Post on 28-Mar-2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE CASCAVEL
CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS E FARMACÊUTICAS MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
ANA CAROLINA FEIL KMETZKI
Aplicação de xilanases fúngicas no processo de branqueamento da polpa kraft pelas indústrias de papel
CASCAVEL- PR 2018
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ANA CAROLINA FEIL KMETZKI
Aplicação de xilanases fúngicas no processo de branqueamento da polpa kraft pelas indústrias de papel
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação Stricto Sensu em Ciências
Farmacêuticas da Universidade Estadual Oeste
do Paraná, campus de Cascavel, como pré-
requisito para obtenção do título de Mestre em
Ciências Farmacêuticas na linha de pesquisa
Prospecção de Micro-organismos e Substâncias
Bioativas com Aplicações Biotecnológicas e em
Saúde.
Orientadora: Profª Dra. Marina Kimiko Kadowaki
CASCAVEL - PR 2018
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Dissertação revisada conforme as normas de redação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas por Odete Bonsere, graduada em Letras, RG 3.944.013-0, em 26 de abril de 2018.
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BIOGRAFIA RESUMIDA
Ana Carolina Feil Kmetzki, natural de Toledo, Paraná, Brasil, nascida no dia 22 de
janeiro de 1988, formou-se em Farmácia na Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE, campus de Cascavel em dezembro de 2010. Possui duas
especializações, sendo uma em Farmacologia Clínica com ênfase em Atenção
Farmacêutica, concluída em março de 2015, pela Faculdade Assis Gurgacz; e outra
em Gestão em Saúde, concluída em abril de 2016, pela Universidade Estadual de
Maringá – UEM. Ingressou no Programa de Pós-graduação stricto sensu em nível de
mestrado em Ciências Farmacêuticas no ano de 2016. Desenvolveu projeto de
dissertação junto à linha Prospecção de micro-organismos e substâncias bioativas
com aplicações biotecnológicas e em saúde, orientada pela professora Dra. Marina
Kimiko Kadowaki. Atualmente exerce a profissão farmacêutica em uma unidade
hospitalar no município de Cascavel, com experiências anteriores na indústria
farmacêutica e análises clínicas.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por tudo o que ele pôs em minhas mãos, pela
saúde e sem Ele nada poderia ser possível. Também meu agradecimento infinito aos
meus pais, Pedro e Marlice pelo amor incondicional, pelos ensinamentos de valores,
pelo incentivo, pelos conselhos e por todo apoio, assim como à minha irmã Raquel
por igual demonstração de amor.
A José Roberto Alves Filho, por simplesmente tudo.
Aos amigos e colegas de trabalho, pelo incentivo e compreensão nos meus
momentos de ausência.
À Professora Doutora Marina Kimiko Kadowaki, por não desistir de mim. Pela
paciência e apoio, assim como os ensinamentos e orientação.
Aos membros da banca de defesa dessa dissertação, que aceitaram o convite
para colaborar com a correção e o aprimoramento desse trabalho.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas e Unioeste, assim
como a todos os professores que contribuíram para minha formação.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
CAPES.
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Aplicação de xilanases fúngicas no processo de branqueamento da polpa kraft pelas indústrias de papel
RESUMO
A indústria de papel e celulose é um segmento em ampla expansão mundial. Com foco na rentabilidade econômica e preservação ambiental, a indústria papeleira tem buscado alternativas viáveis para aprimorar a etapa do processo da polpa Kraft. O método convencional de branqueamento da polpa com cloro, embora altamente eficiente, causa poluição ambiental devido à descarga de compostos organoclorados em efluentes. A utilização de enzimas de micro-organismos, em especial as xilanases, têm surgido como uma alternativa promissora para o processo de branqueamento da polpa Kraft. Essas enzimas podem auxiliar consideravelmente na redução da poluição ambiental, com diminuição da utilização de compostos organoclorados, que atuam como agentes químicos branqueadores das polpas e ocasionam a formação de compostos residuais que são extremamente prejudiciais ao meio ambiente e conferem às indústrias de celulose a condição de ser uma das mais poluidoras. Em razão disso, estudos que proporcionam o uso de processos enzimáticos na cadeia de branqueamento da polpa Kraft pela indústria serão sempre relevantes, principalmente com o intuito de reduzir a descarga de material contaminante em efluentes. Dentro desse contexto, essa revisão abordará sobre as características da constituição da matéria-prima para obtenção da polpa celulose pela indústria papeleira, bem como, as propriedades enzimáticas das xilanases fúngicas isentas de celulases testadas em polpas de celulose, kraft e palhas de resíduos que apresentam potencial para uso futuro pelas indústrias papeleiras. Palavras-chave: enzimas, fungos filamentosos, biobranqueamento, processo Kraft.
viii
Application of fungal xylanases in the bleaching process of kraft pulp by paper industries
ABSTRACT
The pulp and paper industry is a globally expanding segment. Focusing on economic
profitability and environmental preservation, the paper industry has been looking for
viable alternatives to enhance the Kraft process. The chlorine bleaching conventional
method, although highly efficient, causes environmental pollution due to the discharge
of organochlorine compounds into effluents. The use of enzymes microorganisms,
especially xylanases, has emerged as a promising alternative for the bleaching
processes. These enzymes could considerably help reduce environmental pollution,
reducing the use of organochlorine compounds, which acts as a bleaching chemical
for pulps and causes the formation of organochlorine residual compounds, which are
extremely harmful to the environment and give the pulp industry one of the most
polluting. Therefore, studies that provide the use of enzymatic processes in the Kraft
pulp bleaching stage by the industry will always be relevant, mainly in order to reduce
the discharge of contaminating material into effluents. In this context, this review will
discuss the characteristics of the constitution of the raw material for the pulp kraft paper
industry, as well as the enzymatic properties of fungal xylanases cellulase-free tested
on cellulose pulps, kraft and waste straw, which have potential for future use by paper
industry.
Key-words: enzymes, filamentous fungi, biobleaching, Kraft process.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 2
2.1 Indústria de papel e celulose ................................................................................. 2
2.1.1 Fontes de matéria-prima para a indústria papeleira ........................................... 3
2.2 Composição da madeira........................................................................................ 4
2.2.1 Celulose ............................................................................................................. 5
2.2.2 Hemicelulose ...................................................................................................... 7
2.2.3 Lignina ................................................................................................................ 9
2.3 Etapas de obtenção da polpa de celulose ou kraft da madeira ........................... 12
2.4 Processo kraft e branqueamento na indústria de papel ...................................... 15
2.4.1 Polpação .......................................................................................................... 15
2.4.2 Biopolpação ...................................................................................................... 16
2.4.3 Branqueamento ................................................................................................ 16
2.5 Uso de enzimas xilanase na indústria de papel e celulose..................................19
2.5.1 Xilanases .......................................................................................................... 19
2.6 Aplicação de xilanases em biobranqueamento ................................................... 21
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 27
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 28
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Composição da madeira dos gêneros Pinus sp. e Eucalyptus sp................4 Tabela 2 Propriedades de xilanases fúngicas com potencial para uso no branqueamento de polpa...........................................................................................25
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composição estrutural e química da madeira................... ............................ 5
Figura 2 Estrutura da celulose com destaque para as regiões cristalina e amorfa......6
Figura 3 Estrutura química da celulose .................................................................. .... 7
Figura 4 Estrutura química do xilano.. ......................................................................... 9
Figura 5 Estrutura proposta para a macromolécula de lignina de E. grandis ............ 10
Figura 6 Precursores básicos na formação da molécula de lignina……...………......10
Figura 7 Esquema do processo de obtenção de papel a partir da madeira...............14
Figura 8 Processo Kraft e branqueamento na indústria de papel..............................18
Figura 9 Enzimas xilanolíticas envolvidas na degradação do xilano.........................20
Figura 10 Três hipóteses de mecanismo da enzima xilanase...................................23
1
1 INTRODUÇÃO
A indústria de papel e celulose é um dos setores mais produtivos do mundo,
estimulado pela crescente demanda global. Aproximadamente 400 milhões de
toneladas métricas de papel são produzidos e consumidos globalmente a cada ano.
