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INSERÇÃO DAS MULHERES NO ENSINO SUPERIOR EM CUIABÁ: O CURSO DE
PEDAGOGIA (1970-2000)
Ana Heloiza Faria68
Márcia dos Santos Ferreira69
Nilce Vieira Campos Ferreira70
Resumo: Este texto resulta do projeto apresentando para ingresso no Programa de PósGraduação, Mestrado em Educação da Universidade Federal de Mato/UFMT, CampusCuiabá. Pretendemos estabelecer uma reflexão sobre o acesso e a inserção das mulheres nocenário da educação pública mato-grossense na UFMT, privilegiando a dimensão das relaçõessocialmente construídas. Objetivamos registrar e analisar a trajetória da mulher no ensinosuperior em Mato Grosso no curso de Pedagogia da UFMT nos anos de 1970. Desse modo, osquestionamentos levantados são: no movimento feminino de acesso e permanência no ensinosuperior quais foram os caminhos trilhados, as dificuldades, as barreiras impostas àsmulheres? Quem eram e como essas mulheres enfrentaram cada um desses aspectos paraconseguirem sua formação universitária especificamente no curso de Pedagogia da UFMT?Apreende-se que essa pesquisa tem como principal contribuição social levantar dados sobre aHistória da mulher no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso noperíodo de 1970 a 2000, analisando suas influências no âmbito regional. As fontes de pesquisaincluem referências bibliográficas sobre o ensino superior, história das mulheres e fontesdocumentais que serão coletadas no Centro Memória Viva do Instituto de Educação daUFMT/Cuiabá, Arquivo Público do estado de Mato Grosso, além de outros arquivosexistentes em Cuiabá.
Palavras – chaves: História da mulher. Educação feminina. Ensino Superior
68 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação/campus Cuiabá. Membro do Grupo de Pesquisa em História da Educação e Memória/GEM. Email: anaheloizafarias@gmail.com
69 Professora adjunta da UFMT, coordenadora do Centro Memória Viva-MT, coordenadorado Programa de Pós-Graduação em Educação/campus Cuiabá e membro do Grupo dePesquisa em História da Educação e Memória/GEM. É, atualmente, Coordenadora daFORPRED. Email: msf@ufmt.br.
70 Professora da UFMT, coordenadora adjunta do Centro Memória Viva-MT, credenciada noPrograma de Pós-Graduação em Educação/campus Cuiabá. Membro do Grupo de Pesquisaem História da Educação e Memória/GEM. Email: nilcevieiraufmt@gmail.com.
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
Introdução
Em Mato Grosso, no que se refere ao ensino superior e origem da UFMT alguns
estudos já foram elaborados. Benedito Pedro Dorileo publicou as obras: Universidade, o
Fazejamento (1977); Raízes da Universidade de Mato Grosso (1982); O Ensino Superior em
Mato Grosso: até a implantação da UFMT (2005). Além de Dorileo, outros pesquisadores
escreveram suas dissertações e teses: Quelen Gianezini O processo de expansão do ensino
superior em Mato Grosso (2009); Renata Neves Tavares de Barros Freitas Veredas da
Memória: a conquista do Ensino Superior em Mato Grosso (2004) e a tese de doutorado da
professora Tania Maria de Lima – Caminhos do curso de Pedagogia na modalidade parcelada:
percalços e avanços de uma experiência desenvolvida pela UFMT no interior de Mato Grosso
(2005). Nenhum desses autores, no entanto, abordou de forma específica a inserção das
mulheres mato-grossenses no ensino superior.
Dessa forma, o foco de nossa pesquisa é a investigação da inclusão da mulher no
ensino superior nos anos de 1970 a 2000. Justificamos esse recorte temporal, uma vez que, os
anos de 1970 são marcados por acontecimentos significativos nos estados brasileiros que
levaram a ampla expansão do ensino superior permitindo maior acesso de pessoas às
universidades.
