos de
turismo, como o turismo social, o turismo cultural, turismo de estudos e intercâmbio,
turismo de esportes, ecoturismo, turismo náutico, turismo de negócios e eventos,
turismo de saúde, turismo religioso, entre outros (BRASIL, 2006).
Alguns segmentos atuais e emergentes como, por exemplo, enoturismo, tipo
de turismo motivado pela apreciação de vinhos e o próprio turismo cinematográfico
não são oficialmente listados, mas este segundo tipo de turismo citado, pode ser
encaixado no turismo cultural. O segmento do turismo cultural tem sido debatido,
desde a década de 90, pelo Ministério da Cultura e pelo Instituto Brasileiro de
Turismo (EMBRATUR), estabelecendo parcerias, sendo o marco conceitual de
Turismo Cultural ainda sem fechamento oficial (BRASIL, 2006).
A definição do turismo carrega diversas significações por diferentes
estudiosos, como Barretto (2008) e Ignarra (2013). Neste trabalho utiliza-se como
conceito, um fenômeno socioeconômico que envolve o deslocamento de uma
pessoa a partir do seu tempo, dinheiro e motivação. A World Tourism Organization
(UNWTO) – Organização Mundial do Turismo – órgão da Organização das Nações
Unidas (ONU), maior autoridade na área do turismo, adotou a seguinte definição: “O
turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e
estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo
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inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras” (UNWTO, [s.d.],
[s.p.]).
Caracteriza-se turista, a pessoa que viaja para uma cidade, estado ou país
diferente do seu de origem e/ou moradia, e permanece no lugar por pelo menos 24
horas a no máximo 12 meses. Sendo o visitante denominado excursionista quando
permanece por menos de 24 horas em um local, e por mais de um ano, residente.
Já o cinema é uma arte, assim como a pintura, a música, a literatura, entre
outros. É consagrada como a sétima das belas artes, a arte do real feito pela ilusão.
Como Miranda diz que conforme o cinema “[...] deixou de ser uma curiosidade
científico-popularesca e passou à categoria de arte [...] passou a exprimir-se numa
linguagem supranacional, manobrada financeiramente em termos também
internacionais.” (MIRANDA, 1971, p. 15). O cinema pode ainda englobar muitas
artes reunidas em um só propósito: entreter. Um filme, seja de curta ou longa
metragem, seja qual gênero for, e até mesmo publicitários, tem um poder de
comover o espectador.
O Ministério do Turismo criou algumas produções textuais sobre estudos
acerca do segmento o Turismo Cinematográfico, tendo como documento norteador
Estudo de Sinergia e Desenvolvimento entre as Indústrias do Turismo e Audiovisual
Brasileiras (2007), material este que contém a Cartilha do Turismo Cinematográfico
Brasileiro, sendo esta uma síntese para que municípios e regiões do país
identifiquem seus potenciais para captação de produções audiovisuais. De acordo
com a Cartilha, é irresistível o clima gerado no escuro do cinema, onde as pessoas
podem se desligar um pouco da vida real, dos seus problemas e relaxar assistindo
aventuras de personagens de ficção (BRASIL, 2007b). É a busca de novas
sensações que querem sentir, em contramão das de sua própria vida.
Na revista Tabu, produzida pelo ‘Estação NET Cinema’, há uma matéria
intitulada Cinema & Viagem, em que a historiadora Ana Luiza Beraba (2015, p. 28)
argumenta:
Uma das funções mais bonitas e primordiais do cinema é o convite à viagem. Embarca-se sem passaporte nem bagagem, a um custo bem modesto, numa “viagem imóvel” a qualquer parte do mundo, num transe de 90 minutos em que é possível despir a alma, baixar as máscaras, porque na sala escura não há julgamento alheio; [...] não seria abusivo dizer que o cinema é a forma mais democrática de se viajar.
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Essa descrição do prazer de ir ao cinema pode ser vista e entendida em uma
interessante cena do filme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro (2003), do diretor Guel
Arraes. Logo na primeira cena do longa metragem, a protagonista Lisbela
(interpretada por Débora Falabella) e seu companheiro Douglas (Bruno Garcia)
entram em uma sala de cinema e ela logo descreve como se sente ao assistir a um
filme na telona. A personagem aficcionada por filmes diz:
Antes do filme se fala baixinho. Eu adoro essa parte, a luz vai se apagando devagarzinho, o mundo lá fora vai se apagando devagarzinho, os olhos da gente vão se abrindo, daqui a pouco a gente não vai nem mais lembrar que tá aqui. [...] A gente vai conhecer um monte de pessoas novas, um monte de problemas que a gente não pode resolver, que só eles podem, vamos ver como e quando, está começando [...].
E durante todo o restante do filme, Lisbela faz algumas novas referências ao
cinema e aos “filmes de comédia romântica com aventura”, como diz ela. Ela sonha
com o que vê nas histórias dos filmes. Menezes (1958) ressalta que o mistério do
cinema vêm da força da imagem apresentada na sua amplitude natural, já que tudo
que é visto é melhor compreendido.
Para Nascimento (2009, p. 12),
O cineturismo, como foi cunhado pelos italianos – movie tourism para os americanos ou ainda screentourism, como usam os ingleses, é nada mais, nada menos, que uma forma de turismo que se baseia na visitação às locações onde são produzidos filmes e séries televisivas e cinematográficas.
Beeton (2005) usa o termo film induced tourism, utilizado mais comumente na
Austrália, que em tradução livre da autora, significa o turismo induzido por filmes. O
significado desta expressão é o mesmo que Nascimento (2009) usa. Porém, Beeton
(2005), inclui na explicação, passeios para estúdios de produção e parques
temáticos relacionados com os filmes.
Em sua obra, Beeton (2005) traz ainda uma classificação desse segmento em
on location e off location. A primeira diz respeito à visitação das locações reais,
países, cidades, ruas, pontos turísticos, entre outros, que são mostrados nos filmes.
Um exemplo disso pode ser o filme Sob o sol da Toscana (2003), o qual mostra toda
a beleza da região da Toscana, na Itália, fazendo sua promoção para o mundo. É
dirigido por Audrey Wells e estrelado pela grande atriz Diane Lane, que recebeu
indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Atriz. O filme obteve grande
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sucesso com sua história envolvente. Mais exemplos serão abordados ao longo do
trabalho.
Já a segunda classificação, off location, se refere às locações construídas
pelo homem, como estúdios e parques temáticos, estes últimos criados para o
visitante se sentir mais próximo ao que vê nos filmes. Beeton cita ótimos exemplos
de produtoras que aceitam receber visitação, vendendo seu produto, como Universal
Studios, Paramount Studios e Warner Brothers.
O parque temático do Harry Potter chamado The Wizarding World of Harry
Potter, na Universal Orlando, foi, como tantos outros, criado em 2010 com este
objetivo: permitir que os fãs da saga se sentissem na escola de magia e bruxaria
Hogwarts, em Hogsmeade e até ao lado dos personagens. Walt Disney foi
provavelmente o pioneiro neste recurso. Nascimento (2009, p. 11-12) constata que
Disney notou
[...] o desejo do público de tocar ou mesmo ver de perto aquilo que estava sendo projetado na tela de uma sala escura. A partir daí, em um processo altamente sinérgico, Disney e sua equipe começaram a utilizar seus personagens dos quadrinhos para promover filmes, e estes para atrair multidões ao seu recém-criado parque de diversões em 1955. Ali, por sua vez, o clico se reiniciava com a criação de experiências cada vez mais complexas que levavam o público ao delírio e ampliavam a empatia entre este e os personagens das páginas e telas.
Esse sentimento traz uma satisfação que o consumidor não esquece.
Consumidores estes que levam o nome de set jetters, que significam turistas
visitantes de locações (NASCIMENTO, 2009), aqui podendo ser chamados também
de turistas cinéfilos.
De acordo com o Ministério do Turismo, no Estudo de Sinergia e
Desenvolvimento entre as Indústrias do Turismo e Audiovisual Brasileiras (BRASIL,
2007a, p. 10):
O turismo e o audiovisual têm dois pontos evidentes de sinergia. O primeiro deles, tangível e de impacto direto, provêm de vinda e circulação de equipes
de produção que filmam na região [...]. Mas o principal ponto de sinergia é o segundo, indireto e intangível, que provém da exportação de cenários e valores culturais e históricos das locações ao mundo todo, através das telas de cinema, televisão, computadores e novas mídias, quem tendem a atrair turistas às locações dos países expostos em filmagens em curto, médio e longo prazo.
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O grande objetivo do cinema é contar uma história capaz de o espectador
entender e se fascinar. Existe uma vasta lista de filmes que ficaram famosos
mostrando cidades pelo mundo. Lugares novos aos olhos de quem assiste a um
filme geram uma vontade de fazer uma visita. A pessoa que é fã de cinema ou
simplesmente gosta de assistir a um filme, ama viajar, ou pelo menos, gosta de ser
turista por algumas vezes, ganha muito com essa modalidade do turismo
cinematográfico.
Para captar, organizar e administrar produções audiovisuais, geralmente
cidade, estados ou países criam uma Film Commission (FC). Segundo a Cartilha
(2007b), uma FC é um escritório que centraliza informações sobre filmagens da
região com objetivos de facilitar o trabalho dos produtores e promover o potencial da
região no meio audiovisual. No Brasil, foi criada a Associação Brasileira de Film
Commissions (Abrafic), associação que reúne todas as unidades existentes dentro
do país. Assim, torna-se mais rápido que empresas ou produtores encontrem a FC
de seu interesse.
Muitos países utilizam o cinema como meio de se vender para outros. E ficam
nos Estados Unidos, os maiores vendedores deste recurso, eles adotam o cinema
como tática de Estado, fazendo dos seus filmes, o principal veículo de propagação
do American Way of Life (estilo de vida americano), que será aprofundado no
próximo capítulo. Eles levam tão a sério o assunto que o escritório da associação
que cuida dos direitos dos produtores e distribuidores americanos, tem sua sede
dentro da Casa Branca. (BRASIL, 2007b).
Outro aspecto muito importante a ser levado em conta para o sucesso de um
filme e, consequentemente, a crescente visitação no local filmado, é a emoção
passada pelos atores em cena. Pensando nisso, para Steve Solot, presidente da Rio
Film Commission, há vantagens significativas na produção de um filme. Ele afirma
que
Um filme atua sobre o espectador como um folheto virtual, com três vantagens sobre a publicidade turística convencional: é mais duradouro no tempo, alcança um público maior e cria vínculos emocionais ao integrar a paisagem nas histórias e personagens que atraem o espectador de maneira mais intensa (SOLOT, 2015, [s.p.]).
Essa fala foi retirada de uma matéria feita por Steve e publicada do site
Revista de Cinema, onde ele afirma ainda que as film commissions foram incluídas
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no “Plano de Diretrizes e Metas para o Audiovisual” da Agência Nacional de Cinema
(ANCINE), significando finalmente o reconhecimento oficial delas juntamente com
seu importante papel na cadeia econômica audiovisual brasileira.
Para exemplificar o papel do audiovisual no turismo, pode-se observar
grandes sucessos de bilheteria e audiência. Um caso, que se tornou talvez o maior
destaque na imprensa e em estudos acadêmicos, é a trilogia Senhor dos Anéis,
filmada na exótica Nova Zelândia. De acordo com o Estudo de Sinergia (2007a),
houve impacto de 10% de aumento anual entre 1998 e 2003 apenas no Reino Unido
(disponível mais a frente na figura 1 deste trabalho). Entretanto, a partir de 2012, o
país começou a ver o número de visitantes decair. Isso por conta de uma crise,
deixando o dólar muito alto, e de um terremoto que o acometeu em 2011. Na
esperança de reacender o turismo, outro romance foi adaptado ao cinema, O Hobbit
(2012), nova trilogia da saga. O diretor de turismo da Nova Zelândia, Kevin Bowler,
concedeu uma entrevista, dizendo que queriam mostrar aos turistas potenciais a
magia da Terra Média, mundo ficcional dos filmes (VIAGEM UOL, 2012).
De olho na economia, roteiros turísticos baseados em filmes crescem a cada
dia. Game of Thrones é uma série de TV americana, produzida e exibida pela Home
Box Office (HBO) desde 2011, que ficou muito popular, pois ganhou muita
notoriedade com sua história. A produção usa inúmeras locações da Europa para
suas filmagens. Países como Irlanda do Norte, Croácia, Escócia, Islândia, Marrocos,
Malta e Espanha servem de cenários para as cenas de batalhas que enchem a
trama de ação. Pensando nisso, foram criados roteiros personalizados, com guias
que acompanham os turistas, contando histórias e curiosidades sobre as cidades e
locações que aparecem na série.
Um exemplo relevante a ser destacado é o projeto Cities of Love (Cidades do
Amor, em tradução literal). Ele foi criado com o intuito de contar histórias de amor
ambientadas em cidades, que levam o nome no filme. A proposta é a de reunir
cineastas de diferentes estilos, cada um responsável por um curta-metragem
independente, formando no final um filme inteiro. A franquia foi idealizada e
desenvolvida pelo francês Emmanuel Benbihy, produtor, roteirista e diretor, tendo
início em 2006, com o aclamado filme Paris, Je T'Aime (Paris, Te Amo), seguidas
por New York, I Love You (Nova York, Eu Te Amo, 2008) e Rio, Eu Te Amo (2014).
