Post on 11-Nov-2018
Universidade Estadualde Santa Cruz
ReitorProf. Antonio Joaquim da Silva Bastos
Vice-reitoraProfª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Pró-reitora de GraduaçãoProfª. Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa
Diretora do Departamento de Ciências da EducaçãoProfª. Maria Olívia Lisboa
Ministério daEducação
Ficha Catalográfica
H673 História da Educação : Pedagogia EAD/UESC / Ela- boração de conteúdo Eronilda Maria Góis de Car- valho, Rachel de Oliveira, Raimunda Alves Moreira de Assis. – [Ilhéus, BA] : UESC, [2009]. 86 p. : il. ISBN: 978-85-7455-180-7 Módulo I, vol. 3 - EAD de Pedagogia. Inclui bibliografias. 1. Educação – História. 2. Educação na Antiguida- de. I. Carvalho, Eronilda Maria Góis de. II. Oliveira, Raquel de. III. Assis, Raimunda Alves Moreira de.
CDD 370.901
Coordenação UAB – UESCProfª. Ds. Maridalva de Souza Penteado
Coordenação Adjunta UAB – UESCProfª. Ms. Flaviana dos Santos Silva
Coordenação do Curso de Licenciatura em Pedagogia (EAD)Profª. Ds. Maria Elizabete Souza Couto
Elaboração de ConteúdoProfª. Ds. Eronilda Maria Góis de CarvalhoProfª. Ds. Rachel de OliveiraProfª. Ds. Raimunda Alves Moreira de Assis
Instrucional DesignProfª. Ms. Marileide dos Santos de OliveraProfª. Ds. Gessilene Silveira Kanthack
RevisãoProfª. Ms. Aline de Santos Brito Nascimento
Coordenação de DesignProfª. Ms. Julianna Nascimento Torezani
DiagramaçãoJamile A. de Mattos Chagouri OckéJoão Luiz Cardeal Craveiro
Ilustração e CapaSheylla Tomás Silva PE
DA
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EAD
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ESC
UNIDADE I
Educação na Antiguidade Clássica ..........................................................................11
INTRODUÇÃO1. ..................................................................................................... 13
DIFERENTES COMPREENSÕES SOBRE CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE2. ............................... 14
GRÉCIA - BERÇO CIVILIZATÓRIO DA HUMANIDADE3. ................................................. 15
OS GRANDES FILÓSOFOS GREGOS4. ........................................................................ 19
4.1 Sócrates ................................................................................................... 19
4.2 Platão ...................................................................................................... 20
4.3 Aristóteles .............................................................................................. 20
A EDUCAÇÃO EM ROMA: A INFLUÊNCIA DA GRÉCIA 5. ................................................ 21
5.1 A educação romana: da imitação à criação das escolas .................................... 22
5.2 Os principais educadores de Roma ................................................................ 23
RESUMINDO ............................................................................................................ 24
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 25
Sumário
UNIDADE II
Educação Medieval e Moderna ............................................................................... 27
INTRODUÇÃO1. ..................................................................................................... 29
QUEM ERAM OS POVOS EUROPEUS DA IDADE MÉDIA? 2. ............................................ 30
A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA3. ............................................................................. 30
3.1 A importância dos Mosteiros para o desenvolvimento do campo
educacional ...................................................................................................31
3.2 A educação no Renascimento ....................................................................... 34
3.3 A Educação no Iluminismo ...........................................................................36
3.4 Precursores do Iluminismo e sua influência na educação ................................. 37
3.5 Filósofos Iluministas e suas contribuições para a educação ............................... 38
A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA (SÉCULO XX): PRINCIPAIS MOVIMENTOS4. .............. 40
4.1 Contribuições de outros pensadores .............................................................. 42
RESUMINDO ............................................................................................................44
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................45
UNIDADE III
História da Educação no Brasil ............................................................................... 47
INTRODUÇÃO1. ..................................................................................................... 49
A PRIMEIRA FASE EDUCACIONAL NO BRASIL-COLONIA 2. ............................................ 50
A FASE POMBALINA3. ............................................................................................. 51
A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO4. .................................................................................. 52
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA5. ......................................... 54
RESUMINDO ............................................................................................................ 57
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 58
UNIDADE V
A Produção Historiográfica da Educação na Região Cacaueira ................................83
INTRODUÇÃO1. ...................................................................................................... 85
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO CACAUEIRA: ALGUNS ASPECTOS2. ................... 86
A EDUCAÇÃO EM ILHÉUS3. ...................................................................................... 87
A EDUCAÇÃO EM ITABUNA4. .................................................................................... 90
O ENSINO SUPERIOR5. ........................................................................................... 93
RESUMINDO ............................................................................................................ 95
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 96
UNIDADE IV
As Utopias Clássicas .............................................................................................. 61
INTRODUÇÃO1. ..................................................................................................... 63
A EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE 1930 E A REPÚBLICA NOVA2. ......................................... 64
PRIMEIRAS REFORMAS DE ENSINO DA REPÚBLICA NOVA3. ......................................... 65
3.1 O manifesto dos pioneiros da Educação Nova .................................................. 66
O ESTADO NOVO E A EDUCAÇÃO4. ........................................................................... 67
4.1 “Leis” Orgânicas do Ensino ...........................................................................68
A QUARTA REPÚBLICA E A LEI 4.024/61 5. ................................................................ 69
A EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL6. ........................................................................ 71
A DITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA: CONTRIBUIÇÕES PARA7.
A EDUCAÇÃO .....................................................................................................73
A EDUCAÇÃO E A REPÚBLICA NOVA 8. ...................................................................... 76
RESUMINDO ............................................................................................................79
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................79
Ementa
Tendências e práticas educacionais nas sociedades antigas, medievais, modernas e contemporâneas nos aspectos: políticos, sociais, econômicos e tecnológicos. A origem das Universidades e o desenvolvimento do saber. Os diferentes períodos da história da educação brasileira e regional.
Carga Horária: 60 horas-aula
DISCIPLINA
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
UNIDADE I: EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
UNIDADE II: EDUCAÇÃO MEDIEVAL E MODERNA
UNIDADE III: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
UNIDADE IV: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA SEGUNDA REPÚBLICA
UNIDADE V: A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO CACAUEIRA
Ementa
Tendências e práticas educacionais nas sociedades antigas, medievais, modernas e contemporâneas nos aspectos: políticos, sociais, econômicos e tecnológicos. A origem das Universidades e o desenvolvimento do saber. Os diferentes períodos da história da educação brasileira e regional.
Carga Horária: 60 horas-aula
DISCIPLINA
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
UNIDADE I: EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
UNIDADE II: EDUCAÇÃO MEDIEVAL E MODERNA
UNIDADE III: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
UNIDADE IV: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA SEGUNDA REPÚBLICA
UNIDADE V: A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO CACAUEIRA
Ao final desta unidade, você deverá:
compreender o complexo de relações existentes • entre a educação brasileira e os conhecimentos produzidos na antiguidade clássica.
Apresentar fatos sociopolíticos, econômicos e outros que favoreceram o desenvolvimento da educação na antiguidade clássica. M
eta
Objetivo
1 unid
ade
EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICAProfª. Drª. Rachel de Oliveira
13PedagogiaUESC
Uni
dade
1
UNIDADE I
INTRODUÇÃO1
Caro(a) aluno(a), agora, tomaremos um barco de volta
à antiga Grécia. Você deve estar se perguntando por quê?
Como de volta? Mas você perceberá o quanto esta viagem é
extremamente necessária para todos os pedagogos brasileiros,
que carregam, conscientemente ou não, um grande volume de
bagagem cultural construída pelos gregos, embora muito de
nós jamais tivéssemos conversado com algum ou passeado por
lá.
Nesta viagem simbólica, dialogaremos sobre três pontos
considerados básicos para o entendimento desta cultura,
que se tornou sinônimo de civilização e se espraiou para
todos os continentes. São eles: a) Diferentes compreensões
sobre civilização e barbárie; b) Grécia - berço civilizatório da
humanidade; e c) Os grandes filósofos gregos.
14 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica
DIFERENTES COMPREENSÕES SOBRE CIVILIZAÇÃO E 2 BARBÁRIE
A Grécia é considerada o celeiro do pensamento pedagógico
ocidental. Lá surgiu, conforme diferentes historiadores, as
primeiras concepções e os primeiros debates sobre cidadania,
liberdade e democracia, como também floresceu o culto à
arte e à literatura. Facilitada pela posição geograficamente
estratégica, a Grécia disseminou sua cultura servindo de berço
civilizatório para toda a Europa e para os países conquistados
pelos europeus. Portanto, para se entender a história da
educação brasileira e interpretar as bases de nosso currículo
escolar, cujos princípios são basicamente eurocêntricos, é
fundamental estudar a história da civilização Grega.
Mas, apesar de ter se tornado referência “consagrada”, não
foi a Grécia que exclusivamente contribuiu para a consolidação
da chamada civilização moderna. E por quê? Então vamos tentar
compreender melhor o significado da palavra civilização e porque
ela representa o oposto da barbárie. A palavra civilização deriva
do latim civita, que designava cidade, e civile, o habitante
da cidade, que se diferenciava significativamente daqueles
que moravam no campo, supostamente os não civilizados,
por desconhecerem os códigos sociais dos supostamente
civilizados.
A expressão civilização originalmente se contrapõe e é
antônimo de barbárie. Civilização pode ser entendida como
a aprovação a um conjunto de crenças que inclui um modo
específico de produzir conhecimentos, de se relacionar com
a natureza, com as divindades e outros valores e costumes,
considerados corretos e modernos pelo grupo dominante.
Bárbaras seriam as pessoas que ignoram tais códigos por
desconhecimento, por resistência ou por ter construído outra
forma de ver o mundo.
Costumeiramente achamos altamente civilizados os
países que detêm poder sobre a tecnologia e as outras fontes de
conhecimento. Entretanto, mesmo estando no mais alto estágio
civilizatório, alguns grupos podem se comportar como bárbaros,
por exemplo, quando matam pessoas e destroem a natureza
para adquirir bens e se manter no poder. O que acontece,
atualmente, com alguns países considerados desenvolvidos, e
15PedagogiaUESC
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dade
1o que ocorreu no período das grandes navegações, quando os
invasores consideravam bárbaros os povos que divergiam de
suas crenças e costumes, a exemplo de Portugal e da própria
Grécia, que invadiu muitos territórios para submetê-los ao seu
modo de ser, agindo de forma bárbara, destruindo pessoas e
expropriando suas culturas.
A partir destas singelas definições, podemos concluir que
a ideia de civilização pode abarcar muitos conflitos, notadamente
quando se analisa o patrimônio histórico dos mais diferentes
povos sem respeitar seus valores culturais. Para finalizar este
início de conversa, vamos acrescentar mais uma expressão
que está intimamente ligada ao fenômeno da barbárie e da
civilização: a colonização. Entendemos, assim, que dificilmente
alguém abandona seus valores de modo espontâneo, pois
uma cultura sempre se impõe a outra colonização por meio de
processos violentos de colonização de mentes e costumes.
Foi o advento do colonialismo que colocou a civilização
greco-romana ocidental como referencial universal de cultura.
Conforme Nascimento (2008, p. 63),
[...] de acordo com essa noção, a civilização ocidental representaria o estágio mais avançado do desenvolvimento humano, o único em que o progresso conduz a uma qualidade cada vez melhor. As culturas dos povos não-europeus são consideradas arcaicas, primitivas, estáticas de pouca contribuição para progresso humano.
Com este posicionamento, não deixamos de reconhecer
o valor dos conhecimentos produzidos pelo ocidente,
notadamente os produzidos pela Grécia, mas colocamos em
xeque sua exclusividade e autenticidade. Nascimento (2008)
ainda afirma que vários filósofos e teólogos gregos estudaram
com mestres africanos, a exemplo de Sócrates, Platão, Tales
de Mileto, Anaxágoras e Aristóteles. Muitos conhecimentos
considerados de origem greco-romana foram expropriados de
outros povos.
GRÉCIA - BERÇO CIVILIZATÓRIO DA HUMANIDADE3
O diálogo realizado no tópico anterior nos ajudará a
16 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica
SAIB
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MKO período Homérico foi decisivo para a sedimentação da cultura grega na Europa e em muitas outras partes do mundo. Para Homero, a educação tinha um caráter eminentemente prático e, por esta razão, todos os gregos, obviamente os livres, deveriam atingir a sabedoria e o poder de ação. Os poemas de Homero fizeram a síntese entre educação e cultura, articulando os conhecimentos entre a geografia, a história, a literatura e outros saberes. As suas obras davam também extremo valor à força e à bravura. Desta síntese, nasceu uma educação voltada para o culto ao corpo e o amor à arte.
entender melhor a posição da Grécia no mundo antigo e por
que a educação brasileira ainda herdou suas influências.
A Grécia passou por diferentes
períodos de evolução. Invadiu territórios
e também foi invadida pelos povos dórios,
mergulhando num período obscuro, antes dos
Tempos Homéricos. Conforme Aranha (2007)
e outros estudiosos, a história da Grécia
Antiga registra a seguinte periodização: 1)
Civilização Micênica: séculos XX a XII a.C.;
2)Tempos Homéricos: séculos XII a VII a.C.;
3)Período Arcaico: séculos VIII a VI a.C.; 4)
Período Clássico: séculos V e IV a.C.; e 5)
Período Helenístico: séculos III e II a.C.
A Grécia inaugurou um novo conceito de educação, a
chamada educação liberal, resultado de um longo processo
de evolução histórica, fundamentada na liberdade individual,
dirigida ao homem livre. Contudo, a Grécia contava apenas
com 10% de sua população livre. E ser livre significava não
ter preocupação com os bens materiais ou com o comércio e a
guerra – atividades reservadas às classes inferiores. Entretanto,
para manter esse exército de escravos, foi necessário manter
outro exército de pessoas bem treinadas para manter a ordem
estabelecida pelo grupo minoritário. Por esta razão, a educação
foi quase que exclusivamente voltada para formar guerreiros
com estimulo à competição e o culto ao corpo.
Conforme Piletti (1987), a Grécia cultivou, entre outros,
os seguintes conceitos e ideias: de liberdade política no Estado
e através dele; do amor ao saber pelo saber, isto é, a filosofia;
do homem como sendo, primariamente, um ser racional; de
liberdade e responsabilidade moral; a formulada por Sócrates
de que o homem deve conhecer-se a si próprio; e a de que a
educação é a preparação para a cidadania.
Entretanto, os ideais gregos não se restringiam ao culto à
beleza e à filosofia; o dinheiro e o lucro fácil também permeavam
as relações, incentivando os conflitos entre os nobres e os
plebeus. Além do aperfeiçoamento dos aparelhos de navegação
e a cunhagem de moedas que servia para garantir o sucesso
dos nobres, no comércio externo, eles ainda exploravam os
escravos ao extremo.
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1 Emprestando dinheiro sob hipoteca, o nobre – que já era dono de muitas terras – ia-se assenhoreando das terras alheias [...]. O cidadão pobre que perdera as suas terras poderia considerar-se feliz se lhe permitissem continuar cultivando essas mesmas terras, na qualidade de colono, com a condição de entregar ao novo proprietário cinco sextos do seu trabalho (PONCE, 1992, p. 30).
Em razão desses conflitos e por serem os escravos muito
numerosos, como já citamos, a classe dominante transformou
a organização social num acampamento militar. Aos sete anos,
o Estado se apoderava dos espartanos, que eram liberados
somente aos 60. Poucos entre os nobres sabiam ler. Entre eles,
havia desprezo pelo conhecimento que não fosse estritamente
ligado às armas e à força física.
A civilização grega também foi marcada pela busca do
ideal do que é ser “homem”, ou seja, a compreensão do que é ser
pessoa, ou a finalidade do ser humano. Duas cidades, Esparta
e Atenas, tornaram-se rivais ao responder tal questão.
Para Esparta, os homens deveriam ser desenvolvidos em
todos os sentidos e ser fisicamente fortes. Para os espartanos, o
culto ao corpo se tornou fundamental e predominou a ginástica.
Enquanto os atenienses defendiam, como virtude principal, o
exercício da liberdade, ou seja, que, para além da beleza física,
as pessoas precisavam ser racionais, falar bem, defender seus
direitos e saber argumentar, os espartanos defendiam a força
física e a oratória.
Conforme muitos historiadores e filósofos, já na
antiguidade, os gregos atingiram o ideal mais avançado de
educação. Esta é a visão, por exemplo, de Gadotti (2005), que
afirma:
Assim, a Grécia atingiu o ideal mais avançado da educação na Antiguidade: a Paideia, uma educação integral, que consistia na integração entre a cultura da sociedade e a criação individual de uma outra cultura numa influência recíproca. Os gregos criaram uma pedagogia da eficiência individual e, concomitantemente, da liberdade e da convivência social e política (p. 30).
O ideal de Homero, “Ser melhor e superior aos outros”,
VO
CÊ
SABI
A?
Utilizamos aspas na palavra “homem” para preservar a linha do pensamento da época, porém com o sentido de divergência da regra de que as palavras masculinas incluem todos os seres humanos, homens mulheres e crianças.
18 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica
influenciou tanto os espartanos como os atenienses na busca
da perfeição. A educação totalitária de Esparta exigia o extremo
sacrifício de todos em função do Estado. Após os sete anos, as
crianças recebiam do Estado uma educação pública e obrigatória
e viviam em grupo de acordo com a faixa etária. Os jovens
aprendiam a suportar o desconforto, a fome e a viver de forma
despojada. A educação valorizava a obediência e o respeito aos
mais velhos.
Já os atenienses buscavam privilegiar o belo, a verdade
e a perfeição, embora também buscassem o exercício do poder.
Atenas foi a escola de toda a Grécia. Ao lado do cuidado com
o físico, destacou-se a formação intelectual e política para que
melhor pudessem participar do destino da cidade. Os meninos
eram orientados à pratica de exercícios físicos, que vinham
acompanhados pela orientação moral e estética.
Praticavam a dança, como expressão corporal abrangente,
e frequentavam o ensino elementar, pouco valorizado na época.
