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ÁGORA Revista Eletrônica
Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 134 – 156
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INSERÇ ÃO DA MULHER NO MUNDO DO TRABALHO: HISTÓRIA, IDEOLOGIA, LUTAS E C ONQUISTAS
Sandra Campagnolo Migliorini1
RESUMO
O presente trabalho “Inserção da Mulher no Mundo do Trabalho”, visa resgatar a história das mulheres em três segmentos: na sociedade, na família e na religião. A partir dessa análise busca compreender como ocorreu o processo de inserção da mulher no mundo do trabalho e como essa inserção contribuiu para a história da mulher na atualidade. Na sociedade de hoje, bem como em outros tempos, a mulher é co-autora de tudo, e sem ela, a sociedade não existiria. A mulher tem papel muito importante em todos os setores; religioso, econômico e social. São muitos os fatores que levam as pessoas a terem auto-estima baixa, a acomodação de não se projetar em certas conquistas, de não lutar por seu lugar em certos setores como político, econômico, cultural e social, críticas, rejeições, faltas de incentivos, machismo, pobreza, abusos, etc. No caso da mulher temos que levar em consideração o lugar em que ela se encontrou inserida em nosso contexto cultural e social.
Palavras-chave : Mulher. Sociedade. Inserção.
1 INTRO DUÇÃO
Este trabalho “Inserção da Mulher no Mundo do Trabalho” foi construído a partir de
leituras bibliográficas sobre a mulher no decorrer dos anos, e principalmente como
aconteceram as experiências sociais e culturais.
A intenção desta pesquisa é analisar a inserção da mulher no mundo do trabalho, bem
como sua participação nas demais atividades referentes à vida social, política e cultural. Parte
do resgate da identidade da mulher e seu espaço no mundo do trabalho, visando analisar a
inclusão da mulher no mercado de trabalho formal e informal e avaliando as perspectivas da
mulher no âmbito social e econômico.
O interesse em estudar esse tema deve-se ainda, ao fato de que ao longo da história a
mulher tem aparecido numa situação de marginalização, de submissão, passiva como se não
1 Graduada em História pela UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Pós-graduada em Ciências Sociais “História e Geografia” pela CELER – FACULDADES.
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tivesse vontade própria. Embora o trabalho feminino fosse indispensável não era valorizado.
Somente no final do século XVIII(1789), na Revolução Francesa, surge a primeira declaração
dos direitos da mulher e da cidadã. No século XX só então as mulheres começaram a se
organizar e discutir sobre alguns de seus direitos como voto, trabalho, liberdade, educação,
igualdade.
Na sociedade complexa de hoje a mulher vem se libertando cada vez mais,
participando e mostrando o quanto ela é organizada e capaz. Nesse contexto, busca-se
identificar o valor da participação social e cultural desse binômio, mulher e trabalho.
Este trabalho divide-se em dois momentos distintos: Resgate Histórico da Mulher na
Sociedade, Religião e Família; Inserção da Mulher no Mundo do Trabalho.
Num primeiro momento será feito um regate histórico da mulher na sociedade, na
religião e na família. Pretende-se fazer uma retomada histórica da mulher desde os primórdios
da humanidade quando ela não podia trabalhar fora, andar na rua ou simplesmente ter
liberdade de expressão. A vida das mulheres eram só cuidar dos filhos, dar atenção aos
idosos, limparem a casa, fazer comida, deixar o jantar pronto para o marido, e ainda serem
objetos sexuais. Pra tanto fui em busca de material consistente que traçasse o perfil das
mulheres dentro da sociedade em diferentes épocas e, portanto iniciou-se pelas civilizações
antigas.
Num segundo momento será abordado a Inserção da Mulher no Mundo do Trabalho,
sua trajetória na busca de espaço. Portanto faz-se uma breve contextualização histórica das
lutas da mulher para se firmar no mercado de trabalho, para ser valorizada em termos de
competência e de espaço.
2 RESGATES HISTÓRIC OS DA MULHER 2.1 Na Sociedade
A história que se pode escrever dos estudos sobre as mulheres pertence também ao movimento; não é uma metalinguagem, e irá atuar, tanto como um momento conservador, quanto como um momento subversivo [...] não há uma interpretação teoricamente neutra da história dos estudos sobre as mulheres. A história terá aí um papel atuante (SCOTT, 1984 apud BURKE,1992).
Historicamente, às mulheres coube primordialmente o exercício de tarefas nas casas
ou próximas a elas, em função das demandas pela gravidez (frequente) e alienação aos
cuidados dos bebês. Somou-se a isso, como decorrência, a educação das crianças e a atenção
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aos idosos e doentes, e num plano menos significativo a conservação de valores afetivos,
familiares e tudo mais ligado ao relacionamento privado.
A mulher desempenha um papel importante na sociedade desde sempre, pois a
reprodução da espécie humana só pode acontecer se tiver participação dos dois seres. Para que
isso ocorresse homens e mulheres criaram uma convivência permanente e constante.
Conforme Bessa (2007, p. 01) “a sociedade humana é histórica, muda conforme o padrão de
desenvolvimento da produção, dos valores e normas sociais”. Assim no paleolítico (2 milhões
de anos-10000 a-c) homens e mulheres viviam da caça, da pesca, da coleta. Por isso a
sociedade deles era de caçadores e coletores, eram nômades, não tinham moradia fixa.
Sendo assim nesse tipo de sociedade o trabalho de caçar, pescar, e construir era feito
pelos homens, e o de coletar, preparar os alimentos e cuidar das crianças cabia às mulheres até
pelo fato de serem atividades mais leves. Percebe-se visivelmente que a divisão do trabalho já
era comum e também a submissão, pelo fato das mulheres ficarem maior tempo que os
homens envolvidos nas tarefas de casa e no cuidado dos filhos.
No neolítico (entre 10000 a 5000 anos atrás) essa sociedade passou a se organizar em
um determinado território, passaram então a ter moradia fixa ou sedentária. Devido ao
desenvolvimento da agricultura e do pastoreio o aumento da produção foi extraordinário e a
conservação dos alimentos favoreceu o crescimento da população. A partir de então surgiram
as primeiras aldeias e desenvolveu-se a vida comunitária. Nas aldeias neolíticas o trabalho era
dividido de acordo com o sexo e a idade. Apesar disso, o paleolítico e o neolítico preservaram
um fator em comum: a divisão do trabalho entre homens e mulheres.
Os homens faziam as atividades que requeriam maior esforço físico. Logo a mulher
ficava com o cultivo e a criação de animais, por essas atividades ficarem mais próximas de
casa e por consequência ao fato de serem às geradoras dos filhos e terem de amamentá-los.
Sendo assim, o cuidar dos filhos foi sendo desenvolvido como uma tarefa da mulher.
Conforme Bessa (2007, p.1) “o aprendizado da atividade de cuidar foi sendo desenvolvido
como uma tarefa da mulher, embora ela também participasse do cultivo e da criação de
animais”.
A sociedade no decorrer do tempo vai mudando a forma de organização, pois antes no
neolítico era feita no modelo de unidade econômica. Passa então no paleolítico a ser uma
sociedade dividida em clãs, em tribos e aldeias. Nesse sistema o homem é a autoridade devido
a sua força física e poder de mando.
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Bessa (2007, p.2) nos coloca que “a mulher foi sendo considerada mais frágil e incapaz de
assumir a direção e a chefia do grupo familiar”. A mulher com a função de reprodutora da
espécie é subordinada ao homem.
Surgem assim as sociedades patriarcais, fundadas no poder do homem e aqui se volta a
rever na história, pois desde os tempos bíblicos a herança era garantida somente aos filhos
homens comprovando a divisão do poder sustentado no gênero e sexo.
Assim sendo, às mulheres coube por um longo período histórico de, aproximadamente
dois mil anos a contar a história de nossa era o exclusivo caráter de dona-de-casa, não tendo
qualquer direito sobre seu corpo, atos e até pensamentos.
Segundo Cunha:
Talvez por isso a mulher nunca se pensou, eram os outros que a pensavam. Com os inconvenientes conhecidos: quando, por exemplo, elegeram-na rainha do lar, nada mais fizeram do que torná-la escrava do lar. De fato, a influencia mistificadora do ultraconservadorismo enferma de um complexo ideológico no qual a metafísica do sexo, a definição unilateral da mulher em função de uma imagem procriadora e lárica, e a sua subordinação em relação a autoridade marital são elementos de relevo (1995, p.199-200).
Ainda, segundo Cunha (1995, p.200) a mulher vivia “[...] reduzida a objeto, sem vida
própria, só existia por meio do marido, só a referiam como mulher dele”. No entanto é
possível fazer essa análise devido ao fato que a historicidade nos mostra que antes do
casamento a mulher vivia como sendo propriedade do pai e isso, é claro, deve-se ao sistema
paternalista. Depois do casamento o papel se inverteria a mulher passa a ser propriedade do
homem e passa a viver restrita ao mundo do lar e submissa ao homem.
Essa sociedade paternalista permaneceu ao longo dos tempos, até mesmo na sociedade
industrial. Ainda hoje, em algumas sociedades o paternalismo prevalece, mas, no entanto, são
raras exceções.
2.2 Na Religião
O estudo que aqui será abordado refere-se à mulher do ponto de vista religioso. É uma
análise referente à opressão, a submissão, a marginalização no que diz respeito à religião e o
papel das mulheres na história da igreja, nos ensinamentos e na estrutura de suas atividades.
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Segundo Silva (1995, p.109) “somos produtos da civilização judaico-cristã e por isso
trazemos a herança marcante da religião na vida das mulheres”. No Velho Testamento, no
Livro de Gênesis encontramos a descrição da lenda de formação do homem e da mulher e
logo se percebe as formas diferenciadas da criação de um e de outro.
Gênesis descreve:
Então Deus disse: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança [...]. Quando Javé Deus fez a terra e o céu, ainda não havia na terra nenhuma planta do campo, pois no campo não havia brotado nenhuma erva: Javé Deus não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem que cultivasse o solo e fizesse subir da terra a água para regar a superfície do solo. Então Javé Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente (2001, p.15).
Nessa passagem de Gênesis podemos perceber que Adão é feito à imagem e
semelhança de Deus, evidenciando-se assim um Deus masculino. Daí dizer-se que
historicamente o homem possui características que o divergem da mulher são essas
características que a história mantém em evidência até os dias atuais.
Ainda na lenda da criação descreve-se outra passagem de tamanha valia ao estudo aqui
em questão. Quem nos coloca é Gênesis:
[...] O homem deu então nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras. Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhe fosse semelhante. Então Javé Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou então uma costela e no lugar fez crescer carne. Depois, da costela que tinha tirado do homem, Javé Deus modelou uma mulher, e apresentou-a para o homem. Então o homem exclamou: “ Esta sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem!” (2001, p.16).
Nota-se, evidentemente, que posteriormente a criação de Adão Deus percebe que o
homem sente-se solitário e por isso decide lhe dar uma companheira que é extraída de sua
costela, logo Eva fica sendo uma criação de um Deus homem, de uma costela de homem,
enfim de uma figura masculina. Daí, já se deduz que há uma grande diferença quanto às
concepções de um e de outro. Adão imagem e semelhança de Deus e Eva extraída de um
órgão acessório, a costela e com isso sua condição secundária se estabelece.
A referência bíblica não para por aí. Ela se torna muito mais instigante do que se pode
imaginar, pois, vai mais a fundo na questão da posição secundária da mulher. Prova disso é
que Adão e Eva, em pleno paraíso, são tentados pela serpente -uma figura feminina e por
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consequência comem a maçã, que é fruto da árvore do conhecimento, do bem e do mal, e são
punidos pelo Senhor. A partir desse momento, conforme Gênesis, (2001, p.17) “Javé Deus
disse então para a mulher: Vou fazê-la sofrer muito em sua gravidez: entre dores, você dará à
luz seus filhos; a paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará”. Portanto fica aqui
explicito as relações de dominação e dependência da mulher ao homem.
Por meio dessa maldição, desde aí todas as mulheres passam a sofrer dores do parto
para ser comprovada que foi delas o pecado e com isso a história vai perpassando por séculos
e milênios. Nesse sentido, esses valores vão se firmando visto que, a religião tem forte
determinação na vida das pessoas de modo geral. Ainda desse ponto de vista Chassot nos
coloca:
Eva torna-se a responsável pela perda do paraíso. Fora ela que dera crédito à serpente. Assim era fácil fazê-la bode expiatório de qualquer desgraça que ocorria nesse vale de lágrimas. A milenar necessidade de termos que trabalhar e a leitura que muitas vezes se faz disso como algo sofrido é creditada a mulher, pois, na expulsão do paraíso ocorrida por causa da curiosidade da mulher, que se mancomuna com o demônio no deter com ele conhecimentos exclusivos, desconhecidos pelo homem-, foi dito “e ganharás o pão com o suor de teu rosto (2004, p.49).
Porém, se faz necessário uma releitura dessa narrativa visto que, durante muito tempo
essa era a única visão que se tinha e por isso perdurou por séculos.
A letra sagrada determinava a vida das pessoas de tal forma e para tanto não se fazia
questionamentos, apenas se acatava o que culminou com a equação milenar “mulher mãe”.
Cunha (1995, p. 200) em uma passagem faz a seguinte colocação “São Paulo
proclamou, sem margem de dúvidas, que a mulher deveria estar sujeita ao seu marido, dado
que o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja”. Percebe-se então a
visível passividade da mulher que vem de muito longe através de um mito, e por
consequência a sociedade acaba perdendo esse tributo precioso da mulher que é trabalhadora,
batalhadora. Isso se deve ao fato que ela sempre desempenhou um papel de grande valia se
tornando o braço direito do homem. Contudo, a história mantém obscura a vida da mulher até
a segunda metade do século XX.
Assim sendo a postura machista vai se perpetuando ao longo de quase vinte séculos.
Herdamos da cultura judaica princípios referentes à mulher que a Igreja Cristã acabou
adotando a partir do século IV quando ela é oficializada. Essa por sua vez segue os mesmos
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princípios que até então os romanos e os gregos perpetuaram sobre a desigualdade,
inferioridade jurídica e política e de emancipação feminina.
Nas antigas cidades gregas e romanas era comum um clube de homens onde
conversavam sobre diversos assuntos políticos, econômicos, sociais. Não obstante, a mulher
vivia um estado de subordinação que culminava apenas com as atividades domésticas e os
cuidados com os filhos. Isso se reflete de tal modo que ainda hoje no século XXI, se fazem
discriminações de gênero. Cabe aqui ressaltar, o que nos diz Cunha a respeito:
Talvez por isso a mulher nunca se pensou, eram os outros que a pensavam. Com os
inconvenientes conhecidos: quando, por exemplo, elegeram-na rainha do lar, nada mais
fizeram do que torná-la escrava do lar (1995, p.199-200).
Sendo assim, as mulheres se restringem ao exclusivo caráter de dona de casa abdicada
de todo e qualquer direito sobre seu corpo, atos e até mesmo pensamentos. Foi na Idade
Média que isso se refletiu com maior intensidade, pois a mulher sofria com a repressão sexual
e as virtudes dos dogmas religiosos e impostos pelo clero prevalecem. O sexo é condenado
pela Igreja, as mulheres não podiam sentir prazer, o sexo era apenas para suprir uma
necessidade fisiológica do marido e para a reprodução da espécie. Daí outro fator que
demonstra a submissão ao homem, a inibição do desejo e o desconhecimento do próprio
corpo.
Porém, o que é relevante é o fato de que até o século XIX e início do século XX, pelo
menos como coloca Chassot (2004) mais propriamente até a Primeira Guerra Mundial, a
leitura é quase vedada às mulheres, principalmente o romance, esse sim representava o grau
máximo de perigo a uma moça honesta. A recomendação que a Igreja fazia era ler
devocionários e vida de santos. Até a Bíblia era vedado, para as mulheres.
Apesar disso, se por um lado, a mulher foi colocada como inferior ou relegada a
segundo plano pelo Livro Sagrado, por outro a ela foi feito muitos elogios no que diz respeito
a educação dos filhos, esses eram educados para serem homens de fé. Quanto aos maridos,
esses eram respeitados, respeito que as mesmas aprenderam no lar de seus pais. A casa era
motivo de todo o cuidado, pois era ali que todos os dias a família se reunia para preservar os
valores religiosos. A mulher vivia uma rotina igual ao de milhares de mulheres ao redor do
mundo. Entretanto, não podiam se esquecer de serem mães atenciosas, esposas que honram o
marido, que davam bom testemunho, inclusive na fé. A Bíblia sempre destacou essa postura
da mulher mesmo que ela havia sido culpada pelo pecado no paraíso.
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2.3 Na Família
Ao se iniciar uma fala sobre a mulher na família no passado ou mais propriamente em
outros séculos é imprescindível destacar que ela era vista de um lado como romântica, flor
mais sublime que a natureza deixou na terra, devido ao seu falar carinhoso e principalmente
pelo seu anseio, desejo de conseguir ultrapassar obstáculos. Somente mais tarde ela passou a
ser vista pelo outro lado como parte integrante da sociedade que acreditou que as mudanças
apesar de serem lentas elas acontecem.
Ao longo do tempo desenvolveu-se uma tradição familiar centrada na figura paterna,
no homem, no esposo. Estrutura patriarcal em que o pai administrava e decidia o que era
melhor. As mulheres responsáveis pelo lar, pela criação dos filhos e auxiliar. Ser mãe era e
sempre fora um símbolo de ternura, bondade e compreensão, sempre procurando amenizar a
rigidez da educação, era ainda mediadora. Quem nos auxilia nessa questão é Portela no que
diz:
No período colonial, a mulher era tida como uma propriedade (assim como os escravos). Primeiro propriedade do pai, que arranjava o casamento da filha, como se fosse uma transação comercial; e depois do marido, que esperava que a esposa fosse uma boa dona-de-casa, boa parideira e mãe, sendo lhe dispensável conhecimento e cultura, para que a mesma não contestasse a condição de submissão exigida por ele. (2007, p. 01)
Na família os papéis de esposa, filha e irmã era uma espécie de preparação para ser
mãe sendo que, ser mãe era o papel mais sublime que uma mulher poderia ter.
Para os positivistas a mulher não possuía inferioridade intelectual ao homem, mas
possuía uma inteligência complementar a do homem. Mas, todavia apesar de não ter
inteligência inferior, as mulheres ficavam confinadas em lugares privados que eram
considerados sagrados e formadores de seres humanos, pois a
mulher ideal para casar era aquela comportada, obediente e dedicada.
Quanto aos costumes de um modo geral se generaliza alguns aspectos quanto a
namoro, família, religião. No entanto quando se trata da questão econômica, financeira entre a
classe burguesa e a classe popular há um grande contraposto.
Enquanto nas famílias tradicionais a mulher vive na luxúria, não tendo que se
preocupar com as coisas básicas da vida como trabalho, cuidado dos filhos e isso devido ao
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fato de que alguém como pai ou esposo faz por ela vive uma vida de tranquilidade,
serenidade.
Logo às mulheres de classe popular tinha que ser trabalhadora, esposa dedicada e logo
desde muito cedo dar conta das tarefas. Depois do casamento essa realidade seguia, porquanto
em muitos casos até mais.
Nesse sistema paternalista de família a divisão do trabalho era bem visível assim como
na antiguidade o homem realizava trabalhos fora de casa e as mulheres os afazeres
domésticos. Com o passar do tempo às condições da mulher vão se modificando e ela passa a
adquirir mais afazeres.
Nessa época o homem era o responsável por trazer para dentro do lar o sustento, a
riqueza e a mulher cabia a responsabilidade de administrar e dividir com a família, sem se
quer pensar em esbanjar. Sendo assim, prevalecia o ditado de que “não adianta o homem levar
as coisas de a pá para dentro de casa se a mulher com uma colher pode por tudo a perder.” Por
isso sua responsabilidade era tão grande que a partir de então foi adquirindo destreza,
habilidades para os negócios.
Para garantir a manutenção da família, os chefes eram os principais responsáveis pela
terra ou qualquer outra atividade que se dedicassem era deles a determinação de quais
atividades eram realizadas, ficando visível à autoridade paterna.
Na hora de realizar as atividades normalmente as mulheres ficavam com mais e por
isso tinha sua rotina diária iniciada antes do dia amanhecer sendo que, eram as últimas a irem
dormir, pois deixavam tudo organizado para o dia seguinte. Até mesmo aos domingos não
tinham descanso, enquanto o homem descansava ou realizava algum lazer elas organizavam
varias outras funções.
Para as mulheres não havia trabalho que não pudesse ser feito. Já o homem por seu
machismo, não realizava tarefas domésticas para não se sentir inferior, passando esse encargo
a ser exclusivo das mulheres.
Entretanto, as atividades que eram praticadas pelas mulheres passam a ser lucrativas
despertando a cobiça do homem que passa então a realizar esses trabalhos já que a
remuneração era atributo exclusivo do homem.
Percebe-se assim que a divisão do trabalho era determinada pela
sociedade e não pela capacidade física.
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3 INSERÇÕ ES DA MULHER NO MUNDO DO TRABALHO 3.1 Inserção
Por muito tempo a mulher foi considerada neutra diante da sociedade. Seu papel se
limitava à procriação de filhos e ao cuidado do lar. Ela não tinha voz e vez diante da
sociedade que era dominada pelo machismo dos homens que detinham a responsabilidade, o
apoio e a proteção à família, bem como pela ação política e econômica na sociedade.
Portanto, o poder de tomar todas as decisões necessárias cabia aos homens que não pediam
opiniões às suas esposas ou filhos, como coloca Dias:
Todo mundo sabe que a mulher sempre foi discriminada, nunca teve as mesmas oportunidades asseguradas aos homens. Nossa cultura patriarcal gerou uma sociedade machista, em que a mulher ocupava um papel subalterno. Excluída, ficava confinada ao reduto da casa, tendo por única missão a assistência da família, a organização do lar, o apoio ao marido e o cuidado dos filhos (2004, p.20).
Devido a esses fatores sabe-se que o cuidado do lar, dos filhos não era reconhecido
como trabalho pela sociedade, também não era remunerado. De acordo com Maciel, (2001)
desde os primórdios a mulher sempre realizou tarefas indispensáveis à sobrevivência e bem-
estar da família, mesmo que esse trabalho que era indispensável não fosse valorizado. Em
decorrência disso, durante muito tempo à mulher se sentiu inferior aos homens, já que esses
trabalhavam fora e eram remunerados pelo seu trabalho.
Essa situação só começa a mudar com a sociedade industrial. Embora nessa época
ainda existisse o sistema paternalista, ele foi aos poucos sendo vencido o que culminou.
Conforme Bessa, (2007) nas sociedades industriais o mundo do trabalho se dividiu do mundo
doméstico dando lugar a um novo modo de ver as mulheres.
A Revolução Industrial possibilitou uma transformação na vida das mulheres que
foram incorporadas ao mundo do trabalho fabril, e por conseqüênciaseparou o trabalho
doméstico do trabalho remunerado fora do lar.
No entanto, isso começou a mudar realmente com as I e II Guerras
Mundiais (1914-1918 e 1939-1945), quando os homens partiram para a guerra e coube às
mulheres assumir os negócios da família e o lugar dos homens no mercado de trabalho.
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A partir de então, mesmo que não estivessem preparadas, pois sempre fora o homem
que tomara as decisões, agora esse papel se inverteria dando lugar para aquelas em que a
história de quase vinte séculos negou participação.
Passaram a ser mãe, mulher, esposa e principalmente as mantenedoras do lar. Foi pelo
processo acelerado da urbanização e também a tecnologia representada pelos meios de
comunicação que vieram interferir na sociedade da época, como uma ruptura dos padrões
adotados até então. No entanto, o grande auge para as mudanças realmente significativas na
vida da mulher iniciou, conforme Maciel, por volta da década de 1960 na segunda metade do
século XX.
O contexto histórico da década de 1960, os vários movimentos sociais surgidos nesse
período, entre eles o movimento feminista, a entrada massiva das mulheres no mercado de
trabalho, a possibilidade de contracepção cada vez assegurada são algumas das
transformações dos últimos 30 ou 40 anos e que provocaram um grande número de estudos
por pesquisadores de várias áreas do conhecimento, convencidos de que não é mais possível
se furtar à presença feminina em todos os setores da vida moderna. (2001, p.15)
Ainda segundo Maciel (2001) hoje é inevitável não encontrar as mulheres no espaço
privado e isso se deve ao fato de que elas possuem um novo olhar, traz uma nova fala,
juntamente com um novo pensar que as torna mais hábeis ao setor em que estão inseridas.
Portanto, ficou para trás a fragilidade, a passividade ou determinação biológica que a história
durante séculos as submeteu.
Atualmente é comum encontrarmos essas mulheres executando uma série de tarefas
que acabam sendo indispensáveis para sua sobrevivência e de sua família. Mulher hoje é
sinônimo de reconhecimento na família, na sociedade, na política e no trabalho. São elas,
ainda em muitos casos, responsáveis pela manutenção do lar. Aqui cabe ressaltar que tanto a
mulher rural quanto a mulher urbana merecem o mesmo destaque embora a sociedade não as
veja assim.
Maciel nos coloca a seguinte observação que reforça essa ideia:
Diariamente, essas mulheres executam um sem número de tarefas indispensáveis à sobrevivência e bem-estar da família [...] Enquanto trabalhadora rural, a mulher tem um papel fundamental, visto que o seu trabalho pra fora nesse meio significa trabalhar na roça, nas proximidades da própria casa, como cuidar de animais, da horta, cortar lenha, realizar o beneficiamento da produção, ou seja, o trabalho feminino tem um peso extraordinário na organização da vida familiar no interior. Então, trabalhar faz
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parte da luta de sobrevivência e é ao mesmo tempo, um valor positivo de ser pobre e trabalhadora em oposição ao valor negativo ser pobre e vagabundo (2001, p.16).
É nesse sentido que para as mulheres a vida ganha outro sentido. Sentido esse que é o
de prover a própria sobrevivência e que se concretiza num plano maior que é o de um projeto
de valorização de si mesma. É claro que nunca descuidando da preocupação com o coletivo
familiar. Com isso, Maciel (2001, p.16) nos coloca que as mulheres “foram preparadas para
pensar nos filhos, no marido, nos parentes”.
Mas pode-se concluir que além de todos os itens analisados para a inserção da mulher
no mercado de trabalho, um se faz indispensável que é o de que a mulher entrou no mercado
de trabalho para sua realização profissional.
Porém, hoje o trabalho representa uma ajuda na manutenção da casa, visto que, a
sociedade mudou muito e as relações são mais estreitas. Desse modo, cabe ressaltar que é
preciso muita luta para poder viver em um mundo menos desigual.
3.2 LUTAS E C ONQUISTAS DA MULHER 3.3.1 Lutas
Através da história se percebe que a mulher conseguiu seu espaço na sociedade com
muito esforço, luta, persistência, garra, dedicação, de acordo com Gonçalves (2000, p.99),
“lutar pelo seu espaço não significa declarar guerra aos homens. Ao contrário significa
proporcionar que cada um seja inteiro no espaço que ocupa e, o que é muito importante,
passar essa atitude frente à vida para gerações futuras”. Nesse sentido Lisboa nos faz uma
importante colocação:
Não reclamamos para o sexo que pertencemos nenhum dos direitos civis e políticos que até aqui tem sido privilégio do outro sexo, não procuramos reivindicar a pretensão de igualdade de aptidões intelectuais entre o homem e a mulher. Achamos pelo contrario, que ela fica perfeitamente bem no plano secundário em que a colocamos com os preconceitos sociais (1989, p. 9).
O marco inicial para essa grande transformação da mulher foi a Revolução Francesa.
Posteriormente pela Revolução Industrial. Essa trouxe consigo novas perspectivas de
mudanças para as mulheres no que se refere questão trabalho. Acreditavam que saindo de seus
lares à procura de trabalho nas fábricas, estariam mudando a historicidade da mulher que até
então estava obscura.
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Foi pelo processo acelerado da urbanização e também a tecnologia representada pelos
meios de comunicação que, vieram interferir na sociedade da época, como uma ruptura dos
padrões adotados até então.
A história das mulheres começa a ser analisada a princípio nos anos 60 e 70 do século
XX por historiadores da França, visto que, foi nesse país que a mulher teve seu primeiro
direito garantido com a Revolução Francesa. Nessa mesma época nos Estados Unidos
algumas intelectuais levantaram a bandeira da igualdade entre os sexos, combatendo o
machismo, predominante na sociedade. Elas também combatiam o fato de estarem reservados
aos homens os melhores empregos, os melhores salários e o gozo de amplos direitos,
enquanto às mulheres era reservado o trabalho doméstico ou a dupla jornada de trabalho,
dentro e fora de casa e porquanto se iniciaram movimentos para assegurar a mulher seus
direitos.
Obtiveram apoio de revistas, livros, filmes e peças de teatro que passaram a defender a
figura de uma mulher mais ativa e participante. Eram críticas severas tanto ao machismo
quanto à acomodação das mulheres, à submissão imposta pelos homens há tanto tempo na
história. Ambos os países denunciaram a invisibilidade feminina na história por causa de
historiadores que agiam como se essa questão não existisse, reforçando a ideia que desde
muito tempo a mulher foi considerada um gênero neutro diante da sociedade. Burke nos
coloca que:
O feminismo tem sido, nas últimas décadas um movimento internacional, mas possui características particulares, regionais e nacionais. [...] Nos Estados Unidos, o feminismo ressurgiu nos anos 60, estimulado em parte pelo movimento dos Direitos Civis e pelas políticas do governo destinadas a estabelecer o potencial feminino, para ir ao encontro da expansão econômica através da sociedade, incluindo as profissões e a academia. [...] No processo, o feminismo assumiu e criou uma identidade coletiva de mulheres, indivíduos do sexo feminino com um interesse compartilhado no fim da subordinação, da invisibilidade e da impotência, criando igualdade e ganhando um controle sobre seus corpos e sobre suas vidas (1992, p. 6768).
Nos anos 70 o movimento feminista que surgiu em prol dos direitos civis das mulheres
tinha como um dos principais objetivos aprender sobre o passado legítimo das mulheres e
introduzi-lo na história. Sobre isso Burke (1992, p.69) diz que “no espaço aberto pelo
recrutamento de mulheres, o feminismo logo apareceu para reivindicar mais recursos para as
mulheres e para denunciar a persistência da desigualdade [...]”. Visava ainda mudar não
apenas a condição das mulheres, mas de uma sociedade inteira.
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Conforme Burke (1992, p.68-69) [...], “o feminismo logo apareceu para reivindicar
mais recursos para as mulheres e para denunciar a persistência da desigualdade”. Foi a partir
de então que se conseguiu o controle legal da procriação com o surgimento de métodos
contraceptivos e também do aborto em casos graves em que a mãe e o feto correm riscos de
vida. No entanto, não foi fácil para que essa situação se conservasse, pois começou a pesar
sobre as mulheres a questão religiosa que era totalmente contra o impedimento da vida.
Os anos 70 revelaram ainda o interesse pela história das mulheres que buscava no
passado explicações para as opressões femininas. No final da década de 70, historiadoras
feministas admitiram que a história das mulheres não devessese reduzir nem a um combate
por um estatuto igualitário, nem a guerra dos sexos, pois para a história seria difícil reconstitui
em sua complexidade aquilo que guardava na memória e que era o que se conseguia entender,
e só se entendia o que dizia respeito aos homens.Burke nos coloca:
A história das mulheres, sugerindo que ela faz uma modificação da “ história”, investiga o modo como o significado daquele termo geral foi estabelecido. Questiona a relativa dada à “ história da mulher”, expondo a hierarquia implícita em muitos relatos históricos. E mais, fundamentalmente, desafia tanto a competência de qualquer reivindicação da historia de fazer um relato completo quanto à perfeição e à presença intrínseca do objeto da história -o homem universal [...] (1992, p. 78).
Porém essa história de submissão começaria a se inverter com esse movimento
feminista que instigou nas mulheres o desejo de transformação já que desde sempre foram
consideradas o braço direito de seus maridos. Começaram a perceber que poderiam fazer
muito mais que isso poderia ser igual, ou melhor, que os homens.
Por isso ao se perceberem capazes começaram a lutar pelos seus próprios direitos e
iniciaram uma luta pelos mesmos. Chegaram a essa convicção que senão o fizessem a
sociedade que era predominantemente machista não faria essa mudança acontecer e do
contrário estariam hoje ainda submissas.
No entanto, um fator se faz indispensável nesse momento que era o fato de que não
queriam tomar o lugar dos homens apenas reivindicavam direitos para elas próprias que
tinham condições. Sobre isso Lisboa nos coloca:
Não reclamamos para o sexo que pertencemos nenhum dos direitos civis e políticos que até aqui tem sido privilegio do outro sexo, não procuramos reivindicar a pretensão de igualdade e aptidões intelectuais entre o homem e a mulher. Achamos pelo contrário que ela fica perfeitamente bem no plano secundário em que a colocamos com os preconceitos sociais (1989, p. 09).
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Foi a partir daí que perceberam que poderiam ser muito mais mães, que poderiam ser
independentes de seus maridos e de seus pais e terem desejos, opiniões próprias deixando para
trás a concepção de que só seriam felizes vivendo naquele mundo da casa e dos filhos.
Configurar-se-iam, a partir de então um novo pensar da mulher ao contrário do que nos coloca
Del Priori:
A mulher casada deveria ter o marido e os filhos como centro de suas preocupações. De maneira não muito explicita, mas contundente, o bem estar do marido era tomado como ponto de referencia para a medida da felicidade conjugal, a felicidade da esposa viria como consequência de ummarido satisfeito (2007, p. 627).
Nesse dado momento então a mulher tem o anseio de buscar junto a sociedade o seu
papel pelo qual o movimento feminista lutava. No entanto, a sociedade não aceita de imediato
essas transformações e com isso, o processo ocorre lentamente.
O movimento feminista percebe ainda que se faz necessário a instrução para as
mulheres adquirirem maior destaque na sociedade. Porém não só pelo fato de destaque, mas
também por força das circunstâncias que elas possam vir a passar, pois em certos casos nem
sempre estarão amparadas pelos pais, maridos como é o caso, por exemplo, de uma viuvez e
nesse sentido Lisboa diz que:
Daí, pois a vossa filha uma instrução sólida, habilitai-as, convenientemente para que elas possam em caso de necessidade, encarar com ânimo resoluto as vicissitudes da vida, contando com suas próprias forças e dispensando o amparo e proteção (1989, p. 108).
Surgem então novos pensamentos sobre a inserção da mulher nas faculdades que eram
prioridade até então para os homens. Burke diz:
Durante os anos 60, também as faculdades, as escolas de graduação e as fundações começaram a estimular as mulheres a obterem PhDS, oferecendo bolsas de estudo e um considerável apoio financeiro. “ É claro”, comentou um autor, “ que as mulheres constituem uma importante força latente para as faculdades e as universidades carentes de bons professores e pesquisadores”. “ Embora autores tão diversos quanto diretores de faculdades e acadêmicos feministas reconhecessem que tinha havido ‘preconceitos contra as mulheres nas profissões intelectualizadas”, eles tendiam a concordar que os obstáculos cairiam por terra, se as mulheres buscassem uma formação de nível superior. É interessante que a atuação das mulheres foi aqui presumido; como opção espontânea, atores racionais, as mulheres eram chamadas para se inserirem em profissões que previamente as havia excluído ou subutilizado (1992, p.68-69).
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Sabe-se que o movimento feminista, o ingresso da mulher no mercado de trabalho, o
surgimento de métodos contraceptivos, e a inclusão das mulheres nas universidades
propiciaram uma luta verdadeiramente emancipatória. Nesse contexto a mulher começou a ter
acesso à educação, colocando-se assim diante da sociedade como um ser que faz parte da
história desde que as primeiras civilizações começaram a surgir.
Segundo (Gonçalves, 2006, p.51 apud Beauvior,2000) “ninguém nasce mulher: torna-
se mulher” não é o destino econômico, ou biológico ou ainda psíquico que define a forma que
a mulher assume perante a sociedade, é o conjunto da civilização que cria isso.
Mesmo com tantas desigualdades as mulheres conseguiram grandes avanços em seus
direitos, e assim foram ganhando espaço na sociedade. Para isso organizaram vários
movimentos e manifestações em defesa de seus ideais. No Brasil as lutas iniciaram no ano de
1906 e foram até 1991. No entanto cabe aqui fazer uma ressalva que ainda hoje a mulher luta
contra alguns preconceitos. No ano de 1906 foi organizado o Congresso Operário Brasileiro,
onde foi aprovada a regulamentação do trabalho feminino.
No ano de 1910 homens e mulheres passam a ter o mesmo direito em relação ao
divórcio e com os filhos bem como o adultério tendo tratamento igual quando cometido.
No ano de 1911 as mulheres ganham o direito a trabalhar nas funções públicas.
No ano de 1917 as mulheres foram às ruas exigindo o seu direito de voto.
No ano de 1919 as mulheres fazem manifestações por uma jornada de oito horas de
trabalho por dia, mas não obtiveram grande êxito.
No ano de 1920 foi fundada a Liga de Emancipação Internacional da Mulher que tinha
por objetivo lutar pela igualdade política da mulher.
No ano de 1932 a mulher ganha o direito ao voto e torna-se cidadã.
No ano de 1933 foi declarada a igualdade dos cidadãos perante a lei pela Constituição
Política do Estado.
No ano de 1946 a lei exclui os analfabetos de votar então milhares de mulheres não
puderam votar e por não haver nem uma mulher na Constituição tiveram grande dificuldade
para participar das polemicas levantadas.
No ano de 1947 surgiu a Federação de Mulheres do Brasil.
No ano de 1963 para defender a igualdade dos salários foi realizado o Encontro
Nacional da Mulher trabalhadora e também foi pedido a Reforma do Código Civil.
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No ano de 1967 o novo Código Civil é vigorado onde determina que o marido seja o
chefe da família, mas que a mulher deve ser ouvida.
No ano de 1969 é decretado que o salário deve ser igual para o trabalho igual, ou seja,
tanto para homem quanto para mulher o salário deve ser igual.
No ano de 1976 a mulher ganha o direito de licença maternidade.
No ano de 1980 é realizada uma Convenção para destruir todas as formas de
discriminação sofridas pelas mulheres.
No ano de 1991 às mulheres vítimas de violência ganham proteção através, da criação
de leis que visam à garantia de seus direitos.
Foram muitas lutas, manifestações e protestos para conseguir direitos, mudar a forma
de pensar de uma sociedade inteira e conseguir vencer o sistemapaternalista existente. No
entanto as mulheres lutaram muito, até se tornar cidadãs com os mesmos direitos dos homens.
3.3.2 Conquistas
Desde os finais do século XIX, sinhás, mulheres de elite, publicaram jornais
femininos, nos quais suas reivindicações concentraram-se, sobretudo, em dois pontos: a
educação feminina e o direito de voto das mulheres.
Nas primeiras décadas do século XX, as mulheres conseguiram obter grandes
conquistas, entre elas o direito de voto. Na Constituição de 1890, surgiram as primeiras
manifestações em favor desse direito político, mas a emenda que concedia expressamente o
voto ás mulheres não foi aprovada.
Surgiram organizações formais pelos direitos da mulher, no Brasil. Como nos EUA, as
mulheres profissionais continuaram boa parte da liderança para o movimento sufragista do
século XX, que atingiria sua meta em 1932 ao ser aprovado o Código Eleitoral que estipulou
em seu artigo 2: “È eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na
forma deste código (Decreto nº 21 de fevereiro)”. Mas antes disso, em 1927, o governador do
Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartina, conseguiu aprovar uma lei eleitoral que permitia o
voto feminino. E a primeira mulher a ocupar o cargo eletivo na América do Sul, em 1929, foi
a prefeita Alzira Soriano.
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A campanha pelo sufrágio feminino no Brasil não esteve ligada a nenhum partido
político ou movimentos sociais, além disso, os parlamentares que apoiavam o sufrágio
feminino não conseguiam nenhuma orientação política.
Em 1928, a Federação Brasileira para o Progresso Feminino lançou um manifesto
expresso em termos de uma “Declaração dos Direitos da Mulher”, tornando claro que os
direitos políticos não eram meros privilégios a serem transmitidos através de um capricho
daqueles que estavam no poder, mas sim, direitos inalienáveis, cuja negação era uma grave
injustiça à mulher brasileira.
Em 1930 Getúlio Vargas toma o poder, no entanto, nem ele e nem seu auxiliar
Osvaldo Aranha eram defensores do sufrágio feminino, mas ao criar um novo código eleitoral
fornecia uma oportunidade de garantir o voto às mulheres.
Em fevereiro de 1931, o diretório da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino,
decidiu organizar um segundo congresso no Rio de Janeiro. Vieram muitos representantes de
estados e da capital. No final de agosto, o governo liberou um código eleitoral provisório que
concedia voto limitado às mulheres.
A Constituição de 1934, no artigo 113 reza: “Todos são iguais perante a lei. Não
haverá privilégios, nem distinções por motivo de nascimento, sexo, raça, profissão, própria ou
dos pais, classe social, riqueza, cargos religiosos ou ideias políticas”.
QUADRO1: CONQUISTA DO VOTO FEMININO EM DIVERSOS PAÍSES.
Ano de Conquista do Voto feminino País
1917 URSS, com a Revolução
1918 Alemanha
1919 EUA
1928 Inglaterra
1934 Brasil
1945 França, Itália, Japão
1973 Suíça
Com a obtenção do direito de voto, diversas mulheres se candidataram às eleições de
maio de 1933, apenas uma venceu: Carlota Pereira de Queiroz, de São Paulo.
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A conquista do voto pelas mulheres é interrompida por um regime altamente
autoritário e repressivo. Durante o Estado Novo, (1937/1945) o Congresso Nacional foi
fechado e as mulheres não puderam exercer o direito do voto, pois não houve eleições.
Durante a década de 50, as mulheres travaram uma importante batalha para abolir
dispositivos altamente descrimináveis do código civil.
Organizações femininas com o apoio da imprensa conduziram uma campanha nas
grandes cidades para conseguir aprovar no Congresso Nacional um Estatuto da Mulher
Casada, pois pelo Código Civil de 1916 a mulher era considerada relativamente incapaz para
o exercício da cidadania.
Em 1962 foi aprovado no Parlamento o Estatuto da Mulher Casada, que abolia as
restrições estabelecidas pelo Código Civil. No entanto, a campanha mais difícil foi a que tinha
por objetivo aprovar no Congresso a Lei do Divorcio. A Igreja católica, muito influente no
País, resistiu e combateu arduamente. Em 1977, foi aprovada uma lei de divórcio no Brasil –
lei nº6. 515/77.
A luta da mulher não foi fácil. No livro “A Resistência da Mulher à Ditadura Militar
no Brasil”, Ana Maria Colling investiga o papel da mulher ao longo da ditadura e nos mostra
que ao assumir a militância política, durante o regime militar, as mulheres negam sua
sexualidade como precondição para chegar a uma suposta igualdade com o sexo masculino.
Também dentro dos órgãos de repressão, a mulher política era tida como desviante(puta
comunista) e a tortura sempre passava pelos genitais, já que humilhar a mulher era a melhor
forma de sepultar suas aspirações políticas.
Colling em seu artigo “A Invisibilidade do Feminino”, afirma:
Durante séculos a mulher brasileira foi mantida reclusa ao lar, reduzida à condição de mãe e esposa, exercitando algum artesanato doméstico ou exercendo profissões de menor prestígio social. Era sexualmente reprimida e economicamente dependente; foi afastada da atividade política e da administração publica, e relegada pela história; sujeitando-se a normas de disciplina corporal. Da mulher esperava-se submissão, obediência, modéstia, renúncia, bonomia, passividade, aquiescência, ductilidade, morigeração, asseio, temperança, sobriedade, dedicação e fidelidade. Não tinha individualidade, era anônima e tratada genericamente como um organismo natural, previsível, inculto, ignorante, iletrada, alienada. A mulher era tutelada, considerada inferior física e intelectualmente incapaz. Embora os avanços democráticos na direção da emancipação feminina, refletidos na Constituição de 1988, hão de mudar muitos valores culturais antes de alcançar efetiva igualdade. (2000, p.31).
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A Constituição de 05 de outubro de 1988 jogou por terras velhas e ultrapassadas leis
que atribuíram à mulher o status de cidadã de segunda classe. Ao mesmo tempo, a Carta
Magna conseguiu abordar, praticamente, todos os aspectos da discriminação presente na
sociedade brasileira, no que diz respeito à situação profissional, escolar, econômica, sexual,
familiar, ética e moral da mulher.
Alguns artigos da constituição de 1988 em relação à mulher determinam que:
Art. 189 -Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão
títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos.
Parágrafo único -O título de domínio e a concessão de uso serão
conferidos ao homem ou à mulher; ou a ambos, independentemente do estado civil, nos
termos e condições previstas em lei.
.....................
Art. 208 -O dever do estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: IV -
atendimento em creche e pré-escola às crianças de O a 6 anos de idade;
....................
Art. 226 -A família, base da sociedade, tem especial atenção do Estado.
...................
3º -Para efeito de proteção do Estado é reconhecida à união estável entre homem e mulher
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
4º-Entende-se, também, como entidade familiar à comunidade formada por qualquer dos pais
e seus descendentes.
5º-Os direitos e deveres referentes á sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo
homem e pela mulher.
......................
8º-O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que integra, criando
mecanismo para coibir a violência no âmbito de suas relações.
..................
Art.5º -Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição.
................
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Art 7º -São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
...................
XVIII -licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de 120 dias;
..............
XIX -licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
O Art. 10 § 1 ° das Disposições Constitucionais Transitórias diz que "até que a lei venha
disciplinar o disposto no Art. 7°, XIX da Constituição, o prazo de Licença-paternidade a que
se refere o inciso é de 5 dias".
.....................
XXV -a assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 6 anos de idade,
em creches e pré-escolas.
XXX -proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Parágrafo único -São assegurados à categoria dos trabalhadores
domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX e XXIV,
bem como a sua integração à Previdência Social.
......................
Outra importante conquista das mulheres refere-se à reserva de quotas, alteração na lei
que disciplinou as Eleições de 1996, obrigando cada partido político ou coligação a preencher,
no mínimo, 20% de suas vagas com candidatura de mulheres.
5 CO NSIDERAÇÕ ES FINAIS
Ao longo da história, a mulher tem conseguido mostrar que ficou para traz aquela
mulher que enfrentou preconceitos, que era submissa, incapaz de lidar com os negócios, que
só devia cuidar dos filhos, do marido, da casa. Hoje ela mostrou que as barreiras é que dão
sentido para que haja a luta, para assim atingir o sucesso profissional e a realização pessoal.
A atuação da mulher no trabalho, na política, na religião e na sociedade sempre foi
árdua em todos os sentidos, principalmente quando se sujeitam a um salário bem inferior do
que é estabelecido por lei. Por lei diz-se que homens e mulheres têm direitos iguais, no
entanto, na prática nem sempre é o que acontece.
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A mulher ao longo desses dois mil anos de história, sem nos remontarmos ao
antecedente dessa época, começa a mostrar-se tão capaz quanto o homem, através de sua
competência, criatividade, habilidade, afetividade e principalmente a sua maneira de encarar
os desafios já que esses fazem parte de sua trajetória e
por isso não lhes intimidam.
Assim analisando toda trajetória feminina, se conclui que as mulheres adquiriram
muitas conquistas, mas ainda falta muita coisa para ser feita e agora, mais do que nunca, se
deve dar continuidade a todo esse trabalho para que sejam abolidos do seio da sociedade todo
e qualquer tipo de discriminação.
É nesse sentido que hoje os estudos mostram que homens e mulheres devem ser
formadores de opiniões para que assim a Constituição seja a orientadora de vida de todo e
qualquer cidadão e que as leis sejam cumpridas em relação a todas as classes sociais. Assim
sendo, mulheres chefes de família, mulheres pobres, mulheres discriminadas por serem negras
ou mulheres rurais devem ser vistas pela sociedade como mulheres bem sucedidas por serem
capazes e fortes o suficiente para vencer os obstáculos da vida.
Enfim, as mulheres lutaram e ainda lutam não para serem homenageadas, exaltadas e
sim, por três objetivos sendo que o primeiro é o fim da discriminação, o segundo é o fim da
violência e por terceiro o direito ao trabalho, saúde e educação.
Sendo assim elas podem colaborar no sustento de suas famílias, visto que hoje o
mundo capitalista exige cada vez mais das pessoas sejam homens, mulheres ou jovens.
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