Post on 08-Jan-2017
MANUAL DO VIVEIRO
FLORESTALRaul Manuel de Albuquerque Sardinha
Projecto de Desenvolvimento dos Recursos NaturaisMunicípio da Ecunha, Província do Huambo
(CE-FOOD/2006/130444)
FICHA TÉCNICA
Coordenação e Autoria do Estudo
Raul Manuel de Albuquerque Sardinha
Revisão
Instituto Marquês de Valle Flôr
(Diogo Ferreira, Gonçalo Marques e Rita Caetano)
Composição e Edição
Instituto Marquês de Valle Flôr
Concepção Gráfica
Matrioska Design, Lda
Impressão e Acabamento
Europam, Lda
Co-Financiamento
Comissão Europeia
Depósito Legal
Tiragem
1
2
ÍNDICE DE FIGURAS E QUADROS 4
PREFÁCIO 7
1. INTRODUÇÃO 11
1.1 O problema da savanização 11
1.2 Como utilizar o manual 11
1.3 Porquê plantar uma árvore 12
1.4 Porquê conservar e proteger a floresta 12
2. VIVEIRO 12
2.1 Porquê um viveiro 12
2.2 Parâmetros morfológicos de avaliação
da qualidade das plântulas 13
2.3 Métodos de produção 17
2.4 Onde instalar o viveiro 21
2.5 Como proteger o viveiro 23
2.6 Como montar o viveiro 23
2.7 Os alfobres 30
3. AS SEMENTES 34
3.1 A selecção das espécies 34
3.2 A informação necessária 35
3.3 A recolha das sementes 35
3.4 Extracção das sementes 39
3.5 Selecção das sementes 41
3.6 Conservação das sementes 41
3.7 Pré-tratamento das sementes 44
3.8 Preparação das sementes 46
3.9 Estado das sementes 49
3.10 Informações sumárias sobre ensaios de sementes
e sua terminologia 49
3.11 Sementeira directa nos canteiros 50
3.12 Sementeira directa em vasos 51
3.13 Época de sementeira 51
4. TRATAMENTOS CULTURAIS 52
4.1 A rega 52
4.2 A nutrição das plantas 53
4.3 Cuidados sanitários 56
5. BASES DE CÁLCULO DO NÚMERO DE PLANTAS
PARA PLANTAÇÃO 64
6. PRODUTOS NATURAIS PARA COMBATER
INSECTOS E DOENÇAS NOS VIVEIROS 66
7. LISTA DE MATERIAL DO VIVEIRO 67
8.INSTALAÇÕES DO VIVEIRO 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70
Índice
3
FIGURAS
1. Exemplos de diferentes sistemas radiculares 13
2. Planta com bom sistema radicular 13
3. Exemplos de plantas com defeitos 14
4. Pequenos Viveiros Comunitários 17
5. Pequenos Viveiros Comunitários 17
6. Exemplo de recipientes usados na produção 19
de plantas florestais
7. Distribuição do sistema radicular no interior 20
de um alvéolo
8. Esquema de terraceamento para o caso 22
dos terrenos com declive
9. Formas simples de protecção do viveiro 23
com materiais locais
10. Exemplos de limitação de canteiros 24
com material local
11. Terraceamento e drenagem do viveiro 24
para evitar a erosão
12. Camas de plantação mais baixas que o nível do solo 24
13. Exemplos de disposição de canteiros do plantório 25
e espécies no viveiro
14. Funil e pá para enchimento dos recipientes 25
15. Bolsas de Ar 26
16. Modelos de peneiras para preparação 28
dos substratos
17. Arrumação das raízes nos sacos 28
18. Preparação e enchimento de sacos 29
19. Exemplos de sombreamento com tela 29
de sombreamento suportada por postes de bambu
20. Exemplos de formas de sombreamento 30
com materiais locais
21. Exemplo de um pequeno alfobre feito em caixa 31
de madeira num pequeno viveiro comunitário
22. Forma de efectuar a cobertura dos canteiros 31
dos alfobres
23. Esteiras de cobertura dos seminários 31
24. Rega 32
25. Criação de espaço para poder retirar a plântula 33
sem a ferir
26. Colocação correcta da plântula no vaso 33
após repicagem
27. Bom posicionamento da plântula no vaso 33
28. Importância da qualidade da semente 36
29. Características hereditárias 36
30. Configurações de boas e más características 37
arbóreos para alguns fins
31. Exemplos de equipamento simples utilizado 38
para colheita de sementes
32. Secção de um germinador isotérmico 48
que pode ser fabricado localmente
33. Modelo de germinador isotérmico feito 48
com materiais locais
34. Exemplo de identificação de um canteiro 52
no plantório
35. Medidas de segurança a adoptar na aplicação 57
de pesticidas, fungicidas ou herbicidas
36. Imagem de um canteiro de viveiro florestal 58
dominado pelas ervas daninhas
37. Eliminação de ervas daninhas 58
Índicefiguras e quadros
4
38. Pinheiros produzidos pelo sistema VAPO 60
39. Plântula produzida pelo sistema VAPO 60
40. Poda de raízes em plântulas criadas em recipiente 62
41. Poda de raízes em plantórios em plena terra 62
42. Preparação do sistema radicular das plântulas 63
criadas directamente no plantório
43. Forma de conservar as plântulas de raiz 63
nua antes da expedição
44. Preparação das plantas de raiz nua 64
para envio para plantação
45. Esquema do alpendre aberto para enchimento 69
de sacos e preparação dos substratos
QUADROS
1. Problemas comuns na prática viveirista 15
e procedimentos correctores
2. Vantagens e Desvantagens da produção 18
de plântulas de raiz nua
3. Vantagens e inconvenientes dos diferentes 21
tipos de recipientes
4. Exigências nutritivas médias do solo para a produção 27
viveirista de eucaliptos e pinheiros
5. Teores médios aproximados de nutrientes 27
no estrume proveniente de vários animais
6. Sistema de classificação do estado de maturação 39
das sementes
7. Relações entre o teor de humidade e a deterioração 42
da semente
8. Germinação e dormência em espécies 45
florestais tropicais
9. Quadro de referência de tratamentos de acordo 47
com a dormência
10. Principais elementos minerais importante 53
na nutrição das plantas
11. Alguns dos insecticidas usados no combate 57
à “salalé”
12. Produtos naturais que o viveirista pode utilizar 66
na protecção das plântulas
5
6
PREFÁCIOAs extensas áreas de “mata de panda”, designação Angolana
da formação florística conhecida por “Miombo”, raramente foram
consideradas em Angola como recurso florestal importante.
Embora se lhe reconhecesse interesse na conservação do solo,
da água, refúgio do bravio, e fornecimento de produtos florestais
não lenhosos como plantas medicinais, usadas quase
exclusivamente pela população camponesa e de alguns frutos
silvestres (de que o “loengo” é talvez o mais conhecido e apreciado),
o facto é que os crescimentos reduzidos das suas árvores
e a reduzida qualidade das suas madeiras nunca constituíram
matérias-primas apreciadas ou valorizadas pela indústria. Estas
extensas áreas eram e são assim olhadas mais como reservas
de terra ou de lenhas do que propriamente como um património
a conservar e a valorizar por formas de gestão apropriadas
de base comunitária ou municipal.
A pouca importância que lhe era conferida reflecte a ausência
quase total de estudos florestais sobre o potencial destes recursos,
da sua dinâmica e das interfaces que tinha com as populações
rurais. Os estudos limitaram-se na sua quase totalidade
às inventariações florísticas, quase sempre numa escala macro.
As preocupações sobre a sustentabilidade dos espaços arborizados
e a sensibilização crescente do mundo científico, das organizações
financiadoras internacionais, dos governos nacionais, bem como
das intervenções das ONG, têm trazido a primeiro plano
a importância destes recursos e impulsionado, quer o seu estudo
numa perspectiva sistémica a uma escala regional, nacional
e multinacional, quer a procura de estratégias para o fomento
da criação de recursos alternativos dirigidos à redução da pressão
sobre a floresta natural e criando, do mesmo passo, fontes
alternativas ou complementares de rendimento para aliviar
a pobreza das populações rurais que tem sido o elemento
propulsor mais visível da desflorestação. A população em estado
de acentuada pobreza e em ambientes de desregulação
das terras de raiz comunitária, destrói a floresta como último
argumento contra a fome percepcionando, no entanto, que
as suas práticas são negativas. O autor lembra bem as palavras
de um ancião pobre da Casamança que ao lhe ser perguntado
se não tinha consciência que o abate raso teria consequências
para a nova geração de habitantes da aldeia nos respondeu
resignado
O sucesso ou insucesso do desenvolvimento de sistemas florestais
ou agroflorestais nas comunidades rurais depende em grande
medida da qualidade das suas componentes, e as árvores são,
indiscutivelmente, uma componente fundamental. O Instituto
Marquês de Valle Flôr (IMVF), em colaboração com a Cooperativa
Agrícola da Ecunha - Coopecunha incentivou a elaboração deste
manual no âmbito do “Projecto de Desenvolvimento dos Recursos
Naturais” (Contrato CE-FOOD/2006/130444), acreditando
na sua melhor contribuição para alívio da pobreza rural.
Mas que futuro lhes está reservado se os camponeses não tiverem
acesso a sementes e plantas de qualidade?
A oportunidade para o desenvolvimento económico e ambiental
significativo será perdida se aquela premissa base não for
conseguida. O IMVF acredita assim, que atingir o objectivo
de inverter a actual dinâmica de desflorestação, garantindo
importantes benefícios ambientais, passa pela implementação
7
de sistemas de plantação comunitária ou nas pequenas terras
da propriedade camponesa, apoiados pela produção de boas
árvores com bons potenciais produtivos e potenciais de utilização
tecnológica para suporte de indústrias madeireiras. Infelizmente,
muitas práticas de produção de plantas têm-se tornado comuns
de uma forma generalizada nos trópicos. Milhões de plântulas
de má qualidade são produzidas todos os anos, plântulas que
não compensam os esforços de as plantar ou manter. Plantas
de má qualidade desencorajam os camponeses a plantar árvores
e reduzem o potencial produtivo do solo.
Faz parte dessa estratégia pró-activa, no âmbito do referido
projecto, a montagem de um viveiro que garanta aquelas
exigências e seja um pólo de difusão de boas técnicas de produção
de plantas.
O Manual do Viveiro Florestal, realizado nesta perspectiva,
sintetiza sem preocupação de aprofundamentos científicos
considerados desnecessários, um conjunto de informações sobre
as práticas viveiristas e a que acrescenta a experiência e vivência
profissional do seu autor nos trópicos. O autor debruça-se sobre
as exigências de escolha de um viveiro e a qualidade das plantas
que dependem da atenção no detalhe sobre as condições físicas
do local de implantação e a sua localização em relação aos locais
de destino das plantas, sobre a origem da semente, características
físicas das plântulas, dos substratos, regulação da água, luz,
nutrientes e controlo sanitário. O Manual inclui não só o que
fazer, mas também as razões para os procedimentos indicados,
numa linguagem simples e acessível. Estamos convictos que
os procedimentos descritos, a explicação dos mesmos e as
indicações de trabalhos de referência são suficientes para encorajar
os futuros gestores ou operadores viveiristas a procurarem,
à medida que ganhem experiência, aprofundar alguma das
matérias e não serem simplesmente repetidores de receitas. Esse
aprofundamento será útil para que possam introduzir inovações
e adaptações consistentes com as condições ecológicas e sociais
em que venham a trabalhar.
Este Manual não é uma peça única e acabada de uma única
iniciativa. Embora se considere que é, de facto, um dos elementos
mais poderosos para inverter a actual dinâmica de desflorestação,
ele deverá vir a ser acompanhado de outras medidas para
a poupança na produção de carvão por intervenção nas práticas
de transformação e pela proposta de melhorias tecnológicas
sem as quais as iniciativas de conservação ou de gestão
de recursos naturais lenhosos no Município de Ecunha estão
fortemente condenados ao insucesso. A criação de fontes
alternativas, potenciada e dinamizada através da produção
de plantas de boa qualidade e rápido crescimento, virá
a proporcionar novas actividades, materiais lenhosos para
as necessidades energéticas, benefícios ambientais locais
e nacionais (novos sumidoros de carbono) e novos rendimentos
para o agricultor. A iniciativa de gestão dirigida à criação
de fontes alternativas de lenhas e carvão é considerada
o instrumento mais poderoso para a redução a curto prazo
da pressão de abate da actual mata natural. O uso de outras
espécies lenhosas de vocação fruteira virá a trazer um benefício
adicional na melhoria da dieta e uma melhoria na estabilização
da propriedade camponesa.
8
O autor espera também que os seus leitores, principalmente
os agricultores da região alvo e os seus agentes dinamizadores,
usem este manual para reflectirem sobre a problemática
da árvore, fornecedora de lenhas, de forragem ou de frutos
e contribuam para melhorar os procedimentos indicados
ou sugerir outros que possam ser considerados mais adaptados
ou eficazes nas condições objectivas da actividade agrícola
do Município da Ecunha. A costumização regional da produção
de plantas e da actividade viveirista virá assim, em futuras
edições,
a incorporar novas informações e sugestões dos leitores. Possam
os agricultores de Ecunha interiorizar os dizeres de um cartaz
posto à entrada de um viveiro no Peru:
“O QUE PLANTA UMA ÁRVORE PLANTA UM ESPERANÇA1”
9
10
1. INTRODUÇÃO
1.1 O problema da savanização
O processo de savanização é a evolução da floresta natural no sentido
da savana: menor número de árvores e cobertura mais significativa
de gramíneas (palha). A floresta com grandes árvores cede o lugar
à floresta degradada, depois à savana arbórea, passando a savana
arbustiva e a estepe e, finalmente ao deserto.
O homem destrói a floresta e aumenta as superfícies desnudadas.
O alargamento indiscriminado das culturas agrícolas alimentares
e comerciais, os fogos incontrolados e a má exploração de lenhas
e carvão são os principais factores de degradação. A floresta é destruída
juntamente com a sua fauna e flora naturais. As toalhas aquíferas
tornam-se mais escassas e profundas, as pastagens tornam-se mais
pobres, a fertilidade da terra cultivada diminui, a acção do vento
faz-se sentir arrastando o solo, as chuvas tornam-se mais irregulares
com níveis de precipitação mais reduzidos. Acresce que o seu
aproveitamento é menor por causa do seu rápido escoamento.
Em consequência deste conjunto de efeitos negativos os homens sentem
a fome e tentam cultivar mais aumentando os efeitos nefastos sobre
a floresta. A agricultura, que necessita de um convívio amigável com
a árvore, torna-se assim num inimigo da floresta.
O que se reproduzia antigamente de uma forma natural deixa
de sê-lo e não pode ser reintroduzido senão artificialmente. Aquilo que
foi arrancado pela mão do homem deve ser agora replantado por ele
mesmo e tal como o milho e a batata, a árvore deve ser cultivada,
cuidada e mantida.
1.2 Como utilizar o manual
Este primeiro manual, contém os dados gerais que permitem guiar
os futuros extensionistas florestais e futuros viveiristas do Município
de Ecunha, não só no ensino dos conhecimentos de base aos agricultores,
mas também no encaminhamento das diversas operações a seguir
na implantação de um viveiro e na manutenção posterior da árvore
para as futuras plantações.
No entanto, o viveirista não encontrará neste manual, as especificações
de produção para cada espécie particular. Encontrará contudo, exemplos
de algumas espécies naturais úteis aos agricultores de Angola na zona
planáltica e dos métodos adaptados às condições do país.
Eventualmente, este manual poderá ser posteriormente complementado
por folhetos adicionais tratando assuntos mais específicos, para cada
uma das espécies particulares eleitas para o repovoamento florestal,
permitindo a introdução de novos métodos, aumentando a gama
de conhecimentos e melhorando a transferência de conhecimentos
apropriados por forma a permitir a melhoria das condições de vida
de cada membro da família agricultora.
Para conveniente aproveitamento deste manual recomenda-se que
sejam consideradas atentamente os conselhos seguintes:
Cada etapa descrita é importante. As plantas produzidas em viveiro
não podem sobreviver ao primeiro ano de plantação se o terreno não
oferecer as condições adequadas de crescimento e se não protegermos,
ulteriormente, a árvore e a plantação contra os seus numerosos
inimigos que podemos controlar.
Recomenda-se vivamente ao extensionista que se encontre com
a população das aldeias servidas pela Coopecunha e com as suas
associadas para melhor integração desta actividade na vida
comunitária, assegurando o seu melhor sucesso. Os benefícios
da floresta devem contribuir para a redução da pobreza no meio rural.
11
No quadro do mês da árvore o Município de Ecunha deve incentivar
cada habitante a participar na arborização nacional. Assim, alunos,
professores, pais e associações de aldeias podem ajudar-se numa
só e única tarefa.
1.3 Porquê plantar uma árvore
para ter lenha junto de casa;
para produzir carvão para as famílias e para as cidades;
para ter uma fonte de rendimento com a venda dos seus produtos
(lenha, carvão, tortulhos);
para comer e vender os frutos tal como o “loengo”, o “maboque”,
o “lombula”, abacate, etc;
para construir uma casa (ex: vigas de eucalipto ou cupressos);
para fins medicinais: “ufilanganga” para cura de feridas,
“nhenlunglem” ou “ecopocopo” para dores de barriga, a “omondolua”
para a fontanela, entre outros exemplos;
para o fabrico de instrumentos agrícolas e cabos de ferramentas:
enxadas, catanas, arados, carroças, etc;
para o homem e os animais descansarem à sua sombra;
para numerosos usos diários: bancos, cadeiras, mesas, postes,
espigueiros, etc.
1.4 Porquê conservar e proteger a floresta
para conservar a água nos solos e nas fontes;
para conservar os solos cultiváveis;
para dar alimento à fauna que ela abriga;
para diminuir a intensidade do vento que arrasta os nossos solos;
para conservar o nosso clima e as chuvas que a natureza nos traz.
Para vivermos e comermos melhor!
Plantar uma árvore é plantar a esperança!
2. VIVEIRO
2.1 Porquê um viveiro
Chama-se viveiro ao local onde se fazem crescer as árvores depois
da sementeira até ao momento em que elas são colocadas para plantação
no terreno.
Certas espécies pouco exigentes e com sementes facilmente manipuláveis
podem ser semeadas directamente no terreno e com compasso definitivo.
A essas plantações chamam-se "plantações por sementeira directa".
O pinheiro presta-se a este tipo de plantação se bem que não seja
possível manter a regular distribuição do compasso.
Entretanto, se as condições do meio e do clima são desfavoráveis
e é conveniente manter a regular distribuição das plantas é muitas
vezes preferível produzir as plantinhas (plântulas) em viveiro com
cuidados particulares, o que oferece várias vantagens a saber:
1 cuidar na idade juvenil das plântulas susceptíveis a certas doenças;
2 possibilitar às plantinhas em terreno definitivo uma maior resistência
aos inimigos: concorrência da palha, animais domésticos e selvagens,
fogos;
3 permitir que as plantinhas estejam suficientemente fortes no fim da
estação seca sem irrigação.
O objectivo mais importante de um responsável por um viveiro
é o de produzir árvores de boa qualidade. A qualidade é mais importante
que a quantidade. A qualidade das plantas que saem do viveiro é a base
do sucesso de uma plantação. É importante não esquecer que a plantação
de árvores medíocres dará sempre origem a plantações medíocres.
A qualidade de uma planta comporta dois aspectos importantes.
A primeira é de ordem genética, daí a importância da origem e qualidade
da semente, e a segunda é a sua condição física/morfológica.
12
2.2 Parâmetros morfológicos de avaliação da qualidade das plântulas
As árvores de qualidade (as únicas que devem ser distribuídas aos
agricultores) são aquelas que apresentam parâmetros fisiológicos
e morfológicos considerados tradutores de uma planta susceptível
de ser plantada e produzir uma árvore com bom potencial produtivo.
Sendo que os padrões fisiológicos só são detectáveis através
de laboratórios de análises, ficaremos pelos padrões morfológicos que
são mais facilmente identificáveis por observação esclarecida.