“O mestre de letras era geralmente uma pessoa humilde, mal
paga e não tinha o prestígio do instrutor físico. Com o tempo,
à medida que aumentou a exigência de melhor formação
intelectual, delinearam-se três níveis de educação: elementar,
secundária e superior” (ARANHA, 2006, p. 65).
A educação elementar completava-se aos 13 anos,
ocasião em que as crianças mais pobres saíam para buscar um
ofício, enquanto as ricas eram encaminhadas para o ginásio.
O ginásio originalmente também era um local da prática da
educação física, mas que, aos poucos, foi se transformando
em espaço de discussão literária, oportunizando a inclusão
de temas gerais, como Geometria, Astronomia, Matemática e
outros conhecimentos, com criação de bibliotecas e salas de
estudo.
A educação superior foi iniciada pelos sofistas, filósofos
que se dedicaram à formação dos mestres e à didática. Sócrates,
Platão e Aristóteles ministraram educação no nível superior,
exercendo maior influência sobre a educação dentro e fora da
Europa. No próximo tópico, você conhecerá um pouco da vida
desses principais filósofos.
Mas queremos finalizar chamando a atenção para as
estratégias da Grécia para se manter no poder. Para produzir
riquezas e conhecimento, a Grécia manteve um alto número
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1de escravos, incentivou guerras, manteve o exército sempre
reforçado e tanto expropriou a cultura de outros povos, como
também impôs a sua, por meio da colonização, em diferentes
épocas. Como resultado, os filósofos gregos da antiguidade
continuam a fazer parte do currículo das escolas brasileiras,
sendo reverenciados como grandes mestres.
OS GRANDES FILÓSOFOS GREGOS4
4.1 Sócrates
Sócrates (469-399
a.C.), uma das figuras mais
emblemáticas de seu tempo,
atendia seus discípulos em
praça pública e discordava dos
sofistas, que cobravam altas
taxas para ensinar a arte de
falar bem, sem se importar com
o desenvolvimento interior dos
alunos. Sua preocupação era
a busca pessoal e a verdade,
o pensamento próprio e a
busca da voz interior. Sócrates
foi perseguido e condenado à
morte, porque queria buscar
outros caminhos para definir o
que é conhecimento. Para ele, não bastava ser corajoso, era
necessário entender o que é coragem e entender a essência
das coisas.
Sócrates combatia a arte da persuasão do palavrório vazio
em função do aprofundamento do saber. O filósofo afirmava que
a sabedoria começa pelo reconhecimento da ignorância, porque
a verdadeira tarefa da filosofia começa quando o indivíduo
supera o enganoso saber baseado em ideias pré-concebidas.
“Só sei que nada sei” e “Conheça-te a ti mesmo” foram as
frases mais célebres de Sócrates.
Para Sócrates, o fim da educação era o autoconhecimento,
pois o verdadeiro saber vem do interior. Aranha (2006) afirma
FIGURA 1 - Sócrates (por Draco).Fonte: http://lh3.ggpht.com/_q79D0zFvxc0/SKN_KbnSjnI/AAAAAAAAB00/7hFd6kIrU6U/
IMG_0734.JPG
20 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica
que derivam do pensamento socrático algumas ideias que até
hoje influenciam a educação, tais como: “o conhecimento tem
por fim tornar possível a vida moral; o processo para adquirir
o saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode ser dado
dogmaticamente, mas como condição para desenvolver a
capacidade de pensar” (p. 70).
Acusado de corromper a juventude, como você viu,
foi condenado à morte. Nada deixou escrito, sua história foi
contada pelos seus discípulos.
4.2 Platão
Nascido em Atenas, Platão (427 -347 a.C.)
foi o principal discípulo de Sócrates. Descendente
de uma família nobre, esteve em contato com as
pessoas mais influentes de sua época. Suas obras
incentivavam a contemplação pura da realidade
que, para ele, era “desvelar o olho do espírito”,
fazendo-o voltar sempre para a luz. Esta seria a
principal tarefa da educação. Entre as várias obras,
destacam-se: República, Alegoria da Caverna,
Banquete, Sofistas.
4.3 Aristóteles
Nascido na Macedônia, Aristóteles (384-322
a.C.) é considerado o maior sistematizador de toda
a antiguidade. Foi discípulo de Platão e ingressou
na academia aos 17 anos. Ao contrário do idealismo
de seu mestre, não acreditava que nascemos
determinados, mas que, durante a vida, temos a
oportunidade para aprender e nos tornar criaturas
nobres ou não.
Segundo Gadotti (2005, p. 38), Aristóteles
defende
[...] três fatores principais que determinam o desenvolvimento espiritual do homem: ´disposição
FIGURA 3 - Aristóteles (por Beachcomber). Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Aristoteles.png
FIGURA 2 - Platão (por Ricardo André Frantz).Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Herma_of_Plato_-_0049MC.jpg
21PedagogiaUESC
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1inata, hábito e ensino`. Com isto mostra-se favorável às medidas educacionais ‘condicionantes’ e acredita que o homem pode tornar-se a criatura mais nobre, como pode tornar-se a pior de todas, que aprendemos fazendo, que nos tornamos justos agindo justamente.
A fim de sistematizar um pouco do que viu nesse início
de unidade, você deverá resolver as questões abaixo.
ATIVIDADES
1) Como podemos definir e estabelecer relações entre as expressões: civilização, barbárie e colonização?
2) Por que a Grécia não pode ser exclusivamente considerada o berço da civilização?
3) Você acha que os ideais da cultura grega ainda são presentes na nossa civilização? Comente.
4) O que Sócrates combatia e por que foi condenado à morte?
A EDUCAÇÃO EM ROMA: A INFLUÊNCIA DA 5 GRÉCIA
A cultura romana foi formada com a contribuição e
saberes de diversos povos, principalmente os gregos. Quando
Roma invadiu a Grécia, assimilou seus costumes, língua e
religião, transformando a sua civilização em Greco-Romana.
Mas, ao contrário dos gregos, que, além do culto ao
corpo, se dedicavam à filosofia buscando a finalidade do ser,
os romanos se preocupavam com os altos valores militares e a
utilidade mais imediata das coisas, ou seja, não tinham interesses
por temas altamente filosóficos. Por esta razão, os gregos os
consideravam incapazes de apreciar os aspectos superiores
da vida. Os romanos se defendiam, acusando os gregos de
visionários. Essas duas civilizações também escolheram
caminhos diferentes em relação ao desenvolvimento de temas
sociais. Enquanto a Grécia liderou os debates sobre cidadania,
liberdade e democracia, Roma se destacou pela elaboração de
conceitos sobre direitos e deveres.
22 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica
5.1 A educação romana: da imitação à criação das escolas
A imitação foi o primeiro método de educação romana,
tendo a família como principal núcleo. O pai tinha um papel
fundamental, introduzindo os filhos nas diferentes atividades
(agrícola, militar, econômica, civil etc.). Mas a figura da mãe
também foi bastante valorizada. Diferentemente do que
acontecia no restante dos antigos impérios, a situação da
mulher em Roma era elevada e, apesar de participar da vida
pública, possuía respeitável autoridade dentro da família, sendo
venerada como mãe. Neste modelo educacional, os jovens
imitavam não somente seus pais, mas também os soldados, os
militares, outras pessoas que se destacavam na comunidade, e
tinham também a liberdade de imitar os deuses.
Para concretizar o desejo de universalizar sua cultura,
Roma, como você já viu, integrou os povos conquistados a seu
modo de ser, através da educação. Em cada lugar conquistado,
Roma abria uma escola e concedia aos escravos o status de
cidadão através do pagamento dos impostos. Dentro dessa
perspectiva, Roma incorporou o modelo educacional, de sua
província, a antiga Grécia, e igualmente desvalorizou o trabalho
manual, destinando-os aos escravos, e reservou à elite a
formação intelectual.
A concepção originária da educação romana foi
a humanitas, que, no seu sentido literal, se refere à
humanidade e à cultura do espírito. Trata-se “de uma cultura
predominantemente humanística e sobretudo cosmopolita e
universal, buscando aquilo que caracteriza o ser humano, em
todos os tempos e lugares” (ARANHA, 2006, p. 89).
A humanitas serviu como base do sonho romano para se
tornar um grande império; por esta razão, esse tipo de educação
não estava somente ao alcance dos sábios, mas se estendia à
formação de todos os indivíduos considerados virtuosos, como
ser moral, político e literário. Com o tempo, essa concepção
foi se restringindo aos estudos das letras, separando-se das
ciências.
23PedagogiaUESC
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dade
1 5.2 Os principais educadores de Roma
Roma teve vários teóricos da educação. Entre os que
defendiam a formação de grandes oradores, destacou-se Marco
Túlio Cícero (106 – 43 a.C.), proclamado como pai da pátria,
também considerado idealizador do Direito.
Marco Fábio Quintiliano defendia que o peso principal da
educação deve ser dado ao conteúdo do discurso, e a escola
deveria ser um espaço de alegria. O ensino da escrita e leitura
era oferecido pelo ludi magister (mestre de brinquedo).
Sêneca, que viveu por volta de 4 a.C. - 65 d. C., insistia
que a escola deveria ser voltada para a vida.
Plutarco defendia a ideia de que a educação devia mostrar
a biografia de grandes homens para servirem como exemplos
aos jovens.
Mas quando Roma precisou abrir escolas para a formação
de pequenos comerciantes e artesãos que passaram a ocupar
os cargos administrativos, fez por meio do Estado. Foi então
que, pela primeira vez na história, o poder público assumiu
a educação, porém utilizando uma metodologia rígida muito
semelhante à militar, calcada nos direitos e deveres.
Conforme Gadotti (2005), foi treinado um grande grupo
de professores e diretores para vigiarem as escolas, e “todas as
cidades e regiões conquistadas eram submetidas aos mesmos
hábitos e costumes, à mesma administração, apesar de serem
consideradas aliadas de Roma” (p. 44). Como você já deve
ter percebido, foi essa estratégia de educação e cultura que
garantiu a Roma tornar-se um Império. Em todas as cidades,
foram construídas, lado a lado, uma igreja e uma escola.
ATIVIDADES
1) Faça um breve comentário sobre o método da educação por imitação.2) Qual foi a estratégia que Roma utilizou para consolidar sua cultura ao chegar em
terras invadidas?3) Que diferenças marcam o pensamento dos educadores romanos?
24 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação na Antiguidade Clássica
Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer as
diferenças e as relações entre as expressões barbárie, civilização
e colonização. Também viu que, apesar de a Grécia ser vista
como berço da civilização, seu conhecimento é resultado de
um conjunto de conhecimentos oriundos de diferentes povos.
Viu que foi na Grécia que surgiram os primeiros conceitos de
educação liberal, como também os primeiros debates sobre
cidadania, liberdade e democracia.
Em relação à educação, a antiga Grécia foi considerada a
instância mais avançada por ter construído a Paideia, as bases
da denominada Educação Integral, que une a educação do corpo
ao intelecto, ao espiritual, como também a formação para a
cidadania. Você viu que a educação da Grécia era voltada para o
belo, exaltando o aprimoramento do corpo físico, mas também
das artes. Contudo, os gregos jamais desprezaram a arte da
guerra. Conheceu um pouquinho da memória dos três grandes
filósofos da época – Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sobre a cultura romana, viu que ela é resultada do
conhecimento também de diferentes povos. Roma incorporou
principalmente as bases da cultura grega, transformando a sua
própria cultura em Greco-Romana. Roma alimentou o firme
desejo de universalizar sua cultura e, para isto, em cada lugar
conquistado, criava uma igreja e uma escola. Assim, conseguiu
espalhar sua religião e seu modo de pensar pelo mundo. Foi lá
que, pela primeira vez, o Estado assumiu a escola como uma
instância do poder público.
RESUMINDO
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1
RE
fE
RÊ
NC
IAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da
Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. revisão e ampliação. São
Paulo: Moderna, 2006.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8. ed.
São Paulo: Ática, 2005.
NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). A Matriz Africana no
Mundo. Matrizes africanas da cultura brasileira. v. I. São
Paulo: Selo Negro Edições, 2008. Coleção Sankofa.
PILLETI, Claudino; PILLETI, Nelson. História da Educação.
São Paulo: Ática, 1991.
PONCE, Anibal. Educação e Luta de Classes. 12 ed.
Tradução de José Severo de Camargo Pereira. 12. ed. São
Paulo: Cortez; Autores Associados, 1992.
Suas anotações
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ao final desta unidade, você deverá:
identificar os principais aspectos e contribuições da • educação medieval e moderna, que deram as bases para a constituição dos atuais sistemas de ensino.
Apresentar informações básicas e necessárias acerca do processo de desenvolvimento histórico da educação medieval e moderna.
Meta
Objetivo
2 unid
ade
EDUCAÇÃO MEDIEVAL E MODERNAProfª. Drª. Raimunda Alves Moreira de Assis
Profª. Drª. Eronilda Maria Carvalho Góis
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UNIDADE II
INTRODUÇÃO1
Caro aluno, nesta unidade, vamos analisar, juntos,
aspectos relevantes da educação da Idade Média e Moderna. Na
primeira parte, as informações dizem respeito a uma concepção
educacional baseada no aspecto moral, cujo ponto de partida é
a ideia da fé cristã da doutrina da Igreja Católica. Em seguida,
discutiremos sobre o Movimento Renascentista e Iluminista,
destacando os aspectos que visavam a formação do homem
burguês da Idade Moderna.
30 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
SAIB
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MKOs povos bárbaros eram povos de origem marcadamente germâni-ca, que viviam nas regiões Norte e Nordeste da Europa e Noroeste da Ásia. Eram considerados “bárbaros”, pelos romanos, porque não falavam a língua oficial destes, o latim, e tinham cultura e religião diferentes.
LEITURA RECOMENDADA
Se você quiser aprofundar essa questão, sugerimos que leia o livro “Pequena História da Educação Brasileira” de Jair Fonzar (1989), e assista ao filme “O nome da rosa”, baseado no romance de de Humberto Eco, dirigido por Jean-Jacques Arnnaud.
QUEM ERAM OS POVOS EUROPEUS DA IDADE 2 MÉDIA?
Vamos iniciar essa conversa sobre a Idade Média
destacando a derrocada do Império Romano, que é o início
desse período, esclarecendo que esta mudança não ocorreu de
“um dia para o outro”. Foi um processo lento, que teve início
com a migração de vários povos pagãos - “os bárbaros” -
para os domínios romanos, a partir do século III. Os principais
povos invasores foram: os francos, burgúndios, alanos, godos,
vândalos, visigotos, ostrogotos, hunos, alamanos, suevos,
dentre outros.
Esses povos, ao longo do tempo, passaram a
participar do Império Romano, integrando-se às várias
estruturas da administração, como, por exemplo, formação
de exércitos, produção agrícola, atividades comerciais etc.
Com isso, houve trocas econômicas e culturais entre os
romanos e “bárbaros” durante vários séculos, resultando
em uma “fusão cultural”. Por consequência, a partir
de certo período, romanos e bárbaros não eram mais
estrangeiros, porque haviam fundido as duas culturas em
uma nova, a da Idade Média Ocidental.
Com a destituição do último imperador romano,
Rômulo Augusto, em 476, os povos bárbaros tornaram-se os
novos senhores, formando a base de uma nova sociedade e
implantando vários reinados: os dos Francos, Burgúndios e
Visigotos. Contudo, os novos senhores não tinham experiência
administrativa e política e precisaram assimilar parte das
estruturas político-administrativas do antigo regime romano.
Acresce que o grande elo entre as culturas foi a língua (o latim)
e a religião (o cristianismo). No dizer de Fonzar (1989), houve
uma “simbiose cultural, que através da religião consegue educar
os novos povos” (p. 6).
A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA3
No campo educacional, a característica marcante da
educação dos povos europeus da Idade Média foi o poder
da doutrina da Igreja Católica sobre a disseminação do
31PedagogiaUESC
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FIGURA 1 - Mosteiro de San Xoán de Caaveiro (Foto:José Antonio Gil Martínez)
Fonte: http://flickr.com/photos/17364971@N00/186537918
SAIB
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MKOs Mosteiros eram grandes centros de sabedoria onde habitavam os monges. A forma de vida destes era chamada de “monasticismo”, em que existia abdicação do mundo, para se ter total dedicação a Deus. Os monges também cuidavam dos doentes e dos pobres, além de dedicar-se à oração pelas almas dos mortos. Os Mosteiros serviam também como abrigo para os viajantes, sendo as primeiras “casas de hóspedes modernas”.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/modelos/
vidamosteiro.htm
conhecimento e o papel da ciência
nesse mundo, cujos pressupostos eram
alicerçados nos ditames do aspecto
moral e na fé cristã.
A condução do processo
educacional mediado pelos padres
pressionava e defendia a necessidade
de banir a filosofia pagã e buscar o
saber da alma. Com esta postura,
,questionavam perante a sociedade:
quem deverá vencer? A ciência ou a
alma?
Como decorrência dessas pressões, as escolas primitivas
cristãs avançaram a sua ação, buscando a preparação moral
dos seus membros e dos jovens recém-convertidos.
Os bispos encarregavam-se de organizar os novos
espaços de ensino, localizados agora nas catedrais,
transformados em escolas. Esses espaços foram
denominados Mosteiros.
Como você pode perceber, os ideais educacionais
dessa época eram limitativos se comparados aos
princípios da Cultura Clássica. Cabe perguntar: não
seria contraditório abandonar um conhecimento
voltado para os saberes filosóficos e das ciências,
que historicamente vinham sendo acumulados, para
direcionar a educação a aspectos puramente morais,
messiânicos e teológicos?
3.1 A importância dos Mosteiros para o desenvolvimento do campo educacional
Você deve estar questionando: qual seria a principal
função dos Mosteiros? Podemos afirmar que era oferecer
conhecimentos voltados para a vida religiosa dos seus
membros, desenvolvendo estudos teológicos, através de um
método disciplinar rígido, com práticas de estudos, meditação
e trabalhos braçais, que duravam de 6 a 8 anos, prepapando-os
para se tornarem aptos e responsáveis pela proteção espiritual
da sociedade (PONCE, 1963; MANACORDA, 2006).
32 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
A retórica era parte de uma das “três artes liberais” ou triviutrivium en-sinadas nas facul-dades da Idade Média (as outras duas corresponde-riam à dialética e gramática).
fonte: http://pt.wikipedia.org/viki Acesso: 28 set. 2009).
Para Ponce (1963), desse regime severo de estudos e
disciplina, sob a orientação dos monges, surgiram benefícios
importantes para a educação. Podemos citar o aparecimento de
novas escolas religiosas; a conservação e cópia das produções
literárias; o estudo de obras clássicas; a definição de horários
diários para o estudo da literatura; a criação de um ambiente
de reflexão e de pesquisa.
Há registro, ainda, de que foi por meio do desenvolvimento
dessas atividades que obras importantes do passado chegaram
a outras gerações e que ainda hoje continuam presentes entre
nós, como, por exemplo, a Bíblia Sagrada.
Atribuiu-se, ainda, aos monges a responsabilidade da
transmissão e compilação dos saberes da época nas “Sete
Artes Liberais”, denominadas Trivium, as artes preparatórias
da gramática, retórica e lógica; e de Quadrivium: aritmética,
geometria, música e astronomia.
As escolas monásticas eram divididas em externas (para
leigos) e internas (para o clero). O que menos importava nessas
escolas era a instrução científica. O centro das preocupações
era, sem dúvida, a teologia, cujo lema era: “Amar e venerar a
Deus” (PONCE, 1963, p. 94).
Essa cultura medieval/cristã teve muitos seguidores,
desde sua formação no século IX até a decadência no final
do século XII. Podemos citar alguns de seus formuladores:
Santo Anselmo (1033 – 1109); Santo Alberto Magno (1200-
1280); Tomás de Aquino (1225-1274) e outros. Salientamos,
porém, que este modelo escolástico de educar os jovens não
era consensual entre os mestres e estudantes.
Todavia, cabe reconhecer que foi desse regime rigoroso
de estudo nos Mosteiros que nasceram as Universidades, no
final daquele período, e o seu desenvolvimento foi favorecido
por circunstâncias de diferentes naturezas. Podemos citar
algumas: as transformações econômicas que abalaram as
bases do feudalismo; a revitalização dos centros urbanos com
o desenvolvimento do comércio; a criação de oficinas dos
artesãos; os ateliês e corporações de ofícios e as progressivas
modificações científicas e tecnológicas.
Todas essas mudanças contribuíram para o
desenvolvimento dos centros urbanos, atraindo populações
de diferentes localidades, onde eram realizadas as múltiplas
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SAIB
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MKMovimentos comunais são movimentos de independência e emancipação de algumas cidades com importância econômica através da aliança entre reis e burgueses em detrimento do poder aristocrático e clerical. Tiveram como consequência a libertação das cidades da autoridade dos senhores feudais e a estruturação do modo de produção capitalista, no período da Baixa Idade Média (séc. XI – XV).
trocas (materiais, afetivas, intelectuais etc.). Essa
dinâmica favorecia o aumento crescente da presença
de professores e estudantes nas cidades.
Um outro fato de destaque, naquele período,
foi a ocorrência dos chamados movimentos comunais,
empreendidos pelos burgueses contra as autoridades
locais dos senhores feudais e do clero, constituindo-
se o início da separação de poderes entre a Igreja e
o Estado. Diante da urbanização das cidades e das
primeiras iniciativas de constituição de um governo laico
(não pertencente ao clero) nas municipalidades, houve
um crescimento das corporações de ofício denominadas
universitates.
Essas corporações levaram
à formação de um outro tipo de
associação bastante singular, por
volta do século XII, a Universitas
Studii. Nas palavras de Veiga
(2007), a Universitas Studii
era “uma associação de alunos
e mestres para transmissão e
aprendizagem de conhecimentos
‘desinteressados’, ou seja, sem
aplicabilidade imediata” (VEIGA,
2007, p. 17).
Essas associações, que
representavam interesses de novos grupos sociais,
reagiram às rígidas normas impostas pelos eclesiásticos
para a criação de novas escolas, e invocaram a proteção do
Papa, que acolheu o pleito. Isso fez com que a Universitas
Studii se propagasse por toda a Europa, saindo da “tutela”
da Igreja.
Tempo depois, as novas instituições de ensino
foram denominadas Studium generale. Significava um
instituto geral que definiria conhecimentos destinados
aos homens livres, as chamadas “Artes Liberais”.
No final do século XIV, o nome Studium generale
foi substituído pelo de Universitas, assumindo um novo
significado, o de investigar. Os jovens que desejavam
estudar Artes Liberais deveriam seguir determinados
FIGURA 2 - José Manuel Breval (23-03-2009).
Fonte: http://historiageneral.com/2009/03/23/los-fenicios-portadores-de-la-civilizacion/
VO
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SABI
A?
Corporações de ofício eram associações juridicamente reconhecidas por todos (universi), formadas por pessoas de mesmo ofício (artesãos, ateliês, agricultores, comerciantes etc.), que tinham um estatuto regimental, o qual regulava as relações (direitos e deveres) dos mestres e aprendizes e, também, mediava as relações externas com o poder municipal e com o mercado, ou seja, compra e venda de produtos (VEIGA, 2007, p. 17).
34 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
SAIB
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MKDentro da definição contemporânea, as primeiras universidades surgiram na Europa medieval, durante o renascimento do Século XII. As primeiras universidades da Europa foram fundadas na Itália e na França para o estudo de direito, medicina e teologia. Antes disso, instituições semelhantes existiam no mundo islâmico, sendo a mais famosa a do Cairo. Na Ásia, a instituição de ensino superior mais importante era a de Nalanda, em Bihar, Índia, onde viveu, no século II, o filósofo budista Nagarjuna. Na Europa destacamos: a Oxford (1214), na Inglaterra; a de Paris (1250), na França; a de Bolonha (1230), e a de Nápolis (1224), na Itália; a de Salamanca (1218) e a de Valladolid (1250), na Espanha; e a de Lisboa (1290), em Portugal (MANACORDA, 2002).
passos em que discentes e mestres
se dedicassem com liberdade a
todos os ramos do saber (universitas
litterarum).
A Universidade de Nápoles,
fundada em 1824, é vista como a
primeira que organizou, por seções,
as quatro grandes divisões do
conhecimento daquela época: Teologia,
Direito, Medicina e Filosofia.
3.2 A educação no Renascimento
A palavra Renascimento significa, etimologicamente, a
ação de renascer. O período do Renascimento foi considerado
uma fase de transição, que incide entre a decadência do Mundo
Medieval, em meados do século XIV, até os primeiros contornos do
Mundo Moderno (XVII), período em que a autoridade
Real e da Igreja são questionados a partir de ideias
e fatos: O Renascimento/Humanismo/Iluminismo; as
grandes navegações; novas descobertas e invenções
científico-tecnológicas; a Contra-Reforma; e outros
movimentos. Esses desencadearam as primeiras
revoluções científicas, originando o pensamento da
modernidade, cujo berço foi a Itália, que se propunha
a inovar as diferentes formas de conhecimento.
Reis Filho (2002) amplia a discussão
afirmando que concomitantemente estava ocorrendo
o nascimento do modo de produção capitalista
(mercado e acumulação). Declara, ainda, que “as
transformações da infraestrutura técnico-econômica
permitiram à Europa uma imensa mudança em suas
instituições, valores e ideais” (p. 117). Conclui-se
que o ser humano passou a ser o centro e o sentido
do Universo.
Como você deve estar percebendo, este movimento
ganhou força e os intelectuais humanistas buscaram o retorno
ao estudo dos clássicos latinos e gregos na sua forma original.
Eles defendiam os direitos do homem como ser de razão contra
as exigências do ensino dogmático. Também se posicionavam
VO
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SABI
A?
O Renascimento é a manifestação primeira da ordem burguesa em evolução para a conquista do poder político. Porém, os primeiros clarões manifestaram-se nos domínios da cultura. Uma série de “ilustrados” surge, principalmente, nas cidades do Norte da Itália. Destacamos: Petrarca (1304-1374) e Boccaccio (1313-1375), nas letras; da Vinci (1452-1519), nas artes; Maquiavel, na política, exigindo completa destruição do sistema feudal, ao proclamar que os dirigentes políticos não tinham que dar contas ao poder espiritual, nem admitir um “catolicismo supranacional”, atitude que o identifica como o primeiro teórico do nacionalismo (SUCUPIRA FILHO, 1984).
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Figura 3 - Novelas pedagógicas: Gargântua e Pantagruel, de François Rabelais.
Fonte: http://www.expasy.ch/spotlight/back_issues/066/
favoráveis a uma vida mais laicizada, ou seja, com interesses
voltados para vida terrena, para os negócios, pela investigação
e pela razão humana. Uma outra característica deste momento
Renascentista foi a subjetivação das emoções, isto é, o interesse
pela vida real do homem, vivendo as reações humanas: do
prazer, da satisfação, da alegria, do belo, da vida.
Esses ideais são consolidados nos meados do século XV,
ganhando impulso após a impressão dos livros; a ampliação do
número de escolas; o novo ideal de homem; a criação de uma
nova cultura com base experimental e crítica, presente nos
conhecimentos da Geografia, da Meteorologia, da Medicina, da
Literatura e das Artes Plásticas.
Os representantes de maior destaque no campo
educacional foram Victorino da Feltre, na Itália, criador da escola
Casa Giocosa, que defendia um ensino gradual e ministrado de
acordo com o desenvolvimento psíquico do aluno, desenvolvido
em um ambiente de satisfação; François Rabelais, na França,
que era contra a educação tradicional, e ironizava as práticas
educativas por meio das novelas pedagógicas Gargântua e
Pantagruel; e Michel de Montaigne, na França, que criticava a
educação livresca. Enfim, o ideal educativo defendido era o de
preparar homem para o mundo.
Alguns autores destacam que houve uma
grande contribuição do mundo medieval para com
a educação moderna. No plano conceitual, eles
apontam como legado um referencial teórico, que,
ainda hoje, enquadra a educação atual (o conceito de
educação com uma proposta curricular – Trivium e
Quadrivium); e, no plano metodológico, enfatizam a
questão do método, ou seja, como essa aprendizagem
deve ocorrer.
Após este percurso, você deverá responder as
questões a seguir, como forma de fixação de alguns
conhecimentos que você vem adquirindo durante o
estudo.
O ideal de homem que a sociedade passou a exigir foi de um outro tipo, era o gentleman, que seria a fusão dos traços do cavaleiro cortesão medieval com os dotes artísticos e humanistas das cidades comerciais.
36 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
ATIVIDADES
3.3 A Educação no Iluminismo
O embrião da modernidade caracterizou-se como uma época
histórica que se opunha à visão naturalista do curso do mundo,
marcada pela autonomização do pensamento, o predomínio da
ciência e da técnica. Foi um projeto ambicioso e revolucionário
que coincidiu com a emergência do Capitalismo como modo de
produção dominante nos países da Europa.
A partir do século XVIII, também chamado de século das
luzes, surgiu uma corrente de pensadores decidida a abolir os
mistérios e os milagres que ainda restavam
na Idade Média. A origem desse movimento
intelectual, de nome Iluminismo, começou
na França e espalhou-se pela Inglaterra,
ampliando-se por outros países da Europa.
Podemos afirmar que o Iluminismo
se constituiu em um movimento político-
cultural que expressou as necessidades e
os anseios da sociedade burguesa do século
XVIII, o “século das luzes”. Este Movimento
denunciava erros e vícios do Antigo Regime,
abrindo caminho para diversos movimentos
sociais.
Como você deve lembrar, no Antigo Regime, a educação
estava sob o controle da Igreja Católica. Isto não era bem visto
pelos novos pensadores, ou seja, os iluministas, pois, para eles,
a Igreja ensinava uma filosofia arcaica, tornando a sociedade
ignorante, fanática e submissa. Por isso, a educação precisava
ser mudada, a razão, ou melhor, a capacidade de pensar por
SAIB
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a FU V
MKO termo iluminismo relaciona-se com o vocábulo esclarecimento, porque, para os iluministas, os homens da sociedade do Antigo Regime (Idade Média) viviam nas “trevas da ignorância”. Para eles (os iluministas), o homem é produto do meio em que vive, da sociedade e da educação (SAVIANI; LOMBARDI; SANFELICE, 2007). Os iluministas, genericamente chamados de filósofos, admitiam que os seres humanos estariam em condições de tornar este mundo melhor, mediante a introspecção, do livre exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social. Combatendo a tirania dos governantes absolutos, os iluministas tinham em comum a defesa da pessoa humana e dos direitos básicos à vida, à liberdade e à justiça.
1) Descreva as principais características da educação na Idade
Média;
2) Produza um pequeno texto identificando as principais contribuições
téoricas e práticas surgidas na Idade Média para a educação,
apontando as suas principais influências na educação brasileira
ainda hoje.
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si próprio, deveria ficar à frente
na educação.
O século XVIII mostrou
uma nova maneira de pensar
e os filósofos desse período
tinham como objetivo a busca da
felicidade. Eles eram contrários à
injustiça, à intolerância religiosa
e à concentração de privilégios
nas mãos de poucos (ricos e
poderosos). Para os iluministas,
a razão era importante para os
estudos dos fenômenos naturais
e sociais. De certa forma,
eles eram deístas, ou seja,
acreditavam em Deus, e que
este Deus agiria indiretamente
nos homens, através dos
fenômenos naturais e sociais.
A principal característica
desse movimento foi, sem
dúvida, a valorização da ciência e
da racionalidade como forma de
eliminar a ignorância dos seres
humanos acerca da natureza e
da vida em sociedade. O iluminismo teve destaque nos campos
filosófico, político, econômico, das artes e da literatura.
Que tal conhecer alguns pensadores desse momento da
História?
3.4 Precursores do Iluminismo e sua influência na educação
Conforme já assinalamos, o Iluminismo foi um movimento
político-cultural que expressou as necessidades e os anseios da
sociedade burguesa do século XVIII, o “século das luzes”. Trata-
se, portanto, de um conjunto de ideias frontalmente opostas ao
absolutismo dos reis e ao misticismo religioso.
São chamados de precursores do Iluminismo os
VO
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SABI
A?
O Iluminismo foi um movimento intelectual surgido na •segunda metade do século XVIII (o chamado “século das luzes”), que enfatizava a razão e a ciência como formas de explicar o universo. Foi um dos movimentos impulsionadores do •capitalismo e da sociedade moderna. Desenvolveu-se na Alemanha, França e Reino Unido. •Tinha uma grande influência na Áustria, Itália, Polônia, Países Baixos, Rússia, nos países da Escandinávia e na América. O nome se explica porque os filósofos da época •acreditavam estar iluminando as mentes das pessoas. É, de certo modo, um pensamento herdeiro da tradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização do Homem e da Razão. Os iluministas acreditavam que a Razão seria a •explicação para todas as coisas no universo e se contrapunham às ideias em que predominava a fé.As novidades trazidas pelo movimento iluminista •influenciaram alguns monarcas da época que, incorporando certas ideias, procuraram desenvolver uma forma mais democrática de governo. Esses monarcas foram chamados de “déspotas esclarecidos” promovendo inúmeras reformas sociais, estimulando a educação com a abertura de inúmeros estabelecimentos de ensino.O Iluminismo• exerceu vasta influência sobre a vida política e intelectual da maior parte dos países ocidentais. A época do Iluminismo foi marcada por transformações • políticas, tais como a criação e consolidação de estados-nação, a expansão de direitos civis, e a redução da influência de instituições hierárquicas como a nobreza e a Igreja Católica.
(Fonte: Cad. Cedes. Campinas, v. 25, n. 66, p. 165-184, maio/ago., 2005. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br).
38 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
renomados pensadores que divulgavam algumas ideias, tais
como:
ênfase na valorização da ciência e da racionalidade como •
forma de eliminar a ignorância;
entendimento de que os governos deveriam existir para •
o bem da sociedade com a função de garantir a liberdade
econômica e individual e da igualdade de todos perante
a lei; e de, quando o Estado não cumpre suas funções, a
população tem o direito de se rebelar contra ele.
Dentre os precursores, destacam-se: Francis Bacon,
René Descartes e Isaac Newton.
Francis Bacon: filósofo inglês que desenvolveu o método expe-rimental, no qual enfatizava a importância da observação e da experimentação para o de-senvolvimento do conhecimento. Seus estudos se aplicavam em ciências naturais.
René Descartes: dedicou-se ao estudo da física, matemática e da filosofia. Procurou desenvolver um método que produzisse verdades absolutas. Escreveu: Regras para a direção do espírito; Discurso do método e Meditações.
Isaac Newton: matemático, astrônomo, físico e filósofo, contribuiu para a formulação da lei da gravitação universal. Principal obra: Os princípios matemáticos da filosofia da natureza, que reúne as bases da mecânica clássica. Para ele, as ideias tinham origem nos sentidos humanos, contrario à teoria do direito divino dos reis, afirmava que os governos eram criações humanas. Formulou a teoria do Estado liberal e da propriedade privada.
FIGURAS 3-5- Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_PageINFORMAÇÕES - Fonte: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php
Acesso em 20 abr. 2009.
3.5 Filósofos Iluministas e suas contribuições para a educação
Dentre os principais pensadores iluministas, destacam-
se: Voltaire, John Locke, Montesquieu, Rousseau, Denis Diderot
e Johann Pestalozzi:
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Montesquieu: um dos mais brilhantes filósofos franceses do século XVIII, que se notabilizou pela sua teoria da separação dos poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário), a qual exerceu impor-tante influência sobre diversos textos constitucionais modernos e contemporâneos.
Voltaire: tornou-se um dos grandes pensadores do movimento iluminista, sobressaindo pelas suas críticas à Igreja Católica, que, segundo ele, mantinha uma rigorosa aliança com o estado absolutista. Defendeu os direitos individuais da pessoa humana, entre os quais o direito à liberdade de pensamento.
John Locke: considerado o “pai do Iluminismo”, representa o individualismo liberal contra o absolutismo monárquico. Para Locke, o homem, ao nascer, não possui qualquer ideia e sua mente é como uma tábula rasa. O conhecimento, em decorrência, é adquirido por meio dos sentidos, base do empirismo e processado pela razão.
