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MURILO MARCOS DOS SANTOS
Auriculoterapia no tratamento da dor no ombro: uma revisão clínica
Florianópolis
2007
MURILO MARCOS DOS SANTOS
Auriculoterapia no tratamento da dor no ombro: uma revisão clínica
Monografia apresentada ao
CIEPH, como pré-requisito
para obtenção do título de
Especialista em Acupuntura sob
orientação do professor Kris
Marcel Artiero da Silva.
Florianópolis
2007
AGRADECIMENTOS
Agradeço:
à Deus, por me permitir evoluir e aprender;
aos meus pais que sempre acreditaram e me incentivaram em meu aprendizado;
aos meus amigos tantos e quantos me acompanharam neste período e aqueles que
me acompanham de longa data, aos quais agradeço por existirem;
aos professores e funcionários do CIEPH, por sua experiência e competência com
que conduzem o ensino da acupuntura;
RESUMO
Palavras-chaves: Dor, ombro, acupuntura, auriculoterapia.
A região do ombro é um complexo de vinte músculos, três articulações ósseas e três
superfícies móveis de tecidos moles que permite a maior mobilidade entre todas as
regiões encontradas no corpo. Uma variedade de trabalhos tem implicado a acupuntura
no tratamento da dor aguda, entretanto, o conhecimento a cerca das combinações entre
diferentes estimulações em técnicas de acupuntura e a combinação de pontos tem sido
proposto. O estímulo da acupuntura, resultante da inserção de agulhas em pontos
específicos da orelha, modifica a percepção de dores em diferentes regiões corporais, o
que sugere uma representação somatotópica no pavilhão auricular. O presente trabalho
avaliou a incidência de declaração voluntária de redução do quadro álgico no início das
sessões de acupuntura sistêmica como grupo controle, e a distribuição de pontos em um
grupo de 15 pacientes tratados com queixa de dor no ombro. A maioria dos pacientes
relatou redução do quadro doloroso no início da segunda sessão de acupuntura e
auriculoterapia, um intervalo médio correspondente a dois dias. Os protocolos de
atendimento apresentaram predominância na utilização de, pelo menos, quatro
principais pontos: ombro( 85%), shemmen (100%), relaxamento muscular(85%) e
analgesia (85%). Os dados do presente trabalho sustentam que a utilização de sementes
em pontos específicos do pavilhão auricular associados à auriculoterapia e a
combinação de acupuntura sistêmica parece ser útil no controle da percepção da dor em
quadros de algias do aparelho locomotor.
SUMÁRIO
1 Síndrome do ombro dolorido .........................................07
1.1 A utilização clínica de acupuntura sistêmica no tratamento da
dor no(s) ombro(s) ........................................11
1.2 A combinação de técnicas de acupuntura no tratamento da dor:
Auriculoterapia .......................................13
1.3 O papel da Eletrotroacupuntura no tratamento de condições
álgicas ........................................14
1.4 Pontos de acupuntura comumente utilizados no tratamento da
dor no ombro ........................................15
2 Justificativa ...........................................20
3 Objetivos ............................................21
4 Material e Métodos ............................................22
5 Resultados e discussão ..............................................23
6 Conclusão ..............................................27
7 Referências Bibliográficas ................................................28
1. Síndrome do ombro dolorido
Os distúrbios do aparelho músculo esquelético, segundo Caldart e cols (1998),
apresentam-se entre as principais causas de absentismo nos Estados Unidos, tornando-se
a causa principal de pagamentos de benefícios por incapacidade. De acordo com Camp,
(apud FILSHIE; WHITE, 2002) a dor proveniente das articulações do joelho, cotovelo,
quadril e ombro causam alguns dos problemas mais comuns que se apresentam na
prática clínica e levam a um alto nível de incapacidade física na população mais velha.
A dor e a rigidez na articulação do ombro consistem em uma queixa
extremamente comum no Ocidente e na China (MACIOCIA, 1996). Segundo Cailliet
(1991), cada vez mais a dor no ombro apresenta-se para o clínico como uma condição
musculoesquelética. Vem sendo observado um crescente número de pacientes
acometidos por lesões ocorridas durante a prática de exercícios. Os exercícios
recomendados para a obtenção de todos esses benefícios incluem aqueles para membros
superiores e atividades atléticas forçadas.