Os parâmetros a utilizar na avaliação qualitativa das plantas em viveiro
são:
O sistema radicular não apresenta deformações e as raízes estão
bem distribuídas apresentando uma boa relação com a altura
do tronco;
Fig. 1 - Da primeira fila da esquerda para a direita: 1) um bom sistema radicular,
a raiz a principal apresenta-se direita e as ramificações finas mostram boa
conformação para a absorção da água e nutrientes; 2) sistema radicular deformado
por má repicagem (raízes torcidas e muito junto da superfície; 3) outro sistema
radicular defeituoso por má repicagem. A raiz foi forçada num buraco muito
pequeno; 4) sistema radicular tortuoso com uma raiz principal enrolada no fundo
do saco. (de:
)
Fig. 2 - Uma planta de qualidade com um bom sistema radicular bem distribuído
no vaso (de:
)
As plântulas estão sãs, com crescimento vigoroso e sem sinais
de doenças;
Apresentam um tronco único, robusto, um bom diâmetro no colo,
lenhificado e sem deformações;
A copa é simétrica e densa;
As plantas estão bem adaptadas a períodos curtos sem rega e suportam
a insolação directa. Alguns florestais apresentam os seguintes critérios
para a selecção de plântulas de ,
esclarecendo que as consideradas aptas para serem plantadas devem
encaixar-se em todos os itens abaixo identificados:
13
1 2 3 4
14
Diâmetro do colo no mínimo de 2 mm;
Altura oscilando entre os 15 e 35 cm;
Alto grau de rustificação;
Inexistência de problemas sanitários aparentes;
Raiz aprumada com forma normal;
Parte aérea sem bifurcações;
Parte aérea com, no mínimo, três pares de folhas;
Tronco sem tortuosidades.
Fig. 3 - Todas as plantas representadas apresentam defeitos (na primeira fiada e
da esquerda para a direita: tronco curvo; muito pequena; muito poucas folhas; dois
troncos). Na segunda fiada e da esquerda para a direita: rebento principal seco;
folhas amarelas; folhas muito pequenas; sistema aéreo e radicular muito desen-
volvido) (de:
)
Relação altura da parte aérea/diâmetro do colo
A maior parte dos responsáveis pelos viveiros dão uma grande
importância à relação parte aérea/diâmetro do colo que exprime
o equilíbrio de desenvolvimento das plântulas, pois conjuga dois
parâmetros num só índice conhecido por H/D e em que:
H = medida do comprimento da parte aérea em cm;
D = diâmetro do colo em mm.
Se bem que não existam valores experimentais validados para
as condições de Angola, ou em particular para toda a grande região
do Planalto Central, um conjunto significativo de estações experimentais
que trabalham com eucaliptos e pinheiros nos trópicos aconselham
alturas da parte aérea entre os 20-30 cm e diâmetros de colo à volta
dos 3,7 mm. Desta forma pode considerar-se que estão em condições
de bom crescimento aquelas plântulas cujos valores de H/D se situem
entre os limites de 5,4 e 8,1.
Aceitando-se os valores do intervalo 5,4 - 8,1 como os que representam
o desenvolvimento equilibrado da parte aérea das plântulas, torna-se
fácil para o viveirista avaliar em qualquer momento os valores óptimos
do diâmetro do colo para plântulas cuja altura média não se situe
na faixa dos 20 a 30 cm. Assim, por exemplo, se as plantas tiverem
em média 36 cm de altura, a média do diâmetro deve oscilar entre
os 4,4 e os 6,7 mm. Se noutra situação, durante o período de viveiro,
as plântulas tiverem uma altura média de 16 cm, o diâmetro médio
do colo deve situar-se entre os 1,9 e os 2,9 mm. Se se encontrarem
dimensões inferiores a 1,9 mm quer isto dizer que a produção de plantas
apresenta um desenvolvimento desequilibrado e que é urgente tomar
medidas que melhorem o engrossamento das mesmas (diminuir
o ensombramento, melhorar a fertilização verificar a periodicidade
da rega).
Como referencial de controlo para o viveirista aconselha-se o uso
da relação:
Quanto mais elevada for a percentagem de plântulas que se enquadrem
nesta norma mais acertadas terão sido as técnicas utilizadas no viveiro.
Como definir amostras para o controlo de qualidade das plantas
Para apreciar a qualidade das plantas que temos no viveiro não
necessitamos de despender muito tempo nem de recorrer a equipamento
especial. Quando as plantas tiverem cerca de 15 cm de altura, escolha
pelo menos 20 unidades de cada espécie para inspecção. É importante
que a escolha se faça ao acaso e que sejam recolhidas plantas de todos
os canteiros. Escolha duas plantas na extremidade de cada canteiro
e uma no centro. Examine cada planta com atenção. 16 plantas em
cada 20 devem ter as características que se apresentaram. Caso contrário
é urgente introduzir correcções que satisfaçam as necessidades
de qualidade anunciadas.
Uma boa prática viveirista é a de sacrificar algumas plantas para
melhorar a qualidade da produção global do viveiro. Siga como guia
o quadro que se apresenta:
Quadro 1 - Problemas comuns na prática viveirista e procedimentos
correctores
15
H (cm)
8,1= média mínima do diâmetro do colo (mm) Problema
Raízes com nós ou torcidas causadaspor uma má repicagem
Raízes enroladas no fundo do saco
Raízes penetrando no solo debaixodo saco
Plantas múltiplas por saco
Plantas com vários troncos
Doenças ou insectos
Folhas amarelas ou brancas oufolhas com as nervuras com corverde acinzentado ou violetas e compontos ligeiros no meio
Grande variação de tamanho entreas plantas repicadas na mesma altura
Crescimento abaixo do normal paraa espécie
Solução
Eliminar imediatamente as plantas.Proceder a uma repicagem correcta.
Cortar as raízes com uma tesourade poda bem afiada. Transferirrapidamente as plantas paraa plantação. Considerar talveza utilização de tubetes ou, antesda repicagem, usar Spin Out®.
Levantar os sacos e cortar as raízesfrequentemente. Considerar napróxima campanha o uso de tubetes.
Retirar rapidamente as plantasinúteis mesmo que o seu númeropossa ser considerado grande.
Eliminar as plantas. A causa podeser a má qualidade genética dossementões.
Isolar e queimar todas as plantasafectadas. Desenvolver um plano degestão de doenças e insectos.
Fertilizar as plantas ou utilizar umsubstrato mais rico.
Inspeccionar os canteiros paraencontrar as possíveis causas ligadaspor exemplo, a um ensombramentoou rega irregular.
Ajustar a iluminação ou utilizar umsubstrato melhor.
Uma regra de ouro do viveirista - Guarde o melhor e desfaça-se
do resto
Em termos da gestão do viveiro um bom aferidor da boa aplicação
das técnicas de produção de plantas e dos cuidados com a qualidade
da semente é o uso do indicador “eficiência da semente”. Os avanços
na prática de manejo do viveiro estão directamente relacionados com
a qualidade das sementes utilizadas e das técnicas de produção
das plantas. As sementes provenientes de povoamentos clonais são
mais caras do que as outras colhidas directamente de povoamentos
mas a experiência tem mostrado que apresentam muito melhor
desempenho em termos de sobrevivência em povoamento e crescimento.
Quer isto dizer que as técnicas a usar no viveiro têm de ser aprimoradas
por forma a rentabilizar o custo mais elevado da aquisição de semente.
A eficiência das sementes, expressa em percentagem, define-se como
a relação entre o número de plântulas aceitáveis no viveiro por ocasião
da plantação e o número de sementes vivas (aptas a germinar, após
teste de laboratório) colocadas no canteiro ou alfobre para germinação.
Tipo de Viveiro
A primeira diferenciação resulta do tipo de planta que constitui
o objectivo principal do viveiro e do tipo de permanência previsto para
a sua função. Quanto ao tipo de planta tem-se fundamentalmente:
O viveiro florestal produz árvores florestais de usos diversificados.
Ex: Eucalipto, Pinheiro, Cupressos, Grevilea;
O viveiro frutícola produz árvores fruteiras. Ex: Laranjeira, Tange-
rineira, Abacateiro
Segundo o tempo de permanência da actividade de produção de plantas
num determinado viveiro este pode ser do tipo temporário ou perma-
nente.
Viveiro temporário
Diz-se daquele que é estabelecido para o fornecimento de plantas num
curto intervalo de tempo, normalmente até ter abastecido de plantas
uma pequena área que se pretende arborizar.
Permite a produção durante um certo tempo de plantas, normalmente
de rápido crescimento e normalmente com a utilização de vasos
ou sacos. Ex: Eucaliptos, pinheiros, cupressus, etc
Nas aldeias mais afastadas dos centros populacionais faz mais sentido
fomentar os pequenos viveiros comunitários (Figura 4), uma vez que
se poupa dinheiro no transporte de plantas; consegue-se efectuar
a plantação como menos riscos que o transporte (pode causar danos
nas raízes e secagem das plantas); a sua instalação é muito versátil
e facilmente adaptável às condições locais de terreno e de dimensão;
fomenta-se de forma mais efectiva o interesse e envolvimento
da população pela plantação de árvores; criam-se novas actividades
produtivas. A principal desvantagem é que o sucesso de uma boa
produção de plantas requer uma boa cobertura em extensão florestal
e boa preparação técnica.
Viveiro permanente
Diz-se daquele que é montado com carácter permanente e para
abastecimento de plantas a uma grande região. As plantas são produzidas
quer em vaso quer em plena terra. Ex: Eucalipto, pinheiro, plantas
frutícolas enxertadas.
16
Eficiência da Semente (%) = x100Nº de plântulas aceitáveis produzidas
Nº de sementes vivas semeadas
Fig. 4 e 5 - Alguns modelos que os pequenos viveiros comunitários podem
assumir conforme as condições locais (Guiné-Conacri)
2.3 Métodos de produção
Produção de plantas de raiz nua
Trata-se de produzir plantas directamente na terra sem recurso a vasos
ou recipientes (sacos, alvéolos, etc.). Embora esta opção pareça a mais
fácil, aparentemente mais natural e mais simples para o transporte,
apresenta, no caso das plantações tropicais (pelo menos nas
pequenas/médias operações de florestação), desvantagens
que aconselham que esta escolha seja bem ponderada. Na escolha
do método de produção, os responsáveis pelos viveiros devem nortear
a sua decisão sempre pela consideração do que é melhor para as plantas.
Em zonas temperadas ou de temperaturas que desçam abaixo de zero
durante o inverno, a produção de plantas directamente na terra dos
canteiros (produção de raiz nua) apresenta algumas vantagens para um
certo número de plantas porque as raízes durante esse tempo
permanecem dormentes (param de crescer) durante vários meses. Estas
plantas são normalmente de folha caduca. Nestes casos as plantas
depois de retiradas do solo no período de dormência são conservadas
em câmaras frias e enviadas para plantação antes que comecem
a crescer activamente. Reduz-se assim substancialmente o choque
de plantação.
Nos trópicos, a produção de plantas directamente nos canteiros é por
vezes utilizada para folhosas duras (girassonde, mogno, mussibi, terminalia,
etc). Estas espécies não permanecem dormentes durante a época fria
(cacimbo) mas têm a capacidade de conservar no tronco bastante água,
elementos nutritivos e reservas para continuar a crescer mesmo depois
de terem perdido parte do sistema radicular quando são tiradas
da terra. Estas espécies não são, contudo, espécies que sejam
ecologicamente propícias ao Planalto Central Angolano.
Um outro problema importante com este método de produção
é a manutenção da fertilidade do solo após alguns ciclos de produção.
17
A produção continuada das plantas no mesmo solo, tal como sucede
com todas as culturas, faz com que a fertilidade fique cada vez menor
e que as plântulas se tornem progressivamente mais pequenas e fracas.
O seu arranque e transporte, acarretando a morte de raízes (não só
pelo arranque mas pela sua exposição ao ar) representa um acréscimo
de mortalidade na plantação induzindo a um duplo prejuízo: aumento
no trabalho de retanchas, aumento dos custos de transporte
e de produção de mais plantas.
Quadro 2 - Vantagens e desvantagens da produção de plântulas
de raiz nua
Assim, este método de produção só deve ser utilizado quando se tiver
área disponível de boa dimensão para que se possa fazer rotação
de enriquecimento de nutrientes dos plantórios e se as condições
de logística quanto a transportes e calendarização das plantações
estiverem suficientemente garantidas.
Boas práticas de produção de plantas de raiz nua:
Semear as sementes com uma densidade baixa (< 200 plantas/m2)
para reduzir a competição pela água, luz e elementos nutritivos.
A sementeira deve ser feita de forma alinhada para facilitar as restantes
operações de manutenção;
Utilizar uma pá direita e cortante para ir traçando linhas
de delimitação do sistema radicular das plantas. As raízes que são
cortadas regeneram naturalmente favorecendo o desenvolvimento
de raízes laterais;
Utilizar um composto, estrume ou adubação adequada à compo-
sição do solo para ir mantendo o fundo de fertilidade do mesmo
durante a estação de crescimento;
Plantar uma cultura de cobertura leguminosa ou incorporar uma
adubação verde durante o período de pousio;
Permitir que os plantórios de produção de plantas de raiz nua
entrem em pousio durante uma ou mais estações de crescimento
para recompor a fertilidade e evitar o desenvolvimento de doenças
radiculares;
Depois de desenterrar as plantas colocá-las numa mistura líquida
de lama e estrume;
Envolver as plantas em papel de jornal molhado ou em sacos
de juta;
Guardar as plantas à sombra e em lugar abrigado dos ventos
durante todo o tempo de transporte;
Plantar sem delongas as plantas e somente com a terra bem
molhada;
Assegurar-se que as covas estão bem dimensionadas por forma
a que as raízes fiquem verticais quando se tapar a cova.
Más práticas a evitar:
Semear as sementes com densidades elevadas;
Permitir que as raízes cresçam profundamente nos plantórios;
Produzir plantas no mesmo canteiro em anos seguidos sem
aprovisionamento da fertilidade do solo;
Deixar os canteiros sem vegetação quando não estão em produção
(a insolação directa sobre a terra não protegida irá mineralizar
a matéria orgânica tornando o solo ainda mais pobre);
Não assegurar uma monda cuidada do plantório;18
Vantagens da produção de raiz nua
Transporte mais fácil sobre o terrenode plantação
As covas de plantação são maispequenas em comparação com asde saco
Custos de produção mais baixosporque não existe compra derecipientes e não é necessário fazersubstrato para as plantas
Desvantagens da produção de raiznua
Maior competição pela luz, águae nutrientes entre as plântulas
Esgotamento dos nutrientes nosplantórios
Crescimento inicial lento no terreno
Mortalidade elevada nos plantóriose pós plantação
No levantamento das plantas rebentar demasiadas raízes
ou estragá-las destruindo a camada protectora externa;
Permitir às raízes e às folhas secarem ou ficarem demasiado quentes
durante o arranque;
Plantar em solos demasiado secos;
Colocar as plantas em covas demasiado pequenas para conter
as raízes em boa posição ou deixar que as mesmas fiquem curvadas
ou torcidas.
O uso deste método de produção é aconselhável para a produção
de talões. Esta designação é usada para plantas de raiz nua produzidas
em viveiro com idades à volta dos 18 meses e que têm entre 1,5
a 2 m de altura com um diâmetro de colo com cerca de 2,5 cm. Antes
da plantação, estas plantas sofrem uma poda severa da raiz que fica
com cerca de 15 cm e de 5-7 cm para o caule, justamente antes
da plantação. Encontram-se neste categoria de método de produção
plantas como a gmelina ( ), a teca ( ),
a cordia ( ) mas que não farão parte das espécies que
o projecto irá utilizar.
Produção de plantas em recipientes
Os sacos de plástico são ainda correntemente utilizados na prática
viveirista nos trópicos. O facto de serem relativamente baratos e quase
sempre facilmente disponíveis é ainda a grande razão do seu uso
generalizado. Os sacos apresentam-se sob tamanhos diversos, alguns
com pregas para ajudar a que fiquem verticais e, frequentemente,
aparecem no mercado já perfurados para garantir um bom arejamento
e drenagem. Contudo, um sério problema com os sacos de plástico
ocorre quando as raízes atingem as suas paredes, começando a enrolar
em espiral e causando deformações que comprometem o futuro da
futura árvore se as plântulas forem plantadas. Não se deve também
esquecer que, se a permanência no viveiro for prolongada, por mau
planeamento da actividade do viveiro, as raízes começam a sair pelos
furos de drenagem requerendo que se faça, em tempo útil, uma poda
radicular.Como boas práticas na produção de plantas em sacos, a ser
tidas em atenção pelo viveirista, aponta-se:
A utilização de sacos pequenos com um substrato rico (boa
percentagem de matéria orgânica, leve e permeável). O uso de sacos
pequenos tem a vantagem de exigir menores quantidades de substrato
e uma vez que são leves são mais facilmente transportáveis no terreno
de plantação.
São consideradas más práticas:
A utilização de sacos grandes (estes só devem ser utilizados em
árvores de fruto);
Pouco cuidado na preparação do substrato e na sua qualidade,
física e química;
Enchimento descuidado, deixando demasiados espaços no seu
interior.
Para além dos sacos de plástico existem, no entanto, outros recipientes
que vêm ganhando campo na actividade viveirista porque apresentam
vantagens em termos da qualidade das plantas produzidas, bem como
em termos da economia da manipulação das plantas e da sua maior
qualidade, traduzida em melhores taxas de sobrevivência. Entre estes
salientam-se os tubetes, e os tabuleiros ou alvéolos. Estes recipientes
apresentam-se sobe diversas formas e tamanhos (Figura 6).
Fig. 6 - Exemplo de recipientes usados na produção de plantas florestais
19
Todos estes recipientes têm uma característica comum:
Ranhuras verticais no seu interior;
Um bom furo no fundo.
As ranhuras verticais destinam-se a guiarem verticalmente as raízes
à medida que crescem, evitando o enrolamento e deformações como
sucede tendencialmente com os sacos. O furo no fundo destina-se
a favorecer a poda da raiz aprofundante, facilitando o desenvolvimento
das raízes laterais secundárias (Figura 7), o que é uma garantia de melhor
adaptação da planta após plantação.
Fig. 7 - Distribuição do sistema radicular no interior de um alvéolo
Este tipo de recipientes apresenta ainda a vantagem de permitir
a colocação em estrados ou armações elevadas, o que facilita
as diferentes operações culturais, um enchimento mais rápido e, pelo
seu posicionamento ser mais ergonómico, aumenta a produtividade
do trabalho. Acresce ainda que a sua durabilidade, contrariamente
ao que sucede com os sacos, é da ordem dos 6-8 anos, característica
esta que suplanta claramente a aparente desvantagem de serem mais
caros. O seu transporte para o terreno é também mais fácil em
comparação com os sacos de plástico.
Novos recipientes e técnicas melhoradas
Se bem que nesta fase de arranque da actividade viveirista no Município
de Ecunha não se advogue a sua introdução generalizada, pelo menos
até que a experiência da gestão viveirista esteja mais bem consolidada
e profissionalizada, considera-se útil que os técnicos comecem a preparar-
se para a fase que se deve seguir com a implementação de técnicas
mais avançadas.
Spin-Out® é um hidróxido de cobre que pode ser aplicado no interior
dos sacos de plástico. Para além do seu efeito fúngico, o mais importante
para a sua aplicação é que sendo um inibidor do crescimento das raízes,
leva a que estas parem o crescimento ao atingirem a parede não
se enrolando e dando margem para o desenvolvimento de outras raízes.
Fica assim favorecida a absorção de nutrientes e de água. Esta é uma
inovação que será introduzida no viveiro desde a fase de arranque.
Os Jiff Pellets® são pequenos recipientes em forma de copo com
dimensões entre os 2 e os 4 cm de largura, que contêm turfa prensada,
enriquecida com nutrientes e envolta numa tela fina biodegradável.
