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O Islã no norte da África

O Egito – então província bizantina – foi a primeira região da África invadida pelos árabes. A conquista foi rápida, pois as guarnições bizantinas eram pouco numerosas e a população copta não opôs nenhuma resistência, apresentando ao contrário uma boa acolhida aqueles que vinham libertá la do jugo bizantino.‑

Os coptas eram perseguidos pela igreja ortodoxa oficial bizantina em razão do seu monofisismo. Estas perseguições agravaram se, as ‑vésperas da conquista árabe, com medidas repressivas dirigidas contra a cultura e o clero coptas.

Igreja em bairro Copta no Cairo

Sob os dirigentes fatímidas e ayyubidas os não muçulmanos ‑conheceram uma liberdade religiosa raramente atingida antes ou no futuro; esta tolerância, aproximando muçulmanos e cristãos, desdobrou se na progressiva ‑substituição da língua copta pelo árabe, como língua veicular.

Igreja Copta no Cairo

No século XII somente os membros mais instruídos do clero ainda conheciam a língua copta, a tal ponto que foi necessário traduzir para o árabe os textos litúrgicos tornados ininteligíveis para a maioria do baixo clero e para a ‑grande massa de fiéis.

A islamização e arabização do Egito foram igualmente favorecidas pela contínua chegada de árabes beduínos da península e do Crescente fértil, os quais se estabeleceram como agricultores, misturando se com a população ‑copta e com isso aumentando o número de muçulmanos arabófonos.

A islamização do Egito é um processo assaz complexo no qual conversões religiosas sinceras, busca de vantagens fiscais e sociais, temor de perseguições, decadência da Igreja Copta, imigrações muçulmanas, tornando-o um país predominantemente muçulmano.

Magreb

No momento do avanço muçulmano, a situação religiosa dos países do Magreb ocidental era muito mais complexa que aquela do Egito. Os habitantes romanizados das cidades e das planícies litorâneas estavam há muito tempo convertidos ao cristianismo.

As populações berberes do interior praticavam, em sua maioria, a religião tradicional africana; alguns habitantes das montanhas se haviam convertido ao judaísmo. Sob o domínio romano e bizantino, os berberes cristianizados já manifestavam tendências cismáticas.

Magreb

As conversões foram favorecidas pela atividade missionária militante do clero muçulmano e de pios personagens de Kayrawa6 n, assim como de outros centros islâmicos. Como em outras regiões, a islamização das cidades foi mais rápida que a sua homóloga nos campos.

Ao fundar Kayrawa6 n, em 50/670, ‘Ukba ibn Na6 fi’ dotava o Islã nao somente de uma base militar, mas, igualmente, de um importante centro de expansão e difusão.

Cairuão e a dinastia Aglábida800 – 909 d.C.

Mesmo na Ifri6 kiya, atual Tunísia, parte integrante do califado desde o primeiro século da hégira, onde a dominação árabe mostrar se ia mais ‑ ‑duradoura que no restante do Magreb, o processo de islamização foi relativamente lento.

TUNÍSIA

A primeira etapa foi marcada pela submissão e pela conversão de numerosas “tribos berberes” que haviam oposto uma resistência aos exércitos árabes. Possuíam um caráter puramente formal e provavelmente não concerniam senão aos chefes e aos anciãos dos clãs, que reconheciam assim a soberania dos vencedores.

Entretanto, logo que as forças árabes se retiravam ou eram expulsas – cenário frequente ao longo do século I da hégira – os berberes retornavam as suas políticas tradicionais, considerando se livres de qualquer ‑fidelidade política ou religiosa.

Tendo compreendido que eles não lograriam sujeitar os berberes pela força, os árabes mudaram de tática: o famoso governador Mu6 sa6 ibn Nusayr dedicou se a libertar alguns jovens ‑prisioneiros de origem nobre, com a condição da sua conversão ao Islã, para lhes confiar postos de responsabilidade no exército.

Esta política não tardou a trazer frutos e guerreiros berberes entraram nos exércitos árabes, seguindo os seus chefes. Os árabes foram ajudados em seus esforços de conversão dos berberes pelo sucesso da expedição da Espanha, que atraiu para as suas fileiras berberes desejosos de participarem nesta conquista.

As forças muçulmanas na Espanha eram, inclusive, em sua maioria compostas por berberes francamente convertidos, a imagem de Ta6 rik, o seu primeiro comandante em chefe.‑ ‑

Assim sendo, muito pouco tempo após o esmagamento do seu último grande movimento de resistência aos árabes e ao Islã, foram aos milhares que os berberes juntaram se as ‑fileiras dos exércitos dos seus inimigos de ontem e abraçaram a sua religião.

Todavia, estas conversões não afetaram senão uma minoria da população; vastas zonas dos atuais Argélia e Marrocos permaneceram fora do controle dos árabes. Na realidade, foi necessário muito tempo antes que o Islã penetrasse nas regiões montanhosas.

Topografia do Magreb

Embora dispostos a aceitar a religião do Islã e a cultura árabe, o que fizeram maciçamente, os berberes rejeitavam a dominação política de uma burocracia estrangeira, representante de um soberano ausente, que humilhava os recém convertidos e impunha lhes ‑ ‑taxas como se eles fossem infiéis.

As condições estavam dadas para a próxima etapa: a luta dos berberes contra o domínio estrangeiro encontraria a sua expressão ideológica no seio do contexto islâmico. Contra a opressão a eles imposta, berberes converteram se, ‑na realidade, ao kharidjismo, antiga seita político religiosa do Islã.‑

Eles também eram seduzidos pelo ensinamento, segundo o qual, como todos os muçulmanos eram iguais, o luxo e a ostentação repreensíveis; os crédulos devem viver sobriamente e modestamente, praticando caridade e respeitando as estritas regras da honestidade em sua vida privada e profissional.

Evidentemente, a adoção maciça da doutrina kharidjita pelos berberes explica se pela sua oposição social e ‑nacional ao domínio dos árabes. Distante de ser dirigido contra o Islã, o sucesso do Kharidjismo testemunha, em contrário, da sua islamização.

A resistência berbere tampouco era dirigida contra os árabes muçulmanos, porém, unicamente contra a classe dirigente. Rejeitando a violência ou a arbitrariedade de um governo imposto do estrangeiro, os berberes estavam dispostos a terem que livremente escolher como chefes muçulmanos não berberes.‑

A islamização do conjunto do Magreb estava, em substância, concluída no século X, entretanto, neste período as condições sociopolíticas sofreriam numerosas mudanças que teriam uma profunda influência em relação a situação religiosa.

Os fatímidas desempenharam um papel determinante. Eliminando os Estados de Ta6 hert e de Sidjilma6 sa, e controlando tentativas de sublevação kharidjitas, eles proferiram um golpe mortal ao Kharidjismo berbere, não logrando, todavia e contudo, ganhar para o xiismo os berberes, os quais se voltaram para o sunismo.

Ao final do século IX, grande parte do Ocidente muçulmano (Magreb e Espanha) já escapava ao controle do califado abássida de Bagdá.

No âmbito religioso – no Islã as esferas política e religiosa estão estreitamente imbricadas – o Magreb estava dividido entre a ortodoxia sunita e a heterodoxia de diversas seitas kharidjitas (ibaditas, sufritas, nukkaritas etc.).

Tudo se transforma com a chegada na África do Norte, ao final do século IX, dos ismaelianos, vigorosa e ativa seita xiita. Um dos dogmas fundamentais da fé xiita é que a direção (imamado) da comunidade muçulmana pertence de direito aos descendentes de Maomé, pela sua filha Fátima e pelo seu marido Ali.

Diferentemente do califa sunita, o imame xiita herdara de Maomé não tão somente a sua soberania temporal, mas, igualmente, a prerrogativa de interpretar a lei islâmica (shari’a), os imames encontravam‑se, infalivelmente, acima de qualquer reprovação.

Antigo portão fatímida no Cairo

Únicos entre todas as correntes xiitas ismaelianas, os fatímidas foram capazes de fundar e conservar um império que duraria mais de dois séculos, quase capaz de atingir o objetivo universal da doutrina.

Pouco tempo após, a porção ocidental do Magrebe cairia sob domínio dos almorávidas berberes, que eliminaram da região os últimos vestígios do kharidjismo, do xiismo e da heresia barghawa6 ta, estabelecendo definitivamente o domínio da escola malikita do Islã sunita.

Na primeira metade do século XI, o mundo muçulmano conheceu um renascimento do Islã sunita ortodoxo do Magreb, no Oeste, até o Ira, ao Leste. Este reflorescimento consistia em uma reação as tentativas de algumas dinastias xiitas,

como os fatímidas ou os buwayhidas, sob o domínio das quais vivia grande parte dos países muçulmanos, de imporem a sua religião particular a uma população até então sunita.

Almorávidas

Regiões Islamizadasna África

até o século XI.

Textos retirados e adaptados de: