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Bianca Carro Gonzaga
R.A 4213292
GESTÃO DO FLUXO DE CAIXAAplicada ao Microempreendedor Individual
SÃO PAULO2012
FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS
Bianca Carro Gonzaga
GESTÃO DO FLUXO DE CAIXAA Importância desta Ferramenta para o Microempreendedor
Individual
Trabalho de Estágio Supervisionado, apresentado para a conclusão do curso de Ciências Contábeis da FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas, sob a orientação do Profº Elias Pereira.
SÃO PAULO2012
A meus familiares, em especial à
Rita Carro, minha mãe, e Maria
Salete Mikniunas, avó, por
serem a razão da minha vida e
por me motivarem a lutar por
algo melhor, sempre.
Agradecimentos
Agradeço inicialmente e acima de tudo a Deus, pois ele é a força que me
permite estar aqui. Agradeço também a meus familiares, pelos conselhos, pelo
carinho, apoio e principalmente por formarem a estrutura que me possibilita
“matar os leões de cada dia”.
Meus sinceros agradecimentos também a meu noivo, Eidil, pela cumplicidade,
paciência e apoio em todos os momentos.
E por fim, porém não menos importante, agradeço a meus amigos, professores
e a todas as pessoas que desta trajetória comigo partilhou. Muito do que
aprendi devo à troca de conhecimentos que nos permitimos ter.
Muito obrigada!
"A humanidade não se divide em heróis e tiranos. As suas paixões, boas e más, foram-lhe dadas pela sociedade, não pela natureza."
(Charles Chaplin)
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido a partir da concepção de que a gestão do fluxo
de caixa é uma ferramenta de fundamental importância para a sobrevivência e
desenvolvimento da empresa, inclusive do microempreendedor individual.
Ainda que dispensado da contabilidade formal, este empresário necessita do
controle de suas movimentações. O fluxo de caixa evidencia toda a circulação
de dinheiro na empresa sendo, portanto, um instrumento não só aplicável mas
também indispensável ao processo de tomada de decisão.
Visando primeiramente comprovar a concepção acima, e ainda, tornar este
trabalho um guia informativo para o microempresário, procurou-se analisar, a
título de estudo de caso, como é feito o controle financeiro em uma
microempresa prestadora de serviços no ramo de funilaria e pintura de
veículos, e demonstrar como uma boa gestão do fluxo de caixa, dentro do
aplicável, pode trazer melhorias ao desempenho da empresa. Essa verificação
está devidamente apoiada pela fundamentação teórica que sustenta o
presente trabalho em todo o seu decorrer.
Buscando também contribuir para o desempenho financeiro da referida
empresa, a autora deste trabalho sugeriu ainda uma Demonstração de
Evolução das Receitas, para apoiar as decisões tomadas com base no Fluxo
de Caixa. Ponderando todos os aspectos abordados no trabalho, pode-se
concluir que o fluxo de caixa é um importante instrumento de gestão financeira
que auxilia o empresário a controlar com eficácia todos as operações
financeiras realizadas pela empresa, sendo também um instrumento que apoia
a tomada de decisões a curto prazo, principalmente as que envolvem questões
de capital de giro e investimento. O fluxo de caixa também cumpre seu papel
ao orientar o empresário a planejar e controlar de forma mais apropriada os
recursos financeiros da empresa.
Palavras-chave: Fluxo de caixa; Controle gerencial; Microempreendedor
individual; Tomada de decisão.
ABSTRACT
This work was developed under the concept that the management of cash flow
is a crucial tool for business survival and development of the individual micro
entrepreneur too. Although exempt from formal accounts, these entrepreneurs
need to manage their financial movements. The cash flow shows all movements
of money in the company and is a tool applicable and essential in decisions
making.
In order to prove the concept above and make this work an informative guide to
the business owner, sought to analyze, as a case study, how is the financial
control in a small business (service provider - industry bodywork and painting of
vehicles), and also how a good cash flow management, within the applicable,
may contributes to business performance. This analysis is fully supported by the
theoretical foundation that supports the objective of this work throughout its
course.
Seeking also contribute to the financial performance of this company, the author
of this work also suggested a Statement of Changes in Revenues to support the
decisions made based on cash flow. Considering all aspects covered in this
work, it can be concluded that cash flow is an important financial management
tool that helps the entrepreneur to effectively manage all financial operations
carried out by the company and is also a tool that supports decision making in a
short-term, especially those involves working capital and investment issues.
Cash flow also helps the entrepreneur to plan and control properly the
company's financial resources.
Keywords: Cash Flow; Managerial Control; Individual micro entrepreneur;
Decision Making.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DAS: Documento de Arrecadação do Simples Nacional
DFC: Demonstração do Fluxo de Caixa
MEI: Microempreendedor Individual
ROI: Return on Investment (Retorno sobre Investimentos)
IBRACON: Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
SIMPLES: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS
FIGURA I: Modelo de Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo
método Indireto – Anexo II da NPC 20/1999 do Ibracon.
FIGURA II: Modelo de Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo
método Direto - Anexo I da NPC 20/1999 do Ibracon
FIGURA III: Conciliação do Resultado do Exercício
FIGURA IV: Método Direto vs. Método Indireto
TABELA I: Limites proporcionais de faturamento para enquadramento ao
MEI
ANEXO I: Lista das atividades que podem se enquadrar ao MEI
ANEXO II: Base legal MEI (atualizada em Janeiro/2012)
ANEXO III: Tabela de custos MEI
ANEXO IV: Relatório Mensal de Receitas Brutas
1. INTRODUÇÃO
Sobreviver ao cenário globalizado cada vez mais competitivo vem sendo
um grande desafio para os microempreendedores individuais (MEI) no contexto
geral do mercado, principalmente no que diz respeito aos aspectos financeiros.
O que ocorre, no geral, é que esses empresários envidam maiores esforços
para a atividade operacional em si, dando menos ou até mesmo nenhuma
ênfase à gestão financeira.
O microempreendedor individual é aquela pessoa que trabalha por conta
própria (trabalhador informal) e decidiu legalizar sua situação com o governo,
tornando-se um pequeno empresário. Esse trabalhador pode ter renda anual
máxima de sessenta mil reais (R$ 60.000,00), não pode ser sócio de outra
empresa, mas pode ter um empregado, recebendo um salário mínimo ou o piso
da categoria pertinente. Geralmente são empreendimentos de bairro que
comercializam produtos ou serviços para pessoas que moram ao entorno,
competem com outros pequenos empreendimentos existentes na área, e
administram suas finanças através da experiência que acumularam durante o
tempo de gestão.
Devido a essas características identifica-se certa dificuldade em
implementar técnicas de administração financeira neste tipo de empresa, visto
que este empresário ainda não possui dimensão da importância da aplicação
dessas técnicas e conceitos na empresa e do quanto a adequada gestão do
fluxo de caixa poderá contribuir para o crescimento da mesma.
O objetivo básico do fluxo de caixa é projetar as disponibilidades
financeiras da empresa, produzindo informações necessárias à programação
da captação de recursos financeiros, otimização das aplicações de sobras de
caixa, gerenciamento das contas a pagar e de contas a receber, avaliação do
impacto de variações de custos e preços, entre outras decisões importantes.
O fluxo de caixa é uma ferramenta de fundamental importância para a
boa administração e avaliação das organizações. A sua adoção possibilita uma
gestão dos recursos financeiros que representam sérias ameaças à
continuidade das organizações. A boa utilização da ferramenta fluxo de caixa
também possibilita o conhecimento do grau de independência financeira das
organizações, com base na avaliação do seu potencial para geração de
recursos no futuro visando saldar seus compromissos e pagar a remuneração
dos seus empreendedores.
Logo, estudantes e professores insistem em colocar seus estudos de
casos em grandes empresas do Brasil e do exterior, pois há um entendimento
em comum de que estas empresas possuem estruturas organizacionais que
proporcionam a aplicabilidade da Ciência. Entretanto, com um pouco mais de
observação e criatividade, além de um acompanhamento do fluxo diário das
atividades da empresa, é possível identificar estruturas em empreendimentos
pequenos, que estão dentro da realidade em que estamos inseridos.
Reconhecendo a importância de micro e pequenos empreendimentos
para a economia do país no que tange à geração de trabalho, renda, circulação
de mercadorias e desenvolvimento da qualidade de vida, este trabalho
pretende então contribuir com os microempreendedores individuais, fazendo-os
enxergar que é possível valer-se de ferramentas gerenciais como um facilitador
e suporte para tomada de decisões fundamentais ao crescimento e
desenvolvimento dos negócios.