E no momento, estão em produção Jerusalem, I Love You previsto para 2016 e
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Shanghai, I Love You (sem previsão de estréia). Esses filmes oferecem mais
oportunidades de conhecer as cidades (PAPODECINEMA, 2014).
Partindo desta mesma premissa, algumas novelas brasileiras utilizam desse
artifício para atrais o público, como por exemplo, as novelas “O Clone” (2001),
“Caminhos das Índias” (2009) e “Salve Jorge” (2012) que foram sucesso de
audiência levando os brasileiros a procurarem os destinos que eram apresentados
nas obras, como Marrocos, Índia e Turquia, respectivamente.
Dumazeider (2008) explicita três funções para o lazer: a primeira, função de
descanso; a segunda, função de divertimento e entretenimento; a última é função de
desenvolvimento. Pode-se dizer que o turismo se inclui nas três funções, pois pode
gerar descanso no corpo e na mente; geralmente, há entretenimento nas atividades
turísticas; e pode desenvolver o turista, em vários aspectos. Já o cinema se encaixa
melhor nas duas últimas funcionalidades: ele entretém a pessoa, gerando
divertimento, e pode desenvolvê-la, em especial, culturalmente; podendo ficar
comprometida a primeira função, pois o cinema é muito diverso e gera reflexões,
demanda atenção, raciocínios, gera emoções positivas e negativas que podem
prejudicar o descanso.
1.2 O TURISMO NO PÓS-GUERRA MUNDIAL E A INFLUÊNCIA DO
AUDIOVISUAL PARA O DESTINO
No período entre as duas grandes guerras mundiais (1918 a 1939) o turismo,
como atividade social e econômica, engatinhava para seu desenvolvimento. Porém,
guerra é um conflito que envolve política, economia, sociedade, bem estar, entre
outros. E, da grandeza destruidora que surgiu a segunda grande guerra, não tinham
possibilidades de os países participantes, direta ou indiretamente, não se abalarem.
A Segunda Guerra Mundial iniciou-se em setembro de 1939 e perdurou até
1945. Segundo Barretto (2008), durante esse período, o turismo ficou quase que
estático. O transporte aéreo se mostrou eficiente neste conflito, e logo em 1945, foi
criada a International Air of Transport Association (IATA), associação oficial
reguladora do direito aéreo. Com isso, “[...] o turismo entrou na era do avião”.
21
(BARRETTO, 2008, p. 54). Esse foi o pontapé inicial para a expansão definitiva do
turismo.
A partir do fim dessa guerra, o turismo viu seu crescimento ganhar volume
gradativamente. Com a revolução tecnológica, a televisão entrando na casa de cada
vez mais pessoas, tudo foi propiciando aos gastos com viagens a lazer. A atividade
turística foi uma das mais importantes para reerguer a economia europeia, que
logicamente por conta da guerra, ia mal. O primeiro pacote aéreo foi vendido em
1949. De acordo com Ignarra (2013, p. 7),
Um contínuo aumento do Produto Interno Bruto (PIB), de 3% ou mais ao ano nos países da Europa ocidental, propiciou crescimento de 6% ao ano das viagens. O turismo mostrou-se elástico em relação à renda. Esse grande crescimento, no entanto, concentrou-se nos 25 países mais desenvolvidos do mundo. Estes, que englobavam menos de um quarto da população mundial, concentraram 85% das chegadas de turistas internacionais e 80% de seus gastos.
Ainda segundo Ignarra (2013), o que ajudou muito na promoção dos atrativos
dos países estrangeiros foi o advento da televisão, citado anteriormente. E então,
Duarte (2010) argumenta que as leis que ajustavam a jornada de trabalho foram
gradativamente introduzidas em países industrializados como Alemanha, França e
Inglaterra, garantindo assim um maior tempo livre a fim de se usar com o lazer. Com
isso,
Frequentemente, as migrações de lazer levam à compra de um automóvel e a mesma tendência geral que determina o desenvolvimento dos meios de transporte familiares influirá também evidentemente no aumento do número de viagens (DUMAZEDIER, 2008, p. 152).
Essa compra de automóveis mais acessível foi, aos poucos, mudando o estilo
de vida da classe média de países industrializados, como os europeus citados acima
(IGNARRA, 2013).
As pessoas que viajavam, o que era sinônimo de status antes da Revolução
Industrial, eram bem quistas perante a sociedade, amigos e familiares. Com o
passar dos anos, o poder do turismo foi se firmando como uma atividade que gera
crescimento econômico local que “[...] pode, até, como no caso da Espanha,
reerguer um país após duas guerras consecutivas” (BARRETTO, 2008, p. 71).
22
A primeira figura mostra essa evolução do turismo internacional nos anos de
1950 a 2007, sendo possível observar o crescimento constante na Europa a partir
dos anos 50. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o turismo apareceu para o
mundo.
Figura 1: Chegada de turistas por região de destino de 1950-2007. Fonte: World Tourism Organization [s.d.]
Durante muitos anos, o turismo tem experimentado um crescimento
contínuo e uma profunda diversificação para se tornar um dos setores econômicos
que mais cresce no mundo. O turismo mundial está intimamente ligado ao
desenvolvimento e um número crescente de novos destinos faz parte dele. Esta
dinâmica transformou o turismo em um dos principais impulsionadores do progresso
socioeconômico (UNWTO, [s.d.]).
Paralelamente a isso, as produções cinematográficas foram ganhando corpo
e conhecimento sobre o poder do turismo visando o lucro. Muitas vezes pode se
pensar que o cinema tem como finalidade comercializar algo ou alguém. No caso do
turismo, ele vende imagens de uma determinada localidade. Miranda (1971, p. 14)
atesta que “[...] face ao impasse, assume aspectos dramáticos a constatação de que
hoje o cinema nada mais é que um mero instrumento de ação a serviço das
estruturas dirigentes do Estado – política, social e artisticamente falando”.
Pode-se observar na figura a seguir, os impactos no turismo que alguns filmes
causaram nos destinos que serviram de locação:
23
Figura 2: Impactos do Turismo Cinematográfico. Fonte: Estudo de Sinergia e Desenvolvimento entre Indústrias do Turismo e Audiovisual Brasileiras
(BRASIL, 2007a, p. 11).
24
Esses foram alguns exemplos de como o turismo impulsiona a economia local
desde a alimentação até hospedagem. Pela figura 2 pode-se observar como um
filme pode ser determinante para o aumento de visitantes de um destino.
A atividade turística estimula geração de empregos formais e informais e a
especialização de profissionais da área. Por isso, há forte concorrência entre as Film
Commissions, tendo em vista a projeção que uma produção cinematográfica pode
trazer para os locais filmados, tendo em vista a economia da cidade e,
consequentemente, o turismo.
Sendo assim, nota-se que o cinema ganhou muitas responsabilidades sociais,
porém:
[...] rompidas as coordenadas básicas tradicionais da arte, um dos seus aspectos característicos permanece intocado: o seu compromisso com o Homem. Vale dizer: com a Liberdade, pois, como sabemos, essencialmente o Homem nasceu para ser livre (MIRANDA, 1971, p. 14).
Logo, pode-se refletir que um filme antes de ambicionar o lucro, vender
produtos e fomentar o turismo, deve seguir a livre ideia de apresentar uma história
às pessoas.
Neste primeiro capítulo foi visto que a relação do cinema e do turismo tem
avançado nas políticas públicas e privadas e na economia. No capítulo seguinte,
tem-se uma contextualização geral da época em que o filme Interlúdio (1946) se
desenvolveu, abordando a Segunda Guerra Mundial e a relação com o Brasil, e o
Rio de Janeiro de 1940 se iniciando no turismo.
25
2 O CONTEXTO HISTÓRICO DO FILME INTERLÚDIO
Entra-se agora no contexto histórico do filme objeto de estudo deste trabalho,
o Interlúdio, lançado em 1946, um ano após o fim da Segunda Grande Guerra.
Portanto, era ainda bem recente todo o horror vivido pelo mundo inteiro durante os
anos anteriores. A história do filme transita entre a espionagem dos americanos e
alemães nazistas, a paixão que envolve o estrelado casal e os cenários cariocas.
2.1 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O BRASIL
A Segunda Grande Guerra durou quase seis anos, entre 1939 a 1945, e custou
a vida de mais de 60 milhões de pessoas. Foi, sem dúvidas, mais devastadora do que
a Primeira Guerra que havia terminado a vinte e um anos antes. A Guerra tinha dois
lados, os Aliados que eram formados por França, China, Grã-Betanha, Estados
Unidos da América (EUA) e União Soviética (URSS) e as potências do Eixo, por
Alemanha, Itália e Japão. “O termo Eixo foi criado por Mussolini para definir o
alinhamento entre Roma, Berlim e Tóquio” (BARONE, 2013, p. 89).
É de se imaginar que quanto mais apoio se tem em uma guerra, maiores são
as chances de vencê-la. Apoio esse que vinha da política, economia, força bélica,
dentre outros. Pensando nisso, o Brasil virou alvo de disputa entre essas potências a
fim de garantir vantagens, como maior território pelo ar e pelo mar.
Na época da Segunda Guerra, no Brasil, o político que presidia era Getúlio
Dornelles Vargas, considerado pelo povo um dos presidentes mais emblemáticos da
história do país, e por autores como Aurélio (2009), Barone (2013) e Lochery (2014).
Isso porque permaneceu no poder do país por 18 anos. Teve dois períodos de
mandatos: o primeiro em 1930 a 1945 e, o segundo entre 1951 a 1954. Foi um
ditador com uma faceta popularizada pela sua criação das leis trabalhistas
(AURÉLIO, 2009).
Aurélio (2009) produziu um dossiê sobre Getúlio Vargas onde relata sua
carreira política e todos os anos, planos, atos e leis. Em 1938, Vargas delineava um
projeto nacional de desenvolvimento econômico e da indústria de base, quando viu o
país dentro de um jogo de interesses com as potências mundiais dos EUA e da
26
Alemanha, no qual a barganha de apoio a um ou a outro lhe conferia financiamento
de uma companhia siderúrgica (AURÉLIO, 2009). A partir daí, o Brasil ganhou
notoriedade e virou mais um motivo de disputa dentro da Segunda Guerra Mundial.
Nessa época, o Brasil tinha uma relação lucrativa e consolidada com a
Alemanha. Militares brasileiros desejavam comprar armas alemãs e Berlim lhes
oferecia condições especiais de pagamento. No entanto, os Estados Unidos
arquitetavam planos de atrair o Brasil para seu lado, pois era uma região ideal para
impedir o crescimento dos atos nazistas. Isso visto que a Argentina se submetia a
um governo pró-nazista, atraindo agentes de Adolf Hitler (LOCHERY, 2014).
A participação do Brasil na guerra começou tímida em meio ao grande
barulho que esta produzia. Isso porque o presidente queria manter o país neutro,
pois mantinha rentáveis negócios tanto com o governo americano como com o
germânico. As duas potências tentavam alinhar seus interesses econômicos,
comerciais, militares e estratégicos com os do Brasil. Em jogo, enfim, estava o
aguardado financiamento da indústria de base nacional (AURÉLIO, 2009). Porém,
esta neutralidade a que pretendia colocar o país foi vista como um “namoro” do
presidente com os governos nazi-fascistas e totalitários, uma espécie de admiração.
O avanço implacável dos nazistas na Europa ocidental na primeira metade da década de 1940 entusiasmou não só o alto escalão do governo brasileiro, mas também as populações de origem germânica do Sul do país, que não estavam devidamente integradas à sociedade brasileira. A colônia alemã nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná havia muito já era alcançada pelas ondas da Rádio Berlim, acentuando o germanismo (TOTA, 2000, p. 23).
Segundo Tota (2000), a América Latina estava sujeita a riscos: de se
submeter a ideologias como o fascismo, comunismo e socialismo, que
representavam empecilhos ao plano de se expandir o liberalismo norte-americano.
Pressionado a escolher um lado e de olho em uma cadeira para o Brasil no
grupo seleto da recém-formada Organização das Nações Unidas, Vargas usou como
estratégia esse apoio aos Estados Unidos. Em 1942, criou a Comissão Militar Mista
Brasil-Estados Unidos, garantindo de vez seu espaço geográfico e toda ajuda
econômica e com matérias-primas para os norte-americanos.
27
Segundo Lochery (2014), o Brasil entra na guerra quando declara uma
proximidade aos Aliados, especificamente aos Estados Unidos, em 1942. Logo, o
Eixo se viu no direito de reagir. Para Barone (2013, p. 23):
[...] a Segunda Guerra chegou ao Brasil através do mar. Em agosto de 1942, depois dos seis afundamentos seguidos [...] centenas de mortos e o clamor do povo nas ruas, o governo Vargas foi forçado a se posicionar quanto ao Eixo.
Assim, durante a década de 1940, devida à aliança dos Estados Unidos, a
industrialização, o transporte e a posição política do Brasil passaram por uma
transformação radical (LOCHERY, 2014).
Uma campanha de grande responsabilidade na conquista dos americanos
com os brasileiros foi a Política da Boa Vizinhança. De punho artístico, militar,
político e econômico, ela tinha o objetivo de estreitar os laços com a América do Sul.