Johann Heinrich Pestalozzi: edu-cador suíço, concebeu um plano de ensino cuidadosamente graduado, que dava margem à manifestação das diferenças individuais. Ele partiu do método indutivo, isto é, de experiências concretas, para estimular a observação e o raciocínio. Dizia que as atividades dos alunos deviam iniciar-se com o conhecimento dos objetos simples, até chegar aos mais complexos, partindo do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, do particular para o geral.Pestalozzi elaborou sua proposta pedagógica retomando de Rousseau, a concepção da educação como processo que deve seguir a natureza e os princípios como da liberdade, da bondade inata do ser e da personalidade individual de cada criança.
Denis Diderot: foi o responsável pela organização da grande Enciclopédia, obra em 35 volumes, publicada entre 1751 e 1752, que continha as novas ideias proclamadas pelos iluministas. O governo condenou a obra, proibindo sua divulgação em duas oportunidades. Diderot foi auxiliado por um matemático, chamado d’Alembert, tendo como colaboradores vários pensadores e escritores desse novo momento.
Jean-Jacques Rousseau: demo-crata convicto, desenvolveu a sua teoria educacional, partindo do princípio de que o homem é bom no seu estado natural e que o papel do educador seria afastar a criança dos vícios da sociedade, permitindo-lhe desabrochar, espon-taneamente, suas potencialidades inatas. Combateu a severidade dos professores da época que reagiam ao erro do aluno, como quem condena uma situação criminosa.
FIGURAS 6-11 - Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page
INFORMAÇÕES - http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.phpAcesso em 20 abr. 2009.
Fonte: Cad. Cedes. Campinas, v. 25, n. 66, p. 165-184, maio/ago, 2005. Disponível em:<http://www.cedes.unicamp.br>
40 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
Outros filósofos também deixaram diversas contribuições
para a educação, como, por exemplo, Basedow, que afirmava
que o ideal na educação das crianças seria a construção de
um currículo que fosse satisfatório para o seu desenvolvimento
integral, ou seja, um currículo que estivesse perfeitamente de
acordo com os anseios infantis, que se voltasse para o interesse
das crianças e não para a vontade dos adultos.
Os filósofos do Iluminismo buscaram enxergar, de maneira
racional, as sociedades, destacando os problemas das nações
imersas no Antigo Regime. Dentre os aspectos interpretados,
destacam-se a crítica à sociedade estamental de privilégios de
nascimento e a autocracia monárquica exercida sob o pretexto
da intervenção divina.
A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA (SÉCULO XX): 4
PRINCIPAIS MOVIMENTOS
Para você entender as realizações educacionais desse
período, convém lembrar que os pedagogos anteriores à época
moderna aceitavam como verdade incontestável a doutrina,
segundo a qual o centro do processo educacional era a
transmissão de conhecimentos emanada do professor para o
aluno. Ou seja, a educação centralizava-se, unicamente, no ato
de ensinar.
Os educadores do século XX, reunidos em torno de
uma nova corrente do pensamento, chamada de Pedagogia da
Atividade, trouxeram revolucionárias contribuições, como, por
exemplo, de que o centro da educação não deveria ser o ato de
ensinar, mas o ato de aprender, transformando o educando na
pessoa mais importante da educação. Formulou-se o princípio
de que a aprendizagem precisa partir de dentro para fora, tendo
como elemento básico o fator motivação.
A atividade escolar começou a ser encarada de forma
mais ampla, incluindo não apenas a cultura livresca, mas os
trabalhos manuais, a expressão artística, os jogos recreativos
e as excursões de pesquisa e de vivência (RIBEIRO, 2005).
Que tal conhecermos um pouco mais sobre as contribuições
de alguns teóricos da educação? Vejamos, então:
VO
CÊ
SABI
A?
Você sabia que a Independência dos EUA, a Inconfidência Mineira e a Revolução Francesa foram influenciadas pelas ideias iluministas?
41PedagogiaUESC
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2
Ovídio Decroly: criou um método globalizante para ser realizado pela criança em três estágios: a observação, que visa pôr a criança em contato os objetos, fenômenos, seres e acontecimentos; a associação, que visa relacionar, entre si e fatos próximos e longínquos, presentes e passados, o homem e o seu meio; e a expressão, que visa manifestar o pensamento de modo acessível aos demais, por meio da palavra, da escrita, do desenho, do trabalho manual etc. Decroly propôs que o ensino se desenvolva por CENTROS DE INTERESSE. Os conhecimentos não se apresentaram classificados por disciplinas, em quadros lógicos formais, que carecem de maior significação para o aluno. Propôs criar um laço entre as disciplinas, para fazê-las convergir ou divergir de um mesmo centro, tendo-se sempre em conta o INTERESSE da criança, que, segundo ele, é a alavanca de tudo.
Maria Montessori: educadora e médica italiana, criou o Método Montessori, que permite que a criança escolha a atividade que corresponder às suas necessidades do momento e se desloque em um espaço concebido por ela. Assim, essa criança se organiza com a ajuda do material didático por ela construído, tendo em vista a educação sensória, que facilita a adaptação ao meio e o controle de seus erros.
John Dewey: filósofo, nasceu e desenvolveu sua obra nos EUA, durante a última metade do século XIX e primeira do século XX. Ele enfatizava que a educação é uma permanente organização ou reconstrução da experiência, que, sendo um processo ativo, será sempre completado pelos períodos subsequentes. A expressão “escola-ativa” reflete, em síntese, essa concepção e contrapõe-se aos estudos puramente intelectuais. Tornou-se um dos maiores pedagogos americanos, contribuindo intensamente para a divulgação dos princípios do que se chamou de Escola Nova.
William Kilpatrick: criou uma pedagogia que chamou de Métodos de Projetos, cuja finalidade era globalizar o ensino, mediante atividades manuais. Este método visou, sobretudo, dirigir a atividade mental do aluno para um propósito objetivo, muito utilizado atualmente.
Jean Piaget: a partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de muitas outras crianças, concluiu que, em muitas questões cruciais, as crianças não pensam como os adultos. Por ainda lhes faltarem certas habilidades, a maneira de pensar é diferente, não somente em grau, como em classe. Ele criou a teoria do desenvolvimento cognitivo, que é uma teoria de etapas e que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis.
Édouard Claparede: desenvolveu uma pedagogia baseada nas necessidades e interesses da criança, chamando-a de “educação funcional”, isto é, a escola deve inspirar-se numa concepção funcional da educação e do ensino. Tal concepção consiste em tomar a criança o centro dos programas e dos métodos escolares. A escola deve ser ativa, um laboratório e não um auditório, e deve evitar que o trabalho escolar seja detestado. A escola já se constitui em um meio social, válido por si mesmo e preparatório para as realidades da vida adulta. Nela, o pedagogo é, antes de tudo, um “estimulador de interesses”.
FIGURAS 12-17Fonte: http://commons.
wikimedia.org/wiki/Main_Page
INFORMAÇÕEShttp://www. klickeducacao.com
Acesso em 20 abr. 2009.
42 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
4.1 Contribuições de outros pensadores
Ainda no início do século XX, surgiu outra corrente
psicológica, liderada por Broadus, Watson e Thorndike, disposta
a explicar, cientificamente, a conduta humana. Essa corrente
ficou conhecida, em termos gerais, como behaviorismo.
Os primeiros behavioristas eram
inspirados pela Física. E, assim, como esta
ciência explicava os fenômenos naturais pelo
mecanismo das causas e efeitos, os behavioristas
procuravam estabelecer, para os fenômenos
da conduta, um princípio geral que também os
explicasse. Para o behaviorista, o processo de
aprendizagem se resume no problema de criar
condicionamentos entre estímulo e resposta,
entendendo-se por condicionamento a relação
estabelecida entre estímulo e resposta capaz
de produzir modificação no comportamento.
A principal escola rival dos behavioristas, no terreno da
aprendizagem, é a Psicologia de Campo-Gestalt. Esta escola
originou-se na Alemanha, na primeira metade do século XX,
e teve como fundadores os psicólogos Max Wertheimer e Kurt
Koffka.
Para os psicólogos da teoria gestalt, a aprendizagem
ATIVIDADES
1) Procure conhecer as teorias de ensino de Piaget e descubra os seus pressupostos básicos.
2) Destaque as principais implicações do pensamento piagetiano para a aprendizagem. Na internet, visite o site do Centro de Referência Educacional.
3) Piaget afirma que “o principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram”. Emita a sua opinião.
ATE
NÇ
ÃO
Piaget não propõe um método de ensino, mas, ao contrário, elabora uma teoria do conhecimento e desenvolve muitas investigações cujos resul-tados são utilizados por psicólogos e pedagogos. Desse modo, suas pes-quisas recebem diversas interpretações que se concretizam em propostas didáticas também diver-sas. Sobre o assunto, ver KAMII, Constance. A criança e o número: implicação educacionalista da teoria de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. Campinas, São Paulo: Papirus, 1991.
SAIB
A M
AIS
RAAC
a FU V
MKA pedagogia de Jerome Bruner valoriza a figura do professor dentro da sala de aula, ressaltando que, apesar dos múltiplos recursos didáticos, o professor é o elemento principal do processo do ensino. Um aspecto relevante de sua teoria é que o aprendizado é um processo ativo, no qual aprendizes constroem novas ideias, ou conceitos, baseados em seus conhecimentos passados e atuais. O aprendiz seleciona e transforma a informação, constrói hipóteses e toma decisões, contando, para isto, com uma estrutura cognitiva (esquemas, modelos mentais).
Fonte: http://www.klickeducacao.com
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ocorre mediante a percepção, pelo indivíduo, de um todo global
e consiste no desenvolvimento de insights. O ambiente não se
apresenta com estímulos únicos, individualizados. O que existe,
na verdade, são blocos de estímulos que configuram uma
situação geral. Estes blocos de estímulos formam, então, um
campo que age sobre a percepção (GHIRALDELLI JR., 2003).
Os insights diferem da aprendizagem mecânica, baseada
em uma série de tentativas de ensaio e erro, ou descobertas
por acaso. O insight é o momento em que se dá a iluminação
do problema.
Burrhus Frederic Skinner ficou conhecido no
mundo inteiro como uma das principais figuras da
Psicologia do século XX. As experiências efetuadas
por Skinner, com animais inferiores, tais como
ratos e pombos, levaram-no a concluir que as leis
da aprendizagem podem ser aplicadas, em termos
gerais, a todos os organismos, inclusive os seres
humanos. Segundo Skinner, a função do professor
dentro da sala de aula é elaborar um adequado
programa de estudos, de maneira que todas as
respostas desejadas da parte do aluno sejam
convenientemente reforçadas.
Mas, para que isso aconteça, o professor
deverá organizar o seu sistema de ensino dentro
do processo da instrução programada, cujos
princípios básicos são: apresentação do conteúdo
em pequenas doses; exigência de resposta-ativa;
avaliação imediata das respostas fornecidas; e
verificação da aprendizagem.
Em oposição ao movimento behaviorista,
no Século XX, surgem alguns pensadores,
representados por Carl Rogers.
Ele foi um dos mais destacados psicólogos do
século XX e líder da corrente psicológica conhecida
como “a terceira força”, que se caracterizou pela
oposição ao movimento behaviorista. Para Rogers,
a educação poderia ser o grande instrumento de um
novo mundo, mas, para isso, seria necessária uma
ampla revolução de base no sistema educacional
vigente, o qual deveria remover o medo pela aventura
FIGURA 3 - Burrhus Frederic Skinner Fonte: http://commons.activemath.org/ActiveMath2/
content/piaget/pics/burrhus_frederic_skinner.jpg
FIGURA 4 - Carl RogersFonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:8.
Carl_Rogers.jpg
44 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I Educação medieval e moderna
criativa, repelir as posições rígidas, fechadas e conservadoras
e deveria ser centrada nos alunos que deverão ser estimulados
para que desenvolvam as suas próprias potencialidades, num
clima de liberdade, autorealização e consciência social (ARANHA,
2006).
Vamos concluir esta unidade destacando as influências e
principais contribuições que a Idade Média e Moderna deixaram
para a educação. Podemos afirmar que os movimentos intelectuais
e fatos que se desenvolveram nos séculos XVI e XVII foram
mudando o contorno da realidade social e deixaram contribuições
importantes para os diferentes campos do conhecimento.
A velha concepção de educação, voltada para moral e fé
cristã, é substituída pelo ideal de um novo homem, valorizando a
razão, o conhecimento. Há a separação entre o estado e a igreja;
o desenvolvimento do capitalismo, que favorece o surgimento
das sociedades modernas; o desenvolvimento da democracia e as
reformas sociais, que asseguram a expansão os direitos civis.
Houve ainda, a ampliação do acesso à educação. E, por fim,
podemos destacar as contribuições para os planos teórico e prático.
No plano teórico, a definição do conceito de educação, desenvolvendo
o seu sentido de formação integral da pessoa humana; no plano
prático, houve o aprendizado de práticas metodológicas, com a
organização dos saberes (currículo); novos métodos de ensino;
novas teorias de aprendizagens; e modificações nos conteúdos da
educação.
RESUMINDO
45PedagogiaUESC
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RE
fE
RÊ
NC
IAS
FONZAR, Jair. Pequena história da educação brasileira: tradicionalismo e modernismo: duas tendências que marcam a filosofia pedagógica brasileira. Curitiba: Scientia et Labor; Editora da UFPR, 1989.
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2005.
GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. São Paulo: Cortez, 1990.
GHIRALDELLI JR., Paulo. Filosofia e História da Educação Brasileira. Barueri, São Paulo: Manole, 2003.
KAMII, Constance. A criança e o número: implicação educacionalista da teoria de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. Campinas: Papirus, 1991.
MANACORDA, Amario Alghieri. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 2002.
PILETTI, Cláudio; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da Educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.
PILLETI, Claudino; PILLETI, Nelson. História da Educação. São Paulo: Ática, 1991.
PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. Tradução de José Severo de Camargo Pereira. 12. ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1992 (Coleção Educação Contemporânea)
REIS FILHO, Casemiro dos. Transplante da Educação Européia no Brasil. Revista Brasileira de História da Educação. n. 3. jan./jun.2002.
Suas anotações
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ao final desta unidade, você deverá:
apontar os aspectos gerais do percurso histórico • da educação brasileira;identificar as múltiplas relações que se • estabelecem entre a sociedade e a educação no seu processo de desenvolvimento em diferentes momentos.
Apresentar principais os fatos sociopolíticos, econômicos e outros que sustentaram a educação brasileira nas fases do Brasil-Colonia, Império e Primeira República.M
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Objetivos
3 unid
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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASILProfª. Drª. Rachel de Oliveira
49PedagogiaUESC
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3
UNIDADE III
INTRODUÇÃO1
Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer
os primeiros fatos históricos da educação brasileira, a partir
dos registros oficiais, considerando que as pesquisas sobre
a cultura indígena são ainda muito escassas, notadamente
no período anterior às grandes navegações, que resultou
na invasão do Brasil. Mas é preciso compreender que a
nossa história não começa com a intervenção européia. Os
portugueses aqui encontraram mais de 200 nações indígenas
que tinham um modo específico de construir seu conhecimento
e de se educar. Conhecerá também as influências e mudanças
que ocorreram no campo da educação no período do Império e
Primeira República, ressaltando o processo de exclusão social
que sempre caracterizou a formação da população brasileira
em relação à educação. Ao mesmo tempo, verá a introdução
de teorias pedagógicas que começaram a quebrar o ritual da
escola tradicional, principalmente a partir da década de 1920.
50 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I História da Educação no Brasil
A PRIMEIRA FASE EDUCACIONAL NO BRASIL-2 COLONIA
A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 foi
resultado da disputa entre os países europeus para conquistar
novas terras. Até 1822 Portugal conservou nosso território em
seu poder, escravizando inicialmente índios e, depois, os negros
que foram “libertos” em 1888.
A escravidão foi um fenômeno social de longa duração
utilizado desde a antiguidade por diferentes povos, com o
objetivo expandir seus domínios territorial e econômico, como
ocorreu entre os gregos e os romanos. Até o final do século
XIX, os Estados Unidos da América e diversos países da Europa
utilizaram o mesmo recurso para aumentar suas riquezas.
Mas a escravidão jamais se sustentaria sem o auxílio
de duas poderosas instituições que contribuíram de maneira
decisiva para que o governo de Portugal implantasse à força
sua cultura: a igreja e a escola
Neste período de 1500 a 1822, data da independência do
Brasil, a educação passou por três fases: a do predomínio dos
jesuítas; a da reforma realizada por marquês de Pombal, que
expulsou os jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e a das
reformas promovidas por D. João VI, rei de Portugal, quando
trouxe a corte para o Brasil em 1808.
Na primeira fase do Brasil colônia a educação esteve
nas mãos dos jesuítas que pretendiam por meio da catequese
transformar os indígenas em trabalhadores dóceis que
aceitassem passivamente a cultura europeia em detrimento de
sua própria cultura; esta foi a missão que a coroa portuguesa
confiou à igreja.
O padre Manoel da Nóbrega teve a missão de iniciar a
catequese dos indígenas e formar outros padres. Foi então
que desenvolveu escolas de ordenação, levou a instrução aos
filhos dos colonos brancos que não tinham outra opção escolar
e organizou o primeiro Plano de Ensino. Na primeira etapa o
plano previa o ensino de português, a doutrina cristã a leitura
e escrita, e na segunda, a música instrumental e o canto
orfeônico. Quem quisesse cursar o nível superior deveria
seguir para a Europa ou então se tornar um profissional ligado
à agricultura.
PARA
REF
LETI
R
A libertação dos es-cravos por meio da Lei Áurea assinada pela princesa Isabel continua a ser ques-tionada, tendo em vista que esta medida não proporcionou con-dições para que os negros pudessem ser inseridos dignamente na sociedade.
51PedagogiaUESC
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Os Jesuítas exerceram forte influência na formação da
elite brasileira. Ribeiro (2005) afirma que
(...) a importância social destes religiosos chegou a tal ponto, que se transformaram na única força capaz de influir no domínio do senhor do engenho. Isto foi conseguido não só através dos colégios, como do confessionário, do teatro e, particularmente, pelo terceiro filho, que deveria seguir a vida religiosa (o primeiro seria o herdeiro, o segundo o filho letrado) (p.28).