1.1 Contextualização
Sabemos que o MEI é dispensado da contabilidade formal. Contudo
manter um controle das entradas e saídas de recursos é a organização mínima
necessária para o gerenciamento do negócio e o ponto de partida para o
crescimento e desenvolvimento do mesmo. Buscar ferramentas que traduzam
de forma clara a situação financeira da empresa e que possibilite ao
empresário antever problemas a tempo de minimizar seus efeitos ou solucioná-
los, é fundamental para a sustentação da empresa.
Neste contexto, este estudo está focado na administração do Fluxo de
Caixa como ferramenta facilitadora da gestão financeira do MEI, principalmente
no que diz respeito à análise da viabilidade, relevância e resultados obtidos
após a implementação deste processo. É também pretensão deste trabalho
ser um guia para que estes empresários não só entendam a importância da
gestão de caixa para a continuidade e expansão dos negócios, mas que
também os auxilie no processo de implantação desta ferramenta tão
fundamental.
1.2 Situação Problema
Com o dinamismo da economia em constante mutação e mercado
competitivo, a informação passou de importante para imprescindível a qualquer
empreendimento, independente de seu porte. O fluxo de caixa, como
ferramenta de gestão, fornece à empresa o acesso a informações atualizadas,
com projeção futura e de fácil compreensão, auxiliando no fluxo de informações
a respeito dos recursos financeiros da empresa e no processo de tomada de
decisão.
Devido ao porte do MEI coloca-se em questão a aplicabilidade da gestão
financeira, e também, a relevância da execução deste controle. Sendo a
estrutura funcional do empreendimento limitada a duas pessoas, muito
provavelmente focadas inteiramente em desenvolver o trabalho objeto da
empresa, identifica-se uma dificuldade em enquadrar a correta administração
de recursos no fluxo diário de atividades. Outro problema está atrelado à
correta execução desta gestão, uma vez que em muitos casos, esses
empresários possuem apenas o conhecimento técnico em torno do trabalho em
que se propõe a executar, não se importando tanto com a adequada
administração dos recursos.
1.3 Questão a ser respondida
Como adaptar o gerenciamento do Fluxo de Caixa à realidade do MEI,
auxiliando-o na previsão de necessidades ou sobras de caixa em dado
período?
1.4 Hipótese
Se o Fluxo de Caixa é uma ferramenta de controle financeiro que visa
diminuir os riscos na gestão, então o microempreendedor individual que utiliza
essa ferramenta deve apresentar maior controle na necessidade ou sobra dos
recursos.
Uma vez que a este tipo de empreendimento requer-se apenas o
controle das entradas e saídas de recursos, a gestão do Fluxo de Caixa torna-
se útil a este objetivo, auxiliando não só no controle das movimentações
financeiras, mas também gerando informações mais completas e dinâmicas,
fundamentais ao desempenho do empreendimento.
Para isto, é necessário antes que seja feito um trabalho de
conscientização e treinamento do empresário, para que este saiba utilizar
corretamente a ferramenta de acordo com as necessidades da empresa e
saiba também interpretar as informações geradas por este controle.
1.5 Metodologia
Este trabalho constitui-se em dois marcos que se complementam entre si:
a) pesquisa bibliográfica visando o embasamento teórico. Neste aspecto
considera-se também a análise de estudos semelhantes já realizados:
resultados alcançados, posicionamento dos autores em relação ao
tema, etc.;
b) estudo de caso: “consiste na coleta direta de informações no local em
que acontecem os fenômenos; é o que se realiza fora do laboratório, no
próprio terreno das ocorrências” (SILVA, 2003, p.63). No caso
concreto, este estudo será aplicado a uma oficina de funilaria e pintura
de veículos, enquadrada ao regime do Micro empreendedor Individual.
1.6 Variáveis
Dentre as muitas variáveis que afetam o fluxo de caixa, vale citar
algumas das quais notamos afetar substancialmente o caixa do tipo de
empreendimento estudado (atividades do MEI - prestador de serviços de
funilaria e pintura), que são: o número de serviços prestados, demanda de
serviços, custo fixo e custo variável dos materiais utilizados, o custo do dinheiro
e o preço de venda, requisitos das seguradoras dos veículos, sazonalidade,
etc.
1.7 Resultados Esperados
Ao final dos estudos pretende-se evidenciar a importância da gestão do
fluxo de caixa para o MEI e como esta ferramenta pode agregar em termos de
desenvolvimento e sustentação dos negócios, quando bem adaptada às
necessidades e estrutura da empresa.
Especificamente, estão dentre os objetivos:
Observar a gestão e análise do fluxo de caixa como ferramenta
para auxiliar o empresário a obter maior eficiência na
administração de seus recursos financeiros;
A função do fluxo de caixa na tomada de decisões;
Elaborar o fluxo de caixa de um microempreendimento de forma a
ilustrar sua aplicabilidade na administração dos recursos
financeiros do MEI.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Fluxos de Caixa – Conceituação
Conceitua-se o fluxo de caixa como um instrumento que relaciona os
ingressos e saídas (desembolsos) de recursos monetários no âmbito de uma
empresa em determinado intervalo de tempo. A partir da elaboração do fluxo
de caixa é possível prognosticar eventuais excedentes ou escassez de caixa,
determinando-se medidas saneadoras a serem tomadas. (ASSAF NETO e
TIBÚRCIO SILVA, 1997, p.35).
Em síntese, por fluxo de caixa pode-se compreender, conforme (Gentil,
2007) “[...] o movimento de todas as entradas e saídas de recursos financeiros
do caixa, ou seja, das origens de caixa (fatores que aumentam o caixa da
empresa) e das aplicações de caixa (reduzem o caixa da empresa) [...] ”
De forma análoga Pizzolato (2000, p.106) define o fluxo de caixa como
uma caixa d´água contendo medidores de vazão de entrada e saída. O volume
de água final é igual ao volume inicial mais a vazão de entrada menos a vazão
de saída. Complementa ainda dizendo que “a Demonstração do Fluxo de Caixa
especifica as origens do fluxo de entrada e os diversos destinos do fluxo de
saída”.
Para Zdanowicz (2000, p.33) o fluxo de caixa é o instrumento que
permite demonstrar as operações financeiras que serão realizadas pela
empresa, facilitando a análise e a decisão, de comprometer os recursos
financeiros, de relacionar o uso das linhas de créditos menos onerosas, de
determinar o quanto a organização dispõe de capitais próprios, bem como
utilizar as disponibilidades da melhor forma possível.
Iudicibus e Marion (1999, p.218) afirmam que a demonstração do fluxo
de caixa “demonstra a origem e aplicação de todo o dinheiro que transitou pelo
caixa em um determinado período e o resultado desse fluxo” sendo que caixa
engloba as contas caixa e bancos, evidenciando as entradas e saídas de
valores monetários no decorrer das operações que ocorrem ao longo do tempo
nas organizações.
Thiesen (2000, p.10), por sua vez, complementa explicando que a
Demonstração do Fluxo de Caixa “permite mostrar, de forma direta ou mesmo
indireta, as mudanças que tiveram reflexo no caixa, suas origens e aplicações”.
E Iudicibus e Marion (1999) afirmam ainda que esta demonstração ainda
é utilizada apenas para fins de controle interno, e refere-se somente aos
recursos em dinheiro, ou seja, todos os recursos e aplicações da empresa que
tiveram reflexos diretamente no caixa.
2.2 Objetivo do Fluxo de Caixa e sua Importância
As informações sobre os fluxos de caixa objetivam proporcionar aos
usuários das demonstrações financeiras uma base para avaliar a capacidade
da empresa em gerar caixa e equivalente de caixa, bem como projetar os
períodos de maiores necessidades ou excessos de caixa, conforme o caso.
O Fluxo de caixa tem por objetivo básico a projeção das entradas e
saídas de recursos financeiros para determinado período, visando prognosticar
a necessidade de captar empréstimo ou aplicar excedentes de caixa nas
operações mais rentáveis para a empresa (MARQUES et AL., 2009). De
acordo com Braga e Marques (2001, citado por Bressan e Cruz), a partir da
DFC, podem ser extraídos diversos indicadores de desempenho que permitem
relacionar fluxos gerados ou consumidos a um item específico. Os mesmos
afirmam ainda que por meio de tais indicadores, é possível avaliar a suficiência
e eficiência do negócio, bem como a capacidade de pagamento ou nível de
rentabilidade do empreendimento.