Ela teve presságio que aconteceria ainda no governo de Hoover. Em 1928, Hoover
viajou para alguns países da América Latina e em um discursou chamou-a de good
neighbor (em tradução literal, bom vizinho). Essa expressão foi adotada por Franklin
D. Roosevelt, sucessor de Hoover, a partir de 1933, quando então, teve início de
fato essa política externa (TOTA, 2000).
"O cinema, a maior de todas as inovações americanas na área do
entertainment, divulgou, mais do que qualquer outro meio, o American way of life
[...]" (TOTA, 2000, p. 21). Foi por meio do rádio e do cinema, que a cultura norte-
americana se sobressaiu à cultura latino-americana.
Época em que,
[...] o fenômeno cultural (carregado de clichês tropicais e exóticos) da portuguesa naturalizada brasileira Carmen Miranda em Hollywood, o malandro Zé Carioca da Disney, as Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, compostas justamente de 1930 a 1945 e a publicação das obras clássicas dos “intérpretes do Brasil” foram elementos artísticos, culturais e intelectuais de estilos e objetivos variados, mas que acabavam por se fundir e se referenciar numa época em que palavras como “nacionalidade” e “desenvolvimento” começavam a pipocar na voz da “opinião pública” e, claro, na de Getúlio Vargas e seus partidários (AURÉLIO, 2009, p. 43-44).
O filme Alô, amigos (1942) de Walt Disney, a presença de Carmen Miranda
na ponte aérea Brasil-EUA e a música foram alguns elementos de destaque na
política que visava agradar o público brasileiro.
28
Figura 3: Roosevelt, Vargas e militares. Fonte: Livro O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da segunda guerra (TOTA,
2000).
Na figura 3, acima, vê-se “Roosevelt, Vargas e militares americanos e
brasileiros na base americana em Natal, conhecida como Parnamirim Field, Nesse
encontro, realizado em 1943, negociou-se a participação militar do Brasil na guerra”
(TOTA, 2000).
Para apoiar os Aliados na guerra e mandar os soldados brasileiros, foi
organizada uma espécie de força-tarefa chamada Força Expedicionária Brasileira
(FEB). Barone (2013, p. 99) explica que:
A tarefa de organizar a FEB seria um enorme desafio, e o tempo disponível era curto. Havia urgência em aproveitar aquele momento para incluir o Brasil no seleto grupo dos países Aliados. Alguns relatos acusam a existência de planos para a criação de uma força expedicionária brasileira ainda em 1941, mas só no início de 1943 Vargas aprovou a formação de um corpo expedicionário, cuja estrutura logística dependeria diretamente do apoio militar americano.
Foi sob o comando do general João Batista Mascarenhas de Moraes, que
uma divisão de 25 mil homens (de um total de 100 mil inicialmente), além de homens
da Força Aérea, lutaram na Itália (BARONE, 2013).
29
Figura 4: Símbolo da FEB.
Fonte: Livro O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da segunda guerra (TOTA, 2000).
O símbolo da FEB é uma cobra fumando, como se observa na figura 4.
Porém, o desenho foi originalmente feito por Walt Disney e “[...] mostrava uma cobra
atirando com dois revólveres de grosso calibre. Esta versão, menos belicosa e que
se tornou oficial, foi elaborada por um sargento brasileiro” (TOTA, 2000, p. 161).
A participação do Brasil na guerra foi de grande importância para a vitória em
cima da Alemanha, tendo contribuído com força marítima e medicamentos, entre
outros. E quanto à americanização, ela não surgiu de forma totalmente passiva,
segundo. A firme presença dos meios de comunicação norte-americanos provocou
um “choque cultural”, mas não desmantelou a cultural e sim, acabou produzindo
novas formas de manifestação cultural” (TOTA, 2000).
Durante todo o período da guerra, o turismo internacional ficou interrompido, e
quando foi reestabelecido, trouxe um grande impacto do investimento político e
cultural que a Política da Boa Vizinhança herdou: uma nova imagem do Brasil na
América (CASTRO, 2006).
30
2.2 O RIO DE JANEIRO TURÍSTICO E O CENÁRIO CULTURAL DA DÉCADA
DE 40
América do Sul, Brasil, Rio de Janeiro. A fama de cidade maravilhosa se
espalha nos quatro cantos do mundo. Em 2012, a cidade foi promovida a Patrimônio
Mundial da Humanidade pela UNESCO, que abriga o Cristo Redentor, um dos
maiores símbolos da cidade e uma das sete maravilhas do mundo moderno.
Porém, aqui o assunto é sobre o Rio antigo, de 1940, época em que ainda era
a Capital Federal do Brasil. Em 1763, viu-se a necessidade de mudança do
município sede da Capital Federal, retirando de Salvador, na Bahia, e passando
para o Rio de Janeiro, o posto de capital. Isso foi devido à sua importância
econômica, política, social e comercial, e permaneceu por mais de 200 anos, entre
1763 e 1961.
Muitos pontos turísticos como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e as areias
de Copacabana, não perdem notoriedade com o passar do tempo e estão no topo
da lista dos turistas até hoje. No entanto, alguns elementos foram abolidos como os
inúmeros cinemas de rua, os musicais no Copacabana Palace Hotel, os tradicionais
bailes de carnaval, o Cassino da Urca, as cantorias de Carmen Miranda.
No começo do século XX, o Rio de Janeiro sofreu grandes reformulações
urbanas, que modificaram toda a aparência da capital.
O Rio é transformado em uma metrópole nos trópicos, com boa parte do ar ainda colonial da cidade sendo substituída por uma aparência mais condizente com a belle époque das principais cidades europeias. (CASTRO, 2006, p. 120).
O centro do Rio respirava uma mistura de Paris e Hollywood. “A belle époque
é propriamente uma construção discursiva, apoiada na coloquialidade da imprensa e
dos polígrafos, na leveza do art-nouveau, no chiste de marchinhas, lundus e cia., na
neutralidade do repertório teatral” (HEFFNER, 2015).
A partir de 1920, a infraestrutura turística do Rio de Janeiro começa a ganhar
forma. Em 1923, o hotel Copacabana Palace é inaugurado e ainda na década de 20,
surgem as primeiras viagens internacionais de avião para o Brasil. Já em 1931,
31
inaugura-se a estátua do Cristo Redentor, no morro do Corcovado, e os desfiles de
Carnaval começam em 1932. De 1920 ao fim da guerra, o Rio de Janeiro se inseriu
no campo do turismo internacional (CASTRO, 2006).
Copacabana Palace servia como casa de shows, exibindo musicais onde os
atores que eram aplaudidos de pé. Inclusive o filme Flying down to Rio (1933) foi
filmado no hotel. Eram tempos de glamour da Broadway brasileira. A Cinelândia com
arquitetura parisiense com toque hollywoodiano; a Lapa, reduto boêmio e musical,
berço do samba com seus malandros, boêmio igual Montmartre, em Paris, na
França; as pedras portuguesas do calçadão de Copacabana, vindas de Portugal.
Os cassinos, legalizados pelo governo Vargas, viviam seus anos dourados.
Dividindo com o bondinho do Pão de Açúcar, na Urca, o ponto turístico da região, o
Cassino da Urca também atraía muitas pessoas. Com traços art déco, a casa dos
jogos de azar dividia espaço com as apresentações icônicas como as de Orson
Welles, Bing Crosby e Carmem Miranda. Na figura 5, abaixo, vê-se a casa cheia em
dia de festa.
Em abril de 1942, em uma homenagem ao presidente Vargas, Orson Wells foi
o mestre-de-cerimônias da festa e “[...] o cassino da Urca, dizia ele, era o último
lugar verdadeiramente alegre que restava no mundo” (TOTA, 2000, p. 122). Para a
sociedade carioca, repleta de empresários e socialites, o cassino se tornou o point
para se relacionarem, “onde a elite do poder e do dinheiro apostou no jogo, nas
paixões e em golpes de Estado” (PIVA, 2012).
32
Figura 5: Cassino da Urca na década de 40. Fonte: Site Isto É (2012).
A cultura dessa cidade era o samba e a alegria, representados por figuras
como Zé Carioca, Carmen Miranda e Ary Barroso. Carmen, a figura caricata tropical
de uma baiana com frutas na cabeça e brilhos nas roupas, se tornou “[...] em tempo
recorde, a atriz mais bem paga do mundo, assim como a primeira latino-americana a
deixar sua marca na ‘calçada da fama’” (FREIRE-MEDEIROS, 2005, p. 18). Para
Carmen, não faltam codinomes, como “a pequena notável”, embaixatriz da Política
da Boa Vizinhança, representante do Brasil, Ditadora Risonha do Samba e Brazilian
Bombshell. Em diversas entrevistas se declarava brasileira apesar de ter nascido em
Portugal, pois com menos de um ano de idade emigrou com a família para o Brasil e
não voltou mais ao país de origem. Porém, “Carmen não tinha mais uma identidade
nacional. Transformara-se em um estereótipo da mulher latino-americana” (TOTA,
2000, p. 119).
O Carnaval, a maior festa de rua nacional, irradiava música, e “sua função
chegava a ser política, pois, segundo o jornal, ela evitava revoluções” (TOTA, 2000).
Ainda hoje, esta tática, como pão e circo funciona não só na cidade, mas no Brasil
inteiro. A festa serve não somente para entreter o povo, mas para acalmar os
ânimos de qualquer possível manifestação contrária aos governos. Também, o
Carnaval, e escolas de samba, começaram a ser mais aceitos no governo de
Vargas, de olho na economia que subia.
33
Feito esta breve contextualização do panorama histórico do filme Interlúdio
(1946), fica mais fácil compreender a trama e as cenas que serão analisadas no
próximo capítulo.
34
3 ANÁLISE DO IMAGINÁRIO TURÍSTICO DO RIO DE JANEIRO NO FILME
INTERLÚDIO
Estudar o turismo cinematográfico, sem mencionar sobre imagens e
imaginários que cercam os destinos turísticos não seria possível. Quando as
pessoas pensam em alguma localidade, elas já as associam aos seus imaginários. A
mídia tem grande peso nessa apresentação prévia sobre um destino. Porém, antes
de a mídia existir, era por meio de cartas que o povo conhecia sobre os lugares
desconhecidos para ele.
Nesta seção, tem uma resenha geral sobre imagens e imaginários no cinema e
no turismo; é apresentado o filme objeto de estudo deste trabalho com uma análise
fílmica e da imagem do Rio de Janeiro que Alfred Hitchcock conheceu e mostrou em
seu filme; e a análise das entrevistas realizadas e o legado do turismo
cinematográfico do filme Interlúdio.
3.1 IMAGENS E IMAGINÁRIOS NO CINEMA E NO TURISMO
Há exatos 516 anos atrás, as primeiras expedições atracavam nas beiras das
águas de terras desconhecidas para explorar suas riquezas. Essas terras, hoje
chamadas de brasileiras, eram como uma grande selva para os civilizados
europeus. Portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e holandeses realizavam
relatos e cartas contribuindo para a criação de uma imagem do país. A novidade era
de ver os índios, os habitantes originais, os pássaros silvestres, plantas, frutas,
sementes, costumes e aparências físicas que não eram comuns aos viajantes. Daí,
surge a formação de um imaginário do Brasil com o paraíso (BIGNAMI, 2005).
A carta de Pero Vaz de Caminha é uma das mais famosas e citadas até hoje
para representar os relatórios e pesquisas que os colonizadores faziam para enviar
às suas terras natais. Cristóvão Colombo foi o primeiro, ou um dos primeiros
navegantes a pisar na América. Segundo Todorov (1982) Colombo falava muito em
35
“gentes negras” e o extremo calor que fazia na América do Sul. Essas terras e suas
gentes eram vistas como exóticas e místicas. Para Todorov (1982), o exotismo era
um elemento presente na tradição cultural da Europa Ocidental, que se encontrava
em torno de três aspectos básicos: alteridade, distância e desconhecimento.
Portanto, tudo que não era conhecido, que pertencia ao “outro”, era exótico.
A imagem de um Brasil permeada na ideia de Inferno-Paraíso “[...] deve ser vista
como parte de uma ideologia que se inspirava nos moldes religiosos e na expansão
comercial européia” (BIGNAMI, 2005, p. 85).
Chamado como país tupiniquim1, foi, no entanto, a partir do século XIX, que
essa imagem do paraíso foi ganhando novas atualizações. Segundo Bignami (2005),
a expansão comercial, tecnológica e científica, a Revolução Industrial e o
crescimento das cidades, resultaram em um diálogo mais aberto entre os dois
continentes. A vinda da família Real e a abertura dos portos também possibilitou que
novos visitantes viessem conhecer um Brasil gradativamente mais urbano, com
condições de vida, atividades e um cotidiano cada vez mais próximos dos europeus.
(BIGNAMI, 2005).
Com o modernismo a todo vapor, criação de rádio, televisão e o cinema, os
imaginários turísticos foram ganhando mais forma na mente das pessoas. O turismo
e seus imaginários se complementam de alguma maneira. Gastal (2005) afirma que
o desconhecido e o novo provocam sentimentos instáveis nas pessoas que são
produzidos em diferentes épocas e maneiras.