Porém, tradicionalmente se sabe que este segmento industrial contribui para a
poluição ambiental, principalmente devido à descarga de material contaminante em
efluentes.
Com isso, as indústrias de papel têm buscado estratégias metodológicas de
sustentabilidade (econômicas e tecnológicas) para minimizar seu impacto ambiental,
visto que produzir uma (01) tonelada de papel requer entre 75 e 227 metros cúbicos
de água. Além disso, o método convencional de branqueamento com cloro, embora
altamente eficiente leva à descarga de compostos organoclorados em efluentes para
o qual se estima que 2 a 4 kg de organoclorados por tonelada de polpa sejam
originados nesse processo. Tais substâncias, como dioxinas, clorofenóis,
clorocatecóis e cloroguaiacóis são tóxicos, mutagênicos e bioacumuláveis, podendo
causar sérios distúrbios biológicos mesmo em baixas concentrações.
A ação tóxica destes compostos pode ser verificada, por exemplo, em micro-
organismos aquáticos, nos quais é comum o surgimento de anomalias no sistema
reprodutivo e imunológico. A detecção de compostos organoclorados em sedimentos
marinhos de regiões próximas a indústrias papeleiras é um fato bastante frequente. O
fenômeno de contaminação por organoclorados tem-se difundido de uma maneira tão
generalizada, que pode ser observado até em regiões bastante isoladas do planeta.
Na última década, por exemplo, tem-se registrado a presença de compostos
organoclorados na região ártica.
As regulamentações ambientais restringem cada vez mais o emprego de
compostos de cloro nos processos de branqueamento de polpa Kraft nas indústrias;
com isso, processos que requerem menores concentrações de cloro e que são
inovadores do ponto de vista ambiental, têm sido adotados pelas empresas mais
avançadas do mundo.
Concomitante a isso, tem crescido o interesse do setor industrial em utilizar
enzimas em seus processos, entre as quais se pode destacar as xilanases, que estão
entre as mais promissoras. As xilanases podem ser produzidas por micro-organismos
como fungos e bactérias e têm a capacidade de hidrolisar o xilano, o maior
componente da hemicelulose, presente na parede das células vegetais. A aplicação
2
desta enzima aumentou consideravelmente nas últimas décadas devido a
necessidade de implantar tecnologias sustentáveis.
Na indústria de papel e celulose, o uso da enzima xilanase isenta de atividade
celulásica tem demonstrado importante função nas etapas de pré-tratamento da
madeira e branqueamento da polpa celulósica. Com sua utilização, é possível verificar
o aumento da eficiência do processo devido à redução do volume de reagentes, tais
como compostos de cloro, hipoclorito ou hidrossulfeto de zinco, além de possibilitar
condições mais brandas de cozimento, possibilitam a redução do impacto sobre as
fibras e, consequentemente, a obtenção de um produto de melhor qualidade.
Dentro desse contexto, esse estudo tem como objetivo abordar sobre os
componentes da matéria-prima utilizada para obtenção da polpa Kraft pela indústria
papeleira, bem como as propriedades enzimáticas das xilanases fúngicas com
potencial para aplicação no branqueamento da polpa Kraft.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Indústria de papel e celulose
As mais recentes estimativas indicam que a população mundial deve atingir 9,1
bilhões de pessoas até 2050, impulsionando a demanda por “commodities” e
bioenergia. Para atender esse volume crescente, serão necessários 250 milhões de
hectares adicionais de florestas plantadas no mundo. Da área total de 7,84 milhões
de hectares de árvores plantadas no Brasil em 2016, 34 % pertence às empresas do
segmento de papel e celulose. Atualmente, a produção de celulose tem se expandido
fortemente para países do Hemisfério Sul, com destaque para o Brasil, o Chile, o
Uruguai e a Indonésia, na busca de redução de custos e aumento da produtividade
(IBÁ, 2016).
A produção de madeira em tora destinada à indústria de papel e celulose
cresceu 10,8 % em 2016 no Brasil, em comparação com o ano anterior. A ampliação
do parque industrial deste segmento no estado do Paraná resultou o alcance do
estado como maior produtor nacional de madeira em tora. Esse posto era ocupado
por São Paulo, que agora está na segunda posição com uma queda na produção em
5,4 % (IBÁ, 2016).
3
Em 2016, a produção brasileira de celulose cresceu 8,1 % em relação a 2015
e elevou o Brasil em duas posições no “ranking” de produção da “commodity”,
alcançando a segunda posição entre os maiores produtores mundiais de celulose.
Apesar do volume de papel fabricado tornar-se praticamente estável em relação ao
ano anterior, o Brasil alcançou também uma posição neste segmento e ocupou o
oitavo lugar no “ranking” dos maiores produtores de papel (IBÁ, 2016).
2.1.1 Fontes de matéria-prima para a indústria papeleira
No Brasil, as duas maiores fontes de madeira empregadas na produção de
celulose são provenientes de árvores dos gêneros Pinus e Eucalyptus, responsáveis
por mais de 98 % do total produzido. Outros tipos de plantas também podem ser fontes
alternativas de celulose como bambu, babaçu, sisal e resíduos agrícolas (bagaço de
cana-de-açúcar). No “ranking” dos países produtores de celulose, o Brasil é o primeiro
produtor mundial de celulose de eucalipto (IBÁ, 2016).
O Eucalipto, pertencente ao gênero Eucalyptus, que soma mais de 600
espécies diferentes, encontrou no Brasil ótimas condições de clima e solo para se
desenvolver. Eucalyptus sp. representa uma importante fonte de matéria-prima para
produção de papel (TURA, 2014).
Entre as principais espécies de eucalipto cultivadas no Brasil estão Eucalyptus
grandis, Eucalyptus saligna, Eucalyptus urophylla, Eucalyptus viminalis, híbridos de
Eucalyptus grandis x Eucalyptus urophylla e Eucalyptus camaldulensis. Do Eucalipto
originam-se as fibras curtas, de menor resistência, alta maciez e boa absorção
(CASTRO, 2009; TURA, 2014).
O gênero Pinus sp. constitui a principal conífera utilizada mundialmente para a
produção de celulose, com destaque para as espécies P. taedae P. ellioti,
caracterizadas pela facilidade de cultivo, rápido crescimento (7 a 11 anos) e
reprodução intensa no sul e sudeste do Brasil (CASTRO, 2009; TURA, 2014).
Deste gênero originam-se fibras longas de celulose, que conferem elevada
resistência físico-mecânica ao papel (GOMES, 2009). Este gênero caracteriza-se por
ser tolerante à baixas temperaturas e ao plantio em solos rasos e pouco produtivos
para agricultura.
A tabela 1 apresentada na sequência demonstra a composição em
porcentagem dos principais constituintes das madeiras de Pinus sp. e Eucalyptus sp.,
na qual é possível verificar as diferenças de cada um dos gêneros, sendo que, em
4
geral, para Pinus sp. há maiores níveis de concentração de celulose e lignina, e para
Eucalyptus sp. há maiores níveis de concentração de hemicelulose. Porém vale
ressaltar que estas concentrações sofrem variações não só relacionadas ao gênero
da planta, mas também a outros fatores como inerentes ao cultivo.
