Post on 25-Jan-2019
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS VIRTUAL
DIANA XAVIER DE OLIVEIRA
LEITURA DE CHARGES: DA DECODIFICAÇÃO À COMPREENSÃO
ITAPORANGA-PB,
DEZEMBRO-2013.
2
DIANA XAVIER DE OLIVEIRA
LEITURA DE CHARGES: DA DECODIFICAÇÃO À COMPREENSÃO
Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância, da
Universidade Federal da Paraíba como requisito para
obtenção do grau de Licenciado em Letras.
Professora Orientadora: Edileide de Sousa Godoi
.
ITAPORANGA-PB,
DEZEMBRO- 2013
3
DIANA XAVIER DE OLIVEIRA
LEITURA DE CHARGES: DA DECODIFICAÇÃO À COMPREENSÃO
Artigo apresentado ao Curso de Letras a Distância, da Universidade Federal da
Paraíba como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Letras.
Data de aprovação: 05/11/2013.
Banca examinadora
_______________________________________________________________
Orientador: EDILEIDE DE SOUSA GODOI
_______________________________________________________________
Examinador: ENEIDA MARTINS
_______________________________________________________________
Examinador: ELIANA VASCONCELOS DA S. ESVAEL
4
A minha mãe Joana Xavier de Oliveira, por
está sempre ao meu lado incentivando-me e
apoiando-me quando pensei em desistir
inúmeras vezes do curso de letras.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, minha fonte de vida.
Aos meus mestres, por serem mais que professores, educadores que nos orientaram para a
vida, transmitindo-nos o conhecimento e a certeza de que somos capazes. De modo especial,
destaco Edileide de Sousa Godoi, por sua paciência e sua grandiosa colaboração ao
compartilhar comigo seus conhecimentos que foram de suma importância para concluir com
êxito este trabalho e principalmente a realização deste meu sonho.
À Perpétua e Francisco, que sempre acreditaram em mim e disseram que eu era capaz e
venceria todos os obstáculos.
Ao pessoal do Pólo de Itaporanga, desde o pessoal de apoio à direção, por sempre me
atenderem muito bem e por serem peças fundamentais naquela instituição de ensino.
Aos meus amigos, que nos momentos mais difíceis sempre estiveram ao meu lado,
incentivando-me a continuar na realização de meu sonho, em especial a Francisca Paulino,
Maria do Socorro Fernandes, Maria da Conceição Nunes e aos colegas de curso, Gleiciane e
Idelson Lucena, por sua amizade.
A todos que direta ou indiretamente me fizeram parte de minha jornada, obrigada.
6
A educação é um processo social, é
desenvolvimento. Não é a preparação para a
vida, é a própria vida.
John Dewey
7
LEITURA DE CHARGES: DA DECODIFICAÇÃO À COMPREENSÃO
O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre a importância da leitura e o uso do
gênero textual charge, fazendo com que o aluno reflita nos textos verbais e não verbais
incluindo-o nas relações sociais e que ele se perceba como sujeito crítico e cidadão. Seu uso
como objeto de ensino nas escolas tem crescido e se tornado multidisciplinar, aliando ensino e
humor, tornando a compreensão leve e ajudando-os a interagir com o texto. Para tanto,
utilizaremos como fundamento as concepções de Bakhtin (1992) acerca da linguagem; além
do apoio teórico de Martins (1994), Discini (2005), PCN (1998), Kleiman (2004), Mouco
(2007), entre outros. Para a análise, utilizamos charges sobre educação, política e transporte
público, que são assuntos relevantes a todos os cidadãos, dentre os chargistas destacamos:
Cabral, Carvalho, Sponholz, e outros, que trabalham com temáticas populares e fazem críticas
sobre aspectos relevantes de modo que o leitor reflita, discuta, analise conceitos que estão
implícitos nelas. Ressaltamos que para o processo de formação de leitores é de extrema
importância que a leitura se faça presente também através da reflexão de assuntos do
cotidiano, e desta maneira, aumente o seu interesse pela leitura, despertando no leitor uma
visão mais crítica da sua própria realidade. Considerando que a charge é um gênero textual
bastante elaborado, vemos nele a possibilidade do trabalho de leitura na sala de aula que leve
em conta seus aspectos linguísticos e extralinguísticos.
Palavras-chave: Leitura. Gênero discursivo. Charge.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SÉRIE 1 - Charges sobre educação -------------------------------------------------------21
SÉRIE 2- Charges sobre política ----------------------------------------------------------24
SÉRIE 3 - Charges sobre transporte público-----------------------------------------------27
9
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------10
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA--------------------------------------------------------------12
2. 1- Conhecimento de mundo----------------------------------------------------------------------14
2.2- Gênero discursivo-------------------------------------------------------------------------------14
2.2.1- Características da charge---------------------------------------------------------------------16
3- A IMPORTÂNCIA DE CHARGES NO COTIDIANO ESCOLAR---------------------17
4- METODOLOGIA ---------------------------------------------------------------------------------19
5- ANÁLISES DOS RESULTADOS --------------------------------------------------------------20
5.1- Séries- Educação --------------------------------------------------------------------------------21
5.2- Séries- Política ----------------------------------------------------------------------------------24
5.3- Séries- Transporte público ---------------------------------------------------------------------27
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------30
REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------------------31
10
1. INTRODUÇÃO
Qual o poder da leitura na formação do ser humano? Será ela capaz de modificar a
vida e a maneira de viver do indivíduo?
Ao longo do tempo, um dos principais objetivos do ensino de língua portuguesa
consistia na codificação e decodificação da língua. Com a evolução da linguagem, foram
surgindo várias concepções e atualmente, segundo as Orientações das Diretrizes Curriculares
Nacionais (2006) a disciplina de língua portuguesa e literatura, devem ser orientadas por
práticas de oralidade, leitura e escrita. A proposta das Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa, é que a escola propicie aos alunos o contato com os mais variados tipos de textos,
incluindo, a leitura de textos não verbais.
A prática da oralidade deve estar aliada à prática de leitura e escrita, trabalhando com
propostas de interlocução que motivarão atividades de produção e reflexão discursivas. A
palavra, ou mesmo, a imagem sempre acompanhou os homens em suas necessidades, fossem
necessidades de comunicação, ensino, critica, e até mesmo para, elevar ou reduzir o outro.
A escrita sempre obteve destaque perante aos outros meios de comunicação e isso
criou um déficit na leitura de imagens.
O trabalho com charge deve estar embasado em conceitos atuais, de atividades com
perspectivas interdisciplinares.
Mouco afirma que:
Existem charges que são apenas apresentadoras de uma situação engraçada
ou que procuram apenas fazer rir. Outras, entretanto, além de nos fazer rir,
nos fazem pensar sobre o tema ou realidade que apresentam. É este tipo de
humor gráfico que interessa aos professores para introduzir uma questão,
seja conceitual ou temática. Ao utilizar uma charge em sala de aula, é bem
possível que os alunos se sintam instigados a saber o porquê do professor
fazer aquilo. (2007, p.18)
Faz-se necessário que, a escola encurte as distâncias existentes entre a realidade do
educando, do seu ambiente escolar e da sociedade a qual ele pertence. Neste ponto, o desafio
é criar um senso crítico, com conhecimento global e permanente, para que ele possa elaborar
um saber em constante transformação e que sua capacidade crítico-reflexiva seja aguçada,
para desmistificar ideologias.
E neste momento, cabe ao professor despertar no aluno a busca pelo aprendizado e
fazendo-o compreender que ele sofre influências e influencia, tornando-se sujeito ativo dentro
da estrutura social.
11
A proposta deste trabalho será a de destacar o importante papel da leitura e da
capacidade de interpretação que cada indivíduo possui, para que dentro do processo
educacional ele perceba e se conscientize do papel critico que exerce, dentro do seu espaço
escolar, bem como em seu lugar na sociedade, fazendo-o compreender que ele é agente
transformador e que suas ações exercem influencias diretas e indiretas no meio ao qual está
inserido.
Existem poucas referencias de pesquisa que revelam a relação entre a leitura de charge
e o desenvolvimento crítico, porém este artigo tentará apontar o quão fundamental se faz, ter
uma educação de ―base‖ fortalecida e intrínseca nos indivíduos, envolvendo a leitura e
compreensão, pois a mesma os fará pessoas capazes de decodificar os símbolos e
compreender o que há por trás de uma aparentemente simples e divertida charge.
Apresentar a leitura como ponto fundamental à formação educacional e a formação
crítica da leitura de charges que vai além da simples decodificação, apontando a leitura como
fonte de formação humana e transformação do cidadão e da sociedade; além de identificar as
formas como a leitura de charges podem interagir com o senso crítico do indivíduo,
verificando as possibilidades de crescimento educacional aliado à leitura.
A pesquisa teórica se faz relevante para o processo de aprendizagem, pois somos
influenciados e reproduzimos a prática de outros, porém deve-se ter o cuidado de não cair no
equívoco de julgar as colocações como certas ou erradas, sem apresentar uma contraproposta
e/ou abrir a discussão sobre determinada teoria (DEMO, 2004).
Mesmo para o confronto da teoria é necessário outra base teórica, pois sem ela caímos
na mediocridade científica (DEMO, 2004).A metodologia usada será fundamentada em
pesquisas bibliográficas de livros, revistas e publicações, entre outros. Será usada a
abordagem qualitativa, que consiste em uma elaboração, um processo de interpretação de
determinado problema em face de vários conceitos e quase sempre divergente e com
interferências do autor, visto que o olhar deste faz a ligação com a problematização e a fonte
teórica.
12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A leitura tem seu início no momento em que o indivíduo lança um olhar de indagação
ao que o cerca, tentando compreender o que ele é e onde ele está inserido, como as coisas
funcionam e como ele é capaz de modificá-las. Isto é o que chamamos de ―leitura de mundo‖,
e é neste primeiro momento que ele descobre o mundo e a si mesmo e passa a ter senso
crítico.
Nesse sentido, Martins corrobora:
Seria preciso, então, considerar a leitura como um processo de compreensão de
expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem.
Assim, o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressão
do fazer humano, caracterizando-se também como acontecimento histórico e
estabelecendo uma relação entre o leitor e o que é lido. (1994, p. 30)
A partir deste ponto, inicia-se o letramento, propriamente dito, onde é desenvolvida a
decodificação dos signos, existe ainda a carga de significações e vivencias que o individuo
trás e isso não pode, nem deve, ser ignorado, pois ler não é somente decodificar. Para se ter
um significado completo é necessário que se atribua sentido ao que foi lido. É necessário que
se entenda o que se quer ser transmitido, em como aquele texto pode influenciar sua vivencia,
tornando o leitor crítico, pensante, capaz de se posicionar frente às situações do cotidiano,
sejam elas: culturais, sociais e históricas.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 53) temos que:
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do
significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o
assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a língua: características do gênero,
do portador, do sistema de escrita, etc.
Neste aspecto, a leitura é um dos instrumentos fundamentais para a formação
intelectual, como também a formação do cidadão como um todo, na busca de seu
desenvolvimento humano, na busca de seus direitos e ampliando a diversidade social.
As salas de aulas estão repletas de decodificadores, mas é necessário formar leitores.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam que:
Para tornar os alunos bons leitores — para desenvolver, muito mais do que a
capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura —, a escola terá de
mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer
esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo
que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los
confiantes, condição para poderem se desafiar a "aprender fazendo". (1998, p. 17).
13
Percebe-se que toda a dinâmica escolar é centrada na leitura e compreensão, mas as
dificuldades de fazer essa compreensão não são devidamente sanadas e o aluno não é
estimulado a ampliar seu gosto literário, nem corrigir as falhas de interpretação que acarretam
o mau desempenho escolar, não somente na área de linguagem, mas no ensino como um todo,
pois para que ele se saia bem em matemática ou mesmo em história é necessário ler e
compreender o que foi lido. Essas dificuldades de compreensão afetam diretamente o
desempenho do aluno, acompanhando-o em toda a sua vivencia escolar.
Alfabetizar já não é suficiente. Existem muitos analfabetos funcionais, que são aqueles
capazes de ler e escrever, mas sem dar sentido ao que foi realizado, e por isso, torna-se
imprescindível desenvolver a capacidade de interagir com os diversos tipos de textos que
encontramos na sociedade, entendendo os significados das palavras nos seus mais variados
usos.
