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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DO
EDUCANDO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO 1º SEGMENTO
Por: Virgínia Márcia Paz da Silva
Orientador
Profª.: Mary Sue de Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DO
EDUCANDO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO 1º SEGMENTO
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Educação Inclusiva.
Por Virgínia Márcia Paz da Silva
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AGRADECIMENTOS
Meu especial agradecimento a Deus, pela oportunidade de voltar
a estudar.
Aos meus pais Sebastião Dantas (in memorian) e Mª Regina. Pela
construção do caráter e amor. Meu pai, obrigada por conduzir-me até aqui,
fortalecendo-me, dando-me Graça
Ao meu esposo que abdicou todos os sábados do ano de 2009,
para levar-me e trazer-me, ajudando-me nas tarefas escolares..
Ao meu neto Luan que nos acompanhou aos encontros e nos fez
companhia.
Aos parentes e amigos e em especial Sebastiana Rosa da Silva
que sempre me incentivou e emprestou seu material de pesquisa.
A minha querida mestra, incentivadora e orientadora Professora
Mary Sue.
Mas, com tudo isso, foi a partir de uma dúvida, um desejo de
entender o que se passa com cada aluno que recebo no início do ano, que
retornei. Aprendi o que é uma “Educação Inclusiva”, onde os direitos são para
todos, mas precisamos tornar realidade esta Acessibilidade e Respeito ao
próximo com suas diferenças.
Somos iguais, pelas nossas diferenças.
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais Sebastião Dantas (in
memorian) e Mª Regina. Ao meu querido
esposo, aos meus amáveis filhos noras e
netos; aos alunos que fizeram essa diferença,
amo todos vocês...
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RESUMO
A partir das diversas indagações e observações que o tema sugere. A
pesquisa aborda: Família, sentimento de impotência - ao receber a notícia de
surdez do filho(a), - direitos, reformulação de valores, desafios (luta por
processo educacional que atenda as necessidades do educando) e a escola
como articulador, facilitador e mediador da construção de aprendizagem. Todo
processo irá culminar numa valorização da escola juntamente com a família na
perspectiva de formação do aluno.
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METODOLOGIA
Uma pesquisa bibliográfica, onde são utilizadas fontes de informações
que delineiam o trabalho da monografia.
O método utilizado é pesquisa, registros, entrevistas.
A abordagem deste tema tem como prioridade incentivar o professor
de sala de aula, a discutir sobre a importância da família, suas experiências e
suas contribuições na aprendizagem do educando.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – A importância da Família na aprendizagem do educando
com deficiência auditiva no 1º segmento 09
CAPÍTULO II – Como a família reagiu ao saber da deficiência auditiva
da criança 18
CAPÍTULO III – A importância da família na construção de aprendizagem 26
CONCLUSÃO 37
ANEXOS 39
BIBLIOGRAFIA 42
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
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INTRODUÇÃO
A presente pesquisa deve-se a observação feita ao longo desses oito
anos de trabalho com educação de surdos, e acompanhar de perto a trajetória
desses educandos.
Inicialmente o que chama atenção é o comportamento da criança em
sala de aula, totalmente perdido (a) ao iniciar seu convívio escolar.
Eles não são preparados ou incentivados para este momento. A
criança chega totalmente retraída ou sem limites.
Com o passar do tempo foi diagnosticado, que este comportamento
devia-se ao tratamento no seio familiar onde os pais tinham dificuldade em
comunicar-se com o filho, na maioria das vezes, não tinham interesse em
aprender, dizendo que em casa eles entendem de tudo, que conseguem
comunicar-se com outros familiares, que eles entendem os desejos do filho e,
esta dificuldade de aceitação e impotência diante do fato “surdez”, torna a
criança com deficiência auditiva um ser vulnerável totalmente só ou sem
limites; com enorme dificuldade em entender e aceitar regras.
Esse processo de impotência familiar, descrença, dor, angústia até
chegar à aceitação leva anos e, a união família – escola – educando, resulta
na Aprendizagem, na formação do cidadão e sua valorização.
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CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DO EDUCANDO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO 1º
SEGMENTO
É mais fácil construir um menino do que consertar um homem. Charles Chick Govin
A presente pesquisa tem como objetivo colaborar com a discussão e
reflexão sobre a interação da família com a escola, sem ter a pretensão de
esgotar o assunto. Aborda questões como o significado do conceito de família,
sua função social e os modelos nos quais se apresentam nos diferentes
momentos da história. Mudanças ocorridas no âmbito socioeconômico e
político, nos últimos 20 anos, têm um rebatimento importante sobre a família
brasileira. Na década de 1990, temos a aprovação de leis nacionais e
elaboração de diretrizes do Ministério da Educação, cujos conteúdos
evidenciam a importância da participação da família na escola. Pontuamos
alguns aspectos que influenciam na participação da família na escola e o
significado de participação.
A família constitui base para o desenvolvimento do ser humano.
Família s.f: Grupo social formado de pai, mãe, filhos conjuntos de todos
os parentes de uma pessoa especialmente os que moram com ela e sua
descendência.
A família é a base de sustentação na construção da aprendizagem e
uma forma de mediação entre o indivíduo e cultura. Os vínculos afetivos
inerentes á convivência familiar fazem com que a aprendizagem passe a fazer
parte do organismo, da mesma maneira que os ossos, sangue e músculo.
Cada organização familiar de forma a construir, por meio desses
relacionamentos primitivos uma adequação do indivíduo á realidade social. Os
relacionamentos familiares espelham o sistema social e o fazem formar uma
aprendizagem, de um sistema simbólico. A família é um acontecimento
10 simbólico, na medida em que nosso inconsciente não reconhece o parentesco.
Essa característica trás um grande número de problema nas relações
familiares e na aprendizagem do educando e cria as bases do vinculo social
simbólico.
No que tange à interface entre Estado e família na provisão da
educação, temos como importante marco na redemocratização do país a
promulgação da Constituição Federal de 1988, fruto de lutas da sociedade civil
organizada. A chamada Constituição Cidadã traz a noção ampliada de
educação realizando uma interface entre Estado e família na provisão da
mesma, representando um avanço no que concerne à Constituição de 1967,
que apregoava apenas como função estatal a provisão da educação quando
aprovada a insuficiência de meios da família e da sociedade para tal.
Como reflexo das lutas sociais na área de educação dos anos 80, temos
ainda a promulgação da nova LDB (1996), que, no entanto, reflete também a
política neoliberal brasileira. Em comparação com a LDB anterior, avança na
ampliação do conceito de educação, incluindo os processos formativos que
ocorrem nas várias instâncias sociais – como no trabalho e na educação.
Contudo, a questão orçamentária denota a preocupação no barateamento da
implantação da política educacional, e a flexibilização no financiamento da
educação abre brecha para investimentos privados que colocam essa política
setorial refém de empresas privadas demarcando os retrocessos da referida
lei.
A participação da família no ambiente escolar, assim como na provisão
da educação em parceria com o Estado, já proposta na Constituição Federal
de 1988, é reforçada tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
quanto na LDB, respeitando-se, é claro, os avanços e retrocessos da
preconização dessa participação.
Comparada com a Constituição de 88, a LDB mantém a interface entre
Estado e família, porém reverte a prioridade do dever de provisão da
11 educação, que passa a ser, em primeiro lugar, da família em detrimento do
Estado. Tal mudança reproduz uma visão política sobre a questão dos direitos
de transferência de responsabilidade, bem como de culpabilização da família,
já citada anteriormente.
Destarte, e tendo em vista a realidade do Estado mínimo que ocasiona a
transferência ao seio da família de questões de ordem pública para a privada,
faz-se necessária uma articulação dos usuários com os movimentos sociais,
visando formas de participação social e política, de modo a exercer o controle
social. É nesta medida que destacaremos a seguir a importância da
participação da família na gestão educacional.
