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Psiquismo
Cada vez mais profissionais de sade descobrem a relevncia da psicossomtica psicanaltica
como instrumento paracompreender a dinmica do paciente, seu contexto e seus sintomas
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shutterstock
Rose Campos jrnalta e ecreve
bre Pclga.
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Por Rose Campos
Oestudo da psicossomtica ganhou
ora a partir da dcada de 1950,especialmente a partir dos estudosconduzidos por Pierre Marty, em-
bora no tenha sido ele o criador deste termo.Na literatura mdica, consta que o termo psi-cossomtica oi introduzido em 1918, apesarde as razes deste conceito serem muito maisantigas. J na Grcia de Hipcrates, Plato eAristteles, o ser humano era considerado poresses flsoos uma unidade indivisvel. E a psi-cossomtica atual nos remete a uma viso hols-tica do homem, ou seja, na perspectiva de sua
integralidade, unindo seus aspectos psquicose biolgicos e considerando a interao dessasduas dimenses na manuteno da sade e nagnese das doenas. De certo modo, a psicos-somtica representa tambm deixar para trs aviso cartesiana (proposta por Ren Descartes,1596-1650) de separao entre mente e corpo,que hoje est no centro no s da lgica da me-dicina como de todo o campo da sade.
Esse resgate histrico da interao cor-po-mente j havia sido eito por Freud, ao
sistematizar o conhecimento da Psicanlise.Agora a psicossomtica psicanaltica se co-loca em continuidade e amplia toda a teoriae toda a clnica psicanaltica. Eu acho que aespecifcidade daquilo que psicossomticapsicanaltica o ato de tratar e cuidar de ma-niestaes que o prprio Freud dizia que noestava ao alcance da Psicanlise, afrma o psi-canalista e psicossomatista Rubens MarceloVolich, proessor do Curso de Psicossomticado Instituto Sedes Sapientiae, de So Paulo.
Segundo explica Volich, Freud dizia que a
Psicanlise se dedica essencialmente ao trata-mento das psiconeuroses. Haveria, no entanto,uma outra categoria que Freud descrevia comoneuroses atuais, entre as quais esto a hipocon-dria, a neurose de angstia etc., e que ele afr-mava que a Psicanlise no poderia tratar. Foi apartir de Ferenczi e vrios outros autores suce-dneos de Freud que se sugeriu que a base, isto, a teoria psicanaltica e os conceitos psicana-lticos, so, sem dvida, importantes, mas que,no entanto, era preciso azer uma modifcao
na tcnica teraputica a fm de poder tratar
desses casos que no respondiam Psicanliseclssica, evidentemente, por causa das difcul-dades mesmo da organizao psquica dessespacientes. Ento, existe uma continuidadeentre a psicossomtica psicanaltica mais atual,mais moderna, e a prpria teoria psicanaltica.Na verdade, a psicossomtica moderna sempreteve uma inspirao psicanaltica. Ocorre que,depois, vrias correntes se aastaram da Psican-lise, mas os primeiros autores da psicossomticaeram todos psicanalistas ou estavam prximosda psicanlise: Ferenczi, Groddeck, Alexander,
que oi presidente da IPA (Associao Psicanal-tica Internacional), conclui Volich.
A psicanalista Snia Maria Rio Neves, es-pecialista em Psicologia Clnica, que tambmmembro do Departamento de Psicanlise doInstituto Sedes Sapientiae e proessora e co-ordenadora do Curso de Psicossomtica desteInstituto, chama a ateno para o ato de a tc-nica ser uma questo importante dentro da psi-cossomtica psicanaltica. E lembra que Martyj havia apontado que toda terapia, mesmo de
um paciente com queixas basicamente som-ticas, conorme or evoluindo, acaba revelan-do o quanto o paciente poderia se benefciarde uma psicanlise, embora nem sempre issoocorra na prtica. Da Psicanlise para a Psi-cossomtica, alguns conceitos se mantm ouapresentam um oco maior. Conceitos liga-
dos ao aparelho psquico, ao pr-consciente,tm um oco dierenciado, mas apresentam omesmo conceito, ela compara.
Basicamente aquilo que a psicossomticapsicanaltica revelou que esses pacientes queapresentam maniestaes somticas, que tmsintomas orgnicos, tm tambm uma ragi-
EmoesreprimidasDe acordo com
o mdico Jose Mo-
romizato, o corpo
reflete o que as
pessoas pensam e
sentem. Quando
reprimimos nossasemoes, elas vo
se acumulando
at o ponto que
nos machucam
proundamente.
S que a represacheia extravasa
por algum lado, e
explode em algum
rgo mais sen-
svel. Moromizato
notou que, muitas
vezes, as mols-
tias sanadas nassalas de cirurgia,
como lceras, por
exemplo, voltavam
a incomodar os
pacientes, passadoalgum tempo.>>,
m oco
A PSICOSSOMTICA ATUAL UNE ASPECTOSPSQUICOS E BIOLGICOS, EM UMA VISO
HOLSTICA DO HOMEM, DE SUA INTEGRALIDADE
DiVuLGAo
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Psiquismo
que um mobilizador desses recursos regressivos.Na psicossomtica, utiliza-se principalmente a
posio ace a ace, na poltrona. Existem algumastcnicas especfcas que oram desenvolvidas nasltimas dcadas, como tcnicas de relaxamentopsicossomtico; algumas tcnicas psicodramti-cas tambm so empregadas, acrescenta Volich.Esses recursos so utilizados para tentar mobili-zar um uncionamento mais primitivo, mas commais continncia do que uma tcnica analticaclssica propicia. Outra caracterstica que essespacientes apresentam uma ligao muito orteao presente, ao atual. E muitas vezes no tm ca-pacidade de lembrar do passado e se projetar no
uturo. E tudo isso so recursos que normalmen-te a tcnica psicanaltica clssica exige.
No trabalho com esses pacientes, a ques-to da presena, aquilo que Pierre Marty cha-mou de uno materna do terapeuta, algomuito relevante. Na prtica do tratamento,signifca que comum o terapeuta precisarincitar o paciente a alar, az-lo lembrar-se decoisas, e ajud-lo a preencher aquilo que soos seus vazios de representao. So tcnicas,portanto, que buscam mobilizar e promover
esses uncionamentos mais primitivos.PreseNTe Nos HosPiTais
Um dos locais onde a psicossomtica bastanteaplicada no ambiente hospitalar. Quem trabalhaem hospital, tanto o psiclogo hospitalar quantoo mdico, benefcia-se desse conhecimento. Nocomo tcnica, mas como orma de compreensoda doena, que envolve o todo, no apenas o tipode pessoa, suas caractersticas psquicas, mas tam-bm o contexto no qual est inserida.
A psicloga line Batistella proessora do
Instituto Sedes Sapientiae e tambm atua comopsicloga do Hospital Dante Pazzanese. Hoje, elacoordena o trabalho da Psicologia na Enermaria,que presta assistncia ao paciente internado, que vaipassar por cirurgia, e atende tambm os amiliaresdesses pacientes, alm de dar suporte para a equipe.Com os pacientes, o trabalho o de apresentar oservio de Psicologia e azer um aconselhamento.O profssional se coloca disposio desses pacien-tes e az um tipo de triagem, a fm de verifcar se necessrio o atendimento psicolgico.
UM DOS OBJETIVOS DO TRABALHO TIRAR O PACIENTE DA POSIO PASSIVA. OTRATAMENTO BUSCA A APROPRIAO DE SI
lidade em sua organizao psquica. essaragilidade que, de certa maneira, pode expli-
car por que num momento de crise, de umadifculdade, em vez de apresentarem um sin-toma mental, uma maniestao mental, tmum sintoma que passa pela via do compor-tamento, uma descarga do comportamento.Ou, pela prpria somatizao, uma doenaorgnica, completa Rubens Volich.
Justamente por apresentar essa ragilidade douncionamento psquico, esses pacientes no sno tm como se benefciar de uma anlise cls-sica que requer a livre associao, que trabalha
com o div, e que supe uma capacidade de con-tato com movimentos regressivos do psiquismo, como esse contato pode at mesmo ser pre-judicial, pois a pessoa no tem os mecanismos,
as unes que poderiam estar aproveitando daregresso que se observa na anlise e que contri-buiriam na superao de conflitos. Ento, porexemplo, no se recomenda a utilizao do div,
Deve-se deixar odiv de lado, por ser
um mobilizador dosrecursos regressivos eoptar pela escuta facea face, na poltrona
fotos:shutterstock
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A questo que o paciente muitas vezes az adissociao entre seu problema clnico e seu esta-
do psquico, por isso no costuma trazer tona assuas questes emocionais. So, ento, as intercor-rncias clnicas que propiciam ao psiclogo hos-pitalar intervir. Ns levantamos a discusso decaso entre os profssionais. E muitas vezes atende-mos as angstias da prpria equipe, diz line.
Uma coisa que esses profssionais procuramevitar a defnio de um perfl de pacientepara cada tipo de adoecimento. Apesar disso,fca claro que o ato de adoecer do corao traz tona determinadas angstias, por ser este umrgo vital e em decorrncia de a doena abar-
car o risco de morte. Tradicionalmente, e nosenso comum, o corao visto como a sededas emoes. Por isso, o adoecimento mobilizamuito e desestrutura a parte emocional do pa-ciente cardiopata. Outro aspecto ressaltado pelapsicloga hospitalar diz respeito dependnciaque esse tipo de adoecimento costuma gerar.
Um dos objetivos do trabalho com o pa-ciente cardaco, no por acaso, tir-lo daposio passiva, que muito reqentemente seatribui ao paciente. O tratamento caminha na
direo da apropriao de si, relata line. Parao profssional de sade, a ormao em psicos-somtica tambm az dierena. O trabalho daPsicologia deve ser mais intenso nas situaesem que o paciente est entregue doena.
nesse momento tambm que a orma-o do proissional em psicossomtica podeazer grande dierena, uma vez que intererediretamente no modo como ele ir enxergaro paciente, determinando tambm uma con-duta dierenciada no tratamento. s vezes,o mais importante a uno materna. Apro-
ximamo-nos mais do modelo me-beb, paracriar um campo simblico propcio expres-so do paciente, explica line.
Outro aspecto primordial que a psicosso-mtica ajuda a promover a compreenso dasdeesas do paciente. Desse modo, o profssio-nal jamais ataca de rente essas deesas. Eletem de compreender em nome de que essasdeesas se erguem, do que o paciente est sedeendendo, de quais angstias ele parte. Opsiclogo, ento, comea a agir pelas bordas.
O psicanalista rancs Pierre
Marty nasceu em Paris, em 1918,
e reconhecido como pioneiro
da psicossomtica. Apesar de no
ter sido o criador do termo psi-
cossomtica, oi ele o primeiro a
distinguir esse conhecimento da
Medicina e da Psicanlise. Marty
via o homem em sua integrali-
dade, abrangendo seus aspectos
psquicos, biolgicos, sua histori-cidade e a dimenso social na qual
est inserido. Foi dessa orma que
passou a observar os enmenos
da somatizao.
Para Pierre Marty, a melhor
deesa contra as doenas do or-
ganismo o uncionamento men-
tal. Assim, aqueles indivduos que
apresentam bom uncionamento
mental so mais ortalecidos e
esto, portanto, menos sujeitosa contrair doenas graves. Por
outro lado, aqueles que possuem
um esprito negativista e ego rgil,
ou ainda, que reprimem suas re-
presentaes mentais, tm maior
tendncia a adquirir enermidades
severas. Em 1962, Marty undou,
ao lado de Michel Fain e de outros
pares, a Escola de Psicossomtica
de Paris. Segundo o psicanalista, o
prprio sujeito tem participao
ativa na ecloso da sua doena, e,por conseqncia, interage com
seus prprios processos e me-
canismos de deesa. A undao
da Escola permitiu a criao de
um corpo teraputico e tcnico
psicanaltico, levando em conta o
seu campo de aplicao. Em 1968,
Pierre Marty criou tambm um
centro de consultas, que se trans-
ormaria mais tarde, em 1972, no
Instituto de Psicossomtica de
Paris. O Instituto oerece aos psi-
canalistas a ormao em clnica,
teoria e prtica psicossomtica
de orma a utilizarem teraputi-
cas e tratamentos baseados em
psicoterapias psicanalticas. Marty
estudou uma grande variedade
de doenas psicossomticas, comespecial empenho na pesquisa do
cncer, da doena de Crohn, das
colites ulcerosas, das doenas do
sistema osteoarticulatrio, da hi-
pertenso arterial e da asma.