A escola deve inovar no modo de ensinar, utilizando atividades que proporcionem ao
aluno a reflexão sobre o texto, instigando os alunos à uma prática de leitura e de escrita, a fim
de formar cidadãos críticos, participantes e ativos na sociedade em que vivem. E cabe aos
professores fazer uso destas inovações em suas práticas docentes para alcançar tais objetivos.
Sobre isso os Parâmetros Curriculares Nacionais colocam:
[..]Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes textos com
os quais se defrontem, é preciso organizar o trabalho educativo para que
experimentem e aprendem isso na escola. Principalmente quando os alunos não têm
contatos sistemáticos com bons materiais de leitura e com adultos leitores, quando
não participarem de práticas onde ler é indispensável, a escola deve oferecer
materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e práticas de leitores
eficazes. "Cabe as instituições escolares proporcionar aos alunos diversos materiais
de apoio que possam desfrutar e avançar com eficácia o seu desenvolvimento na
leitura". (1998, p.12)
O hábito da leitura amplia os conhecimentos, faz com que a visão de mundo não se
torne limitada e a partir deste momento a relação com a realidade torna-se sólida e promove
um maior desenvolvimento da comunicação e do senso crítico.
Os professores devem considerar que uso de charges nas aulas de língua portuguesa
tem por objetivos a promoção da leitura e a interpretação de charges e cartuns, explorando a
linguagem verbal e a não verbal, além de distinguir ‗ícone‘, ‗índice‘ e símbolo‘,
estabelecendo os tipos de relações que esses signos representam, além de explicitar alguns dos
fatores de coerência, como a ‗intertextualidade‘ e ‗o conhecimento de mundo‘, como
elementos responsáveis pela produção dos sentidos.
14
Para que se tenha uma boa leitura e interpretação é recomendável que os alunos
estejam sintonizados com os fatos políticos, econômicos, culturais que permeiam a vida em
sociedade.
2.1 -Conhecimento de mundo
Entendemos como conhecimento de mundo todas as experiências que vivenciamos ao
longo de nossa existência, tudo que vimos, ouvimos e lemos em nossa vida. Segundo Kleiman
(2009, p.22), o conhecimento de mundo é ―geralmente adquirido informalmente, através de
nossas experiências e convívio com a sociedade.‖ Com base nas palavras da autora podemos
inferir que o mesmo é adquirido pela experiência do dia a dia, geralmente ficam armazenados
em nossa memória e são divididos em quatro grupos:
Os frames, que não tem ordenação e representam rótulos. Ex: Natal, Páscoa,
Carnaval.
Os esquemas são armazenados na memória em sequência e com lógica. Ex:
Manual de DVD.
Os planos são os conhecimentos adquiridos para atingir metas, alvos. Ex:
Passar num concurso.
Os scripts, por fim são os conhecimentos sobre os modos de agir, dentro de
cada cultura. Ex: Praxes jurídicas, Ritos religiosos.
Além deste prévio conhecimento, o processo requer conhecimento dos modos textuais,
tais como as tipologias e gêneros textuais, por exemplo, ao se distinguir uma piada de uma
receita de bolo. Ainda há o conhecimento dito científico, aprendido nos livros e na escola.
(KOCH; TRAVAGLIA, 2001)
Na intertextualidade, que é um recurso pelo qual recorremos ao conhecimento prévio
de outros textos, existem os modos de forma, que repetem expressões, trechos e até o estilo de
certos autores. E a de conteúdo, onde os textos de variadas épocas, gêneros, áreas, se
misturam e dialogam entre si. (KOCH; TRAVAGLIA, 2001)
2.2- Gênero discursivo
Existe uma vasta diversidade de textos que ocorrem nos ambientes discursivos de
nossa sociedade, os quais nada mais são que materializações textuais linguísticas de discursos.
15
Geralmente possuem estruturas estáveis, conforme Bakhtin (2003), disponíveis no intertexto
para serem atualizados nos eventos discursivos que ocorrem em sociedade; são divididos para
fim de análise em unidade composicional, unidade temática e estilo. São textos de qualquer
natureza, literários ou não. Modalidades discursivas que constituem as estruturas e as funções
sociais, utilizadas como formas de organizar a linguagem.
Tomando as palavras do próprio Bakhtin, definimos assim gênero discursivo:
O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e
únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana.
Esses enunciados refletem condições específicas e as finalidades de cada referido
campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela
seleção de recursos lexicais [...], mas acima de tudo, por sua construção
composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a
construção composicional – estão indissociavelmente ligados no todo do enunciado
e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo de
comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada
campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, os quais denominaram gêneros do discurso. (BAKTHIN, 2003, p.262)
Disponíveis num inventário de textos (arquitexto ou intertexto), criado historicamente
pela prática social, com ocorrência nos mais variados ambientes discursivos, que os usuários
de uma língua natural atualizam quando participam de uma atividade de linguagem, de acordo
com o efeito de sentido que querem provocar nos seus interlocutores.
Para Bidarra e Reis, ―Tudo o que é passível de significado é considerado um texto,
algo que vai desde o escrito, passando pela imagem até um objeto. Nessa nossa concepção,
quem o produziu, o fez com intenções e objetivos a serem atingidos.‖ (2013, pg. 153). Dessa
forma, podem ser considerados exemplos de gêneros textuais: Novelas, anúncios, convites,
atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comédias, contos de fadas, convênios,
crônicas, editoriais, ementas, ensaios, entrevistas, circulares, contratos, decretos, discursos
políticos, histórias, entrevistas, instruções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias e
etc.
E este fundamento é o que se aplica a charge. Este gênero textual nem sempre vem
acompanhado de linguagem verbal, contudo ela transmite o significado retratado pelo autor a
determinado fato contextual. Não há um sentido único, mas sim, inúmeras variações, que
podem ser oriundas daquilo que o autor pretendeu instigar e o que a percepção do leitor foi
capaz assimilar. (KLEIMAN, 2004).
Koch (2008) nos diz que a produção textual é uma atividade, ao mesmo tempo, verbal
e não verbal consciente e criativa e interacional.
16
Por isso, um texto pode ser o resultado de um conjunto de operações com a finalidade
de atingir certos objetivos ou um processo interativo entre autor e leitor, onde a conclusão
ficara a cargo deste último. A experiência do leitor é indispensável para construir o sentido do
texto.
