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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
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Aceleração social no processo Educomunicativo.
Um olhar a partir do cotidiano e da atuação de agentes pastorais1
Helena CORAZZA
2
Serviço à Pastoral da Comunicação (SEPAC), São Paulo, SP
Resumo
A proposta deste artigo é identificar de como se servem das mídias sociais no cotidiano e de
como atuam pastoralmente homens e mulheres que se dedicam voluntariamente a esse
trabalho nas comunidades. Buscará ainda detectar como é percebida a aceleração social a
partir da internet e das tecnologias móveis que alteram as práticas cotidianas e o serviço à
comunidade. Como essa reflexão encontra-se ainda em estágio embrionário constata-se a
necessidade de uma continuidade no aprofundamento dessa temática, proporcionando às
lideranças comunitárias uma progressiva educação para a comunicação.
Palavras-chave: aceleração; internet; pastoral; comunicação, mídias sociais.
Introdução
Na cultura contemporânea, a aceleração social faz parte do cotidiano das pessoas,
tanto no contexto urbano quanto rural ou em pequenas cidades. A cultura digital evidencia
essa aceleração e a torna mais sensível na diversidade de suportes e portabilidade que
facilitam o acesso às mídias sociais por meio de celulares e aplicativos, entre outros. A
passagem progressiva de publicações impressas para a versão digital realiza-se em nome de
uma nova, atualizada e veloz comunicação. De fato, os conteúdos digitais obedecem a outra
lógica “em vez de semanal teremos várias atualizações por dia. Além de textos e fotos, terá
também conteúdo em áudio e vídeo. As notícias chegarão até você em múltiplas linguagens
e muito mais rapidamente”3. E nessa lógica da velocidade como sinônimo de progresso e
qualidade da informação, prosseguem os argumentos na edição histórica do Jornal da USP,
em sua última edição impressa no papel.
1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Educação do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação,
evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Helena Corazza é jornalista, doutora e mestra pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da USP); Diretora e
docente no SEPAC (Serviço à Pastoral da Comunicação); coordenadora do curso de pós-graduação lato sensu “Cultura e
Meios de Comunicação, uma abordagem teórico-prática” do SEPAC em convênio com a PUC-SP (COGEAE); docente no
Instituto Teológico São Paulo (ITESP). Autora dos livros: Comunicação e Relações de gênero em prática Radiofônicas;
Pastoral da comunicação. Diálogo entre fé e cultura; Acolher é comunicar; A comunicação nas celebrações litúrgicas;
Educomunicação.Formação pastoral na cultura digital. Presidente da SIGNIS Brasil (2010-2016). Assessora instituições
e comunidades na comunicação e pastoral. helena.corazza@paulinas.com.br; helen.corazza@gmail.com
3 . Marcelo Rollemberg. Jornal da USP, de 25 de abril a 1º. de maio de 2016, Opinião, p. 2.
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Ciente de que as mudanças tecnológicas afetam as pessoas e seu relacionamento, e
de que as redes reconfiguram e indicam outra maneira de organizar a experiência humana, a
Igreja católica se mostra atenta acompanhando não só as mudanças tecnológicas, mas
procurando compreendê-las. Em 2002 o Pontifício Conselho das Comunicações Sociais
publicou dois documentos abordando o tema da cultura digital: Igreja e Internet e Ética na
Internet, acolhendo a novidade da internet e dando orientações para saber usá-las com
critérios e, ao mesmo tempo, serem produtores de conteúdo nessa plataforma.
O objetivo deste artigo é iniciar uma reflexão sobre a aceleração social,
compreender sua interpretação a partir de autores e verificar como ela se dá no
relacionamento com a internet, as mídias sociais e tecnologias móveis. Por sua vez, sua
influência no cotidiano e nas práticas pastorais de pessoas envolvidas em diferentes
serviços nas comunidades, verificando como é o acesso à internet, como são vividas essas
mudanças e as formas de apropriação nas pastorais.
Teoria da Aceleração Social
Em entrevista a Rafael H. Silveira4, sobre a Teoria da Aceleração Social, o
sociólogo Hartmut Rosa, a partir da Teoria Crítica, fala sobre os modos de conduzir a vida,
as estruturas temporais, observando que a velocidade da vida muda seu ritmo de acordo
com os locais, cidades maiores ou menores, parecem mudar a percepção do tempo, tornar
a existência mais lenta, o sentimento em relação à vida, talvez também em função da
percepção do tempo-espaço.
A duração, a sequência, o ritmo e o andamento das ações humanas, bem como seus
eventos e relacionamentos “são primeiro decididos no decorrer de sua execução, ou seja, no
próprio tempo”, ao que Rosa denomina “temporalização do tempo” (ROSA, 2013, p. 233).
Tal acontecimento sobrevém como uma das faces da inter-relação de multifenômenos que
podem ser agrupados, conforme o pesquisador, em três chaves: dimensão técnica, mudança
social e ritmo de vida.
A dimensão técnica envolve a relação com as máquinas, a aceleração dos processos
de transportes, comunicação e a produção de bens e serviços. Para Heidegger, “enquanto
representarmos a técnica como um instrumento, ficaremos presos à vontade de querer
4. Entrevista “Ordem e progresso, aceleração e alienação” com Hartmut Rosa da cátedra de Sociologia e Teoria Social da Universidade de Jena, Alemanha - http://www.each.usp.br/revistaec/?q=revista/2/ordem-e-progresso-
acelera%C3%A7%C3%A3o-e-aliena%C3%A7%C3%A3o – Acesso 25/6/2016
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dominá-la”5. A técnica possibilita versatilidade e acelera os processos de comunicação,
sobretudo pela mídia, cujas linguagens se configuram como dispositivos que são “qualquer
coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, interceptar, modelar,
controlar, assegurar os gestos, as condutas, as opiniões, os discursos dos seres viventes”
(AGAMBEN, 2009, p. 40). O autor discorre sobre os diversos dispositivos como a caneta, a
escritura, o cigarro, a navegação, os computadores, ou seja, tudo o que agrega no campo da
comunicação como plataformas, conteúdos e, talvez possamos acrescentar, a velocidade.
A segunda dimensão da aceleração, conforme Rosa, é a mudança social que envolve
alteração nas práticas de ação nas estruturas associativas, nos padrões e relacionamento,
taxa de obsolescência. Neste sentido, com dispositivos digitais, mesmo estando presentes a
visão de eventos passa a ser mediada pelo ato de fotografar e registrar tudo, o que pode
levar a perder a vivência do momento presente.
A terceira dimensão envolve o ritmo da vida como: encurtamento das refeições,
menos horas de sono, redução do intervalo entre atividades, menos tempo para estar com a
família e sobreposição de atividades. Na etapa atual do desenvolvimento tecnológico, a
velocidade é um dos componentes do processo de aceleração e traz um caráter paradoxal. A
instantaneidade da comunicação e circulação de informações também trazem um caráter de
inércia, que Virilio, citado por Ferreira, ”vai chamar as tecnologias audiovisuais e
informáticas como veículos estáticos”. Esta inércia compreende que virtualmente, podemos
estar em qualquer parte do universo sem sair do lugar. Para o autor, da velocidade cinética
(o deslocamento através do espaço) temos, agora a velocidade cinemática (eliminação das
distâncias geográficas, compressão temporal e inércia corporal).
Compreender onde e como se situa a velocidade com as tecnologias, como se dá o
encurtamento das distâncias, pode contribuir para compreender também a aceleração social.
Ao abolir o trajeto e os intervalos espaciais e temporais essas tecnologias criarão
uma cultura dromológica: não quero ficar onde estou nem ir a parte alguma, quero
estar em aceleração contínua, como num estado de suspensão. Essas tecnologias de
interfaces criarão redes e terminais (fixos e móveis) aos quais estamos
constantemente conectados (telefones celulares, telas de computador e de TV,
pagers, palmtops, etc.) (FERREIRA, 2009, p. 455).
Esta possibilidade de transpor o espaço e o tempo sem ter deslocamento físico, possibilita
ao corpo estar presente, mas a consciência encontra-se ausente ou dispersa nas múltiplas telas
presenciais ou nas conexões a distância. Para Ferreira, “a velocidade é unicamente mental, pois o
corpo se mantém inerte” (FERREIRA, 2009, p. 455).
5 . Apud Corazza, p. 69.