Propomo-nos assim a descrever e registrar uma história ainda pouco estudada no
país: a educação feminina. A investigação considerará dois campos na história da educação do
estado de Mato Grosso. O primeiro deles é a criação e expansão da UFMT nos anos 1970
entrelaçada a um contexto nacional de ações populares pela ampliação de universidades
públicas brasileiras. Outro campo do qual nos ocupamos é o registro e a análise do percurso
empreendido pelas mulheres em relação à sua formação profissional no âmbito do curso de
Pedagogia na UFMT/Cuiabá.
Instituições escolares: Universidade Federal de Mato Grosso
A investigação sobre instituições escolares é uma temática significativa e em
destaque desde os anos 1990 como aponta Ester Buffa e Paolo Nosella (2009, p. 20), “[...] os
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estudos de instituições escolares representam um tema de pesquisa significativo entre os
educadores, particularmente no âmbito da história da educação”. Esses autores destacaram
que as pesquisas quase sempre são desenvolvidas nos programas de Pós-graduação e
privilegiam a instituição escolar em sua materialidade, nos seus vários aspectos, nos quais a
cultura escolar tem sido uma categoria abrangente.
Nessa perspectiva, além de trazer para o debate a inserção da mulher no ensino
superior em Mato Grosso, neste texto estabelecemos algumas reflexões sobre a instituição
escolar, a UFMT e o Curso de Pedagogia, considerando sua história, criação, implantação,
funcionalidade e a formação oferecida às mulheres.
Ainda apoiando-nos em Buffa e Nosella (2009, p. 18) entendemos ser possível trazer
para discussão esse assunto, pois “[...] normas e práticas que variam no espaço e no tempo e
que podem até coexistir mantendo suas diferenças, aninham-se na instituição escolar e é
possível evidenciá-las”. Nesse intuito, acreditamos que a pesquisa sobre a História da mulher
na universidade ao ser explorado e divulgado pode ser capaz de abrir novos horizontes na
compreensão do universo feminino e sua trajetória no ensino superior. Pode ainda, a seu
término, expor a difícil e árdua caminhada percorrida pelas mulheres e os desafios que
enfrentaram nesse percurso.
A esse respeito, Sanfelice (2006, p. (24) descreveu que pesquisar uma determinada
instituição escolar é buscar a origem; sua evolução no decorrer do tempo; identificar os
sujeitos que ali passaram, como, alunos, professores, gestores e técnicos; os planos de ensino
trabalhados, entre outras categorias, mas o “essencial é tentar responder à questão de fundo: o
que esta instituição singular instituiu?”. Esse autor ressaltou que um trabalho desse porte
historiográfico permite a interpretação de como foi a formação, criação, as políticas
desenvolvidas, o sentido da identidade da instituição escolar investigada. O pesquisador tem
como tarefa compreender a relação singular da instituição em movimento social coletivo.
O trabalho maior do historiador, entretanto, é compreender a relaçãodo singular com o geral, mas essa é uma questão que, no momento,fica só anunciada, embora seja imprescindível enfrentá-la quando sefaz pesquisa historiográfica. Nenhuma Instituição Escolar tem osentido da sua singularidade explicitado, se tomada apenas em si
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mesma. Uma instituição escolar avança, projeta-se para dentro de umgrupo social. Produz memórias ou imaginários. Mobiliza oudesmobiliza grupos de pessoas e famílias; assinala sua presença emcomemorações, torna-se notícia na mídia, ou seja, é muito, mas muitomais mesmo do que um prédio que agrupa sujeitos para trabalharem,ensinarem, aprenderem etc. O movimento inverso também ocorre,pois a instituição é objeto de interesses contraditórios de ordemeconômica, política, ideológica, religiosa e cultural, dentre outros.Então é óbvio: a história de uma instituição escolar não traz o sentidoque ela realmente tem, se for tomada de forma isolada de todo ocontexto (SANFELICE, 2006, p. 24).
Por sua vez, segundo os autores citados entender essas peculiaridades da instituição
escolar por meio desse movimento de grupos sociais contraditórios não é possível, uma vez
que muitas facetas e aspectos serão apontados, sendo assim, as pesquisas nesse campo
requerem recortes temporais e objetos específicos.