2.2.1 Características da charge
A charge é um texto, basicamente feito por desenho de caráter humorístico,
geralmente usando o mínimo de texto verbal. Trata-se de um tipo de texto muito importante
na mídia atual, graças à sua capacidade de fazer, de modo sintético, críticas político-sociais.
Cavalcanti (2012) nos diz que:
Engana-se quem imagina que a charge é apenas uma piada gráfica que utiliza a
linguagem visual em sua construção. Na verdade, é um texto opinativo e, impressa
nos jornais, é normalmente publicada no caderno de opinião em meio a cartas
argumentativas, editoriais, artigos de opinião, entre outros. (Pág.74)
A charge relata um fato ocorrido em uma época definida, em um determinado contexto
cultural, econômico e social e sua compreensão está ligado aos conhecimentos desses fatores
para ser entendida. Ela possui um importantíssimo papel como registro histórico. É temporal e
perecível. Sua afinidade é maior com os acontecimentos políticos e são críticas e
manifestações bem humoradas para assuntos verídicos e sérios. Por se tratar de imagem de
rápida leitura, é um texto atraente aos olhos do leitor e transmite múltiplas informações de
uma só vez. Para se formar leitores de texto chárgico existem pré-requisitos que vão deste a
estar bem informado acerca do tema abordado, como a ter visão crítica e humor, afinal, ali
está focalizada e sintetizada certa realidade e somente os que conhecem essa realidade
efetivamente entendem a charge.
A compreensão das charges, dos cartuns e de outras imagens é um processo que como
já mencionado, requer um dado conhecimento de mundo, que vem a ser ativado devido a
alguns tipos de relações, que são: as relações de semelhança (icônicas), as relações de
contiguidade (indiciais) e as relações simbólicas.
Esses termos foram utilizados primeiramente por Saussure e Charles, isso porque são
termos usados pela Semiótica - ciência geral dos signos. Saussure e Charles desenvolveram
estudos no final do século XIX e início do século XX. A obra de Saussure privilegia o signo
verbal, já a de Charles, os signos não verbais. Com base nas diferenças existentes na relação
17
significante/significado, Peirce apresenta três tipos de signos: ícone, índice e símbolo.
(VALENTE, 1998)
O ícone traz sua relação motivacional criada pelo homem, seu enfoque é na
semelhança e se assemelha a metáfora. Ex: estátuas, fotos, mapas, cartuns e charges que se
referem a pessoas.
O índice tem a sua relação ligada ao nexo causal, ou seja, há uma relação de causa
entre o signo e o objeto, seu enfoque é na proximidade com a significação e remete a
metonímia, em que o sentido da palavra é transposto para a relação do objeto. Ex: ―fumaça‖
(―onde há fumaça, há fogo‖, já nos ensina a sabedoria popular), ―nuvens pretas‖ (índice de
―chuva‖), ―árvore florida‖ (índice de ―primavera‖).
E por fim, o símbolo, onde sua relação é analógica parcialmente motivada e seu uso
sofre variação entre significante e significado. Ex: Balança (Justiça); Espada (força); Cruz
(cristianismo); Bandeira branca (paz). Existe uso simbólico de cores, animais, forças da
natureza e etc. (VALENTE, 1998)
Atualmente já existe o uso de charges para avaliar a capacidade de interpretação dos
alunos nos exames escolares, o ENEM é um exemplo disso. Pensar a relação simbólica do
verbal com o não verbal nos leva a pensar a relação disso com o contexto sócio histórico. Não
dar para pensar a leitura de charges sem fazer essa relação, isso porque assim como os
símbolos vão significar diferentemente em determinados contextos a charge também
significam de acordo com situações sociais, históricas e políticas da sociedade.
3 - A IMPORTÂNCIA DE CHARGES NO COTIDIANO ESCOLAR
Existem diversos recursos que podem ser colocados à disposição dos leitores para que
se desperte a atenção e o interesse dos alunos. Na busca de ativar essa curiosidade, faz-se
necessário que as práticas pedagógicas em sala de aula devam ser inovadoras, divertidas e
lúdicas. E a interação das charges como gênero textual contribui para o trabalho interpretativo
de textos. A utilização do recurso visual é um dos grandes artifícios da linguagem textual do
uso da charge, pois ele além de atrativo se torna um instrumento capaz de captar a atenção do
aluno e despertar-lhe o gosto pela leitura. Alguns fatores são inerentes à charge, tais como: a
intertextualidade, a situacionalidade e a informatividade.
A partir das ideias de Bakhtin (2003) sobre os gêneros discursivos, podemos dizer que
a charge é um gênero discursivo da esfera jornalística, organizado por elementos verbais e não
18
verbais. Tem por função primeira provocar o humor e o riso, recursos para atrair o leitor para
algo mais sério, revelado pela crítica que o chargista pretende veicular.
Mouco afirma que:
É importante destacar que a charge, além do seu caráter humorístico, e, embora pareça
ser um texto ingênuo e despretensioso, constitui uma ferramenta de conscientização,
pois ao mesmo tempo em que diverte, informa, denuncia e critica, constitui-se um
recurso discursivo e ideológico. (2007, p. 31).
Tal afirmação significa dizer que a charge não se limita apenas a provocar risos, mas
objetiva criticar e discutir uma dada situação da atualidade. Considerando tais reflexões
percebe-se que o leitor precisará estar sempre atualizado em relação aos acontecimentos
sociais, pois assim, compreenderá o que está implícito na informação deixada pelo autor.
A charge utiliza uma relação que na teoria deve pré existir entre autor e leitor, porém,
esta relação de identificação, vai ainda exigir que ele possua conhecimentos entre a imagem, o
escrito (se houver) e, é claro, o acontecimento atual. A charge requer interdisciplinaridade, e é
indiscutível que o ensino formador de mentes críticas e atuantes necessite passar pela
interdisciplinaridade.
O uso da charge em atividades interdisciplinares propicia ao docente, possibilidades
pedagógicas em diversas áreas do conhecimento. No texto verbal e não verbal, o
docente pode orientar projetos em redação, análise de discurso, elementos
gramaticais do texto, coesão, coerência, aprendizagem de novas expressões, palavras
e relação de temas pertinentes à comunidade da escola, com ênfase aos temas
transversais. (PESSOA, 2011, p. 26).
