Post on 30-Jan-2016
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O autor expõe sua proposta de que a música serve como mecanismo para a
criação de uma identidade nacional, estratégia política utilizada pela Alemanha na sua
tentativa de congregar todos os reinados germânicos em um Estado-Nação que, apesar
de suas pequenas diferenças culturais, partilhavam de uma cultura musical em comum:
A música de Johann Sebastian Bach.
No Brasil, a estratégia é similar, porém propõe-se que a identidade nacional
autentica encontra-se na cultura popular, ou melhor, no folclore e no canto. Isso de fato
se vê presente na ideologia musical nacionalista encabeçada por Mario de Andrade no
início do século XX e que se manteve firme mesmo por boa parte do século XX. Textos
como “Ensaio sobre a Música Brasileira”, livro utilizado como paradigma para a
tentativa de construir uma identidade musical nacional, baseava-se na premissa de que a
identidade nacional encontra-se nas expressões culturais mais autenticas de um povo: O
canto e o folclore.
Essas expressões culturais por vezes aparecem como intocáveis pelas flutuações
econômicas, pelos avanços tecnológicos e pela proporção continental do nosso país, são
como se fossem embalsamadas, livres das ações do tempo e espaço.
O autor logo ao início do texto observa que há um descompasso entre o
desenvolvimento musical e econômico no Brasil: “Em todos os momentos em que teve
desenvolvimento econômico, o Brasil soube acompanhá-lo de explosão criativa em sua
produção cultural, menos agora.” (SAFATLE, V.) Isso se baseia na dialética de Marx
onde a infraestrutura é interdependente a superestrutura, pode-se entender que um
desenvolvimento econômico está atrelado ao desenvolvimento cultural. O problema
com o pensamento musical nacionalista brasileiro defendido por Mario de Andrade está
no fato de que a tentativa de manter as expressões intactas impede que a música
nacional acompanhe o ritmo de desenvolvimento social e econômico de um país.
A defasagem trouxe conseqüências para o desenvolvimento musical e social da
música. O autor aponta no texto que: “A música brasileira foi paulatinamente perdendo
sua relevância, para se transformar apenas na trilha de fundo da literalização de
nossos horizontes.” (SAFATLE, V.).
A perda de relevância está, também, diretamente condicionada à perda de
qualidade musical. A música mais elaborada, principalmente a música de concerto,
acaba recebendo o rótulo de música elitista, estrangeira e dissimulada. Direcionando a
música séria (apropriando-se do termo alemão para música erudita) para um ostracismo
cultural gigantesco. Cria-se um abismo entre a música popular e erudita.