Tabela 1 Composição da madeira dos gêneros Pinus sp. e Eucalyptus sp
Componentes Pinus sp. Eucalyptus sp.
Celulose (%) 40 – 45 34 – 48
Hemicelulose (%) 10 – 13 20 – 25
Lignina (%) 26 – 34 20 – 29
Fonte: Castro, 2009.
2.2 Composição da madeira
Estruturalmente, a madeira é constituída principalmente por celulose, lignina e
hemiceluloses que estão presentes em todas as madeiras e, somadas, representam
80-90 % do seu peso seco. Além disso, a madeira é composta em menores frações
de extrativos e material inorgânico (RITTER, 2008; BRAND, 2010).
As proporções destes compostos variam entre diferentes espécies e também
de acordo com a idade do vegetal, porém as variações podem ocorrer ainda dentro
da mesma espécie devido a fatores genéticos e ambientais. As faixas de variação dos
componentes são de 50 % para celulose, 20 – 25 % para hemicelulose e 20 – 30 %
para lignina. Ainda, as madeiras podem ser agrupadas em duas categorias distintas:
Moles, “softwoods” ou coníferas (grupo das gimnospermas, como por exemplo: Pinus
e Araucária); ou Duras, “hardwoods” ou folhosas (grupo das angiospermas
dicotiledôneas, como por exemplo: Imbuia, Ipê, Eucalipto) (CASTRO, 2009).
A figura 1 representa a estrutura da parede celular vegetal com a composição
estrutural e química da madeira.
5
Figura 1 Composição estrutural e química da madeira (Fonte: adaptado de RITTER, 2008).
2.2.1 Celulose
Celulose é considerado o polissacarídeo mais abundante do planeta e
representa mais de 50 % da composição da massa das madeiras. Sua estrutura é
linear não ramificada, formada por monômeros de glicose que são unidos por ligações
do tipo β-1-4 e se dispõem paralelamente, de modo a formar pontes de hidrogênio
entre si. A celulose é um homopolissacarídeo de alto peso molecular, constituído por
10.000 a 15.000 unidades de D-glicose (LEHNINGER et al., 2011; LINO, 2015). Cada
monômero de glicose é composto por três grupos hidroxila (OH⁻) livres. Tais radicais
são responsáveis pelo comportamento físico e químico da celulose, sendo capazes
de formar dois tipos de ligações de hidrogênio, em função do seu posicionamento na
unidade glicosídica, denominados intramoleculares e intermoleculares (REIS, 2011).
As ligações intramoleculares são as que ocorrem entre grupos OH⁻ de
unidades glicosídicas adjacentes da mesma molécula, sendo estas responsáveis pela
rigidez da cadeia de celulose, uma vez que se caracteriza por ser uma região mais
compacta e de difícil degradação enzimática. Já as ligações intermoleculares ocorrem
entre grupos OH⁻ de moléculas adjacentes de celulose e são regiões de menor
organização, denominadas amorfas. As regiões de celulose amorfa apresentam baixa
resistência aos ataques químicos e biológicos, sendo, portanto, pontos de degradação
6
enzimática (FAN et al., 1980; REIS, 2011). As regiões de ligações intra e
intermoleculares estão diferenciadas na figura 2, que representa a estrutura química
da celulose.
Figura 2 Estrutura da celulose com destaque para as regiões cristalina e amorfa (Fonte: adaptado de Reis, 2011).
Ainda em relação à estrutura da celulose, verifica-se que feixes de moléculas
de celulose se agregam na forma de microfibrilas na qual regiões altamente
ordenadas (cristalinas) se alternam com regiões menos ordenadas (amorfas). As
microfibrilas se unem formando fibrilas e estas constroem as fibras celulósicas,
conforme está representado na figura 3. Como consequência dessa estrutura fibrosa,
a celulose possui alta resistência à tração e é insolúvel na maioria dos solventes
(BALAT, 2009; LINO, 2015)
7
Figura 3 Estrutura química da celulose (Fonte: adaptado de BALAT, 2009).
Apesar da característica hidrofílica da celulose, não é possível a entrada de
água no interior de sua porção cristalina à temperatura ambiente, que é limitada às
regiões amorfas da molécula (LINO, 2015).
A extração de celulose da madeira é uma etapa fundamental para a obtenção
do seu produto final na indústria de papel. Sendo que o processo Kraft é o principal
método para a obtenção de celulose, separando-a dos demais componentes da
madeira (CARVALHO, 2003).
2.2.2 Hemicelulose
As hemiceluloses caracterizam-se por possuir estrutura de natureza amorfa,
conter considerável grau de ramificação entre suas cadeias e apresentar baixo peso
molecular. Além disso, são bastante hidrofílicas, o que facilita a absorção de água e
contribui para o intumescimento e flexibilidade das fibras. A hemicelulose é o segundo
componente mais abundante em plantas disponível na natureza e localiza-se na
parede celular vegetal. Está intercalada às microfibras de celulose, atuando como um
8
elemento de ligação entre a celulose e a lignina (FENGEL et al., 1989; DA SILVA et
al., 1997, TIBOLLA, 2014).
As hemiceluloses diferem da celulose pela composição de várias unidades de
açúcar, com cadeias moleculares menores e ramificadas. Podem ser classificadas
como xilanas, glicomananas, galactanas ou arabinanas, de acordo com o principal
resíduo de açúcar presente em sua estrutura polimérica (BEG et al., 2001). Assim,
tais substâncias são definidas como uma classe de compostos poliméricos presentes
em vegetais fibrosos, sendo que cada um desses componentes possui propriedades
diferentes entre si (LINO, 2015).
A proporção e o teor dos distintos componentes encontrados nas hemiceluloses
de madeira variam de acordo com a espécie vegetal (TELEMAN, 2009). Madeiras de
folhosas e coníferas diferem não só na porcentagem do total de polioses, mas também
na porcentagem individual de cada açúcar que compõem as polioses. Coníferas
possuem uma maior concentração de unidades de manose e galactose quando
comparado às folhosas. Estas, por sua vez, apresentam maior proporção de unidades
de xilose e grupos acetila (LINO, 2015).
Aproximadamente 70 % das hemiceluloses pertencem ao grupo do xilano,
sendo este o principal componente da classe, presente na maioria das plantas. O
xilano apresenta cadeia principal caracterizada por unidades de xilose unidas entre si
através de ligações glicosídicas �(1 → 4). A estrutura do xilano, que está identificada
na figura 4, contribui para a resistência da célula vegetal frente à degradação
microbiana devido às suas características estruturais como as ligações glicosídicas
entre xilano, presença de substituintes laterais e outros polissacarídeos (SAHA, 2003).
Devido à heterogeneidade e à complexidade das estruturas de xilano, a sua hidrólise
requer várias atividades enzimáticas que atuam de forma cooperativa e sinérgica para
converter o xilano em seus açúcares de origem monomérica (POLIZELI et al., 2005;
ALVES-PRADO et al., 2010).
9
Figura 4 Estrutura química do xilano. Polissacarídeo composto por unidades de D-xilose unidos por ligações glicosídicas β 1→ 4 na cadeia principal e cadeias laterais com ácidos urónicos, L-arabinose e outros oligossacáridos (FONTE: Adaptado de Chen et al., 2015).
2.2.3 Lignina
A lignina é um complexo fenólico amorfo, tridimensional, de subunidades
aromáticas, normalmente derivadas de fenilalanina. Localiza-se na lamela média
composta, bem como na parede secundária das plantas, sendo um composto
hidrofóbico e altamente resistente à degradação química e biológica (DIOGO, 2012).