As escolas jesuíticas eram permeadas pela rigidez do
catolicismo ora vigente. O número de escolas construídas pelos
religiosos era bastante significativo, por volta de 100 instituições,
somando escolas de ler e escrever, seminários, missões,
colégios e residências, embora não haja consenso quantitativo
entre os estudiosos. Mas, na primeira fase do período colonial,
coube praticamente às famílias o ensino das primeiras letras, o
Estado não se responsabilizou pela organização das escolas.
Podemos afirmar que a função da educação na primeira
fase do período colonial era a conversão de almas ao catolicismo,
ao mesmo tempo em que se operavam mudanças culturais
drásticas e mantinha a mão de obra escrava produzindo
riquezas. Estas ações foram lideradas pelos jesuítas.
A FASE POMBALINA3
Como você viu anteriormente, os jesuítas dominaram
a educação, construíram muitas instituições e influenciaram
fortemente pensamento e ações dos senhores do engenho. Os
jesuítas foram também acusados de beneficiarem apenas a
ordem religiosa e impedir o progresso científico. Estas questões
muito desagradaram o governo português que estava arruinado
economicamente e precisava se modernizar para continuar
atuando no mercado europeu. Conforme Ghiraldelli Jr (2003),
(...) a companhia de Jesus foi expulsa de Portugal e do Brasil, quando o marquês de Pombal, então ministro do Estado em Portugal, empreendeu uma série de reformas no sentido de adaptar aquele país e suas colônias ao mundo moderno, tanto do ponto de vista econômico
52 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I História da Educação no Brasil
quanto político e cultural. Neste último campo, tratava-se da implementação de idéias mais próximas ao iluminismo. Em ambos os países ainda que a mão de obra para o ensino continuasse a ser aquela formada pelos jesuítas, nasceu o que, de certo modo, podemos chamar de ensino público, ou seja, um ensino mantido pelo Estado e voltado para a cidadania enquanto noção que se articularia com o Estado, e não mais um ensino atrelado a uma ordem religiosa que, de fato – como denunciou Pombal -, estava sendo preponderância sobre o Estado (p.8).
No plano do ensino superior as mudanças implantadas
por Pombal foi muito incipiente, os intelectuais continuaram
a terminar os estudos na Europa, mas agora em cursos mais
modernos organizados por partidários do Iluminismo.
Pombal criou o cargo de diretor geral dos estudos
e proibiu o ensino público e particular sem licença deste.
Determinou a prestação de exames para todos os professores
e designou comissários para o levantamento do estado das
escolas. Transformou o currículo do ensino secundário em aulas
avulsas, desarticulando o antigo modelo que tinha como base
a Humanidades. Criou escolas para os nobres e para as classes
pobres com a intenção de modernizar a sociedade brasileira e
fortalecer a metrópole. Ribeiro (2005) destaca que,
(...) do ponto de vista educacional, a orientação adotada foi de formar o perfeito nobre, agora negociante, simplificar e abreviar os estudos fazendo com que um maior número se interessasse pelos cursos superiores; propiciar o aprimoramento da língua portuguesa; diversificar o conteúdo, incluindo o de natureza científica; torná-los os mais práticos possíveis (p.33).
Mas ainda estas mudanças foram insuficientes para de
fato quebrar o elitismo educacional e melhorar as condições
culturais do Brasil, o que começou ocorrer numa nova fase,
com a vinda da família real.
A EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO4
Protegida pela Inglaterra, em 1807, a família real fugiu
de Napoleão, o imperador da França, e veio para o Brasil
SAIB
A M
AIS
RAAC
a FU V
MKA principal caracterís-tica do Iluminismo foi a ênfase na razão associado à crença no desenvolvimento humano por meio da educação, da ética, do progresso científico, completamente des-vinculada da religião.
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com 15.000 pessoas a
bordo. Este fato mudou
significativamente o
cenário político e cultural
da colônia, provocando
o desenvolvimento da
vida urbana em Vila
Rica, Salvador, Recife,
mas principalmente no
Rio de Janeiro, que se
tornou sede do governo
português. A organização
desta nova sede exigiu a
criação de ministérios e
de vários outros órgãos
da administração pública. Merecem destaque, entre outras, as
instituições descritas abaixo:
a fundação do primeiro Banco do Brasil, em 1808; •
a criação da Imprensa Régia e a autorização para o •
funcionamento de tipografias e a publicação de jornais
também em 1808;
a abertura de algumas escolas, entre as quais duas de •
Medicina – uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro;
a instalação de uma fábrica de pólvora e de indústrias de •
ferro em Minas Gerais e em São Paulo;
a vinda da Missão Artística Francesa em 1816, e a •
fundação da Academia de Belas-Artes;
a mudança de denominação das unidades territoriais, •
que deixaram de se chamar “capitanias” e passaram a
denominar-se de “províncias” (1821);
a criação da Biblioteca Real (1810), do Jardim Botânico •
(1811) e do Museu Real (1818), mais tarde Museu
Nacional.
Foram férteis as mudanças no campo da educação, com a
criação de diferentes cursos para atender as novas demandas.
Por exemplo, em razão da necessidade de defesa militar, foi
criado em 1808 a Academia Real da Marinha, no mesmo ano o
Curso de Cirurgia na Bahia, que se instalou no Hospital Militar, e
FIGURA 1 - Chegada da Família Real, Óleo sobre tela (de Geoffrey Hunt), 609 x 914 milímetros - Coleção particular.
Fonte: http://www.arqnet.pt/portal/imagemsemanal/novembro0203.html
54 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I História da Educação no Brasil
em 1810, a Academia Real Militar. Estas ações e outras similares
representam a inauguração do ensino superior no Brasil.
É a partir da época do Império que o ensino brasileiro se
estrutura em três níveis: primário, secundário e superior. Afirma
a historiadora Ribeiro (2005) que o primário permaneceu um
nível de instrumentação técnica (escola de ler e escrever) e o
secundário continuou com as aulas régias, apesar de serem
criadas, em algumas províncias, as cadeiras de gramática
latina, desenho e filosofia.
Um destaque importante foi a criação do colégio D. Pedro
II no Rio de Janeiro. Inaugurado em 1838, sua função era ser
modelo de ensino secundário, mas, ao longo do império, sofreu
várias modificações e acabou funcionando como uma escola
preparatória para o ensino superior.
Leôncio de Carvalho, ministro do Império e professor
da Faculdade de Direito de São Paulo, mudou o panorama
educacional, em 1879, ao promulgar o Decreto nº 7.247
que instituiu a liberdade do ensino primário e secundário no
município da Corte e a liberdade do Ensino Superior em todo o
país. Conforme Ghiraldelli Jr (2003),
(...) por ‘liberdade de ensino’ a nova lei entendia que todos que achassem, por julgamento próprio, capacitados a ensinar, poderiam expor suas idéias e adotar os métodos que lhes conviessem. [...] Por fim sob a mesma rubrica, a lei entendia que a freqüência aos cursos secundários e superiores era livre, que os alunos poderiam aprender com quem lhes conviesse e, ao final, deveriam se submeter a exames de seus estabelecimentos (p. 13).
Esse autor ainda afirma que, com tal procedimento,
transformou o ensino brasileiro em um ritual de exames,
característica que permaneceu também na Primeira República
e, até hoje, sentimos seus resquícios.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO NA PRIMEIRA 5 REPÚBLICA
Apesar de ter sido resultado do movimento dos militares
e das classes economicamente favorecidas, a proclamação da
República e a consequente queda da monarquia representou
55PedagogiaUESC
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um grande avanço para instalação do processo democrático no
Brasil.
O anseio por mudanças e os conflitos políticos permearam
todo o período de 1889 a 1930, correspondente à fase da Primeira
República, que inicialmente assegurou a descentralização do
poder, o desaparecimento dos títulos de nobreza e o fim do
voto censitário.
A educação passou por algumas mudanças influenciadas
diretamente por dois movimentos denominados “entusiasmo
pela educação” e “otimismo pedagógico”. O primeiro, cujo
foco era a quantidade das instituições educacionais, solicitava
veementemente a abertura de escolas, e o segundo se
preocupava com os métodos e conteúdos do ensino. A força
destes dois movimentos se alternou durante a Primeira e a
Segunda República.
Com o final da Primeira Guerra Mundial e a emergência
dos Estados Unidos da América, o Brasil rapidamente se
tornou credor, dependente cultural e partidário das referências
educacionais norte-americanas. Ghiraldelli Jr (2003) afirma
que,
(...) nesse contexto, absorvemos ou começamos a absorver de modo mais intenso, a literatura pedagógica norte-americana. Esta literatura foi em parte, o conteúdo do movimento do ´otimismo pedagógico`. Não era apenas a abertura de escola que queríamos, mas, como diziam os livros que nos chegavam, era preciso também alterar nossa pedagogia, nossa arquitetura escolar, nossa relação aprendizagem, nossa forma de administrar as escolas e a educação em geral, nossas formas de avaliação, nossa psicopedagogia (p.17).
John Dewey, filósofo norte-americano, tornou-se um
educador de alta referência para os estudiosos brasileiros.
Seus estudos denominados “Pedagogia da Escola Nova” ou
Escolanovismo influenciaram o ciclo de reformas estaduais
da educação que ocorreram na década de 1920. Os maiores
protagonistas desta teoria foram Anísio Teixeira, grande
educador baiano, e Lourenço Filho, que escreveu a obra
Introdução ao estudo da Escola Nova, publicada em 1929.
A Pedagogia da Escola Nova contestava a educação
tradicional, a prática da memorização, do castigo, do conteúdo
RepúblicaPalavra de origem romana res- pública (coisa pública).
56 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I História da Educação no Brasil
pelo conteúdo, do professor como autoridade máxima. Para a
Escola Nova, educação é sinônimo de vida e o aluno, o centro
da aprendizagem. Conforme Aranha (2006),
(...) ao lado da atenção especial na formação do cidadão em uma sociedade democrática e plural – que estimulava o processo de socialização da criança -, havia o empenho em desenvolver a individualidade, a autonomia, o que só seria possível em uma escola não autoritária que permitisse ao educando aprender por si mesmo, e aprender fazendo (p.263).
Este período foi coroado de reformas, fruto das muitas
discordâncias políticas. Por exemplo, em 1911, Rivadávia
Correia criou uma Lei que desoficializava o ensino, tornava
a presença dos alunos facultativa. Em contraposição, Carlos
Maximiniano, em 1915, reoficializou o ensino e regulamentou o
acesso às escolas superiores, como também reformou o colégio
D. Pedro II.
Em termos de legislações mais duradouras, tiveram
destaque as reformas propostas por Benjamim Constant (1892)
e Rocha Vaz (1925). Benjamin Constant criou o Ministério
de Instrução, Correios e Telégrafos e declarou que o ensino
deveria ser “livre, leigo e gratuito”, passando a exigir o diploma
da escola normal para o exercício do magistério. Rocha
Vaz tentou articular uma direção única entre as propostas
elaboradas pela União e pelos estados, sobre a eliminação dos
exames preparatórios e parcelados e ainda sobre a promoção
da educação primária.
A Primeira República terminou com um quadro educacional
ainda muito tímido. Por exemplo, em 1920, São Paulo, o estado
mais rico da nação não conseguia abrigar mais que 28% da
população em idade escolar; para cada 04 crianças em idade
escolar, uma era analfabeta. Situação que ficou inalterada até
1940, conforme argumenta Ghiraldelli, Jr (2003).
O descontentamento com a Primeira República
desencadeou a revolução de 1930, dando início ao Governo de
Getúlio Vargas, que apesar de conturbado, criou leis e decretos
na área da educação, trabalhista e outras, que até o momento
estão em vigor.
57PedagogiaUESC
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3
ATIVIDADES
1) Comente sobre as características da educação brasileira no primeiro período da colonização.
2) Porque os jesuítas foram expulsos? 3) Quais foram as mudanças educacionais que caracterizaram o período pombalino?4) Pesquise a situação de instituições brasileiras que permanecem funcionando desde
a época do Império. Cite pelo menos duas.5) Quais os movimentos pedagógicos que influenciaram o debate educacional na
Primeira República? Comente. 6) A primeira República correspondeu os anseios educacionais da população?
Comente.
São de ordem econômica as razões da chegada dos portugueses
ao Brasil. Você viu que a conquista de terras e a colonização
caminharam juntas. E para consolidar este fenômeno os jesuítas
utilizaram a religião, como um modo de educar para a aceitação de
outra cultura.
A principal missão dos jesuítas era a catequização dos índios,
mas não só, naquele período toda a educação brasileira era de base
religiosa, portanto os filhos dos colonos brancos recebiam as mesmas
orientações educacionais, que só mudou com a expulsão dos jesuítas,
por ordem de Marquez de Pombal que criou um novo sistema de
educação considerado laico e com um currículo de bases científicas.
O período do Império trouxe muitas vantagens para a
construção da estrutura cultural do Brasil, incluindo as mudanças
no campo econômico e no educacional. A reforma promovida por
Leôncio de Carvalho, ministro do Império à época, impulsionou a
criação de Escolas de nível Superior em todo o país. Em relação ao
ensino secundário, a novidade foi a criação do Colégio D. Pedro II,
idealizado para ser modelo. Você viu que a Primeira
República foi um período marcado por muitos descontentamentos,
mudanças constantes, mas também avanços na legislação e nos
fundamento pedagógicos da educação brasileira. As ideias de John
Dewey, defendidas por Anísio Teixeira, tornaram-se ponto principal
dos debates realizados na época. Não houve avanço em termos de
acesso da população à escola. O quadro político da Primeira República
desencadeou a Revolução de 1930.
RESUMINDO
58 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I História da Educação no Brasil
RE
fE
RÊ
NC
IAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e
da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna,
2006.
GIRALDELLI JR, Paulo. Filosofia e História da Educação
Brasileira. São Paulo: Manole, 2003.
RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação
Brasileira. Campinas: Autores Associados, 2003.
Suas anotações
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ao final desta unidade, você deverá:
analisar, de forma crítica, as distintas fases da • História da Educação Brasileira;identificar os diferentes aspectos que • caracterizaram o ensino e os movimentos desenvolvidos para a organização, implantação e o desenvolvimento das reformas educacionais nos diferentes períodos históricos.
Fornecer informações que sirvam para alicerçar o processo de construção do conhecimento do aluno sobre a História da Educação para que ele seja capaz de compreender as múltiplas relações que se processaram na constituição da História da Educação Brasileira.M
eta
Objetivos
4 unid
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A EDUCAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA SEGUNDA REPÚBLICA
Profª Dra. Eronilda Maria Góis de Carvalho Profª Dra. Raimunda Alves Moreira de Assis
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63PedagogiaUESC
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UNIDADE IV
INTRODUÇÃO1
Nesta unidade, inicialmente, você conhecerá as mudanças que
ocorreram na estrutura de poder do país após a Revolução de 1930,
bem como os principais movimentos encetados pela sociedade civil e
pelo estado para o desenvolvimento da educação, considerada como
“salvadora da pátria”. Também verá as contribuições do Manifesto dos
Pioneiros de 1932 para a implantação das reformas do ensino que se
sucederam, além da identificação de alguns aspectos do ensino público
marcado pelo golpe militar de 1964, que buscou restringir a liberdade
política do povo e limitar a autonomia dos educadores e educandos,
além da condução do sistema educacional brasileiro para um modelo de
ensino tecnicista e excludente.
64 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
A EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE 1930 E A 2 REPÚBLICA NOVA
Por que o Brasil mudou radicalmente a sua estrutura
de poder no período pós 30, capitaneado pelo movimento
tenentista? Esse movimento foi uma consequência direta da crise
econômica do setor agroexportador do café, agravada com
a quebra da bolsa de Nova York, de 1929, e o alinhamento
do Brasil a uma nova ordem econômica que se instalava.
Para Ianni (1984), foi a Revolução de 1930 que
alterou as funções e a própria estrutura do Estado Brasileiro,
como consequência da derrota, ainda que parcial, das
oligarquias dominantes até então. As transformações que
se acumularam operaram em favor do surgimento de uma
nova ordem econômica e social, a partir da emergência
de novos grupos e classes sociais urbanas, provocando a
passagem do Estado Oligárquico para um Estado Burguês-
Capitalista, o que tornou possível a reorganização das
relações entre Estado e Sociedade a partir desses novos
parâmetros (FAUSTO, 1985; SODRÉ, 1978; IANNI, 1984).
Saiba, ainda, que essa época ficou conhecida como a “Era
Vargas”, período constituído de três momentos distintos:
o primeiro momento, denominado Governo Provisório, pós-
outubro de 1930; o segundo, após a promulgação da Constituição
de 1934 (governo constitucional); e o terceiro, depois do golpe
de 1937, governo ditatorial, conhecido como “Estado Novo” e
que Vargas comandou até 1945.
Esse período é denominado República Nova, época
em que o Brasil intensificou sua industrialização e, com isso,
a urbanização crescia cada vez mais, principalmente em
cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Essa nova realidade
social exigia mais escolas e mão de obra especializada.
Vargas insistiu num plano de “reconstituição nacional” com
19 pontos. O item sobre a educação dizia da necessidade de
propagar o ensino público, principalmente o ensino técnico-
profissional. Para tanto, estabeleceu um sistema de estímulo e
colaboração direta com os estados. E para colocar em prática a
política formulada, foi criado o Ministério da Instrução e Saúde
Pública em 1930 (GHIRALDELLI JR., 2003, p. 28).
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MKO tenentismo foi um movimento político-militar composto principalmente de militares de média e baixa patente do Exército Brasileiro, formado durante os últimos anos da República Velha. O grupo propunha reformas na política e estrutura de poder do país. As principais ações que marcaram o chamado movimento tenentista foram Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922, a Revolta Paulista, a Comuna de Manaus, de 1924 e a Coluna Prestes (FAUSTO, 1985).
VO
CÊ
SABI
A?
No dia 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas anunciava o Estado Novo, em cadeia de rádio. Iniciava-se um período de ditadura na História do Brasil, que durou até 1945.
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65PedagogiaUESC
4
PRIMEIRAS REFORMAS DE ENSINO DA REPÚBLICA 3 NOVA
Diante desta nova realidade sociocultural
do País, o governo procurou organizar o
ensino. O novo Ministério, sob o comando
do Ministro Sr. Francisco Campos, criado
com poderes amplos e controle sobre o setor
educacional, logo que surge, executa como
uma das primeiras realizações a reforma
conhecida como Reforma Francisco Campos,
que se tornou efetiva através de uma série de
decretos. Conforme Saviani (2004, p. 32), são
eles:
● Decreto n° 19.850 – 11 de abril de
1931: cria o Conselho Nacional de Educação;
● Decreto n° 19.851 – 11 de abril
de 1931: dispõe sobre a organização do
Ensino Superior no Brasil e adota o Regime
Universitário;
● Decreto n° 19.852 – 11 de abril de 1931: dispõe sobre
a organização da Universidade do Rio de Janeiro;
●Decreto n° 19.890 – 18 de abril de 1931: dispõe sobre
a organização do Ensino Secundário;
●Decreto n° 20.158 – 30 de junho de 1931: organiza o
Ensino Comercial, regulamenta a profissão de Contador e dá
outras providências;
●Decreto n° 21.241 – 14 de abril de 1932: consolida
as disposições sobre a organização do Ensino
Secundário.
Mas os educadores brasileiros não
concordavam com estas reformas pontuais,
sobretudo, porque deixavam de lado o
Ensino Primário. Era consenso, entre eles,
a necessidade de uma política nacional de
educação. A Associação Brasileira de Educação
(ABE) realizava congressos anuais e, nesses
eventos, as disputas de propostas eram
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MKFrancisco Luís da Silva Campos: formado em Direito, Deputado Estadual e Federal por Minas Gerais. Defendia posições antiliberais, participando das articulações que levaram ao movimento armado de outubro daquele ano, que pôs fim à República Velha, colocando Getúlio Vargas na presidência da República. Assumiu a direção do recém-criado Ministério da Educação e Saúde, em 1930, encarregando-se fazer a reforma do ensino do país. Promoveu, então, a reforma do ensino secundário e universitário no país. Era um conservador, sendo um dos mais importantes ideólogos da direita no Brasil. Foi o responsável pela elaboração da nova Constituição Federal, após o golpe de estado de 1937. Você saberá mais visitanto a página:
http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/
biografias/ev_bio_franciscocampos.htm
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MKOs educadores católicos defendiam a educação subordinada aos princípios da doutrina religiosa (católica) além de educação diferenciada para o sexo masculino e feminino e a responsabilidade de educar pertencia à família. Os educadores liberais, defensores dos ideais da “escola nova”, defendiam a laicidade, a coeducação, a gratuidade e o dever do estado em fornecer educação para todos indistintamente de classe. Para maiores detalhes, ler Alencar Francisco et al.: História da Sociedade Brasileira. Cap. “O povo nas ruas”, 1980.
66 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
acirradas, principalmente entre os católicos e liberais. Em um
dos congressos, o Presidente Vargas e o Ministro Francisco
Campos estiveram presentes e solicitaram aos educadores para
definirem o “sentido pedagógico da revolução”. Um ano depois,
na V Conferência Nacional de Educação de 1932, foi lançado à
Nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
3.1 O manifesto dos pioneiros da Educação
Nova
É um documento conhecido como o “Manifesto de 1932”,
inspirado nas ideias da Escola Nova, cujas bases se aproximam
de diversas tendências de pensamentos, a exemplo do filósofo
John Dewey e do sociólogo francês Émile Durkheim. Segundo
Ghiraldelli Jr., o Manifesto, redigido pelo educador Fernando de
Azevedo, “compunha uma autêntica e sistematizada concepção
pedagógica, indo da filosofia da educação a formulações
pedagógico-didáticas, passando pela política educacional”
(2003, p. 32).
O Manifesto consolidava
a visão de um segmento da
elite intelectual que, embora
com posições ideológicas
diferenciadas, vislumbrava
a possibilidade de interferir
na organização da sociedade
brasileira, do ponto de vista da
educação. Uma das propostas
apresentadas era que o Estado
organizasse um plano geral de
educação e que a escola fosse
única, pública, laica, obrigatória
e gratuita. Isto quer dizer que o
Estado deveria se responsabilizar
pelo dever de educar o povo, sem
distinção de classe social. Dentre
os 26 intelectuais, signatários
do documento, destacamos a
participação efetiva do baiano
LEITURA RECOMENDADA
Para saber mais sobre o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, consultar Otaíza Romanelli (1989), Paulo Ghiraldelli (1990), bem como o site http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm.
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MKAnísio Spínola Teixeira: baiano, formou-se em Direito no ano de 1922, sendo logo em seguida convidado a ocupar o cargo Inspetor Geral de Ensino da Bahia, iniciando, assim, a sua carreira de pedagogo e administrador público. Em 1931, tornou-se Secretário da Educação do Rio de Janeiro, realizando uma ampla reforma na rede de ensino, integrando o ensino da escola primária à universidade; ocupou o cargo de conselheiro geral da UNESCO em 1946. No ano seguinte, foi convidado novamente a assumir o cargo de Secretário da Educação da Bahia, período em que criou a Escola Parque, em Salvador, primeiro centro de educação integral do país. Em 1951, assumiu a função de Secretário Geral da CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Superior), tornando-se, no ano seguinte, diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos). Em fins dos anos 1950, participou dos debates para a implantação da Lei Nacional de Diretrizes e Bases, sempre como árduo defensor da educação pública. Ao lado de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira foi um dos fundadores da Universidade de Brasília, da qual se tornou reitor em 1963. Após o golpe militar de 1964, foi para os Estados Unidos, lecionando nas Universidades de Colúmbia e da Califórnia. Retornando ao Brasil em 1966, tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas. Morreu em 1971, em circunstâncias consideradas obscuras. Seu corpo foi achado num elevador na Avenida Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Apesar do laudo de morte acidental, há suspeitas de que tenha sido vítima das forças de repressão do governo do General Emílio Garrastazu Médici (FAVERO, M. L. A.; BRITTO, J. M. (Org.) Dicionário de educadores no Brasil: da colônia aos dias atuais. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ; Brasília: MEC/INEP, 1999).
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Figura 1 - Anísio Teixeira - Imagem da Divisão de Cultura do
Município - Prefeitura de Caetité - Bahia
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:An%C3%ADsioTeixeira.jpg
Anísio Teixeira, além de outras personagens
da intelectualidade brasileira, como:
Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto,
Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de
Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles.
Em 1934, a nova Constituição do
Brasil (a segunda da República) absorveu
pontos importantes sugeridos pelo
Manifesto dos Pioneiros, dispondo, pela
primeira vez, que a educação é direito
de todos, devendo ser ministrada pela
família e pelos Poderes Públicos, princípio
anteriormente atribuído à família. Além do
que o capítulo II da Constituição Federal
fora dedicado inteiramente à educação,
que procurava contemplar os interesses dos
educadores católicos e liberais. Contudo,
esta Constituição teve vida curta, abolida
com o golpe do Estado Novo em 1937.
O ESTADO NOVO E A EDUCAÇÃO4
Getúlio Vargas, alegando a existência de um
suposto plano comunista (Plano Cohen) e aproveitando
o momento de instabilidade política pelo qual passava
o país, aplicou um golpe de Estado, que contou com o
apoio de grande parte da população (principalmente da
classe média com medo do comunismo) e dos militares.
Este período ficou marcado, no campo político, por um
governo ditatorial.
Logo em seguida, o presidente restringiu a
liberdade política e impôs ao País outra Constituição
de tendência fascista, escrita pelo ministro Francisco
Campos e que ficou conhecida como “Polaca”, outorgada
em 10 de novembro de 1937. A orientação político-
educacional que ficou explícita no seu texto indicava,
praticamente, a desobrigação do dever do Estado para com a
educação pública. Por outro lado, orientava a preparação de
um ensino pré-vocacional e profissional. A intenção era manter
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MKPlano Cohen - foi um documento escrito pelo capitão integralista Olímpio Mourão Filho - na época membro do Serviço Secreto - a pedido de Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira, de ideologia nacionalista, com a intenção de simular, supostamente para efeitos de estudo, uma revolução comunista no Brasil. O plano foi utilizado pelo governo federal com o objetivo de aterrorizar a população e justificar um golpe de Estado que permitiria a Getúlio Vargas perpetuar-se na Presidência do país.
68 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
explícito o dualismo educacional. Ou seja, os ricos seguiriam
as escolas propedêuticas e os pobres as escolas profissionais
(GHIRALDELLI JR., 2003, p. 83-84).
A nova Constituição de 1937 restringiu direitos sociais
anteriormente adquiridos, desobrigando o Estado do dever de
ofertar educação para todos indistintamente. O artigo 125 dizia
que a educação integral da prole é o primeiro dever e o direito
natural dos pais. O Estado não seria estranho a esse dever,
colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar
a sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação
particular (grifo nosso). As reformas educacionais desse período
foram implantadas através das Leis orgânicas do Ensino.
4.1 “Leis” Orgânicas do Ensino
As chamadas “Leis” Orgânicas do Ensino se constituem,
na verdade, num conjunto de
Decretos-Lei elaborados por
uma comissão de “notáveis”,
presidida por Gustavo Capanema
e outorgados pelo presidente
Getúlio Vargas. O objetivo dessas
leis era reformar e padronizar
todo o sistema nacional de
educação, com vistas a adequá-
lo à nova ordem econômica e
social que se configurava no
Brasil naquela época (expansão
do setor terciário urbano,
constituição de uma classe
média, do proletariado e da
burguesia industrial, resultante da intensificação do capitalismo
no país).
Os decretos, desse conjunto conhecido como Reforma
Capanema, são:
● Decreto-lei nº 4.048, de 22/01/1942 – cria o SENAI (Ser-
viço Nacional de Aprendizagem Industrial);
● Decreto-lei nº 4.073, de 30/01/1942 – “Lei” Orgânica do
Escolas Propedêuticas
desenvolviam estudos
nas áreas humana e
científica que precedem,
como fase preparatória e
indispensável, os cursos
superiores de espe-
cialização profissional ou
intelectual.
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MKGustavo Capanema Filho: mineiro, formou-se bacharel em Direito em 1924. Em 1934, foi nomeado por Getúlio Vargas para a pasta da Educação e Saúde Pública. Sua gestão caracterizou-se principalmente pela retomada das campanhas sanitárias, promulgação da Lei Orgânica do Ensino Secundário, instituindo um primeiro ciclo de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos, que podia ser o curso clássico ou o científico, visando à criação da Universidade do Brasil. Contudo, opôs-se à criação da Universidade do Distrito Federal (UDF), concebida por Anísio Teixeira durante a gestão de Pedro Ernesto na prefeitura da capital da República. Em 4 de abril de 1939, inaugurou a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, que viria a ter profunda influência no ensino médio e superior. Ainda em 1939, foram fundadas a Faculdade Nacional de Arquitetura e a Faculdade de Ciências Econômicas. Também fundou o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), nomeando para sua direção o professor Lourenço Filho, em 30 de julho de 1938. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 10 de março de 1985 (ROMANELLI, 1989; GHIRALDELLI, 1990).
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Ensino Industrial;
●Decreto-lei nº 4.244, de 09/04/1942 – “Lei” Orgânica do
Ensino Secundário;
●Decreto-lei nº 6.141, de 28/12/1943 – “Lei” Orgânica do
Ensino Comercial;
●Decreto-lei nº 8.529, de 02/01/1946 – “Lei” Orgânica do
Ensino Primário;
●Decreto-lei nº 8.530, de 02/01/1946 – “Lei” Orgânica do
Ensino Normal;
● Decretos-lei nº 8.621 e 8.622, de 10/01/1946 – criam o
SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial);
● Decreto-lei nº 9.613, de 20/08/1946 – “Lei” Orgânica do
Ensino Agrícola.
Como você viu, o governo do Estado Novo, através
dos decretos-leis, organizou o ensino secundário de forma
marcadamente profissionalizante. Este tipo de educação era
destinado para os filhos dos trabalhadores, enquanto que,
para os jovens das classes privilegiadas, criava-se um ensino
propedêutico. Isto porque esta classe iria certamente se
constituir na “elite condutora” do país.
A QUARTA REPÚBLICA E A LEI 4.024/61 5
O Estado Novo findou com a deposição de Getúlio Vargas
em 29 de outubro de 1945. Esse ato foi consubstanciado com a
elaboração de uma nova Constituição (1946), com características
de cunho liberal e democrático, e elegeu-se para presidente da
República, pelo voto direto, o General Eurico Gaspar Dutra.
Na área da Educação, a Constituição determinava
a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dava
competência à União para legislar sobre Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Além disso, a nova Carta Magna do País fez
voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada
nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de
30.
O ambiente político da época estava marcado pelo
populismo que há algum tempo já predominava na cena política
70 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
do país, principalmente através dos partidos: PSD, PTB e UDN.
Nesse quadro, tramitava no Congresso Nacional a formulação
da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN).
O Ministro da Educação Clemente Mariani (UDN) criou
uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de
reforma geral da educação nacional, presidida pelo educador
Lourenço Filho e, entre seus membros, encontravam-se grandes
representantes do debate educacional da década de
1920 e 1930, tais como: Fernando de Azevedo, Padre
Leonel Franca e Alceu de Amoroso Lima. O anteprojeto
foi elaborado e encaminhado à Câmara Federal, contudo
foi arquivado em 1948 por questões ideológicas em
torno das propostas.
As discussões foram marcadas por lutas ideo-
lógicas, relacionadas com a questão da responsabilidade
do Estado quanto à educação, inspirados nos educadores
da velha geração de 30, conforme já citamos no
parágrafo acima. Por um lado, tinham-se os defensores
da escola pública gratuita e, por outro lado, os católicos
defensores das instituições privadas de ensino.
O debate sobre a educação ultrapassou o espaço
do Congresso e do poder Executivo e se estendeu por toda a
sociedade. Muitos órgãos assumiram posições diferenciadas,
como a igreja católica, os órgãos de imprensa, associações,
profissionais liberais, surgindo um movimento de Defesa da
Escola Pública, iniciado
em 1959, pelo jornal
“O Estado de S.
Paulo”.
Depois de 13
anos de acirradas
discussões na Câmara
dos Deputados
e no Senado, foi
promulgada a Lei
4.024, em 20 de
dezembro de 1961,
pelo Presidente da
República, João
SAIB
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MKNum primeiro momento, as discussões estavam voltadas às interpretações contraditórias das propostas constitucionais, quando, nesse ínterim (06 anos), o projeto foi extraviado. A discussão recomeça em 1957, após a elaboração de um novo projeto. Mas o processo foi atropelado, em 1958, pelo substitutivo do Deputado Carlos Lacerda (UDN), que alterava substancialmente a proposta original, defendendo o interesse dos donos das escolas privadas.
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Figura 2 - Florestan Fernandes.
Fonte: http://cienciassociaispucrs.blogspot.com/
2009_09_01_archive.html
Dentre as variadas ações, podemos destacar o trabalho realizado pelo professor Florestan Fernandes, que iniciou uma jornada de discussões pelo interior do país através de palestras, seminários, encontros etc. Para maiores informações sobre a contribuição deste grande intelectual, visitar página: http://b r. g e o c i t i e s . c o m /dce_ielusc/biografia_florestan.htm
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Goulart, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos
donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto
com os que defendiam a escola pública e laica.
Por fim, podemos afirmar que a primeira Lei de Diretrizes
e Bases para a Educação Nacional foi um fato marcante na
História da Educação Brasileira, porque ela conseguiu organizar
o Sistema Nacional de Ensino, pelo menos no seu aspecto
formal, em todos os níveis. Contudo, é bom que fique claro que
a legislação educacional herdada do Estado Novo vigorou até
1961, quando foi aprovada a nova LDB.
A EDUCAÇÃO POPULAR NO BRASIL6
O período de 1946 a 1964 foi uma fase especialmente
rica no que diz respeito à atuação de diversos movimentos de
educação popular, e, talvez, o mais fértil quando se trata de
ações no campo da História da Educação. Podemos destacar
alguns fatos marcantes, de modo particular, os destinados
a combater o analfabetismo. Em 1947, foi patrocinada pelo
Ministério da Educação uma campanha de educação de adultos
coordenada pelo Professor Lourenço Filho, até 1950.
Muitos Estados e Municípios desenvolveram ações nesta
direção. Vamos destacar algumas das principais iniciativas.
Em 1950, em Salvador/Bahia, Anísio Teixeira inaugurou
o Centro Popular de Educação e desenvolveu ações de combate
ao analfabetismo; em 1952, em Fortaleza/Ceará, o pedagogo
brasileiro Lauro de Oliveira Lima iniciou uma didática baseada
nas teorias científicas de Jean Piaget, que criou o método
psicogenético, enfatizando o trabalho por equipes em sala de
aula, a partir de situações-problema, que se complexificam
conforme o nível mental da criança, como forma de auxiliar
a aprendizagem. Em 1961, a Prefeitura Municipal de Natal,
no Rio Grande do Norte, também iniciou uma campanha de
alfabetização (De Pé no Chão Também se Aprende a Ler).
A técnica didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire,
propunha-se a alfabetizar adultos analfabetos em 40 horas.
A sociedade civil organizada, também, participou dessa
campanha para desanalfabetizar o País. Tivemos o Movimento
de Educação de Base (MEB), organizado pela Conferência
LEITURA RECOMENDADA
Para obtenção de maiores informações sobre A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 4.024/61, você poderá ler Romanelli, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. Vozes, 1989; ou navegar na Internet, digitando palavras básicas sobre o tema em questão.
72 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a
partir de duas experiências de “educação
radiofônica” realizadas no Nordeste pelas
dioceses de Natal e Aracaju, planejado
para cinco anos, com início em 1961.
Ainda em 1962, foram criados o
Plano Nacional de Educação e o Programa
Nacional de Alfabetização, pelo Ministério
da Educação e Cultura, inspirado no
Método Paulo Freire. Mas todo este
processo de organização popular e de
combate ao analfabetismo teve fim com
o golpe militar de 1964, que abortou
todas as iniciativas de se revolucionar a
educação brasileira, sob o pretexto de
que as propostas eram comunizantes e
subversivas.