Segundo Sá, vê-se que o interesse pelo estudo sistemático do fluxo de
caixa é recente, o que justifica a literatura limitada sobre o assunto e o uso
limitado da utilização desta ferramenta pelos empresários. Ele menciona ainda
a obra de Ademar F. Campos, Demonstrações dos Fluxos de Caixa (Atlas,
1999), onde foram citados vários autores que vinham alertando para a
importância do fluxo de caixa e para o perigo que representa basear o
processo decisório apenas nas demonstrações contábeis. Transcrevo abaixo
alguns trechos do livro:
“O fluxo de caixa é a espinha dorsal da empresa. Sem ele não se saberá
quando haverá recursos suficientes para sustentar as operações ou quando
haverá necessidade de financiamento bancários. Empresas que necessitem
continuamente de empréstimos de última hora poderão se deparar com
dificuldades de encontrar bancos que as financiem” (Gitman, 1997:586).
“Como entender a lógica de um administrador ou investidor que utiliza,
no processo de decisão inicial sobre investimentos, técnicas sofisticadas de
avaliação, aplicando conceitos como valor atual líquido, taxa interna de retorno,
índice de lucratividade e, depois, nas fases de operação e controle, passa a
medir o desempenho dos investimentos com base em lucros contábeis e taxas
históricas tipo “ROI”? Figurativamente, seria o mesmo que esse administrador
ou investidor estivesse comparando laranjas com maçãs e, pior, pesando as
laranjas e contando as maçãs” (Falcini, 1992:38).
“Do mesmo modo que vimos, durante a primeira metade do século, a
demonstração de resultados substituir o balanço patrimonial em ordem de
importância, hoje em dia, o que observamos , é uma diminuição da ênfase
daquela demonstração em favor de uma demonstração do fluxo de caixa ou
fluxo de fundos. Cada um de nós vê o futuro de modo diferente, mas acredito
que, no que diz respeito à história da contabilidade, os próximos 25 anos serão
vistos como a fase crepuscular do lucro contábil como medida de desempenho”
(Solomons, 1961:31).
“A necessidade de se desenvolver demonstrações de fluxo de caixa
decorre do aumento da complexidade das atividades operacionais, o que
provoca grandes disparidades entre o período no qual os lançamentos de
receitas e despesas são apresentados e o período em que os correspondentes
fluxos de caixa realmente ocorrem. Tal complexidade pode provocar uma maior
oscilação no fluxo de caixa. Fatores externos, tais como a inflação ou
mudanças no cenário econômico, afetam mais rapidamente os fluxos de caixa
do que qualquer lucro contábil” (Hendriksen, 1982:109).
“Está implícito que, mais cedo ou mais tarde, no longo prazo, lucro e
caixa serão iguais. O grande economista Lord Keynes, discutindo o assunto
teria dito: ‘Sim, mas no longo prazo poderemos estar todos mortos’” (King,
1994:17).
“Os balanços expressam apenas as opiniões dos auditores, não os
fatos. Dinheiro é fato. Caixa é fato. Não se produz caixa com artifícios
contábeis. Os investidores devem olhar para as empresas como olham os
banqueiros. O que importa é o caixa. Se uma empresa reporta lucros elevados,
mas não está gerando caixa, ela pode não estar gerando lucro algum. É
preciso ter em mente que o que quebra uma empresa não é a falta de lucro; as
empresas quebram por falta de caixa” (Smith, 1994:42).
“É possível que uma empresa apresente lucro líquido e um bom retorno
sobre investimentos e, ainda assim, vá a falência. O péssimo fluxo de caixa é o
que acaba com a maioria das empresas que fracassam” (Goldratt e Cox,
1990:45).
“Se você possuir (recursos) suficientes, então o fluxo de caixa não é
importante. Mas se você não os possuir, nada é mais importante. É uma
questão de sobrevivência. Fique acima da linha e tudo bem. Fique abaixo e
você está morto” (Goldratt e Cox, 1990:45, 46).
“Há muito tempo que uma empresa pode operar sem lucros por muitos
anos, desde que possua um fluxo de caixa adequado. O oposto não é verdade.
De fato, um aperto na liquidez costuma ser mais prejudicial do que um aperto
nos lucros”. (Drucker, 1992:174).
“Aí está um dos problemas no reino do (Grupo) Itamarati. Seus negócios
não geram caixa. Nem mesmo uma série de prejuízos é tão nociva para uma
empresa quanto a falta de fluxo de caixa, diz um banqueiro paulista. E os
negócios do Olacyr (de Moraes) são vulneráveis neste ponto” (Exame,
1996:37).
“Muitas vezes nós medimos tudo e não entendemos nada. As três coisas
mais importantes a medir em um negócio são: a satisfação dos clientes, a
satisfação dos empregados e o fluxo de caixa” (Jack Welch – Exame, 1993:32).
2.3 Principais características do Fluxo de Caixa
Sendo o fluxo de caixa fundamental para o gerenciamento e
planejamento de entrada e saída de recursos da empresa, é importante que
suas características sejam conhecidas, pois elas fornecem uma visão
consolidada das informações disponíveis e da forma em que as informações
relacionam-se. As principais características são:
Relaciona cronologicamente os recebimentos e pagamentos de forma
analítica ou sintética;
O período de análise de fluxo é o usuário quem define;
Trabalha com valores previstos e realizados;
É elaborado geralmente em base diária, com um período de cobertura
de um mês corrido;
Utiliza o método direto para obtenção dos dados, onde eles são
desvinculados dos números gerados pela contabilidade. Esses dados
são obtidos a partir de estimativas de entradas e saídas de caixa
oriundas, principalmente, das áreas de contas a receber, vendas,
contas a pagar, compras e contratos;
Não se confunde com orçamento de caixa, que é um instrumento de
acompanhamento e controle de metas elaborado usualmente em base
anual e vinculado às projeções de resultado para o mesmo período;
É distinto do demonstrativo contábil denominado Fluxo de Caixa. Este
informa o que aconteceu em termos de movimentação acumulada de
caixa (geralmente ao longo de um ano) no exercício a que se referem
às demonstrações contábeis;
Retrata a efetiva situação de caixa da empresa, já que seus números
representam disponibilidades bancárias, numerário ou aplicações
financeiras de resgate imediato.
2.4 Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC)
No Brasil, em consonância com o processo de convergência da
contabilidade aos padrões internacionais, a Demonstração do Fluxo de Caixa
(DFC) passou a ser um relatório obrigatório para todas as sociedades de
capital aberto ou com patrimônio líquido superior a R$ 2.000.000,00 (dois
milhões de reais), à partir de 01.01.2008 por força da Lei 11.638/2007. Além
disto, a Deliberação CVM 547/2008 aprovou o Pronunciamento Técnico CPC 03,
que trata da referida demonstração.
Tal evidência, assumida pela demonstração, justifica uma reflexão,
ainda que apenas indicativa, da sua importância enquanto instrumento de
gestão, contribuindo no processo de tomada de decisão.
De acordo com Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p.32) a DFC pode
ser definida como uma peça contábil que “visa mostrar como ocorreram as
movimentações de disponibilidades em um dado período de tempo”. Conceitos
este que estão em harmonia com aquilo que Sá e Sá (1983, p.190) escrevem a
respeito do assunto, onde definem o Fluxo de Caixa da seguinte forma:
Fluxo de Caixa – Fluxo da liquidez, ou seja, o curso que no tempo traça o confronto entre recursos de recebimentos e os desembolsos por pagamentos. Forma dinâmica de conhecer o comportamento da liquidez ou capacidade de dispor de dinheiro para fazer frente às necessidades financeiras.
Procedimento técnico de acompanhamento entre encaixes e desencaixes obtendo-se o valor líquido entre tais confrontos em períodos sucessivos [...].
Em outras palavras, pode-se dizer que a Demonstração do Fluxo de
Caixa é o reflexo do comportamento do caixa em dado período. Através deste
demonstrativo relata-se o impacto das atividades da empresa no
comportamento do caixa, tendo por objetivo auxiliar os interessados na tomada
de decisão, através de sua essência informativa.
2.4.1 Componentes da Demonstração de Fluxo de Caixa
O fluxo de caixa compreende a movimentação das contas que
representam as disponibilidades imediatas da empresa, ou seja, Caixa,
Depósitos Bancários à Vista, Numerários em Trânsito e Aplicações de Liquidez
Imediata.
De acordo com a NPC 20/1999 referindo-se ao caixa ou equivalente de
caixa afirma que “na movimentação dos recursos financeiros, incluem-se não
somente saldos de moeda em caixa ou depósitos em conta bancária, mas,
também, outros tipos de contas que possuem as mesmas características de
liquidez e de disponibilidade imediata. Como equivalentes de caixa, devem ser
consideradas as aplicações financeiras com característica de liquidez
imediata”.