Para Gastal (2005, p.13) imagens e imaginários não são sinônimos, são
conceitos que se relacionam:
Imagens porque, na própria cidade ou no estrangeiro, antes de se deslocarem para um novo lugar, as pessoas já terão entrado em contato com ele visualmente, por meio de fotos em jornais, folhetos, cenas de filmes, páginas na Internet ou mesmo por intermédio dos velhos e queridos cartões-postais. Imaginários porque as pessoas terão sentimentos, alimentados por amplas e diversificadas redes de informações, que levarão a achar um local “romântico”, outro “perigoso”, outro “bonito”, outro “civilizado”. A esses sentimentos construídos em relação a locais e objetos (e, por que não, a pessoas) temos chamado de imaginários.
1 Oriundo da tribo Tupi Guarani.
36
A fotografia, o cinema, a televisão e a Internet são mídias e meios de
comunicação entre as pessoas no mundo contemporâneo. “O cinema povoa o
extraterrestre com seres de toda ordem, um novo mundo desconhecido que agora
se encontra no espaço sideral, para além da órbita do planeta Terra” (GASTAL,
2005, p. 59). O cinema ou qualquer outra mídia social tem o poder de apresentar ao
mundo, o desconhecido. Hoje em dia, mais ainda, há muita facilidade em
compartilhar artistas, produtos, entre outros.
Para Amancio (2000, p.140),
[...] atravessada pela banalidade, pelo lugar-comum e pelo preconceito, a imagem do Brasil e dos brasileiros nos filmes de ficção estrangeiros se ordena segundo articulações históricas, procedimentos retóricos, simplificações sócio-culturais.
Assim, se cria o estereótipo dos lugares desconhecidos, muito a ver com o
passado do lugar.
Ainda segundo Amancio, (2000, p. 137)
[...] o pensamento estereotipado se define aqui por ser uma imagem ou opinião aceita sem reflexão por uma pessoa ou um grupo e exprime um julgamento simplificado, não verificável e às vezes falso sobre tal grupo ou sobre algum acontecimento.
Kotler (1984 apud BIGNAMI, 2005), aborda também sobre isso, diferenciando
imagem de estereótipo. Para o ele, o estereótipo provém de uma construção mais
difusa, se relacionando com o conhecimento coletivo, baseado no senso comum,
enquanto a imagem é mais individual. O autor complementa explicando que "[...]
estereótipo seria uma imagem largamente mantida, altamente deturpada e
simplificada de algo" (KOTLER, 1984 apud BIGNAMI, 2005, p. 15).
Para o cinema hollywoodiano, apenas Amazônia e o Rio de Janeiro
representavam o Brasil. The Girl from Rio (1927) foi o primeiro filme estadunidense a
ter o Rio de Janeiro como cenário. Porém, ele não agradou nem um pouco o público
brasileiro, pois “[...] os personagens cariocas tinham nomes hispânicos e o Rio era
apresentado como uma vila esquálida.” (FREIRE-MEDEIROS, 2005, p. 8). O
governo brasileiro pediu que retirassem essa película de circulação, porém o pedido
não foi atendido. No entanto, nos dias de hoje não é encontrado facilmente.
37
Após essa produção, Hollywood precisou agradar aos brasileiros devido à
Política da Boa Vizinhança, cuja missão era estreitar os laços com a América do Sul.
Então, vieram as produções: Voando para o Rio (1933), Uma noite no Rio (1940) e
Alô, Amigos (1942).
Anos mais tarde, em 1979, o personagem James Bond desembarcava no
Brasil. Em Moonraker - 007 Contra o Foguete da Morte, Bond aterrissa no Rio e luta
no bondinho do Pão de Açúcar; mostra um pouco do carnaval e logo depois, ele
passa pelo rio Amazonas. Isso mostra que a morfologia do espaço geográfico na
maioria das vezes, não é respeitada nas produções norte-americanas.
A partir daí, filmar no Rio de Janeiro foi se tornando mais comum. Porém,
mais recentemente temos um aumento de produções ambientadas no Rio, com
destaque para blockbusters como a saga Crepúsculo Amanhecer - parte 1 (2011);
Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio (2011); Mercenários (2010), Trash - A
Esperança Vem do Lixo (2014); O Incrível Hulk (2008); Rio, Eu te amo (2014); Rio
(2011); e Rio 2 (2014). Todos usaram as paisagens do Rio de Janeiro para
ambientar tramas e ações. Porém, o estereótipo de uma cidade fora da lei, onde só
há impunidade foi se formando.
Em Mercenários (2010) o Brasil tratado como ilha e em Velozes e Furiosos 5
– Operação Rio (2011), imagens fílmicas de Porto Rico e arredores foram tratadas
como Rio de Janeiro. A desordem urbana pode ser vista em algumas produções
estadunidenses, como também, a imagem da polícia corrupta muito explorada na
quinta franquia de Velozes e Furiosos.
No seriado animado The Simpsons, em um episódio de 2002, Blame it on
Lisa, a retratação do Brasil foi polêmica. Um repertório de problemas sociais e
imaginários negativos de estrangeiros, como a violência, o tráfico de órgãos, a
pobreza, falta de saneamento básico, sequestros. Porém, imaginários surreais
também apareciam como, cobras engolindo pessoas, macacos andando nas ruas e
um aglomerado de ratos passando pelas pessoas, entre outros. Este roteiro gerou
críticas do governo brasileiro à época.
Doze anos após este polêmico episódio, os Simpsons voltam ao Brasil no
episódio You don't have to live like a referee, para a Copa do Mundo de 2014. O
curioso é que eles preveem que o Brasil perde para a Alemanha antes de isso
38
acontecer de fato. Eles passam por pontos turísticos em São Paulo, Rio de Janeiro,
Manaus e Brasília. Desmatamento da Floresta Amazônica, escândalos de corrupção
e manifestações durante a Copa das Confederações são retratados no episódio. A
partir de elementos destacados nestas animações, pode-se afirmar que: “Tais
categorizações permitem uma aproximação restrita ao campo estereotipado, na
tentativa de isolar a figura do clichê”. (AMANCIO, 2000, p. 144).
No próximo tópico, há análise de mais um filme ambientado no Rio de
Janeiro, o objeto de estudo deste trabalho, porém sem grandes polêmicas como os
anteriores.
3.2 ANÁLISE FÍLMICA E A IMAGEM DO RIO DE HITCHCOCK
Poucas pessoas, mais especificamente falando-se dos brasileiros, sabem ou
sequer imaginam que Alfred Hitchcock dirigiu um filme ambientado no Rio de
Janeiro. A grande curiosidade do filme é que nem Hitchcock, nem Ingrid Bergman,
nem Cary Grant estiveram de verdade na cidade do Rio de Janeiro. Apenas a
equipe de filmagem desembarcou na cidade para capturar as imagens das ruas,
praias e cartões postais. Tudo foi reproduzido em estúdios de gravação nos Estados
Unidos. Foi usada uma técnica que hoje seria o equivalente ao chroma-key,
sobrepondo cenas em cima de filmagens já projetadas. Mesmo na época não
havendo tanta tecnologia como atualmente, de um jeito mais rudimentar, o resultado
ficou satisfatório.
Alfred Hitchcock aproveita a época de clima de fim de guerra para contar sua
história. E usa o Rio de Janeiro, no Brasil, para ambientar a trama. Interlúdio é a
quintessência da obra hitchcockiana, a qual não faz referência a nenhum
tropicalismo, música, dança, nem aborda mulheres e samba. No site Youtube, há
oito canais que disponibilizam o filme Interlúdio online2.
2 Filme Interlúdio (1946) legendado disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HLDcw99-
oVM> Acesso em: jan. 2015-fev. 2016.
39
Para elaboração de nossa análise fílmica, usaremos como auxílio o livro
Ensaio sobre a análise fílmica (2012), de Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété. É
importante destacar que esta análise centralizará o foco nas cenas que exibem os
locais turísticos do Rio de Janeiro.
É um clássico thriller sob a direção de Alfred Hitchcock, o consagrado mestre
do suspense, com roteiro de Ben Hecht, direção de fotografia de Ted Tetzlaff,
produção da RKO Radio Pictures e distribuição de Continental. O filme longa
metragem em preto e branco tem duração de 102 minutos (1 hora e 42 minutos). O
nome original em inglês, Notorious, foi traduzido com o título de Interlúdio para o
Brasil e Difamação para Portugal. Segundo Aurélio, interlúdio significa: “Trecho de
composição musical intercalado entre as várias partes desta” (FERREIRA, 2001, p.
396). A tradução pode ter alguma explicação não divulgada, porém, nada tem a ver
com o significado de Notorious que em português significa notório, “sabido de todos;
público” (FERREIRA, 2001, p. 489).
O filme é próximo ao subgênero cinematográfico film noir, expressão francesa
em tradução livre no português, ‘filme negro’, que contém apelo policial. Recebeu
duas indicações ao prêmio Oscar de 1947 de Melhor Ator Coadjuvante para Claude
Rains e Melhor Roteiro Original. E no Festival de Cannes de 1946 a indicação de
Grande Prêmio do Festival (ADOROCINEMA.COM, [s.d.]).
Um grande destaque do filme é compor no elenco a atriz Ingrid Bergman, que
já ganhou dois Oscares por Melhor Atriz principal por outros filmes. No ano de 2015,
um documentário da Suécia (seu país de origem), sobre sua carreira foi lançado, o
‘Eu sou Ingrid Bergman’. Sua relação com Hitchcock sempre foi muito próxima,
formando parcerias profissionais em três filmes. (HITCHCOCK-TRUFFAUT, 2013).
Os números do orçamento e do lucro mostram que o filme foi um sucesso,
pois “[...] custou dois milhões de dólares, faturou oito milhões de lucro líquido”
(HITCHCOCK-TRUFFAUT, 2013, p. 168).
O enredo do filme se baseia na história de uma jovem e bonita mulher, Alicia
Huberman (interpretada por Ingrid Bergman), uma alemã naturalizada americana,
que após seu pai nazista alemão, ser condenado a 20 anos por traição contra os
Estados Unidos da América, encontra-se em uma vida boêmia, frequentando e
bebendo em festas. Desse modo, de penetra em sua festa, aproxima-se um agente
secreto do governo americano, Devlin (Cary Grant), e convoca Alicia para trabalhar
40
como espiã em uma missão no Rio de Janeiro, aproveitando-se de que ela não
concorda com atitudes de seu pai e parece ser patriota (à nação que escolheu
defender, os EUA). Relutante, ela aceita e embarca junto a Devlin e sua equipe de
agentes. No avião, recebe a notícia de que seu pai havia se suicidado com um
veneno na prisão.
Desembarcando no Rio de Janeiro, o casal passa alguns dias passeando pela
cidade, quando o chefe de Devlin o chama para explicar a missão de Alicia. Ela deve
se aproximar de um grupo de nazistas, amigos de seu pai, que está operando na
cidade, sendo o líder deles, Alex Sebastian (Claude Rains), antigo admirador de
Alicia. A partir desse momento estremece a relação de Devlin e Alicia por ciúmes,
negação de sentimentos e também pelo trabalho em si. Com sua beleza e fingindo
amor, Alicia consegue conquistar Alex, tanto que ela chega nas últimas
circunstâncias se casando com ele. Em uma festa promovida pelos recém-casados
na mansão onde moram, Devlin consegue descobrir o segredo dos alemães, que é
uma areia, dita urânio, o qual é um elemento primordial para compor uma bomba
atômica. Por sua vez, Alex descobre que Alicia estava os espiando e juntamente
com sua mãe, começam a envenená-la aos poucos. Correndo risco de morte, Alicia
é salva por Devlin que entra em seu quarto e a socorre de lá, levando-a nos braços
na frente de Alex, sua mãe e seus colegas.
O filme tem algumas curiosidades como ter no elenco um ator brasileiro, o
Ricardo Costa que interpreta o doutor Julio Barbosa, que muito pouco aparece. Até
Hitchcock aparece no filme. Ele utiliza uma espécie de recurso chamada cameo.
(literalmente camafeu) que significa "participação especial" de alguma pessoa
famosa no filme. Porém, nos filmes de Hitchcock, quem aparece é ele próprio. Na
maioria de seus filmes ele é visto em aparições breves (ADOROCINEMA.COM,
[s.d.]). Em Interlúdio, essa tradicional aparição do diretor surpreende o público na
festa realizada na mansão de Alex Sebastian.
Para conseguir o MacGuffin3 do filme, Hitchcock foi vigiado por três meses
pelo Federal Bureau of Investigation (FBI), pois era 1944, e ele pesquisava sobre
bomba atômica e urânio, um ano antes de Hiroshima e Nagasaki receberem bombas
3 Termo cunhado pelo Hitchcock para designar um objeto ou pessoa que geralmente não tem tanta
importância no filme, mas ajuda no desenvolvimento da história.
41
vindas dos americanos (TRUFFAUT, 2013). A figura 6 ilustra um dos muitos
cartazes disponíveis do filme.
Figura 6: Cartaz do filme Interlúdio (1946). Fonte: IMDb.
Segundo Vanoye-Goliot-Lété, há duas fases no processo da atividade
analítica de um filme. A primeira consiste em
[…] antes de mais nada, no sentido científico do termo, assim como se analisa, por exemplo, a composição química da água, decompô-lo em seus elementos constitutivos. É despedaçar, descosturar […] materiais que não se percebem isoladamente “a olho nu”, uma vez que o filme tomado pela totalidade. […] Através dessa etapa, o analista adquire um certo distanciamento do filme. Essa desconstrução pode naturalmente ser mais ou menos aprofundada, mais ou menos seletiva segundo os desígnios da análise. (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 2012, p. 14-15).