Estes recipientes são ao mesmo tempo substratos, existindo já experiência
no seu uso em todo o mundo nas grandes plantações industriais. Sendo
as dimensões bastante pequenas, o regime de aplicação de fertilização
mineral devidamente ajustada às exigências de cada espécie é uma
condição imperativa para o sucesso do seu uso. Com este sistema,
20
que não exige canteiros nem preparação de substratos economiza-se
tempo, mão-de-obra e tempo gasto com transportes. São no entanto
muito mais exigentes em termos de gestão e técnica de fertilização
de plantas.
Em resumo, ao escolher o recipiente a usar tenha em atenção
as vantagens e inconvenientes de cada método de produção de plantas
e pondere os respectivos custos e benefícios.
2.4 Onde instalar o viveiro
Com a ajuda das autoridades das povoações e da população procurar-
se-á encontrar o terreno ideal para o viveiro. A escolha do local para
o viveiro deve ser efectuada com especial cuidado e deve ser dada
particular atenção aos seguintes factores:
Quadro 3 - Vantagens e inconvenientes dos diferentes tipos
de recipientes
21
Tipo de recipiente
Sacos de plástico
Mangas de plástico
Alvéolos ou tubetes
Jiffy Pots®
Características
Produzidos em polietileno negro
Produzido em polietileno negroou claro. Aparecem no mercadoem manga contínua e ficam abertosdos 2 lados
Recipientes rígidos com sulcosverticais internos
Produzidos a partir de turfacomprimida
Vantagens
Drenagem é fácil se devidamenteperfurados; mais baratos e com maiorpossibilidade de fabrico local.
São baratos e com possibilidadede fabrico local.
- Furo grande no fundo que faz comque haja uma paragem do cresci-mento da raiz principal como se setratasse de uma poda radicular;- Pode ser utilizado 6-8 vezes;
- Os sulcos verticais orientamas raízes verticalmente impedindoque se enrolem ou torçam;
- Extracção das plantas feitas de formafácil.
- As raízes penetram rapidamenteno material;
- Plantação fácil juntamente como recipiente o que aumenta a inten-sidade da retancha.
Desvantagens
- Só utilizáveis uma vez;- Podem provocar deformações eenrolamentos nas raízes.
- O enchimento é difícil e a suaarrumação nos canteiros é demoradapelo risco de deixar cair o substrato;- Durante o manuseio para transportee localização nos locais de plantaçãoexistem riscos de degradaçãodo sistema radicular.
- Exigem quadros viveiristasexperientes;
- As raízes podem ser danificadas nocurso da manipulação da suaextracção.
- Exige um boa gestão do viveiroe técnicos experimentados;
- Suporte especializado para controloda fertilização que deve ser específicapara cada espécie.
canteiros
declive original
Uso anterior da área
Para instalação em locais novos, a área deverá ser examinada com
cuidado, evitando tanto quanto possível locais onde a agricultura tenha
vindo a ser praticada durante vários anos, principalmente em solos
pobres como são comuns os solos do distrito do Huambo. Este tipo
de solo apresenta fundos de fertilidade muito baixos e incorre-se em
maiores riscos da presença de ervas daninhas e mesmo de nemátodos
e fungos nocivos no solo.
Água
Condição principal para a escolha do local da instalação do viveiro.
Escolher um terreno próximo de um ponto de água que não seque
durante a estação seca. Tenha em atenção que a água deve ser doce,
limpa e que não esteja contaminada com esgotos ou provenha de locais
de permanência de gado.
Condições ambientais
Devem evitar-se locais em vales ou baixas sujeitas a geada no período
do “cacimbo” como sucede em certas baixas nas regiões do “Planalto
Central”.
Acessibilidade
E preferível instalar o viveiro próximo da área que vai ser plantada. Caso
não seja possível, o viveiro deve ser localizado próximo de uma estrada.
Assim poder-se-ão transportar as plântulas do viveiro para o terreno
da plantação de forma mais fácil e económica. Tanto quanto possível,
o viveiro deve estar localizado num local que a população possa
frequentar. Assim estará a contribuir-se para a transmissão dos conheci-
mentos a todos os membros da comunidade.
Declive
O terreno deve ser plano. Uma ligeira inclinação permite uma boa
drenagem (penetração e circulação da água no solo). O solo não deve
ficar inundado na estação das chuvas, uma vez que a água matará por
asfixia todas as plantas. Se ocorrerem situações em que não haja
disponibilidade de um terreno com a dimensão e topografia pretendida
e se tiver de adoptar por uma área que apresenta um certo declive,
a solução é efectuar um testamento satisfazendo as condições de ligeiro
declive já mencionadas sem esquecer de dispor umas manilhas para
escoamento de água para evitar a destruição do talude. Os taludes
devem ser revestidos de uma cobertura viva escolhida de acordo com
a clima da região.
Fig. 8 - Esquema de terraceamento para o caso dos terrenos com declive
Orientação
Deve ser escolhido um local ensolarado. Se, como por vezes sucede,
durante um certo período do seu crescimento as plantas necessitarem
de sombreamento, far-se-á uma estrutura temporária ou permanente
de ensombramento (Figuras 19 e 20). Apenas as espécies umbrófilas
exigem protecção contra a luz solar. Os raios solares concorrem para
a rustificação dos tecidos das plântulas tornando-as mais fortes
e resistentes na altura da plantação.
22
Terra
Se a terra do local do viveiro não for boa (com calhaus, solo pouco
profundo, demasiado seco ou demasiado argiloso) é necessário transportar
terra de outros locais e incorporar estrume.
Se for muito pesada (argilosa) é necessário misturá-la com areia para
ficar mais leve e permeável à água e raízes.
Devem ser evitados solos de cor vermelha carregada e solos inundáveis,
cinzentos-escuros, das faixas alagadiças. Preferivelmente devem ser
escolhidos solos frescos de cor parda. Um bom substrato para a produção
de plantas deve conter partículas de diferentes tamanhos para permitir
que o ar e a água penetrem facilmente.
Uma regra simples para um substrato equilibrado (por m3 de substrato) é:
Terriço vegetal - 50%
Terra franco argilosa - 20%
Estrume bem curtido - 29%
Nitrofoska (12-24-12) - 5,0kg
Se as plantas começarem a apresentar sintomas de carências (veja
nutrição das plantas) naturalmente deverá solicitar apoio especializado.
2.5 Como proteger o viveiro
Tanto os animais domésticos (galinhas, cabras, porcos) como
os selvagens (toupeiras, ...) são a causa de inúmeros prejuízos num
viveiro. É por isso que a existência de uma vedação é muito importante.
Para a executar deve ser utilizado, tanto quanto possível, material local.
Na disposição que der à vedação e à sua robustez, tenha em consideração
o tamanho dos inimigos de que pretende defender o viveiro. Os suportes
devem ser sólidos. Pode utilizar-se bambu, postes de madeira de eucalipto,
esteiras de cana vieira entrelaçados. Pode utilizar-se também uma
vedação viva de espécies espinhosas como os cactos, l
ou a . No viveiro, particularmente em locais
sujeitos a ventos fortes e quase sempre secos como sucede no Planalto
Central, é fundamental também pensar-se em plantar fora da vedação
propriamente dita uma cortina de abrigo. Será importante para a boa
formação das plantas como também para manter um bom nível
de humidade nas mesmas. Não vale a pena fazer um viveiro se não se
procede, desde o início, à sua vedação correcta.
Vigilância
O viveiro deve estar situado num local onde seja possível vigilância
frequente.
Fig. 9 - Formas simples de protecção do viveiro com materiais locais
2.6 Como montar o viveiro
Limpeza - o terreno deve ser completamente limpo de ervas, arbustos
e pedras.
Nivelamento - se o terreno for inclinado deve ser nivelado em terraços
sucessivos que seguem as curvas de nível com valas de drenagem entre
os terraços, traçadas perpendicularmente à inclinação.
23
24
Os canteiros
Forma - os canteiros devem ser traçados segundo formas geométricas,
quase sempre rectangulares, onde se fazem crescer as plântulas,
dispostas normalmente de uma forma ordenada por espécies. Os
canteiros podem ser delimitados com tábuas, blocos, pedras, bambu
ou corda. Devem ser utilizados preferencialmente materiais locais.
Tipos - Os canteiros podem ser de diferentes tipos:
canteiros de germinação (alfobres ou seminários);
canteiros de produção (plantórios):
em terra (plantas de raiz nua)
em sacos
Fig. 10 - Exemplos de limitação de canteiros com material local
Os canteiros de produção podem ser:
1 Mais elevados que o nível do solo (15 a 25 cm). Quando o terreno
é húmido ou quando há riscos de encharcamento depois das chuvadas.
2 Ao nível do solo ou mais baixo que o nível do solo (10 cm). Quando
o solo é seco e arenoso para economia da água de rega.
Largura - 0,8 m até 1,2 m. Para um viveiro escolar aconselha-se
a menor dimensão. Nos canteiros mais largos, torna-se difícil regar
as plantas, realizar-se a repicagem no meio do canteiro, assim como
a monda.
Comprimento - pouco relevante
1 canteiro = 1 espécie
1 método cultural (ou raízes nuas ou em vasos)
Fig. 11 - Terraceamento e drenagem do viveiro para evitar a erosão
Caminho - Entre cada canteiro deve ser feito um caminho para permitir
uma circulação fácil e um espaço confortável para trabalhar nos canteiros.
Use entre 0,5 m a 0,8 m de largura (se não houver problemas de espaço
esta última é a preferível).
Fig. 12 - Camas de plantação mais baixas que o nível do solo
Orientação - Os canteiros serão orientados, caso possível pela topografia,
no sentido Este-Oeste para diminuir as superfícies expostas aos raios
do sol ao nascente ou poente.
Preparação dos canteiros para produção em plena terra
Com a enxada ou com grade deve ser lavrada a terra de cada canteiro
com uma profundidade mínima de 20 cm. Quebre os torrões para
tornar a terra fina e fofa. Se a terra for pesada tem de misturar terra
vegetal e terra franca. É aconselhável que nesta terra e por cada m3
de terra junte fertilizante (em termos genéricos aconselha-se juntar
5,0 kg de adubo (Nitrofoska 12-24-12). Assim, as raízes das plantas
podem desenvolver-se bastante bem. Ponha estrume ou terra rica em
matéria orgânica e misture-a bem com a terra do canteiro. Regue cada
canteiro pela manhã e pelo fim da tarde durante dois dias. Ao terceiro
dia faça uma mobilização superficial ligeira e regue antes de semear.
Fig. 13 - Exemplos de disposição de canteiros do plantório e espécies no viveiro
(sem escala na representação das distancias)
Preparação dos vasos
Há vários tipos de vasos: sacos de plástico, em terra prensada (torrão,
não é aconselhável uma vez que é pesado, esboroa-se facilmente durante
o transporte e tende a deformar as raízes), em folha de bananeira,
em papel. Os sacos de plástico (10 cm de boca e 18 cm de comprimento
para as espécies florestais; 15 cm de boca e 20 cm de comprimento
para as fruteiras) devem ser furados nos lados da parte média e pelo
menos um furo na parte inferior para que a água possa escoar.
Enchimento
Para encher os sacos de plástico deve ser utilizada uma lata de conserva
aberta usada ou um funil de bico bastante largo que se ajusta à boca
do saco que vai sendo alimentado por uma pequena pá.
Enche-se o saco de terra seca até à borda. Assegure-se de que o saco
está cuidadosamente cheio por forma a que não ocorram bolhas de ar
que poderão provocar a secagem das raízes.
Fig. 14 - Funil e pá para enchimento dos recipientes
25
N
S
O E
eucaliptos
5m1m
5m
mangueiras
0,8 a 1,2m
pinheiros patula
cupressus
poço
larangeiras
limoreiros
0,8 a 1,2m
em plena terra
produção
em vasos
26
Fig. 15 - Se os sacos não estão cuidadosamente cheios ocorrem bolsas no seu
interior
Preparação da terra
A terra a ser utilizada para o crescimento das plantas deve ser de boa
qualidade, textura franco-arenosa ou franca e fértil. Tome uma amostra
de terra, molhe-a e se a mistura enrolar na sua mão é porque contém
muita argila e deve ser corrigida com terra arenosa ou areia.
Deve utilizar-se para o viveiro a camada superficial do solo e escolhida
terra de uma área florestal e não a dos campos nus. Utilize um solo
leve com alguma areia. Se as plantas vão ser plantadas directamente
no canteiro para produção em plena terra, a terra deverá ser profunda
(no mínimo 1,5 m) para assegurar uma boa penetração das raízes
e limitar os riscos de asfixia radicular durante a estação chuvosa.
Mistura de terras
Fazer uma mistura destas três componentes:
6 partes de terra fina;
3 partes de terra arenosa ou franca;
1 parte de estrume.
Conforme as características do solo da zona onde se vai implantar
o viveiro e se houver dificuldade no transporte de terras para a preparação
do substrato pode ser seguida a seguinte orientação:
Terra Areia Composto
Solos argilosos 1 2 2
Solos francos 1 1 1
Solos arenosos 1 0 1
Não se esqueça de juntar fungos ou bactérias úteis ao solo (micorrizas).
A forma mais rápida e económica de o fazer é trazer alguns sacos
de terra vegetal rapada de povoamentos bem estabelecidos das espécies
com que se vai trabalhar. No caso das plantações com eucaliptos,
pinheiro patula casuarinas, uma boa forma é a de ir a povoamentos
antigos que não apresentem vestígios de fogos e trazer para o viveiro
alguns sacos com terra superficial desses povoamentos para misturar
com os substratos em preparação.
As condições dos solos onde se vai instalar um viveiro, nomeadamente
os antecedentes do uso da terra, podem justificar a utilização de outras
misturas obtidas de especialistas ou viveiristas. Entre estas condições
estão os solos onde as culturas foram frequentes e esgotantes, solos
frequentemente sujeitos a queimadas, solos ferralíticos no topo
da catena e de cor bastante vermelha (denunciando matéria orgânica
praticamente inexistente) e dificuldade de arranjar adubos. Em certas
áreas dos trópicos nomeadamente no Brasil, país com uma forte
experiência na produção de plântulas florestais principalmente
de eucaliptos e pinheiros para plantações, é corrente o uso das seguintes
misturas para a produção de substratos:
25% de carvão de casca de arroz;
25 de vermiculite fina;
24% de turfa ou terra vegetal bem curtida;
1% de solo vermelho.
bolsas de ar
27
A este substrato acrescentam, por cada m3 de substrato:
Sulfato de amónio - 80g;
Cloreto de potássio - 200g
Superfosfato simples - 4 kg
FTE BR 10 (produto comercial para garantir os micronutrientes)
Idealmente, se houver serviços técnicos de apoio à silvicultura
ou agricultura, deve-se solicitar uma análise do solo que vai ser utilizado
como substrato para ser verificada a necessidade de adubação
suplementar e correcção, nomeadamente do pH, obtendo-se assim
resultados mais satisfatórios no viveiro. Considera-se que toda
a adubação e correcção excessiva, além de anti-económica, se torna
prejudicial devido ao efeito negativo sobre as plântulas. Quanto
à adubação pode-se considerar que seja efectuada posteriormente,
em época oportuna, inclusive com o adicionamento de matéria orgânica.
Em termos indicativos transcrevem-se as necessidades nutritivas dos
principais nutrientes para eucaliptos e pinheiros, que serão as principais
espécies que o projecto vai produzir e disseminar, bem como
a composição dos principais nutrientes existentes nos estrumes dos
diferentes animais domésticos. Esta informação pode ser útil ao viveirista
para suprir a falta de adubos no mercado quando está a preparar
os substratos ou para resolver problemas pontuais de manifestação
de carências nutricionais nas plântulas.
Quadro 4 - Exigências nutritivas médias do solo para a produção
viveirista de eucaliptos e pinheiros
Quadro 5 - Teores médios aproximados de nutrientes no estrume
proviniente de vários animais
Elemento
P
K
Ca
Mg
Mn
Cu
Zn
B
Min.
25
8
20
3
5
1
1,5
0,3
Min.
200
200
20
30
5
Min.
25
10
40
3,5
5
1
1,5
0,5
Min.
200
200
20
30
5
Pinheiros Eucaliptos
Estrume
Vaca
Cabra/Ovelha
Porco
Galinhas
Cavalo
Azoto
(%)
0,35
0,5-0,8
0,55
1,7
0,3-0,6
Ácido fosfórico
(%)
0,2
0,2-0,6
0,4-0,75
1,6
0,3
Azoto
(%)
0,1-0,5
0,3-0,7
0,1-0,5
0,6-1
0,5
A qualidade de um substrato é determinada pelas características físicas
como uma boa drenagem e das características químicas, como um teor
elevado de nutrientes. Um bom substrato para um viveiro é ligeiro,
retém a água mas não fica empapado e não possui ervas infestantes
ou parasitas ou doenças nocivas às futuras plântulas. A matéria orgânica
incorporada é um tesouro valioso porque ajuda a estrutura física
e proporciona nutrientes e ajuda a retê-los sem deixar que sejam
arrastados para fora da terra.
Como boas práticas na preparação de substratos para viveiros florestais
retenha:
É necessário que o substrato para o crescimento das plantas tenha
boas características físicas e químicas e que estas são obtidas por
misturas convenientes de terra e de matéria orgânica (estrume
ou composto bem curtidos);
A junção de micorrizas, ou rizóbium para o caso das leguminosas,
é essencial para garantir um bom desenvolvimento das plântulas
e uma boa sobrevivência após plantação;
Planeie a preparação do composto ou do estrume bastante antes
da data de início da preparação do substrato;
Guarde o composto ou o estrume bem arejado e húmido todo
o tempo.
Evite sempre as más práticas, embora corrente em alguns locais, de:
Queimar a matéria orgânica que se junta ao substrato;
Se usar composto produzido no viveiro nunca junte aos materiais
para fabrico do composto matérias inertes como vidro, plásticos
ou carne de animais.
Peneiramento
A terra utilizada para enchimento dos sacos deve ser peneirada
se contiver calhaus, pedras e sujidades. Utilize uma malha de 0,5 cm.
Fig. 16 - Modelos de peneiras para preparação dos substratos
Encanteiramento
Coloque os sacos bem encostados uns aos outros por forma a formar
um canteiro. Coloque 10 sacos no sentido da largura (nº máximo para
sacos de 10cm de boca) o que perfaz entre 0,8 e 1,0 m. Mantenha
os sacos bem verticais. Para os manter, delimite o canteiro com tábuas,
tijolos, bambu ou pedras.
Fig. 17 - A. bom desenvolvimento das raízes nos sacos arrumados verticalmente;
B. deformação das raízes nos sacos mal arrumados
28
29
Fig. 18 - Preparação e enchimento de sacos num pequeno viveiro comunitário
(Guiné-Conacri)
Sombreamento
As plântulas jovens e frágeis da maioria das espécies precisam de sombra
contra o sol quente, principalmente na altura da germinação.
Cobertura
A cobertura protege igualmente as plantas contra o excesso
de evaporação, a chuva forte, o frio nocturno, o vento, etc.
Se se tratar de um pequeno viveiro comunitário a nível de aldeia faça
a cobertura a partir de materiais locais (palha de gramíneas tecida,
folhas de palmeira, bambu, etc.). Para viveiros de maior dimensão haverá
vantagem de efectuar o sombreamento com tela (filtragem da insolação
- 50%) que possibilita um manuseamento mais fácil e de menor
consumo de mão-de-obra. A cobertura será mais ou menos densa
deixando passar uma luz filtrada.
Fig. 19 - Exemplos de sombreamento com tela de sombreamento suportada
por postes de bambu
Conforme for a necessidade de protecção deve ter em atenção que
se o viveiro estiver demasiado sombreado as plantas ficarão fracas
e amareladas. A cobertura deve ser móvel. A estrutura de suporte pode
ser fixa mas o tecto móvel. Não se retira definitivamente a cobertura
duma vez, mas progressiva-mente para adaptar as plantas ao novo
regime de luz.
A princípio tire o sombreamento uma hora ou duas por dia, de manhã
cedo, ou à tarde quando o sol está baixo e pouco quente. Gradualmente
aumente o período de exposição ao sol até retirar completamente
a cobertura.
tela móvelde sombreamento
Fig. 20 - Exemplos de formas de sombreamento com materiais locais
Altura
Deve ser tal que permita os cuidados culturais das plantas e um bom
arejamento, nunca sendo inferior a 80 cm. Em viveiros de maior dimensão
a altura deve possibilitar a deslocação de um homem sob coberto.