De acordo com Placzek (2004), o manguito rotador é um grupo de quatro
músculos que se originam na escápula e se prendem na extremidade superior do úmero
por grossas inserções tendíneas. As suas funções incluem estabilização dinâmica da
articulação glenoumeral, depressão da cabeça umeral dentro da fossa glenóide, elevação
do braço para longe do lado do corpo, rotação interna e externa do úmero. É composto
pelos músculos supra-espinhal, infra-espinhal, sub-escapular e redondo menor. Para
Neer (1983), 95% das lesões do manguito rotador são causados por impacto
subacromial. A etiologia dessas lesões pode ser dividida em impacto primário e
secundário. O impacto primário caracteriza-se por compressão mecânica do manguito
rotador sob a porção ântero-inferior do acrômio. Neer descreveu ainda três estágios para
a síndrome do impacto primária. No primeiro estágio, que é caracterizado por edema e
hemorragia, ocorre com mais freqüência em jovens com idade inferior a 25 anos, mas
pode acometer pessoas com mais idade. Normalmente decorre de sobrecarga de
atividades desportivas ou laborais, onde o tratamento é conservador, com bom
prognóstico.
No segundo estágio, que tem como característica a fibrose e a tendinite, é menos
comum e ocorre em pessoas entre 25 e 40 anos. Geralmente relacionado com esforços
repetitivos, que podem gerar inflamação de origem mecânica sobre as estruturas
subacromiais, tornando a bursa fibrótica e espessada. As funções do ombro podem não
ser severamente afetadas, de modo que o paciente atrase muito a procura por um
especialista. O tratamento cirúrgico deve ser considerado se o tratamento conservador
não for bem sucedido em, pelo menos, dezoito meses de acompanhamento. No terceiro
estágio, que pode vir acompanhado de lesões do manguito rotador, ruptura do bíceps e
alterações ósseas, raramente ocorre em pessoas abaixo dos 40 anos. A lesão do músculo
supra-espinhoso manifesta-se antes da lesão do bíceps em uma proporção de 7:1. As
alterações crônicas, vistas ao raio-x simples, incluem a redução da distância acrômio –
cabeça do úmero, com ascensão desta e erosão do acrômio anterior. Pode ser ainda
observada esclerose óssea no nível da inserção do músculo supra-espinhal e do acrômio.
Casos enquadrados nesse estágio representam a indicação cirúrgica clássica, levando-se
em conta a viabilidade em relação às condições gerais do paciente, sua adaptabilidade e
expectativa funcional. Existem ainda algumas razões estruturais para o Impacto
Primário que são: anomalia congênita e formação osteofitária na articulação
acromioclavicular, no acrômio pode ocorrer consolidação viciosa, pseudoartrose, má
formação, formação ostofitária na face inferior e acrômio não fundido, anomalia
congênita na apófise coracóide, no manguito rotador os fatores estruturais são
espessamento ou irregularidade do tendão secundários a depósitos calcificados, a
cicatrizações e a retrações após lesões parciais e no úmero o aumento da tuberosidade
maior decorrente de anomalia congênita ou consolidação viciosa também possibilitam o
aumento do impacto subacromial.
O impacto secundário é definido, segundo Souza (2001), como relativa redução
do espaço subacromial devido a instabilidade funcional glenoumeral ou
escapulotorácica. Isso ocorre pela incompetência dos estabilizadores estáticos e/ou
dinâmicos que pode levar ao impacto subacromial, pela perda da capacidade de manter
a cabeça do úmero centralizada durante o movimento do membro superior, o que resulta
em sua ascensão em direção ao arco coraco-acromial. Os principais fatores funcionais
que possibilitam o aumento do impacto subacromial são: mau funcionamento escapular
devido a hipercifose torácica ou luxação acrômio-clavicular, movimento escapular
anormal secundário à paralisia dos músculos trapézio/serrátil anterior ou por
hipomobilidade escapulotorácica, instabilidade funcional escapulotorácica por fadiga ou
insuficiência dos músculos escapulares. Em relação ao manguito rotador pode ocorrer
perda do mecanismo depressor da cabeça do úmero em razão de radiculpatia, do nervo
supraescapular, ruptura total ou parcial do manguito e bíceps braquial e ainda debilidade
muscular. A cápsula da articulação glenoumeral pode apresentar retração da cápsula
posterior e frouxidão capsuloligamentar.