Neste trabalho, o desígnio dessa análise é levantar as locações e trajetos
representados nas cenas externas do Rio de Janeiro a fim de identificar que imagem
Hitchcock utilizou em seu filme.
42
Já a segunda fase do processo é “[…] estabelecer elos entre esses elementos
isolados, em compreender como eles se associam e se tornam cúmplices para fazer
surgir um todo significante […]” (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 2012, p 15). Ou seja, é o
ato de reconstruir o filme, porém, levando-se em consideração que é uma nova
construção do filme feita pela responsabilidade do analista, e não retomar ao
resultado do filme em si. Portanto, pode-se compreender que a desconstrução é
equivalente à descrição e a reconstrução à interpretação. (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ,
2012).
Ainda de acordo com os autores, existem dois contextos de análise e
interpretação: o sócio- histórica e o simbólico. No entanto, deve-se entender “[…] que
qualquer arte da representação (o cinema é uma arte de representação) gera
produções simbólicas que exprimem […] um (ou vários) ponto(s) de vista sobre o
mundo real.” (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ, 2012, p 57). Portanto, de um jeito ou de
outro, há uma vertente simbólica.
“O grau de precisão da observação depende das suas condições materiais e
do objetivo buscado pelo observador” (VANOYE; GOLIOT-LÉTÉ 2012, p. 66). Como
diferentes parâmetros são utilizados para analisar um material fílmico, a partir dos
exemplos de análise apresentados no livro de Vanoye e Goliot-Lété, fez-se uma
escolha em buscar os pontos turísticos e os elementos brasileiros retratados no
filme. A biodiversidade, a musicalidade, a cultura, a hospitalidade, o espaço
geográfico, a comida e o clima presentes no filme serão buscados para análise.
Vê-se, a partir de agora, esses elementos escolhidos em cenas pertinentes
para serem analisados com uma breve descrição das cenas escolhidas a partir da
exibição de paisagens com atrativos turísticos, elementos da fauna e flora, entre
outros. Portanto, características como planos, fotogramas, movimentos, efeitos e
câmeras não possuem relevância para esta pesquisa.
Analisou-se cada aspecto na ordem em que as cenas aconteciam, e em
algumas haverá complemento de imagens atuais para efeito de comparação. A
primeira imagem do Rio de Janeiro que aparece no filme é mostrando boa parte da
geologia da cidade e isso acontece no minuto 15 e 30 segundos. Tendo o filme 102
min de duração, pode-se concluir que 85% da trama do filme ocorre na cidade.
43
Porém, é apenas com a aparição do Cristo Redentor, minutos depois,
(visualizada na figura 7) que, do avião, Devlin percebe e diz: “Estamos chegando ao
Rio”.
Figura 7: O Rio de Janeiro visto do avião. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Figura 8: O Rio de Janeiro visto do avião. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Nas figuras 7 e 8 são observadas as imagens sequenciais feitas de dentro do
avião, contendo morros, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, Enseada de Botafogo
44
e no fundo a Baía de Guanabara. É assim que quase sempre, nos filmes, acontecem
as primeiras imagens panorâmicas do Rio de Janeiro.
Essencialmente aéreas, as vistas introdutórias do Rio compõem o mais imediato leque de clichês sobre a cidade. Esta facilidade de composição plástica, possibilitada pela exuberante corografia, estabelece com a presença do mar - […] um conjunto do qual a natureza tropical parece se nutrir para um efeito de espetacularidade. A natureza emoldura o nicho urbano e lhe dá substância pictórica. […] Essas imagens do Rio (planos aéreos que circundam o Cristo Redentor, sobrevoam o Pão de Açúcar, norteiam a visão pela extensão da Baía de Guanabara, decupam um panorama fotográfico, ampliando e totalizando o ângulo do olhar sobre o mar e as montanhas) se revelam como um procedimento pensado de acordo com os dispositivos clássicos da visão – a perspectiva e a composição (AMANCIO, 2000, p. 147-148).
O estereótipo das belezas naturais do Rio é entregue já no início do filme para
o espectador identificar aquela cidade.
Saindo dos ares, é possível ver (figura 9) parte da Praça Floriano, local onde
foram gravadas grande parte das externas (canto inferior à esquerda); o imponente
Theatro Municipal (canto superior à esquerda); grande parte da longa Avenida Rio
Branco (centro); as laterais do Museu de Belas Artes e da Biblioteca Nacional
(ambos à direita). São alguns dos patrimônios arquitetônicos, artísticos e culturais da
cidade. O Theatro Municipal era conhecido como casa de ópera e a Avenida Rio
Branco, “uma das ruas mais esplêndidas da capital brasileira” (LOCHERY, 2014, p.
41).
45
Figura 9: Avenida Rio Branco e seus principais atrativos. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
O dramaturgo mais famoso da época, Arthur Azevedo, começou uma
campanha para criação de uma casa teatral, pois o Rio de Janeiro era bem quisto
pelas companhias teatrais estrangeiras para apresentações. Então, teve início em
1905, durante quatro anos de obras, a construção luxuosa do Municipal inspirado na
Ópera Garnier de Paris, sendo inaugurado em 1909 (MATEUS, 2015).
De lá, a primeira parada de Alicia e Devlin é no Amarelinho, um restaurante
(figura 10) que permanece até os dias de hoje. No letreiro, é possível identificar a
logomarca da cervejaria Antarctica, a qual aparentemente saiu sem intenções
publicitárias. No restaurante, o casal conversa e a primeira das pouquíssimas falas
em português é dita pelo garçom que serve a mesa. Ele pergunta “quer mais alguma
coisa?” e a resposta de Devlin é dita em inglês, pedindo “whisky and soda”. Alguns
segundos depois, o garçom retorna com um “com licença” em tom bem baixo e
Devlin pede outro “whisky and soda”, dessa vez acrescentando “duplo” em
português, repetida pela garçom. Durante essa parada no restaurante, a música que
toca ao fundo é orquestrada, como ao longo de todo o filme. Nessa cena, a música
tem um ritmo brasileiro, aparentemente se ouve uma mistura de samba com um tipo
de rumba, e é a única vez em que acontece essa brasilidade musical4 no filme.
4 Não foi possível identificar o nome ou a letra da música.
46
No restante do filme, a música é orquestrada. A musicalidade do Brasil é
mencionada em uma cena na festa que Alicia e Sebastian promovem em sua
mansão à sociedade carioca, quando a mulher despista o marido para poder falar
com Devlin, dizendo: “Licença, pedirei à orquestra que toque música brasileira,
tocaram valsas a noite toda”. Porém, não foi colocada música brasileira.
Vê-se ainda “[...] os trilhos dos bondes elétricos cariocas cortavam os
cruzamentos da avenida; os bondes, repletos de passageiros já iniciando sua
viagem noturna de volta” (LOCHERY, 2014, p. 42).
Figura 10: Praça Floriano (Cinelândia). Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Do restaurante, eles foram passear de carro até um mirante, onde param para
conversar, como pode ser observado na figura 11. Essa locação foi difícil de ser
reconhecida em que ponto exatamente os personagens estavam. Não foi
encontrada nenhuma informação sobre a filmagem deste lugar em sites ou blogs
especializados nos temas de cinema, em Alfred Hitchcock. Depois de uma pesquisa
comparando imagens dos visuais naturais da zona sul do Rio de Janeiro na Internet,
chegou-se a conclusão que se trata do Parque Nacional da Tijuca, na altura do Alto
da Boa Vista, na estrada da Vista Chinesa. À esquerda bem ao fundo se vê um
pouco da Baía de Guanabara, próximo ao morro da Urca e Pão de Açúcar, ao lado o
47
morro da Babilônia, a Lagoa Rodrigo de Freitas no centro, ao final da direita as
praias de Leme e Copacabana, e Ipanema.
Essa é a cena do filme em que chega perto da biodiversidade do Rio de
Janeiro. Seres vivos como as tão famosas aves silvestres não foram adotados para
as filmagens, mas mostrou um pouco da natureza, como lagos, mares e florestas.
Figura 11: Mirante Vista Chinesa.
Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
A imagem do filme está um pouco “achatada” devido ao vídeo, no entanto,
podemos comparar com uma foto mais atual e colorida abaixo:
48
Figura 12: Mirante Vista Chinesa. Fonte: Thoni Litsz [s.d.]
Na sequência, aparece o Palácio Pedro Ernesto que na história do filme faz
vez de Embaixada Americana, local de trabalho da equipe de agentes, onde eles se
reúnem para planejar os próximos passos de seus trabalhos, sendo a agora espiã
Alicia, o caso do momento. Atualmente funciona a Câmara Municipal do Rio de
Janeiro, sendo assim conhecido. De presença arquitetônica forte, ele aparenta um
local de trabalho, como usado no filme. Em uma cena filmada dentro de uma sala do
palácio, em uma reunião dos agentes, fica nítido ver a estátua (figura 13) abaixo
pela janela. E abaixo (figura 14), o Palácio hoje.
49
Figura 13: Palácio Pedro Ernesto. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Figura 14: Palácio Pedro Ernesto.
Fonte: Acervo pessoal (2016).
50
Figura 15: Vista da orla da praia de Copacabana. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
A figura 15 mostra a vista da orla de Copacabana, onde Alicia se hospedara
em um apartamento. Na varanda de seu apartamento, o casal admira a vista da
praia, sendo na época, um dos mais famosos atrativos naturais da cidade. O bairro
de Copacabana estava começando a entrar na expansão imobiliária. Sua fama já
tinha sido feito pelo calçadão com pedras portuguesas e a sua praia chamada de
Princesinha do Mar. O custo de vida no Rio de Janeiro, em 1943, foi em todo o
Brasil, a cidade que teve um amento mais acentuado, subindo 83% a mais que em
1939. Sendo Copacabana o bairro onde o aluguel subiu exponencialmente.
(LOCHERY, 2014)
A Copacabana de hoje (figura 16) tem duas pistas bem amplas para carros e
uma pista para ciclistas e pedestres, além do calçadão mais largo. Isso aconteceu
devido a grande demanda de turistas e moradores, se apropriando de grande
espaço da areia para a reformulação. Assim, o trânsito flui melhor, pois como
aumenta o número de pessoas, consequentemente, aumenta o número de carros.
51
Figura 16: Vista da orla da praia de Copacabana. Fonte: Acervo pessoal (2016).
Figura 17: Aterro do Flamengo e Outeiro da Glória. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Em uma rápida cena, é possível ver (figura 17) o Outeiro da Glória, à
esquerda bem ao fundo. O Outeiro pertence ao Imperial Irmandade de Nossa
Senhora da Glória do Outeiro e foi inaugurado em 1739. Sua construção foi um
52
exemplo da arquitetura barroca do Brasil colonial, onde o Imperador Pedro II e sua
filha princesa Isabel foram batizados. A Igreja é um patrimônio nacional pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2006 foi restaurada, e lá
encontra-se o ainda o Museu Mauro Riberio Viegas (GAMA, [s.d.]).
Alicia e Devlin estão dentro do carro, passando pelo Aterro do Flamengo, a
caminho do Jockey Club para encontrar Alex. Nesta cena, percebe-se o quanto
houve mudanças na região que liga o centro à zona sul. Abaixo (figura 18), pode-se
ver uma foto atual da Igreja.
Figura 18: Outeiro da Glória. Fonte: Pedro Gama, [s.d.].
53
Figura 19: Hipódromo Jockey Club Brasileiro. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
A figura 19 mostra o hipódromo Jockey Clube, na Gávea, que eles se referem
como “clube de corridas”. O clube aparece com recorrência no filme. Vê-se o Cristo
Redentor no alto e as arquibancadas e áreas próximas lotadas para assistir às
corridas de cavalos. Lochery (2014, p. 8) analisa o público:
Jockey Club era onde a elite da sociedade brasileira se reunia e fazia negócios durante a longa temporada de corridas de cavalo — estas eram realizadas em noites amenas, da primavera ao outono. As cadeiras próximas à pista eram dispostas em uma ordem social rígida, com as damas da sociedade — em casacos de pele e vestidos de grifes das principais casas de moda na Europa — instaladas na primeira fila. Os sócios homens do Jockey Club compareciam aparamentados com esmero, com o cabelo penteado para trás e vestindo ternos brancos, de corte amplo, feitos de linho e algodão, camisas brancas e gravatas largas coloridas, tudo isso combinando com sapatos bicolores brilhantes. Um dos patronos e frequentadores assíduos do Jockey Club era o presidente do Brasil, Getúlio Dornelles Vargas.
Nas cenas passadas no clube, percebe-se que os frequentadores usufruem
do espaço para seu lazer e divertimento. Apostas e conversas entoavam os ares e
Devlin e Alicia trocavam informações sobre o grupo nazista. Hoje em dia, o clube
permanece igual, trata cavalos havendo corridas constantes, tem aulas de cursos
54
como História da Arte e funciona também, como um espaço para eventos como
shows, festas, feiras e exposições.