Visando aumentar a capacidade informativa dessa demonstração muitos
países, inclusive o Brasil (mediante aplicação do CPC 03 – Demonstração dos
Fluxos de Caixa – Item 7), estão acatando o modelo apresentado pelo
Financial Accounting Standards Board – FASB, que segmenta a demonstração
em três grandes áreas:
I - Atividades Operacionais;
II - Atividades de Investimento;
III - Atividades de Financiamento.
Sendo que:
As Atividades Operacionais são as principais atividades geradoras de
receita da entidade e outras atividades diferentes das de investimento e
de financiamento.
As Atividades de Investimento são as referentes à aquisição e à venda
de ativos de longo prazo e de outros investimentos não incluídos nos
equivalentes de caixa.
As Atividades de Financiamento são aquelas que resultam em mudanças
no tamanho e na composição do capital próprio e no endividamento da
entidade, não classificadas como atividade operacional.
2.4.2 A importância da DFC na análise gerencial
Com referência ao tema proposto neste trabalho, buscou-se analisar a
utilidade e importância da DFC como instrumento de gestão, cuja
fundamentação encontra-se em um artigo publicado pela Revista de Ciências
Gerenciais, Vol. XII, Nº 14, Ano 2008, p.167-177.
A DFC é útil em vários aspectos e para diversos usuários das
demonstrações contábeis. Isso significa dizer, resumidamente, que esta
demonstração é capaz de fornecer informações relevantes, principalmente se
analisada e interpretada em conjunto com as demais demonstrações contábeis.
Segundo Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003, p.398, citado por Spadin):
As informações da DFC, principalmente quando analisadas em conjunto com as demais demonstrações financeiras, podem permitir que investidores, credores e outros usuários avaliem:
a) A capacidade da empresa em gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa;
b) A capacidade de a empresa honrar seus compromissos, pagar dividendos e retornar empréstimos obtidos;
c) A liquidez, solvência e flexibilidade financeira da empresa;d) A taxa de conversão de lucros em caixa;e) A performance operacional de diferentes empresas, por eliminar os
efeitos de distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos;
f) O grau de precisão das estimativas passadas de fluxos de caixa;g) Os efeitos, sobre a posição financeira da empresa, das transações
de investimentos e de financiamento, etc.
A atividade financeira de uma empresa requer acompanhamento
permanente de seus resultados, de maneira a avaliar seu desempenho, bem
como proceder aos ajustes e correções necessários.
Na administração financeira, o fluxo de caixa é um dos principais
instrumentos de controle gerencial, sendo considerado por Matarazzo (2003),
como imprescindível na atividade empresarial e mesmo para pessoas físicas
que se dedicam a algum negócio. Por meio desse instrumento de controle
gerencial é possível avaliar se a empresa é autossuficiente no financiamento
do seu giro, bem como prever sua capacidade de expansão com recursos
próprios.
O controle gerencial é um dos elementos do processo de estratégia das
empresas, mais especificamente, representa um dos mecanismos
administrativos que contribuem para a implementação de estratégias
(MINTZBERG et al, 2006). Assim, pode ser entendido como o processo de
guiar as empresas em direção a padrões viáveis de atividade em um ambiente
caracterizado por mudanças. A partir dessa concepção, o controle gerencial
cumpre um papel empresarial de possibilitar que gestores influenciem o
comportamento de outros membros da empresa na direção de estratégias
adotadas (BERRY, BROADBENT e OTLEY, 2005); (ANTHONY e
GOVINDARAJAN, 2002).
Dessa forma, o fluxo de caixa apresenta-se como um dos instrumentos
mais eficazes na gestão financeira das empresas, permitindo ao administrador
planejar, organizar, coordenar, dirigir e controlar os recursos financeiros para
um determinado período, influenciando o processo de tomada de decisão.
Pode-se afirmar então que ao refletir informações relevantes sobre a
situação financeira da empresa, a Demonstração do Fluxo de Caixa constitui-
se em uma importante ferramenta de gestão. Além disto, pode-se concluir
também que, como instrumento de gestão, esta não aplica-se apenas às
empresas constituídas como Sociedades Anônimas, mas a todas
organizações.
O próprio CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2008, 15) fez
constar em seu pronunciamento básico, emitido em sintonia com as Normas
Internacionais de Contabilidade, a importância atribuída às informações
referentes à capacidade da empresa em gerar caixa e equivalente de caixa. O
referido CPC afirma que:
As decisões econômicas que são tomadas pelos usuários das demonstrações contábeis requerem uma avaliação da capacidade que a entidade tem para gerar caixa e equivalente de caixa, e da época e grau de certeza dessa geração. Em última análise, essa capacidade determina, por exemplo, se a entidade poderá pagar seus empregados e fornecedores, os juros e amortizações dos seus empréstimos e fazer distribuições de lucros a seus acionistas.
Diante do exposto, segundo Spadin, é razoável afirmar que a
Demonstração dos Fluxos de Caixa reveste-se de importância e utilidade como
ferramenta para análise e tomada de decisão, reconhecida internacionalmente.
Ferreira (2003, p.27, citado por Spadin) salienta que:
[...] os gestores necessitam de informações que lhes dêem suporte em todas as etapas da gestão empresarial, seja no planejamento, na execução das atividades ou na avaliação do desempenho dos administradores e na análise do resultado.
Ou seja, para que possam tomar decisões assertivas é fundamental que
os administradores estejam embasados em informações claras e completas
para conhecerem o comportamento da empresa. Desta forma, poderão
escolher as alternativas que forneçam sustentabilidade e colaborem com o
desenvolvimento da empresa.
A Demonstração do Fluxo de Caixa é um instrumento válido para esse
processo devido seu poder de informação. Ainda segundo Ferreira (2003, p.30,
citado por Spadin):
[...] a relevância da DFC está em seu poder informacional, visto que permite às organizações, sejam elas industriais, comerciais ou de serviços, terem mais poder em sua capacidade de cumprir com suas obrigações financeiras, vez que propicia um melhor planejamento por parte da empresa em relação às disponibilidades de caixa, de forma que não ocorram excessos ou insuficiências de fundos.
Contudo pode-se dizer que a DFC é sim capaz de fornecer informações
relevantes e cumpre seu papel no controle gerencial. Entretanto, é importante
ressaltar que o uso isolado desta demonstração não é adequado para uma
correta compreensão da realidade da empresa, isto devido às limitações que
ela possui.
Segundo Iudícibus e Marion (2002, p. 224, citado por Spadin):
A DFC deve ser adotada visando atender ao interesse dos usuários pelo conhecimento do fluxo de caixa das empresas e por ser compreendida mais facilmente, principalmente pelos usuários menos afeitos à Contabilidade. Por outro lado, a DOAR não deve ser submetida, apesar de sua reconhecida complexidade, pois satisfaz àqueles usuários que podem usufruir da sua superioridade informativa ou mesmo pelo ganho proporcionado pela análise conjunta.
Em suma, nenhuma demonstração contábil, por mais útil que seja,
deve ser analisada isoladamente se existe a intenção de uma real dimensão
da situação da empresa. E não só isso, a contabilidade gerencial, segundo
Padoveze, vai além de simples técnicas de contabilidade, ela integra as
demais áreas como Contabilidade Financeira, Contabilidade de Custos e
Administração Financeira. Padoveze defende a contabilidade gerencial como
um instrumento da administração que somente existirá se houver uma ação
prévia que a torne concreta. Então, a partir das demonstrações contábeis a
contabilidade gerencial cria corpo e, em conjunto com outros fatores, formam
ferramentas necessárias para uma completa análise sobre a situação da
organização.
2.4.3 Métodos de elaboração da DFC
Conforme estabelece o item 11 da NPC 20/1999, a Demonstração dos
Fluxos de Caixa para um determinado período ou exercício deve apresentar o
Fluxo de Caixa oriundo ou aplicado nas atividades operacionais, de
investimentos e de financiamentos, e o seu efeito líquido sobre os saldos de
caixa, conciliando seus saldos no início do período ou exercício.
Existem dois métodos que podem ser adotados para a estruturação da DFC:
Indireto e Direto.
Método Indireto
Por este método, também denominado Método da Reconciliação, os
recursos derivados das atividades operacionais são demonstrados a partir do
Lucro Líquido do Exercício, ajustado pela adição das despesas e exclusão das
receitas consideradas na apuração do resultado e que não afetam o Caixa da
empresa, isto é, que não representam saídas ou entradas de dinheiro, bem
como pela exclusão das receitas realizadas no exercício e recebidas no
exercício anterior e pela adição das receitas recebidas antecipadamente que
não foram consideradas na apuração do resultado, porém interferiram no caixa
da empresa. Excluem-se também os Resultados obtidos nas transações de
bens do Ativo não circulante, uma vez que as baixas referentes a esses bens
devem ser indicadas pelos valores brutos entre as atividades de investimentos.