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Metodologia na coleta de dados
Diante de afirmações e percepções de que há uma mudança nos hábitos de consumo,
nos relacionamentos e de que a aceleração é assimilada, muitas vezes, sem as pessoas se
darem conta, talvez sem espírito crítico, elaboramos um questionário para buscar, ainda que
de forma inicial, como se dá o relacionamento do ser humano com a internet
especificamente no campo religioso, da pastoral. O questionário foi aplicado aos
participantes do Curso “Comunicação nas Pastorais”6, um curso livre do SEPAC, ou seja, a
partir da educação não formal, deixando liberdade para responderem e de forma anônima.
Responderam 34 agentes pastorais7, 13 homens e 21 mulheres, provenientes das cidades de
Atibaia, SP; Cotia, SP; São Paulo, capital, bairros: Vila Medeiros, Santo Amaro, Ipiranga,
Vila Santa Catarina, Vila Campestre.
O questionário procurou levantar subsídios para estudar a relação entre o uso das
tecnologias de comunicação (computadores, celulares, tablets, entre outros) e o processo de
aceleração do tempo. Procurou verificar o acesso à internet e a inserção no cotidiano, as
redes sociais e conteúdos mais acessados, o modo de informar-se, buscando verificar a
dependência ou não das redes sociais, a aceleração e o consumo. Num olhar
educomunicativo, perguntamos também se há produção de conteúdos e se a Internet ajuda
em sua missão de agente pastoral. Algumas perguntas abertas buscaram compreender mais
o universo do interlocutor. Em relação à idade temos:
20 - 30 anos: 7
30 - 40 anos: 9
41 - 50 anos: 5
51- 60 anos: 9
70- 80 anos: 1
Respondendo à questão, “desde que idade você usa internet”, num público
diversificado que vai de 20 a 71 anos de idade, assim responderam: 7 pessoas acessam dos
11 a 15 anos; 8; dos 16 a 25 anos; 6, dos 26 a 30 anos; 12; acima de 30 anos; 1 não se
lembra. Ninguém preencheu a opção “não uso”. Em relação ao perfil dos participantes,
quanto ao acesso e uso das redes, num primeiro olhar dá para perceber que parte deles
6 . Este curso compreende cinco encontros com temáticas progressivas sobre a comunicação na pastoral com o
objetivo de capacitar e formar equipes que possam ser atuantes no campo da educomunicativo pastoral. 7. Denominam-se agentes pastorais, pessoas que colaboram de forma voluntária nas pastorais da Igreja
católica. A pastoral refere-se às práticas do cuidado com os fiéis e se organizam por segmento. Os
participantes deste curso são atuantes como catequistas, pastoral da comunicação, da liturgia, da saúde, da
acolhida, música, eventos, dízimo, entre outras.
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podem ser identificados como usuários e divulgadores, outros também como produtores de
conteúdo.
Uma das questões pediu: “Por favor, indique o seu grau de instrução”
Ensino médio incompleto
1
Ensino médio completo
6
Superior incompleto
3
Superior completo
16
Pós- graduação
8
Em relação ao conhecimento sobre como usar a redes sociais, procurou-se saber a
forma de acesso e desempenho, por isso, foi perguntado à pessoa como se considera com
três alternativas:
Principiante - tenho muitas dificuldades para
mexer 1
Conhecimento médio sei mexer no básico
21
Conheço bastante - sei fazer operações avançadas
11
O questionário procurou saber quais as redes sociais mais utilizadas, dando a
liberdade de assinalar mais de uma opção: Quais redes sociais você utiliza (pode assinalar
mais de uma)?
Facebook 31 WhatsApp 32 Youtube 26
Instagram 18 Twitter 10
Snapchat 7
Badoo 3
Telegram Pinterest, Behancé, LomkedIm e-mail
Foram citadas outras redes que não constavam em nosso questionário como:
Telegram, Pinterest, Behancé, LomkedIm.
Quanto ao local onde as pessoas mais acessam a internet, a possibilidade de
responder a mais de uma alternativa:
em casa 20
no trabalho 20
na rua 3
escola/faculdade 2
À questão “Você deixa o celular ao lado da cama quando vai dormir”?,
29 pessoas disseram que sim e 5 disseram que não. Observações de duas que usam o
celular como relógio; uma disse que desliga no modo avião. A possibilidade de estar
“ligados” a qualquer parte do universo sem sair do lugar e mesmo dormindo, possibilita
que, “embora o corpo esteja presencialmente ocupando determinado espaço/tempo, sua
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consciência permanece em estado de ubiquidade e onisciência, alerta a qualquer informação
procedente da rede” (FERREIRA, 2009, p. 455).
Quanto tempo você costuma ficar nas redes sociais?
Menos de 1 hora
7
Entre 1 a 2 horas
8
Entre 2 a 3 horas - 4 Entre 3 a 4 horas
3
Entre 4 a 5 horas
3
Entre 5 a 6 horas
6
Mais de 6 horas
6
A seguir foi perguntado “Em relação ao uso das redes sociais no dia a dia, você o
classifica como”: Intenso – 11; Normal - 23 . À alternativa “Não sei”, não houve resposta.
Respostas que revelam o quanto a internet já está incorporada no cotidiano das pessoas,
fazendo parte das atividades.
À pergunta “qual conteúdo que você mais acessa nas redes sociais?”, os resultados
foram:
Vídeos 13
Fotos 30
Mensagens 22
Notícias 8
Áudios 8
Charges/ memes
8
Grupos/ Fóruns 12
Outros conteúdos apontados: Jogos e “Música é o que mais acesso”.
À questão “qual meio de comunicação que você MAIS utiliza no seu cotidiano”?,
(apontar somente uma).
Internet
28
TV
8
Rádio
3
Jornal/revista
1
Respostas que evidenciam mudanças nos hábitos da busca de informação em
diferentes suportes. Poder revelar também que o mais acessível são as plataformas digitais.
A seguir uma nova questão: “Como avalia seu grau de informação sobre os assuntos do
momento?”
Totalmente satisfeito
3
Insatisfeito
6
Nem satisfeito, nem insatisfeito
(neutro) 6
Satisfeito
13
Totalmente satisfeito
3
Inserção e conexão
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7
“Você se sente entediado quando fica muito tempo sem acessar as redes sociais?”
Sim
7
Não
18
Não presto atenção
7
Às vezes
1
Diante da pergunta: você compartilha do pensamento “Quando estou desconectado
das redes sociais parece que estou fora do mundo”? Três pessoas concordam totalmente
enquanto 16 concordam parcialmente e 15 discordam.
A conectividade possibilita novas formas de vinculação e interação em que o ser
humano se relaciona mediado pelas tecnologias, enviando e recebendo mensagens em
tempo real em linguagens sonoras, textuais, imagética e também pelo simples contato de
“estar” na rede, uma vez que a essência da rede é a conexão.
Uma questão pergunta sobre a frequência em acessar a conta do e-mail: “Quantas
vezes você acessa sua conta de e-mail?”
Mais de uma vez por dia
26
Uma vez por dia 5
Uma vez por semana
1
Uma vez por mês
1
Não tenho email
1
Uma questão pergunta diretamente sobre velocidade da Internet: “Você está
satisfeito com a velocidade de sua internet no celular?” Esta questão propôs duas opções e
foi acrescentada uma terceira por um participante, de que se sente prejudicado.
Sim
15
Não
19
Prejudicado
1
A velocidade é a característica das mudanças que contribuem para a criação de
novas linguagens que vão se hibridizando pelas combinações, nos diferentes meios de
comunicação, interferem no modo de pensar e criar. Com a televisão vem a supremacia da
imagem sobre o texto e, em seguida, o World Wide Web, possibilitando a rede de conexões
em alta velocidade.
Empreendida pelas tecnologias compreende velocidade e aceleração de
deslocamento e percepção do tempo e espaço. Ela também pode ser assimilada como algo
que repercute em prazos estabelecidos, tarefas a dar conta e o hábito da realização de
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algumas coisas, apenas com um clik. Isso pode acarretar, conforme Ferreira, “o culto da
velocidade como algo bom em si mesmo desenvolve, em outras palavras, um objetivo
merecedor de ser perseguido como tal” (FERREIRA, 2009, p. 146).
Sobre a troca do aparelho, a pergunta: “Com que frequência você costuma trocar de
aparelho de celular?”
Menos de 1 ano
0
1 ano 10
Entre 1 e 2 anos
15
Entre 2 e 3 anos 15
Mais de três anos
8
Não tenho celular
0
As tecnologias da comunicação, sobretudo celulares das diversas marcas são
passíveis de mudanças rápidas devido à obsolescência programada pelas empresas
fabricantes que, em vista do consumo, estabelecem tempo de validade para os
equipamentos até determinada geração.
Aspectos favoráveis da Internet nas pastorais revelados no questionário
O acesso às novas formas e linguagens da comunicação e, sobretudo, à ambiência da
internet objetivam contribuir para o conhecimento e inserção na sociedade, ao
relacionamento feito de diálogo e a formar um sujeito capaz de apropriar-se de
conhecimentos teóricos e práticos em favor da transformação da sociedade.
A recomendação da formação se estende a toda liderança da Igreja, aos agentes de
pastorais, aos educadores e catequistas – escolas, aos pais, às crianças e jovens e a toda
pessoa de boa vontade, visando “ajudar a adquirir uma forma de comunicar que transmita
uma mensagem às sensibilidades e aos interesses das pessoas na cultura dos meios de
comunicação social” (Igreja e Internet, 2002, p. 23).
Neste sentido, procurando verificar a apropriação da internet em vista do anúncio do
Evangelho e da própria missão dos agentes pastorais, o questionário fez esta questão: “Na
sua experiência a internet ajuda no trabalho pastoral”? As alternativa propostas foram, sim
ou não, e o pedido para justificar. As respostas foram unânimes em responder sim e as
justificativas podem ser agrupadas em três categorias: pesquisa – busca de conhecimento e
referências no campo religioso; relacionamento e contato entre as pastorais; a percepção de
que requer adaptação e afeta o modo os relacionamentos:“Precisamos adaptar a nossa
comunicação aos meios modernos”. Justificando, há uma série de visões expressas, e a
rapidez associada à ideia de progresso. Isso confirma a percepção de Rosa em relação ao
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Brasil: “A cada ano precisamos nos tornar mais rápidos simplesmente para não retroceder.
No Brasil parece ainda haver a ideia de que é preciso se tornar mais rápido para avançar”.
Pesquisa na internet, no sentido de buscar informações; “adquirir mais
conhecimento em determinado assunto”; “pesquiso, divulgo, aprimoro os meus
conhecimentos”. A questão das fontes: “posso ter ideias, afirmar algumas coisas e acesso a
dúvidas em religião e fé e a doutrina, entre outros trabalhos e até sobre espiritualidade,
busco em fontes confiáveis”. “Uso a internet para tirar dúvidas, de uma forma mais rápida”;
“busco referências visuais, e material para pesquisa para produzir conteúdo”.
Os entrevistados apontam que a internet favorece o relacionamento, pois é uma mídia
importante entre os agentes e outras pastorais e auxilia a comunicação com a comunidade.
Uma pessoa afirma: “A internet faz parte dos meus relacionamentos”; “para criação de
novos trabalhos e ver como as demais paróquias atuam”. Em vista da evangelização,
usando-a para por meio de site e redes sociais e para contato entre as pastorais. Observa-se
grande sede de proximidade e de contatos:
O encontro pessoal está no cerne da mídia relacional. A Palavra tornou-se digital
desde o momento em que as relações humanas foram estabelecidas na cultura
digital. Quando alguém surfa na internet, pode-se perceber “uma busca insaciável
de conexão”. Não se trata de um desejo de comunhão? O empreendimento
digitalizado do ser humano na internet é uma procura não apenas de dados, mas de
significados e de relacionamentos (MEDRANO, 1997, p.79).
O terceiro aspecto revela a necessidade de adaptar o conhecimento: “precisamos
adaptar a nossa comunicação aos meios modernos”, posição associada à já assimilada
“rapidez” associada ao relacionamento, no sentido de que a informação passa a muitas
pessoas de forma breve: “Consigo alcançar a maioria ou todas as pessoas mais
rapidamente”. Na afirmação “nós convivemos com todos rapidamente”, parece-nos um
indicativo de que tenha o mesmo sentido de fazer chegar a todos ou relacionar-se com mais
pessoas ao mesmo tempo. Outro aspecto da rapidez está voltado à necessidade de
informações e conhecimento em relação a determinados assuntos: “encontrar informações
são mais rápida”. Revela caráter de urgência na necessidade conferir conhecimentos: “tirar
dúvidas, de uma forma mais rápida”.
As dimensões assinaladas por Rosa parecem estar muito presentes no cotidiano do
brasileiro médio, em sua maioria com ensino superior, dedicados a uma causa. Em relação
ao acesso é geral, nas diferentes idades, como forma de inserção social que vai sendo
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assimilada sem grandes problemas, confirmando o que o Autor responde em sua entrevista
em que, apesar das desigualdades, o Brasil está bastante acostumado com a modernização,
associando à melhoria de vida: “No Brasil parece ainda haver a ideia de que é preciso se
tornar mais rápido para avançar” 8
.
A educomunicação como intervenção na produção de conteúdos
Ao pensar e propor uma comunicação comprometida com valores, a
educomunicação não pode ser vista no sentido pragmático e ser considerada apenas no
campo da didática ou da capacitação para a aplicação das tecnologias da informação ou da
comunicação, mas é reconhecida “como um campo de reflexão e intervenção social
decorrente dos novos modos de organizar, distribuir e receber o conhecimento e a
informação. Faz parte, portanto, de um ecossistema comunicativo situado na interface com
a educação” (CITELLI, 2014, p. 70).
Nessa perspectiva do acesso às produções existentes na internet, o questionário
perguntou: “Você produz conteúdos?”9 As respostas indicam que 50% produzem, ou seja,
16 pessoas responderam “sim”; 50% ou 16, responderam “não”. No caso de produzir
conteúdos, pediu-se para indicar em que mídia. As respostas indicam que essa produção não
se reduz apenas a uma mídia, mas diversas. A Rede Social Facebook teve cinco indicações;
o Youtube, quatro indicações; três pessoas dizem produzir para Jornal; duas produzem para
Blog e duas para o Instagran. As demais mídias receberam o indicativo de uma pessoa:
áudios; informativos, revistas; Linkedin; site; Curso online; Instagram; Snapchat; Twitter;
Pinterest; Murais; Editorial, sem especificar em qual mídia.
De fato, as redes não são apenas técnicas, mas espaços sociais, que configuram a
sociabilidade na esfera pública. Elas “misturam lógicas, velocidade e temporalidade tão
diversas como as que entrelaçam as narrativas orais, com a intertextualidade das escritas e a
intermedialidade do hipertexto” (MARTIN-BARBERO, 2014, p. 111).
A Internet com propostas a serviço dos valores
Buscando o lado da crítica o questionário colocou esta pergunta: “Você considera
que a Internet ajuda no cultivo da sua vida cristã, da espiritualidade e dos valores?”
Justifique. As respostas foram positivas com 30 “sim” e dois “não”, podendo ser
8 . Rosa, Ordem e progresso, aceleração e alienação.
9 . Note-se que este grupo não está participando de um curso de produção para as mídias. Trata-se mais da
reflexão e possibilidades de atuação. Por isso, as respostas são de sua prática cotidiana.
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classificadas em conteúdos que buscam um cultivo pessoal na vida cristão, alguns mais
devocionais, outros em que as pessoas manifestam seu compromisso com a missão
evangelizadora no serviço aos outros revelando certo distanciamento crítico.
Em relação aos conteúdos mais devocionais e de formação: “Vídeos de pregação; a
internet traz ferramentas importantes para ajudar na oração como a liturgia diária e a
liturgia das horas; Acredito que possamos utilizá-la para este meio, mas que não exceda em
inúmeras informações; no aprendizado e no compartilhamento; Acompanho o site da
Paróquia, terço, orações, estudo sobre datas e santos; Tem sites que ajudam bastante na
espiritualidade”.
No que diz respeito à dimensão missionária/evangelizadora que inclui a linguagem e
a rapidez: “Se usada de forma correta, ela nos ajuda a abranger mais pessoas com apenas
um click; Porque através dela pode buscar mais informações, aprender, ler, assistir missas,
ajudar irmãos distantes; Aplicativos que nos ajudam na prática cristã: orações, leituras;
Acredito que é nova forma de direcionar o culto da vida cristã. Através da leitura e
compartilhamento, experiências”.