Figura 20: Palácio Monroe. Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Em uma aparição, observada na figura 20, se faz presente o Palácio Monroe
que foi “edificado por Souza Aguiar, inaugurado em 23 de julho para sediar a 3ª
Conferência Pan-Americana e permaneceu para as comemorações do Centenário
da Independência de 1922” (CARVALHO, 2007). Sendo assim, era uma identidade
política do Rio, abrigando o Senado Federal desde 1925.
Porém, “condenado por atrapalhar o trânsito e a construção do metrô e
dizendo-se esta edificação desprovida de qualidade arquitetônica, em meio a
protestos, demoliu-se o edifício em 1975” (CARVALHO, 2007, p. 41). Sua demolição
foi polêmica, pois havia sido tombado. Hoje, em seu lugar, encontra-se a espaçosa
Praça Mahatma Gandhi (figura 21).
55
Figura 21: Praça Mahatma Gandhi. Fonte: Acervo pessoal (2016).
Os encontros entre Alicia e Devlin para ela passar as informações
descobertas e ele dar as orientações do plano acontecem na Cinelândia. O nome da
praça anteriormente era Praça Ferreira Viana, recebendo mais tarde o nome de
Praça Floriano Peixoto. E, a partir de 1925, popularmente ganhou o apelido de
Cinelândia devido aos muitos cinemas que ali funcionavam. Com o planejamento de
remodelação de Pereira Passos, o centro ganhou uma moderna urbanização e
iluminação suficiente para a vida noturna carioca (CARVALHO, 2007).
Segundo Carvalho (2007, p. 34):
“[…] foram construídos quase simultaneamente os quatro cinemas, na verdade cine-teatros – o Odeon, Capitólio, Império e o Glória – além de edifícios de escritórios bares, um hotel e pequenas lojas […], bares, sorveterias […]”.
Isso consolidava o espaço público e a indústria cinematográfica para a
população aproveitar de novos meios de lazer, assim tornando-se fonte de
investimentos. Esses cinematógrafos começaram a introduzir um padrão americano,
influenciando a cultura americana sobre a brasileira, criando assim uma Broadway
brasileira (CARVALHO, 2007). Hoje em dia, apenas o Odeon funciona depois de
uma restauração feita para preservar essa sala do glamour dos anos dourados.
56
Figura 22: Praça Floriano (Cinelândia). Fonte: Captura de tela do filme Interlúdio (1946).
Figura 23: Praça Floriano (Cinelândia). Fonte: Acervo pessoal (2016).
Atualmente (figura 23), a praça abriga bancos econômicos, prédios
comerciais, empresas, bares e, claro, o cine Odeon.
57
Além dos locais filmados há também a presença de cidades que só foram
ditas pelos personagens. O grupo de Alex Sebastian comenta sobre Petrópolis, e o
doutor Anderson fala sobre as Montanhas Aimorés que fica no Espírito Santo, onde
na história são retiradas as areias (o urânio). Petrópolis era muito visitada pelos
turistas estrangeiros e pela alta sociedade do Rio de Janeiro na época. Em outro
momento, Alicia afirma que iria ao Imperial fazer compras, onde sem certeza, pode
ser o Hotel Imperial, no Catete.
E além destes, em uma conversa com Alicia, Devlin informa que viajará a
Belém. A capital Belém, do estado do Pará, no Norte, não fica muito longe de Natal,
capital de Rio Grande do Norte. Em Natal, no meio do ano de 1942, estava pronta
Parnamirim Field, como ficou conhecida a base aérea americana. Assim,
[...] Os aviões começaram a chegar ao Brasil, trazendo dos Estados Unidos soldados e técnicos. Do Nordeste partiriam em direção ao norte da África para ajudar os ingleses que estavam encurralados pelos soldados alemães (TOTA, 2000, p. 10).
Hitchcock mostrou as belezas naturais do Rio representadas pelas imagens
panorâmicas do avião com o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a Baía de
Guanabara. A Vista Chinesa (Lagoa Rodrigo de Freitas e morros) e a praia de
Copacabana, também. A beleza cultural arquitetônica e histórica se estabeleceu
com os palácios do centro da cidade.
Entretanto, Hitchcock não explorou outros pontos turísticos cariocas, nem a
gastronomia local e o próprio povo. Não foi abordada hospitalidade na cidade,
apenas o garçom chega mais próximo. De outro modo, a hospitalidade ficou
representada pela cidade, lugar público; não foi apresentada por um personagem.
Essa hospitalidade se daria de duas maneiras: no espaço coletivo, onde há reunião
de pessoas na praça e na festa, e também, no espaço construído pelo homem.
(MOYA; DIAS, 2004).
E o clima ficou presente na conversa do chefe de Devlin, o capitão Prescott, e
Alicia, no escritório. A personagem, já sob o efeito do veneno, reclama da luz do sol
e firma sentir dor de cabeça e o chefe diz: “o povo daqui é bem resistente ao sol,
mas é preciso ter cuidado”. Repetindo ao final da conversa, “cuidado com o sol”.
58
Realizada a análise, no próximo tópico, com o intuito de complementar as
apresentações das imagens e informações históricas e turísticas, se encontram as
entrevistas feitas.
3.3 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Para realizar essa pesquisa, foi definido como método a abordagem
qualitativa. Ela oferece uma quantidade significativa de informações mais ricas sobre
o tema.
A pesquisa qualitativa é geralmente baseada na crença de que a pessoa envolvida diretamente em uma situação em particular (lazer ou turismo) consegue descrever e explicar melhor suas experiências ou sentimentos em suas próprias palavras, sendo assim permitido que ela fale sem a intermediação do pesquisador […] (VEAL, 2011, p. 265).
Ainda segundo Veal (2011, p. 264),
[...] os métodos qualitativos exigem uma abordagem mais flexível e recursiva no planejamento e na condução geral da pesquisa, em contraste com a abordagem mais linear e sequencial usada na maioria das pesquisas quantitativas.
Como o próprio nome diz, a qualidade difere da quantidade, uma vez que a
primeira requer informações mais claras, enquanto para a segunda, geralmente, o
número importa mais. Sendo a abordagem qualitativa mais flexível, isso ajuda o
entrevistador a extrair observações extras dos entrevistados.
A priori a entrevista seria em coletivo realizada em um grupo focal após
exibição do filme Interlúdio (1946), nos moldes de um cineclube. Porém,
infelizmente, dificuldades foram encontradas, como um insuficiente número de
participantes no dia marcado, e algumas mudanças foram necessárias. A técnica foi
reformulada para o modelo de entrevista semiestruturada individual, selecionada
para obter respostas mais detalhadas.
Foram convidadas quatro pessoas selecionadas a partir da premissa de
serem familiarizadas com o tema, o turismo cinematográfico e por todos terem
participado de sessões do cine-clube com o filme estudado. Três alunos do curso de
Turismo da Universidade Federal Fluminense que se encontram nos últimos
59
períodos da Graduação, tendo maturidade intelectual e que assistiram ao filme
Interlúdio em paralelo à disciplina Turismo e Cinema, entre os anos de 2014 e 2015.
E o quarto entrevistado foi o professor Dr. Ari da S. Fonseca Filho, convidado a
participar por ser ministrante da disciplina Turismo e Cinema do curso de Turismo da
UFF, por este ter visitas técnicas na região da Cinelândia, com a utilização de
referências do filme Interlúdio (1946) na abordagem com os estudantes. Foi
responsável por apresentar o filme aos alunos de suas turmas e, especialmente, aos
outros três entrevistados e à própria autora do presente trabalho.
Em 1958, o filósofo, advogado e professor, José Rafael de Menezes em seu
livro Caminhos do Cinema (1958, p. 182) já questiona a função do cineclube,
afirmando que:
[…] os cine-clubes deveriam ser, em primeiro lugar, escolas formadoras de equipes […] em vez de núcleos sisudos restritamente limitados a estetas à espera de uma obra-prima, ou pelo contrário salas perfumadas pela “gente-bem”, interessada em mais uma convivência society […] cumpririam uma importante missão orientando as gerações mais moças através de cursos, de exibições com cine-foruns.
Dito isto, observa-se que é necessário, ainda hoje, inserir o ensino analítico
sobre os mais variados temas para as pessoas, principalmente, estudantes. Isso
pode ser feito por meio de cineclubes, os quais tem um debate entre as pessoas
sobre o tema exposto no filme exibido. A grande tarefa do cine-clube seria ajudar o
público a compreender as temáticas do cinema. É a “[…] necessidade de
democratização dos conhecimentos cinematográficos como medida inspirada pelo
sentimento estético.” (MENEZES, 1958, p. 183).
O filme Interlúdio (1946) foi exibido em duas ocasiões em cineclubes da
disciplina Turismo e Cinema, sendo a primeira no segundo semestre de 2014 e, a
segunda no segundo semestre de 2015. Para facilitar a análise das entrevistas,
denominaremos os participantes das entrevistas em A, B, C e D. Todos foram
entrevistados na parte da manhã no bloco H do campus Gragoatá, na Faculdade de
Turismo e Hotelaria da UFF, em Niterói, no entanto, três dos participantes, A, B e C
foram no dia 19/01/2016 e o participante D foi no dia 22/01/2016. Cada entrevista foi
realizada individualmente, durando entre 9 a 19 minutos e foram gravadas em áudio,
60
sendo o uso das informações autorizado aos devidos fins, com as assinaturas
presentes no Apêndice A (página 74).
A fim de organizar as perguntas em segmentos temáticos, foram criados cinco
blocos de questões, os quais são: Bloco 1 – Motivação; Bloco 2 – Planejamento;
Bloco 3 – Viabilidade; Bloco 4 – Relevância do legado do filme para o turismo
carioca; Bloco 5 – Aspectos positivos e negativos da proposta do roteiro turístico
com base no filme. O formulário dessas questões, divididas por blocos, encontra-se
também disponível no apêndice A.
O primeiro bloco “Motivação” tem como pergunta norteadora: “Qual foi a
motivação para assistir ao filme Interlúdio?” e perguntas extras como: “Foi indicado
por alguém? Já sabia que se passava no Brasil, se sim, como soube?”
O participante A não recebeu indicação. A motivação veio pela sua busca por
novos filmes que utilizam o Rio de Janeiro como cenário e, pesquisando na Livraria
Cultura, encontrou o filme e se interessou por nunca ter visto antes. Como fã e
colecionador dos filmes do Hitchcock, o entrevistado afirmou que conhece a maioria
de suas obras, então, ficou surpreso de nesta obra ter o Rio de Janeiro como
cenário de um filme dele. Ele pesquisou mais sobre o filme, leu sobre a história e
quando assistiu, viu o quão turístico ele era. O entrevistado acrescentou que
identificou a relevância do filme e seu uso foi pensado para compor a disciplina de
Turismo e Cinema.
Já os participantes B, C e D foram indicados pelo participante A e assistiram
ao filme em cineclube. B disse que em uma mostra dos filmes do Hitchcock, que
aconteceu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a qual ela participou, pegou
um catálogo com os filmes, porém não tinha reparado no Interlúdio lá. Quando foram
indicados, os três souberam que se passava no Brasil e ficaram curiosos em assistir.
Os participantes B e C adoram filmes antigos e de espionagem.
Os participantes A e D comentaram ainda que ficaram decepcionados quando
descobriram que Hitchcock e os atores nunca vieram ao Brasil para filmar, e sim,
uma equipe veio apenas fazer as filmagens. Participante A lamenta porque “[...] a
gente sempre espera que o nosso ídolo venha na nossa terra, no nosso espaço,
então, com certeza seria um impacto muito maior se ele tivesse vindo” e para D “[...]
o ideal seria os atores terem vindo filmar aqui”.
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O segundo bloco “Planejamento” tem as perguntas: “Como você acha que
seria interessante um roteiro turístico baseado no filme? Você buscaria esse tipo de
roteiro e indicaria? E qual tipo de turista seria o perfil ideal para participar?”. Além
dessas perguntas, os participantes comentaram também quais locações do Rio eles
reconheceram no filme. O participante A lembrou:
[…] da praia de Copacabana, das panorâmicas de dentro do avião, e a da estrada, onde eles param com o carro e conversam, a gente vê de fundo o Rio de Janeiro, a Baía de Guanabara e tal, aí a gente vê durante o deslocamento deles, da zona sul pro centro a gente consegue identificar o Outeiro (da Glória), a igreja da Glória, Aterro do Flamengo […] Quando eles chegam na Cinelândia, fica muito claro né, pra gente a região do Amarelinho, o cine Odeon, os cafés bem famosos na época, eles exploram bem isso, e aí voltado pro mar, pra região do Aterro, ainda existia o Palácio Monroe, um atrativo que não existe mais hoje, foi demolido, a gente vê a Câmara Municipal, é muito mostrada, a gente vê gente subindo e descendo aquelas escadas, dá pra entender que se passa lá dentro.
Os participantes B e C comentaram que assistiram ao filme há um tempo e
lembraram de alguns pontos. O participante B identificou o centro, a Cinelândia, a
orla de Copacabana. Acrescenta ainda que “o Palácio Monroe dá pra ver muito
rápido” e que “são poucas cenas externas porque eles gravaram aqui e levaram
para os takes internos”. E C, o Theatro Municipal, Palácio Pedro Ernesto (a Câmara
Municipal) e o Palácio Monroe. O participante D diz:
[...] em relação aos locais, eu consegui identificar não só o que eles mostraram, mas também o que eles falaram. Se não me engano, eu vi Copacabana, o hipódromo do Rio, Cinelândia, Pão de Açúcar. E eles também mencionaram a cidade de Petrópolis e Belém, no Pará. Seriam os locais que mais identifiquei, principalmente a Cinelândia.
