Post on 06-Jun-2015
CONGREGAÇÃO DE SANTA DOROTÉIA DO BRASIL
FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE – FAFIRE
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E OS TRANSTORNOS
DE ANSIEDADE.
RECIFE/2011
JOSIVÂNIA GONÇALVES FRANÇA
LUCIA HELENA CAVALCANTI TOSCANO BARRETO
MARIA INÊS FEIJÓ MACHADO TAVARES
MARTA REGINA REGUEIRA SOARES
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E OS
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE..
Trabalho apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Terapia Cognitivo-
Comportamental, da Faculdade Frassinetti
do Recife – FAFIRE, como parte do
requisito necessário à obtenção da nota a
disciplina de TCC e transtornos de
ansiedade, regido pela Profa. Benéria Yace
Donato.
RECIFE, 2011.
HISTÓRIA CLÍNICA DA PACIENTE A.N
Identificação da paciente
Nome: A.N
Sexo: Feminino
Idade: 26 anos
Profissão: Secretaria executiva
Estado Civil: Solteira
Grau de instrução: Universitária (2º ano de Direito)
História de vida:
Paciente procurou terapia pelo fato de há oito meses está sentindo um medo
intenso de sapos. Menciona, ao ser questionado de com isso surgiu, que no começo só
tinha medo de sapos pequenos, mas agora tem medo de qualquer tamanho. Atualmente
tem sentido dificuldade de dormir, demorando a adormecer, fica sempre com receio de
encontrar sapos por onde anda,está sentindo tristeza, vontade de ficar em casa quieta e
inquietação física e mental. Tem percebido que fica o tempo todo pensando em sapos e
olhando ao seu redor. Desde pequena (nove anos) tinha “certo receio de sapos” (SIC),
evitava alguns lugares que pudesse encontrar sapos, mas isso não lhe causava problemas
e tinha uma vida normal, mesmo sem frequentar ou ficar em alguns lugares, como a
fazenda do seu avô. Procurou a vida toda enfrentar isso, sair a noite, inclusive forçou
para estudar a noite e estava muito feliz com sua coragem. O fato mais recente que
lembra foi de uma festa na casa de amigos em Aldeia, onde ao entrar no banheiro pisou
em um sapo e viu a presença de mais uns três no mesmo banheiro. Isso a deixou
desesperada, com nojo e bastante medo.
Nesse dia ela não conseguiu mais relaxar, curtir a festa, andar pela
casa,conversar com os amigos, a cena não saia da cabeça e sempre olhava em volta para
não deixar que outros sapos chegassem perto, mesmo sem conseguir ver mais nenhum
sapo. Após umas 2 horas de ter ido ao banheiro teve uma crise de choro e pediu que
uma amiga a levasse em casa. Desde desse dia passou a ter medo de andar em vários
lugares e passou a observar muitas vezes o chão da rua e os locais onde vai sentar.
Está atualmente sem frequentar vários lugares sendo o que mais a preocupa é
não ir a faculdade à noite. Está sem frequentar à faculdade há dois meses e sempre que
pensa em ir se sente muito ansiosa. Tem pensado muito na possibilidade de encontrar
sapos em vários locais e isso tem ocupado muito seu tempo, deixando-a triste e
preocupada, pois está se prejudicando cada dia mais no trabalho e na faculdade. Tem
uma boa relação no trabalho, é comunicativa e muito dedicada as responsabilidades da
sua vida, tem alguns bons amigos que sabem o que está acontecendo e tem a ajudado
quando não consegue ir trabalhar. Diz muito ao longo da sessão que teme onde isso vai
parar e que lamenta não está mais conseguindo enfrentar como sempre enfrentou, diz
que isso a deixa insegura, como se a vida tivesse perdido o controle.
DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA
Nome do Paciente: A.N. Data: 25/07/2011 Diagnóstico: Eixo I: Fobia Especifica F40.2+ Depressão? Eixo II:_________________
DADOS RELEVANTES DA INFÂNCIA
Desde pequena (± 9 anos) tinha receios de sapos e já evitava alguns lugares que
pudesse ter sapos.
PRESSUPOSTOS / REGRAS / CRENÇAS CONDICIONAIS
“Se evitar sair à noite ninguém vai perceber que tenho medo de sapos”. “Se eu não for à casa de meu avô não encontrarei sapos, e ninguém perceberá que tenho medo deles”.
ESTRATÉGIA (S) COMPENSATÓRIA (S)
Fuga, esquiva.
PA
“Tenho que estudar por isso não posso ir p/ caso de vovô.”
PA “Será que alguém percebeu que tenho medo de sapos?”
PA
SIGNIFICADO DO PA
“Sou frágil, perco o
controle”
SIGNIFICADO DO PA
“Sou inadequada”
SIGNIFICADO DO PA
EMOÇÃO Medo
EMOÇÃO
Medo Intenso, Apavorada.
EMOÇÃO
CRENÇA CENTRAL
“Sou inadequada”. “Sou vulnerável”. “Sou um fracasso”
SITUAÇÃO 2
Em Aldeia
SITUAÇÃO 3
SITUAÇÃO 1
Casa do Avô
COMPORTAMENTO Esquiva, evitação.
COMPORTAMENTO
Tensa, Descontrole ,
Hipervigilância.
COMPORTAMENTO
A. QUAL O DIAGNÓSTICO E/ OU COMORBIDADES (SE ACHAREM QUE
TEM) E COMO EXPLICARIAM O SURGIMENTO E MANUTENÇÃO DAS
QUEIXAS DO PACIENTE DE ACORDO COM AS AULAS E A LITERATURA
SOBRE O TEMA?
Baseado nos dados observados na história clínica e utilizando os critérios
diagnóstico do DSM-IV, a senhora A. N apresenta os sintomas de Fobia Específica
F40.2 (Ranidafobia) medo de sapo.
Critérios diagnósticos de Fobia Específica DSM-IV
a) Medo acentuado persistente que é excessivo ou irracional, desencadeado pela
presença ou antecipação de um objeto ou situação específico;
b) A exposição ao estimulo fóbico provoca quase invariavelmente uma resposta
imediata de ansiedade, que pode tomar a forma de uma crise de angústia (ataque de
pânico) situacional ou mais ou menos relacionada com uma situação determinada;
c) A pessoa reconhece que este medo é excessivo ou irracional;
d) A (s) situação (ões) fóbica (s) se evitam ou se suportam a custa de uma intensa
ansiedade ou mal-estar;
e) Os comportamentos de evitação, a antecipação ansiosa ou o mal-estar provocado
pela (s) situação (ões) temidas (s) interferem notoriamente com a rotina normal da
pessoa, com as relações laborais (ou acadêmicas) ou sociais, ou ainda provocam um
mal-estar clinicamente significativo;
f) Em menores de 18 anos a duração destes sintomas devem ter sido de 6(seis) meses no
mínimo;
g) A ansiedade, as crises de angustia ou os comportamentos de evitação fóbica
associados aos objetos ou situações específicos não podem explicar-se melhor pela
presença de outro transtorno mental, por exemplo, um transtorno obsessivo compulsivo,
fobia social, agorafobia, etc.
Surgimento e manutenção das queixas
O medo é uma emoção produzida pela percepção de um perigo iminente. Dentro
do parâmetro “normal” é saudável, pois é um alerta, leva o organismo a evitar ameaças
e tem um valor na sobrevivência humana. Ele faz parte da vida humana e, é um atributo
saudável que protege a pessoa dos perigos. Quando a intensidade ou a frequência atinge
um nível alto chegando a atrapalhar e/ou interferindo no curso da vida da pessoa, então
ele torna-se patológico. O medo normal visa gerar energia à evitação ou afastamento de
estimulação nociva ao ser. O medo tem papel fundamental na adaptação humana, mas
alguns tipos de medo são de grande magnitude para as situações desencadeantes e estes
são chamados de fobias. A fobia é vista como uma forma especial de medo; ela
apresenta as seguintes características: 1) desproporção entre a emoção e a situação que a
provoca; 2) medo sem explicação razoável; 3) ausência de controle voluntário; 4)
tendência à evitação dessa situação
O medo que a Sra. A.N desenvolveu em relação a sapo teve início na infância e,
a manutenção da situação, pode estar atrelada ao fato da evitação a locais onde ela
pudesse encontrá-los. Embora existisse a opção de levar uma “vida normal” como,
estudar e sair à noite na tentativa para superar o problema, ela evitava alguns lugares
que pudesse encontrá-los, como a fazenda do seu avô. No momento que ela se deparou
com a presença do animal, como ocorreu na casa de amigos em Aldeia, o medo se
intensificou.
A evitação pode diminuir a ansiedade momentaneamente, porém não resolve a
problemática. É uma estratégia que escamoteia e mantém o problema, pois no percurso
da sua vida encontraria situações que ativariam o medo, como ocorreu na casa dos
amigos em Aldeia. É possível observar um ciclo vicioso que é acionado, em que os
chamados comportamentos de busca de segurança – evitação, fuga, controle excessivo,
monitoramento permanente, alerta, neutralização etc. – os quais, o indivíduo recorre em
resposta a sua avaliação catastrófica do estímulo inicial, impedem a desconfirmação da
atribuição exagerada de ameaça ou perigo ao estímulo, e concorrem para a manutenção
do quadro de ansiedade. A etiologia da fobia, que o caso de A.N. sugere, baseia-se em
um condicionamento clássico ou Pavloviano, que é um tipo de aprendizado no qual um
estímulo adquire a capacidade de evocar uma resposta que era originalmente evocada
por um outro estímulo. O condicionamento clássico, se associa a um estímulo
incondicionado e a um estímulo neutro. Este pode adquirir propriedades do primeiro,
transformando-se num estímulo condicionado. Medos são aprendidos por
condicionamento e modelação. Podem se desenvolver gradualmente, quando adquiridos
na infância.
Já a manutenção do transtorno, se dá pela evitação e pelo condicionamento
operante onde há a perpetuação dos comportamentos de esquiva fóbica, ou seja, os
comportamentos de evitação ao objeto fóbico. No condicionamento operante a
aprendizagem ocorre porque as respostas são influenciadas pelas conseqüências que as
seguem. Assim, o condicionamento operante é uma forma de aprendizagem em que as
respostas voluntárias são controladas por suas conseqüências. As respostas de esquiva
também são reforçadas se forem capazes de eliminar a presença do estímulo aversivo,
proporcionando alívio quando existe a segurança que este não irá ocorrer.
As crenças que A.N. desenvolveu também reforçam, ou seja, mantém seu
comportamento evitativo. Geralmente, pessoas com fobia específica, desenvolvem
crenças irracionais de que temos sempre que ter um desempenho perfeito em
determinada situação para mostrarmos o nosso valor como pessoa. Como conseqüência,
as pessoas que mantêm estes tipos de crença tendem a se cobrar demais, querendo
sempre ter um desempenho perfeito, sem erros, chegando a uma tentativa extrema de
perfeição. Este alto grau de exigência leva a um alto nível de ansiedade na execução do
comportamento e de frustração quando algo não sai como planejado pelo indivíduo.
B) QUE QUEIXAS PRIORIZARIAM E QUAIS METAS CONSTRUIRIAM
COLABORATIVAMENTE PARA A TERAPIA DA REFERIDA PACIENTE?
Queixas:
Medo intenso de sapos;
Dificuldade de dormir;
Medo de encontro com sapos;
Vontade de ficar em casa quieta;
Inquietação física e mental;
Desde criança tinha receio de sapos (fato que não atrapalhava tanto);
Medo de andar em vários lugares – tem dois meses que não vai à faculdade;
Observa muitas vezes o chão da rua e os locais onde vai sentar;
Tem pensado muito na possibilidade de encontrar sapos em vários locais e isso
tem ocupado muito seu tempo deixando-a triste e preocupada;
Os seus frequentes pensamentos sobre sapos estão atrapalhando o seu trabalho e
faculdade.
A literatura sugeri que as metas sejam definidas pela dupla terapêutica (paciente e o
psicoterapeuta), podendo fazer um comparativo entre a situação atual e as metas que se
deseja alcançar, vale salientar que essas metas podem ser alteradas ao longo do processo
terapêutico, tanto pelo paciente como pelo terapeuta. Tais metas descreveremos a
seguir:
SITUAÇÃO ATUAL SITUAÇÃO DESEJADA-METAS
Dificuldades para dormir;
Passar a dormir mais tranquilamente e
relaxada;
Vontade de ficar em casa quieta;
Aumento do repertório de atividades
sociais, como sair com os amigos deixando
de lado os medos e receios;
Inquietação física e mental;
Redução da ansiedade, buscando junto com
o paciente uma maneira mais adaptativa de
lidar com seus temores;
Pensa em sapos o tempo todo;
Junto com a redução de ansiedade ajudar o
paciente a se distrair, reduzindo a
quantidade de vezes que ela pensa em sapo;
Medo de andar em vários lugares e
observa muitas vezes o chão da rua e os
locais onde vai sentar;
Normalização dos deslocamentos,
reduzindo os medos e a vigilância
Não vai a faculdade há dois meses;
Passar a frequentar as aulas normalmente;
Está se prejudicando cada dia mais no
trabalho e na faculdade por pensar
frequentemente em sapos;
Melhora da atividade profissional e na
faculdade minimizando o impacto dos seus
pensamentos disfuncionais;
C) QUE INTERVENÇÕES/TÉCNICAS UTILIZARIAM? CONSTRUAM UM
MINI MODELO DE UM PLANO DE TRATAMENTO INSPIRADO NO
ARTIGO QUE MENCIONEI COMO UM PONTO DE PARTIDA.
Baseado nas discussões em sala de aula, e análise do estudo do artigo que nos foi
dado para as respostas dos questionamentos postos, observamos que:
A história clinica da paciente, com a riqueza de detalhes que estão bem postas no
caso em pauta, sugere que os dados foram obtidos num ambiente empático. Sugere
também, que a aliança terapêutica foi construída e fortalecida através de uma conduta
flexível e criativa do terapeuta. Essa aliança está embasada na segurança profissional e
humana que envolveu a cliente na esperança de aliviar e possivelmente resignificar a
sua vida, buscando a resiliência.
Freqüentemente, o paciente que vivencia algum tipo de Fobia, pode desenvolver
um quadro de depressão por não dar conta da situação estressora que é acometido.
Assim é de bom alvitre que a avaliação da paciente, seja realizada através da
entrevista clinica, DSM-IV e aplicação do inventário de depressão e ansiedade de Beck
e, se necessário, o de ideação suicida e Desesperança. O uso do Inventário de Ansiedade
de Beck, também é uma medida importante para verificar o nível de ansiedade do
cliente.
Dentro desta perspectiva as intervenções/técnicas seriam:
Conceituação Cognitiva;
Psicoeducação;
Biblioterapia;
Identificação dos PA catastróficos e questioná-los;
Modelação;
Reestruturação cognitiva;
Treino relaxamento muscular progressivo e treino respiratório;
Modelação;
Dessensibilização sistemática, Exposição imaginária e/ou virtual;
Técnica da distração;
Automonitorização;
Inundação;
Parada do pensamento;
Treino de auto-afirmação;
Treino de assertividade;
Exposição gradual in vivo
Treino de habilidades sociais;
Intenção paradoxal;
Prevenção de recaídas.
Nas sessões finais, utilizamos técnicas para promover a generalização das
estratégias adquiridas durante o processo clínico e das novas formas de perceber e
responder ao real, reforçando-se o novo sistema de esquemas e crenças, em uma
tentativa de se prevenir recaídas e garantir a preservação continuada de uma estrutura
cognitiva funcional.
D) USEM A CRIATIVIDADE E CRIEM UMA HIERARQUIA PARA SER
UTILIZADA EM UMA EXPOSIÇÃO GRADUAL COM A REFERIDA
PACIENTE, MENCIONEM AO FINAL QUE ASPECTOS DESTACARIAM
PARA MAXIMIZAR OS EFEITOS POSITIVOS DESSA EXPOSIÇÃO?
Explicações e orientações gerais para a paciente:
De forma tranquila e acolhedora, explicar para a paciente que
a Evitação neutraliza, momentaneamente, a aflição e o desconforto, sem, entretanto,
extingui-la para sempre. Portanto, será feito a Exposição ao objeto fóbico. No início,
esta exposição será feita em conjunto com o terapeuta nas sessões (o tempo da
exposição será analisado em conjunto, dependendo das reações da paciente e do
terapeuta, que já deve estar preparado para o evento). Posteriormente, será analisada
com a paciente a possibilidade dela (paciente) realizar sozinha.
Informar que a exposição será feita de forma gradual e que tem como objetivo
a habituação. Esta consiste no desaparecimento das reações de medo ou desconforto que
ocorrem sempre que se entra em contato com o objeto ou com situações que provocam
tais reações. Informar também que nos primeiros contatos a ansiedade pode chegar a um
nível muito alto, causando desconforto, mas apenas isto. Não trarão nenhum
perigo. Com a continuidade das exposições vai diminuindo a intensidade do
desconforto, podendo chegar à extinção deste.
Após serem realizadas as exposições descritas abaixo, os aspectos destacados
para maximizar os efeitos positivos dessa exposição iriam depender das reações da
paciente durante o processo. Porém, os conteúdos assinalados nas mesmas, oferecem
inúmeras possibilidades de atenuar ou extinguir o desconforto vivenciado pela paciente,
porque, nos diversos contatos com o objeto fóbico, ela vai percebendo que em nenhuma
das situações que ela foi exposta houve a situação de “perigo”, e sim de desconforto,
que foram diminuindo após cada nova exposição. Vai perceber, portanto, que a Evitação
e a fuga não resolvem a problemática, apenas aliviam a ansiedade momentaneamente,
reforçando seu medo.
EXPOSIÇÃO GRADUAL (explicar os procedimentos da exposição)
Hierarquia de exposição para uma fobia de sapos
Ver a figura de um sapo (via virtual) 20%
Assistir com a paciente o vídeo 30%
Olhar de longe para a imagem de um sapo 40%
Olhar de perto para a imagem de um sapo 45%
Ver um filme de um sapo em movimento 45%
Escutar o coaxar de um sapo (via virtual) 50%
Pegar num sapo de plástico 60%
Ver um sapo vivo dentro recipiente de vidro, aproximando-se gradual 70%
Tocar num recipiente que contém um sapo vivo 80%
Passar a mão num sapo vivo 100%
Segurar um sapo em suas mãos. 100%
Vídeo montado em cima da história “Cidade das flores” (a história contém imagens
de sapos e explicações acerca da utilidade da espécie no equilíbrio das plantações),
podendo ser utilizados na Psicoeducação sobre sapos. Historia em anexo.
EXPOSIÇÃO POR MEIO DA IMAGINAÇÃO
Explicar para a paciente que ela irá penetrar (viajar) no mundo da imaginação.
Irá dar o inicio ao processo de visualização, na qual, ela vai visualizar cenas bem
suaves que (lhe proporcionarão) não afetarão, sobremaneira, seu bem estar. Dando
continuidade, porém irá visualizar algumas cenas que poderão lhe trazer desconforto,
mas apenas isto não trará nenhum perigo. É importante, portanto, salientar para não
lutar contra os pensamentos que surgirem, mas conquistá-los com paciência,
verificando paulatinamente as evidências dos pensamentos que chegarem a sua mente.
Colocar uma música suave e começar o processo de relaxamento. Sugestão da
música : Canone - Pachelbel.
Encontre uma postura que lhe seja cômoda, feche os olhos suavemente.
Inspire suavemente, retenha o oxigênio nos pulmões e logo após expire suavemente,
sem qualquer pressa. Você irá relaxando bem devagar. Comece o relaxamento pela
face, o pescoço, os ombros, os braços e as mãos que podem estar apoiadas nas suas
coxas. Depois relaxe o tórax, o ventre, as coxas, as pernas e os pés. Respire bem
suavemente, observe a própria respiração, sinta o ar penetrando nos seus pulmões.
Respire mais uma vez. Visualize mentalmente este panorama que vamos descrever:
Imagine neste momento que você vai assistir a uma competição de animais. Todos já se
encontram na posição de largada para a grande corrida. O coordenador da competição
dá o sinal de largada, e os participantes saem com o objetivo de chegar na reta final.
Os animais que estão na plateia estão eufóricos e fazem as suas considerações acerca
dos participantes, cada um torcendo de seu modo. Pouco a pouco, os animais vão
ficando pelo caminho. O rato é o primeiro a parar, depois vem o gato, posteriormente a
raposa, e finalmente o cachorro.
(quando o coordenador da competição disser o nome do vencedor, visualize a sua
figura, e os pensamentos que vierem na sua cabeça neste momento, não fuja deles,
enfrente-os, conquiste-os) O coordenador se aproxima do vencedor, e o parabeniza. Depois, anuncia: Senhoras e
senhores, o vencedor desta competição é o Sr. Sapo.
Todos ficaram perplexos, porque aparentemente o sapo era o que tinha menos condições
de ganhar a competição.
Diante do fato, os peritos em competição foram verificar o que tinha acontecido, e
perguntaram ao rato o motivo dele que é mais veloz do que o sapo ter ficado para trás.
O rato prontamente respondeu que tinha ouvido a plateia gritar que ele seria devorado
pelo gato, então sentiu medo e foi diminuindo o ritmo, e não conseguiu ir adiante.
O mesmo aconteceu com o gato com medo do cachorro, e com o cachorro com medo da
raposa. A raposa também ficou incomodada com a censura da plateia que lhe chamava
de desonesta, dissimulada. O cachorro, por sua vez, ficou também incomodado com a
censura da plateia, pois lhe estavam acusando de matador, que saia para caçar animais
indefesos.
Intrigados com o que ouviram os técnicos pensaram: devem ter falado também sobre o
sapo, e porque ele não parou? Ao contrário, venceu a competição.
Aí vem a grande surpresa para os técnicos da competição: Eles foram informados que o
sapo vencedor da competição era surdo, portanto mesmo competindo com outros
animais mais velozes, não tinha escutado os comentários dos torcedores da plateia. (Adaptação do texto a corrida dos sapos)
(Solicitar à paciente que vá abrindo os olhos lentamente...)
Na Exposição Imaginária durante o processo de visualização o terapeuta vai observando
as reações do paciente, principalmente no momento do contato mental com o objeto
fóbico. Após a visualização o terapeuta junto com o paciente, trabalha os
pensamentos, as emoções, as sensações, o grau de aflição, o nível de ansiedade, em
quais momentos o desconforto foi maior; enfim, anota tudo que surgiu durante o
processo e faz uma lista hierarquizada que vai ser analisada e trabalhada posteriormente.
E) QUE PONTOS FORTES DA PACIENTE OU DA SUA VIDA O GRUPO
UTILIZARIA EM FAVOR DO BOM RESULTADO DA TERAPIA E COMO
PERCEBERIAM O MOMENTO DE PREPARÁ-LA PARA A ALTA?
É importante frisar para a paciente que sua procura para realizar processo
terapêutico não só se constituiu um fato de extrema relevância, como também um ponta
pé inicial para retomar ou mesmo criar novas e atualizadas formas de agir no mundo,
que momentos antes se descortinava como inóspito e angustiante. Que tal fato já mostra
sua capacidade de não só acreditar-se capaz de mudar, como também, forte o suficiente
de encarar as situações de sua vida com mais clareza e confiança num futuro melhor. A
ajuda que a terapia exerce num primeiro momento, serviria apenas de um novo ponto de
partida para que ela pudesse fortalecer-se e seguir adiante na sua vida.
Outro fato importante a ser colocado é como ela quis enfrentar seu medo de
sapos escolhendo o turno da noite para estudar, significando um grande passo em
direção ao seu bem estar, como também uma força interior que desde já buscava dentro
de si para enfrentar o problema. Frisar que essa força já existia dentro dela e que a
terapia ajudou a elevar e fortalecer o que já havia nela mesma.
O fato de ser uma pessoa responsável na sua vida e no trabalho, também precisa
ser lembrado como fortalecedor, pois pode servir de analogia para que se sinta
responsável pelo seu bem estar.
O momento da alta se daria através da observação de que a paciente já se
sentisse em condições de enfrentar seu medo de forma mais adaptativa, sem a presença
de tanto esforço ou resposta ansiogênica no enfrentamento deste.
Todos esses aspectos devem ser levados em consideração no momento de
preparar a paciente para a alta, pois servirão de apoio em situações que possa se deparar
na vida, daí em diante e, em possíveis recaídas.
Anexo
A CIDADE DAS FLORES
(Este texto pode ser usado na Terapia Cognitivo-Comportamental, com pacientes
que tenham fobia específica-medo de sapo.
Pode ser aplicado na Psicoeducação ou na técnica de exposição por meio da
imaginação).
Numa bela noite de lua cheia a Cidade das Flores está em festa, os animais
habitantes da cidade festejavam mais uma vez, a colheita que fora
promissora.
O nome da cidade é devido ao solo fértil, as plantas e hortas viçosas.
Em todas as casas as hortas são belíssimas, nas quais a alface, o repolho, a
couve e todas as hortaliças se desenvolvem com todo vigor. Todos que
chegam ficam admirados com tanta fartura e beleza. Tem também muitas
rosas, cravos, enfim uma variedade de flores que encantam qualquer
visitante.
Os bairros possuem nomes singulares. “Couvelândia” Alfacelândia”,
“cravolândia””Acelgolândia” “Roseiral” “lírio branco”, enfim os bairros foram
sendo denominados em função das belezas das hortas e dos jardins que
florescem em abundância.
Os animais por sua vez, sentem-se gratificados por viverem num local onde
existe equilíbrio nas plantações.
Certa feita chega à Cidade das flores um belo visitante, esbelto, com suas
penas multicoloridas e, admirando a beleza das plantações, perguntou a um
dos habitantes:
Bom dia senhor, sou visitante nesta cidade e me encantei com a sua beleza,
porém fiquei intrigado com um dos bairros que conheci.
O animal residente da cidade, muito educado lhe respondeu
Bom dia Sr Pavão, a que devemos tão honrosa visita?
Pois é, disse-lhe o pavão, eu venho visitar esta cidade atraída pela sua fama,
que chegou a outras localidades. Todos falam da beleza, do equilíbrio que
existe nas plantações e vim até aqui para conhecê-la, e pelo que estou vendo,
a fama condiz com a realidade.
Porém senhor, senhor... como é mesmo o seu nome?
Ah senhor pavão desculpe esqueci-me de me apresentar
Eu sou o Sr. Sapo jardineiro, resido nesta cidade com minha família e tenho
muitos amigos da minha espécie, mas também convivo bem com os outros
animais da cidade.
Pois é Sr sapo Jardineiro sem querer ser descortês com o senhor, porém devo
dizer-lhe que fiquei surpreso.
Estava observando a beleza desta cidade. Os nomes dos bairros bem
sugestivos e condizentes com a sua beleza. Porém me surpreendeu que entre
os nomes dos bairros encontrei um que se chama “Sapolândia”.
E qual a causa de tanta surpresa senhor pavão?Retrucou o sapo
Bem é que, bem é que... bem senhor sapo vou logo direto no assunto:
Pelo que pude ver esta cidade é belíssima, o seu nome, Cidade das Flores foi
por conta das hortas, dos jardins que aqui florescem em abundancia, porém
a sua espécie tem uma aparência feia, desconcertante, por isso não aprovo
esta decisão. Um bairro com o nome “Sapolândia!” É demais!
Nesta cidade poderia ter um bairro com o nome de “Pavolândia”, afinal como
pavão, sei o quanto eu e minha espécie somos valorosos. Nossas penas são
belíssimas, quem nos vir não foge da nossa presença, ao contrário fica
maravilhado, se aproximam desejando pegar nas nossas penas, enquanto
que os da sua espécie são feios, animais insignificantes que juntos enfeiam
qualquer cidade.
O velho sapo permaneceu em silêncio ouvindo o pavão na sua vaidade.
Este por sua vez estava tão empolgado falando da sua beleza que não
percebeu os mosquitos que chegavam aos seus pés, porém pouco a pouco, foi
ficando inquieto, tentando defender-se de algo que lhe importunava.
O sapo foi chegando mais perto do pavão e comeu os mosquitos e a lesma
que já estavam subindo pelas suas pernas.
O pavão aliviado exclamou:
Ah! Sr sapo muito lhe agradeço por me livrar desta lesma e destes
mosquitos importunos
Que horror!
O sapo bem tranquilo exclamou:
Pois é Sr Pavão cada um de nós tem a sua importância na natureza. Nós os
sapos somos de aparência feia, porém nesta cidade as hortas, os jardins
tornam-se mais bonitos e viçosos porque nós damos a nossa contribuição.
Alimentamos-nos de pernilongos, formigas, besouros, moscas, e de lesmas.
Imagine Sr pavão se nós os sapos, não existíssemos. As lemas se
multiplicariam e devorariam todas as folhas dos alfaces, das couves, enfiam
destruiriam as hortas, outros insetos danificariam as roseiras, os cravos ,nós
portanto Sr pavão controlamos a população de insetos e de outros
invertebrados que causam grandes prejuízos para a plantação e que
transmitem doenças.
Portanto Sr Pavão, os de sua espécie são belos, e atraem as pessoas, porém
Sr Pavão curve-se um pouco e olhe para os seus pés.
Eles são feios como nós os sapos, porém o senhor só pode se locomover com o
auxilio deles.
O pavão ficou calado e pensativo e mentalmente exclamou:
È este sapo tem razão eu preciso de vez em quando me curvar para olhar os
meus pés e compreender a beleza da utilidade do que é “feio” na natureza.
Texto Escrito por Maria Inês Machado.