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O HAICAI EM BANDEIRANTES
AUTORA: NEILA MARTELLI TOLEDO DE CAMPOS1
ORIENTADOR:PROF.DR. MIGUEL HEITOR BRAGA VIEIRA2
1 Professora de Língua Portuguesa no Colégio Estadual Cyríaco Russo Ensino Médio e Normal
e de Língua Inglesa no Colégio Estadual Juvenal Mesquita Ensino Fundamental e Médio –
Professora PDE 2012 Graduada em Letras Anglo Portuguesas pela Fundação Faculdade Estadual
de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio(FAFICOP) e Pós Graduada Latu Sensu em
Língua Portuguesa e Literatura (FAFICOP) e Ensino de Língua Inglesa (UENP).e-
mail:neilacampos@seed.pr.gov.br
2 Graduado em Letras Franco – Portuguesas pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL),Especialista em Literatura Brasileira Contemporânea, mestre e doutor em Letras (Estudos
Literários)pela mesma instituição.Docente na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) de
Cornélio Procópio e membro do Grupo de Pesquisa “Crítica e Recepção Literária – CRELIT”,
vinculado à UENP, campus de Cornélio Procópio.
Resumo:
O presente artigo tem como tema central o estudo do haicai no Brasil e em Bandeirantes, com
os alunos do segundo ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Cyríaco Russo, em Bandeirantes.
Este projeto destina-se a incentivar os alunos a ler e a produzir poemas, em especial o haicai. Os
alunos foram apresentados pela professora a esta modalidade poética da seguinte forma: foi
apresentada a história do haicai,bem como sua trajetória ,iniciando-se no Japão, passando pela
Europa,até chegar ao Brasil, e principalmente, em Bandeirantes.Em Bandeirantes há muitos
haicaístas,em especial a escritora Neide Rocha Portugal,e espera –se que os alunos,ao tomarem
conhecimento desta realidade no município, sintam –se estimulados a produzir seus próprios
textos.Ao final do trabalho, serão selecionados os melhores haicais dos alunos, que serão
reunidos em livro.
Palavras – chave: Haicai – Bandeirantes – poesia – leitura.
Introdução:
Muitos jovens não gostam de ler. Acostumado ao imediatismo devido à internet,
à televisão, normalmente o aluno não tem a paciência necessária para ler um
livro, apreciar uma poesia. Que estratégia utilizar para o jovem se interessar por
literatura?
Ao trabalhar o haicai em sala de aula, o aluno se sentirá motivado a ler poemas
e poderá apreciar a leitura. Normalmente, os escritores paranaenses não são
conhecidos do grande público. Bandeirantes tem muitos escritores e alguns deles
são haicaístas. A cidade ficou conhecida como celeiro de haicais. Ao enfatizar o
haicai produzido por escritores paranaenses, em especial os bandeirantenses, o
aluno se sentirá mais próximo desta modalidade textual. A prática da produção de
haicais estimulará o aluno a ter interesse por literatura.
.
Fundamentação Teórica:
O haicai é uma poesia de origem japonesa, que contém três versos e
dezessete sílabas, com cada verso contendo cinco-sete-cinco sílabas,
respectivamente. O haicai não tem rima e é considerado a menor forma poética
do mundo. Seus temas são ligados à natureza, ao tempo presente. A palavra-
chave para o haicai é a simplicidade. Fazer haicai é como tirar uma fotografia,
porém é uma foto de palavras e não de imagens.
Seu maior representante no Japão foi o Bashô, que viveu de 1644 a 1694. Ele
foi um samurai que largou tudo para andar pelo mundo e viver em uma cabana.
