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MACRO BRASIL 2017 - JUNHO
ESTRATÉGIA
ELEVEN FINANCIAL RESEARCH | 5-JUN-17
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Havia um 2016 no meio de 2017!
Mesmo diante do cenário de crise política que se instalou no país após a delação da
JBS, o time da Eleven ainda se mantém positivo em relação as perspectivas para o
Brasil. Desde o final de 2016, o time de economia da Eleven vem afirmando que o ano
de 2017 será o ano da retomada econômica, projetando um crescimento do PIB de
1,5% de forma isolada ao consenso dos economistas. No último mês, os dados de
atividade econômica do Banco Central demonstraram que as convicções do time da
Eleven estavam corretas, com o PIB crescendo 1,0% no primeiro trimestre do ano,
número em linha com o nosso estimado. Outro ponto importante que mostra a
retomada econômica é a geração de empregos. Além disso, a queda da inflação tem
se demonstrado um fator positivo para a melhora no cenário econômico.
Como já afirmamos, nossas estimativas vão além do simples fato de modelar as
variáveis econômicas, perpetuando ou apenas adicionando leves mudanças nos
dados atuais. Esse hábito não gera valor e leva inevitavelmente ao erro em cenários
não-lineares.
Mesmo inserido no contexto de uma nova crise política, enxergamos um fluxo de
dados positivos, o time da Eleven manteve uma visão mais construtiva para o ano:
i) IPCA de abril abaixo do esperado resultou em uma inflação acumulada de
4,08% nos últimos 12 meses;
ii) O IGP-M de maio acumulou variação de 1,57% em 12 meses;
iii) PIB cresceu 1,0% no primeiro trimestre, depois de 8 trimestres de queda;
iv) O CAGED reportou criação de mais de 59 mil novos postos de emprego em
abril.
Adeodato Netto Estrategista-Chefe avn@elevenfinancial.com +55 11 4302-3340 Rafael Bevilacqua, CGA Renda Fixa e Economia rb@elevenfinancial.com +55 11 4302-3340
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Neste contexto, estamos mantendo nossa projeção de crescimento econômico de 1,5% para 2017. Para inflação, em
função do forte movimento de queda dos preços dos últimos meses, estamos atualizando nossa estimativa para 4,3%
em 2017. Em relação à política monetária, mantemos nossa projeção de Selic em 8,75% para o final do ano. Quanto
ao Real, trabalhamos com uma taxa de câmbio de R$3,35/US$ para o final do ano.
Projeções para 2017
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017E 2018E 2019E 2020E
Atividade EconômicaPIB - % 7,54% 3,92% 1,93% 3,02% 0,11% -3,86% -3,60% 1,50% 2,50% 3,00% 3,00%InflaçãoIPCA 5,91% 6,50% 5,84% 5,91% 6,41% 10,67% 6,29% 4,30% 4,50% 4,50% 4,50%IGP-M 11,32% 2,10% 7,82% 5,51% 3,69% 10,54% 7,17% 4,00% 4,50% 4,50% 4,50%Taxa de jurosSELIC 10,25% 11,00% 7,25% 10,00% 11,75% 14,25% 13,75% 8,75% 8,75% 8,75% 8,75%TJLP 6,00% 6,00% 5,50% 5,00% 5,00% 7,00% 7,50% 8,00% 8,75% 8,75% 8,75%CâmbioTaxa (Final) 1,67 1,88 2,04 2,34 2,66 3,90 3,25 3,35 3,35 3,35 3,35Var. tx Final (%) -4,8% 12,6% 8,9% 14,6% 13,4% 47,0% -16,8% 3,1% 0,0% 0,0% 0,0%
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Inflação abaixo da meta – Revisamos a projeção para 4,3% em 2017
O processo de desaceleração inflacionária tem se demostrado persistente nos últimos meses. O mês de abril foi
marcante neste quesito. O resultado reportado no mês, relativo aos últimos 12 meses, mostrou o índice oficial (IPCA)
abaixo do centro da meta, fato que não acontecia desde 2010. Esse processo pode ser entendido como consequência
da forte queda dos preços dos alimentos, desemprego em patamar elevado e apreciação cambial (que tem efeito
defasado sobre os preços). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, principal indicador de inflação ao
consumidor, apresentou forte desaceleração no mês de abril. O indicador apresentou alta de 0,14% no mês ante 0,25%
no mês anterior, em linha com nossas expectativas. A inflação medida pelo índice acumula alta de 4,08% nos últimos
12 meses, abaixo do centro da meta (4,5%) estipulada pelo Banco Central. A trajetória de forte queda da inflação
iniciou-se no mês de setembro, logo após o índice acumular alta de 8,97% (12 meses) em agosto.