Mesmo que a família opere no sentido da coletividade cada família tem
uma aprendizagem de acordo com linguagem usada entre seus componentes,
dessas singularidades que brotarão os conflitos que são formas de
apresentação das diferenças. Mesmo com a dificuldade na comunicação, de
pais ouvintes. É essencial para o desenvolvimento da criança surda a presença
dos pais.
Aprendizagem só flui sobre os registros que podemos distinguir do afeto
materno e paterno. O materno diz respeito ao aspecto da linguagem do
cotidiano onde serão apresentados através de estimulo, nome, sensações,
garantia de segurança, linguagem afetiva. O paterno diz respeito a uma fissura
entre a palavra e a ação através de exemplos para a realização de uma plena
aprendizagem.
A família é o espaço principal onde as pessoas apresentam como se
fosse real. Tanto pais deparam-se o evento freqüentemente trágico da incisão
que os filhos fazem em seus desejos, os filhos também passam pela mesma
diferença.
Na medida em que a família e aprendizagem constituem-se juntas as
vivências subjetivas serão expressas pelos acontecimentos da linguagem.
12 Podemos encontrar nos distúrbios, pistas de acontecimentos afetivos que
proporcionam atitudes e confusões no seio familiar.
Como nossa realidade social está em transformação, as famílias
seguem esse processo na medida em que sua função é representa o contexto
social. Conforme o tipo e subjetividade requerida pela sociedade atual calcada
no individualismo e em uma fragilidade que possibilite um incremento grande
do consumo. A unidade familiar está se dissolvendo em prol das relações
técnicas e tecnológicas. Aprendizagem que vai se inserindo nos corpos é de
natureza da formação informacional a comunicação passa a ser substituída por
um sentido superficial. A família é o primeiro núcleo de formação, informação e
aprendizagem do educando.
Formação: Ato ou efeito de formar, constituição de caráter, modo por
que se constitui um a mentalidade. Ex: rapaz de valor. teve boa formação.
Através da formação dos princípios que forem sendo ministrado por este
envolvimento familiar é que irá desenvolver-se a capacidade de aprender do
educando. Os princípios e valores: ética e moral vão determinar o futuro
emocional e afetivo deste indivíduo.
Informação: Ato ou efeito de informar (se), informe, fatos conhecidos ou
dados comunicados a cerca de alguém ou algo, tudo aquilo que por ter alguma
característica distinta pode ser apreendido, assimilado ou armazenado pela
mente humana.
A informação que é passada dia á dia no convívio familiar é que
determina a maneira, a socialização existente neste meio e como este
procedimento irá ou não facilitar sua trajetória.
Aprendizagem: Vem de aprender
O aprender constrói-se a partir de um conjunto: estimulo e ensino.
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À medida que está criança é levada a pensar.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou a sua construção”
Paulo Freire.
A família tem grande responsabilidade neste aspecto que é o de
proporcionar um ambiente saudável, horário de estudos determinar prioridades
acompanhar o processo de aprendizagem não esquecendo que, este
conhecimento só será benéfico para o educando quando constituir num fator
fundamental, na aquisição do aprender.
Ensino: transmissão de conhecimento, instrução.
Quando se trata da aprendizagem no âmbito da formação escolar vêem-
se constantes debates a respeito das formas mais adequadas para promover
as relações que permeiam o conhecimento. Percebe-se cada vez melhor a
sutileza com que se processa ensino aprendizagem.
A aprendizagem do educando só será completa e eficiente à medida
que a família proponha-se ajudar no processo político pedagógico da escola.
Juntando os saberes da família, sua participação e os conhecimentos da
escola que através de metodologias de trabalho facilitarão aprendizagem do
educando com deficiência auditiva.
A aprendizagem é um processo de desenvolvimento essencial ao ser
humano, não é estática porque acompanha a evolução é dinâmica e adaptável
a cada novo tempo que chega. Não obstante, são criadas modelos de se
aprender que permanecem por determinado período. As famílias e a escola
necessitam estar atentas ao momento que vive a sociedade e as demandas
educacionais. No eixo da aprendizagem, para adquirir-se o saber: qualidade –
quantidade - tempo, precisa-se respeitar o tempo que cada educando
14 necessita para assimilar os conteúdos, pois sua forma de interagir com o grupo
com o ambiente de sala de aula, suas expectativas, suas necessidades e
prioridades são outras, necessita inicialmente ter contato com sua L1.
Quantidade – O conteúdo deverá atender as necessidades do nível o
amadurecimento do aluno, para que haja uma compreensão e adequação.
Para que o tempo e a quantidade sejam bem aproveitados é fundamental a
qualidade. Qualidade que requer pesquisa. Todo o processo ensino-
aprendizagem necessita de investigação – diagnóstico – previsão. Investigação
sondagem do saber do educando e de que maneira será encaminhado o
aprendizado e de que maneira será encaminhado o aprendizado.
Feito o diagnóstico onde o profissional detecta as possíveis causas do
aluno (a) está naquele estágio do aprender, passa-se para pesquisa de
atividades que possam auxiliar seu processo social e durante séculos o mundo
tratou as crianças com deficiência auditiva como doentes que precisavam de
atendimento médico e não do poder acadêmico e institucional.
Essa perspectiva começou a mudar na década de 50, mas foi só em
1990 que as velhas idéias assistenciais foram suplantadas pela tese de
inclusão. Procurava-se garantir o acesso de todos à Educação. Documentos
como a Declaração Mundial de Educação para todos de 1990 e a Declaração
de Salamanca de 1994 são marcos desse movimento.
O rompimento com prática e conceito antigo marcou também o início de
trabalho de alguns pesquisadores que ao receber a criança surda depara-se
com uma realidade muito diferente do que está acostumada a presenciar.
Iniciam-se os desafios, fazer com que a criança sinta vontade de
permanecer na sala. Procurar entre todas as suas anotações, como tratar e
comunicar-se com este novo ser, que traz em sua bagagem muitas incertezas,
sinais domésticos e medo.
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Para que haja uma comunicação em Libras e satisfazendo e
cooperando com a aprendizagem, este profissional necessitará de uma
qualificação, onde aprenderá como deve atuar na frente de uma turma com
outra abordagem e com qualidade, pois a partir do momento que o aluno (a)
percebe este feed-back, entre ele e a professora, passa a existir um carinho,
uma vontade de aprender. Instalando-se esta segurança, o rendimento diário
torna-se agradável e compensador. Pois será através dessa comunicação
(Libras) que a professora fará explicação da matéria, leitura dos enunciados,
perguntas sobre o cotidiano, conversará informalmente sobre temas e
assuntos de interesse do educando.
O professor (a) deve lançar mão de recursos que levem o aluno à
motivação para que a aprendizagem ocorra realmente, de maneira eficaz. Será
possível ainda formar cidadãos éticos e interessados no saber? Os
professores estão sempre se perguntando sobre o que devem fazer para que
os alunos realmente aprendam.
O desafio de manter esta criança em sala de aula é diário, precisa ter
atividade que estimule seu intelecto e promova a integração entre outras
crianças. Para que finalmente aconteça a comunicação e a aprendizagem.
Motivação é a exposição de motivos, causas, animação, entusiasmo.
Através dessas definições podemos constatar que estar motivado é estar
animado, entusiasmado. Para isso é necessário ter motivos para se chegar a
esse estado.
Educação requer ação, e como resultado dessa ação, há o
aprendizado. Mas para que se realize a ação e esta resulte no aprendizado é
necessário inicialmente que haja vontade desse professor (a) em aprender
para ensinar.