O hospital que hoje leva seu
nome oi undado pelo prprio
Pierre Marty, em 1978, batizado
ento como Poterne des Peupliers.
Alm da preveno e tratamento
de doenas somticas de adultos
e crianas, a instituio tambmpromove a pesquisa e ormao
tcnica de profssionais em psi-
cossomtica. Pierre Marty morreu
em 1993 na mesma cidade onde
nasceu, a capital rancesa.
Fonte: MARTY, P. In Infopdia. Porto:
Porto Editora, 2003-2007. Disponvel em
http://www.infopedia.pt/$pierre-marty
Pierre Marty,
um pioneiro
Para Marty, o prprio sujeito tem
participao na ecloso de sua doena
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Psiquismo
A ao da amlia, j se sabe, muito relevante no tratamen-
to. Mas ela pode tanto atrapa-lhar quando ser undamentalno processo de recuperao. E,muitas vezes, tem papel deses-truturante para o paciente.
Pouco esPaoPara o Psicolgico
Apoiada em sua experinciacomo psicloga hospitalar, queteve incio em 1994, line Ba-tistella observa que pacientes e
amiliares no costumam ser re-ratrios a este tipo de servio.
No entanto, o sentido de pensar o psicolgicohoje menor. A Psicologia vem muito mais
numa lgica analgsica, imediatista, ela anali-sa. Da o ato de muitas vezes no se aproun-darem para descobrir o que, de ato, se passapsiquicamente e que tem a ver com a manies-tao da doena e com sua evoluo.
O profssional de sade, por outro lado,a tem surpreendido. Pois muito prontamen-te a maioria deles adquire a noo de que oaspecto emocional interere no quadro. Essanoo, ela observa, est mais presente na or-mao dos mdicos. s vezes eles mesmostrazem essa questo. Esto mais abertos. Ape-
nas ainda so muito inbeis para lidar com asituao. Saber o que azer com isso ainda
Alergia a intolerncia do organismo
a dados produtos sicos, qumicos ou bio-
lgicos, aos quais reage de orma exage-
rada. Trata-se de uma reao anormal a
uma ou mais substncias aparentemente
inocentes que, quando apreendidas peloorganismo (inaladas, ingeridas, ou em
contato com a pele) causam irritabilida-
de. A alergia , ento, uma intolerncia do
organismo a alguma circunstncia exter-
namente determinada. Isso pode perei-
tamente servir de analogia, em Psiquiatria,
com nossas reaes vivenciais anormais,
diante das vivncias consideradas trau-
mticas. As vivncias so contecimentos
representados particularmente por cada
um de ns que causam sentimentos va-
riados: ansiedade, medo, alegria, angstia,raiva, apreenso. As reaes vivenciais so
reaes de nosso psiquismo s vivncias,
tal como as reaes alrgicas so reaes
de nosso organismo aos estmulos que
nos sensibilizam.
Assim como as reaes alrgicas pro-
duzem alergia, as reaes vivenciais pro-
duzem sentimentos. As reaes alrgicas
produzem tipos dierentes de alergia nas
variadas pessoas: tambm as
reaes vivenciais determi-
nam diversos sentimentos
nas dierentes pessoas, distin-
tos quanto ao tipo e quanto
intensidade. As reaes vi-venciais (os sentimentos) se-
ro sempre proporcionais ao
signifcado que os atos tm
para as pessoas, dependero
daquilo que os atos repre-
sentam para cada um.
Os atores psicolgicos associados s
doenas alrgicas no costumam ser es-
tudados com a merecida reqncia. En-
tre as doenas alrgicas, a asma brnquica
uma das mais estudadas e tem sido re-
qentemente relacionada ansiedade e adepresso. Em geral, seus sintomas come-
am ou so "provocados" por algo que
agride os pulmes (ou a pessoa?). Estes
agentes so denominados desencadean-
tes da asma. H muitas classes destes de-
sencadeantes, os quais podem ser desde
vrus, alergias, at outras partculas do ar.
Devido a esta variedade de causas, pode
ser muito dicil deduzir o que, exatamen-
te, tem provocado os ataques de asma
brnquica. Inclusive pode-se chegar a
pensar que estes ataques no acontecem
sem que alguma coisa os provoque.
A relao psicossomtica entre
asma e a ansiedade deve-se constata-o de que os estados de mobilizao
emocional ou de estresse possam acen-
tuar os sintomas da asma, os quais por
sua vez, geram mais ansiedade, com-
pletando assim uma espcie de crculo
vicioso. Assim, a asma no um trans-
torno primrio da ansiedade, mas sim
desencadeada e agravada por ela.
Fonte: PsiqWeb
Alergia e emoo
Pessoas somticascostumam apresentar
fragilidade em suaorganizao psquica
Os sentimentosdiante das vivnciaspodem sensibilizarnosso organismo
fotos:shutterstock
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O PROFISSIONAL TEMDE COMPREENDER ASDEFESAS DO PACIENTE,EM NOME DE QUE ELAS
SE ERGUEM, DO QUEO PACIENTE EST SEDEFENDENDO, DE QUAISANGSTIAS ELE PARTE
o mais dicil. Embora j tenha presenciadocasos em que o que o paciente precisava era
do apoio concreto do mdico. E o mdicoouvia, estava disponvel, constata. A ormao psicossomtica pode ser
undamental para os proissionais de sadeaprenderem a lidar, emprimeiro lugar, com aprpria angstia. O pri-mordial nessa ormao,portanto, que ela incluaos aetos. extremamen-te til aprender a lidarcom os aspectos transe-
renciais presentes na rela-o com o paciente.
aMPliar a escuTaOutra via do atendi-
mento em psicossomti-ca o encaminhamento,eito pelo mdico, parao atendimento psicolgico em consultrio,quando ele percebe que h algo mais a sereito alm do tratamento medicamentoso.
Mas tambm pode acontecer de as prpriaspessoas chegarem ao consultrio com suasqueixas. Isso ocorre se o paciente se d con-ta de que aquela doena ou aquele sintomatem a ver com alguma coisa do seu uncio-namento psquico, explica Snia Neves.
Alm disso, ela levanta outras possibili-dades interessantes. Snia se lembra de tertido, em 2006, uma aluna nutricionista nocurso de ormao em psicossomtica quecoordena no Instituto Sedes Sapientiae . Umproissional como esse procura um curso de
psicossomtica porque comea a compreen-der que apenas prescrever uma dieta e tentarmudar os hbitos alimentares muitas vezesno suiciente. O isioterapeuta outrotipo de proissional que, ao lidar com o cor-po do paciente, acaba esbarrando tambmem causas de outra natureza para os malesproduzidos no corpo. em situaes comoessas que a psicossomtica mostra toda a suaamplitude e uncionalidade. O recurso estdisponvel no apenas a psiclogos e psico-
terapeutas das mais variadas abordagensou a mdicos. Outros proissionais de
sade, e at mesmo proissionais da reade educao, podem ter a psicossomti-ca como erramenta. Uma questo im-portantssima a ampliao da escuta.
prprio da essn-cia do pensamentopsicossomtico, dis-pensando a recorren-te simpliicao dacausalidade. Uma dascoisas mais impor-tantes que desenvol-
vemos em nosso gru-po de psicossomticapsicanaltica resga-tar a historicidade. A doena, seja qualor, de maniestaosomtica ou psquica,acontece no contexto
de uma trajetria de vida e de relaesque as pessoas tm com amlia, comtrabalho etc. A gente busca justamen-
te ampliar a escuta dos proissionais desade, acrescenta Rubens Volich.
Nutricionistasentendem queno basta apenasprescrever dietas
para mudar hbitosalimentares
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criana melhora. A criana melhora porque pas-sa a existir, na me ou nos pais, uma outra repre-sentao daquilo que est acontecendo com ela.Como Snia alerta, essa dinmica amiliar que se
observa no nega a influncia de atores genti-cos ou constitucionais. Apenas esses atores noexcluem a intererncia da dinmica amiliar.
Se possvel pensar em um ideal para otrabalho da psicossomtica, os especialistasentrevistados apontam que seria a ao pro-fltica e justamente com crianas. Alm depoder ser usada com grande utilidade e ef-ccia nos atendimentos em hospitais e am-bulatrios. Rubens Volich, de certo modo,resume esse conhecimento, j comprovadopor meio de vrias pesquisas: A gente sabe
que o trabalho psicoteraputico adjuvante aotrabalho mdico ou mesmo interveno ci-rrgica um recurso que melhora bastante otempo de recuperao, diminui o tempo dehospitalizao de pacientes com doenas gra-ves. Quem trabalha em hospital conhece issomuito bem. As equipes mdicas, que so maissensveis ao trabalho da Psicologia hospitalar,sabem os benecios que isso traz para os pa-cientes, inclusive nos aspectos de reduo derecidiva e de tempo de hospitalizao.
O objetivo, nesses casos,no transormar o profssio-
nal de sade em psicanalista,mas instrument-lo a fm deque possa descobrir outrossignifcados para um sinto-ma. Nesse sentido, capacita-o a compreender a extensode um problema nutricional,por exemplo. Ou ainda, en-tender que uma contraomuscular no se restringe aum problema mecnico, maspode ter relao com a his-
tria de vida daquela pessoa.Como sou otimista, achoque os educadores tambmpodem se benefciar, por-que quem trabalha comcriana vive a psicossom-tica, enatiza Volich.
Pelo prprio uncionamento da criana, queainda est em desenvolvimento, ela est muitomais suscetvel de responder de uma maneirasomtica, de responder com o corpo inclusive
porque o aparelho psquico est se desenvolven-do e a criana ainda no conta completamentecom os recursos psquicos para lidar com as no-vidades, com a quantidade de estmulos que avida lhe proporciona. O beb, pode-se dizer, aprpria evidncia da relao psicossomtica. Eleno tem recursos para maniestar o que quer eo que sente. Verbalmente ele no ala ainda, e muito reqente adoecer justamente por noconseguir encontrar essas representaes.
E, j se sabe, as intervenes na inncia,alm de necessrias, podem ter papel profltico.
Isso pode ter incio j na relao me-beb. Essaseria inclusive nossa esperana, afrma Volich.Mes mais sensveis, que pudessem sintonizarmelhor com as necessidades das crianas, enten-der o que elas tm e entender qual a parte delas;mes naquilo que a criana est vivendo parasuperar essas difculdades. Na prtica, ele des-creve, isso muitas vezes ocorre. A criana podeestar em atendimento. Mas no momento emque a me, por exemplo, comea uma terapia ouos pais participam de uma terapia amiliar, que a
>> Para Moromizato
desde a ase intra-
uterina, todos os
eventos so proces-sados pela mente.Os atos so
interpretados pelo
consciente como
positivos ou negati-
vos e memorizados
pelo inconsciente.
A sobrecarga az
a pessoa fcar
nervosa, agres-
siva, e at adoecer,
alerta o especialista,
ponderando que
tambm podemexistir outras causas
que determinam
estas doenas. Mas,
de acordo com os
meus estudos, e com
base em anlises
cientfcas, afrmo
que entre 80 e
90% de tudo o que
ocorre no nosso
corpo e no nosso
comportamento conseqncia dos
atos negativos quefcam gravados em
nosso inconsci-
ente. De acordo
com Moromizato,
o acmulo de
inormaes nega-
tivas pode gerar
quatro situaes:
choro, nervosismo
ou agressividade,
dependnciade substncias
ou doenas.
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comum bebssomatizarem eventosao redor. Se os paisfazem terapia, amelhora logo vista
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