A luxação da articulação glenoumeral também é um dos fatores que acarretam
lesões no manguito rotador. A incidência é de 35-86% em pacientes após os 40 anos. A
razão para a variação nos números é a quantidade desconhecida de patologias de
manguito antes da luxação inicial.
Nitrini e Bacheschi (2005) descrevem a dor como uma experiência vivenciada
pela quase totalidade dos seres humanos e é por meio dela que a maioria das afecções se
manifesta. Já Cingolani e Houssay (2004) definem a dor como a percepção de uma
sensação aversiva, desagradável, originada por estímulos intensos, potencialmente
capazes de lesionar o organismo e que atuam sobre receptores específicos. Os sistemas
analgésicos endógenos formam parte dos sistemas descendentes ou de inibição distal
que controlam as aferências sensoriais. Esses sistemas analgésicos endógenos podem
ser ativados por diferentes estímulos, tais como o estresse agudo, atividade física,
atividade sexual e certas formas de acupuntura, entre outros. No entanto, seu ativador
mais potente é a própria dor (CINGOLANI E HOUSSAY, 2004).
A dor no ombro é um sintoma comum, porém não é sempre uma manifestação
de doença intrínseca do ombro. A dor, embora sentida no ombro, pode ser também
referida ou irradiada de uma grande variedade de distúrbios extrínsecos, incluindo
espondilose cervical, hérnia de disco cervical, angina pectoris, infarto do miocárdio,
pleurite basal e inflamação subfrênica decorrentes de condições tais como colecistite,
abscesso e mesmo uma ruptura do baço (SALTER, 1985).
Ombro doloroso é uma síndrome caracterizada por dor e impotência funcional
de graus variados, que acomete estruturas responsáveis pela movimentação do ombro,
incluindo as articulações, tendões e músculos, ligamentos e bursas.
(www.cerir.org.br/revistas/marco2002/ombro.htm). As possíveis causas de dor na
extremidade superior são pesquisadas na coluna cervical, tórax e região
subdiafragmática (TUREK, 1991).
É importante destacar que no presente trabalho não estão em discussão as
possíveis origens da dor no ombro, e sim a dor em si. Existem inúmeras causas que
originam esta dor específica, entre elas: tendinite, síndrome do impacto, peri-artrite de
ombro, artrose, ombro congelado, lesões traumáticas, frouxidão capsulo-ligamentar,
entre outras.
1.1- A utilização clínica de acupuntura sistêmica no tratamento da dor no(s)
ombro(s)
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é o mais popular de todos os sistemas
médicos tradicionais existentes. Mais de um quarto da população mundial procura a
Medicina Chinesa como uma parte significativa de seus cuidados com a saúde e este
número está crescendo. Ao contrário de outras medicinas tradicionais, a MTC tem
provado ser tão eficaz que migrou para além de sua fronteira cultural e se firmou ao
redor do mundo (CLAVEY, 2000).
A milhares de anos, os povos do oriente tratam suas doenças por meio de drogas
naturais e também utilizando finas agulhas de metal, que as introduzem em diferentes
pontos do corpo. A palavra acupuntura deriva do latim (acus, agulha; punctura, punção,
espetada) (SUSSMANN, 1973). A acupuntura nasceu no Extremo Oriente. Embora
faltem dados arqueológicos presume-se que sua origem remonte há 5 mil anos e que seu
berço tenha sido a China (SUSSMANN, 1973).
Os chineses aplicavam suas agulhas em pontos especiais com o objetivo de
dirigir a energia. Segundo eles, a energia vital, presente em todas as partes e que não é
outra senão a energia cósmica, circula no organismo através de condutos que eram
chamados Chings, e que nós denominamos Meridianos. Esses meridianos percorrem a
superfície do corpo ao longo dos membros, do tronco e da cabeça; em sua trajetória
situam-se os pontos. A energia, que eles pretendem dirigir mediante a punção dos
pontos se mostra sob dois aspectos distintos, opostos entre si, mas, na realidade,
complementares (SUSSMANN, 1973).
É impossível entender a acupuntura se não se compreende o significado de
energia. Se consultarmos um dicionário, veremos que energia significa eficácia, poder,
coragem para agir entre outros (SUSSMANN, 1973).