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O professor (a) deve descobrir estratégias, recursos, fornecer
estímulos para que a criança sinta-se motivado a aprender. Seguem alguns
exemplos:
• Dar tratamento igual a todos os alunos.
• Aproveitar as vivências que o aluno já tem e traz para a escola,
no momento de montar o conteúdo, incluir temas que tenham
relação, isto é, que estejam ligados a realidade do aluno, a sua
história de vida, respeitando a sua referência social e familiar.
• Mostrar-se disponível para o aluno, ou seja, mostrar que ele
pode contar sempre com o professor (a), ser paciente e
compreensivo com o aluno, procurando elevar sua autoestima
respeitando e valorizando-o. Utilizar métodos e estratégias
variadas e propostas de atividades desafiadoras, mostrando-se
aberto e afetivo para com eles.
• Acolher o aluno e sua família, dar carinho e limites na medida
certa e no momento adequado, manter sempre um bom
relacionamento com o aluno e consequentemente um clima de
harmonia, fazer de cada aula um momento de reflexão.
• Ter expectativas positivas a cerca do aluno, saber ouvir, não
ridiculariza-lo jamais, amar muito o que faz e sua profissão de
educador, entendendo as diversidades as possíveis diferenças.
• Mostrar para o aluno (a) que ele (a) pode ser “diferente”, mas
pode fazer a “diferença”, isto é que ele (a) tem o seu lugar e o
seu valor no mundo; perceber que o professor pode fazer a
diferença para o aluno.
O professor deve ensinar o aluno a ser ético e crítico, mostrando a
ele que a crítica é boa, desde que feita de maneira adequada e que a ética é
fundamental em qualquer relacionamento humano, em qualquer ambiente:
familiar, social, escolar.
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Ambiente familiar – quando o aluno percebe que a família está
envolvida com seu aprendizado e lhe proporciona ferramentas para o seu bom
aproveitamento.
Ambiente social – que a criança possa freqüentar ambiente a que
venham enriquecer seu aprendizado: parques, cinemas, museus, casa de
avós, etc.
Ambiente escolar – que haja uma participação da turma na
flexibilidade do conteúdo e valorizações dos conhecimentos: costumes,
hábitos, culturas onde eles possam opinar, discutir, relatar, pesquisar e tornar a
aprendizagem mais rica.
A escola precisa estreitar as relações com os pais, mas não pode
nunca se esquecer de quer também ela, na figura de seu corpo docente,
precisa exercitar a tolerância para aceitar idéias, crenças e convicções que em
alguns casos, podem ser diferentes dos valores defendidos dentro da sala de
aula.
Rapidamente, todos começam perceber que as diferenças existem e
são tão importantes.
Um trabalho elaborado com responsabilidade aproxima os pais da
escola e mostra sua importância na construção da aprendizagem.
Era preciso olhar a pessoa que estava ali, por trás daquela
deficiência. Um apoio minucioso foi minimizando passo-a-passo sua
deficiência: ele foi retirado do isolamento da surdez, aprendeu a usar as mãos,
a descobrir o corpo, o espaço, despir-se, vestir-se, a socializar-se. Mãe e filho
puderam se diferenciar cada um com suas respectivas rotinas. Ela pode deixar
de ser a “supermãe”, reassumir os cuidados da casa, do marido, dos outros
filhos, dividindo a atenção da criança com o pai, a avó materna e a instituição.
Pesquisando e refletindo sobre o termo diversidade, podemos
constatar dois conceitos. O primeiro, mais simples, em que a ele é sinônimo de
18 diferença, dessemelhança, variedade. E o segundo, que significa, ou melhor,
pode trazer a divergência – no sentido de afastar-se progressivamente,
desviar-se, estar em desarmonia ou em desacordo – a oposição, significando
impedimento, obstáculo, objeção, vontade contrária, antagonismo,
contrariedade e a contradição, como sendo incoerência, desacordo,
contestação, contradita, oposto.
Em que essa reflexão poderá contribuir para esse momento? Se
observarmos mais atentamente, quando definimos algo é porque já o
incorporamos às nossas vidas. Assim cremos que, pelo modo como
entendemos (sentimos, pensamos e agimos) a diversidade, assim também
será delineado o modelo ou paradigma a ser seguido por aqueles que fazem
parte dela. Dependendo de cada um, em particular, a diversidade poderá ser
entendida apenas com uma diferença, nada de melhor ou de pior, ou poderá
tornar-se grande dificuldade a ser enfrentada, como nos mostra o segundo
conceito.
A definição de cada fase, quando começa e termina, o grau de
dificuldade ou facilidade em transpô-las, suas conseqüências, enfim, todo o
conteúdo vivenciado foi sendo marcado com caracteres fortes por cada família,
cada história própria, mas respeitando uma sequência inevitável em que
iremos identificar as seguintes fases: (1) a descoberta da surdez, (2) a
repercussão e (3) a adaptação).
Nesse cenário, a primeira fase, a descoberta da surdez, foi mais um
complicador, porém de pouca relevância, justamente por não conhecermos
ainda a surdez em toda a sua extensão. Mesmo assim, após a confirmação
diagnóstica, passamos por um período de confusão e conflito de sentimentos
como a decepção, a frustração, a negação e até a depressão.
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A segunda fase, repercussão foram-se agregando sentimentos de
ansiedade, impotência, insuficiência, revolta e, principalmente, medo do
desconhecido, e assim chegamos a incerteza, na qual como Chauí disse
“descobrimos nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de coisas, pessoas, fatos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança. (1996)
Porém, o ser humano busca sempre a segurança, que os “pés no
chão”, precisam de diretrizes norteadoras, busca soluções, é impelido a
decifrar enigmas, é desafiado a lutar. Em nosso caso, participantes de cursos e
eventos referentes à surdez. Tivemos sede dôo conhecimento e achamos
que4, se conhecêssemos todas as metodologias, técnicas e recursos da
educação de surdos, estaria resolvido o nosso problema que era fazer com
que o filho ouvisse e falasse, seguindo assim durante anos e objetivo.
Mudamos os planos de vida arquitetados antes do nascimento do
filho surdo. O sonho tinha sido desfeito, mas a realidade estava bem próxima,
atingindo-nos com seu aguilhão de quando em quando.
Ajudar um filho com deficiência é recorrer a múltiplas fontes de apoio
na vida íntima, no interior da família, nos apoios técnicos especializados e na
vida social.
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CAPÍTULO II
COMO A FAMÍLIA REAGIU AO SABER DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA DA CRIANÇA
Criar um filho significa, basicamente, ensiná-lo a passar sem nós. (Autor desconhecido)
A família não percebe pois geralmente já possuem outros filhos e
acham que cada criança tem um desenvolvimento diferenciado. Durante o
primeiro ano de vida da criança a voz materna não envolve o bebê surdo,
portanto não produz os efeitos como nos bebês ouvintes. O diagnóstico de
surdez realizado sem acompanhamento fez com que a mãe se cale e se
deprima e faça diversas indagações:
• Por que o meu filho?
• E agora, onde devo ir?
• É erro meu questionar a mãe?
• Você é que vai procurar recurso, eu não tenho tempo, pois
trabalho. Sentencia o pai.
Além disso, não supondo que alguém a escute, ela não lhe fala e
não supõe nos seus balbucios um diálogo. Esse não se realiza.
Muitos estudos relatam o impacto do diagnóstico da surdez para
os pais (Lutterman Ross-1991).
A maioria das pessoas surdas tem pais ouvintes e o processo de
luto vivenciado por esses pais faz parte do enfrentamento da perda do filho
esperado e imaginado. Com o impacto do diagnóstico, ocorre uma ruptura na
relação mãe-filho, assim como o processo de aquisição de linguagem, que é
adquirida naturalmente nessa relação, por meio de sinais espontâneos,
expressões faciais, corporais e orais. Tudo se torna diferente, o modo de
21 cuidar, de conversar, de responder aos estímulos da criança, como se pode
observar por relatos de algumas mães.
“... parei de falar... não tenho vontade de brincar com ele... só
choro...”
O vínculo mamãe-bebê é prejudicado e passa a ter um caráter
negativo de distanciamento, predominado na mãe, sentimentos negativos de
tristeza, angústia, culpa, frustração e estado de ânimo em direção à tensão e
abatimento.
Da mesma maneira que a mãe responde as necessidades do
bebê, este reage à resposta da mãe, numa relação de mútua interferência. Nas
condições relatadas, portanto, o bebê poderá ter prejuízos no desenvolvimento
da linguagem.
Sendo assim, essa mãe necessita de ajuda para elaborar seus
sentimentos, suas questões fundamentais, para que possa sentir-se mais
fortalecida e em condições de lidar com a nova situação que lhe é
desconhecida.
No processo de luto pelo qual os pais passam, na existe uma
rigidez ou um “modelo de estágio”, pois nem todos passam por todos os
estágios de perda: negação – raiva – barganha – depressão apontados por
Kubler Ross (1981). Cada família é única e cada membro pode vivenciar de
maneira particular.
Com os programas de surdez e a atuação de seus profissionais
em maternidades, o diagnóstico tem sido cada vez mais precoce e são
atendidos bebês com perdas auditivas cujos pais não suspeitavam sequer
dessa possibilidade. Eles são atendidos por uma equipe interdisciplinar e o
foco de sua atuação centra-se na família: os pais têm um suporte emocional
de que necessitam e a criança é acompanhada em seu desenvolvimento. Com
22 isso o diagnóstico até pode ter um impacto, mas as intervenções da equipe
fazem com que o processo seja diferente dos casos em que o
acompanhamento é feito mais tardiamente. O trabalho se dá no sentido de
preservar a qualidade da relação mãe-bebê já que o desenvolvimento da
linguagem depende dessa relação este trabalho é realizado pelo Hospital
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) – USP / Bauru, e atende
famílias em todo o país.
Todos os efeitos constituintes da subjetividade que seriam
realizados de maneira espontânea pela voz materna, deverão ser modificados,
para que o olhar e o toque transponham essa barreira.
O diagnóstico precoce acompanhado tratará de escutar a ferida
narcísica materna e de ajudá-la a transmitir a metáfora paterna, sem a
tendência de ficar colada ao corpo do bebê como normalmente ocorre.
A principal conseqüência da surdez na criança é a repercussão
no desenvolvimento da linguagem e fala, que irá interferir em todo o processo
da aprendizagem podendo acarretar distúrbios emocionais, sociais e
psicológicos nesta e em sues familiares.
A linguagem reflete um sentido mais amplo que o conceito de
língua. Ela envolve o corpo, as expressões faciais, as reações do nosso
organismo, a música, a pintura, enfim, todos os meios de comunicação.
Envolve também aspectos neurológicos, afetivos, cognitivos (como atenção,
memória, percepção, compreensão).
Estudos atuais mostram, na vida intra-uterina, a importância do
toque, da conversa, da música, dos sentimentos – o riso, dos movimentos que
são dispensados a este novo ser e a importância desta interação neste período
do desenvolvimento. Quando finalmente o bebê nasce está ali concretizado
aquele que será a perpetuação da família, que terá uma vida melhor, uma
23 profissão melhor e certamente será uma pessoa bem melhor. Como este bebê
não vem com um manual de instrução e como também não existe receita para
a relação pais/filhos, esta relação será construída no contato do dia-a-dia e
logo os pais perceberão que serão as pessoas mais importantes par o
desenvolvimento deste bebê.
Através de seus pais, ele descobrirá o mundo que o rodeia e
estas descobertas serão feitas numa relação construída com a convivência.
O meio é um estimulador fundamental para a linguagem. Tanto
maior será o vocabulário de uma criança, quanto maior e mais ricos forem os
diálogos desenvolvidos.
Os profissionais envolvidos com a surdez tendem a acreditar que
o principal para uma boa constituição surda é o acesso precoce à língua de
sinais. Embora a inserção em uma língua estruturada seja extremamente
importante, antes dessa questão, é preciso que a pessoa que vai acolher o
bebê, a mãe no caso, seja capaz de lhe fazer qualquer transmissão. Então,
devemos capacitar, em primeiro lugar, a mãe para inseri-lo em uma língua,
preferencialmente, na língua de sinais. Lembrando que a mãe ouvinte só
poderá aprender a língua de sinais se ela reconhecer aquele filho como seu e
aceitar essa língua como instrumento de comunicação e aprendizagem entre
ela, a família e seu filho (a). Caso contrário, se tratará daquelas mães que
jamais conseguem aprender, mesmo depois de anos.
A mãe que não conseguiu transpor a dor que o diagnóstico lhe
causou mesmo que aprender a língua de sinais vai ensiná-la a seu filho e não
o inserir nela, porque não se trata do sujeito aprender a língua - uma língua
não se aprende, as pessoas se inserem nela
Dessa forma, a competência lingüística das crianças surdas vai
estar diretamente relacionada com a forma como foi realizado o diagnóstico de
24 surdez, como os pais aceitaram esse diagnóstico qual a possibilidade que
tiveram de falar o que sentiram e de dar lugar as suas angústias e dor. Dando
ao filho um lugar de sujeito, enlaçando-o na cadeia significante e lhe dando um
lugar na árvore genealógica. Assim, ele poderá ascender ao dom da palavra
que poderá ser de sinais, oralizada ou escrita.
O livro de Oliver Sacks (2002) Vendo Vozes ajudou-me a
representar aqui, de modo abreviado o mundo dos surdos. Ter um filho surdo
requer flexibilidade e engenhosidade dos pais. Muitos pais e familiares de
crianças surdas sentem-se impotentes diante de tamanha barreira de
comunicação e a possibilidade dessa barreira ser derrubada é algo que irá
depender da adaptabilidade dos pais, do grupo familiar e da criança surda.
Para que o surdo desenvolva competência lingüística e intelectual e se
organize afetiva e socialmente é fundamental a aquisição da L1 em idade
“normal”, principalmente no início da vida ou até da puberdade, seja ela em
língua de sinais ou falada. A ausência de uma língua produz profundo
isolamento, falta noção de causalidade (não saber formular perguntas /
resposta) falta de senso histórico de dimensão autobiográfica, a inteligência
fica limitada ao visual, sem idéias abstratas (refletir – planejar – brincar) sem
lidar com a esfera imaginativa e figurativa ou com hipóteses e possibilidades.
Nesse caso a ente não é utilizada por completo e a pessoa fica confinada a um
mundo imediato e pequeno. Muitas crianças com surdez pré-lingüística, após
educação intensiva, adquirem língua e comunicação adequada.
Ter pais ouvintes é bem diferente. Quando a criança surda
convive numa família de ouvintes, prevalecem distorções da vida comunicativa
desde o início, com a predominância de uma linguagem rudimentar, haverá
conseqüência no crescimento intelectual, vida emocional, social e
desenvolvimento da linguagem de um modo simultâneo e inseparável. A língua
é uma capacidade inata que só pode ser desenvolvida a dois, só pode ser
ativada por outra pessoa. A primeira comunicação é adquirida na relação mãe-
filho. A qualidade das experiências nos primeiros momentos irá influir
25 decisivamente no futuro da criança. É fundamental que haja certo tipo de
conversa, um diálogo rico em intenção comunicativa que desperte a
curiosidade da criança e a busca de significados: Por quê? Como? Qual? E
se? Como diz Sacks (2002): É fundamental despertar na criança surda o censo
de questionamento e o espírito investigador.
