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MARIA RITA PEREIRA DE SOUZA
REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DO
ENSINO MEDIO
Mestrado em Língua Portuguesa
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo – 2006
MARIA RITA PEREIRA DE SOUZA
REFLEXÕES SOBRE CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DO
ENSINO MÉDIO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Língua portuguesa, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Ferreira.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO SÃO PAULO – 2006
BANCA EXAMINADORA
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me concedido a vida, a sabedoria e a fé para a realização desta pesquisa e, também, por ter colocado no meu caminho pessoas especiais como:
O meu orientador, Prof. Dr. Luiz Antônio Ferreira, que me forneceu valiosas
sugestões para a concretização desta pesquisa. Os professores doutores do Programa de estudo Pós-Graduados em Língua
Portuguesa, que acrescentaram muitos conhecimentos importantes para a minha vida acadêmica: Profª. Dra. Sueli Cristina Marquesi, Prof. Dr. Dino Preti, Profª. Drą. Neusa Oliveira Barbosa Bastos.
Os professores Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira e Dra. Maria Flávia Bolella, que
contribuíram para o aperfeiçoamento de minha pesquisa no momento do exame de qualificação.
Os meus alunos da E. E. Profª. “Luzia de Queiroz e Oliveira”, que participaram
como sujeitos do processo de criação das redações. As minhas queridas filhas, Talita e Tamires, que me demonstraram o fascinante
potencial que tem o ser humano para agir criativamente a cada momento. O meu esposo, Antônio, que em todos os momentos da minha vida, tem me dado
força e apoio para persistir. A minha mãe, que com o seu exemplo, me ensinou o significado da palavra lutar. Os meus irmãos e sobrinhos, que, com palavras, gestos ou olhares, me transmitiram
forças para a realização desta pesquisa. Os meus amigos da Pós-graduação, que me apoiaram durante esta trajetória, e em
especial, Maria da Penha de Paula, que soube me ouvir e aconselhar nos momentos mais difíceis desta pesquisa. Agradeço também à S.E.E. pelo apoio financeiro.
RESUMO
Em nossa prática, temos constatado que a falta de criatividade é uma constante nas
redações de alunos, uma vez que estes revelam enormes dificuldades com relação à escrita. Diante dessa constatação, nos questionamos como podemos desenvolver o potencial criador de nossos educandos, já que o ensino atual está voltado para a memorização dos conteúdos e o “não pensar” ?
Cremos não ser possível apontar alguma solução, mas tencionamos provar que
algumas habilidades consideradas criativas como: o humor, a fluência, a fantasia, a originalidade, a curiosidade, a sensibilidade, a analogia, o inconformismo e a elaboração podem ser estimuladas por meio da prática e do treino.
Com vistas a alcançar tal objetivo, nos propusemos a analisar, em redações de
alunos, apenas as habilidades de humor, fluência e analogia. Considerando que o pensamento crítico está sempre em conexão com o pensamento criador na aprendizagem escolar, ao analisarmos as habilidades consideradas criativas, estabelecemos um elo com o pensamento crítico. O corpus utilizado para a concretização deste experimento foram redações de alunos da E. E. Prof.ª “Luzia de Queiroz e Oliveira”, situada na Zona Leste, São Paulo.
Para fundamentar esta pesquisa, utilizamos como apoio teórico: os autores voltados
para a Psicologia Escolar e Criatividade: Alencar, Freire, Kneller, Ostrower e Wechsler; os autores voltados para a Filosofia: Lipman e Raths e os autores voltados para a Lingüística textual: Koch, Rodari e Matos.
Com o resultado da análise, nos certificamos que os textos considerados criativos
possuem características que os diferem dos demais textos e comprovamos a falta de criatividade na maioria das redações, uma vez que estas não apresentaram as habilidades consideradas criativas. Preocupados com essa deficiência, oferecemos nesta pesquisa algumas propostas de como aflorar o pensamento criador do educando.
ABSTRACT In our practice, we have been verifying that the creativity lack is a constant in the
students' compositions, once these reveal enormous difficulties with regard to the writing.Ahead of this verification, we question us I eat we can develop the potential creator of our educandos, since the current teaching is directed to the contents memorization and to “don'tthink it” ?
We believe don't be possible to point some solution, but we intend prove that some
creative considered abilities eat: The humor, the fluency, the fantasy, the originality, thecuriosity, the sensibility, the analogy, inconformismo and the elaboration can be stimulatedby means of the prático and of the training.
With seen to reach such goal, we proposed us to analyze, in students compositions,
just the humor abilities, fluency and analogy. Considering that the critical thought is alwaysin connection with the thought creator in the school learning, to the we analyze the creativeconsidered abilities, establish a link with the critical thought. Corpus used to the materialization of this experiment were students' compositions of E. E. Prof.ª “Luzia deQueiroz and Oliveira”, situated in the Zone East, São Paulo.
To base this research, we use I eat theoretical support: The directed authors to the
School Psychology and Creativity: Alencar, Freire, Kneller, Ostrower and Wechsler; Thedirected authors to the Philosophy: Lipman and Raths and the directed authors toLingüística textual: Koch, Rodari and Matos.
With the result of analysis, we certify us that the creative considered texts own
characteristic that differ them of the too much texts and prove the creativity lack in thecompositions majority, once this ones didn't introduce the creative considered abilities.Worried with this deficiency, we offer in this research some proposed of eat bloom thethought creator of the as bloom the thought creator of the educating.
Criatividade é fazer castelos de areia – e torná-los reais
ou até mais fantásticos.
Criatividade é imaginar como é estar na Lua – e depois ir
até lá explorá-la.
Criatividade é sonhar sonhos impossíveis – e depois alcançá-los.
Criatividade é ler as “20.000 Léguas submarinas” de Júlio Verne – e depois construir uma cidade debaixo
d’aguá.
Torrance (1979)
SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................1 Capítulo 1 – Criatividade e seus conceitos.....................................................15 1.1 Teorias sobre criatividade............................................................18 1.1.1 Abordagens filosóficas..............................................................18 1.1.2 Abordagens biológicas..............................................................19 1.1.3 Abordagens psicológicas...........................................................20 1.1.4 Abordagens psicoeducacionais.................................................26 1.1.5 Abordagens psicofisiológicas....................................................30 1.1.6 Abordagens sociológicas...........................................................31 1.2 O Processo criativo.....................................................................32 Capítulo 2 – A pessoa criativa........................................................................36 2.1 Habilidades da pessoa criativa.....................................................38 2.1.1 Fluência.....................................................................................38 2.1.2 Pensamento original e inovador................................................39 2.1.3 Sensibilidade interna e externa..................................................40 2.1.4 Fantasia e imaginação...............................................................42 2.1.5 Inconformismo..........................................................................45 2.1.6 Uso de analogias.......................................................................47 2.1.7 Idéias enriquecidas e elaboradas...............................................51 2.1.8 Preferência por situações de risco, motivação e curiosidade....53 2.1.9 Humor, impulsividade e espontaneidade..................................54 2.1.10 Confiança em si mesmo e sentido de destino criativo............55 2.2 O que vem a ser Lingüisticamente criativo?...............................57 2.3 Aluno criativo x aluno inteligente...............................................61 Capítulo 3 – Variáveis influenciadoras na criatividade..................................66 3.1 Características de um contexto social propício à criatividade.....67 3.2 Ênfase no papel dos sexos............................................................69 3.3 A importância do ambiente escolar na criatividade.....................70
Capítulo 4 – Análise do corpus ......................................................................74 Capítulo 5 – Propostas de atividades............................................................100 CONCLUSÃO..............................................................................................107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................113 ANEXOS.......................................................................................................118
A hora, transformada em ora, pede demissão do relógio e vai
trabalhar na gramática, como conjunção ou advérbio.
Gianni Rodari
O ser humano utiliza a língua porque vive em comunidades, nas quais tem
necessidade de comunicar-se e de interagir socialmente por meio do seu discurso. A
linguagem é uma forma de o indivíduo agir sobre o mundo, uma ação repleta de
intencionalidade.
É interessante ressaltar que a língua não serve apenas para se comunicar. Ela não é
um instrumento, ou seja, não é uma espécie de ferramenta que o sujeito utiliza para certos
fins comunicacionais. O conto “O arco e o cesto”, do antropólogo Pierre Clastres, nos
fornece uma visão mais ampla sobre linguagem. A obra trata de uma tribo de índios
chamada Guayaqui, em que os homens utilizam a linguagem de uma forma totalmente
inusitada. Nessa tribo, os papéis sociais são bem definidos: os homens caçam, deixando
para as mulheres o cuidado de coletar. Os caçadores cantam à noite, não para se comunicar,
mas para exprimir a insatisfação que sentem por terem que dar sua caça e dividir suas
mulheres.
Possenti (2004: 361) apresenta uma justificativa para a afirmação acima: “aceitar
que seja um instrumento significaria tomar a língua como algo completamente exterior ao
sujeito”. Para o autor, o sujeito é o que é por ser efeito da linguagem. A língua também não
pode ser concebida como expressão do pensamento, pois essa é uma visão instrumental e
aceitar essa teoria, seria acreditar que existe uma língua melhor para cada finalidade, por
exemplo, o alemão para a filosofia, o inglês para a ciência etc. Outro motivo para não
aceitar que a língua seja expressão do pensamento é porque essa concepção nos leva a crer
que pode existir pensamento sem linguagem. Possenti (op. cit.: 362) afirma que a língua
“não “veste” um pensamento prévio, que seria fruto de uma mente “sadia”, mas, ao
contrário, é a condição do pensamento.”
Segundo Geraldi (1990: 135-139) todo o processo de ensino/ aprendizagem da
língua na escola deve partir justamente da produção de textos (orais e escritos). Para ele, é
na produção de discursos que o sujeito articula, aqui e agora, dentro de uma certa formação
discursiva, um ponto de vista sobre o mundo.
Turazza (2005: 152) corrobora as afirmações acima. Para a autora:
O texto, concebido como processo de produção, é o lugar privilegiado da
criatividade, enquanto elemento formalizador do discurso. É nele que se
dá o processo de associação do “velho” (ou de associação entre o velho e a
nova informação), de modo a haver dissociação e reprocessamento para
“melhorar” ou para “transformar” os conhecimentos compartilhados.
A partir dessas afirmações, cremos ser relevante levar o aluno a refletir de maneira
crítica e criativa, sobre o mundo que o cerca, e também auxiliá-lo a usar a língua como
instrumento de interação social. Mas, o que é ser criativo? Como aflora o pensar criativo?
Como diferenciar o criativo, em língua, do não criativo?
Nos dias atuais, não resta dúvida de que em determinados grupos sociais, certos
comportamentos são avaliados positivamente em detrimento de outros. Há, como bem
reflete Ostrower (2001: 141), uma competitividade agressiva que é vista como um valor de
convívio e de produção: só cria quem compete. Para a autora, em nossa cultura, a
competição está institucionalizada em todos os setores, e a competitividade é considerada
normal, pois é condição essencial para os processos de vida. Nesse sentido, os processos
criativos emergem dentro dos processos de trabalho, uma vez que o homem almeja sempre
realizar algo significativo. Para a autora (op. cit.: 10), “o homem cria, não apenas porque
quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser humano,
coerentemente, ordenando, dando forma, criando.”
A criatividade e os processos de criação seriam, nesse sentido, inerentes ao ser
humano e todo o seu fazer se transforma em um formar, justamente para configurar a vida e
dar-lhe sentido (cf. op. cit: 163). As palavras de Ostrower nos conclamam a refletir com
mais acuro sobre uma verdade advinda do senso comum de que, a criatividade é um “dom”.
Como a autora, entendemos o criar como uma habilidade que pode ser aprendida e
estimulada por meio de atividades adequadas.
O desenvolvimento da criatividade é extremamente necessário, uma vez que a
sociedade está passando por diversos problemas. Virgolin (1994: 43) frisa que:
convivemos com a idéia de um planeta ameaçado pela destruição atômica,
pelo declínio das nossas reservas naturais e dos chamados “combustíveis
fósseis” (como carvão, petróleo, gás natural), pelo efeito da
superpopulação e da deteriorização do meio ambiente natural.
Para a autora, toda essa crise está afetando nossa saúde, nosso modo de vida, nossas
relações sociais, políticas e econômicas e exigem transformações sociais, culturais,
espirituais e sobretudo nas idéias.
A partir dessas considerações, acreditamos que a criatividade seja uma habilidade de
sobrevivência para a próxima geração. Devido a tantas mudanças, o futuro torna-se incerto
e a cada momento surgem problemas que pedem por soluções criativas. Com esse ritmo
acelerado de transformações, temos certeza de que nosso futuro necessitará de pessoas
críticas e criativas que saibam usar a sua imaginação para satisfazer as necessidades do
momento. Diante dessa realidade concreta e desafiante, torna-se cada vez mais urgente uma
nova reflexão sobre o Ensino, pois é nessa área que os novos princípios ordenadores serão
definidos, equacionados e transmitidos a todos, para que uma nova civilização se construa
num amanhã próximo. A escola precisa ter ciência desse novo desafio que lhe é imposto e,
por meio de atividades adequadas, procurar se aproximar mais da realidade do aluno. Desse
modo, estimulará a capacidade de pensar criticamente dos educandos que,
conseqüentemente, encontrarão soluções criativas para os problemas.
Compreendemos que exista uma imensa necessidade de estimular a criatividade em
todos os ambientes, começando pela escola, pois é o local onde o indivíduo passa grande
parte de seu tempo antes de ingressar no mercado de trabalho. Entretanto, o que temos
observado é que a escola recebe influências negativas da sociedade, uma vez que com suas
práticas sociais transformam o indivíduo em um sujeito ideológico, pronto para reproduzir
essas mesmas atitudes sociais, o que impede a manifestação de outras práticas que talvez
fossem mais produtivas em termos de criatividade.
Para Lipman (2001: 19), a escola é um campo de batalha, uma vez que é a
responsável por fabricar a sociedade do futuro. Nesse sentido, todo grupo ou facção social
almeja controlar a escola tendo em vista seus próprios objetivos. As escolas refletem os
valores aceitos em sua época, e, estes, por sua vez, não devem ser desafiados ou submetidos
a sugestões alternativas.
Rodari (1982: 10) corrobora as afirmações acima. Para a autora, o pensamento
criativo seria uma arma eficaz de transformação do mundo. Portanto, representa uma
ameaça a uma ordem social conhecida, estabelecida e vantajosa e que para mudá-la são
necessários homens criativos que saibam usar sua imaginação. Urge desenvolver a
criatividade de todos para mudar o mundo.
Assim como Lipman e Rodari, acreditamos que o fato de se atribuir tão pouca
atenção ao pensamento crítico e criativo está relacionado à idéia de poder e de autoridade.
Se as pessoas forem estimuladas a pensar, com certeza irão pensar coisas que “não
deviam”. Se apresentarem alternativas, se criticarem, elas poderão discutir o poder que de
direito pertence aos que têm autoridade. Isso explica o porquê de a sociedade preferir
estimular a docilidade e a submissão às figuras poderosas.
Encontramos, talvez, uma justificativa em Silva (1994: 78): apesar de a pessoa
criativa ser considerada importante para a sociedade, ela é vista também como ameaçadora,
por ser questionadora e “revolucionária”. Segundo a autora, esse fato pode provocar uma
desestabilização social.
Diante desse quadro, torna-se evidente que a sociedade não estimula o pensamento
porque teme as conseqüências. Os educadores precisam conscientizar o aluno do quanto ele
necessita se libertar das pressões da sociedade; devem propiciar atividades que o levem a
ser crítico e criativo diante das situações problemas. Para tanto, é necessário que eles
também saibam pensar. De acordo com Freire (1996: 32), saber pensar é duvidar de suas
próprias certezas, questionar suas verdades. Se o docente faz isso, terá facilidade de
desenvolver em seus alunos o mesmo espírito. O professor que pensa certo deixa
transparecer aos educandos que uma das grandezas de estarem no mundo e com o mundo,
como seres históricos, é a capacidade de poderem intervir no mundo. Acreditamos que só
assim, os educadores exercerão de fato as suas obrigações com a educação, e, com certeza,
contribuirão para a construção de um mundo melhor.
O comportamento criativo fornece ao indivíduo vantagens em termos de “higiene
mental”, “pleno funcionamento de personalidades”, “realização educacional”, “sucesso
vocacional” e “bem estar social”. Essas vantagens, como aponta Torrance (1976: 36),
constituem a grande preocupação não só de elementos que militam na área da educação,
mas também de pesquisadores cujo objetivo é verificar até que ponto pode haver correlação
mútua entre tais variáveis e a criatividade em seus múltiplos aspectos.
Na esteira desse pensamento, Wechsler (1993: 77) salienta que um dos maiores
problemas da adolescência é a falta de destino criativo. Para a autora, os adolescentes não
sabem como canalizar suas energias. Acrescenta, ainda, que o que leva o jovem a utilizar
drogas e a praticar atos de violência é a falta de valores próprios e da percepção de
inutilidade da vida humana.
Segundo Torrance (1971: 82), o “abafamento dos desejos e das capacidades
criativas golpeia as próprias raízes da satisfação de viver, criando afinal arrasadora
tensão e desintegração”. Para o autor, não há dúvida de que a criatividade pessoal seja um
ótimo recurso para enfrentar as tensões do dia a dia.
Diante dessas afirmativas, a criatividade pode ser considerada como uma forma de
assegurar a saúde mental na infância, adolescência, maturidade e velhice, pois auxilia o
indivíduo a desenvolver o seu potencial, fornecendo-lhe forças internas para resolver os
seus problemas presentes e condições para reagir criativamente a problemas futuros.
Como podemos verificar, se, de um lado, o comportamento criativo é função do
bem estar do indivíduo e de sua adaptação ao meio social a que pertence; de outro, deve ser
considerado uma espécie de força motriz responsável pelo dinamismo interno da sociedade.
Na vida, mas principalmente na escola, a criatividade, em nossa perspectiva, não é
vista como uma característica inerente. A sala de aula é, pois, um excelente local para o
desenvolvimento do potencial criativo. Cremos que, esse potencial, em muitos e muitos
casos, está adormecido por causa da opressão que os indivíduos sofrem da sociedade, da
família e da própria educação que faz com que, de acordo com as regras do discurso
classifiquemos a produção – em qualquer sentido – como normal, se ligada à tradição e o
que comumente se espera como resultado daquela atividade, ao tradicional, ao que é
esperado. (cf. Wechsler, 1993: IX)
Essa forma de ver é confirmada por Rodari (1982: 10), ao afirmar que a justificativa
para a criatividade se “desenvolver” apenas em alguns indivíduos está ligada à divisão
injusta do trabalho, à educação concedida apenas aos privilegiados. A falta de estímulo no
ambiente em que cresce a maioria das crianças é, portanto, fator de inibição do potencial
criativo. Alencar (1993: 84) corrobora essa afirmação e cita o Japão como sendo um país
que considera todos os indivíduos como possíveis portadores de algum talento ou
habilidade superior, o que facilita o surgimento da criatividade.
No Brasil, temos um enorme desafio, uma vez que as estatísticas revelam que o
fracasso escolar é uma constante nas escolas brasileiras. O índice de reprovação e evasão
ainda é muito grande. Muitas crianças estão sem estudar, ou porque as escolas da região
não atendem à demanda, ou porque precisam trabalhar para ajudar nas despesas da casa.
Também, o tempo que o aluno permanece na escola é insuficiente, em vista do tempo que o
aluno permanece na escola em países desenvolvidos como França, Alemanha, Inglaterra,
Japão ou Estados Unidos. Outro fator que agrava o fracasso da nossa educação é que, em
algumas regiões do país, existe uma enorme quantidade de professores que não chegaram
nem mesmo a completar o ensino fundamental e estes, quando no meio rural, se vêem
obrigados a atender simultaneamente a alunos de séries diferentes.
No que se refere à criatividade, embora haja um consenso por parte dos educadores
de que essa habilidade deva ser desenvolvida, não oferecem as condições mais adequadas
para a expressão da criatividade. Observamos que cultivam idéias errôneas a respeito de
criatividade, como, por exemplo, a idéia de que a criatividade é uma característica inata,
não podendo ser ensinada ou aprendida. Devido ao programa extenso da escola brasileira,
aliado ao pouco tempo que os alunos permanecem na escola, é favorecido apenas um
número muito reduzido de habilidades intelectuais. Essas habilidades são insuficientes para
preparar o aluno para um futuro produtor de conhecimentos. Observamos, também, que
muito pouco tem sido feito, no sentido de favorecer o desenvolvimento do pensamento
crítico. O aluno tem pouca oportunidade de investigar problemas reais e de interesse
concreto. Enfim, em nossa prática pedagógica, constatamos que apesar de muito se falar em
criatividade pouco tem sido feito no sentido de reconhecê-la e favorecer o seu
desenvolvimento.
Todas as pessoas possuem potencial criador e esse potencial pode evoluir em vários
níveis de intensidade. De acordo com Alencar (1993: 16), todo ser humano possui um certo
grau de habilidades criativas, que podem ser aperfeiçoadas por meio da prática e do treino.
Condições ambientais favoráveis e o domínio de técnicas adequadas favorecem o
desenvolvimento da criatividade. Como já dissemos, de acordo com a autora, um ambiente
que favorece o medo do ridículo e da crítica é responsável por bloquear o surgimento
dessas habilidades criativas.
Infelizmente, quando pensamos nas condições naturais do ensino de redação em
nossas escolas, a fantasia, embora aparentemente estimulada, vem sempre eivada de
observações de muitas espécies que, de algum modo, desestimulam a coragem em relação
ao arriscar e ao criar. É importante ressaltar que os livros didáticos também desestimulam
alguns traços associados à criatividade como a curiosidade e a espontaneidade. Os contos
endereçados às crianças enfatizam uma criança passiva, obediente, no qual uma atitude de
curiosidade é sempre punida e a desobediência castigada. A nossa literatura infantil é
direcionada para fortalecer aqueles mesmos traços acentuados pela família e pela escola, de
conformismo, obediência e passividade. De acordo com Freire (1996: 63), o educando que
tem a sua curiosidade “castrada” acaba perdendo a sua liberdade e o seu desejo de
aventurar-se.
Alencar (1993: 86) realizou estudos para investigar as características e
comportamentos desejados e encorajados pelos professores em sala de aula e, também,
investigar a extensão em que estes professores enfatizam características relacionadas à
criatividade. Nessa pesquisa, constatou que 95% dos professores gostariam que seus alunos
fossem obedientes, sinceros, atenciosos, trabalhadores e bem aceitos pelos colegas.
Algumas características relacionadas à criatividade como independência de julgamento,
curiosidade, intuição e absorção nas tarefas que realizam não foram consideradas
importantes, para serem encorajadas na sala de aula. Já a obediência e o conformismo
parecem facilitar a disciplina e a ordem exigidas pelos professores, principalmente com
relação a alguns objetivos exigidos pelo sistema educacional que prioriza o domínio de
conhecimento à habilidade de solucionar problemas.
De fato, o que temos percebido é que os educadores dão pouco valor ao aluno
criativo. O aluno ideal, desejado por todos os professores, é aquele que permanece quieto e
atento ao que o professor está transmitindo, é um aluno que não questiona, que não critica,
que não propõe ao professor novas abordagens. Acreditamos que esse modelo de aluno
ideal é mais um agravante que conduz a uniformidade de comportamento, de pensamento e
expressão, constituindo, ao mesmo tempo um obstáculo à espontaneidade. Entretanto, a
culpa pela repressão à criatividade não pode ser somente lançada ao professor, uma vez que
ele próprio advém de um sistema educacional no qual também teve sua própria criatividade
reprimida.
De acordo com nossas pesquisas, constatamos que o criar é uma habilidade que
pode ser desenvolvida pelo pensamento, cabendo à escola essa tarefa. Noller (apud
Wechsler, 1993: 165) postula que a “função da escola é ensinar o aluno a pensar”. Para o
autor, isso só pode ser alcançado por meio do desenvolvimento da criatividade de cada
aluno, isto é, estimulando a sua motivação interna. Desse modo, o ensino criativo deve ser
feito por meio da motivação interna criada dentro do indivíduo e não por meio de reforço e
punição.
A produção criadora está sempre em conexão com o pensamento crítico na
aprendizagem escolar. Para Lipman (2002: 39), existe a fusão dessas duas habilidades, pois
não há pensamento criativo sem o mínimo de julgamento crítico. Dias (1986: 54)
acrescenta que
numa organização hierárquica, a criatividade surge como o grau máximo
da criticidade, de forma que todo texto criativo é um texto crítico, sem,
contudo, implicar que o inverso seja verdadeiro, ou seja, que todo texto
crítico deva ser um texto criativo. Parece-nos mesmo que a criatividade
chega mesmo a representar um passo que é posterior à crítica, uma vez
que a construção do novo e da ruptura só é possível através da crítica ao já
conhecido.
Como podemos verificar o pensamento crítico e o criativo estão intrinsecamente
relacionados. Ao tratarmos de criatividade, portanto, estabeleceremos, também, um elo com
o pensamento crítico. De acordo com Lipman (2002: 57), o pensamento crítico “envolve a
capacidade de presumir, supor, comparar, inferir, contrastar ou julgar para deduzir ou
induzir, classificar, descrever, definir ou explicar”. Para Turazza (2005: 152), a
criatividade implica:
estabelecer novas associações, provocando rupturas com associações e
referências triviais, adquirindo flexibilidade mental, originalidade e
tornando-se capaz de usar o previsível para superar o imprevisível, isto é,
desenvolver habilidades de produção..
Assim como Lipman e Turazza, acreditamos que essas habilidades são essenciais
para nós, uma vez que sem elas nossa capacidade para ler e escrever estaria ameaçada. Elas
nos auxiliam a pensar melhor, a fazer melhor e a resolver melhor os nossos problemas. Ao
transformar, estamos agindo, fazendo e são esses processos de criação que nos envolvem na
globalidade, em nosso ser sensível, no ser atuante, no ser pensante.
Atualmente, sentimos que há uma necessidade imensa de acentuar o pensamento na
educação de crianças. Almejamos que nossas crianças pensem sozinhas, que se
autogovernem, que sejam equilibradas. Não queremos que sejam imprudentes ou
precipitadas em seus julgamentos. Esperamos que sejam capazes de aplicar o conhecimento
obtido, em situações novas. Esperamos que selecionem o certo e o errado na propaganda
que se dirige a elas. Esperamos que tenham uma atitude de reflexão em situações
problemáticas. Para Lipman (2002: 159), urge que os educadores ensinem as crianças a
pensar por si mesmas se querem ter uma democracia de verdade, uma vez que o indivíduo
pensante é tão importante quanto a sociedade que questiona.
Mas o que seria esse “pensar”? Quais as conseqüências que o desenvolvimento
dessa habilidade implicaria no educando? Segundo Raths (1977: 1), “pensar está
relacionado ao homem global. Não se limita apenas ao domínio cognitivo. Abrange a
imaginação, o pensamento com certo objetivo, exige a expressão de valores, atitudes,
sentimentos, crenças e aspirações”. Para o autor, a privação de alguns tipos de experiências
tem conseqüências no comportamento. Por exemplo, um aluno que não se concentra; que
não presta atenção no que está realizando, com certeza fracassa em seu trabalho. O autor
enfatiza que quando os educadores oferecem oportunidades para o aluno pensar, a
freqüência de comportamento impulsivo tende a diminuir. De acordo com Raths, não há
receitas para se ensinar a pensar, não existe um “jeito certo” para pensar. A capacidade de
pensar já é própria do ser humano, o que é necessário é oferecer oportunidades para o
indivíduo pensar e discutir o pensamento.
As palavras de Raths nos permitem refletir sobre a situação do ensino atual, que
valoriza a memorização do conhecimento e o “não pensar”. Acreditamos que seja
necessário propiciar atividades que favoreçam o pensamento. Se esse for priorizado em
nossas escolas, com certeza haverá maior tendência para utilizar operações de pensamento
para resolver vários problemas da vida. Com isso, o aluno exercitará sua capacidade de
pensar, refletirá mais antes de tomar decisões precipitadas e toda essa aprendizagem
exercitada na escola terá também reflexo na sua vida particular.
É por meio da mobilização do pensamento criativo do educando e da compreensão
das características de personalidade que ocorrerá a fusão entre a aprendizagem escolar e o
mundo real do trabalho. Para Wechsler (1993: XIV), é preciso que haja uma ênfase maior
em perceber implicações, propor alternativas, predizer direções, estimar as conseqüências
das ações, elaborar as alternativas, elaborar perguntas, tomar decisões, obter novas
informações, reconhecer e compreender os potenciais e como mudar certas características.
Enfim, os pensamentos crítico e criativo podem produzir uma melhoria na
educação, uma vez que aumentam a quantidade e a qualidade do significado que os alunos
retiram daquilo que lêem e percebem, e que expressam por meio daquilo que escrevem e
dizem. Segundo Lipman (2002: 183),
o pensar crítico é essencial para a reforma educacional. Os educadores
almejam alunos que possam fazer mais que simplesmente pensar; é
igualmente importante que sejam capazes de praticar um bom julgamento.
É o bom julgamento que caracteriza a interpretação profunda de um texto
escrito, a redação equilibrada e coerente, a compreensão lúcida daquilo
que ouvimos e o argumento persuasivo.
Diante desse quadro, constatamos o grau de importância da figura do
professor e sua relevância no processo ensino-aprendizagem. Os melhores professores são
aqueles que percebem o potencial criador de seus alunos e os auxilia no aflorar de idéias
originais.
A criatividade é uma ação ativa do sujeito sobre o mundo. Segundo Franchi (1991:
9), é “uma atividade criadora e não meramente reprodutora”. Ser criativo é operar, com
consciência, sobre os múltiplos usos da linguagem (falada, escrita, icônica, gestual, etc), em
seus contextos de produção reais ou imaginários, constituindo-se num sujeito singular,
único.
Temos consciência de que algo deve ser feito para que o indivíduo possa ser
cada vez mais crítico e criativo; e poder trabalhar simultaneamente a linguagem, uma vez
que é por meio da linguagem que o homem se constitui como sujeito. É necessário trabalhar
com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua
criatividade. São esses, pois, os nossos propósitos para a elaboração desta dissertação.
Treinar a criticidade envolve uma aprendizagem que tem como ponto de partida o
desempenho do aluno na leitura de textos de diferentes códigos e diferentes estruturas. A
percepção crítica precisa, cremos, ser trabalhada e cultivada num processo gradativo e
contínuo. É um experimento que deve se desenvolver em cada situação da vida do
educando e significa que a atitude do professor, enquanto orientador e instigador do
processo aprendizagem, precisa extrapolar o texto didático e alcançar o próprio universo do
indivíduo, enquanto texto disponível para trabalhar a criticidade. (cf. Dias, 1986: 61)
Temos certeza que o processo criativo se envolve no aflorar de uma série de
habilidades que se complementam e aflora, no nosso caso, em língua. A nosso ver, treinar
(e isso é possível) a criatividade consiste em desenvolver no educando as habilidades de
fluência, analogia, humor, originalidade, inconformismo, elaboração, fantasia,
sensibilidade, curiosidade. Com isso, será capaz de perceber lacunas, definir problemas,
testar soluções e elaborar planos para a implementação de uma nova solução escolhida;
enfim, seus gestos terão um tom singular, idiossincrático... criativo.
Considerando que o sujeito criativo é na verdade um sujeito que interessa a uma
sociedade nova, crítica e criativa, surgiu a necessidade de pesquisarmos critérios de
avaliação que estivessem centrados no indivíduo como ser mutante, pois, a nosso ver, urge
prepararmos o indivíduo para a vida e não para o simples acúmulo de informações.
Temos observado, em nossa prática pedagógica, que a falta de criatividade é uma
constante nas redações de alunos. Estes demonstram grande dificuldade com relação à
escrita, muitos ainda encontram um verdadeiro “bloqueio” quando necessitam de escrever.
Diante dessas constatações, nos questionamos como podemos desenvolver o potencial
criador dos educandos, já que o ensino atual está voltado para a memorização dos
conhecimentos e o “não pensar”?
Com esta pesquisa, não pretendemos apontar alguma solução e nem somos capazes
de fazê-lo. Mas tencionamos provar que algumas habilidades consideradas criativas podem
ser estimuladas. Desse modo, acreditamos contribuir para a produção de textos mais
originais.
Com vistas a alcançar tal objetivo, nos propusemos a analisar, em redações de
alunos, algumas habilidades consideradas criativas e propor alternativas que possibilitem
estimulá-las. Lembramos que os autores: Kneller, Alencar e Wechsler, que serão abordados
nesta pesquisa, afirmam que as habilidades da pessoa criativa são: fluência, originalidade,
humor, inconformismo, elaboração, analogia, fantasia, curiosidade e sensibilidade. Porém,
por motivos de delimitação, nos deteremos ao estudo do humor, da fluência e da analogia.
Para fundamentar esta pesquisa, utilizaremos como apoio teórico: os autores
voltados para a Psicologia Escolar e Criatividade: Wechsler, Alencar, Kneller, Ostrower e
Freire; os autores voltados para a Filosofia: Lipman e Raths e os autores voltados para a
Lingüística textual: Koch, Rodari e Matos.
Este trabalho terá como corpus, narrativas de nossos alunos, que estão cursando o
primeiro ano, do ensino médio, da E. E. Profª “Luzia de Queiroz e Oliveira”, situada em
Itaquera, Zona Leste, São Paulo. Para a concretização desse experimento, solicitamos a
quarenta alunos (vinte e três meninos e dezessete meninas) que realizassem uma narrativa
dando continuidade à seguinte frase “Se eu fosse um...”. De acordo com Raths (1977: 300),
esse tipo de atividade faz com que os alunos criem, tenham novas idéias e inventem novas
formas de ver as coisas. Esse tipo de exercício é um convite para liberar a imaginação e a
criatividade. Tomando por base a afirmação de Raths e tendo ciência da importância desse
tipo de atividade é que aplicamos o exercício.
Como já mencionamos, todo o processo de ensino/aprendizagem da língua na escola
deve partir da produção de textos orais e escritos. Diante de tal afirmativa, percebemos a
importância de se trabalhar com textos escritos e justificamos o porquê de esta pesquisa ter
como corpus textos produzidos por alunos.
Com vistas a atingir nosso objetivo, assim estruturamos esta pesquisa:
Introdução: em que fazemos a explicitação do tema, das justificativas do estudo,
dos objetivos, da pergunta de pesquisa e a organização da dissertação.
Capítulo I: em que demonstramos que a criatividade tem sido estudada sob os mais
diversos enfoques e abordagens teóricas, indicando assim que ela contém vários aspectos
de extrema relevância. Também vamos discorrer sobre cada fase do processo criativo e
comprovar a importância desse seqüenciamento para a criatividade.
Capítulo II: em que apontamos a importância de se descobrir e de se desenvolver
as características ou traços da personalidade criativa. Enfatizamos que tais características
são condições sine qua non para o surgimento de comportamentos criativos. Em seguida,
salientamos que o indivíduo criativo utiliza recursos na linguagem que o fazem ser
considerado lingüisticamente criativo.
Capítulo III: em que oferecemos um panorama dos diversos elementos que podem
influenciar a criatividade. Enfatizamos que existem bloqueios que afetam a manifestação do
potencial criativo.
Capítulo IV: em que analisamos, nas redações de alunos de ensino médio, algumas
habilidades consideradas criativas como o humor, a fluência e a analogia.
Capítulo V: em que apresentamos propostas de atividades para o desenvolvimento
das habilidades de fluência, humor e analogia, que poderão ser utilizadas pelo professor em
sala de aula ou pelo leitor de qualquer área que quiser “brincar” com as suas idéias e buscar
novas soluções para os problemas enfrentados no seu dia-a-dia.
Conclusão: em que apresentamos e discutimos os resultados obtidos na análise do
corpus, além de retomarmos a pesquisa de modo geral.
A criatividade envolve 99% de esforço
e dedicação e 1% de inspiração.
Thomas Edson
Neste capítulo, vamos apresentar alguns conceitos a respeito de criatividade, bem
como as diversas teorias e abordagens que existem sobre o assunto. Nosso objetivo ao
discorrermos sobre cada uma dessas teorias é propiciar um espaço de reflexão para
podermos avaliar textos criativos.
Levando-se em conta que esta pesquisa procura detectar as características para se
avaliar a criatividade, como a fluência, o humor e a analogia, nos referiremos
especificamente ao modelo psicológico cognitivista. Segundo Alencar (1993: 23), os
processos cognitivos se referem aos processos psicológicos envolvidos no conhecer,
compreender, perceber, aprender. Eles se referem ao modo como a pessoa lida com os
estímulos do mundo externo: como o indivíduo observa e compreende, como grava as
informações e como adiciona as novas informações aos dados previamente registrados.
Até 1950, pouco se havia feito em relação às pesquisas sobre criatividade, mas a
partir dessa data, grande interesse dominou a atenção de pesquisadores americanos. Dentre
eles, podemos destacar: Guilford, Torrance, Wallach e Kogan. Guilford desenvolveu vários
estudos a respeito das habilidades intelectuais que estariam relacionadas à criatividade e
também a outras habilidades cognitivas. Uma de suas maiores contribuições foi alegar que
a inteligência humana é muito mais complexa do que o tem sido medida pelos testes de
inteligência.(cf. Alencar, 1993: 24)
Gardner foi outro psicólogo que também contribuiu para despertar dúvidas em
relação à eficácia dos testes de Q. I. O estudioso enfatiza que o intelecto humano possui
capacidades diferenciadas, variando desde a inteligência musical até a inteligência
envolvida no entendimento de si mesmo. Para o autor, esses testes medem apenas as
capacidades lógico-matemática e lingüística e deixam de lado as demais inteligências.∗
∗ Aprofundaremos melhor o assunto no capítulo II.
De acordo com as teorias estudadas, há muitos conceitos para o termo criatividade.
Observando-os, constatamos que não existe acordo quanto ao significado exato do termo.
Verificamos também que os estudiosos utilizam diferentes critérios para defini-lo.
Kneller (1978: 13) utiliza o critério da flexibilidade para definir criatividade: “tão
flexível e caprichoso fenômeno é a criatividade, que mal podemos defini-la.”
Wechsler (1993: 2) usa o critério etimológico: ″nas definições mais antigas sobre
criatividade encontramos o termo latino creare=fazer, e o termo grego krainen=realizar″.
Para a autora, essas definições revelam uma grande preocupação com o que se faz e com o
que se sente, isto é, como pensar, produzir e se realizar criativamente.
Anderson (apud Alencar, 1993: 13) considera a criatividade como um produto
inovador: “criatividade representa a emergência de algo único e original.”
Stein (apud Alencar, 1993: 13) enfoca a criatividade a partir do resultado:
“criatividade é o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou
satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo.”
Margaret Mead (apud Kneller, 1978: 16) define criatividade como: produção,
invenção e pensamento: “...desde que uma pessoa faz, inventa ou pensa algo que é novo
para si mesma, podemos dizer que realizou ato criador...”
Rodari (1982: 140) utiliza o critério do inconformismo:
Criatividade é sinônimo de “pensamento divergente”, isto é, a capacidade
de romper continuamente os esquemas da experiência. É “criativa” uma
mente que trabalha, que sempre faz perguntas, que descobre problemas
onde os outros encontram respostas satisfatórias (na comodidade das
situações onde se deve farejar o perigo), que é capaz de juízos autônomos
e independentes (do pai, do professor e da sociedade) que recusa o
codificado, que remanuseia objetos e conceitos sem se deixar inibir pelo
conformismo.
Torrance (1976: 34) emprega o critério da percepção: “criatividade é o processo de
perceber lacunas ou elementos faltantes perturbadores; formar idéias ou hipóteses a
respeito deles; testar essas hipóteses; e comunicar os resultados, possivelmente
modificando e retestando as hipóteses.”
Como podemos observar, embora complexo no que tange à sua conceituação,
parece não restar dúvida de que o pensamento criativo é dotado de curiosidade, imaginação
e invenção. Diante dessa complexidade, torna-se necessário conhecer algumas teorias que
abordam o assunto em questão sob outras perspectivas. Com isso, será possível constatar
que alguns conceitos enraizados, presentes atualmente a respeito de criatividade, provêm
dessas teorias.
1.1 Teorias sobre criatividade Neste tópico, vamos abordar algumas teorias que tentam explicar tanto a evolução
filosófica quanto a psicológica de criatividade.
1. 1. 1 Abordagens filosóficas Uma das mais antigas concepções de criatividade provém da crença de que esse
processo acontece por inspiração divina. Como as pessoas conheciam pouco sobre o
pensamento humano, tudo que não podiam explicar atribuíam aos deuses. De acordo com
Platão (apud Wechsler, 1993: 2), o homem, no momento da criação, perdia o controle de si
mesmo, passando a um domínio de um poder superior. De acordo com essa teoria, a
vontade humana não pode interferir na criatividade, pois esta é vista como uma prenda
divina. Atualmente, ainda encontramos pessoas que acreditam que o artista é inspirado pelo
super-humano.
A criatividade era também concebida como forma de loucura. As pessoas
explicavam a espontaneidade e a irracionalidade da criatividade como sendo fruto de
loucura. A criatividade “seria por isso uma espécie de purgativo emocional que mantinha
mentalmente sãos os homens”. (Kneller, 1978: 34)
De acordo com a teoria filosófica, o sujeito criativo sempre destoa dos demais em
uma sociedade. Ele sempre age de uma forma que a sociedade não espera, por isso é
sempre julgado como anormal e louco. Por ser extremamente diferente, o indivíduo criativo
acaba se isolando do resto da sociedade. (cf. Wechsler, 1993: 2)
Segundo Kneller (1978: 35), no século XVIII, vários pensadores e escritores, como
Kant em sua Critica do Juízo, relacionaram criatividade e gênio. Kant alegou que uma obra
de criação é regida por leis próprias, imprevisíveis. A partir desse fato, concluiu que a
criatividade não pode ser ensinada. Para o autor (op.cit.: 37), a “criatividade humana
também tem sido encarada como expressão de uma criatividade universal imanente a tudo
que existe.”
A criatividade também foi vista como forma de intuição. Descartes (apud Wechsler,
1993: 3) acreditava que as idéias da alma eram inatas. Desse modo, o indivíduo criativo
possuiria uma capacidade de intuição cujo dom lhe seria dado. De acordo com essa teoria, a
pessoa criativa era considerada saudável, não era mais vista como louca, embora fosse,
ainda, vista como um ser diferente, por possuir um dom raro.
Infelizmente, ainda nos dias de hoje, as pessoas que conseguem manifestar o seu
potencial criador são vistas como “estranhas”, “esquisitas”, “meio loucas”. Mostraremos,
nesta pesquisa, que o indivíduo criativo se difere das demais pessoas, mas não pode ser
considerado um “louco”.
1. 1. 2 Abordagens biológicas A teoria evolucionista de Darwin teve enorme influência no conceito de
criatividade, que começa a ser concebida como força criadora inerente à vida. Segundo essa
concepção, a criatividade é transmitida pelos códigos genéticos e está fora do controle
pessoal, portanto não é educável. (cf. Wechsler, 1993: 3)
Edmundo Sinnot também foi um dos maiores responsáveis pela teoria biológica
sobre criatividade. O biólogo afirmava que a vida por si só é criativa, porque é capaz de se
auto-organizar e auto-regular sozinha, além de estar sempre gerando novidades. Para
Sinnot, na evolução física as mudanças aconteciam por conta das modificações genéticas.
No ser humano devido à sua capacidade consciente, emerge muitas vezes a necessidade de
colocar sentido e ordem nas experiências. Desse modo, o animal segue regras biológicas
para se organizar e o ser humano segue normas criadas por ele mesmo.(cf. op.cit.: 3)
Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que a criatividade é um dom divino, que o
indivíduo já nasce criativo. É bastante comum ouvirmos das pessoas que elas não são
criativas, que não possuem esse dom. Contudo, cabe aos educadores desmistificar essa
idéia, pois como já mencionamos, todo indivíduo possui um potencial criador.
1. 1. 3 Abordagens psicológicas a) Teorias associativas
Associacionismo, como o próprio nome já diz, consiste em associar idéias, oriundas
da experiência. Para Kneller (1978: 40), “quanto mais freqüentemente, recentemente e
vividamente relacionadas duas idéias, mais provável se torna que, ao apresentar-se uma
delas a mente a outra a acompanhe.”
Segundo essa teoria, as novas idéias surgem a partir das velhas. O pensador frente a
um problema recorre a combinações de idéias, até resolvê-lo. A nova idéia aparece dessa
nova combinação. O interessante é que essas idéias originais não aparecem aos poucos e
sim repentinamente. (cf. Kneller, 1978: 40)
Para Lipman (2001: 112), “quanto maior for o número de associações que fizermos
em nosso pensar, mais consistente será a textura de significados de tal pensamento.”
O autor (op. cit.: 140) acrescenta, ainda, que
se tentarmos compreender termos como “pensamento” e “criatividade”
utilizando uma perspectiva muito ampla, podemos colocar a questão da
seguinte maneira: pensar é fazer associações, e pensar criativamente é
fazer associações novas e diferentes.
Nós, assim como Lipman e Kneller, acreditamos que, para criar, o indivíduo tem
que, por meio de conhecimentos armazenados, fazer novas associações e interagir com eles,
reproduzindo, desenhando o “novo”, tendo como suporte os traçados do “velho”.
b) Teoria da Gestalt
Segundo a teoria gestaltista, o pensamento criador começa com uma situação
problemática que de certa maneira se torna incompleta. O pensador, então, enxerga esse
problema como um todo, tenta variadas abordagens para o problema e chega finalmente a
uma solução. (cf. Kneller, 1978: 40)
O sujeito criativo está sempre à procura de soluções para falhas na informação. Para
Wertheimer (apud Wechsler, 1993: 5), a experiência é muito importante para o
preenchimento da gestalt. No entanto, o significado de recordações passadas é mais
relevante do que a lembrança do fato ocorrido, no pensamento criativo. De combinações de
experiências passadas decorre o pensamento produtivo, ao passo que o pensamento
reprodutivo é a lembrança por si só.
Diante dessas considerações, observamos que essa teoria também acredita que é por
meio de conhecimentos armazenados que o indivíduo é capaz de construir o novo.
c) Teorias psicanalíticas
A psicanálise é, atualmente, a mais influente das teorias sobre criatividade. Para
Freud (apud Kneller, 1965: 41),
a criatividade origina-se num conflito dentro do inconsciente (o id). Mais
cedo ou mais tarde o inconsciente produz uma solução para o conflito. Se
a solução é “ego-sintônica”- se reforça uma atividade pretendida pelo ego,
ou parte consciente da personalidade, teremos como resultado um
comportamento criador.
Segundo Kneller (1978: 41), a criatividade e a neurose possuem a mesma origem,
ou seja, há uma espécie de conflito no inconsciente. Para o autor, a pessoa criativa e a
neurótica são movidas pela mesma energia, a do inconsciente.
Para Kneller (op. cit.: 138), vários pensadores acreditavam que o gênio e a loucura
estivessem relacionados entre si. Inventores, artistas, cientistas e outras pessoas criativas
foram vistos como loucos.
De acordo com a teoria psicanalítica freudiana, a criatividade e a neurose são
provenientes do conflito do inconsciente. No entanto, no indivíduo criativo haveria um
relaxamento maior entre as barreiras do ego e do id, possibilitando que os impulsos
criadores, provocados pelo inconsciente para solucionar conflitos, conseguissem transpor o
limiar da consciência. (cf. Wechsler, 1993: 6)
Como podemos observar, segundo a teoria freudiana, a criatividade é vista como
uma maneira de solucionar conflitos. Quando o educador oferece oportunidades para o
aluno pensar, está também propiciando momentos para que ele possa resolver os seus
conflitos internos. Com isso, há uma mudança no comportamento do educando, ou seja, ele
fica menos agressivo. Para Raths (1997: 4),
quando as crianças têm oportunidades para pensar, quando tais
oportunidades fazem parte do currículo e são apresentadas dia após dia, e
semana após semana, começam a modificar seu comportamento.
O humor e a fantasia são típicos da pessoa criativa. A originalidade que se manifesta
no humor e na fantasia são oriundos do inconsciente. Quando o ego se relaxa, ela acontece,
permitindo que as intuições do inconsciente venham à tona. (cf. Kneller, 1978: 43)
Na perspectiva dos psicanalistas freudianos, a criatividade é uma espécie de
continuação das brincadeiras infantis, um substituto para elas. Pois da mesma maneira que
a criança soluciona seus problemas por meio de brincadeiras, também a pessoa adulta
resolveria seus conflitos por meio de uma solução criativa. (cf. Wechsler, 1993: 6)
Diante do exposto acima, concluímos que, para aumentar o número de pessoas
criativas, é necessário estimular as brincadeiras infantis e o humor na sala de aula. Para
Kneller (1978: 43), a relação da criatividade com o folguedo infantil atinge máxima clareza,
talvez, no prazer que a pessoa criativa manifesta em jogar com idéias,
livremente em seu hábito de explorar idéias e situações pela simples
alegria de ver aonde elas vão levar.
Para os freudianos, o indivíduo criativo não é desajustado. Ele possui, ao contrário
do que pensam as pessoas, em geral, um ego muito flexível. É muito confiante, consegue
viajar pelo seu inconsciente e retornar a salvo com suas descobertas. (cf. Kneller, 1978: 43)
Todo indivíduo sente muita satisfação em criar. A criação faz muito bem para o seu
espírito. Nesse momento de criação, seu intelecto e seu sentimento estão em perfeita
harmonia. É como se ele abraçasse o mundo com muita força. Segundo Kneller (1978: 43)
na “realização espontânea do eu o homem une-se novamente com o mundo – com o
homem, a natureza, e ele mesmo.”
Embora todos os indivíduos sejam criativos, observamos que muitas vezes essa
habilidade não se manifesta. Para Wechsler (1993: 7), a sociedade é a maior responsável
pelo não surgimento da criatividade, pois evita mudanças que afetem seu equilíbrio. As
pessoas acabam se conformando com as regras impostas por ela, acabam reprimindo seus
desejos emocionais e a conseqüência disso é a neurose.
d) Teorias humanistas
De acordo com a teoria humanista, a criatividade é concebida como uma vocação do
ser humano à auto-realização. Carl Rogers foi uma das figuras mais importantes dessa
teoria, sua preocupação era com as forças positivas que o indivíduo traz dentro de si. Na
visão desse autor, para fazer desabrochar o potencial criativo é necessário que haja algumas
condições interiores: abertura às experiências, lugar interno de avaliação e habilidades para
viver o momento presente. (cf. Wechsler, 1993: 8)
Ser criativo é sempre estar aberto às experiências, ao passo que uma pessoa não
criativa é totalmente fechada. Para Kneller (1978: 50),
a criatividade é, pois, a capacidade de permanecer aberto ao mundo –
sustentar a percepção alocêntrica contra a autocêntrica secundária, e ver as
coisas em sua plenitude e realidade, em lugar de o fazer em termos de
hábito e interesse pessoal. A falta de criatividade, por outro lado, é o
estado de achar-se fechado à experiência.
A pessoa criativa possui características que a diferenciam das demais. Carl Rogers
(apud Wechsler, 1993: 9) apresenta algumas:
• tolerância às ambigüidades;
• ausência de rigidez nos comportamentos e pensamentos;
• confiança nos sentimentos e percepções;
• procura da auto-realização, desfrutando o momento presente e adaptando-se ao
meio;
• busca de organização contínua da personalidade.
Observando essas características, podemos constatar que a criatividade está
relacionada com saúde mental, ou seja, o indivíduo que possui uma mente sã é aquele que
consegue se auto-realizar por meio de criações.
Na visão de outro humanista famoso, Rollo May (apud Wechsler, 1993: 9), a
criatividade é definida como uma imersão total em uma idéia. Para favorecer esse processo,
estão envolvidos tanto os componentes físicos: pressão alta, perda de apetite, batimentos
cardíacos acelerados e componentes psicológicos (nervosismo, angústia, tensão). Esses
componentes são oriundos da enorme concentração do desejo de criar. É um processo
altamente emotivo.
e) Teorias desenvolvimentais
Piaget (apud Wechsler, 1993: 10) postulou que a imaginação criadora advinha do
processo de assimilação, em estado de espontaneidade. Segundo ele, a idade não diminui a
capacidade de o indivíduo criar, porém é integrada com a inteligência.
Alguns teóricos analisaram a criatividade em etapas. As fases que favorecem o
desenvolvimento da criatividade são: as fases do conflito iniciativa x culpa (fase fálica, de
acordo com Freud) e a fase do conflito intimidade x isolamento (fase genital, de acordo
com Freud). Para Gowan (apud Wechsler, 1993: 10), “nessas fases, o conflito se relaciona
com o amor pelo outro, sendo que na primeira, o amor é edipiano ou amor pela figura
parental do sexo oposto, e na segunda, o amor é do tipo heterossexual, do adulto jovem,
por determinadas pessoas.”
De acordo com essa teoria, a criatividade resulta de amar e receber amor. O amor é
que inspira a criatividade. Para comprovar tal afirmativa, Gowan (apud Wechsler, 1993:
10) apóia-se no fato de que poetas e escritores sempre enaltecem o amor, seja ele,
correspondido ou não.
f) A teoria do psicodrama
Um olhar retrospectivo tanto sobre civilizações primitivas como sobre as altamente
desenvolvidas mostra que uma antiqüíssima sabedoria consiste em atribuir às forças do
grupo um papel decisivo na estruturação da vida social. Em 1914, em Viena, reconheceu-se
que é mais fácil resolver problemas individuais dentro do grupo. Surgiu então o
psicodrama, teoria profunda do grupo, que reúne métodos individuais e de ação. Jacob L.
Moreno (1959: 106) foi o fundador dessa teoria e explica com clareza o termo:
Drama é uma palavra grega e significa “ação” ou (algo que acontece).
Psicodrama pode então ser definido como “o método que penetra a
verdade da alma através da ação. A catarse que ele provoca é por isso uma
“catarse de ação”.
O psicodrama tem como fundamento o princípio da espontaneidade criadora, a
participação desinibida de todos os integrantes do grupo na produção dramática e a catarse
ativa. Escolha, percepção e papel devem estar espontaneamente prontos para atender às
exigências da presente situação, sempre em constante evolução. Para Moreno, a
espontaneidade é a arma mais eficaz do homem criador e por meio do “Teste de
espontaneidade”, pode-se observar e medir o grau de adequação e originalidade. Vejamos
como Moreno (1959: 58) conceitua espontaneidade:
Espontaneidade (latim – sua sponte = do interior para o exterior) é a
resposta adequada a uma nova situação ou a nova resposta a uma situação
antiga. Espontaneidade atua no presente, aqui e agora. Está,
estrategicamente, ligada às oposições polares “automatismo-reflexão” e
“produtividade-criatividade”.
De acordo com o autor, a espontaneidade é mais antiga que a sexualidade, a
memória e a inteligência e, embora seja a mais antiga em termos universais, é a força
menos desenvolvida nas pessoas e, freqüentemente, inibida e desencorajada pelas
instituições culturais. Para Moreno, o desenvolvimento da espontaneidade deveria ser
exigido por todos os educadores, uma vez que essa habilidade é essencial para se criar.
1. 1. 4 Abordagens psicoeducacionais
a) Teoria cognitivista
J.P. Guilford (apud Kneller, 1978: 53) foi um dos psicólogos pioneiros que avaliam
a criatividade. De acordo com Guilford, a mente humana envolve 120 fatores ou
capacidades diferentes, que formam duas classes principais; capacidades de memória
(menor) e capacidade de pensamento (maior). As capacidades de pensamento se
subdividem em:
• cognitivas: reconhecem informações;
• produtivas: geram novas informações;
• avaliativas: julgam informações que são produzidas.
As capacidades produtivas se subdividem em:
• convergente: formulação de respostas lógicas para o problema;
• divergente: formulação de alternativas variadas à procura de várias soluções para o
problema;
Como podemos observar, o pensamento divergente é aquele que favorece a
criatividade, uma vez que oferece várias alternativas para a solução de problemas. Para
Guilford (apud Wechsler, 1993: 13), a criatividade estaria na operação do tipo divergente.
O psicólogo relacionou o pensamento criativo com a resolução de problemas. Dessa forma,
o pensamento criativo envolveria a elaboração de respostas diferentes.
Guilford (apud Wechsler, 1993: 15) apresenta alguns fatores que arrolam o
pensamento divergente:
a) Fluência vocabular: capacidade de gerar várias idéias. Pode ser ideativa, associativa e
expressiva:
• Fluência associativa: capacidade de fornecer palavras para uma área restrita de
significados;
• Fluência ideativa: competência de trazer à tona várias idéias em uma situação
problema;
• Fluência expressiva: capacidade de gerar muitas idéias para obedecer a limites.
b) Flexibilidade: capacidade de interpretar algo de forma diferente.
c) Originalidade: capacidade de produzir respostas diferentes ou incomuns.
d) Elaboração: capacidade de tecer detalhes para a obtenção de um determinado produto.
Os traços de personalidades também são importantes para o desempenho criativo. As
características mais importantes da pessoa criativa são: estar aberto às novas experiências,
ser tolerante às ambigüidades e ser sensível a novas informações.
Para Kneller (1978: 55), a educação ao invés de priorizar o pensamento divergente
está presa no pensamento convergente, pois ensina o estudante a achar respostas que a
sociedade julga certa. Lipman (2001: 213) corrobora tal afirmativa. Para o autor, o ensino é
o responsável por tornar os alunos submissos no modo de pensar e no comportamento: “A
escola é um local onde aprendemos as coisas certas nas quais devemos acreditar e onde
aprendemos a agir adequadamente”. De acordo com o autor, o educador deve levar o aluno
a pensar criticamente. Para ele, o pensar crítico irá ajudá-lo a evitar a pensar acriticamente e
a agir de forma irrefletida.
Assim como os autores acima citados, acreditamos que quando os educadores
oferecem aos alunos oportunidades que favoreçam o pensamento divergente, fornecem
também subsídios para o desenvolvimento da criatividade.
b) Teoria educacional
Paul Torrance (apud Wechsler, 1993: 16) foi um dos grandes estudiosos na área da
educação. Segundo a teoria de Torrance, nas fases da produção criativa há uma mistura do
pensamento convergente com o divergente. O pensamento divergente deve aparecer na fase
de formulação de hipóteses. Nessa fase, idéias precisam ser soltas, fluentes, flexíveis, sem
julgamentos ou críticas, deixando fluir a fantasia e a imaginação. O ambiente deve ser
estimulador e não punitivo para propiciar as melhores idéias. De acordo com essa teoria, o
pensamento divergente favorece o processo de testar as hipóteses. As idéias originais que
surgiram na fase anterior serão julgadas e avaliadas em diferentes aspectos.
Raths (1997: 31) corrobora as afirmações acima. O autor afirma que é fundamental
ensinar o educando a trabalhar com hipóteses, pois considera que quando o indivíduo faz
levantamento de hipóteses para solucionar um problema, está utilizando operações de
pensamento. Para o filósofo,
uma hipótese é uma proposição apresentada como possível solução para
um problema. Sugere uma forma de fazer alguma coisa. Muito
freqüentemente, também representa um esforço para explicar como algo
atua, e é um guia para tentar a solução de um problema. É uma proposição
provisória e representa um palpite.
Diante do exposto, verificamos que um bom educador precisa sempre apresentar à
classe um problema e pedir para que os alunos sugiram várias hipóteses de resolvê-lo. Com
isso, favorecerá o pensamento divergente.
Uma das mais importantes etapas do processo criativo, apontadas por Torrance, é a
fase de comunicação de resultados. É só por meio da divulgação de seu produto que o
artista avalia o impacto de sua obra. As falhas de seu produto que não foram percebidas
antes são, nessa fase, percebidas por ele.
A criatividade, na visão de Torrance, pode ser estudada por meio de fatores
cognitivos e características emocionais. Os fatores da criatividade envolvidos na área
cognitiva são: fluência (quantidade de idéias expressas), flexibilidade (mudança de
categoria de idéias incomuns) e elaboração (embelezamento das idéias). (cf. Wechsler,
1993: 16)
As palavras e os desenhos também podem revelar características das pessoas
criativas. Nas palavras, as características da pessoa criativa são: emoção, fantasia, analogia
e perspectivas incomuns. Nos desenhos, as características são: emoção, movimento,
perspectiva incomum, perspectiva interna, fantasia, combinação, riqueza e colorido da
imagem, humor, resistência ao fechamento de idéia e extensão de limites. (Wechsler, 1993:
18)
Observamos, em nossa prática pedagógica, que os educadores priorizam e reforçam o
pensamento convergente, uma vez que os estudantes devem encontrar uma única resposta
para os problemas. Há uma punição para melhorar a aprendizagem e isso só dificulta o
surgimento da criatividade. Para reverter tal situação, é necessário que o educador aplique
atividades, que partam do interesse do aluno e de sua motivação interna, pois essa possui
um efeito duradouro.
Torrance investigou e constatou que as crianças norte-americanas da quarta série
estavam diminuindo a criatividade, uma vez que estas são punidas na sala de aula. Os
professores valorizam a criança obediente e passiva ao invés da criança questionadora. (cf.
Wechsler, 1993: 18)
Quando as crianças são reprimidas na sala de aula, o ensino torna-se desmotivador e
sem nenhum aproveitamento. Para Lipman (2001: 97),
obrigar crianças a memorizar meros conteúdos é privá-las das
oportunidades de discernir relações e formar julgamentos; é fazer com que
sua experiência escolar seja sem sentido. Por outro lado, fornecer tais
oportunidades é estimulá-las a pensar por si mesmas, a fazer julgamentos e
a envolverem-se no pensar de ordem superior.
Kneller (1978: 38) acrescenta que a criança sempre tem uma paixão enorme pela
descoberta. A educação deve oferecer oportunidades para alimentar esse desejo. Para o
autor, a criança “em lugar de simplesmente receber o conhecimento de seus mestres e
manuais, ela deve recombinar por seus próprios meios aquilo que aprende”. Se os
educadores aceitarem o conhecimento como coisa dada, ele permanecerá “inerte” e abafará
a imaginação natural.
Torna-se necessário que os educadores se conscientizem desse problema e tentem
resolvê-lo, utilizando estratégias adequadas para obter alunos críticos e criativos. Dessa
forma, contribuirão para o ímpeto natural da criatividade. Para Kneller (1993: 96),
o mestre deve receber bem as idéias originais de seus estudantes - mais do
que isso, deve espiaçá-los para esse fim - sempre e em todos os assuntos.
Em primeiro lugar, podemos estimular os estudantes a ter idéias originais -
idéias que, pelo menos, sejam originais para eles.
Os educadores podem obter melhores resultados em relação à aprendizagem se
trabalharem de forma criativa. Os alunos que aprendem pouco de forma autoritária
poderiam aprender muito mais de uma forma criativa. O que temos observado, em nossa
prática pedagógica, é que a escola insiste em priorizar a memorização dos conteúdos,
fazendo pouco uso do pensamento divergente. Salientamos que não basta que os
educadores “encham a cabeça” dos alunos com conhecimento, é preciso exercitá-los no uso
desses conhecimentos. Para tanto, é necessário que os educadores ensinem os educandos a
pensar por meio de atividades que envolvam comparação, interpretação, resumos,
levantamento de hipóteses e inferências.
1. 1. 5 Abordagens psicofisiológicas a) Hemisférios cerebrais e criatividade
A psicofisiologia tem oferecido grandes contribuições no estudo sobre hemisférios
cerebrais e criatividade. Muito se tem questionado sobre a localização do pensamento
criativo. Por meio de muitos estudos, ficou evidente que o hemisfério esquerdo processa
bem melhor as informações de forma seqüencial, lógica, linear, detalhista, organizada e
analítica. É nesse hemisfério que se desenvolvem as expressões verbais: leitura, escrita,
matemática, computação ou aritmética.(cf. Wechsler, 1993: 19)
Já o hemisfério direito ficou conhecido por processar a informação de maneira
global, emocional, não-linear, ou sem lógica. Esse lado se encarrega dos seguintes
comportamentos:
Apreensão das idéias globais e principais dos problemas, lidar
intuitivamente com fatos e situações de modo simultâneo, apreender
através de experiência e do contato direto com o material, elaborar
pensamentos através de imagens ou sonhar acordado, responder
positivamente a apelos emocionais, usar analogias e metáforas, sumarizar
o material estudado, lembrar facilmente de rostos, interpretar linguagem
corporal, usar de humor, improvisar, desenhar as próprias idéias, sintetizar
imagens e outros processamentos da mesma natureza. (cf. Wechsler, 1993:
20)
Depois de muitas pesquisas, os estudiosos chegaram à conclusão de que há o
envolvimento dos dois hemisférios cerebrais na criatividade. O hemisfério direito se
encarrega de propor soluções originais para os problemas e o hemisfério esquerdo de
analisar detalhadamente os fatos e as soluções alcançadas, fazendo comparações,
modificando-as e criticando-as para alcançar os resultados finais. (cf. Wechsler, 1993: 20)
Com essa teoria, desmistificamos a idéia de que a criatividade provém somente de
um hemisfério. Mostramos que tanto o hemisfério esquerdo quanto o direito são
importantes na criatividade.
1. 1. 6 Abordagens sociológicas Os sociólogos têm se preocupado bastante em saber como deve ser o ambiente
facilitador do desenvolvimento da produção criativa. Eles questionam como a sociedade,
com suas regras, pode permitir o surgimento da criatividade.
Segundo essa teoria, os valores e critérios usados para julgar os produtos criativos
provêm do meio social ao qual o indivíduo pertence. Para Wechsler (1993: 21), a sociedade
“estabelece a utilização do produto criativo e as maneiras de se manter a continuidade
entre as descobertas e a utilização do passado e do presente”. Sendo assim, é necessário
termos uma visão ampla da sociedade a qual o indivíduo pertence para estudarmos a
criatividade, pois o ambiente social exerce uma força positiva ou negativa na produção
criativa. Os efeitos causados por ele são estimulador, recompensador, repressor ou punidor.
Isso nos leva a acreditar que a escola não é somente a responsável por fazer
desabrochar a criatividade, uma vez que a sociedade também assume um papel muito
importante na permissão ou não da expressão criativa.
Um produto só é considerado criativo em um determinado momento histórico. De
acordo com o teórico Csikszentmchalyi (apud Silva: 1994: 93), só podemos estudar a
criatividade se não isolarmos o indivíduo e sua produção do meio social, onde suas ações
ocorreram. Para este autor, a criatividade resulta de uma ação que une três forças:
• um grupo de instituições sociais, ou campo, que seleciona as produções que quer
preservar;
• um domínio de cultura que deve preservar e transmitir as idéias selecionadas para as
gerações seguintes;
• o indivíduo que traz alguma mudança no domínio e que o campo deve julgar
criativa.
De acordo com essa teoria, a criatividade é um julgamento de valor atribuído pelos
especialistas a uma obra. Desse modo, qualquer obra, bem como a pintura, escultura e
descoberta cientifica, só podem ser vistas como criativas quando comparadas com o que já
existe no momento. Para confirmar tal afirmativa, lembramos que vários artistas só são
reconhecidos após a morte, pois suas obras são confrontadas com outras, realizadas naquele
momento histórico.
Diante das teorias apresentadas, observamos que cada linha teórica aborda a
criatividade a partir de diferentes prismas e todas essas abordagens são essenciais para
termos uma visão mais ampla do que, afinal, seja a criatividade. Constatamos o quanto tem
sido difícil para os teóricos definirem o termo “criatividade” e, também, avaliarem quando
uma obra pode ser considerada criativa ou não.Vale ressaltar que avaliar um produto como
criativo vai depender do ponto de vista de cada estudioso. Vimos que provém da teoria
filosófica o conceito de que a criatividade é um dom que não pode ser estimulado. A força
dessas idéias sobre criatividade está ainda hoje bastante enraizada na nossa população.
Encontramos sempre pessoas, no nosso meio de trabalho, que se expressam com frases do
tipo “não adianta, não nasci criativo” ou “não tenho esse dom”. Observamos que é da má
interpretação da teoria psicanalítica que advém o conceito de considerar o indivíduo
criativo como “anormal”, conceito também enraizado em nosso meio, atualmente. Enfim,
esperamos que por meio dessas teorias tenhamos contribuído para esclarecer esse fenômeno
tão complexo que é a criatividade.
1. 2 O Processo criativo
De acordo com nossos estudos, observamos que existem fases que resultam na
produção criativa. Neste tópico, vamos discorrer sobre cada uma delas e procurar mostrar a
importância desse seqüenciamento para a criatividade. Mostraremos que para ocorrer a
criatividade é necessário muito esforço e dedicação. Desmistificaremos, então, o mito de
que a criatividade surge repentinamente.
A criatividade envolve alguns processos psicológicos presentes nos indivíduos. São
processos difíceis de serem mensurados empiricamente. Wechsler, Kneller, Alencar,
estudiosos do assunto, afirmam a existência de cinco fases no processo criador. São elas:
apreensão, preparação, incubação, iluminação e verificação. Esses autores explicam com
muita clareza cada fase do processo criativo:
a) Na fase de apreensão, o indivíduo se sente perturbado por algum problema que
precisa ser solucionado. (cf. Wechsler, 1993: 27)
b) Na fase de preparação, o indivíduo lê bastante, faz anotações, faz perguntas, propõe
possíveis soluções e enquanto está lendo ou investigando, está armazenando
hipóteses na sua cabeça. Todo esse processo ocorre de forma inconsciente. Essa fase
é bastante longa e pode durar meses ou anos. Para confirmar tal afirmativa, Alencar
(1993: 35) cita vários exemplos de pessoas que para realizar algo criativo levaram
muito tempo. Dentre elas, destacamos o escritor Tostói, da Rússia, que para
escrever Guerra e Paz, utilizou um número infinito de documentos que dariam para
formar uma biblioteca.
c) Na fase de incubação, a impressão que temos é que o indivíduo deixou de se
preocupar com o problema. Nessa fase, parece que as idéias estão enterradas por
tempo indeterminado (cf. Wechsler, 1993: 28). Durante esse período, é
imprescindível relaxar a atenção, dar uma pausa, quando a pessoa não consegue sair
da situação problema. Essa pausa é necessária para evitar que a pessoa fique
frustrada, na tentativa de solucionar o problema de uma vez só. Nesse período, não
é atribuída nenhuma atenção ao problema durante certo tempo, pois a incubação não
resulta de um momento de fadiga. Alguns indivíduos resolvem os problemas de
forma rápida, ao passo que outros deixam o problema em aberto. Para Wechsler
(1993: 32) deixar um problema em aberto propicia a incubação e revela que o
indivíduo ainda está atento para solucioná-lo. Guilford (apud Wechsler, 1993: 33)
enfatiza que os educadores devem deixar os problemas em aberto, para reflexão ao
invés de tentarem resolvê-los com respostas inadequadas.
d) Na fase de iluminação, o criador encontra a solução para os seus problemas
repentinamente. Esse momento é chamado de “clímax” ou “aha” ∗ do processo de
∗ Também conhecido como insight.
criação. O sujeito pode estar até dormindo quando alcança a idéia iluminadora, que
pode surgir em forma de analogias. (cf. Wechsler, 1993: 28)
Toda descoberta por acaso só acontece porque o indivíduo já estava com a mente
preparada, ou seja, ele já tinha passado um longo tempo em busca de uma solução para o
problema. Repentinamente, a analogia, entre algum elemento do ambiente e o problema
que estava almejando resolver, lhe traz um “clique”, um “heureca”. Para exemplificar,
Wechsler (1993: 35) cita o caso de Archimedes, que vivia preocupado em como iria medir
a coroa do rei: Certo dia, estava tomando um banho público, quando percebeu que a água
levantava pelas bordas da banheira, assim que seu corpo mergulhava. De repente, viu que
havia encontrado a solução para o seu problema. Sua alegria foi tanta que saiu nu pelas ruas
gritando “heureca”.
Wechsler (1993: 28) também cita o exemplo de Isaac Newton que elaborou a lei da
gravidade depois que a maçã caiu em sua cabeça. A autora ressalta que só quem estava
atento à lei da gravidade poderia fazer tal associação. As muitas invenções na área da
medicina, em forma de vacinas e antibióticos também surgiram repentinamente, após
exaustivos anos de estudo. Isso confirma uma frase importante de Thomas Edison: “a
criatividade envolve 99% de esforço e dedicação e 1% de inspiração”.
Para Alencar (1993: 40), embora o momento de inspiração surja repentinamente, ele
não ocorrerá se não formos receptivos. Cada indivíduo tem o seu estilo de pensar e as
condições que vão favorecer a criatividade variam de indivíduo para indivíduo, bem como a
hora do dia, a posição corporal, barulho ou silêncio, entre outros.
e) A fase de verificação também pode levar muitos anos. Segundo Kneller (1965: 71)
durante essa fase o criador faz de tudo para dar o toque final ao seu trabalho. Esse
processo necessita de muito esforço e acaba desestimulando o criador. Wechsler (1993:
29) cita como exemplo o caso de um poeta Coleridge, que desistiu de terminar muitos
de seus poemas, devido ao fato de estes necessitarem ainda de muita revisão. Para a
autora, às vezes, o produto final pode ficar totalmente diferente da idéia original.
Infelizmente, o que temos observado, em nossa prática pedagógica, é que nenhum
tempo é dado para o período de incubação na sala de aula. Devido à ausência de tempo, os
alunos se vêem obrigados a responder ou encontrar soluções banais ou pouco criativas.
Entretanto, muito poderia ser obtido, em termos de elaboração e aprofundamento de
conteúdo, se os educadores dessem maior tempo para a incubação nas salas de aula.
É o poder de ir e vir da fantasia para a realidade
(e vice-versa) que faz a pessoa saudável.
Ângela M. R. Virgolin O indivíduo criativo possui características que o difere das demais pessoas. Vamos apontar, neste capítulo, quais são essas diferenças e a importância de cada uma delas para a pessoa criativa.
Existem muitas pesquisas para se descobrir quais as características da pessoa criativa. Os pesquisadores almejam saber quais os sentimentos, comportamentos, atitudes que induzem o indivíduo a produzir algo criativo. Vários estudos foram realizados para analisar a biografia de pessoas altamente criativas. Um exame de estudos feitos com amostras de pessoas que contribuíram na arquitetura, ciências, matemática e arte aponta para alguns traços comuns que se sobressaíram.
Os pesquisadores que tiveram destaque no estudo da personalidade criativa foram: Barron (1955) que analisou a originalidade e Mackinnon (1964) que estudou a personalidade de arquitetos altamente criativos (cf. Wechsler, 1993: 48). Mackinnon postulou que os arquitetos mais criativos possuíam os seguintes traços de personalidades:
• intuição; • flexibilidade cognitiva, que permite ao indivíduo atacar um problema com uma
variedade de técnicas e a partir de uma variedade de ângulos, quando um determinado método ou enfoque mostra-se inadequado;
• percepção de si mesmo como uma pessoa responsável; • persistência e dedicação ao trabalho; • pensamento independente; • menor interesse em pequenos detalhes e maior nos significados e implicações dos
fatos; • maior tolerância à ambigüidade; • espontaneidade; • maior abertura às experiências; • interesse não-convencionais.
Macckinnon (apud Alencar, 1993: 19) constatou que os arquitetos mais criativos
possuíam alta inventividade, independência, individualidade, entusiasmo, determinação e capacidade de trabalho, ao passo que os demais se mostraram responsáveis, seguros e de bom caráter. Depois de muitas pesquisas, os estudiosos nessa área concluíram que as características comuns nas pessoas criativas são:
• fluência; • pensamento original e inovador; • alta sensibilidade externa e interna; • fantasia e imaginação; • inconformismo;
• uso elevado de analogias e combinações incomuns; • elaboração; • preferência por situações de risco; motivação e curiosidade; • elevado senso de humor, impulsividade e espontaneidade; • confiança em si mesmo, sentido de destino criativo. Além dessas características, é necessário também que o indivíduo tenha uma
bagagem de conhecimento. Para Alencar (1990: 37), o domínio do assunto é fundamental. A autora lembra que não seria possível para um compositor registrar a sua criação, caso não dominasse as regras de como imprimir na pauta a sua inspiração musical; outro exemplo seria do cientista que deve dominar os princípios básicos de laboratório para contribuir para o avanço científico. O conhecimento necessário varia de área para área e é de extrema relevância para a criatividade. 2. 1 Habilidades da pessoa criativa
Todas essas habilidades mencionadas são relevantes no pensamento criador. Portanto, acreditamos ser necessário discorrer sobre cada uma delas. Esperamos, com isso, demonstrar que essas habilidades podem ser desenvolvidas por meio da prática e do treino. Ressaltamos que apenas as habilidades de analogia, humor e fluência serão utilizadas para análise do corpus. 2. 1. 1 Fluência
Para Kneller (1978: 80), o indivíduo criativo é fluente, pois produz mais idéias do que uma pessoa comum, a respeito de um assunto. Segundo o autor, o indivíduo pode se expressar verbalmente ou não, assim como o artista pode fazer suas tarefas em tinta ou argila.
De acordo com Alencar (1993: 24), fluência é “a habilidade do sujeito em gerar um número relativamente grande de idéias na sua área de atuação”. Essa habilidade é medida pelos psicólogos por meio de testes, nos quais são apresentadas ao indivíduo algumas tarefas simples. O índice de fluência é determinado pela quantidade de respostas. A autora cita alguns exemplos de como medir essa habilidade:
• pedir ao aluno para que nomeie todos os objetos de que se lembre que sejam
sólidos, flexíveis e coloridos; • solicitar ao aluno que enumere todas as conseqüências para uma determinada ação
ou acontecimento; • propor ao aluno que escreva o maior número de palavras com a letra “p”.
Como podemos observar, a fluência é uma habilidade fácil de ser estimulada.
Segundo Kneller (1987: 100), quanto mais idéias o aluno oferecer, mais problemas
conseguirá sanar: “Ser fluente nas idéias, trará para seus estudos um cérebro
imediatamente mais fértil e pode utilizar de maneira mais ampla o que aprende.”
Muitas vezes, os educadores impedem precocemente o surgimento de novas idéias
por meio do raciocínio crítico, dizendo: “Isso não vai dar certo”, “Isso é ridículo”. Com
isso, inibem o afloramento de idéias originais, pois para que estas surjam é necessário que o
educando deixe fluir suas idéias, fazendo muitas associações. Como vimos, não é difícil
aplicar atividades que desenvolvam a habilidade de fluência. O desenvolvimento dessa
habilidade é uma forma de o educador valorizar as idéias de seus educandos e,
conseqüentemente, estimular a criatividade.
2. 1. 2 Pensamento original e inovador
Para Kneller (1987: 80), a originalidade “é o mais amplo dos traços que entram na
criatividade. Abrange capacidades como a de produzir idéias raras, resolver problemas de
maneiras incomuns, usar coisas ou situações de modo não costumeiro.”
Para Torrance (apud Wechsler, 1993: 51), a originalidade pode ser vista como:
novidade, quebra de padrões habituais de pensar, capacidade para produzir
idéias raras ou incomuns, uso de situações ou conceitos de modo não
costumeiro, habilidade para estabelecer conexões distantes e indiretas ou
resposta infreqüente dentro de um determinado grupo de pessoas.
Como podemos observar, a originalidade requer do indivíduo que ele dê um salto
mental, que vá além do óbvio. Essa habilidade é detectada por meio de respostas incomuns
e remotas. Existe um teste chamado “Títulos” que consegue medir a originalidade. Nesse
teste, contam-se histórias e solicita-se que os ouvintes ofereçam o maior número de títulos
adequados para elas. Guilford (apud Alencar, 1993: 25) sugeriu, para medir a originalidade,
a história de uma esposa que estava impossibilitada de falar, até que um dia realizou uma
cirurgia e recuperou a voz. Seu marido começou a sofrer porque ela falava em demasia,
após muito sofrimento, ele resolveu solicitar ao médico que realizasse uma cirurgia para
tirar sua audição. Dessa forma, a paz foi restaurada na família.Os títulos mais comuns
apresentados para essa história foram: “Um homem e sua esposa”, “O triunfo da medicina”,
“A decisão de um homem”. Já os considerados originais foram os títulos menos comuns
como: “O homem surdo e a mulher muda” e “Operação: paz de espírito”. A originalidade
deve ser avaliada dentro de um contexto, ou seja, não basta que a resposta seja incomum,
ela deve também ser avaliada quanto a sua adaptação à realidade. Com a finalidade de
diferenciar uma resposta criativa daquela feita ao acaso, é necessário que a resposta criativa
venha resolver um problema ou alcançar um objetivo. Para Kneller (1978: 18), não basta
que o produto seja novidade, ele tem que ser relevante para o momento.
Para obter uma solução original, os indivíduos criativos se esforçam bastante,
passam muito tempo em busca de uma resposta adequada ao problema. De acordo com
Wechsler (1993: 54), “os indivíduos originais também utilizam o seu pensamento inovador
para resolver problemas das suas vidas diárias”. Um exemplo disso é o caso de Thomas
Edison, o descobridor da lâmpada elétrica, que com os seus conhecimentos na área da
eletricidade, estava sempre trazendo novidades para o seu meio. Certa vez, acabou com as
baratas que infestavam o seu local de trabalho, colocando duas folhas de estanho
eletrificadas sobre a mesa, aonde elas passavam.
Como podemos observar, o exemplo citado revela o quanto a criatividade é
relevante não só para as grandes produções artísticas e científicas, mas também para a
solução dos nossos problemas diários. Demonstramos que para se obter um produto criativo
é preciso que o indivíduo se dedique muito e isso pode levar anos.
2. 1. 3 Sensibilidade interna e externa
Para Alencar (1993: 26), a sensibilidade se refere à habilidade de enxergar falhas
em uma situação onde aparentemente não se percebem problemas. Desse modo, enquanto a
maioria das pessoas não questiona, o indivíduo com sensibilidade tende a questionar até o
óbvio, a identificar as diferenças e defeitos em suas idéias e no ambiente observado. De
acordo com Wechsler (1993: 55), possuir sensibilidade interna e externa para o mundo que
nos rodeia é condição “sine qua non” para o começo do processo criativo.
Existem exercícios que favorecem a sensibilidade. Um deles é chamado de
“Defeituologia”. Nesse exercício, solicita-se aos alunos que nomeiem alguns defeitos para
um objeto qualquer. A título de exemplificação, Alencar (1993: 26) cita algumas respostas
oferecidas por estudantes quando lhes foi solicitado que nomeassem os defeitos de um
livro: junta poeira, ocupa espaço, não interage com o leitor, rasga com facilidade, o seu
conteúdo fica ultrapassado, não pode ser utilizado no escuro.
Para que ocorra a produção criativa é necessário que o indivíduo esteja apaixonado
por uma idéia. De acordo com Wechsler (1993: 57), a “energia mais poderosa para a
realização criativa tende a vir do sentimento de possuir um ideal, um sonho, que se
pretende realizar”. O comprometimento que indivíduos criativos tiveram por suas idéias,
pode ser observado em suas biografias. Torrance (apud Wechsler, 1993: 57) realizou
pesquisas para identificar as características de pessoas criativas e o que as motivava quando
eram crianças. Ele constatou a importância de se estar apaixonado por uma idéia desde o
início da escolaridade e também a de se conseguir expressar emoções e sentimentos por
meio de desenhos e palavras. O resultado de sua pesquisa apontou para o fato de que os
indivíduos criativos foram aqueles que tiveram, em suas infâncias, pais e professores que
respeitaram seus sonhos. Torrance constatou que o amor é fundamental na vida das crianças
para incentivar a criatividade. Com base nessas experiências sobre a importância do amor
na expressão criativa, Torrance, em sua obra “Manifesto para Crianças”, dá exemplos de
como incentivar uma pessoa a ser criativa:
• Não tenha medo de se apaixonar por alguma coisa e sair intensivamente à sua
procura;
• Aprenda a se libertar da expectativa dos outros para poder seguir o seu próprio
caminho;
• Fuja dos papéis que outros querem lhe impor;
• Liberte-se para poder jogar o seu próprio jogo;
• Conheça, compreenda, orgulhe, use, explore e desfrute seus potenciais;
• Não desperdice suas energias tentando ser uma pessoa certinha.
A partir dessas considerações, constatamos o quanto a figura do educador e da
família são importantes para estimular a criança a desenvolver o seu potencial criador. No
entanto, o que temos observado como educadores, é que devido ao grande número de
alunos existentes em sala de aula, o professor não consegue oferecer a atenção necessária a
cada aluno para que ele desenvolva o seu potencial criador. Observamos também, que
muitos desses alunos nem sempre têm famílias que os incentivem, ficando difícil para o
professor desenvolver sozinho essa tarefa.
2. 1. 4 Fantasia e imaginação
Durante muito tempo, as palavras “imaginação” e “fantasia” pertenceram
unicamente à história da filosofia. A psicologia se preocupou com esses vocábulos somente
há algumas décadas atrás. É por esse motivo que a fantasia e a imaginação estão sempre em
desvantagem em relação à memorização dos fatos, no ambiente escolar. Para Rodari (1982:
137), ouvir com paciência e recordar são as características do modelo escolar mais cômodo.
Hegel (apud Rodari, 1982: 137) nos legou a distinção entre “imaginação e fantasia”.
Para o autor, ambas são indicativas da inteligência. Entretanto, a inteligência como
imaginação é vista como puramente reprodução e a fantasia como um ato criativo. Como
podemos observar, havia uma certa diferença entre fantasia e imaginação, mas atualmente
nem a filosofia, nem a psicologia diferenciam esses vocábulos. Para Rodari (1982: 137),
não há problema algum em utilizá-los como sinônimos.
Todos os autores abordados nesta pesquisa ressaltam a importância da fantasia no
pensamento criativo. Wechsler (1993: 58) postula que, desde o início da infância, a fantasia
pode ser vista como uma maneira de resolução de problemas. Por meio de jogos
imaginários, são trabalhadas diversas situações como o medo, a necessidade de ter amigos e
também a identificação com os papéis feminino e masculino. Segundo a autora, brincar e
fantasiar faz parte da infância, pois assim que as crianças adquirem o controle da
linguagem, a fantasia passa a ser internalizada por meio de pensamentos e idéias. Para
Piaget (apud Wechsler, 1993: 58), quando o adulto imagina algo é como se fosse uma
brincadeira interiorizada. Dessa forma, a fantasia no adulto é o brincar da criança.
De acordo com Raths (1997: 29),
imaginar é ter algum tipo de idéia sobre alguma coisa que não está presente; é
perceber, mentalmente, o que não foi totalmente percebido. É uma forma de
criatividade. Ficamos libertos do mundo dos fatos e da realidade e podemos chegar
a locais onde talvez nunca alguém tenha estado, onde nunca estará outra pessoa.
Mas viajamos apenas em fantasia. Criamos imagens mentais. Em outras palavras,
imaginamos.
Raths (op. cit.: 30) questiona se às vezes não descrevemos o pensamento como
imaginação e se temos a pretensão de dizer a mesma coisa quando falamos em pensar
criativamente. Para o autor, a imaginação exige que deixemos de lado o que é comum,
requer invenção e originalidade, liberdade para pensar no que é novo e diferente.
Para Ostrower (2001: 20) o que fornece amplitude à imaginação é a capacidade de
associar objetos e eventos, é poder manipulá-los mentalmente, sem necessitar de sua
presença física. Para a autora, as pessoas são levadas ao mundo da fantasia por meio de
associações e isso não pode ser considerado como devaneios.
A nossa sociedade não valoriza a fantasia. Podemos observar que pais, professores,
familiares não aceitam que a criança use a imaginação. Alguns pais reprimem alguns mitos,
bem como: o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa. No entanto, esses mitos são de suma
importância para o desenvolvimento criativo da criança. O psicanalista Bruno Betlelheim
(apud Wechsler, 1993: 59) demonstrou que proibir a criança de acreditar nesses
personagens é torná-la despreparada para a vida adulta. O estudioso cita como exemplo o
caso de um garoto cujo pai se vestiu de Papai Noel e no meio da festa retirou a fantasia para
que o menino soubesse a “verdade”. A criança teve uma reação inesperada por todos da
festa: começou a gritar desesperadamente “Por que o verdadeiro Papai Noel não aparece
para mim?”. Os pais da criança ficaram perplexos, pois não entendiam que o filho, para
enfrentar a vida, não conseguia acreditar em explicações racionais.
Muitos estudiosos têm encontrado obstáculos para desenvolver a fantasia. Wechsler
(1993: 59) encontrou inúmeras barreiras quando tentou trabalhar o desenvolvimento dessa
habilidade nas crianças. Em um de seus trabalhos, ofereceu leituras sobre marcianos, discos
voadores, etc. A autora ficou decepcionada com o resultado, pois alguns pais tiraram seus
filhos do programa com receio de que estes perdessem o contato com a realidade e dessem
asas à fantasia.
Assim como a autora, acreditamos que os pais confundem fantasia com loucura.
Observamos que os pais bloqueiam demais a fantasia da criança. Quando uma criança diz
que não vai ao banheiro porque lá tem bruxa, a atitude da mãe é sempre dizer para a criança
que ela não deve inventar modas. Ou se a criança diz ter um amigo imaginário é logo
punida. Na verdade, os problemas acontecem porque os pais desconhecem que existem
muitas diferenças entre o pensamento infantil e o pensamento adulto.
Virgolin (1994: 49) também ressalta a importância da fantasia. Para a autora, a
saúde mental passa pelo jogo de ir e vir, sem que ocorra perda da realidade, possibilitando a
elaboração de conflitos, anseios e fantasias:
É o poder ir e vir da fantasia para a realidade (e vice-versa) que faz a
pessoa saudável, no exercício pleno de sua liberdade. Os indivíduos que
vivem só na fantasia, incapazes de “pôr os pés no chão”, assim como
aqueles que só vivem a realidade, incapazes de sonhar, de ousar sair da
rigidez de seus hábitos, são aqueles que estão mais comprometidos em
termos de sanidade mental.
Muitos estudiosos da área desenvolveram estudos que permitiam às pessoas fazerem
uso de sua imaginação no pensamento criativo. De Mille (apud Alencar, 1993: 47) elabora
vários jogos infantis, para que as crianças aprendam que há ocasiões para a fantasia e
ocasiões para a realidade e que ambas devem ser valorizadas.
Virgolin & Alencar (1994: 120) propõem exercícios que estimulam o uso da
imaginação. Vejamos alguns: “o que aconteceria se... (eu me tornasse invisível, fosse capaz
de ler o pensamento dos outros, desaparecessem todos os livros da terra, se os cachorros
tivessem asas, se tivéssemos quatro braços ao invés de dois...etc.)” , “se eu pudesse ...”, “se
eu fosse...”, “se você tivesse uma varinha de condão, o que tornaria maior, menor, mais
colorido, mais quente, mais engraçado...?”, “imagine e desenhe o mundo no ano 3000” e
outros.
Quando o objetivo é liberar a imaginação, os educadores não devem pedir fatos
confirmadores, pois a fantasia ultrapassa os dados. O educador pode, por exemplo, por
meio até de desenhos, solicitar ao aluno que represente uma enxaqueca, ou a vida no
espaço. No Japão, por meio de jogos, peças teatrais, dança e farta literatura infantil, a
fantasia da criança é cultivada. Há materiais escolares de altíssima qualidade que são
utilizados tanto pelos pais como por professores para estimular a criatividade. (cf. Alencar,
1993: 85)
As lendas folclóricas, histórias de assombração e contos de fadas também são
importantes para favorecer o pensamento criativo. Existem depoimentos de escritores que
foram influenciados por essas histórias, como também relatos de cientistas famosos que
declararam ter utilizado a fantasia para esquecer a solidão. Para ressaltar a importância da
fantasia no processo criativo Torrance (apud Wechsler, 1993: 61) define:
• Criatividade é fazer castelos de areia – e torná-los reais ou até mais fantásticos.
• Criatividade é sonhar sonhos impossíveis – e depois alcançá-los.
• Criatividade é imaginar como é estar na lua – e depois ir até lá e explorá-la.
• Criatividade é ler as “20.000 mil léguas submarinas’ de Júlio Verne – e depois
construir uma cidade debaixo d’água.”
• Criatividade é tecer contos nas nuvens – e depois colonizar os espaços.
• Criatividade é sentir o potencial da criança – e ajudá-la a desenvolvê-lo.
Por meio desses exemplos, demonstramos a importância da fantasia e da
imaginação para o pensamento criador. Existem inúmeros exercícios que os educadores
podem aplicar para desenvolver essas habilidades. Infelizmente, em nossa sociedade,
observamos que os pais não têm o hábito de contar histórias para seus filhos, não cultivam
mais a fantasia e a televisão, com suas idéias prontas, funciona como uma babá eletrônica
que transforma a criança num ser passivo.
2. 1. 5 Inconformismo
A pessoa criativa é inconformista, possui idéias originais e é aberto à experiência.
Esse indivíduo conta com a habilidade de enxergar sob diferentes pontos de vista.
Crutchfield (apud Wechsler, 1993: 62) faz considerações importantes a respeito de
inconformismo e da crença que o indivíduo precisa ter em suas próprias idéias:
O conformismo acarreta falta de confiança em si próprio e enfraquece o
poder criativo da pessoa ao lhe retirar a fé nos pensamentos e poder da
imaginação. O conformismo inibe a habilidade de sentir e pensar sobre a
realidade e a falta de contato com o real arruína totalmente o pensamento
criativo.
Diante do exposto, nos certificamos o quão importante é para a criatividade a
característica do inconformismo, pois um indivíduo conformista jamais será capaz de
querer criar algo de novo. A pessoa criativa precisa ser inconformista e lutar contra as
pressões da sociedade para realizar suas descobertas. É interessante ressaltar que o
indivíduo criativo não pode ser confundido com o rebelde. Wechsler (op.cit.: 62) estabelece
uma diferença entre o indivíduo inconformista e o rebelde. Para a autora, a pessoa rebelde
defende sua identidade de forma agressiva, ao passo que o sujeito inconformista aceita as
regras sociais desde que estas não interfiram em seus planos.
Eiduson (apud Wechsler, 1993: 63) realizou estudos para avaliar as características
da personalidade de diversos cientistas e constatou que estes possuíam idéias incomuns e
apresentavam uma enorme necessidade de fugir de padrões habituais de pensar. As
biografias de gênios na área de ciências também foram analisadas e houve a constatação de
que Lavoisier e Galton eram pessoas independentes nos julgamentos e não se incomodavam
pelo modo que eram vistos pela sociedade.
Para Freire (1996: 63), é preciso reforçar a capacidade crítica do educando e sua
insubmissão, dentro de uma rigorosidade metódica, para que ele não se torne um simples
“memorizador”. O educador pode trabalhar a percepção crítica de seus educandos, por meio
de atividades adequadas. Citaremos dois exercícios propostos por Lipman (2001: 207) para
desenvolver essa habilidade:
a) Conscientemente levantando questões como: O que sabemos...? Como sabemos...?
Qual é a prova para...?
b) Fazer inferências a partir de provas e reconhecer quando as inferências sólidas não
podem ser realizadas.
Propiciando o desenvolvimento de atividades como essas, o educador fará com que
seus alunos reflitam sobre a realidade que os cerca e os estimulará a não se conformarem
em receber tudo pronto.
2. 1. 6 Uso de analogias
Uma das características fundamentais do pensamento criativo é a capacidade de
brincar com idéias, cores, formas, conceitos a fim de se obter combinações incomuns. A
mente que cria procura pontos semelhantes entre coisas que ninguém nunca encontrou,
estabelece conexões entre coisas nunca antes estabelecidas. (cf. Wechsler, 1993: 64)
Para Mednick (apud Wechsler, 1993: 64) “criar é fazer conexões”. Todo ato
criativo envolve a habilidade de fazer associações. Para Ostrower (2001: 20), as
associações são oriundas do inconsciente, elas “compõem a essência do nosso mundo
imaginativo. São correspondências, conjeturas evocadas à base de semelhanças,
ressonâncias íntimas em cada um de nós com experiências anteriores e com todo um
sentimento de vida.”
Assim como esses autores, acreditamos que o que dá amplitude à imaginação é o
poder que temos em fazer uma série de atuações, associar objetos e eventos, poder
manipulá-los, tudo mentalmente, sem precisar de sua presença física. Para Alencar &
Virgolin (1994: 117), utilizar
metáforas e analogias torna o pensamento mais flexível, uma vez que elas
nos levam a observar e analisar uma situação sob outras perspectivas, que
não a usual, quebrando a rigidez de pensamento e de percepção,
mantendo-nos abertos e receptivos a novas idéias. Além disso,
desenvolvem também a nossa imaginação, visto que podemos especular,
intuir sobre a situação, apresentando várias hipóteses.
Usar o pensamento analógico é fundamental durante o período de soltar idéias e
buscar soluções originais. Wechsler (1993: 65) investigou tanto a influência das analogias
na produtividade de adultos criativos, como também outras características como emoção,
fantasia, perspectiva incomum e elaboração. A autora constatou que a presença dessas
características em testes de criatividade verbal, realizados em pessoas quando crianças,
revelou-se relacionada com a produção criativa na vida adulta.
Para Ostrower (2001: 20), “grande parte das associações liga-se à fala, nela
submerge e com ela se funde, pois muito do que imaginamos é verbal, traduz-se em nosso
consciente por meio de palavras”. A autora enfatiza que nós pensamos e imaginamos
dentro dos termos de nossa língua, de nossa cultura. Para nos comunicarmos usamos
palavras e são elas que fazem a mediação entre o nosso consciente e o mundo.
A utilização de metáforas e analogias enriquece as obras de seu criador. Esses
recursos podem ser encontrados em diversas áreas. Wechsler (1993: 65) cita exemplos:
• Na poesia, com os brilhantes versos de Olavo Bilac (1994), na Ode à Língua
Portuguesa:
Última flor do lácio, inculta e bela.
És, a um tempo, esplendor e sepultura.
Ouro nativo, que na ganga impura.
A bruta mina entre os cascalhos vela...
(p.286)
• Na literatura, com a maravilhosa obra de Machado (1946), onde em Dom
Casmurro, o autor utiliza analogias e metáforas para descrever os olhos de
Capitu:
...ollhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição
nova. Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que
arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de
ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me a outras partes vizinhas, aos
braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava
das pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura,
ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos
gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado este tempo
infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas...
(p.109)
• Na música, Chico Buarque (1987) utiliza analogias para melhor compreensão
de suas imagens, como na música Construção:
Sentou para descansar como se fosse sábado.
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe.
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago.
Cantou e gargalhou como se ouvisse música.
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado.
E flutuou no ar como se fosse um pássaro.
E se acabou no chão feito um pacote flácido...
Diante do exposto acima, exemplificamos o poder da analogia para a criatividade e
mostramos que essa habilidade pode estar presente em muitas áreas. Wechsler (1993: 66)
salienta que os educadores devem ensinar os alunos a fazerem uso dessa habilidade nas
redações:
enfatizar que a pureza das expressões gramaticais nas redações deve estar
sempre aliada à expressão de imagens ricas e vívidas, utilizando-se o
poder das analogias e metáforas a fim de se permitir ao leitor ou ao
interlocutor a possibilidade de vivenciar os sentimentos do seu autor.
Existem técnicas adequadas para estimular o surgimento de analogias e metáforas.
Alencar (1993: 114) cita o uso da sinética, uma técnica utilizada principalmente nos
Estados Unidos, por organizações industriais que precisam de idéias inovadoras. Sinética é
um vocábulo grego que significa a conjunção de elementos diferentes e aparentemente
irrelevantes. Seu objetivo é favorecer o aumento da consciência e, conseqüentemente, o
controle dos mecanismos através dos quais se chega a novas soluções.
A sinética parte do pressuposto que utilizar metáforas e analogias pode favorecer a
compreensão melhor de um problema que é estranho; pode torná-lo mais familiar e
conseqüentemente mais susceptível a uma solução criativa. O homem se sente seguro
diante do que já é conhecido e se sente ameaçado diante do que lhe é estranho. Por meio do
mecanismo de tornar o estranho familiar, espera-se observar aspectos de problemas já
conhecidos, o que favorece a aplicação de medidas familiares para solucionar novos
problemas. São utilizados para esse fim, três procedimentos: análise, generalização e
analogia. Por meio da análise subdivide-se a pergunta geral em suas partes; pela
generalização, espera-se identificar padrões significantes entre os elementos; pela analogia,
procuram-se paralelos, questionando-se: o que em meus pensamentos se assemelha a isto?
(cf. Alencar, 1993: 114).
Tornar o familiar estranho é um mecanismo que envolve muito esforço consciente
para se obter uma visão nova das pessoas, idéias, sentimentos e objetos. Por meio dele,
buscam-se idéias preconcebidas de antigos hábitos que impedem a visão de novos ângulos,
de novas soluções. O processo básico de sinética envolve o fazer analogias e metáforas de
maneira pessoal, direta, simbólica ou em fantasia. Da maneira que se segue:
a) Analogia pessoal: Identificar-se com os elementos do problema, empatizando-se
com este. Ex.: Como você se sentiria se fosse um vulcão?
b) Analogia direta: Comparar fatos, conhecimentos ou tecnologias paralelas. Ex.: De
que maneiras o problema do tráfego pode ser resolvido ao se pensar na
comunicação entre as formigas?
c) Analogia simbólica: Utilizar-se de imagens para resolver o problema. Essas
imagens deverão ser satisfatórias no sentido estético, mas não necessariamente,
corretas, no sentido tecnológico. Ex.: você agora é um encarregado de planejar um
novo conjunto habitacional: Use sons, cores, ritmos, formas, de maneira incomum e
o mais variado possível, simbolizando sentimentos com formas.
d) Analogia de fantasia: Fazer o uso dos sonhos e desejos para solucionar um
problema. Ex.: Como seria o alimento que solucionaria a fome do país?
Como podemos observar, essas atividades são sugestões de como favorecer a
capacidade do educando para realizar comparações e analogias. São exercícios simples de
serem aplicados pelo educador. Raths (1977: 19) enfatiza que os educadores devem
oferecer às crianças tarefas que exijam pensamento, precisam fazer perguntas que acentuem
o pensamento nos educandos. O autor postula que quando o educador pede para as crianças
compararem as coisas estão propiciando momentos em que pode ocorrer pensamento. Para
ele, com esse tipo de atividade, as crianças têm oportunidades para: observar, por meio de
fatos e imaginação, diferenças e semelhanças; examinar objetos ou idéias com o objetivo de
ver relações mútuas; procurar pontos para concordar ou discordar; verificar o que um tem
que o outro não tem. Muitas vezes, o que descrevem está relacionado com os objetivos da
tarefa. Desse modo, sempre que variar os objetivos, as descrições de comparações vão
variar também.
Quando é solicitado às crianças que comparem objetos, existe a necessidade de
observação. Observar é uma maneira de descobrir informações e, quando elas
compartilham as informações com outras pessoas, percebem suas falhas e as falhas dos
outros, aprendem a ver e a notar o que não tinham percebido antes. Exercícios simples
como pedir que os alunos observem pinturas, esculturas, técnicas de natação favorecem o
pensamento critico e criativo. (cf. op. cit.: 22)
A partir dessas afirmações, observamos o quanto é essencial oferecer oportunidades
de pensamento para os educandos. Para Raths (op.cit.: 57), só teremos alunos críticos e
criativos se as habilidades de comparar, criticar, observar, e decidir forem bem
desenvolvidas. Em nossa prática pedagógica, notamos que são poucos os livros didáticos
que trazem exercícios que desenvolvem esse tipo de atividades. Sendo assim, cabe ao
educador procurar outros mecanismos que possibilitem estimular essas habilidades.
2. 1. 7 Idéias enriquecidas e elaboradas
A elaboração é uma fase essencial para transformar a idéia em produto criativo. É o
trabalho final de embelezamento que vai acrescentar os últimos detalhes na obra. Esse
aspecto pode ser mais facilmente observado nas obras criativas de artistas plásticos, que
acrescentam cores e detalhes às suas obras até que elas fiquem prontas.
Também o povo japonês, por meio da escrita, pintura, música e arranjo floral, nos
fornece amostras da capacidade de elaboração e detalhamento desse povo. A elaboração, o
detalhamento e o enriquecimento das imagens são frutos de muito esforço e dedicação, pois
requerem muitas horas de trabalho à procura da forma mais elegante para se obter o
produto final. Essa característica pode ser observada em todas as áreas. Wechsler (1993:
68) aponta que a maneira mais utilizada na literatura é por meio de adjetivos, como um
modo de embelezar as palavras ou por meio do detalhamento e descrição dos elementos do
cenário, aonde a ação vai se desenvolver. Procura-se, desse modo, criar uma imagem mais
clara da situação verbal.
Para confirmar o exposto acima, a autora (op. cit.: 68) nos fornece um exemplo da
obra “Iracema” de José de Alencar. Nessa obra, antes de a personagem principal entrar, o
autor cria um contexto selvagem para mostrar a maravilhosa paisagem onde morava
Iracema e utiliza elaborações e analogias para descrever o quanto era bela a índia. Vejamos:
Verdes mares bravios da minha terra natal,
Onde conta a jandaia nas frondes da carnaúba
verdes mares que brilhais como líquida esmeralda
nos raios do sol nascente
Prolongando as alvas praias ensombradas de coqueiros...
O moço guerreiro, encostado ao mastro leva os olhos presos
Na sombra fugitiva da terra...Iracema, a virgem dos lábios
cor de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da
graúna e mais longos que o talhe da palmeira.
O favo do jati não era tão doce como seu sorriso; nem a
baunilha rescendia no bosque como o seu hálito perfumado.
(p.10)
Podemos observar o quanto José de Alencar se dedicou para que essa obra ficasse
tão bela; o quanto deve ter se esforçado para conseguir passar uma imagem real de sua
idéia. Notamos que é por meio da colocação de detalhes que o escritor consegue essa
proeza.
A fase de elaboração é uma das fases mais difíceis, pois é durante esse período que
as pessoas criativas abandonam suas idéias frente à tarefa do imenso esforço exigido pelo
detalhamento final. Constatamos que essa é uma das maiores dificuldades do nosso aluno,
que não consegue expor claramente suas idéias, por não ser persistente em escrever. Se o
educando for treinado a fazer rascunho, a reescrever o texto quantas vezes for necessário,
com certeza, sua redação será mais original.
É interessante ressaltar que os alunos produtores das redações, que serão analisadas
nesta pesquisa, não estavam cientes dessa necessidade de elaboração. Dessa maneira, foram
poucos os que fizeram rascunho ou levaram um pouco mais de tempo para escrever.
2. 1. 8 Preferência por situações de risco, motivação e curiosidade
Solucionar criativamente um problema é sem dúvida um desafio para o indivíduo,
pois é imprescindível que ele veja de modo diferente o que é visto por todos como
inquestionável. O indivíduo tem que se arriscar para descobrir se sua idéia tem valor e
persistir muito até obter uma solução nova para o problema. (cf. Wechsler, 1993: 69)
Muitos indivíduos abandonam suas idéias com medo de fracassar, com receio do
que os outros irão pensar. Para Wechsler (op.cit.: 72), é necessário que o indivíduo tenha
plena confiança em si mesmo caso contrário não conseguirá realizar o que almeja. Ser
curioso e estar motivado são características fundamentais para enfrentar os obstáculos que
surgem no decorrer do processo.
Como podemos verificar, a motivação e a coragem estão intrinsecamente
relacionadas com a produção criativa. Infelizmente, nos dias atuais, observamos que os
professores não encorajam certas características relacionadas à criatividade, bem como a
curiosidade e a espontaneidade. Alencar (1993: 86) enfatiza que além dos professores,
também os livros endereçados às crianças tendem a enfatizar uma criança passiva, no qual
ser curioso e desobediente é merecedor de castigo. Os livros infantis que nossos alunos
lêem reforçam, a todo o momento, que eles devem ser obedientes, passivos. É interessante
ressaltar que esses traços favorecidos pelos livros infantis são os mesmos traços que a
família e a escola procuram incutir na cabeça das crianças.
Para Freire (1996: 66), o educador que desrespeita a curiosidade do educando, o seu
gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, transgride os princípios
fundamentalmente éticos de nossa existência. É fundamental que professores e alunos
sejam curiosos, instigadores. Segundo o autor, “é preciso, indispensável mesmo, que o
professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser
humano.”
Kneller (apud Alencar, 1993: 91) salienta que os educadores devem aguçar a
curiosidade do educando, relacionando os estudos com a realidade, levando-o a
compreender que várias questões comportam várias respostas e que o erro é também
importante e pode representar um trampolim para a resposta correta.
Raths (1977: 15) corrobora a afirmação acima e acrescenta que pensar é um modo
de aprender, é um modo de perguntar pelos fatos, e se o pensamento tem algum objetivo, os
fatos assim encontrados serão significativos para esse objetivo. Nesse caso, temos
aprendizagem intencional, e uma pessoa está amadurecendo quando suas atividades são
disciplinadas pelo objetivo. Freire (1996: 66) acrescenta que ensinar requer aceitar os riscos
do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de
discriminação que separe as pessoas em raça e classes.
Assim como esses autores, acreditamos que o educadores necessitam aguçar cada
vez mais a curiosidade de seus educandos, se almejam alunos críticos e criativos. A crítica
deve estar inserida no ensino, a partir da curiosidade dos alunos. Temos observado, em
nossas escolas, que os educandos raramente fazem perguntas, aceitam tudo o que lhes é
transmitido sem questionar. Esse fato confirma que os educadores precisam incentivá-los a
fazer perguntas, mesmo que estas não tenham nada a ver com o assunto tratado.
2. 1. 9 Humor, impulsividade e espontaneidade O indivíduo criador revela acentuado senso de humor. Para Wechsler (1993: 73) “a
espontaneidade e a impulsividade das pessoas criativas lhes oferecem maiores
possibilidades de brincar com as idéias e com os elementos, justapondo-os e combinando-
os de maneiras incomuns, inesperadas e engraçadas”. O indivíduo criativo encontra pontos
semelhantes em fatos ou idéias que nunca foram percebidos por outras pessoas e é essa
comparação tão inusitada que nos leva a achar graça.
A psicanálise, também tenta explicar a origem do humor no indivíduo. Segundo
Kneller (1978: 82), o indivíduo criativo possui o seu ego extremamente flexível. Dessa
forma, consegue retirar-se mais facilmente de seu inconsciente, permitindo que este realize
as conexões novas que tornam a essência do humor. Wechsler (1993: 75) enfatiza que os
indivíduos que apresentam idéias originais são aqueles que mais riem de suas próprias
idéias.
O ambiente humorístico também favorece o surgimento de idéias diferentes
inovadoras e criativas. Os educadores precisam ter ciência do quanto é importante criar um
ambiente humorístico em sala de aula. Observamos que, assim como a fantasia e a
curiosidade não são estimuladas, o humor também não é. Notamos que alguns professores,
para manter a disciplina, incutem nos seus alunos que estudar é coisa séria. Com essa
atitude, reprimem o riso e o humor tão natural que ocorrem nas situações diárias.
2. 1. 10 Confiança em si mesmo e sentido de destino criativo
Pesquisas evidenciam que há relações entre auto-estima e criatividade. Revelam que
os indivíduos criativos possuem auto-estima elevada. Estes por divergirem da norma
sentem necessidade de crer em si mesmos para serem aceitos. (Silva, 1994: 86)
Para Wechsler (1993: 76), a confiança em si mesmo provém do autoconceito
positivo, sendo a família e a escola responsáveis por essa influência negativa ou positiva.
Segundo a autora, a nossa sociedade também mais critica do que elogia as atitudes do
indivíduo que tenta acertar. Essa atitude reprime cada vez mais o indivíduo que passa a não
se arriscar mais com medo do fracasso.
Alencar (1993: 73) salienta que, nos primeiros anos de escolaridade, a influência
dos professores em formar um autoconceito no aluno é muito maior do que eles imaginam.
De acordo com a autora, é comum, após muitos anos depois de deixar os estudos, o adulto
se lembrar de críticas feitas pelo professor e revelar que jamais irá esquecê-las, devido ao
impacto que sofreu na época.
Para a autora em questão (op.cit.: 74), é freqüente também o professor fazer
comparações desfavoráveis citando alunos incapazes. A autora chegou a observar em sala
de aula um professor que pedia para os alunos vaiarem quem não conseguisse realizar uma
operação de multiplicação. Para ela, o aluno que se torna vítima de tal ato jamais terá um
desempenho melhor. São situações como essa que contribuem para a formação de barreiras
internas à própria expressão criativa e para uma visão limitada dos próprios recursos e
habilidades.
Crianças que possuem autoconceito positivo estão propensas a terem um
rendimento escolar superior àquelas que apresentam um autoconceito negativo. A figura do
professor é extremamente relevante para formar um conceito positivo no aluno. Segundo
Freire (1996), o professor tem que estar ciente de que suas atitudes podem influenciar
profundamente a vida de um aluno, de modo positivo ou negativo. Alencar (1993: 77)
propõe alguns exercícios de como reforçar sentimentos positivos no aluno:
• Pedir a cada participante do grupo que diga para os colegas uma das
suas qualidades, traços ou características de que mais goste;
• Colocar o grupo de participantes sentado em círculo e solicitar a cada
um para escolher um colega ali presente e em seguida dizer-lhe uma
característica positiva que o mesmo apresenta (esse exercício é utilizado
somente quando os participantes já se conhecem há algum tempo);
• Solicitar a um dos participantes do grupo que saia da sala e em seguida
pedir a alguns dos membros presentes que escrevam no quadro-negro
um traço característico positivo do colega ausente. Este, ao entrar na
sala, deverá tentar adivinhar quem foram os autores que escreveram na
lousa a seu respeito.
Esses exercícios são fáceis de serem aplicados, além de muito eficazes para elevar a
auto-estima do educando. A certeza de tal afirmativa é devido ao fato de que já realizamos
essa atividade com nossos alunos. Percebemos que, após a aplicação do exercício, eles se
sentiram mais confiantes durante as aulas e mais compreensíveis entre si.
A pessoa criativa tem certeza de que sua obra é valiosa. Para Kneller (1978: 85) a
pessoa criativa “é dotada de inabalável fé não naquilo que fez, mas no que pode, com
tempo e fortuna, realizar. Apesar de toda espécie de tropeços físicos, financeiros,
psicológicos ela é afinal sustentada, em última instância, pela fé em seus poderes
criadores.”
Wechsler (1993: 76) corrobora as afirmações acima. Segundo a autora, além da
segurança que o indivíduo precisa ter em si mesmo, é necessário que ele tenha também um
sentido de destino criativo. Precisa sentir o quanto pode contribuir para o progresso da
humanidade. É imprescindível que o indivíduo criativo esteja apaixonado por uma idéia.
Sendo assim, conseguirá enfrentar as situações de desânimo que irão surgir. É importante
frisarmos que nenhuma invenção da humanidade foi obtida na primeira tentativa e sim
depois de muitos erros e fracassos. A autora (op.cit.: 77) postula que o indivíduo criativo “é
aquele que sabe quem é, aonde quer ir e o que deseja realizar. Ele já resolveu o problema
da identidade pessoal.”
Parece-nos que a ausência de destino criativo é um dos maiores problemas que os
nossos alunos adolescentes vêm enfrentando. Eles se sentem inúteis e não sabem como
empregar suas energias, por isso usam drogas e praticam atos de violência. Os educadores
necessitam ser também criativos e oferecer oportunidades para os educandos canalizarem
suas energias.
2. 2 O que vem a ser “Lingüisticamente criativo”?
Neste segmento, temos por objetivo responder à seguinte pergunta: O que vem a ser
“lingüisticamente criativo”? Acreditamos que o indivíduo criativo utiliza certos recursos na
linguagem para atingir seus objetivos e com base nos estudos de Matos (1994)
responderemos a essa pergunta.
A criatividade é um conceito bastante aberto e variável, que pode ser visualizada por
meio de um continuum que se estenderia de um pólo muitíssimo criativo a outro,
pouquíssimo criativo. Dessa forma, os indivíduos evidenciariam ser mais criativos ao
realizarem determinadas ações em determinados contextos, ao passo que outros
manifestariam ser menos criativos em situações semelhantes. (cf. Matos, 1994: 163)
Para Van Djik (1992), os usuários da língua atribuem aos seus enunciados atos
convencionais particulares, forças ilocucionárias capazes de persuadir o outro. Benveniste
(1976:295) afirma que todos que sabem falar uma língua têm domínio implícito desses
conceitos. Segundo Chomsky (apud Koch, 1984: 23), a língua é o objeto ideal, lugar da
liberdade, da criatividade individual. Benveniste (1976: 286) corrobora essa afirmação ao
alegar que, ao produzir um discurso, o indivíduo se apropria da língua, não só com o
objetivo de transmitir mensagens, mas com a finalidade de atuar, de interagir socialmente,
instituindo-se como “eu” e constituindo-se ao mesmo tempo como interlocutor. Segundo
Mainguenau (1996: 21):
os enunciadores não se contentam em transmitir conteúdos
representativos, empenham-se constantemente em posicionar-se através
do que dizem, a afirmar-se afirmando, negociando sua própria emergência
no discurso antecipando as reações do outro.
Diante dessas afirmações, percebemos que é pela linguagem que o homem se realiza
socialmente, expressando o que pensa e sente e ouvindo o que os outros pensam e sentem.
Por meio dos textos verbais e não-verbais há sempre alguém tentando agir sobre outra
pessoa e vice-versa.
É por meio da linguagem que o homem modela seus pensamentos, suas emoções,
seus atos. É pela linguagem que ele influencia e é influenciado. Linguagem e pensamento
estão intrinsecamente relacionados e para que ocorra a criatividade essas habilidades devem
fluir naturalmente. Para Barbosa (1991: 17),
se linguagem e pensamento estão umbilicalmente relacionados, como
afirmamos, e se ambos se nutrem de nossa imaginação criadora, o
primeiro passo para produzirmos um texto que realmente expresse nossa
linguagem, nosso pensamento, nossa imaginação criadora, deve ser no
sentido de liberá-los de toda sorte de condicionamentos que os tornam
padronizados e mecânicos.
Assim como Barbosa, acreditamos que qualquer falante é capaz de usar
criativamente as palavras para atingir seu objetivo e se comunicar com eficácia, mas para
tanto, precisa se libertar de padrões convencionais e deixar fluir sua imaginação.
Matos (1994:161) enfatiza que a escrita criativa viria a ser a
escrita que exprime os pensamentos e sentimentos do autor
imaginativamente, às vezes de modo singular e poético, principalmente
através de padrões relacionados de linguagem e pensamento. Esse modo
de escrever é, talvez, mais motivado pela necessidade que tem, o escritor,
de expressar sentimentos e idéias idiossincramente, em vez de produzir
textos factualmente exatos ou logicamente seqüenciados.
O autor acredita que o indivíduo criativo utiliza certos recursos para interpretar e
escrever divergentemente. Matos (1994: 162) postula, também, que para os lingüistas é
fundamental o conceito chave de criatividade. Para ele, é criativo um indivíduo que possui
a capacidade de produzir e compreender um número infinito de frases. Essa afirmação é
inspirada nas reflexões e obras do lingüista norte-americano Noam Chomsky por sua ênfase
no aspecto criativo do uso lingüístico. Enquanto os lingüistas de orientação gerativo-
transformacional destacam a capacidade humana de produzir frases, especialistas em
psicolingüística da aprendizagem de línguas aludem a outro aspecto importante da
criatividade lingüística: a capacidade que possuem os falantes de uma comunidade de
inventar palavras para designar conceitos em um determinado contexto.
Segundo Matos (1994: 164), psicólogos cognitivistas tendem a considerar como
criativos aqueles atos que envolvem a resolução de problemas. Lingüisticamente elas
consideram que
problemas expressionais ou comunicacionais existem ou podem existir, na
interação humana (desde a compreensão plena até o desentendimento, a
incomunicação), que formas (palavras, locuções, frases, parágrafos, blocos
de discurso mais extensos) podem ser criadas de maneira inovadora e com
prováveis efeitos nos interlocutores. Segundo a visão cognitivista de que o
viver é uma macroatividade constante de resolver problemas, partindo-se
de soluções possíveis para chegar-se a soluções preferíveis, o comunicar-
se é saber produzir mensagens criativamente adequadas ao ouvinte ou ao
leitor, ao contexto ou à situação, bem como ao assunto tratado.
Na visão desse autor, todos os seres humanos são lingüisticamente criativos e por
meio de sua língua materna essa habilidade se manifesta desde a forma mais simples até a
mais complexa, mas nem por isso menos eficaz. Ser lingüisticamente criativo onde,
quando, como, por quê e para quê? Matos (op.cit.: 163) enfatiza que ser “lingüisticamente
criativo é saber brincar como os elementos constitutivos do universo”. De acordo com o
autor, esse saber brincar envolveria uma gama vastíssima de atos lingüísticos. Esses atos
são exemplificados pelo autor como apenas sugestivos, podendo ser complementados pela
imaginação criadora dos leitores. Segundo Matos, um aprendiz de português é criativo ao:
• inventar jogos de palavras, fazer trocadilhos;
• metaforizar de maneira inusitada;
• fazer uso de analogias e comparações;
• sugerir títulos alternativos para poemas, contos, romances, etc.;
• redigir textos humorísticos;
• transformar poemas em textos em prosa e vice-versa;
• sugerir nomes para conceitos que ainda não foram representados lingüisticamente .
Um exemplo: CRIASIÇÃO (palavra resultante da fusão de criação + aquisição);
• propor nomes para super-heróis ainda inexistentes na literatura infanto-juvenil. Um
exemplo: PAXION (um personagem promotor da paz universal);
• traduzir, lúdico-literalmente, frases do português ao inglês (ou outras línguas);
• explorar os recursos morfológicos existentes em língua portuguesa, criando palavras
não-dicionarizadas. Exemplo: insaber, magnificar, desvirtudes, criatória,
poucamente, ternurosa, optação;
• criar “jingles”;
• realizar paródias de slogans, mensagens publicitárias, poemas, músicas;
• transformar um texto gravado (áudio) em texto escrito. O saber traduzir uma
mensagem, de uma forma de representação a outras, pressupõe uma flexibilidade
cognitiva que não tem sido devidamente orientada pela escola;
• transformar um texto discursivo em diagrama arbóreo, hierárquico, rede semântica,
mapa cognitivo.
Assim como Matos, acreditamos que um indivíduo lingüisticamente criativo é
aquele que utiliza certos recursos na linguagem (recursos acima mencionados) para atingir
seus objetivos. Ressaltamos que não precisa ser um Guimarães Rosa para cunhar palavras
ou fazer derivações lexicais das mais diversas, não tem que ser um Machado de Assis ou
Fernando Pessoa para demonstrar que sabe escrever. Mesmo sem ter esses atributos em tão
alto grau como os referidos autores, o aprendiz de línguas é cognitivamente competente
para usar a língua de modo criativo. Ao professor de Língua Portuguesa cabe a
responsabilidade de propor atividades que assegurem o desenvolvimento desse potencial.
2. 3 Aluno criativo x aluno inteligente
A relação entre criatividade e inteligência vem sendo estudada de diversas maneiras
por muitos teóricos que tratam do assunto. Os estudiosos afirmam que essas habilidades
não podem ser vistas como sinônimos e que o aluno criativo se difere do aluno inteligente.
O processo intelectual é bastante complexo. Essa complexidade é demonstrada pelas
diferentes abordagens sobre o que é a inteligência. Para se avaliar a inteligência são
utilizados testes de Q. I. (Quociente intelectual) ou testes de rendimento intelectual. Esses
testes não são completos, pois avaliam apenas uma das áreas do pensamento, que é o
raciocínio convergente, isto é, aquele que oferece apenas uma resposta para resolver o
problema e punem os indivíduos criativos que sempre oferecem mais de uma resposta para
o problema. (cf. Wechsler, 1993: 123)
Gardner (2000: 30) corrobora a afirmação acima. Para o autor, existe, no nosso
intelecto, uma pluralidade de inteligências e esses testes medem apenas a capacidade de
responder rapidamente a itens de tipo lógico-matemático ou lingüístico e deixam de lado as
demais inteligências. A nossa sociedade coloca as inteligências lingüística e matemática
num “pedestal” e grande parte dos testes de Q. I. está baseado na alta valorização dessas
capacidades. Sendo assim, se o indivíduo se sai bem em linguagem e lógica, deverá sair-se
bem em testes de Q. I.
O autor (op. cit.: 20) acrescenta, ainda, que os testes de Q. I. predizem o
desempenho escolar com muita exatidão, porém não predizem de maneira satisfatória o
desempenho numa profissão depois da instrução formal. Tomemos por exemplo dois
indivíduos: um “mediano” que obteve notas médias nos testes de Q. I. e outro “superior”
que obteve notas altas. O que acontece com eles depois que a escola é concluída é que,
muitas vezes, o aluno “mediano” torna-se bem-sucedido na profissão que escolheu por ser
considerado por todos que estão a sua volta como um indivíduo talentoso. Já, o aluno
“superior” pode ter pouco sucesso na carreira escolhida, por ser considerado “comum” em
suas realizações.
Os exemplos acima reforçam o quanto a avaliação dos testes de Q. I. é falha.
Precisamos ter um olhar crítico frente a esses testes e também observar como existem
maneiras diferentes das pessoas desenvolverem capacidades importantes para seu modo de
vida. Haja vista o caso dos marinheiros que encontram seu caminho em torno de centenas
ou milhares de ilhas, olhando para as constelações de estrelas no céu, sentindo a maneira
pela qual um barco passa sobre a água e observando alguns marcos dispersos. Uma palavra
para a inteligência nessa sociedade de marinheiros provavelmente se referiria a esse tipo de
habilidade para navegar. (Gardner, 2000: 14)
Gardner tem uma visão pluralista da mente e reconhece que os indivíduos têm
forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes. O autor enfatiza a
pluralidade do intelecto e afirma que a mente humana possui sete tipos de inteligências:
• Inteligência lógico-matemática é a capacidade lógica e matemática, como a
capacidade científica;
• Inteligência lingüística é o tipo de capacidade exibida em sua forma mais completa,
talvez pelos poetas;
• Inteligência espacial é a capacidade de formar um modelo mental de um mundo
espacial e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo, como os
marinheiros;
• Inteligência musical é a capacidade de percepção e produção musical, assim como
Mozart;
• Inteligência corporal-cinestésica é a capacidade de resolver problemas ou de
elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do corpo, assim como os
atletas;
• Inteligência interpessoal é a capacidade de compreender outras pessoas, o que as
motiva, como elas trabalham, assim como os professores, vendedores;
• Inteligência intrapessoal é a capacidade de formar um modelo acurado e verídico de
si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida.
É de suma importância que reconheçamos e estimulemos todas as variadas
inteligências humanas e todas as combinações de inteligências. Segundo Gardner (2000:
18), nós todos somos tão diferentes em grande parte porque possuímos diferentes
combinações de inteligências. A competência cognitiva humana é melhor descrita em
termos de um conjunto de capacidades, talentos ou habilidades mentais que chamamos de
“inteligências”. Todos os indivíduos normais possuem cada uma dessas capacidades em
certa medida, os indivíduos diferem no grau de capacidade e na natureza de sua
combinação.
Numa visão tradicional, a inteligência é definida operacionalmente como a
capacidade de responder a itens em testes de inteligência. Já a teoria de Gardner, das
Inteligências múltiplas, pluraliza o conceito tradicional. De acordo com essa teoria, uma
inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são
importantes num determinado ambiente cultural. A capacidade de resolver problemas
permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a
rota adequada para esse objetivo. A criação de um produto cultural é crucial nessa função,
na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os
sentimentos da pessoa. (Gardner, 2000: 21)
Getzels & Jackson (apud Wechsler, 1993: 123) realizaram estudos para comprovar
que há diferenças entre criatividade e inteligência. Esses autores classificaram os estudantes
em termos de alta criatividade e alta inteligência. Os resultados dessa pesquisa revelaram
que há uma relação mínima entre criatividade e inteligência e constataram também que
tanto o grupo mais inteligente quanto o mais criativo obtiveram resultados bem mais
satisfatórios do que a média da população.
Mackinnom (apud Wechsler, 1993: 124) em um de seus testes realizados com
arquitetos e pesquisadores comprovou que existe um mínimo de inteligência nas
realizações criativas, entretanto concluiu também que alta inteligência não garante alto
nível de criatividade.
Kneller (1978: 21) corrobora as afirmações acima. Para o autor:
A correlação entre inteligência e criatividade é alta sem todavia ser
absoluta. As crianças de Q. I. baixo ou mesmo médio tendem para baixa
ou média criatividade. O oposto não é, entretanto, necessariamente
verdadeiro. Alto Q. I. não garante alta criatividade.
Como podemos verificar, na visão desses autores, inteligência não pode ser
confundida com criatividade. Há uma diferença entre essas habilidades, embora não seja
fácil de ser identificada e para ocorrer a criatividade é necessário um mínimo de
inteligência. Observamos, em nossa prática pedagógica, que a maioria dos educadores,
assim como a sociedade, desprezam a definição de inteligência, proposta por Gardner, e
consideram como inteligentes aqueles alunos que obtêm notas altas nas avaliações.
Notamos que não sabem distinguir o aluno de alto Q. I. do aluno criativo, pois muitas vezes
consideram a pessoa altamente inteligente como sendo altamente criativa.
Em termos de comportamento, o aluno criativo é bastante diferente do aluno
considerado inteligente. De acordo com Kneller (1978: 85), o aluno criativo é desajustado,
está preocupado só com suas idéias e não em ser aceito pelo grupo. Possui um
comportamento irônico frente à obsessão de seus colegas com roupas, automóveis,
atletismo e namoros.
Pesquisas revelam que os educadores preferem os alunos de alto Q.I. aos de alta
criatividade. Kneller (1978: 87) apresenta alguns motivos dessa preferência. Para o autor,
o aluno criativo:
• é menos estudioso e ordeiro, mais interessado em suas próprias idéias do
que no seu trabalho per se;
• é excessivamente crítico;
• procura tarefas difíceis, que não raro combinam diversas áreas de
conhecimento;
• possui idéias espontâneas que são mais difíceis de serem avaliadas do
que o trabalho menos original;
• muitas vezes é desleixado e precipitado, mais atento a idéias do que à
aparência e menos preocupado em merecer a aprovação do professor.
Diante do exposto acima, observamos o quanto o aluno criativo se difere do aluno
considerado inteligente. Com base nessas informações, torna-se fácil para o educador
identificar, em sala de aula, o aluno criativo e tentar compreendê-lo em suas atitudes.
A pressão social no sentido de que todos pensem, ajam e se conformem
com as normas sociais do seu grupo é extremamente forte e eficaz.
Eunice M. L. Soriano de Alencar
Neste capítulo, vamos discorrer sobre alguns fatores que influenciam no surgimento
da criatividade. Vamos demonstrar que existem bloqueios que afetam a manifestação do
potencial criativo, mas que estes podem ser superados.
3. 1 Características de um contexto social propício à criatividade
Neste tópico, temos por objetivo mostrar que a sociedade com suas práticas sociais
transformam o indivíduo em um sujeito ideológico, pronto para reproduzir as mesmas
atitudes sociais, impedindo a manifestação de outras práticas que talvez fossem mais
produtivas em termos de criatividade.
Para que ocorra a criatividade, é necessário não só estimular o indivíduo, mas
também afetar o meio social ao qual ele pertence. Se as pessoas que estão ao redor do
indivíduo não valorizam o trabalho criativo quando este é apresentado, possivelmente os
esforços desse indivíduo encontrem obstáculos intransponíveis.
Ostrower (2001: 6) postula que o homem contemporâneo é pressionado por
múltiplas exigências nas funções que deve exercer e a todo o momento bombardeado por
informações contraditórias, que quase ultrapassam o ritmo orgânico de sua vida. Com isso,
ao invés de se integrar como ser social, o indivíduo sofre um processo de desintegração e
acaba se alienando de suas possibilidades de criar.
Assim como Ostrower, acreditamos que todo o processo de socialização é no
sentido de conduzir à uniformidade de comportamento e de expressão e de desestimular a
diversidade e originalidade. O que os agentes socializadores mais cultivam é a obediência
às regras, uma vez que se sentem perturbados com a perspectiva de mudança. Isso explica a
hostilidade que sempre se observa para com a pessoa divergente. Desse modo, o
desenvolvimento da criatividade não depende só da pessoa, mas também do contexto social
onde está inserida.
As pesquisas que estudam a ação do ambiente sobre a criatividade revelam que, de
maneira geral, este “ambiente” mais inibe do que encoraja essa característica. Os dados
coletados no ambiente familiar indicam que essas relações são determinantes de um
enquadramento social, ao passo que na escola o que vimos é um ensino direcionado à
memorização e repetição. As nossas práticas sociais nos transformam em sujeitos
ideológicos, aptos para reproduzir as mesmas relações sociais, impossibilitando a produção
de novas relações satisfatórias. (cf. Silva, 1994: 81)
O talento que não é estimulado leva o indivíduo a se conformar com as regras, não
produzindo, portanto de acordo com o seu potencial. Wechsler (1993: 125) afirma que
existem pessoas altamente inteligentes, que por falta de segurança em si mesmas, ou por
exigência de serem perfeitas têm medo de se arriscar para realizar atos criativos, não
aproveitando, portanto, seu potencial intelectual.
A sociedade pode favorecer o surgimento da criatividade, quando oferece chances
ao indivíduo de manifestar seu potencial, nas diversas áreas. Para Alencar (1993: 60),
existem várias maneiras de como a sociedade pode contribuir para fazer fluir a criatividade
no indivíduo:
• Uma sociedade estimula a criatividade quando encoraja uma abertura a
experiências internas e externas. Desse modo, uma sociedade onde prevalece
“não faça isto”, “não tente aquilo”, restringe a liberdade de questionar e a
autonomia necessária à criatividade;
• Uma sociedade favorece a criatividade quando os seus indivíduos têm
liberdade para pensar, explorar, questionar, estudar e preparar-se
profissionalmente, ser eles mesmos;
• Uma sociedade encoraja a criatividade valorizando a mudança e a
criatividade.
O discurso social afirma que o desenvolvimento do potencial criativo é relevante
não só para o indivíduo como também para a sociedade, uma vez que o desenvolvimento
tanto tecnológico como social dependem da criatividade. Por outro lado, a prática revela
que o potencial criativo tem sido freqüentemente inibido e bloqueado.
3. 2 Ênfase no papel dos sexos
Neste tópico, vamos demonstrar que a sociedade estabelece diferenças entre o sexo
masculino e o feminino e, dessa forma, inibe o potencial criativo.
As características de personalidade, tanto do homem criativo quanto da mulher, são
muito parecidas. No entanto, a mulher vem encontrando inúmeras dificuldades para se
realizar criativamente, pois a sociedade difere o sexo feminino do masculino. (cf. Wechsler,
1993: 103)
De acordo com a visão da sociedade tradicional, a mulher só se realiza por meio do
casamento e da maternidade, a que decide ficar solteira e se dedicar à carreira profissional é
mal vista e considerada “estranha”. Os pais também contribuem para fortalecer essas
diferenças entre os sexos, pois modelam o comportamento esperado “masculino” ou
“feminino”. Desde a infância, já é ensinado para a menina um comportamento de
passividade, ao passo que para o menino é reforçado um comportamento mais agressivo. A
menina é incentivada a brincar de boneca (deverá cuidar como se fosse um filho), fazer
comidinhas, bordar, imitando assim o papel da mãe em casa. Já os meninos são apoiados a
brigar, a brincar de revólver, carros, quebra-cabeças. (cf. Wechsler, 1993: 104)
Observamos que para a menina é dada mais atenção no sentido de protegê-la da
solidão e angústia. Ao passo que, para o menino existe todo um ensinamento voltado para
que ele se torne independente, livre, forte. Wechsler (1993: 105) postula que o papel de
submissão ao homem, de dependência e fragilidade feminina é transmitido sob diversas
maneiras: na literatura infantil, religião, livros escolares, televisão, etc. Nos livros de
histórias infantis, há sempre uma linda donzela esperando se casar com um príncipe
encantado. Do mesmo modo, por meio da religião, dos livros escolares e da televisão a
mensagem destinada à mulher ainda é a de apontar o seu papel para ser aquela que deve
casar, ter filhos, manter sua casa em ordem. Ao passo que, ao homem é transmitida a idéia
de que ele deve trabalhar fora para sustentar a família .
Na área acadêmica, os próprios pais que sempre elogiaram as filhas pelo seu
desempenho, começam com o passar dos anos a não valorizar esse mesmo desempenho,
cobrando das filhas que elas devem se casar. No entanto, para o homem é colocado que os
estudos são muito importantes, pois é por meio deles que ele conseguirá ter um bom
emprego e sustentar sua família.
Alguns traços de personalidade que se relacionam com a criatividade, bem como a
espontaneidade, sensibilidade e intuição, são bem vistos quando apresentados por mulheres.
Já outros são mais bem aceitos se apresentados por homens, bem como a curiosidade e a
independência. Certas áreas são consideradas masculinas como Ciências e Matemática, ao
passo que outras são consideradas próprias para o sexo feminino. Essa diferenciação tende
a bloquear o desenvolvimento do potencial criativo. (cf. Alencar, 1993: 63)
Como podemos verificar, a todo o momento, veiculam ideologias no sentido de que
o homem deve ser independente e a mulher submissa. A sociedade, por enfatizar
exageradamente a diferenciação dos papéis sexuais, inibe o afloramento do potencial
criativo. Cremos que somente os educadores poderão mostrar aos educandos uma visão
mais crítica do assunto e, dessa forma, auxiliá-los a vencer os obstáculos impostos pela
sociedade.
3. 3 A importância do ambiente escolar na criatividade
Vamos ressaltar, neste tópico, o quanto o educador pode tornar o ambiente mais
propício para o aflorar da criatividade.
Além de a figura do professor ser de extrema valia no processo ensino-
aprendizagem, o ambiente escolar também merece destaque, pois esse deve ser o mais
agradável possível. Para Wechsler (1993: 81), é preciso que o aluno sinta, no ambiente
escolar, o estímulo para ter a coragem de se arriscar, o estímulo para exprimir os seus
pensamentos e perceber que suas idéias possuem valor.
Alencar (1993: 58) corrobora as afirmações acima. Para a autora, um ambiente onde
o aluno se sente ameaçado, questionado, criticado, não é um ambiente favorável à
expressão da criatividade.
Segundo Wechsler (1993: 81), o desenvolvimento da criatividade na escola é
fundamental não só para aumentar o rendimento acadêmico do aluno, mas também para
oferecer um ambiente adequado à promoção da saúde mental. Desse modo, a criatividade
funciona como uma maneira de prevenção de desajustes emocionais e cognitivos, pois o
aluno que se sente valorizado na sala de aula tem motivação para estudar.
As atividades em grupo também contribuem para uma maior interação entre os
alunos e também aumentam a motivação destes para irem à escola. O educando sente uma
enorme necessidade em ser aceito pelo grupo e vê nessas atividades oportunidades para se
colocar como sujeito.
A concepção que o aluno tem de si mesmo pode ser um obstáculo para a expressão
da criatividade. Se ele se considera pouco criativo ou incapaz de gerar idéias, com certeza
direcionará seu comportamento no sentido de confirmar essa auto-imagem. O aluno
necessita de um ambiente propício para a construção de uma auto-imagem positiva, uma
vez que aquilo que pensa de si mesmo influencia o que pode fazer e alcançar. Desse modo,
o papel do professor é de extrema importância, uma vez que constitui um elemento
poderoso na formação de crenças e atitudes que cada aluno desenvolve a respeito de si
mesmo. (Fleith, 1993: 125)
Outro obstáculo para o desenvolvimento das habilidades criativas na sala de aula é a
necessidade de o aluno estar correto o tempo todo. A maioria dos educadores enfatiza a
exatidão das respostas, considerada condição essencial para ser um bom aluno. Já o que
erra é visto como incompetente e incapaz. Os professores não percebem o erro como um
ato criativo, como uma oportunidade para exploração e descoberta. Há uma falha no
sistema educacional que visa ensinar aos educandos somente uma única resposta.
Rodari (1982: 36) afirma que muitos dos “erros” dos alunos não são erros, são
criações que servem para assimilar uma realidade desconhecida. Para o autor, em cada erro
existe a possibilidade de uma história e a “palavra certa existe apenas em oposição à
palavra errada”. Rodari (op. cit.: 34) propõe algumas sugestões para trabalhar
criativamente o erro:
• “erro ortográfico”: A partir de um erro ortográfico, solicita-se ao aluno que
dê um significado ao mesmo e depois construa uma história. Ex.:
“altomóvel” um carro tão alto que não cabe em qualquer garagem; um
“livvro” com dois “v” será um livro mais pesado que os outros, um livro
todo errado ou um livro especialíssimo?
• “prefixo arbitrário”: O professor solicita aos alunos que escrevam em papel,
um prefixo, e, em outro, um substantivo.Formam-se então, então dois
grupos: um de prefixos e outro de substantivos. Retira-se de cada vez, um
papel de cada grupo, e juntam-se as duas, para formar uma palavra nova,
muitas vezes inexistente. Solicita-se aos alunos que dêem significado a ela e
elaborem uma composição. Assim des+tarefa=destarefa, poderia ser uma
tarefa que não precisamos fazer logo que voltamos para casa, porque pode
ser feita aos poucos; “maxi-coberta” um cobertor capaz de cobrir, no
inverno, todas as pessoas que sentem frio.
Diante do que foi exposto, percebemos o quanto é importante valorizar o erro do
educando. Vimos que existem muitas maneiras de o educador aproveitar esse “erro” na
produção criativa. Para Rodari (1982: 36), é errando que se cria.
Para encorajar a criatividade do educando, é preciso que o educador torne a sala de
aula um local propício para o seu desenvolvimento. De acordo com Freire (1996: 96), o
educador precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas momentos de
liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus alunos. Para
isso, é necessário que o educador goste do educando e do seu trabalho, que sinta prazer em
ver o aluno descobrindo o conhecimento.
A receptividade a novas idéias é uma das características fundamentais para o
desenvolvimento da criatividade e pode ser implementada por meio de vários
procedimentos. Para exemplificar indicaremos alguns citados por Alencar (1990: 58):
• Propiciar oportunidades para o aluno perguntar, elaborar e testar hipóteses,
discordar, propor interpretações alternativas, criticar fatos, conceitos, idéias;
• Oferecer um tempo adequado para o aluno pensar e desenvolver suas idéias
criativas;
• Estimular os alunos a refletir sobre o que gostariam de aprender, ou temas
sobre os quais queiram realizar estudos e pesquisas;
• Desenvolver nos educandos a habilidade de pensar em termos de
possibilidade, de fazer julgamentos, de propor modificações e
aperfeiçoamentos para suas próprias idéias;
• Encorajar o educando a redigir poemas, histórias, trabalhos artísticos,
oferecendo um espaço para a divulgação desta produção;
• Evitar que o trabalho do educando seja motivo de gozações ou críticas;
• Oferecer um clima agradável para que o aluno não tenha medo de se arriscar.
O medo de fracassar e de ser criticado não deve existir em sala de aula;
• Oferecer oportunidades ao aluno para desenvolver sua imaginação e para
elaborar idéias imaginativas com relação a um determinado tema;
• Não considerar disciplina como alunos sentados, quietos e de boca fechada.
Aceitar a espontaneidade, a iniciativa, o senso de humor e a capacidade
criadora como traços universais do homem, que não devem ser prescritos da
sala de aula, mas devem antes ser cultivados.
Os exemplos, acima citados, são apenas alguns dos muitos procedimentos que o
educador pode aplicar em sala de aula para criar um clima favorável à criatividade.
O texto, concebido como processo de produção, é o lugar privilegiado da
criatividade, enquanto elemento formalizador do discurso.
Jeni Silva Turazza
Uma vez apresentada a linha teórica que irá fundamentar esta pesquisa, vamos dar
início à análise do corpus, no qual detectaremos quais as habilidades criativas
predominantes nas redações. Com o desenrolar desta pesquisa, nos certificamos de que os
textos considerados criativos possuem elementos que os diferenciam dos demais, bem
como a fluência, analogia, humor, fantasia, elaboração, originalidade e flexibilidade.
Porém, nesta pesquisa, analisaremos apenas as seguintes habilidades: analogia, fluência e
humor.
O pensamento crítico está sempre em conexão com a produção criadora na
aprendizagem escolar. Desse modo, sempre que analisarmos as habilidades criativas,
também estabeleceremos um elo com o pensamento crítico, uma vez que não existem
alunos criativos que não sejam críticos.
Lembramos que o corpus desta pesquisa são redações de alunos do primeiro ano do
ensino médio. Para darmos início ao nosso trabalho, sugerimos aos alunos, como tema das
redações, que eles dessem continuidade à seguinte frase “Se eu fosse um...”. É interessante
ressaltar que esse tipo de exercício é um convite para evocar a analogia pessoal, pois o
indivíduo se imagina como o ser com o qual está trabalhando.
Com base nas teorias aqui apresentadas e após termos lido todas as redações, fomos
capazes de selecionar algumas. Observamos que a maioria dos meninos deixou
transparecer, em suas redações, que gostaria de ser “jogador de futebol” ou “presidente do
Brasil” e a maioria das meninas manifestou maior desejo em ser “modelo” ou “atriz”. Só
uma pequena parte dos alunos demonstrou ter idéias originais, como “ser um louco”, “ser
uma borracha”, “ser um pássaro”, “ser um arqueólogo”, “ser um desenho japonês”, “ser
diretor de escola”, “ser dono do mundo” e outros. Das quarenta redações recolhidas,
consideramos que quinze fugiam do lugar comum, se consideradas entre as demais.
Dessas, selecionamos, aleatoriamente, oito. Das vinte e cinco restantes, consideradas
comuns, analisaremos cinco. Tais escolhas já implicam um olhar prévio e uma seleção a
partir de impressões subjetivas. Como, porém, nosso objetivo está centrado na busca de
categorias do criativo e de suas potencialidades, julgamos não ser importante um critério
mais acurado de seleção nesse momento, justamente porque, aquelas prematuramente
julgadas “comuns” podem, pela análise, ressaltar o potencial criativo quando vistas sob um
critério mais rígido que leva em conta a exploração de habilidades de pensamento. A
recíproca pode ser verdadeira.
Uma vez apresentados os procedimentos e os critérios de seleção das redações,
vamos dar início à análise do corpus. Faremos a transcrição literal das redações e
analisaremos primeiro as redações consideradas mais criativas por apresentarem o humor,
a fluência e a analogia.
Redação 1 – Se eu fosse um louco
“Se eu fosse um louco, não seria um louco qualquer ou comum, porque eu seria tão esperto, tão
inteligente que ao contrário de todos os loucos eu não estaria em um manicômio. E sabe por quê?
Bom... o porquê nem eu sei, porque se eu quero ser alguma coisa, essa coisa tem que estar livre
para fazer o que quiser senão qual seria a graça?
O louco (eu) seria assim como um faraó era para o Egito, e soltaria os loucos das casas de
manicômio e faria uma cidade. A cidade seria Kiloucura, quilos de loucura em uma cidade só... Todos
nessa cidade fariam o que bem quisessem, quem afinal teria coragem para tentar impedir loucos de fazer
alguma coisa? Quem seria o louco?
Mas toda cidade tem que ter sua economia, loucos não trabalham, e agora? Eu como faraó da
Kiloucura contrataria vários doidivanas não loucos de outra cidade e tudo certo!
Tudo certo nada! No mundo em que vivemos os doidos passariam a perna nos pobres loucos.
Pensando bem, já existe essa cidade de loucos e doidos, olhe bem para o país e a cidade em que
vivemos. O que você vê? Todos já não temos idéias brilhantes, nem fantasias ludibriantes que nos tire da
realidade em que vivemos.
É uma pena, eu...estava gostando de ser o louco faraó. Se uma cidade de loucos é um caos, prefiro
estar só; me infiltraria no meio das pessoas, aquelas que se acham normais e inventaria o remédio da cura
de todos os tipos de loucura.
As pessoas que se encontram loucas é porque humanos sem coração, ou traumas assim as fizeram.
E daria o remédio contra loucura para todo mundo.
Talvez eu estaria inventando a solução para problemas mundiais. Assim a minha loucura
acabaria, eu também tomaria o remédio, ficaria muito feliz porque descobriria que era médico e fiquei
louco por não encontrar a fórmula de cura de um louco. Eu teria alcançado o meu objetivo.
Mas em todo caso não seria mais um louco. Eu abandono esse médico porque com o emocional já
abalado estaria louco mais irreversivelmente, ninguém me daria remédio nenhum, iria para o manicômio
sozinho o que não quero porque não existem loucos mais como antigamente...”
T. G. S.
A analogia é uma das características fundamentais do pensamento criativo. Essa
habilidade denota a capacidade de brincar com idéias, cores, formas, conceitos a fim de se
obter combinações incomuns. Observamos, no segmento abaixo, que a aluna faz uso dessa
habilidade, pois, sendo louca, manifesta ter interesse em possuir as características de um
faraó, ou seja, possuir o espírito de liderança. Para isso, brinca com as idéias e consegue
fazer diferentes associações:
“O louco (eu) seria assim como um faraó era para o Egito”
“é uma pena eu já estava gostando de ser o louco faraó”
“Eu como faraó da Kiloucura contrataria...”
Encontramos também a analogia, no segmento abaixo, a aluna compara uma cidade
de “loucos” com o mundo atual. Para ela, estamos em um mundo de “loucos”, onde já não
temos idéias brilhantes e nem fantasias para nos tirar da triste realidade em que vivemos. É
interessante observar que a aluna faz uma crítica à população atual, uma vez que esta não
valoriza a fantasia.
“Pensando bem, já existe essa cidade de loucos e doidos, olhe bem para o país e a
cidade em que vivemos, O que você vê? Todos já não temos idéias ludibriantes, nem
fantasias que nos tire da realidade em que vivemos.”
A aluna brinca com o significado da palavra “louco”, ora a utiliza com sentido
figurado, ora denotativo. Fazendo uma associação:
“...quem afinal teria coragem para tentar impedir loucos de fazer alguma coisa?
Quem seria o louco?”
A analogia também está presente, no segmento abaixo, pois a aluna compara os
remédios que servem para curar doenças com os que servem para resolver problemas:
“e daria o remédio contra loucura para todo mundo.”
“Talvez eu estivesse inventando a solução para problemas mundiais”
Ao se referir aos homens como “humanos sem coração”, notamos que a estudante
também faz uso de analogia e deixa implícita uma crítica aos seres humanos, pois estes por
serem maus são os responsáveis pela loucura dos outros:
“As pessoas que se encontram loucas é porque humanos sem coração, ou traumas
assim as fizeram.”
Sabemos que a maioria das pessoas confia no experimentado e provado, parece que
tem medo do novo. Por outro lado, o indivíduo criativo é mais descrente, duvida de tudo e
não tem receio de enfrentar o novo. Sente uma necessidade enorme de ser livre. Kneller
(1976) afirma que o ceticismo o liberta das crenças convencionais, ao passo que sua
ingenuidade em relação a idéias novas o leva a se arriscar intelectualmente em busca da
descoberta criadora. Observamos, no segmento abaixo, que a aluna manifesta um desejo em
ser livre, em fugir das regras convencionais. Para criar o humor, utiliza como recurso
lingüístico as reticências e uma pergunta retórica.
“Bom... o porquê nem eu sei, porque se eu quero ser alguma coisa, essa coisa tem
que estar livre para fazer o que quiser senão qual seria a graça?”
Considerando que o aluno criativo é aquele que possui elevado senso de humor,
pois sua espontaneidade oferece-lhe condições de lidar com idéias, organizando-as de
forma diferentes e engraçadas, observamos no trecho abaixo essa habilidade, pois o fato
apresentado pela estudante de “soltar os loucos do manicômio e construir uma cidade”
causa espanto e surpresa no leitor. É esse absurdo que provoca o humor:
“...e soltaria os loucos das casas de manicômio e faria uma cidade..”
Ser lingüisticamente criativo é ter a habilidade de criar vocábulos novos.
Encontramos na redação a palavra “Kiloucura”. Esse neologismo foi criado para nomear a
cidade, uma vez que esta teria, muitos loucos, por isso quilos de loucura. A criação deste
vocábulo é que provoca o humor:
“A cidade seria Kiloucura, quilos de loucura em uma cidade só...”
Ao utilizar a palavra “doidivanas” não como um sinônimo de “louco”, mas como
antônimo, a aluna parece tornar o enunciado incoerente e é essa falta de lógica que provoca
o humor:
“Eu como faraó da Kiloucura contrataria vários doidivanas não loucos de outra
cidade e tudo certo.”
A aluna trabalha com idéias absurdas ao revelar que inventaria um remédio para a
loucura e também tomaria o remédio. O efeito do remédio a faria descobrir a causa de sua
loucura: um dia fora médico e por não descobrir algo para curar a loucura é que havia
ficado louco. Agora com a mente sã, estava feliz por ter alcançado o seu objetivo de
inventar o remédio para a loucura. Para conseguir se expressar, a estudante brinca
criativamente com as palavras, utiliza antíteses e constrói uma narrativa não linear. As
idéias apresentadas parecem ser contraditórias e é essa construção que leva ao humor:
“Assim a minha loucura acabaria, eu também tomaria o remédio, ficaria muito feliz
porque descobriria que era médico e fiquei louco porque não consegui encontrar a
fórmula da cura de um louco. Eu teria alcançado o meu objetivo.”
Observamos que a aluna cria um final inesperado, pois no início de sua redação
dizia que queria ser um louco diferente, não queria ir para o manicômio. E agora no final de
sua redação ele iria sozinho para lá, já que não existiam mais loucos, pois ele havia criado
um remédio para os loucos e só ele de tanto pensar seria louco. O enunciado por parecer
incoerente e absurdo acaba provocando o humor:
“mas em todo o caso não seria mais um louco. Eu abandono esse médico porque
com o emocional abalado estaria louco mais irreversivelmente, ninguém me daria
remédio nenhum, iria para o manicômio sozinho (o que não quero) porque não
existem loucos mais como antigamente...”
As frases feitas tiram toda a elegância do texto e revelam falta de criatividade.
Notamos que a aluna utiliza para finalizar a redação uma frase feita, porém, neste caso,
podemos considerar que o uso foi criativo, pois a estudante tem consciência do uso
desgastado dessas frases e não se contenta em repetir, mas faz uma modificação para tornar
o seu texto ainda mais original. Essa substituição é que leva ao humor:
“não existem loucos mais como antigamente...”
Considerando que a fluência é a habilidade de gerar muitas idéias, observamos que
a estudante faz uso dessa habilidade diversas vezes em seu texto. Ao empregar perguntas
retóricas, aquelas que envolvem o interlocutor sem exigir resposta, a aluna deixa fluir as
suas idéias e também a do leitor:
“...eu não estaria em um manicômio. E sabe por quê?
...essa coisa tem que estar livre para fazer o que quiser, senão qual seria a graça?
..quem afinal teria coragem para tentar fazer alguém impedir loucos de fazer alguma
...bobagem? Quem seria o louco?
... loucos não trabalham, e agora?
...olhe bem para o país. O que você vê?”
É interessante observar que esta redação é de uma aluna que optou por ser um
personagem do sexo masculino. Esse fato nos leva ao questionamento do porquê dessa
escolha. Será que sente as pressões da sociedade sobre o sexo feminino? Será que para
poder expressar suas idéias, precisou se passar pelo sexo masculino? De certa forma,
consideramos que essa escolha tornou seu texto mais original.
Verificamos que a aluna, para atingir seus objetivos e se comunicar com eficácia,
utilizou as habilidades consideradas criativas como o humor, a fluência e a analogia
diversas vezes em sua redação.
Redação 2 – Se eu fosse um...
“Se eu fosse um pássaro voaria para longe
Se eu fosse uma flor seria bela e formosa
Se eu fosse um astronauta iria até a lua
Se eu fosse um palhaço estaria no circo
Se eu fosse uma escritora teria idéias sensacionais,
Para fazer esta redação, mas como eu não sou, vou ficando por aqui..”
J. E..
Como sabemos, uma afirmação veemente é aquela que fazemos com convicção
tentando a todos convencer da veracidade daquilo que dizemos. O humor desta redação
reside justamente em tentar convencer alguém de um fato óbvio, cuja veracidade é
indiscutível. Todos sabemos que a flor é bela, que pássaros voam para longe, que
astronautas almejam ir até a lua, que os palhaços ficam no circo e que escritor tem idéias
brilhantes. Observamos que a aluna fez uso dessas expressões óbvias e também de
paralelismo para criar um final inesperado: se ela fosse escritora teria idéias originais, mas
como ela não era, iria ficar por ali. É esse final inesperado que provoca todo o humor da
redação:
“Se eu fosse um palhaço estaria no circo
Se eu fosse uma escritora teria idéias sensacionais
Para fazer esta redação, mas como eu não sou, vou ficando por aqui.”
A fluência é a capacidade de gerar muitas idéias. Encontramos, nesta redação, essa
habilidade, uma vez que a aluna apresentou diversas idéias do que gostaria de ser, não se
contentou apenas em ser um único ser, mas almejou ser: pássaro, flor, astronauta, palhaço
e por fim escritora. Com o final inesperado desta redação, observamos que a aluna encontra
logo uma saída para o grande problema da maioria dos alunos: que é a de escrever uma
redação. Notamos que deixa implícita a insatisfação que sente em escrever, que possui uma
idéia já formada de que só os escritores são capazes de escrever bem. Diante disso,
podemos considerar que há uma crítica ao ensino de redação atual, uma vez que os
educadores não estão conseguindo fazer com que os alunos sintam prazer em escrever.
Cabe aos educadores conscientizarem seus educandos que escrever não é um dom, mas
uma arte que exige o desenvolvimento de habilidades e técnicas específicas, da mesma
forma como o exigem a pintura, a escultura, a dança, a música e todas as outras artes.
Redação 3 – Se eu fosse um ...
“Se eu fosse um escritor, pera aí, eu sou um escritor, tenho de pensar em algo diferente...
Se eu fosse um matemático, pera aí, também sou um desses...
Nossa, como é difícil pensar nisso...
Já sei
Se eu fosse um desenho japonês, eu seria Poronoa Zoro, o caça-piratas do mangá
One Piece. Isso sim seria legal, ser forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e dormir o dia inteiro durante
uma viagem de navio ao redor do mundo.
Exatamente...
Ser forte como Maguila;
Rápido como um Guepardo;
Inteligente como...pera aí, eu já sou inteligente;
Conhecido como Chapolin Colorado;
Temido como Churck Norris;
E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...”
R. W.
Considerando que analogia é o ponto de semelhança entre coisas diferentes,
observamos que o aluno faz uso dessa habilidade para melhor expressar suas idéias, uma
vez que estabelece conexões entre coisas que nunca foram percebidas como tal. Não utiliza
os famosos clichês “forte como um touro”, “rápido como um raio”. Ao fazer associações
diferentes, o aluno foge completamente dos estereótipos. Vejamos o seguinte trecho:
“Ser forte como Maguila;
Rápido como um Guepardo;
Conhecido como Chapolin Colorado;
Temido como Churck Norris;
E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...”
O aluno almeja: ter a força de Maguila, lutador de boxe; a rapidez de um animal;
conhecido como um personagem da programação infantil; ser temido como um ator de
cinema e por fim dorminhoco como uma aluna da sala, a Milena. Como vimos, o estudante
utiliza analogias para fazer novas associações.
O estudante utiliza, também, uma mistura da linguagem formal com a coloquial.
Encontramos em sua redação a expressão “pera aí” considerada coloquial. Ao fazer uso
dessa expressão, notamos o estabelecimento de um diálogo. O “pera aí” implica dialogar
com um outro que pode ser ele mesmo, mas que seguramente, é um outro no plano
discursivo. A ênfase humorística reside justamente no uso dessa expressão em discurso
indireto livre:
“Se eu fosse um matemático, pera aí, eu sou um desses”
“Se eu fosse um escritor, pera aí, eu sou um escritor”, “inteligente como...pera aí,
eu sou inteligente.”
Observamos que o aluno cria um final inesperado que provoca também o humor,
quando apresenta várias características que gostaria de ter como: forte, temido, conhecido,
rápido e, no final, deseja algo simples como ser: dorminhoco como uma aluna da sala. De
acordo com Koch (2004: 27), um enunciado só tem valor dentro de um determinado
contexto. Portanto, só quem conhece a aluna “Milena” e sabe que ela dorme durante as
aulas, é capaz de fazer inferências, por meio de conhecimentos prévios e tornar o enunciado
coerente e engraçado.
“Temido como Churck Norris;
E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto..”
A anáfora, figura de linguagem que consiste em repetir palavra ou expressão, foi
usada pelo aluno. Esse recurso revela a habilidade do aluno em fluência e humor:
“Se eu fosse um escritor...
Se eu fosse um matemático...
Se eu fosse um desenho japonês...”
O aluno pode ser considerado fluente, pois expõe com clareza muitas idéias. Pensa
em ser: escritor, matemático, desenho japonês, artista e também apresenta várias
características de “Poronoa Zoro” como ser: forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e
dorminhoco:
“Isso sim seria legal, ser forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e dormir o dia
inteiro durante uma viagem de navio ao redor do mundo.”
Segundo os autores abordados nesta pesquisa, deixar um problema em aberto
favorece a incubação. Esse recurso, além de fazer fluir a imaginação do leitor, proporciona
também um certo suspense à redação. O aluno utiliza como recurso lingüístico as
reticências para deixar suas idéias em aberto e fazer com que flua a sua imaginação e
também a do leitor. Vejamos como utiliza esse recurso para manifestar sua habilidade de
fluência:
“tenho de pensar em algo diferente...
nossa como é difícil pensar nisso..
Exatamente..
E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...”
Redação 4 – Se eu fosse uma borracha
“Se eu fosse uma borracha, viveria apagando os erros dos outros, mas essa seria a minha função,
apagar e apagar e apagar. Mas que chatisse, não?
Essa seria minha vidinha de borracha, passando de mão em mão pagando bastante lição, por
exemplo, uma redação.
Moraria num lugar bem legal, um dos moradores seria a caneta que não me faz nenhum mal, mas
por outro lado tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum, seria o lápis. Ele só me daria
trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada de mim.
Fico feliz por não ser uma borracha, ela foi a coisa mais usada nesse pequeno texto. Mas também
foi minha grande inspiração de completar essa história.”
L. S. J.
De acordo com (Wechsler, 1993: 280), a analogia pessoal é a habilidade de
“identificar-se com os elementos do problema, empatizando-se com este”. Observamos que
o aluno faz uso desse tipo de analogia, pois se coloca na posição de borracha para expressar
seus sentimentos em relação à caneta e ao lápis e à vida que teria se fosse uma borracha.
Vejamos o trecho:
“...um dos moradores seria a caneta que não me faz nenhum mal, mas por outro
lado, tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum que seria o lápis. Ele só
me daria trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada de mim.”
O indivíduo humorado é impulsivo e espontâneo. Dessa forma, organiza as idéias de
formas diferentes e engraçadas. Ao repetir a palavra “apagar” e terminar a frase com uma
pergunta retórica “Mas que chatisse, não?”, observamos que o aluno faz uso dessa
habilidade. Para Koch (2004: 83), “martelar” na cabeça do ouvinte/leitor, repetindo
palavras e recursos sonoros é uma forma de fazer com que a mensagem se torne mais
presente na memória:
“Se eu fosse uma borracha viveria apagando os erros dos outros,mas essa seria a
minha função, apagar e apagar e apagar. Mas que chatisse, não?”
No trecho abaixo, notamos que o aluno exagera nas idéias, ao colocar que de tanto o
lápis escrever gastaria a borracha e é esse exagero que provoca o humor:
“... tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum, seria o lápis. Ele
só me daria trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada
de mim...”
Antítese é a utilização de palavras ou expressões de sentidos opostos em um
enunciado, ou mesmo em enunciados próximos. Nesta redação, encontramos: “pequeno
texto/grande inspiração”. Ao empregar essa figura de linguagem, o aluno reforça a idéia de
que não gosta e não sabe escrever, por isso considera sua redação “um pequeno texto”. Ao
fazer uso desse recurso e atribuir elogios à borracha, pois foi ela sua “musa inspiradora”,
ele cria o humor:
“Fico feliz por não ser uma borracha, ela foi a coisa mais usada nesse pequeno
texto, mas também foi a minha grande inspiração de completar essa história.”
Ainda nesse segmento, notamos que, ao mencionar que estava feliz por não ser uma
borracha, pois foi esse o objeto mais utilizado em sua redação, o aluno cria o humor e deixa
claro a insatisfação que sente em produzir uma redação. Observamos que o aluno já tem
enraizado em sua memória o conceito de que errar não é bom. Cabe ao educador
desmistificar essa idéia, propondo atividades que trabalhem criativamente o erro, pois como
afirma Rodari (1982: 36) muitos dos “erros” dos alunos não são erros, são criações que
servem para assimilar uma realidade desconhecida. Para o autor, em cada erro existe a
possibilidade de uma história e a “palavra certa existe apenas em oposição à palavra
errada.”
Redação 5 – Se eu fosse um arqueólogo
“Se eu fosse um arqueólogo, eu iria viajar pelo mundo à procura de relíquias inestimáveis.
Eu conheceria as pirâmides, as esfinges e os sarcófagos.
Eu atravessaria os desertos, visitaria o pólo norte e pularia para o pólo sul, passando pelo
Equador e pelo Chile, depois eu passaria no Japão, “hum”, só de pensar me deu uma vontade louca de
comer peixe.
Ah! Mas então seria melhor eu ir para o Amazonas, eu poderia pescar e caçar com os índios,
usando arco e flecha, sarabatana e flechas grandes, eu estaria realizando um sonho de infância, mas
mesmo assim o que eu queria mesmo era conhecer a Grécia, eu simplesmente adoro a mitologia de lá;
Afrodite, Medusa, Zeus, minotauro, Hércules e muitos outros personagens.
Ai meu Deus! Como eu adoraria fazer isso, e quem não adoraria, mas é como dizem:
Querer não é pode e eu quero muito fazer isso, com certeza eu seria muito feliz.
Ah!!! Eu já ia me esquecer de dizer que faria tudo isso com um protótipo do 14 bis, só para sentir
o vento do rosto.”
R. E.
Como já mencionamos, o indivíduo criativo possui elevado senso de humor, uma
vez que brinca com idéias fazendo combinações incomuns. Notamos que o educando faz
uso do humor em sua redação quando menciona que viajaria pelo mundo inteiro em um “14
bis”. Todos sabemos que esse tipo de avião não existe e é essa mistura de realidade e ficção
que provoca o humor:
“Ah!!! Eu já ia me esquecer de dizer que faria tudo isso com um protótipo do 14 bis,
só para sentir o vento do rosto.”
O aluno possui um nível elevado em fluência, uma vez que almeja visitar vários
lugares se fosse um arqueólogo. Deixou fluir suas idéias em relação a lugares, não se
limitou em ficar no Brasil. Ele atravessaria os desertos; do pólo norte pularia para o pólo
sul; passaria pelo Equador, pelo Chile, Japão, Amazonas, Grécia. Como podemos observar,
o aluno pensou em vários lugares e em todos esses lugares, se lá estivesse, faria algo
diferente, como por exemplo: caçar e pescar com os índios no Brasil utilizando arco e
flecha, sarabatana e flechas grandes:
“Eu conheceria as pirâmides, as esfinges e os sarcófagos.
Eu atravessaria os desertos, visitaria o pólo norte e pularia para o pólo sul,
passando pelo Equador e pelo Chile, depois eu passaria no Japão, “hum”, só de
pensar me deu uma vontade louca de comer peixe.”
Encontramos também a habilidade de fluência no segmento em que o estudante
menciona querer conhecer na Grécia vários personagens: Afrodite, Meduza, Zeus,
Minotauro, Hércules.
“...eu queria mesmo era conhecer a Grécia, eu simplesmente adoro a mitologia de
lá: Afrodite, Meduza, Zeus, minotauro, Hércules e muitos outros personagens.”
Redação 6 – Se eu fosse um...?
“Se eu fosse um pernilongo, eu morreria esmagado e teria que chupar o sangue dos outros.
Se eu fosse um político, eu seria preso, por causa do mensalão.
Se eu fosse um traficante, eu seria preso.
Se eu fosse um macaco, eu teria que comer bananas.
Se eu fosse D. PedroI, não poderia jogar vídeo game, nem assistir TV.
Se eu fosse uma telha, eu tomaria chuva, sol quente, e quebraria. O pior, é que as pombas, você
sabe né?
Se eu fosse um livro, eu seria riscado, rasgado e depois jogado no lixo.
Se eu fosse um peixe, eu seria engolido por um tubarão, ou pescado e comido.
Se eu fosse uma árvore, eu seria queimada, ou cortada ou até atingida por um raio em
tempestade.
Eu acho que eu vou ser eu mesmo. É melhor.”
M.S.
Para Wechsler (1993: 49), o indivíduo criativo é em geral fluente no sentido de
produzir mais idéias do que uma pessoa qualquer, sobre um determinado tema. Para a
autora, quantidade gera qualidade. Diante dessas afirmações, verificamos que a habilidade
de fluência está presente nesta redação, uma vez que o aluno apresenta várias idéias do que
poderia ser: pernilongo, político, traficante, macaco, D. Pedro I, telha, livro, peixe, árvore.
Ele mistura objetos, pessoas, animais, plantas e essa mistura revela o quanto deixa fluir
suas idéias. É interessante observar que o educando cita até D. Pedro I, que não existe mais.
Notamos que estabelece uma coerência com o título que deu à redação, uma vez que
acrescentou ao título um ponto de interrogação “Se eu fosse um..?” O ponto de interrogação
revela o quanto o aluno estava indeciso e repleto de idéias no que gostaria de ser. Vejamos:
“Se eu fosse um pernilongo, eu morreria..
Se eu fosse um político, eu seria..
Se eu fosse um traficante, eu iria...”
O paralelismo, recurso no qual se podem observar expressões ou frases com
estrutura sintática idêntica, aparece nesta redação. O aluno utiliza esse recurso para melhor
expor suas idéias e evidenciar na forma, o que o conteúdo nos transmite:
“Se eu fosse um pernilongo, eu morreria..
Se eu fosse um político, eu seria..
Se eu fosse um traficante, eu iria..
Se eu fosse um macaco, eu teria..
Se eu fosse D. Pedro I, não poderia.
Se eu fosse uma telha, eu tomaria..
Se eu fosse um livro, eu seria..
Se eu fosse um peixe, eu seria...
Se eu fosse uma árvore, eu seria...”
A ironia é uma figura de linguagem que consiste em afirmar o contrário da realidade
com a intenção de zombar ou brincar. Observamos que o aluno utiliza essa figura de
linguagem quando se refere aos políticos e traficantes, pois todos nós sabemos que nenhum
político foi preso por causa do mensalão e nem todos os traficantes são presos. Por ser a
afirmação do aluno inversa à realidade dos fatos, entendemos que haja ironia nessas frases.
O uso dessa figura de linguagem é que provoca o humor:
“Se eu fosse um político, eu seria preso por causa do mensalão.
Se eu fosse um traficante, eu iria preso.”
O humor também está presente no segmento abaixo, pois o aluno relaciona o tempo
passado com o tempo presente, utiliza avanços tecnológicos para expressar que não estaria
satisfeito se fosse D. Pedro I, porque não poderia fazer uso desses recursos. É essa falta de
lógica que cria o humor:
“Se eu fosse D. Pedro I, não poderia jogar vídeo game, nem assistir TV.”
Como vimos, perguntas retóricas são aquelas que numa conversação envolvem o
interlocutor, porém não exigem resposta. Observamos que o aluno utiliza esse recurso para
levar o leitor a imaginar o que fazem as pombas em cima do telhado. Notamos que o aluno
utiliza a figura de linguagem: eufemismo, como recurso de humor. O leitor acha graça ao
perceber que seriam “as fezes” da ave que o aluno não quis revelar. Vejamos:
“Se eu fosse uma telha, eu tomaria chuva, sol quente, e quebraria. O pior é que
as pombas, você sabe né?”
Outra figura de linguagem utilizada pelo aluno foi a gradação, ao fazer uso desse
recurso mostrou ser lingüisticamente criativo. Notamos também que fica implícita uma
crítica aos alunos que não conservam os livros didáticos. Vejamos:
“Se eu fosse um livro, eu seria riscado, rasgado e depois jogado no lixo.”
É interessante observar como o aluno apresenta suas idéias: inicia sempre com a
mesma expressão “Se eu fosse um...” e depois coloca um fator negativo, como por exemplo
“eu iria preso”. Esse tipo de construção revela a visão determinista do aluno em relação ao
mundo que o cerca, pois se fosse um traficante só poderia ir preso; se fosse um pernilongo
só poderia morrer esmagado; se fosse uma telha só poderia tomar chuva; se fosse um
macaco só poderia comer bananas etc. Esse recurso, além de criar no leitor uma certa
expectativa em relação ao que o aluno gostaria de ser, demonstra que o aluno não está
satisfeito em ser alguém diferente. Mas é só no final que o educando revela que vai ser ele
mesmo, porque seria melhor. Esse final inesperado é que provoca o humor.
“Eu acho que eu vou ser eu mesmo. É melhor.”
Como podemos observar, esta redação contém as características consideradas
criativas como o humor, a fluência e a analogia. Encontramos também muitas críticas: aos
políticos que não são punidos; aos traficantes que não vão presos; ao desmatamento
exacerbado e à má conservação dos livros didáticos.
Redação 7 – Se eu fosse a dona do mundo
“Se eu fosse a dona do mundo faria dele um lugar bem diferente. Inventaria carros que voassem
pelo céu e que não poluíssem, nós os humanos voaríamos de uma cidade a outra como pássaros.
Não moraríamos em um só planeta, viveríamos pela Galáxia, tipo assim, escolas em Marte,
Shopping em Júpiter, museus e cinemas em Saturno.
As empresas seriam no oceano, mas lá no fundo, seria um mundo pirado. Nossos pais para irem
trabalhar iriam de submarino e nós iríamos cozinhar em larvas de vulcão.
Os animais falariam e nós moraríamos em matas que ficariam nas nuvens, mas os animais
ficariam aqui nas cidades, pássaros andariam e hipopótamos, elefantes e cavalos voariam. Teríamos um
mundo divertido e louco.”
J. B.
De acordo com Alencar (1993: 73), as incursões pelo mundo da fantasia têm o seu
lado positivo, porque torna mais fácil para o indivíduo suportar as frustrações que vive na
realidade e permite-lhe a satisfação de desejos, por meio de uma gratificação imaginária.
Observamos que a aluna brinca com as palavras, com as idéias e cria um mundo de
fantasia. Apresenta idéias totalmente exóticas que provocam o humor: carros que voariam e
não poluiriam, pessoas que voariam, viveríamos em vários planetas, empresas seriam no
fundo do mar, os pais iriam trabalhar de submarino, cozinharíamos em larvas de vulcão,
animais falariam, as matas seriam nas nuvens; pássaros andariam e hipopótamos, elefantes
e cavalos voariam. Diante de tantas idéias, constatamos que a habilidade de fluência
também aparece nesta redação:
“Os animais falariam e nós moraríamos em matas que ficariam nas nuvens, mas
os animais ficariam aqui nas cidades, pássaros andariam e hipopótamos,
elefantes e cavalos voariam.”
No segmento abaixo, encontramos a habilidade de analogia, uma vez que a aluna
menciona que os humanos voariam como pássaros. Ao utilizar esse recurso, demonstra o
desejo de ser livre para ir aonde quiser. Para Koch (2004: 27), um enunciado só tem valor
dentro de um determinado contexto. Portanto, só quem conhece a situação de São Paulo e
sabe que a população está presa em seus lares com receio dos bandidos, é capaz de entender
o enunciado e perceber que a aluna deixa implícita uma crítica à situação da cidade:
“...nós os humanos voaríamos de uma cidade a outra como pássaros”
Redação 8 – Se eu fosse diretor da Escola Luzia de Queiroz e Oliveira
“Se eu fosse diretor da escola, eu colocaria animais na escola junto com os alunos e professores.
Colocaria gorilas e macacos e eles andariam livres, livres e soltos. E seriam professores das matérias mais
chatas: Inglês, História e Geografia. O elefante seria o professor de geografia, o macaco o de inglês e o
gorila o de História.
Iria ter uma piscina para os animais nadarem e os alunos também. Iria ter cortinas nas salas
para os macacos se pindurarem; iria ter uma mata atlântica para experiências absurdas, como cruzar um
elefante com um hamster. Desse cruzamento iria sair um papagaio com penas coloridas e com tromba.
Seria um barato só e seria a melhor escola do mundo, pena que isso não passa de um sonho e com
bastante imaginação. Iria ser simplesmente um barato. Seria a escola dos animais e seres humanos. Seria a
Zooescola.”
A. D.
Observamos que o aluno cria um mundo de fantasia logo no início de sua redação.
Segundo Virgolin (1994: 49), é o poder ir e vir da fantasia para a realidade que faz uma
pessoa saudável. Para ela, a saúde mental passa pelo jogo de ir e vir sem que haja perda da
realidade. O educando faz uma mistura de realidade e ficção ao colocar que os animais
ferozes ficariam junto com os alunos e professores. Essa mistura considerada absurda é
que provoca o humor:
“Se eu fosse diretor da escola, eu colocaria animais na escola, junto com alunos
e professores. Colocaria elefantes, gorilas e macacos e eles andariam livres,
livres e soltos.”
Todos os alunos almejam uma escola ideal, que tenha piscina. A escola dos sonhos
desse aluno seria diferente: a piscina, não seria só para os alunos e professores; nas salas
de aula haveria cortinas para os macacos se pendurarem. Tudo isso seria um absurdo e é
essa mistura de fantasia e realidade que, novamente, provoca o humor:
“Iria ter piscinas para os animais nadarem e os alunos também”
“Iria ter cortinas nas salas para os macacos se pindurarem”
Dentro da escola iria ter uma mata, para fazer experiências absurdas, como cruzar
animais diferentes. Do cruzamento do elefante com hamster, sairia um papagaio com penas
coloridas e com tromba. Sabemos que é impossível fazer o cruzamento desses animais e é
interessante observar que o aluno escolhe um animal enorme e um muito pequeno para
cruzar, aumentando ainda mais a noção de incoerência e é essa incoerência que provoca o
humor:
“iria ter uma mata atlântica para experiências absurdas como cruzar um
elefante com um hamster e iria nascer um papagaio com penas coloridas e com
tromba.”
O aluno para melhor definir a idéia de escola que gostaria de ser diretor, cria um
vocábulo novo: “Zooescola”, mistura um vocábulo inglês Zoo (zoológico) à escola.
Constatamos que, neste trecho, o aluno revela ser lingüisticamente criativo, pois manifestou
a capacidade de inventar palavras de acordo com a situação:
“Seria a Zooescola”
No que se refere à habilidade de fluência, notamos que esta aparece na redação, uma
vez que o aluno apresenta muitas idéias de como gostaria que sua escola fosse: professores
dando aulas, animais soltos, piscinas, cortinas para os macacos, mata para realizar
experiências exóticas. Vejamos:
“Iria ter piscinas para os animais nadarem e os alunos também”
“Iria ter cortinas nas salas para os macacos se pindurarem”
Observamos que ao mencionar que gostaria que os animais fossem os professores
das matérias mais chatas, bem como Inglês, Geografia e História, o aluno faz uma crítica ao
ensino. A nosso ver, essa crítica tem fundamento, pois como o ensino está voltado para a
memorização de conteúdos, o ambiente escolar torna-se tedioso. A escola é vista pelo aluno
como um ambiente desagradável que requer mudanças. É interessante notar que mesmo não
tendo conhecimento teórico a respeito de criatividade, o estudante tem ciência de que o
ambiente escolar precisa ser agradável.
Análise das redações consideradas não originais
Redação 1 – Se eu fosse um jogador de futebol
“Se eu fosse um jogador de futebol, ah! Mais seria bom! Primeiro jogaria para o Corinthians e
assim com o meu sucesso seria convocado para jogar na seleção brasileira. Seria muito famoso e teria
muito dinheiro mesmo. Seria milhionário, muitas mulheres cairiam aos meus pés. E seria bom!
Eu faria todos os comerciais de cerveja na televisão e ganharia muito, mas seria famoso mesmo é
pelo meu futebol, todos iriam falar esse é mesmo um brasileiro.
Teria tudo o que eu quisesse e teria muita fama. Não haveria quem não conhecesse ou ouvisse
falar do meu nome, seria muito legal ser um jogador profissional pro Corinthians e pra seleção brasileira
esse sonho ainda posso realizar.”
A.. C.. S.
Como podemos observar, esta redação traz como tema: ser um jogador de futebol.
Como já dissemos esse foi um dos temas mais apresentados pela maioria dos alunos da
sala. Cremos que não está na escolha do tema a falta de originalidade, mas sim nas idéias
apresentadas por este aluno, uma vez que apenas reproduz o que é tradicional, o que a
sociedade espera que ele reproduza. O aluno almeja o que a maioria dos garotos de sua
idade almeja: ser um jogador de futebol, ganhar dinheiro, ser famoso e conquistar muitas
mulheres. Com isso, o aluno demonstrou não ser fluente nas idéias. Vimos que valoriza
apenas bens materiais e não consegue se posicionar de forma inovadora frente à situação de
ser um jogador de futebol: quer jogar no Corinthians e também na seleção brasileira, tudo
que um jogador comum e fanático pelo Corinthians quer. Não há novidades em seus
desejos. No que se refere ao vocabulário, observamos que o aluno utiliza um vocabulário
simples, não cria vocábulos novos, não utiliza figuras de linguagem, não utiliza nenhum
recurso que possamos considerar sua redação criativa. As habilidades de humor e analogia
também não foram encontradas.
Redação 2 – Se eu fosse uma atriz famosa
“Se eu fosse uma atriz famosa e rica no meu aniversário eu faria uma festa, a maior das festas
que já se viu com muitos comes e bebes a vontade muitos convidados e para a festa ficar melhor com um
show inesquecível do “Jeito Moleque” cantando seus sucessos e depois eles ficariam na festa comigo até o
final a festa duraria uns dois dias. Faria festas de quinta até o domingo e sempre com o Jeito moleque.
Faria um filme e uma novela de bastante sucesso, nunca estaria parada sempre sendo convidada
para fazer várias novelas filmes, festas, desfiles, casamentos e muitos outros.”
A. A.
A aluna apresenta idéias convencionais como “ser atriz famosa”, “ter muito
dinheiro”, “ser convidada para fazer filmes, novelas”. Sendo fruto de uma sociedade
capitalista que apregoa que o sucesso se dá pela fama e pelo dinheiro, a estudante reproduz
esse discurso sem questionar. O vocabulário utilizado pela aluna é simples. Não
verificamos a presença de neologismos, de nenhuma figura de linguagem e também de
nenhuma das habilidades: fluência, humor e analogia.
Redação 3 – Se eu fosse um presidente
“Se eu fosse um presidente eu mudaria tudo de ruim nesse país, ia governar com competência e
dignidade, não pensaria em mim e sim nas pessoas, porque se não fosse essas pessoas eu não estaria na
presidência.
Como presidente eu aumentaria o salário mínimo, abaixaria os impostos, tentaria tirar todos da
miséria extrema, o número de desemprego iria diminuir.
Para eu conseguir fazer o país ir para frente não basta só de mim e sim das pessoas que estão a
minha volta. Pois como eu vou conseguir melhorar o país se as pessoas que estão perto de mim não
ajudam.
Como irei conseguir isso se estou rodeado de pessoas que só pensam em si mesmas, que não tentam
ajudar o povo não fazem nada para melhorar o país. Eles não pensam que ajudando a si mesmos estão
melhorando o pais que eles vivem.”
L. E. B.
Não encontramos, nesta redação nenhuma das habilidades consideradas criativas. A
nosso ver, esta redação caminha para o lugar comum, pois o tema da redação “Ser um
presidente” foi um dos mais escolhidos pelos alunos da sala. O presidente que o aluno
gostaria de ser é aquele que todos os brasileiros querem: honesto, que governe com
competência, que aumente os salários, que abaixe os impostos. Como observamos, não há
novidades nessas idéias, por isso não podemos considerar que a habilidade de fluência
esteja presente.
É interessante ressaltar que este aluno é considerado um dos mais inteligentes da
sala por tirar notas boas. Comprovamos, então, o que dissemos nesta pesquisa: o aluno
“inteligente” nem sempre é o mais criativo.
Redação 4 – Se eu fosse uma modelo
“Se eu fosse uma modelo, seria mais bonita que a Gisele e seria muito rica ganharia milhões.
Terias roupas caras de peles e tudo mais. Ajudaria os pobres o meu dinheiro seria tanto que não saberia o
que fazer!
Usaria roupas e maquiagem tudo de marca. Seria muito fashion. E seria adorada por todo o
mundo, viveria no shopping fazendo compras. Minha vida seria feliz. Viajaria para todo o mundo e teria
casa em todos os lugares mais bonitos. E não deixaria as passarelas toda a imprensa estaria atrás de mim.
Se eu fosse uma modelo, andando já desfilaria nos píncaros da glória”.
C.. D.
Escrever com originalidade é dizer o que os outros ainda não disseram, empregando
uma linguagem inesperada e viva, de forma variada e atraente. Diante dessa afirmação,
constatamos que o texto da aluna é muito comum, pois a estudante manifesta ter o mesmo
desejo que as outras garotas de sua idade: ser modelo. E como modelo, quer ser como as
que temos atualmente: bonitas, ricas, famosas, elegantes.
Não podemos afirmar que a habilidade de fluência esteja presente, uma vez as idéias
apresentadas pela estudante são as mesmas já estabelecidas pela sociedade: modelos são
bonitas, têm dinheiro, usam roupas caras e de marca, fazem muitas compras, são invejadas
por todos. É interessante observar como a aluna relaciona felicidade com dinheiro. Para ela,
só é feliz quem tem bens materiais.
No que se refere ao vocabulário, observamos que a aluna utiliza dois
estrangeirismos “shopping” e “fashion”. Esses vocábulos denunciam o quanto a adolescente
é massificada pela sociedade de consumo. Também encontramos, na redação, a presença de
frases feitas “píncaros de glória”. Essa expressão tornou o texto ainda mais pobre. Para
Rocco (1981: 67), “a escola, entre outras instituições contribui para a perpetuação do“já
dito”, do “já feito”, na medida em que o novo sempre implica em riscos”. De acordo com a
autora, o aluno contenta-se com a repetição, sem que nem mesmo tenha consciência do fato.
Desse modo, podemos afirmar que a aluna ao fazer uso de uma expressão já desgastada,
revela não ser crítica. Verificamos que as habilidades de humor e analogia também não
aparecem nesta redação.
Redação 5 – O presidente do Brasil
“Se eu fosse o Presidente da República eu acabaria principalmente com a fome a pobreza e a
corrupção e as pessoas de baixa renda não pagariam os impostos, investiria na educação no turismo e nas
estradas, combateria o tráfico de drogas, pessoas e animais, vigiando rigorosamente as fronteiras por
terra, céu e mar.
Faria tudo isto retirando deputados, ministros, governadores e até prefeitos que desviam o
dinheiro que é direcionado a população brasileira. Além de tudo criaria clínicas para tratar das pessoas
viciadas em drogas e investiria nas pesquisas de remédios para a Aids e outras doenças que não atingem
só o Brasil, mas o mundo todo.
Este seria o Presidente perfeito, mas que ainda não existe infelizmente.”
V. S. M.
Nesta redação, também não notamos a presença de nenhuma das habilidades
consideradas criativas. Embora apareçam muitas idéias, constatamos que são as mesmas
idéias que os demais alunos da sala apresentaram ao discorrer sobre o desejo de serem
presidentes do Brasil. O estudante apenas reproduz o desejo da maioria dos brasileiros: ter
um presidente que acabe com a miséria, que diminua os impostos, que invista na educação,
que combata o tráfico, que invista na saúde, que acabe com a corrupção. Como podemos
observar, o aluno não propõe outras soluções para os problemas do país. Portanto, não
podemos considerá-lo fluente nas idéias.
O vocabulário utilizado pelo aluno é simples. Verificamos a presença de um dos
famosos clichês: por terra, céu e mar, o que revela falta de esforço, por parte do aluno, para
a obtenção de um efeito expressivo satisfatório.
CAPÍTULO V
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Todos nós possuímos o potencial criativo basta desenvolvê-lo.
Eunice Soriano de Alencar
Este capítulo tem por objetivo demonstrar as várias possibilidades que existem para
estimular a criatividade. Apresentaremos aqui quinze exercícios para desenvolver
especificamente as habilidades de fluência, humor e analogia. Por meio destas atividades,
mostraremos o quanto é simples desenvolver a criatividade no educando. Notificamos que
os exercícios propostos são sugestões de Wechsler (1993) e Raths (1977).
Exercício 1
Assunto: Poluição
Objetivo: Desenvolver o humor
Humor: Desenvolva uma peça de teatro com alguns colegas seus, usando o tema da
poluição de forma engraçada.
Exercício 2
Assunto: O trânsito
Objetivo: Desenvolver o humor
Humor: a) Dramatize de quantas maneiras você pode atravessar a rua.
b) Componha uma música, com tom humorístico, sobre o namoro e os sinais de
trânsito.
Exercício 3
Assunto: Escravidão no Brasil
Texto:
O sistema de exploração de recursos naturais do Brasil exigia abundantemente
emprego de braços. Os conquistadores da terra não queriam arcar com o ônus de utilizar
nessa tarefa gente livre, cuja manutenção lhes absorvesse a maior parte do ganho. Por outro
lado, a população de Portugal não era suficiente para atender a todos os setores de seus
vastos domínios. O recurso era a escravidão. Com trabalhadores que pudessem ser
sustentados com um mínimo de despesas de alimentação e de roupa estaria aberta a estrada
da fortuna. Em fins do século XV os portugueses já importavam da África numerosos
escravos, muitos dos quais foram transferidos para o Brasil quando se iniciou a
colonização. (Mathias apud Wechsler, 1993: 349)
Desenvolvendo as características criativas:
Fluência: O que significa escravidão? Diga tudo o que você pensar.
Humor: Dramatize a vida e as brincadeiras das crianças, filhos de escravos, de maneira
humorística. Quais eram os seus divertimentos preferidos?
Analogias: Tente usar comparações ou usar metáforas usando os termos escravidão ou
escravo. Exemplo: escravo dos desejos, escravo das horas, etc.
Exercício 4
Sinética é uma palavra que vem do grego e significa juntar ou combinar elementos
aparentemente diferentes ou irrelevantes. Segundo Wechsler (1993: 279), este conceito foi
desenvolvido por Williams Gordon (1961), como um modo de auxiliar a procura de
soluções para um problema, apoiando-se no processo de pensar por meio de analogias e
metáforas. Daremos um exemplo de como solucionar problemas de forma analógica:
Suponhamos que você é diretor ou coordenador de um programa universitário. Você
recebe contínuas queixas dos alunos do seu programa, reclamando que não sabem em que
matérias se matricular, qual o fluxo das disciplinas no seu currículo, os seus pré-requisitos.
Para resolver esse problema, você junto com um grupo de colegas vai tentar criar analogias
e metáforas para o problema.
Com o que se parece um estudante no primeiro semestre de um curso universitário?
• Uma bolha de sabão voando?
• Um pirilampo em volta da luz?
• Um filhote de animal perdido?
• Uma rolha de cortiça no oceano?
Exercício 5
Analogia de fantasia
Esta analogia trabalha com aspirações, desejos, sonhos, tentando traçar paralelos do
real com o imaginário. (Wechsler, 1993: 282)
Como seria:
• A escola ideal?
• O alimento que solucionaria a fome do país?
• A roupa que se adequaria às diversas estações do ano?
• A extinção das doenças na Terra?
Exercício 6
Analogia simbólica
É um tipo de analogia que faz combinações entre elementos que parecem
discrepantes entre si, mas que podem ter imagens semelhantes ou combinadas com o seu
problema.(Wechsler, 1993: 282)
Você agora é um arquiteto encarregado de planejar um novo conjunto habitacional:
• Pense numa paisagem com múltiplos e diferentes elementos que não combinem
entre si.
• Enfatize a desarmonia entre os elementos desse conjunto.
• Desenhe ou represente esse cenário destacando diferenças.
• Use cores, sons, ritmos, formas, de maneira incomum e o mais variado possível,
simbolizando sentimentos com formas.
• Visualize o mesmo cenário de maneira equilibrada e harmônica, como se estivesse
tocando uma melodia.
Exercício 7
Técnica: Tempestade de idéias
Objetivo: Estimular a fluência em relação aos sentimentos.
Liste todas as atitudes em que se pode sentir:
• Confuso
• Entediado
• Feliz
• Amedrontado
• Entusiasmado
• Desajeitado
• Orgulhoso
• Sozinho
• Respeitado
Exercício 8
Objetivo: Desenvolver a fluência
Peça aos participantes que toquem os cabelos uns dos outros. Após isso coloque a
seguinte situação: imagine que os cabelos de todas as pessoas mudassem de cor,
dependendo dos seus sentimentos, do seu estado de ânimo. O que poderia acontecer? Quais
seriam as conseqüências? Escreva tudo o que você puder imaginar como resultado desta
situação.
Exercício 9
Objetivo: Desenvolver o humor
Disciplina: Matemática
Suponhamos que o mundo fosse governado por um grande matemático e que fosse
estabelecido que a comunicação seria toda através de números e operações matemáticas.
Assim sendo, a comunicação se tornaria mais objetiva e deixaria menos dúvidas para
possíveis interpretações. Escreva agora um vocabulário básico para este novo tipo de
comunicação.
Bom dia = 33+22
Como vai você?-------------
Você está linda hoje.-------------
Quanto custa?-------------------
Onde está o banheiro?---------------
Exercício 10
Objetivo: Desenvolver o humor
A letra x ficou superdesvalorizada no nosso alfabeto. Ela se tornou revoltada com essa
situação e juntamente com sua numerosa família declarou guerra ao vocabulário da língua
portuguesa. Durante esta revolta, que foi apoiada pelos professores de Português, foi
decidido que durante uma semana, em todas as escolas, tudo o que se falaria teria a letra X
como inicial de palavra. Você está vivendo na semana x agora. Como é seu vocabulário:
Dê-me a borracha = Xexê xa boxaxa
Professora, posso tomar água? = Xexixa,xosso toxar axa?
Preciso ir para casa----------------------------
Estou com fome--------------------------------
Exercício 11
Objetivo: Desenvolver a fluência, o humor e a fantasia:
Imagine que você tem poder absoluto num país e quarenta e oito horas apenas para agir. O
que você faria?
Exercício 12
Objetivo: Desenvolver a fluência, o humor e a fantasia
Invente alguns provérbios. Compare-os com uma lista de provérbios já existentes.
Exercício 13
Objetivo: Desenvolver o humor
Mude os versos de um poema, de trágicos para cômicos ou vice-versa.
Exercício 14
Objetivo: Desenvolver a fluência
Dê o maior número de respostas:
• O que está errado nos programas de TV?
• Por que é que a nova geração está “se perdendo”?
• O que é que está errado nas “invenções modernas”?
• O que está certo (ou errado) no mundo?
Exercício 15
Objetivo: Desenvolver a analogia
• Compare as formigas com os gafanhotos.
• Compare dois homens famosos.
• Compare a vida na fazenda com a vida na cidade.
• Compare o trabalho isolado com o trabalho em grupo.
• Compare a leiteira com a padaria.
• Compare água e ar.
• Compare dois problemas de matemática.
• Compare dois feriados.
• Compare o sol e a lua.
• Compare carne assada e torta de maçã.
Os exercícios, acima citados, são apenas alguns dos muitos procedimentos que o
educador pode aplicar em sala de aula para favorecer a criatividade.
Começamos esta pesquisa apresentando as diversas teorias e abordagens que
existem a respeito de criatividade. Com isso, demonstramos que cada linha teórica aborda a
criatividade a partir de diferentes prismas e que os teóricos do assunto divergem ao
definirem criatividade. Verificamos que existem muitos problemas e limitações na
avaliação da criatividade, porém essas dificuldades advêm da própria complexidade do
fenômeno.
É interessante observar que até hoje veiculam conceitos enraizados como “eu não
nasci criativo” ou “não tenho esse dom” que são oriundos dessas teorias. Essas frases
evidenciam que muitas pessoas ainda acreditam que a criatividade é um dom divino. Por
meio desta pesquisa, desmistificamos essa idéia e comprovamos que todos nós possuímos
potencial criativo e que, esse potencial, às vezes, não aparece porque está adormecido
devido a toda uma repressão que sofremos da sociedade, de nosso ambiente social, e de
nossa educação, no sentido de nos fazer adaptados ao “normal”, ao que é tradicional, ao que
é esperado. Premidos também por uma necessidade de ser aceitos, somos muitas vezes
levados a anular as nossas idéias, a limitar as nossas experiências e a bloquear o nosso
crescimento. Entretanto, ressaltamos que a sociedade pode estimular a criatividade dando
chances ao indivíduo de ter experiências em várias áreas, oferecendo interações sociais,
oportunidades e privilégios que são determinados não pelo status social, família, raça, cor,
credo ou partido político, mas antes pelas habilidades e atributos pessoais de cada um de
seus membros.
Enfim, demonstramos que o ambiente é um fator de extrema relevância para o
desenvolvimento da criatividade, pois um ambiente, em que a pessoa se sente ameaçada,
criticada, não propicia o surgimento da criatividade e inibe os traços da pessoa criativa.
Ressaltamos que o indivíduo criativo precisa ter auto-estima elevada para produzir algo de
novo. Observamos que auto-estima está totalmente ancorada nas relações sociais mantidas
pelo indivíduo e, de forma muito freqüente, podemos confirmar que uma atitude crítica dos
pais e, mais tarde, dos professores para com as produções, respostas e idéias da criança,
inibem a sua capacidade para pensar e criar, pois a criança passa a se perceber como
incompetente e incapaz.
Mostramos que é essencial que o aluno sinta no ambiente escolar o estímulo
necessário para ter a coragem de se arriscar; para poder expressar suas idéias e mostrar que
elas têm valor. Cientes dessa necessidade, apresentamos, nesta pesquisa, algumas sugestões
de como o educador pode valorizar as idéias de seus educandos e tornar o ambiente escolar
o mais agradável possível.
Ao discorrermos sobre as fases do processo criativo mostramos a importância e o
seqüenciamento dos passos envolvidos no processo criativo, indicando o engano que existe
em se encarar a criatividade como um produto repentino. Deixamos claro que para que esta
ocorra, é necessário muito esforço e dedicação. No que se refere ao produto criativo,
provamos que este é possível de ser mensurado e investigado. Salientamos que existem
diferentes visões ou critérios para a consideração da produção criativa, e para que uma obra
possa ser considerada criativa ou não, além de o produto ser avaliado, a sociedade na qual o
indivíduo esta inserido também precisa ser.
Apesar de muito se falar em criatividade, constatamos que pouco tem sido feito no
sentido de favorecer o seu desenvolvimento. Sendo assim, cremos que a escola necessita
ampliar os seus objetivos educacionais estabelecendo novos processos de ensino-
aprendizagem, visto que já ficou provado que o comportamento criativo é aprendido,
portanto pode ser estimulado. É primordial que a escola elabore propostas cujo objetivo
central seja preparar aulas na produção de idéias originais.
Nesta pesquisa, trazemos algumas propostas de atividades que poderão ser
utilizadas pelo educador para estimular a criatividade de seus educandos. Cremos que a
figura do professor é de suma importância no processo ensino-aprendizagem, pois os
melhores professores são aqueles que percebem o potencial de seus educandos e os
incentivam no aflorar de novas idéias. O professor é efetivamente uma peça central, que
tem um imenso poder e influência sobre o aluno, podendo contribuir tanto para o
crescimento e expansão de suas habilidades, além de exercer influência significativa na
construção de um autoconceito positivo, como, pelo contrário, exercitar o seu poder no
sentido de dificultar este crescimento, prejudicando o aluno no processo de descoberta de si
mesmo, de suas habilidades e potenciais.
Ao tratarmos de inteligência e criatividade vimos que existem maneiras ou estilos
preferenciais de aprender e pensar que afetam o pensamento e o comportamento criativo e
que a criatividade não pode ser confundida com inteligência. Percebemos que a inteligência
humana é muito mais complexa do que o tem sido medida pelos testes de inteligência, uma
vez que existe um grande número de habilidades mentais que não são medidas por esses
testes. Comprovamos que para ocorrer a realização criativa é preciso criatividade e
inteligência conjuntamente.
Apontamos, nesta pesquisa, algumas diferenças entre o aluno criativo e o aluno
“inteligente”. Verificamos que o aluno considerado “inteligente” é mais conformista e se
preocupa em responder às expectativas da sociedade. Ao passo que, o aluno criativo é
inconformista, concentra-se mais em suas idéias e não está preocupado em ser aceito pelos
outros. Enfatizamos que alguns educadores ainda possuem um conceito equivocado a
respeito de inteligência, pois consideram como “inteligentes” os alunos que obtêm notas
altas nas avaliações. Desse modo, preferem os alunos “inteligentes” por serem também
obedientes e passivos aos criativos por serem questionadores.
Salientamos que para termos alunos críticos e criativos, precisamos favorecer as
habilidades de pensamento, ou seja, precisamos oferecer oportunidades para o aluno
comparar, criticar, levantar hipóteses, julgar, avaliar. Cremos que, com essas habilidades
bem desenvolvidas, os educandos serão capazes de fazer diferentes associações e,
conseqüentemente, criarão novas alternativas para a resolução de problemas.
Ao discorrermos sobre as variáveis influenciadoras na criatividade, tentamos
oferecer um panorama dos diversos elementos que podem influenciar a criatividade.
Enfatizamos que existem bloqueios, tanto externos quanto internos, que afetam a
manifestação do potencial criativo. Vimos que a mulher criativa tem muito a superar,
devido à sua repressão dentro da sociedade. Gostaríamos de ressaltar que todas essas
barreiras que afetam o surgimento da criatividade não devem desanimar e sim ajudar no
caminho em frente.
Depois de apresentarmos toda a base teórica que consideramos ser necessária para a
compreensão desse fenômeno tão complexo que é a criatividade, passamos à análise do
corpus, em que comprovamos a falta de criatividade, na maioria das redações, uma vez que
não apresentaram as características consideradas criativas como a fluência, o humor e a
analogia. Vale ressaltar que essas redações foram consideradas não originais levando-se em
conta apenas esses critérios. Talvez, se os critérios e a proposta de redação fossem outros,
esses alunos que se mostraram menos criativos pudessem revelar um grau maior de
criatividade e vice-versa.
Das quarenta redações recolhidas, apenas quinze apresentaram idéias originais.
Consideramos esse número baixo em vista das vinte e cinco não originais que recebemos.
Ao analisarmos as cinco redações consideradas mais comuns, nos deparamos com a falta de
originalidade. Todas encaminhavam para o lugar comum: tinham como tema “ser um
jogador de futebol”, “ser atriz”, “ser modelo”, “ser presidente do Brasil”. Como já
dissemos, esses foram os temas mais apresentados pela maioria dos alunos da sala.
Consideramos que não está na escolha do tema a falta de originalidade, mas sim nas idéias
apresentadas por esses alunos, uma vez que apenas reproduziram o que é tradicional, o que
a sociedade espera que eles reproduzam. Observamos que esses alunos valorizam os bens
materiais, são consumistas e reproduzem esses valores sem questionar. As habilidades de
fluência, humor e analogia não foram encontradas. Os alunos utilizaram um vocabulário
simples e constatamos a presença de alguns clichês, o que tirou toda a originalidade dos
textos. Segundo Rocco (1981: 246), “a presença do clichê denuncia ainda a incapacidade
de senso crítico, visto que o indivíduo acaba por se mostrar insensível e incapaz de
diferenciar a seqüência estereotipada daquela, original”.
Para a autora, podem ser muitas as causas de tal problema, mas possivelmente
possamos atribuí-lo ao sistema escolar atual que freqüentemente trabalha à base de
respostas prontas; talvez à própria vida nas imensas cidades que transformadas elas mesmas
em grandes clichês acabam por bloquear o mecanismo da observação e, conseqüentemente,
da imaginação criadora. Sem dúvida, conforme atestam as redações, esses alunos fazem-se
entender, são claros, porém longe se mostram de uma expressão verbal que seja reflexo de
um nível de pensamento, por exemplo, abstrato, nível em que, a partir de verificações
calcadas no real, pudessem passar livremente, através de determinadas construções verbais
mais elaboradas, à reflexão, à criação de hipóteses, a partir do conjectural e do possível.
Ao analisarmos as oito redações consideradas mais originais, percebemos que
algumas habilidades consideradas criativas aparecem em maior proporção do que outras. O
humor foi a habilidade mais encontrada, o que nos surpreendeu, pois apesar da crise social,
econômica que assola o país, esse fato não tem sufocado o humor de nossos alunos, pelo
contrário a maioria tem deixado transparecer em suas redações uma pitada de humor. A
habilidade de fluência apareceu em menor proporção do que o humor. Já, a analogia foi a
habilidade menos encontrada, o que nos deixou bastante preocupados em relação ao
processo ensino-aprendizagem, uma vez que essa habilidade é considerada, por todos os
autores abordados nesta pesquisa, de extrema importância, pois o uso do pensamento
analógico é essencial para fazer novas associações. A partir desses dados, julgamos ser
necessário que os educadores apliquem atividades que favoreçam o surgimento das
habilidades de fluência e analogia, já que foram as menos encontradas.
Com a análise dessas redações, nos certificamos de que todos os seres humanos são
lingüisticamente criativos e por meio de sua língua materna essa criatividade se manifesta.
Observamos que o ser humano é capaz de utilizar palavras adequadas, fazer certas escolhas
lexicais que garantem a eficácia da interação. Enfim, constatamos que o ser humano possui
capacidade de interagir socialmente por meio da língua criativamente. Acreditamos que se
essa habilidade não se manifesta é porque está adormecida, no entanto pode ser despertada
por meio de atividades adequadas. Preocupados com essa deficiência, oferecemos nesta
pesquisa algumas propostas de como aflorar o pensamento criador do educando.
Cabe ao educador desmistificar a concepção de criatividade, ainda presente nos
meios educacionais, segundo a qual ser criativo tem a ver somente com as dimensões
artísticas e tecnológicas, desprezando assim, o que torna o ser humano verdadeiramente
humano: o uso criativo desse maravilhoso sistema que é a linguagem.
De acordo com o levantamento que fizemos, partindo da pergunta que orienta esta
pesquisa, a qual questiona como podemos desenvolver o potencial criador dos educandos,
já que a educação brasileira valoriza a memorização do conhecimento e o “não pensar”,
podemos responder que é possível aproveitar o potencial humano para tornar a escola mais
criativa propondo exercícios que estimulem as habilidades consideradas criativas. Desse
modo, acreditamos que a escola irá conseguir atrair os educandos, amenizando assim os
gravíssimos problemas de evasão e repetência que a escola brasileira tem se defrontado ao
longo de sua história.
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Editorial Psy.
REDAÇÕES CONSIDERADAS ORIGINAIS
Redação 1 – Se eu fosse um louco
Se eu fosse um louco, não seria um louco qualquer ou comum, porque eu seria tão esperto, tão
inteligente que ao contrário de todos os loucos eu não estaria em um manicômio. E sabe por quê?
Bom... o porquê nem eu sei, porque se eu quero ser alguma coisa, essa coisa tem que estar livre
para fazer o que quiser senão qual seria a graça?
O louco (eu) seria assim como um faraó era para o Egito, e soltaria os loucos das casas de
manicômio e faria uma cidade. A cidade seria Kiloucura, quilos de loucura em uma cidade só... Todos
nessa cidade fariam o que bem quisessem, quem afinal teria coragem para tentar impedir loucos de fazer
alguma coisa? Quem seria o louco?
Mas toda cidade tem que ter sua economia, loucos não trabalham, e agora? Eu como faraó da
Kiloucura contrataria vários doidivanas não loucos de outra cidade e tudo certo!
Tudo certo nada! No mundo em que vivemos os doidos passariam a perna nos pobres loucos.
Pensando bem, já existe essa cidade de loucos e doidos, olhe bem para o país e a cidade em que
vivemos. O que você vê? Todos já não temos idéias brilhantes, nem fantasias ludibriantes que nos tire da
realidade em que vivemos.
É uma pena, eu...estava gostando de ser o louco faraó. Se uma cidade de loucos é um caos, prefiro
estar só; me infiltraria no meio das pessoas, aquelas que se acham normais e inventaria o remédio da cura
de todos os tipos de loucura.
As pessoas que se encontram loucas é porque humanos sem coração, ou traumas assim as fizeram.
E daria o remédio contra loucura para todo mundo.
Talvez eu estaria inventando a solução para problemas mundiais. Assim a minha loucura
acabaria, eu também tomaria o remédio, ficaria muito feliz porque descobriria que era médico e fiquei
louco por não encontrar a fórmula de cura de um louco. Eu teria alcançado o meu objetivo.
Mas em todo caso não seria mais um louco. Eu abandono esse médico porque com o emocional já
abalado estaria louco mais irreversivelmente, ninguém me daria remédio nenhum, iria para o manicômio
sozinho o que não quero porque não existem loucos mais como antigamente...
T. G. S.
Redação 2 – Se eu fosse um...
Se eu fosse um pássaro voaria para longe
Se eu fosse uma flor seria bela e formosa
Se eu fosse um astronauta iria até a lua
Se eu fosse um palhaço estaria no circo
Se eu fosse uma escritora teria idéias sensacionais,
Para fazer esta redação, mas como eu não sou, vou ficando por aqui..
J. E.
Redação 3 – Se eu fosse um ...
Se eu fosse um escritor, pera aí, eu sou um escritor, tenho de pensar em algo diferente...
Se eu fosse um matemático, pera aí, também sou um desses...
Nossa, como é difícil pensar nisso...
Já sei
Se eu fosse um desenho japonês, eu seria Poronoa Zoro, o caça-piratas do mangá
One Piece. Isso sim seria legal, ser forte, rápido, inteligente, conhecido, temido e dormir o dia inteiro durante
uma viagem de navio ao redor do mundo.
Exatamente...
Ser forte como Maguila;
Rápido como um Guepardo;
Inteligente como...pera aí, eu já sou inteligente;
Conhecido como Chapolin Colorado;
Temido como Churck Norris;
E dorminhoco como a Milena, nunca vi ninguém dormir tanto...
R. W.
Redação 4 – Se eu fosse uma borracha
Se eu fosse uma borracha, viveria apagando os erros dos outros, mas essa seria a minha função,
apagar e apagar e apagar. Mas que chatisse, não?
Essa seria minha vidinha de borracha, passando de mão em mão pagando bastante lição, por
exemplo, uma redação.
Moraria num lugar bem legal, um dos moradores seria a caneta que não me faz nenhum mal, mas
por outro lado tem um morador que eu não gostaria de jeito nenhum, seria o lápis. Ele só me daria
trabalho, me gastaria pouco a pouco até que não sobrasse nada de mim.
Fico feliz por não ser uma borracha, ela foi a coisa mais usada nesse pequeno texto. Mas
também foi minha grande inspiração de completar essa história.
L. S. J.
Redação 5 – Se eu fosse um arqueólogo
Se eu fosse um arqueólogo, eu iria viajar pelo mundo à procura de relíquias inestimáveis.
Eu conheceria as pirâmides, as esfinges e os sarcófagos.
Eu atravessaria os desertos, visitaria o pólo norte e pularia para o pólo sul, passando pelo
Equador e pelo Chile, depois eu passaria no Japão, “hum”, só de pensar me deu uma vontade louca de
comer peixe.
Ah! Mas então seria melhor eu ir para o Amazonas, eu poderia pescar e caçar com os índios,
usando arco e flecha, sarabatana e flechas grandes, eu estaria realizando um sonho de infância, mas
mesmo assim o que eu queria mesmo era conhecer a Grécia, eu simplesmente adoro a mitologia de lá;
Afrodite, Medusa, Zeus, minotauro, Hércules e muitos outros personagens.
Ai meu Deus! Como eu adoraria fazer isso, e quem não adoraria, mas é como dizem:
Querer não é pode e eu quero muito fazer isso, com certeza eu seria muito feliz.
Ah!!! Eu já ia me esquecer de dizer que faria tudo isso com um protótipo do 14 bis, só para sentir
o vento do rosto.
R. E.
Redação 6 – Se eu fosse um...?
Se eu fosse um pernilongo, eu morreria esmagado e teria que chupar o sangue dos outros.
Se eu fosse um político, eu seria preso, por causa do mensalão.
Se eu fosse um traficante, eu seria preso.
Se eu fosse um macaco, eu teria que comer bananas.
Se eu fosse D. Pedro I, não poderia jogar vídeo game, nem assistir TV.
Se eu fosse uma telha, eu tomaria chuva, sol quente, e quebraria. O pior, é que as pombas, você
sabe né?
Se eu fosse um livro, eu seria riscado, rasgado e depois jogado no lixo.
Se eu fosse um peixe, eu seria engolido por um tubarão, ou pescado e comido.
Se eu fosse uma árvore, eu seria queimada, ou cortada ou até atingida por um raio em
tempestade.
Eu acho que eu vou ser eu mesmo. É melhor.
M.S.
Redação 7 – Se eu fosse a dona do mundo
Se eu fosse a dona do mundo faria dele um lugar bem diferente. Inventaria carros que voassem
pelo céu e que não poluíssem, nós os humanos voaríamos de uma cidade a outra como pássaros.
Não moraríamos em um só planeta, viveríamos pela Galáxia, tipo assim, escolas em Marte,
Shopping em Júpiter, museus e cinemas em Saturno.
As empresas seriam no oceano, mas lá no fundo, seria um mundo pirado. Nossos pais para irem
trabalhar iriam de submarino e nós iríamos cozinhar em larvas de vulcão.
Os animais falariam e nós moraríamos em matas que ficariam nas nuvens, mas os animais
ficariam aqui nas cidades, pássaros andariam e hipopótamos, elefantes e cavalos voariam. Teríamos um
mundo divertido e louco.
J. B.
Redação 8 – Se eu fosse diretor da Escola Luzia de Queiroz e Oliveira
Se eu fosse diretor da escola, eu colocaria animais na escola junto com os alunos e professores.
Colocaria gorilas e macacos e eles andariam livres, livres e soltos. E seriam professores das matérias mais
chatas: Inglês, História e Geografia. O elefante seria o professor de geografia, o macaco o de inglês e o
gorila o de História.
Iria ter uma piscina para os animais nadarem e os alunos também. Iria ter cortinas nas salas
para os macacos se pindurarem; iria ter uma mata atlântica para experiências absurdas, como cruzar um
elefante com um hamster. Desse cruzamento iria sair um papagaio com penas coloridas e com tromba.
Seria um barato só e seria a melhor escola do mundo, pena que isso não passa de um sonho e com
bastante imaginação. Iria ser simplesmente um barato. Seria a escola dos animais e seres humanos. Seria a
Zooescola.
A .D.
Redação 9 – Se eu fosse um bicho preguiça
Se eu fosse um bicho preguiça, isso seria maravilhoso, pois eu ficaria o dia inteiro sem fazer nada,
só iria apenas comer, dormir e beber.
Eu sendo um bicho preguiça a minha vida seria incrível. Pois não haveria nada melhor do que só
ficar entre as árvores tirando um cochilo, eu seria tão preguiçoso que nem estaria fazendo esta lição.
T. S.
Redação 10 – Se eu fosse um...
Se eu fosse um palhaço gostaria de ser o Boso, para ser bem famoso, mas existem outras pessoas
mais famosas, então eu gostaria de ser uma modelo, só que o meu corpo não permitiria.
Se eu fosse uma rainha? É uma boa idéia e todos me conheceriam porém teria muitas
responsabilidades. Então ta decidido, vou virar escritora e assim sendo o meu nome iria ser espalhado pelo
mundo todo, junto com as minhas histórias.
Pensando bem, acho que eu nunca poderia ser uma escritora, cuja redação tem limite de 30 linhas,
só consigo fazer vinte ou menos.
Já sei, vou ser um pássaro e todos ficarão impressionados com a minha beleza.
Será que eu posso voar baixinho? Tenho muito, muito medo de altura, então vou ser uma pata.
Mas, e aquele tal apelido de “Pata choca”? Ser chamada por este nome não será legal. Acho
melhor continuar sendo eu mesma. Brincar, sair e me divertir muito é realmente o que eu quero para o meu
futuro.
Mudar a nossa vida é fácil no papel, mas tente colocar tudo em prática!
C..D.
Redação 11 – Se eu fosse um relógio mestre
Muitas pessoas se preocupam com a hora, pois querem tudo em seu tempo certo e nos mínimos
detalhes, às vezes é bom ter suas obrigações e saber o tempo que elas podem ser executadas, mas em
muitas ocasiões o tempo não é muito bom com você por isso vou dar alguns exemplos de como as horas não
colaboram com você:
Quando você está naquele delicioso sono e é acordado as 6:15 para ir para escola.
Ou muitos também que são acordados de madrugada ainda para ir trabalhar
Em pleno fim de semana que é o único dia que você tem para dormir até mais tarde e seu vizinho liga o
rádio no volume máximo quando ainda são apenas 8:00 horas.
Por isso muitas vezes o tempo ou horas não colaboram com você e nem com ele mesmo.
Há mais se eu fosse um relógio, mas um relógio mestre que comandasse todos os outros eu
acertaria as horas dos relógios de acordo com os donos fazendo com que todos fossem privilegiados tanto
para não reclamarem e terem suas obrigações feitas em um determinado tempo, mas aí eu acho que o dia
não teria apenas 24 horas.
P. H.
Redação 12 – Se eu fosse um Deus
Se eu fosse um Deus mataria a todos que queiram ter guerra um com o outro. Acabaria com toda
a fome e miséria do mundo, também acabaria com a seca, não deixaria ter catástrofes no eco-sistema.
Quem fosse me contrariar teria que sofrer as conseqüências de não ter obedecido as normas que eu instalei,
obedecendo as minhas ordens as pessoas não morreriam tão cedo e não teriam mais doenças.
Só para quem roubar iria diretamente para o espaço e seria jogado no planeta mais distante do
sol. Quem não obedecer a ordem de não mudar de opinião sobre seu sexo tomaria um banho de larva
vulcânica sem dó nem piedade sem voltar atrás com minhas ordens, eu mesmo ordenaria que soltassem
todas as pessoas inocentes que foram presas injustamente.
B. C.
Redação 13 – Se eu fosse um livro
Se eu fosse um livro que pudesse andar e falar eu iria arrasar. Eu andaria por aí plantando as
minhas idéias nas mentes dos humanos, ensinando coisas, dando informações e muitas outras coisas.
Eu contaria histórias ao mundo todo e assim eu emocionaria, encantaria, faria com que as
pessoas rissem, apoiaria as pessoas a perseguir seus sonhos e, principalmente, tentaria omitir a maldade
que há no mundo.
Se eu fosse um livro, eu adoraria ver as pessoas me consultando para saber a resposta de alguma
dúvida. Adoraria ver que as pessoas me procuram, me pesquisam principalmente, se o propósito delas não
fosse maldoso.
Mas se eu fosse um livro mesmo, eu gostaria mesmo de plantar bons sentimentos nos corações
humanos para que juntos pudessem mudar o mundo.
J. J. L.
Redação 14 – Se eu fosse a lua
Se eu fosse a lua, eu seria a inspiração de muitos poetas e de muitos apaixonados que quisessem
demonstrar seu amor a suas amadas, além de poder conhecer o mundo. Cada lugar com seus diferentes
costumes.
Seria uma penetra nas festas feitas nas ruas, como as festas juninas, mas uma penetra que todos
gostariam de ter, pois eu seria sinônimo de alegria, pois nesta noite não haveria chuva e todos poderiam
“curtir”.
Teria como companhia as estrelas.
E quando tivesse eclipse, todos iriam ficar esperando a hora em que eu e o sol, nos juntássemos,
então assim todos iriam ficar nos admirando.
Nos dias de chuva ninguém poderia me ver, mas todos saberiam que sempre estaria lá. Pena que
quando acabasse a noite, eu teria que me despedir de algum lugar, mas o que me alegraria é que daqui há
doze horas, eu voltaria.
I. S.
Redação 15 – Se eu fosse um bebezinho
Se eu fosse um bebezinho novamente, saberia já o futuro, então aproveitaria muito mais a minha
infância, brincaria muito, correria e ia tentar ter muitos e muitos amigos.
Saberia também os erros que havia cometido e iria tentar não cometê-los mais. Saberia as
dificuldades da vida, e é claro que dificuldade sempre tem, mas saberia encara-las de outro modo.
Com o passar dos tempos ia viajar muito mais com a minha família, tirar muitas e muitas fotos
para marcar mais a infância linda e divertida que iria ter não que minha infância foi ruim, mas tudo que
não fiz, faria para ter mais um motivo para ser feliz.
Portanto se eu fosse um bebezinho novamente faria tudo isso que escrevi, sei que isso não é
possível mais é um sonho de um adolescente.
L..G. M..
Redações consideradas não originais
Redação 1 – Se eu fosse um jogador de futebol
Se eu fosse um jogador de futebol, ah! Mais seria bom! Primeiro jogaria para o Corinthians e
assim com o meu sucesso seria convocado para jogar na seleção brasileira. Seria muito famoso e teria
muito dinheiro mesmo. Seria milhionário, muitas mulheres cairiam aos meus pés. E seria bom!
Eu faria todos os comerciais de cerveja na televisão e ganharia muito, mas seria famoso mesmo é
pelo meu futebol, todos iriam falar esse é mesmo um brasileiro.
Teria tudo o que eu quisesse e teria muita fama. Não haveria quem não conhecesse ou ouvisse
falar do meu nome, seria muito legal ser um jogador profissional pro Corinthians e pra seleção brasileira
esse sonho ainda posso realizar.
A .C. S.
Redação 2 – Se eu fosse uma modelo
Se eu fosse uma modelo, seria mais bonita que a Gisele e seria muito rica ganharia milhões. Terias
roupas caras de peles e tudo mais. Ajudaria os pobres o meu dinheiro seria tanto que não saberia o que
fazer!
Usaria roupas e maquiagem tudo de marca. Seria muito fashion. E seria adorada por todo o
mundo, viveria no shopping fazendo compras. Minha vida seria feliz. Viajaria para todo o mundo e teria
casa em todos os lugares mais bonitos. E não deixaria as passarelas toda a imprensa estaria atrás de mim.
Se eu fosse uma modelo, andando já desfilaria nos píncaros da glória.
C.. D.
Redação 3 – Se eu fosse uma atriz famosa
Se eu fosse uma atriz famosa e rica no meu aniversário eu faria uma festa, a maior das festas que
já se viu com muitos comes e bebes a vontade muitos convidados e para a festa ficar melhor com um show
inesquecível do “Jeito Moleque” cantando seus sucessos e depois eles ficariam na festa comigo até o final
a festa duraria uns dois dias. Faria festas de quinta até o domingo e sempre com o Jeito moleque.
Faria um filme e uma novela de bastante sucesso, nunca estaria parada sempre sendo convidada
para fazer várias novelas filmes, festas, desfiles, casamentos e muitos outros.
A. A.
Redação 4 – Se eu fosse um presidente
Se eu fosse um presidente eu mudaria tudo de ruim nesse país, ia governar com competência e
dignidade, não pensaria em mim e sim nas pessoas, porque se não fosse essas pessoas eu não estaria na
presidência.
Como presidente eu aumentaria o salário mínimo, abaixaria os impostos, tentaria tirar todos da
miséria extrema, o número de desemprego iria diminuir.
Para eu conseguir fazer o país ir para frente não basta só de mim e sim das pessoas que estão a
minha volta. Pois como eu vou conseguir melhorar o país se as pessoas que estão perto de mim não
ajudam.
Como irei conseguir isso se estou rodeado de pessoas que só pensam em si mesmas, que não tentam
ajudar o povo não fazem nada para melhorar o país. Eles não pensam que ajudando a si mesmos estão
melhorando o pais que eles vivem.
L. E. B.
Redação 5 – O presidente do Brasil
Se eu fosse o Presidente da República eu acabaria principalmente com a fome a pobreza e a
corrupção e as pessoas de baixa renda não pagariam os impostos, investiria na educação no turismo e nas
estradas, combateria o tráfico de drogas, pessoas e animais, vigiando rigorosamente as fronteiras por
terra, céu e mar.
Faria tudo isto retirando deputados, ministros, governadores e até prefeitos que desviam o
dinheiro que é direcionado a população brasileira. Além de tudo criaria clínicas para tratar das pessoas
viciadas em drogas e investiria nas pesquisas de remédios para a Aids e outras doenças que não atingem
só o Brasil, mas o mundo todo.
Este seria o Presidente perfeito, mas que ainda não existe infelizmente.
V. S. M.
Redação 6 – Se eu fosse uma milionária
Se eu fosse uma milionária, minha vida seria bem diferente, começando por onde moraria, iria ser
uma mansão, com piscina, jardim, área de lazer e muito mais.
Viajaria conhecendo o mundo inteiro, vários países, aprendendo várias línguas e costumes e
estudaria bastante para realizar o meu sonho de ser uma estilista, eu poderia até ser conhecida pelo
mundo inteiro.Imagino minhas criações, todas luxuosas e com tudo isso me tornaria independente e
satisfeita com os meus objetivos, mas acima de tudo feliz, o que é bem importante, não que eu não seje
mas com certeza seria mais.
Sei que o dinheiro não é tudo na vida, mas não deixa de ser essencial, mas tudo isso não passa de
um sonho um tanto quanto alto, mas quem sabe no futuro poderia se tornar realidade.
K.M..
Redação 7 – Se eu fosse um jogador de futebol
Se eu fosse um jogador seria um bom jogador, pretendo um dia jogar num time grande como
Corinthians, São Paulo, Palmeiras e etc. No dia que eu for um jogador, vou sustentar meus pais, meu
irmão e meus outros familiares, minha mãe iria gostar de me ver na televisão.
Eu iria vir para casa, ver meus pais só quando desse tempo e quando fizesse gol era para mandar
beijos para eles e fazer um gesto com a mão em forma de um coração. Depois de três anos voltei para casa,
minha mãe ficou muito contente meu pai também. Depois fui ver meus outros familiares ficaram muito
felizes também.
L. H.
Redação 8 – Meu Brasil
Se eu fosse uma super-heroína e tivesse muita autoridade sobre o povo do meu país,
primeiramente iria acabar com a corrupção na política, gostaria de implantar uma lei para todas as
pessoas que matassem outras, como punição, prisão perpétua.
Me empenharia tentar acabar definitivamente com as drogas, bebidas alcólicas e tudo o que faz
mal as pessoas. Aumentaria o salário mínimo e a aposentadoria, almejaria investir na educação infantil,
penso que se um aluno tivesse que passar de uma série para outra deveria passar com seus próprios
méritos. E o principal que é a falta de respeito de governadores e etc, para com as pessoas necessitadas na
área da saúde. Se eu fosse uma super-heroína...
J. G.
Redação 9 – Se eu fosse rica
Se eu fosse rica, com certeza eu teria uma vida bem diferente. Em primeiro lugar eu teria tudo
que tenho vontade, sem contar em bens materiais, daria uma vida melhor para meus pais, poderia pensar
em fazer a minha faculdade pensar no futuro de meu irmão e muito mais.
Eu viajaria pelo mundo inteiro para conhecer pessoas diferentes, e outras culturas. Também
ajudaria asilos e orfanatos, principalmente crianças carentes.
Bem se eu fosse rica poderia fazer tantas coisas. Isso é! Ser rica mais com saúde.
D. S
Redação 10 – Se eu fosse um jogador de futebol
Se eu fosse um jogador famoso eu iria jogar em vários times de futebol. Iria fazer muitos
comerciais, iria procurar patrocinadores, iria ajudar minha família. Viajaria para muitos países e só
voltaria quando estivesse velho.
Eu iria querer jogar no time de base, no time do meu coração ficaria muito feliz e quando eu não
pudesse mais jogar eu iria ajudar as outras crianças a ser jogadores. Iria tirar as crianças da rua, das
drogas, incentivar a ser alguém na vida, porque não devemos matar nem roubar ninguém por ai a fora.
J. C..
Redação 11 – Se eu fosse uma herdeira
Se eu fosse herdeira de uma família milionária, com certeza não estaria aqui, provavelmente
estaria em uma escola particular, onde há um ensino mais rígido e exigente, prefiro aqui.
Com certeza ia ter menos amigos, porque não ia poder conversar na escola e nem brincar na rua à
noite.
Eu acho que ia ter que me esforçar mais para passar de ano com notas boas, não ótimas. Não sei
se seria mimada ou não se eu fosse, acho que ia ser chata demais, tudo o que eu quisesse eu ganharia sem
nenhum esforço de alguma forma ia ser bom.
Há mais eu acho que o mais difícil era escolher uma profissão, sei lá, quando a gente tem menos
recursos, da mais vontade de chegar lá, no nosso sonho.
G.V. S.
Redação 12 – Se eu fosse uma pessoa rica
Se eu fosse uma pessoa rica e poderosa eu mudaria muitas coisas no mundo e ajudaria muitas
pessoas. Construiria um centro de apoio a pessoas viciadas em álcool e em drogas. Tentaria tirar as
crianças, os adultos e os senhores de idade das ruas. Ajudar uma pessoa é uma ação muito boa aos olhos
de Deus, pois ele nos deu o sentimento do amor e da bondade.
Cada um tem em si o dom de perceber quando uma pessoa precisa de ajuda, eu ajudaria cada um
que precisasse de mim. Não seria aquela pessoa rica que não se preocupa com ninguém e que só olha pro
seu próprio nariz.
Faria qualquer um sorrir em todas as fases de sua vida, principalmente nas ruins que é quando
alguém precisa ainda mais da gente do nosso carinho e da nossa compreensão, nunca feche as portas de
sua casa para alguém pois todos que vem a sua casa precisam de você.
V. P.
Redação 13 – Se eu fosse um apresentador
Se eu fosse um apresentador de televisão o meu programa ia ser radical, que tenha alguma coisa
há ver com skate, porque eu ando de skate, há um ano e vou continuar andando, até o último dia de
minha vida, por isso que o meu programa vai ter alguma coisa há ver com skate, nesse programa ia ter
várias pessoas andando de skate, fazendo várias manobras radicais.
Um dia, eu ainda vou ser profissional no skate, eu ainda sou iniciante, porque eu ando muito
pouco e para você ser profissional, você tem que andar pelo menos 20 anos, e eu vou andar muito mais que
20 anos.
M.. M..M..
Redação 14 – Se eu fosse uma modelo
Se eu fosse uma modelo não estaria aqui hoje com certeza, estaria numa escola muito chique, teria
muito dinheiro e seria muito famosa.
É acho que não teria tempo para nada, tantas entrevistas, desfiles, campanhas, fotos, comerciais,
realmente ia ser cansativo, mas eu não me importo, acima de tudo ia ser legal.
O engraçado é que quando eu fosse em algum lugar público todo mundo ia me reconhecer, pedir
autógrafos, ia ser melhor eu andar de segurança.
Quem sabe até eu poderia ter uma carreira profissional, na França, nos Estados Unidos, eu ia
conhecer muitos artistas, nossa eu poderia até conhecer pessoalmente a Avril Lavigne mas isso é só um
texto.
L. C..
Redação 15 – Se eu fosse uma cantora
Eu queria ser conhecida internacionalmente e iria regravar várias músicas do grupo R.B.D. e iria
conhecer todo o grupo RBD, e quem sabe morar no país deles.
E quando eu fosse fazer algum show eu queria que todo mundo ficasse querendo subir no palco
par ame conhecer e eu queria que o RBD me acompanhasse quando eu fosse cantar algumas musicas como
Rebelde, Nuestro Amor, etc.
E as vezes eu poderia até cair algumas vezes no palco para ter um pouco mais de humor, e na
hora em que eu olhasse para as pessoas todo mundo estivesse rindo, iria ser legal.
Mais isso é praticamente impossível, mais vale a pena sonhar.
I. M..
Redação 16 – Se eu fosse o presidente do Brasil
Se eu fosse o presidente do Brasil. aumentaria os salários em dobro, criaria mais empregos e
financiamentos para pequenos negócios, diminuiria os impostos e a dívida externa, iria também garantir
moradia digna para todos e melhores condições sanitárias, acabaria com o analfabetismo, o racismo e a
exploração de crianças e adolescentes.
Aumentaria em dobro os anos de prisão para os políticos e não permitiria que tivessem privilégios
tais como: televisão, rádio, geladeira e etc. criaria também novas leis de proteção à fauna e a flora,
asfaltaria estradas e baixaria o preço das passagens de ônibus.
Incentivaria a cultura e os esportes, aumentaria o número de parques ecológicos e a área das
terras indígenas, treinaria mais policiais para aumentar a segurança de todos, criaria programas sociais e
facilitaria a criação de indústrias e a entrada de turistas.
F. R.
Redação 17 – Se eu fosse uma presidenta
Se eu fosse uma presidenta eu iria começar a agir. Iria começar a construir casas para as pessoas
que moram debaixo de viadutos, começaria a distribuir cestas básicas, mas só para quem precisa, iria
continuar a distribuir o cartão renda familiar, mas só pra quem precisar mesmo, quem tiver o cartão e não
precisar simplesmente mandaria bloquear. Mas primeiro de tudo se eu pudesse, iria tirar todos os
deputados federais, estaduais, governadores, bom acabaria com todos só iria deixar, eu a presidenta, um
prefeito para cada estado.
Eu não sei porque tem tudo isso de gente em uma câmara só, porque todos falam que vão fazer
algo, e no final não fazem nada, a ùnica coisa que eles fazem é pegar o dinheiro do povo.
Bom mais para que isso acabasse, eu iria ter que ser escolhida em uma eleição para ser uma
presidenta, aí eu começaria a fazer tudo isso, mas eu acho que ainda a nossa nação infelizmente tem
preconceitos contra isso.
Mas vai chegar o dia em que uma mulher via ser escolhida para ser uma presidenta e ela vai fazer
tudo isso. Nem que seje “eu”, daqui algum tempo!!!
F. C.
Redação 18 – Se eu fosse presidente
Se eu fosse presidente primeiramente gostaria de ajudar o povo do meu país, pois acho que precisa
de atenção e um pouco mais de conforto ou seja gostaria de ser uma pessoa que ajudassem seus próximos.
Mas também gostaria de ter dinheiro e por isso a escolha de um presidente, pois presidente tem a
oportunidade de compartilhar no país, mas também construir sua própria vida.
Tendo sua casa, seu carro, uma família bem estruturada, ser conhecido por todos, viajar etc.
Acho que tem pessoas que nasceram com sorte na vida mas não sabem aproveitar, pois como
muitos presidentes por aí, tem tudo o que querem, mas o mais importante do cargo deles, eles não fazem
que é ajudar seu país, só querem roubar e não é bem por aí
Eu penso que como eu já tenho, porque não ajudar os que não tem. Se eu fosse presidente
ninguém iria se arrepender de votar em mim.
V. S. D.
Redação 19 – Se eu fosse presidente
Se eu fosse presidente eu não deixaria o Brasil cair na corrupção. A primeira coisa que eu iria
fazer era não comer o dinheiro do povo. Cada dinheiro iria ter uma missão a fazer.
Eu não deixaria mais ninguém passar fome, melhorava 300% da poluição, não iria ter mais preço
alto nas comidas, os impostos iria abaixar, o gás e a gasolina não sofreria aumento.
Eu tirava todo essas pessoas que dorme na rua, construiria uma casa só para essas pessoas que
não tem onde morar. O presidente que temos hoje fez alguma coisa por nós, mas o que ele fez ainda é
muito pouco não refrescou nada. Cabia ele fazer uma Brasil melhor, o jeito que nós estamos vivendo não
dá pra nada Por isso nós estamos esperando um Presidente melhor para o Brasil e para a população.
M. .F.
Redação 20 – Se eu fosse uma pessoa famosa
Se eu fosse uma pessoa famosa tentaria usar minha fama para a melhoria do nosso país, que por
sinal precisa de muitas. Meu sonho é um dia ver todos saindo na rua com segurança. Um pouco é falta de
ajuda dos nossos governantes e até mesmo dos nossos artistas, que para eles é tudo na base da grana.
Vamos pensar em estudar e até mesmo rezar para daqui alguns anos nós artistas possam ajudar
mais na nossa paz. Espero que se meu sonho acontecer eu possa fazer tudo o que eu gostaria de fazer
hoje.
A . R. S.
Redação 21 – Se eu fosse presidente
Se eu fosse presidente eu faria a cidade de São Paulo mais feliz. Ajudando como renda mínima,
bolsa escola, cesta básica uma escola boa, por exemplo como (Céu). Ajudar os desabrigados fazendo casas
para quem necessita não ser como certos e certos que tem o cargo na mão de presidente e não ajuda os
necessitados.
As vezes eu penso que não deveria ser presidenta, por mais que queira essa não é a minha
vocação, mas quando eu vejo os necessitados passando fome, mendigando, vem na minha cabeça se fosse
eu.. Se eu fosse presidente eu faria desse país bem melhor, mas eu sei que é difícil, porque é muita gente
julgando sem saber o que se passa.
M.. C..
Redação 22 – Se eu fosse uma prefeita
Se eu fosse uma prefeita construiria um mundo melhor cheio de amor, respeito e compreensão com
mais oportunidades de trabalho, principalmente na educação. Pois nossa educação está cada vez pior não
devemos aceitar essa condição, devemos lutar pelos nossos ideais.
Abriria mais escolas, colocava aulas tempo integral, colocaria mais programas sociais em prol da
nossa sociedade.
Devemos construir nosso mundo melhor, eu acredito que um dia Deus salvará esta terra e não
haverá sofrimento morte, nem dor.
Pois lá no céu só vai haver alegria. Que Deus nos abençoe e nos ajude até que esse dia venha.
D. V.
Redação 23 – Se eu fosse o presidente do Brasil
Começando de hoje, hoje sou humilde passo por dificuldades e eu vejo o tanto que meus pais se
esforçam para me criar.
Eu vejo só preços altos as contas com preços absurdo, tudo se eu fosse presidente eu mudaria.
Olharia para o povo humilde não iria virar corrupto, tentaria aumentar o salário teria que diminuir o
preço da gasolina, porque tenha noção que quando aumenta a gasolina aumenta tudo..
Mudaria tudo para a melhor principalmente na área de saúde da educação. Para os ricos e pouco
para os pobres, seria direito igual para todos.
Por isso peço o voto de todos para mudarmos o Brasil.
H.. F.
Redação 24 – Se eu fosse jogador de futebol
Se eu fosse um jogador de futebol. Eu iria querer começar a carreira no São Paulo tentando
buscar meu espaço no time titular fazendo gols e dando possíveis passes para gols depois que eu
conseguisse fazer sucesso no São Paulo.
Eu gostaria de jogar no Real Madri, jogando ao lado de Ronaldo, Robinho, Roberto Carlos etc. Iria ser
difícil de entrar nesse time, levaria um tempo, mas só de treinar com ele já seria um presente.
Nessas horas que eu paro para pensar como o Brasil está dominando o mundo através do
futebol só no Real Madri temos cinco brasileiros, temos também um técnico brasileiro que comanda a
seleção do Japão. Falando nisso é que eu vou começar minha carreira fazendo história.
V.S.
Redação 25 – Se eu fosse um cantor
Se eu fosse um cantor eu queria ter a voz bela e queria cantar bem porque eu iria querer fazer
muito sucesso porque é uma coisa que vem do coração e que eu gosto muito de música. Ex. Samba e
Pagode.
E o que eu gosto de escutar é samba não custa nada é o que eu quero.
Futuramente quero trabalhar para bancar uma escola de música para treinar a voz para que eu possa
conseguir com muita força e fé eu chego lá.
Porque eu sei que Deus existe e se existe não custa nada acreditar porque o nosso futuro a Deus
pertence e vai da nossa parte fazer merecer. Essa é a minha opinião pelo menos.
C. S.