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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Relatório de Graduação
(GLG0001)
Matheus Lisboa Nobre da Silva
GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN):
VALORES, CLASSIFICAÇÕES E AMEAÇAS
Orientador:
Marcos Antonio Leite do Nascimento
Monografia nº 426
Natal – RN
Maio/2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Relatório de Graduação
(GLG0001)
Matheus Lisboa Nobre da Silva
GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN):
VALORES, CLASSIFICAÇÕES E AMEAÇAS
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento
Prof. Dr. Vanildo Pereira da Fonseca
Prof. Dr. Paulo Cesar de Araújo
Natal – RN
Maio/2016
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial
Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.
Silva, Matheus Lisboa Nobre da.
Geodiversidade da cidade do Natal (RN): valores, classificações e ameaças /
Matheus Lisboa Nobre da Silva. - Natal, 2016. 170 f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento.
Relatório (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Ciências Exatas e da Terra. Departamento de Geologia.
1. Geodiversidade – Monografia. 2. Valores – Monografia. 3. Natal –
Monografia. I. Nascimento, Marcos Antonio Leite do. II. Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE-CCET CDU: 551:504
Para meus pais Flávio e Luciana e
minha cidade, Natal
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Flávio e Luciana, por tudo que me ensinaram e pelo que sou, vocês são minha base,
através de quem cresço cada dia mais como filho e pessoa! Obrigado por todos os sacrifícios,
carinhos, conselhos, carões e, principalmente, todo o amor que vocês dão a mim e Mariana.
À Mariana, por ser a melhor irmã, entender meus estresses e, mesmo que pouco eu fale, me escutar
sobre meus problemas e vivências. Saiba que sempre estou aqui por você!
À minha namorada-companheira-geóloga, Tarsila, por todos os momentos de compreensão, carinho,
amor e diversão. Obrigado também por todos os conselhos neste trabalho e na vida!
A meus avós, Janete e Pedro, Lourdinha (in memoriam) e Evandro, por terem criado essa família
maravilhosa e única da qual sou parte. Suas histórias e vidas são inspiração para mim!
A Cacá, uma mãe para mim, e meus padrinhos, Salete e Krause (in memoriam). Todo o carinho e
cuidado que vocês têm comigo me ajudou a ser quem sou hoje!
A todos meus tios e primos, pelos copos e taças compartilhados e momentos vividos! Agradeço
especialmente a tio Paulo pelas conversas e material informacional sobre patrimônio e Natal, que
ajudaram no embasamento das discussões deste trabalho.
A todos meus amigos que o CEFET, a Geologia e a vida me deram: Alinne, André, Bárbara, Catarina,
Fernando, Gal, Ingrid B., Jana/João, Macau, Vanessa, Vini e os Degradantes (Arlindo, Ed, Ícaro,
Jayne, Laísla, Marília, Peixoto, PV), assim como toda a turma 4.302.1M (CEFET) e 2011 (UFRN).
A todos os amigos que são também companheiros de trabalho na BCZM: Arthur, Edson, Evellyn,
Guilherme, Josi, Kalline, Karla, Magnólia, Martha, Olga, Silvestre e Thiago, assim como todos que
já passaram pelo Setor de Compras.
A meus ex-professores e hoje amigos, Mário Tavares e Jossylúcio, e Bruna juntamente com toda a
equipe do Grupo de Pesquisa Mineral do IFRN, que será sempre minha primeira casa na pesquisa
cientifica.
Ao professor/amigo Marcos Nascimento, que meu deu a oportunidade de trabalhar com
geodiversidade, área que mais me reconheço na geologia, que propicia a geoeducação. Obrigado
também pelos goles de cerveja!
Aos professores Vanildo e Paulo César por aceitarem participar da banca de avaliação deste trabalho.
Muito me honra receber de vocês todas e quaisquer críticas e sugestões.
Agradeço a Deus, que tanto se faz presente em minha vida pela intercessão de Nossa Senhora dos
Navegantes! “Sem vós, como seria a humanidade? Como triste seria a sorte humana!”.
“Eu fui criado no bafo da maresia,
No bafejo da alegria,
No balanço desse mar...
Sou da Ribeira, eu sou
Sou canguleiro, eu sou”
Hino do Grêmio Recreativo-Lítero-Etílico-Cultural e
Esportivo Banda Independente da Ribeira
(Ciro Pedroza)
RESUMO
A geodiversidade do planeta é compreendida por todos os recursos abióticos que compõem a
natureza: solos, minerais, rochas, rios, lagoas, paisagens e fenômenos naturais como o intemperismo
e magmatismo. A partir disto, pesquisadores têm focado seus estudos, sob esta nova óptica das
geociências, desde a década de 1990, se aproveitando também da multidisciplinaridade permitida
pela geodiversidade e divulgando os conteúdos geológicos pela sociedade. No Brasil, o uso do termo
geodiversidade começou na década de 2000 e vem sendo intensificado ao longo dos anos recentes,
sendo também aplicado nas interpretações de usos dos recursos do meio abiótico nas cidades, como
em monumentos, arruamentos e edifícios. Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, além das belas
paisagens, compostas por praias, dunas, falésias, rios, mangues e lagoas, existem diversos registros
de usos dos recursos da geodiversidade, sobretudo, de rochas em monumentos e edifícios, históricos
e recentes, e nas primeiras ruas da cidade. Observa-se o uso de rochas sedimentares, como arenitos
calcíferos e ferruginosos, ígneas, especialmente granitos retirados da cidade vizinha Macaíba, e
metamórficas, como os mármores correlatos à Formação Jucurutu. Ao longo de toda a história da
cidade, que perpassa mais de 400 anos, a geodiversidade mostra-se sempre presente, desde os
primórdios da cartografia local, que remonta ao período de ocupação holandesa, em que o ambiente
natural fora retratado fidedignamente. Os estudos desenvolvidos neste trabalho abordam a
geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, in situ, ou aliada ao patrimônio
cultural local, ex situ, na região da cidade. São feitas descrições dos valores da geodiversidade, de
acordo com os serviços ecossistêmicos, como definidos por Murray Gray, além da classificação
dessas ocorrências, naturais ou não, de acordo com seus valores e extensão areal. Ainda são
apresentadas considerações sobre as principais ameaças que afetam a geodiversidade e que podem
culminar na remoção de suas características e ocorrências na cidade.
Palavras-chave: Geodiversidade; valores; Natal
ABSTRACT
Geodiversity of the planet is understood by all abiotic resources that make up the nature: soils,
minerals, rocks, rivers, lakes, landscapes and natural phenomena such as weathering and magmatism.
From this, researchers have focused their studies under this new perspective of geosciences since the
1990s, also taking advantage of the multidisciplinary allowed by geodiversity and disseminating the
geological content through the society. In Brazil, the use of the geodiversity term began in the 2000s
and has been intensified over the recent years, also applied to the interpretations of the abiotic
resources’ use in cities, such as on monuments, streets and buildings. In Natal, capital of Rio Grande
do Norte, besides the beautiful landscapes composed by beaches, dunes, cliffs, rivers, wetlands and
lakes, there are many records of uses of geodiversity’ resources, especially of rocks in buildings and
monuments, historical and recent, and on the first streets of the city. It’s noted the use of sedimentary
rocks, such as calciferous and ferruginous sandstones, igneous, especially granite taken from the
nearby town Macaíba, and metamorphic, as the marbles related to the Jucurutu Formation.
Throughout the history of the city, running through more than 400 years, geodiversity is present since
the beginning of the local mapping, dating back to the Dutch occupation period, in which the natural
environment was portrayed faithfully. The studies developed in this work addresses the geodiversity
of Natal that occurs naturally, in situ, or along with the local cultural heritage, ex situ, in the city’s
region. Descriptions of the geodiversity values are made, according to ecosystem services, as defined
by Murray Gray, as well as classification of these occurrences, natural or not, according to their
values and areal extent. It’s also made some considerations on the major threats to geodiversity that
may result on the removal of their characteristics and occurrences in the city.
Keywords: Geodiversity; values; Natal
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
Figura 1.1 – Mapa de localização da cidade do Natal Fonte: elaborado pelo autor ........................................ 23
CAPÍTULO 2
Figura 2.1 – Pintura de autor desconhecido retratando a invasão holandesa à Natal, cuja vila é retratada ao
centro e o Forte dos Reis Magos à esquerda. É possível observar também elementos naturais como
dunas, rios e lagoas. Fonte: Blog Natal de Ontem ............................................................................... 28
Figura 2.2 – Mapas mostrando a ocupação territorial da cidade do Natal, ao final do século XIX (A) e na
década de 1930 (B). Fonte: Nobre, 2001 a partir de Miranda, 1999 .................................................... 30
Figura 2.3 – Fotografia de 1943 mostrando os principais meios de transporte do início do século XX: bonde e
ônibus. Foto: Jaeci Galvão ................................................................................................................... 31
Figura 2.4 – Fotografia da primeira metade do século XX mostrando a praia de Areia Preta urbanizada e o
Farol de Mãe Luísa ao fundo, sobre as dunas. Foto: Jaeci Galvão ....................................................... 32
Figura 2.5 – Fotografia da primeira metade do século XX da praia de Redinha, mostrando ao fundo o Forte dos
Reis Magos. Foto: Jaeci Galvão ........................................................................................................... 32
Figura 2.6 – Províncias Estruturais Brasileiras. Destaque em vermelho para a Província Costeira, onde está
localizada a área de estudo deste trabalho. Fonte: Modificado de Almeida et al. (1977) .................... 34
Figura 2.7 – Reconstrução pré-drift das bacias sedimentares na porção nordeste da América do Sul e suas
correlatas na África, com destaque para as Bacias Potiguar (amarelo) e Pernambuco-Paraíba (vermelho).
Fonte: Modificado de Mohriak, 2003 ................................................................................................... 35
Figura 2.8 – Mapa geológico da cidade do Natal. Fonte: Modificado de Fonseca et al., 2012 ....................... 37
Figura 2.9 – Falésia do Grupo Barreiras na região da Via Costeira, em frente ao hotel Marsol. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................... 38
Figura 2.10 – Imagem de satélite com destaque para um dos depósitos de mangue na cidade do Natal. Fonte:
Google Earth ........................................................................................................................................ 40
Figura 2.11 – Fotografia mostrando um típico depósito eólico litorâneo vegetado na região da praia de
Genipabu. Foto: Matheus Lisboa ......................................................................................................... 41
Figura 2.12 – Foto da região litorânea da Via Costeira, em Natal. Toda a faixa intermaré, vista na fotografia
como uma faixa plana, corresponde aos depósitos litorâneos praiais. Foto: Matheus Lisboa .............. 42
Figura 2.13 – Fotografia da região entre as praias do Forte e Artistas mostrando o alinhamento dos corpos de
arenitos praiais (setas vermelhas), de direção N-S, paralelos à linha de costa, na cidade do Natal. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 43
Figura 2.14 – Fotografia mostrando em destaque os corpos de dunas que se destacam na paisagem da cidade
do Natal. Em transparência amarela, Parque da Cidade; nas setas vermelhas, Parque das Dunas. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 46
CAPÍTULO 3
Figura 3.1 – Comparativo teórico da evolução da biodiversidade (linha vermelha) com a da geodiversidade
(linha azul). A rápida expansão da geodiversidade em 3 Ga está relacionada com o desenvolvimento da
crosta continental. Fonte: Modificado de Gray (2013) ......................................................................... 50
Figura 3.2 – Valores e subvalores da geodiversidade sensu Murray Gray. Fonte: Elaborado pelo autor a partir
de Gray (2004) ..................................................................................................................................... 52
Figura 3.3 – Espécime de cacto que utiliza o xisto como habitat, representando a importância da geodiversidade
como um serviço de suporte. Foto: Matheus Lisboa ............................................................................ 57
Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade segundo os serviços ecossistêmicos. Fonte: Elaborado
pelo autor a partir de Gray (2013) ........................................................................................................ 63
Figura 3.5 – Esquema conceitual da classificação dos lugares de geodiversidade. Fonte: Brilha (2015) ....... 68
Figura 3.6 – Logomarca oficial da rede de Geoparques da UNESCO Fonte: unesco.org ............................... 72
Figura 3.7 – Mapa de localização das paradas sugeridas pelo roteiro geoturístico do centro histórico de São
Paulo. Fonte: Del Lama et al. (2014) ................................................................................................... 74
Figura 3.8 – Mapa de localização dos pontos que compõem o roteiro geoturístico do centro histórico de Natal.
Fonte: Carvalho (2010) ........................................................................................................................ 75
CAPÍTULO 4
Figura 4.1 – Imagem de satélite com destaque para a praia da Redinha. Fonte: Google Earth....................... 80
Figura 4.2 – Foto da praia da Redinha mostrando a larga faixa de areia quartzosa. Foto: Matheus Lisboa .... 81
Figura 4.3 – Pessoas praticando futebol de areia na praia da Redinha. Foto: Matheus Lisboa ....................... 81
Figura 4.4 – Foto de 1960 mostrando a região da praia do Meio, no Litoral Central de Natal, até então pouco
ocupada. Foto: Getty Images ................................................................................................................ 82
Figura 4.5 – Imagem de satélite com destaque para o Litoral Central (praias do Forte, Meio e Artistas) Fonte:
Google Earth ........................................................................................................................................ 82
Figura 4.6 – Mapa de Johannes Vingboons, datado de 1665, mostrando o Fort Ceulen e os arenitos praiais da
região Litoral Central. Em holandês, está escrito steen clip genaemt riciff, cuja tradução é corpo de pedra
chamado recife. Fonte: http://www.robgomes.nl/ ................................................................................ 83
Figura 4.7 – Mapas da região Litoral Central de Natal, mostrando os corpos de arenitos praiais. Fontes: A –
Branner (1904); B – Oliveira (1978) .................................................................................................... 84
Figura 4.8 – Fotomicrografia de amostra de arenito praial da região Litoral Central mostrando grãos de
microclina (Mc), quartzo monocristalino (Qz) e cimento em mosaico (seta vermelha). ...................... 85
Figura 4.9 – Fotomicrografia de amostra de arenito praial mostrando cimento carbonático (seta vermelha) em
franja fibro-radial preenchendo porosidade primária (seta azul), além dos grãos quartzosos (Qz) do
arcabouço. ............................................................................................................................................ 85
Figura 4.10 – Imagem de satélite com destaque para a forma côncava da linha de costa na praia do Forte. Fonte:
Google Earth ........................................................................................................................................ 85
Figura 4.11 – Fotografia da praia do Forte, mostrando sua linha de costa curva e dunas frontais vegetadas. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 85
Figura 4.12 – Foto da década de 1930 mostrando a praia de Areia Preta ainda com baixa ocupação. Foto: Jaeci
Galvão .................................................................................................................................................. 86
Figura 4.13 – Foto mostrando as primeiras casas e o farol construídos sobre as dunas frontais. Foto: Jaeci
Galvão .................................................................................................................................................. 86
Figura 4.14 – Foto de 1960 da praia de Areia Preta, destaque para os corpos de arenitos do Grupo Barreiras.
Foto: Getty Images ............................................................................................................................... 87
Figura 4.15 – Imagem de satélite com destaque para a praia de Areia Preta, na qual se observa a presença de
três estruturas de enrocamento. Fonte: Google Earth .......................................................................... 87
Figura 4.16 – Imagem de satélite com destaque para a região Litoral Sul (praias da Via Costeira e Ponta Negra).
Fonte: Google Earth ............................................................................................................................. 88
Figura 4.17 – Destaque para estratificação de praia nos sedimentos da praia da Via Costeira. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................... 89
Figura 4.18 – Blocos de arenitos ferruginosos do Grupo Barreiras encontrados na Via Costeira. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................... 89
Figura 4.19 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-09. Fonte: Google Earth .................................... 92
Figura 4.20 – Foto do corpo de dunas norte. Foto: Matheus Lisboa ............................................................... 92
Figura 4.21 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-04. Fonte: Google Earth .................................... 93
Figura 4.22 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-10. Fonte: Google Earth .................................... 94
Figura 4.23 – Foto do corpo de dunas leste. Foto: Matheus Lisboa ................................................................ 94
Figura 4.24 – Farol de Mãe Luisa, construído sobre o corpo de dunas leste. Foto: Matheus Lisboa .............. 94
Figura 4.25 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-05 e ZPA-06. Fonte: Google Earth ................... 95
Figura 4.26 – Foto mostrando propaganda turística de Natal com a imagem do Morro do Careca na estação
Euston Square em Londres. Foto: Blog SOS Ponta Negra .................................................................. 95
Figura 4.27 – Imagem de satélite com destaque para o Parque das Dunas, área da ZPA-02. Fonte: Google Earth
.............................................................................................................................................................. 97
Figura 4.28 – Foto panorâmica de corpos de dunas do Parque das Dunas vistos a partir da Via Costeira. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 98
Figura 4.29 – Zona de blowout no Parque das Dunas, vista na Via Costeira. Foto: Matheus Lisboa ............. 98
Figura 4.30 – Falésias do Parque das Dunas vistas na Via Costeira. Foto: Matheus Lisboa ........................... 98
Figura 4.31 – Imagem de satélite com destaque para o Parque da Cidade, área da ZPA-01. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................... 99
Figura 4.32 – Corpos de dunas vegetados no Parque da Cidade. Foto: Matheus Lisboa ................................ 99
Figura 4.33 – Imagem de satélite mostrando os mangues da cidade do Natal, localizados nas duas margens do
Rio Potengi. Fonte: Google Earth ...................................................................................................... 102
Figura 4.34 – Fotografia do mangue de Natal, destaque para a quantidade de matéria orgânica, identificada
pela forte tonalidade cinza e pelo cheiro de enxofre proveniente do material em decomposição. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 102
Figura 4.35 – Foliã passando lama do mangue no corpo, este é o “abadá” do Bloco dos Cão na Redinha. Foto:
Alex Régis / Tribuna do Norte ........................................................................................................... 103
Figura 4.36 – A lama, que são as argilas dos depósitos flúvio-marinhos, é um recurso da geodiversidade. Foto:
Alex Régis / Tribuna do Norte ........................................................................................................... 103
Figura 4.37 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Pitimbu na divisa dos municípios de
Natal e Parnamirim. Fonte: Google Earth .......................................................................................... 105
Figura 4.38 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Doce. Fonte: Google Earth ...... 106
Figura 4.39 – Imagem de satélite com destaque para a desembocadura do rio Potengi no Oceano Atlântico.
Fonte: Google Earth ........................................................................................................................... 106
Figura 4.40 – Foto de 2012 mostrando jovem praticante do Remo no rio Potengi. Foto: Rodrigo Sena / Tribuna
do Norte.............................................................................................................................................. 107
Figura 4.41 – Imagem de satélite de 2014 mostrando um conjunto de lagoas no bairro de Ponta Negra. Fonte:
Google Earth ...................................................................................................................................... 110
Figura 4.42 – Imagem de satélite mostrando a lagoa Manoel Felipe. Fonte: Google Earth .......................... 110
Figura 4.43 – Foto mostrando passeio de pedalinho na lagoa Manoel Felipe. Fonte: Blog o Curiozzo ........ 110
Figura 4.44 – Bloco de arenito ferruginoso correlato ao Grupo Barreiras que serve como fundação para o pilar.
Fonte: Carvalho (2010) ...................................................................................................................... 112
Figura 4.45 – Foto mostrando a imagem de Nsa Sra da Apresentação sobre o pilar, com o rio Potengi e seu
estuário ao fundo. Foto: Matheus Lisboa ........................................................................................... 112
Figura 4.46 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante do Parque das Dunas. Fonte: Google
Earth .................................................................................................................................................. 114
Figura 4.47 – Foto da paisagem a partir do mirante do Parque das Dunas. Fonte: TripAdvisor.com ........... 114
Figura 4.48 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante do Centro Histórico. Fonte: Google Earth
............................................................................................................................................................ 114
Figura 4.49 – Foto da paisagem a partir do mirante do Centro Histórico. Foto: Matheus Lisboa ................. 114
Figura 4.50 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante Onofre Lopes. Fonte: Google Earth 115
Figura 4.51 – Foto da paisagem a partir do mirante Onofre Lopes. Foto: Matheus Lisboa .......................... 115
Figura 4.52 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante do Parque da Cidade. Fonte: Google
Earth .................................................................................................................................................. 115
Figura 4.53 – Foto da paisagem a partir do mirante do Parque da Cidade. Foto: Matheus Lisboa ............... 115
Figura 4.54 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade in situ está presente na cidade
do Natal agrupados pela classificação por extensão areal. ................................................................. 119
CAPÍTULO 5
Figura 5.1 – Pintura “Fort Ceulen” (1638), de Frans Post, que mostra, ao fundo, o Forte dos Reis Magos, além
dos recifes de arenito em seu entorno e do povo Potiguara, que habitava a região. Campos de dunas são
vistas ao fundo. Fonte: www.gallerix.ru ............................................................................................ 122
Figura 5.2 – Visão do Forte dos Reis Magos a partir da desembocadura do Rio Potengi, ano da foto: 1998.
Foto: Wolfgang Kaehler / Getty Images ............................................................................................ 122
Figura 5.3 – Blocos de arenitos utilizados na base do Forte dos Reis Magos. Foto: Marcos Nascimento .... 123
Figura 5.4 – Destaque para a estratificação cruzada em um bloco de arenito na base da edificação Foto: Marcos
Nascimento ......................................................................................................................................... 123
Figura 5.5 – Detalhe da porção superior de um pórtico no Forte dos Reis Magos feito com blocos de arenito.
Foto: Marcos Nascimento .................................................................................................................. 123
Figura 5.6 – Arenitos ferruginosos nas paredes internas da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. À direita,
ampliação do destaque. Foto: Matheus Lisboa................................................................................... 125
Figura 5.7 – Detalhe do calçamento “pé-de-moleque” com blocos de arenitos ferruginosos na Travessa Pax,
bairro da Cidade Alta. Foto: Matheus Lisboa .................................................................................... 125
Figura 5.8 – Igreja de Santo Antonio (Igreja do Galo), com colunas externas feitas com blocos de arenitos
calcíferos. Foto: Matheus Lisboa ....................................................................................................... 126
Figura 5.9 – Destaque para os trabalhos em cantaria na base das colunas na Igreja do Galo, mostrando
claramente uma diferença de técnicas. Foto: Matheus Lisboa ........................................................... 126
Figura 5.10 – Fachada da Igreja Matriz com colunas e pórticos feitos de arenitos calcíferos. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................. 126
Figura 5.11 – Destaque para o campanário esquerdo da Igreja Matriz em que há bloco de arenito calcífero.
Foto: Matheus Lisboa ......................................................................................................................... 126
Figura 5.12 – Detalhe do granito utilizado no monumento à Independência, na praça 7 de setembro. Destaque
para o alinhamento dos cristais de anfibólio. Foto: Matheus Lisboa ................................................. 127
Figura 5.13 – Monumento aos Mártires da Revolução de 1817, localizado na Praça André de Albuquerque,
Cidade Alta. Foto: Matheus Lisboa .................................................................................................... 128
Figura 5.14 – Monumento em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, localizado na Praça 7
de setembro, Cidade Alta. Foto: Matheus Lisboa .............................................................................. 128
Figura 5.15 – Mapa geoturístico do bairro da Cidade Alta, com destaque para os monumentos e edifícios feitos
com rochas até o começo do século XX. Fonte: Projeto “As Rochas Contam Sua História” ............ 129
Figura 5.16 – Foto de calçada portuguesa da Pinacoteca potiguar, no detalhe os diferentes tipos de rocha
utilizados para compor os mosaicos. Foto: Matheus Lisboa .............................................................. 130
Figura 5.17 – Foto aérea da praia da Redinha na década de 1950, época de construção da Igreja de Pedras,
localizada no centro da foto, em frente ao Redinha Clube. Fonte: http://blogdobarbosa.jor.br/ ........ 132
Figura 5.18 – A Praia da Redinha foi até a década de 1980 a mais importante praia de veraneio de Natal. Ainda
hoje há casas de veranistas que todos os meses de dezembro e janeiro retornam à praia. Foto: Acervo
pessoal ................................................................................................................................................ 132
Figura 5.19 – Foto de julho de 2010 mostrando a Igreja de Pedra da Redinha. Foto: Matheus Lisboa ........ 133
Figura 5.20 – Pórtico de entrada do Redinha Clube, construído com blocos de arenito ferruginoso. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 133
Figura 5.21 – Foto de detalhe das rochas utilizadas na construção da Igreja de Pedra da Redinha. São
observados grãos subangulos de quartzo. Foto: Matheus Lisboa ....................................................... 133
Figura 5.22 – Foto da Torre da Igreja de Pedra da Redinha na qual se observa a colocação de blocos maiores
na base da construção, com dimensões sendo reduzidas até o topo. Foto: Matheus Lisboa .............. 133
Figura 5.23 – Fotografia do monumento a Pedro Velho no Square Pedro Velho, atual Praça das Mães na Cidade
Alta. Fonte: Natal, 2006. .................................................................................................................... 135
Figura 5.24 – Atualmente, o monumento a Pedro Velho se localiza na Praça Cívica, posto sobre um pedestal
de mármore. Foto: Matheus Lisboa .................................................................................................... 135
Figura 5.25 – Foto da lateral do Palácio dos Esportes sendo revestido com placas de quartzito. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................. 135
Figura 5.26 – Detalhe de uma placa de quartzito, mostrando essencialmente quartzo e muscovita. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 135
Figura 5.27 – Estado atual do monumento a Dom Pedro II, recentemente pintado, o que cobriu os minerais da
rocha, impossibilitando sua descrição. Foto: Matheus Lisboa ........................................................... 137
Figura 5.28 – Imagem do Google Street, datada de agosto de 2015, que mostra o busto de Dom Pedro II, na
praça homônima, sob pedestal de granito Fonte: Google Street View................................................ 137
Figura 5.29 – Monumento ao Prof. João Tibúrcio, localizado no Colégio Atheneu, composto por um busto
sobre um bloco de granito. Foto: Matheus Lisboa ............................................................................. 138
Figura 5.30 – Foto do salão de estudos da Biblioteca Central Zila Mamede, com parede construída por blocos
de granito. Foto: Matheus Lisboa ....................................................................................................... 139
Figura 5.31 – Detalhe de um bloco de granito utilizado na construção da BCZM, também empregado em outros
edifícios do campus central da UFRN. Foto: Matheus Lisboa ........................................................... 139
Figura 5.32 – Destaque para o calçamento em mosaico perfeito feito com calcários (branco) e basalto (preto)
na praça Dom Pedro IV, em Lisboa. Foto: Matheus Lisboa .............................................................. 140
Figura 5.33 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta Negra, os blocos pretos são basaltos e os brancos calcários.