A qualidade da conversa entre mãe e filho surdo, nas fases
iniciais da vida pode prejudicar ou beneficiar o desenvolvimento da criança (1)
algumas mães compartilham um diálogo fundamental, outras basicamente
falam para o filho (2) algumas apóiam ou não as ações do filho e informam as
razões, outras controlam as ações dos filhos sem explicar o por quê (3)
algumas fazem perguntas genuínas, outras perguntas restritivas (4) algumas
são impelidas pelo que a criança diz ou faz, outras por suas próprias
necessidades e interesses (5) algumas descrevem um mundo amplo marcado
por eventos passados e perspectivas de futuro, outras comentam apenas o
aqui e agora (6) algumas são mediadoras entre a criança e o ambiente,
dotando os estímulos de significados, outras não. Não apenas a “língua” deve
ser introduzida, mas também o “pensamento”, por esta razão a reciprocidade
comunicativa eu busca ser esclarecedora ou um monólogo indiferente que
deixa tudo sem explicação, sã atitudes comunicativas que fazem a diferença,
favorecendo ou não o desenvolvimento da capacidade comunicativa da criança
e o seu desenvolvimento global. O diálogo inadequado não apenas inibe o
intelecto, mas também produz timidez e passividade. O diálogo comunicativo
desperta a imaginação e a mente leva à auto-suficiência. Esse diálogo que
ocorre primeiro com os pais depois é finalizado em forma de pensamento
numa fala interna quase sem palavras para dar luz ao pensamento como diz
Vygotsky (1984): Ao falar “falar consigo mesma”, a criança desenvolve os seus
próprios conceitos e significados.
A língua permite novas orientações, aprendizados e ações,
transforma a experiência, permite lidar com coisas à distância, juntar eventos
26 separados no tempo ou separar coisas que sejam isolados, permitindo explorar
o universo de múltiplas maneiras.
O aprendizado da língua produz uma explosão da linguagem e da
mente, como se abrisse as portas de uma mente aprisionada. Um mundo de
coisas percebidas como isoladas e ancoradas no aqui e agora passa a ser um
mundo de coisas conectadas um mundo relacionado, inteligível e inteligente.
Para Sacks (2002) a língua de sinais uma linguagem visual – espacial,
favorece o desenvolvimento de aquisições compensatórias no córtex cerebral
revelando a adaptabilidade e plasticidade do cérebro que se torna diferente. O
aluno surdo que adquire a língua de sinais desde a tenra idade desenvolve
uma maior habilidade visual, uma capacidade de “encenação”, do mundo, uma
sensibilidade e inteligência visual que o torna “perito” visual. Quando ele se
pronuncia, as criaturas e objetos são situados, numa capacidade descritiva
arquitetônica, havendo um detalhamento que jamais apareceria na linguagem
oral. Se de um lado a surdez subtrai certas funções, de outro permite recriar
formas originais de língua.
Questões relevantes sobre o impacto da deficiência na família e o
que este procedimento pode acarretar para a criança.
A família terá que, de um lado construir estoque de
conhecimento, para aprender a decifrar o seu filho e encontrar meios
apropriados de ajudá-lo contanto com o apoio de parentes, amigos,
profissionais da saúde, educação, reabilitação, assistência social e de todos os
recursos providos pelas políticas públicas de outro a família terá que olhar para
os recursos internos do grupo familiar (afetivos, sociais, culturais...) de modo a
elaborar psíquica e socialmente a deficiência que afetou um de seus membros.
O sentido que o filho com deficiência auditiva irá adquirir para a
família, desde os primeiros momentos será crucial para determinar o futuro da
criança e as atitudes que a família irá tornar dali para frente. Esse “sentido?”
27 que na fase inicial poderá ser associado a dor, desespero, pânico, descrença,
raiva, depressão, tristeza produzido pela descoberta da deficiência do filho,
tenderá a ser diferençado de acordo com os valores, crenças e o sentido
atribuído à vida, na medida em que a família vai conseguindo se mobilizar em
busca de apoio para o filho e para ajudar o grupo familiar a se adaptar aos
desafios que virão. Um dos fatores que dificulta a elaboração do sofrimento
familiar é a “negação da deficiência”, associada a fantasia do “filho sonhado”.
Enquanto a família não puder se confrontar com a real condição de seu filho,
sua diferença e não puder fazer o luto do filho idealizado, ela terá poucas
chances de ajudá-lo. Nessa circunstância a família poderá estar paralisada ou
canalizando suas ações na busca de uma cura milagrosa, atitude que tenderá
a prepará-la para um contato mais amplo com a realidade do filho.
O contato interno com emoções conflituosas e um balanço
profundo da força insuspeita para enfrentar a situação encontrando um novo
tipo de postura e atitude.
As famílias de deficientes são as mais complexas. Elas devem
ser vista na pulsação da vida. Se as famílias forem apoiadas na extensão e
profundidade de que necessitam e tratadas co parceiros e não como
“usuários”, elas poderão assumir um lugar proeminente de apoio aos próprios
filhos. As experiências familiares devem ser entendidas na complexa trama da
vida afetiva, social e cultural. Sem esses aspectos fundamentais e apenas com
o fator patológico não se pode colocar verdadeiramente família em discussão.
28
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM
Um grande artista pode pintar um quadro maravilhoso em uma tela pequena.
(C. D. Warner)
A transformação fundamental da divisão dos papéis entre estado e
família se relaciona intimamente com a liberação da educação familiar. Antes
da década de 50 os filhos não tinham direito a uma vida privada, eram os pais
que tomavam as decisões que repercutiam diretamente na vida das crianças.
Com a liberação da educação familiar, a família transfere para a escola o
aprendizado da vida em sociedade. a família se revela incapaz no
cumprimento desse papel.
Na atualidade, observamos o financiamento da educação pública
pelo Banco Mundial, firmado a partir do estabelecimento de metas que elevam
o nível de escolarização da população e reduzem a evasão escolar a qualquer
custo, transformando o direito à educação numa categoria de atenção às
necessidades do mercado.
Vale ressaltar que, acompanhando o processo de redemocratização
que tem meta a promulgação da constituinte. Há um movimento no interior das
escolas voltado para a participação social: Os Conselhos Escolares,
compostos pelo poder público, por profissionais da educação e pelos
responsáveis. O papel desses conselhos concentra-se na luta pela efetivação
do direito à educação, ou seja, pelo acesso à escola, pela melhoria da
qualidade do projeto político pedagógico e pela garantia do financiamento da
educação, fortalecendo-se como instância de controle social e auxiliando a
escola no cumprimento de sua função social.
29
Com ação semelhante à dos Conselhos Escolares, podemos incluir
as Associações de Pais (APAS), que enquanto instituições autônomas,
revelam a família como atos políticos na luta pela garantia do direito à
educação. além de atuarem no planejamento, implementação e avaliação das
ações das escolas, as APAS buscam a participação na elaboração e
implementação do projeto-político-pedagógico (PPP), entendo que é através
dele que as ações da escola se materializam.
Escola e família têm os mesmos objetivos: fazer a criança
desenvolver-se em todos os aspectos e ter sucesso na sua aprendizagem. As
instituições que conseguiram transformar os pais ou responsáveis em
parceiros diminuíram os índices de evasão e de violência e melhoraram o
rendimento das turmas de forma significativa.
Pesquisa realizada pelo MEC, mostrou que há um desejo explícito
por mais intimidade:
ü 77,2% dos pais acham que um bom relacionamento entre as duas
partes é raro, mas 43,7% gostariam que a escola promovesse
mais reuniões, palestras e encontros para eles. Já 77,2% dos
professores de instituições públicas consideram insatisfatória a
participação dos familiares, mas 99.5% crêem ser de extrema
importância um contato mais estreito.