Com a vinda dos japoneses para o Brasil, veio também o haicai. Porém, no início,
os imigrantes japoneses não encontravam tempo para praticar o haicai. Só na
década de 1920 é que o haicai começou a ser divulgado no Brasil, surgindo como
modelo literário não europeu. Era a época do Modernismo, escola literária que
pretendia romper os laços com a Europa. A primeira menção ao haicai no Brasil
foi feita por Afrânio Peixoto,em 1919. Ele apresentou o haicai como um “epigrama
lírico”, ou seja, uma poesia breve. Peixoto conheceu o haicai através de um livro
de Paul Louis Couchoud, um escritor francês que esteve no Japão no começo do
século vinte e tomou contato com a literatura japonesa, por meio de europeus ali
radicados, entre eles, Basil Chamberlain. Porém, foi Guilherme de Almeida quem
tornou o haicai conhecido no Brasil, nas décadas de 1930 e 1940. Guilherme de
Almeida inseriu no seu haicai duas rimas, uma unindo a primeiro com o terceiro
verso e a outra interna no segundo verso:
Desfolha-se a rosa.
Parece até que floresce
O chão cor-de-rosa. (ALMEIDA,Guilherme)
Dois autores tornaram o haicai popular no Brasil: Paulo Leminski e Millôr
Fernandes. Millôr escrevia tercetos de caráter satírico, lírico, cômico ou
espirituoso, que denominou “Hai-kais”. O tom irônico de Millôr filia o “hai-kai” na
linha do poema – piada do Modernismo brasileiro. Paulo Leminski apropriou o
haicai à literatura brasileira, unindo a poesia concreta com o orientalismo zen.
Quanto à forma, existia uma grande liberdade, utilizando versos brancos e sem
medidas. Contudo, não podemos nos esquecer da prática da comunidade
japonesa:
Nempuku Sato (1898-1979) emigrou para o Brasil, recebendo de seu mestre
Kyoshi Takahama, a missão de semear um país de haicais. Ele compunha em
japonês e difundia a poesia nos núcleos imigrantes. Um de seus discípulos era
Hidekazu Masuda Goga (1911-2008), que anos mais tarde, manteria acesa a
chama do haicai em japonês. No final dos anos 1980, Masuda Goga participou da
criação de um núcleo de produção de haicai tradicional japonês em língua
portuguesa. Ele pesquisou o clima no Brasil e escreveu um livro intitulado “O
haicai no Brasil”(1988). Em 1996, publicou junto com sua sobrinha Teruko Oda o
primeiro dicionário brasileiro de Kigo. O Kigo representa o aqui e agora e é uma
palavra referente às estações do ano.
Nesse conjunto de produção, através de oficinas, concursos e grupos de haicai,
sobressai a poeta nissei Teruko Oda. Um de seus livros foi adquirido pelo governo
do Estado de São Paulo, para escolas públicas de nível básico.
Foi através de um desses concursos que o haicai chegou a Bandeirantes. Em
meados dos anos 1990, sete alunos da Escola Estadual Cecília Meireles e da
Escola Municipal Diógenes Vasconcelos classificaram dez haicais no concurso.
Assim, em 1998 foi fundado o Grêmio Haicai Araucária,composto por jovens e
adultos. A haicaísta Neide Rocha Portugal, residente em Bandeirantes, preparou
as crianças para o concurso promovido pela Japan Airlines (JAL). Todos os anos,
os participantes do Grêmio Haicai Araucária participam de um concurso
denominado Encontro Brasileiro de Haicai e muitos são premiados. Este Encontro
sempre acontece em São Paulo, mas em 2001, o Encontro Brasileiro de Haicai
aconteceu em Bandeirantes, nas dependências da antiga FFALM (Fundação
Faculdade de Agronomia Luís Meneghel), hoje UENP ( Universidade Estadual do
Norte do Paraná), onde os participantes do Grêmio Haicai Araucária lançaram a
Primeira Antologia de Haicais – 2001. O grêmio teve apoio do então prefeito da
época Nilton de Sordi Júnior(2001-2004).
Atualmente,o Grêmio Haicai Araucária realiza uma reunião por mês.
Bandeirantes ficou conhecida como “celeiro de haicaístas no Paraná.” Os
primeiros participantes do Grêmio Haicai Araucária hoje são adultos, todos
frequentaram a faculdade e são formados em cursos diversos.
Em 2005, a haicaísta Neide Portugal apresentou o haicai aos alunos da Escola
Pequeno Príncipe - APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais). A
escritora foi a primeira pessoa a apresentar o haicai a alunos especiais.