Vamos realizar uma pequena pausa
para refletirmos sobre algumas questões
pontuadas até aqui?
ATIVIDADES
Com o Movimento Revolucionário de 1930, o Brasil mudou radicalmente 1.
a sua estrutura político-social, buscando desenvolver novas bases
econômicas, iniciando a industrialização e centralizando o poder
político. Nesse sentido, a educação passou a ser mola propulsora de
desenvolvimento. Comente sobre as principais alterações que ocorreram
no campo educacional.
O Manifesto dos Pioneiros, de 1932, é um programa que foi sugerido 2.
para a educação brasileira. Procure saber se ele ainda é uma proposta
que está em curso ou se os elementos apontados já foram concluídos.
Apresente uma pequena síntese, destacando a importância da 3.
implantação da Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei n. 4.024/61) para a educação no País.
SAIB
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a FU V
MKPaulo Reglus Neves Freire - educador brasileiro, nasceu em Recife, em 19 de setembro de 1921, e faleceu em São Paulo, em 2 de maio de 1997. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
Fonte: http://www.google.com.br/search?hl=pt-
BR&q=PAULO+fREIRE&meta=&aq=f&oq=
Figura 3 - Paulo Freire na biblioteca do Intituto Paulo FreireCreative Commons by-nc-nd 2.5
http://www.paulofreire.org/Crpf/CrpfAcervo000039
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A D7 ITADURA MILITAR E NOVA REPÚBLICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
Que tal um pouco mais de História e da nossa História?
Para começar essa conversa, o que você conhece da história
da Ditadura Militar e o processo educativo desse período?
Recordemos, então, alguns fatos:
O período entre 1964 a 1985 foi, sem dúvida, um dos
mais significativos e transformadores da história educacional
do Brasil. Uma época marcada pela intervenção militar, pela
burocratização do ensino público, por teorias e métodos
pedagógicos que buscavam restringir a autonomia dos educadores
e educandos, reprimindo à força qualquer movimento que se
caracterizasse como barreira para o pleno desenvolvimento
dos ideais do regime político vigente, conduzindo o sistema de
instrução brasileiro a uma submissão até o momento inigualável
(MANACORDA, 2002).
Instalados no poder e tendo se apropriado de toda a
máquina pública de forma autoritária, os militares, juntamente
com a elite conservadora, esforçaram-se no objetivo de
suplantar qualquer manifestação cultural que pusesse em risco
a sua estrutura ideológica.
Procurou-se evidenciar que a política do governo militar
empenhou-se na destruição cultural das forças que poderiam
resistir à barbárie. Ao se impor pela força, adotando um
modelo consequente e coerente com a Doutrina de Segurança
Nacional, a ditadura mostrou a sua verdadeira natureza em
termos culturais. “Se essa história de cultura vai nos atrapalhar
a endireitar o Brasil, vamos acabar com a cultura durante trinta
anos” (CHIAVENATO, 2004, p. 149).
Os militares incitaram o sentimento de descontentamento
e insegurança da nação, estimulando uma série de expressões
públicas contrárias ao governo Jango e, por consequência,
atingiram o seu principal objetivo: controlar plenamente o
Brasil. Também contaram, num primeiro instante, com o apoio
de vários segmentos civis, inclusive de empresas privadas e
da Igreja Católica. Conscientes das suas metas, utilizaram-se
de um contexto, de um povo, cuja fragilidade era detectada
facilmente em vários setores da sociedade.
A partir de 1968, a ditadura militar, gradativamente,
74 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
começava a se desprender das forças sociais em que as apoiou,
intensificando suas ações cada vez mais repressoras. Assim,
esta forma adotada pelo regime militar gerou contradições
entre os interesses dos setores sociais e dos militares, que
passaram a cassar os direitos políticos, perseguir e punir quem
se constituísse obstáculo para o sistema.
Nesse sentido, Ghiraldelli (2003) questiona: dentro
de uma perspectiva social, como esse modelo, baseado na
repressão, permeou a mentalidade nacional em meio século
XX? Quais as suas promessas e influências diretas ou indiretas
nos dias atuais? Por que tais acontecimentos se processaram
desta forma?
Com a sede de desenvolvimento econômico, o desejo pelo
poder e como forma de enquadrar a maior parte da sociedade
num sistema político autoritário, os militares desenvolveram
um método de ensino centrado em formar pessoas, não para
a vida social, mas para o mercado de trabalho. Tentaram
adequar o sistema educacional brasileiro aos seus interesses
políticos, firmando diversos convênios, entre eles, o acordo
entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency
of Internatinonal Development (USAID). Conforme Chiavenato
(2004),
[...] o modelo proposto pelo USAID se beneficiou de uma
situação concreta: a ascensão das multinacionais criou
os seus próprios ‘intelectuais orgânicos’, que amoldam
ou cooptam as elites culturais, e estas, por serem ou
sentirem-se ‘elites’, chamam a si a responsabilidade (e
o poder) de ditar as regras da cultura (p. 46).
A parceria MEC-USAID
intencionava, para o País,
uma instrução/educação nos
moldes da educação norte
americana. Pregava-se um
sistema educacional tecnicista,
excludente e sem nenhuma
atenção à educação básica
pública.
SAIB
A M
AIS
RAAC
a FU V
MKA Pedagogia liberal tecnicista aparece nos Estados Unidos, na segunda metade do século XX, e é introduzida no Brasil entre 1960 e 1970. Nessa concepção, o homem é considerado um produto do meio. É uma consequência das forças existentes em seu ambiente. A consciência do homem é formada nas relações acidentais que ele estabelece com o meio ou controlada cientificamente através da educação. “Na tendência liberal tecnicista a educação escolar organiza o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos especificos” (LUCKESI, 1994, p. 60-61). É matéria de ensino apenas o que é redutivel ao conhecimentos que pode ser observado e os conhecimentos decorrem da ciência objetiva. Procure conhecer mais sobre as tendências pedagógicas no Brasil lendo ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo Moderna, 2006.
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75PedagogiaUESC
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Em suma, não visava desenvolver o senso crítico dos
educandos, nem um entendimento real do seu quadro social
(que são metas básicas da LDB/96), ao contrário, fazia brotar
em cada educando o sentimento involuntário de individualismo,
manifestado através da competitividade gerada pelo sistema,
uma vez que as teorias reprodutivistas propagavam a ideia de
uma “escola reflexo”, fruto da sociedade capitalista.
O Governo Militar, juntamente com outras parcerias,
objetivando pôr em prática os seus planejamentos econômicos
e políticos, reprimiu professores e burocratizou a educação,
incluindo-a numa “linha hierárquica” dentro de um sistema
militar, concorrendo para a constante perda da autonomia
docente.
Com essa política repressora e burocrata, os militares
conduziram o sistema de ensino brasileiro às modificações
em sua estrutura interna e externa, principalmente com a
criação das leis 5.540/68 e 5.692/71, que enfatizam a reforma
universitária e a reforma do ensino do 2º grau, respectivamente
(MANACORDA, 2002).
Paradoxalmente, neste período, deu-se a grande
expansão das universidades no Brasil. E, para acabar
com os “excedentes” (aqueles que tiravam notas
suficientes para serem aprovados, mas não conseguiam
vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório.
Naquele momento, foi criado o Movimento Brasileiro
de Alfabetização - MOBRAL, para erradicar o analfabetismo
no Brasil, mas esse programa fracassou. E, entre denúncias
de corrupção, foi extinto. É no período mais cruel da ditadura
militar, em que qualquer expressão popular contrária aos
interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência
física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante
desta lei era tentar dar um cunho profissionalizante à formação
educacional.
Dentro do espírito dos slogans propostos pelo governo
militar, como “Brasil grande”, “ame-o ou deixe-o”, “milagre
econômico” etc., planejava-se fazer com que a educação
contribuísse, de forma decisiva, para o aumento da produção
brasileira. A ditadura militar se desfez por si só. Tamanha era a
pressão popular, de vários setores da sociedade, que o processo
76 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
de abertura política tornou-se inevitável. Mesmo assim, os
militares deixaram o governo através de uma eleição indireta,
mesmo que concorressem somente dois civis (Paulo Maluf e
Tancredo Neves).
ATIVIDADE
1. O objetivo principal da educação não deve ser a transmissão autoritária
de conhecimentos dogmatizados a serem absorvidos passivamente, mas a
preparação de cada ser humano para o diálogo fraterno na construção da
verdade, do bem e da justiça. Você concorda com essa afirmação? Emita a
sua opinião sobre o assunto.
A EDUCAÇÃO E A REPÚBLICA NOVA 8
Você já ouviu falar no período da República Nova? Que tal
aprendermos um pouco mais? Veja então alguns acontecimentos
educacionais desse período.
O Brasil ingressou em um processo de redemocratização,
a partir das eleições ocorridas em 1985, quando o poder militar
se extinguiu. Após 15 de novembro de 1985, foi finalizado o
ciclo da Ditadura Militar no Brasil, ocasião em que o Colégio
Eleitoral em Brasília declarou eleito, para o cargo de Presidente
da República, o candidato Tancredo Neves.
Um dia antes da posse, no dia 13 de março, Tancredo se
encontrava com a saúde bastante debilitada e faleceu no dia
21 de abril, sem ter tomado posse. Naquele momento, o Vice-
Presidente José Sarney tomou posse e deu-se início à chamada
Nova República.
Com o fim do Regime Militar, pensou-se que seria possível
discutir, novamente, as questões sobre educação, de uma
forma democrática e aberta, uma vez que, naquele momento,
a discussão sobre as questões educacionais já havia perdido
o seu sentido pedagógico e assumido somente um caráter
político.
Para que essa abertura acontecesse, de fato, houve
a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do
Uni
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77PedagogiaUESC
4
conhecimento, que passaram a falar de educação num sentido
mais amplo do que as questões pertinentes a escola, a sala de
aula, a didática e a dinâmica escolar em si mesma.
Portanto, muitos profissionais da área de Sociologia,
Filosofia, Antropologia, História, entre outras - impedidos
de atuarem em suas funções, por questões políticas durante
o Regime Militar -, passaram a assumir postos na área da
educação.
Em 1985, no Governo Sarney, foi lançada a proposta da
“educação para todos” e de combate à pobreza, chamada “tudo
pelo social”. Logo depois, aconteceu o desenvolvimento da
política educacional com tendência à educação assistencialista
e compensatória – perspectiva “redistributivista” e
“participacionista” - destinada a socorrer e não a resolver os
problemas educacionais existentes (VEIGA, 2007).
O governo Collor caracterizou-se pela inexistência de um
programa de governo para a educação, havendo tão somente a
multiplicação de planos e programas, sem qualquer articulação.
Em 1990, esse governo lançou o projeto de construção de
Centros Integrados de Apoio à Criança (CIACs), inspirados no
modelo dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs),
existentes desde 1982, no Rio de Janeiro. Entretanto, os CIACs,
organizados naquele momento, quase não saíram do papel.
No governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC),
houve um destaque para a criação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs 1998) e a multiplicação de programas de apoio
à escola e às famílias.
Mesmo com todos os ranços, não se pode esquecer que
a educação brasileira apresentou avanços expressivos nas
últimas décadas do século XX, tais como:
promulgação da Constituição de 1988;•
criação do Estatuto da Criança e do Adolescente •
(ECA/1990);
criação e promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases •
da Educação Nacional (Lei n° 9.394/96);
reorganização e redefinição das competências do Conselho •
Nacional de Educação (CNE/99);
implantação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento •
do Ensino Fundamental (FUNDEF);
78 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
elaboração do Referencial Curricular Nacional Para a •
Educação Infantil (RCNEI, 1998);
elaboração e divulgação das Diretrizes Curriculares •
Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI/1999).
Entretanto, muitas dessas conquistas só se efetuaram
no plano legal, deixando uma lacuna e uma enorme frustração
no plano das suas realizações reais.
Para encerrar esta seção, que tal resumirmos esse
momento da História do Brasil e seus reflexos na educação?
A política educacional assume a tendência tecnicista, •
partindo do pressuposto da neutralidade científica,
inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade;
a preocupação da escola com a eficácia e a eficiência •
do ensino transforma os conteúdos em técnicas de
planejamento, ensino, materiais instrucionais etc.;
houve uma dicotomia entre teoria e prática;•
houve reformas no ensino de 1º e 2º graus (objetivos, •
estrutura e conteúdos); no ensino superior: Criação da
Lei 5.540/68, que versava sobre o acesso à universidade;
a desmobilização da organização estudantil; os acordos
MEC-USAID;
a partir da metade dos anos 70, houve a abertura •
gradual do processo democrático; contestação do
caráter tecnicista da educação; desvelamento de que
toda prática pedagógica é social e política;
no início dos anos 80 até 85, aconteceram alguns fatos: •
luta pela instalação de uma Nova República; luta dos
educadores pela recuperação da escola pública; luta por
mais verbas para a educação; discussão e disseminação
da concepção crítica de educação, chamada de Pedagogia
Crítica;
nos anos 90, houve uma aceleração do processo de •
globalização do conhecimento e da tecnologia, pondo em
xeque a figura do professor, os cursos de formação e sua
contribuição nesse processo (PILETTI; PILETTI, 1991).
LEITURA RECOMENDADAPara maiores Informações, procure ler: MANACORDA, Mário Alighieri. História da Educação: da antigüidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 2002; e AZEVEDO, Janete M. L. de. A educação como política pública. Campinas: Autores Associados, 2002.
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79PedagogiaUESC
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Você estudou que o processo de evolução do sistema
educacional tem implicações diretas com os mais variados aspectos
da sociedade brasileira e que os seus sistemas de ensino se
organizam condicionados por um determinado tempo histórico, ou
seja, uma realidade social concreta, sendo o Estado o responsável
pela definição de suas diretrizes e metas que devem estar de acordo
com os interesses em cada momento histórico. Nesse sentido, você
viu que a evolução do processo histórico da educação brasileira
apresentou as virtudes, carências e malefícios no seu processo de
desenvolvimento.
RESUMINDO
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.
AZEVEDO, Janete Lins de. Educação Como Política Publica. Campinas: Autores Associados, 2002.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1989.
CHIAVENATO, Júlio José. O golpe de 64 e a ditadura militar. São Paulo: Moderna, 2004.
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1985.
GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2005.
GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. São Paulo: Cortez, 1990.
GHIRALDELLI JR., Paulo. Filosofia e História da Educação Brasileira. Barueri: Manole, 2003.
RE
fE
RÊ
NC
IAS
80 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A educação brasileira a partir da segunda república
IANNI, Otávio. Estado e planejamento econômico no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1984.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994
MANACORDA, Amario Alghieri. História da Educação: da
antigüidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 2002.
PILETTI, Cláudio; PILETTI, Nelson. Filosofia e História da
Educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.
RIBEIRO, Maria Luiza Santos. História da Educação
Brasileira: a organização escolar. 11. ed. São Paulo: Cortez,
1991.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. A História da Educação no
Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1989.
SAVIANI, LOMBARDI; SANFELICE (Orgs.). Liberalismo
e educação em debate. Campinas: Autores Associados,
2007.
SAVIANI, Dermeval et al. O legado educacional do século
XX no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2004.
SODRÉ, N. W. Formação Histórica do Brasil. 3. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1978.
VEIGA, Cynthia Greive. História da Educação. São Paulo:
Ática, 2007, 328p.
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php.
Acesso em 20 abr. 2009.
Suas anotações
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ao final desta unidade, você deverá:
ter uma visão geral do percurso histórico da • educação na Região cacaueira;identificar as principais características que • marcaram o desenvolvimento da Educação na Região.
Apresentar informações básicas a respeito da história da educação regional e desenvolver análises e interpretações sobre a necessidade e importância de se preservar e escrever a memória histórica.M
eta
Objetivos
5 unid
ade
A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO CACAUEIRA
Profª. Drª. Raimunda Alves Moreira de Assis
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85PedagogiaUESC
5
UNIDADE V
INTRODUÇÃO1
Nesta unidade, você estudará alguns aspectos históricos
que caracterizam o desenvolvimento da educação na Região
Cacaueira, bem como fatos importantes que se estabeleceram
para constituir as formas de organização e desenvolvimento do
ensino. Também conhecerá alguns movimentos sociais em defesa
da educação, em que a sociedade reivindicava escolas para educar
os seus filhos, material didático, além da expansão e ampliação
do nível de escolarização da população.
86 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO 2 CACAUEIRA: ALGUNS ASPECTOS
O estudo no campo da História da Educação na Região
ainda é muito recente, apresentando muitos percalços a
enfrentar. As limitações são de diferentes ordens. No campo
teórico-metodológico, as poucas produções existentes pecam
pela falta de uma análise contextualizada do quadro educacional.
Também existe carência de um grupo de pesquisadores que
alimentem o interesse individual e coletivo por esta linha
de pesquisa, promovendo debates que ampliem o interesse
de pesquisadores e estudantes no campo historiográfico
educacional.
Mesmo diante dessas carências, já começam a surgir
alguns ensaios de produção científica, nesta linha de pesquisa,
resultantes de trabalhos monográficos e outras formas de
produção, realizados por alunos dos Cursos de Licenciatura em
História e Pedagogia e do curso de pós-graduação lato-sensu
em História Regional, ofertados pela Universidade Estadual de
Santa Cruz (UESC).
Observamos, contudo, que ainda não se privilegia o eixo
da História da Educação, existindo poucas questões estudadas
neste campo do conhecimento. Constatamos que, até o ano de
2000, as informações existentes a esse respeito consistiam de
pequenas notas de autores, informando número de escolas ou
registro de matrícula.
Os primeiros estudos com características acadêmicas são
as pesquisas da professora Raimunda Assis (2000), com a obra
intitulada A Educação em Itabuna: um estudo de organização
escolar: 1906-1930, a do Prof. Arléo Barbosa (2001) sobre a
Evolução da rede pública de Ensino Médio de Ilhéus de 1940 a
1980; e o livro de Maria Luiza Heine sobre o Instituto Municipal
de Ensino Eusínio Lavigne. Estas pesquisas são resultados de
monografias e dissertação de mestrado em educação.