Para relação ser duradoura, tem de se basear em respeito.
Preconceito, portanto não pode existir. Falar em família desestruturada ou
desajustada não faz sentido quando se analisa a realidade doméstica atual.
Tanto que a Organização das Nações Unidas, há mais de uma década, trouxe
o tema para reflexão ao instituir o Ano Internacional da Família. Os
documentos elaborados na época apontaram que a principal característica
dessa instituição é a capacidade de seus membros de manter e educar seus
dependentes para a vida, segundo princípios éticos, culturais e legais. Os
vínculos biológicos (ser o pai ou mãe), jurídicos (morar sob o mesmo teto)
econômicos (dependência financeira), podem existir juntos ou isoladamente.
30
Será possível planejar e executar o processo de educação escolar
independente da questão familiar? Como trazer a família para participar do
processo ensino-aprendizagem na escola?
Essas questões merecem um tratamento cuidadoso, que leve em
conta aspectos sociais, culturais e legais, que não serão aqui abordados, sem
que possamos aprofundá-las.
Ao longo da história brasileira, a família veio passando por
transformações importantes que se relacionam com o contexto
socioeconômico-político do País. No Brasil-Colônia, marcado pelo trabalho
escravo e pela produção rural para a exportação, identificamos um modelo de
família tradicional, extensa e patriarcal; onde os casamentos baseavam-se em
interesses econômicos, que à mulher era destinada a castidade, a fidelidade e
a subserviência. Aos filhos, considerados extensão do patrimônio do patriarca,
ao nascer dificilmente experimentavam o sabor do aconchego e da proteção
materna, pois eram amamentados e cuidados pelas amas de leite.
A partir das últimas décadas do século XIX, identifica-se um novo
modelo de família. A Proclamação da República, o fim do trabalho escravo, as
novas práticas de sociabilidade com o início do processo de industrialização,
urbanização e modernização do País constituem terreno fértil para a
proliferação do modelo de família nuclear burguesa, originário da Europa.
Trata-se de uma família constituída por pai, mãe e poucos filhos. O homem
continua detentor da autoridade e “rei” do espaço público; enquanto a mulher
assume uma nova posição: “rainha do lar”, “rainha do espaço privado da casa”.
Desde cedo, a menina é educada para desempenhar seu papel de mãe e
esposa, zelar pela educação dos filhos e pelos cuidados com o lar.
No âmbito legal, a Constituição brasileira de 1988 abordada a
questão da família nos artigos 5º, 7º, 201, 208 e 226 a 230. Trazendo algumas
31 inovações (artigo 226), como um novo conceito de família: união estável entre
o homem e a mulher (§ 3º) e a comunidade formada por qualquer dos pais e
seus descendentes ((§ 4º). E ainda reconhece que: os direitos e deveres
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher (§ 5º).
Nos últimos 20 anos, várias mudanças ocorridas no plano
sociopolítico-econômico relacionadas ao processo de globalização da
economia capitalista vêm interferindo na dinâmica e estrutura familiar e
possibilitando mudanças em seu padrão tradicional de organização. Conforme
Pereira (1995), as mais evidentes são:
ü Queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos
contraceptivos e de esterilização;
ü Tendência de envelhecimento populacional;
ü Declínio do número de casamentos e aumento da dissolução
dos vínculos matrimoniais constituídos, com crescimento das
taxas de pessoas vivendo sozinhas;
ü Aumento da taxa de coabitações, o que permite que as
crianças recebam outros valores, menos tradicionais; e
ü Aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa,
principalmente por mulheres, que trabalham fora e têm
menos tempo para cuidar da casa e dos filhos.
É preciso ressaltar que essas mudanças não devem ser encaradas
como tendências negativas, muito menos como “doenças” ou sintomas de
“crise”. A idéia de crise, atualmente em voga, pode ser enganosa. A aparente
desorganização da família é um dos aspectos da reestruturação que ela vem
sofrendo, a qual se, por um lado, pode causar problemas, pode, por outro,
apresentar soluções. Trata-se, pois, de um processo contraditório que, ao
mesmo tempo em que abala o sentimento da segurança das pessoas, com a
falta ou diminuição da solidariedade familiar, proporciona também a
32 possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente aprisionados no
espaço restritivo de muitas sociedades conjugais opressoras. Com ele,
também, os papéis sociais atribuídos diferenciadamente ao homem e à mulher
tendem a desaparecer não só no lar, mas também, no trabalho, na rua, no
lazer e em outras esferas da atividade humana (Pereira, 1995)
Embora a cada momento histórico corresponda um modelo de
família preponderante, ele não é o único, ou seja, concomitante aos modelos
dominantes de cada época, existiam outros, com menor expressão social,
como é o caso das famílias africanas escravizadas. Além disso, o surgimento
de uma tendência não eliminava imediatamente a outra, prova disto é que
neste início de século podemos identificar a presença do homem patriarca, da
mulher “rainha do lar” e da mulher trabalhadora. Assim, não podemos falar de
família, mas de famílias, para que possamos tentar contemplar a diversidade
de relações que convivem em nossa sociedade. Outro aspecto a ser
ressaltado, diz respeito ao significado social da família, qual a sua razão de
existência?
A família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e
da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do
arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. A família desempenha
um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são
absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços
de solidariedade. É também em seu interior que se constroem as maracás
entre as gerações e são observados valores culturais.
É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes.
A família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade
futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem sucedida da
criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e a seu
33 comportamento produtivo quando for adulto. A família tem sido, é e será a
influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do
caráter das pessoas.
Evidenciado, no nosso tipo de organização social, o papel crucial da
família quanto à proteção, afetividade e educação, onde buscar
fundamentação para a relação educação escola / família? O dever da família
com o processo de escolaridade e a importância da sua presença no contexto
escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do
Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:
ü Estatuo da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), nos
artigos 4º e 55.
ü Política Nacional de Educação Especial, que define como uma
de suas diretrizes gerais: adotar mecanismos que
oportunizem a participação efetiva da família no
desenvolvimento global do aluno. E ainda, conscientizar e
comprometer os segmentos sociais, a comunidade escolar, a
família e o próprio portador de necessidades especiais, na
defesa de seus direitos e deveres. Entre seus objetivos
específicos, temos: envolvimento familiar e da comunidade no
processo de desenvolvimento da personalidade do educando.
ü Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), artigos
1º, 2º, 6º e 12).
ü Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei 10.172/2001),
que define como uma de suas diretrizes a implantação de
conselhos escolares e outras formas de participação da
comunidade escolar (composta também pela família) e local
na melhoria do funcionamento das instituições de educação e
no enriquecimento das oportunidades educativas e dos
recursos pedagógicos.
34
Relacionados os sustentáculos formais da relação família / escola /
educação é importante pontuar ainda alguns aspectos. Em primeiro lugar, é
preciso reconhecer que a família independente do modelo como se apresente,
pode ser um espaço de afetividade e de segurança, mas também de medos,
incertezas, rejeições, preconceitos e até de violência. Assim, é fundamental
que conheçamos os alunos e as famílias com as quais lidamos. Quais são as
dificuldades, seus planos, seus medos e anseios? Enfim, que características e
particularidades marcam a trajetória de cada família e consequentemente, do
educando a quem atendemos. Estas informações são dados preciosos para
que possamos avaliar o êxito de nossas ações enquanto educadores,
identificar demandas e construir propostas educacionais compatíveis com a
nossa realidade. Em segundo lugar, na relação família / educadores, um
sujeito sempre espera algo do outro. E para que isto de fato ocorra é preciso
que sejamos capazes de construir coletivamente uma relação de diálogo
mútuo, onde cada parte envolvida tenha o seu momento de fala, mas também
de escrita, onde exista uma efetiva troca de saberes. A capacidade de
comunicação existe a compreensão da mensagem que o outro quer transmitir
e para tal faz-se necessário o desejo de querer escutar o outro, a atenção às
idéias emitidas e a flexibilidade para recebermos idéias que podem ser
diferentes das nossas. Uma atitude de desinteresse e de preconceitos pode
danificar profundamente a relação família / escola e trazer sérios prejuízos
para o sucesso escolar e pessoal dos educandos. Geralmente, a família de
educandos surdos espera e necessita da escola inúmeras informações, apoio
e orientação sobre como lidar com a situação de convívio com uma pessoa
surda. A falta de atenção para esta demanda possivelmente terá
consequências negativas pra educadores, educandos e familiares. Um outro
ponto, diz respeito à tendência que a escola tem de reduzir a família à figura
materna, não propondo atividades que envolvam a totalidade da constituição
familiar como pais, irmãos e por que não tios e avós? Pensando na situação
deste país, é real a falta de informações sobre a surdez e sua influência na
vida de uma pessoa, e a forma preconceituosa de relacionamentos das
pessoas ouvintes com as pessoas surdas. Esta realidade está presente nos
35 diversos espaços da sociedade, inclusive na família e na escola. É preciso ter
clareza do que entendemos por participar. Será que é estar presente nas
reuniões para ouvir informações burocráticas e queixas referentes ao mau
comportamento dos alunos? Será que é ter acesso a decisões previamente
estabelecidas? Será que é ajudar a organizar a festa junina da escola? Será
que é poder ouvir e falar? Será que é a possibilidade de uma ação
coletivamente construída por todas as partes envolvidas no processo ensino-
aprendizagem, na qual se compartilha equitativamente, resguardadas as
particularidades dos sujeitos envolvidos, a possibilidade de planejar, decidir e
agir?
Enfim, muitos podem ser o significado da palavra participar. É
preciso que conheçamos as razões pelas quais as famílias não têm
correspondido ao que nós educadores esperamos enquanto sua participação
na escola. Para tal, precisamos nos despir da postura de juízes que condenam
sem conhecer as razões, e incorporar o espírito investigador que busca as
causas para o desconhecido.
A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus
membros são exemplos para a vida e muitas vezes a escola acha que uma
família por não corresponder aos padrões tradicionais, não é capaz de cuidar
da formação de seus descendentes. No que diz respeito à Educação, se essas
pessoas demonstrarem curiosidades em relação ao que acontece em sala de
aula e reforçarem a importância do que está sendo aprendido, estarão dando
uma enorme contribuição para o sucesso da aprendizagem. Pode parecer
simples, e é.
Mostrar isso às famílias é tarefa dos educadores. Para tanto, é
preciso um trabalho de conquista. Só que é impossível haver aproximação
quando só são marcados encontros para falar de problemas. Isso causa
antipatia. O bom relacionamento deve começar na matrícula e se estender a
todos os momentos. Convites para a consolidação do PPP.
36
Nas grandes cidades a falta de tempo é um dos fatores que afastam
as famílias da escola. O uso de transporte pelos estudantes transforma aquela
conversa na porta da entrada em uma ocasião cada vez mais rara. Ainda que
rápido, o encontro serve para trocar de informação entre o professor e os pais.
Contudo, essa realidade não pode servir de desculpa para a falta de contato.
Algumas ações ajudam a suprir esta carência, como uma pesquisa com as
famílias para saber de sua rotina, hábitos e preferência e ela pode ser feita
pelas próprias crianças.
Cada ser humano que nasce pulsa, como as batidas do próprio
coração, em busca de se expressar, de conhecer a si e o mundo que o cerca,
de aprender a ver, escutar, falar, andar, tocar, explorar as facetas de um
universo repleto de formas, cores, sons, odores, sensações que se organizam
em experiências. A pessoa, para ir ao encontro do seu pleno desenvolvimento,
depende de cuidados que se iniciam na família e se complementam na vida
social, do percurso escolar à profissionalização, da inserção profissional à
formação de sua própria família.
Muitos pais e familiares de crianças surdas sentem-se impotentes
diante de tamanha barreira de comunicação, é a possibilidade de essa barreira
ser derrubada é algo que irá depender da adaptabilidade dos pais, do grupo
familiar e da criança surda. Para que o surdo desenvolva competência
lingüística e intelectual e se organize afetiva e socialmente, é fundamental a
aquisição de uma língua em idade “normal”, principalmente no início da vida,
ou até a puberdade, seja ela em língua de sinais ou falada.
Sem conseguir bons resultados em relação à oralização, muito
menos à audibilização e conseqüentemente à escolarização, que foi sendo
arrastada até os dia atuais, os efeitos da repercussão da surdez provocaram
na família e no círculo de amizades sentimento de decepção por um modelo
não atingido. Constatamos a necessidade de aceitação do modelo da
37 diferença, que passou a ser apresentado por nosso filho após o início de sua
própria identificação como pessoa surda nos meios afins, companheiros de
trabalho e de escola, também surdos, e, fundamentalmente, depois do contato
e da aquisição da língua de sinais. A partir daí, sentimos também, nós outros,
a necessidade de conhecer o espaço intrigante que muitos chamam de
“mundo dos surdos” e que outros denominam de “gueto”, termos definidos por
ouvintes. Aprendemos que o termo mais correto e adequado é “comunidade
surda”, denominação adotada por seus representantes maiores e legítimos, os
próprios surdos.
Naquele momento, tomamos consciência de que precisávamos
inverter os papéis, passando de mãe/professora de surdosa mãe/aluna de
surdos Foi então que a insegurança, mesmo com toda a formação
especializada que tínhamos, deu lugar a uma certeza de que era estando ao
lado dos surdos, ouvindo-os, observando-os, respeitando seus desejos e
anseios, e não falando por eles, é que estaríamos realmente aprendendo
sobre surdos e Surdez. Precisamente aí entramos na fase de adaptação à
surdez, em que ficaram para trás os conflitos e as dúvidas. Costumamos dizer,
quando em nossa atividade de orientação familiar, que sinalizar em público é
denunciar e assumir a surdez. Quando a família ouvinte toma essa iniciativa,
ela está pronta para submeter-se a uma série de mudanças atitudinais que são
normais para os surdos, mas que para o “mundo ouvinte” são, com raras
exceções, difíceis de ser viabilizadas.
Tivemos uma trajetória pessoa e profissional diferente da maioria
das mães ouvintes de filhos surdos: tornamo-nos bastante conhecedores e
implementadores de serviços e projetos na área da surdez. Mas a mãe
ouvinte/falante e professora bastante rígida no trato comunicativo, enquanto
não se permitiu adentrar a comunidade surda e não se despiu de todos os
preconceitos cristalizados pelo tempo e imersos no lago escuro da prepotência,
da vaidade e do orgulho, permaneceu próxima fisicamente do filho surdo, mas
distante psicolinguisticamente e até mesmo emocionalmente.
38
Contaminando o resto da família e os amigos pelo exemplo, fomos
“passando recibo” de como viver melhor, mantendo uma relação muito mais
verdadeira, tranqüila e confortável. Com uma comunicação efetiva e eficaz
realizada por meio de língua de sinais, pode-se conversar sobre tudo, fazer
confidências, trocar idéias, rir e chorar juntos, enfim, apertar os laços familiares
apoiando e confiando uns nos outros, mantendo a boa cumplicidade e
tornando-nos fortes e unidos nas horas da adversidade às quais nenhuma
família escapa, sendo ouvinte ou não.
Conviver literalmente com surdos no trabalho, no estudo, no lazer e
em outros momentos sociais é condição prioritária na vida da família ouvinte
que deseja a melhoria a sua qualidade de vida.