Energia, no sentido em que se aplica na acupuntura, é a primeira manifestação
da criação do universo sensível, a primeira manifestação do Tao. A unidade se
dicotomiza, se divide em dois, no que se chama a culminação suprema ou Tai-Chi.
Nasceu a dualidade, nasceu o universo, começou o processo da criação e destruição, da
vida e da morte (SUSSMANN, 1973).
Os representantes dessa dualidade são Yin e Yang, as duas formas idênticas e
opostas da energia. Essas relações se evidenciam, na imagem do Tai-Chi, onde a parte
clara representa o Yang e a escura o Yin. O círculo que representa os dois representa o
Tao (SUSSMANN, 1973). O Yin e o Yang significam os dois princípios fundamentais
ou forças do universo, sempre se opondo e suplementando um ao outro, porém, não são
energias, nem substâncias, nem elementos místicos ou esotéricos. Se trata de um critério
de divisão e classificação dos fenômenos, cujo interesse é principalmente dialético
(MARIE, 1998).
LEWITH e KENYON (apud, HESTER, 2002), analisaram uma série de estudos
e sugeriram que a acupuntura produz um efeito analgésico de aproximadamente 60%
nos pacientes que sofrem de dor crônica e que esse efeito é maior que o produzido pelo
placebo e provavelmente maior também que a inserção de agulhas em pontos aleatórios.
Segundo a visão da Medicina Tradicional Chinesa, os problemas da articulação
do ombro e dos músculos do ombro estão relacionados com traumatismo, invasão de
Vento Frio ou Umidade, doença crônica, estagnação do Qi do Fígado e deficiência
generalizada do Qi e do Sangue. Os problemas do ombro podem ser classificados de
acordo com o canal afetado, entre eles Pulmão, Intestino Grosso, Triplo Aquecedor ou
Intestino Delgado. Podem-se usar pontos distais ou locais no canal afetado, além de um
ou mais pontos no canal acoplado. (ROSS, 2003).
De acordo com Maciocia (1996), a invasão dos meridianos do ombro por Frio
exterior constitui-se em um dos fatores etiológicos mais comuns. O frio contrai os
músculos e tendões, causando dor e rigidez. Tipicamente, a dor é agravada por
exposição ao frio ou mediante clima chuvoso e úmido. A invasão local de Frio gera
estagnação de Qi nos Meridianos do ombro; se o frio não for expelido, a estagnação
pode se tornar crônica, causará dor e irá predispor os Meridianos a futuras invasões de
Frio, estabelecendo-se assim um ciclo vicioso.
Maciocia (1996) ainda cita que caso o paciente seja impossibilitado de fazer uma
abdução do braço, indica um comprometimento do Meridiano do Intestino Grosso, caso
haja a incapacidade de tocar a articulação do ombro oposta, indica provavelmente um
envolvimento do Meridiano do Pulmão e ainda caso o paciente não consiga fazer uma
rotação interna do ombro, aponta um acometimento do Meridiano do Intestino Delgado.
Essas informações são de grande importância clínica, já que têm como objetivo o
auxílio na avaliação do paciente.
1.2 A combinação das técnicas de acupuntura no tratamento da dor:
Auriculoterapia
Souza (1994), cita que a auriculoterapia é uma técnica de acupuntura que utiliza
o pavilhão auricular para efetuar tratamentos, restabelecer a saúde, aproveitando o
reflexo que a aurícula exerce sobre o sistema nervoso central.
Os pontos utilizados para tratamento, de acordo com Bontempo (1999),
presentes no pavilhão auricular, correspondem a união de níveis energéticos e nódulos
nervosos que, uma vez estimulados, restabelecem o equilíbrio orgânico.
A aurícula possui uma inervação abundante e esses nervos, quando estimulados,
sensibilizam regiões do cérebro. Os pontos presentes na superfície da orelha têm relação
direta com determinados pontos do cérebro. Por sua vez este está diretamente ligado
pela rede do sistema nervoso a determinados órgãos ou regiões do corpo, comandando
suas respectivas funções. Tendo em vista a relação aurícula-cérebro-órgão, Souza
(1994) argumenta que a auiculoterapia torna-se um eficaz recurso terapêutico para tratar
as mais diversas enfermidades.