A prática do haicai por alunos especiais foi de grande importância no
desenvolvimento da leitura, da escrita e do aprimoramento do vocabulário, além
da socialização, e da observação da natureza para compor esta modalidade
poética.
Eles participaram de concursos e muitos foram premiados. A prática do haicai
ajudou no desenvolvimento desses alunos, inclusive na aprendizagem escolar.
Em 2012 a haicaísta lançou um livro denominado Memórias, Crônicas e Haicais.
Este livro, além de servir para deleite dos leitores, ajudará a disseminar ainda
mais o haicai bandeirantense pela cidade e, quem sabe, pelo país.
Estratégias de ação: Primeiramente, será feita uma sondagem de
conhecimentos: vocês gostam de ler? Qual gênero? Gostam de poesia?Quais
seus autores preferidos? Conhecem o haicai? A partir das respostas dos alunos,
a professora apresentará o haicai à classe, sua história, os autores principais e os
escritores paranaenses/bandeirantenses que escrevem haicais. Os alunos farão
um passeio pela escola, observando a paisagem, anotando suas impressões.
Depois, de volta à classe, os alunos comporão haicais a partir de suas anotações.
A professora selecionará os melhores haicais, que serão reunidos em um livro.
Para encerrar, será lançado o livro de haicais produzidos pelos alunos, em que os
pais e os demais professores serão convidados a participar.
O HAICAI EM BANDEIRANTES
História do Haicai:
O haicai é um poema de origem japonesa que descende de uma antiga
linhagem que remonta ao século VII depois de Cristo: é o waka, ou “poema à
moda do país de wa”, que era como os chineses chamavam o Japão. Seus
versos continham cinco e sete fonemas, o equivalente a sílabas métricas no
Ocidente. A maior e mais antiga coletânea poética do Japão, iniciada no ano de
759 a.D, foi elaborada entre os séculos VI a VIII, reúne cerca de 4500 poemas e
são os primeiros wakas.
A forma poética predominante nesta coletânea era o tanka, composto de
5/7/5/7/7 fonemas. O tanka dividia-se em duas estrofes, sendo que a primeira era
formada por 5/7/5 versos e a segunda por 7/7 versos. Era criado por duas
pessoas, sendo que uma criava a primeira estrofe e a outra ficava encarregada de
criar a segunda. Com o tempo, a composição passou a ligar - se a outras estrofes
de mesma medida, somando uma centena de versos, e ficou conhecida por renga
e, em seguida, por renga haicai. Seguida por monges, representantes da
burguesia e de artistas populares, esta forma enfatizava o coloquialismo, a
temática das coisas simples e cotidianas. Neste momento, a primeira estrofe do
renga haicai ou simplesmente haicai (cujo significado é “poema de dezessete
sílabas”), tornar-se-á uma expressão autônoma.
Esta forma poética atingiu seu apogeu no século XVII durante o período Edo
(1603-1867) sob o mando do clã Tokugawa, quando Matsuo Bashô (1644-1694),
filho de samurai e samurai por nascimento, renuncia a sua classe social e torna-
se monge andarilho. Bashô, em sua caminhada de autoconhecimento, eleva o
haicai à condição de kadô (caminho da poesia), infundindo a visão de mundo zen
em sua criação. Bashô, então, revela a beleza existente nas coisas modestas,
humildes, iniciando, então, a “escola de Bashô.”.
Bashô teve mais de 3000 discípulos em vida, entre eles Sampu, Kyorai,
Ransêtsu, Kiorôku, Kikaku, Josô, Yaha, Shikô. Em seguida, Buson (1716-84)
Kobayashi Issa (1763-1827) e Massaoka Shiki (1867-1902), estabelecem novos
padrões para o haicai. Neste período, o Japão estava isolado de contato com o
mundo exterior. Em 08 de julho de 1853, o Japão abriu-se ao Ocidente,quando o
oficial da Marinha norte americana Matthew C. Perry atracou no porto de Uraga,
próximo a Edo (atual Tóquio) e apresentou ao Shogunato (senhores feudais
locais) o pedido de abertura dos portos para o comércio. Neste contexto, o projeto
de Shiki será preservar a integridade da poesia japonesa haicai como forma
original e local. Entre as principais regras, o poema deveria ser breve, resumindo-
se a dezessete sílabas, conter a referência à estação do ano (Kigo) e ao local de
sua criação.
Haicais:
Sobre o tanque morto
Um ruído de rã
Submergindo. (SAVARY,Olga.Haikais de Bashô.Editora Hictech.1989.p.70)
Ouvi a flauta silente
do Santuário de Suma,
sombras negras de verão.(SAVARY,Olga.Haikais de Bashô.Editora Hictech.1989.p.63)
Atividades:
1) Reescreva, com suas próprias palavras, a história do Haicai:
2) Escreva o seu próprio haicai. Não é preciso se preocupar com a métrica.
3) Agora, escreva um haicai com o tema “Rã.” Procure escrevê-lo de acordo
com a métrica (5/7/5 sílabas):
O haicai no Brasil:
Com a vinda dos japoneses para o Brasil, veio também o haicai. Porém, no
início, os imigrantes japoneses não encontravam tempo para praticar o haicai. Só
na década de 1920 é que o haicai começou a ser divulgado no Brasil, surgindo
como modelo literário não europeu. Era a época do Modernismo, escola literária
que pretendia romper os laços com a Europa. A primeira menção ao haicai no
Brasil foi feita por Afrânio Peixoto,em 1919. Ele apresentou o haicai como um
“epigrama lírico”, ou seja, uma poesia breve. Peixoto conheceu o haicai através
de um livro de Paul Louis Couchoud, um escritor francês que esteve no Japão no
começo do século vinte e tomou contato com a literatura japonesa, por meio de
europeus ali radicados, entre eles, Basil Chamberlain. Porém, foi Guilherme de
Almeida quem tornou o haicai conhecido no Brasil, nas décadas de 1930 e 1940.
Guilherme de Almeida inseriu no seu haicai duas rimas, uma unindo a primeiro
com o terceiro verso e a outra interna no segundo verso:
Desfolha-se a rosa.
Parece até que floresce
O chão cor-de-rosa.(ALMEIDA,Guilherme)
Dois autores tornaram o haicai popular no Brasil: Paulo Leminski e Millôr
Fernandes. Millôr escrevia tercetos de caráter satírico, lírico, cômico ou
espirituoso, que denominou “Hai-kais”. O tom irônico de Millôr filia o “hai-kai” na
linha do poema – piada do Modernismo brasileiro. Paulo Leminski apropriou o
haicai à literatura brasileira, unindo a poesia concreta com o orientalismo zen.
Quanto à forma, existia uma grande liberdade, utilizando versos brancos e sem
medidas. Contudo, não podemos nos esquecer da prática da comunidade
japonesa:
Nempuku Sato (1898-1979) emigrou para o Brasil, recebendo de seu mestre
Kyoshi Takahama, a missão de semear um país de haicais e começa a difundi-lo
a partir de 1933, compondo o haicai em japonês e difundindo a poesia nos
núcleos imigrantes. Lançou em 1948 a revista mensal Kokage, dedicada ao
poema. A revista deixou de circular em 1979 com a morte do poeta.
Com o ambiente de exclusão e preconceito em relação à comunidade japonesa,
principalmente após a Segunda Guerra, os primeiros intercâmbios culturais são
admitidos somente a partir do final dos anos 40, graças ao já citado Guilherme de
Almeida.