Os quatro participantes dizem achar interessante a criação de um roteiro
turístico baseado no filme, que buscariam fazer e indicariam aos outros. Concordam
ainda no ponto que precisa de um planejamento para criação deste roteiro para
poder atrair os turistas. O participante A disse ainda que todas as viagens que faz
são voltadas para o cinema e que sempre busca roteiros turísticos ligados ao
cinema porque adora, sendo um tema que o atrai bastante. O participante C diz:
Seria interessante o roteiro baseado no filme porque aquela região da Cinelândia tem muitos edifícios antigos, né, outros filmes já foram gravados ali. Em roteiros no centro do Rio, a concentração sempre acontece na Cinelândia, porque eles querem passar um pouco de história do Rio de Janeiro, então, nada melhor do que começar pela Av. Rio Branco; e eles vão caminhando, tem muita história ali, tem muita coisa interessante para
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ser dita. Por isso, exatamente por essa questão, eu acho que seria interessante um roteiro turístico baseado no filme.
Os quatro concordam ainda que o público para consumir este tipo de roteiro é
o público do turismo cultural que gostem de andar e aprender e a participante B
pensa ainda que “[...] não é muito para pessoas que queiram só ficar na praia; que
busque outra coisa além disso (praia)”. E C se aproxima com essa ideia, “[...] o perfil
de turista seria aquele do turismo cultural que goste de história, que pesquisa antes,
que veio conhecer o Rio”. Já A e D se aproximam da ideia do cinema. Entrevistado
D diz:
O perfil seria mais um perfil de pessoas que adoram filmes. Quem gosta de filmes, quem gosta de Hitchcock, descobrindo que tem um filme dele no Rio, que tem um roteiro dele aqui, acredito que gostaria de fazer. [...] Divulgando mundialmente, acessando pessoas que gostem do Hitchcock ou de filmes antigos americanos, estrangeiros em geral, por ser do Hitchcock tem uma força; montar um plano de marketing (talvez em grupos no Facebook5). Atender não só o público daqui, mas de lá de fora também, e não só fãs de cinema, mas interessados em geral, pelas questões culturais
E o participante A argumenta que o perfil de turista para esse roteiro tem que
ser pensado com muito cuidado, lembrando da nova geração, acostumada ao ritmo
blockbuster, que seria um público um pouco difícil para atrair, pois filme mais antigo
tem uma linguagem diferente da atualidade. E que:
[…] um público mais específico, que seria um público de cinema, fãs do Hitchcock, ou mesmo fãs dos atores, aí tudo bem, daria pra desenvolver um roteiro bem mais interessante; cineastas, pessoas que trabalham com cinema, estudantes de cinema, ou mesmo estudantes de Turismo que tenham interesse no cinema, que querem desenvolver pesquisas na área de cinema, eu acho que com certeza seria um perfil interessante. Como é um filme estadunidense do Hitchcock, penso também que um público estadunidense com certeza seria um público interessante para consumir este tipo de roteiro.
O bloco 3, “Viabilidade”, traz a pergunta: “Como poderia ser feita a viabilidade
desse plano?”. Aqui, o interesse é saber a opinião dos entrevistados quanto à
execução do roteiro, elementos como custo, tempo de duração e a questão da
logística pela cidade, pois precisaria interligar algumas regiões da Zona Sul com o
centro da cidade.
5 Até o fechamento deste trabalho, a página oficial de Alfred Hitchcock na rede social virtual Facebook tinha 1.794.182 fãs, com um aumento diário significativo.
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Os quatro concordam que é viável a realização deste roteiro. A participante B
disse que poderia ser feito como fizeram no Caminho Niemeyer, em Niterói,
colocando indicações. O participante A acredita que mediante a demanda turística,
seja extremamente viável. Ele se lembra de um livro (E-book) “Viagem de Cinema”
escrito por uma jornalista, Fran Mateus, no qual ela propõe roteiros turísticos com
base em filmes rodados no Rio de Janeiro. Ele continua dizendo que o roteiro o qual
Interlúdio se insere, é bem superficial, pois ela só fala do centro do Rio, da
Cinelândia, não detalha outras regiões. Ele acredita que “[...] no caso dela, é um
roteiro autoguiado; poderia ser usado como um guia autônomo, como guia turístico,
você tem o folheto, o prospecto, e ele te indica os caminhos e você acaba fazendo”.
Ele argumenta que no filme são mostrados diversos pontos, e que o interessante é
que eles são muito sutis, pois quem não é do Rio de Janeiro, não consegue
identificar de primeira e até mesmo quem é do Rio de Janeiro, tem dificuldades de
reconhecer alguns dos lugares, “[...] tanto que eu já assisti ao filme diversas vezes e
cada vez que eu vejo, acabo reconhecendo um pouco mais, mesmo eu não sendo
carioca”.
Os entrevistados C e D lembraram para executar o roteiro, o modelo Free
Walking Tour que poderia ser utilizado neste roteiro. Essa tendência Free Walking
Tour teve início nos tours da Europa e vem se tornando popular em roteiros
realizados, essencialmente no centro do Rio de Janeiro, por agências
especializadas. Neste modelo, o turista não tem um compromisso em pagar pelo
guiamento, não há uma quantia estipulada. Eles ficam a vontade para fazer
gratuitamente ou, na maioria dos casos, contribuir com um valor que achar
conveniente ao final do passeio.
Os entrevistados B e C argumentaram sobre as obras nas pistas e entornos
que estão em andamento no centro do Rio, inclusive na Av. Rio Branco, então
explicaram que agora são as linhas de ônibus troncal que fazem a ligação centro-
zona Sul. Todos concordam que o deslocamento do centro da cidade para zona sul
é fácil, pois tem o metrô que transporta rapidamente. O roteiro pelo centro é
calculado em ser feito em 2 horas ou 2 horas e meia pelos participantes B, C e D. O
participante A enfatiza dizendo que só a Praça Floriano leva muito mais do que 2
horas.
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Contendo despesas com guias e motoristas com vans, para o participante C,
se uma agência vendesse esse roteiro, o custo poderia variar até de R$ 70,00 até
R$ 100,00. Para o participante D, custaria em torno de R$ 30,00, e para os
entrevistados A e B dependeria do tipo de turista que consumiria o roteiro.
O entrevistado D lembra ainda de algo importante:
A questão da viabilidade poderia ser um problema porque teria que ver de repente talvez com a Prefeitura, eu não sei qual seria o procedimento jurídico para criação de um novo roteiro na cidade ou se uma agência poderia fazer. Nesse aspecto se deveria ter uma autorização da empresa, do estúdio do filme... Eu não sei se seria viável nesse aspecto, mas... Acredito que fora isso, seja viável sim, acho que poderia interligar a parte do audiovisual do Rio de Janeiro e a Secretaria do Turismo. Então, teria que ter um diálogo talvez com algumas secretarias, secretaria de Transporte, secretaria do Turismo, secretaria da Cultura. A viabilidade dependeria mais se houvesse um diálogo entre essas secretarias que lidam com esse tema.
Para se tornar guia de turismo e poder fazer guiamentos profissionais, como
neste caso, é preciso de um certificado gerado através de um acompanhamento em
curso e ter cadastro no Cadastur, do Ministério do Turismo (BRASIL, 2011).
No bloco de número 4, “Relevância do legado do filme para o turismo
carioca”, a pergunta é: “Atualmente, qual é a relevância do legado do filme Interlúdio
para o turismo na cidade do Rio de Janeiro?”.
A participante B é categórica em dizer que não vê relevância porque não é um
dos filmes mais conhecidos do diretor, sendo os mais famosos: Psicose, Um corpo
que cai, entre outros. Em suas palavras: “[...] porque as pessoas nem conhecem, se
você questionar ‘sabe, Interlúdio?’, a pessoa vai perguntar ‘que Interlúdio?’, aí você
vai ter que explicar... ‘Interlúdio, filme do Hitchcock com tal ator...’ Os entrevistados B
e D concordam em dizer que seria necessário um trabalho de resgate do filme para
poder influenciar no turismo. O participante D pensa ainda que “[...] se houvesse
uma discussão, uma questão de divulgar o filme, que tem a marca Hitchcock, teria
uma relevância que merece ter”, acrescentando: “[...] tem um potencial muito grande
de ser relevante para o turismo, se souber usar isso.”
O participante A é paulista e desde que se mudou para o Rio de Janeiro,
frequenta assiduamente o centro. Ele sempre participa de atividades e roteiros
turísticos “[...] como um curioso, pra aprender mais até pra poder dar aula”. Porém,
em todos os passeios em grupos, e roteiros de museus, os quais já participou, em
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nenhum deles o filme foi mencionado. Ele contou que já participou de um roteiro, em
2013, vinculado ao projeto “Roteiros Geográficos do Rio” que é um projeto de
extensão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) do curso de
Geografia, e o professor de geografia da UERJ é quem conduz o tour. Então:
Como eu já conhecia o filme, eu cheguei a questionar o professor da UERJ, se ele sabia alguma coisa, se tinha alguma informação ou mesmo algum roteiro de turismo e cinema por lá, de turismo cinematográfico, e ele me disse que não, e que não conhecia o filme, e isso me chamou atenção porque ele é um especialista do centro da cidade, em diversas regiões da cidade, já trabalha há anos conduzindo grupos, e me chamou atenção porque pra ele o legado do filme não tem grande representatividade.
No entanto, respondendo à questão, para ele, que além de ser fã do
Hitchcock, de estudar a obra dele e de ser professor de Turismo e Cinema, esse
legado é extremamente importante, no sentido de ver locais que não existem mais,
como é o caso do Palácio Monroe, o Aterro do Flamengo recém-construído, e
Copacabana tão diferente. Ele ressalta a importância de um comparativo dos anos
1940 para 2016, “[...] esse comparativo é muito válido, é muito rico, pra gente ver a
dinâmica da cidade, o quanto a cidade cresceu”. Então, são muitas mudanças no
Rio de Janeiro. Ele completa dizendo que “[...] o legado é perceptível a partir do
momento que a gente vê o filme, que a gente estuda esse filme e compara e
identifica o patrimônio edificado na região”.
Se aproximando do participante A, o participante C enxerga apenas de outro
ângulo a relevância. Ele acredita que
[...] o filme é muito importante, o cinema trabalha com a questão da memória. Por exemplo, tem cena do Palácio Monroe que não existe mais. Então, eu acho que a importância disso é na questão da lembrança. Do que existia no Rio de Janeiro, do que ainda existe, as pessoas podem tomar conhecimento disso assistindo o filme. Tem a relevância por causa da memória, é importante por isso.
Já a importância do diretor, Hitchcock, é medida principalmente pelos norte-
americanos. Ele tem um dia em sua homenagem, todo dia 12 de Março, e celebrada
no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova Iorque, onde há um grande acervo da
coleção de obras de Alfred. Entre os cinco clássicos listados, Notorious aparece em
segundo lugar. (Persse, 2016).
No quinto e último bloco de nome “Aspectos positivos e negativos da proposta
do roteiro turístico com base no filme” procurou-se identificar, na visão dos
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entrevistados, quais aspectos seriam positivos e quais negativos na execução do
roteiro turístico.
Para os participantes A e B, um dos aspectos negativos seria a falta de
conhecimento do público sobre o filme. O entrevistado A acredita que talvez
Hitchcock não seja um diretor que atraia um público jovem, alegando ainda uma falta
de interesse dos jovens. O entrevistado B ressalva que
É muito difícil você divulgar um roteiro sobre um filme que ninguém ouviu falar. Então, fica complicado você fazer isso, você teria que apresentar o filme para as pessoas, para depois executar o roteiro. Uma coisa que é muito mais fácil de fazer, por exemplo, com o filme Rio que todo mundo conhece então, é muito mais fácil você fazer um roteiro sobre um filme mais conhecido.
Eles argumentam então, sobre o problema da provável falta de demanda para
realizar o roteiro. O participante A ainda acrescenta sobre a segurança, pois nos
finais de semana, por razão do centro ser uma região empresarial, por mais turística
que seja, a Cinelândia está sempre vazia, parecendo abandonada. Ele lembra ainda
de um ponto importante, a visitação nos espaços edificados, como o Theatro
Municipal e o Museu Nacional de Belas Artes, que tem dias e horários específicos
para o público. Isso gera mais um ponto negativo ao roteiro.
Para o entrevistado C, negativo seria acerca da questão do transporte, “[...]
você não sabe quantas pessoas estariam interessadas em fazer esse tour, vamos
supor que num dia tenha 50 pessoas, se tornaria inviável colocar 50 pessoas no
metrô do Rio de Janeiro, que sempre tem fluxo grande”. Para ele, também a duração
do roteiro poderia se tornar muito longa, por demandar histórias e desenvolver
explicações com as cenas dos filmes. Ele completa: “[...] não que seja uma coisa
negativa porque geralmente quem se interessa vai ficar o tempo que for, mas é
isso... O turista deve ser informado do tempo, para alguns pode ser cansativo”.