Ainda que grande parte dos agentes projete números substancialmente abaixo do centro da meta estabelecida pelo
Banco Central, nossa equipe entende que a retomada da atividade a partir do segundo trimestre não deve permitir
que a deterioração da economia prevaleça, alongando por muito mais tempo o ciclo desinflacionário.
Gráfico 1 - IPCA Mensal Gráfico 2 - IPCA Acumulado 12 meses
0,61%
0,78%
0,35%
0,52%0,44%
0,08%
0,26%0,18%
0,30%0,38%
0,33%0,25%
0,14%
0,0%
0,4%
0,8%
1,2%
abr-16 jun-16 ago-16 out-16 dez-16 fev-17 abr-17
4,0%
6,0%
8,0%
10,0%
12,0%
jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research
O enfraquecimento da atividade econômica e a consequente redução do consumo das famílias teve como resultado
positivo a queda do índice de inflação de serviços. O índice de serviços é uma das fontes de inflação que o Banco
Central acompanha de perto e é um importante termômetro para o Copom na condução da política monetária.
Os gráficos abaixo mostram a forte queda do índice, que passou de 8,09% em janeiro de 2016 para 5,96% em abril de
2017.
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Gráfico 3 - IPCA Serviços Mensal Gráfico 4 – IPCA Serviços Acumulado 12 meses
0,37%0,33%
0,62%0,59%
0,33%
0,47%0,42%
0,65%
0,36%
0,84%
0,33%
0,49%
0,0%
0,4%
0,8%
1,2%
5,0%
6,0%
7,0%
8,0%
9,0%
jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research
Um ponto de alívio substancial foi a acomodação dos preços administrados que haviam sido artificialmente reduzidos
em 2014, sendo reposicionados “na marra” em 2015, impactando violentamente os indicadores de inflação. Nesta
linha, entendemos que as revisões de grande magnitude já foram realizadas.
Gráfico 5 - IPCA Monitorados Mensal Gráfico 6 – IPCA Monitorados Acumulado 12 meses
1,40%
0,24%
-0,10%
0,26%0,37%
0,54%
0,22%
-0,01%
0,80%
0,58%0,48%
-0,60%-0,8%
-0,4%
0,0%
0,4%
0,8%
1,2%
1,6%
5,0%
6,0%
7,0%
8,0%
9,0%
jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17 Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research
Outro dado que chama a atenção para o forte movimento do processo de queda dos preços foi o Índice Geral de
Preços – Mercado (IGP-M) de maio, que apresentou queda de 0,93% no mês ante queda de 1,10% em abril e uma
elevação na ordem de 0,82% em maio de 2016. Em 12 meses, o índice acumula alta de 1,57%, ante acumulado de
3,37% no mês anterior.