Esta substância atua como uma matriz em volta dos polissacarídeos da parede
celular das plantas, fornecendo uma rigidez adicional e tornando as paredes
impermeáveis à água. Durante o desenvolvimento das células, a lignina é incorporada
como o último componente na parede, interpenetrando as fibrilas e assim fortalecendo
as paredes celulares (ANDREAUS et al., 2008).
A estrutura da macromolécula de lignina é mais complexa em relação às
estruturas de celulose e hemicelulose (figura 5), sendo formada a partir de três
precursores básicos, que são os álcoois p-cumarílico, coniferílico e sinapílico
(BUDZIAK, 2004), cujas estruturas químicas estão demonstradas na figura 6.
10
Figura 5 Estrutura proposta para a macromolécula de lignina de Eucalyptus grandis (Fonte: Brasileiro, 2001).
Figura 6 Precursores básicos na formação da molécula de lignina (Fonte: Budziak, 2004).
Algumas ligninas constituem-se de polímeros fenilpropanóides, da parede
celular, com alto grau de condensação e resistência à degradação. De acordo com
sua origem, podem ser compostos por unidades de p-hidroxifenila (H), guaiacila (G) e
siringila (S) em diferentes proporções (BUDZIAK, 2004).
Uma das classificações possíveis para a lignina é estabelecida em função das
espécies vegetais e dos padrões aromáticos de substituição, como segue (LINO,
2015):
11
- Lignina de Coníferas: São mais homogêneas, contendo quase que
exclusivamente unidades guaiacila (Ligninas-G);
- Ligninas de Folhosas: Apresentam quantidades equivalentes de grupos
guaiacila e siringila, e pequenas unidades p-hidroxifenila (Ligninas-GS);
- Ligninas de Gramíneas: Apresentam maior quantidade de unidades p-
hidroxifenila que o encontrado em madeiras (coníferas ou folhosas), mas sempre em
proporção menor que as outras unidades (Ligninas-GSH).
A composição estrutural da lignina é uma característica importante a ser
considerada na seleção de madeira para manufatura (BOSE et al., 2009). No caso da
polpação Kraft da madeira, o objetivo deste processo é desconstituir a estrutura da
lamela média da parede celular, formada principalmente por lignina, e assim,
individualizar as fibras. Durante este processo, grande parte da lignina e das
hemiceluloses presentes nas paredes das fibras é removida e a elasticidade das fibras
individualizadas aumenta. Esta remoção ocorre com o auxílio de produtos químicos,
tais como hidróxido de sódio (NaOH) e sulfeto de sódio (Na2S), que reagem com a
lignina, fragmentando-a em substâncias de baixa massa molar que se solubilizam na
solução alcalina e que podem ser removidas das fibras por inúmeras etapas de
lavagem. A polpa ou pasta celulósica resultante da polpação tem a coloração marrom
que é devida, principalmente, a pequenas quantidades de lignina que não foram
removidas das fibras, chamada agora de lignina residual. Com o objetivo de obter
polpas totalmente brancas, é necessário a remoção dessa lignina, através de um
processo químico denominado branqueamento (TUTUS et al., 2010).
Alguns parâmetros como número Kappa e brilho da polpa de celulose são
determinados durante o processamento, uma vez que o número Kappa indica o grau
de deslignificação ou a quantidade de lignina residual que persiste na polpa após a
etapa de cozimento, sendo esta estimativa fundamental para a quantificação do
consumo de reagentes nos processos de branqueamento, avaliação da qualidade da
madeira e da eficiência do processo de polpação (MARINHO et al., 2017).
O parâmetro brilho é definido como a capacidade da superfície de um papel em
refletir a luz. A refletância do papel é medida na região azul do espectro da luz. O
brilho é atribuído ao papel através da calandragem (processo de conformação de
materiais através de cilindros aquecidos de uma calandra) do mesmo (VIEIRA, 2007;
DIOGO, 2012).
12
2.3 Etapas de obtenção da polpa de celulose ou kraft da madeira
A produção de papel envolve um ciclo de atividades que se iniciam pela
produção de mudas das árvores, sendo que a espécie produzida varia de acordo com
a região, passando de plantio ao corte, por volta dos sete anos de cultivo (BRACELPA,
2014).
Após colheita das árvores plantadas, a madeira é descascada e picada em
pequenos pedaços, denominados cavacos. O descascamento é a primeira etapa do
tratamento dado à madeira, uma vez que a casca é indesejável como matéria-prima
na fabricação de celulose devido ao fato da casca impactar em perdas de rendimento
em outra etapa do processo, denominada polpação e consequentemente aumentar a
necessidade de reagentes em etapas sequenciais da obtenção da polpa celulósica. O
descascamento pode ser realizado com o auxílio de máquinas de colheita
especializadas ou na própria fábrica, sendo que em ambas as situações esta
operação consome muita energia, apresenta baixa eficiência e acarreta em grande
desperdício de madeira. Estudos sugerem a aplicação de enzimas como pectinase,
xilanase e glucanase na etapa de descascamento da madeira, entretanto esta ainda
trata-se de uma biotecnologia de difícil aplicação na prática (FOELKEL, 2013).
Na etapa seguinte, os cavacos são selecionados com o objetivo de uniformizar
a matéria-prima e remover lascas e serragens (IBÁ, 2016).
Na forma de cavacos, a madeira segue para a próxima etapa, denominada
polpação. O processo de polpação tem como objetivo modificar os materiais
lignocelulósicos pelo rompimento da estrutura da parede celular vegetal, removendo,
solubilizando ou despolimerizando a lignina, e assim facilitar a separação das fibras e
melhorar suas propriedades para a fabricação do papel (BRACELPA, 2014).
Os diferentes processos de polpação são classificados de acordo com os seus
rendimentos em polpa e com a forma de energia utilizada na separação das fibras,
sendo estes: mecânicos, químicos ou ainda uma combinação destes aliados à
utilização de energia térmica (DIOGO, 2012; KLOCK, 2013).
A utilização de energia mecânica fornece fibras inteiras, fibras danificadas,
pedaços e aglomerados de fibras e material fino sem estrutura. Ao utilizar energia
mecânica e energia térmica ou/e química, as fibras obtidas podem ser inteiras, assim
como danificadas e em pedaços. O emprego de apenas energia química gera fibras
inteiras, completamente individualizadas. Desta maneira, pode-se obter polpas
13
celulósicas de propriedades bastantes distintas devido às possibilidades de utilização
de métodos (KLOCK, 2013).
Os processos mecânicos são aqueles em que se é requerido um elevado
consumo de energia, com consequentes implicações nos custos operacionais. Os
equipamentos tipicamente empregados neste processo são Moinho de Bolas, Moinho
de Rolos e Extrusora, com os quais a madeira é prensada e reduzida a uma pasta
fibrosa denominada “pasta mecânica” (CASTRO, 2009; DIOGO, 2012). Ao tratara
madeira com energia térmica, através de vaporização a temperaturas de até 130 ºC,
com consequente amolecimento da madeira, e posterior desfibramento mecânico,
uma menor quantidade de energia mecânica é necessária, sendo assim o processo
denominado termo-mecânico (KLOCK, 2013).
Em relação aos processos químicos, diz-se que estes envolvem a separação
das fibras através da ação de reagentes químicos em condições específicas de
temperatura, pressão, tempo e concentração, que atuem principalmente sobre a
lignina. Os processos químicos podem ser alcalinos (soda e kraft) ou ácidos (sulfito)
(DIOGO, 2012). O processo com sulfito, submete os cavacos de madeira à uma
mistura de ácido sulfuroso e íons bissulfito a uma pressão de 6,1 a 7,5 ATM e
temperatura de 125 a 160 ºC por um período de 6 a 12 horas (CASTRO, 2009).