2.7 Os alfobres
Os alfobres são utilizados de acordo com o tipo de árvores que se quer
produzir, disponibilidade de mão-de-obra e disponibilidade e custo das
sementes. Lembremo-nos que a semente certificada tem um custo
elevado. Há por outro lado sementes gradas com sistema radicular
muito sensível que tornam aconselhável a sementeira directa. Já para
os eucaliptos, pinheiros, casuarinas e muitas outras, a utilização
do alfobre é a prática mais aconselhável.
Como regra pode dizer-se que os alfobres devem ser utilizados para
que se possa:
Escolher plantas de dimensão e desenvolvimento uniforme para
a transplantação. Quando a germinação dos grãos é muito heterogénea
as plantas devem ser repicadas constituindo dois grupos da mesma
idade;
Evitar desperdiçar recursos, uma vez que se pode evitar todo
o trabalho de enchimento e sementeira em sacos, quando a germinação
for lenta ou desconhecida a viabilidade germinativa da semente;
Ganhar tempo no desenvolvimento das plantas que vamos plantar,
se existir um atraso no enchimento dos sacos ou tubetes.
De qualquer forma há que garantir que:
As raízes não sofram deformações no acto de repicagem;
As plantas não sejam deixadas muito tempo no alfobre sob pena
do sistema radicular sofrer prejuízos significativos por já estar muito
desenvolvido. Muitas plantas sofrem um choque quando são repicadas
principalmente com repicagens tardias;
Existe pessoal com experiência na repicagem, sem o que a taxa
de sucesso pode ser muito baixa.
Tipos de alfobres
Há dois tipos de alfobres: alfobres temporários e alfobres permanentes.
Os alfobres temporários, em pequenos viveiros, podem ser realizados
com folhas de jornal ou sacos de juta com uma mistura de areia e terra
leve. A germinação em sacos de jornal ou material semelhante
torna-se vantajosa porque se vê imediatamente a germinação,
procedendo-se de imediato à repicagem quando se começa a diferenciar
a raiz aprofundante. Se bem que a prática não seja consensual, entendeu-
se que mesmo para os pequenos viveiros comunitários há formas
de fazer alfobres baratos (veja-se figura 21) e que as vantagens do seu
uso é extensiva a estes.
30
Fig. 21 - Exemplo de um pequeno alfobre feito em caixa de madeira num
pequeno viveiro comunitário (Guiné-Bissau)
Os alfobres permanentes são comummente construídos com blocos
de cimento com 1 m de altura e de 1 a 2 m de largura para conforto
e eficácia dos trabalhadores. É também possível ter tabuleiros construídos
de madeira ou metal com fundo de tela fina para permitir uma boa
drenagem e arejamento. Estes tabuleiros são postos sobre suportes
e oferecem algumas vantagens quanto à manipulação e quantidade
de substrato bem como de flexibilidade de movimentação. No caso
dos alfobres em cimento eles são cheios com uma primeira camada
de calhaus e depois de terra e areia.
Como semear no alfobre
Preparados os alfobres, estes devem ser bem regados com um regador
de crivo fino até que o substrato esteja embebido. Seguidamente,
e para sementes muito pequenas como as dos eucaliptos, mistura-se
a semente com areia ou terra muito fina, para facilitar a sua regular
distribuição. Espalha-se 2,5 a 3 gr de semente (seleccionada) por m2
de alfobre. Deve ser espalhada quando não haja vento e da maneira
mais uniforme possível para evitar que as sementes se aglomerem
só em determinadas zonas do alfobre o que dificultaria posteriormente
a repicagem e aumentaria o número de falhas na operação. Logo
de seguida, cobre-se a semente com uma camada de terra vegetal
peneirada (crivo de 0,5 mm) com a espessura de 2 a 3 mm. Esta operação
é de importância capital para uma boa germinação.
Fig. 22 - Forma de efectuar a cobertura dos canteiros dos alfobres
Tapa-se depois o alfobre com uma esteira de caniço ou de outro materialdisponível.
Fig. 23 - Esteiras de cobertura dos seminários (antigo viveiro do Cuima, 1970)
31
Decorridos 5 a 10 dias as sementes começam a germinar. No pinheiro
este processo decorre normalmente entre 2 a 3 semanas. É então
importante ir-se levantando lentamente, daí por diante, as esteiras,
o que é realizado por dois homens, um de cada lado do alfobre ou com
o auxílio de uma forquilha no meio da esteira.
Durante todo este tempo deve proceder-se a 2 regas diárias, uma logo
de manhã e outra ao cair da tarde, com um regador de crivo fino. Nesta
fase a quantidade de água a usar para as duas regas é de 4 a 5 litros
por m2. O controlo das regas nesta fase é extremamente importante:
demasiada rega poderá levar ao apodrecimento da semente ou ao
aparecimento de fungos (
), que causam a morte das plântulas (“damping-off”) e rega
insuficiente poderá fazer com a semente não germine. Passada uma
semana sobre o início da germinação já é possível retirar as esteiras
durante as horas de menor intensidade do calor ou do frio.
As regas devem continuar a ser realizadas diariamente mantendo-se
habitualmente 2 por dia. Em épocas de particular secura atmosférica,
como sucede na Município de Ecunha mesmo depois do início da época
das chuvas pode vir a justificar-se uma outra rega adicional.
As plantinhas devem permanecer nos alfobres até que atinjam em
média 3 a 5 cm de altura antes da repicagem, isto é, cerca de 60 dias
após a sementeira. As sementeiras para os eucaliptos, as casuarinas
e o pinheiro patula que serão as espécies dominantes da intervenção
junto das populações no Município de Ecunha antecedem a plantação,
em geral 4 a 5 meses, tempo no qual as plantas deverão ter atingido
uma altura de 15 a 25 cm.
Como repicar correctamente
A repicagem é uma operação difícil e que requer prática. É preciso por
isso, uma supervisão atenta à forma de proceder e uma revisão ao
estado das plantas para se ter a garantia de que o sistema radicular não
está comprometido. Isto requer prática e supervisão amiudada,
principalmente na fase inicial de um viveiro. Sem que as instruções
dispensem a prática, tenha atenção ao que são as boas e más práticas
da repicagem.
Boas práticas
deite fora todas as plantas que lhe parecem doentes ou enfra-
quecidas;
repique quando surgir a raiz aprofundante ou quando as plantas
têm cerca de 5 cm. No caso das espécies que se pretendem utilizar:
eucaliptos, pinheiros ou casuarinas esta altura deve atingir-se cerca
de 60 dias depois da sementeira;
regar bem o alfobre na noite anterior à repicagem;
Fig. 24 - A rega feita na véspera é a primeira actividade da operação de repicagem
assegurar que o local para onde as plantas vão ser transplantadas
está bem sombreado antes de começar a repicagem;
utilizar uma espátula de lâmina estreita ou uma haste de madeira
para aligeirar a terra à volta da plântula. Proceda de acordo com
as figuras;
32
Fig. 25 - Criando espaço para poder retirar a plântula sem a ferir
levantar as plântulas segurando pelos cotilédones ou pelo caule
junto à base e sem comprimir o tronco porque este é muito frágil;
em dias muito ensolarados repicar de manhã cedo ou à tarde;
pôr as plântulas retiradas do alfobre imediatamente em água assim
que saem do alfobre;
preparar com uma haste de madeira um buraco na terra do saco
(tenha cuidado para que o buraco fique no centro do saco)
assegurando-se que ele é suficientemente fundo e largo para acomodar
as raízes da plântula a transplantar;
cortar com uma tesoura bem afiada as raízes longas e muito
ramificadas para se assegurar que elas se dirigiram para baixo;
colocar suavemente e bem verticalmente a planta no buraco
deitando terra à volta das raízes e começando pelo fundo do buraco,
seguindo-se o calcamento suave do solo à volta da planta com
o dedo para assegurar que a terra fica junto das raízes e não deixa
bolsas de ar;
Actuação correcta Actuação incorrecta
Fig. 26 - Colocação correcta da plântula no vaso após repicagem
regar bem os sacos ou outros recipientes usados no plantório
imedia-tamente depois da plantação ou o mais tardar uma hora
depois da repicagem.
Actuação correcta Actuação incorrecta
Fig 27- Bom posicionamento da plântula no vaso
33
Más práticas a evitar
esperar que as plântulas estejam grandes e com raízes compridas;
repicar as plântulas ao sol e sem as regar;
sombrear as plantas depois da repicagem;
repicar sob sol directo e quente;
transplantar plântulas enfraquecidas;
transportar as plântulas na mão ou num recipiente seco;
permitir que fiquem raízes viradas para cima quando se colocam
nos sacos;
deixar bolsas de ar nas raízes, o que as vai fazer morrer.
3. AS SEMENTES
3.1 A selecção das espécies
Um programa de arborização tem como primeiro ponto de partida
a selecção das espécies a promover, se bem que esta seja uma etapa
muita vezes negligenciada por um número significativo de viveiristas.
As árvores de certas espécies não podem crescer em qualquer lugar
e nem todas as espécies fornecem o mesmo tipo de produtos e serviços.
Se por exemplo, o objectivo é produzir madeira para produção de energia
e se plantar uma espécie de rápido crescimento mas de madeira leve,
estamos a defraudar as expectativas da comunidade que se dispôs
a fazer a plantação. Quando não se conjugam as exigências ecológicas
e sócio-económicas das plantações com a estação de plantação,
o impacto da plantação de árvores pode ser muito limitado. Deve-se
ter em atenção que a selecção é muito similar à escolha das espécies
ou variedades agrícolas, ou seja, as necessidades do agricultor
e as condições ecológicas do local de plantação devem ser consideradas
em conjunto.
Por que é que a selecção das espécies é importante?
Há muitas espécies lenhosas mas somente um pequeno número delas
pode satisfazer as necessidades do agricultor e as exigências da ecologia.
É por isso imprescindível que se auscultem as expectativas dos agricultores
antes de começar a produzir plantas no viveiro porque sendo os recursos
escassos, não é possível trabalhar com todas as espécies de árvores que
são capazes de vegetar com sucesso em determinada região. Se escolher
uma espécie menos desejável muito provavelmente perde recursos
valiosos e tempo.
Que atributos deve considerar quando escolhe uma espécie
Os atributos a analisar incluem:
Escolher espécies que satisfaçam uma ou várias necessidades
do agricultor ou da comunidade;
Seleccionar espécies que sejam aptas para as condições ecológicas
da região;
Seleccionar sempre mais do que uma espécie. Assim pode oferecer
à comunidade várias espécies para o mesmo propósito;
Seleccionar espécies cujas boas qualidades do material de plantação
estejam disponíveis ou possam ser produzidas num período razoável.
Deve considerar a ordem de listagem como sendo hierárquica.
As condições ecológicas da região a que se destinam as plantas
produzidas no viveiro podem ser adequadas a uma extensa lista
de espécies pelo que a selecção deve ser feita e ordenada em função
das preferências sócio-económicas, tendo em consideração
as necessidades de diversidade para que se consigam minimizar
os riscos ecológicos e biológicos.
É muito importante que a selecção das espécies a utilizar seja realizada
em conjunto com as comunidades e que os processos de selecção
sejam consensuais.
34
3.2 A informação necessária
Quando, como sucede numa grande extensão como o planalto onde
as espécies nativas típicas do miombo são de pouca qualidade para
a indústria madeireira, não são ricas em PFNL (Produtos Florestais Não
Lenhosos) e são de crescimento lento, não sendo capazes de dar resposta
às necessidades crescentes de lenhas e materiais de construção
ou materiais susceptíveis de alimentar a indústria de produtos lenhosos,
é necessário recorrer a espécies exóticas como são os eucaliptos, certos
pinheiros tropicais, as casuarinas e cupressos. Tratam-se de espécies
introduzidas há muitos anos e com boa adaptação em termos
de crescimento e de aceitação pelas populações mas é importante que
o viveirista tenha consciência que essa informação não é suficiente
para construir as bases para a melhor decisão sobre onde recolher
e que encomendas fazer. Na verdade é necessário, para além dos aspectos
anteriormente considerados, que os responsáveis pelos projectos
de arborização de que o viveiro é uma componente, disponham
de informação de natureza técnica, não só quanto à produção de plantas
para a plantação mas também de informação económica referente
às redes de fornecimento de sementes, sua fiabilidade e que apoie
a organização de uma actividade credível de fornecimento de sementes
a nível regional ou local.
Na vertente técnica um dos elementos de informação que deve constituir
uma área prioritária do organismo que tutela a investigação é o da
origem das sementes, que devem ser cuidadosamente identificadas
e seleccionadas. Na verdade esta questão pode representar o sucesso
ou insucesso futuro do esforço de plantação. O estabelecimento
das fontes apropriadas de origem seminal é a base essencial para
a produção de material de qualidade e para a própria rendibilidade
futura da plantação. As melhores fontes de semente nem sempre são
as mais próximas, as de recolha mais fácil ou as mais baratas. Não
estando este manual fundamentalmente direccionado para os aspectos
práticos, é importante que o viveirista esteja minimamente familiarizado
com noções simples sobre a importância da qualidade genética
das espécies e para a sua importância.
Onde estão as melhores fontes de produção de sementes?
As melhores fontes de produção de sementes para determinada região
devem satisfazer um certo número de critérios em termos do número
de árvores onde se faz a recolha bem como da qualidade das árvores
mães. Geralmente os critérios para a escolha das áreas de onde devem
provir as sementes incluem:
Situarem-se em zonas ecológicas semelhantes àquelas que vão ser
arborizadas;
Existência, na zona de recolha, de árvores bem polinizadas;
O número de árvores que constitui a população de colheita de
sementes suficientemente grande para garantir uma boa diversidade
genética nas plantações;
As árvores na região de colheita de sementes são sadias e o seu
crescimento é bom;
A acessibilidade e a segurança da fonte de produção são apropriadas.
O alerta quanto a estas questões importantes para orientar os respon-
sáveis pela produção de plantas, exige dos fornecedores um perfeito
conhecimento dos itens enunciados e o registo e acompanhamento
da performance das plantas em plantação de acordo com as respectivas
origens. Para situar a importância destes aspectos tenham em atenção
que, por exemplo, em relação ao , os ensaios
de proveniência realizados na Nigéria revelaram diferenças de produção
de 1 para 2,7.
3.3 A recolha das sementes
Se não dispuser de sementes certificadas deve escolher sempre
as árvores com melhor porte e com tronco mais rectilíneo para recolher
as sementes.
35
As boas sementes produzem boas árvores. As sementes provenientes
de uma árvore de tronco rectilíneo, bem conformado e vigoroso,
produzem geralmente árvores direitas e vigorosas.
Fig. 28 - Importância da qualidade da semente
Além destes aspectos quanto à hereditariedade é imperativo que
o responsável pela recolha de sementes tenha em consideração que
é importante lembrar-se que não chega pensar só numa árvore de boa
qualidade mas sim que essa árvore deve estar rodeada de outras árvores
de boa forma e qualidade. Não se deve esquecer que a árvore, para
produzir sementes, é fecundada e as sementes recebem as características
dos dois genitores. Se um é uma má árvore as sementes herdam
em proporção variável essa má característica.
Fig. 29 - Quando a árvore mãe está rodeada de outras árvores de qualidade,
a descendência herdará também essas características
Critérios de selecção
A selecção de árvores mãe e a sua configuração variam conforme
for o fim pretendido. Assim, conforme a utilização pretendida, tenha
atenção as seguintes características das árvores mãe:
Para madeira de obra
Tronco de forma rectilínea;
Altura acima do solo e diâmetro do tronco acima da média;
Copa uniforme sem ramos abundantes e grossos ou sem um tronco
duplo;
Resistência aos insectos e doenças;
Madeira de boa qualidade;
Árvores maduras produzindo boas quantidades de semente.
36
Escolha este sementão
Não escolha este
Para árvores destinadas à produção de forragem ou sebes vivas
Crescimento rápido;
Elevada produtividade de folhagem e vagens;
Grande facilidade de rebentação de ramos e toiças;
Elevado valor nutritivo das folhas e vagens;
Copas frondosas com muitos ramos;
Troncos múltiplos;
Árvores maduras produzindo boas quantidades de semente.
Para plantações energéticas (produção de lenhas ou carvão)
Alto valor calórico;
Crescimento rápido;
Facilidade de rebentamento por toiça.
Para árvores utilizáveis para a produção de fruto
Frutos abundantes, doces e grandes;
Copa uniforme com ramos baixos;
Crescimento rápido;
Resistente a insectos e doenças;
Árvores que quando maduras produzem grande quantidade
de semente.
Quais as principais fontes de colheita de semente
Há quatro principais tipos de fontes de produção de semente:
Floresta natural: populações arbóreas ocorrendo naturalmente
na floresta natural e demarcadas para a produção de semente;
Plantações existentes em matas públicas ou privadas e demarcadas
para a produção de sementes;
Pomares de sementões: Talhões que foram plantados por via
seminal ou enxertia em blocos destinados especificamente para
a produção de sementes;
Propagação vegetativa de plantas: Trata-se de multiplicação
assexuada de plantas através do enraizamento de estacas, enxertia
ou micropropagação.
Boa árvore para Má configuração para Boa configuração para
a produção madeireira a produção madeireira a produção forrageira
Fig. 30 - Configurações de boas e más características arbóreos para alguns fins
O que necessita saber antes de colher a semente?
Antes de começar qualquer trabalho de colheita procure saber se existe
informação escrita ou conhecimento local sobre as espécies de que
pretende semente, porque essa informação pode poupar-lhe dissabores
posteriores e insucessos não previstos. Proceda também a uma verificação
no terreno sobre a floração e sobre a frutificação. Os aspectos para
os quais deve estar atento são:
Análise do períodode floração;
Distribuição da floração entre as árvores;
A expectativa da quantidade de semente que pode ser colectada;
O grau de maturidade da semente;
A ocorrência de pestes ou doenças nas flores ou nos frutos.
37
Não se esqueça de ter consigo um plano detalhado da colecta de sementes
que pretende. Em termos logísticos, deve ter em consideração:
A acessibilidade da fonte das sementes que pretende e as necessi-
dades de transporte necessárias;
O tipo de equipamento e os materiais que necessita para a colheita
e pré-tratamento necessário para garantir que a semente chega
ao viveiro em boas condições. Como equipamento considere ganchos,
tesouras e podoas de poda com haste extensível.
Fig. 31 - Exemplos de equipamento simples utilizado para colheita de sementes
Tenha em atenção a necessidade de juntar a equipa de recolha em
função do tipo de semente, grau de dificuldade e método de colecta.
As características que devem ser consideradas na escolha dos sementões
são:
Árvores sãs e bem desenvolvidas de copas bem conformadas;
Para árvores para madeira procure árvores de troncos direitos
e com poucos ramos;
Árvores reconhecidas de boa madeira (densidade elevada e fio
recto);
Para árvores destinadas ao uso forrageiro, que sejam de gosto
agradável e que os animais apreciem;
Para as árvores destinadas à produção de frutos uma ramagem
baixa será aconselhável para a recolha do fruto. Este deve ter um
gosto agradável, os frutos polposos e de deterioração lenta;
Para qualquer das situações devem apresentar pouca suscep-
tibilidade a pragas e doenças;
Colha somente sementes grandes, sãs e maduras. Evite recolher
as primeiras e últimas sementes da estação porque elas são geralmente
de má qualidade. Colha sementes pelo menos em 30 árvores.
Logo que colha os frutos assegure-se que o faz sem estragar a árvore.
Seleccione só os raminhos. Nunca recolha frutos cortando os ramos
principais da copa ou o eixo principal.
Quando devo colher a semente?
A colheita deve ter lugar quando a maioria (>60%) da semente está
madura na mata escolhida.
Quando se sabe que a semente está madura e em condições
de colheita?
Usa-se o indicador conhecido por sistema de classificação da maturação
das sementes. Para o determinar observe as mudanças de cor dos frutos.
Por exemplo as vagens podem mudar de verdes para amarelo
ou castanho quando amadurecem e as pinhas podem mudar de verde
para castanho.