Desta forma, o ensino se torna interdisciplinar e o professor além de utilizar as charges
para contextualizar sua disciplina, deve também interagir com outras áreas aliando conceitos
de artes, literatura, história, física, geografia, sociologia e filosofia. A natureza interdisciplinar
deste gênero permite diversas possibilidades educacionais, que aliadas ao ensino de
linguagens só tendem a fortalecer o processo educacional destes alunos.
Mediante o exposto, fica evidente que ao se trabalhar com charges, os educandos se
sentirão mais motivados e curiosos, pois terão que recorrer ao conhecimento prévio de outros
textos e terão de saber os fatos históricos neles contidos, para alcançar a mensagem que foi
transmitida.
Conforme Romualdo (2000):
Se pensarmos em termos de conteúdo, uma charge ou uma caricatura podem ser muito
mais densas do que os outros textos opinativos, como uma crônica ou até mesmo um
editorial. O leitor pode, inclusive, deixar de ler estes e outros gêneros opinativos
convencionais, optando pela leitura da charge que, por ser um texto imagético e
humorístico, atrai mais sua atenção e lhe transmite mais rapidamente um
19
posicionamento crítico sobre personagens e fatos políticos. (ROMUALDO, 2000, p.
15).
Isto significa que a charge é um gênero textual capaz de instigar a curiosidade e
despertar o gosto pela leitura, tornando desta forma o processo de ensino e aprendizagem mais
dinâmico e interativo.
4- METODOLOGIA
Este trabalho terá sua metodologia fundamentada em pesquisas bibliográficas, a serem
realizadas em livros, artigos, sites da internet e impressos tais como: revistas e jornais, entre
outros. Dessa forma, se caracterizará como uma pesquisa teórica, de cunho bibliográfico e
interpretativo, a qual se configura como um processo de ―pensar a realidade e de elaborar
conceitos e categorias de análise‖ (DEMO, 2004, p. 24).
A pesquisa teórica se faz relevante para o processo de aprendizagem, pois somos
influenciados e reproduzimos a prática de outros, porém deve-se ter o cuidado de não cair no
equívoco de julgar as colocações como certas ou erradas, sem apresentar uma contraproposta
e/ou abrir a discussão sobre determinada teoria (DEMO, 2004).
Como base dos estudos desta pesquisa, utilizaremos charges de autores que discutem a
atualidade e fatos do cotidiano da educação e política, como forma de conscientização e
crítica, formando assim um pensamento crítico, onde o aluno interprete as situações com o
seu próprio olhar.
O trabalho teórico contém alguns pontos centrais como: elaboração de quadros de
referências, compreensão das charges, apoio da produção vigente, reflexão elaborada e
conhecimentos prévios. Usar os questionamentos para agrupar teoria e prática, real e ideal
devem ser os objetivos primordiais do pesquisador.
A abordagem interpretativa baseia-se na hermenêutica (busca o significado de um
texto) e na fenomenologia (teoria gerada a partir dos dados coletados). Busca compreender o
fenômeno a partir dos próprios dados, das referências fornecidas pela população estudada e
dos significados atribuídos ao fenômeno pela população. Assume que a realidade é subjetiva e
socialmente construída. Utiliza os próprios dados para propor e resolver questões da pesquisa.
(MORESI, 2003)
Por fim, resta-nos indicar que utilizaremos da abordagem qualitativa, com
fundamentos descritivos e interpretativos, que consistem na elaboração crítica de conceitos e
teorias, em um processo de interpretação sobre determinado problema em face de vários
20
conceitos divergentes ou não, com interferências do autor, visto que o olhar deste faz a
ligação com a problematização e a fonte teórica.
5-ANÁLISES DOS RESULTADOS
Iremos analisar algumas charges de assuntos pertinentes no dia a dia estudantil, de
assuntos ligados políticas públicas que interferem diretamente no bem estar social e assuntos
estes que não devem ser deixados de lado, para que desde cedo se crie uma postura ética e que
estes mesmos alunos revejam as suas posições e se coloquem como cidadãos conscientes e
exijam que seus direitos sejam garantidos.
O uso de charges favorece a leitura e a interpretação de texto, pois exploram
linguagens verbais e não verbais, usando a intertextualidade verbal e a não verbal, para dar
sentido a essa compreensão. Um dos objetivos de ensino com charges é a condensação de
informações em processos intertextuais que forçam o leitor a adquirir conhecimentos
atualizados. A charge conquista facilmente o leitor, por possuir leveza ao aliar imagem e
escrita, para transmitir uma informação. É um gênero textual que é muito utilizado como
material de apoio didático.
Trabalhar a leitura com o uso de charges é interessante porque proporciona ao leitor se
aproximar de um assunto do cotidiano apontando um sentido de incomodo e crítica, gerando
reflexão e debate, tornando essa construção crítica algo de muito positivo para a formação de
uma sociedade participativa e com o uso do humor, gerando prazer e diversão.
A charge não é uma piada, com linguagem visual, é um gênero textual opinativo, seus
maiores focos são críticas políticas, econômicas, esportivas e sociais. Ela tem o poder de unir
várias informações, inclusive procedentes de contextos extremamente diferentes, num
processo de intertextualidade que ocorre na linguagem verbal ou mesmo nas imagens.
A charge transmite informação envolvendo fatos atuais. É uma representação gráfica
de determinado assunto conhecido do leitor. Quanto à forma, elas representam figuras com
possibilidades existentes no mundo real e comumente são usados caricaturas e símbolos para
que o leitor reconheça e compreenda a mensagem transmitida. A ambientação da charge deve
conter detalhes que forneçam dados suficientes para a compreensão do leitor, tais como a
caracterização do ambiente e as marcas simbolizando o tema tratado. Podem ser constituídas
apenas por linguagem não verbal, no entanto é mais comum apresentarem linguagem verbal e
21
não verbal ao mesmo tempo. A linguagem verbal geralmente aparece dentro de balões,
representando a fala ou o pensamento das personagens.
Iremos analisar uma sequência de charges, em eixos fundamentais para a nossa
sociedade: Educação, política e mobilidade urbana.
5.1 Séries – Educação
Charge I (Ivan Cabral, 2009)
Na charge I, há a fala do aluno, caracterizada pelo balão. A ideia transmitida é de
inversão de valores onde o aluno entrega um trabalho sobre ética e tenta ―comprar‖ a
professora com um presente, ou seja, ele não aprendeu nada sobre ética ao fazer o trabalho. A
fisionomia é de um cara esperto, que tenta ganhar vantagem, o famoso jeitinho brasileiro. A
professora tem uma feição de espanto, talvez pela pouca idade para que o menino já tenha
essa postura perante a vida ou mesmo incredulidade, quando o professor, que tanto se dedica
para transmitir conhecimentos, se vê numa situação desta, onde é colocado em xeque.
É perceptível ainda que a charge faz uma crítica a educação brasileira, tendo como
consequência a falta de ética dos brasileiros, trazendo a ideia de que esse comportamento
atravessa todas as idades, mas pode começa na escola. A ideia diante de um sistema
educacional falho do ―eu finjo que ensino e você finge que aprende‖ é marcado na charge
quando o aluno entrega uma redação sobre ética e falta com a mesma, ou seja, não aprendeu
nada. A grande questão é: Que outros enunciados e vozes atravessam essas já postas na
charge? Além da voz do aluno e do professor colocado de forma explicita, podemos retornar a
partir da charge a voz do sistema educacional (secretários da educação) e o próprio sistema
educacional do nosso país que é falho desde as suas bases. Uma cadeia de outros problemas
poderão ser revelados, a partir do tema proposto pela charge, como: ética, condições de
trabalho do professor, avaliação, etc.
22
As charges atraem o leitor justamente por condensarem informações em poucas
palavras, favorecendo uma leitura rápida. A compreensão de uma charge, tendo em vista essa
condensação de informações, depende de um conjunto de dados e fatos contemporâneos no
momento em que se estabelece a relação discursiva entre o produtor e o receptor. Essas
informações presentes nas charges são relacionadas por meio da intertextualidade e da
polifonia, portanto, para o entendimento do gênero, o leitor deve recuperar as diversas vozes e
os diversos intertexto ali presentes.
Charge II (Ivan Cabral, 2009)
Na charge II Ivan Cabral, faz uma alusão entre salário e boletim, em que a
preocupação de ambos os personagens se mostra em suas feições, preocupações que tem o
mesmo nome, mas com sentidos totalmente diferentes. O professor, que já formado, que está
na posição de avaliador, pensa no seu pouco salário, sentado a beira da calçada, na sarjeta, já
o aluno, triste, preocupado com seu desempenho escolar, onde as notas marcadas em
vermelho, provavelmente lhe trarão problemas.
Nesta charge é perceptível a condensação de informações as quais listaremos abaixo:
1. Legenda: Nota baixa (uso de dualidade).
2. As personagens: Professor, já formado; aluno, com problemas de desempenho
escolar.
3. Balão de pensamento: As referencias à nota baixa são diferentes e distintas, mas
fazem os dois ficarem tristes.
4. Sentados na sarjeta: alusão a rua da amargura, sentido de desamparo e sofrimento.
23
5. Capelo (chapéu de formatura): mostrando que mesmo sento graduado, o salário
ainda é uma tormenta para o professor.
6. Boletim com notas em vermelho: frisando o mau desempenho do aluno.
Para que haja compreensão desse texto é necessário que o leitor recupere os intertexto
e as informações acima listadas, e essas informações são contemporâneas à época e se
relacionam de forma criativa para estabelecer uma crítica bem humorada.
Sem o contexto, é impossível interpretar a charge e, com o distanciamento temporal
em relação ao fato, a charge vai perdendo sua capacidade de comunicação. A charge
é um tipo de registro da história que necessita para uma interpretação aberta estar
relacionada aos eventos políticos e culturais de seu tempo (NERY, 1998, p. 87).
A principal critica, deve-se ao fato de que os salários dos professores ainda são
indignos. Bakhtin (2003) considera que todo discurso construído na história da língua é
resultado de discursos anteriores e esse conjunto de discursos constrói a história.
Aqui percebemos a correlação entre o salário baixo e as notas dos alunos. Há uma
relação de causa e efeito proposta na charge. Quanto mais baixos os salários dos professores,
mas baixas as notas dos alunos. Isso significa que, professores mal pagos refletem diretamente
na forma de ensino-aprendizagem, e, consequentemente, no futuro do cidadão brasileiro, pois
a consequência de déficit de aprendizagem refletirá também em dificuldades futuras, que
podem levar a sarjeta. As marcas discursivas presentes na charge nos remete a uma memória
coletiva de que sem educação e aprendizagem eficiente não conseguiremos um bom emprego,
isso preocupa a todos. A crítica construída nesse gênero vem mostrar que a falta de estímulo
causada pelo mau salário do professor há um efeito que reflete no aluno e futuro cidadão,
contribuinte, brasileiro.
A próxima charge, ainda na série educação, trata especificamente da estrutura das
instituições de ensino público no Brasil.
24
Charge III
Intertextualidade implícita ocorre quando o intertexto é exposto sem nenhuma menção
à fonte. Neste caso, existem duas possibilidades, ou seguir a direção argumentativa do
intertexto, apoiando-a ou endossando-a; ou colocá-lo em questão, argumentando em sentido
contrário. No caso de intertextualidade implícita, ou seja, com valor de subversão, a inferência
do intertexto é crucial para a construção de sentido. A charge acima apresenta
fundamentalmente esse tipo de intertextualidade, a começar pela legenda. O texto fonte, nesse
caso, é a própria legenda que se não for reconhecida, a compreensão é comprometida.
Na charge III, a menção ao novo acordo ortográfico em que há mudança na língua
portuguesa faz um paralelo com as mudanças na construção educacional da população menos
abastada. Tendo em vista que não houve melhorias ou investimentos na educação,
principalmente a de base. Falta ao governo medidas que tenham foco prático e que aliviem o
sofrimento dos estudantes e professores que estão sem condições, num sistema a beira de um
colapso. A crítica contra os que impõem mudanças sem que necessidades realmente
importantes para maioria da população sejam vistas é severa.
5.2- Séries - Política
25
Charge IV
Esta charge faz uma critica sobre a mudança do sistema eleitoral brasileiro, onde os
cadastros passaram a ser computadorizados, com a digitalização da impressão digital dos
eleitores como forma de evitar a fraude. Mas a indignação da personagem, que precisa fazer o
registro de suas digitais, como se ele fosse algum criminoso, além da própria frase em que ele
afirma que os políticos que são os criminosos, mostram a insatisfação da população no poder
público brasileiro e na falta de credibilidade.
É necessário que o leitor possua algum conhecimento prévio do que significa a sigla
TRE (Tribunal Eleitoral Regional), que é o órgão competente que gerencia todo o sistema
eleitoral brasileiro, O leitor também deve estar atento para fatos do cotidiano, como a
convocação que tem sido feita para que ocorra o cadastramento, que ainda não foi realizado
em 100% do território nacional, mas já conta com uma grande quantidade de municípios
cadastrados. Fatos recentes como os casos de corrupção na câmara e senado do nosso país,
envolvendo ministros, senadores, deputados e outros tantos, só fazem crescer esse sentimento
de insatisfação e incredulidade no cenário político nacional. Temos um passado histórico de
graves e sequentes casos de corrupção no nosso país, que inevitavelmente faz crescer a
insatisfação, bem como diminui a vontade de ser participante do processo democrático do
nosso país.
Percebe-se pelas letras de forma que o chargista tenta chamar a atenção para ―ELES‖,
se referindo aos políticos brasileiros e, para ―NÓS‖, se referindo à população brasileira,
deixando enunciar que eles (políticos) comentem os crimes e nós é que pagamos o preço,
somos roubados por eles e ainda temos a obrigação de fazer o recadastramento, pois o não
cumprimento desse dever eleitoral implica em sanções para o eleitor não cadastrado.
A segunda charge, dessa serie também trata do tema política de nosso país, embora os
outros discursos, outras vozes sejam enunciados, atravessados no interior desta. Para o mestre
26
russo Bakthin (2004) os discursos são sempre polifônicos, há um conjunto de outras vozes
que reiteram e significam no interior do discurso.
Vejamos a charge:
Charge V
Este texto, demanda a compreensão de seu leitor aos acontecimentos à situação
retratada e ao espaço geográfico ilustrado. A imagem de um morro nos direciona a
compreender que o fato ocorre na cidade do Rio de Janeiro.
É possível identificar o espaço geográfico retratado no texto, a partir da presença de
morros, representado as comunidades, como também a presença do Cristo Redentor. Outro
indício, que é a presença da polícia no local. Em 2011, o Brasil e o mundo assistiam ao
processo de pacificação de um dos morros mais violentos da cidade que era totalmente
dominado pelo tráfico de drogas. A comunidade foi tomada pela polícia e, ocupada pelos
militares. Esse tipo de conhecimento é acionado assim que o leitor se depara com o texto.
Porém, a discussão da charge, contempla outro fato, que é a visita do presidente norte-
americano Barack Obama. Verificamos que o foco do chargista é a visita do referido
presidente e a forma como o Brasil se prepara essa recepção, ou seja, as medidas de segurança
que são tomadas para a chegada do convidado. Notemos pela fala da personagem: ―Calma,
gente! É a visita do Obama‖... Vemos que há uma presença maciça das forças armadas
brasileiras, de forma exagerada, como se observa pela grande quantidade de tanques de
guerra. A crítica feita é relacionada à falta de segurança pública no dia a dia da população e o
exagero na segurança devido à presença de uma autoridade estadunidense.
27
Charge VI
Nesta charge, dois amigos bebem na mesa do bar e um deles lê as notícias no jornal, e
ao falar para o amigo que os petroleiros irão entrar em greve, o outro, com cara de desanimo,
diz que o aumento dos combustíveis será em pouco tempo. Neste episódio, podemos fazer a
leitura de que alguns setores da nossa economia se ver atrelados ao governo e se mantém
frágeis e sem liberdade de ação, a Petrobrás, como bem sabemos, pertence ao Governo
Federal, e detém o controle sobre os combustíveis no Brasil, mas se os trabalhadores entram
em greve, que é um direito constitucional, há um colapso na demanda e a lei do mercado é a
de que pouca oferta eleva os preços.
A figura da fisionomia da segunda personagem de insatisfação, descontentamento,
além de certo desprezo é uma das grandes formas de criticar o governo, pois é como se ele
dissesse que não há solução.
Certamente o professor deve trazer aos seus alunos questões que eles possam discutir
o seu dia a dia, a interação que eles fazem com o mundo, mas essas questões já não são tão
distantes dos jovens, pois, cada dia eles estão mais atentos ao que se passa e cada dia mais
globalizados.
5.3- Séries - Transporte Público
Nas três charges escolhidas para análise, sobre o tema transporte público, notamos,
que a tônica é quase sempre a mesma, a super lotação dos coletivos urbanos, além do péssimo
serviço prestado pelas empresas.
28
Charge VII (Lucas Carvalho)
Na charge VII o aluno, que está com a mochila nas costas, se arrisca ao viajar fora do
ônibus, pois é evidente que em qualquer momento ele poderá se acidentar, e, a legenda faz
uma alusão a este comportamento: ―Viva arriscando...‖ e a personagem ainda pede ao
motorista que espere, mas não é atendido.
Charge VIII
Na charge VIII, a lotação é tão grande que alguns passageiros vão pendurados do lado
de fora do ônibus, a crítica ainda é marcante pela frase que a personagem diz: ―Veja pelo lado
bom, aqui do lado de fora é mais fresquinho.‖ Ainda há a presença do cobrador do ônibus que
vem, mesmo sem qualquer acomodação, fazer a cobranças das passagens.
29
Charge IX (Sponholz)
A charge exagera, mas mostra o que acontece nos grandes centros urbanos e nos traz a
mente as grandes manifestações que ocorreram em julho deste ano de 2013, que foram
iniciadas motivadas pela insatisfação dos transportes públicos, onde o slogan ―Não é só pelos
0,20 centavos‖ foi a marca registrada das manifestações. E a charge IX faz referencia aos
incentivos que o governo tem dado, com a redução do IPI (Imposto sobre produto
industrializado), que aquece as vendas de carros e consequentemente aumenta o volume de
carros nas ruas, aumentando o fluxo de carros e aumentando a lentidão no trânsito, gerando
demora na locomoção de quem necessita usar transporte, seja ele coletivo ou individual, mas
a classe que não possui acesso a ter seu próprio veículo automotivo sofre muito mais, pois
além da demora, existe o desconforto.
O direito de ir e vir são universais, mas, esse direito muitas vezes é tolhido, pela falta
de acesso á transporte público de qualidade, tendo em vista que grande parte da população faz
uso e depende dele.
A intertextualidade é um recurso produtivo em sala de aula para subsidiar a
competência argumentativa dos alunos a partir de relações lógico-discursivas
trazidas à tona pelo gênero charge, que tem em sua natureza, a capacidade de
abordar temas polêmicos como a política, a religião, os conflitos sociais etc.
(PEREIRA, 2006, p.102).
A análise das charges envolve conhecimento de mundo, senso crítico e envolvimento
com as questões, muitas vezes, quando o assunto não faz parte do dia a dia do leitor, não
desperta nele o interesse, é necessário que o professor busque assuntos que gerem além de
interesse, o senso crítico, de responsabilidade e de participação nas coisas pertinentes ao
coletivo, pois só assim formaremos cidadãos cada vez mais participativos e atuantes dentro da
nossa sociedade.
30
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação desenvolve competências no indivíduo em que ele se torna capaz de
conciliar, de maneira harmônica, a construção do seu bem-estar individual junto ao bem estar
da coletividade, ao qual ele está inserido. E a prática educativa adota formas diversas,
capacitando o indivíduo a manifestar seus sentimentos, seus ideais e valores, sem impor sua
vontade.
A charge é um gênero textual recheado de recursos linguísticos que o professor pode
aproveitar para explorar o conhecimento dos alunos, pois além de trabalhar diretamente com a
prática de leitura de texto, ele ainda trabalha a leitura de mundo que surge mediante a
intertextualidade e os elementos implícitos na charge.
Sua principal característica é o humor, o uso de caricaturas e figuras desperta o
interesse dos alunos, e ao estudá-la, passam a desenvolver uma visão crítica a respeito dos
assuntos que as charges abordam, trabalhando assim, a linguagem de uma forma geral. Cabe
ao professor ter essa percepção ao mesclar teorias e práticas de leitura.
Pode parecer utópico, falar em consciência critica através de utilização de charges em
sala de aula, entretanto, seu uso possibilita que o aluno perceba a realidade da sociedade
contemporânea, e possa refletir sobre as condições em que vive em relação à saúde,
segurança, política, educação e etc. Dar ao aluno a oportunidade deter essa visão, é formar
cidadãos, mesmo que não tenhamos investimentos e políticas públicas eficientes, é necessário
dar o primeiro passo nessa direção, afinal alguma iniciativa deve ser tomada e a pratica se
constrói com teoria e ideais. O homem deve entender que ele é um ser social, capaz de
modificar seu caminho, por suas escolhas, seu esforço e sua persistência
31
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
BIDARRA, Jorge, REIS, Leidiani da Silva. Gênero charge: construção de significados a
partir de uma perspectiva interdisciplinar e dinâmica. Santa Cruz do Sul, v. 38, n. 64, p. 150-
168, jan./jun. 2013. Disponível em http://online.unisc.br/seer/index.php/signo Acesso em : 01
out 2013.
BRASIL. Parâmetros Curriculares nacionais: Língua Portuguesa: primeiro e segundo
ciclos / Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. _ Brasília : A
Secretaria, 1998.
CAVALCANTI, Maria Clara Catanho. Charge: intertextualidade e humor. Revista Virtual de
Letras, v. 04, nº 02,UFPE, Ago/Dez, 2012.
Disponível em: <http:// http://www.revlet.com.br/artigos/155.pdf> Acesso em: 21 set. 2013.
DEMO, Pedro. Pesquisa Participante: saber pensar e intervir juntos. Brasília: Liber Livro
editora, 2004.
DISCINI, Norma. Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2005.
KLEIMAN, Ângela. Texto & Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 5ª ed. Campinas:
Pontes, 2007.
___________. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 2009.
__________. Oficina de leitura: teoria e prática. 10. ed. Campinas: Pontes, 2004.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo:
Contexto, 2008.
KOCH, Ingedore Vilaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 2001.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
MOUCO, Maria Aparecida Tavares; GREGÓRIO, Maria Regina. Leitura, análise e
interpretação de charges com fundamentos na teoria semiótica. Trabalho final do
programa de desenvolvimento da Educação - PDE 2007. Univ. Estadual de Londrina, 2007.
Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1104-4.pdf>.
Acesso em: 25 ago. 2013.
NERY, João Elias. Charge e caricatura na construção de imagens públicas. 1998. Tese de
Doutorado em Comunicação e Semiótica - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 1998.
PESSOA, Valda Inês Fontenelle. O cuidado interdisciplinar na construção de um
currículo de formação de educadores. São Paulo: PUCSP, 2011.
32
PEREIRA, Tânia Maria Augusto. O discurso das charges: um campo fértil de
intertextualidade. In: SILVA, Antonio de Pádua Dias da et al. Ensino de língua: do impresso
ao virtual. Campina Grande, PB: EDUEP, 2006.
VALENTE, André. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1998.
SITES DAS CHARGES
Disponíveis em:
Charge I: http://www.ivancabral.com/2011/09/charge-do-dia-etica-e-educacao.html.
Acesso em: 14 Out. 2013.
Charge II: http://www.ivancabral.com/2009/03/charge-do-dia-nota-baixa.html
Acesso em: 14 Out. 2013.
ChargeIII:http://politicaseducacionais2012.blogspot.com.br/2012/11/jacyara-matutino-
charges-sobre-educacao.html.
Acesso em: 14 Out. 2013.
Charge IV: http://portfolioraulmotta.blogspot.com.br/
Acesso em: 14 Out. 2013.
Charge V: http://parazinet.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html
Acesso em: 14 Out. 2013.
Charge VI: http://www.sponholz.arq.br/
Acesso em: 14 Out. 2013.
ChargeVII:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=601336603256862&set=a.466785450
045312.110748.466780640045793&type=1&theater
Acesso em: 14 Out. 2013.
Charge VIII: http://euindiconoliceu.blogspot.com.br/2013/04/acorda-brasil.html
Acesso em: 14 Out. 2013.
Charge IX: http://www.humorpolitico.com.br/governo-dilma-2/reducao-do-ipi-para-carros
Acesso em: 14 Out. 2013.