No processo de polpação alcalina, o agente deslignificante é o hidróxido de
sódio (NaOH). Neste processo se obtém rendimento menor e qualidade inferior da
polpa celulósica, que é menos resistente, quando comparados ao processo Kraft.
Essas desvantagens são atribuídas ao tempo de deslignificação excessivamente
longo, às altas temperaturas e concentrações de NaOH para a produção de polpas
que possam ser branqueadas posteriormente. No processo kraft, utiliza-se NaOH
conjuntamente com o sulfeto (Na2S) como agentes deslignificantes (KLOCK, 2013).
A polpa obtida no processo de polpação apresenta coloração escura devido à
presença de lignina residual. Para a obtenção de polpas totalmente brancas, é
necessário remover os resíduos persistentes através do processo de branqueamento
(KLOCK, 2013).
O processo de branqueamento é realizado em diversas etapas e pode envolver
agentes oxidantes como cloro, hipoclorito de sódio ou de cálcio, dióxido de cloro,
peróxido de hidrogênio, ou agentes redutores como o hidrossulfeto de zinco. Tal
processo visa garantir a obtenção de polpas de alvuras elevadas, com mínima
degradação da celulose (KLOCK, 2013).
14
Após o branqueamento, a celulose encontra-se bastante diluída em água e
desta forma faz-se necessária a etapa de secagem. A operação é realizada com o
intuito de obter-se a concentração no produto de 90% de fibras e 10% de água. A
etapa de secagem pode ser realizada por cilindros secadores e após isto, o papel
deve ser acondicionado de maneira a ser enviado para transporte ao mercado
consumidor (KLOCK, 2013).
A figura 7 representa de forma esquemática todas as etapas do processo de
fabricação de papel.
Figura 7 Esquema do processo de obtenção de papel a partir da madeira.
15
2.4 Processo kraft e branqueamento na indústria de papel
2.4.1 Polpação
Para a obtenção do papel, são utilizadas essencialmente as fibras de celulose,
seja através de métodos mecânicos ou químicos para separá-las dos demais
constituintes da madeira e formar uma massa celulósica denominada polpa. Entre os
processos químicos de polpação, o mais utilizado é o Kraft, que representa mais de
80% da produção anual mundial de polpas celulósicas, e atualmente é considerada a
metodologia melhor estabelecida (D’ALMEIDA, 2013).
No processo de polpação, inicialmente eram utilizadas madeiras originária da
Escandinávia, sendo que o primeiro papel foi obtido na Suécia, no final do século XIX,
mais precisamente em 1885. Este papel apresentava características de maior
resistência, sendo então denominado “processo Kraft”, pela derivação da palavra
sueca para o conceito de resistência. O método para obtenção do papel Kraft objetiva
melhorias das propriedades de resistência da polpa. Em suma, o processo Kraft
dissolve a lignina, agente ligante das fibras na madeira, na busca de liberar as fibras
com a menor degradação possível dos carboidratos celulose e hemicelulose
(CASTRO SILVA, 2001).
Para a obtenção da polpa Kraft, os cavacos obtidos são selecionados e
submetidos à etapa de cozimento, que é realizada em digestores mantidos a altas
pressões e temperaturas (varia de 160 a 180 ºC), na qual são empregados o hidróxido
de sódio (NaOH) e o sulfeto de sódio (Na2S) como agentes ativos na reação
(D’ALMEIDA, 1988). Esses reagentes fragmentam a lignina, quebrando-a em
substâncias de baixa massa molecular, solúveis na solução alcalina, podendo então
ser removidas das fibras por inúmeras etapas de lavagem, que tem como objetivo
separar as fibras e o licor negro (solução residual de coloração marrom escuro,
impregnado com lignina, hemiceluloses, resinas, haletos orgânicos, ácidos graxos e
outros compostos solubilizados durante o cozimento) para que esse último possa ser
encaminhado para o processo de recuperação de insumos químicos e energia,
enquanto as fibras são enviadas para a etapa seguinte (IPPC, 2015). A etapa de
polpação Kraft está demonstrada na figura 8.
O processo Kraft resulta em uma polpa com elevada qualidade. Entre as
vantagens deste processo estão à possibilidade de adaptação a diversos tipos de
madeira e a produção de polpas de alta qualidade com alta resistência
(VASCONCELOS, 2005).
16
2.4.2 Biopolpação
A biopolpação é um tipo de pré-tratamento de biomassa lignocelulósica que
promove a deslignificação de material celulósico através da ação de exoenzimas
ligninolíticas produzidas ''in situ'', que é normalmente realizado por fungos que
crescem em material sólido ligninolítico ou em fermentação de processo sólido. Estas
enzimas agem sobre o substrato sólido, quebrando as ligações químicas da molécula
de lignina (SOCCOL, 2017). Na situação mais clássica, o reator biológico é a própria
pilha de cavacos, ou eventualmente, um silo de cavacos com condições de aeração,
umidade e temperatura (FOELKEL, 2013).
O fungo aplicado na biopolpação é selecionado de acordo com sua atividade
enzimática, com baixa ou nenhuma atividade celulásica para preservar a celulose da
amostra. Isso leva preferencialmente à digestão da lignina que está presente na
parede celular vegetal. Devido a estas condições, a biopolpação produz pasta de
celulose exigindo menos produtos químicos e energia quando comparado a um
processo severo como o químico ou mecânico convencional. Além disso, a
biopolpação melhora o rendimento da recuperação de celulose e qualidade da fibra
de papel (SOCCOL, 2017).
O tempo de biotratamento da pilha de cavacos inoculada com fungo costuma
ser de 8 a 30 dias. Esta inoculação pode ocorrer de duas maneiras:
- Com micelas maceradas do fungo que são colocadas em suspensão aquosa e
aspergidas sobre os cavacos (0,1 a 0,3% de inóculo base peso seco de cavacos);
- Com cavacos pré-tratados em tanque, também denominado de “por semente”. É
realizada distribuindo os cavacos inoculados sobre cavacos não inoculados
(FOELKEL, 2013).
2.4.3 Branqueamento
A etapa de branqueamento consiste em um tratamento físico-químico dividido
em duas etapas principais: adição dos reagentes químicos e, após a ação destes, a
etapa de lavagem da polpa (MARINS, 2012).
O processo de branqueamento sofreu um desenvolvimento significativo nos
últimos dois séculos. No século XIX predominou um processo baseado na aplicação
de apenas um composto químico: o hipoclorito. Em meados de 1920 iniciou-se o uso
de cloro como agente de branqueamento, seguido de um estágio de extração alcalina
17
para remoção da lignina oxidada, conhecido como CEH, onde: C - Cloro, E - Extração
alcalina e H - Hipoclorito, que foi o procedimento de branqueamento padrão até
meados dos anos 70. Este processo consiste em submeter a polpa obtida após a
etapa de polpação ao tratamento alcalino (pH em torno de 11), com ação de agentes
químicos (cloro, hipoclorito de sódio ou de cálcio, dióxido de cloro, peróxido de
hidrogênio, ou agentes redutores como o hidrossulfeto de zinco), sob valores de
temperatura variando entre 55 – 70 ºC. Nestas condições, ocorre a remoção de lignina
residual e fragmentos de casca da polpa, resultando assim na obtenção de um maior
grau de alvura e qualidade final da mesma. Com isso, o processo de branqueamento
interfere diretamente no valor comercial de polpa (DYER, 2004; CASTRO SILVA,
2001).