Observa-se também a busca do estudo, aprofundamento e visão crítica pelas
respostas: “Por meio da internet tenho acesso a novas informações e, com elas, consigo
aprofundar meus estudos e espiritualidade. Pesquiso, divulgo, aprimoro os meus
conhecimentos; Consigo buscar informações valiosas sobre música, palavra e símbolos pela
internet; Há muito conteúdo bom na internet: grupos, textos, pesquisas, estudos,
testemunhos, só é preciso procurar; trata-se de um meio de comunicação poderoso com
milhares de milhões de obras e textos católicos que podemos partilhar com nossos irmãos,
mas é importante filtrar essas informações; “buscar bons conteúdos”, o que supõe saber
pesquisar e discernir”.
Duas pessoas não consideram a internet como um espaço de ajuda para a vida cristã,
e justificam dizendo: “Porque acho que a Bíblia é mais interessante para ser lida e seguida”,
o que também é um valor e pode ser demonstrativo de que o hábito de leitura seja, de fato, o
suporte livro e não as tecnologias digitais. Outro justifica: “uso para meus hobbies somente
e pouco uso para a religião”.
Algumas considerações
Conforme indicado no início deste artigo, este estudo é inicial com um questionário
que forneceu alguns dados que precisam ser retomados e aprofundados. A partir dele,
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procurou-se saber um pouco mais de como a “aceleração” afeta a vida cotidiana e o
trabalho pastoral e observar se as pessoas já assimilaram e a vivem de forma “natural”,
como sinais do progresso na sociedade e também na evangelização, sem muito questionar.
Uma primeira observação é que as tecnologias móveis estão sendo assimiladas no
cotidiano e no trabalho pastoral de forma positiva, conforme Rosa, no sentido de progresso,
desenvolvimento e de atualização para estar em dia com as realidades. A mesma percepção
se dá no sentido da apropriação para as pastorais. As pessoas parecem alimentar-se dos
conteúdos da Rede sem muita crítica e distanciamento, confiando nos conteúdos, ali
postados, que são abundantes. Conforme Sbardelotto,
o fiel-internauta vive uma experiência de fé sem uma presença objetiva, mas sim
com uma ausência subjetiva do “outro”: embora a distância, o fiel se sente
“conectado” aos demais, muitas vezes sem perceber toda a processualidade
tecnossimbólica necessária para criar essa sensação – já que, na prática, ele lida com
máquinas e números (SBARDELOTTO, 2012, p. 326).
Talvez diante da urgência de alimentar a própria fé e de evangelizar pela internet
falte um distanciamento crítico e até conhecimento. Por outro lado, é preciso pensar no
tempo de quem produz e no tempo de quem recebe a comunicação que são totalmente
diversas. Em geral, o internauta não faz uma leitura técnica, mas o faz como uma nova
forma de “estar juntos”, de relacionar-se.
De fato, na cultura da mídia a mensagem não consiste na doutrina, nas ideias ou nas
palavras. O que se oferece à audiência é o corpo, a imagem, a voz, os gestos. Como nessa
linguagem há o primado da experiência sobre o abstrato, o que predomina é o toque. Há
uma conexão com as palavras do evangelho de João: “Minhas ovelhas escutam a minha
voz” (Jo 10,16). As pessoas se apoiam na experiência: “vinde e vede”, vinde e experimentai
(CORAZZA, 2015, p. 71).
O tema da aceleração social requer continuidade de reflexão para continuar
aprofundando a influência que as tecnologias, que tem a velocidade como seu constitutivo
e a relação com o ser humano. Um distanciamento crítico se torna necessário e saudável
para evitar uma “submissão” acrítica ao sistema neoliberal, que incide no cotidiano em
todas as áreas de conhecimento e atuação. Uma progressiva educação para a comunicação,
tanto na área da recepção quanto na produção de conteúdos, ajudará a assumir um estilo
educomunicativo que envolva reflexão para discutir a sociedade e ações de intervenção para
que a comunicação seja colocada a serviço da vida e da solidariedade.
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REFERÊNCIAS
AGAMBEN, G. O que é contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó, SC:ARGOS, 2013.
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