Por que foi acontecer logo comigo? De quem foi a culpa? O que nós
vamos fazer? Essas perguntas ficaram sepultadas para sempre, porque o
agora, o presente, é o terreno de amanhã, do futuro que há de ser muito
melhor quando também os surdos entenderem que o “sofrimento” dos pais
ouvintes procede, é justo e natural. Mas é preciso que se diga com todos os
sinais que AMAR é preocupar-se e até mesmo ter “preconceito” quando
estamos ainda num estágio de desconhecimento sobre a realidade da surdez.
Conhecermo-nos mutuamente será sempre um bom caminho a trilhar, e
principalmente não esquecer que pertencer a uma maioria (ouvinte) não nos
confere o direito de decidir ou de julgar ninguém.
Olhem para seus filhos! O que vocês mais desejam não é a
felicidade deles? Sobre esse fato não restam dúvidas. E se os filhos são
surdos, perguntem a Surdos Adultos Felizes em que consiste sua felicidade.
Perguntem a eles e a mais ninguém.
Na atualidade, observamos o financiamento da educação pública
pelo Banco Mundial, firmado a partir do estabelecimento de metas que elevam
39 o nível de escolarização da população e reduzem a evasão escolar a qualquer
custo, transformando o direito à educação numa categoria de atenção às
necessidade do mercado.
Vale ressaltar que, acompanhando o processo de redemocratização,
quem tem como ponto fulcral a promulgação da constituinte, e respeitando o
aparato jurídico-legal desde então há um movimento no interior das escolas
voltado para a participação social: os Conselhos Escolares, compostos pelo
poder público, por profissionais da educação e pelos responsáveis. O papel
desses Conselhos concentra-se na luta pela efetivação do direito à educação.,
ou seja, pela garantia do acesso à escola, pela melhoria da qualidade do
projeto político-pedagógico e pela garantia do financiamento da educação,
fortalecendo-se como instância de controle social e auxiliando a escola no
cumprimento da sua função social.
Com ação semelhante à dos Conselhos Escolares, podemos incluir
as associações de pais (APAs), que, enquanto instituições autônomas, revelam
a família como ator político na garantia do direito à educação. Além de atuarem
no planejamento, implementação e avaliação das ações das escolas, as APAs
buscam a participação na elaboração e implementação do projeto político-
pedagógico (PPP), entendendo que é através dele que as ações da escola se
materializam. Portanto, participar da elaboração do PPP é discutir e delimitar o
tipo de educação para torná-la democrática.
Neste panorama, podemos concluir que, para alcançarmos uma
efetiva gestão democrática na educação, faz-se necessária a implementação e
fortalecimento dos Conselhos Escolares e/ou APAs, no sentido de constituírem
enquanto órgãos de pressão frente ao Estado para que este objetivo a
organização das ações da escola.
40
CONCLUSÃO
“Se só uso os valores de ontem, não educo:
CONDICIONO. “Se só uso os de hoje, não educo: COMPLICO. “Se só uso os de amanhã, não educo: FAÇO
EXPERIÊNCIAS a custo das crianças. “Se uso os três, sofro, mas EDUCO!”
Artur da Távola
A pesquisa demonstra que para existir “aprendizagem”, é necessário
Família X Escola caminharem juntos.
A idéia de cidadania tem como cerne a educação e a aprendizagem
este processo ou movimento educativo e sua construção só acontece através
de conscientização do todo família – escola – aluno.
A escola precisa estreitar estas parcerias, onde através de relatos,
experiências vividas, vão sendo construído o P.P.P. baseado na realidade do
grupo.
A escola precisa proporcionar aos familiares, participação em suas
dependências através de convite, encontros Família X Escola; palestras com
temas de interesse, utiliza’’cão do espaço: biblioteca, laboratório de
informática, quadra de esporte, festas comemorativas, etc. E acompanhar
desta maneira a Construção da Aprendizagem e o envolvimento da família, no
processo educacional de sue filho (a).
Por tudo posto, acreditamos na formação cidadã pautada nos valores
da solidariedade, igualdade e participação, via interlocução escola/família
enquanto parceiros na construção de uma nova sociedade.
41
E, sendo assim, a escola encontra sua razão e sua justificativa no
consentimento e no apoio da família para que a comunidade escolar tenha
êxito em seus objetivos.
42
ANEXO
Entrevistas feitas com um aluno do primeiro segmento e sua mãe
Mãe
1) Qual o seu nome?
Selma dos Santos
2) Quantas pessoas surdas há e sua família?
6 pessoas surdas e 2 deficientes mentais
3) Seu filho é surdo? Como você descobriu?
Sim, surdez profunda. Ele nasceu prematuro com 7 meses, fiquei
51 dias internada, fui encaminhada para outro hospital e com o passar dos
meses fui observando que ele não reagia a alguns sons e com 01 ano foi
constatado a surdez.
4) Como tem sido o acompanhamento na área da saúde?
Desde os 03 anos e meio ele tem fono, este tratamento o ajudou
bastante, pois ele tem resíduo no ouvido esquerdo, conversamos bastante, ele
é meu único filho e procuro educa-lo normalmente.
5) Quais são os seus planos para o futuro de seu filho?
Colocá-lo num curso profissionalizante, que atenda suas
necessidades.
6) Quais seus desejos em relação a seu filho?
Que ela possa sentir-se normal, dentro de suas limitações, tenha
amigos, trabalho, salário, namorada, etc.
43
7) O que você pensa sobre as pessoas surdas de sua família?
São pessoas carinhosas, alegres, trabalhadeiras, honestas.
8) O que você acha que as pessoas surdas de sua família pensam
sobre elas mesmas?
A surdez em minha família é genético. Eles se amam, curtem
suas vidas, sabem Libras, são pessoas adultas, casadas.
9) Como é a comunicação entre pessoas ouvintes, pessoas surdas,
amigos surdos?
Quem sabe Libras, conversa, quem não sabe, olha e repete para
aprender.
Filho (Entrevista em Libras)
1) Qual o seu nome?
Carlos da Silva
2) Qual sua idade?
12 anos
3) Quando e como você soube que era surdo?
Era pequeno, não lembro
4) Onde você mora?
Em Miguel Couto
5) Onde você estuda?
No Instituto de Educação Rangel Pestana
6) Quais sãos seus planos para o futuro? Estudar, namorar?
44
Normal, estudar e beijar muito.
7) O que você acha que as pessoas pensam de você?
Que gostam de mim
8) Você tem amigos? Surdos? Ouvintes?
Tenho muitos surdos e alguns ouvintes
9) Como você faz para comunicar-se com seus amigos?
Eu falo um pouco com ouvintes e Libras com surdos
10) Como é a relação entre sua mãe e você?
Muito boa, é só eu e minha mãe, ela é bonita, boa, nervosa, legal,
etc.
11) Qual a dificuldade do surdo?
Conversar com pessoas e as pessoas entender o que o surdo
fala e pensa.
45
BIBLIOGRAFIA
Declaração de Salamanca, Brasília CORDE 1994.
Declaração Mundial de Educação
BUSCAGLIA, L. Os Deficientes e seus Pais. Rio de Janeiro, Record,
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VYGOTSKY, L.S.A. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins fontes,
1984.
46
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I – A importância da Família na aprendizagem do
educando com deficiência auditiva no 1º segmento 9
CAPÍTULO II – Como a família reagiu ao saber da deficiência auditiva
da criança 20
CAPÍTULO III – A importância da família na construção de
aprendizagem 28
CONCLUSÃO 40
ANEXOS 42
BIBLIOGRAFIA 45
ÍNDICE 46
FOLHA DE AVALIAÇÃO 47
47
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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