Post on 29-Jun-2020
FRAGMENTAÇÃO SOCIOESPACIAL E ANÁLISE DE REDES
SOCIAIS: RESULTADOS METODOLÓGICOS A PARTIR DO ESTUDO
DA CIDADE DE MARINGÁ - PR
LUCIANO ANTONIO FURINI1
Resumo: Ao selecionar a análise de redes como metodologia de uma das várias frentes do projeto temático Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, ritmos, formas e conteúdos, busca-se contribuir para o entendimento da relação entre sociabilidade e espacialidade no processo de fragmentação socioespacial urbana. Embora encontremos uma diversidade de estudos sobre análise de redes, a particularidade temática, considerando as escalas e os tipos de sujeitos envolvidos, exige adequações para uma pesquisa completa. Nesse sentido apresentamos alguns resultados dos primeiros levantamentos realizados na cidade de Maringá (PR), com base nesta fase inicial pretendemos organizar as demais etapas do estudo. A cidade é um espaço de relações em que a estruturação socioespacial é objetivada a partir de redes sociais de natureza tanto espontânea, quanto deliberada. As mudanças sociais e as alterações da estrutura urbana se influênciam reciprocamente e levam os padrões socioespaciais a níveis peculiares de desigualdades. A Análise de Redes Sociais (ARS), ao dispor de técnicas que identificam as intensidades das relações de: interação, distinção, reciprocidade e seletividade, entre outras, permite caracterizar os tipos de presenças e ausências nas diversas áreas da cidade, classificando os níveis de uso e apropriação do espaço segundo as dinâmicas interpessoais. A opção pela aplicação da análise de redes em pesquisas sobre fragmentação socioespacial deve-se ao fato de que uma das questões centrais do processo de fragmentação socioespacial relaciona-se com a qualidade da sociabilidade nas relações socioespaciais. Nesse sentido, passa a ser importante analisar os indivíduos ou os grupos de contatos e suas redes sociais. Com a caracterização dessas redes torna-se possível identificar padrões de negação do outro e da alteridade, ou de determinadas formas de alteridade. A ARS constitui, assim, uma das formas de pesquisar as possíveis barreiras sociais, mantidas por meio da indiferença entre os grupos e os indivíduos e que podem culminar com a ocorrência de barreiras físicas ou com descontinuidades marcadamente discriminatórias e excludentes. Essa proposta metodológica estuda então, a relação entre o tipo de inserção social dos sujeitos em meio aos limites, constrangimentos e possibilidades espaciais designados pela lógica socioespacial urbana, agora de natureza fragmentária. Considerando que os fragmentos dessa espacialidade se justapõem e levem a novos padrões espaciais de desigualdades, a análise de redes pode apontar os elementos que articulam seletivamente os fragmentos e os pontos da rede que limitam as interações. Para identificar os padrões de seletividade e as barreiras ou indícios de indiferença organizamos questionários cujos resultados foram compilados por meio do software Ucinet, com base no qual elaboramos sociogramas e cartogramas específicos. Assim foi possível identificar a abrangência dos primeiros resultados frente ao conjunto de expectativas do estudo. A caracterização da fragmentação socioespacial pode ser apreendida como uma leitura recente das novas lógicas socioespaciais presentes nas cidades, deste modo os resultados deste estudo podem contribuir para apresentar novos elementos para o planejamento urbano.
1 Docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus de Ourinhos. E-mail de contato: luanfugeo@hotmail.com
Palavras-chave: Análise de redes sociais; fragmentação socioespacial; urbano; Maringá (PR).