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Gráfico 7 – IGP-10 Mensal Gráfico 8 – IGP-10 Acumulado 12 meses
0,60%
1,42%
1,06%
-0,27%
0,36%0,12%0,06%
0,20%
0,88%
0,14%0,05%
-0,76%
-1,10%
-2,0%
-1,0%
0,0%
1,0%
2,0%
mai-16 jul-16 set-16 nov-16 jan-17 mar-17 mai-17
0,0%
2,0%
4,0%
6,0%
8,0%
10,0%
12,0%
jan-15 mai-15 set-15 jan-16 mai-16 set-16 jan-17 mai-17 Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGE. Elaborado por: Eleven Financial Research
Os resultados dos índices de inflação confirmam a trajetória de forte queda que, aliado à expectativa de um choque
de oferta favorável, levam o time de economia da Eleven a reduzir a projeção do IPCA para 4,3% ao final de 2017
(ante 4,6%).
Mesmo com a redução, nossos números ainda estão acima da média do mercado, principalmente por considerarmos
uma recuperação da atividade mais forte que o consenso, produzindo efeitos no indicador, principalmente nos últimos
meses de 2017.
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Saímos da recessão - PIB cresce 1% no primeiro trimestre
O IBGE divulgou logo na primeira manhã de junho, os dados do PIB do primeiro trimestre, que vieram em linha com
as nossas expectativas. O PIB subiu 1,0% contra o quarto trimestre de 2016. Este foi o primeiro trimestre de
crescimento depois de oito trimestres consecutivos de resultado negativo.
Gráfico 9 – IBC-Br MoM% Gráfico 10 – IBC-Br Índice
-0,97%
-2,22%
-1,53%
-1,20%
-0,61%-0,32%
-0,72%-0,86%
1,00%
-2,5%
-1,5%
-0,5%
0,5%
1,5%
1T15 2T15 3T15 4T15 1T16 2T16 3T16 4T16 1T17
Fonte: IBGEl. Elaborado por: Eleven Financial Research Fonte: IBGEl. Elaborado por: Eleven Financial Research
Historicamente, as recuperações são agudas após períodos de forte retração. Não há fundamento econômico
estrutural no subjulgamento coletivo da capacidade de retomada em 2017, na leitura da nossa equipe. Ao contrário,
a combinação de fatores positivos, como queda de inflação e juros, capacidade ociosa e desalavancagem das famílias
abre espaço consistente para a reaceleração.
Estes são alguns dos pilares que sustentam nossa visão e projeção, mesmo considerando o chamado carry over. O
resultado na leitura da equipe de economia da Eleven é um PIB positivo de 1,5% em 2017.
155
160
165
170
175
180
1T14 2T14 3T14 4T14 1T15 2T15 3T15 4T15 1T16 2T16 3T16 4T16 1T17
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Mantemos nossa projeção de Selic em 8,75% para o final de 2017
O Banco Central reduziu em 100bps a Selic para 10,25% a.a. na reunião encerrada em 31/05, como esperado pelo time
de economia da Eleven. No Comunicado divulgado junto com a decisão, o Copom sinalizou que o corte na próxima
reunião pode ter intensidade menor que a atual, ou seja, indicou uma possibilidade de corte de 75bps, também em
linha com nossas projeções.
Os membros do conselho, enfatizaram as incertezas sobre o avanço das reformas em andamento, como consequência
da atual crise política. Vale ressaltar que o comunicado usou a palavra “incerteza” 5 vezes, mostrando a preocupação
com o andamento das reformas. Diante desse risco usou o seguinte trecho para expressar que deve reduzir o ritmo
de queda na próxima reunião “o comitê entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em
relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequado em sua próxima reunião”.
Com isso, compreendemos a complexidade dos cenários de aprovação das medidas de controle fiscal, mas ressaltamos
que esses riscos já estão implícitos no atual cenário e refletidos no posicionamento do Banco Central. Assim, estamos
mantendo nossas projeções para o ritmo de flexibilização monetária. Nossos modelos contemplam um corte de 75
bps para a próxima reunião em julho, seguido por um corte de 50Bps em setembro e finalizando o ciclo em outubro
com um corte de 25bps. Assim, esperamos que o ano de 2017 termine com a taxa Selic em 8,75% a.a.