Em relação à história das mulheres, no âmbito de nossa investigação a respeito de as
mulheres no ensino superior, Scott (1992, p. 63- 64) destacou que as pesquisas sobre as
questões de gênero surgiram como um campo definível nas décadas de 1970 e 1980.
Nessa concepção, apreendemos que a história das mulheres sempre foi cercada por
diferenças em sua educação e nas posições a elas concebidas seja nas instituições escolares ou
em outros espaços. Scott demonstrou que essa a foi uma prática estabelecida em muitas partes
do mundo.
A história da mulher apareceu como um campo definível principalmente nas duasúltimas décadas. Apesar das enormes diferenças nos recursos para ela alocados, emsua representação e em seu lugar no currículo, na posição a ela concedida pelasuniversidades e pelas associações disciplinares, parece não haver mais dúvida de quea história da mulher é uma prática estabelecida em muitas partes do mundo (SCOTT,1992, p. 63).
Nessa perspectiva, pretendemos abordar algumas discussões sobre a presença da
mulher no ensino superior mato-grossense, sua trajetória e conquistas ao adentrarem o ensino
superior tendo como fonte para nosso estudo o percurso das mulheres/universitárias do curso
de Pedagogia da UFMT.
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Ensino superior em Mato Grosso
A história do ensino superior em Mato Grosso teve início em 1934 por meio de um
grupo de profissionais do Direito que haviam concluído o curso na capital da República, nesse
período a cidade do Rio de Janeiro. O movimento foi liberado por Palmiro Pimenta com
intuito da criação do primeiro curso de ensino superior no estado conforme (DORILEO,
2005).
A proposta desse primeiro curso de ensino superior foi formalizada e acolhida pelo
interventor federal Leônidas Antero de Mattos que emitiu o decreto de nº 395, de 28 de
novembro de 1934. Criou-se então o primeiro curso de nível superior em Mato Grosso que
funcionou no Palácio da Instrução. Dois anos depois de sua fundação, essa escola de nível
superior foi “[...] assumida inteiramente pelo estado, pelo decreto-lei nº 87, uma vez que a lei
nº26, de 18 de setembro desse ano, criaria a Faculdade de Direito de Mato Grosso, abrindo-
lhe crédito especial de 20 contos de réis” (DORILEO, 2005, p.28).
Dorileo (2005) esclareceu que no ano seguinte com o advento do “golpe infame da
ditadura e espúria da Constituição Federal de 10 de novembro de 1937” vedou-se o acúmulo
de cargos remunerados no serviço público. Os professores que atuavam no curso tiveram que
optar pelo magistério ou pela promotoria. Outro fator foi a remuneração de professor muito
aquém da carreira na promotoria o que os levou a optar por esta última levando a “[...]
quedar-se a esperança na década de 30, sepultando a conquista”.
Nessa breve explanação do primeiro movimento em busca pelo ensino superior,
compreendemos que o processo de implantação do ensino superior não foi um movimento
fácil. Extinto o primeiro curso, só em 1954 a Faculdade de Direito abriu suas portas
novamente no Colégio Estadual de Mato Grosso, o Liceu Cuiabano. O reconhecimento do
curso de Direito ocorreu pelo decreto nº 47.339 em três de dezembro de 1959 após um parecer
do Conselho Federal de Educação (DORILEO, 2005).
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Em 1968, deram-se as reformas universitárias no país como aponta Fávero (2006,
p.31) e o projeto de reforma universitária Rumo à Reformulaçao Estrutural da Universidade
Brasileira editado pelo MEC teve como recomendações:
[...] incorpora algumas das propostas do Plano Atcon, como: defesa dos princípiosde autonomia e autoridade; dimensão técnica e administrativa do processo dereestruturação do ensino superior; ênfase nos princípios de eficiência eprodutividade; necessidade de reformulação do regime de trabalho docente; criaçãode centro de estudos básicos. Entre as propostas e recomendações feitas por Atconencontra-se a criação de um conselho de reitores das universidades brasileiras. Estenão deveria confundir-se com o Fórum de Reitores, já existente.(FÁVERO , 2006, p.31),
Segundo Dorileo (2005), o governador do estado de Mato Grosso Pedro Pedrossian
executou em 1970 a lei nº 2.972 que dispunha sobre a reestuturação e as Diretrizes do Ensino
Superior no estado de Mato Grosso.