Foto: Matheus Lisboa ......................................................................................................................... 141
Figura 5.34 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta Negra, os blocos brancos são calcários e os vermelhos
arenitos. Foto: Matheus Lisboa .......................................................................................................... 141
Figura 5.35 – Foto do enrocamento na praia da Redinha, sobre o qual há um passeio público. Fonte:
mochileiros.com ................................................................................................................................. 142
Figura 5.36 – Foto de um enrocamento na praia de Areia Preta. Foto: Matheus Lisboa ............................... 142
Figura 5.37 – Foto do enrocamento na praia de Ponta Negra, paralelo à linha de costa. Foto: Matheus Lisboa
............................................................................................................................................................ 142
Figura 5.38 – Escadaria de acesso à praia sobre o enrocamento na praia de Ponta Negra. Foto: Matheus Lisboa
............................................................................................................................................................ 142
Figura 5.39 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade ex situ é utilizada na cidade
do Natal agrupados pela classificação por extensão areal. ................................................................. 145
CAPÍTULO 6
Figura 6.1 – Lixo jogado no manguezal localizado próximo à praia da Redinha. Foto: Matheus Lisboa ..... 148
Figura 6.2 – Desembocadura de canal de escoamento de efluentes na Via Costeira. Foto: Matheus Lisboa 148
Figura 6.3 – Fotografia de parte do enrocamento na praia de Ponta Negra. Foto: Matheus Lisboa .............. 149
Figura 6.4 – Ocupações irregulares na margem do rio Doce, zona norte de Natal. Foto: Matheus Lisboa ... 149
Figura 6.5 – Detalhe de pichação feita no monumento aos mártires, na praça André de Albuquerque. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 151
Figura 6.6 – Fotografia da Travessa Pax em outubro 2015, destaque para os blocos de arenito soltos. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 151
Figura 6.7 – Detalhe de coluna na Igreja de Santo Antônio com base refeita em concreto. Foto: Matheus Lisboa
............................................................................................................................................................ 152
Figura 6.8 – Porta lateral na Igreja de Nsa Sra da Apresentação com colunas refeitas em concreto. Foto:
Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 152
Figura 6.9 – Pedestal de granito com trabalho em cantaria no monumento de Augusto Severo, em 2010. Fonte:
Carvalho (2010) ................................................................................................................................. 153
Figura 6.10 – Pedestal do monumento a Augusto Severo após a pintura pela Prefeitura, em 2015. Foto: Matheus
Lisboa ................................................................................................................................................. 153
LISTA DE QUADROS
CAPÍTULO 3
Quadro 3.1 – Relação entre os sistemas de valoração da geodiversidade sensu Murray Gray 2004 x 2013.
Fonte: Gray (2004, 2013) .................................................................................................................. 65
Quadro 3.2 – Classificação dos lugares de geodiversidade segundo sua extensão areal Fonte: Elaborado pelo
autor a partir de modificações ao trabalho de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) ....... 70
CAPÍTULO 4
Quadro 4.1 – Lagoas interdunares da cidade do Natal e seu atual estado de conservação. Fonte: Amaral et al.
(2005) .............................................................................................................................................. 109
Quadro 4.2 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade in situ na cidade do Natal ... 117
CAPÍTULO 5
Quadro 5.1 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade ex situ na cidade do Natal .. 144
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 21
1.1 Apresentação ................................................................................................................... 21
1.2 Justificativa ..................................................................................................................... 22
1.3 Localização ..................................................................................................................... 22
1.4 Objetivos ......................................................................................................................... 24
1.5 Materias e Métodos ......................................................................................................... 24
2. A CIDADE DO NATAL: HISTÓRIA, GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ............................. 27
2.1 História Natalense ........................................................................................................... 27
2.1.1 Início da ocupação................................................................................................... 27
2.1.2 Expansão no Século XX .......................................................................................... 29
2.1.3 A cidade atual .......................................................................................................... 32
2.2 Geologia .......................................................................................................................... 33
2.2.1 Regional .................................................................................................................. 33
2.2.2 Local ....................................................................................................................... 36
2.3 Geomorfologia ................................................................................................................ 44
3. REVISÃO SOBRE GEODIVERSIDADE ........................................................................................ 48
3.1 Definição ......................................................................................................................... 48
3.2 Valores ............................................................................................................................ 51
3.2.1 Valor Intrínseco ....................................................................................................... 54
3.2.2 Serviços de Regulação ............................................................................................ 55
3.2.3 Serviços de Suporte ................................................................................................. 56
3.2.4 Serviços de Provisão ............................................................................................... 58
3.2.5 Serviços Culturais ................................................................................................... 60
3.2.6 Serviços de Conhecimento ...................................................................................... 62
3.3 Classificação ................................................................................................................... 66
3.3.1 Por Valor ................................................................................................................. 66
3.3.2 Por extensão ............................................................................................................ 68
3.4 Ameaças e proteção da geodiversidade ........................................................................... 71
3.5 Geodiversidade nas Cidades Brasileiras ......................................................................... 73
4. GEODIVERSIDADE IN SITU .......................................................................................................... 78
4.1 Praias ............................................................................................................................... 78
4.1.1 Litoral Norte ............................................................................................................ 79
4.1.2 Litoral Central ......................................................................................................... 81
4.1.3 Areia Preta............................................................................................................... 86
4.1.4 Litoral Sul ............................................................................................................... 88
4.2 Campos de Dunas............................................................................................................ 91
4.2.1 Dunas Norte ............................................................................................................ 91
4.2.2 Dunas Oeste ............................................................................................................ 92
4.2.3 Dunas Leste ............................................................................................................. 93
4.2.4 Dunas Sul ................................................................................................................ 94
4.3 Parques Naturais ............................................................................................................. 97
4.3.1 Parque das Dunas .................................................................................................... 97
4.3.2 Parque da Cidade .................................................................................................... 99
4.4 Manguezais ................................................................................................................... 102
4.5 Rios ............................................................................................................................... 104
4.5.1 Rio Pitimbu ........................................................................................................... 104
4.5.2 Rio Doce ............................................................................................................... 105
4.5.3 Rio Potengi ............................................................................................................ 106
4.6 Lagoas Interdunares ...................................................................................................... 109
4.7 Pedra do Rosário ........................................................................................................... 112
4.8 Panoramas de Geodiversidade ...................................................................................... 113
4.8.1 Mirante Parque das Dunas .................................................................................... 114
4.8.2 Mirante Centro Histórico ...................................................................................... 114
4.8.3 Mirante Onofre Lopes ........................................................................................... 115
4.8.4 Mirante Parque da Cidade ..................................................................................... 115
4.9 Quadro Síntese .............................................................................................................. 117
4.10 Mapa de Localização .................................................................................................... 119
5. GEODIVERSIDADE EX SITU ........................................................................................................ 121
5.1 Forte dos Reis Magos .................................................................................................... 121
5.2 Centro Histórico ............................................................................................................ 124
5.2.1 Arenitos Ferruginosos ........................................................................................... 124
5.2.2 Arenitos Calcíferos................................................................................................ 126
5.2.3 Granito .................................................................................................................. 127
5.2.4 Demais Rochas ...................................................................................................... 130
5.3 Igreja de Pedra e Clube da Redinha .............................................................................. 132
5.4 Praça Cívica .................................................................................................................. 134
5.5 Praça Dom Pedro II ....................................................................................................... 136
5.6 Colégio Atheneu ........................................................................................................... 137
5.7 Campus Central da UFRN ............................................................................................ 139
5.8 Calçadões de Natal ........................................................................................................ 140
5.9 Enrocamentos ................................................................................................................ 141
5.10 Quadro Síntese .............................................................................................................. 144
5.11 Mapa de Localização .................................................................................................... 145
6. PANORAMA GERAL SOBRE A GEOCONSERVAÇÃO EM NATAL .................................... 147
6.1 Ameaças à Geodiversidade In Situ ................................................................................ 148
6.2 Ameaças à Geodiversidade Ex Situ ............................................................................... 150
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................159
1
21
1. INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
A partir do desenvolvimento dos conceitos de geodiversidade, geoconservação e
geoturismo, a comunidade geocientífica passou a pensar e criar projetos de estudo,
divulgação e proteção do meio abiótico, objetivando que sua exploração possa ser, em
muitos casos, realizada de forma mais sustentável. Dessa forma também começaram a ser
desenvolvidos, sob esta ótica e com mais intensidade, trabalhos de divulgação das
geociências, da história da Terra e da importância dos elementos naturais, geológicos, para
a vida no planeta. Admite-se hoje que conhecer a moradia de todas as formas de vida biótica
é tão fundamental quanto conhecer a biodiversidade em si, é fundamental, portanto, conhecer
o meio que dá suporte à vida no planeta, que é conhecido por geodiversidade.
No Brasil, ações neste sentido ainda são restritas, mas já tem o reconhecimento
importante, por exemplo, da Sociedade Brasileira de Geologia, que instituiu, em 2012, o
prêmio “Monteiro Lobato” para premiar profissionais que se destaquem na divulgação das
geociências entre a sociedade brasileira. Contudo, em países europeus, asiáticos e norte-
americanos, tais atividades já são realizadas há mais de uma década, a exemplo do que
mostram os trabalhos de Brilha (2004, 2005), Coratza e Da Waele (2012), Palacio-Prieto
(2014), Reis et al. (2014) e Lagally et al. (2015).
As cidades, ao longo dos séculos, foram estabelecidas nos ambientes naturais que
favoreciam, inicialmente, sua proteção e manutenção agrícola. Ambientes próximos aos
litorais foram utilizados na instalação de centros urbanos mercantilistas a partir do final do
século XIV. As definições de urbanismo que surgiram após a Revolução Industrial
modificaram as necessidades, formas e construções das cidades, que se favoreceram dos
recursos naturais disponíveis para seu desenvolvimento. Em todas essas situações, a
geodiversidade esteve atrelada ao início e expansão da urbis no planeta.
Disso exposto, pode-se afirmar que os estudos sobre geologia urbana, ou ainda sobre
a geodiversidade nas cidades, são compatíveis também com as compreensões desenvolvidas
na literatura especializada e são neste trabalho aplicados.
Com uma reflexão sobre a aplicabilidade dos conceitos da geodiversidade no estudo
da geologia nos centros urbanos brasileiros, a exemplo do que foi feito na Bahia (Pinto,
2015), na Paraíba (Pereira e Amaral, 2014), Paraná (Liccardo et al., 2008; Liccardo, 2010;
22
Calegari et al., 2011), Rio Grande do Sul (Borba et al., 2015), Santa Catarina (Covello, 2011)
e em São Paulo (Stern et al., 2006; Augusto e Del Lama, 2011; Del Lama et al., 2014), este
trabalho de conclusão de curso faz uma análise da geodiversidade local na cidade do Natal,
em suas expressões in situ e ex situ, tendo como exemplo para essa segunda expressão o que
foi realizado por Carvalho (2010) no Centro Histórico natalense.
1.2 JUSTIFICATIVA
O horizonte desvendado pelos estudos da geodiversidade nos centros urbanos
permite uma relação direta da sociedade com as geociências, sendo ferramenta importante
na divulgação das ciências da Terra.
Uma vez que as cidades foram instaladas em locais cuja geodiversidade favorecia o
seu erguimento, principalmente pela disponibilidade de recursos naturais, não é possível
dissociar o processo de entendimento da urbis sem o entendimento de seu ambiente, o que
engloba a geodiversidade.
Até o momento, os poucos trabalhos que versaram sobre a geodiversidade na cidade
do Natal não focaram em sua geodiversidade in situ. Contudo, a geodiversidade utilizada
nas edificações, monumentos e ruas, sobretudo do centro histórico, já foram exploradas por
projetos de pesquisa, extensão e conclusão do curso de geologia.
Disto, tem-se que a importância magna deste trabalho é a aplicação de novos
conceitos da geodiversidade, como os serviços do ecossistema abiótico, na descrição da
geologia da cidade.
1.3 LOCALIZAÇÃO
A cidade do Natal está localizada na costa leste do estado do Rio Grande do Norte,
no Nordeste brasileiro. É dividida, administrativamente, em 4 zonas (norte, sul, leste e oeste),
possuindo 36 bairros. É limitada a norte pelo município de Extremoz, a oeste pelos
municípios de São Gonçalo do Amarante e Macaíba, a sul pelo município de Parnamirim e
a leste pelo Oceano Atlântico.
23
Os acessos principais se dão por via rodoviária, pelas BR-101, BR-304, BR-226 e
BR-406, por via aérea, através do Aeroporto Internacional Aluísio Alves, ou por via
marítima, através do Porto de Natal.
O mapa da figura 1.1 apresenta a localização da cidade, área de estudo deste trabalho,
e suas principais vias de acesso.
Figura 1.1 – Mapa de localização da cidade do Natal
Fonte: elaborado pelo autor
24
1.4 OBJETIVOS
Este trabalho foi desenvolvido tendo por objetivo central a identificação, análise e
classificação da geodiversidade da cidade do Natal e da relação da comunidade local com
esses elementos naturais abióticos ao longo de toda a história da cidade.
Para que a finalidade acima definida seja atingida, foram definidos os seguintes
objetivos específicos:
i. Analisar mapas, fotos antigas e documentos que registrem a presença dos
recursos da geodiversidade, como e se eles foram modificados ao longo do
tempo por meio da ação antrópica;
ii. Fazer o inventário dos principais locais de ocorrência de geodiversidade in
situ e ex situ na cidade;
iii. Valorar os locais de ocorrência de geodiversidade, in situ e ex situ, de acordo
com os processos e serviços geossistêmicos;
iv. Classificar e mapear os locais de ocorrência de geodiversidade, in situ e ex
situ, de acordo com os valores definidos;
v. Identificar principais ameaças à geodiversidade, in situ e ex situ, local.
1.5 MATERIAS E MÉTODOS
O desenvolvimento do trabalho foi iniciado com atividade de revisão bibliográfica a
partir de material publicado em livros, artigos, periódicos, assim como trabalhos de
conclusão de cursos de graduação, dissertações e teses, bem como sites eletrônicos.
A seleção dos locais in situ a serem trabalhados foi feita, inicialmente, com a
identificação de feições geológicas e geomorfológicas diferenciadas, com o auxílio de
ferramentas de sensoriamento remoto. A seleção dos pontos ex situ foi feita a partir da coleta
de material bibliográfico e por relatos sobre a utilização, principalmente, de rochas em
monumentos e edificações.
Tanto a seleção dos locais in situ como ex situ foi baseada, também, na metodologia
indicada por Wimbledon et al. (1999), de um método de levantamento sistemático e
comparativo entre os lugares a serem trabalhados.
25
Foram feitas descrições de cunho geológico em todos os locais escolhidos,
agregando, quando disponível, informações históricas que mostrem a evolução do uso da
geodiversidade na cidade do Natal. Essas descrições englobaram a mineralogia, petrografia,
geomorfologia, sedimentologia e estratigrafia.
Para cada local de geodiversidade identificado, foi realizado o procedimento de
valoração da geodiversidade, seguindo os valores de Gray (2013), que refere-se aos serviços
do ecossistema abiótico.
Ao final, foi elaborado o mapa dos locais de geodiversidade in situ e ex situ da cidade
do Natal, seguindo as classificações de Brilha (2015) e de Fuertes-Gutiérrez e Fernandéz-
Martinez (2010).
1
27
2. A CIDADE DO NATAL: HISTÓRIA, GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
Natal é a maior cidade do Rio Grande do Norte, sendo também a capital potiguar.
Sua fundação data do final do século XVI e esteve atrelada à necessidade portuguesa de
domínio das terras brasileiras. A posição geográfica da cidade foi fundamental para a
expansão do poder de conquista do reino português para o interior do continente. Tal fato
tem relação com a geologia e geomorfologia dessa região, que foram suportes para o
desenvolvimento da cidade.
Neste capítulo, são resumidos 416 anos de história natalense e da organização da
urbis local, assim como é dado enfoque à caracterização geológica-geomorfológica regional
e local.
2.1 HISTÓRIA NATALENSE
2.1.1 Início da ocupação
É difícil precisar uma data de quando as terras norte-rio-grandenses foram avistadas
pela primeira vez, como afirma Lyra (1998). Até mesmo uma data para a fundação de Natal
não é um ponto de concordância na literatura. Apesar disso, Souza (2008), coloca 25 de
dezembro de 1599 como o dia inicial da história da cidade.
No início do século XVII, o atual bairro da Cidade Alta correspondia a toda a área
de Natal, sendo seus limites cravados com duas cruzes, uma a norte, aonde hoje se encontra
a Praça das Mães, e uma a sul, na Praça de Santa Cruz da Bica (Souza, 2008).
O Forte dos Reis Magos era, até então, a única edificação fora do perímetro
demarcado pelas cruzes. Foi construído na região da praia localizada na desembocadura do
rio Potengi, sobre os arrecifes, corpos de arenitos calcíferos comuns na zona costeira de todo
o Nordeste brasileiro, e ficava ilhado sob maré alta. Ainda hoje permanece de pé e está
localizado na desembocadura do Rio Potengi, em área de grande importância histórica,
cultural e ambiental para a cidade do Natal. Sua construção teve início no século XVI, mas
a conclusão da estrutura hoje remanescente só se deu em 1628. Antes disso, a construção era
de “barro e varas colhidas nos mangues e adjacências. Com o tempo, ela deteriorou-se”
(Souza, 2008).
Os primeiros 34 anos da história da cidade foram restritos a uma vida lenta, difícil e
paupérrima, dividida entre o Forte e a pequena vila (Cascudo, 1999). Isto devido ao interesse
28
puramente estratégico da posição da cidade para a coroa portuguesa. Talvez por esse motivo
é que são raros os registros cartográficos dessa época.
Esse abandono da terra recém-descoberta, para Lyra (1998), ocorreu em todo o Brasil
e “desafiou a cobiça dos aventureiros e especuladores”, o que resultou na ocupação
holandesa, em 1633, da cidade do Natal, que passou a se chamar Nova Amsterdã. O Forte
dos Reis Magos também recebeu nova denominação, sendo chamado de Fort Ceulen.
Durante o período de domínio holandês, que durou até 1654, surgiram os primeiros
mapas e pinturas que retratavam a cidade do Natal e, com maior destaque, o Forte. A Figura
2.1 mostra um dos primeiros registros desse tipo, que retrata a invasão militar do reino
holandês através do canal do Rio Potengi. A cartografia holandesa foi importante, portanto,
para retratar a cidade e, sobretudo, seu ambiente, como a figura mostra, com suas dunas, rios
e lagoas.
Figura 2.1 – Pintura de autor desconhecido retratando a invasão holandesa à Natal, cuja vila é retratada ao centro
e o Forte dos Reis Magos à esquerda. É possível observar também elementos naturais como dunas, rios e lagoas.
Fonte: Blog Natal de Ontem
Até o final do século XVIII, a cidade do Natal não presenciou muitas mudanças, a
não ser por uma pequena expansão de seu território, que passou a agregar o que hoje é o
bairro da Ribeira, e pela construção de novas três igrejas, a casa de Câmara e Cadeia e
algumas poucas casas. Cascudo (1999) aponta que esse período de morosidade no
desenvolvimento da cidade foi marcado também pela interiorização dos territórios e
desenvolvimento da agropecuária. A cidade tinha, então, menos de 6.000 habitantes.
29
Henry Koster, pesquisador português, realizou uma visita à Natal, no início do século
XIX e seu depoimento mostra o atraso do desenvolvimento da cidade:
“[...] se lugares como esse são chamados cidades, como seriam as vilas e
aldeias? [...] muitas aldeias, no Brasil mesmo, ultrapassam esta cidade. [...]
Consiste n’uma praça cercada de residências, tendo apenas o pavimento
térreo, as Igrejas que são três, o palácio, a Câmara e prisão. Três ruas
desembocam nesta quadra, mas elas não possuem senão algumas casas de
cada lado. A cidade não é calçada em parte alguma e anda-se sobre uma
areia solta, o que obrigou alguns habitantes a fazerem calçadas de tijolos
ante suas moradas” (Koster, 1942, p. 109-110).
Apesar do maior desenvolvimento urbanístico e econômico da cidade tenha se dado
apenas no século XX, ao final do século XIX, Natal já tinha hospital, cemitério, delegacia
fiscal e teatro. Começava então, a haver uma mudança radical na paisagem e na organização
da urbis. Natal agora já tinha mais de 10.000 habitantes (Cascudo, 1999).
2.1.2 Expansão no Século XX
O início de um novo século trouxe para Natal um novo debate sobre a organização
urbana. Nobre (2001) mostra que as primeiras intervenções estruturais na cidade foram
focadas na melhoria das condições higiênicas. A partir desse momento, a cidade passaria a
se preocupar com a proteção das matas próximas aos mananciais dos rios e fontes públicas,
além de melhorias nos edifícios utilizados para o abastecimento da população.
A cidade que até 1901 era formada apenas pelos bairros da Cidade Alta e Ribeira,
ganha novos arruamentos e limites (Figura 2.2), com a formalização do Bairro da Cidade
Nova, que corresponde atualmente aos bairros de Petrópolis e Tirol (Nobre, 2001).
30
A B
Figura 2.2 – Mapas mostrando a ocupação territorial da cidade do Natal, ao final do século XIX (A) e na
década de 1930 (B).
Fonte: Nobre, 2001 a partir de Miranda, 1999
Neste momento da história, inicia-se uma preocupação com as condições da
paisagem urbana. Procurando respeitar as características morfológicas do terreno, de seus
solos arenosos e dos corpos de dunas, além de promover a criação de áreas verdes. Começam
também os clamores por organização da estrutura da cidade e pelos serviços públicos.
Souza (2008) aponta que durante os primeiros 40 anos do século XX, a cidade do
Natal já havia sido estruturada em termos de água encanada, esgoto e de transporte urbano,
como bonde e ônibus (fFigura 2.3).
31
Figura 2.3 – Fotografia de 1943 mostrando os principais meios de transporte do início do século XX: bonde e
ônibus.
Foto: Jaeci Galvão
Com o tráfego mais intenso, começa-se o processo de calçamento das ruas e avenidas.
Até 1924, os blocos retirados de rochas encontradas na base de falésias (arenitos
ferruginosos), facilmente reconhecidos nas praias de Natal, é que serviam como
“empedramento” das ruas (Souza, 2008). Neste ano, porém, iniciou-se o calçamento com
paralelepípedos feitos em granitos (este proveniente da região de Macaíba).
A partir da II Guerra Mundial, a cidade passou um período de rápido crescimento, a
iluminação das vias passou a ser mais eficiente, os transportes mais regulares e as
correspondências entregues mais rapidamente.
Pode-se afirmar que o século XX também foi fundamental para que a população
nativa de Natal passasse a usufruir, de forma mais cotidiana, dos recursos naturais, em
termos de paisagem, que a região dispõe. Nesta época, a ocupação e usufruto das praias e
linhas de costa passaram a ser mais comuns. Com especial destaque para as praias do Meio,
Areia Preta (Figura 2.4), Forte, Redinha (Figura 2.5) e Ponta Negra, sendo as duas últimas
tipicamente usadas como locais de veraneio.
32
Figura 2.4 – Fotografia da primeira metade do século
XX mostrando a praia de Areia Preta urbanizada e o
Farol de Mãe Luísa ao fundo, sobre as dunas.
Foto: Jaeci Galvão
Figura 2.5 – Fotografia da primeira metade do século
XX da praia de Redinha, mostrando ao fundo o Forte
dos Reis Magos.
Foto: Jaeci Galvão
Nas últimas três décadas do século XX, o desenvolvimento da cidade atingiu níveis
avançados, que demandavam uma organização mais dinâmica e documentada dos espaços.
Assim, surgem os planos diretores da cidade, sendo o primeiro em 1974, que traz à luz a
necessidade da proteção à paisagem, enquanto beleza natural. No final da década de 1970 é
criada a Via Costeira, com enfoque na promoção do turismo na capital potiguar, numa região
que compreende importantes corpos dunares, falésias e praias da capital potiguar.
Em 1984, o segundo plano diretor para Natal é aprovado, e neste momento surge a
divisão das áreas do município para “fins de planejamento e controle de uso do solo” (Nobre,
2001). São assim instituídas as Áreas Urbanas, Áreas de Expansão Urbana, Áreas de
Preservação Permanente, Zonas Especiais de Interesse Turístico e Zonas de Preservação
Ambiental.
A cidade no final do século se mostra mais desenvolvida e tenta se organizar, ao
passo que nos seus 300 anos anteriores de história, teve seu crescimento muito restrito. É
neste momento que a cidade toma a forma e os limites atuais.
2.1.3 A cidade atual
Com o final de um período de 100 anos de intenso desenvolvimento e modificações
no espaço urbano, nos sistemas de serviços públicos e privados, assim como na relação da
população com o ambiente natural e sua morfologia, Natal adentra o século XXI como uma
cidade em que as mudanças urbanas são rápidas e constantes. A capital do Rio Grande do
Norte possui 803.739 habitantes (IBGE, 2011) e é uma das 20 maiores cidades do país.
33
A capital potiguar está inserida na chamada Região Metropolitana de Natal (RMN),
que é constituída, além de Natal, pelas cidades de Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do
Amarante, Extremoz, Ceará-Mirim, São José de Mipibú, Nísia Floresta, Monte Alegre, Vera
Cruz, Maxaranguape, Ielmo Marinho, Arês e Goianinha (Lei Complementar Nº 559/2015).
A área total da cidade é de 167, 234 km², dividida em 4 regiões administrativas (norte,
sul, leste e oeste) e 36 bairros, aonde existem 235.522 domicílios particulares permanentes
em condições normais de ocupação e 22.561 domicílios subnormais, em que as unidades
habitacionais são carentes de serviços públicos. Atualmente, a cidade do Natal possui 10
Zonas de Proteção Ambiental, 04 Zonas Especiais de Interesse Turístico, 04 Zonas Especiais
de Interesse Social e 01 Zona Especial de Interesse Histórico (Bentes e Trindade, 2008; Hora
e Medeiros, 2014).
Assim, pode-se afirmar que Natal é uma cidade grande, cidade dos grandes eventos,
cidade turística. Mas, ao mesmo tempo, com seu intenso desenvolvimento ao longo dos
últimos 100 anos, Natal é uma cidade desigual, assim como muitas cidades brasileiras.
2.2 GEOLOGIA
2.2.1 Regional
A cidade do Natal está localizada sobre uma região em que os estudos de geologia
são desenvolvidos há, pelo menos, 145 anos. Como um dos resultados da famosa expedição
de Louis Agassiz ao Brasil na segunda metade do século XIX, Hartt desenvolveu estudo
sobre a geologia e a geografia física do país, no qual apontava que a Província do Rio Grande
do Norte é:
“composta por gnaisses e outras rochas metamórficas, que formam no
interior um terreno alto, mais ou menos montanhoso [...]. Bordejando esse
terreno há uma considerável banda de rochas terciárias. Os terrenos
próximos ao mar são planos, arenosos, e frequentemente, como nas
proximidades de Natal, são cobertos por dunas de areia." (Hartt, 1870, p.
455).
Branner (1904) e Jenkins e Branner (1913) também descreveram a geologia do estado
e, principalmente, da região costeira do Rio Grande do Norte no início do século XX, aonde
se localiza a região de estudo deste trabalho.
34
Já Lyra (1924), descrevia a geologia do estado em dois grandes grupos: as rochas
antigas (Arqueano a Paleozoico), que seriam as rochas do embasamento cristalino, e as
rochas modernas (Fanerozoico), que seriam as rochas sedimentares. Sendo o predomínio das
rochas cristalinas, enquanto que a faixa estreita ao longo do litoral seria dominada pelos
sedimentos, litificados ou não.
Almeida et al. (1977), no clássico trabalho sobre as províncias estruturais brasileiras,
definem a região como uma das constituintes da Província Costeira (Figura 2.6), em especial
do segmento meridional da província. É representada por rochas sedimentares de idade
Cretácea, cobertas pelo Grupo Barreiras e por depósitos sedimentares, aluvionares a
litorâneos praiais. O embasamento cristalino da região é correlato ao domínio setentrional
da Província Borborema, também descrita por Almeida et al. (1977).
Figura 2.6 – Províncias Estruturais Brasileiras. Destaque em vermelho para a Província Costeira, onde está
localizada a área de estudo deste trabalho.
Fonte: Modificado de Almeida et al. (1977)
Apesar de, nos últimos 40 anos, o desenvolvimento de trabalhos na região costeira
oriental do Rio Grande do Norte ter sido intensificado, ainda faltam conclusões sobre o
domínio das bacias marginais nesta região. Alguns autores colocam que a Bacia Potiguar se
estenderia até o limite do estado com a Paraíba, desta forma, a cidade do Natal estaria
compreendida nesta bacia.
35
Entretanto, Vital et al. (2006) indicam que no setor oriental da costa potiguar está
localizado o contato entre as Bacias Potiguar e Pernambuco-Paraíba. Mas esse contato ainda
não está bem definido na literatura, o que gera, muitas vezes, dubiedades nas descrições
geológicas dessa faixa sedimentar.
Córdoba et al. (2007) e Pessoa Neto et al. (2007) concordam que o Alto de Touros,
no extremo nordeste do estado, é o limite entre a Bacia Potiguar e a Bacia Pernambuco-
Paraíba. Já Barbosa et al. (2007) coloca que a região pertence à sub-bacia de Natal e constitui
a Plataforma de Natal.
Devido a essa problemática, preferiu-se utilizar neste trabalho a descrição de
Córdoba et al. (2007), identificando essa região como correlata à Bacia Pernambuco-
Paraíba, assim como fizeram Almeida et al. (2015), em recente trabalho na cidade do Natal.
O limite sul da referida bacia é o Alto de Maragogi.
Assim, tem-se que a Bacia Pernambuco-Paraíba é uma bacia do tipo rifte, subdividida
em duas Supersequências, uma Rifte e outra Drifte. Sua formação está associada ao evento
de rifteamento do Atlântico Sul, que culminou com a abertura final do Oceano Atlântico e
separação dos continentes Africano e Sul-Americano, ainda no processo de ruptura do
supercontinente Gondwana, no final do Aptiano. A Figura 2.7 mostra uma reconstrução
anterior à ruptura final do Atlântico Sul, há aproximadamente 124 Ma, na qual há um
destaque para a posição das bacias Potiguar e Pernambuco-Paraíba.
Figura 2.7 – Reconstrução pré-drift das bacias sedimentares na porção nordeste da América do Sul e suas
correlatas na África, com destaque para as Bacias Potiguar (amarelo) e Pernambuco-Paraíba (vermelho).
Fonte: Modificado de Mohriak, 2003
36
A bacia Pernambuco-Paraíba apresenta um alinhamento estrutural E-W significativo
que é responsável pelo controle tectônico das bacias mesozoicas (Mohriak, 2003). É
capeada, principalmente, nas partes mais proximais, por sedimentos de leques aluviais e
fluviais do Grupo Barreiras.
Admite-se a compartimentação da bacia em duas: bacia Pernambuco a sul e bacia
Paraíba a norte, que é o domínio da região de Natal, como mostra o trabalho de Barbosa e
Lima Filho (2005). O controle estrutural em ambas é semelhante e o marco divisor entre as
duas é a Zona de Cisalhamento Pernambuco.
2.2.2 Local
Especificamente na área de estudo deste trabalho, são aflorantes apenas sedimentos
e rochas sedimentares do Cenozoico. As descrições feitas para os pacotes sedimentares neste
trabalho se baseiam no Mapa Geológico do Rio Grande do Norte (Angelim et al., 2006) e
na Folha Natal (Fonseca et al., 2012), esta última realizada pelo Serviço Geológico do Brasil
(CPRM) em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O mapa da Figura 2.8 mostra os limites entre Natal e suas cidades vizinhas, assim
como enfoca na geologia local. A seguir, são feitas descrições das unidades encontradas na
região deste estudo.
Grupo Barreiras
A definição do Barreiras como grupo ou formação ainda não está concluída pela
literatura. Nos primórdios de suas descrições, era tratado como série e, apesar de a tendência
dos trabalhos mais recentes utilizar a nomenclatura formação, ainda são carentes os trabalhos
conclusivos que, de forma geral e definitiva, forneçam dados suficientes, de estratigrafia,
deposição e geocronologia, para a definição sobre a denominação litoestratigráfica para o
Barreiras (Moura-Fé, 2014). Entretanto, uma vez que Fonseca et al. (2012) tratam deste
depósito siliciclástico como Grupo, essa nomenclatura foi aqui adotada.
37
Figura 2.8 – Mapa geológico da cidade do Natal.
Fonte: Modificado de Fonseca et al., 2012
38
O Grupo Barreiras foi identificado, primeiramente, como uma cobertura posta sobre
o embasamento Pré-Cambriano. Tem idade correlata ao Paleogeno/Neogeno. Esta datação,
contudo, é duvidosa, devido ao conteúdo afossilífero do Barreiras (Nunes et al., 2011). É um
grupo identificado ao longo do litoral e regiões costeiras do Brasil, desde o Amazonas até o
Rio de Janeiro.
No Rio Grande do Norte, o Grupo Barreiras ocorre em boa parte do litoral como
elemento constituinte das falésias litorâneas, principalmente sob a forma de tabuleiros
costeiros.
É constituído, principalmente, por conglomerados e arenitos conglomeráticos,
podendo ser encontrados também arenitos médios a finos e argilitos, depositados em
ambientes de sistemas fluviais entrelaçados ou transicionais para leques aluviais (Angelim
et al., 2006).
A distinção das rochas deste grupo é facilitada pela sua coloração avermelhada, com
cimentação ferruginosa e fraca diagênese. Alguns horizontes podem apresentar oxi-redução.
Na cidade do Natal, o Grupo Barreiras é encontrado nas falésias da Via Costeira
(Figura 2.9), nas praias de Ponta Negra e Areia Preta, principalmente, e na praia da Redinha.
Figura 2.9 – Falésia do Grupo Barreiras na região da Via Costeira, em frente ao hotel Marsol.
Foto: Matheus Lisboa
39
Depósitos Aluvionares Antigos
É formado pelos terraços fluviais de vales antigos, em que são encontrados arenitos
conglomeráticos com seixos de quartzo e fragmentos de rochas. Ocorrem subordinadamente
arenitos médios e sedimentos argilo-arenosos, em que se identifica fraca diagênese e
estruturas de paleossismicidade.
A ocorrência deste tipo de depósito é bastante restrita na cidade do Natal, ocorrendo
apenas em uma pequena porção na divisa da cidade com Macaíba.
Depósitos Marinho e Continentais
Ocorre de forma restrita na área de estudo, no limite noroeste da cidade do Natal, em
contato com os depósitos aluvionares do rio Guajiru, município de São Gonçalo do
Amarante. É composto por arenitos médios a finos, dispostos sobre depósitos aluvionares
antigos. Podem ser identificadas concreções ferruginosos retrabalhadas a partir de um
paleossolo laterítico.
Depósitos Arenosos e Areno-Argilosos
Este tipo de depósito é mais comum na zona norte da cidade do Natal. É constituída
por coberturas de sedimentos arenosos a areno-argilosos inconsolidados, nos quais a
granulometria dos grãos varia de média a grossa. Podem ter coloração variando de
esbranquiçada a avermelhada. De forma local, podem ser descritos fragmentos de quartzo
ou arenitos remobilizados.
Depósitos Flúvio-Marinhos
Este tipo de depósito é reconhecido, principalmente, como os depósitos dos
manguezais (Figura 2.10), mas também compreende os depósitos de planícies de maré.
Ocorre em boa parte do litoral potiguar, mas na cidade do Natal está restrito às margens do
canal do Rio Potengi.
É constituído por areias finas, siltes e argilas com laminação fina, cuja composição é
rica em carbonato e matéria orgânica, viva e biodetrítica. A presença de bioturbações é
comum, devido à presença de crustáceos e moluscos neste tipo de ambiente.
40
Figura 2.10 – Imagem de satélite com destaque para um dos depósitos de mangue na cidade do Natal.
Fonte: Google Earth
Depósitos Aluvionares de Canal
Ocorrem ao longo dos canais dos rios, sendo constituídos por areias quartzosas
médias a grossas, ocasionalmente conglomeráticas, por vezes apresentando estratificações
cruzadas e intercalações com sedimentos sílticos-argilosos.
Depósitos Eólicos Litorâneos Vegetados
Um dos depósitos típicos do Quaternário, é representado, principalmente, pelas
dunas fixas, ou paleodunas. É formado, principalmente, pela ação do vento, cuja velocidade
de transporte costuma variar ao longo do dia, das estações e dos anos, através dos processos
de tração, saltação e suspensão subaérea.
Os sedimentos deste tipo de depósito são compostos por areias quartzosas bem
selecionadas, de cor avermelhada, devido às películas de óxido de ferro que costumam
capear os grãos, a amarronzada, pela presença de matéria orgânica. Formam dunas tipo
residuais ou lençóis arenosos. São fixadas por uma cobertura vegetal (Figura 2.11).
41
Figura 2.11 – Fotografia mostrando um típico depósito eólico litorâneo vegetado na região da praia de Genipabu.
Foto: Matheus Lisboa
Na cidade do Natal, há um domínio maciço deste tipo de depósito, apesar de a maior
parte ter sido suprimida pela ocupação antrópica ao longo da história da cidade, que se
estabeleceu justamente sobre as antigas dunas da região.
Depósitos Eólicos Litorâneos Não-Vegetados
As dunas móveis constituem esse depósito, são formadas por areias quartzosas finas
a médias, de coloração esbranquiçada. Formam diversos tipos de dunas, como frontais,
barcanoides e parabólicas. Possuem pouca vegetação, mas pode haver uma transição para
dunas fixas, a depender da ocorrência de obstáculos para o transporte dos sedimentos, o que
pode também favorecer o estabelecimento de espécimes vegetais que auxiliem a fixação da
duna.
O contato entre os depósitos não-vegetados com os vegetados se dá de forma abrupta,
com a mudança de textura, coloração e formas das dunas.
Depósitos Litorâneos Praiais
Compreendem as areias quartzosas de grãos finos a muito grossos, depositadas em
faixas estreitas, paralelas à linha de costa. Podem ser encontrados bioclastos e, localmente,
minerais pesados.
42
É formado, nas planícies costeiras, em zonas de intermaré (Figura 2.12), pela ação
de processos de tração subaquosa. Estruturas como marcas de onda simétricas e assimétricas
são comuns, assim como bioturbações. Na cidade do Natal é um depósito muito comum e
está presente em toda a linha de costa, ao longo das faixas de praia da cidade.
Figura 2.12 – Foto da região litorânea da Via Costeira, em Natal. Toda a faixa intermaré, vista na fotografia como
uma faixa plana, corresponde aos depósitos litorâneos praiais.
Foto: Matheus Lisboa
Recifes Arenosos
Em 1904, John Casper Branner já havia mapeado os “recifes de pedra” da capital
potiguar, que são comuns ao longo de toda a zona costeira do Rio Grande do Norte, dispostos
paralelamente à linha de costa.
Os arrecifes são constituídos de rochas conhecidas como arenitos de praia (ou
beachrocks), nos quais vários cristais de quartzo, de granulometrias semelhantes ou não são
unidos através de um elemento químico que é chamado de cimento.
No caso das rochas encontradas no litoral natalense, a cimentação é feita por
carbonato de cálcio, precipitados pela ação de água marinha, com alguma participação de
água doce (Cabral Neto et al., 2014) A granulometria varia de média a grossa e há presença
de bioclastos, sobretudo de algas. Percebe-se uma orientação N-S de forma geral nos corpos
de arenitos encontrados no litoral natalense (Figura 2.13).
43
Figura 2.13 – Fotografia da região entre as praias do Forte e Artistas mostrando o alinhamento dos corpos de
arenitos praiais (setas vermelhas), de direção N-S, paralelos à linha de costa, na cidade do Natal.
Foto: Matheus Lisboa
Esses corpos, que apresentam-se, por vezes, como duas faixas paralelas foram
datados por Barreto et al. (2004) como tendo, aproximadamente, 4.000 e 9.000 anos de
formação, para cada uma das faixas.
44
2.3 GEOMORFOLOGIA
Dantas e Ferreira (2010) mostram que os principais padrões regionais de relevo da
região costeira onde se situa Natal são os campos de dunas, as planícies flúvio-marinhas e
os tabuleiros costeiros.
Destes, as dunas apresentam-se sobrepondo os tabuleiros costeiros, formados por
rochas sedimentares terciárias correlatas ao Grupo Barreiras. Já as planícies flúvio-marinhas
correspondem aos manguezais e encontrados em algumas das principais cidades potiguares.
Melo (2013) indica que as feições geomorfológicas que estão presentes na capital
potiguar são: corpos d’água, planície de inundação fluvial, planície flúvio-marinha, praias,
tabuleiros costeiros e dunas, fixas e móveis, sendo esta última feição dominante na paisagem
local.
Muitas dessas feições foram modificadas pela ocupação urbana no município, que
provocaram descaracterização de campos de dunas, aterramento da planície estuarina,
alterações da rede de drenagem, redesenhando bacias hidrográficas (Melo, 2013).
A seguir, são feitas descrições sucintas das principais feições geomorfológicas
encontradas na cidade do Natal.
Praias
São constituídas por faixas arenosas, com inclinações suaves para o oceano. Devido
à constante ação de ventos e da maré, as formas das praias não são estáveis. Na cidade do
Natal, ocorrem em toda a faixa litorânea, entre as praias de Ponta Negra e Redinha.
Tabuleiros Costeiros
Consistem em uma faixa sedimentar próxima ao litoral cuja superfície é irregular,
ondulada e sub-horizontal, de forma tabular, tem altura variada e tem ocorrência comum ao
longo de todo o litoral brasileiro. É dividido em duas classes: Tabuleiro Costeiro de
Superfície Erosiva e Tabuleiro Costeiro de Superfície Pediplanada (Pereira e Cestaro, 2012).
Os Tabuleiros Costeiros de Superfície Erosiva são representados pelas falésias e
paleofalésias, próximas ao litoral, enquanto que os de Superfície Pediplanada servem de
45
suporte para o desenvolvimento dos campos de dunas. Em Natal, esse tipo de feição
geomorfológica é facilmente encontrada ao longo da Via Costeira.
Corpos d’Água
Os principais corpos d’água que ocorrem na região são os rios, sendo os principais o
Rio Potengi, Rio Pitimbu e Rio Doce, e as lagoas interiores, cuja formação foi favorecida
pelas depressões interdunares presentes na morfologia do relevo da cidade e estão associadas
também ao aquífero Dunas/Barreiras. As principais lagoas são: Manoel Felipe, Jacob,
Campina e Pirangi/Jundiaí.
Planícies Flúvio-Marinhas
São encontradas ao longo do estuário do Rio Potengi, na cidade do Natal, e também
recebem a denominação de manguezais. São habitats de espécies de crustáceos e moluscos,
principalmente, que encontram nas argilas do mangue proteção para seu desenvolvimento e
reprodução.
Planície de Inundação Fluvial
Região que apresenta relação direta com os canais fluviais, sendo localizada nos
limites de transbordamento dos rios, desenvolvendo-se sobre terrenos aluvionares. No
momento em que a vazão do rio supera a capacidade do canal, as planícies são inundadas.
Na cidade, esse tipo de terreno é encontrado, principalmente, ao longo do Rio Pitimbu,
Dunas
Em relação a geomorfologia da cidade do Natal, a feição de maior destaque na
paisagem e facilmente identificada na região são os corpos dunares, fixos e móveis. As dunas
recobrem boa parte do terreno em que a cidade está estabelecida, emoldurando seus limites
e sendo percebidas em todas as regiões administrativas locais, protegidas, principalmente,
por 10 Zonas de Proteção Ambiental. A Figura 2.14 comprova essas afirmações, mostrando,
no horizonte e no lado esquerdo da foto, corpos de dunas na cidade do Natal a partir do
Memorial da Cidade.
46
Figura 2.14 – Fotografia mostrando em destaque os corpos de dunas que se destacam na paisagem da cidade do
Natal. Em transparência amarela, Parque da Cidade; nas setas vermelhas, Parque das Dunas.
Foto: Matheus Lisboa
Em Natal, as dunas mostram uma direção preferencial SE-NW e podem atingir até
100m de altura. As principais formas apresentadas pelos corpos dunares na cidade são:
cadeias barcanoides, dunas frontais, dunas móveis e dunas parabólicas (Melo, 2013).
47
48
3. REVISÃO SOBRE GEODIVERSIDADE
A geodiversidade está constituída, neste trabalho, como o principal ponto de
investigação e pesquisa na área de estudo. A identificação, análise e classificação dos
recursos que constituem a geodiversidade in situ e ex situ na cidade do Natal são, como já
foi elucidado anteriormente, as metas fundamentais do desenvolvimento das atividades.
Dessa forma, precisa-se, inicialmente, conceitualizar a geodiversidade como
fundamentação teórica para as descrições feitas nos capítulos que seguem. Assim, este
capítulo foca na definição dos conceitos essenciais, valores da geodiversidade, também
definindo um modelo de classificação para a geodiversidade a partir da literatura, com
adaptações para a realidade local de estudo. Apresenta também as principais ameaças que
afetam diariamente a geodiversidade no planeta e faz-se uma adição sobre as principais
ações, projetos e trabalhos realizados no Brasil com enfoque na geodiversidade nos centros
urbanos.
3.1 DEFINIÇÃO
A geodiversidade é representada por todos os elementos abióticos que constituem o
Planeta Terra, compreendendo minerais, rochas, fósseis, solos, paisagens, entre outros. Por
se tratar de um termo recente, utilizado apenas a partir da década de 1990, a geodiversidade
é, ainda, desconhecida do grande público leigo, mas vem sendo desenvolvida em todo o
planeta, principalmente, por geólogos e geógrafos interessados na área.
Murray Gray, pesquisador britânico e autor do primeiro livro sobre o tema, publicado
apenas em 2004, definia a geodiversidade como:
“a variedade natural (diversidade) de elementos geológicos (rochas,
minerais, fósseis), geomorfológicos (formas de relevo, processos físicos) e
do solo. Isso inclui suas assembleias, relações, propriedades, interpretações
e sistemas” (Gray, 2004, p. 8).
Com o maior desenvolvimento da literatura sobre a geodiversidade e o entendimento
sobre a importância dos seus elementos na construção das paisagens, novos conceitos foram
adicionados, indicando também os processos hidrológicos e hidrogeológicos como
componentes da diversidade abiótica do planeta. Assim, Gray também modificou seu
entendimento, definindo agora geodiversidade como:
49
“a variedade natural (diversidade) de elementos geológicos (rochas,
minerais, fósseis), geomorfológicos (formas de relevo, topografia,
processos físicos), do solo e hidrológicos. Isso inclui suas assembleias,
estruturas, sistemas e contribuições para as paisagens” (Gray, 2013, p. 12).
Esse entendimento parece ser generalizado pelos autores especializados e é neste
trabalho tomado como conceito fundamental.
Apesar de ser um conceito novo, os recursos da geodiversidade estão presentes em
toda a dimensão do planeta, tendo, ao longo da história, importância no desenvolvimento da
biodiversidade e até mesmo do homem.
Brilha (2005) mostra que a evolução das civilizações, sociedades e comunidades ao
redor do mundo, esteve condicionada à geodiversidade local em que cada uma se instalou,
influenciando a disponibilidade de locais de abrigo e para obras de estruturas de moradias e
de defesa, como também o modo e material de construção:
“O patrimônio construído é um excelente 'espelho' da geodiversidade local.
As construções utilizam, da melhor forma, as rochas que afloram na região.
Uma observação atenta às casas e muros tradicionais é quanto basta para
se ficar com uma ideia genérica dos tipos de rochas que afloram na zona”
(Brilha, 2005, p. 18).
Galopim de Carvalho (2007) corrobora com este pensamento, indicando que o gênio
humano foi o responsável por dar utilidade à geodiversidade, desde os primórdios da Idade
da Pedra, quando o sílex era utilizado para caça, até os dias atuais, em que muitas das mais
de 3500 espécies minerais são empregadas nos mais diversos usos pela sociedade.
Disto, tem-se a relação da vida humana com a geodiversidade, uma vez que as
condições físicas dos terrenos foram, e ainda são, fundamentais para o estabelecimento das
cidades, unidade macro das sociedades modernas.
A geodiversidade também possui um paralelo com a biodiversidade uma vez que a
biota do planeta depende de condições abióticas indispensáveis para que essa seja
estabelecida e desenvolvida. É possível afirmar, portanto, que a biodiversidade é
condicionada pelos processos abióticos vigentes (Brilha, 2005).
Uma vez que a história da Terra possui 4,5 bilhões de anos de desenvolvimento, esta
também é a idade de desenvolvimento da geodiversidade, tendo épocas de fundamental
importância, como o início da formação da crosta com o resfriamento da Terra há 4 Ga, a
formação dos crátons há 2,7 Ga, ou dos rios primórdios há 3,8 Ga. Apesar de a distribuição
50
dos continentes como se conhece atualmente ter se estabelecido há cerca de 150 Ma (Gray,
2013), ainda no Quaternário observa-se constantes mudanças na geodiversidade.
Enquanto isso, a biodiversidade, experimentou, ao longo do tempo geológico,
diversos momentos de evolução e extinção, com registros significantes no início do
Proterozoico de organismos multicelulares, sendo sua expansão mais proeminente,
entretanto, iniciada apenas há 600 milhões de anos. A figura 3.1 mostra um comparativo da
evolução da biodiversidade com a da geodiversidade.
Figura 3.1 – Comparativo teórico da evolução da biodiversidade (linha vermelha) com a da geodiversidade (linha
azul). A rápida expansão da geodiversidade em 3 Ga está relacionada com o desenvolvimento da crosta
continental.
Fonte: Modificado de Gray (2013)
Medeiros et al. (2013) a partir de análises da terminologia da geodiversidade em si,
afirmam que “a Terra é um organismo vivo que se caracteriza pelas inúmeras alterações
sofridas ao longo de vários anos em uma escala geológica de tempo”. Estas alterações estão
ligadas aos diversos processos ocorrentes na superfície e no interior terrestre, que acabaram
refletindo no desenvolvimento até dos seres vivos e suas condições de vida, habitat e
reprodução.
Os estudos da geodiversidade são fundamentais nas pesquisas sobre a constante
dinâmica dos parâmetros de mudanças climáticas globais, funcionando como ponte entre as
alterações já ocorridas ao longo do tempo geológico e as que estão em curso atualmente.
Conclui-se, portanto, que a geodiversidade é representada por recursos importantes
para a vida no planeta, desenvolvidos ao longo de toda a história da Terra e em constante
evolução.
51
3.2 VALORES
Um dos principais enfoques da aplicação dos conceitos da geodiversidade é a
conservação da natureza, em suas características abióticas, de forma a promover um
consumo sustentável dos recursos naturais.
Uma vez que as ações de proteção do meio ambiente estão vinculadas à definição de
valores que hierarquizem os lugares de maior necessidade de proteção, seja por serem
lugares de extrema beleza ou por terem importância para os ecossistemas locais ou mundiais,
os locais em que a geodiversidade está presente também tem valores que precisam ser
definidos pelas pessoas que trabalham com tal enfoque.
O processo de inventariação da geodiversidade de um lugar precisa, como indica
Brilha (2005), que os valores e interesse que o local possa despertar, por suas características
abióticas, fundamentem a sua necessidade de conservação.
Essa conservação possui importância, ao passo em que a geodiversidade contém
informações sobre o passado e presente da Terra, também possibilitando, através das análises
de inter-relações ambientais naturais ou com viés na ação antrópica, interpretações sobre o
estado futuro de um ambiente localizado.
A conservação da geodiversidade recebe uma terminologia própria, que será
discutida adiante neste capítulo – a geoconservação.
A definição de valores da geodiversidade de um lugar, ou valoração, começou a ser
pensada no começo dos anos 2000 por trabalhos como o de Gray (2004). Esse autor,
trabalhava com a definição de 6 valores e 32 subvalores, baseando-se em trabalhos anteriores
que determinavam valores para a natureza, mas que omitiam o papel importante do meio
físico. A figura 3.2 mostra um esquema elaborado para os valores apresentados por Gray
(2004).
52
Figura 3.2 – Valores e subvalores da geodiversidade sensu Murray Gray.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Gray (2004)
A proposta de valores para a geodiversidade apresentada por Gray (2004) é muito
utilizada em todo o mundo, com exemplos no Brasil nos trabalhos de Pereira (2010) e
Mochiutti et al. (2011, 2012). Contudo, uma nova abordagem baseada nos serviços do
ecossistema tem sido empregada na conservação da natureza ao longo da última década.
Fisher et al. (2009) definem serviços do ecossistema como os “aspectos do
ecossistema utilizados (ativamente ou passivamente) para produzir o bem-estar humano”.
Os mesmos autores mostram que a classificação mais utilizada para os serviços do
ecossistema é a criada pela Millenium Ecosystem Assessment (MA), que divide os serviços
em serviços de provisão, regulação, culturais e de suporte.
53
A Millenium Ecosystem Assessment (Avaliação Ecossistêmica do Milênio, em
português) foi uma ação interinstitucional, que reuniu mais de 1300 cientistas de todo o
mundo para analisar, entre os anos de 2001 e 2005, as “consequências das mudanças no
ecossistema para o bem-estar humano e estabeleceu bases científicas para as ações
necessárias de conservação e uso sustentável dos ecossistemas” (Hassan et al., 2005).
Entretanto, essa mesma ação define ecossistema como: “um complexo dinâmico de
comunidades de plantas, animais e microrganismos e a interação com o ambiente não vivo”
(Hassan et al., 2005). Ou seja, houve pouca preocupação com o meio abiótico, que também
constitui um importante componente dos ecossistemas, é aquele que fornece, por exemplo,
habitat para todos os seres vivos do planeta. Da mesma forma, a geodiversidade, apesar de
que à época já constituía um termo em amplo desenvolvimento na ciência, não fora citada
em nenhum dos cinco volumes produzidos, como também não consta dos glossários das
publicações (Gray, 2013).
Assim, ao mesmo tempo em que utiliza o planeta Terra em forma de casa como
logomarca oficial, a Avaliação Ecossistêmica do Milênio deixou de avaliar o habitat, a casa
de todos, que é a geodiversidade do planeta.
Atualmente, de forma atenta às constantes mudanças no entendimento da Terra, suas
espécies e interações, a comunidade científica compreende melhor a importância do
ambiente abiótico para o estabelecimento, manutenção e desenvolvimento da vida. Ellis
(2014) indica, então, que ecossistema inclui:
“organismos vivos, matéria orgânica morta produzida por eles, assim como
o ambiente abiótico no qual os organismos vivem e trocam elementos
(solos, água, atmosfera), e as interações entre esses componentes”.
Hjort et al. (2015) mostram que a importância da geodiversidade para os serviços
ecossistêmicos se dá não somente porque o meio abiótico é o habitat dos seres bióticos, mas
também porque é responsável pela disponibilização de água doce, pela manutenção da
qualidade da água e ar, pela formação dos solos e pela reciclagem de nutrientes para a
produção de comida. Além disso, muitos bens considerados não renováveis, mas de
fundamental importância para a vida humana e de muitos seres vivos, também são produtos
da geodiversidade, como minerais, agregados e combustíveis fósseis.
As discussões sobre a aplicabilidade dos serviços ecossistêmicos nos estudos da
geodiversidade se estabeleceram então, durante a última década, estando alguns pontos
54
pendentes de esclarecimento e conclusão na literatura especializada. Alguns autores, porém,
já sinalizaram com adequações para englobar o meio abiótico na caracterização dos serviços,
tornando-os mais abrangentes na avaliação dos ecossistemas locais e globais.
Gray (2013), seguindo esse pensamento, atualizou sua definição de valores para a
geodiversidade com enfoque nos serviços do ecossistema abiótico, a partir dos serviços do
ecossistema definidos pela MA, mesmo tecendo críticas ao modelo apresentado e indicando
que uma terminologia mais aprofundada, como “serviços naturais”, “serviços ambientais”
ou “serviços do sistema Terra” seriam mais adequados para que todos os componentes da
natureza, bióticos e abióticos, estivessem integrados nas avaliações a serem feitas.
Disto, tem-se que a classificação atual do autor define 1 valor maior, chamado de
intrínseco, 5 serviços, de provisão, regulação, culturais e de suporte, a partir da classificação
da MA, sendo adicionado um serviço, o de conhecimento. 25 bens e processos derivados da
geodiversidade são relacionados por ele a esses serviços.
Nos itens que seguem, faz-se um detalhamento de cada valor e serviço definido por
Gray (2013), com exemplificação dos bens e processos relacionados a cada serviço. Ao final,
é apresentado um esquema simplificado, criado para este trabalho, com a nova abordagem
do autor na valoração da geodiversidade.
Uma vez que esse novo sistema de valores e serviços condiz com à abordagem para
as avaliações dos ecossistemas, será ele o utilizado nos capítulos que seguem para a
valoração dos locais de geodiversidade inventariados na cidade do Natal.
3.2.1 Valor Intrínseco
Também conhecido como valor de existência, representa uma caracterização ética e
filosófica da geodiversidade: “algumas coisas são de valor simplesmente pelo que elas são,
mais do que pela finalidade que elas podem ter para o ser humano” (Gray, 2013).
É, em suma, o valor que toda a geodiversidade possui, uma vez que sua simples
existência possibilita a relação da sociedade com a natureza, independente de qual relação é
estabelecida entre esses atores.
Considerado um resultado da corrente ecocêntrica, que valoriza relações não-
extrativas nas relações antrópicas com o meio ambiente, o valor intrínseco é utilizado na
literatura para caracterizar a diversidade de minerais, rochas, solos, rios, etc.
55
Alguns autores consideram este valor como superficial e que não auxilia na
hierarquização dos locais de geodiversidade. Outros afirmam que, uma vez que ética e crença
variam entre as diversas sociedades, o valor intrínseco não existiria a depender da qual
corrente a comunidade local seguisse, uma vez que a natureza é endeusada por algumas
culturas e subjugada por outras.
Entretanto, Gray (2013) coloca o valor intrínseco como um componente dos valores
geocientíficos da diversidade abiótica do planeta, uma vez que está disponível para o homem
avaliar e valorar. Assim, a geodiversidade tem um valor agregado a ela simplesmente porque
existe!
3.2.2 Serviços de Regulação
Os serviços de regulação da geodiversidade compreendem os processos que têm por
finalidade o controle natural das condições ambientais, seja do ar, da água e dos solos.
Controla a disponibilização destes recursos, sua quantidade e qualidade.
Compreende processos naturais englobados em 4 grupos, descritos abaixo.
Processos atmosféricos e oceânicos
São todos os processos que influenciam as condições da atmosfera e dos oceanos,
disponibilizando recursos para o surgimento e desenvolvimento, por exemplo, da vida no
planeta. Estão englobados os movimentos de circulação da água nos oceanos, assim como o
ciclo hidrológico e a química atmosférica, representada, por exemplo, pela camada de ozônio
e pelos elementos dispersos na atmosfera, como CO2, H2O e O2.
Processos terrestres
O ciclo do carbono é tido como um processo terrestre de regulação, no qual
combustíveis fosseis, rochas carbonáticas, atividade vulcânica e o intemperismo são
elementos importantes de lixiviação, liberação e precipitação de íons de carbono.
Também neste processo está contido o ciclo das rochas, que é responsável por uma
constante renovação das características litológicas da crosta terrestre, ao longo do tempo
geológico.
56
A modelagem da paisagem pelos processos geomorfológicos também consta dos
serviços de regulação.
Controle de inundação e alagamentos
Quando um intenso fluxo de água pluvial atinge a superfície da Terra, solos e
sedimentos da subsuperfície são responsáveis por deslocar, superficialmente ou através dos
poros no subsolo, a água para os canais dos rios, reduzindo o risco à inundação.
A inundação em áreas costeiras também é atenuada pela proteção de componentes
geológico-geomorfológicos como ilhas barreiras, salinas e cascalhos em praias.
Qualidade da água
Solos, sedimentos e rochas são responsáveis por processos de controle de qualidade
da água, uma vez que as estruturas formadas por esses componentes da natureza abiótica
constituem filtros que diminuem, por exemplo, a susceptibilidade do lençol freático à
poluição, regulando também a qualidade das águas superficiais.
3.2.3 Serviços de Suporte
Os serviços de suporte são aqueles em que a geodiversidade dispõe de recursos para
o desenvolvimento de atividades do ser humano ou da própria natureza, e que dependam
diretamente dos solos e rochas para serem realizadas. Compreende a disponibilização de
recursos para algumas atividades do homem e da biota do planeta.
Processos do solo
O desenvolvimento do solo a partir do intemperismo das rochas e do
desenvolvimento dos diferentes perfis pedológicos definem características diferenciadas ao
meio, que permite que ele seja usado, por exemplo, pelo ser humano para agricultura e
vinicultura. O solo também é fundamental para o estabelecimento de florestas, que, por
consequência de seu estabelecimento, previnem a erosão do solo em áreas de alta
pluviosidade.
57
Disponibilização de habitat
Diversas espécies de animais e vegetais utilizam aspectos abióticos de um local,
como as rochas, para estabelecer seu habitat (Figura 3.3). Há registros, ainda nos dias atuais,
de comunidades humanas que vivem dentro de cavernas da Ásia. Disto, tem-se a importância
da geodiversidade como suporte para o desenvolvimento da biodiversidade.
Figura 3.3 – Espécime de cacto que utiliza o xisto como habitat, representando a importância da geodiversidade
como um serviço de suporte.
Foto: Matheus Lisboa
Plataforma
A geodiversidade também é uma fundamental plataforma para a construção de
estruturas, sobretudo pelo ser humano. A depender das características do local em que deseja
erguer um prédio, por exemplo, serão necessárias fundações mais desenvolvidas, para as
quais também serão requeridos blocos de rochas.
Sepultamento e armazenamento
Os recursos da geodiversidade são utilizados, há muitos séculos, como meios de
sepultamento humano. A exemplo disto são as covas feitas, ainda hoje no interior brasileiro,
diretamente no solo. Contudo, também podem ser usados para o armazenamento de lixo
comum (aterros sanitários cavados na terra) e de lixo radioativo. A disponibilização de
combustíveis fósseis só é possível devido a existência de rochas porosas conhecidas como
58
reservatórios, outro exemplo da importância da geodiversidade como um serviço de suporte
ao armazenamento.
3.2.4 Serviços de Provisão
Este tipo de serviço da geodiversidade é responsável por disponibilizar bens
materiais para as sociedades humanas, é o de mais fácil compreensão porque, na maioria dos
casos, possui um valor monetário associado ao bem, que passa a ser tratado como produto.
Compreende 7 bens que são descritos abaixo.
Alimentação e bebida
Como já foi visto anteriormente, as rochas e solos são fundamentais para o controle
da qualidade da água, isto se reflete na disponibilidade de água doce, própria para consumo
humano, que são localizados em aquíferos subterrâneos, rios, lagos e geleiras.
Ao passo em que a maior parte da comida utilizada pelo ser humano é de natureza
biótica, há elementos na alimentação que são de natureza abiótica e, assim, podem ser
classificados como serviços de provisão da geodiversidade. É o caso do sal marinho,
produzido em larga em escala no Rio Grande do Norte, e do sal mineral extraído nas minas
de sal de Sergipe e da Europa.
Nutrientes e minerais para crescimento saudável
Alguns recursos minerais são utilizados na composição de medicamentos, como a
mistura de caulim com morfina para o tratamento de diarreia e indigestão. Elementos
químicos como nitrogênio, fósforo, magnésio e enxofre também são utilizados no tratamento
de saúde de homens, animais e plantas. A fonte destes elementos reside nos minerais
encontrados na crosta terrestre, que são extraídos e beneficiados para terem tal uso.
Combustíveis minerais
A maior parte da energia elétrica ou motora que move o cotidiano da sociedade
humana provém da geodiversidade, como carvão mineral, turfa, petróleo e urânio. Ambos
59
têm um forte valor monetário associado, regidos como commodities nas bolsas de valores de
todo o mundo.
Materiais de construção
Há uma grande variedade de materiais geológicos usados na construção civil como
materiais de construção. Devido às diversas características, sobretudo de solos e rochas, os
materiais de construção são classificados, segundo Gray (2013) em:
Pedra de construção: blocos usados na construção de paredes, pisos, telhados ou
na ornamentação e revestimento;
Agregados: sedimentos ou brita usados, principalmente, na fabricação de
concreto;
Calcário: usado na fabricação de cimento;
Argila: usado na fabricação de tijolos e telhas;
Gipsita: usado na fabricação de gesso;
Areia: usado na fabricação de vidro;
Produtos vulcânicos;
Betume: usado na fabricação de asfalto.
Minerais industriais e metálicos
A variedade de minerais utilizados na indústria é considerável, todos decorrentes de
processos de mineralizações diversos, extraídos em depósitos de minerais metálicos, tais
como Terras Raras, cobre, ouro, platinóides, entre outros.
Gemas (ou produtos ornamentais)
Provavelmente, um dos recursos da geodiversidade de maior expressão monetária, as
gemas podem variar, em uma mesma família de minerais, por suas características de cores,
brilho, pureza e dureza. Seu uso é diverso, mas é mais evidente na confecção de joias e
ornamentos.
60
Fósseis
Os fósseis nas classificações de Gray (2004, 2013) são caracterizados como uma
inconsistência em sua aplicação no Brasil. Isto porque o autor trata dos fósseis por seu valor
monetário e uma vez que a legislação brasileira proíbe a venda de fósseis, que é comum na
Europa, torna-se a definição deste tipo de recurso da geodiversidade como um serviço de
provisão incoerente.
Em termos da classificação dos serviços ecossistêmicos da natureza abiótica, os
fósseis seriam melhor enquadrados como um serviço de conhecimento. Contudo, como este
trabalho não almeja uma revisão dos valores sensu Murray Gray, os fósseis são colocados
como segue a definição do autor.
3.2.5 Serviços Culturais
Este tipo de serviço está relacionado com a relação da sociedade a algum aspecto
abiótico do ambiente por seu significado social ou comunitário. A seguir estão descritas as
5 atividades relacionadas a este serviço da geodiversidade.
Qualidade ambiental
Este aspecto dos serviços culturais se refere a um apelo estético das paisagens,
principalmente. Representa o quanto a diversidade natural dos elementos abióticos constitui
um local em que há benefícios psicológicos ou fisiológicos para o ser humano, melhorando
a vida das pessoas de forma não material.
Geoturismo e atividades de lazer
Geoturismo é caracterizado por Dowling e Newsome (2011) como a ação de turismo
em que as paisagens, fósseis, rochas e minerais são usados para a divulgação dos processos
que criaram estes aspectos naturais e que possui ampla relação com o ecoturismo. Logo, está
diretamente relacionado com as características abióticas de um lugar, que será explorado de
forma sustentável pela economia turística.
61
Da mesma forma, atividades como rapel e escalada precisam de um paredão rochoso
para serem desenvolvidos, mostrando como a geodiversidade possui um valor cultural
através do lazer.
Significado cultural, espiritual e histórico
Este tipo de serviço cultural está associado, principalmente, a identificação de uma
comunidade com o meio abiótico através de lendas, do seu folclore, cultura, religião, ou
ainda quando este meio foi importante para sociedades passadas, cujos registros
arqueológicos são encontrados sob a forma, por exemplo, de arte rupestre ou artefatos.
Gray (2013) subdivide esse tema com relação à importância para: folclore,
arqueologia e história, relação espiritual e o senso de lugar. Este último está relacionado com
a percepção único da comunidade com o local que ela habita.
Inspiração artística
Este tipo de serviço cultural da geodiversidade ocorre no momento que os elementos
físicos do meio ambiente, sua paisagem, materiais e processos são usados como inspiração
para quadros, músicas, poesias ou ainda são pano de fundo de histórias em prosa.
O uso de materiais, como minerais, para a confecção de quadros, por exemplos,
também consta desta classificação de serviço cultural, a exemplo dos quadros produzidos
com quartzo, berilo e outras espécimes minerais.
Desenvolvimento social
Este tipo de serviço cultural é caracterizado quando ocorre o desenvolvimento de
atividades geológicas locais, como sociedades geológicas que realizam atividades de campo
em suas regiões de atuação, assim como a atividade voluntária de proteção ao meio ambiente
abiótico.
62
3.2.6 Serviços de Conhecimento
Provavelmente o tipo de serviço mais importante, sobretudo para as geociências, os
serviços de conhecimento estão relacionados com propostas de utilização da natureza
abiótica como sala de aula e laboratório, sendo sua exploração puramente científica e
educacional. Seguem abaixo a descrição das 5 expressões deste tipo de serviço.
História da Terra
Compreende todos os registros utilizados (fósseis, afloramentos, sedimentos,
amostras) pela ciência para descrever a história da Terra, sua idade e transformações ao
longo do tempo geológico.
História da pesquisa
Refere-se, principalmente, aos locais no mundo que foram importantes para o
desenvolvimento da geologia e dos principais conceitos das geociências.
Monitoramento ambiental
Os registros das mudanças climáticas podem ser encontrados em lagos, pântanos e
núcleos de geleiras que guardam os registros das mudanças nas condições ambientais por
efeito da poluição. São, portanto, recursos que a geodiversidade dispõe para o ser humano
monitorar as mudanças em tais condições, a fim de mitigar o impacto das ações antrópicas,
promovendo a proteção e conservação da natureza.
Geoforense
O estudo de solos, sedimentos e topografia na ciência forense tem se tornado mais
comum atualmente. Logo, a geodiversidade apresenta-se através de um serviço de
conhecimento para o processo de entender uma cena de crime.
63
Educação e emprego
Este é provavelmente o valor mais facilmente identificado como serviço de
conhecimento, uma vez que está associado ao desenvolvimento de ações de educação e
treinamento de geólogos ou outros profissionais e estudantes, das mais diversas áreas do
conhecimento geocientífico, através de trabalhos de campo ou laboratório para o estudo da
geodiversidade do planeta.
A partir de todos os serviços ecossistêmicos descritos acima, assim como os bens,
processos e recursos a eles associados, foi criado um esquema representativo para a nova
concepção dos valores da geodiversidade, elucidada por Gray (2013). Este esquema está
reproduzido na figura 3.4.
Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade segundo os serviços ecossistêmicos.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Gray (2013)
64
A partir das definições de Gray (2013), foi feita uma comparação com o sistema de
valores da geodiversidade definido pelo autor em 2004, observando suas equivalências e
não-equivalências.
O quadro 3.1 mostra a relação entre os dois sistemas em relação aos valores e
subvalores da geodiversidade (Gray, 2004) e os serviços, bens e processos (Gray, 2013).
65
Quadro 3.1 – Relação entre os sistemas de valoração da geodiversidade sensu Murray Gray 2004 x 2013.
Fonte: Gray (2004, 2013)
Gray (2004) Gray (2013)
Valor Intrínseco Valor Intrínseco
VALORES SUBVALORES BENS E PROCESSOS SERVIÇOS
Valor Funcional
Controle de Inundação
Serviço de Regulação
Controle da Poluição
Química da Água Qualidade da Água
Funções do Geossistema Processos Terrestres
Funções do Ecossistema
Processos Atmosféricos e
Oceânicos
Plataforma Plataforma
Serviço de Suporte
Habitat
Sepultamento Sepultamento e
Armazenamento Armazenamento e
Reciclagem
Funções do Solo Processos do Solo
Saúde Saúde
Serviço de Provisão Valor Econômico
Minerais Metálicos
Minerais para Construção Materiais de Construção
Minerais Industriais Minerais Industriais
Energia Combustível
Fósseis Fósseis
Solos
Gemas Gemas
Alimentação e Bebida
Valor Estético
Atividades Voluntárias Desenvolvimento Social
Serviço Cultural
Apreciação Remota
Atividades de Lazer Geoturismo e Lazer
Geoturismo
Inspiração Artística Inspiração Artística
Paisagens Locais Qualidade Ambiental
Valor Cultural
Folclórico Significado Cultural,
Espiritual e Histórico Arqueológico-Histórico
Espiritual
Senso de Lugar
Valor Científico e
Educativo
Descoberta Científica
Serviço de Conhecimento
História da Terra História da Terra
Educação e Treinamento Educação e Emprego
História da Pesquisa História da Pesquisa
Monitoramento Ambiental Monitoramento Ambiental
Geoforense
Células pretas indicam que não há correspondência de um valor com um bem/ processo
e vice-versa
66
3.3 CLASSIFICAÇÃO
A literatura traz diversas formas de classificação dos locais em que a geodiversidade
está presente, sejam eles in situ ou ex situ. Lugar de geodiversidade, geossítio e geotopo são
alguns dos termos utilizados por autores nacionais e internacionais.
Com a finalidade de mapear a geodiversidade da cidade do Natal, também
classificando-a, de forma a criar classes georreferenciadas em que os atributos do banco de
dados agregado às geometrias permitam a classificação das diferentes ocorrências da
geodiversidade na área de estudo, utilizou-se, neste trabalho, dois tipos de classificações
principais: por valor e por extensão.
Estes dois tipos de classificação utilizadas são descritas nos próximos itens e serão
empregadas no processo de descrição da geodiversidade de Natal nos capítulos seguintes.
3.3.1 Por Valor
A classificação por valor utilizada neste trabalho é baseada em Brilha (2015), que
indica a classificação dos lugares de geodiversidade como forma de facilitar a escolha
daqueles que devem ser protegidos.
Apesar do próprio autor reconhecer que existem diversos trabalhos que versam sobre
os valores da geodiversidade, o modelo aqui utilizado será, como exposto anteriormente, o
de Gray (2013).
Para Brilha (2015), a diversidade natural inclui os elementos bióticos
(biodiversidade) e os elementos abióticos (geodiversidade). A partir desses dois grandes
grupos, que compõem os ecossistemas do mundo, é feita pelo autor a classificação dos locais
em que ocorrem os elementos abióticos.
Ele considera que aqueles valores que possuem teor científico devem ser favorecidos
no momento de classificação da geodiversidade. No caso da classificação pelos serviços
abióticos do ecossistema, tais valores correspondem aos serviços de conhecimento.
Seguindo essa premissa inicial, o autor separa os lugares de ocorrência de
geodiversidade entre os que possuem valores científicos agregados e os que possuem outros
valores associados.
67
Em cada um desses dois grandes grupos há uma subdivisão entre os locais de
ocorrência in situ (aqueles em que a geodiversidade encontra-se em seu local natural) e ex
situ (quando o recurso da geodiversidade se encontra em um local diferente do seu natural
de ocorrência).
Disto, tem-se que os locais com valor científico agregado e que estão in situ são
chamados geossítios, enquanto que aqueles encontrados ex situ são chamados elementos do
patrimônio geológico. Esses dois subgrupos compõem o patrimônio geológico.
Os locais com outros valores associados são chamados de lugares de
geodiversidade, no caso de ocorrência in situ, ou de elementos de geodiversidade, no caso
ex situ.
Para Brilha (2015), na classificação deste segundo grupo devem ser considerados
apenas os valores educativo e turístico. Entretanto, tal restrição acabaria, no entender deste
trabalho, por desconsiderar muitos lugares essenciais para os ecossistemas de uma região
restrita, que não possuem nenhuma expressão científica excepcional, educacional ou
turística, mas que possam funcionar como, por exemplo, suporte para o desenvolvimento de
habitat de espécies animais ou vegetais.
Todos os locais de ocorrência da geodiversidade, para o autor, necessitam de
avaliação e classificação para o desenvolvimento de ações de proteção, englobadas pela
geoconservação, termo que será introduzido ainda neste capítulo.
A figura 3.5 mostra um esquema conceitual para a classificação dos lugares de
ocorrência da geodiversidade pelos valores agregados.
68
Figura 3.5 – Esquema conceitual da classificação dos lugares de geodiversidade.
Fonte: Brilha (2015)
3.3.2 Por extensão
A segunda classificação dos locais de geodiversidade utilizado neste trabalho avalia
a extensão areal do lugar. Esse método foi desenvolvido no trabalho de Fuertes-Gutiérrez e
Fernandéz-Martinez (2010).
A partir da análise de 125 lugares na região de Leon, na Espanha, os autores
observaram que podiam ser determinadas semelhanças nas topologias das ocorrências in situ
da geodiversidade na área. Essas semelhanças possibilitaram a criação de cinco categorias.
Associada a essa definição, os autores determinaram graus de avaliação da
degradação dos locais. Assim, foram avaliados os graus de fragilidade e vulnerabilidade.
O grau de fragilidade mede o risco de degradação que o local possui sob as condições
naturais atuantes. Um lugar é frágil quando um processo de dano ou de total destruição
69
ocorre. A vulnerabilidade mede o risco de destruição das características de um local devido
à ação antrópica.
A partir de todas as considerações, os autores classificam os locais como:
Pontos: locais isolados com pequena extensão, de até 1ha;
Seções: sequências cronológicas (estratigraficamente);
Áreas: locais com apenas um tipo de interesse em grande extensão, superior a
1ha;
Pontos de visão: um observatório em uma grande área, a partir de onde a área
pode ser vista;
Áreas complexas: locais com grande extensão, em que há uma homogeneidade
fisiográficas, mas que possui uma diversidade de pontos, seções e pontos de
visão.
Pensando em adaptações à área de estudo deste trabalho, foi elaborada uma nova
classificação com modificações ao trabalho de Fuertes-Gutiérrez e Fernandéz-Martinez
(2010).
Essas modificações foram necessárias para adequar a classificação dos autores à
realidade urbana, uma vez que o trabalho deles foi realizado em área superior a 15.000 km².
Disto, simplificou-se a classificação para quatro classes: ponto, faixa, área e
panorama. As definições das classes, assim como a fragilidade e vulnerabilidade de cada
uma estão contidas no quadro 3.2.
70
Quadro 3.2 – Classificação dos lugares de geodiversidade segundo sua extensão areal
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de modificações ao trabalho de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010)
Tipologia Simbologia Definição Fragilidade Vulnerabilidade
Ponto
locais em que os recursos da
geodiversidade estão presentes
em uma poligonal com menos de
3000m²
Baixa a Alta Alta
Faixa
locais em que as estruturas e
recursos da geodiversidade se
desenvolvem ao longo de linhas
paralelas
Média Média
Áreas
locais em que os recursos da
geodiversidade estão presentes
em uma poligonal com mais de
3000m²
Baixa Baixa
Panorama
locais que servem de observatório
para uma área em que a
geodiversidade possui destaque
na paisagem
Baixa Alta (a vista
panorâmica)
A definição da menor localidade de geodiversidade, ponto, foi feita a partir da
medição da extensão areal do Forte dos Reis Magos, que, neste trabalho, representa o maior
monumento em que houve utilização de recursos de geodiversidade de forma ex situ. Assim
sendo, o limiar de 3000m² entre pontos e áreas foi determinado por ser a medida
imediatamente superior à extensão do Forte.
A classe de área complexa foi retirada da classificação porque, no entender deste
trabalho, esta classe englobaria, em sua definição original, toda a área de estudo: a cidade do
Natal. Isto porque segue o que determinaram Fuertes-Gutiérrez e Fernandéz-Martinez
(2010).
As avaliações a serem feitas nos próximos capítulos dos locais de geodiversidade
utilizaram as duas classificações já descritas. Ambas serão empregadas para os locais de
ocorrência in situ e ex situ.
Ao final, será avaliada a aplicabilidade dos dois modelos de classificação para a
avaliação da geodiversidade nos centros urbanos.
71
3.4 AMEAÇAS E PROTEÇÃO DA GEODIVERSIDADE
Os sistemas de valoração e classificação dos lugares de geodiversidade têm por
objetivo auxiliar projetos de manejo das áreas, de forma a promover sua conservação ou
exploração sustentável.
Uma vez que os locais que possuem algum valor associado, como os que foram
descritos anteriormente neste capítulo, sofrem alguma ameaça, seja ela natural, catastrófica
ou antrópica, passa a existir a necessidade conservação de seus recursos e elementos (Gray,
2013):
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 + 𝐴𝑚𝑒𝑎ç𝑎 = 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎çã𝑜
Gray (2013) coloca que as principais ameaças para a geodiversidade do planeta estão
associadas à mineração, expansão urbana, projetos de engenharia na rede hidrográfica,
aterros sanitários, agropecuária, atividades militares, retirada de espécimes minerais,
atividades turísticas sem mitigação dos impactos, entre outras formas de gestão dos espaços.
Dessas ações, a geodiversidade pode ser impactada das seguintes formas:
Perda total de um elemento da geodiversidade;
Perda parcial ou dano físico;
Perda de visibilidade ou intervisibilidade;
Perda de acesso;
Interrupção dos processos naturais;
Poluição;
Impacto visual
Uma vez que tais impactos podem acarretar perdas imensuráveis para as geociências,
assim como para toda a sociedade, desenvolveu-se, concomitantemente com o termo
geodiversidade, a geoconservação, que almeja a conservação da diversidade abiótica do
planeta.
Entretanto, como muitos dos recursos abióticos do planeta são fundamentais para a
vida humana, pretende-se, com a valoração e classificação dos lugares, proteger aqueles
locais com geodiversidade excepcional, ou o patrimônio geológico da Terra.
As medidas de proteção da geodiversidade podem advir da “criação de leis e
programas específicos para o patrimônio geológico e/ou por meio da sensibilização do
72
público sobre a importância deste patrimônio, utilizando-o para o turismo” (Nascimento et
al., 2008).
Programas de proteção à geodiversidade são registrados no mundo, sobretudo no
hemisfério norte. O programa de Geoparques da UNESCO (Figura 3.6) é uma das principais
ações de proteção da geodiversidade in situ, atualmente contando com 120 geoparques em
33 países.
Figura 3.6 – Logomarca oficial da rede de Geoparques da UNESCO
Fonte: unesco.org
O programa de Geoparques da UNESCO começou a ser criado em 2000 na Europa
(com 4 geoparques) e três anos depois já possuía 25 geoparques membros, sendo 8 na China.
Os Geoparques têm como foco atividades relacionadas à educação, ciência, cultura,
desenvolvimento social e proteção das mulheres. São realizadas nos geoparques ações de
exploração sustentável da geodiversidade, através de geoturismo, artesanato e gastronomia,
além de projetos de geociências para a sociedade, que procuram envolver a comunidade local
no desenvolvimento e manutenção do parque, de forma que as ações de proteção tragam
benefícios para todos.
O Brasil conta com um geoparque da UNESCO desde 2006, na região do Araripe-
CE. Entretanto, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) possui um programa de gestão
chamado Geoparques do Brasil, que consta de 37 propostas.
Projetos como Caminhos Geológicos (Rio de Janeiro), Sítios Geológicos (Paraná),
Caminhos Geológicos da Bahia (Bahia) e Monumentos Geológicos (Rio Grande do Norte)
foram ações implementadas desde 2003 que procuraram promover também a geodiversidade
através da educação para toda a sociedade.
Carvalhido et al. (2016) mostram que as estratégias ideais de geoconservação devem
ser implementadas pelo poder público, em suas diferentes esferas, de forma a colaborar com
73
as atividades de gestão dos recursos naturais com ações que também possam incentivar a
economia, através do viés turístico, por exemplo.
Ou seja, todas as atividades que visam a geoconservação devem envolver a sociedade
através da educação, cultura, turismo e economia. Essas ações de divulgação e proteção da
geodiversidade podem ser desenvolvidas para a regiões que possuem elementos in situ ou
ex situ, mas devem sempre focar na proteção do patrimônio geológico, na tradução do
conhecimento geológico para a sociedade leiga e no envolvimento desta sociedade na
geoconservação.
3.5 GEODIVERSIDADE NAS CIDADES BRASILEIRAS
Nas cidades, aonde a atividade humana é mais pulsante, a presença da geodiversidade
se torna evidente, apesar de muitas vezes não ser mais encontrada em sua forma natural, in
situ. Ela pode estar presente nos calçamentos, nas fundações dos prédios, em suas fachadas,
como ornamentos dos homens e mulheres que passam freneticamente pelas ruas das milhares
de cidades em todo o mundo.
Como já foi mostrado neste capítulo, a geodiversidade influenciou, ao longo dos
anos, a própria criação dos centros urbanos, ditando seus locais de instalação a partir da
disponibilização de recursos para as construções ou das paisagens que servem de proteção
natural e moldura para a vida cotidiana no planeta.
A partir destas afirmativas, alguns trabalhos no Brasil têm se dedicado, nos últimos
10 anos, à identificação do uso da geodiversidade nos centros urbanos ao longo da história,
principalmente, para o estabelecimento e execução de roteiros geoturísticos, através dos
quais a geodiversidade é mostrada como um elemento da história local.
Um dos primeiros trabalhos neste sentido é o de Stern et al. (2006), que trabalharam
no centro histórico da cidade de São Paulo e propuseram um roteiro com 11 paradas, nas
quais as rochas graníticas são os principais recursos da geodiversidade encontrados nas
fachadas e bases dos edifícios escolhidos. Aliado ao conhecimento da história da cidade, o
visitante poderia, pela proposta do trabalho, obter conhecimentos geológicos sobre as rochas
utilizadas e o motivo de sua utilização (características como facilidade de corte e
disponibilidade próxima, por exemplo).
74
Ainda na capital paulista, Augusto e Del Lama (2011) realizaram trabalho de
descrição de rochas utilizadas em 8 monumentos, propondo um segundo roteiro geoturístico
na cidade, através dos mármores e granitos das estátuas, bustos e fontes históricos.
Com o desenvolvimento mais profundo dos trabalhos no centro de São Paulo, Del
Lama et al. (2014), atualizou a proposta anterior de roteiro com um novo enfoque: o
geoturismo urbano. O roteiro mais recente contém 19 paradas (figura 3.7), em que há
presença de uso de granitos, filito, arenito, conglomerado, calcário e mármore.
Figura 3.7 – Mapa de localização das paradas sugeridas pelo roteiro geoturístico do centro histórico de São Paulo.
Fonte: Del Lama et al. (2014)
Liccardo (2010) focou sua pesquisa na cidade de Curitiba na utilização das rochas
locais ou próximas à capital paranaense em trabalhos de cantarias encontrados na cidade, em
75
monumentos, calçamentos e edifícios históricos. Lá, as principais rochas utilizadas são
gnaisses, granitos, diabásios, mármores e metagranitoides.
Em João Pessoa, a descrição de monumentos dos séculos XVI ao XVIII, feita por
Pereira e Amaral (2014), contou com detalhes arquitetônicos e históricos que são
complementados pelas informações geológicas do uso do calcário da Formação Gramame
nos lugares pesquisados.
Pinto (2015) ampliou a abordagem dos estudos da geodiversidade nos centros
urbanos. Em trabalho realizado na cidade de Salvador, fez descrição detalhada da
geodiversidade em suas expressões in situ e ex situ, definindo o patrimônio geológico local,
a partir de Brilha (2015).
Já em relação à cidade do Natal, área de estudo deste trabalho, Carvalho (2010)
realizou o mapeamento descritivo da utilização de rochas nas construções e monumentos
históricos do centro histórico natalense. Através de um roteiro por 27 pontos diferentes nos
bairros da Cidade Alta e Ribeira (Figura 3.8), dentro da poligonal do tombamento realizado
pelo IPHAN, o trabalho mostrou a utilização das rochas encontradas no litoral da cidade,
arenitos calcíferos e ferruginosos, e nas proximidades da cidade vizinha Macaíba, granito,
em diversas construções, monumentos e ruas construídos entre os séculos XVII e XIX.
Figura 3.8 – Mapa de localização dos pontos que compõem o roteiro geoturístico do centro histórico de Natal.
Fonte: Carvalho (2010)
Com uma visão da arquitetura vernacular, o trabalho de Carvalho (2010) foi de
extrema importância para o aprofundamento dos estudos da geodiversidade da cidade do
76
Natal, através de projetos de pesquisa e extensão que se seguiram nos últimos anos, e
também se tornou uma referência fundamental para os trabalhos com geoturismo urbano nos
centros históricos brasileiros.
Com os exemplos citados acima, percebe-se que a utilização dos conceitos da
geodiversidade nos centros urbanos é possível e constitui ferramenta importante na
divulgação das geociências e conhecimento geológico entre a sociedade em seus próprios
lares, que são as cidades.
77
78
4. GEODIVERSIDADE IN SITU
A geodiversidade é representada por todos os componentes da natureza abiótica,
como minerais, rochas, solos, rios, paisagens e as relações e processos naturais envolvidos
por esses recursos. A geodiversidade, portanto, está presente em todos os ambientes do
planeta, ocorrendo nas mais diversas formas e extensões.
Este capítulo faz uma análise dos recursos que compõem a geodiversidade no âmbito
da cidade do Natal e que nela ocorrem de forma natural, ou seja, de forma in situ, como
definido por Brilha (2015). Após comentários acerca do registro histórico, são feitas
descrições geológico-geomorfológicas pertinentes a cada lugar identificado. Em seguida,
são valorados os locais de acordo com as definições de Gray (2013), com base nos serviços
ecossistêmicos da geodiversidade, como apresentado no capítulo anterior.
No processo de valoração qualitativo, que é aqui utilizado, índices não são aplicados,
o que pode provocar sub ou supervalorização de um quesito, como um valor com teor
científico. Isso pode ser modificado, a posteriori, em trabalhos que façam a quantificação
dos valores por meio de diversos modelos consolidados na literatura.
Após a identificação dos valores de forma qualitativa, cada sítio é classificado de
acordo com os parâmetros apresentados por Brilha (2015), a partir dos valores identificados,
e por Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010), de acordo com a extensão areal de
cada sítio.
Por último, é apresentada um quadro síntese contendo os locais de geodiversidade in
situ, juntamente com os valores identificados e as classificações empregadas neste trabalho,
e um mapa de localização das ocorrências analisadas.
4.1 PRAIAS
Natal possui um vasto litoral, com mais de 17 km de extensão, compreendendo 7
praias, de norte a sul: Redinha, Forte, Meio, Artistas, Areia Preta, Via Costeira e Ponta
Negra. A Via Costeira ainda é subdividida em algumas pequenas faixas de praia, que serão
aqui entendidas como um único compartimento, juntamente com a praia de Ponta Negra.
Devido a semelhanças em elementos essencialmente morfológicos e geológicos, as
praias de Natal foram agrupadas em 4 unidades de geodiversidade que serão aqui descritas:
79
Litoral Norte, que compreende a praia da Redinha, única ao norte da desembocadura do Rio
Potengi; Litoral Central, representado pelas praias do Forte, Meio e Artistas; Areia Preta; e
Litoral Sul, que vai da Via Costeira até Ponta Negra.
A praia de Areia Preta é neste trabalho tratada de forma separada porque nesta região
do litoral natalense houve uma intensa modificação da morfologia da zona de praia devido
às intervenções antrópicas. Além disso, as características geológicas dessa região a
diferenciam das demais, como será visto adiante.
Apesar de dispor de diversas praias, o cidadão natalense só começou a usufruir delas
a partir do século XX. Souza (2008) aponta que, inicialmente, apenas a elite da cidade
costumava a frequentar as praias, distantes do centro da cidade para os padrões da época.
Assim, começavam a ser frequentadas as praias de Areia Preta no começo do século, seguida
das praias do Meio e da Redinha na década de 1920. O uso da praia de Ponta Negra, hoje a
mais famosa, teve início apenas na década de 1940.
As praias são fundamentais para o ecossistema, pois além de representarem a linha
de costa, aonde a relação entre continente e oceano é mais intensa, são locais necessários
para a vida de algumas espécies de invertebrados, assim como são os principais lugares de
lazer do ser humano, sobretudo em países como o Brasil, que possuem extensa área litorânea.
4.1.1 Litoral Norte
Localizada ao norte da desembocadura do Rio Potengi, a praia da Redinha é a única
da zona norte de Natal, apesar de sua fronteira com a praia de Santa Rita, no município de
Extremoz, não ser facilmente percebida por seus frequentadores ou população em geral. O
nome Redinha, segundo Cascudo (2011), é uma referência à Vila da Redinha no Conselho
de Pombal, Portugal.
A praia da Redinha, que neste trabalho corresponde à região Litoral Norte, é
compreendida pela Zona Especial de Interesse Turístico 4, regulamentada pelo Plano Diretor
de Natal (Lei Complementar nº 082/2007).
Durante os séculos XVI e XVII a região da Redinha era ocupada por uma aldeia
indígena da Tribo Potiguara liderada por Filipe Camarão, herói na expulsão dos holandeses
da então terra portuguesa (Costa Jr, 2005). Até a década de 1940 a Redinha era considerada
como um povoado do município de São Gonçalo do Amarante, sendo incorporado a Natal
80
em 1943. Uma maior ocupação antrópica foi observada, entretanto, apenas a partir da década
de 1980.
A Figura 4.1 mostra a praia da Redinha em imagem de satélite, na qual pode-se
observar forte linearidade da linha de costa, perturbada pelo muro guia que provocou, como
indica Cunha (2004), mudanças na velocidade das correntes marítimas e de transporte nas
adjacências da obra, assim como gerou difração nas ondas. Essas alterações provocaram
sedimentação no início do enrocamento em terra, o que gerou uma pequena curva na linha
de costa, possibilitando uma morfologia semelhante a enseada.
Figura 4.1 – Imagem de satélite com destaque para a praia da Redinha.
Fonte: Google Earth
A zona de praia da Redinha é formada, geologicamente, por depósitos eólicos
litorâneos vegetados e não-vegetados, depósitos litorâneos praiais e recifes arenosos que são
encontrados submersos, na região de shoreface, distantes da face da praia. É caracterizada
como uma praia arenosa (figura 4.2).
Atualmente, a praia é bastante frequentada aos finais de semana e feriados, quando
centenas de pessoas utilizam a faixa de areia para jogar futebol (figura 4.3), vôlei, além de
tomar banho de mar.
81
Figura 4.2 – Foto da praia da Redinha mostrando a
larga faixa de areia quartzosa.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 4.3 – Pessoas praticando futebol de areia na
praia da Redinha.
Foto: Matheus Lisboa
4.1.2 Litoral Central
O Litoral Central é limitado a norte pela desembocadura do Rio Potengi e a sul pela
Ponta do Morcego, onde ocorrem rochas correlatas ao Grupo Barreiras (arenitos
ferruginosos) e que são registros remanescentes de falésias na região. Compreende as praias
do Forte, do Meio e dos Artistas.
Até a década de 1920, a região não era utilizada para o lazer do natalense. Com o
aumento do fluxo de pessoas, a área, sobretudo da Praia do Meio, passou a contar com
avenidas e chegou a ter o primeiro hotel de luxo da cidade, o Hotel Reis Magos, inaugurado
no feriado de 07 de setembro de 1965 (Souza, 2008).
A figura 4.4, datada de 1960, mostra a região do Litoral Central no começo de uma
expansão urbana mais acentuada. Observa-se, devido ao fraco adensamento urbano, a
presença de uma zona de backshore livre.
82
Figura 4.4 – Foto de 1960 mostrando a região da praia do Meio, no Litoral Central de Natal, até então pouco
ocupada.
Foto: Getty Images
Geomorfologicamente, essa região é bem caracterizada por praias arenosas, com
alguns resquícios de dunas vegetadas, sendo possível ainda identificar dunas frontais na
região da praia do Forte. A principal diferença dessa região do litoral natalense para as
demais, entretanto, é a presença de corpos de arenitos praiais paralelos à linha de costa
(Figura 4.5).
Figura 4.5 – Imagem de satélite com destaque para o Litoral Central (praias do Forte, Meio e Artistas)
Fonte: Google Earth
No começo da história da cidade, já se percebia a importância da presença dos
arrecifes de arenito como um componente da paisagem. Mapas que retratam a época da
ocupação holandesa, quando Natal passou a se chamar Nova Amsterdã e o Forte dos Reis
83
Magos (Fort Ceulen), mostram e identificam os proeminentes arrecifes na região Litoral
Central (figura 4.6).
Figura 4.6 – Mapa de Johannes Vingboons, datado de 1665, mostrando o Fort Ceulen e os arenitos praiais da
região Litoral Central. Em holandês, está escrito steen clip genaemt riciff, cuja tradução é corpo de pedra
chamado recife.
Fonte: http://www.robgomes.nl/
Contudo, apenas no começo do século XX começaram os estudos de caráter mais
científico. Branner (1904) foi o primeiro a mapear a região, mostrando a existência de duas
linhas paralelas de recifes de arenitos, chamados de “recife interno e externo”. Essa
classificação foi reafirmada, setenta e quatro anos depois, por Oliveira (1978). A Figura 4.7
mostra estes dois mapas produzidos.
84
A B
Figura 4.7 – Mapas da região Litoral Central de Natal, mostrando os corpos de arenitos praiais.
Fontes: A – Branner (1904); B – Oliveira (1978)
As duas linhas de arrecifes possuem gênese semelhante, sendo sua origem
relacionada com a percolação de águas saturadas em carbonato de cálcio a partir do
continente que, ao entrar em contato com as águas marinhas, precipita o CaCO3 na forma de
cimento dando origem às rochas (arenitos e conglomerados).
Recente pesquisa arqueológica no Forte dos Reis Magos orquestrada pelo IPHAN
permitiu a coleta de algumas amostras de arrecifes que foram analisadas em microscópio
ótico. Essas amostras correspondem aos corpos de arenitos praiais na região Litoral Central,
de onde foram retirados, inicialmente, os blocos para a construção do Forte e de alguns
edifícios históricos no Centro Histórico de Natal (Nascimento e Silva, 2015; Nascimento et
al., 2016).
A partir da análise, pode-se afirmar que as rochas são compostas, essencialmente,
por quartzo monocristalino, plagioclásio e microclina (Figura 4.8). São encontrados em
menores proporções: bioclastos, apatita, turmalina, epidoto, muscovita, titanita e biotita.
Pode-se observar uma cimentação carbonática tipo mosaico e em franjo fibro-radial,
enquanto o tipo de porosidade predominante é intergranular primária (Figura 4.9).
85
Figura 4.8 – Fotomicrografia de amostra de arenito
praial da região Litoral Central mostrando grãos de
microclina (Mc), quartzo monocristalino (Qz) e
cimento em mosaico (seta vermelha).
Figura 4.9 – Fotomicrografia de amostra de
arenito praial mostrando cimento carbonático
(seta vermelha) em franja fibro-radial
preenchendo porosidade primária (seta azul),
além dos grãos quartzosos (Qz) do arcabouço.
Os corpos de arenitos na região Litoral Central também são responsáveis pela
morfologia da linha de costa, uma vez que pequenas aberturas nos recifes geram difração
nas ondas, que, ao atingir a praia, a modelam em um formato côncavo (figuras 4.10 e 4.11).
Figura 4.10 – Imagem de satélite com destaque para a
forma côncava da linha de costa na praia do Forte.
Fonte: Google Earth
Figura 4.11 – Fotografia da praia do Forte,
mostrando sua linha de costa curva e dunas frontais
vegetadas.
Foto: Matheus Lisboa
A região Litoral Central passou, recentemente, por obras de urbanização de sua orla,
ampliando as calçadas e equipamentos públicos, o que permitiu um significativo aumento
do fluxo de frequentadores, sobretudo nos finais de semana.
86
4.1.3 Areia Preta
A praia de Areia Preta está compreendida entre duas ocorrências significativas do
Grupo Barreiras, a norte a Ponta do Morcego e a sul a Ponta de Mãe Luíza. Entre as praias
urbanas da cidade, esta é a que possui menor extensão, mas foi a primeira a ser utilizada pela
população para lazer, no início do século XX. Ao longo dos anos, toda a região de backshore
foi ocupada ao longo dos anos por uma densa rede urbana. As figuras abaixo mostram a
praia no começo de sua ocupação, ainda com as dunas frontais livres.
Figura 4.12 – Foto da década de 1930 mostrando a
praia de Areia Preta ainda com baixa ocupação.
Foto: Jaeci Galvão
Figura 4.13 – Foto mostrando as primeiras casas e o
farol construídos sobre as dunas frontais.
Foto: Jaeci Galvão
O nome da praia já mostra forte relação com a geodiversidade, visto que “areia preta”
advém, segundo Souza (2008), das rochas negras que ali existem, referindo-se, portanto, aos
resquícios de antigas falésias do Grupo Barreiras, cujas rochas são arenitos cimentados por
óxido de ferro. A forte presença desse tipo de rocha, percebida desde o início, serviu de
inspiração para o topônimo da praia. A Figura 4.14 mostra a praia na década de 1960, com
pouca ocupação antrópica, zona de praia mais larga e diversos corpos de arenitos
ferruginosos.
87
Figura 4.14 – Foto de 1960 da praia de Areia Preta, destaque para os corpos de arenitos do Grupo Barreiras.
Foto: Getty Images
A zona de praia é restrita e, em horários de preamar, chega a ser totalmente tomada
pela água marinha. Para mitigar o processo de avanço marinho, foram realizadas obras de
enrocamento e de engorda da praia no final da década de 1990 (Figura 4.15). Estas obras
modificaram as feições originais da praia e, como aponta Nunes (2011), impedem o
transporte natural de sedimentos, acarretando também falta de sedimentos nas praias do
Litoral Central.
Figura 4.15 – Imagem de satélite com destaque para a praia de Areia Preta, na qual se observa a presença de três
estruturas de enrocamento.
Fonte: Google Earth
Hoje, esta praia é pouco utilizada para banhos de mar e outras atividades de lazer, ao
contrário do começo do século XX. Entretanto, é comum ver sufistas aproveitando a maré
alta nesta região do litoral natalense.
88
4.1.4 Litoral Sul
O Litoral Sul corresponde às zonas de praia de Ponta Negra e Via Costeira, apresenta
uma morfologia tipo enseada, cujos promontórios são, a norte, a Ponta de Mãe Luíza, e a sul
o Morro do Careca, que é, por sua vez, compreendido pelo campo de dunas sul (Figura 4.16).
Figura 4.16 – Imagem de satélite com destaque para a região Litoral Sul (praias da Via Costeira e Ponta Negra).
Fonte: Google Earth
A região de Ponta Negra, hoje bairro turístico da cidade, era até meados da década
de 1940 apenas uma vila de pescadores (Souza, 2008). Assim como Areia Preta, o topônimo
“ponta negra” se refere a rochas do Grupo Barreiras, encontradas, neste caso, na extremidade
sul da praia. Quando Ponta Negra começou a ser mais frequentada, durante a II Guerra
Mundial, Natal era base aérea dos aliados.
A área hoje ocupada pela Via Costeira, rodovia estadual que liga os bairros de Areia
Preta e Ponta Negra por meio da orla marítima, era até a década de 1970 pouco habitada e
utilizada pela população natalense. Com a implantação da via de 9km, vários hotéis de luxo
foram instalados na área e a população em geral passou a desfrutar, ainda que timidamente,
da zona de praia nesta região.
As duas zonas de praia constituem, neste trabalho, o Litoral Sul, e são caracterizadas
por praias arenosas, com resquícios de dunas frontais e dunas vegetadas. Geologicamente,
aqui são encontrados depósitos litorâneos praiais, compostos por areias quartzosas de grãos
finos a muito grossos, com presença de bioclastos e minerais pesados.
Na região praial da Via Costeira é possível observar estratificações de baixo ângulo,
típicas de linhas de costa, e blocos de arenitos ferruginosos correlatos ao Grupo Barreiras,
como mostram as imagens abaixo.
89
Figura 4.17 – Destaque para estratificação de praia
nos sedimentos da praia da Via Costeira.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 4.18 – Blocos de arenitos ferruginosos do
Grupo Barreiras encontrados na Via Costeira.
Foto: Matheus Lisboa
Hoje, esta região do litoral natalense é muito frequentada ao longo de todo o ano,
concentrando também a maior parte dos equipamentos turísticos da cidade. São praticados
esportes aquáticos como surfe e stand up paddle, além de haver, principalmente nos
calçadões da praia, intensa programação cultural, esportiva e de lazer.
Esta região do litoral de Natal também é amplamente estudada, sobretudo no que
concerne à dinâmica costeira.
Em relação aos valores da geodiversidade definidos por Gray (2013), nas praias de
Natal são identificados, além de um valor intrínseco, devido à simples existência dos
recursos abióticos serviços de:
regulação, devido a presença de processos terrestres, que são responsáveis pela
modelagem das feições da praia, por correntes marítimas, por exemplo, e pela
presença dos recifes de arenitos que servem, especialmente na região classificada
como Litoral Central, para o controle de inundação, protegendo a linha de costa e
mitigando a invasão das águas marinhas;
suporte, identificado na praia do Forte, na região Litoral Central, aonde os arrecifes
serviram de plataforma sólida para a construção do Forte dos Reis Magos. Também
é possível identificar nas demais praias, pois os recursos abióticos, como rochas e
90
solos, são utilizados como habitat de espécimes de bivalves, crustáceos, entre outros
invertebrados;
cultura, que é verificado nas praias de Natal pela estética de suas paisagens, o que
caracteriza uma qualidade ambiental da geodiversidade. Atividades de lazer como o
futebol nas areias das praias também caracterizam esse tipo de serviço ecossistêmico,
assim como o uso das paisagens das praias como inspiração artística para a criação
de quadros, poesias, músicas e qualquer outra expressão artística. Ações voluntárias
de proteção ao meio ambiente caracterizam um desenvolvimento social por meio da
geodiversidade, o que ocorre, por exemplo, na praia da Redinha através do projeto
“Amigo da Praia”;
conhecimento, justificado por trabalhos como os de Barreto et al. (2004) e Cunha
(2004), além de atividades que desenvolvem trabalhos de pesquisa, ensino e extensão
nas praias de Natal, visando o fomento da educação e emprego no que se refere ao
uso dos recursos abióticos disponíveis nas praias, e o monitoramento ambiental das
praias como faz o “Programa Água Azul” por meio de estudos de balneabilidade nas
praias urbanas de Natal e de outros municípios do estado. No caso do Litoral Central,
datações 14C feitas por Oliveira et al. (1990) e Barreto et al. (2004) em conchas nos
arenitos praiais da região colaboraram com o mapeamento do Holoceno no Rio
Grande do Norte, o que caracteriza um processo de escrita da história da Terra.
Apesar de blocos de arenitos terem sido retirados das praias, principalmente dos
arrecifes inorgânicos do Litoral Central, para servirem de material para construção de muitos
edifícios no começo da história de Natal, atualmente, devido ao abandono deste uso, não é
possível identificar um serviço de provisão nas praias da cidade.
De acordo com a classificação de Brilha (2015), apenas as regiões Litoral Central e
Sul podem ser tidas como geossítios, visto que pesquisas científicas, no âmbito das
geociências, são mais desenvolvidas nestas áreas. As demais áreas de praia na cidade do
Natal são entendidas como lugares de geodiversidade.
91
Uma vez que o desenvolvimento das praias, seus processos e elementos se dá através
de zonas lineares, estas são classificadas como faixas, de acordo com o que define Fuertes-
Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
4.2 CAMPOS DE DUNAS
As dunas são, juntamente com as praias, as principais feições geomorfológicas na
paisagem de Natal. São classificadas, geologicamente, por Fonseca et al. (2012), na Folha
Natal, escala 1:100.000 (Serviço Geológico do Brasil – CPRM), como Depósitos Eólicos
Vegetados e Não-Vegetados. Há um predomínio de ocorrências de dunas tipo parabólica,
em planta.
Além de serem encontrados no Parque das Dunas e no Parque da Cidade, que são
tratados neste trabalho de forma separada, corpos dunares de extensões consideráveis estão
presentes também nas quatro zonas administrativas da cidade e os principais corpos
remanescentes são protegidos por Zonas de Proteção Ambiental.
A principal variação nos corpos se dá nas cores dos sedimentos, variando de
avermelhado, no caso do corpo de dunas oeste, para esbranquiçado nos demais locais. Isso
se dá devido à presença ou não de óxido de ferro capeando os grãos de quartzo e de matéria
orgânica. Em todas as regiões, as areias das dunas são quartzosas bem selecionadas.
4.2.1 Dunas Norte
É parte do grande cordão dunar de Genipabu, entretanto, pertencente ao limite
municipal da cidade do Natal. As dunas aqui são compreendidas pela ZPA-09 (Figura 4.19),
que protege os ecossistemas de lagoas e dunas ao longo do Rio Doce.
92
Figura 4.19 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-09.
Fonte: Google Earth
As dunas dessa região (figura 4.20) são responsáveis por prover recarga aos aquíferos
e por propiciar perfis pedológicos que favorecem o desenvolvimento da agricultura na
região. Também são importantes para a proteção dos mananciais e seus cursos naturais.
Figura 4.20 – Foto do corpo de dunas norte.
Foto: Matheus Lisboa
4.2.2 Dunas Oeste
Este campo de dunas, compreendido pela Zona de Proteção Ambiental 04 (Figura
4.21), situada nos bairros de Felipe Camarão e Guarapes. Nesta região, as dunas apresentam
coloração mais avermelhada, o que é explicado pela presença de óxidos de ferro capeando
os sedimentos, em especial os grãos de quartzo. Mostra forte contraste de relevo junto às
suas áreas adjacentes de tabuleiro costeiro e do estuário do rio Potengi.
93
Figura 4.21 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-04.
Fonte: Google Earth
Este campo é um dos resquícios do Campo de Dunas Pirangi-Potengi, que ocupava,
em 1966, uma área aproximada de 50km², sendo reduzido a um quinto disto até 1999, como
mostram Amaral et al. (2005). As dunas aqui protegidas são fundamentais na minimização
do escoamento de águas pluviais, facilitando sua infiltração.
4.2.3 Dunas Leste
Remanescentes dos corpos de dunas frontais localizados entre a praia de Areia Preta
e Via Costeira. Com a intensa ocupação antrópica desenvolvida a partir do século XX na
região, a maior parte das dunas foi impermeabilizada e teve sua dinâmica natural cessada.
Entretanto, foi estabelecida a ZPA-10 (Figura 4.22), menor da Zonas de Proteção
Ambiental da cidade e que é uma área remanescente do Parque das Dunas (ZPA-02), para
proteção das encostas dunares remanescentes na área, que possuem, ambientalmente,
importância cênica, paisagística e cultural.
94
Figura 4.22 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-10.
Fonte: Google Earth
Sobre este corpo de dunas foi construído o Farol de Mãe Luíza, inaugurado em 1951.
As figuras 4.23 e 4.24 mostram a face frontal da duna compreendida pela ZPA-10 e Farol,
único da cidade e que hoje é reconhecido também como um marco cultural e turístico de
Natal.
Figura 4.23 – Foto do corpo de dunas leste.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 4.24 – Farol de Mãe Luisa, construído sobre o
corpo de dunas leste.
Foto: Matheus Lisboa
4.2.4 Dunas Sul
Compreende as dunas fixas protegidas pelas Zonas de Proteção Ambiental 05 e 06
(Figura 4.25), englobando também o Morro do Careca, um dos principais cartões postais da
cidade. São dunas de importância cultural, turística e ambiental, visto que também
colaboram com a recarga do aquífero.
95
Figura 4.25 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-05 e ZPA-06.
Fonte: Google Earth
Ao longo dos anos, o Morro do Careca, localizado na ZPA-06, no limite sul da Praia
de Ponta Negra, se estabeleceu como um dos principais ícones natalenses, sendo utilizado
como marca de representação de Natal, como mostra a propaganda turística da Figura 4.26.
Figura 4.26 – Foto mostrando propaganda turística de Natal com a imagem do Morro do Careca na estação
Euston Square em Londres.
Foto: Blog SOS Ponta Negra
Em relação aos valores da Geodiversidade, como definidos por Gray (2013), os
quatro campos de dunas da cidade do Natal possuem, além de um valor intrínseco, devido
à sua própria existência, os seguintes serviços:
regulação, observado nos campos de dunas norte, sul e oeste devido à sua
importância para a infiltração de água no lençol freático local, recarregando os aquíferos e
96
fazendo parte do ciclo hidrológico, o que caracteriza um processo atmosférico, ao mesmo
tempo que controla a qualidade da água, funcionando como um filtro para o armazenamento
de água no subsolo;
suporte, visto que as dunas são potenciais fornecedores de sedimentos eólicos que
podem vir a compor os perfis pedológicos em suas vizinhanças, caracterizando a sua
importância para os processos do solo. Especificamente o campo de dunas leste também
serve como plataforma, uma vez que o Farol de Mãe Luísa foi sobre ele construído. Na
maioria dos campos de dunas, há a presença de algumas espécies vegetais que, por utilizarem
o substrato dunar para sua fixação e desenvolvimento, fazem dele seu habitat;
provisão, devido à importância das dunas na disponibilização de água doce no lençol
freático que pode ser bebida, no caso de não haver poluição no aquífero;
cultural, percebida de forma mais concreta no campo de dunas sul, em especial,
devido à existência do Morro do Careca, que imprime na paisagem uma beleza única, que
define uma certa qualidade ambiental do espaço, servido também como inspiração artística,
sobretudo para pinturas, artesanato em geral e fotografias. Entretanto, também pode-se
observar esses mesmos processos na Via Costeira, onde a beleza de sua paisagem é de grande
destaque, atraindo para o local a realização de diversos ensaios fotográficos profissionais e
amadores. Atividades voluntárias de proteção ao Morro do Careca, tanto em relação à sua
imponência na paisagem local como na proteção de sua agrega um desenvolvimento social;
conhecimento, exemplificado por projetos que almejam a difusão das geociências
pela educação, como o Projeto Monumentos Geológicos do Estado do Rio Grande do Norte,
no qual o Morro do Careca é um dos pontos sinalizados com informações geocientíficas
traduzidas para o público leigo, visando sua conservação.
Os campos de dunas norte, leste e oeste são classificados, no entendimento expresso
por Brilha (2015), como lugares de geodiversidade, devido a inexistência de um forte valor
científico no local. Já o campo de dunas sul é classificado com geossítio devido à sua
importância científica.
97
Devido às extensões dos campos de dunas, todos são classificados como áreas,
segundo o que é definido por Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
4.3 PARQUES NATURAIS
A cidade do Natal possui dois parques naturais regulamentados pelas legislações
estadual e municipal: Parque das Dunas e Parque da Cidade. Ambos possuem vasta
diversidade de fauna e flora, pela qual possuem grande destaque. Entretanto, a
geodiversidade, nas duas unidades de conservação, é de fundamental importância.
4.3.1 Parque das Dunas
Criado em 1977 por decreto estadual, está compreendido pela Zona de Proteção
Ambiental 02 (figura 4.27). Além de abrigar uma diversa fauna e flora, que lhe garantiram
o reconhecimento pela UNESCO de ser parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
Brasileira, as dunas do parque são fundamentais para a recarga dos aquíferos de Natal,
devido à sua ampla superfície preservada de infiltração. Desde 2008, o Parque das Dunas
faz parte da lista dos sítios geológicos brasileiros gerenciada pela SIGEP (Comissão
Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos), mas ainda não está oficialmente
cadastrada.
Figura 4.27 – Imagem de satélite com destaque para o Parque das Dunas, área da ZPA-02.
Fonte: Google Earth
98
É formado por um extenso campo de dunas, de direção NW-SE, que deram nome ao
parque (figura 4.28). Este campo, composto por areias quartzosas de boa seleção, é composto
pelos depósitos eólicos litorâneos vegetados e não-vegetados. Nesta região, as dunas podem
atingir a altura de até 120m (Jesus, 2002).
Figura 4.28 – Foto panorâmica de corpos de dunas do Parque das Dunas vistos a partir da Via Costeira.
Foto: Matheus Lisboa
Os dois tipos de depósitos eólicos na região do Parque das Dunas definem também
duas gerações, uma mais antiga, fixada pela vegetação, de material quartzoso de coloração
amarelada a avermelhada, e uma mais nova, formada por dunas móveis, em que a presença
de corredores de vento, conhecidos como blowouts (figura 4.29), são comuns. Sob os corpos
dunares são encontrados corpos de arenitos ferruginosos, sob a forma de falésias inativas,
correlatos ao Grupo Barreiras (figura 4.30).
Figura 4.29 – Zona de blowout no Parque das Dunas,
vista na Via Costeira.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 4.30 – Falésias do Parque das Dunas vistas
na Via Costeira.
Foto: Matheus Lisboa
Como unidade de conservação, o Parque das Dunas também é responsável por
promover a educação ambiental. Para isso foi criado o Bosque dos Namorados, área de uso
público do parque, ocupando uma área de, aproximadamente, 7 ha na qual há diversos
equipamentos que podem ser utilizados pela população. Também é a partir do Bosque que
as três principais trilhas que cortam o Parque das Dunas têm início.
99
4.3.2 Parque da Cidade
O Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte (figura 4.31) foi criado com o objetivo de
funcionar como um espaço de promoção e proteção do meio ambiente e da cultura local.
Compreende o campo de dunas dos bairros de Candelária, Cidade Nova e Pitimbu, dentro
dos limites da ZPA-01, regulamentada em 1995.
Figura 4.31 – Imagem de satélite com destaque para o Parque da Cidade, área da ZPA-01.
Foto: Matheus Lisboa
Esta é a principal área de recarga do aquífero da cidade do Natal, sendo fundamental
para o fornecimento de água potável na cidade. As dunas desta região possuem direção
principal NW-SE, seguindo a orientação principal dos ventos na cidade.
As dunas dessa região são entendidas por Fonseca et al. (2012) como depósitos
eólicos litorâneos vegetados (figura 4.32). São, essencialmente, formada por areias
quartzosas bem selecionadas de coloração esbranquiçada a amarelada.
Figura 4.32 – Corpos de dunas vegetados no Parque da Cidade.
Foto: Matheus Lisboa
100
Em 2006 foi iniciada a construção do Memorial de Natal e de outras pequenas
edificações que vieram a compor a área de uso público do Parque. As obras, projetadas por
Oscar Niemeyer, tiveram sua primeira etapa concluída em 2008, mas a totalidade do parque
só ficou disponível à população em 2014.
No parque existem trilhas perpassando pelas dunas para serem percorridas, além da
execução de projetos de educação ambiental e de história e cultura potiguar.
Em relação aos valores definidos por Gray (2013), nos dois parques naturais da
cidade do Natal são identificados, além do valor intrínseco, os seguintes serviços
ecossistêmicos da geodiversidade:
regulação, identificado devido à participação dos corpos dunares do Parque das
Dunas e do Parque da Cidade no controle da qualidade da água percolada dos
sedimentos até o lençol freático;
suporte, devido à participação dos corpos dunares nos processos do solo, fornecendo
sedimentos para a formação de solos arenosos. A presença de vegetação nos parques,
sobre as dunas, também é identificada neste serviço da geodiversidade, por servirem
de habitat para as espécies vegetais e animais. No caso do Parque da Cidade, toda a
estrutura da sede, incluindo o Memorial de Natal utilizou como plataforma para sua
construção os corpos de dunas na região;
provisão, explicado pela participação das dunas na filtragem da água infiltrada no
lençol freático, possibilitando sua potabilidade e permitindo que ela seja utilizada
como bebida;
cultural, devido à presença de trilhas que cortam os campos de dunas nos dois
parques e que funcionam como atividades de lazer. Este serviço também é
identificado por meio dos programas de conscientização ambiental, que promovem
desenvolvimento social através de atividades lúdicas e de voluntariado;
101
conhecimento, observado em ambos os parque, aonde diversas pesquisas com
enfoque geológico-geomorfológico já foram desenvolvidas, a exemplo de Jesus
(2002), Fracasso (2005) e Freiras e Saraiva Jr (2013), que trabalharam no Parque das
Dunas, e Silva Jr. (2015) que mostra as feições geomorfológicas do Parque da Cidade
como importante destaque. São consolidadas no parque atividades que visam a
educação ambiental, da qual o recurso da geodiversidade é parte integrante, o que
também justifica este serviço ecossistêmico.
A partir dos valores definidos e pelas definições de Brilha (2015), pode-se classificar
o Parque das Dunas e o Parque da Cidade como geossítios, devido à sua importância para a
geociência.
Devido às extensões dos dois parques de Natal, ambos são classificados como área,
de acordo com que definem Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
102
4.4 MANGUEZAIS
Os mangues na cidade do Natal são encontrados no estuário do Rio Potengi, em suas
duas margens (figura 4.33). Constituem a Zona de Proteção Ambiental 8, conforme o Plano
Diretor vigente (Lei Complementar Nº 082/2007).
Figura 4.33 – Imagem de satélite mostrando os mangues da cidade do Natal, localizados nas duas margens do Rio
Potengi.
Fonte: Google Earth
São entendidos, geologicamente, como depósitos flúvio-marinhos, constituídos por
areias finas, siltes e argilas, cuja laminação é fina. Sua composição é rica em carbonato e
matéria orgânica (figura 4.34). Os mangues são fontes de alimentação, refúgio e reprodução
de várias espécies de crustáceos e peixes.
Figura 4.34 – Fotografia do mangue de Natal, destaque para a quantidade de matéria orgânica, identificada pela
forte tonalidade cinza e pelo cheiro de enxofre proveniente do material em decomposição.
Foto: Matheus Lisboa
103
Ao longo dos anos, muitas áreas de mangue em Natal foram devastadas para dar lugar
a criatórios de camarão e antigas salinas. Com isso, a área total hoje protegida pela ZPA-08
é, aproximadamente, 50% da original.
Entretanto, algumas iniciativas fazem uso do mangue de forma cultural e mais
sustentável, como o Bloco “Os Cão”, que desde 1964 promove um desfile na terça-feira de
carnaval em que todos usam a lama do mangue no corpo como fantasia, como mostram as
figuras 4.35 e 4.36. A lama, um recurso abiótico da natureza, passa a ter, portanto, uma
expressão cultural em tempos carnavalescos.
Figura 4.35 – Foliã passando lama do mangue no
corpo, este é o “abadá” do Bloco dos Cão na
Redinha.
Foto: Alex Régis / Tribuna do Norte
Figura 4.36 – A lama, que são as argilas dos depósitos
flúvio-marinhos, é um recurso da geodiversidade.
Foto: Alex Régis / Tribuna do Norte
Quando é feita a valoração da geodiversidade nos manguezais de Natal a partir das
definições de Gray (2013), pode-se afirmar que, além do valor intrínseco, é possível
identificar serviços de:
suporte, visto que o mangue é habitat para várias espécies de animais e serviu de
plataforma para a construção das fazendas de camarão e salinas;
cultura, identificado porque, a exemplo do “Bloco dos Cão”, o mangue passou a ter
um significado cultural para algumas pessoas, em especial em períodos
carnavalescos.
Apesar de o mangue ser um ambiente ideal para o desenvolvimento de pesquisas e
de atividades de ensino, não foram encontrados registros importantes desta função nos
104
manguezais natalenses que tenham enfoque mais aprofundado nas geociências. Logo, não
foram identificados serviços de conhecimento.
A partir da classificação de Brilha (2015), tem-se que os mangues de Natal são
lugares de geodiversidade, e são classificados como área, devido à sua extensão, pelas
definições de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
4.5 RIOS
Três rios principais banham a cidade do Natal e são responsáveis por abastecer a
maior parte da população local, fornecendo águas superficiais ao sistema de abastecimento,
como complemento das águas subterrâneas. São os três: Doce, Pitimbu e Potengi. Ambos
são classificados como perenes, o que é justificado por uma descarga boa e constante ao
longo do ano. São componentes do Aquífero Barreiras, principal da região costeira do Rio
Grande do Norte.
Bezerra et al. (2001) mostram que há um evidente controle estrutural sobre os cursos
destes três rios, cujas origens são relacionadas a conjuntos de falhamentos que formaram
vales estruturais.
4.5.1 Rio Pitimbu
Este rio nasce na cidade de Macaíba e desemboca na lagoa do Jiqui, sendo
fundamental para o abastecimento da região. Apenas uma pequena parte de seu curso está
dentro do limite municipal de Natal, definindo em alguns locais a divisa da capital com a
cidade de Parnamirim (figura 4.37). Parte de sua bacia hidrográfica é protegida pela ZPA-
03.
Terrenos aluvionares são comuns ao longo do rio, em que há presença de areias
quartzosas médias a grossas, podendo ocorrer seixos e porções de granulometria mais fina
nas proximidades da desembocadura (Fonseca et al., 2012).
Atualmente, o rio Pitimbu, que percorre cerca de 32km desde sua nascente até sua
foz, sofre alto grau de degradação, sofrendo com contaminação e assoreamento, além de ter
seu curso modificado.
105
Figura 4.37 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Pitimbu na divisa dos municípios de
Natal e Parnamirim.
Fonte: Google Earth
A bacia do rio Pitimbu é a única em Natal que é gerida por um comitê colegiado,
com poderes deliberativos, normativos e consultivos, com a função de proteção aos
mananciais da bacia. O estado ainda possui mais dois comitês: do rio Ceará-Mirim e do rio
Apodi-Mossoró.
4.5.2 Rio Doce
O rio Doce nasce na lagoa de Extremoz, no município homônimo, e percorre 14 km
através da zona norte de Natal, através de um curso desviado ao longo dos anos, até a sua
desembocadura no rio Potengi. Seu curso, assim como as dunas e lagoas ao longo de seu
canal são protegidos pela Zona de Proteção Ambiental 09.
Trata-se de um rio bastante meandrante (figura 4.38), cujas margens apresentam
ocupações irregulares em alguns pontos, mas que possui alta interesse turístico, econômico
e ambiental.
106
Figura 4.38 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Doce.
Fonte: Google Earth
Nos últimos anos, as discussões sobre a importância do rio Doce vêm sendo
ampliadas em vista do grau de degradação em alguns pontos e pela busca da iniciativa
privada por áreas em torno do rio e de suas lagoas devido ao às paisagens paradisíacas
existentes.
4.5.3 Rio Potengi
Principal rio da cidade e um dos maiores do estado do Rio Grande do Norte, nasce
na cidade de Cerro Corá e percorre 123km até a sua foz no Oceano Atlântico, já na capital
potiguar (figura 4.39). Possui, ao longo de suas margens, várias áreas de manguezais.
Figura 4.39 – Imagem de satélite com destaque para a desembocadura do rio Potengi no Oceano Atlântico.
Fonte: Google Earth
107
O rio Potengi possui uma relação intrínseca com a história da cidade do Natal, está
presente desde o início no cotidiano de muitos dos moradores e visitantes, através das pontes
construídas sobre eles, a cidade está ligada. É ele que divide a zona norte, maior região
administrativa da cidade, das demais. É também espaço de desenvolvimento econômico e
lazer.
Hoje em declínio, o remo foi, desde 1897, um dos principais esportes praticados em
Natal, e era justamente no canal do rio Potengi que os atletas em seus barcos praticavam seus
treinos e competições eram realizadas (figura 4.40). Ainda hoje há sedes em funcionamento
de clubes de regatas na rua Chile, bairro da Ribeira.
Figura 4.40 – Foto de 2012 mostrando jovem praticante do Remo no rio Potengi.
Foto: Rodrigo Sena / Tribuna do Norte
Ainda hoje o rio Potengi tem sua fundamental importância para a cidade, nele está
localizado o estaleiro da Marinha do Brasil e o terminal portuário de Natal, que viabiliza
operações de importação e exportação de diversos produtos, além de ser porta de entrada de
turistas que chegam à cidade em cruzeiros.
Dos valores da geodiversidade definidos por Gray (2013), além do valor intrínseco,
são identificados nos principais rios de Natal os serviços ecossistêmicos de:
regulação, é explicado devido à participação dos rios no ciclo hidrológico, o que
caracteriza processos atmosféricos e oceânicos, corrobora com esse serviço o fluxo
108
de água dos rios, sobretudo do rio Doce e Potengi, em direção ao oceano,
influenciando o movimento de águas oceânicas na região;
suporte, devido a presença de espécies de peixes e crustáceos que usam os rios como
habitat;
provisão, uma vez que estes rios são fundamentais para o abastecimento de água
potável na cidade do Natal, através de suas relações com o aquífero Barreiras,
disponibilizando-a para ser bebida;
cultura, este serviço é identificado pela paisagem dos rios, que propiciam uma
qualidade ambiental ao meio, assim como através das atividades de lazer que são
realizadas nos cursos dos rios, com destaque à prática do remo no rio Potengi.
Atividades voluntárias de proteção aos mananciais, como recolhimento de lixo nos
rios caracterizam este serviço da geodiversidade através do desenvolvimento social;
conhecimento, principalmente embasado na quantidade de trabalhos científicos que
versam sobre os mananciais dos rios Doce, Pitimbu e Potengi, e que colaboram a
formação, via educação, de profissionais que possam a vir trabalhar na área. Todos
os rios são fundamentais em diversos estudos da dinâmica hidrogeológica local.
Pela classificação de Brilha (2015), os rios de Natal podem ser identificados como
geossítios, devido à sua importância científica, atestada pela diversidade de trabalhos,
sobretudo no domínio das geociências, em ambos cursos d’água.
Devido às extensões dos rios, eles passam a ser classificados como áreas, de acordo
com o que definem Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
109
4.6 LAGOAS INTERDUNARES
Medeiros (2001) define lagoas como “depressões com forma variada, contendo ou
não água, de origem natural ou artificial”. Em Natal, são conhecidos 10 conjuntos de lagoas
naturais, sendo 5 na região a norte do rio Potengi e 5 a sul, muitas das quais foram
impermeabilizadas pela ação antrópica ao longo dos anos.
Medeiros (2001) e Amaral et al. (2005) mostram que dos conjuntos naturais, apenas
1 permaneceu intacto e 3 foram totalmente destruídos (quadro 4.1). Todas faziam parte do
sistema de drenagem natural da cidade que, com sua supressão parcial ou total, passou a
demandar obras de engenharia para escoamento de águas pluviais em Natal.
Quadro 4.1 – Lagoas interdunares da cidade do Natal e seu atual estado de conservação.
Fonte: Amaral et al. (2005)
Lagoas Posição
Geográfica Preservada
Parcialmente
Destruída
Totalmente
Destruída
Centro Administrativo (3 lagoas) S X
Sapo N X
Azul N X
Lagoinha (7 lagoas) S X
Pajussara N X
Guamoré N X
Campina S X
Jacob N X
Seca S X
Manuel Felipe S X
Hoje dois conjuntos de lagoas estão compreendidos nas Zonas de Proteção
Ambiental 05 e 09, que protegem a associação de dunas e lagoas no bairro de Ponta Negra
(figura 4.41) e ao longo do vale do rio Doce, respectivamente.
110
Figura 4.41 – Imagem de satélite de 2014 mostrando um conjunto de lagoas no bairro de Ponta Negra.
Fonte: Google Earth
Entretanto, a lagoa mais conhecida da cidade é a Manoel Felipe (figura 4.42),
localizada no bairro do Tirol, aonde foi fundado, em 1962, a Cidade da Criança, uma área
verde ao redor da lagoa, com diversas instalações e equipamentos para uso do público, como
pedalinhos que podem ser usados para passeios na lagoa (figura 4.43).
Figura 4.42 – Imagem de satélite mostrando a lagoa
Manoel Felipe.
Fonte: Google Earth
Figura 4.43 – Foto mostrando passeio de pedalinho
na lagoa Manoel Felipe.
Fonte: Blog o Curiozzo
De acordo com os valores definidos por Gray (2013), as lagoas de Natal, além de
possuir um valor intrínseco por sua simples existência, expressa os seguintes serviços
ecossistêmicos da geodiversidade:
regulação, visto que as lagoas são fundamentais para o controle de alagamentos que
possam ser provocados por um intenso fluxo de água pluvial, isto porque funcionam
111
como local final do escoamento natural ou artificial das águas, que serão ali
infiltradas pelo solo;
provisão, uma vez que as águas escoadas e armazenadas nas lagoas, no caso de não
estarem poluídas, podem ser utilizadas como bebida;
cultural, identificada na lagoa Manoel Felipe, onde algumas atividades de lazer
ocorrem na lagoa, como o passeio de pedalinhos.
De acordo com a definição de Brilha (2015) a partir dos valores da geodiversidade
identificados em cada local, as lagoas de Natal, por não terem um alto valor científico nesta
avaliação qualitativa, são classificadas como lugares de geodiversidade.
Já a classificação por extensão da ocorrência, definida por Fuertes-Gutiérrez e
Fernández-Martínez (2010), define que as lagoas natalense que se encontram preservadas,
parcial ou totalmente, podem ser classificadas como áreas.
112
4.7 PEDRA DO ROSÁRIO
A Pedra do Rosário é um local de devoção católica desde 21 de novembro de 1753,
quando ali foi encontrada a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira da cidade,
em um caixote de madeira que tinha a inscrição: “Aonde esta imagem chegar, nenhuma
desgraça acontecerá”.
A chamada Pedra do Rosário trata-se de um bloco de arenito ferruginoso correlato
ao Grupo Barreiras, recoberto por bioclastos. Este bloco está relacionado com uma antiga
linha de falésias que contorna o Centro Histórico e prossegue até a faixa Litoral Central.
Sobre o bloco de arenito, foi construído um pilar sobre o qual foi posta uma réplica
da padroeira (figura 4.44). Ainda sobre a rocha foi erguido um mirante, a partir do qual é
possível observar a paisagem emoldurada pelo rio Potengi e pelos manguezais (figura 4.45).
Figura 4.44 – Bloco de arenito ferruginoso correlato ao
Grupo Barreiras que serve como fundação para o pilar.
Fonte: Carvalho (2010)
Figura 4.45 – Foto mostrando a imagem de Nsa Sra
da Apresentação sobre o pilar, com o rio Potengi e
seu estuário ao fundo.
Foto: Matheus Lisboa
De acordo com os valores de Gray (2013), pode-se identificar no bloco de arenito
que compõe a Pedra do Rosário, além do valor intrínseco, os serviços de:
suporte, uma vez que o bloco de arenito ferruginoso é habitat para alguns espécimes
de ostras e mariscos e porque ele também serviu de plataforma para o pilar de
sustentação da imagem de Nossa Senhora da Apresentação e do mirante;
113
cultural, devido ao significado cultural e histórico agregado a este local, por ter ali
sido encontrada a imagem da padroeira da cidade em 21 de novembro de 1753.
Também é possível identificar este serviço devido à qualidade ambiental da
paisagem observada a partir do mirante da Pedra do Rosário.
De acordo com a classificação de Brilha (2015), a Pedra do Rosário, por não possuir
valores da geodiversidade com teor científico, é classificada como lugar de geodiversidade.
A classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) define duas
classificações para este local: como ponto, devido à extensão de sua ocorrência ser restrita,
e como panorama, uma vez que a partir do mirante sobre a Pedra do Rosário é possível
observar o rio Potengi e o seu estuário na margem oposta.
4.8 PANORAMAS DE GEODIVERSIDADE
Seguindo a classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010),
utilizada neste trabalho, é possível identificar lugares na cidade do Natal em que a
geodiversidade possui amplo destaque nas paisagens locais.
Estes observatórios, ou panoramas de geodiversidade, são identificados aqui como
mirantes e são quatro os principais na cidade, a partir dos quais podem ser observados,
separadamente ou em conjunto harmonioso, os diferentes recursos que compõem a
geodiversidade in situ de Natal, descrita, valorada e classificada neste capítulo.
A seguir, estes mirantes são localizados e as expressões da geodiversidade que são
possíveis de, a partir deles, serem observadas são identificadas segundo a nomenclatura
utilizada neste trabalho.
114
4.8.1 Mirante Parque das Dunas
Localizado ao final das trilhas realizadas por meio da vegetação que recobre os
sedimentos eólicos no Parque das Dunas, este mirante permite observar a faixa de praia sul,
além dos corpos de dunas do próprio parque.
Figura 4.46 – Imagem 3D simulando a paisagem ao
redor do mirante do Parque das Dunas.
Fonte: Google Earth
Figura 4.47 – Foto da paisagem a partir do mirante do
Parque das Dunas.
Fonte: TripAdvisor.com
O acesso ao mirante é restrito aos que realizam trabalhos e atividades no parque ou
que concluem as trilhas, seguindo os horários disponibilizados pela equipe responsável em
sua sede.
4.8.2 Mirante Centro Histórico
Localizado em frente à Igreja do Rosário dos Pretos, no Centro Histórico de Natal,
permite a visualização do Rio Potengi e do manguezal em seu estuário.
Figura 4.48 – Imagem 3D simulando a paisagem ao
redor do mirante do Centro Histórico.
Fonte: Google Earth
Figura 4.49 – Foto da paisagem a partir do mirante
do Centro Histórico.
Foto: Matheus Lisboa
Este mirante pode ser acessado gratuitamente e diariamente, sem nenhuma restrição
de horário. Entretanto, questões de segurança devem ser observadas antes de realizar a visita.
115
4.8.3 Mirante Onofre Lopes
Localizado em frente ao Hospital Universitário Onofre Lopes, este mirante permite
a visualização de toda a faixa Litoral Central e de parte da faixa Norte, além da
desembocadura do Rio Potengi. Também é possível observar o campo de Dunas Norte e
também das dunas de Genipabu, do município de Extremoz.
Figura 4.50 – Imagem 3D simulando a paisagem ao
redor do mirante Onofre Lopes.
Fonte: Google Earth
Figura 4.51 – Foto da paisagem a partir do mirante
Onofre Lopes.
Foto: Matheus Lisboa
Este mirante pode ser acessado gratuitamente e diariamente, sem nenhuma restrição
de horário. Entretanto, questões de segurança devem ser observadas antes de realizar a visita.
4.8.4 Mirante Parque da Cidade
O mirante em questão é localizado no topo da torre do Memorial de Natal, no Parque
da Cidade, aonde é possível visualizar todo o corpo de dunas do parque, além de parte do
corpo de dunas oeste e do Parque das Dunas.
Figura 4.52 – Imagem 3D simulando a paisagem ao
redor do mirante do Parque da Cidade.
Fonte: Google Earth
Figura 4.53 – Foto da paisagem a partir do mirante
do Parque da Cidade.
Foto: Matheus Lisboa
O acesso ao mirante é condicionado ao horário de funcionamento do Parque da
Cidade e do Memorial de Natal.
116
Como a existência de panoramas de geodiversidade só é prevista na classificação de
Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010), eles não serão neste trabalho valorados pela
classificação de Brilha (2015).
Entretanto, as definições dos valores da geodiversidade por Gray (2013), preveem a
valoração das paisagens e explicitam para elas, além do valor intrínseco, no caso dos
mirantes de Natal, apenas o serviço cultural, expressado pela qualidade ambiental, ou seja,
pelo apelo estético das paisagens, que podem propiciar benefícios psicológicos ou
fisiológicos para o ser humano.
Além disso, as paisagens que podem ser apreciadas em cada mirante possuem
recursos da geodiversidade, que, por sua vez, foram anteriormente valorados e classificados
neste capítulo.
117
4.9 QUADRO SÍNTESE
As análises realizadas neste capítulo permitiram a construção de um quadro síntese
dos valores e classificações identificados para cada local de geodiversidade observado, que
é apresentada no quadro 4.2.
Quadro 4.2 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade in situ na cidade do Natal
Local Valores e Serviços1 Classificação por
Valor2,*
Classificação por
Extensão3
Litoral Norte Valor Intrínseco
Serviço de Regulação
Serviço de Suporte
Serviço Cultural
Serviço de Conhecimento
Lugar de
Geodiversidade
Faixas
Litoral Central Geossítio
Areia Preta Lugar de
Geodiversidade
Litoral Sul Geossítio
Dunas Norte Valor Intrínseco
Serviço de Regulação
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Lugares de
Geodiversidade Áreas Dunas Oeste
Dunas Leste
Dunas Sul
Valor Intrínseco
Serviço de Regulação
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Serviço de Conhecimento
Geossítio Área
Parque das Dunas
Valor Intrínseco
Serviço de Regulação
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Serviço de Conhecimento
Geossítios Áreas
Parque da Cidade
Manguezais
Valor Intrínseco
Serviço de Suporte
Serviço Cultural
Lugar de
Geodiversidade Área
118
Rio Pitimbu Valor Intrínseco
Serviço de Regulação
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Serviço de Conhecimento
Geossítios Áreas Rio Doce
Rio Potengi
Lagoas Interdunares
Valor Intrínseco
Serviço de Regulação
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Lugar de
Geodiversidade Áreas
Pedra do Rosário
Valor Intrínseco
Serviço de Suporte
Serviço Cultural
Lugar de
Geodiversidade Ponto e Panorama
Mirantes Valor Intrínseco
Serviço Cultural – Panoramas
1 – Gray (2013); 2 – Brilha (2015); 3 – Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010)
* Uma vez que as atividades desenvolvidas neste trabalho enfocam apenas a valoração qualitativa dos locais
de geodiversidade, é possível que um valor científico tenha sido super ou subvalorizado. Apenas uma valoração
quantitativa poderá identificar possíveis equívocos.
119
4.10 MAPA DE LOCALIZAÇÃO
Figura 4.54 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade in situ está presente na cidade do Natal agrupados pela classificação por extensão areal.
120
121
5. GEODIVERSIDADE EX SITU
A geodiversidade pode ser utilizada, por meio de seus diversos recursos (como
minerais, rochas e solos), em processos que são natos às cidades, a exemplo de construções
e arruamentos. Disto, tem-se que é possível analisar a geodiversidade de forma ex situ, ou
até mesmo com uma implicância cultural ao seu uso nas áreas compreendidas pela urbis.
Neste capítulo são investigados os principais locais em que algum recurso da
geodiversidade foi empregado em monumentos, edificações, ruas ou em qualquer outra
forma urbana na cidade do Natal. As classificações utilizadas para a geodiversidade in situ
também são aplicadas às descrições das ocorrências ex situ da geodiversidade na cidade.
Ao final do capítulo são apresentados um quadro síntese, constando dos valores para
os recursos da geodiversidade identificados, assim com as classificações de acordo com seus
valores e extensões, além de um mapa de localização dos locais.
5.1 FORTE DOS REIS MAGOS
Tida como a primeira edificação da cidade, o Forte dos Reis Magos está localizado
na desembocadura do Rio Potengi, sobre os corpos de arenitos praiais que são encontrados
na região, e que serviram de fundação sólida para a edificação. O início da construção se deu
no final do século XVI, mas a conclusão da estrutura hoje remanescente data de 1628 (Souza,
2008).
A região onde se encontra o Forte é compreendida pela Zona de Proteção Ambiental
ZPA – 07, tendo ainda inúmeras feições geológico-ambientais distintas tais como: arrecifes
(ou recifes de arenito, beachrocks), zona de praia (praia do Forte), cordões dunares, estuário,
vegetação de mangue entre outras (Natal, 2010).
Desde o início da colonização da cidade até os dias atuais, o Forte dos Reis Magos
sempre esteve presente na história de Natal. Inicialmente, como um ponto importante de
defesa da então terra portuguesa, hoje como um importante ícone e monumento potiguar.
Frans Post, em 1638, registrou a então relação do Forte com a paisagem natalense
(Figura 5.1), na qual se constituía como uma estrutura imponente. Nesta época, o
monumento recebeu o nome de Fort Ceulen, devido à ocupação holandesa no nordeste
brasileiro entre 1633 e 1654.
122
Figura 5.1 – Pintura “Fort Ceulen” (1638), de Frans Post, que mostra, ao fundo, o Forte dos Reis Magos, além dos
recifes de arenito em seu entorno e do povo Potiguara, que habitava a região. Campos de dunas são vistas ao
fundo.
Fonte: www.gallerix.ru
Ao longo de quatro séculos de existência, o Forte dos Reis Magos viu a cidade crescer
e mudar, foi abandonado e reformado também por diversas vezes. A geodiversidade local da
cidade emoldura seu entorno, com os recifes de arenito, as dunas e as praias natalense (Figura
5.2).
Figura 5.2 – Visão do Forte dos Reis Magos a partir da desembocadura do Rio Potengi, ano da foto: 1998.
Foto: Wolfgang Kaehler / Getty Images
O Forte foi construído com as rochas encontradas em seu entorno, que são arenitos
de cimentação carbonática e arenitos cimentados por óxido de ferro, correlatos ao Grupo
Barreiras. A granulometria varia de fina a média e são compostos de grãos angulosos a
subarredondados de quartzo, além de possuírem resquícios de bioclastos.
123
É possível verificar a existência de blocos de arenitos nas fundações e nos pórticos
do Forte, como mostram as figuras 5.3 a 5.5 que seguem. Disto, tem-se a utilização da
geodiversidade de forma ex situ na construção da edificação.
Figura 5.3 – Blocos de arenitos utilizados na base do Forte dos
Reis Magos.
Foto: Marcos Nascimento
Figura 5.4 – Destaque para a estratificação
cruzada em um bloco de arenito na base da
edificação
Foto: Marcos Nascimento
Figura 5.5 – Detalhe da porção superior de
um pórtico no Forte dos Reis Magos feito com
blocos de arenito.
Foto: Marcos Nascimento
Em relação aos valores ecossistêmicos da geodiversidade definidos por Gray (2013),
observa-se além do valor intrínseco, os serviços de provisão, evidenciado pelo uso dos
arenitos como material de construção por toda edificação em pórticos; e cultural, pois o
Forte possui um significado histórico importante, que embasou, por exemplo, os estudos
arqueológicos empreitados pelo IPHAN. Logo, para a classificação de Brilha (2015), as
rochas utilizadas neste monumento de Natal são identificadas como elementos de
geodiversidade.
Como a área total do Forte dos Reis Magos é de, aproximadamente, 2800m², é
classificado, de acordo com sua extensão (Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez, 2010)
como ponto.
124
5.2 CENTRO HISTÓRICO
O Centro Histórico de Natal compreende uma área de 28 hectares entre os bairros da
Cidade Alta, Ribeira e Rocas que foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) em julho de 2014. Esta região, que até o começo do século XX
correspondia à área total da cidade do Natal, possui um amplo registro de uso de rochas na
pavimentação de ruas, construção e ornamentação de edifícios e monumentos.
Arenitos ferruginosos e arenitos calcíferos foram utilizados no Centro Histórico
desde o início da colonização da cidade, o uso de granitos começou no início do século XX
e, mais recentemente, ortognaisses, mármores, migmatitos, tonalitos e diabásios foram
empregados (Nascimento e Carvalho, 2013; Silva et al., 2015). O trabalho de Carvalho
(2010), pioneiro na área de geodiversidade em Natal, descreve detalhadamente 27
ocorrências de uso de rochas na região e a partir de 2015 o projeto “As Rochas Contam sua
História”, sob coordenação do professor Marcos Nascimento, tem focado estudos e
divulgação das rochas utilizadas desde a fundação da cidade até a década de 1920, os
primeiros resultados deste projeto foram apresentados por Silva et al. (2015).
Devido à complexidade e diversidade do uso de diferentes litologias no Centro
Histórico, aqui serão separados os locais de acordo com as rochas utilizadas, iniciando com
as aplicações mais antigas, da época da colônia portuguesa até as intervenções urbanísticas
mais recentes, já no final do século XX.
5.2.1 Arenitos Ferruginosos
Arenitos ferruginosos são compostas essencialmente de quartzo e minerais opacos,
cuja cimentação é feita pela precipitação de óxidos de ferro, o que dá à rocha uma tonalidade
avermelhada ou amarronzada. É facilmente encontrado nas praias de Natal e em base de
falésias. É uma litologia correlata ao Grupo Barreiras.
Este tipo de rocha foi o primeiro material utilizado nas construções na cidade, visto
que pode ser encontrado nos alicerces de construções como da Igreja de Nossa Senhora da
Apresentação (Figura 5.6), na qual também é possível encontrar os arenitos ferruginosos em
suas paredes internas.
Também são encontrados blocos de arenitos ferruginosos compondo edificações
como a casa do Padre João Maria, sede da Capitania das Artes, na Casa da Ribeira, na sede
125
da Escola de Dança do Theatro Alberto Maranhão e em alguns casarios coloniais no bairro
da Ribeira.
Figura 5.6 – Arenitos ferruginosos nas paredes internas da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. À
direita, ampliação do destaque.
Foto: Matheus Lisboa
No Centro Histórico de Natal esse tipo de rocha foi utilizado também nos primeiros
calçamentos, ainda no final do século XIX, cujo estilo de é conhecido como “pé-de-
moleque” (Nascimento et al., 2012). Este é o principal registro de uso de arenitos
ferruginosos na cidade, uma vez que por se apresentarem, naturalmente, como blocos
irregulares e de difícil manuseio em trabalhos de cantaria, ficou restrito a elementos
estruturais dos edifícios e arruamentos.
Ainda são encontrados resquícios deste tipo de calçamento nas ruas Voluntários da
Pátria, Quintino Bocaiúva, Coronel Lins Caldas e na Travessa Pax (Figura 5.7), aonde existe
o mais bem conservado exemplar do calçamento “pé-de-moleque” com arenitos ferruginosos
na cidade, ainda que esteja susceptível a constante degradação.
Figura 5.7 – Detalhe do calçamento “pé-de-moleque” com blocos de arenitos ferruginosos na Travessa Pax, bairro
da Cidade Alta.
Foto: Matheus Lisboa
126
5.2.2 Arenitos Calcíferos
Constituídos essencialmente por quartzo, assim como os arenitos ferruginosos,
diferem destes por precipitação de carbonato de cálcio na forma de cristais de calcita. São
encontrados, em Natal, principalmente nos recifes de arenito das praias do Forte, Meio e
Artistas.
No Centro Histórico de Natal, os arenitos calcíferos foram o principal material de
construção e, devido à sua facilidade de corte, tiveram diversas aplicações em soleiras,
pórticos, fachadas de prédios, além de ter um bloco constituindo o pelourinho da cidade.
Pode ser encontrado, por exemplo, em trabalhos de cantaria na Igreja de Nossa
Senhora da Apresentação (Igreja Matriz) e Igreja de Santo Antônio (Igreja do Galo), na qual
há registro de dois tipos de cantaria, sendo um mais desenvolvido e mais recente que o outro.
As figuras 5.8 a 5.11 mostram alguns dos registros de uso de arenitos calcíferos no Centro
Histórico de Natal.
Figura 5.8 – Igreja de Santo Antonio (Igreja do Galo),
com colunas externas feitas com blocos de arenitos
calcíferos.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.9 – Destaque para os trabalhos em cantaria
na base das colunas na Igreja do Galo, mostrando
claramente uma diferença de técnicas.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.10 – Fachada da Igreja Matriz com colunas e
pórticos feitos de arenitos calcíferos.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.11 – Destaque para o campanário esquerdo
da Igreja Matriz em que há bloco de arenito calcífero.
Foto: Matheus Lisboa
127
5.2.3 Granito
Já no século XX, uma terceira litologia começou a ser utilizada no Centro Histórico
de Natal: o granito. Seu uso inicial foi como base de monumentos e, em seguida, passou a
compor os modernos calçamentos da cidade, em substituição aos defasados calçamentos
“pé-de-moleque” com arenitos ferruginosos, nos quais o trânsito de pedestres e automóveis
era deficiente devido às irregularidades dos blocos de rocha.
As rochas utilizadas são, de forma geral, equigranulares, com granulometria média,
sendo compostos, essencialmente, por quartzo, feldspato potássio, plagioclásio, biotita e
anfibólio (Figura 5.12). Ocasionalmente, ocorrem epídoto e titanita. Os blocos utilizados no
Centro Histórico têm como origem pedreiras na cidade de Macaíba, aonde se encontra o
corpo do Granito Macaíba, uma suíte cálcio-alcalina equigranular de alto potássio
(Nascimento et al., 2015).
Figura 5.12 – Detalhe do granito utilizado no monumento à Independência, na praça 7 de setembro. Destaque
para o alinhamento dos cristais de anfibólio.
Foto: Matheus Lisboa
Cinco monumentos nos bairros históricos de Natal são constituídos por trabalhos em
cantaria em blocos do Granito Macaíba. O primeiro a ser implantado foi o monumento em
homenagem ao Padre João Maria, em 1909, seguido pelos monumentos a Augusto Severo e
Tavares de Lira, em 1913 e 1914, respectivamente. Ainda foram homenageados os mártires
da revolução de 1817 (Figura 5.13) e o centenário da independência do Brasil (Figura 5.14),
cujos monumentos foram inaugurados em 1917 e 1922.
128
Figura 5.13 – Monumento aos Mártires da Revolução
de 1817, localizado na Praça André de Albuquerque,
Cidade Alta.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.14 – Monumento em comemoração ao
centenário da Independência do Brasil, localizado na
Praça 7 de setembro, Cidade Alta.
Foto: Matheus Lisboa
O monumento a Augusto Severo, herói da aviação nacional, e que está localizado em
praça homônima no bairro da Ribeira teve sua base pintada pela Prefeitura Municipal do
Natal no final de 2015. Isto impossibilita descrições petrográficas e se constitui numa forma
de agressão ao patrimônio cultural da cidade e ao recurso da geodiversidade utilizado na
obra, uma vez que as características mineralógicas da rocha foram cobertas. Este assunto
será mais detalhado no capítulo seguinte, que trata das ameaças à geodiversidade, seja ela in
situ ou ex situ.
O mapa da figura 5.15 foi elaborado em conjunto pela equipe do projeto “As Rochas
Contam Sua História” e localiza os monumentos e edifícios que possuem alguma das três
litologias que foram mais utilizadas até o começo do século XX em Natal: arenitos
ferruginosos, arenitos calcíferos e granito Macaíba. Este mapa está restrito ao bairro da
Cidade Alta, o mapa do bairro da Ribeira estará finalizado até o final de 2016.
129
Figura 5.15 – Mapa geoturístico do bairro da Cidade Alta, com destaque para os monumentos e edifícios feitos com rochas até o começo do século XX.
Fonte: Projeto “As Rochas Contam Sua História”
130
5.2.4 Demais Rochas
A partir da segunda metade do século XX novas intervenções no Centro Histórico,
sobretudo nas edificações inseriram litologias não utilizadas anteriormente, a exemplo do
mosaico na calçada da Pinacoteca Potiguar, feito com ortognaisses, basaltos, calcários e
mármores (Figura 5.16), como mostra o trabalho de Carvalho (2010).
Os ortognaisses, de textura lepidonematoblástica, são compostos por biotita, quartzo,
feldspato, epidoto, hornblenda e titanita, além de alguns minerais acessórios. Mármores são
compostos essencialmente por calcita, sendo possível identificar, em microscópio ótico,
cristais de tremolita.
Figura 5.16 – Foto de calçada portuguesa da Pinacoteca potiguar, no detalhe os diferentes tipos de rocha
utilizados para compor os mosaicos.
Foto: Matheus Lisboa
Placas de albita granito, extraídas no Ceará, foram utilizados no revestimento da
fachada da sede da Assembleia Legislativa do estado. Outros tipos de granito, diabásio e
sienito foram usados em obras de restauração do Theatro Alberto Maranhão, da sede da
CBTU e da Igreja de Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira.
Mármore correlacionado à Formação Jucurutu foi, por sua vez, utilizado como
revestimento na sede da Prefeitura Municipal, Palácio Felipe Camarão, assim como placas
de migmatito foram colocados no piso da edificação. Placas de mármore também revestem
as paredes da sede local Ministério da Fazenda.
Quartzito foi utilizado na Praça das Mães como revestimento de um muro. A rocha,
correlacionada à Formação Equador, possui textura granoblástica e é composta,
essencialmente, por quartzo, muscovita e biotita.
131
Em relação aos valores ecossistêmicos da geodiversidade (Gray, 2013) identificados
na região do Centro Histórico de Natal, observa-se, além do valor intrínseco, devido
simplesmente à existência das rochas nas construções, os serviços de suporte, provisão e
cultural.
O viés de suporte está no uso de alguns blocos de rocha, sobretudo de arenito
ferruginoso como estabelecimento de uma fundação para construções como a Igreja de
Nossa Senhora da Apresentação, em que se observa a plataforma da edificação composta
por arenitos.
O serviço de provisão é o mais claro e presente no Centro Histórico, visto que em
todos os casos descritos aqui, as rochas, sejam arenitos ferruginosos ou calcíticos, granitos
ou sienitos, mármores ou migmatitos, foram utilizadas como materiais de construção dos
monumentos, igrejas e edifícios em geral, seja como elemento estrutural ou na composição
de pórticos e fachadas.
Por último, o serviço cultural da geodiversidade é reconhecido pelo significado
histórico das construções em que as rochas foram utilizadas, que remontam ao início da
colonização da cidade e são retrato da época.
Como nenhum dos valores identificados possui um teor científico, as rochas
utilizadas de forma ex situ no Centro Histórico de Natal são classificadas, de acordo com
Brilha (2015), como elementos de geodiversidade.
A classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) para a região a
identifica como uma área, visto que em sua extensão ampla há uma concentração de, ao
menos, 27 locais em que algum recurso da geodiversidade foi empregado.
132
5.3 IGREJA DE PEDRA E CLUBE DA REDINHA
Quem cruza a ponte Newton Navarro vê à sua direita a praia da Redinha, única praia
na região norte da cidade do Natal. Ali, já estava estabelecida desde o início do século, uma
importante comunidade de pescadores que, em 1924, construíram uma capelinha dedicada à
Nossa Senhora dos Navegantes, sua protetora.
Com o aumento da presença de “veranistas” a partir da primeira metade do século
XX, a praia se tornou um dos principais locais de veraneio da população natalense. Esse
novo público da praia, na década de 1950, financiou a construção de uma nova igreja
dedicada à protetora dos navegantes e trabalhadores do mar, vista ao centro da Figura 5.17.
Até a década de 1980 a praia experimentou um constante movimento de veranistas (Figura
5.18) nos meses de dezembro e janeiro, sendo encerrado com a festa de Nossa Senhora dos
Navegantes, comemorada sempre no último domingo de janeiro de forma a marcar o período
de veraneio.
Figura 5.17 – Foto aérea da praia da Redinha na
década de 1950, época de construção da Igreja de
Pedras, localizada no centro da foto, em frente ao
Redinha Clube.
Fonte: http://blogdobarbosa.jor.br/
Figura 5.18 – A Praia da Redinha foi até a década de 1980
a mais importante praia de veraneio de Natal. Ainda hoje
há casas de veranistas que todos os meses de dezembro e
janeiro retornam à praia.
Foto: Acervo pessoal
A chamada “Igreja de Pedra” (Figura 5.19) foi erguida com as rochas encontradas na
região, tipicamente arenitos ferruginosos, semelhante com o que havia sido feito numa
reforma do clube local, o Redinha Clube (Figura 5.20), em 1940. As rochas utilizadas,
macroscopicamente, possuem cor escura (variando de preta a diferentes tons de marrom),
matriz fina e se apresenta fortemente cimentada por óxido de ferro. De forma geral, são
litologias correlatas ao Grupo Barreiras (Araújo et al., 2013).
Na rocha estão inseridos grãos subangulosos de quartzo que variam de 1 a 2 cm de
diâmetro (Figura 5.21). Nas diferentes construções foram priorizadas a colocação de blocos
133
de dimensões maiores, com até 30 cm de comprimento, na base e frações menores no topo,
como visto na torre da Igreja (Figura 5.22).
Figura 5.19 – Foto de julho de 2010 mostrando a Igreja
de Pedra da Redinha.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.20 – Pórtico de entrada do Redinha Clube,
construído com blocos de arenito ferruginoso.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.21 – Foto de detalhe das rochas utilizadas na
construção da Igreja de Pedra da Redinha. São
observados grãos subangulos de quartzo.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.22 – Foto da Torre da Igreja de Pedra da
Redinha na qual se observa a colocação de blocos
maiores na base da construção, com dimensões sendo
reduzidas até o topo.
Foto: Matheus Lisboa
Os blocos de arenitos podem ter sido retirados de corpos encontrados nas
proximidades das falésias distribuídas ao longo do litoral, especialmente os encontrados nas
praias de Areia Preta, Artistas e na Ponta do Morcego ou ainda podem ter sido retirados de
corpos com dimensões reduzidas próximas ao campo de dunas da Praia de Jenipabu, no
município de Extremoz (Araújo et al., 2013).
Em relação aos valores de Gray (2013) para a geodiversidade, além do valor
intrínseco, devido à existência única da utilização da geodiversidade na construção desses
dois marcos da praia, serviços ecossistêmicos podem ser identificados, como: suporte, as
rochas, sobretudo grandes blocos de arenitos ferruginosos, foram utilizados como
134
base/fundação, ou seja, foram plataformas para as construções; provisão, pois as rochas
também foram materiais para construção em ornamentação e para erguer as paredes da
estrutura principal e da torre; e cultural, uma vez que além de servirem de inspiração
artística para artistas locais que retratam as construções em suas telas e fotografias, há uma
identificação religiosa da comunidade local, sobretudo, com a Igreja de Pedras, aonde a
devoção à Nossa Senhora dos Navegantes ocorre durante todo o ano e chega em seu ápice
no último domingo do mês de janeiro, quando a festa da padroeira reúne centenas de pessoas.
Tais valores, uma vez que não possuem um teor científico, classificam as rochas
utilizadas nas construções da Igreja de Pedra e do Clube da Redinha como elementos de
geodiversidade, de acordo com a classificação de Brilha (2015), e devido às dimensões
reduzidas das duas construções erguidas com material pétreo, ambos são classificados como
pontos, pela classificação baseada em Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
5.4 PRAÇA CÍVICA
De nome oficial Praça Pedro Velho, a Praça Cívica é uma homenagem ao líder do
movimento republicano no Rio Grande do Norte, Pedro Velho de Alburquerque Maranhão.
Até a década de 1920, conta Souza (2008), o espaço era utilizado para partidas de futebol
dos times locais. Com uma reforma empreendida pelo prefeito Gentil Ferreira, a praça
passou a contar com lagos, carrossel aberto para as crianças, além de corriqueiros eventos
culturais.
Entretanto, o busto que homenageia Pedro Velho era localizado em outra praça,
conhecida como Square Pedro Velho, na Cidade Alta, onde hoje se encontra a Praça das
Mães. Lá, o busto estava colocado sobre um pedestal de granito (Figura 5.23), material que
era utilizado na época para trabalhos em cantaria dos monumentos da cidade. Na década de
1950, o monumento, que é composto pelo busto e uma escultura de uma mulher entregando
um ramalhete de flores, foi movido para a Praça Cívica (Pinto, 1971). Atualmente, o
monumento está colocado sobre um pedestal de mármore (Figura 5.24) correlato à Formação
Jucurutu. Contudo, não foi possível precisar quando a troca das litologias do pedestal foi
feita.
135
Figura 5.23 – Fotografia do monumento a Pedro Velho no
Square Pedro Velho, atual Praça das Mães na Cidade
Alta.
Fonte: Natal, 2006.
Figura 5.24 – Atualmente, o monumento a Pedro
Velho se localiza na Praça Cívica, posto sobre um
pedestal de mármore.
Foto: Matheus Lisboa
No ano de 2016, durante a obra de reforma do Palácio dos Esporte, ginásio
poliesportivo também localizado na Praça Cívica e que foi inaugurado pelo prefeito Djalma
Maranhão em 1963, utilizou, como revestimento das paredes externas, placas de quartzito
(Figura 5.25), tipicamente encontrado nas proximidades das cidades de Parelhas e Equador,
região do Seridó potiguar, e que são rochas metamórficas compostos essencialmente por
quartzo e muscovita, correlatas à Formação Equador (Figura 5.26).
Figura 5.25 – Foto da lateral do Palácio dos Esportes
sendo revestido com placas de quartzito.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.26 – Detalhe de uma placa de quartzito,
mostrando essencialmente quartzo e muscovita.
Foto: Matheus Lisboa
No caso desta reforma, Nobre e Andrade (2016) mostram que a inserção do
revestimento com as placas de quartzito são elementos que colaboram para um aspecto
contemporâneo num monumento modernista da cidade. Logo, o recurso da geodiversidade
utilizado na edificação apresenta um desacordo com o estilo arquitetônico, o que diferencia
dos demais locais em que a geodiversidade ex situ é utilizada.
136
Este é o único caso registrado por este trabalho em que algum recurso da
geodiversidade é empregado em reforma num monumento ou edifício histórico da cidade de
forma incoerente com os materiais disponíveis na época da construção original,
representando, então, uma problemática na questão de gestão e conservação do patrimônio
cultural da cidade.
Em relação dos valores ecossistêmicos da geodiversidade (Gray, 2013), o
monumento a Pedro Velho e o Palácio dos Esportes apresentam um valor intrínseco devido
à utilização de rochas em sua constituição, além de as diferentes litologias terem sido
utilizadas como materiais de construção para as obras, o que caracteriza um serviço de
provisão da geodiversidade.
Disto, tem-se que as rochas utilizadas são classificadas como elementos de
geodiversidade, na classificação de Brilha (2015), e como pontos, na classificação de
Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010), por serem ocorrências locais e restritas.
5.5 PRAÇA DOM PEDRO II
Localizada no bairro do Alecrim, a Praça Dom Pedro II foi inaugurada em 19 de abril
de 1941, entretanto, como aponta Souza (2008), a praça originalmente ficava na Cidade Alta,
tendo sido estabelecida por resolução do prefeito Omar O’Grady em 23 de junho de 1925.
Como homenagem ao último imperador do Brasil, na praça foi alocado um busto de Dom
Pedro II.
O busto hoje se encontra sobre um pedestal de granito, entretanto, não foi possível
determinar se este acompanha o busto desde a primeira praça ou se fora colocado apenas
com a mudança para o Alecrim.
Descrições mais detalhadas da mineralogia da rocha não foram possíveis porque no
final de 2015, semelhante com ações no Centro Histórico já relatadas, a Prefeitura Municipal
do Natal pintou a rocha com uma tinta que cobre todo o pedestal (Figura 5.27). Entretanto,
imagens obtidas a partir da ferramenta Google Street mostram que a litologia aparenta ser a
mesma dos monumentos da Cidade Alta e Ribeira: o Granito Macaíba (Figura 5.28).
137
Figura 5.27 – Estado atual do monumento a Dom
Pedro II, recentemente pintado, o que cobriu os
minerais da rocha, impossibilitando sua descrição.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.28 – Imagem do Google Street, datada de
agosto de 2015, que mostra o busto de Dom Pedro II,
na praça homônima, sob pedestal de granito
Fonte: Google Street View
De forma semelhante aos monumentos com base de rocha na cidade, só é possível
identificar, além do valor intrínseco, o serviço de provisão no monumento a Dom Pedro II.
Isto porque, pela classificação dos valores ecossistêmicos da geodiversidade de Gray (2013),
a rocha, no caso um granito, foi utilizada como material de construção para erguer a base
do busto.
Assim, pela classificação de Brilha (2015), a rocha utilizada pode ser classificada
como elemento de geodiversidade e, devido a sua extensão em área ser pontual, a
classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) determina um ponto para o
monumento.
5.6 COLÉGIO ATHENEU
Fundado em 1834 no bairro da Cidade Alta, o Colégio Atheneu Norte-Rio-Grandense
foi a primeira escola da cidade do Natal. Seu prédio atual, localizado na avenida Campos
Sales, bairro de Petrópolis, teve a sua construção iniciada em 1946, sendo concluída em 1954
(Souza, 2008).
138
Marco da história natalense, a sede do Colégio Atheneu abriga atualmente o busto
do professor João Tibúrcio, que desenvolveu importantes ações no ensino e na política local
no final do século XIX.
O busto está posto sobre um pedestal de granito com coloração acinzentada (figura
5.29) e cuja mineralogia compreende, essencialmente, cristais de quartzo, feldspato e
anfibólio. A rocha possui uma textura equigranular e é semelhante ao Granito Macaíba,
amplamente utilizado nos monumentos da cidade na primeira metade do século XX.
Figura 5.29 – Monumento ao Prof. João Tibúrcio, localizado no Colégio Atheneu, composto por um busto sobre
um bloco de granito.
Foto: Matheus Lisboa
Não foi possível precisar a data de aposição do monumento no colégio Atheneu, visto
que Pinto (1971) indica que tal monumento já havia sido transferido três vezes entre praças
de Natal até a década de 70.
Além do valor intrínseco, é possível identificar um serviço ecossistêmico de
provisão da geodiversidade, uma vez que o granito serviu como material de construção para
a base do busto, segundo a classificação de Gray (2013).
Desta valoração, tem-se que a rocha utilizada pode ser classificada como um
elemento de geodiversidade, segundo Brilha (2015). E, devido à sua extensão areal ser
restrita, o monumento é classificado como ponto, pela classificação de Fuertes-Gutiérrez e
Fernández-Martínez (2010).
139
5.7 CAMPUS CENTRAL DA UFRN
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte foi criada como Universidade do
Rio Grande do Norte em 1958. Ocupava, inicialmente, diversos prédios no centro da cidade,
principalmente nos bairros da Ribeira e Tirol.
Com o aumento de sua estrutura física, administrativa e estudantil, foi iniciada a
construção, na década de 1970, de um novo complexo que pudesse comportar a maior parte
da comunidade universitária, que com a mudança do local do campus garantiu nova
movimentação ao bairro de Lagoa Nova (Souza, 2008).
As construções mais antigas, como os setores de aula, a Biblioteca Central Zila
Mamede (Figura 5.30), o Almoxarifado Central e os prédios da Editora Universitária e da
Divisão de Material e Patrimônio fazem uso de blocos de rochas para erguer e revestir
algumas paredes.
A rocha possui granulometria média, equigranular, sendo possível descrever,
macroscopicamente, minerais como quartzo, anfibólio e feldspatos (Figura 5.31).
Figura 5.30 – Foto do salão de estudos da Biblioteca
Central Zila Mamede, com parede construída por
blocos de granito.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.31 – Detalhe de um bloco de granito utilizado
na construção da BCZM, também empregado em
outros edifícios do campus central da UFRN.
Foto: Matheus Lisboa
Em relação aos valores de Gray (2013), pode-se observar, além do valor intrínseco,
apenas a presença de um serviço ecossistêmico de provisão, já que as rochas foram um dos
materiais de construção empregadas nos prédios do campus. Isto classifica estas rochas
utilizadas como elementos de geodiversidade, segundo a classificação de Brilha (2015).
Uma vez que o Campus Central da UFRN possui uma área total superior a 120
hectares com alguns prédios que utilizam as rochas em suas construções espalhados, a
classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) definem então uma área.
140
5.8 CALÇADÕES DE NATAL
Durante as décadas de 1990 e 2000 ocorreram processos de urbanização na cidade
do Natal que priorizaram calçamentos estilo “pedra portuguesa”. Este tipo clássico de
calçamento, que foi propagado a partir do século XIX em Portugal (Figura 5.32) e trazido
ao Brasil no começo do século XX, lança mão de pequenos blocos de calcários (calcíticos
ou dolomíticos) e basaltos para criar mosaicos perfeitos.
Figura 5.32 – Destaque para o calçamento em mosaico perfeito feito com calcários (branco) e basalto (preto) na
praça Dom Pedro IV, em Lisboa.
Foto: Matheus Lisboa
Em Natal, entretanto, as calçadas portuguesas que foram feitas utilizam uma
variedade maior de rochas, incluindo, além dos calcários e basaltos, arenitos, argilitos,
ardósias, mármores e ortognaisses.
Em obras recentes, ditas para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, algumas dos
calçamentos portugueses das calçadas de Natal, principalmente na orla, foram substituídas
por blocos intertravados de concreto. No entanto, é possível ainda encontrar esse tipo de
calçada na região da Praia de Ponta Negra (Figura 5.33 e Figura 5.34), na Avenida Roberto
Freire e no Centro Histórico, como foi citado anteriormente.
141
Figura 5.33 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta
Negra, os blocos pretos são basaltos e os brancos
calcários.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.34 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta
Negra, os blocos brancos são calcários e os vermelhos
arenitos.
Foto: Matheus Lisboa
Em relação aos valores ecossistêmicos da geodiversidade (Gray, 2013) são
identificados, nas calçadas portuguesas de Natal, o valor intrínseco e o serviço de provisão,
que fica caro uma vez que diferentes tipos de rochas foram utilizados como o material de
construção fundamental para os mosaicos das calçadas.
Na classificação de Brilha (2015), as rochas utilizadas, uma vez que não possuem
valor científico associado, são caracterizadas como elementos de geodiversidade. Como os
mosaicos são desenvolvidos ao longo de linhas e muitos são elaborados paralelamente uns
aos outros, as calçadas passam a ser classificadas, de acordo com Fuertes-Gutiérrez e
Fernández-Martínez (2010), como faixas.
5.9 ENROCAMENTOS
A definição de enrocamentos mostra que eles são obras feitas com blocos maciços
de rochas com a finalidade principal de contenção de erosão e proteção de áreas à erosão.
Em Natal, pelo menos três áreas da orla tiveram obras deste tipo realizadas nos últimos 20
anos.
Na década de 1990 foi construído o enrocamento na Praia da Redinha, numa técnica
construtiva também conhecida como muro-guia de corrente, que também dispõe de um
passeio público (Figura 5.35). Esta obra foi construída para diminuir a constante erosão na
praia. Contemporaneamente, foram construídos enrocamentos na praia de Areia Preta
(Figura 5.36), também para diminuir a erosão na linha de costa.
142
Figura 5.35 – Foto do enrocamento na praia da Redinha,
sobre o qual há um passeio público.
Fonte: mochileiros.com
Figura 5.36 – Foto de um enrocamento na
praia de Areia Preta.
Foto: Matheus Lisboa
Mais recentemente, no ano de 2013, foi iniciado o projeto de enrocamento da Praia
de Ponta Negra (Figura 5.37 e Figura 5.38), aos moldes do que fora feito em Olinda e Recife,
no estado de Pernambuco. O projeto recebeu diversas críticas, especialmente devido ao
efeito sobre a dinâmica costeira na praia.
Figura 5.37 – Foto do enrocamento na praia de Ponta
Negra, paralelo à linha de costa.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 5.38 – Escadaria de acesso à praia sobre o
enrocamento na praia de Ponta Negra.
Foto: Matheus Lisboa
Estas três obras foram realizadas com blocos de granitos, possivelmente retirados em
pedreiras na região da cidade de Macaíba, cuja mineralogia apresenta, macroscopicamente,
feldspatos, quartzo, biotita e anfibólio. Alguns dos blocos são cortados por veios de quartzo.
Para a classificação de Gray (2013), as obras de enrocamento apresentam um valor
intrínseco, devido ao uso de rochas, assim como serviços ecossistêmicos de provisão, pois
as rochas são os materiais de construção utilizados, e de suporte, no caso específico da
Redinha, uma vez que as rochas funcionam também como plataforma para o passeio público.
Na classificação de acordo com os valores da geodiversidade (Brilha, 2015), as
rochas utilizadas nas obras de enrocamento em Natal são tidas como elementos de
143
geodiversidade. Já o desenvolvimento das obras em linhas paralelas entre si e
perpendiculares à linha de costa, no caso das praias da Redinha e Areia Preta, e
paralelamente à linha de costa, no caso da praia de Ponta Negra, classificam os enrocamentos
como faixas, na classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).
144
5.10 QUADRO SÍNTESE
A partir das análises apresentadas anteriormente neste capítulo, foi construída um
quadro síntese dos valores identificados, assim como as duas classificações empregadas
neste trabalho.
Quadro 5.1 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade ex situ na cidade do Natal
Monumento/Construção Valores e Serviços1 Classificação por
Valor2
Classificação por
Extensão3
Forte dos Reis Magos
Valor Intrínseco
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Elementos de
Geodiversidade
Ponto
Centro Histórico
Valor Intrínseco
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Área
Igreja de Pedra da Redinha
Valor Intrínseco
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Ponto
Clube da Redinha
Valor Intrínseco
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Serviço Cultural
Ponto
Praça Cívica Valor Intrínseco
Serviço de Provisão Ponto
Praça Dom Pedro II Valor Intrínseco
Serviço de Provisão Ponto
Colégio Atheneu Valor Intrínseco
Serviço de Provisão Ponto
Campus Central da UFRN Valor Intrínseco
Serviço de Provisão Área
Calçadões de Natal Valor Intrínseco
Serviço de Provisão Faixas
Enrocamentos
Valor Intrínseco
Serviço de Suporte
Serviço de Provisão
Faixas
1 – Gray (2013); 2 – Brilha (2015); 3 – Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010)
145
5.11 MAPA DE LOCALIZAÇÃO
Figura 5.39 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade ex situ é utilizada na cidade do Natal agrupados pela classificação por extensão areal.
146
147
6. PANORAMA GERAL SOBRE A GEOCONSERVAÇÃO EM NATAL
Há consenso em todo o mundo sobre a importância de se proteger os, assim
chamados, patrimônios mundiais, sejam eles naturais ou culturais. O entendimento sobre a
proteção da geodiversidade do planeta segue os mesmos princípios, sendo parte deste
patrimônio natural, mas que também está intimamente associado ao patrimônio cultural das
sociedades.
Disto, surgiu a ideia de geoconservação. Apesar de ter sido desenvolvida com maior
impulso a partir de 2006 com a realização de uma conferência sobre o tema em Dudley
(Inglaterra), como indicam Burek e Prosser (2008), registros esporádicos de legislações
voltadas à conservação do meio abiótico são identificados desde a segunda metade do século
XX no Reino Unido.
Em relação à geodiversidade da cidade do Natal valorada neste trabalho, pode-se
observar que as duas vertentes presentes, in situ e ex situ, sofrem com ações que ameaçam o
patrimônio natural e cultural local.
A necessidade de conservação da geodiversidade de um lugar está no fato de que
muitos dos recursos existentes são esgotáveis e, ao mesmo tempo, únicos. É preciso,
portanto, haver uso sustentável da geodiversidade mundial, conservando sempre aqueles
locais que possuem um alto valor, seja ele científico, cultural ou simplesmente turístico
devido à seu aspecto visual. A avaliação destes locais passa por uma valoração qualitativa e
quantitativa, além de uma forte participação dos gestores e população em geral.
Ações de proteção ao meio abiótico in situ estão consagradas por meio do Programa
Global Geoparques da UNESCO, mas também devem ser desenvolvidas em localidades
menores como Natal, em que, apesar de muitos dos recursos da geodiversidade estarem
contidos em Zonas de Proteção Ambiental, ainda observa-se agressões que desmontam e
descaracterizam os ambientes naturais ou monumentos e edificações que fizeram uso de
rochas em suas construções.
A proteção das expressões ex situ da geodiversidade está muito ligada à gestão do
patrimônio cultural, que procura proteger os valores deste patrimônio, agregando e
expandindo benefícios sociais, econômicos e ambientais (UNESCO, 2016).
148
Neste capítulo serão apresentadas as principais ameaças à geodiversidade na cidade
do Natal, seja ela in situ ou ex situ, como forma de identificar os principais problemas à
geoconservação local.
Soluções para as problemáticas aqui observadas demandam legislações específicas,
assim como programas de educação que envolvam a temática da geodiversidade e o usufruto
sustentável, por meio da população em seu cotidiano, das paisagens, praias, monumentos e
toda e qualquer expressão que a geodiversidade possa ter.
6.1 AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE IN SITU
Em relação à geodiversidade in situ, a maior problemática se dá pela poluição dos
ambientes abióticos. Casos explícitos em Natal são a quantidade de lixo jogada nos mangues
(figura 6.1), que acaba contaminando o substrato dos depósitos flúvio-marinhos,
prejudicando também a biodiversidade típica deste local. Na região da Via Costeira, canais
jogam efluentes na praia em direção ao mar (figura 6.2), provocando, além da poluição do
mar e da linha de costa, erosão regressiva nas dunas frontais.
Figura 6.1 – Lixo jogado no manguezal localizado
próximo à praia da Redinha.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 6.2 – Desembocadura de canal de escoamento
de efluentes na Via Costeira.
Foto: Matheus Lisboa
Como foi registrado ao longo deste trabalho, obras de enrocamento, sobretudo, nas
praias de Areia Preta e Ponta Negra (figura 6.3) modificaram a dinâmica natural nestas duas
áreas da costa natalense, alterando o fluxo de sedimentos e correntes. Há regiões hoje, no
litoral de Natal, em que há um balanço negativo no fluxo de sedimentos, provocado pelas
obras de enrocamento.
149
Logo, este tipo de obra pode ser caracterizada também como uma ameaça à
geodiversidade.
Figura 6.3 – Fotografia de parte do enrocamento na praia de Ponta Negra.
Foto: Matheus Lisboa
Outra ameaça à geodiversidade que tem sido evidente na cidade do Natal é a
ocupação de margens de rios e lagoas, de faixas de praia e de dunas de forma irregular. Ao
longo dos anos, observou-se forte especulação imobiliária em torno dessas áreas, tidas como
privilegiadas, o que demandou diversos protestos por pesquisadores de diversas áreas, além
de processos na justiça. Entretanto, muitas comunidades de baixa renda acabaram por se
estabelecer nestas áreas, como mostra a figura 6.4.
Figura 6.4 – Ocupações irregulares na margem do rio Doce, zona norte de Natal.
Foto: Matheus Lisboa
Entretanto, a maior ameaça à geodiversidade in situ na cidade do Natal corresponde
à especulação imobiliária. Ainda que diversas ações públicas de parte, por exemplo, do
150
Ministério Público tentem evitar grandes empreendimentos que possam representar
agressões consideráveis, sobretudo, às paisagens de Natal, observa-se que existem hoje
condomínios residenciais construídos sobre as dunas de algumas Zonas de Proteção
Ambiental e esta é apenas uma das formas que a indústria privada de venda de espaços
residenciais ou comerciais, que também ocorre pela ocupação das margens de rios, praias e
lagoas na cidade com o objetivo de uso desses locais como molduras para as construções
modernas de espigões ou condomínios residenciais.
O fato é que a beleza paisagística da cidade, que é constituída essencialmente de
elementos de natureza abiótica, que é a geodiversidade local, é atrativo primário para os
empreendimentos na cidade e representa também um atrativo econômico para as obras.
Trabalhos como os de Nobre (2001) e Bentes e Trindade (2008) versam sobre os aspectos
da especulação imobiliária que afetam o ambiente natural da cidade.
Disto posto, é preciso que haja um desenvolvimento e divulgação maiores do
entendimento da geodiversidade local da cidade do Natal de forma que essas ameaças sejam,
ao menos, mitigadas, embasando ações de proteção eficazes e que atitudes punitivas possam
ser implementadas na forma da legislação vigente, visando também a recuperação dos
ambientes afetados.
6.2 AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE EX SITU
Quando se trata da geodiversidade ex situ, observa-se que ela pode ser encontrada
nos logradouros, monumentos e edificações que utilizem algum recurso da geodiversidade
em sua ornamentação ou construção. Assim, a ameaça a esses patrimônios culturais, que em
Natal datam desde o século XVII até reformas mais recentes, se caracterizam como ameaças
também à geodiversidade.
Disto, temos que pichações nos monumentos, como é identificado no monumento
aos mártires (figura 6.5), no Centro Histórico, e no monumento a Pedro Velho, na Praça
Cívica, são uma das principais ameaças ao patrimônio. Em relação à geodiversidade, a tinta
que é utilizada para realizar o ato infracional acaba cobrindo as rochas e seus minerais,
dificultado sua descrição e descaracterizando-a.
O tráfego de carros na Travessa Pax, maior registro de calçamento “pé-de-moleque”
feito com arenitos ferruginosos do Grupo Barreiras em Natal, acaba por retirar blocos da rua
151
(figura 6.6). Da travessa, que é tombada pela Fundação José Augusto desde 2007 (Decreto
Normativo 19.930/2007), é retirado, portanto, um recurso da geodiversidade de alto valor
histórico de seu local de uso original. Lixo nas ruas também são ameaças que afetam o
patrimônio cultural e os recursos abióticos utilizados.
Figura 6.5 – Detalhe de pichação feita no monumento
aos mártires, na praça André de Albuquerque.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 6.6 – Fotografia da Travessa Pax em outubro
2015, destaque para os blocos de arenito soltos.
Foto: Matheus Lisboa
Estes casos citados são, em geral, cometidos por algum individuo da comunidade,
que se aproveita da ineficácia do setor público no que se refere à fiscalização e manutenção
destes locais.
Entretanto, os próprios agentes públicos e privados que deveriam realizar a proteção
destes locais, por descuido, desinteresse ou desconhecimento da importância do recurso da
geodiversidade utilizado nos monumentos, acaba por desconsiderá-los em oportunidades de
reformas, como é o caso das Igrejas de Santo Antônio e de Nossa Senhora da Apresentação,
no bairro da Cidade Alta (figuras 6.7 e 6.8).
Durante obras de reparo nas duas construções, foi desconsiderado o fato do uso
histórico de blocos de arenito calcífero nas porteiras e fachadas, que remonta ao século
XVIII, e houve a colocação de concreto como forma de substituição da rocha
Sabe-se que há diversos corpos de recifes de arenito ao longo do litoral natalense, de
onde poderiam ter sido retirados pequenos blocos para serem trabalhados em cantaria de
152
forma a fazer a reposição correta do material utilizado. Esta substituição que ocorreu
caracteriza-se também como uma ameaça à geodiversidade, porque é perdido o registro de
seu uso em uma área de importância histórica para a cidade.
Figura 6.7 – Detalhe de coluna na Igreja de Santo
Antônio com base refeita em concreto.
Foto: Matheus Lisboa
Figura 6.8 – Porta lateral na Igreja de Nsa Sra da
Apresentação com colunas refeitas em concreto.
Foto: Matheus Lisboa
Ameaça maior ainda é o descuido por parte dos gestores principais do município, que
compõem a Prefeitura Municipal, em momento de intencional “limpeza” dos monumentos
a Augusto Severo, no bairro da Ribeira, e a Dom Pedro II, em praça homônima no bairro do
Alecrim.
A solução para pichações e sujeira nestes dois locais foi, em outubro de 2015, ter
sido feita a pintura completa dos monumentos com uma tinta que não apenas cobriu os dois
pedestais, mas cobriu as rochas utilizadas e seus minerais, registros não apenas da história
do homem e da cidade, mas também de milhões de anos do Planeta Terra.
A figuras 6.9 e 6.10 mostram um comparativo do pedestal de granito no monumento
a Augusto Severo, antes e depois de ter sido pintado. Após a pintura, o monumento perdeu,
de certa forma, sua beleza e se assemelhou muito a algo construído com concreto.
153
Figura 6.9 – Pedestal de granito com trabalho em
cantaria no monumento de Augusto Severo, em 2010.
Fonte: Carvalho (2010)
Figura 6.10 – Pedestal do monumento a Augusto
Severo após a pintura pela Prefeitura, em 2015.
Foto: Matheus Lisboa
Como se observa, todos os casos em que houve agressão ao patrimônio cultural local
que lança mão de algum recurso da geodiversidade em sua composição arquitetônica, parece
haver certo desconhecimento da importância daquele recurso.
Soluções seriam, possivelmente, o incentivo à educação ambiental com enfoque na
geodiversidade, além de promoção das geociências junto à sociedade.
155
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Natal é uma das cidades mais antigas do Brasil, sendo seu marco inaugural a
construção do Forte dos Reis Magos em 1599. Ao longo de mais de quatro séculos de
história, a cidade experimentou, inicialmente, um lento desenvolvimento, sendo este
impulsionado a partir do século XX.
Surgiram novos equipamentos urbanos, novas ruas, novos edifícios e novos bairros.
O que mudou também foi a relação da cidade com o ambiente em que ela foi construída,
sobretudo o meio abiótico, a geodiversidade, local.
No começo de sua história, e isto é mostrado pelos primeiros mapas feitos pelos
holandeses no século XVII, a cidade possuía uma vasta área de dunas vegetadas sem
intervenção antrópica. Os arenitos calcíferos, dos arrecifes, e ferruginosos, do Grupo
Barreiras, encontrados nas praias eram elementos de grande importância na representação
cartográfica da área e nas construções da época, o que caracteriza uma arquitetura
vernacular, em que os recursos locais são utilizados nas edificações.
Isto passa a ser modificado a partir dos anos de 1900, quando começa a ser feito uso
de pedras graníticas, extraídas na cidade vizinha de Macaíba, no pavimento de ruas e como
pedestais de monumentos inaugurados nas principais praças de Natal. Até o final do século
XX e começo do século XXI, observa-se que há um abandono do uso dos recursos abióticos
locais nas construções da cidade.
Hoje, a exemplo do que é visto em reformas em locais históricos da cidade, como o
Palácio dos Esportes, as rochas que são utilizadas para revestimento e em elementos
decorativos ou construtivos são extraídas no interior do Rio Grande do Norte ou,
principalmente, de outros estados.
Além dessa modificação da relação da cidade com a geodiversidade ex situ, também
foi modificada a forma de ocupação urbana sobre os recursos abióticos in situ. As praias
passaram a ocupar lugar de destaque no cotidiano da cidade a partir da década de 1920 e
hoje são algumas das áreas de ocupação mais valorizadas de Natal.
Os corpos dunares, de grande destaque nas paisagens locais, são entendidos hoje
como fundamentais para o aquífero Barreiras, que abastece a cidade, e, por isso, são, em sua
maioria, protegidos por legislação ambiental específica. Entretanto, muitas das dunas da
cidade foram arrasadas, ocupadas e impermeabilizadas ao longo dos séculos. Em muitos
156
casos, tiveram sua dinâmica natural cessada. Ainda hoje observa-se que este tipo de agressão
ao meio ambiente continua, sobretudo devido as ocupações irregulares e especulação
imobiliária.
Todas essas expressões da geodiversidade, in situ e ex situ, assim como seus recursos,
solos, minerais, rochas, paisagens, etc., podem ser valorados de acordo com os valores
ecossistêmicos, definidos inicialmente pela Millenium Ecosystem Assessment e adequados
por Gray (2013) para o meio abiótico.
Este trabalho focou em descrições sucintas dos recursos da geodiversidade,
embasando o processo de identificação, análise e classificação da geodiversidade de Natal,
relacionando, sempre que possível, com a comunidade local.
Dos 26 valores, bens e processos definidos pelos 5 serviços ecossistêmicos da
geodiversidade, apenas 7 não foram possíveis de serem identificados na cidade do Natal,
sendo a maioria relativa ao serviço de provisão, que tem um valor monetário por vezes
associado. Isso se deve a inexistência de exploração mineral regular e legal dentro dos limites
municipais da cidade, ocorrendo, entretanto, na Região Metropolitana onde há extração de
água mineral, areias, argilas e granito, este último ocorrendo apenas no município de
Macaíba.
Em relação às classificações dos locais em que ocorrem recursos abióticos in situ,
percebeu-se que a cidade do Natal possui 8 geossítios (Parque das Dunas, Parque da Cidade,
Campo de Dunas Sul, Rio Doce, Rio Pitimbu, Rio Potengi, Litoral Central e Litoral Sul) e 8
lugares de geodiversidade, seguindo as definições de Brilha (2015), contemplando também
todas as definições dos lugares de acordo com sua extensão, definidos por Fuertes-Gutiérrez
e Fernández-Martínez (2010), ou seja, Natal possui pontos, faixas, áreas e panoramas de
geodiversidade in situ.
A geodiversidade ex situ da capital potiguar, por outro lado, é composta por 10
elementos de geodiversidade, a partir de Brilha (2015), distribuídos entre pontos, faixas e
áreas de geodiversidade, segundo a definição de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez
(2010).
Assim, observa-se que a geodiversidade de Natal é diversa e possível de ser
encontrada em todas as regiões da cidade. Entretanto, ela não está livre de ameaças e foi
muito modificada ao longo dos anos. As mais alarmantes ameaças e modificações são
advindas do desinteresse e desinformação da população, visitantes e gestores da cidade, que
157
acabam por marginalizar o meio abiótico local, sem entender que as paisagens que tanto são
apreciadas, as praias tão frequentadas, as trilhas dos parques realizadas, entre outros locais
que podem, simplesmente, servir de caminho no dia-a-dia, são produtos da geodiversidade.
Devido à sua extensão e variedade, a geodiversidade de Natal pode ser usada para
meios científicos, culturais, esportivos e turísticos, de forma a promover, em conjunto, a
divulgação das belezas naturais e culturais da cidade e das geociências, auxiliando o
processo de geoconservação.
158
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