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MÚSICA NAS CIDADESManuel Fernandes Vicente
MÚSICA NAS CIDADES. FINAL 03/05/07 11:15 Page 1
FICHA TÉCNICA
TÍTULO: Música nas Cidades
AUTOR: Manuel Fernandes Vicente
manuel.f.vicente@clix.pt
DESIGN E PAGINAÇÃO: Nuno Murjal e Telma Leonor Ferreira
EDITORA: Formalpress, Publicações e Marketing, Lda.
COLECÇÃO: Rés XXI
IMPRESSÃO: Gráfica Xecompex
Reservados todos os direitos de autor. Esta publicação não pode ser
reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo
electrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia
autorização da Editora e do Autor.
Formalpress – Publicações e Marketing, Lda
SEDE: Rua Professor Alfredo de Sousa, n.º 8, Loja A, 1600-188 Lisboa
TELEFONE: 217 573 459
FILIAL: Praça Marquês de Pombal, nº 70, 4000-390 Porto
TELEFONE | FAX: 225 029 137
1ª edição - Maio de 2008
TIRAGEM: 750 Exemplares
ISBN: 978-989-8143-03-7
DEPÓSITO LEGAL:
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ÍNDICE
PREFÁCIO
OS SONS URBANOS COMO SUSSURROS DA ALMA DAS CIDADES QUE A TÊM
ROCK PROGRESSIVO DE AMESTERDÃO
A REMBETIKA DE ATENAS
A HAKA E OUTROS RITMOS DE AUCKLAND
NOVA CANÇÓ DE BARCELONA
THE BERGEN WAVE
ROCK PLANANTE DE BERLIM
ART FILM MUSIC DE BOMBAIM
TRIP- HOP, O SOM DE BRISTOL
O MOVIMENTO BUDAPEST TÁNCHÁZ REVIVAL
TANGO DE BUENOS AIRES
CANTERBURY SCENE
CHICAGO BLUES
FADOS E BALADAS DE COIMBRA
COLOMBO BAILA MUSIC
MAGIC SOUND OF CUSCO
DETROIT POP - SOUL
DANÇAS SINCRÉTICAS DE DÍLI
A CENA TECNO-POP DE DUSSELDORF
EL SON DE LA HABANA
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HONOLULU E OS RITMOS DO UKULELE
KRONCONG DE JAKARTA
JEREZ DE LA FRONTERA, “O ÚTERO PRIMOGÉNITO DO FLAMENCO”
O SKA E O REGGAE DE KINGSTON
O KHOOMEI DE KYZYL
O AFRO- BEAT DE LAGOS
BALADAS DE INTERVENÇÃO DE LISBOA
FADO DE LISBOA
LISBOA, GERAÇÃO ROCK RENDEZ-VOUS
O MERSEY BEAT EM LIVERPOOL
MOVIMENTO MOD DE LONDRES
OS BLUES-ROCK PSICADÉLICOS DE LONDRES
PUNK- ROCK DE LONDRES
ACID FOLK-ROCK DE LOS ANGELES
EIXO OPELOUSAS/ EUNICE /LAFAYETTE/ BATON ROUGE
LA MOVIDA MADRILEÑA
BRANYO E FARAPEIRA DE MALACA
EIXO URBANO - DEPRESSIVO MANCHESTER/ LIVERPOOL
MARRABENTA DO MAPUTO
OS RITMOS GNAWA DE MARRAQUEXE
MEMPHIS, AQUI NASCEU O ROCK’ N’ ROLL
MEMPHIS SOUL
MORNAS E COLADERAS DO MINDELO
O KRAUTROCK LIBERTÁRIO DE MUNIQUE
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LA CANZONE NAPOLETANA
NEW YORK DISCO SOUND
NEW YORK FOLK REVIVAL
NEW YORK FREE JAZZ
NEW YORK JAZZ- ROCK
O RAP DE NOVA IORQUE
NEW ORLEANS JAZZ STYLE
O RAÏ DE ORAN
A ONDA YE-YÉ DE PARIS
POP-ROCK E DISSONÂNCIAS À MODA DO PORTO
BOSSA NOVA DO RIO DE JANEIRO
SAMBA NO RIO DE JANEIRO
OS BLOCOS AFRO DE SALVADOR DA BAHIA
NUEVA CANCIÓN DE SANTIAGO DO CHILE
SAN FRANCISCO SOUND
GRUNGE, O SOM DE SEATTLE
SHEFFIELD MUSIC SCENE
SINES, CAPITAL DA WORLD MUSIC
TOKYO CLUB SCENE
CLASSICISMO E ROMANTISMO EM VIENA
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OS SONS URBANOS COMO SUSSURROS DAALMA DAS CIDADES QUE A TÊM
Uma colecção de sons e ressonâncias, citando as bandas, o espírito do
local, a filosofia das épocas e os estilos musicais de algumas das mais
notáveis cidades do Mundo
As reservas ecológicas e os parques naturais são sem grande
contestação os espaços onde hoje se salvaguardam os mais preciosos
valores ambientais. Em relação à música moderna e popular são,
porém, os espaços urbanos que lhe garantem a sobrevivência em toda
a linha. A música pop-rock e outras derivações deste estilo axial têm
sido ressonâncias das cidades com mais alma. As vibrações e as vivên-
cias urbanas, com as suas dinâmicas de tensão/ repouso ou as particu-
laridades dos seus sonhos/ frustrações são fontes imaginárias que
repassam e se tornam a matriz dos seus acordes. Não que haja nesta
relação de cumplicidade entre os músicos e a sua envolvência um deter-
minismo sonoro rígido. Mas há, sem dúvida, um espírito e uma cultura
compartilhados pela comunidade que neles se revêem e a partir dos
quais se criam sonoridades onde é possível muitas vezes identificar,
hélas, as particularidades dessa comunidade urbana. Pode não ser já à
maneira da antiga cidade de Esparta, cujas melodias marcadas pelas
flautas inspiravam os seus guerreiros quando se aproximavam do
campo de batalha. Mas, observando com atenção algumas comu-
nidades, é difícil não ver nas suas cenas musicais verdadeiras radi-
ografias dos estados de alma que atravessam.
É verdade que o sol e as praias que inspiram Los Angeles con-
trastam com a profundidade fria dos fiordes que envolvem Bergen ou
com a severidade que o deserto estende até Marraquexe. Mas as
grandes diferenças são sobretudo as interiores, o libertarismo crónico e
militante de San Francisco, o ambiente descontraído de Rio de Janeiro
ou a elegância hipnótica de Sheffield e a arte de Salvador da Bahia, que
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usou a música para interferir positivamente nas suas favelas.
Friedrich Hegel gostava de notar que “a propriedade é uma
extensão da personalidade”. E, em certo sentido, a música é igualmente
uma extensão – e um aprofundamento – da individualidade das cidades,
que lhe dão sopro e inspiração ao ponto que alguns estilos se tornam
seus verdadeiros ex-libris.
Mais que uma química, é decerto alguma alquimia o que se esta-
belece entre os sons e as metrópoles que lhes devolvem os ecos mod-
elados pelas suas vivências sociais e pelas pulsões derivadas da sua
economia, da cultura urbana ou da própria história.
Cidades, reservas da “biodiversidade” musical
Vivemos uma época marcada pela homogeneização cultural,
política, económica e linguística, a que, concerteza que com excessiva
precipitação, já se chamou o fim da História. Também as músicas mod-
ernas vivem a ameaça deste tudo se tornar demasiado igual numa espé-
cie de estado de entropia máxima, onde as fórmulas tudo reduzem e as
diferenças se aniquilam. São as cidades com carácter e espessura cul-
tural as verdadeiras reservas que garantem a sobrevivência do que
resta da diversidade das cadências melódicas nos tempos que correm.
São as músicas que vêm das suas ruas, que transpiram as realidades
que aí se cruzam no quotidiano. Mas há cada vez menos cidades a man-
ter esta identidade, a rever no espelho o narcisismo da sua diferença
musical. É a defesa desta verdadeira biodiversidade à escala musical
que os burgos ainda garantem. Como verdadeiros habitats da criação
cultural para apreciação dos melómanos.
Muitos estilos estão associados a zonas portuárias, verdadeiros
cadinhos de encontros e desencontros, choques culturais de mundos
tantas vezes opostos na condição social ou na geografia, lugares onde
se acumulam tensões e se condensam (literalmente) saudades, como
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são os casos de Buenos Aires, Liverpool, Nova Orleans ou a própria
Lisboa. Noutros casos são mudanças em massa de comunidades étni-
cas social e culturalmente identificadas, que, fixadas numa nova área
geográfica, procuram adaptar- se e nessa integração criam novos
géneros de ritmos na nova interacção com instrumentos que lhes eram
desconhecidos e a que emprestam novos fraseados, como foram os
casos do jazz e dos blues, do cajun da Louisiana ou do flamenco
andaluz. Outras vezes as sonoridades mimetizam os ruídos de fundo, os
comboios sempre cúmplices nos blues, as estradas ou a descolagem
dos aviões, como se procurassem esculpir e dar ordem e lirismo a
matérias sonoras improváveis. Noutras alturas são os logros da vida
que dão vida às cenas urbanas, tecendo a matriz para sons espectrais,
sombrios e paradoxalmente tão belos como os dos Joy Division e do
eixo urbano-depressivo Manchester/ Liverpool do final dos anos 70.
O espírito do local e as filosofias de vida
Em geral há uma filosofia de vida compartilhada nas cenas das
melomanias urbanas. São hippies, são rappers, são punks ou provos,
mods, freaks ou grungers. Em muitos casos as bandas desfazem-se e
refazem-se em ritmo elevado e os músicos apresentam grande rotativi-
dade, girando e flirtando de umas para as outras entre rupturas que
nunca o serão e reconciliações que também nunca o chegarão a ser ple-
namente, como foi o caso limite da cena de Canterbury que, como
noutros casos, teve a sua época de ouro, mas ainda hoje mantém algu-
ma actividade a que dificilmente se poderá chamar jurássica.
Há que reconhecer que alguns estilos foram obras de estúdios
servidos de produtores geniais, outros de etiquetas em fase de afir-
mação, outros ainda puras criações da comunicação social. Mas a maio-
ria saiu de movimentos cuja música reflectia o espírito dos locais e dos
tempos vividos. Épocas autênticas, seladas por intérpretes e bandas
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gravitando no centro ou nas órbitas de alguns city styles, que viveram
temporariamente dentro de verdadeiros tornados enquanto procuravam
os seus potes de ouro.
É desses lugares e dessas épocas, alguns dos quais menos
dados às luzes da ribalta, que o Blitz procurará dar conta numa
colecção de textos e fichas sobre algumas das músicas populares que
marcaram as últimas décadas e indiscutivelmente associadas às reali-
dades sociais, económicas e até históricas de algumas cidades do
Mundo.
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