1.3 O papel da Eletrotroacupuntura no tratamento de condições álgicas
Mesmo que existam relatos sobre o uso da eletroacupuntura desde o século XIX,
esta começou a ser utilizada com mais freqüência a partir da década de 30 (AMESTOY,
1998). A eletroacupuntura encontra indicações bastante precisas, abrangendo uma ação
terapêutica extensa, podendo ser empregada sempre que a acupuntura tenha sido
indicada, salvo algumas exceções (AMESTOY, 1998).
A Onda Densa, um tipo de corrente elétrica utilizada em eletroacupuntura, tem
como propriedade inibir a ação sobre os nervos sensoriais e posteriormente promover
ação inibidora sobre os nervos motores. Aplica-se freqüentemente para aliviar a dor,
alcançar a tranqüilidade, aliviar os espasmos musculares e vasculares e na anestesia por
acupuntura (MAO-LIANG, 2001).
A Onda Esparsa, juntamente com uma estimulação forte, pode causar contração
dos músculos e aumentar o tônus muscular e a força dos ligamentos. Sua ação inibidora
sobre os nervos sensoriais e motores é bastante lenta. É usada freqüentemente para
tratar Síndromes Wei, ferimentos nas articulações, ligamentos, tendões e músculos.
(MAO-LIANG, 2001).
A Onda Densa-Esparsa é uma forma de onda com aspecto alternativo de ondas
densas e ondas esparsas, cada uma permanecendo por cerca de 1,5 segundo, evitando
portanto, as desvantagens de uma onda isolada a que o paciente possa se adaptar
facilmente. Tem uma forte ação dinâmica e seu efeito excitatório é melhor durante o
tratamento, quando promove o metabolismo do corpo e a circulação do Qi e do Xue,
aperfeiçoando a nutrição do tecido e eliminando o edema inflamatório. É usada com
freqüência para aliviar a dor, para entorses, contusões, artrite periférica do ombro,
perturbação na circulação do Qi e Xue, ciática, paralisia facial, miastenia e ferimentos
locais pelo frio. (MAO-LIANG, 2001).
1.4 Pontos de acupuntura comumente utilizados no tratamento da dor no
ombro
ROSS (2003) comenta que o ponto mais usado em dor no ombro é o E-38, e
pode ser seguido de aplicação de moxa e agulha nos pontos locais. Além de
eventualmente, de acordo com a avaliação do terapeuta, utilizar os pontos Ah Shi no
trajeto do canal e fora dos trajetos dos canais e pontos distais e locais do canal podem
ser selecionados no canal afetado.
É também uma possibilidade a utilização de dois importantes pontos extras, o
jián nèi ling e nào shàng, localizados respectivamente a meia distância entre o ponto
mais alto da prega axilar anterior e IG-15 e no meio do músculo deltóide, um ponto no
canal do intestino grosso (ROSS, 2003).
MACIOCIA (1996) cita os pontos distais TA-5, IG-4, P-7, TA-1, IG-1, E-38 e
B-58 e os pontos locais IG-15, Ta-14 e o ponto extra jianneiling como os principais nas
enfermidades envolvendo o ombro. O autor comenta ainda que os pontos distais abrem
o meridiano, eliminam a estagnação de Qi e ajudam a expelir os fatores patogênicos.
São utilizados como método de sedação nos casos agudos e método neutro nos casos
crônicos. São escolhidos de acordo com o meridiano e a área envolvida. Quanto mais
distal for o ponto ao longo do meridiano, maia adiante sua influência se estenderá. A
escolha dos pontos distais depende do Meridiano envolvido. No caso do Meridiano do
Intestino Grosso utiliza-se IG-1, IG-4 ou até P-7. Caso o Meridiano do pulmão seja
afetado pode-se utilizar P-7. Os pontos ID-3 e ID-1 são utilizados como opção nas
enfermidades do Meridiano do Intestino Delgado e por fim os pontos TA-1 e TA-5 são
recomendados em caso de distúrbios no trajeto do Meridiano do Triplo Aquecedor.