Gráfico 11 – Selic Projeção
Fonte: BCB. Elaborado por: Eleven Financial Research
8,75%
8,00%
9,00%
10,00%
11,00%
12,00%
13,00%
14,00%
15,00%
jan-14 jul-14 jan-15 jul-15 jan-16 jul-16 jan-17 jul-17 jan-18 jul-18
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Seguimos com R$ 3,35 por Dólar para o final de 2017.
O time de renda fixa e economia da Eleven mantém a projeção de câmbio para 3,35 Real por Dólar para o final de
2017. O Real seguiu os movimentos das moedas emergentes e mantém-se apreciado em relação à moeda americana.
Na cotação de fechamento de 31/05, a cotação era R$ 3,22 / US$ 1,00. Notem que mesmo com o alto stress registrado
no momento subsequente à “implosão de Brasilia” pela divulgação da gravação com o Presidente Michel Temer, a
moeda americana não teve sustentação em patamares altos, voltando à casa dos “três e vinte”, combinando a atuação
do Banco Central com o comportamento global frente às moedas emergentes.
Nossas projeções apontam a convergência dos juros norte-americanos para a “taxa de neutralidade”, alcançando os
2% ao final de 2018. Neste nível, considerando que o ritmo de atividade se mantenha dentro do previsto pelo FED, os
EUA chegariam à taxa de juro real ZERO, mantida a meta de inflação de 2%. Não projetamos uma “superaceleração”
da economia americana com planos expansionistas do Presidente Donald Trump como cenário-base. A expectativa de
cortes nos “corporate taxes” isoladamente não consegue impulsionar o tamanho dos investimentos que a Casa Branca
espera. Diferente do Brasil, a tributação está concentrada na ponta final e não nos agentes produtores e de comércio.
Qualquer alteração material no ritmo dos EUA demandará uma discussão orçamentária complexa, principalmente se
levarmos em consideração o aumento já declarado das expectativas de gastos militares e de defesa. Os movimentos
políticos recentes nos EUA remetem, inclusive, a um estado de cautela e conservadorismo na avaliação das condições
que Trump terá para angariar apoio às suas medidas em áreas mais sensíveis ao ritmo da atividade econômica.
Mesmo com a queda dos juros no mercado doméstico, o Brasil seguirá com um abismo entre a taxa Selic e a taxa
básica de juro dos EUA. Ainda mais importante é o cenário de que nossa taxa de juro real seguirá superior aos
principais pares emergentes. Mesmo com as recentes pressões negativas, principalmente nos preços do minério de
ferro, o preço internacional das principais commodities ainda suporta a visão para a moeda brasileira por conta dos
termos de troca.
Outro fator que corrobora para a nossa estimativa do câmbio, é a manutenção de superávits comerciais elevados. No
mês de abril, o superávit comercial foi de US$ 7,0 bilhões e em 12 meses a conta já acumula superávit de US$ 55,8
bilhões, sendo que nos quatro primeiros meses do ano, o saldo foi o maior da série histórica.
Nosso cenário-base ainda leva em consideração a evolução (porém ainda não uma solução definitiva) das reformas
fiscais e consequente consolidação da reversão das tendências do endividamento público, conforme abordado neste
relatório sobre a realidade fiscal do país.
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Assim, há boas perspectivas de manutenção do capital estrangeiro no mercado financeiro brasileiro. Nosso maior
desafio será atrair o capital dedicado, focado em investimentos e de longo prazo. Este sim, capaz de rebalancear a
relação entre oferta e demanda pela moeda norte-americana e potencialmente reposicionar o patamar de taxa de
câmbio. Nosso target para final de 2017 é R$ 3,35.