Em agosto de 1970, o processo de criação da Universidade Federal com sede em
Cuiabá acelerou-se e o Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá passou a ter sua sede no
distrito do Coxipó da Ponte, juntamente com a Faculdade Federal de Direito. No dia 25 de
novembro de 1970, o local foi visitado pelo ministro da Educação e Cultura. No mês de
dezembro de 1970, a lei nº 5647 fundou a Universidade Federal de Mato Grosso (DORILEO,
1977, p.122-124). A UFMT naquele momento foi composta por doze cursos de nível superior:
Direito, Economia, Engenharia, Pedagogia, Letras, Geografia, História Natural, Matemática,
Serviço Social, Física, Química e Ciências Contábeis. Diante desse breve relato histórico
podemos identificar que nesse processo muitas pessoas se destacaram. Acreditamos que
muitas mulheres estiveram nesses movimentos e se inseriram no ensino superior no estado, na
universidade pública federal.
A inserção da mulher no ensino superior
No campo da história das mulheres encontramos descrições da posição de sua
inferioridade perante o homem. Essa particularidade as marginalizou, levando-as a
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permanecerem em segundo plano em relação ao homem pelo direito de serem instruídas.
Almeida (2000) expôs que a educação às mulheres inicialmente foi negada, pois a crença
generalizada era de que isso iria interferir na sua saúde física e emocional devido sua
fragilidade. Essa mesma autora (2000, p. 08), apontou que a educação das mulheres nos anos
1920 ganharia novos rumos “[…] de acordo com os pressupostos dos liberais e positivistas, o
novo estado que se delineava após a queda do regime monárquico exigia cidadãos aptos a
fazerem a nação crescer e a desenvolver-se. Isso não seria possível sem a instrução da
população em geral”. Com essa necessidade emergente de desenvolvimento da nação, as
mulheres passaram a ter acesso à escolarização, mas no início essa educação limitava-se ao
ensino primário e elas continuariam a dedicar-se aos cuidados com a casa e dos filhos.
Para Almeida (2000, p. 09) a questão fundamental para garantir o direito à educação
feminina seria “educar-se e instruir-se, mais do que nunca, era uma forma de quebrar grilhões
domésticos e de sair para o espaço público, adequando-se às normas sociais e às exigências da
vida pessoal”.
Louro (1997) esclareceu que as construções sociais e culturais das desigualdades e
diferenças nas representações sociais que sempre tiveram o homem como referencial. Essa
autora propõe um rompimento com o pensamento dicotômico tantas vezes presente nas
práticas educativas e cotidianas. Guacira Louro (1997) aproximou suas observações à
teorização de Michel Foucault descrevendo que as relações de poder construídas
culturalmente e socialmente amparam-se em questões relacionadas aos gêneros
estabelecendo intrincadas relações que abrangem a linguagem, as sexualidades, a construção
de identidade e entre outros. Louro (1997) levantou uma série de indicações instigantes
tecendo um convite para o repensar das ações e representações cotidianas e educacionais
relacionadas às questões de gênero.
À vista disso, Almeida (1998) ressaltou que a valorização social da mulher sempre
esteve direcionada às limitações do seu espaço, de modo a mantê-la recatada no mundo
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doméstico. Dessa forma, permitir a ela acesso a educação significava romper com a ordem já
estabelecida pela sociedade de no papel de subordinada ao homem.
Desse modo, a educação feminina deveria ser mantida nas fronteiras bastante
rigorosas que não abalassem as estruturas do lar, família e da posição do homem. Scott (1995)
relatou que o ingresso das mulheres no ensino superior somente ocorreu nos Estados Unidos
em 1837 ainda de forma discriminatória, pois foi criada uma universidade exclusiva para as
mulheres no estado de Ohio. Na segunda metade do século XIX, essas universidades
espalharam-se pelos Estados Unidos, porém uma grande parte dos cursos limitava a formação
do bacharelado não permitindo às mulheres o acesso a mestrados e doutorados.
Durante anos, o ensino universitário para as mulheres aconteciam apenas nos Estados
unidos, conforme Marías (1981). Na Europa esse processo foi mais tardio. Marías (1981)
demonstrou que grandes e tradicionais universidades excluíam as mulheres do ensino superior
e mencionou que as universidades inglesas abriram-se às mulheres em fins do século passado,
mas não as principais, Oxford e Cambridge só o fizeram bem dentro do nosso século, e com
conta-gotas. Na Europa a presença das mulheres foi um fenômeno posterior a Primeira Guerra
como afirmou Marías (1981, p 35).
Blay e Conceição (1991) apontaram que no Brasil a educação de nível superior teve
início no final do século XIX. A primeira mulher a ingressar a Universidade no Brasil foi Rita
Lobato Velho Lopes no estado da Bahia no ano de 1887 que formou-se pela Faculdade de
Medicina. As autoras ainda esclareceram que a classe feminina somente teve permissão para
frequentar cursos de ensino superior no ano de 1879. Esse acesso foi concedido às mulheres
por Dom Pedro II, imperador do Brasil no período. Blay e Conceição (1991), contudo,
apresentaram uma contradição ao direito concedido às mulheres, pois elas mesmo com
formação superior não poderiam exercer a profissão.
A partir de 1970 com a ampla expansão das universidades brasileiras, as mulheres
progressivamente e cada vez mais ingressaram no ensino universitário no Brasil.
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A temática da pesquisa
Pereira (1994) aludiu que ao trazer questões relacionadas às mulheres e seu ingresso
no campo educativo é pertinente um deslocamento do eixo das discussões sobre os problemas
educativos. Cabe-nos apresentar essas discussões no âmbito das escolas relacionando-as com
estruturas mais amplas da sociedade, uma vez que elas se nem sempre se processam de forma
célere “[...] mas nem por isso as mudanças almejadas nessas relações têm-se processado com
a rapidez e profundidade que gostaríamos” (PEREIRA, 1994, p.115). Assim ponderamos que
essas transformações remetem à permanência das relações sociais tradicionais e
conservadoras que acabam por se reproduzir nos princípios internos da escola.
Nessa perspectiva, pretendemos abordar discussões sobre a inserção da mulher no
ensino superior com o objetivo de registrar e analisar a trajetória da mulher no ensino superior
em Mato Grosso no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso nos anos de
1970 a 2000. Cabe-nos ainda compreender percurso das mulheres no ensino superior
procurando identificar as causas que ocasionaram sua permanência ou exclusão no ensino
superior no estado de Mato Grosso por meio da contextualização histórica e identificar e
registrar as trajetórias e manifestos pela conquista do ensino superior por mulheres no estado
de Mato Grosso, o que requer que se ressalve o cotidiano real.
O olhar para esse cotidiano, enquanto objeto de estudo, nem sempre estará centradonaquilo que se coloca de forma explicita, mas muito no que está implícito no fazer eagir do dia a dia escolar, no sentindo de explicar o que simbolicamente está colocadonas atitudes que compõem esse cotidiano. Um cotidiano, onde entra “emfuncionamento” todas as formas de ser e estar no mundo como sujeitos concretos -homem ou mulher - com todas as capacidades intelectuais, suas habilidadesmanipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias Pereira (1994, p.116-117),.
Portanto, o estudo nesse cotiando real designa a encontrar significativas mudanças no
âmbito dos direitos humanos tendo como protagonistas os sujeitos mulheres influenciada pela
importância que o universo feminino assumindo sua constituição humana de fazer-se
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profissionais de nível superior em Mato Grosso. Dessa maneira, a investigação coloca as
mulheres é um local de reconhecimento como sujeito ativo da história.
O desenvolvimento da temática buscará demonstrar a crescente transformação do
papel da mulher na economia, sociedade e liderança em 1970 a 2000, promovendo uma
análise do primeiro curso de Pedagogia/UFMT. Dentre essas relações procurará destacar a
reviravolta da história da mulher e seu acesso à universidade atrelada à autonomia e luta em
defesa dos direitos humanos independente do gênero.
A categoria do gênero remete ao estudo das relações sociais entre ossexos, uma maneira de indicar construções sociais dos papéis a seremdesempenhados pelos homens e pelas mulheres. Apontar a relaçãoentre experiências masculinas e femininas e o laço entre a históriadestas práticas no passado com as práticas sociais de hoje. Encontrarqual era o seu sentido e como estes papéis (masculino/feminino)funcionava para manter a ordem social ou para muda-la. Assim acategoria gênero é uma informação tanto sobre o mundo dos homenscomo sobre o mundo das mulheres, e das relações sociais queconfiguram a trama social (PEREIRA, 1994, p.117).
Parece-nos que a pesquisa proposta tem como principal contribuição social levantar
dados sobre a História da mulher no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato
Grosso em um contexto social marcante para a história do estado. Investigar essa trajetória da
se mostra como um fato singular por que pode nos permitir analisar ações educativas voltadas
para a formação e educação da mulher, de “práticas formativas femininas quase inexploradas
e que devem ser objeto da memória educacional enquanto repositório de recordações e
representações verbais, orais e escritas, emocionais, afetivas” (FERREIRA, 2014, p. 25).
Partimos, portanto, de um viés que nos permita encontrar nos relatos históricos, nas
legislações, nas fontes documentais como relatórios, projetos pedagógicos, imprensa
periódica, iconografia a presença das mulheres nesse movimento social, identificando e
analisando os caminhos trilhados, as dificuldades, as barreiras impostas, ou seja, como essas
mulheres enfrentaram cada um desses aspectos para conseguirem sua formação universitária
na UFMT especificamente no curso de Pedagogia.
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Considerações Finais
A educação superior no estado de Mato Grosso iniciou-se a partir de um movimento
nacional pela expansão nas universidades. Nesse processo é perceptível a identificação de
avanços consideráveis, como por exemplo, o acesso ao ensino superior avança para a
equidade de acesso sem distinção de gêneros. Amplos debates sobre o sentido e significado
das escolas de ensino superior pública no sistema educacional brasileiro ocorrem nos espaços
intitucionais e em outros espaços na sociedade organizada. O ensino superior no estado de
Mato Grosso também se mobiliza e amplia o número de vagas destinadas ao ingreso seja nos
cursos de graduação seja nos cursos de pós-graduação sem nenhuma distinção.
A expansão universitária, entretanto, ainda demanda esforços no sentido de se
estabelecerem padrões de funcionalidade e investimentos na busca de regulamentações e
políticas na construção de uma identidade pedagógica, administrativa e institucional.
A inserção das mulheres que anteiormente recebiam instrução primária, secundária e
cujo acesso ao ensino superior era dificultado, começaram progressivamente a buscar
formação profissional nas universidades.
Investigar a história da mulher no ensino superior considerando o curso de Pedagogia
da Universidade Federal de Mato Grosso entre 1970 a 2000 permitirá a análise de um período
decisivo para a formação dos profissionais da área da educação do nosso estado.
Discutir a educação da mulher no estado de Mato Grosso deverá ainda propiciar
reflexões sobre o caminho que as mulheres mato-grossenses traçaram em seu ingresso ao
ensino superior. Nesse sentido, esse tema de investigação da inserção e emancipação da
mulher universitária surge articulado a um campo de múltiplas facetas que nos permitirá
investigar indícios de autonomia das mulheres que lhes permitiram enfrentar a discriminação
por ventura existente e romper paradigmas estabelecidos e agregados à cultura machista em
busca de sua formação profissional.
O desenvolver da temática buscará demonstrar a crescente transformação da mulher
frente à formação profissional da qual se munia ao concluir o curso de Pedagogia na UFMT e
sua relação com os princípios de autonomia.
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O estudo ao analisar a história das mulheres no curso de Pedagogia comportará o
registro dos relatos de como surgiu à primeira turma do curso, quem eram essas mulheres, que
expectativas elas tinham, como a sociedade as percebiam, o que as motivou buscarem por
formação universitária. Ao estabelecer diferentes relações ser-nos-á possível a percepção e o
relato da história acadêmica dessas mulheres e, por extensão, de parte significativa do ensino
superior mato-grossense.
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