Na artrite de ombro, que é uma enfermidade crônica de degeneração da bolsa
subacromial, da articulação escápulo umeral e de seus tecidos periféricos, sendo ainda
um dos grandes fatores geradores de dor no ombro, utiliza-se como pontos principais IG
15, IG 11, ID 6, ID 9, transfixão de E 38 para B 57. E secundariamente utiliza-se os
pontos TA 14, IG 14, IG 4, ID 3, P 7, TA 5 e P 5. (CONGHUO, 1997)
Comumente se adota o método dispersante de estímulo poderoso mediante a
rotação das agulhas, e para os casos de deficiência de energia vital com intolerância ao
frio se pode aplicar o método produtor de sensação de calor. (CONGHUO, 1997)
Na periartrite de ombro os pontos principais utilizados são E 38, IG 15, TA 14,
IG 14, IG 11, TA 5 e pontos Ashi. Pontos complementares são: para dor medial do
ombro P5 e P9, dor em região lateral do ombro ID3 e ID8 e dor na região frontal do
ombro IG4 e P7. (JUNYING e cols., 1995).
Ainda de acordo com Junying e cols., (1995), podem ser utilizadas outras
terapias conjuntamente com a acupuntura. A auriculoterapia é utilizada com os pontos
ombro, articulação do ombro, clavícula, ápice inferior do trago e pontos Ashi.
JUNYING (1995), comenta ainda que a acupuntura e a moxabustão são muito
efetivas para periartrite de ombro. A dor pode ser aliviada ou mesmo erradicada após o
tratamento, e a função motora do braço afetado pode voltar ao normal ou, pelo menos,
melhorar após alguns tratamentos. A combinação da Acupuntura corporal,
eletroacupuntura e auriculoterapia podem intensificar o efeito terapêutico.
CARBALLO (1976) acorda com Junying (1995) quanto ao uso de
auriculoterapia no ombro doloroso, e preconiza a utilização dos seguintes pontos:
articulação do ombro, escápula, shen men, clavícula e suprarenal.
A auriculoterapia tem sido utilizada no controle da dor tanto na clínica da dor
crônica quanto em procedimentos cirúrgicos invasivos. Nestes últimos, a utilização de
auriculoterapia reduziu a necessidade de anestésicos que, em última análise, corroboram
para o controle da dor (USICHENKO, 2003a; USICHENKO 2003b). Segundo
USICHENKO (2005), a utilização de um aparelho elétrico aferindo a resistência da
derme no pavilhão auricular apresenta uma relação com a área/região dolorosa ou com
lesão tecidual.
Uma correspondência entre os sítios de lesão pontos ou regiões do pavilhão
auricular foram observados, assim como uma elevada incidência de pontos do quadril
com alterações na resistência da pele em pacientes submetidos a artroplastia total de
quadril. Neste estudo, entretanto, uma peculiaridade dos estudos envolvendo
auriculoterapia está a técnica de detecção de pontos por detectação da resistividade da
derme parece ser um recurso útil e aliado ao tratamento auricular de quadros álgicos
(Fig. 1).
Fig.1 Verificação da resistividade de pontos do pavilhão auricular.
A associação de pontos como Shenmen reforça o conceito de combinação de
pontos utilizados sobre pontos do pavilhão auricular no tratamento de algias periféricas.
Outro ponto comum na dor do quadril é o ponto do pulmão e do tálamo (Fig. 2). A
participação relativa de ambos deve ser pesquisada, mas sua associação ao ponto do
quadril e ao Shem men parece auxiliar no controle da dor pré e pós operatória em
procedimentos cirúrgicos de artroplastia de quadril (USICHENKO, 2005).
Fig. 2 Pontos de auriculoterapia com alteração de resistividade e usualmente
utilizados no controle da dor no quadril: Shen Men, Quadril, Pulmão e Tálamo.
2. Justificativa
LECH e SEVERO (1998), comentam que apesar de uma gama de estudos
científicos tratando do uso da acupuntura no tratamento da dor, é pequeno o índice de
pesquisas que versam sobre a dor no ombro especificamente. As patologias ortopédicas
incluindo a dor no ombro incidem com freqüência elevada, tornando-se foco de um
grande número de tratamentos e procedimentos especializados.
A utilização de auriculoterapia combinada com acupuntura sistêmica foi
comparada ao tratamento de acupuntura sistêmica isoladamente e a analgesia produzida
por ambos os procedimentos não foi significativamente superior no tratamento da dor
cervical miofascial (CECCHERELLI, 2006). Entretanto, os trabalhos de Taras
Usichenko têm avaliado a utilização de auriculoterapia no tratamento de condições
álgicas. A estimulação do pavilhão auricular produziu analgesia após procedimentos
cirúrgicos (USICHENKO e cols., 2007).