Resultados Fiscais
O resultado primário do Governo Central de abril apresentou superávit de R$ 12,60 bilhões, ante um superávit de
R$ 10,18 bilhões em abril de 2016. Apesar resultado positivo neste mês, o governo Central apresenta déficit de R$
2,71 bilhões no ano. No fluxo acumulado de nos últimos 12 meses, o Governo Central acumula um déficit de R$ 156,42
bilhões. Este valor ainda é muito acima da meta estipulada pelo Ministério da Fazenda para o ano de 2017, de R$ 139
bilhões. Um conjunto de medidas de contenção fiscal anunciadas pelo governo somado à retomada na atividade nos
levam a crer que esta meta será cumprida. Mesmo diante de uma crise política, seguimos projetando um crescimento
de 1,5% do PIB no ano de 2017 o que elevará substancialmente a arrecadação. A retomada da confiança do
consumidor e do investidor combinada com a queda estrutural da taxa de juros são fortes indícios de uma retomada
mais robusta ainda neste ano. Lembramos que inflação segue em forte queda e a geração de emprego dá indícios de
inversão para uma trajetória positiva. Nota: O abalo recente da confiança ainda não está consolidado em nossa leitura,
da memsa maneira que víamos como superestimados os dados de confiança logo após o impeachment de Dilma
Rousseff.
Apesar de sinalizar otimismo, a redução das despesas não foi suficiente para compensar a queda na arrecadação,
devido ao considerável aumento nos gastos com previdência, mas é uma forte evidência de que o ajuste fiscal teve
seu início. No longo prazo, porém, a estabilidade fiscal depende diretamente da flexibilização dos gastos obrigatórios
do orçamento. Nos primeiros meses de 2017, mais de 80% dos gastos realizados foram de natureza compulsória.
Por isso, o governo concentra grande parte de seus esforços na aprovação da Reforma da Previdência. A crise política
pode ter abalado a base aliada de Michel Temer consideravelmente, mas a urgência de estabilização das contas
públicas segue crescente. Diante disso, ainda que a data da votação da reforma em Plenário siga indefinida, sua
apreciação é inevitável. A histórica forma de “fazer política com as bases”, através de emendas orçamentárias ficará
materialmente comprometida se não houver uma alteração estrutural e profunda na realidade das contas públicas.
Mais do que nunca, a percepção de risco do mercado depende de uma sinalização positiva do Congresso em relação
à Reforma da Previdência. Como a fragilidade do cenário político exige cautela, a negociação do Executivo com o
Legislativo tomará mais algum tempo até que se chegue novamente a um acordo.
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Gráfico 12 – Déficit da Previdência (INSS) (R$ Bi) – Valores de abril 2017
Fonte: Tesouro Nacional. Estimativas: Ministério da Fazenda. Elaborado por Eleven Financial
O mais importante é que a população no geral já compreendeu a necessidade de reverter os resultados negativos das
contas públicas, portanto o time de Economia da Eleven segue com a aprovação de uma reforma, certamente não a
ideal, acontecendo neste ano, como cenário-base. O resultado das baixas receitas e altas despesas não poderia ser
diferente: o déficit primário acumulado para o ano de 2016 foi de R$ 158 bilhões, ou 2,5% do PIB, o maior valor desde
o início da série, em 1997. O déficit nominal (déficit primário mais o pagamento de juros) atingiu R$ 478 bilhões, ou
7,6% do PIB em 2016.
Gráfico 13 – Resultado Primário e Nominal do Governo Central
Fonte: Tesouro Nacional. Elaborado por Eleven Financial
A recorrente geração de déficits impulsiona a dívida do país para níveis preocupantes. Caso o crescente endividamento
não seja revertido, a percepção de risco sobre o Brasil pode retornar aos patamares de 2015, aí sim, impactando as
perspectivas de retomada na confiança e nos investimentos.