Abstract: On selecting the network analysis as a methodology of one of the several fronts on the thematic Socio-spatial Fragmentation project and Brazilian urbanization: scales, vectors, rhythms, forms and contents, it was searched to contribute to the enlightenment of the connection between sociability and spatiality in the urban socio-spatial fragmentation process. Although found a diversity of studies on networks analysis, the thematic distinctiveness, taking into account the scales and types of regarded subjects, it is necessary adjustments for a complete research. In this meaning it was introduced some results of the first surveys accomplished in the city of Maringá – (PR) based on that initial phase it was sought to organize the other stages of the study. The city is a space of connections in which the socio-spatial structures is aimed from spontaneous as well as deliberated networking. The social changes and the urban structure alteration influence each other, bringing the socio-spatial patterns to peculiar levels of inequalities. The analysis of social networks (ARS), using techniques that identify the intensities of: interaction, distinction, reciprocity and selectivity, among others, allows characterizing the types of presences and absences in different areas of the city, classifying the levels of use and appropriation of space according to interpersonal dynamics. The option for network analysis application on socio-spatial fragmentation surveys is due to the fact that one of the central queries on socio-spatial fragmentation process is connected to the quality of sociability in socio-spatial relations. In this purpose, it becomes important to analyze individuals or their contacts in their network. Characterizing these networks, it becomes possible to identify patterns of denial of the other and otherness, or of certain forms of otherness. The ARS is thus one of the ways to survey possible social barriers, kept by means of indifference between groups and individuals which may lead to the occurrence of physical barriers or with discontinuities markedly discriminatory and exclusionary. This methodological proposal studies thus, the relation between the type of social insertion of subjects through limits, embarrassment and spatial possibilities designed by urban socio-spatial logic, now of fragmentary nature. Taking into account that the fragments of that spatiality are juxtaposed and lead to new spatial patterns of inequalities, the analysis of networks can point out the elements which articulates selectively the fragments and the network sections which restrict the interactions. In order to identify the selective patterns and the barriers or signs of indifference, it was organized questionnaires whose results were compiled through the software Ucinet, whose base was used to elaborate specific sociograms and cartograms. Thus, it was possible to identify the scope of the first results before the conjunct of expectations of the study. The socio-spatial characterization of fragmentation can be apprehended as a new reading of new socio-spatial on the scene in the cities, so the results of this study can contribute to present new elements for urban planning.
Keywords: Social networks analysis; socio-spatial fragmentation; urban; Maringá (PR).
1 - Introdução
Os estudos sobre o processo de urbanização permitem compreender a
dinâmica entre o urbano e a cidade de acordo com as características socioespacias
de diferentes períodos históricos. Atualmente, os vetores formados por
internalidades e externalidades presentes nas cidades geram transformações de
diversas ordens, que alteram formas, funções, conteúdos e processos
socioespaciais, estabelecendo uma miscelânea complexa, a partir da qual se
identifica a ocorrência de formas de fragmentação na cidade, a chamada
fragmentação socioespacial2.
Buscando estudar o processo de fragmentação socioespacial, a pesquisa do
projeto temático Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas,
vetores, ritmos, formas e conteúdos (FragUrb), apoiado pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp, possui uma série de frentes
metodológicas que podem contribuir para o debate. Este texto, em particular,
apresenta uma primeira aproximação da aplicação da metodologia da análise de
redes sociais nas pesquisas sobre fragmentação socioespacial em Maringá (PR).
É importante evidenciar certa dificuldade em se estabelecer as
especificidades entre os processos de segregação e fragmentação nas cidades, ou
ainda entre framentação social e fragmentação socioespacial, revelando a
importância das pesquisas sobre o tema no período atual.
2 - O potencial da análise de redes sociais nas pesquisas sobre fragmentação
socioespacial urbana
2 [...] pode-se falar de um processo que não é mais apenas de segregação socioespacial, nela incluída as iniciativas de autossegregação. Trata-se de aprofundamento das desigualdades, negando as possibilidades de diálogo entre as diferenças, o que justifica a adoção da noção de fragmentação socioespacial [...]. (SPOSITO, 2011, p. 142).
A análise de redes sociais é composta por variados conjuntos de
procedimentos metodológicos em diferentes áreas do conhecimento. As técnicas
que fazem parte deste tipo de metodologia permitem identificar as principais
características de grupos ou indivíduos, de acordo com os temas pesquisados e os
contextos envolvidos. A importância deste procedimento está relacionada ao modo
como o resultado é apresentado e aos padrões identificados, assim, de acordo com
os resultados, é possível compreender dinâmicas que outros procedimentos não
conseguem representar com o mesmo grau de especificidade. Outro ponto
importante é a possibilidade de elaboração de padrões gerais de redes pessoais,
permitindo análises entre diversos âmbitos.
Um importante apoio em relação ao modo de aplicação da análise de redes,
particularmente em pesquisas sobre fragmentação socioespacial, refere-se ao fato
de que uma das questões centrais do processo de fragmentação socioespacial
relaciona-se com a qualidade da sociabilidade nas relações socioespaciais.
Entre outros aspectos da fragmentação socioespacial, o tipo de sociabilidade que se orienta a partir desse processo, tende a ser considerado pela negação do outro e pela negação da alteridade e, consequentemente, tende a promover significativas rupturas entre as diferenças (DAL POZZO, 2011).
Nesse sentido, passa a ser importante analisar os indivíduos ou os grupos de
contatos e suas redes, pessoais ou sociais. A partir da caracterização dessas redes
torna-se possível identificar padrões de negação do outro e da alteridade, ou de
determinadas formas de alteridade.
A opção oferecida pela análise de redes sociais de visualizar os esquemas de
relações interpessoais ou sociais permite dizer se o padrão dos contatos
estabelecidos por um indivíduo, ou por seu grupo, contém ou não elementos de
rupturas que demonstram seletivas opções de uso e apropriação do espaço, de
acordo com suas distinções.
Uma das referências para o estudo das redes sociais é o trabalho de Marques
(2007), que mostra sínteses das relações de sociabilidade de cada rede pessoal
pesquisada. O trabalho deste autor aborda as diferentes formas de interações
sociais entre citadinos a partir de variados perfis. O programa utilizado para gerar os
sociogramas classifica os contatos segundo seus vínculos, identificando-os por
formas e/ou cores no âmbito da rede.
Os estudos realizados na cidade de Maringá (PR) geraram conjuntos de
sociogramas com características bem diferenciadas. A partir dos resultados, ao se
articular o perfil do entrevistado com os perfis dos seus contatos, foi possível
visualizar os principais padrões de contatos e observar se estes padrões revelam
seletividades caracterizadas por rupturas que podem se objetivar enquanto formas
de fragmentação socioespacial.
Após o levantamento das redes pessoais é possível classificar os vínculos de
uma pessoa segundo seus contatos socioespaciais e tipo de local de inserção
(trabalho, moradia, lazer, consumo, entre outros) e outras tipificações que
qualifiquem os contatos. Além destas possibilidades o próprio padrão geral da rede
pessoal, por exemplo, em relação ao grau de complexidade com maior número de
vínculos, pode demonstrar níveis de aberturas e fechamentos das interações sociais
em seus desdobramentos espaciais e por setores sociais prioritários para o citadino
entrevistado.
Para além de relacionar redes pessoais e processo de fragmentação
socioespacial, buscando evidenciar a seletividade das escolhas socioespaciais e os
respectivos distanciamentos presentes nas opções de interação socioespacial dos
citadinos, é preciso observar, ainda, que certas formas de sociabilidade podem
apresentar padrões de integração falaciosos, assim, é preciso especificar a
qualidade, tanto das formas de integração, quanto de fragmentação, para se
caracterizar com rigor os processos envolvidos. Um exemplo das possíveis
integrações falaciosas pode ocorrer quando os vínculos são relativizados por tipos
de inserção socioespacial (como no caso do trabalho) e, embora apresentem
elementos de interação social, são na realidade inserções precárias ou marginais,
ou seja, não possuem níveis de reciprocidade e sim de dependência e
subordinação, o que pode reforçar o aprofundamento das desigualdades, mostrando
o “lugar” ou a posição social distinta de cada um dos envolvidos, além de também
não caracterizar um diálogo entre as diferenças e sim um contato formal, próprio das
posições sociais ocupadas. Enfim, para adequar a metodologia aos estudos sobre
fragmentação socioespacial é possível distinguir os contatos de redes segundo os
diferentes tipos de vínculos, inclusive suas características socioespaciais.
A citação a seguir - retirada do artigo de Bovo (2014) quando este autor
analisa a obra de Mark Granovetter - mostra um ponto importante da análise de
redes sociais em relação aos laços fortes e aos laços fracos. O destaque da citação
deve-se ao fato de que é importante analisar o caráter de algumas redes para
compreender a natureza dos vínculos. De acordo com os padrões de contatos
encontrados será possível relacionar a ocorrência ou não de laços fortes ou fracos, e
a possível fragmentação social com dinâmicas de fragmentação socioespacial
Então, qual a contribuição de Granovetter em relação à abordagem das redes sociais? Aparentemente os laços fundamentais para os membros das redes sociais são os fortes (que impressionam pela intensidade da relação e dão uma ideia de consistência e continuidade). A tese de Granovetter (1973; 1983) aponta para a direção contrária: os laços fracos é que são fundamentais. O argumento do autor é que se as redes sociais ficassem apenas centradas no ego, isto é, nos laços fortes, as informações se manteriam restritas em pequenos círculos, e não se difundiriam, o que limitaria as oportunidades e o desenvolvimento de seus membros, vale dizer, novas informações não chegariam. As pontes que se estabelecem entre grupos, basicamente por meio dos laços fracos, expandem a rede e possibilitam a reciclagem das informações. Aqueles com quem temos laços fracos se movem em mais e diferentes círculos do que o nosso. Outro desdobramento é que se houvessem apenas laços fortes teríamos uma coleção de pequenos grupos isolados com grandes chances de fragmentação social. (BOVO, 2014, p. 143, grifos nosso)
Para compreender as especificidades da relação entre fragmentação social e
fragmentação socioespacial buscamos identificar e dar visibilidade às “Redes sociais
pessoais”, que é a denominação adotada para caracterizar a rede social centrada no
ego, ou seja, na pessoa de referência a partir da qual se analisa o conjunto da
sociabilidade, com determinados critérios, tais como, intensidade dos contatos, área
de abrangência, setores envolvidos, temporalidades das interações, entre outros,
formando um quadro de referência em que é possível distinguir padrões de
sociabilidade com base em uma estrutura de rede.
3 - A seletividade e as barreiras na construção da sociabilidade
O esforço de relacionar os processos de sociabilização e espacialização no
âmbito do debate sobre fragmentação socioespacial deve-se ao fato de que os
níveis de seletividade, de sociabilidade, e suas expressões socioespaciais,
alcançaram tal ponto de significância no cotidiano e no vivido dos citadinos que
constituem hoje um tema central sobre a sociabilidade urbana. O modo como as
características centradas no individuo ou no grupo, e seus respectivos contextos
históricos, estruturam as redes sociais pessoais revela uma dinâmica da interação
socioespacial cujas distinções e similaridades podem caracterizar elementos de
seletividade socioespacial e, consequentemente, indícios de constituição de um dos
potenciais vetores de fragmentação socioespacial urbana.
Um primeiro passo para organizar a abordagem sobre a sociabilidade, e sua
dinâmica socioespacial, é compreender os aspectos gerais sobre o potencial da
análise relativa ao processo de socialização.
A sociologia se esforça,assim, em diferenciar os tempos e os quadros da socialização, separando particularmente o período de socialização dita “primária”, essencialmente familiar, de todos aqueles que vêm em seguida e que nomeamos como “secundários” (escolas, grupos de pares, universos profissionais, instituições políticas, religiosas, culturais, esportivas etc.) (LAHIRE, 2015, p. 1393)
O debate sobre o grau de influência das estapas de socialização, primária ou
secundária, na constituição do quadro de vida e de interações do sujeito apontam
uma série de ressignificações no decorrer de determinados processos sócio-
históricos A possibilidade de compreender a complexidade da sociabilidade a partir
do estudo do processo de socialização, característico da abordagem sociológica,
remete, assim, a uma infinidade de dificuldades, no entanto é possível apreender, de
modo geral, que as seletividades na escolha dos vínculos socioespaciais, presentes
nas redes sociais pessoais, são geradoras ou geradas pelo processo de
socialização em suas etapas, primária ou secundária, e que os padrões de maior ou
menor participação do citadino em grupos primários ou secundários revela
normatizações socioespaciais cujas matrizes, ora radicadas em constextos sociais
mais homogêneos, ora em contextos mais heterogêneos, potencializaram níveis
maiores ou menores de barreiras socioespaciais presentes no processo de
fragmentação socioespacial, por meio das seletividades nas relações socioespacias,
visíveis na estrutura das redes sociais pessoais.
4 - Etapas da adequação metodológica
Os sociogramas e mapas apresentados a seguir foram elaborados com base
nas entrevistas com citadinos da cidade de Maringá (PR). Para que as redes
pessoais destes sociogramas possam ser analisadas enquanto “padrões de
interação socioespaciais” é preciso considerar três aspectos metodológicos: 1) o fato
de não analisarmos os históricos peculiares a cada processo de socialização não
permite evidenciar as matrizes das seletividades de cada citadino, porém, as redes
apresentadas constituem modos de leitura da sociabilidade atual e, assim,
possibilitam compreender dinâmicas contemporâneas das seletividades; 2) embora
não seja possível identificar os principais contextos de socialização e seus
desdobramentos, é possível apreender o grau de interação frente aos setores
selecionados, caracterizando diferenças significativas frente aos distintos tipos
sociais; 3) se por um lado os procedimentos adotados não permitem analisar as
particularidades dos tipos de interação com cada grupo social selecionado, por
outro, os tipos de grupos remetem a interações sociais com tendências bastante
conhecidas, tais como as reuniões familiares, os encontros entre amigos e as
normatizações religiosas, o que oferece inúmeras possibilidades de abordagens.
As mudanças sociais e as alterações da estrutura urbana se influênciam
reciprocamente e levam os padrões socioespaciais a níveis peculiares de
desigualdades. A Análise de Redes Sociais pessoais (ARSp), ao dispor de técnicas
que identificam as intensidades das relações de interação, distinção, reciprocidade,
individualidade e seletividade, entre outras, permite caracterizar os tipos de
presenças e ausências nas diversas áreas da cidade, classificando os níveis de uso
e de apropriação do espaço segundo as dinâmicas interpessoais.
A ARSp constitui, assim, uma das formas de pesquisar as possíveis barreiras
sociais, mantidas por meio da indiferença entre os grupos e os indivíduos e que
podem culminar com a ocorrência de barreiras físicas ou com descontinuidades
marcadamente discriminatórias e/ou excludentes.
Essa metodologia permite estudar, então, a relação entre o tipo de inserção
social dos sujeitos em meio aos limites, constragimenros e possibilidades espaciais
designados pela lógica socioespacial, esta, agora, de natureza fragmentária.
Considerando que os fragmentos dessa espacialidade se justapõem e levem a
novos padrões espaciais descontínuos, a análise de redes pode apontar os
elementos que articulam seletivamente os fragmentos e os pontos da rede que
limitam as interações. Para identificar os padrões de seletividade e as barreiras ou
indícios de indiferença elaboramos questionários que permitem apontar as práticas
socioespaciais com base na análise de redes sociais. Os questionários são
compostos por três etapas. Na primeira são solicitadas informações básicas de
perfil; na segunda solicita-se a lista de contatos por tipos de vínculos – familiar,
religioso, trabalho, amizade, vizinhança, associativo e estudo – local dos contatos e
tipos de contatos – presencial ou não, em determinado intervalo de tempo; na
terceira os entrevistados apontam quais dos contatos citados mantêm interação com
os demais. Foram selecionados citadinos moradores: de condomínios horizontais de
média e alta renda e de bairro de baixa renda, onde foi implantado o Programa
Minha Casa Minha Vida – PMCMV, faixa 1.
Com os resultados dos questionários foram organizados sociogramas e
tabelas no software Ucinet, buscando destacar as principais características da
sociabilidade, especificamente as conexões sociais da rede pessoal.
Em seguida o sociograma pode ser adaptado a um mapa da cidade, segundo
a localização de cada membro da rede e vínculo, para análise das conexões
espaciais da rede pessoal.
Figura 1 – Modelo de sociograma a partir do software Ucinet.
Figura 2 – Modelo de sociograma a partir do software Ucinet.
Figura 3 – Modelo de mapa a partir do software Ucinet.
Observando os tipos dos resultados possíveis passamos, em seguida, para a
composição dos números e das características dos entrevistados segundo os
padrões socioeconômicos da cidade e dos setores que devem contextualizar as
pesquisas.
Entendemos que a partir desses passos é possível identificar as barreiras, as
seletividades, os entraves e demais características superpostas na cidade, ligadas à
fragmentação socioespacial.
5 - Considerações finais
Neste texto buscamos indicar uma adequação geral da aplicação da análise
de redes sociais a partir do software Ucinet. Os procedimentos aqui relacionados
também deverão manter interação com os resultados das pesquisas com redes de
mídias digitais (Facebook, twiter, entre outros), que serão realizadas posteriormente.
Formamos, assim, com esses procedimentos, as proposições gerais para Análise de
Redes Sociais (ARS) junto ao Projeto Temático FragUrb apresentado no início deste
texto.
Para além de todo debate sobre os limites dos processos de planejamento e
gestão urbanos, a adequada leitura da cidade e do urbano, considerando as
respectivas historicidades e espacialidades, ocorre em meio ao surgimento de
adequações metodológicas. Este estudo pretende contribuir com esse processo ao
apresentar os procedimentos adotados, possibilitando identificar seus limites e
potencialidades.
A análise dos resultados, dos padrões dos sociogramas e mapas, priorizam
dois aspectos centrais, o primeiro procura compreender se os padrões dos vínculos
sociais mostram elementos da fragmentação social, já o segundo, se as seletivas
interações socioespaciais mostram características ou revelam configurações
resultantes de processos de fragmentação socioespacial.
Esta etapa da pesquisa permitiu verificar que os perfis e as demais escolhas
realizadas possibilitam identificar padrões que revelam os diferentes tipos de
sociabilidades e os graus de seletividades, em etapa posterior serão analisados os
blocos de sociogramas e mapas por padrões, que poderão compor um quadro geral
por tipificações de fragmentação.
6 - Referências bibliográficas BOVO, C. R. M. A contribuição da teoria da rede social, de Mark Granovetter, para a
compreensão do funcionamento dos mercados e da atuação das empresas. Revista
Pensamento & Realidade. v. 29, n. 3. 2014, p.135 - 151.
DAL POZZO, C. F. . Territórios de autossegregação e de segregação imposta:
fragmentação socioespacial em Marília e São Carlos. Presidente Prudente, 2011.
316 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia,
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FURINI, L. A. Análise de redes sociais em planejamento e gestão do espaço urbano.
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Lopes; SPOSITO. M. E. B. (orgs.). A produção do espaço urbano: agentes e
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