Não temos, até o momento, conhecimento na literatura
regional de publicações sobre a História da Educação na Região
Cacaueira. Nesse sentido, tomamos como referência, para
identificar as principais características que marcaram a história
educacional da Região, os dois maiores municípios: Ilhéus e
Itabuna.
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87PedagogiaUESC
5
Essa foi a estratégia que recorremos para levantar
as principais características que marcaram a história da
educação regional. Isso, certamente, não nos permite fazer
maiores generalizações, porque não se deve perder de vista
as singularidades, o particular de cada localidade. Contudo,
ponderamos que este caminho poderá nos ajudar a identificar
os pontos existentes em comum que unem a educação na
região.
A EDUCAÇÃO EM ILHÉUS3
Os primeiros educadores da Capitania de Ilhéus foram
os jesuítas, que vieram para o Brasil através da Companhia
de Jesus. Eles se instalaram, inicialmente, nas localidades das
sesmarias de Rio de Engenho e Camamu. Segundo Barbosa
(1994),
[...] pode-se afirmar que o primeiro professor de Ilhéus foi o padre Diogo Jácome que, em 1549, veio acompanhado do Pe. Leonardo Nunes e ensinou as
FIGURA 1 - Mapa da cidade de Ilhéus - BA. Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl
88 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira
primeiras letras e religião. Nesta época, em carta dirigida ao provincial informa Nóbrega: Diogo Jácome que fez muito fruto em ensinar aos moços e escravos (p. 83).
O autor aponta que havia um interesse da população
em alfabetizar os seus filhos e iniciá-los nas “práticas dos bons
costumes”. A primeira escola na região que se tem notícia
surgiu no século XVIII. O ensino ministrado preocupava-se com
a escrita, leitura, gramática latina e religião.
Um fato interessante destacado pelo autor em seu livro
Notícia Histórica de Ilhéus é “que em cada três europeus um
falava Tupy”. Apesar de os Jesuítas terem escrito gramáticas
para facilitar a comunicação entre os colonizados e indígenas,
não introduziram a língua Tupy no processo educacional,
provavelmente ajudando a destruir a característica bilíngue da
população naquela época.
A partir do Decreto de expulsão dos Jesuítas, de 03
de setembro de 1759, houve um agravamento no processo
educacional na Capitania de Ilhéus por muitos séculos, o que
causou descontentamento na população, pois os Jesuítas
cultivaram muito afeto e devoção.
Em 1805, o povo já reclamava ao Príncipe Regente,
D. João, que solucionasse o problema educacional da Vila,
enviando professor para lecionar, “uma vez que a situação da
educação foi agravada em razão da expulsão dos jesuítas do
Brasil, [...] graças as intrigas da Corte de D. José I e do seu
ministro déspota esclarecido Marquês de Pombal” (BARBOSA,
1994, p.84). Este fato teve repercussão internacional, tendo
o pensador Francês Voltaire se manifestado sobre a expulsão,
dizendo ser “um excesso ridículo e absurdo junto ao excesso
de horror”.
Mais de um século depois (1904) é que foi iniciado o ensino
público em Ilhéus. Foi nomeado professor Camuto Trindade
Rosa, assumindo a cadeira de ensino, para os alunos do sexo
masculino, e a professora Isabel Josepha do Nascimento, para
o sexo feminino.
Diante do descaso das autoridades com o quadro
educacional do município, a população e os jornais de oposição
da época começaram a criticar os governantes pela falta
de políticas públicas para a educação. Diziam: ”os chefes
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políticos nomeados escorados
nas baionetas da política, sem
prestígio e ignorantes, têm
razão de abominar a instrução
que os pode comprometer, e é
por isso que o Sr. Adami difunde
o ensino por meio de alfaiates”
(BARBOSA, 1994, p.84).
O ensino em níveis mais
elevados ao primário foi criado
em 1905. A escola complementar
começou a funcionar sob a
regência do engenheiro Ervídio
Velho, num prédio situado à rua direita do comércio.
Barbosa (1994) ressalta que, na década de 1920,
existia, no município de Ilhéus, cerca de 30 escolas primárias
mantidas pelo município e a rede estadual possuía cinco
escolas elementares e uma
complementar. Como se vê, um
quadro ainda bastante precário
para uma cidade que progredia
a olhos vistos. O autor ainda
afirma que a população
estudantil se ampliava a cada
ano e foi somente a partir
da década de 1960 que os
grupos escolares estaduais e
municipais começaram a surgir
nos bairros e nos distritos de Ilhéus.
O autor pontua que o ensino secundário em Ilhéus
iniciou com o curso normal, no atual Instituto Nossa Senhora
da Piedade, dirigido pelas religiosas ursulinas que chegaram em
1915. Em março de 1920, já iniciavam o curso normal voltado
para jovens da região cujas famílias tinham um alto poder
aquisitivo. A primeira turma de normalista da região diplomou-
se em 1923, num total de seis professorandas.
As classes populares só vieram a ter acesso ao curso
ginasial público em 1939, com a construção do Ginásio Municipal
de Ilhéus, implantado no governo do Dr. Mário Pessoa. Para a
realização da sua construção, foi assegurado o recolhimento de
Figura 2 - Instituto Nossa Senhora da PiedadeFonte: Jamile Ocké
FIGURA 3 - Instituto Municipal de Educação de Ilhéus Eusínio Lavigne
Fonte: http://catucadas.blogspot.com/2009/03/sete-decadas-do-ime.htm
90 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira
uma taxa de 10% de todos os impostos municipais. Em 15 de
março de 1939, foi inaugurado oficialmente o ginásio municipal
com ato solene. Nas palavras de Barbosa (1994), foi “uma
iniciativa de inestimável valor educacional. Foi o 1º Ginásio do
Sul do Estado, daí o grande número de estudantes que nele
ingressaram. O IME honra o ensino do Estado da Bahia” (p.
86).
Na sequência, foram fundados vários outros ginásios:
Centro Educacional Álvaro Melo Vieira (1939), Instituto de
Educação D. Eduardo (1968), Ginásio Afonso de Carvalho
(1969), Centro Integrado de Educação Rômulo Galvão (1964).
Hoje, o quadro educacional do município apresenta novas
características, é ofertada a escolarização às diferentes camadas
da população, tanto da cidade como do campo, interiorizando a
sua ação nos diferentes níveis e modalidades de ensino.
A EDUCAÇÃO EM ITABUNA4
O ensino de Itabuna, na sua primeira fase (1906 a 1930),
é caracterizado pela organização e evolução do seu sistema de
ensino primário, demarcado pela necessidade de as famílias
FIGURA 4 - Mapa da cidade de Itabna - BA. Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl
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91PedagogiaUESC
5
dos coronéis e dos grandes comerciantes exportadores de
cacau terem escolas para os seus filhos. Este segmento social
patrocinou o surgimento das primeiras escolas no município,
contratando professores e cedendo espaços (privados) para
instalação de escolas, a fim de que os seus filhos pudessem
estudar sem precisar sair para outros centros urbanos mais
desenvolvidos. Outras instituições estabeleciam convênios,
sendo parte das despesas subsidiadas pelo município (ASSIS,
2000).
Nesse sentido, esses segmentos responsabilizavam-se
em suprir o dever constitucional do Estado de fornecer educação
para todas as crianças em idade escolar. As fontes apontaram
que esta não era uma particularidade somente do Município
de Itabuna. Foi uma característica que também marcou o
desenvolvimento do ensino nos demais municípios da região.
Outra característica da rede de ensino era a falta de
vagas para demanda potencial. Na década de 1920, a demanda
efetiva de crianças de 07 a 14 anos nas escolas era de 4.893 e o
número de vagas ofertadas, no município, era somente de 2.250
vagas, ficando um número expresso de crianças sem estudar e,
certamente, eram as crianças das classes populares.
Acrescente-se, também, ao quadro geral do ensino, a
precariedade das instalações físicas e mobiliárias das escolas,
de tipos: isoladas e reunidas, funcionando em casas ou salas
improvisadas (galpões, barcaças, vagões da estrada de ferro
etc.). O ensino era ministrado por professores leigos, em salas
mistas e multisseriadas, com uma programação para atender
alunos da 1ª a 4ª séries. Acrescente-se a estas precariedades as
dificuldades para assegurar a educação do campo decorrentes
da falta de transportes, moradia, distância das fazendas,
forma de locomoção e os baixos salários que os professores
recebiam.
O primeiro grupo escolar primário público de Itabuna foi
a Escola Lucia Oliveira, inaugurada no ano de 1935, com um
atraso histórico de quase 40 anos em relação ao primeiro grupo
escolar do Brasil e de 20 anos em relação a Ilhéus, município
vizinho.
No segundo período, entre 1930 a 1945, as mudanças
foram pontuais e singelas. A prioridade estabelecida para
educação de Itabuna passou a ser a ampliação do nível da
92 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira
escolarização dos alunos. Em
outras palavras, o foco das
políticas públicas voltava-se
para a implantação de cursos
mais elevados. Certamente
essa política visava atender os
interesses de uma determina
classe social, cujos filhos já
haviam ultrapassado a primeira
etapa do ensino elementar
(primário) e precisavam
ingressar no ginásio. Isso
aprofundava o nível de exclusão
social.
É oportuno lembrar o
silêncio e a falta de informações existentes sobre as questões
da educação na região e, de modo especial, em Itabuna, como
já apontamos inicialmente. Os únicos dados que conseguimos
garimpar foram por meio da Profa. Maria Palma Andrade, no
seu livro Itabuna: estudo monográfico, onde apresenta alguns
dados a partir do ano de 1960. Fica, portanto, um grande vazio
de informações e que, certamente, precisa ser preenchido.
A autora informa que foi nesse período que o Município
de Itabuna ampliou a sua rede de escolas em nível primário
e médio, sendo construídos alguns novos grupos escolares
pelo Estado; outras escolas foram agrupadas em espaços mais
adequados, além de assinaturas de convênios com Instituições
da sociedade civil organizada para ampliar o número de escolas.
Ainda aponta que, no ano de 1972, o município tinha um total
de 19.204 alunos cursando o ensino primário e, no nível do
ensino ginasial e médio (nos diferentes cursos), existia um
contingente de 7.663 alunos.
Ressalta, contudo, que o crescimento da população era
cada vez maior, havendo a necessidade de serem criados mais
estabelecimentos de ensino em diferentes níveis, para que
toda a população em idade escolar pudesse frequentar escolas
(ANDRADE, 1972, p. 63-64).
As fontes apontaram que esse desejo pelo aumento do
nível de escolarização não era uma ação isolada do Município
de Itabuna. Esse movimento era um anseio da Região e
FIGURA 5 - Inauguração do Grupo Escolar Lucia OliveiraFonte: Acervo da Fundação Henrique Alves de Itabuna - Ba - 2000
LEITURA RECOMENDADA
Para uma análise mais detalhada do estudo, você pode consultar diretamente. ASSIS, Raimunda Alves Moreira de. A Educação em Itabuna: um estudo da organização escolar: (1906/1930). Ilhéus, BA: Editus, 2006, tese de Doutorado em Edu-cação realizada na Universidade Federal Fluminense (UFF), con-cluída em 2008.
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envolvia pessoas das cidades circunvizinhas e de diferentes
organizações sociais. Destacamos algumas personalidades,
consideradas da “elite intelectual” da época dos dois municípios
de maior prestígio econômico na região, em Ilhéus, Dr. Álvaro
Melo Vieira, Dr. Mário Pessoa e o Dr. Eusínio Lavigne, e, em
Itabuna, Aziz Maron, Dr. Gileno Amado, D. Amélia Amado, Dr.
Claudionor Alpoim, entre outros (ASSIS, 2000).
O ENSINO SUPERIOR5
Após vários anos de reivindicação das comunidades da
região cacaueira para instalação de faculdades de nível superior,
instalou-se no município de Ilhéus, na década de 60, a primeira
instituição de nível superior na região, a Faculdade de Direito
de Ilhéus, posteriormente a Faculdade de Filosofia de Itabuna
e Faculdade de Ciências Econômicas de Itabuna, com decreto
para funcionamento nos anos 1968 e 1970, respectivamente.
Posteriormente estas instituições congregaram-se
formando a Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e
Itabuna – FESPI, através de uma fundação de natureza privada.
Em 06 de dezembro de 1991, foi incorporada ao quadro das
escolas públicas de 3º grau da Bahia, transformando-se em
Universidade Pública, denominada Universidade Estadual de
Santa Cruz – UESC. Desde então, vem ampliando os serviços
prestados, oferecendo diversos cursos, com atividades no
campo do ensino, pesquisa e extensão.
Atualmente já são oferecidos 29 cursos de graduação e
de pós-graduação, Lato Sensu (21) e Stricto Sensu, sendo 11
cursos de mestrado e um de Doutorado. Muitos destes cursos
vêm sendo referência em nível estadual e nacional, atendendo
um número crescente de estudantes da região cacaueira
e de outros estados. A UESC já graduou, no seu período de
funcionamento mais de 15.550 estudantes. (Fonte: Jornal da
Universidade Estadual de Santa Cruz Ano XI – No. 108/2009).
Até a década de 1990, além da UESC, existia a Faculdade
de Educação Montenegro, reconhecida pelo MEC, através
do Decreto nº. 97.787. É uma instituição de direito privado,
situada no município de Ibicaraí. Atualmente vem oferecendo os
cursos de Educação Física; Pedagogia; Turismo; e Secretariado
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História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira
ATIVIDADE
Executivo; além de diversos cursos de pós-graduação em
convênio com outras Instituições.
Recentemente as instituições de nível superior privadas
vêm se multiplicando na região, como consequência de uma
política pública implantada em todo o País. E, pelo que podemos
observar, este mercado cresceu de forma abusiva, tornando-se
um bom negócio empresarial, resultado da política neoliberal
implantada no país, principalmente a partir do governo de
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002).
Portanto, cabe à sociedade avaliar esta nova fase da
educação: se é algo para democratizar ou se para mercantilizar
o ensino na lógica do lucro, o que deixa a educação à mercê
das incertezas do mercado. Cabe também a você, estudante,
refletir sobre essa situação, pois as consequências vão definir,
em muito, o seu futuro profissional.
1. Apresente, em linhas gerais, a evolução do sistema público de ensino de seu Município, destacando:
o contexto histórico da época;a) o número de habitantes, por faixa etária, de pessoas analfabetas, o número b) de ações educativas do Município, conselhos existentes etc.;a organização do Sistema de Ensino, número de alunos no meio rural e c) urbano, escolas, espaço físico das escolas, professores;desempenho escolar, número de alunos matriculados, aprovados, reprovados, d) distorção série/idade etc.
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Você viu, nesta unidade, as principais características históricas
que marcaram o início da implantação do processo educacional
na região cacaueira. Ele foi marcado por um processo precoce
de implantação do ensino, que teve início a partir da chegada da
Companhia de Jesus à Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus
em 1549. Viu que as primeiras escolas implantadas foram instituições
religiosas, o que, de certa forma, retardou o desenvolvimento
educacional na região por muitos séculos.
No decorrer da implantação do processo educacional, o projeto
que se desenhou para desenvolver o ensino foi de caráter privatista,
voltado para atender os interesses das famílias que tinham um alto
poder aquisitivo. No bojo desse projeto, algumas Instituições da
sociedade civil, sem fins lucrativos, como Rotary Clube, Sociedade
São Vicente de Paula, Maçonaria Itabunense incubiram-se de construir
algumas escolas, permitindo, assim, que as classes populares
passassem a ter acesso ao ensino primário.
O desejo da população pelo aumento do número de vagas e
ampliação dos níveis de escolaridade na região era uma realidade
presente nos diferentes documentos pesquisados. Isso começa a
acelerar somente na década de 1970, quando são instalados muitos
grupos escolares em várias cidades da região.
Como parte desse projeto de expansão do ensino na região,
surgiram as primeiras instituições de ensino superior (particulares)
nas cidades de Ilhéus e Itabuna, transformadas, em 1991, em
Universidade pública - a Universidade Estadual de Santa Cruz.
Atualmente a educação na região encontra-se em franco
processo de expansão nos seus diferentes níveis de ensino. Contudo,
não podemos afirmar que todas as pessoas têm possibilidades de
ter acesso a eles. Por outro lado, ainda é possível identificar que o
seu processo de ampliação é marcado por carências de diferentes
naturezas: infra estrutura escolar; permanência dos alunos nas
escolas; qualidade do ensino; e formação de professores.
Por fim, acrescentamos que o estudo sobre a História Regional
ainda é muito lacunoso. Por conseguinte, temos o desafio de motivar
os pesquisadores, professores e estudantes a se debruçarem
sobre as fontes primárias e secundárias, ou mesmo fontes orais
(praticamente as únicas existentes nos municípios), com a finalidade
de criar grupos de pesquisas para produzirem novos conhecimentos
no campo da História da Educação Regional para que venhamos a
suprir este quadro de carência hoje existente.
RESUMINDO
96 Módulo 1 I Volume 3 EAD
História da Educação I A produção historiográfica da educação na região cacaueira
RE
fE
RÊ
NC
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ALVES, Gilberto Luiz. Nacional e Regional na História Educacional Brasileira: uma análise sob a ótica dos Estados mato-grossenses. In: Educação no Brasil: história e historiografia/Sociedade Brasileira de História da Educação (Org.). Campinas: Autores Associados, SBHE, 2001.
ASSIS, Raimunda Alves Moreira de. A Educação em Itabuna: um estudo de organização escolar, 1906-1930. Ilhéus - BA: Editus, 2006.
AZEVEDO, Janete Lins de. Educação Como Política Pública. Campinas: Autores Associados, 2002.
BARBOSA, Carlos Roberto Arléo. Notícia histórica de Ilhéus. 3. ed. Itabuna: Colorgraf, 1994.
HEINE, Maria Luíza. IME: o sonho de Euzínio Lavigne 1939 – 1999: 60 anos de História. Ilhéus, BA: Editus, 2000.
REIS FILHO, Casemiro dos. Transplante da Educação Européia no Brasil. Revista Brasileira de História da Educação, n. 3. jan./jun. 2002.
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/renascimento/index.php.Acesso em 20 abr. 2009.
Suas anotações
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