180,80
51,84 56,4965,00 69,14
95,72
153,68
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017E1T 2T 3T 4T
2,1% 1,8% 1,4%
-0,4%-1,9% -2,5%
-2,0%-1,3% -2,1%
-4,7%
-8,6%-7,6%
2011 2012 2013 2014 2015 2016Resultado Primário (% PIB) Resultado Nominal
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Carta Mensal do Estrategista
Economia e Ativos Financeiros em: Encontros e Desencontros
Historicamente, investidores e operadores de mercado (sim, eles foram separados propositalmente), afirmam que a
Bolsa antecipa a economia. Assim, os números que nosso time vem projetando desde o terceiro trimestre de 2016,
para o PIB em 2017, foram, nesta linha de pensamento, antecipados pela Bolsa. O voo dos 43.000 pontos do início do
ano passado, aos 60.000 pontos na chegada de 2017 comprovariam a tese.
A questão é: qual o tamanho do gap de tempo entre uma coisa e outra? Se a virada da economia é estrutural e da
Bolsa espasmódica, como os comportamentos podem estar efetivamente correlacionados? Haja agente estabilizador,
formador de mercado, gestor de política econômica, Banco Central e muito ansiolítico.
Extrapolando, se as Bolsas mundiais têm alguma correlação e o investidor norte-americano é tão importante por aqui,
qual das economias está realmente impactando na precificação do principal índice da Bolsa brasileira? Desde a
chegada da Eleven ao mercado, em 2015, afirmamos institucionalmente, o tamanho do reconhecimento que temos
pelo trabalho do FED, em uma combinação única de serenidade, diligência e credibilidade. Conduzir a política
monetária mais importante do mundo, durante anos, sem realizar uma única alteração na taxa básica de juros, como
visto entre o final de 2008 e dezembro de 2015, certamente não foi uma tarefa simples.
Durante este período, o S&P500, passou de 900 pontos para 2.000 pontos. O PIB dos EUA, por outro lado, após o
derretimento em 2009, registrou queda em somente três momentos. Os números de maio e junho de 2015, e maio
de 2016, mas que ao ser comparado ao mesmo mês do ano anterior, recuperava-se 0,7%. Se lá na América do Norte,
onde as variáveis têm um grau de previsibilidade infinitamente superior ao nosso, a dinâmica da Bolsa e da economia
não está necessariamente “alinhada”, ou sequer manteve a correlação histórica, como poderia o Ibovespa fazê-lo?
Volto a uma questão à qual tenho direcionado as atenções do nosso time de análise sucessivamente: a mudança
definitiva na dinâmica dos mercados após os períodos de quantitive easing (impressão desenfreada de dinheiro)
ocorridos desde 2008. O volume de recursos que migrou para os ativos financeiros descolou de forma abissal, dos
níveis de atividade da economia real. Quantos investidores tentam sistematicamente apontar como ponto de risco
máximo, o nível atual do S&P500 que vem renovando máximas históricas, mas não conseguem, em sua grande
maioria, sustentar posições vendidas no índice americano por longos períodos?
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O próprio índice de volatilidade, que muitos gostam de chamar de “índice do medo”, o VIX, segue em níveis muito
mais baixos do que as análises e correlações feitas pelo mercado em geral julgam razoáveis. O montante de recursos
é tamanho, que as posições “compradas” seguem sustentando as Bolsas nos níveis próximos às máximas históricas.
É fato que o comparativo com a história virou um verdadeiro exercício inócuo. Em 2008, o mundo derreteu por conta
da falta de liquidez. Derivativos e operações de “fumaça” faziam preços sem a contrapartida de recursos que
sustentassem os níveis. Pior, tudo isto securitizado. Os mercados globais ainda não têm histórico suficiente com
tamanha liquidez disponível e com os balanços dos principais Bancos Centrais em níveis, também jamais vistos, para
consolidar uma nova visão de tendência a partir da correlação com a atividade econômica.