Para melhor entendimento, segue modelo apresentado elaborado pelo
método Direto:
Figura I – Anexo II da NPC 20/1999 do Ibracon
Companhia:Deonstração dos Fluxos de Caxa (Metodo Indireto)Exercício findo em:
DESCRIÇÃO X1 X21. Fluxos de caixa das atividades operacionaisResultado do exercício/períodoAjustes para conciliar o resultado às disponibilidades geradas pelas atividades operacionaisDepreciação e amortizaçãoResultado na venda de ativos permanentesEquivalência patrimonialRecebimento de lucros e dividendos de subsidiáriasVariações nos ativos e passivos(Aumento) Redução em contas a receber(Aumento) Redução nos estoquesAumento (Redução) em fornecedoresAumento (Redução) em contas a pagar e provisõesAumento (Redução) no imposto de renda e contribuição socialDisponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades operacionais
2. Fluxos de caixa das atividades de investimentosCompras de imobilizadoAquisição de ações/cotasRecebimentos por vendas de ativos permanentesDisponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades de investimentos
3. Fluxos de caixa das atividades de financiamentosIntegralização de capitalPagamentos de lucros dividendosEmpréstimos tomadosPagamentos de empréstimos/debênturesJ uros recebidos de empréstimosJ uros pagos por empréstimosDisponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades de financiamentos
4. Aumento (Redução) nas disponibilidades (1+/ -2+/ -3)5. Disponbilidades no início do período6. Disponibilidades no final do período (4+/ -5)
Método Direto
Pelo método direto, os recursos derivados das operações são indicados a
partir dos recebimentos e pagamentos decorrentes das operações normais,
efetuados durante o período.
Ao contrário da DFC elaborada pelo método indireto, cuja compreensão
depende antes do entendimento da DOAR (Demonstração das Origens e
Aplicações de Recursos) devido sua semelhança, como bem observa Silva,
Santos e Ogawa (1993), no método direto o entendimento torna-se mais fácil
mesmo para quem não tem conhecimento da DOAR, visto que neste caso a
DFC baseia-se diretamente nas entradas e saídas de Caixa.
Para melhor entendimento, segue modelo apresentado elaborado pelo método
Direto:
Companhia:Deonstração dos Fluxos de Caxa (Metodo Direto)Exercício findo em:
DESCRIÇÃO X1 X2FLUXOS DE CAIXA ORIGINADOS DE:
1. Atividades OperaconaisValores recebidos de clientes(- ) Valores pagos a fornecedores e empregados(- ) Imposto de renda e contribuição social pagos(- ) Pagamentos de contingênciasRecebimentos por reembolso de segurosRecebimentos de lucros e dividendos de subsidiáriasOutros recebimentos (pagamentos) líquidosDisponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades operacionais
2. Atividades de Investimentos(- ) Compras de imobilizado(- ) Aquisição de ações/cotasRecebimentos por vendas de ativos permanentesJ uros recebidos de contratos de mútuosDisponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades de investimentos
3. Atividades de FinanciamentosIntegralização de capitalPagamentos de lucros e dividendosJ uros recebidos de empréstimosJ uros pagos por empréstimosEmpréstimos tomadosPagamentos de empréstimos/debênturesDisponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades de financiamentos
4. Aumento (Redução) nas disponibilidades (1+/ -2+/ -3)5. Disponibilidades - no início do período6. Disponibilidades - no final do período (4+/ -5)
FIGURA II - Anexo I da NPC 20/1999 do Ibracon
A NPC 20/1999 estabelece ainda que, quando a entidade optar pela
divulgação da DFC Direta, deverá divulgar adicionalmente a conciliação do
Resultado do Exercício com valor das Disponibilidades Líquidas geradas ou
utilizadas nas atividades operacionais, cuja conciliação nada mais é do que a
primeira parte da DFC Indireta, conforme exemplificado no quadro a seguir:
Conciliação do Resultado do Exercício
Resultado do exercício/período XAjustes para conciliar o resultado com o valor das disponibilidades geradas (aplicadas)Depreciação e amortização XResultado na venda de ativos permanentes XEquivalência patrimonial XVariações nos ativos e passivos(Aumento) Redução em contas a receber (X)(Aumento) Redução nos estoques XAumento nas despesas antecipadas (X)Aumento (Redução) em fornecedores e contas a pagar (X)Aumento (Redução) na provisão para devedores duvidosos XAumento (Redução) na provisão para férias XAumento (Redução) na provisão para contingências X
Total dos ajustes X
Disponibilidades líquidas geradas pelas (aplicadas nas) atividades operacionais X
FIGURA III – Conciliação do resultado do exercício
2.4.3.1 Comparativo entre o método Direto e Indireto
O método direto demonstra os recebimentos e pagamentos derivados
das atividades operacionais da empresa em vez do lucro líquido ajustado.
Como se verifica, a demonstração pelo método direto facilita ao usuário
avaliar a solvência da empresa, pois evidencia toda a movimentação dos
recursos financeiros, as origens dos recursos de caixa e onde eles foram
aplicados.
Já o método indireto é aquele no qual os recursos provenientes das
atividades operacionais são demonstrados a partir do lucro líquido, ajustado
pelos itens considerados nas contas de resultado que não afetam o caixa da
empresa. Observa-se que a demonstração pelo método indireto é semelhante
a DOAR, principalmente pela sua parte inicial, exigindo do usuário maior
conhecimento em contabilidade.
Ambos os métodos apresentados seguem a estrutura tradicional da
demonstração do fluxo de caixa, que tem como objetivo principal mostrar
apenas as entradas e saídas de recursos financeiros. Basicamente
demonstram os seguintes itens:
1. Entradas2. Saídas3. Diferença (a – b)4. Saldo Inicial5. Saldo Final (c + d)
Veja a seguir a representação gráfica desta visão comparativa:
Entradas Operaconais
Menos
SaídasOperaconais
Lucro Líquido
Menos
Ajustes
Igual
Geração Internade Caixa
Igual
Fluxo Operacional
Mais / Menos
Geração Não Operacional de Caixa
Igual
Variação Disponível
Método Direto Método Direto
FIGURA IV: Método Direto vs. Método Indireto
2.4.4 Como elaborar a DFC
Osni Moura Ribeiro em seu livro Estrutura e Análise de Balanço (2009,
p.100), expôs um “roteiro” para a elaboração desta demonstração, o qual
transcrevo na íntegra a seguir:
Para elaborar qualquer uma das demonstrações financeiras (contábeis) como o Balanço Patrimonial, a DRE, a DLPA, a DMPL ou a DFC, o contabilista extrai dados dos registros contábeis da empresa.
Há demonstrações que são mais simples de ser elaboradas, como é o caso do Balanço Patrimonial, da DLPA e da DMPL, que são elaboradas a partir dos saldos das contas extraídos diretamente do livro razão, sem maiores complicações. Para se elaborar, porém, a DFC, dependendo da complexidade das operações que ocorreram durante o exercício, será necessário preparar mapas ou outros demonstrativos para facilitar o agrupamento de dados a serem indicados nesse demonstrativo contábil.
É evidente que o contabilista, tendo à sua disposição todos os registros contábeis realizados durante o exercício social, não encontrará dificuldades na confecção desses relatórios contábeis.
Especificamente sobre a DFC, o autor descreve as possíveis fontes de
dados, os ajustes necessários e a disposição das informações neste
demonstrativo:
Especificamente em relação à elaboração da DFC, seja pelo Método Direto ou Indireto, os dados são coletados dos Balanços dos exercícios atual e anterior e da DRE do exercício atual, além de consultas em fichas de Razão de algumas contas.
Tanto na DFC Direta quanto na Indireta, as informações apresentadas no grupo das atividades de investimentos e de financiamentos são as mesmas. O que muda é a forma de apresentar a origem e o destino do dinheiro em decorrência das atividades operacionais.
Na DFC Indireta, parte-se do Resultado do Exercício, ajustando-o pela eliminação dos resultados não financeiros e pela adição ou exclusão das variações ocorridas nos grupos de contas do Ativo Circulante, exceto as Disponibilidades, e do Passivo Circulante.
Portanto, adiciona-se o Resultado do Exercício (quando corresponder a lucro) as despesas não financeiras (as mais comuns: Depreciação e Amortização) e subtraem-se as receitas não financeiras (as mais comuns: Receitas de Participações Societárias contabilizadas pelo MEP). Em seguida, são informadas na DFC as
variações para mais ou para menos ocorridas em todos os grupos de contas do Ativo Circulante (exceto das Disponibilidades) e do Passivo Circulante, chegando-se, assim, ao resultado gerado ou consumido pelas atividades operacionais. O cuidado a ser tomado refere-se a não inclusão, nos cálculos, dos valores dos Juros sobre o Capital próprio, bem como dos dividendos calculados com base no resultado final, uma vez que correspondem a Destinações do resultado que não foram pagas no exercício findo.
Na DFC direta, o resultado das atividades operacionais é demonstrado em função dos recebimentos e dos pagamentos ocorridos durante o exercício. Neste caso, é apresentado inicialmente o total dos valores recebidos de clientes, bem como o total dos valores pagos a fornecedores e empregados. Em seguida, são evidenciados os pagamentos feitos a titulo de Imposto de Renda e Contribuição Social, os pagamentos de contingências, os recebimentos por reembolso de seguros, os recebimentos decorrentes de Lucros e dividendos de subsidiárias, para, finalmente, ser informado o valor líquido decorrente do confronto entre os demais recebimentos e pagamentos ocorridos no período e não incluídos ns itens anteriores.
2.5. Microempreendedor Individual
2.5.1 Características gerais
De acordo com o § 1º da Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, às
margens do art. 966 da Lei nº 10.406/02 do Código Civil, empreendedor
individual é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como
pequeno empresário. Para ser um empreendedor individual, é necessário
faturar no máximo até R$ 60.000,00 por ano, não ter participação em outra
empresa como sócio ou titular e exercer atividades enquadradas em uma das
categorias listadas no ANEXO I. Além disto, ao microempreendedor individual
é permitido ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o
piso da categoria.
A Lei Complementar nº 128, de 19/12/2008, criou condições especiais para
que o trabalhador conhecido como informal possa se tornar um Empreendedor
Individual legalizado.
Entre as vantagens oferecidas por essa lei está o registro no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), o que facilitará a abertura de conta
bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de notas fiscais.
Além disso, o Empreendedor Individual será enquadrado no Simples
Nacional e ficará isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, COFINS,
IPI e CSLL).
Pagará apenas o valor fixo mensal (vide anexo III) que será destinado à
Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS, conforme o caso. Essas quantias
serão atualizadas anualmente, de acordo com o salário mínimo.
Com essas contribuições, o Microempreendedor Individual terá acesso a
benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, entre
outros.
Em suma, o empreendedor individual só será enquadrado se ele
observar os itens a seguir:
a) Não estiver impedido pelo que trata a Lei Complementar 123/06;
b) Optar obrigatoriamente pelo SIMPLES Nacional (conforme artigos da lei
123/06);
c) Obtiver faturamento anual não superior a R$ 60.000,00 ou o limite
proporcional exibido na tabela a seguir:
Tempo de Atividade
(meses)
Limite proporcional (R$)
12 60.000,00
11 55.000,00
10 50.000,00
9 45.000,00
8 40.000,00
7 35.000,00
6 30.000,00
5 25.000,00
4 20.000,00
3 15.000,00
2 10.000,00
1 5.000,00
TABELA I: Limites proporcionais de faturamento para enquadramento ao MEI em Fevereiro/2012
2.5.2 Controle Financeiro
A Lei complementar 128/08 isentou o microempreendedor individual da
escrituração contábil. Entretanto, é necessário que haja a guarda dos
documentos fiscais emitidos em suas operações por no mínimo 5 anos, esses
anexados ao relatório de prestação de serviços e vendas mensal (vide anexo
IV) onde deve ser identificado o total de serviços prestados ou vendas com ou
sem nota fiscal.
Quando a documentação fiscal, o microempreendedor individual está
dispensado da emissão da nota fiscal quando o seu cliente for pessoa física,
tanto para prestação de serviços quanto vendas. Porém, a emissão deste
documento torna-se obrigatória quando o cliente for Pessoa Jurídica.
A este empreendedor é exigido a Declaração anual do
microempreendedor individual, cujo prazo limite de entrega é o último dia útil de
Janeiro do ano seguinte ao exercício, e deve ser apresentada a Secretaria da
Receita Federal por meio da Declaração do Simples Nacional. Esta declaração
pode ser encontrada para preenchimento no portal da internet MEI
(http://www.portaldoempreendedor.gov.br).
2.5.3 Dados Estatísticos
De acordo com o relatório estatístico emitido pela Receita Federal
(Simples Nacional), no que tange ao número de optantes pelo MEI, segregado
inclusive por estado, no período de 01 de Julho de 2009 a 30 de Junho de
2011, houve um aumento expressivo neste número no período. O estado de
São Paulo é a unidade de federação com maior representatividade nesse
montante, com 21,84% do total geral.
Veja a seguir a representação gráfica desta evolução no país (Gráfico I) e
um comparativo entre São Paulo e demais estados (Gráfico II):
Gráfico I
Fonte: Gráfico elaborado com base nos números divulgados pela Receita Federal/Estatística Simples Nacional
Gráfico II
2009 2010 2011 -
200,000 400,000 600,000 800,000
1,000,000 1,200,000 1,400,000 1,600,000
14,557 145,375
438,046
34,561
599,968
1,433,130
Empresas enquadradas no MEISão Paulo x Outros Estados
SP Outros
Fonte: Gráfico elaborado com base nos números divulgados pela Receita Federal/Estatística Simples Nacional
Em uma breve análise é possível visualizar o aumento significativo no
número de empresários que, até então atuavam na informalidade,
beneficiaram-se com esse novo regime de empresa, atraídos pela
desburocratização, menor custo e inúmeros benefícios oferecidos. Este projeto
é um grande salto do país rumo ao desenvolvimento, já que ao se legalizar,
este empresário passa a sentir a necessidade de melhores controles internos e
adoção de ferramentas de gestão que impulsionem o crescimento dos
negócios para sobreviver ao mercado competitivo dos dias atuais.
Nota: As principais fontes de pesquisas para a elaboração deste capítulo foram o portal do MEI
na internet < http://www.portaldoempreendedor.gov.br > e o livro Micro Empreendedor
Individual de RUTHES (2009).
3. CASO EXEMPLO
3.1 Caracterização da Empresa
Este estágio está sendo realizada em uma oficina, prestadora de
serviços de funilaria e pintura de veículos, devidamente enquadrada no MEI,
cuja identificação resumida consta no quadro a seguir:
Razão Social: Antonio Ferreira Gonzaga
Nome Fantasia: Funilaria e Pintura Toninho
CNPJ: 12.414.099/0001-57
Telefones: (11) 2528-4922 / (11) 9815-0360
Endereço: Rua Giestas, 816 – Vila Bela – São Paulo/SP
O empreendimento existe há aproximadamente 20 anos, porém só saiu
da informalidade em Agosto de 2010, quando a criação do MEI e seus
benefícios difundiram-se no país.
Trata-se de uma pequena oficina familiar, com capacidade para 3 carros
e um escritório para execução das atividades administrativas. Não há
funcionário contratado em regime CLT, os serviços são executados pelo
próprio empreendedor e, havendo demanda excessiva, há a prestação de
serviços de demais profissionais autônomos.
O porte da empresa por si só justifica a estrutura funcional, simplificada,
abaixo representada:
FIGURA V: Organograma institucional
O empreendedor, na qualidade de supervisor deste estágio, conta ainda
com as orientações da contadora Rosangela Claro da Silva Carro - CRC SP-
223106/O-0, independente de qualquer vínculo empregatício, auxiliando-o
dentro do cabível a zelar pelo bom desempenho desta função.
3.2 Área de estágio
O estágio vem sendo desenvolvido na área administrativo-financeira da
empresa, efetuando a implementação da gestão do fluxo de caixa e demais
rotinas que colaboram com a organização e controle dos processos.
Inicialmente, busquei acompanhar de perto a rotina na empresa,
entender o funcionamento do negócio (desempenho no mercado), conhecer o
perfil dos clientes, fornecedores e a demanda dos serviços prestados. Neste
exercício de observação foi possível coletar as seguintes informações sobre a
atividade operacional, financeira e os fatores externos que influenciam neste
tipo de negócio.
Empreendedor Individual
Estagiário
Contador / Consultor
Entendendo o funcionamento do negócio:
A oficina oferece diversificada cadeia de serviços, dentro de suas
limitações, buscando atender a demanda de clientes. Neste sentido, busquei
relacionar em documento específico os tipos de serviços prestados seguido de
uma breve descrição, para melhor entendimento dos interessados (vide anexo
V).
Reconhecendo a importância em conhecer o mercado em que a empresa atua,
efetuei uma breve pesquisa de mercado para avaliar a demanda desse tipo de
serviço.
Nicho de mercado
De acordo com informações divulgadas pelo DETRAN-SP
(Departamento de Trânsito do Estado de São Paulo), a frota de veículos na
cidade de São Paulo ultrapassou os 7 milhões em Janeiro 2012, atingindo
7.207.165.
O automóvel é o veículo mais comum: corresponde a cerca de 73% do
total da frota da cidade. O segundo lugar fica com as motocicletas, triciclos e
quadriciclos, com 889.164 unidades (12% dos veículos da capital paulista). Os
718.450 micro-ônibus, camionetas, caminhonetes e utilitários ficam em terceiro
lugar, totalizando 10% da frota paulista.
Em um ano, o incremento na frota foi de 233.270 veículos, o que
corresponde a pouco mais de 3,2%, já que, no mesmo período do ano
passado, a frota da capital paulista era de 6.953.958, segundo dados do
DETRAN-SP.
A capital representa um total de 31% da frota de todo o Estado de São Paulo,
composta por 21.890.207 veículos.
Assim, os serviços de funilaria e pintura são requisitados principalmente
nas grandes cidades, onde o trânsito caótico eleva o índice de ocorrências,
toques, amassados e batidos na lataria, apresentando uma demanda favorável
a este nicho de mercado.
Sabe-se que a demanda é favorável a este tipo de negócio, mas alguns
pontos precisaram ser revistos para que o empreendimento atingisse uma
participação relevante neste marcado, ao ponto de obter receita suficiente para
suprir seus custos de serviços prestados e, ainda, trazer retorno ao
empreendedor que depende exclusivamente deste negócio para suas
necessidades pessoais.
Planejamento do fluxo das informações
O objetivo deste trabalho, como apresentado inicialmente, é implementar
na empresa a gestão do fluxo de caixa e, a partir daí, ter-se melhor
monitoramento e disposição de informações importantes para a tomada de
decisão. Contudo, ao decorrer do estágio, notou-se uma carência muito grande
de organização nos quesitos não operacionais (ou seja, nas atividades não
diretamente ligadas à execução dos serviços propriamente ditos).
Verificou-se que não havia uma separação dos bens da empresa e
pessoais, ferindo gravemente o princípio da entidade (Res. CFC nº 750/93),
além disto, a empresa não dispunha de um banco de dados com informações
de seus clientes e fornecedores, nem mesmo um histórico confiável de suas
movimentações financeiras (uma vez que o empresário reconheceu incorrer
em, falhas no momento do registro das entradas e saídas de caixa, por lapso e
falta da devida orientação), o que dificultou bastante o entendimento do
desempenho financeiro da mesma, uma vez que sem este histórico seria difícil
medir as deficiências de caixa e sazonalidade, por exemplo.
Entendo as principais necessidades da empresa e reconhecendo serem
essas impeditivas ao efetivo gerenciamento do fluxo de caixa, tomei algumas
providencias para que se estabelecesse uma rotina favorável à coleta de dados
necessários ao controle das atividades operacionais e recursos financeiros.
Diante da estrutura funcional enxuta, buscou-se trabalhar em rotinas
simplificadas, para que o empreendedor pudesse executá-las sem demandar
muito de seu tempo e, acima de tudo, procurei expor a este as vantagens e
benefícios que estas rotinas trariam à sua empresa e a necessidade de mantê-
las, desta forma pretende-se evitar a descontinuidade dos trabalhos.
Esta etapa consistiu então na elaboração de formulários que serviriam
como base de dados para futura obtenção de informações. São eles:
a) Ficha cadastral de clientes (anexo VI – item a): esta ficha tem como
objetivo obter informações cruciais dos clientes, propiciando facilidade
no contato, registro do histórico e base de consulta para o caso de
retorno do mesmo;
b) Ficha de orçamentos (anexo VI – item b): estas informações auxiliam
na projeção de fluxo de caixa futuro, uma vez que os serviços orçados
têm grande potencial para realização;
c) Mapa de recebimentos (anexo VI – item c): constitui a base para a
elaboração do fluxo de caixa. Este formulário foi estruturado para o
preenchimento das receitas na data em que ela se constituiu para que
ao final do mês seja consolidada em fluxo de caixa mensal;
d) Mapa de despesas (anexo VI – item d): constitui a contrapartida das
informações a serem também inclusas no fluxo de caixa, apresentando
assim a movimentação do caixa;
e) Fluxo de Caixa (anexo VI – item e): formulário de base mensal onde
serão preenchidas as movimentações realizadas no caixa. Neste mesmo
documento são fixados os valores previstos para cada mês, tendo-se
assim um quadro comparativo entre o orçado e o realizado.
Os formulários foram elaborados em Excel para preenchimento eletrônico
ou via impressa, conforme necessidade. Além disto, por disposição do
SEBRAE existe uma ferramenta bastante adequada ao MEI. Trata-se de um
software livre, chamado ‘AcompanEI’, desenvolvido para o input de entradas e
saídas de caixa e estruturado para geração de relatórios que auxiliam na
gestão. A partir desta ferramenta é possível gerar os seguintes relatórios:
1. Relatório mensal de receitas brutas;
2. Relatório de despesas;
3. Resumo financeiro;
4. Declaração anual de recebimentos
Este software está disponível para download no site do SEBRAE,
gratuitamente, através do link a seguir:
http://www.sebrae.com.br/uf/distrito-federal/sebrae-online/acompanhei
Assim o empresário dispõe de recursos informatizados que se
complementam entre si, compondo um pacote de informações fundamentais à
organização, controle financeiro e suporte para as decisões do dia-a-dia.
Desta forma, é possível ter uma melhor dimensão sobre o funcionamento
das atividades operacionais e financeiras da empresa, tendo uma base segura
para a gestão do fluxo de caixa.
Projeção do fluxo de caixa a curto prazo
Para projetar o fluxo de caixa da empresa foi necessário considerar alguns
fatores relevantes, tais como:
Serviços previstos para os próximos dias/meses, com base no Controle
de orçamento que, a esta altura, já entrou em uso há aproximadamente
4 meses, e com base na estimativa de receitas para cada época do ano
feita pelo empresário, que fundamenta a projeção na experiência que
possui do negócio;
Levantamento de créditos a receber de clientes;
Compras e condições oferecidas pelos fornecedores. Aqui considera-se
as compras já realizadas à prazo, cujo vencimento e valor já são
conhecidos somados aos custos com os materiais atrelados aos
serviços previstos no item anterior;
Total das despesas, baseando-se no histórico desta categoria,
considerando-se possíveis variações para mais ou menos devido a fatos
relevantes no período;
Fatores externos que possam influenciar a demanda dos serviços
(condições de mercado, concorrência, sazonalidade, etc.);
A periodicidade da elaboração do fluxo de caixa, levando em
consideração o porte da empresa, segmento, fluxo da movimentação
financeira, entre outros.
Após o estudo destes fatores, iniciou-se a elaboração da projeção do fluxo
de caixa, contando aqui com o suporte técnico da contadora Rosangela Claro,
e ainda, com o empresário Antonio Ferreira Gonzaga que possui conhecimento
do negócio em si, importante para garantir a confiabilidade das informações.
Levando em consideração o porte da empresa e, principalmente, a pouca
movimentação em caixa, optou-se pela base mensal de fluxo de caixa e
tentamos, assim, projetar o fluxo de caixa para os próximos 3 meses - período
mínimo sugerido por Zdanowicz, (1995) para a projeção ideal do fluxo de caixa.
Alguns levantamentos adicionais e cruciais foram efetuados:
As entradas de recursos ocorrem em 2 momentos: 50%
antecipadamente e o restante no momento da entrega do veículo já
pronto. De acordo com o empreendedor o período máximo para a
conclusão de serviços classificados, segundo ele, pesados (como a
reconstrução de um veículo bastante danificado) é de 30 dias. A
demanda deste tipo de serviço é pequena, no geral a oficina recebe
veículos pata pequenos reparos e soldas, cujo prazo para entrega é de
3 dias a 1 semana.
Com os fornecedores o fluxo é favorável ao empreendedor, uma vez que
este possui prazo de até 30 dias para o pagamento, sendo exigido
apenas 10% como entrada. Esse ponto favorece o fluxo de caixa, pois a
folga entre o recebimento dos clientes e o pagamento aos fornecedores
é consideravelmente grande (dependendo do serviço);
A oficina possui algumas despesas fixas, ou seja, despesas não
necessariamente vinculadas aos serviços prestados e que são
fundamentais para o funcionamento da mesma. São essas: água, luz,
telefone e internet. O valor desta despesa não são muito elevado, mas
afeta o caixa negativamente e devem ser controlados para que não
excedam às receitas;
Segundo o empresário os períodos de maior demanda na oficina
ocorrem nos meses de Junho, Agosto, Outubro, Novembro e Dezembro.
A esta época do ano espera-se obter receitas suficientes para suprir as
despesas da empresa e as necessidades pessoais durante o ano inteiro.
Antes do controle do fluxo de caixa o empresário deparava-se com
grandes dificuldades para atender a essa necessidade,
acompanharemos a partir daqui as mudanças positivas após a iniciação
da gestão de caixa. Diante das informações coletadas elaborei, em
Dezembro/2011, a projeção para os meses de janeiro/2012 a
março/2012. Vale ressaltar que a esta altura já temos o histórico do
desempenho do caixa nos períodos de agosto a dezembro/2011, o que
auxiliou bastante as projeções futuras (olhando para o passado para
compreender o futuro).
Veja a posição em 31/12/2012:
Saldo inicial: R$ 10.750,13
Sendo o início de ano um período complicado para o negócio, não
espera-se um crescimento n o nível de caixa. Por isso a estratégia é
poupar, fazer retenção de gastos e ir em busca de captar novos
clientes para evitar a escassez de caixa, pois ainda assim deseja-se
um incremento pelo menos 5% no caixa;
Espera-se para os próximos períodos uma diminuição nas despesas
em pelo menos 20%, visando minimizar a diminuição relevante nas
receitas, cuja previsão para os próximos meses é de 40%.
Figura VI: Fluxo de Caixa Projetado
Apesar de estimar-se diminuição nas receitas, principalmente em
Janeiro quando o mercado está desacelerado devido aos gastos de fim de ano,
a estratégia de redução das despesas, dentro do cabível, auxiliará em um
aumento de 5% no caixa, conforme desejado pelo empreendedor.
Ao longo do tempo as informações foram sendo atualizadas
completando-se assim o quadro do fluxo de caixa realizado.
Realizado Realizado Realizado Realizado Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado
SALDO INICIAL 7.689,60 11.450,80 11.202,07 10.402,55 10.402,55 10.575,13 10.688,28 10.943,23
Receitas de serviços prestados (à vista) 5.350,00 500,00 - 1.250,00 870,00 522,00 - 696,00 - 783,00 - E com emissão de NF 5.020,00 500,00 - 1.100,00 870,00 522,00 696,00 783,00 N sem emissão de NF 330,00 150,00 T Receitas de serviços prestados (à prazo) - R com emissão de NFA sem emissão de NFD Outras receitas - A operações bancáriaS outras
Total das entradas 5.350,00 500,00 - 1.250,00 870,00 522,00 - 696,00 - 783,00 -
Despesas com serviços e G&AContribuição MEI 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 Juros e multa
S Fornecedores 137,25 312,48 488,27 743,01 276,17 156,60 208,80 234,90 A Água 82,30 52,00 37,00 85,90 56,00 44,80 35,84 35,84 Í Luz 117,00 87,00 68,00 72,00 69,00 55,20 44,16 44,16 D Telefone e internet 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 A Combustível 10,00 40,00 84,00 50,00 30,00 30,00 10,00 S Compra de equipamentos
Material de escritório 50,00 Mão de obra 1.070,00 100,00 - 250,00 174,00 - - - - - - Outras despesas 35,00
Total das saídas 1.588,80 748,73 799,52 1.323,16 697,42 408,85 - 441,05 - 447,15 - Resultado operacional 3.761,20 248,73- 799,52- 73,16- 172,58 113,15 - 254,95 - 335,85 -
SALDO FINAL 11.450,80 11.202,07 10.402,55 10.329,39 10.575,13 10.688,28 - 10.943,23 - 11.279,08 -
jan/12 fev/12 mar/12
Fluxo de Caixa (Mensal)nov/11ago/11 set/11 out/11 dez/11
Veja a seguir a posição do caixa em 31/03/2012:
Figura VI: Fluxo de Caixa Projetado x Realizado
Observa-se uma variação de 20% para menos nas despesas com
fornecedores, luz e água, trazendo um efeito positivo uma vez que se
conseguiu reduzir esses valores mais do que o planejado. Nota-se também que
para os demais itens não houve grandes variações, e que ao final o fluxo de
caixa apresentou um aumento de 5% em relação à Dezembro, conforme
previsto.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da gestão do fluxo de caixa as melhorias na empresa foram
notórias, com destaque maior à capacidade de prever as deficiências de caixa
em determinados períodos e planejar medidas para minimização dos impactos.
Com medidas simples e que não demandam muito tempo a empresa passou a
ter a capacidade de coletar informações relevantes, dispô-las de maneira
Realizado Realizado Realizado Realizado Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado
SALDO INICIAL 7.689,60 11.450,80 11.202,07 10.402,55 10.402,55 10.575,13 10.575,13 10.688,28 10.640,18 10.943,23 10.940,43
Receitas de serviços prestados (à vista) 5.350,00 500,00 - 1.250,00 870,00 522,00 419,00 -20% 696,00 745,00 7% 783,00 760,00 -3%E com emissão de NF 5.020,00 500,00 - 1.100,00 870,00 522,00 419,00 -20% 696,00 745,00 7% 783,00 760,00 -3%N sem emissão de NF 330,00 150,00 T Receitas de serviços prestados (à prazo) - R com emissão de NFA sem emissão de NFD Outras receitas - A operações bancáriaS outras
Total das entradas 5.350,00 500,00 - 1.250,00 870,00 522,00 419,00 -20% 696,00 745,00 7% 783,00 760,00 -3%
Despesas com serviços e G&AContribuição MEI 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 32,25 0% 32,25 32,25 0% 32,25 32,25 0%Juros e multa
S Fornecedores 137,25 312,48 488,27 743,01 276,17 156,60 125,70 -20% 208,80 223,50 7% 234,90 228,00 -3%A Água 82,30 52,00 37,00 85,90 56,00 44,80 35,84 -20% 35,84 28,67 -20% 35,84 28,67 -20%Í Luz 117,00 87,00 68,00 72,00 69,00 55,20 44,16 -20% 44,16 35,33 -20% 44,16 35,33 -20%D Telefone e internet 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 0% 90,00 90,00 0% 90,00 90,00 0%A Combustível 10,00 40,00 84,00 50,00 30,00 26,00 -13% 30,00 35,00 17% 10,00 30,00 200%S Compra de equipamentos
Material de escritório 50,00 Mão de obra 1.070,00 100,00 - 250,00 174,00 - - - - - 152,00 Outras despesas 35,00
Total das saídas 1.588,80 748,73 799,52 1.323,16 697,42 408,85 353,95 -13% 441,05 444,75 1% 447,15 596,25 33%Resultado operacional 3.761,20 248,73- 799,52- 73,16- 172,58 113,15 65,05 -43% 254,95 300,25 18% 335,85 163,75 -51%
SALDO FINAL 11.450,80 11.202,07 10.402,55 10.329,39 10.575,13 10.688,28 10.640,18 0% 10.943,23 10.940,43 0% 11.279,08 11.104,18 -2%
Var (%)
jan/12 fev/12 mar/12
Fluxo de Caixa (Mensal)nov/11 Var
(%)Var (%)
ago/11 set/11 out/11 dez/11
coerente e eficaz, além de possuir base de dados suficiente para gerar as
informações que o empreendedor necessita para suas decisões.
O empresário, ao observar melhorias concretas, conscientizou-se da
importância e necessidade de ter em mãos o controle das movimentações
financeiras, de respeitar o princípio da entidade e gerenciar seus fluxos de
caixa e acompanhar de perto as oscilações em seu caixa. Entendeu que é
possível sobreviver e ainda obter um acréscimo de caixa mesmo diante de um
cenário de diminuição de receitas, e que isso só é possível com um controle do
fluxo de caixa e projeções confiáveis que se aproximam da realidade da
empresa.
O país encontra-se em situação favorável às e microempresas,
possibilitando a estas a inserção no mercado de forma legalizada com
diminuição da burocracia e, ao menos no caso do MEI, com carga tributária
cabível à realidade do empreendedor.
Hoje é possível dizer que o mercado está aberto às pequenas e
microempresas, que representam grande percentual de participação de
empresas ativas no país, portanto se houver maior atenção por parte dessas a
seus fluxos de caixa, aumenta-se consideravelmente suas chances de
sobreviver ao cenário competitivo no Brasil, e até no mundo, e crescer
gradativamente.
Considerando todos os aspectos estudados ao longo deste trabalho, e
ainda, o resultado positivo observado no caso exemplo não há dúvidas quanto
a necessidade, importância e relevância da gestão do fluxo de caixa também
para os micro empreendedores individuais e, ao vivenciar na prática o processo
de implementação desta ferramenta, foi possível ter plena certeza de sua
aplicabilidade e usabilidade, desde que se envida esforços e principalmente o
senso crítico embasado em relevante fundamentação teórica.
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