Assim sendo, o presente trabalho avaliou a participação da auriculoterapia no
controle da dor no ombro combinada com acupuntua sistêmica.
3. Objetivos
- Geral
Avaliar o controle da dor relatado subjetivamente do tratamento do ombro
doloroso com auriculoterapia combinada à acupuntura sistêmica.
- Específicos
· Verificar quais os pontos mais utilizados em auriculoterapia no controle da dor
no ombro;
· Identificar a combinação de técnicas utilizadas e a incidência da auriculoterapia
em pacientes com queixa de dor no ombro;
· Verificar a evolução do controle da dor após sessões de auriculoterapia.
4. Materiais e Métodos
Foram analisadas as fichas de avaliação e tratamento de 15 pessoas tratadas no
ambulatório do Centro Integrado de Estudos Para o Homem - CIEPH do período de
30/06/05 até 19/03/07 com queixa de dor no ombro. Os dados foram coletados em cinco
visitas feitas pelo pesquisador, entre os dias 04/04/2007 e 12/04/2007 e colocados em
uma tabela e, posteriormente, colocados em gráficos.
Para tal pesquisa, foi feito um pedido ao professo Kris Artiero, diretor-
educacional da instituição, que prontamente autorizou o trabalho. Nenhuma das fichas
teve o nome do paciente revelado ou coletado, garantindo assim o anonimato dos
sujeitos da pesquisa.
Análise dos dados
Foram coletados os tipos de tratamento, a freqüência de cada tratamento, o
número de sessões auriculoterapia, os pontos de auriculoterapia e o progresso na
evolução do quadro doloroso após a utilização da auriculoterapia em associação com
acupuntura sistêmica.
5. Resultados e Discussão
5.1 Quanto à amostra
Os diagnósticos encontrados foram de tendinite (20%), dor no ombro (53,3%),
bursite (20%) e ruptura de tendão (6,66%). Os diagnósticos em MTC foram relatados
apenas em um dos casos. Neste caso, observou-se especificamente os dados referentes à
dor em pelo menos um dos ombros. Sendo que a idade variou entre 18 e 62 anos, tendo
na sua maioria mulheres com 60% da amostra, e homens com 40%. Tinham por
profissão analista administrativa, digitadora, instrutora, diretora, aposentado, desenhista,
estudante, dentista, do lar, auditora, esteticista e professora.
Os pacientes apresentaram um padrão homogêneo com relação ao lado
acometido com prevalências semelhantes entre os lados.
5.2 Quanto à técnica
As técnicas de acupuntura utilizadas foram a acupuntura sistêmica em 100% dos
casos, a auriculoterapia em 46,6% dos casos e a moxabustão em 20% dos casos.
Não apresentaram incidência as técnicas de eletroacupuntura e ventosaterapia. É
importante ressaltar que diferentes terapeutas conduziram os tratamentos. A utilização
de eletroacupuntura tem sido citada como um método poderoso de controle da dor.
Pesquisas envolvendo a eletroacupuntura sugerem sua utilização sobre pontos do
pavilhão auricular com efeitos significativos sobre o controle da dor.
Dos 15 casos analisados, 60% dos pacientes relataram melhora na segunda
sessão e 13% na terceira sessão enquanto que 6% não teve esse dado exposto na ficha e
20% não obteve melhora.
O número de sessões variou entre duas e onze, perfazendo uma média de 4
sessões por caso. Dos 60% que obtiveram melhora na segunda sessão, 33% utilizaram
apenas acupuntura sistêmica ao passo que o restante, 66%, tiveram acompanhamento de
uma ou mais terapias na seguinte proporção: 66% teve como terapia auxiliar apenas a
auriculoterapia, 16% teve a auriculoterapia juntamente com a moxabustão como terapia
complementar e os outros 16% teve como terapia complementar apenas a moxabustão.
Em 13% dos pacientes que relataram melhora do quadro doloroso na terceira
sessão, somente foi utilizado a acupuntura sistêmica. Dentre os quinze casos, 20% não
obteve melhora e em 33% desses casos foi utilizado somente acupuntura sistêmica, 33%
acupuntura sistêmica juntamente com auriculoterapia e os outros 33% acupuntura
sistêmica, auriculoterapia e moxabustão. Uma parcela de 6% não teve esse dado
exposto na ficha.
A auriculoterapia, recomendada por Carballo (1976) e Junying (1995), foi
utilizada em 46,6% dos casos. Junying e cols., (1995) alertam que a combinação da
acupuntura sistêmica, eletroacupuntura e auriculoterapia podem intensificar o efeito
terapêutico. Podemos analisar pelos dados colhidos que neste trabalho 53,3% dos casos
foram realizadas auriculoterapia em combinação com outras técnicas da medicina
chinesa.
ROSS (2003) relata que problemas relacionados com o ombro estão afetados os
canais do Pulmão, Intestino Grosso, Intestino Delgado e Triplo Aquecedor. Todos tendo
como parte do trajeto a região do ombro. Nota-se que nos dados do presente trabalho,
entre os pontos mais utilizados estão pontos dos canais do intestino grosso e do triplo
aquecedor e que não se encontra pontos dos canais do pulmão e do intestino delgado
citados anteriormente pelo autor (Fig1).
ROSS (2003) relata que problemas relacionados com o ombro estão afetados os
canais do Pulmão, Intestino Grosso, Intestino Delgado e Triplo Aquecedor. Todos tendo
como parte do trajeto a região do ombro. Nota-se que nos dados do presente trabalho,
entre os pontos mais utilizados estão pontos dos canais do intestino grosso e do triplo
aquecedor e que não se encontra pontos dos canais do pulmão e do intestino delgado
citados anteriormente pelo autor.
Entre os pacientes tratados com a auriculoterapia, os pontos mais utilizados
foram: Shen Menn, Ombro, Yang do Fígado, Relaxamento Muscular e Analgesia
(Fig.3).
Usualmente na prática clínica, se associa o conceito topográfico de pontos e os
sinais clínicos observados sistemicamente. Dessa forma, utilização ampla do ponto do
ombro a partir da observação do pavilhão auricular reforça os achados topográficos de
correspondência com sítios de lesão nos estudos de USICHENKO (2005).
O ponto Shenn Menn, usado em 100% dos casos (Fig1), localiza-se na Fossa
Triangular e tem como funções principais tratar a insônia, inflamações, distúrbios do
sono e dores em geral. A alta incidência deste ponto, indica sua participação de quadros
álgicos, e reforça a idéia de um fenômeno hipoalgésico inespecífico do ponto de vista da
diferenciação entre as síndromes ou fatores causais.
O ponto Ombro, usado em 85,7% (Fig1) dos casos, localiza-se na escafa e tem
como objetivos principais tratar dores correspondentes à região, bursite e luxação de
ombro. O ponto Relaxamento Muscular foi utilizado em 85,7% dos casos. Estes dados
sugerem que a estimulação de auriculoterapia através de sementes, em pontos
específicos da superfície corporal apresenta um perfil reflexológico específico
relacionado à topografia corporal representada no pavilhão auricular. Este dado tem
importância clínica na ausência de mecanismos de aferição uniformes sobre as
condições específicas do ponto a ser estimulado (USICHENKO, 2003).
O ponto do Fígado, empregado em 42,8% (Fig1) dos casos, e que de acordo com
Reichmann (2002), localiza-se na concha, parte superior e é utilizado nos casos de
distúrbios em tendões, ligamentos, músculos, analgesia dos músculos, tendões e
articulações, espasmos e câimbras, inflamação no ombro, joelho e tornozelo e desordens
relacionadas ao órgão. O ponto Analgesia foi empregado em 42,8% dos casos.
Fig. 3 Freqüência dos pontos mais utilizados na Auriculoterapia no tratamento da dor no ombro.
Pontos mais utilizados em Auriculoterapia
0
20
40
60
80
100
120
Shen Men Ombro Relax. Musc. Analgesia Yang Fígado
Pontos
Freqüê
ncia
(%)
6. Conclusão
Os dados do presente trabalho sugerem que a combinação de auriculoterapia
com a acupuntura sistêmica parece ser útil do controle da dor e parte do efeito
analgésico produzido pela acupuntura sistêmica está associado à combinação desta
técnica com auriculoterapia. Entretanto, a inexistência de dados sobre a utilização da
auriculoterapia isoladamente no controle da dor no ombro não foi relatada. A
auriculoterapia associada à eletroacupuntura deve ser explorada e observada na prática
clínica de síndromes dolorosas.
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