38
Quadro 6 - Sistema de classificação do estado de maturação
das sementes
Retire amostras de pelo menos 100 sementes ou frutos apanhados
casualmente e execute sobre eles o teste de corte para examinar
as condições interiores da semente. Analise o estado de desenvolvimento
ou maturidade e a ocorrência de insectos ou fungos nos frutos. Uma
semente madura tem um embrião firme enquanto uma semente imatura
tem um embrião ou endosperma leitoso. Numa leguminosa a semente
está usualmente madura quando nos for impossível esmagá-la entre
o polegar e o indicador. O teste de corte também pode ser utilizado
para estimar o número de sementes maduras por fruto.
3.4 Extracção das sementes
Para os vários tipos de frutos existem diferentes métodos apropriados
para a extracção das sementes.
Frutos secos indeiscentes
Semea directamente as sementes tal como ocorrem.
Ex. Caju, girassonde, teca, neem
Vagens indeiscentes, cápsulas
Extraem-se as sementes por quebra e divisão dos frutos.
Os mesmos podem ser pilados, por vezes após imersão
em água. Ex. Prosopis juliflora
Cápsulas lenhosas
As cápsulas lenhosas colhem-se quando ainda se
encontram ligeiramente verdes. Deixam-se a secar
ao ar sob coberto após o que os frutos abrem e libertam
as sementes que se podem separar por peneiração.
Ex. Eucaliptos e Casuarinas
Frutos polposos
As sementes estão incluídas num fruto polposo
indeiscente. Após a extracção as sementes são postas
em água para provocar a maceração da polpa. Após
2-3 dias de imersão espremem-se os frutos, retira-se
a polpa que envolve as sementes que se deixam secar
ao ar sob coberto. Ex. loengo, palmeira do azeite
Cápsulas e vagens deiscentes
Os frutos e vagens deiscentes são desgranados manual-
mente. Ex. Acacia mangium, Cassia, Brachystegia
39
Classificação do grau
de maturação
da cultura (%)
0
10-30
40-60
70-90
100
Descrição
da cultura
Nenhuma
Pobre
Média
Boa
Plena
Observações
Inexistência de árvores produtoras
de sementes
Frutos em algumas árvores de bordadura
e em poucas árvores dominantes
no interior da parcela
Frutos na maior parte das árvores
de bordadura e nas árvores dominantes
no interior da parcela
Quase todas as árvores da parcela
apresentam frutificação (excepto
as dominadas)
Todas as árvores apresentam frutificação
(excepto algumas árvores dominadas)
O método de extracção das sementes varia muito consoante o tipo
de fruto.
No entanto o guia geral a que o técnico deve atender é:
a) Logo que chegadas ao local da preparação das sementes, estas devem
ser imediatamente retiradas dos sacos e postas em camadas estreitas,
esperando o tratamento em locais bem ventilados, umas vezes
em tabuleiros afastados do solo ou em terraços de cimento ou asfaltados,
evitando a humidade e a presença de roedores.
Deve-se procurar secar rapidamente, arejando as sementes ou os frutos
e provocando-lhes uma transpiração forte. Se se deixa em monte
ou em camada espessa, não se dá a evaporação, a massa fica húmida
originando fermentações com aquecimento ligeiro, podendo originar
o desenvolvimento de fungos que prejudicam a qualidade das sementes.
A espessura das camadas varia com as espécies bem como a frequência
da mexida dos frutos ou das sementes. Admite-se que para pinhas
ou sementes como as de girassonde e frutos carnudos, uma camada
de espessura de 20 cm é suficiente, com uma mexida diária. No caso
das pinhas dos Pinus, uma espessura de 40 cm com mexida 2 vezes por
semana é suficiente. Em princípio há interesse em encurtar ao máximo
este período de espera precedendo à preparação rápida das sementes.
Resumindo, após a colheita dos frutos as operações de beneficiamento
das sementes são:
a1) frutos secos deiscentes - os frutos são colocados para secar
em camada fina, em encerados, pisos de cimento ou barracões abertos;
a2) frutos carnudos - remoção da polpa para evitar a decomposição
e danos à semente. Para pequenos lotes, como será naturalmente
o caso do “loengo”, a remoção da polpa é feita manualmente.
Alguns autores aconselham para os frutos carnudos a maceração, seguida
da acção da água corrente nestes frutos sobre uma peneira. Para estes
frutos também se pode usar hidróxido de potássio nas concentrações
de 1 e 1,5% para o despolpamento (ex: loengo, palmeira do azeite -
).
Algumas espécies podem ser secas à sombra e outras ao sol sem prejuízo
da qualidade e da extracção.
A secagem realizada em estufas tem a vantagem de ser mais rápida
em função do controle da temperatura. O processo mais simples para
quantidades moderadas consiste em recorrer a estufas correntes com
circulação de ar quente.
Após a extracção muitas sementes precisam de ser limpas das suas asas
membranosas e impurezas convindo para o efeito recorrer a material
especial. Esta limpeza é importante pois reduz o volume a armazenar
e transportar. A separação das sementes é realizada geralmente por
peneiras e jactos de ar se os montantes de semente a manipular forem
significativos.
A extracção de grandes quantidades à escala industrial requer
aparelhagem apropriada. Em termos meramente informativos, pela sua
falta de aplicabilidade na fase actual da actividade de florestação
em Angola, referem-se as fases do processo:
1 Secagem prévia em virtude das sementes muito húmidas serem
mais facilmente danificadas pelo calor. As sementes são colocadas
em eiras, locais abrigados e arejados, onde se processa uma dissecação
progressiva como convém. O tempo desta secagem prévia é variável
com as espécies e pode durar um mês. Nesta primeira fase é preciso
evitar que os roedores provoquem quebras nas sementes.
40
2 Secagem - É utilizada para aqueles frutos que abrem mal ou só
abrem parcialmente na fase anterior, sobretudo se o tempo estiver
fresco e húmido. Nestas circunstâncias faz-se passar pelos frutos uma
corrente de ar quente e seco. Há vários tipos de secadores sendo o mais
simples o que possui prateleiras, com grades animadas de movimento
e que são atravessadas pelo ar quente que entra pela parte inferior
saindo pelos orifícios da parte superior, onde se colocam os frutos.
À medida que os frutos vão secando as prateleiras vão sendo retiradas.
3 Separação das sementes - As prateleiras do secador têm
movimentos horizontais separando-se as sementes dos frutos
em consequência de tais trepidações. As sementes caiem através dos
orifícios das prateleiras acumulando-se na prateleira inferior que é fixa.
Os frutos que abrem mal são recolhidos voltando ao secador. As
sementes que não são extraídas por vibração são-no através de um
aparelho complementar.
4 Separação das asas membranosas - Para se atingir tal objectivo
utilizam-se pás, as quais separam as asas. A velocidade tem de ser
regulada por forma a que nem o calor resultante da fricção nem as pás
danifiquem as sementes.
5 Limpeza da semente - Esta operação tem muito interesse embora
se revista de certas dificuldades técnicas. Nos casos mais simples podem
usar-se tararas agrícolas, havendo noutros casos necessidade de recorrer
a aparelhagem especial. Tendo em atenção as diferenças de peso
específico das impurezas e da semente e as diferenças de forma
e dimensões, usa-se frequentemente para o efeito, uma corrente de ar
que atira a alturas diferentes as impurezas e as sementes.
No caso de frutos carnudos a maceração destes frutos é realizada em
maceradores que funcionam com os frutos colocados em água sendo
depois as sementes separadas das polpas e secas.
3.5 Selecção das sementes
Quando as sementes são extraídas deve-se imergi-las num recipiente
com água.
Imersão em água
Retirar as sementes que flutuam e que não prestam. Lance-as fora.
As sementes boas ficam retidas no fundo. Retire as sementes boas
e seque-as ao ar sob coberto. Seleccione as sementes que têm uma
forma regular, com boa configuração e de maiores dimensões.
3.6 Conservação das sementes
O ideal seria semear as sementes imediatamente após colheita.
Mas isso é difícil ou impossível para uma grande maioria de espécies
porque a data de sementeira depende da data do período de plantação
e da altura que pretendemos para as plantas a colocar na terra.
Assim, as sementes cuja maturação só se verifique, por exemplo,
em Junho, devem ser conservadas até à data de sementeira no viveiro.
Algumas sementes contudo, perdem a sua faculdade germinativa muito
rapidamente (Ex. neem) pelo que é necessário utilizá-las o mais depressa
possível.
Para os outros casos há razões que justificam a conservação das sementes,
tais como:
1 Manter a semente em condições tais que conserve o seu poder
germinativo durante o período que medeia entre a colheita e a se-
menteira.
2 Proteger as sementes contra os roedores, aves e insectos, fugindo
à época de sementeira Outonal naqueles casos em que os frutos
amadurecem nesta época e exista exposição da sementeira a estes
predadores. Isto acontece com frequência nas zonas de clima
mediterrâneo, daí fugir-se à sementeira Outonal realizando-a nos fins
de Inverno princípios de Primavera o que diminui o risco de quebras.
41
Teor de humidade
da semente
Acima de 40-60%
Acima de 18-20%
Acima de 12-14%
Acima de 8-9%
Consequências
A semente germina
Aquecimento da semente
Crescimento de fungos na semente
Aumenta a actividade e reprodução dos insectos
42
3 Por vezes a semente tem de ser transportada a distâncias grandes
para locais onde a boa época de sementeira não coincide com a época
de maturação dos frutos.
4 Finalmente, pode ser necessário conservar as sementes obtidas
em ano de boa produção seminal para satisfação das necessidades nos
anos de má ou nula produção seminal.
Os factores mais importantes a que o viveirista tem de ter em atenção
para a conservação de sementes são: a temperatura e a humidade.
Temperatura
Temperaturas relativamente baixas são mais favoráveis do que
temperaturas elevadas. A temperatura ideal varia muito consoante
a espécie e dentro desta com a origem, sendo em qualquer caso mais
conveniente uma temperatura uniforme do que temperaturas variáveis.
No entanto, a conservação em frigorífico a 3-5°C é a mais utilizada.
Baixas temperaturas mantendo vivas as sementes evitam o ataque
de insectos e fungos.
Algumas sementes conservam-se bem à temperatura ambiente, caso
de certas rosáceas, eucaliptos, tílias e sementes duras ou nozes. A maior
parte destas sementes requer humidade antes da germinação
e de um tratamento especial, caso das acácias, cuja germinação
é facilitada pelo escaldão.
Teor de humidade
A acção do teor de humidade sobre a conservação das sementes é mais
importante do que a temperatura, sendo no entanto de mais difícil
controlo. De facto, não é fácil controlar de modo preciso o teor
em humidade sem ser em laboratório.
A redução do teor de humidade da semente em algumas espécies como
Araucaria, Acer, Citrus, entre outras, origina a perda de viabilidade, pelo
que devem ser armazenadas com uma percentagem elevada de humidade
a baixas temperaturas para retardar a sua deterioração.
A experimentação tem mostrado que elevados teores de humidade
causam ou favorecem a elevação da temperatura das sementes
em consequência dos processos respiratórios, aumentam
a susceptibilidade da semente a injúrias térmicas durante a secagem,
propiciam uma maior actividade de microrganismos (principalmente
fungos) e a maior actividade de insectos durante o período
de armazenamento. Acresce que a humidade aumenta substancial-
mente a actividade fisiológica de microrganismos e insectos como
se mostra no quadro que se segue.
Quadro 7 - Relações entre o teor de humidade e a deterioração
da semente
Adp. de POPINIGIS, 19762
43
Quanto às sementes de , vários estudos efectuados
mostraram que a percentagem de germinação decresce com o aumento
da humidade relativa a partir de 40% e com o tempo de armazenamento.
As sementes desta espécie bem com as da , mantidas em
ambientes com humidade relativa inferior a 40%, mantiveram o poder
germinativo ao fim de 270 dias. Recomenda-se o armazenamento
de sementes de em ambientes com humidade relativa
entre 20 e 40% em embalagens permeáveis à humidade e a temperaturas
de 20°C.
Em termos de orientação geral (não se deve esquecer que para cada
espécie há um teor de humidade óptima que é determinado
em laboratório) e caso não haja informação disponível, pode considerar-
se a regra prática de Harrington em que para cada 1% de aumento
de humidade, a longevidade da semente é reduzida para metade. Esta
regra é válida para teores de humidade entre 5 e 14%. Abaixo de 5%
a velocidade de deterioração pode aumentar devido à auto-oxidação
de certas substâncias de reserva. Acima de 14% o desenvolvimento
de fungos prejudica o poder germinativo.
Como regra pode ainda dizer-se que nas sementes que devem ser
conservadas secas, um teor elevado de humidade elevado e temperaturas
altas causam maiores prejuízos do que as temperaturas baixas.
Entretanto, na conservação pelo frio, as sementes que devem ser
conservadas secas perdem grande parte da sua eficiência se não forem
colocadas em recipientes herméticos que mantenham o teor de humidade
constante. As flutuações deste teor são mais nocivas do que as flutuações
da temperatura.
Métodos utilizados para controlar o teor em água
Uma simples secagem ao sol, ao ar livre, num quarto aquecido ou numa
sala de extracção é o meio mais simples para reduzir o teor de humidade
antes da conservação em recipiente hermético. Se não se dispuser
de uma estufa com controlo automático de temperatura e humidade
podemos recorrer a métodos simples e o recurso a substâncias
higroscópicas actuando num recinto fechado onde se colocam
as sementes. É muito eficaz a utilização de cal isenta de humidade
devendo existir o cuidado de não dissecar em demasia as sementes.
Utiliza-se nestes termos uma certa quantidade de óxido de cálcio para
uma dada quantidade de semente.
Para controlar o teor em água nas sementes também se utiliza o gel
de sílica. O gel ou o óxido de cálcio devem ser isolados das sementes
recorrendo, por exemplo, a redes metálicas. Embora o óxido de cálcio
seja mais barato, a sílica oferece uma certa vantagem porque uma
mudança de cor mostra que esta já perdeu a sua eficácia recorrendo-
se à sua posterior secagem para a sua recuperação.
Qualquer que seja o produto utilizado quando se atinge o teor desejado
o recipiente deve ser tal que não haja alteração no nível alcançado.
O melhor método consiste em utilizar caixas de vidro tapadas com
rolhas de cortiça parafinada ou de cera ou ainda com películas plásticas.
Um bidão hermeticamente fechado também serve para o mesmo efeito
e é bastante utilizado. Para as sementes que precisam de ser conservadas
secas, a utilização generalizada em sacos vulgares ou recipientes
em caves frias e húmidas constitui um mau método.
Devem preferir-se as sementes frescas, embora as qualidades
das mesmas dependam menos da sua idade do que as das condições
de conservação. Quando a semente se começa a deteriorar, a viabilidade
decresce rapidamente se as condições forem desfavoráveis. Isto explica
as bruscas deteriorações nas sementes conservadas por largos períodos,
mesmo nas melhores condições, quando são retiradas do ambiente
de conservação e colocadas em condições desfavoráveis de temperatura
e humidade, nomeadamente se estes factores apresentarem flutuações.
Assim após um período de conservação mais ou menos prolongado
as sementes devem ser prontamente utilizadas.
De qualquer forma as sementes conservadas em recipientes herméticos
e pelo frio devem ser levadas à temperatura ambiente antes da abertura
dos recipientes, por forma a evitar a condensação de humidade sobre
os grãos frios.
Caso seja necessário proceder ao respectivo transporte (situação
habitual), as sementes podem ser empacotadas sob a temperatura
de conservação em embalagens estanques à humidade, por forma
a não se alterar o teor de humidade.
Processos de conservação a seco
a) Conservação sem controlo da temperatura e humidade.
É o método mais simples e antigo que consiste em conservar a semente
em montes, sacos, ou caixas. No entanto, não pode ser utilizado para
sementes de valor nem para prazos longos.
b) Conservação a seco em recipientes herméticos
Este método é bastante económico e dá resultados bastante
interessantes, particularmente com a adição de desidratantes.
c) Conservação a seco pelo frio em recipientes herméticos.
É o melhor método de conservação prolongada. As temperaturas mais
vulgares são 0°-5°C. É um processo mais caro pois obriga a frigoríficos
ou câmaras frigoríficas.
Processos de conservação em meio húmido
a) Estratificação
Consiste em dispor camadas alternadas de semente e areia, cortiça,
serradura, turfa, musgo ou folhas. É muito importante que as sementes
não fiquem apertadas para que se dê um bom arejamento e as sementes
não aqueçam. A quantidade de material a juntar deve ser igual
ou superior ao volume das sementes.
É um processo que se utiliza muito com sementes de nogueira,
castanheiro, carvalho, faia, freixo, acer, ulmeiro, pinheiro, etc.
b) Conservação em água corrente
Emprega-se normalmente com sementes de grandes dimensões, sendo
as mesmas colocadas dentro de recipientes furados de modo a permitir
a circulação da água.
3.7 Pré-tratamento das sementes
A maioria das sementes germina sem problemas quando lhes são dadas
as condições ambientais favoráveis. Contudo, nem sempre se dá esta
germinação, geralmente porque um factor é desfavorável: insuficiência
de água, falta de temperatura, ou outra. Há sementes contudo, que
apesar de terem todas as condições necessárias para uma boa germinação
não germinam, sendo então denominadas por "dormentes".
Na natureza há vantagens e desvantagens na dormência das sementes
de certas espécies:
Vantagens
As plantas passam o inverno na condição de semente;
Evita que os embriões continuem a crescer e germinem ainda
na planta diminuindo as probabilidades de sobrevivência no solo.
Desvantagens
São necessários longos períodos para que um lote de sementes
supere a dormência (condição fundamental para se obter uma
germinação uniforme);
A germinação distribui-se no tempo;
Contribui para a longevidade das plantas invasoras;
Interfere no programa de plantio;
Dificulta a avaliação do valor germinativo da semente.
Existem vários mecanismos que podem originar a dormência
nas sementes nomeadamente a dormência primária e a dormência
secundária.
44
Na maioria dos casos a dormência já se encontra instalada por altura
da colheita ou do desenvolvimento da semente. Diz-se nestes casos
que se trata de uma dormência primária. Algumas vezes esta é superada
pelo simples armazenamento da semente seca por algum tempo,
geralmente não muito longo. Deste modo, logo após a colheita
as sementes não germinam mas, passado o período de armazenamento
passam a germinar. É a este tipo que se designa por "dormência
de pós-colheita".
Noutros casos, nalgumas espécies, as sementes que germinam
normalmente podem ser induzidas a entrar em estado de dormência
se forem mantidas algumas das condições desfavoráveis, sendo então
designado por "dormência secundária".
adp: LOGMAN e JENÍK (1987)3
Este tipo de dormência é consequência de serem dadas à semente
todas as condições favoráveis para a sua germinação excepto uma,
por exemplo a escuridão para germinar (semente de ,
cuja germinação é inibida pela luz).
No quadro que se segue listam-se as principais formas que a dormência
assume e alguns exemplos referentes a espécies tropicais.
Em termos sumários os diferentes tipos de dormências descrevem-se
assim:
Quadro 8 - Germinação e dormência em espécies florestais tropicais
Exemplos
Ceriops; Dryobalanops aromatica; Pithcellobium racemosa; Rhizophora
Cacaueiro; muitas Dipterocarpus; Mora excelsa
Azadirachta indica; Nauclea latifolia; Securinega virosa
Delanoxis regia; Enterolobium cyclocarpum; Leucaena sp.; Ochromalagopus; Parkia sp.
Elaeis guineensis
Cecropia; Clorophora excelsa; Macaranga; Musanga; Piper; Trema;Harungana madagascarensis
Ochroma lagopus; Heliocarpus donnellsmithii; Phytolacca icosandra
Tomateiro
Requisitos
nenhum
nenhum
a passagem pelo intestino dosanimais remove alguma dormência
água destruir o pericarpo e deixarembeber em água
depois de amadurecera temperaturas relativa-mente altas
quantidades específicas de luzde certos comprimentos de onda
regimes específicos de temperatura
lavagem de inibidores solúveis emágua
entrada de oxigénio
alterar o balanço hormónico
dar tempo para o desen-volvimentodo embrião
Classe
Vivíparas
Directa
Indirecta
Seca dormentes(sementes duras)
Dormentes(sementes embebidas)
Tempo
Antes
Imediata
Adiada
45
46
a) embrião imaturo ou rudimentar
Neste caso o embrião não se encontra completamente desenvolvido
quando a semente se solta da planta (embrião imaturo). Assim, quando
estas sementes são postas a germinar, a germinação é retardada
até ao embrião completar a sua diferenciação ou crescimento, através
de modificações anatómicas e morfológicas adicionais. Este tipo
de dormência ocorre principalmente nas
e nalgumas espécies de Ranunculaceae.
b) impermeabilidade à água
A dormência resulta do tegumento impedir a absorção de água (secas
dormentes). A ruptura desta protecção seguida da embebição é necessária
para dar início ao processo germinativo. Este tipo de dormência ocorre
principalmente nas leguminosas, em muitas espécies florestais e nalgumas
espécies das famílias das
. Contudo, dentro do mesmo lote pode haver
sementes permeáveis e impermeáveis pelo que algumas sementes
germinam imediatamente e outras não. Alguns investigadores acreditam
que a estrutura responsável pela impermeabilidade do tegumento
é a camada de células em paliçada, de paredes espessas e cobertas
externamente por uma camada cuticular cerosa.
c) impermeabilidade ao oxigénio
Este tipo de dormência dá-se quando as estruturas como o pericarpo,
o tegumento e as paredes celulares, dificultam as trocas gasosas.
Esta causa de dormência é encontrada em muitas espécies de .
Nestas situações, a germinação é conseguida retirando ou danificando
as cariópses por escarificação, cortes, remoções, tratamento com ácidos
ou colocando-as em condições de alta tensão de oxigénio.
d) embrião dormente
Caracterizado por ser o próprio embrião a razão da dormência, sendo
resultado de condições fisiológicas no embrião ainda não esclarecidas.
As sementes enquadradas neste tipo de dormência apresentam exigências
especiais quanto à luz e resfriamento ou mesmo indutores químicos
para superar a dormência. Este tipo de dormência é normalmente
resolvido por processos de estratificação ou pré-arrefecimento que
consistem em humedecer a semente e submetê-la a baixas temperaturas,
pouco acima de 0°C, por períodos que variam com as espécies.
O tratamento da semente com ácido giberélico pode substituir
a estratificação.
e) combinação de causas
A presença de uma causa de dormência numa semente não elimina
a possibilidade de outras estarem também presentes. Quando tal sucede
serão necessárias combinações de tratamentos para eliminar as condições
de dormência. Naturalmente que o método a ser empregue para eliminar
a dormência depende do tipo da mesma, pelo que seguidamente
relacionamos alguns dos procedimentos utilizados.
3.8 Preparação das sementes
Para germinarem, as sementes devem estar perfeitamente desenvolvidas
(colhidas de frutos maduros) e conservar a faculdade germinativa.
A necessidade e o método de preparação variam, dependendo
do tamanho da semente e do tegumento protector (casca).
Algumas sementes são qualificadas de "duras" (é quase sempre uma
característica das sementes das leguminosas) e necessitam de tratamento
antes da sementeira sem o qual a água necessária à quebra da dormência
da semente dificilmente penetra no tegumento.
47
Pré-tratamento contra a dureza do tegumento
Sintetizam-se, no quadro IX, os tratamentos correntes para cada tipo
de dormência. Atendendo à natureza do manual e ao seu objectivo
eminentemente prático faremos uma referência muito breve a alguns
dos métodos referidos.
Digestão animal
Algumas sementes são comidas pelos animais e beneficiam assim
de um tratamento adequado no aparelho digestivo dos animais que
torna o tegumento permeável à água. Ex. Acacia albida, Acacia sp.
Quadro 9 - Quadro de referência de tratamentos de acordo com
a dormência
Imersão em água quente
Faça ferver a água. Retire a panela do fogo e faça mergulhar as sementes
entre 3 a 4 minutos. Retire-as da água quente e deixe-as imersas
em água à temperatura ambiente durante 24 horas.
Ex.
Re-humificação
Certas sementes têm necessidade de um tratamento de re-humidificação
e de aquecimento para favorecer a germinação. É o caso das sementes
de palmeira do azeite. A embebição durante 48 horas pela água fria
(chumbagem) é muito utilizada, pois acelera a germinação e permite
separar a semente boa das impurezas e semente chocha.
Cama de carvão
Em primeiro lugar deixam-se as sementes em imersão durante 7 dias
à temperatura ambiente (27 °C). A água deve ser removida diariamente.
Depois de impregnadas, as sementes são dispostas em caixas de madeira
com carvão com granulometria de aproximadamente 3 mm.
Uso de germinadores isotérmicos
As caixas do alfobre são colocadas em germinadores onde se conserva
uma temperatura de 37-39 °C mediante folhas ou estrume
em decomposição. O carvão como é bom condutor térmico garante
adequada distribuição de temperatura a todas as sementes permitindo
uma maior taxa de germinações. O tratamento e manutenção das
sementes de palmeira do azeite no germinador chega a durar 3 meses.
Tipos de dormência
Impermeabilidadee restrições mecânicasno tegumento
Embrião dormente
Tegumento impermeávelcombinado com embriãodormente
Dormência dupla(epicótilo e radículadormentes)
Método de eliminação
- Imersão em solventes (água quente, álcool acetonae outros);- Escarificação mecânica;- Escarificação em ácido sulfúrico;- Resfriamento rápido;- Exposição a alta temperatura;- Aumento da tensão de oxigénio;- Choques e impactos contra uma superfície dura.
- Estratificação a baixa temperatura;- Tratamento com hormonas (giberelina ou citocinina).
- Escarificação mecânica ou ácido sulfúrico, seguidade estratificação a baixa temperatura.
- Estratificação a baixa temperatura para superara dormência da radícula seguida de períodode condições favoráveis ao crescimento da raiz,e nova estratificação a baixa temperatura paraeliminar a dormência do epicótilo, seguidade temperaturas favoráveis ao seu desenvolvimento.
Fig. 32 - Secção de um germinador isotérmico que pode ser fabricado localmente
Escarificação
Para o tratamento de grandes quantidades de sementes usam-se
máquinas com rolos abrasivos por onde a semente tem de passar e que
desgasta o tegumento por forma a torná-lo mais permeável à água.
Tratamento com recurso a térmitas (salalé)
Pode utilizar-se a térmita para destruir o tegumento de algumas sementes
duras. Ex. Teca.
Para isso, logo após a colheita das sementes deixe-as no chão junto
à mata e cubra-as com um cartão seguro com algumas pedras. Ao fim
de 4 semanas retire o carvão e remova as formigas. A semente estará
em condições de ser semeada.
Fig. 33 - Outro modelo de germinador isotérmico feito com materiais locais
para sementes recalcitrantes à germinação ou para enraizamento de estacas
Esterilização da semente
Por vezes verifica-se, não obstante haver um correcto controlo da rega,
o aparecimento de zonas onde as sementes aparecem podres
ou as plântulas apresentam junto do colo uma mancha castanha
e as folhas tombam como se tivessem falta de água, mesmo com
o substrato molhado. Trata-se de uma podridão causada por um fungo
que pode ter vindo juntamente com a semente. Quando isto ocorre
devem ser esterilizadas as sementes do lote. Uma forma prática
de proceder é mergulhar a semente durante 30 minutos numa mistura
de lixívia e água na proporção de 1 parte de lixívia para 9 partes
de água. Em alternativa pode ser utilizada água oxigenada a 4%.
48
Meio de germinaçãoou
Gravilha de enraizamentopara estacas
aniagem
sementes
areia (5-7cm)
estrume verdede bovino
Pedras Areia
Folha de polietileno
49
Se o problema persistir, a contaminação deve provir do substrato que
se está a utilizar o que requer que se proceda a uma fumigação
do mesmo.
3.9 Estado das sementes
As sementes devem ser frescas, sãs, sem traços de ataque de insectos
ou de fungos, de forma e tamanho normais para a espécie em questão.
Também é importante considerar a sua coloração, o aspecto mais
ou menos brilhante, tegumento mais ou menos enrugado, peso, impressão
de plenitude ou de vazio (que se conhece pela pressão dos dedos).
Dentro da mesma espécie há, no entanto, uma variação normal de raça
ecológica para outra, da estação e da idade. Como exemplo, podemos
citar que 1 000 sementes de provenientes da Finlândia
pesam 3,75 grs, enquanto que a proveniência da Europa Central pesa
7,5 grs. A coloração pode também ser variável e por vezes com certas
espécies, principalmente nas resinosas, as sementes de uma mesma
pinha não têm tamanho uniforme, sendo as das extremidades mais
pequenas do que as do meio. Noutras ainda, como nos
e nas as sementes mortas não se distinguem das vivas, pelo que
a aparência externa não permite reconhecer o valor de utilização
de um lote de sementes que resulta da sua capacidade de germinar.
Em termos práticos se não temos recurso a um laboratório, recorrem-
se a processos rápidos e expeditos para avaliar a capacidade germinativa.
Os mais correntes são: i) ensaio com faca; ii) ensaio com papel; iii)
prova de água; iv) prova do ferro em brasa.
O ensaio com uma faca é o mais frequentemente utilizado para
as sementes grandes (
). Consiste em cortar a semente com uma faca ou com a unha
e examinar o corte. O albúmen deve ter uma cor e uma consistência
normais para a espécie, estar bem aderente ao tegumento externo
e não apresentar vazio central. O embrião, quando aparece, deve parecer
em bom estado e não muito pequeno. O resultado deste ensaio
só é aproximado, não dá garantias absolutas e não é aplicável
às sementes pequenas como as dos eucaliptos.
O ensaio com papel (possível também com sementes médias), consiste
em esfregar as sementes uma na outra ou esmagar as mesmas sobre
um papel branco. As que deixam traço gorduroso são consideradas boas,
sendo válido para e , mas é muito impreciso.
A prova de água é muito simples. Lança-se um certo número de sementes
na água (alguns viveiristas preferem o álcool), podendo considerar-se
que as que flutuam ao fim de 24 ou 48 horas são más, o que nem
sempre é verdade, porque as sementes suspeitas afundam e sementes
boas, mas muito secas, mantêm-se muito tempo à superfície. Este
processo é mais correcto com sementes pequenas de resinosas.
A prova do ferro em brasa é efectuada colocando as sementes sobre
uma placa metálica aquecida ao rubro sombrio, saltando as que são
de boa qualidade e explodindo com um pequeno ruído, enquanto que
as más são consumidas na chapa. Para e
os resultados são relativamente exactos.
Quando não se tem acesso a um laboratório especializado estes métodos
simples e rápidos dão geralmente informações boas. Dá-se o mesmo
com a prova biológica, que consiste em colocar os embriões retirados
das sementes durante 3 dias numa solução de certos sais incolores,
de ácido selénico ou de ácido telúrico, que são reduzidos pelas células
vivas e libertam o metal que cora o embrião das sementes boas
de vermelho ou negro. Os laboratórios de sementes preferem utilizar
sais de tetrazolium, sendo o ensaio feito na escuridão com a duração
de 3 horas.
3.10 Informações sumárias sobre ensaios de sementes e sua
terminologia
Há regras internacionais para ensaios de sementes florestais e cada País
costuma ter o seu "Serviço de Ensaios de Sementes" normalmente
ligado à sua estrutura de investigação.
50
Aos técnicos da produção interessa acima de tudo saber: o grau
de pureza, o coeficiente germinativo, a energia germinativa e o valor
cultural da semente que produzem ou vão utilizar.
Grau de pureza
Determina-se o grau de pureza pesando-se rigorosamente uma amostra
de ensaio e com o máximo cuidado separam-se todas as impurezas:
Coeficiente germinativo
Será a relação percentual entre o número de sementes que indepen-
dentemente dum período de tempo fixo germinam e o número total
de sementes postas em germinação em boas condições de meio:
Valor cultural
Será a quantidade, expressa em percentagem, das sementes puras
susceptíveis de germinar
VC = Grau de Pureza x Coeficiente Germinativo
Energia germinativa
Interessa conhecer o comportamento da semente durante a germinação.
Assim, calcula-se o número de sementes germinadas ao fim de 5, 10,
15 dias.
O interesse na energia germinativa é bastante grande uma vez que
quanto mais depressa germinarem as sementes mais depressa se furtam
à acção dos agentes destruidores.
3.11 Sementeira directa nos canteiros
Quando fazer uma sementeira directa?
A sementeira directa exige um controlo minucioso da água, da luz
e dos elementos nutritivos durante as primeiras semanas do crescimento
da planta. Os defensores da sementeira directa nos recipientes (sacos
ou outros) evocam a economia de tempo, de trabalho e de custos com
a preparação do alfobre e a repicagem. Há que lembrar também que
a planta cresce sem o stress da repicagem e portanto com um melhor
desenvolvimento. Do lado dos inconvenientes, é necessário plantar mais
do que uma semente para garantir uma boa distribuição de plantas no
plantório, o que é difícil com sementes muito pequenas como é o caso
dos eucaliptos e com sementes certificadas, necessa-riamente caras,
não se justifica plantar mais do que uma semente por vaso. Para
sementes gradas e facilmente manuseáveis pode contudo ser uma
opção aconselhável.
No caso da opção por sementeira directa siga as seguintes regras
de boa prática:
Utilize sempre sementes frescas e maduras;
Se necessário, principalmente se se estiver em presença
de sementes duras, trate previamente a semente para acelerar
a germinação;
Prepare e disponha nos canteiros os sacos e efectue o seu ensom-
bramento com antecedência;
Se se tratar de sementes pequenas misture a semente com areia
e utilize uma garrafa tapada e com um pequeno furo ligeiramente
maior que o diâmetro da semente para proceder à colocação
da semente no saco;
Para as sementes gradas, com a ajuda do dedo ou de um pau a que
se aguçou a ponta, fazer pequenos buracos na terra no centro
do saco onde deposita a semente;
Teste previamente a viabilidade das sementes que vai usar.
Grau de pureza =Peso da semente pura
Peso total da amostra
Coeficiente germinativo = x 100Nº de sementes germinadas
Nº total de sementes
51
Profundidade e espaçamento
Os buracos devem ter profundidade entre 2 a 3 vezes relativamente
à dimensão da semente (2-3 cm de profundidade) e devem estar
distanciados 5 cm uns dos outros com uma distância de 10 cm entre
linhas quando semeia directamente no canteiro.
Sementeira
Colocar em cada cova 2 a 3 sementes e fechar a cova arrastando a terra
e pressionando-a.
Rega e sombreamento
Depois da sementeira regar delicadamente com um regador munido
com chuveiro fino uma vez de manhã e outra ao cair da tarde até
as sementes germinarem. Sombrear com uma cobertura a 60 cm
de altura. À medida que as plantas crescem elas começam a competir
umas com as outras. É então necessário desbastá-las isto é, deixar
só a melhor planta em cada cova. Ex. .
3.12 Sementeira directa em vasos (normalmente só é aplicada
para sementes gradas e em pequenas operações)
Com a ajuda do dedo ou de um pau, fazer uma pequena cova na terra
de cada saco e colocar 2 a 5 sementes. Tapar a cova e pressionar
ligeiramente a terra. Nos grandes viveiros industriais usa-se já equipa-
mento mecânico para fazer a sementeira directa na terra em canteiros
ou blocos como é o caso do sistema VAPO.
Rega e sombreamento
A rega e o sombreamento são idênticos ao caso anterior.
Desbaste
Quando as plantas têm já boa dimensão deixa-se só uma planta
por saco.
3.13 Época de sementeira
Para as plântulas em canteiro como o , a ou a
é preferível fazer a sementeira em Outubro. As plantas são plantadas
no mês de Junho-Julho do ano seguinte. Ao fim de 9 meses as raízes
das plantas estarão bem desenvolvidas, o tronco robusto e duro
e as plantas adaptar-se-ão facilmente ao terreno de plantação, mesmo
após o corte da parte do sistema radicular.
Exemplos de plantas que aguentam um corte de raízes e consequen-
temente a cultura em plena terra: , , , Teca.
De uma maneira geral a sementeira em alfobre e a repicagem para
os sacos dos eucaliptos, pinheiros, cupressus e casuarinas no Planalto
Central deve ser feita de forma escalonada de 10 em 10 dias, para que
durante toda a época de plantação haja plantas com desenvolvimento
conveniente.
O calendário seria assim o seguinte:
Sementeira: da 1ª dezena de Julho à 1ª dezena de Novembro;
Repicagem: da 2ª dezena de Setembro à 2ª dezena de Janeiro;
Plantação: da 1ª dezena de Novembro à 3ª dezena de Fevereiro;
Retanchas: da 3ª dezena de Novembro à 1ª dezena de Março.
Os canteiros devem ser devidamente identificados quanto ao:
1 Nome popular da espécie;
2 Nome científico da espécie (opcional e só aplicável aos viveiros
estatais);
3 Origem da semente/clone ou das enxertias;
4 Data da sementeira.
Fig. 34 - Exemplo de identificação de um canteiro no plantório
4. TRATAMENTOS CULTURAIS
4.1 A rega
A rega das sementes e das plântulas faz-se com um regador munido
com chuveiro fino. Se existir uma moto-bomba e abastecimento
de água corrente no viveiro, pode efectuar-se a rega com uma mangueira
equipada com um dispersor para produzir gotas finas.
Na altura da germinação, devem ser utilizados regadores com chuveiro
fino. Mantenha o solo húmido mas não molhado. Se as sementes forem
muito finas deve utilizar um pulverizador até as plântulas terem 1 cm
de altura. Nunca deve alagar o solo nem usar regadores com chuveiro
grosso porque pode fazer arrastar as sementes. Logo que se dê
a germinação regar uma vez por dia. No plantório regar 2 vezes por dia,
uma logo de manhã cedo e outra no fim do dia. Cuidado contudo com
regras fixas. Uma boa prática viveirista é a de verificar o grau de
turgescência das folhas plantas para determinar o período de rega.
Tenha-se em atenção que é bom para a planta deixar secar um pouco
o substrato entre regas. Efectue diariamente uma rega suficiente para
que a água penetre até ao fundo do saco mas sem alagar. Isto é mais
eficaz do que regas frequentes mas superficiais que não possibilitam
à raiz e à planta a água necessária à sua manutenção. Tenha em atenção
que o excesso de água, tanto como a sua falta, são maus para a planta
e a enfraquecem, levando a um mau crescimento e grandes falhas.
Verificação da humidade
É importante verificar com frequência a humidade do solo nos sacos,
principalmente na fase inicial, para se fazer ideia do número de passagens
da rega com o regador. Levantar um saco e verificar se os furos
de drenagem estão molhados e se não existe nele água estagnada.
Se existirem indícios de excesso de água reduza a quantidade de água
fornecida.
Frequência
Se o viveiro estiver adequadamente sombreado uma rega no início
da manhã é suficiente. Se houver necessidade em dias de muito calor
e secos pode proceder a uma segunda rega à tarde (pôr do sol).
Como regar
Uma boa prática consiste em regar completamente o substrato. Uma
má prática é a de dirigir a água sobre as folhas e não sobre o solo.
É positivo lavar as folhas principalmente em zonas sujeitas a poeira,
mas lembre-se sempre que são as raízes que absorvem a água e não
as folhas. Tenha também em atenção, principalmente quando as regas
são feitas com regador, que a distribuição da água deve ser o mais
uniforme possível. Nestes casos há a tendência para que o meio
do canteiro receba mais água que os das extremidades. Se usar uma
mangueira, utilize um pulverizador fino e baixa pressão e a boa prática
52
de rega aconselha a regar lentamente e verificar se a água penetra até
ao fundo do invólucro. Uma má prática a controlar é regar rapidamente
de forma a que só a superfície do solo fique molhada.
Boas práticas a reter:
Verificar regularmente o estado de turgescência das folhas para
determinar quando deve regar;
Regar cedo de manhã e tarde depois do meio dia;
Regar completamente o substrato e não as folhas;
Regar lentamente e verificar se a água chega ao fundo do recipiente;
Utilizar um bico de dispersão fino no regador. Se utilizar uma
mangueira o aspersor deve ser regulável;
Depois de cada rega, lavar o regador e o chuveiro e limpá-los
de detritos ou terra;
Reduzir a quantidade de água que as plantas recebem, 4 semanas
antes da plantação;
Regar bem na tarde que antecede o transporte para a plantação;
Cobrir as plantas com uma folha de plástico ou uma tela leve para
evitar a secagem durante o transporte.
Más práticas, se bem que correntes, a evitar:
Regar com calendários fixos independentemente da necessidade
das plantas;
Orientação da água para as folhas em vez do solo;
Regar a meio do dia;
Regar rapidamente molhando somente a superfície do solo;
Usar o dedo para regular o escoamento da água.
4.2 A nutrição das plantas
Todas as plantas necessitam de elementos nutritivos para sobreviver
e se desenvolver. Elas retiram os elementos nutritivos que necessitam
do ar, do solo e da água. A quantidade de elementos nutritivos disponíveis
para as plantas é afectada por:
Qualidade do substrato;
Qualidade da água;
O tipo de planta.
Há dois tipos de elementos nutritivos: os macronutrientes, exigidos em
grandes quantidades, e os micronutrientes de que as plantas necessitam
em pequena quantidade mas que se estiverem ausentes provocam
desequilíbrios no desenvolvimento, uma vez que são relevantes para
o conveniente aproveitamento dos macronutrientes.
Quadro 10 - Principais elementos minerais importante na nutrição
das plantas
O único meio para sabermos com rigor o estado nutricional da planta
é a análise das folhas e a comparação dos valores encontrados com
os valores de referência para a espécie. Muitas pessoas confundem
as carências nutritivas com o excesso de água ou sombreamento. Na
verdade a água, a sombra e os elementos nutritivos interagem para
produzir uma planta sã, com vigor e com potencial futuro na plantação.
53
Micronutrientes
Ferro
Manganésio
Zinco
Cobre
Boro
Cloro
Molibdénio
Macronutrientes
Azoto
Fósforo
Potássio
Cálcio
Magnésio
Enxofre
54
É necessária prática para aprender os sinais ou sintomatologias mais
comuns que denunciam situações de carências nutritivas. Assim
a vigilância sobre os sinais que se espelham nas folhas é uma boa prática
de viveiro, uma vez que permite corrigir deficiências.
Sintomas comuns
Macronutrientes
Azoto: é um nutriente móvel, querendo isto dizer que quando o azoto
é insuficiente as plantas transferem-no das folhas mais velhas para
as mais novas e de crescimento mais activo. É um importante
componente da clorofila, enzimas, proteínas estruturais, ácidos nucleicos
e outros compostos orgânicos. Quando é insuficiente as folhas mais
velhas no nível inferior tornam-se amareladas enquanto as folhas novas
permanecem verdes.
Fósforo: nos solos tropicais a sua disponibilidade é muito pequena.
Como consequência a manifestação da sua insuficiência pode
ser bastante evidente pelo que a adubação fosfatada deve ser aplicada
antes da repicagem no substrato. Nos substratos com deficiência deste
macronutriente toda a planta fica raquítica e disforme, particularmente
no início do crescimento. Dependendo das espécies as folhas podem
assumir uma coloração verde pálida, amarela ou violácea. Esta última
cor é um aspecto característico da insuficiência de fósforo se bem
que seja necessário não a confundir com a coloração das folhas novas
que é muito comum nas espécies tropicais.
Potássio: é um elemento facilmente lixiviável principalmente em subs-
tratos arenosos e com pH<5,0. O potássio é um regulador
da síntese dos carbohidratos e do transporte dos açúcares. Adequadas
quantidades de potássio tornam as plântulas mais resistentes
às condições adversas de plantação ficando mais resistentes à seca.
Os sintomas de insuficiência aparecem primeiro nas folhas velhas. Estas
começam a amarelar nas extremidades ficando, no entanto, com
um pouco de verde na base. Mais tarde, as extremidades das folhas
ficam castanhas e quebradiças ou notam-se pequenos pontos necrosados.
As plantas podem mesmo apresentar um aspecto murcho mesmo com
água suficiente no substrato. Quando as carências são severas as folhas
morrem.
Cálcio: faz parte dos constituintes básicos da parede celular e está
envolvido no metabolismo do azoto sendo necessário para o crescimento
dos tecidos meristemáticos e é importante para as funções das raízes.
É uma carência difícil de diagnosticar porque os sintomas compreendem
um crescimento lento, um botão floral fraco e as raízes têm um
crescimento maciço e uma coloração acastanhada. Este problema
é comum nos solos ácidos e pode ocorrer em solos ferralíticos
ou fersialíticos. A existência de um sistema radicular bem desenvolvido
e com bastantes pelos absorventes é importante para a absorção do
cálcio.
Magnésio: é um elemento nutritivo frequentemente deficiente nos
solos de estrutura dura e ácidos. É importante na formação da clorofila
A assimilação pode ficar bloqueada se houver bastante potássio
no solo. Tal como o azoto, o magnésio é um nutriente móvel. Assim
a sintomatologia de carência ocorre primeiro nas folhas mais velhas
que mostram um amarelecimento muito característico ao longo dos
bordos da folha e que se estendem depois para o centro apresentando
um desenho raiado.
Enxofre: é um elemento essencial para uma eficiente utilização do azoto
pelas plântulas bem como na constituição dos aminoácidos e para
a síntese das gorduras. Substratos com carências de matéria orgânica
mostram frequentemente também carência de enxofre. Nos casos
55
de insuficiência as plantas apresentam-se ligeiramente dobradas. Este
elemento é também um elemento móvel mas agora os primeiros
sintomas manifestam-se nas folhas mais jovens que desenvolvem
os bordos queimados e quebradiços. As zonas secas formam-se ao longo
dos bordos e vão-se estendendo para o centro e ao longo da nervura
central da folha.
Micronutrientes
As carências em micronutrientes são de modo geral mais difíceis
de diagnosticar. Aqui só se citam as mais comuns.
Ferro: é comum ocorrerem em solos alcalinos ou calcários (pH > 7).
É um sintoma improvável dadas as características de solos no Planalto
Central. O ferro é importante nos cloroplastos e nas folhas, onde
é importante na síntese das proteínas. É um nutriente relativamente
imóvel e, quando apresenta carências, inicia uma clorose nos botões
terminais das plantas. Esta clorose é facilmente corrigida com uma
acidificação do solo ou de preferência com a junção de quelatos
de ferro disponíveis no mercado.
Magnésio: é essencial para a síntese da clorofila podendo também
afectar a disponibilidade de ferro. Os sintomas de deficiência podem
ser confundidos com os de ferro mas uma observação mais atenta
mostra que os tecidos entre as nervuras se descoloram enquanto
as nervuras ficam verdes e ficam rodeadas de uma banda de tecido
verde.
Cobre: é um importante activador das actividades enzimáticas. Em
substratos arenosos e com pouca matéria orgânica, o cobre torna-se
menos disponível à medida que os valores do pH do solo forem
crescentes. Altos valores de fósforo no solo podem reduzir a absorção
do cobre pelas plântulas. As deficiências em cobre manifestam-se
nas folhas novas que ficam amareladas nas extremidades e se tornam
torcidas.
Boro: a sua carência impede o transporte do açúcar, afectando o botão
terminal que amarelece e seca progressivamente. Esta deficiência ocorre
com mais frequência em substratos muito arenosos e com pouca
matéria orgânica. Esta necrose avança da ponta ao longo do caule pelo
que se chama “die back”. As plantas crescem lentamente e os troncos
tendem a ficar tortos. É uma carência que tem sido detectada
amiudadamente nos eucaliptos no Planalto Central.
Molibdénio: é importante para a fixação do azoto e também para
os sistemas de redução dos nitratos. A sua deficiência pode provocar
distúrbio metabólicos nas plântulas. Ocorre uma clorose seguida
por necrose de tecidos, iniciando-se nas extremidades e estendendo-
se posteriormente ao resto da planta.
Cloro: é um elemento essencial para a fotossíntese. De uma forma geral
o suprimento de cloro por absorção da atmosfera é suficiente para
atender às necessidades nutricionais das plântulas.
Caso verifique alguns dos sintomas descritos e não tenha acesso rápido
a serviços de aconselhamento, recomenda-se a procura no mercado
de produtos disponíveis e a leitura atenta do folheto que normalmente
acompanha o adubo. A Coopecunha utiliza normalmente o adubo
Superfoska (12-24-12). Os números mostram que aquele adubo
granulado tem um o teor de azoto de 12%, 24% de fósforo e 12%
de potássio. O restante material para 100% é um material inactivo
para ajudar a espalhar o adubo. Caso a adubação inicialmente feita
na preparação do substrato não tenha sido suficiente e se notem alguns
dos sintomas descritos, utilize adubos granulares que devem ser deitados
no substrato conforme se indicou na respectiva secção. Para pequenos
viveiros comunitários e quando se usam pequenas quantidades
de substrato poderá deitar-se 2 a 4 grs de Superfoska (1/2 colher
de café) por cada kg de terra antes de encher os sacos.
56
Quando tiver de usar um adubo para corrigir sintomas de deficiências
utilize sempre pequenas quantidades (preferencialmente de adubo sob
a forma granular) que se colocam no solo sem ser em contacto com
a planta. As plantas devem responder à aplicação num intervalo de duas
semanas.
Em viveiros de maior dimensão e quando se manifestam sintomas
de carência por insuficiência de preparação do substrato para os plantórios
pode utilizar-se uma adubação foliar com produtos que existem
no mercado já especialmente formulados. Estes adubos como
a “GroGreen”® contêm micro e macro nutrientes e também um agente
aderente para ajudar à fixação do adubo à folha. Sendo estas soluções
caras só devem ser utilizadas como recurso.
Na sua prática viveirista tenha em atenção que as plantas para
se desenvolverem necessitam de 13 elementos nutritivos em quantidades
diferentes e que os sintomas comuns de carência descritos não devem
ser confundidos com os efeitos dos excessos ou carências de água
e sombra.
Como boa prática proceda da seguinte forma:
Verifique sempre as folhas das plantas no viveiro para detectar
carências nutritivas e para a sua correcção com utilização de composto
ou adubo;
Leia atentamente as etiquetas que acompanham os adubos por
forma a perceber se trazem os nutrientes em falta;
Na aplicação do nutriente em saco dilua convenientemente
o adubo em água morna e aplique-a no solo e nunca sobre as folhas.
A excepção é para as formulações especiais para adubação foliar;
Finalmente, lembre-se sempre que a melhor solução é sempre
a cuidada preparação do substrato. Os adubos para correcção são
sempre um recurso.
4.3 Cuidados sanitários
Podridão = inimigo nº 1 do viveiro
A podridão é uma doença provocada por fungos ou bactérias que pode
matar rapidamente toda a produção dum viveiro. Podridões das sementes,
do colo, das raízes. Em condições de humidade exagerada desenvolvem-
se fungos e bactérias que atacam várias partes das plantas. As podridões
aparecem em várias fases de vida das plantas, atacando as sementes,
o colo e as raízes e provocando a morte das sementes e das plantas.
Causas das podridões
O que provoca esta doença?
humidade elevada;
temperatura elevada;
solo muito rico em matéria orgânica e nitratos.
Factores favoráveis às podridões
A podridão desenvolve-se quando:
as plantas se encontram muito densas;
quando a rega é excessiva;
quando o sombreamento é exagerado e se encontra muito baixo
impedindo uma boa ventilação.
Como evitar a podridão
Para evitar o aparecimento de podridões no viveiro:
não coloque no viveiro estrume mal curtido;
não regue demasiado;
evite o encharcamento do solo;
retire a cobertura no tempo fresco e na parte de manhã;
evite grande densidade de plantas nos canteiros.
Quando tiver de enfrentar um surto de doença ou ataque de insectos
não obstante ter seguido as normas aconselhadas, procure apoio
de um fitopatologista. O produto aconselhado e a concentração prescrita
dependerá do tipo de agente biológico (fungo, bactéria ou nemátodo
ou ainda insecto).
Ao utilizar um pesticida ou fungicida lembre-se sempre que de modo
geral eles são bastante tóxicos pelo que a sua manipulação deverá
processar-se com cuidados especiais.
Lembre-se que os pesticidas penetram no homem através :
da pele;
da respiração;
dos olhos;
da boca quando comemos, bebemos ou fumamos.
Lembre-se que os efeitos são cumulativos e que os sintomas podem
levar muitos anos a manifestar-se.
Quando tiver de utilizá-los siga rigorosamente as instruções do fabricante
e tenha em atenção as seguintes regras gerais:
Utilize uma camisa de mangas compridas e calças compridas;
Utilize botas de borracha;
As calças devem estar por fora das botas;
Os punhos da camisa devem estar dentro das luvas;
Deve usar um chapéu;
Coloque uma mascara, de preferência com um filtro. Na sua falta
proteja o nariz e boca com um lenço;
Use óculos de protecção;
Pulverize a favor do vento.
Fig. 35 - Medidas de segurança a adoptar na aplicação de pesticidas, fungicidas
ou herbicidas
Como evitar a salalé
Para evitar os estragos que a “salalé” pode provocar no viveiro atacando
as raízes das plantas, utilize os seguintes pesticidas disponíveis
no mercado ou similares.
Quadro 11 - Alguns dos insecticidas usados no combate à “salalé”
57
Produto Dosagem Modo de aplicação
Aldrina 0,025% 1-2 litros de calda junto
ao colo da árvore
clordano 0,05% 1-2 litros de calda junto
ao colo da árvore
diazimão 0,04-0,05% 0,5-1 litros de calda junto
ao colo da árvore
dieldrina 0,025% 0,5-1 litro de calda à volta
do colo da planta
Forma correctade aplicar um insecticida
Forma totalmente erradade aplicar um insecticida
Empalhamento do solo
Logo que ocorram sintomas de doenças nas plantas (plantas tombadas
ao nível do colo, folhas murchas e amarelas sem que haja falta de água,
coloração branca ao nível do colo e filamentos esbranquiçados ao nível
do solo ou das raízes) é necessário proceder a tratamento.
Se for possível obter assistência técnica na sua região solicite-a por
forma a obter o tratamento químico mais adequado. Caso contrário,
retire as plantas doentes e mortas. Não espalhe o solo e as plantas mas
ponha-as numa cova e lance fogo.
Deve parar a rega para permitir que o solo seque, o que provoca a morte
dos fungos e bactérias.
Pode substituir a cobertura até à germinação das sementes. A operação
consiste em cobrir os canteiros semeados, com palha ou folhas que
garantem o sombreamento e a frescura do solo que é fundamental
a uma boa germinação. Pode-se regar sem que a palha constitua um
entrave. Quando as sementes germinam a palha deve ser imediatamente
retirada e substituída pela cobertura.
Eliminação das infestantes
As ervas daninhas "comem" os elementos nutritivos destinados
às plantas. A competição das ervas daninhas faz-se sentir a três níveis:
o dos nutrientes, o da água e o da luz.
As ervas daninhas crescem mais depressa que as plântulas e deixam-
nas na sombra. As plântulas tornam-se delgadas e de cor clara (deficientes
em clorofila). Não deixe as ervas daninhas crescer, o que significa que
deve limpar os canteiros e os vasos frequentemente e assim que
comecem a crescer.
Fig. 36 - Imagem de um canteiro de viveiro florestal dominado pelas ervas
daninhas
Devem-se estripar as ervas daninhas com as suas raízes. A operação
tem de ser feita delicadamente a fim de não desenterrar as plântulas
ou não ferir o seu sistema radicular. Pode usar-se uma pequena estaca
afiada para proceder a esta operação.
Fig. 37 - Eliminação de ervas daninhas
58
A sacha
Objectivo
O seu objectivo é quebrar a crosta da terra que à superfície se tornou
dura com a rega, para permitir uma boa infiltração da água e um bom
arejamento do solo e diminuir a evaporação.
Ferramentas
A sacha efectua-se com um pequeno sacho directamente na terra
do canteiro ou com uma navalha para o caso dos sacos.
Frequência
1 a 2 vezes por mês.
A monda
À medida que as plantas crescem, se todas as sementes germinam, vão
interferir umas com as outras da mesma maneira como sucede com
as ervas daninhas.
Objectivo
É necessário então "mondar", ou seja, deixar apenas uma planta
em cada ponto do canteiro, de preferência igualmente espaçados
ou uma por cada saco.
O procedimento é idêntico ao descrito para as ervas daninhas.
As podas radiculares e aéreas
Entende-se como poda a eliminação de uma parte das plântulas com
o objectivo de promover benefícios para o melhor desenvolvimento
das mesmas. Tanto as raízes com a parte aérea das plântulas podem
ser podadas. Os dois tipos de poda são respectivamente:
A poda radicular;
A poda aérea.
Esta técnica contudo, só pode ser aplicada a espécies tolerantes. Caso
contrário a sua aplicação pode apresentar fortes prejuízos e mesmo
a inutilização, por morte, das plântulas.
Esta técnica (não obstante ter vindo a ganhar relevância em alguns
projectos intensivos de reflorestação, é apresentada neste manual
de uma forma sucinta, e que não se desenvolve dada a natureza
experimental e a pequena dimensão da actividade viveirista a instalar
no Município de Ecunha) só pode ser aplicada a espécies testadas
e consideradas tolerantes e onde se tenham verificado benefícios
na sua aplicação:
plântulas de melhor qualidade;
com maior capacidade de desenvolvimento das plantações
futuras;
com maior capacidade de sobrevivência das plântulas plantadas.
A aplicação de podas a espécies não testadas pode representar prejuízos
ao desenvolvimento das plântulas e ter consequências fatais quanto
à sua sobrevivência. Na poda radicular podem ser eliminadas as raízes
aprofundantes e/ou laterais. O corte das raízes laterais contudo, não
é possível no caso de plantas em recipientes, pela existência das paredes
que impedem esta operação. As excepções são os recipientes
biodegradáveis de paredes perfuráveis pelas raízes, que ao penetrarem
nos espaços existentes entre os recipientes, secam ao ar (é a denominada
poda natural ou pelo ar). O sistema VAPO de produção de plântulas,
metodologia que não apresenta o substrato envolvido por paredes,
pode ter também raízes laterais podadas e vem assumindo uma larga
preponderância nos grandes viveiros florestais de pinheiros para alimentar
as grandes plantações industriais (Figura 37).
59
60
Fig. 38- Pinheiros produzidos pelo sistema VAPO
Já as plântulas produzidas em tubetes de plástico rígido ou sacos de
plástico que receberam um tratamento SpinOut® apresentam as raízes
aprofundantes e laterais podadas pelo ar, pois estas últimas têm o seu
direccionamento forçado para o fundo do recipiente, onde existe orifício
por onde elas passam e penetram no ar. A poda radicular em mudas
em raiz nua é de fácil mecanização. Conforme o tipo de equipamento
utilizado, somente as raízes aprofundantes são podadas. Há outros tipos
que podam simultaneamente, tanto as aprofundantes quanto as laterais
como sucede com o sistema VAPO de produção de plantas (Fig. 38).
A poda aérea consiste na eliminação de uma parte do botão terminal
das plantas. Não há limitações no seu uso no que se refere ao tipo de
mudas, se em raiz nua ou produzidas em recipientes, contudo não
constitui uma prática de uso corrente nomeadamente para as espécies
que nesta fase constituem o esforço de produção maior. Tem interesse
contudo para certas espécies como a (uma
espécie lenhosa que interessa ensaiar pelo seu elevado potencial
forrageiro).
Qualquer um dos dois tipos de poda altera o ritmo de desenvolvimento
das plântulas. Esta modificação no crescimento resulta em maior tempo
de permanência no viveiro e a sua generalização tem de ser pesada em
termos do balanço custos-benefícios. É uma prática que também se
utiliza quando se tem intenção de aumentar o período de rotação para
que haja disponibilidade de mudas para plantio fora da estação. Esta
alternativa ocorre quando não exista adequada precipitação pluvial
durante a estação de plantio. Dada a regularidade da estação das chuvas
no Planalto Central de Angola este argumento só deverá ser utilizado
em casos excepcionais.