Voltemos ao Brasil. Ibovespa em Dólares, está hoje aproximadamente em 19.000 pontos. A Bolsa brasileira segue
barata aos chamados “gringos”. Não temos (ainda) risco sistêmico na economia, nem na solvência do sistema
financeiro nacional. Ainda temos taxas de juro real muito próximas das maiores do mundo. Temos janela de
oportunidade em ativos que sequer foram percebidos pelo mercado ao longo de anos de desconfiança do capital
internacional com a terra do pau-brasil.
Em 2017, a verdade é que há tanto dinheiro disponível no mundo, que os operadores precisam encontrar “destinos
para alocar estes recursos”. E aí temos uma ótima notícia. Vamos à combinação prática de fatores que nos ajudam a
superar turbulências vindas do Planalto Central, quando estamos falando de Bolsa.
1. Não há nenhum lugar no mundo que remunere o capital a um juro tão alto e com segurança institucional e
sistêmica, ao menos sob a ótica da solvência;
2. O abismo entre as necessidades de investimento para a consolidação da base da economia nacional, nas
verticais de infraestrutura, educação, saúde e tecnologia;
3. As taxas de crescimento potencial nestes setores seguirão atraindo players globais, queiram os pessimistas,
ou não;
4. A participação destes recursos seguirá mantendo forte a oferta de dólares por aqui, o que não permitirá um
novo “overshooting”, ou super-desvalorização do Real;
5. Por conta disso, e combinado com a recente degradação da atividade, a inflação seguirá em níveis controlados;
6. Resultado: as taxas de juro podem continuar em queda e a desalavancagem da economia como um todo tende
a permitir um ciclo de recuperação estrutural consistente;
7. Nosso risco de insolvência por conta da gestão das contas públicas está, ainda que poucos afirmem
publicamente, sendo mitigado de forma relevante com as medidas já aprovadas e as mudanças já promovidas;
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8. A forma de fazer política no Brasil tinha dois pilares. Um deles já caiu, que era o financiamento de campanhas
bilionárias via caixa dois, com recursos advindos sabemos bem de onde. O segundo, são as emendas
orçamentárias. Ainda que não assumam por obviedades do jogo político, todo o legislativo já entendeu que
sem as reformas, não haverá caixa disponível para atendimento das bases;
Quanto ao índice Ibovespa, no curto prazo, pouco podemos afirmar. Muito dele está sim apoiado na confiança e nas
expectativas do mercado, e estas vêm sendo sistematicamente machucadas por uma quantidade inacreditável de
barbaridades reveladas pelo judiciário brasileiro. Poder este que aliás, conforme visto em outros lugares do mundo,
principalmente na Itália, fica obrigatoriamente por último em qualquer projeto de desestruturação de modelos,
digamos, questionáveis de operação.
A essência dos investidores e dos operadores é marcada pela necessidade evidente do lucro. Investidores conseguem
identificar assimetrias e oportunidades, ainda mais em momentos de alto stress. Operadores precisam
desesperadamente de volatilidade e têm em momentos como este, grandes janelas para impulsionar seus resultados.
Das duas formas temos fluxo garantido no mercado brasileiro. Bolsa movimentada e comportamento, pela primeira
vez em muitos anos, estruturalmente previsível de juros, inflação e câmbio. Quando vi nossas projeções de PIB,
dissonantes do mercado (para cima) serem inclusive superadas pelos dados do primeiro trimestre, e respaldadas pelas
divulgações de resultados, agradeci ao time liderado pelo meu sócio Rafael Bevilacqua. Que as ondas de euforia,
histeria e pânico, sigam fazendo muita gente bater cabeça por aí.
Enquanto isso, nosso papel é seguir olhando para os encontros e desencontros inevitáveis entre projeções e dados.
Quanto mais longe a manada ficar, maior a chance de entregar resultados verdadeiramente relevantes aos
investidores.
É muito mais difícil manter a serenidade com Brasília em chamas, mas não esqueçam que com tudo no lugar, é muito
mais difícil fazer a diferença. Vida que segue!