Ebook quando os meus olhos falaram

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Registros dos olhos às lentes de uma câmera. “Quando os seus olhos falaram” trata-se de um livro foto-reportagem, trabalho de conclusão de curso, que tem como pano de fundo os moradores de rua que vivem em Alto Araguaia, uma pequena cidade no interior do sul de Mato Grosso. Durante a obra, serão apresentadas imagens monocromáticas na construção desse pano de fundo.

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Quandoos meusOLHOS falaram

GESLÂINE PIRES DOS REIS

GESLÂINE PIRES DOS REIS

Quandoos meusOLHOS falaram

Geslâine Pires dos Reis, 2014

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa do Autor (art.184 do Código Penal e Lei dos Direitos Autorais nº 9.610, de fevereiro de 1998)

AUTOR

ORIENTAÇÃOREVISÃO

DIAGRAMAÇÃOE CAPA

Geslâine Pires dos Reis

Prof. Me. Iuri Barbosa Gomes

Réulliner S. Rodrigues

REIS, Geslâine Pires. Quando meus olhos falaram. Unemat, Alto Araguaia (MT) 2014

30 pág. 15,5cm X 21,7cm

Universidade do Estado de Mato GrossoDepartamento de Com. Social/Jornalismo

Rua Santa Rita, 128 - Centro - Alto Araguaia/MTCEP: 78780-000 - Fone/Fax:(66) 3481-1857

À todos os moradores de rua que tentam sobreviver em meio a tanta desigualdade.

Registros dos olhos às lentes de uma câmera. �Quando os seus olhos falaram� trata-se de um livro foto-reportagem, trabalho de conclusão de curso, que tem como pano de fundo os moradores de rua que vivem em Alto Araguaia, uma pequena cidade no interior do sul de Mato Grosso. Durante a obra, serão apresentadas imagens monocromáticas na construção desse pano de fundo. Alto Araguaia, com população estimada em 16 mil habitantes, conta hoje com moradores de rua, não diferente de países afora. São pessoas que vem de longe para trabalhar e, por motivos variados, eventualmente perdem seus empregos e, sem nenhum meio para voltar para casa, �cam �alojados� pela cidade, em calçadas e praças. Este quadro não se resume a pessoas que vem trabalhar no município, inclui também andarilhos que viajam o mundo vendendo artesanato e até mesmo cidadãos sem família. A hipótese que se levanta é o fato de estes moradores de rua serem �invisíveis� aos olhos de outrem. Será que eles são mesmos �guras �sem sombra� em Alto Araguaia? O que se esconde atrás de barbas compridas, roupas aos frangalhos e atitudes muitas vezes agressivas contra qualquer tipo de aproximação � que mais se assemelha a um tipo de resistência ante a indiferença de muitos que por eles passam? Há alguma política pública que atenda ou que esteja atenta a esta parcela da população? De que maneira é possível chamar a atenção a este tema com a fotogra�a? É neste sentido que, ao fazer um registro de caráter jornalístico-documental dos moradores de rua de Alto Araguaia � permanentes ou de passagem � vai ao encontro do que espera-se da pro�ssão de um jornalista: um olhar crítico sobre o nosso entorno. Por isso, para além do mero registro, objetiva-se incitar re�exões sobre o assunto. �Quando os seus olhos falaram� provoca um olhar mais aguçado, re�exivo para o caráter humano, de que pessoas e objetos �invisíveis� em nossa sociedade, se tornem mais presentes em nosso convívio.

Apresentação

�Não vou falar pra você que eu gosto de �car pelas ruas, mas pre�ro do que ser maltratado dentro de casa.�

3

- Sr. Luiz

�Tem dias que não consigo nem pisar no chão de tanta dor nos pés, deve ser cansaço.�

�Moça, eu tenho identidade, carteira de trabalho e até título. Sou gente como qualquer um.�

- �Careca�

- �Careca�

�Fui atropelado. O rapaz que me atropelou só olhou pra mim e riu da minha cara. Essa vida não é fácil irmã.�

�Tem dias que ando e nem sei pra onde to indo, nem o que tô procurando.�

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- Sr. Mauro - Sr. Mauro

�Muitas vezes eu choro a noite, irmã, sozinho, porque homem não chora na

frente dos amigos.�- Sr. Mauro

7

�Tenho um irmão que mora aqui, ele sempre me chama para morar com ele.

Mas, sabe, não gosto de incomodar.�- Sr. Mauro

�Eu era encarregado de uma multinacional, e hoje não tenho um

centavo no bolso.�

�Já tive tanta coisa na vida, hoje só tenho essa roupa; a que eu estou no corpo.�

- �Zé�

- �Zé�

�Eu sou cidadão, tenho documentos e voto também. Muitos de nós temos carteira de trabalho, e quando pedimos algo não é por maldade.�

9 �Aqui na feira, cada dia aparece um parceiro pra gente dividir o espaço.�

- Sr. Mauro

- �Careca�

�Vivemos onde dá; somos tipo uma coisa que está ali e que pode ser removida a

qualquer momento, para um lado e para outro... e acabamos todo dia sem teto.�

�Tem umas madrugadas que faz um frio que até dói. A gente sofre! Mas ainda bem que conseguimos nos manter vivos.�

- Sr. Mauro

- �Médium�

�Aqui na feira nós temos até comida, o pessoal termina a feira e da comida pra

gente. Hoje tem milho cozido.�

11

�Ninguém sofre porque gosta, moça. Não tenho opção. A rua é minha casa hoje!� - Sr. Luiz

- Sr. Luiz

�Lembrar que temos onde dormir é bom. Já teve cidades que eu não podia nem encostar no banco para dormir. Eu era expulso.� - Sr. Mauro

� Tem dias que eu canso dessa vida. Nunca estive antes nessa situação.�

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- Sr. Mauro

�Tô aqui esperando um fazendeiro, ele disse que vem me buscar para

trabalhar. Tô feliz que só.�- Sr. Mauro

15

�Nossos amigos de verdade são esses cachorrinhos. Nunca nos abandonaram.�

- Sr. Luiz

�A Neguinha e o Peludinho protegem a gente.�

�Nossa casa é a feira, e a nossa televisão é o céu.� (risos)

- Sr. Mauro

- Sr. Luiz

17

�Fome a gente não passa, sempre damos um jeito. Nunca roubamos para isso.�- Sr. Luiz

�O que eu tenho? Tenho minhas roupas. Só!�- Sr. Mauro

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�Aqui é tranquilo, nunca tô sozinho.�- Sr. Luiz

�O ruim é o tanto de mosquito que perturbam a gente, tem dia que é

ruim até pra dormir.�- Sr. Mauro

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�Somos pessoas que procuramos todos os dias um lugar só para dormir. Na verdade, nós 'é' sonhador, que acredita que o amanhã vai ser bom.� - Sr. Mauro

�Estão reformando a feira, acho que vamos ter que arrumar outro lugar.�

- Sr. Luiz

23

- Sr. Mauro

�Eu perdi muita coisa, menos a fé em Deus e em Nossa Senhora Aparecida.�

�Apesar de tanta coisa, eu sou feliz e tenho Deus no coração.�

- Sr. Luiz

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�Aqui, um cuida do outro.�

�Eu tenho umas namoradas, tem que ter, né. Eu gosto de namorar.�

- Sr. Luiz- Sr. Luiz

�Sonhar não é proibido. Eu ainda sonho em ter uma casa, dai eu levo o Luiz pra morar comigo. Ah, o Peludinho e a Neguinha também!�

- Sr. Mauro

Geslaine Pires dos Reis é formada em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Cresceu em meio às belas paisagens de Tangará da Serra, (sudoeste de Mato Grosso) sempre com os olhos atentos para tudo que a cerca. Sente-se emocionada com a simplicidade da vida, das pessoas, as mesmas que muitas outras parecem não se importar. Os registros, além da lente da câmera fotográ�ca e dos olhos, são feitos de puro sentimento.

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