O participante D argumentou que depende de quais seriam os locais que
formariam este roteiro. Pra ele, se incluíssem o hipódromo do Rio, o Pão de Açúcar
e o Cristo Redentor (como são exibidas as imagens no filme), talvez o acesso
ficasse difícil e o tempo seria inviável, a não ser que durasse um dia inteiro. Ele
salientou ainda que a segurança não seria um aspecto negativo, pois não é um fator
que impeça alguém de andar nas ruas. Ele conta que já andou em lugares mais
perigosos no exterior do país, como Paris, e nunca aconteceu nada. Ele completa:
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E nunca fui roubado no Rio, apesar de tudo me sinto seguro. Tem muitos moradores de rua, mas pra mim isso não transmite insegurança. A questão da segurança é relativa. Se você estiver atento, dificilmente você será roubado. Como em grandes cidades, há violência, mas já vi mais assaltos em Nova York do que no Rio de Janeiro. É preciso pedir para o turista ficar atento.
Agora, para os aspectos positivos, os quatro participantes se encontraram em
seus pensamentos. O participante C é categórico em dizer apenas que “[...] de
positivo seriam os aspectos históricos, de conhecer a história”. O participante B diz
que “[...] positivo seria além do resgate da obra, ser mais uma opção de roteiro no
centro do Rio, com uma motivação diferente, pois é bom diversificar”. Pode-se notar
então que um roteiro com essa temática, o Rio de Hitchcock é inovador, pois hoje
nas ruas da cidade realmente não há.
O participante D lembra que “[...] se o Hitchcock escolheu o Rio de Janeiro na
década de 40, é porque o Rio tem uma importância. Às vezes os próprios
fluminenses, cariocas, não dão muito valor a isso”. Ele diz ainda que no filme, a
imagem passada sobre o Rio é boa e neutra, não mostrando problemas sociais que
aconteciam e acontecem até hoje, mostrando apenas a elite carioca, no hipódromo,
as pessoas apostando e conversando. Para ele, então, “[...] positivo é conhecer a
imagem que o Rio tem, a importância do Rio na década de 40.”
Já o participante A argumenta sobre a importância do turismo cinematográfico
que diversifica o turismo cultural. Para ele, isso tematiza atrativos que já são
consagrados, como Copacabana, o Cine Odeon, o Centro Cultural da Justiça
Federal, o Teatro Municipal, dentre outros. Na sua visão, as transformações que a
Av. Rio Branco recebeu ao longo desses anos podem ser vistas no filme e no
roteiro. Ele afirmou que:
[...] agora ela passa a ser fechada no trecho final ali da Praça Floriano. Vai virar um Boulevard, tem a passagem do VLT, terá uma ciclovia e passagem apenas para pedestres, não vão circular mais carros neste trecho, então é mais uma transformação que ela sofre, e diante disso, pensando agora neste contexto atual, eu acho que é um aspecto super positivo trabalhar o legado que o filme trouxe comparando com essas transformações urbanas, pro bem e pro mal, porque esse tipo de transformação urbana muda a vida do morador em detrimento para melhorar a vida do turista, de quem está ali
de férias [...].
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Portanto, para ele o ponto positivo é alimentar o turismo cinematográfico.
Quanto mais roteiros turísticos formados por filmes, mais o conhecimento e a
economia crescem.
A questão de mudanças na rotina dos moradores por conta de obras de
revitalização já está de certo modo se tornando costume para os moradores.
Legalmente, devem ser feitos diálogos entre a Prefeitura e associações de
moradores, para atualizações das obras e planos de reformas. Sabe-se que é
necessário ter paciência, pois o trânsito sempre sofre alterações gerando
congestionamentos. No entanto, o resultado, na maioria das vezes, é satisfatório
tanto para os turistas como para os moradores.
Chega-se à conclusão de que os entrevistados reconhecem a importância do
turismo cinematográfico e apoiam a ideia de um roteiro turístico baseado no filme
Interlúdio. Porém, detalhes como os pontos que entrariam no roteiro, a duração do
tour, o custo, o modelo de pagamento e o meio de transporte dependem do tipo de
turista e da demanda de procura. Sugestões deste roteiro são apresentadas no
próximo tópico.
3.4 TURISMO CINEMATOGRÁFICO A PARTIR DO LEGADO DO FILME
INTERLÚDIO
Fran Mateus em seu e-book “Rio de Janeiro - a cidade maravilhosa numa
viagem de cinema” (2015) cria seis roteiros pela cidade, baseando-se nas locações
de filmes que usaram o Rio de Janeiro como palco. O primeiro roteiro, “O centro da
história”, mistura três filmes: Interlúdio (1946), O Xangô de Baker Street (2001) e
Central do Brasil (1998). Ela explora apenas os cenários do centro do Rio destes
filmes. Por exemplo, em Interlúdio, ela não aborda Copacabana, o Jockey Club, a
Vista Chinesa, Aterro do Flamengo e Outeiro da Glória.
E ainda, no e-book de Mateus (2015) há também um erro de identificação
patrimonial. Ela afirma que a Embaixada Americana, ensaiada por Devlin, capitão
Prescott e os outros como seu ambiente de trabalho, se passa na Biblioteca
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Nacional. Porém, analisando minuciosamente, percebe-se que se trata do Palácio
Pedro Ernesto, a Câmara Municipal do Rio, já apresentado anteriormente neste
trabalho.
Esse trabalho sugere a criação e execução de um roteiro turístico baseado no
filme Interlúdio, o Rio de Hitchcock. Para operar no conceito Free Walking Tour,
seria necessário descartar a zona sul como Mateus (2015) fez. Nessa proposta, uma
manhã seria o suficiente, e ficaria assim:
A) Theatro Municipal, Museu de Belas Artes, Biblioteca Nacional, Palácio
Pedro Ernesto, Cine Odeon e Praça Mahatma Gandhi (espaço anteriormente do
Palácio Monroe).
Já para incluir os pontos turísticos da outra região, a zona sul, no roteiro, faz-
se necessário o uso de transporte, podendo ser metrô, ônibus público ou fretado, ou
uma van. Nesse caso, uma agência poderia vender este passeio, cobrando por
transporte e guia, fazendo uma parada para lanche. Essa proposta levaria um dia,
podendo ser feito da seguinte maneira:
B) Theatro Municipal, Museu de Belas Artes, Biblioteca Nacional, Palácio
Pedro Ernesto, Cine Odeon e Praça Mahatma Gandhi (espaço anteriormente do
Palácio Monroe); trajeto pelo Aterro do Flamengo; Outeiro da Glória; orla de
Copacabana; Jockey Club e Vista Chinesa.
No entanto, tem que ser lembrado o que os entrevistados na seção anterior
ponderaram: para realização desta operação, é uma necessidade resgatar a obra
fílmica e apresentar para o público que não conhece. Público esse como fãs de
cinema, fãs do Hitchcock, fãs de cultura, entre outros interessados no tema.
O legado do filme para o turismo carioca atual é inexistente para a grande
parte que não o conhece. Esse legado é vivo quando se assiste ao filme e identifica
os lugares filmados. Segundo o site EPIPOCA6, deduz-se que o filme não foi
lançado no Brasil, pois, não foi listada a data de lançamento junto aos outros países.
Sendo verdade, fica mais fácil entender porque o filme não é conhecido do público
geral, como deveria, no Brasil.
6 Informações obtidas no site EPIPOCA, Interlúdio. Disponível em: <http://www.epipoca.com.br/filmes/estreias/955/interludio> Acesso em: 3 jan. 2016.
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Para entender o valor do filme nos Estados Unidos, vale saber que em 1992,
foi feito um remake dirigido por Colin Bucksey em versão somente para a TV
americana. A história original sofreu alguns ajustes, como o final da Segunda Guerra
Mundial e o nazismo serem trocados para quadrilha de armas e comunistas; Alicia
agora seduz amigo russo de seu pai e o Rio de Janeiro não faz parte dessa
refilmagem (IMDB.COM, [s.d.]).
Sendo assim, o presente trabalho deixa como sugestão também, um novo
remake do filme. O enredo do filme se modificaria, novamente, devida às atuais
circunstâncias, onde não há mais guerra nem nazismo. Desta vez, mostrando um
Rio maior ainda, se inspirando na imagem do Rio eternamente associada ao filme de
Alfred. Faltou uma maior expressividade brasileira no filme e explorar mais as cores
e sons da cidade, sua pluralidade na cultura, a música, a dança, a vida, o carioca, os
pontos turísticos, os lugares pouco conhecidos pelos estrangeiros, a comida e a
bebida. Somente a escolha da direção geral teria que penar para encontrar um
nome e talento próximos a Alfred Hitchcock.
Os cinéfilos, fãs de cinema clássico e ou mesmo os fãs de Hitchcock, seriam
um forte público alvo para consumir o produto roteiro turístico do filme. A imagem
que o filme passa para o resto do mundo e futuramente possíveis estudos de
melhorias ou modificações na gestão do turismo e recepção aos turistas poderão ser
feitos.
Quando os nazistas vieram para a América do Sul, os principais destinos
procurados foram Argentina e Brasil, sendo o Rio o principal destino turístico da
América Latina. Na entrevista para Truffaut (2004), Hitchcock fala em América
Latina, não em Brasil. Apesar disso, há de se aproveitar do fato do Rio de Janeiro ter
sido eternizado pelas mãos e lentes de Hitchcock.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo cinematográfico é um dos atuais segmentos da atividade turística
que impulsiona o deslocamento de milhares de pessoas a fim de realizarem uma
atividade cultural. Com os deslocamentos advindos dos turistas que visitam destinos
turísticos exibidos em produtos de audiovisual, aumenta-se cada vez mais a relação
entre o turismo internacional e o turismo cinematográfico. O cinema tem se tornado
um grande aliado do turismo, e isso se falando em escala global.
O presente trabalho abordou a relação do turismo com o cinema, bem como a
influência para a economia local e o crescimento do turismo pós-guerra; conceitos e
exemplos foram relatados.
Contextualizou-se a época em que se passa o filme Interlúdio (1946): a
Segunda Guerra Mundial, o nazismo, americanização do Brasil e sua participação
na guerra; e o Rio de Janeiro de 1940, no auge das reformulações urbanas e
conquistas culturais.
Também foram abordados imagens e imaginários e realizou-se análise fílmica
focada nos pontos do Rio de Janeiro. Foram também apresentadas as entrevistas
realizadas com alunos e o professor da disciplina Turismo e Cinema da UFF. Com a
missão de conhecer os posicionamentos dos participantes quanto ao filme em
questão; a criação de um roteiro turístico cinematográfico do filme; e quanto à
relevância deste filme para o turismo atual. Foi possível perceber que o turismo
cinematográfico tem muito a explorar ainda. Observou-se ainda a relevância do filme
para o turismo moderno.
Baseado na questão problema da pesquisa: “Qual o legado do filme Interlúdio
para o atual turismo no Rio de Janeiro?”, foi possível perceber que hoje não se
encontra a relevância do filme que seria necessária para influenciar o turismo.
Através dos resultados obtidos da pesquisa qualitativa, ficou claro que para que o
filme se torne influente no turismo na cidade do Rio de Janeiro, é necessário um
resgate da obra de Hitchcock.
Vê-se que o filme Interlúdio não teve o intuito nem inicial, nem final de
promover o turismo local. Diferentemente de hoje em dia em que as produções
cinematográficas têm intenções por vezes primordiais de fomentar o turismo,
Interlúdio não tem essa característica. Se esta produção tivesse sido realizada nos
72
dias de hoje, esse filme teria sido filmado com os atores e toda produção presentes
nas reais ruas da cidade do Rio de Janeiro e um de seus objetivos finais com
certeza seria apresentar a cidade maravilhosa, gerando todos os subsídios
governamentais.
Espera-se que esse estudo possa para servir como base para futuras
pesquisas, trabalhos e produtos como roteiros turísticos, bem como o sugerido por
este trabalho. Para esses próximos estudos, seria interessante que houvesse um
trabalho mais profundo com o intuito de resgatar a obra de Hitchcock. Daqui a
alguns anos, a resposta da pergunta-problema da presente pesquisa: “Qual o legado
do filme Interlúdio para o atual turismo no Rio de Janeiro?”, pode ser outra,
indicando que há uma relevância e influência no turismo carioca.
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APÊNDICE A
Formulário de Perguntas
Título: O turismo carioca no período pós-guerra: o Rio de Janeiro do filme Interlúdio
(1946)
Pesquisadora: Mônica de Carvalho Garcia
Orientador: Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho
Bloco 1 – Motivação
Qual foi a motivação para assistir ao filme Interlúdio? Foi indicado por alguém? Já sabia que se passava no Brasil, se sim, como soube?
Bloco 2 – Planejamento
Como você acha que seria interessante um roteiro turístico baseado no filme?
Você buscaria esse tipo de roteiro e indicaria? E qual tipo de turista seria o
perfil ideal para participar?
Bloco 3 – Viabilidade
Como poderia ser feita a viabilidade desse plano? O custo desse tipo de
roteiro; o tempo de duração; a questão da logística pela cidade, precisando
interligar algumas regiões da Zona Sul com o centro da cidade.
Bloco 4 – Relevância do legado do filme para o turismo carioca
Atualmente, qual é a relevância do legado do filme Interlúdio para o turismo
na cidade do Rio de Janeiro?
Bloco 5 – Aspectos positivos e negativos da proposta do roteiro turístico com
base no filme