Fig. 39 - Exemplo de uma plântula produzida pelo sistema VAPO onde as raízes
são podadas em profundidade e lateralmente
Finalidades das podas
As principais finalidades da poda são:
Aumentar a percentagem de sobrevivência;
Propiciar produção de plântulas mais robustas;
Adequar o balanço do desenvolvimento em altura e o sistema
radicular;
Aumentar o período normal de rotação da espécie no viveiro;
Fomentar a formação de sistema radicular fibroso;
61
Estimular o desenvolvimento de raízes laterais;
Servir de alternativa à repicagem em canteiros de plantas em raiz
nua.
Alguns exemplos serão mencionados sobre a técnica no desenvolvimento
de mudas de várias espécies. No geral e não obstante diferentes espécies
terem níveis distintos de tolerância e de resposta em termos
de configuração final do sistema radicular, a resposta da poda é favorável
ao desenvolvimento das plântulas.
Exemplos e efeitos das podas radiculares
Embora exista o receio da possível ocorrência de infecção por fungos
a partir das superfícies podadas, este risco não é considerável. PETAÏSTÕ4
(1982) usando turfa e solo mineral pesquisou, em dois viveiros,
a possibilidade de risco de infecção em e .
As podas foram efectuadas em três épocas e identificados os fungos
que ocorreram 2 meses após a poda no ano posterior. Nenhuma infecção
patogénica foi constatada.
Vários ensaios de intensidade de poda e idade das plântulas a que são
aplicadas, parecem mostrar a necessidade de 7 a 8 semanas para
as plântulas recuperarem a sua capacidade de assimilação da água,
verificando-se que a capacidade de recuperação é maior para as plântulas
de maior idade e altura. As profundidades de aplicação da poda radicular
situaram-se entre os 10-15 cm de comprimento da raiz aprofundante.
A intensidade e comprimento da poda radicular deve efectuar-se pelo
menos 2 meses antes da data de plantação e para que não haja
desequilíbrios na relação raiz/parte aérea. Os vários ensaios efectuados
em espécies tolerantes mostraram maior desenvolvimento de raízes
laterais nas plântulas podadas em detrimento do crescimento da raiz
aprofundante, em comparação com as plantas da testemunha. Também
se verificou aos 56 dias, que todos os tecidos (folhagem, galhos e haste)
das plantas podadas tiveram menor peso de matéria seca, em confronto
com as não podadas.
COKER (1984) também pesquisou as trocas de N solúvel, insolúvel
e concentrações de clorofila em plântulas de com e sem
poda. Após a execução desta operação, notou acentuada redução
na concentração do N total, solúvel e insolúvel, na parte aérea. Parte
do N móvel foi direccionada para o crescimento radicular e cerca
de 15% perdeu-se como exsudado das raízes. Contudo, 21 dias após
a poda, a concentração do N começou a melhorar coincidindo com
ganhos de peso seco das raízes laterais. Aos 56 dias a concentração
aproximou-se à do dia 0 (zero). Quanto às concentrações de clorofila
nas acículas, nenhuma diferença significativa foi encontrada nas plântulas
podadas ou não.
os ensaios efectuados no Chile mostraram que certas espécies têm
uma resposta muito positiva à intervenção no sistema radicular,
principalmente se o plantio for pelo sistema de raiz nua que hoje
representa já mais de 40% das plantações efectuadas com aquelas
espécies. Como exemplo, as plântulas de necessitam
de poda de ramos ou intensivo manejo do sistema radicular para melhor
taxa de sobrevivência. Estão ainda nesta situação o
e enquanto que o requer apenas
poda da raiz aprofundante.
ALVARENGA et al. (1994) avaliaram o desempenho ALVARENGA et al.
(1994) avaliaram o desempenho de mudas após
alguns tratamentos de poda do sistema radicular lateral executada à
mesma distância de 3 cm do colo. Decorridos 30 dias após a execução
da poda verificou-se que a altura, o diâmetro de colo, peso de matéria
seca das partes aérea e radicular não tinham sofrido um efeito marcante
da poda no desenvolvimento das plântulas.
62
Contudo, a poda menos intensiva de um só lado do vaso, promoveu
um ligeiro estímulo do desenvolvimento e vrificou-se que esta intensidade
de poda provocou intenso lançamento de raízes novas (4 a 5 ou mais)
no ponto de seccionamento. No final do ensaio o corte moderado
mostrou raízes mais compridas do que as provenientes de poda mais
drástica, que provocaram stress, causando redução do desenvolvimento
e lançamento menos intenso de raízes novas. Verificou-se ainda que
a absorção de maior quantidade de água em regime de maior
disponibilidade hídrica no substrato, proporcionava maior crescimento
em altura e peso de matéria seca da parte aérea em paralelo com uma
maior absorção de nutrientes.
Poda de raízes de plantas criadas em recipientes
Com algum tempo de crescimento em recipientes, principalmente nos
sacos de plástico não tratados com Spin-Out®, as plantas tendem
a emitir raízes através dos orifícios de drenagem e a penetrar no solo
dos respectivos plantórios. Estas raízes devem ser periodicamente
cortadas (de em dois meses no máximo). O recipiente é levantado,
as raízes são cortadas com uma tesoura bem afiada e o saco é novamente
colocado no espaço que ocupava. É possível efectuar a operação dando
um safanão rápido ao saco, o que normalmente é suficiente para
seccionar a raiz, embora não se aconselhe este procedimento que pode
produzir destruições muito extensas no sistema radicular. Para sacos
dispostos em camas altas as raízes podem ser cortadas com uma
pá de viveiro bem afiada. Pode usar-se também uma corda de viola
um pouco mais larga que o canteiro, presa em duas hastes de madeira
que são puxadas por dois homens. É um processo muito rápido,
sem manipulação dos sacos e bastante eficaz.
Fig. 40 - Poda de raízes em plântulas criadas em recipiente
Poda das raízes em plântulas criadas em plena terra
Enquanto as plântulas estão no plantório as raízes são cortadas sem
levantamento da planta usando uma pá de viveiro com gume bem
afiado. O nível de seccionamento não deve ser muito fundo nem muito
superficial devendo situar-se entre os 10 e os 30 cm de profundidade
dependendo do tipo de planta e da idade com que a queremos plantar.
A pá é introduzida no solo em direcção ao eixo da planta com uma
inclinação de 45º e entrando na terra sensivelmente a 20 cm desse
eixo. Para pequenas plântulas crescendo de forma regular no plantório,
o seccionamento faz-se com uma pá de bordo recto e cortante passando-
a de forma contínua entre as linhas de plantação com movimentos
rápidos de corte.
Fig. 41 - Poda de raízes em plantórios em plena terra
poda de raízcom tesoura
corte de raízpor arrancamento
poda de raízcom colher de pedreiro
poda de raízeslaterais com pá
63
Na preparação das plantas de raiz nua para expedição é usual proceder-
se a uma poda de melhoria da conformação das raízes o que é benéfico
para a plantação. Os procedimentos mais comuns são quase sempre
o corte radicular de grupos de plantas de uma única vez (fig. 41) logo
que saem das camas húmidas (Fig. 42) onde são colocadas antes
da preparação para expedição.
Podas aéreas
As podas aéreas fazem parte do processo de rustificação da planta antes
da plantação não sendo, no entanto, uma prática rotineira de viveiro.
Pode ser usada quando for desejável uma melhor proporção entre
as partes radicular e a aérea ou para retardar o crescimento em altura
das plântulas.
Fig. 42 - Preparação do sistema radicular das plântulas criadas directamente
no plantório
Fig 43 - Forma de conservar as plântulas de raiz nua antes da expedição
A poda (ou o desbaste de acículas e folhas) tem também o objectivo
de reduzir a transpiração e assim, aumentar a sobrevivência em condições
adversas. Não existem estudos conclusivos evidenciando vantagens
desta técnica como prática rotineira devendo alertar-se para a perda
da produção fotossintética e para a possibilidade de impedimento
da síntese da vitamina B1, efectuada na parte aérea e translocada para
as raízes e necessária para o seu desenvolvimento. Ensaios feitos com
o envolvendo a poda radicular a 1,5 cm do fundo e uma poda
aérea a 10 cm da parte apical de mudas de com
idades entre os 90 e 165 dias após a sementeira, mostraram que seis
meses após o plantio não apresentavam diferenças significativas
no crescimento em altura e na percentagem de sobrevivência.
A percentagem de sobrevivência foi alta em todos os casos evidenciando
tolerância a esta prática. Os resultados parecem evidenciar que embora
a seja tolerante à poda aérea, não existem vantagens práticas
nem económicas em efectuá-la.
raízes lateraise raíz aprofundantemuito compridas
poda de raízesde várias plantas
em conjunto
a mesma operaçãoexecutada com catana
64
Para o caso de alguns pinheiros tropicais como
e , produzidos em recipientes em viveiros Hondurenhos,
foi confirmada a eficiência da poda aérea naquelas espécies. O
submetido também a podas radiculares e aérea mostrou que
estas duas operações influenciaram favoravelmente a sobrevivência das
plântulas em plantação. Nestas, a poda aérea provoca o aparecimento
de alguns botões apicais, um dos quais, com o passar do tempo, assume
a predominância entre os demais.
Não obstante a importância que as podas vêm revestindo na moderna
prática viveirista mas porque ainda há poucos estudos dos efeitos
da poda aérea e do seu efeito quanto a: adaptabilidade a sítios secos,
efeitos sobre a altura, diâmetro, superfície foliar, pesos de matéria seca
das partes aéreas e radicular, produtividade/ha/ano, bem como
as questões que se relacionam com a frequência e época de execução,
no caso do viveiro em Ecunha não se aconselha qualquer execução
de podas aéreas nas plantas que vão constituir o grosso do esforço
de produção na primeira fase.
Atempamento (rustificação) e transporte
A quantidade de água de rega deve ser reduzida nas quatro semanas
que antecedem a saída das plantas para plantação. Nesta fase deve
permitir-se que o solo seque completamente e que as plantas murchem
ligeiramente durante um dia. Este processo deve ser repetido várias
vezes. Esta rustificação vai permitir que as plantas estejam mais
resistentes às intempéries, a um pequeno cacimbo mais longo
e ao efeito dos ventos quando são plantadas. Vai-se diminuir com este
procedimento a mortalidade pós plantação. Mas mesmo com esta
operação de rustificação das plantas é importante que o viveirista não
se esqueça de regar as plantas na véspera da saída e que o transporte
se faça sob sombreamento com uma tela para protecção do vento
e do excesso de sol. Estes cuidados aplicam-se de igual modo à expedição
de plantas de raiz nua que são ainda mais sensíveis à secagem
e ao efeito nocivo dos raios solares incidindo directamente sobre elas.
Os cuidados de embalagem envolvem a feitura de várias embalagens
onde se põe terriço bem húmido e se embalam grupos de plantas
(Fig. 43)
Fig. 44 - Preparação das plantas de raiz nua para envio para plantação
5. BASES DE CÁLCULO DO NÚMERO DE PLANTAS PARA PLANTAÇÃO
O cálculo do número de plantas a produzir no viveiro é função da área
que se pretende beneficiar, da espécie que se vai usar bem como
do destino que se lhe quer dar. Em termos dos objectivos que estão
propostos para o projecto vamos apenas considerar plantações
de pinheiros e eucaliptos com destino à produção de lenhas e madeiras.
Vamos partir de compassos apertados porquanto e de acordo com
o plano de gestão, a idade dos desbastes e a abertura do coberto vão
ditar os diferentes destinos das árvores que a agricultor vai dar à madeira:
para lenha com idades curtas 5 a 6 anos, postes 6 a 12 anos e madeira
20-25 anos.
folhas de bananeira
com papel impermeável
em sacos de plástico
em caixa de cartão
65
Distinguem-se quatro traçados de plantação:
1 - Em linha
2 - Em quadrado
3 - Em triângulo equilátero
4 - Em triangulo isósceles
Em que:
S = área da terra em m2 que pretende plantar;
D = distância de planta a planta;
L = distância de linha a linha.
Quanto ao compasso (o espaçamento entre árvores) que determina
o número de plantas por área ele é determinado por:
1. As características de produtividade da zona a plantar. Em estações
de boa qualidade as plântulas podem ficar mais espaçadas porque sendo
maior o crescimento, as árvores mais rapidamente ocupam o espaço
fazendo uso integral do seu potencial o que já não sucede em áreas
mais pobres com menores crescimentos.
2. Objectivos da plantação. Para a produção de madeira serrada
de qualidade, como o ou o cupressos aconselham-se
espaços mais apertados para evitar a formação de ramos grossos
e obter uma desramação natural. Se se adoptar compassos largos,
a obtenção de madeira serrada de qualidade tem de ser complementada
com a execução de desramações artificiais o que representa um custo
adicional por metro cúbico de madeira produzida.
3. Exigências das espécies a plantar. Estas devem ser consideradas
conjuntamente com a fertilidade do solo, a dimensão das plantas,
a sua rapidez de crescimento, o clima e o modo de exploração desejada.
Se a densidade for exagerada, as árvores crescerão demasiado em altura,
sem engrossarem proporcionalmente. Se, pelo contrário, forem plantadas
demasiado separadas, o seu crescimento será menor em altura
e os ramos serão muito mais grossos o que poderá comprometer
a qualidade do tronco se o agricultor pretender obter madeira com
poucos nós (mais valorizada pela indústria). Deverá lembrar-se que terá
menos peças grandes porque o material lenhoso que a árvore vai
formando vai sendo desviado para os ramos e que as árvores têm mais
tendência para bifurcarem a pouca altura do solo. Acresce que com
compassos largos há uma maior tendência para a invasão de ervas
daninhas, o que aumenta os custos da manutenção com limpezas para
evitar as infestantes e os riscos de incêndio.
O compasso que se afigura mais conveniente para os eucaliptos
principalmente para pequenas plantação nas aldeias e com o destino
principal de abastecimento de lenhas é o de 2,0 X 2,0 m.
Já para os pinheiros, seja o patula ou o pseudostrobus, será mais
aconselhável um compasso de 2,5 X 2,5 m.
Cálculo da quantidade de sementes
A quantidade de sementes a utilizar depende do número de plantas
a produzir anualmente em função do programa de florestação definido
e também da forma adoptada para aquela produção: plantas de raiz
nua ou em recipientes e da metodologia de produção: manual
ou mecanizada. A quantidade de sementes é calculada pela seguinte
fórmula:
N (nº de plantas) =S
d*l
N (nº de plantas) =S
d2
N (nº de plantas) = *1,155S
d2
N (nº de plantas) =S
d2*l
K =D x A
G x P x N (100-f)
66
Em que:
K = Quantidade de sementes, em kilogramas, por canteiro;
D = Densidade das plântulas/m2;
A = Área do canteiro;
G = Percentagem de germinação, contida no Boletim de Análise
de Sementes que acompanha cada aquisição;
P = Percentagem de pureza conforme expressa no Boletim de Análise
de Sementes;
N = Número de sementes, por quilo, conforme expresso no Boletim
de Análise de Sementes;
f = Factor de segurança.
6. PRODUTOS NATURAIS PARA COMBATER INSECTOS E DOENÇAS
NOS VIVEIROS
Em muitas situações, principalmente em pequenos viveiros comunitários,
é importante que os agentes da extensão florestal sejam conhecedores
de formas de combater agentes biológicos, insectos, fungos ou bactérias
que podem atacar o viveiro sem recurso a pesticidas ou fungicidas que
frequentemente não estão disponíveis nos pequenos mercados locais.
Produto
Pireto
Gliricidia
Tabaco
Bouganvilia
Espinafre
Papaia
Alho ou cebola
Giz
Urina animal
Parte utilizada
Flor
Raízes, sementes e folhas
Folhas frescas
Folhas frescas
Folhas secas
Bolbos
3-5 grs de giz
Urina de vaca, de cabra
ou carneiro
Tratamento
Misturar 100 grs de flores secas num lt de água e deixar embeber durante um dia.
Utilizar como insecticida.
Insecticida contra afídeos; também é tóxico para os ratos e outros animais.
Misturar 80 grs de folhas e caules secos num lt de água e deixar embeber durante
2 horas. Deve aplicar-se a solução logo de manhã porque ela é muito volátil.
Misturar 200 grs de folhas frescas num lt de água. Misturar pelo menos durante
5 minutos num mixer. Utilizar para combater várias doenças de natureza fungica.
Misturar 200 grs de folhas frescas num lt de água e deixar repousar durante 1 dia.
Cortar finamente 1 kg de folhas secas e misturar num lt de água; deixar repousar durante
a noite. Diluir em 4 lts de água e utilizar para eliminar do viveiro os cogumelos.
Misturar 500 grs do material finamente picado em 10 lts de água. Deixar fermentar
durante uma semana. Diluir em 10 lts de água. Utilizar a mistura para pôr na terra para
combater fungos no solo.
Misturar com água e deixar embeber durante 12 horas para giz refinado ou 3-4 dias
se se utiliza giz natural. Mexer frequentemente e aplicar directamente como insecticida.
Recolher a urina e misturar com uma pequena quantidade de terra. Deixar fermentar
durante 2 semanas. Diluir com 2-4 lts de água por lt de urina; Usar como insecticida.
Quadro 12 - Alguns produtos naturais que o viveirista pode utilizar na protecção das plântulas
67
Em resumo:
As plantas criadas em viveiro, por um período variável segundo
as espécies e data de sementeira, o modo cultural e as condições
de manutenção, são destinadas a deixar o viveiro e a ser transportadas
para o terreno definitivo de plantação.
O viveiro deve ser concebido e desenhado em função do plano
de distribuição e de arborização delineado.
O viveiro é o local de passagem temporária das plantas e de escolha
e preparação das plantas para plantação.
Um bom viveirista só estará perfeitamente satisfeito quando se verificar
que a sua produção de plantas é definitivamente transplantada
nas melhores condições para local definitivo e que a informação posterior
mostre plantações saudáveis e com boas taxas de crescimento.
7. LISTA DE MATERIAL DO VIVEIRO
(os números indicados dizem respeito a um pequeno viveiro para
um produção anual entre as 360.000 e as 380.000 plantas/ano)
A. Instrumentos de preparação do local e dos canteiros
pá de bordo recto - 3
pá ponteaguda - 3
pá florestal - 3
enxada - 3
ancinho - 5
forquilha - 3
enchadas de jardinagem - 3
colher para viveiro (razor back) - 6
colher para transplantação - 6
catana - 3
B. Material local para construção da tapada, canteiros e coberturas
machado florestal (Pulaski) - 2
machado florestal (tipo Collins) - 2
pau, tábua, pedras
folhas de palmeira
folhas de palmeira, bambú
corda
C. Preparação da terra de cultura
terra de mata, areia, estrume
ciranda (peneira) para terra
peneira para alfobre
D. Enchimento dos vasos
vasos e sacos de plástico, torrão, vasos de folhas de bananeira
latas/funis furadas nos 2 lados
E. Material de rega
balde - 3
regador - 3 (com chuveiro fino)
F. Material de sementeira
sementes de árvores (a calcular conforme for o número
de sementes/kg para cada espécie a utilizar pelo viveiro)
G. Material de manutenção
sacho (gardening hoe) - 6
tesoura de poda (Fleco) - 6
tesoura para poda de raízes - 6
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Atenção!
Não deixar as ferramentas à chuva ou ao sol porque elas se estragam muito rapidamente.
8. INSTALAÇÕES DO VIVEIRO
Layout Geral
Na implantação de um viveiro de demonstração e de produção, todas
as estruturas e facilidades necessárias são preparadas para assegurar
um fluxo constante de actividades. A estrutura do viveiro, embora
dependente da dimensão e tipo de viveiro que se pretende bem como
do esquema de operação e tempo de utilidade previsível, deverá conter
os elementos constantes do esquema que se apresenta:
Fig. 45 - Esquema do alpendre aberto para enchimento de sacos e preparação
dos substratos
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lavagem de pés área depreparação
de substrato
armazéme
escritório área de propagação
área de propagação
área de atempamento
área dos alfobrese ensombramento
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REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS