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Pelo desapêgo de um rei estrangeiro e ignorancia de uns
franciscanos, se perdeu uma das maiores e mais ricas resi-
dencias que, fóra da capital do reino tiveram os monar-
chas portuguezes…
SIMÕES, Augusto Filippe, 18681
Os edifícios históricos provocam ao mais desinteressado dos
mortais sentimentos diversos. A revolta e a indignação, patente
no tom caústico de Augusto Simões, são o exemplo de como a
história e o desinteresse podem ser fatais para os monumentos
que nos são queridos. Longe desta visão pessimista, a resistên-
cia física das construções históricas e sobretudo a magia da con-
servação arquitectónica, nunca pararam de nos surpreender.
A morte que parecia inevitável para muitos edifícios, é por vezes
contrariada, dando lugar à reparação e consolidação de estru-
turas que se julgavam irremediavelmente perdidas, à reutiliza-
ção de espaços que se encontravam abandonados e, às vezes, mas
só às vezes, à sua substituição ou demolição parcial. Tudo isto
aconteceu em São Francisco.
A decadência
O desapego deve-se ao rei D. Filipe II, quando decidiu não usar
o Paço Real de São Francisco, cedendo as suas instalações à
ordem religiosa que ocupava o convento. A ignorância, deve-se
à forma como os religiosos se aproveitaram desta concessão des-
truindo as grandezas do palacio, e exertando no convento os
marmores, as madeiras e todos os ricos despojos que ali encon-
traram2.
O tempo encarregou-se do resto. Totalmente ao abandono, o
que restava do extenso Paço Real depressa entrou em decadên-
cia. Os jardins, que há muito haviam desaparecido, passaram a
hortas e pomares dos Franciscanos, o quarto da rainha foi subs-
tituído por um dormitório, e o conjunto que incluía, igreja, paço
e cerca depressa entrou em ruína, dando lugar ao decadente
convento, parcialmente ocupado.
Assim nesse estado de agonia, o encontraram os Franceses em
1808, quando abruptamente entraram na cidade, após um cerco
violentíssimo3. Por ironia do destino, foram as portas fortifica-
das de São Francisco que cederam ao invasor, cabendo o pri-
meiro saque e pilhagem ao convento que já sobrevivia, como
podia. O que se seguiu foi o previsível. Aquilo que os Franceses
não levaram no início de Oitocentos, desapareceu em 1834, com
o seu encerramento, devido à extinção das ordens religiosas.
Nessa época, as fendas nas abóbadas e paredes eram mais que
muitas e os volumes, num equilíbrio instável, arrastavam con-
sigo a restante construção.
As imagens, paramentos e outros bens do convento foram trans-
portados e depositados na Sé, como sucedeu com todos os bens
móveis pertencentes às casas religiosas de Évora, que fecharam
nessa data4.
A igreja e a Galeria das Damas.O que resta de um paço real…Maria Fernandes
Na página anterior
Fachada poente da igreja, troço do
aqueduto e da caixa demolidos em 1873.
Ruinas dos Paços Reais e Convento de São
Francisco. Pintura a óleo sobre ferro da
autoria de Dores Castro. 1862.
Dossier
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Três anos após o seu o encerramento, a Ordem Terceira de São
Francisco requereu com êxito as chaves do edifício, por ali se
encontrarem as suas dependências e altares e por ser ela a res-
ponsável pelo culto do Senhor dos Passos, cujo altar se situava
na Capela dos Ossos. Quase por milagre a respectiva imagem
permanecia na Sé, não conhecendo o destino incerto, que a
maioria dos bens religiosos eborenses tiveram. Por esse motivo,
em 1838, regressou à sua capela, num edificante acto religioso
a que compareceram as individualidades locais5. Não se sabe
se foi a devoção ao Senhor dos Passos, se o apelo laico da
Ordem, que moveu os governantes, mas foi seguramente, o
reconhecimento do valor histórico e arquitectónico destas
capelas e dependências que inviabilizou o seu desaparecimento.
Assim foi abandonado o projecto que previa a abertura de
uma rua, com destruição de toda a construção do convento, e
retiradas de venda em hasta pública as dependências mencio-
nadas.
Ironicamente uma Capela de Ossos, salvou da morte a Igreja de
S. Francisco. Como não apareceu comprador o extinto convento
foi cedido ao Município, que ali instalou, o tribunal e a sala de
audiências, dividindo para o efeito a Sala do Capítulo. Conhe-
cido o avançado estado de degradação em que se encontrava
toda esta zona, a autarquia teve de proceder a obras de repara-
ção nas coberturas em 1839.
Do outro lado deste conjunto, a igreja permanecia silenciosa-
mente encerrada. Assim esteve até 1840, ano em que foi pro-
movida a paróquia de São Pedro, beneficiando da nova reorga-
nização de freguesias da cidade e, consequentemente, reaberta
ao culto.
Antes da DGEMN
Coube ao destino, por influência divina seguramente, ser
nomeado para a paróquia, o Reverendo Prior António Telles.
Este pároco moveu o Céu e a Terra, para recuperar a igreja,
criando com esse propósito, em 1859, uma comissão. Em
1860, após a angariação de fundos necessários e diligências
várias, é assinado o contrato que, entre outros trabalhos, pre-
via que:
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Planta de um projecto urbano que
destruiria todo o Convento e Paço de
São Francisco. 1835.
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– a abóbada da nave fosse picada, incascada e rebocada;
– a capela-mor estucada e marmoreada;
– a reparação das capelas laterais e das do cruzeiro;
– a substituição do ladrilhado pertencente aos pavimentos dos
terraços e interior;
– a reparação dos telhados, que incluía a construção de passa-
deiras;
– a reconstrução da torre sineira;
– a substituição da cantaria degrada;
– picar e rebocar de novo todas as paredes externas ficando no
mesmo gosto antigo e com que oram estas as paredes e tecto…
na parte interna6.
As obras decorreram entre 1860-1862, cabendo a inspecção e
o acompanhamento dos trabalhos ao director das obras públi-
cas e à comissão, que se socorreu de diversos consultores7.
O resultado foi positivo e a conclusão da obra foi celebrada
com diversas festividades, nas quais participou em massa a
população.
Mas se a igreja recuperou a sua dignidade, o que restava do Paço
e terrenos da cerca modificou-se irreversivelmente. A Coroa já
havia cedido a Galeria das Damas, ainda antes de 1834, ao Con-
selho de Guerra para ali instalar um depósito militar. Esta fun-
ção salvou aquela ala da demolição certa, em virtude da desa-
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nexação e venda dos terrenos, que ocorreu para quase todo o
Paço Real. Entre 1860-1863, foram construídos na cerca a sul e
nascente, o palácio do casal Ramalho Perdigão (que incluiu nos
seus terrenos o celeiro de São Francisco) e o jardim público, no
qual ficou integrado a Galeria das Damas. Foi projectista destas
obras o cenógrafo italiano Guiseppi Cinatti. Os terrenos situa-
dos a Poente e também pertencentes à cerca, foram cedidos ao
Município para, entre outros fins de utilidade pública, ali se abrir
uma praça que desafrontasse a igreja. Com esse objectivo e após
uma alteração substancial das cotas do terreno que envolveu um
dramático movimento de terras, foram destruídos, em 1873, o
troço e a caixa de água pertencentes ao aqueduto. Esta destrui-
ção apanhou de surpresa os Eborenses, que protestaram violen-
tamente perante um acto consumado, à sua revelia.
Um ano depois é apresentado o projecto para a construção na
zona sul do Convento, do Tribunal Judicial da Comarca de
Évora8. O projecto nunca se veio a concretizar, talvez devido ao
mau estado em que se encontrava o claustro, temendo-se que as
demolições arrastassem a sua construção.
Em 1880, enquanto a Real Associação dos Architectos Civis e
Archeólogos Portugueses apresentava o primeiro relatório dos
edifícios a classificar ao governo do reino, no qual se incluíam
o que restava do Paço Real e a Igreja de São Francisco9, o Muni-
Fachada poente da igreja, troço do aqueduto e da caixa
demolidos em 1873.
3 O mesmo local em 1998. Já com o aumento colocado.4
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O mesmo local em 1997.6Vista poente do Convento e Paço antes da sua total demolição. 1880-1894.5
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cípio Eborense construía, sobre a cisterna do convento, o Mer-
cado de D. Manuel, instalava um gradeamento defronte à igreja,
e concluía a praça ou largo de São Francisco, como ainda hoje
é conhecido.
Um ano depois deu-se a ruína das coberturas da Galeria das
Damas10, o que obrigou em 1882 ao projecto e posterior cons-
trução da sua ampliação com adaptação a sala de espectáculos.
Foi autor desta modificação o engenheiro Adriano Monteiro,
chefe da 1.a secção das Obras Públicas. As alterações operadas
na envolvente a todo este conjunto foram desastrosas para o
equilíbrio frágil da igreja e convento e as consequências fizeram
sentir-se de imediato. Será o mesmo engenheiro que, em 1884,
elabora o Relatorio da inspecção ao estado de conservação do
templo de S. Francisco11, onde se apontava, entre outros pro-
blemas, para a existência de grandes fendas na fachada poente,
na abóbada da nave e para o avançado estado de ruína em que
se encontrava o claustro e o que restava do Paço Real.
Só mais tarde e após a venda do que restava do convento foi a
igreja de novo objecto de obras. Por intervenção directa do
benemérito eborense, Francisco Barahona, foi outorgada aos
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Anteprojecto de um edifício para Tribunal Judicial e suas dependências, a construir nas ruínas do Convento de São Francisco da cidade de Évora. 1874.7/8
O claustro antes da sua completa demolição em 1894-1895. Vista sul.9 Vista da ruína do claustro em 1998.10
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mestres Olímpio Coelho e José Maria da Costa a empreitada
que decorreu entre 1894-512. A intervenção levada a cabo foi
muito condicionada pelos problemas estruturais da igreja e
pelas prescrições impostas pela venda do edifício. Assim se
reforçaram os apoios da torre sineira, construída em 1861, que
sobrecarregava as abóbadas e paredes dos compartimentos sub-
jacentes, se remodelou a sacristia, se reparou a capela denomi-
nada do Senhor Jesus da Casa dos Ossos e se construíram,
sacrificando o claustro e as construções anexas, um quarteirão
de edifícios e suportes em alvenaria e cantaria, os contrafortes.
O que se temia aconteceu e o claustro não sobreviveu à passa-
gem do século.
Depois da DGEMN
Em 1910, a Galeria das Damas (conhecida como Palácio de
D. Manuel), e a Igreja de São Francisco que incluía, a Capela dos
Ossos e dependências foram classificados, separadamente, como
Monumentos Nacionais. O mundano teatro eborense, instalado
na Galeria das Damas, onde ocorreram com sucesso inúmeras
exposições, sessões cinematográficas e diversas festas, acabou
por sucumbir a um incêndio, em 1916.
Terá sido nos anos trinta que, cumulativamente, a autarquia pro-
cede a diversas demolições nesta galeria e a DGEMN, através da
Direcção dos Monumentos do Sul, inicia um plano de restauros
para a Igreja de São Francisco.
Coube aos arquitectos Filipe Vaz Martins e Humberto Reis a res-
ponsabilidade dessa intervenção a partir de 1937, onde é conso-
lidada a abóbada da nave, reconstruídas as ameias de coroa-
mento, reparadas as coberturas e demolidos os anexos a norte
para desobstrução de uma porta primitiva. Foram removidos os
rebocos da galilé, e descobriram-se, com surpresa, janelas per-
tencentes à primitiva igreja mendicante.
Nos anos quarenta o arquitecto Rui Couto, da 3.a secção da
Direcção dos Monumentos Nacionais, elaborou, para a Galeria
das Damas, um primeiro estudo para instalação de serviços muni-
cipais (secretaria e presidência). Nessa ocasião, o imóvel encon-
trava-se em lamentável estado de ruína e já sem coberturas. Este
novo uso parece ter estado na origem da demolição da escada-
ria exterior em 1947 e na construção de uma outra, no interior
do imóvel, de forma que o primeiro e segundo pisos fossem aces-
síveis sem interferir com o funcionamento das instalações cama-
rárias. Entre 1948-54 o projecto de adaptação do imóvel pros-
seguiu e foi finalmente concluído. Porém os serviços municipais
acabaram por nunca ali se instalarem, funcionando o edifício
como sala de recepções e exposições da autarquia até hoje.
A década de cinquenta e sessenta, foi marcada por um fervilhar
de obras na igreja e dependências. Com uma regularidade quase
anual, todas as coberturas foram revistas, utilizando-se com
alguma frequência a telha romana. Foram ainda reparados os
caixilhos e pavimentos, renovados os rebocos interiores e ins-
talada a rede eléctrica.
Os anos setenta marcam uma nova era na recuperação da igreja
e nas dependências de São Francisco. Dois grandes projectos
marcantes neste contexto: o Claustro e a Capela de São Joãozi-
nho. No primeiro caso, o arquitecto Rui Couto recriou com
alguma nostalgia uma ruína e, no segundo, de uma forma mais
violenta, reabilitou a capela, com alteração significativa da estru-
tura construtiva existente. As obras de manutenção no restante
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A igreja e o Paço Real antes da sua total demolição. Entre 1864 e 1894.11
Galeria das Damas e Igreja de São Francisco. Vista superior antes da intervenção da DGEMN. Após
remoção da cobertutra pela auitarquia. Entre 1931 e 1947.
13 O mesmo local em 1998.
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11 13
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A partir de 1995, a Direcção Regional dos Edifícios e Monu-
mentos do Sul, para além de continuar com os trabalhos de
manutenção nas coberturas e caixilhos, procurando corrigir sem-
pre que possível o complicado sistema arquitectónico de drena-
gem de águas pluviais, foi ainda mais longe. Em estreita cola-
boração com o Laboratório de Engenharia Civil e o Instituto
Superior Técnico, iniciaram-se estudos relativos à análise do
estado de conservação estrutural do imóvel. A ruína parcial do
topo do altar-mor em 1995 e a derrocada da Estalagem do
Cavalo, que se situava defronte à capela-mor, em 1996, preci-
pitaram os acontecimen-
tos, a que não foram
estranhos o aumento e
posterior diminuição do
tráfego de pesados na zo-
na, assim como a forte
pluviosidade que se fez
sentir em 1997. As preo-
cupações ao nível estru-
tural mantêm-se, com as
recentes alterações na
zona envolvente, decor-
rentes dos projectos de
a l t e ração da rua da
República e largo de São
Francisco.
Entre 1997-1998 foram
intervencionadas sucessi-
vamente as pinturas mu-
rais do interior e exterior
do imóvel. A forte plu-
viosidade de 1997 pôs a
descoberto vestígios de
fresco na fachada norte
do imóvel, ao mesmo
tempo que contribuía
fortemente para o agra-
vamento da humidade
nas pinturas interiores.
Assim, foram restaura-
das, consolidadas e lim-
pas as pinturas dos tectos
e paredes da Sala da
Ordem Terceira, Capela
dos Ossos, altar-mor e
frescos do claustro e
fachada norte. Numa pri-
meira fase, e sob a orientação da equipa restauradora, estagia-
ram nessas intervenções dois alunos da Escola de Recuperação
do Património de Sintra.
No mesmo período, o claustro foi de novo intervencionado e a
antiga pretensão paroquial de aceder à Capela dos Ossos por
essa zona foi finalmente realizada. Este novo percurso, pela
edifício prosseguem, mas com menor regularidade. Foi também
nesta altura que a Direcção dos Serviços dos Monumentos do
Sul, actuou pela última vez na Galeria da Damas, com traba-
lhos de simples manutenção. Sem alteração ao existente e man-
tendo-se ainda hoje com a traça do projecto dos anos quarenta,
este corpo, o único que resta do Paço Real, é usado e conser-
vado pela autarquia em boas condições.
A década de oitenta incide, mais uma vez, num compartimento
específico – a dividida Sala do Capítulo. A afluência à Capela
dos Ossos aumentava de dia para dia e a morbidez da sua cons-
t ru ção t i nha - l a
transformado num
dos monumentos
mais v is i tados e
turísticos da cidade.
Este sucesso preci-
pitou os aconteci-
mentos e houve que
intervir na sua ante-
câmara, de forma a
receber os curio-
sos… A Sa la do
Capítulo é também
reabilitada, de uma
forma menos vio-
lenta é certo, mas
na mesma forte-
mente intervencio-
nada , como era
comum. Nas diver-
sas intervenções
houve o cuidado de
restaurar os azule-
jos e os quadros em
estreita colabora-
ção com o então
Instituto José de
F i gue i r edo , d e
renovar os rebocos
a s s im como o s
pavimentos e caixi-
lharias e construir
uma i n s t a l a ção
sanitária junto ao
corredor de acesso.
Tal como sucedeu
na década anterior
as obras de manutenção mantinham-se, mas com menos fre-
quência.
Os anos noventa suscitaram outros rumos. Em 1991, a Expo-
sição Europália exibia em Bruxelas, o magnífico altar em talha
pertencente à Sala da Ordem Terceira de São Francisco de Évora,
que havia sido restaurado para o efeito.
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Galilé da Igreja da São Francisco após a descoberta
das janelas. 1947.
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Tribuna Real da igreja. Vista do reforço feito à torre
sineira, em 1894.
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Galeria das Damas antes da transformação para
teatro. 1861 – 1881.
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Claustro. Restauro dos frescos por uma aluna da
Escola de Recuperação do Património de Sintra.
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NOTAS:
* As informações relativas às intervenções nos
imóveis, foram extraídas dos processos
admnistrativos e fotográficos n.os 07 05 0017
(Igreja de São Francisco) e 07 05 21 0022 (Paços
de Évora / Palácio de D. Manuel).
** A autora agradece à Dr.a Carmen Almeida e ao
Director do CENDREV José Carlos Faria a ajuda e
disponibilidade de informação, sem as quais o
texto não seria possível.1 Augusto Filipe SIMÕES – “Paços Reaes de
Évora”. Archivo Pittoresco, p. 9.2 Ibidem.3 A divisão Francesa entrou na cidade em 29 de
Julho de 1808. O general Loison era seu
comandante. O relatório das violências e
roubos cometidos foram descritos pelo padre
José Joaquim da Silva, na sua obra Évora
Lastimosa.4 Francisco VARGAS, appuc. por Manuel Carvalho
MONIZ – O Convento e a Igreja de S. Francisco de
Évora. 1959, p. 31.5 Terá sido nessa ocasião, que a maqueta em
madeira da capela-mor da Sé, que se encontrava
depositada na Igreja da Graça em Évora, foi
transportada para a Igreja de São Francisco e
mais tarde adaptada para altar do Senhor dos
Passos.6 Entre eles Cinatti.7 Projecto da responsabilidade do Eng.o Caetano
Câmara Manuel.8 Manuel Carvalho MONIZ – O convento e a
Igreja de S. Francisco de Évora. 1959,
pp. 63-7.
9 Rellatorio e Mappas acerca dos edificios que
devem ser classificados Monumentos Nacionaes,
Publicado no Boletim dessa Associação em 1882.
Neste relatório, a igreja de S. Francisco e o que
restava do Paço Real, são incluídos entre outros,
no grupo da segunda classe dos edíficios
importantes para o estudo da historia das artes
em Portugal ou sómente historicos, mas não
grandiosos, ou simplesmente recomendados por
qualquer excelência da arte.10 Por essa altura, no seu piso térreo encontrava-se
instalado o Museu Arqueológico do Cenáculo,
possivelmente a colecção de Frei Manuel do
Cenáculo que até 1864 estivera no Templo Romano.11 Adriano Augusto da Silva MONTEIRO –
“Relatorio da inspecção feita em maio de 1884,
ao estado de conservação do templo de S.
Francisco em Évora”. Sul. Setembro a Novembro
de 1884, n.os 378-402.12 Manuel Carvalho MONIZ – ob. cit., pp. 34-5 e 70-113 Gil Vicente estreou para a Corte, nos Paços a
par de S. Francisco, diversas farsas e Autos.
Contam-se entre eles os seguintes: Auto das
Ciganas, Auto Pastoril Português, Auto de Mofina
Mendes, Romagem de Agravados (recentemente
posta em cena pelo Centro Dramático de Évora e
representada na Galeria das Damas), A Floresta
dos Enganos e ainda as tragicomédias Amadis de
Gaula e Frágua de Amor. O autor, foi sepultado
na Igreja de São Francisco em Évora com o
seguinte epitáfio, que curiosamente, fecha a
compilação das suas obras: O grão juízo
esperando / Jazo aqui nesta morada / Desta Vida
tão cançada / Descançando.
ruína do claustro, só foi possível após a abertura do logradouro
aberto agora para o largo, e após a reabertura da antiga porta,
existente entre a Sala do Capítulo e o claustro.
Longe do destino fatídico, do desapego e da ignorância, o que
resta do Paço Real de São Francisco de Évora, renasce em
reforço crescente dos fluxos turísticos, voltando a congregar
atenções como quando Gil Vicente dele fez palco13.
Maria Fernandes
Arquitecta
DGEMN/DREMC
Imagens: Abertura, 3, 7, 8 e 17: Arquivo Fotográfico. Câmara Municipal de Évora;
1: José Pessoa. Divisão de Documentação Fotográfica. IPM.
2: Biblioteca Municipal de Estremoz. Estúdios Correia;
4, 6, 10, 13 e 19: Autora;
5, 9 e 11: Boletim A Cidade de Évora;
12: Conselho de Turismo. Fundo Documental do SPN. Arquivo de Fotografia de Lisboa. CPF;
14, 15, 18, 20 e 21: DGEMN.DREMS;
16: DGEMN. Manuel Ribeiro. 2002.
Capela da Ordem Terceira de São Francisco. Pormenor da limpeza das pinturas do tecto. 1997.20
20
Galeria das Damas, antes do incêndio de 1916.18
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O mesmo local em 1998.19
19
O mesmo pormenor, com o detalhe da assinatura do pintor.21
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