Em 1922, o haicai era praticado e discutido por poetas da Semana da Arte
Moderna. Esteve presente na revista Klaxon, em seu segundo número, através de
comentários sobre as transformações promovidas na poesia japonesa a partir de
1895. Com o título “A poesia japonesa contemporânea”, o texto era de autoria do
poeta japonês Nico Horigoutchi, colaborador da revista. Em “A escrava que não é
Isaura, discurso sobre algumas tendências da poesia modernista”, Mário de
Andrade reconhece a influência da poesia japonesa. Em “Cocktails”, de Luís
Aranha, foram inseridos dois haicais. Trata-se dos primeiros haicais concebidos
por um poeta brasileiro. Oswald de Andrade adotou o haicai em Pau Brasil, o
marco da poesia moderna. Tendo em vista sua inclinação para a zombaria,
muitos de seus poemas, especialmente os haicais, foram denominados de
“poema piada”. Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira também se
aventuraram pelo haicai.
Nos anos 80, o haicai torna-se uma das mais populares formas poéticas no país.
Nesta época, a Editora Brasiliense, a mais influente editora de então, ocupa papel
de destaque na disseminação do haicai. Quanto à forma, existia uma grande
liberdade, utilizando versos brancos e sem medidas. Em 1983, a jornalista e
tradutora Olga Savary publicou uma tradução de Sendas de Oku, o mais
conhecido diário de viagem de Matsuo Bashô. Esta edição propiciou um grande
ambiente de discussão. Como parte desse movimento, o Encontro Brasileiro de
Haicai, que aconteceu um ano antes,em 1982, passa a reunir, na capital paulista,
vários pesquisadores, poetas e interessados nesta modalidade poética. Em 1987,
Masuda Goga(1911-2008)cria o Grêmio de Haicai Ipê, em São Paulo, para
discutir e traduzir haicaístas clássicos. Este grupo influenciará, posteriormente, o
surgimento de inúmeros grêmios de haicais pelo Brasil. Masuda Goga era
discípulo de Nempuku Sato. Seu nome de batismo era Hidekazu Masuda, mas
seu haiko no meigo ou nome de haicaísta era Masuda Goga. Ele pesquisou o
clima no Brasil e escreveu um livro intitulado “O haicai no Brasil” (1988). Em 1996,
publicou junto com sua sobrinha Teruko Oda o primeiro dicionário brasileiro de
Kigo. O Kigo representa o aqui e agora e é uma palavra referente às estações do
ano.
Nesse conjunto de produção, através de oficinas, concursos e grupos de haicai,
sobressai a poeta nissei Teruko Oda. Um de seus livros foi adquirido pelo governo
do Estado de São Paulo, para escolas públicas de nível básico.
Foi através de um desses concursos que o haicai chegou a Bandeirantes.
Atividades:
1) O haicai é uma poesia construída como se fosse uma fotografia. Observe as
imagens abaixo e construa seu próprio haicai:
2) Destaque três autores que mais te chamaram a atenção e comente sobre
eles:
3) Faça uma linha do tempo da trajetória do haicai no Brasil:
O haicai em Bandeirantes:
Em meados dos anos 1990, sete alunos da Escola Estadual Cecília
Meireles e da Escola Municipal Diógenes Vasconcelos classificaram dez
haicais no concurso. Assim, em 1998 foi fundado o Grêmio Haicai Araucária,
composto por jovens e adultos. A haicaísta Neide Rocha Portugal, residente
em Bandeirantes, preparou as crianças para o concurso promovido pela
Japan Airlines (JAL). Todos os anos, os participantes do Grêmio Haicai
Araucária participam de um concurso denominado Encontro Brasileiro de
Haicai e muitos são premiados. Este Encontro sempre acontece em São
Paulo, mas em 2001, o Encontro Brasileiro de Haicai aconteceu em
Bandeirantes, nas dependências da antiga FFALM (Fundação Faculdade de
Agronomia Luís Meneghel), hoje UENP (Universidade Estadual do Paraná),
onde os participantes do Grêmio Haicai Araucária lançaram a Primeira
Antologia de Haicais – 2001. O grêmio teve apoio do então prefeito da época
Nilton de Sordi Júnior(2001-2004).
Atualmente, o Grêmio Haicai Araucária realiza uma reunião por mês.
Bandeirantes ficou conhecida como “celeiro de haicaístas no Paraná.” Os
primeiros participantes do Grêmio Haicai Araucária hoje são adultos, todos
frequentaram a faculdade e são formados em cursos diversos.
Em 2005, Neide Portugal apresentou o haicai aos alunos da Escola Pequeno
Príncipe - APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais). Eles
participaram de concursos e muitos foram premiados. A prática do haicai
ajudou no desenvolvimento desses alunos, inclusive na aprendizagem
escolar.
A haicaísta Neide Portugal foi a primeira pessoa a apresentar o haicai a
alunos especiais.
Em 2012 a haicaísta lançou um livro denominado Memórias, Crônicas e
Haicais. Este livro, além de servir para deleite dos leitores, ajudará a
disseminar ainda mais o haicai bandeirantense pela cidade e, quem sabe,
pelo país.
Haicais de Neide Portugal:
Término da safra _
na algibeira do espantalho
nenhum trocadinho.
Nestes três versos, podemos imaginar o trabalho e a rotina do agricultor. As
palavras “safra” e “espantalho” dão o tom do haicai. Não há rimas, mas possui
métrica, de acordo com o haicai de Bashô, que revela a beleza existente nas
coisas modestas e humildes. .
Primavera pura –
crianças bandeirantenses
cantam o haicai.
Neste haicai, conta – se a história da prática de produção de haicais, através de
oficinas. Recordamos aqui que o Grêmio Haicai Araucária, em Bandeirantes, iniciou –
se com crianças nas escolas. Há a presença da estação do ano bem marcada, a
primavera. O brotar das flores, na primavera, é uma metáfora da produção do haicai.
Tanto as flores como os poemas aguçam a sensibilidade dos leitores.
Camisa suada
Empurra o velho carrinho
__ Sorvete!Sorvete!
Neste haicai, o Kigo de verão é a palavra “sorvete”. Porém, a autora nos
apresenta a rotina de um trabalhador em pleno verão, trabalhador este que
tenta vender sorvetes aos moradores da cidade.
Nos três haicais acima, percebemos a observação de fatos corriqueiros
como um vendedor ambulante de sorvetes percorrendo as ruas da cidade, e
fatos biográficos da autora, como o trabalho do lavrador , visto que a
escritora é também engenheira agrônoma e trabalha no cultivo da terra, e
também a referência à oficina de haicais em Bandeirantes.
Nesta seção, relatamos como foi a aplicação da sequência básica: na
primeira aula, foram distribuídos xerox para os alunos, do 2º ano B, do Ensino
Médio, no período matutino, contando a história do haicai, como foi o início no
Japão, seus primeiros autores e seguidores. Os alunos demonstraram interesse
pelo assunto e fizeram várias perguntas. Na aula seguinte, foi dada continuidade,
desta vez apresentando o haicai através do data show. Neste dia, os alunos
conheceram a história de como o haicai entrou no Brasil, examinaram o mapa do
Japão e iniciaram o intervalo, na forma de produção de haicai com o tema “Rã”.
Este haicai foi produzido sem a preocupação com a métrica, e recontaram, em seus
cadernos, a história do haicai no Brasil e no mundo.
No período noturno, também foi apresentado o haicai através de folhas
xerox. Eles demonstraram ainda maior interesse pelo assunto do que os alunos da
manhã, sendo mais receptivos. Nas atividades de intervalo, recontaram, através de
resumos, a história do haicai no Brasil e no mundo e produziram haicais com tema
livre.
Nas semanas seguintes, mais haicais foram produzidos, em ambos os
períodos. Desta vez, os alunos fizeram as seguintes atividades: escrever sobre três
autores de haicais estudados até o momento, a linha do tempo da trajetória do
haicai no Brasil e, finalmente, observaram duas figuras distintas, um beija – flor e
uma paisagem com arco – íris, e produziram haicais à vista dessas gravuras.
Na terceira e última etapa, eles foram apresentados ao trabalho
desenvolvido em Bandeirantes, pela haicaísta Neide Rocha Portugal, como oficinas
de haicais nas escolas, na APAE e na criação do Grêmio Haicai Araucária. Neste
intervalo, os alunos produziram haicais com o tema Inverno. Na semana seguinte
,como continuação da última etapa, a professora e os alunos fizeram um passeio
nas dependências do Colégio, observando a natureza. Os alunos anotaram o que
viram, voltaram para a classe e produziram seus próprios haicais.
Considerações Finais:
Esta intervenção foi de extrema importância para os segundos anos
do Ensino Médio, pois os alunos tiveram a oportunidade de escrever seus
próprios poemas. Os jovens descobriram novas formas de leitura, que é a
leitura de poemas, especialmente o haicai. Aprenderam também a observar
a natureza, desenvolvendo, desta forma, a sensibilidade. Esta intervenção
também foi primordial para o aprimoramento da autoestima dos jovens
alunos, pois eles se descobriram não apenas leitores, mas também
produtores de seus próprios poemas. Eles se descobriram capazes de criar
seus próprios textos, em especial o haicai.
Compreenderam também a importância da cidade na história do haicai, no
Brasil, e tiveram a oportunidade de conhecer as obras de uma escritora que
reside na mesma cidade em que moram.
Esta intervenção também serviu para que eu pudesse refletir sobre a
importância que nós, professores, temos para o desenvolvimento pelo gosto
da leitura, para o crescimento da autoestima dos alunos e,principalmente,
para o conhecimento da cultura do local onde vivem.
Referências:
ALMEIDA,Guilherme. Haicais Completos.Aliança Cultural Brasil –Japão.São
Paulo.1996.
COSSON,Rildo.Letramento Literário:teoria e prática.2ª ed.São Paulo.Editora
Contexto.2011
FRANCHETTI,Paulo.ALEA.Volume 10.Número 2.Julho – Dezembro 2008. P. 256-
269.
GUTILLA,Rodolfo W.(org).Boa Companhia:Haicais.São Paulo.Companhia das
Letras.2009.
PORTUGAL,Neide Rocha.Memórias,Crônicas e Haicais.Ed.São Paulo.Rio de
Janeiro:Livre Expressão.2011
Paraná Repórter.Semanário Regional. Ano 01.Número 38. P.08.Janeiro 2001.
SAVARY,Olga.Haikais de Bashô.Editora Hucitech.São Paulo.1989
WWW.kakinet.com <acessado em 10/11/2012.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arco-iris/imagens.diaadiaeducacao.gov.pr.br >acesso em
10/11/2012
http://jucastilho.files.wordpress.com/diaadiaeducacao.gov.pr.br >acesso em
10/11/2012
ANEXOS
Haicais dos alunos:
Olho pela janela
Observo a chuva caindo
Sobre uma rã. (Bianka Núbia Oda – 2 ºB- Matutino)
Entre a floresta
Escondida uma rã verde
Da cor da planta. (Gabriel Diniz – 2 º B- Matutino)
Webert”, “webert”
Ao longe o som da rã
No meio da chuva. (Rafaella Fontolan – 2º B - Matutino)
No meio do lago
À noite se ouvia lá fora
Um ruído de rã. (Larissa Stephanny de Oliveira – 2 º B- Matutino)
Nos dias de chuva
Aparece saltitante
A rã no quintal. (Vitória Príncipe -2º B- Matutino)
Sobre as flores
Um beija – flor plana
Cheio de graça. ( Alexander dos Santos – 2 º B- Noturno)
Beija – flor voa, voa
Encontrando algumas flores
E aspira seu perfume. (Cíntia Ap. de Miranda – 2 º B – Noturno)
Suas asas velozes
Em suas plumas coloridas
Ah! Beleza pura. (José Maria Clementino Júnior – 2 º B – Matutino)
Com belas cores
Um gracioso arco
Se forma no céu. (Alexander dos Santos – 2 º B- Noturno)
Nesse céu azul
As palmeiras se abrem
Ao canto dos pássaros (Taís Devecchi - 2º B – Matutino)
No jardim colorido
Borboletas vêm pousar
Primavera chegou. (Juliene Fernanda Costa- 2 ºB – Matutino)
A noite chegou
Borboletas voam por aí_
Ah! A natureza. (Giovanna Ap. Farraboti de Souza – 2 º B- Matutino)