A água residual eliminada após a etapa de lavagem no branqueamento contém
substâncias organocloradas, de grande potencial contaminante ao meio ambiente e
alta resistência à degradação microbiana. Proporcionalmente ao aumento de
produção de polpa de celulose pelas indústrias, os efeitos da poluição foram tornando-
se cada vez mais evidentes. As fábricas que utilizavam cloro e/ou hipoclorito de sódio
como agentes de branqueamento, passaram a eliminar cada vez mais níveis elevados
destes compostos nos cursos de água (DYER, 2004). Na década de 60, estudos
associaram a presença de dioxinas e compostos organoclorados nos efluentes a
efeitos tóxicos, mutagênicos e carcinogênicos (POKHREL et al., 2004; BAJPAI, 2015).
A figura 8 representa esquematicamente as etapas de polpação e
branqueamento na indústria de papel, descritas anteriormente.
18
Figura 8 Processo Kraft e branqueamento na indústria de papel.
Alguns estudos têm relatado esforços significativos para remover esses
organoclorados dos efluentes. Desde então se buscou alternativas para eliminar a
utilização de cloro elementar em sequências de branqueamento ECF (“Elemental
Chlorine Free”) ou a eliminação total de cloro em sequências TCF (“Totally Chlorine
Free”), através da utilização de oxigênio, peróxido de hidrogênio ou ozônio como
substituintes (BAJPAI, 2015).
Assim, nas últimas décadas as sequências ECF tornaram-se o estado da arte
do branqueamento. Apesar de estabilizada a utilização de reagentes de
branqueamento em sequências ECF ou TCF, a Biotecnologia surgiu como uma
possível alternativa de branqueamento, empregando enzimas (BEG et al., 2001;
DHIMAN et al., 2008; GARG et al., 2011; LIN et al., 2013; GANGWAR et al., 2014;
BAJPAI, 2015).
É sabido que enzimas apresentam vantagens em relação aos processos
químicos e isto se deve ao fato de reações bioquímicas apresentarem uma menor
energia de ativação, em geral, necessitam de menor tempo de reação e menor
agressividade sobre a polpa celulósica. Quando aplicadas de forma adequada, as
enzimas possibilitam a redução de custos, e consequente aumento do valor agregado,
sendo muitas vezes superiores às alternativas convencionais nos aspectos de
matéria-prima, consumo de energia, rendimento e qualidade (SKALS et al., 2008).
Além disso, as enzimas são consideradas ambientalmente corretas, uma vez que são
biocatalisadores (GANGWAR et al., 2014).
19
2.5 Uso de enzimas xilanase na indústria de papel e celulose
Sabe-se há muito tempo do papel fundamental das enzimas em diversos
processos de produção, como na fabricação de alimentos como pão, vinho, queijo,
etc. Nas últimas décadas, a Biotecnologia – incluindo os processos enzimáticos –
surge como uma alternativa importante, ou suplementar aos processos químicos em
uma vasta gama de setores industriais (POLIZELI et al., 2005).
Nas últimas décadas, é notável o crescente interesse das indústrias por
enzimas que promovam a degradação do xilano. Os micro-organismos, como os
fungos, são fontes promissoras de enzimas, dentre as quais as xilanases apresentam
grande possibilidade de aplicação em processos biotecnológicos (MOTTA et al.,
2013).
Uma significativa aplicação da enzima xilanase está na indústria de celulose e
papel. Devido a necessidade de expansão de oferta de produtos livres de cloro, as
indústrias de papel adotaram as enzimas como uma ferramenta versátil. Com isso, as
xilanases têm sido amplamente utilizadas, uma vez que o efeito do agente de
branqueamento é substancialmente aumentado após o pré-tratamento da pasta,
permitindo assim uma redução de até 25 % do volume do produto clorado
originalmente empregados. Consequentemente, ocorreu uma diminuição proporcional
na geração de efluentes clorados (BAJPAI, 2006).
O grande desafio na utilização de enzimas em processos industriais é garantir
a estabilidade às enzimas um máximo desempenho. Enzimas podem ser
desnaturadas pelas mudanças bruscas em temperatura, pH, condutividade e pressão.
Também podem ter seu efeito inibido na presença de reagentes químicos agressivos
às suas moléculas (oxidantes e redutores fortes como dióxido de cloro, dióxido de
enxofre, peróxido de hidrogênio) (FOELKEL, 2013).
2.5.1 Xilanases
As enzimas xilanases pertencem à família das glicosilhidrolases (GH), que
catalisam a hidrólise das ligações 1,4-β-D-xilosídicas da cadeia principal do xilano
(COLLINS et al., 2005; ZHANG et al., 2012). As principais enzimas envolvidas na
degradação do xilano são classificadas em endoxilanases ou endo-β-xilanases (EC
3.2.1.8), e hidrolisam as ligações glicosídicas internas da cadeia da xilana, liberando
xilobioses e que são degradadas pelas enzimas β-xilosidases (EC 3.2.1.37), liberando
20
monossacarídeos de xilose (POLIZELI et al., 2005; ALVES-PRADO et al., 2010).
Ainda, outras enzimas também são requeridas para a completa despolimerização do
xilano, dentre elas as β-xilosidases (EC 3.2.1.37), α-L-arabinofuranosidases (EC
3.2.1.55), α-glucoronidases (EC 3.2.1.1), acetilxilanaesterases (EC 3.1.1.72), ácido
ferúlicoesterases (EC 3.1.1.73) e ácido ρ-cumáricoesterases (EC 3.1.1 x.) (MARTINS
et al., 2011; WONGWISANSRI et al., 2013).
As enzimas α-L-arabinofuranosidases (EC 3.2.1.55) atuam nas cadeias laterais
do xilano removendo as ramificações de L-arabinose, enquanto as enzimas α-
glucoronidases (EC 3.2.1.131) hidrolisam as ligações glicosídicas α(1→2) entre
ácidos glucurônicos ou de ésteres metílicos. Por fim, as acetilxilanaesterases (EC
3.1.1.72) e ácido ferúlicoesterases (EC 3.1.1.73), removem grupos acetil e ácidos
fenólicos, respectivamente (POLIZELI et al., 2005).
A hidrólise do xilano pelas xilanases facilita a liberação de lignina da polpa, que
melhora o brilho, as propriedades da polpa, reduz o número kappa, e
consequentemente reduz o uso de cloro (MOTTA et al., 2013). A hidrólise completa
do xilano por micro-organismos ocorre através de um aparato enzimático, de enzimas
com funções especializadas, denominado sistema xilanolítico, representado na figura
9.
Figura 9 Enzimas xilanolíticas envolvidas na degradação do xilano (adaptado de CARVALHO, 2003).
As enzimas de origem microbiana são mais interessantes no segmento
industrial, por serem produzidas em breve período de tempo e em quantidades
elevadas (ANBU et al., 2015). Dentre os micro-organismos produtores de xilanase, os
fungos filamentosos são especialmente interessantes, pois se destacam devido à sua
grande facilidade de cultivo e por secretarem suas enzimas diretamente no meio de
produção, não sendo necessária assim a ruptura celular para sua liberação.
21
Adicionalmente, apresentam elevados níveis de produção enzimática, com potencial
para inúmeras aplicações industriais (NASCIMENTO et al., 2014; KUMAR et al. 2017).
Entre os fungos produtores de xilanase estão os dos gêneros: Aspergillus,
Coniothyrium, Disporotrichum, Penicillium, Thermomyces, Neurospora, Fusarium,
Neocallimastix, Trichoderma (BAJPAI, 2015). Na tabela 1 estão apresentadas
propriedades das xilanases oriundas de algumas das espécies de fungos estudados
ao longo dos anos.
2.6 Aplicação de xilanases em biobranqueamento
A adição de hemicelulases à polpa durante o branqueamento foi
essencialmente o primeiro passo da utilização de enzimas como ferramentas
tecnológicas eficientes que podem ser adicionadas a plantas industriais existentes
sem grandes investimentos. A utilização de enzimas degradadoras do xilano ganhou
importância nas últimas duas décadas devido à sua aplicação no pré-branqueamento
da polpa kraft (COLLINS et al., 2005; POLIZELI et al., 2005).
Durante a Terceira Conferência Internacional sobre Biotecnologia na Indústria
de Polpa e Papel de 1986, em Estocolmo, foi apresentado o primeiro registro sobre a
possibilidade da xilanase aumentar o branqueamento de polpa Kraft. Na ocasião foi
relatado o uso de xilanase no branqueamento que resultou na redução do consumo
de cloro e, desde então, novas investigações têm sido realizadas com essa enzima
(VIIKARI et al., 1986; MANDAL, 2015).
O biobranqueamento da polpa com xilanases, uma técnica que proporciona a
redução do volume de cloro empregado no processo de branqueamento, promove a
remoção do xilanoligado ao complexo lignina-carboidrato facilitando a lixiviação da
lignina (BAJPAI, 2006).
Apesar dos recentes desenvolvimentos no campo, mecanismos enzimáticos no
processo de branqueamento da polpa ainda não são totalmente compreendidos
(BAJPAI, 2015), entretanto, é sabido que o número kappa, que reflete o teor de lignina
da polpa, é diminuído durante os tratamentos com xilanases. Isto sugere que as
xilanases contribuem para a deslignificação das polpas; ou ainda, sugere-se que
enzimas xilanases podem agir removendo ácido hexenurônico, um componente
encontrado no xilano que é formado durante a polpação alcalina. Dependendo do tipo
de polpa, um ou ambos mecanismos podem contribuir para os efeitos de
branqueamento observados (HENRIKSSON et al. 2009).
22
Três hipóteses têm sido descritas com o intuito de esclarecer este mecanismo
e encontram-se representadas na figura 10.
A primeira hipótese sugere que as xilanases atuam sobre o xilano precipitado
na lignina (VIIKARI et al., 1986; VIIKARI et al., 1994). Este xilano se precipita na lignina
devido a diminuição do pH no final do passo de aquecimento e funciona como um
obstáculo para produtos químicos para penetrar na fibra. A remoção deste xilano pelas
xilanases levaria a uma maior exposição da lignina aos compostos utilizados no
branqueamento da polpa de papel (POLIZELI et al., 2005; HENRIKSSON et al., 2009).
A segunda hipótese baseia-se na capacidade da lignina formar complexos com
polissacarídeos como o xilano, tornando algumas das ligações resistentes ao álcali e
deixando algumas das ligninas não hidrolizadas durante o processo de polpação Kraft
(BUCHERT et al., 1992). Assim, as xilanases poderiam clivar as ligações entre a
lignina e xilano, melhorando assim a acessibilidade à estrutura da pasta de celulose,
o que leva à fragmentação e subsequente extração de fragmentos de xilano (PAICE
et al., 1992; HENRIKSSON et al., 2009).
A última hipótese é referente aos ácidos hexenurônicos, que são formados
durante a polpação alcalina pela modificação dos ácidos 4-O-metilglicurônicos
presentes nas xilanas. As condições de polpação que mais influenciam o conteúdo de
ácidos hexenurônicos na polpa são álcali ativo, sulfidez e temperatura. O tratamento
com xilanase remove regiões que contêm os ácidos hexenurônicos, desse modo, o
consumo de compostos químicos de branqueamento seria diminuído (HENRIKSSON
et al., 2009; VENTORIM et al., 2009).
23
Figura 10 Três hipóteses de mecanismo da enzima xilanase a) O xilano precipitado na superfície da fibra impede a entrada de produtos químicos na fibra. A ação da xilanase é remover parcialmente a camada de xilano e abre poros para produtos químicos de branqueamento; b) A lignina encontra-se ligada covalentemente ao xilano, formando um complexo que é clivado por xilanases; c) Xilanase remove regiões do xilano que contém ácido hexenurónico, diminuindo o consumo de agentes químicos de branqueamento (Fonte: adaptado de Henriksson et al. 2009).
Além disso, outras hemicelulases, tais como peroxidases, lacases, esterases,
galactosidases e esterases de ácido ferúlico, também são relatadas como auxiliares
no processo de branqueamento de polpa de celulose juntamente com xilanases
(POLIZELI et al., 2005). Enquanto as lipases são geralmente aplicadas durante o
processamento do papel, xilanase e lacase são mais comumente empregadas nos
processos de branqueamento e deslignificação (DEMUNER et al., 2011). Os
benefícios do tratamento enzimático incluem redução de custos operacionais, redução
de poluentes orgânicos, melhorias no brilho e propriedades da polpa, redução do
número de kappa e aumento do rendimento de fibras (GANGWAR et al., 2014).
As enzimas com propriedades bioquímicas compatíveis podem permitir uma
remoção mais eficaz da lignina durante as fases de polpa e branqueamento e reduzir
o uso de produtos químicos oxidantes. Além disso, ao melhorar as propriedades da
polpa branqueada, o tratamento enzimático leva a uma série de melhorias no
processo de produçãode celulose, incluindo menos geração de águas residuais, e
consequentementemenor toxicidade (ALI et al., 2001; MARTINS et al., 2014).
Atualmente, um número significativo de indústrias de celulose e papel na Europa,
América do Norte, América do Sul e Japão usam enzimas em seus processos de
24
produção. A América do Norte já melhorou o processamento de 2,5 milhões de
toneladas de celulose utilizando xilanase nas etapas de pré-branqueamento
(NGUYEN et al., 2008).
Estudos têm relatado as características bioquímicas da xilanase de fungos,
como pH e temperatura, bem como as condições de cultivo das enzimas que estão
relacionadas ao período de tratamento e polpa empregada. Ainda, encontram-se
relatados os parâmetros obtidos para esta somatória de fatores, tais como número
kappa, eficiência kappa e brilho da polpa. A indústria de papel e celulose necessita
principalmente de xilanases que apresentem estabilidade em temperaturas elevadas
e pH alcalino. Com isso, vários estudos têm sido realizados em busca de enzimas
para aplicação nesse segmento industrial (WALIA et al., 2015).
Outras propriedades também são vislumbradas às xilanases com potencial
para aplicação na indústria de papel e celulose, tais como não apresentar atividade
celulásica para evitar a hidrólise das fibras de celulose, e possuir baixa massa
molecular para facilitar sua difusão nas fibras da polpa. É fundamental ainda, que a
enzima empregada no processo apresente resultados relacionados à alta
produtividade do produto a ser obtido, sem representar o aumento do custo para a
indústria. Dados sobre a potencial utilização de xilanases fúngicas em processos de
branqueamento e de polpação foram compilados a partir de artigos publicados e estão
resumidos na Tabela 2.
25
Tabela 2 Propriedades de xilanases fúngicas com potencial para uso no branqueamento de polpa.
Fungo Xilanase
(U/g polpa)
pH Temperatura
(ºC)
Tempo de Tratamento
(h)
Número Kappa
(Un. Kappa)
Efeciencia kappa (%)
Brilho (%)
Tipo de polpa Referência
Aspergillus flavus 11 6,5 55 2 8,89 36,32 NR Polpa de Celulose de Eucalyptus DE ALENCAR GUIMARAES et al., 2013.
Aspergillus fumigatus 10 5,0 – 5,5 70 1 6,8 11,7 NR Polpa de Celulose de Eucalyptus PEIXOTO-NOGUEIRA, et al., 2009.
Aspergillus flavus 12 6 50 2 13,5 25,2 48,3 Polpa de Celulose de Eucalyptus KUMAR, 2017
Aspergillus japonicus 10 5,2 50 3 11,6 25,93 57,7 Polpa de Celulose de Eucalyptus DE ALENCAR GUIMARAES et al., 2013.
Aspergillus niger 10 6,5 55 2 10,34 14,9 NR Polpa de Celulose de Eucalyptus DE ALENCAR GUIMARAES et al., 2013.
Aspergillus niger 35 5,5 55 2 7,4 NR 59,6 Polpa de Celulose de Eucalyptus BETINI et al., 2009.
Aspergillus niger 5 7 50 4 4,8 39,6 70,8 Polpa de Celulose MEDEIROS et al., 2007.
Aspergillus niveus 10 4,5 – 5,0 65 1 7,1 20,7 58,1 Polpa kraft de celulose de Eucalyptus PEIXOTO-NOGUEIRA et al., 2009.
Aspergillus niveus 35 5,5 55 2 6,9 20,7 59,6 Polpa de Celulose BETINI et al., 2009.
Aspergillus ochraceus 35 5,5 55 2 6,9 36,4 58,9 Polpa de Celulose BETINI et al., 2009.
Aspergillus ochraceus 10 5 65 1 7,5 14,3 57,1 Polpa de Celulose MICHELIN et al., 2009.
Aspergillus terricola 10 6,5 60 1 6,6 NR 60,3 Polpa de Celulose de Eucalyptus MICHELIN et al., 2009.
Penicillium corylophilum 5 7 50 4 4,9 NR 73 Polpa kraft de celulose de Eucalyptus MEDEIROS et al., 2007.
Penicillium crstosum 25 5,5 50 2 9,77 NR NR Polpa kraft de celulose de Eucalyptus SILVA et al., 2016.
Penicillium janczewskii 2 5,5 50 1 <3 NR NR Polpa Kraft de Eucalyptus TERRASAN, et al, 2013.
Thermomyces lanuginosus 40 7,0 – 7,5 70 - 75 1 NR NR 66,91 Polpa de palha de Trigo LI, et al, 2005.
Thermomyces lanuginosus M7 10 8 65 01:30 10,5 NR 46,5 Polpa de palha de Trigo BOKHARI, et al, 2010.
Thermomyces lanuginosus SSBP 50 6,5 50 3 9 NR 46,1 Polpa de bagaço de cana-de-açúcar MANIMARAN, et al, 2008.
Trichoderma longibrachiatum 5 7 50 4 4,3 36,32 71,6 Polpa kraft de celulose de Eucalyptus MEDEIROS, et al, 2007.
Trichoderma viride 10 6 60 1 12,99 11,7 NR Polpa Kraft de Eucalyptus FORTKAMP, et al, 2014.
NR: Não reportado.
26
Pode-se observar na tabela 2 os resultados obtidos sobre branqueamento de
polpa de celulose/Kraft de Eucalyptus ou de palha de trigo realizados com xilanases
obtidas de origem fúngicas (mesofílicos e termofílicos). A polpa de Eucalyptus está
entre uma das matérias-primas mais empregadas na produção de papel e celulose,
enquanto a palha de trigo representa uma fonte de matéria-prima alternativa, sendo
uma opção economicamente interessante e de fácil obtenção. Ainda, Manimaran e
colaboradores (2008) utilizaram a polpa de bagaço de cana-de-açúcar em seu
experimento. Para o estudo realizado com a palha de milho e com a polpa de bagaço
de cana-de-açúcar, observa-se a necessidade de maiores concentrações de enzimas
(40 e 50 U/g polpa, respectivamente), entretanto em relação à concentração de
enzimas utilizada nos diferentes estudos, não foi possível estabelecer uma ligação
entre este parâmetro e demais características obtidas no produto final.
Observa-se ainda que algumas xilanases produzidas por fungos mostraram
atividade enzimática ótima em temperaturas mais elevadas, como as dos fungos
Thermomyces lanuginosos (70 -75 ºC) e Aspergillus fumigatus (70 ºC), porém a
maioria das xilanases de fungos mesofílicos apresentaram temperatura na faixa de 50
a 55 ºC.
Verificou-se que temperaturas mais elevadas estão associadas a tempos
menores (01 hora) de tratamento com xilanases, o que representa processos mais
rápidos de branqueamento, conforme resultados descritos por Li et al. (2005), Peixoto-
Nogueira et al. (2009), Bokhari et al. (2010). Tempo de tratamento menores,
associados ao desempenho enzimático desejável (temperatura e pH elevados),
podem representar a otimização de recursos à indústria, e consequentemente,
economia. Em oposição, atividades de xilanases com temperaturas mais baixas (50 –
55 ºC) e pH entre ácidos e neutros (5,0 - 6,5), necessitaram de mais tempo de
tratamento enzimático (2 a 4 horas) para atingir um valor razoável de brilho ou para
alcançar número kappa menor.
De acordo com as propriedades da enzima, o pH neutro ou alcalino influenciou
na melhoria do branqueamento da polpa de celulose, pois resultaram no aumento do
brilho, conforme exibido nos resultados de Medeiros et al. (2007) com brilho de 70,8
% em pH 7,0. Do mesmo modo, as xilanases com pH ótimo 7,0 oriundas do fungo
Penicillium corylophilum e Trichoderma longibrachiatum, apresentaram brilho de 73 e
71,6 % respectivamente (Medeiros et al., 2007). Segundo estes mesmos autores o
valor para o parâmetro brilho representa a qualidade do produto obtido, pois quanto
maior este índice, maior o valor agregado ao produto final.
27
Portanto, a xilanase que atenda os processos desse segmento industrial,
deverá apresentar atividade enzimática em temperaturas elevadas e pH neutro ou
alcalino, para obter um alto valor de brilho e redução do kappa. Associado a isso ainda,
menor tempo de tratamento e concentrações de xilanase representam uma condição
ideal de aplicação dessa enzima no tratamento de polpa na indústria de papel e
celulose.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vários estudos têm sido conduzidos nas últimas décadas em busca de
alternativas viáveis, do ponto de vista econômico, tecnológico e ambiental, para
substituir ou minimizar o uso de produtos químicos pela indústria papeleira, em
especial na etapa de branqueamento convencional. A utilização de substâncias
organocloradas neste processo, embora já estabelecida, gera resíduos altamente
tóxicos e contaminantes ao meio ambiente, trazendo prejuízos aos ecossistemas.
Diante disso, o emprego de tecnologia enzimática tem se apresentado como uma
alternativa promissora às questões ambientais relacionadas às tecnologias
convencionais. Vários estudos têm demonstrado resultados significativos devido a
ação de enzimas xilanolíticas isentas de atividade celulásica na etapa de
branqueamento de polpa celulósica, kraft ou palha de resíduos agrícolas. Embora o
mecanismo de ação das xilanases ainda não esteja completamente elucidado, é
constatado que o teor de lignina da polpa foi diminuído durante os tratamentos com
essas enzimas, o que torna esta enzima uma ferramenta interessante a ser
implementada para obtenção de polpa celulósica. As características bioquímicas de
atividade enzimática das xilanases como estabilidade ao pH neutro ou alcalino e
temperaturas elevadas influenciaram no aumento do brilho, eficiência kappa das
polpas de celulose obtidas na etapa de branqueamento da polpa kraft. Assim, estudos
que exploram e acrescentam melhorias na cadeia produtiva para obtenção de polpa
kraft pela indústria, através do uso de processos enzimáticos, serão sempre
relevantes principalmente pela redução da descarga de material contaminante em
efluentes.
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