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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA
DO EQUILÍBRIO EM PACIENTES COM VERTIGEM
POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Paula Andreta Barros da Silva
Santa Maria, RS, Brasil 2011
2
DO EQUILÍBRIO EM PACIENTES COM VERTIGEM
POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA.
por
Paula Andreta Barros da Silva
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana, Área de
Concentração em Fonoaudiologia e Comunicação Humana: Clínica e Promoção, Linha de Pesquisa em Audição e equilíbrio: diagnóstico, habilitação e reabilitação, da Universidade Federal da Santa Maria (UFSM, RS), como requisito para obtenção do título de Mestre em
Distúrbios da Comunicação Humana
Orientadora: Profª Drª. Angela Garcia Rossi Co-orientador: Prof. Dr. Pedro Luiz Cóser
Santa Maria, RS, Brasil
2011
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S586d Silva, Paula Andreta Barros da
Do equilíbrio em pacientes com vertigem posicional paroxística benigna / por
Paula Andreta Barros da Silva. – 2011. 70 f. ; 30 cm
Orientador: Ângela Garcia Rossi Coorientador: Pedro Luiz Coser Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Maria, Centro
de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da
Comunicação Humana, RS, 2011 1. Vertigem 2. Canal semicircular 3. Nistagmo I. Rossi, Ângela Garcia II. Coser, Pedro Luiz III. Título.
CDU 616.28-008.5
Ficha catalográfica elaborada por Cláudia Terezinha Branco Gallotti – CRB 10/1109
Biblioteca Central UFSM
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© 2011
Todos os direitos autorais reservados a Paula Andreta Barros da Silva. A reprodução de
partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor.
Endereço: Av. Celestino Cavalheiro, n. 742, Bairro Centro, São Gabriel, RS, 97300-000,
fone (55) 3232 4141; cel (055) 99777962; endereço eletronico: paulaandreta@hotmail.com
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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais,
Maria Cristina e Paulo Sérgio,
por serem os maiores responsáveis pela
pessoa que sou hoje. Obrigada por fazerem
o possível para eu ter a melhor educação
e aprender os valores importantes.
Sem vocês nada seria possível!
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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
À minha orientadora, profª Angela Garcia Rossi, que me acolheu nesses dois
anos, que me ensinou um pouco de todo o seu conhecimento profissional e
sabedoria de vida. Que entendeu a minha falta de tempo e acima de tudo que
esteve sempre ao meu lado.
Aos meus familiares, em especial, minhas irmãs, Mariana e Maria Júlia e
minha avó Elaine, que entenderam minhas ausências, minha falta de paciência, e
mesmo assim sempre torceram por mim. Obrigada pelo apoio e compreensão!
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AGRADECIMENTOS
À professora Liliam Selignam e a professora Adriane Teixeira, por aceitarem
participar da banca examinadora e pelas importantes e valiosas contribuições que
enriqueceram o trabalho.
Ao professor Pedro Luis Coser, que aceitou co-orientar e nos ajudar neste
trabalho.
À fonoaudióloga Bruna de Franceschi Schirmer que me ajudou desde o início
e esteve presente em todos os momentos. Às fonoaudiólogas, Elenara e Rafaeli,
pela ajuda na coleta e avaliação dos pacientes.
Às colegas fonoaudiólogas do ATFON 2008, que mesmo distantes sempre
estiveram presentes, sem vocês não teria sido possível nem começar este trabalho.
A convivência e os momentos de alegrias e tristezas que passamos juntas nos
tornaram amigas e para sempre farão parte da minha história.
Aos colegas da turma do mestrado, pelo bom humor, pelas risadas, pelos
happy hour, enfim, por toda a descontração, que tornou tudo mais fácil.
Às minhas amigas gabrielenses, Cibele Oliveira, Graciela Backowiz, Marlise
Martino e Stefania Maciel, que sempre estiveram ao meu lado, que dividiram as
angustias, as incertezas, as duvidas e também as alegrias e comemorações. A
minha amiga, Nina Paula Salau, que foi fundamental para o término deste trabalho,
obrigada pelo seu incentivo e por dividir seu conhecimento cientifico.
Aos pacientes, que acreditaram no nosso estudo e assim aceitaram participar
e contribuir para a sua realização. Muito obrigada!
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RESUMO
Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
Universidade Federal de Santa Maria
DO EQUILÍBRIO EM PACIENTES COM VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA
AUTORA: PAULA ANDRETA BARROS DA SILVA ORIENTADOR(A): ANGELA GARCIA ROSSI CO-ORIENTADOR(A): PEDRO LUIZ COSÉR
Introdução: A tontura é observada entre 5 e 10% da população mundial, atingindo ambos os gêneros. Pode ser de dois tipos: rotatória (vertigem) ou não rotatória. As crises de tontura podem prejudicar a vida do paciente, levando à redução do convívio social e dificultando as atividades de vida diária. O tipo de tontura rotatória mais comum é a Vertigem Posicional Paroxística Benigna. Os episódios geralmente são rápidos e desencadeados pelo movimento de cabeça, podendo ser acompanhado de náuseas, vômitos e queda. O diagnóstico de vertigem posicional paroxística benigna é realizado através da manobra de Dix-Halpike, que verifica a presença de nistagmo e/ou tontura. Não há relatos de alteração nos testes convencionais de pacientes com queixa de Vertigem Posicional Paroxística Benigna. Isto é verificado apenas na vectoeletronistagmografia. O tratamento desse tipo de vertigem é realizado pela manobra de reposição canalítica. Objetivo: verificar os resultados encontrados nas avaliações realizadas pelos pacientes com Vertigem Posicional Paroxística Benigna, com ênfase nos resultados encontrados na vectoeletronistagmografia e sua relação com o canal semicircular afetado. Material e Método: o estudo foi realizado no ambulatório de otologia do Hospital Universitário de Santa Maria. A amostra foi composta por todos os pacientes que compareceram ao ambulatório com queixa de vertigem posicional paroxística benigna. Os pacientes realizaram anamnese, manobra de Dix-Halpike, vectoeletronistagmografia e manobra de Epley. Estes foram divididos em dois grupos: grupo controle, composto pelos pacientes com resultado negativo na manobra de Dix-Halpike, e grupo estudo, composto pelos pacientes com resultado positivo nesta manobra. Resultados: Houve prevalência do sexo feminino entre os pacientes e a média de idade foi de 57 anos. O canal semicircular mais afetado foi posterior e a teoria que prevaleceu foi a ductolitíase. O número médio de manobras necessárias para abolir o nistagmo de posicionamento é 1,58 e houve 4 (6,9%) casos de recidiva. Quando analisada as provas da vectoeletronistagmografia, foi observada presença de nistagmo espontâneo e alteração na prova rotatória pendular decrescente. Entretanto, essas alterações não estão relacionadas com o canal semicircular afetado. Na prova calórica houve predomínio da normorreflexia. Conclusão: A manobra de Epley é eficaz para pacientes com vertigem posicional paroxística benigna, mesmo nos casos em que ocorrem recidivas. As alterações encontradas na vectoeletronistagmografia não estão relacionadas com o canal semicircular afetado. De fato, essas alterações são decorrentes da presença de nistagmo espontâneo e nistagmo latente. Consequentemente, não foi possível verificar outros métodos para o diagnóstico da vertigem posicional paroxística benigna. Palavras-chave: vertigem, canal semicircular, nistagmo.
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ABSTRACT
Master’s Dissertation Postgraduate Program in Human Communication Disorders
Federal University of Santa Maria
THE BALANCE IN PACIENTS WITH BENIGN POSITIONAL PAROXYSMAL VERTIGO BENIGN PAROXYSTIC
AUTHOR: PAULA ANDRETA BARROS DA SILVA ADVISOR: ANGELA GARCIA ROSSI CO-ADVISOR: PEDRO LUIZ COSÉR
Introduction: The dizziness is observed among 5 and 10% of the world population, affecting both genders. It can be of two sorts: rotatory (vertigo) or non-rotatory. The dizziness crises may injure the patients’ life, leading to the reduction of social coexistence and difficult the daily activities. The most common rotatory dizziness is the Benign Positional Paroxysmal Vertigo. The episodes are generally quick and triggered by the head movement, Furthermore, it may be accompanied by nausea, vomiting and fall. The diagnosis of Benign Positional Paroxysmal Vertigo is achieved through the Dix-Halpike maneuver, which shall verify the presence of nystagmus and/or giddiness. There are no reports of variation in conventional tests of patients with complaint of Benign Positional Paroxysmal Vertigo. It is observed only in vectonystagmography. The treatment of this type of dizziness is performed by canalith repositioning maneuvers. Objective: To verify the results found in the evaluations carried out by patients with Benign Positional Paroxysmal Vertigo, with emphasis on the results found in vectonystagmography and its relationship with affected semicircular canal. Material and Method: The study was performed in otology ambulatory of University Hospital of Santa Maria. The sample was composed of all patients who attended the ambulatory with complaints of. The patients have performed anamnesis, Dix-Halpike maneuver, vectonystagmography and Epley maneuver. They were divided in two groups: the control group, composed by patients with negative result in Dix-Halpike maneuver, and the study group, composed by patients with positive result in this maneuver. Results: There was prevalence of females among the patients and the average age was 57 years. The semicircular canal most affected was the anterior and the theory that prevailed was the ductolitiase. The average number of maneuvers necessaries to abolish the positioning nystagmus is 1.58 and there were 4 (6.9%) cases of recurrence. When analyzed the evidence of vectonystagmography, it was observed the presence of spontaneous nystagmus and a change in rotator testing. However, these variations are not related to the affected semicircular canal. It has occurred a predominance of normorreflexia in the caloric testing. Conclusion: The Epley maneuver is effective for patients with Benign Positional Paroxysmal Vertigo, even in cases in which they occur relapses. The variations found in vectonystagmography are not related to the affected semicircular canal. In fact, these variations are arising from the spontaneous and latent nystagmus presence. Consequently, it was not possible to verify other methods for the diagnosis of Benign Positional Paroxysmal Vertigo.
Keywords: vertigo, nystagmus, semicircular canals
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Sexo masculino x sexo feminino ---------------------------------------------- 42
TABELA 2 Ductolitíase x Cupololitíase e CSC afetado --------------------------------- 42
TABELA 3 Número de manobras ------------------------------------------------------------ 43
TABELA 4 Ocorrência de recidiva ----------------------------------------------------------- 43
TABELA 5 Canais semicirculares acometidos -------------------------------------------- 58
TABELA 6 Relação entre provas da vectoeletronistagmografia e CSC
acometido ----------------------------------------------------------------------------
59
TABELA 7 Relação entre a PRPD e o CSC afetado ------------------------------------ 60
TABELA 8 Resultado de prova calórica ---------------------------------------------------- 60
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSC - canal semicircular
CuCPD – cupololitíase do canal semicircular posterior direito
CuCPE – cupololitíase do canal semicircular posterior esquerdo
DuCPD – ductolitíase do canal semicircular posterior direito
DuCPE – ductolitíase do canal semicircular posterior esquerdo
DuCPDE – ductolitíase do canal semicircular posterior direito e esquerdo
DuCLD – ductolitíase do canal semicircular lateral direito
DuCLE – ductolitíase do canal semicircular posterior esquerdo
EIFO – efeito inibidor da fixação ocular
GC – grupo controle
GE – grupo estudo
NE – nistagmo espontâneo
PD – predomínio direcional
PL – predomínio labiríntico
PRPD – prova rotatória pendular decrescente
VACL – velocidade angular da componente lenta
VENG - vectoeletronistagmografia
VPPB – Vertigem Posicional Paroxística Benigna
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
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SÚMARIO
RESUMO ----------------------------------------------------------------------------- 8
ABSTRACT ------------------------------------------------------------------------- 9
LISTA DE TABELAS ------------------------------------------------------------- 10
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS --------------------------------------- 11
1. INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------- 14
2. REVISÃO DE LITERATURA --------------------------------------------------- 16
2.1 Anatomia e fisiologia da orelha interna --------------------------------------- 16
2.2 Equilíbrio corporal e tontura ----------------------------------------------------- 17
2.3 Vertigem Posicional Paroxística Benigna ------------------------------------ 19
2.4 Vectoeletronistagmografia ------------------------------------------------------- 23
3. MATERIAL E MÉTODO --------------------------------------------------------- 26
3.1 Grupo estudo ------------------------------------------------------------------------ 26
3.2 Procedimento ----------------------------------------------------------------------- 27
3.3 Método estatístico ------------------------------------------------------------------ 30
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------ 31
5. ARTIGO DE PESQUISA – ACHADOS CLÍNICOS DE PACIENTES
COM VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA -----------
36
5.1 Resumo ------------------------------------------------------------------------------- 36
5.2 Abstract ------------------------------------------------------------------------------- 37
5.3 Introdução ---------------------------------------------------------------------------- 38
5.4 Material e método ------------------------------------------------------------------ 40
5.5 Resultados --------------------------------------------------------------------------- 42
5.6 Discussão ---------------------------------------------------------------------------- 44
5.7 Conclusão --------------------------------------------------------------------------- 47
5.8 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------- 48
6. ARTIGO DE PESQUISA – ACHADOS À
13
VECTOELETRONISTAGMOGRAFIA DE PACIENTES COM
VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA -------------------
51
6.1 Resumo ------------------------------------------------------------------------------- 51
6.2 Abstract ------------------------------------------------------------------------------- 52
6.3 Introdução ---------------------------------------------------------------------------- 53
6.4 Material e método ------------------------------------------------------------------ 55
6.5 Resultados --------------------------------------------------------------------------- 58
6.6 Discussão ---------------------------------------------------------------------------- 61
6.7 Conclusão --------------------------------------------------------------------------- 65
6.8 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------- 66
APÊNDICE -------------------------------------------------------------------------- 69
ANEXOS ----------------------------------------------------------------------------- 71
14
1. INTRODUÇÃO
A tontura caracteriza-se por uma sensação de desorientação espacial,
estando presente em 5 e 10% da população mundial, atingindo ambos os sexos
(CAMPOS, 1998; GAZZOLA et al, 2006). A tontura pode ser do tipo rotatória
(vertigem) ou não rotatória, sendo dificilmente encontradas as duas num mesmo
indivíduo (GANANÇA, CAOVILLA e GANANÇA, 1996).
As labirintopatias mais comuns são a Vertigem Posicional Paroxística Benigna
(VPPB) e a Doença de Méniere. Os episódios de VPPB caracterizam-se pelo
aparecimento de episódios frequentes de vertigem, desencadeados por determinado
posicionamento da cabeça ou mudanças posturais realizadas pelo paciente
(LÓPEZ-ESCÁMEZ et al, 2003; MAIA, DINIZ e CARLESSE, 2001).
Estudos relatam que a tontura, em geral, ocorre rapidamente, podendo ser
acompanhada ou não de náusea e causar desequilíbrio e queda. Dificilmente esses
sintomas estão acompanhados de queixas de dificuldade auditiva, zumbido e
hiperacusia.
Há inúmeros prejuízos trazidos pelo desencadeamento da tontura em
pacientes, principalmente a queda, que muitas vezes pode levar a fraturas ou até
mesmo a mortes acidentais. Isso traz grande impacto para a vida desses indivíduos,
pois pode levá-los à redução do convívio social, uma vez que acabam reduzindo
suas atividades de vida diária, o que os torna até mesmo anônimos pela
predisposição a essas quedas e fraturas (SIMOCELLI et al, 2003; RUWER, ROSSI e
SIMON, 2005).
A VPPB é um distúrbio labiríntico de alta prevalência e, apesar de rotulada
como benigna, pode perturbar consideravelmente a qualidade de vida do paciente e
torná-lo social e/ou profissionalmente incapacitado. Para estabelecer o diagnóstico
de VPPB, utiliza-se a manobra de Dix-Halpike, na qual se avalia o aparecimento de
nistagmo e/ou tontura durante a realização da prova. Será considerada positiva
quando há o aparecimento de tontura e nistagmo, e negativa quando não ocorre
nistagmo e nem tontura (GANANÇA et al, 2000; MAIA, DINIZ e CARLESSE, 2001).
Porém, em 50% dos casos, não ocorre a presença do nistagmo durante a
realização dessa manobra, provavelmente devido a um fenômeno de habituação
produzido pelo movimento paciente ao longo dos dias, dificultando assim o
diagnóstico de VPPB. Diante desses fatos, deve-se sempre considerar os dados da
15
anamnese e de outras avaliações para realizar o diagnóstico (GANANÇA, 2002;
GANANÇA et al, 2005).
Os testes convencionais de avaliação do sistema vestibular geralmente não
apresentam alterações em paciente com queixas de VPPB, porém há relatos de
alterações na vectoeletronistagmografia (KORRES, BALATSOURAS e FEREKIDIS,
2004).
Para o tratamento da VPPB existem algumas manobras de reposicionamento,
que consistem em manobras mecânicas, realizadas por meio de uma sequência de
posicionamentos encefálicos. As mais utilizadas são as manobras de Semont e do
Epley. Segundo alguns estudos, pacientes tratados com a manobra de Epley
apresentam cerca de cinco vezes mais chances de melhoras dos sintomas do que
as outras manobras.
Existem vários estudos que relatam os benefícios das manobras de
reabilitação vestibular em pacientes com VPPB. Porém, há poucos relatos sobre
avaliações realizadas com esses indivíduos, dificultando assim o diagnóstico. Esse
estudo tem por objetivo, verificar os resultados encontrados nas avaliações
realizadas pelos pacientes com VPPB, com ênfase nos resultados encontrados na
vectoeletronistagmografia e sua relação com o canal semicircular afetado.
16
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Anatomia e fisiologia da orelha interna
A orelha é constituída por orelha externa, orelha média e orelha interna, está
situada no osso temporal e tem como funções básicas a audição e o equilíbrio. O
osso temporal situa-se na parte lateral do crânio; no seu interior está alojada parte
da orelha externa, orelha média e orelha interna, parte do nervo auditivo (VII par) e
parte do nervo vestíbulo-coclear (VIII par) (GOODHILLl et al, 1970).
A orelha externa é constituída pelo pavilhão auricular, pelo meato acústico
externo e pela membrana timpânica. A cadeia ossicular, formada pelos ossículos
(martelo, bigorna e estribo), localiza-se na orelha média (DONALSON e MILLER,
1973).
Na porção petrosa do osso temporal localiza-se a orelha interna,
compreendida pelo labirinto ósseo e o labirinto membranoso. Este último contém o
fluido endolinfático. É constituída pelo ducto coclear, sáculo e utrículo e pelo ducto e
saco endolinfático.
O labirinto ósseo é constituído pelos três canais semicirculares (lateral,
anterior e posterior), pela cóclea e pelo vestíbulo, sendo preenchido pelo fluido
perilinfático (PENDER, 1992).
Daremos destaque, neste capítulo, aos canais semicirculares e ao vestíbulo.
Os canais semicirculares estão dispostos perpendicularmente entre si, formando um
ângulo de noventa graus. Há uma comunicação entre o vestíbulo e os canais
semicirculares através de um orifício que possui uma dilatação, chamada de ampola.
Os canais semicirculares, em termo de engenharia, poderiam ser conhecidos por
sensores da velocidade, pois fornecem informações sensoriais sobre velocidade que
permitem que o reflexo vestíbulo-ocular produza um movimento ocular cuja
velocidade seja igual a do movimento cefálico (WILSON e JONAS, 1979).
Esse fenômeno ocorre devido aos canais semicirculares possuírem um
método de conversão da velocidade cefálica em deslocamento, executada pelas
alças dos canais semicirculares, por possuírem paredes finas e um lúmen de
diâmetro pequeno. Essas alças são alinhadas em três disposições espaciais, no
qual os seis canais semicirculares individuais transformam-se em três pares
17
coplanares: lateral direito e lateral esquerdo; posterior direito e anterior esquerdo;
posterior esquerdo e anterior direito (HAIN, RAMASWAMY e HILLMAN, 2002).
No interior do vestíbulo encontra-se o sáculo e o utrículo. Ambos possuem em
suas paredes um espessamento que chamamos de mácula, diferenciando-se pelo
fato de que a mácula do utrículo é maior e encontra-se na forma horizontal e a
mácula do sáculo é menor e encontra-se na posição vertical (MOMENSOHN-
SANTOS et al, 2007).
Segundo os mesmos autores, a mácula é formada por células sensoriais e de
sustentação. Nestas encontra-se a membrana otolítica, que contém os otólicos, os
quais são pequenas estruturas de cálcio, com função muito importante na
estimulação das células.
Assim como os canais semicirculares, as máculas são dispostas de tal
maneira que consigam reagir ao movimento em todas as dimensões. Porém, a
mácula possui apenas dois órgãos para três eixos de movimentos. Quando ocorre o
movimento da cabeça, resulta no aumento da descarga aferente originada em uma
das partes da mácula, ao mesmo tempo em que reduz em outra porção da mácula.
Por exemplo, quando a cabeça estiver inclinada lateralmente (flexão lateral), a força
é exercida pelo utrículo, causando excitação e sendo diminuída pelo sáculo (HAIN,
RAMASWAMY e HILLMAN, 2002).
2.2 Equilíbrio corporal e tontura
As alterações do equilíbrio ocorrem devido ao comprometimento da
funcionalidade do sistema nervoso central de realizar o processamento dos sinais
vestibulares, visuais e proprioceptivos (NADOL e SCHUKNECHT, 1989).
A tontura é definida como uma sensação de deslocamento linear ou
instabilidade, sendo a rotação a experiência mais descrita, podendo haver
deslocamento dos objetos (tontura objetiva) ou do próprio corpo (tontura subjetiva).
É um dos sintomas mais frequentes em todo o mundo, atingindo ambos os gêneros.
A vertigem caracteriza-se por uma desorientação espacial rotatória, sendo o tipo
mais comum de tontura (GANANÇA, CAOVILLA e GANANÇA, 1996).
As tonturas podem ser relatadas como uma queixa, mas muitas vezes
também são acompanhadas por outros sintomas e sinais, como queixas de zumbido,
perda auditiva, otalgia e otorréia (CAMPOS, 1998).
18
A tontura é qualquer sensação de perturbação do equilíbrio corporal, uma
ilusão de movimento do corpo ou do ambiente ao seu redor. As principais alterações
do equilíbrio corporal são tontura, vertigem, desequilíbrio e queda, que surgem
quando algo interfere no funcionamento normal desse sistema, podendo ser de
origem periférica ou central (CAOVILLA et al, 1999).
As queixas de tonturas são mais frequentes na população idosa, chegando à
incidência de 85%. As quedas são as consequências mais perigosas, pois, na
maioria das vezes, podem haver fraturas e mortes acidentais decorrentes delas
nessa população. Nas pessoas acima de 40 anos, a incidência de queixa de tontura
é de 40% (BITTAR et al, 2002).
O equilíbrio corporal depende da integridade do sistema vestibular (labirinto,
nervo vestibulococlear, núcleos, vias e inter-relações no sistema nervoso central), do
sistema somatossensorial (receptores sensoriais localizados em tendões, músculos
e articulações) e da visão (JURKIEWICZ, ZEIGELBOIM, e MANGABEIRA-
ALBERNAZ, 2002).
As alterações do equilíbrio corporal, caracterizadas como tontura, vertigem,
desequilíbrio e queda, são as queixas mais comuns da população idosa e
constituem um problema médico de grande relevância. Além dessas alterações, os
idosos são mais propensos a doenças que alteram diretamente estas funções como,
por exemplo, diabetes, aterosclerose, acidente vascular cerebral e depressão, que
limitam algumas de suas atividades motoras em decorrência da perda de massa
muscular, flexibilidade e integridade esquelética (SIMOCELI et al, 2003).
A tontura é considerada o segundo sintoma com maior prevalência no mundo
até os 65 anos. Em indivíduos com mais de 75 anos a ocorrência é de 80%. Isso se
deve ao fator de envelhecimento, que compromete as habilidades do sistema
nervoso central ao realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e
proprioceptivos (RUWER, ROSSI e SIMON, 2005).
A Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é uma das causas mais
frequentes de tontura (MORENO e ANDRÉ, 2009).
19
2.3. Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB)
A tontura é uma das queixas mais comum nas clínicas médicas, e a Vertigem
Posicional Paroxística Benigna é diagnosticada em cerca de um quinto dos
encaminhamentos. Estima-se que 64 a 100000 habitantes tenham queixa de VPPB.
A maioria dos pacientes tem em torno de 40 anos e as mulheres são afetadas duas
vezes mais que os homens. Os sintomas podem se resolver espontaneamente após
algumas semanas ou meses, mas para alguns pacientes podem persistir por anos
(LEMPERT, GRESTY e BRONSTEIN, 1995)
A Vertigem Posicional Paroxística Benigna foi descrita em 1921, por Barany.
É um distúrbio biomecânico do labirinto vestibular, no qual um ou mais canais
semicirculares são estimulados de forma inadequada, decorrentes da movimentação
e/ou posição da cabeça (HERDMAN, 1997).
A Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é um distúrbio vestibular
frequente em Otoneurologia e prevalente no sexo feminino. Em geral, os pacientes
conseguem identificar a posição que desencadeia a crise e passam a evitá-la
constantemente, levando a alterações e/ou distúrbios posturais que pioram o quadro
e aumentam a incapacidade funcional. A tontura nem sempre é rotatória, pode ser
acompanhada, às vezes, por enjoos (GANANÇA, TAGUCHI e MOURA, 1997). A
VPPB constitui a causa mais comum de vertigem. Manifesta-se nos jovens, adultos e
idosos, principalmente do gênero feminino, provavelmente por alterações
degenerativas senis e disfunções hormonais. Ela está presente em vinte por cento
dos pacientes com queixa de tontura. Os acometimentos unilaterais são mais
frequentes do que os acometimentos bilaterais. (GANANÇA et al, 1999).
O sucesso do tratamento necessita da cooperação do paciente e de sua
participação de forma ativa, o que leva a resultados mais satisfatórios e melhora na
qualidade de vida. Existem três formas de tratamento para as disfunções labirínticas:
a medicamentosa, a cirúrgica e a reabilitação vestibular (GANANÇA et al, 2000).
A VPPB é um problema mecânico do labirinto e deve ser tratada como tal. O
tratamento da VPPB foi descrito por Alan Semont (1998), em Paris, e por Epley
(1992), nos EUA. A aplicação de manobras terapêuticas teria como finalidade fazer
com que os fragmentos degenerados, presentes anormalmente no canal
semicircular, fossem encaminhados de volta, pela ação da gravidade, para o
utrículo. Visa à adaptação e compensação do sistema nervoso central, de modo que
20
os sintomas sejam superados. Existem várias manobras de reposição canalítica; as
manobras de Brandt-Daroff, de Semont e de Epley são as utilizadas com maior
frequência (PEREIRA e SCAFF, 2001).
A VPPB caracteriza-se clinicamente pela presença de episódios recorrentes
de vertigens, desencadeados por determinados movimentos cefálicos ou mudanças
de posturas realizadas pelo paciente. O diagnóstico pode ser obtido através da
manobra de Dix-Halpike. A manobra é positiva quando desencadeia vertigem e
nistagmo na mudança do indivíduo da posição decúbito dorsal para deitado com a
cabeça pendente abaixo do plano horizontal, com uma rotação de 45° da cabeça
para o lado a ser testado (MAIA, DINIZ e CARLESSE, 2001).
A VPPB é denominada objetiva quando há presença de nistagmo, na
manobra diagnóstica de Dix-Halpike, enquanto a VPPB subjetiva é definida quando
há vertigem sem a presença de nistagmo. A vertigem pode apresentar-se
desacompanhada do nistagmo. O nistagmo pode estar ausente devido à
interferência de processos de habituação ou porque o movimento cefálico
desencadeante é suficiente para provocar a vertigem, porém não alcança o limiar de
estimulação necessário para desencadear o movimento ocular (HAYNES et al
2002).
A VPPB é caracterizada por breves episódios de vertigem, geralmente com
duração entre 30 segundos e dois minutos, náusea e/ou nistagmo de
posicionamento. Após a crise vertiginosa, uma sensação de flutuação pode
prosseguir por horas ou dias, o que pode comprometer a realização de atividades
profissionais, escolares, domésticas e sociais (FETTER, 2002).
Algumas das movimentações que mais provocam as manifestações clínicas
da VPPB são deitar-se ou levantar-se da cama, olhar para cima inclinando a cabeça
para trás e adotar o decúbito lateral a partir da posição de decúbito dorsal. Os
sintomas, geralmente, apresentam a duração média de 30 meses antes da
intervenção terapêutica de pacientes com VPPB. Isso acontece devido aos sintomas
se resolverem espontaneamente depois de algumas semanas ou meses.
Inicialmente acreditava-se que o canal semicircular posterior era o único acometido
na VPPB, devido aos nistagmos mais observados serem produzidos por excitação
do canal posterior. Recentemente foi reconhecido o acometimento dos canais
semicirculares anteriores e laterais (HERDMAN e TUSA, 2002).
21
Para o tratamento de VPPB, são utilizadas manobras de reposição canalítica.
As mais usadas são a manobra de Semont e a manobra de Epley. A manobra de
Semont caracteriza-se por ser agressiva, pois desencadeia tonturas muito fortes nos
pacientes. Já a manobra de Epley é mais adotada, pois descreve uma manobra de
reposicionamento do debris, com o objetivo de encaminhar os fragmentos de volta
para o utrículo, onde seriam absorvidos ou eliminados pelo saco endolinfático. Esta
manobra apresenta alto índice de melhora ou cura, representando cinco vezes mais
chance de desaparecimento dos sintomas, e é a mais utilizada no tratamento da
VPPB que acomete o canal semicircular (WOODWORTH, GILLESPIE e LAMBERT,
2004).
Foi desenvolvido um estudo com o objetivo de verificar o número de manobra
de reposicionamento necessário para ocorrer à abolição dos sintomas de VPPB.
Obteve-se em média 2,13 manobras, 40% dos pacientes necessitaram de uma
manobra, 28,3% precisaram de duas manobras e 41,7% necessitaram de três ou
mais manobras para abolir os sintomas. Conclui-se nesse trabalho que foram
necessárias de uma até oito manobras para abolir totalmente as queixas de VPPB
dos pacientes (DORIGUETO, GANANÇA e GANANÇA, 2005).
O canal semicircular posterior é o mais acometido (85% a 95% dos casos),
mas podem ocorrer outras variantes no canal semicircular lateral (5% a 10% dos
casos) ou mesmo do canal semicircular anterior, existindo poucos relatos na
literatura sobre acometimentos no canal semicircular anterior (GARCIA, 2005).
As causas da VPPB geralmente são indefinidas, porém, em 50% dos casos,
podem estar relacionadas com trauma craniano, disfunção hormonal, distúrbios
metabólicos, acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, pós-cirurgia geral ou
otológica (timpanoplastia com mastoidectomia, estapedectomia ou implante coclear),
medicamentos ototóxicos, distúrbios psíquicos, doença de Menière, entre outros. A
pesquisa diagnóstica mais utilizada para a VPPB é a manobra de Dix-Halpike, que
tem como objetivo promover um deslocamento de endolinfa e, com isso, da cúpula
do canal semicircular. Nessa manobra, o paciente fica sentado, inicialmente, com a
cabeça rodada 45 graus para o lado testado. O examinador deve segurar a cabeça
do paciente e deitá-la brusca e rapidamente, devendo ficar com a cabeça pendente
30 graus. Em pacientes em que ocorre nistagmo e desencadeia vertigem, a
manobra é positiva (GANANÇA et al, 2005).
22
Uma das hipóteses para o não aparecimento do nistagmo na manobra de Dix-
Halpike seria a fadigação, que teria ocorrido devido à repetição da posição pelo
paciente, no qual os sinais neurais são suficientes para desencadear tontura, mas
não para alcançar o limiar para estimular a via vestíbulo-ocular e provocar o
nistagmo. Independente da presença ou não de nistagmo, todos os pacientes
deverão se beneficiar das manobras de reposicionamento (MOON et al, 2006).
A inclusão da manobra de Dix-Halpike na avaliação de pacientes com queixa
de vertigem pode permitir a imediata execução de um método simples, rápido, fácil e
de baixo custo. Há evidências de que a manobra de Epley é segura e efetiva para o
tratamento de VPPB do canal semicircular posterior, porém não há evidências de
que a manobra promova resolução dos sintomas em longo prazo (TEIXEIRA e
MACHADO, 2006).
Para realizar a manobra de Epley, coloca-se o paciente na posição de Dix-
Halpike, a cabeça é rodada 45 graus para o lado comprometido; em seguida, é
rapidamente deitado, mantendo a posição da cabeça. A cabeça é então rapidamente
rodada para o lado oposto e então roda-se o corpo 45 graus, deslocando a cabeça
para baixo até que o nariz fique apontado para o chão. Finalmente, o paciente é
colocado na posição sentada. Deve-se manter as posições por um período de 3
minutos (SANTOS, 2006).
É comum ocorrerem casos de recidiva após a realização da manobra de
reposição canalítica. A maioria da recorrência das queixas de VPPB ocorre no
primeiro ano após o tratamento. Associadas a esses sintomas é comum encontrar
outras doenças, tais como trauma, labirintite e hidropsia endolinfática (BRANDT et
al, 2006).
Há hipóteses de que os canais semicirculares, com uma incidência muito
maior no posterior, contenham partículas flutuantes, ou debris, que são mais
pesadas que a endolinfa circulante, sendo provenientes da ruptura de estatocônios
da mácula utricular. Partindo dessa hipótese, há duas teorias: cupulolitíase, descrita
por Schucknecht (1969), em que os debris de estatocônios que se desprenderam da
mácula encontram-se aderidos à cúpula do canal semicircular, e ductolitíase,
descrita por Brandt e Stenddin (1993), em que os debris flutuam livremente na
endolinfa ao longo do ducto semicircular acometido. Nas duas teorias, o movimento
da cabeça provocaria os movimentos dos debris, acarretando uma estimulação
23
inapropriada da cúpula do canal semicircular e excitação do nervo ampular posterior,
provocando a vertigem (SANZ e GUZMAN, 2007).
A eliminação dos sintomas de VPPB ocorre após uma, duas ou três manobras
de Epley, com maior índice na realização de apenas uma (80,7%). Os casos de
recorrência podem acontecer em 12 meses após a realização das manobras e há
relatos de sucesso com repetição do tratamento (GANANÇA, 2007).
Um estudo avaliou se a repetição da manobra de Epley em uma mesma
sessão resultaria em um número menor de sessões. A amostra foi composta por 123
pacientes; 75 realizaram apenas uma manobra por sessão e 48 realizaram quatro
manobras, com intervalo de dois minutos. Os pacientes que realizaram várias
manobras em uma mesma sessão necessitaram de menos sessões (1,2 sessões,
média) do que os pacientes que realizavam apenas uma manobra por sessão (1,5
sessões, em média). Ao término concluiu-se que a repetição da manobra em uma
sessão é mais eficiente que realizar apenas uma (KORN et al, 2007).
O número de manobras necessárias para tornar a manobra de Dix-Halpike
positiva pode variar de uma até oito, de acordo com a etiologia da VPPB. A VPPB
secundária ao traumatismo crânio-encefálico necessitaria de mais manobras
(MORENO e ANDRÉ, 2009).
Após a realização das manobras de reposição canalítica, o desaparecimento
dos sintomas de VPPB é eficaz em 70% dos pacientes. A recorrência dos sintomas
de VPPB está presente em 26% dos pacientes. Se essas recidivas persistirem,
podemos escolher outros modos de tratamentos, tais como exercícios de
reabilitação, medicamentos supressores vestibular e procedimentos cirúrgicos
(DORIGUETO et al, 2009).
2.4. Vectoeletronistagmografia
Em pacientes com queixa de Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB)
o resultado da Vectoeletronistagmografia costuma ser normal, porém algumas
alterações já foram encontradas na prova calórica, na qual 42% dos pacientes
apresentaram alterações (WONG et al,1993).
Para a realização da vectoeletonistagmografia (VENG) utilizamos um
eletródio-terra e três eletródios ativos, um no canto externo de cada olho e outro na
linha média da fronte, formando um triângulo. Cada lado do triangulo será
24
considerado um canal. A VENG possibilita o cálculo da velocidade angular real da
componente lenta do nistagmo (VACL), que, juntamente com o registro em três
canais, facilita o reconhecimento da direção dos movimentos oculares, por meio do
ângulo formado pela componente rápida. Assim, é possível verificar a direção exata,
amplitude e VACL média dos batimentos dos nistagmos selecionados em cada
canal. (ITO et al, 1994).
A VENG corresponde a uma variação da eletronistagmografia (ENG) que
utiliza três canais de registro para gravar os movimentos oculares. A VENG tem
como base a captação da variação do potencial elétrico córneo-retinal quando os
olhos se movimentam. Um eletrodo ativo é colocado no canto externo de cada olho
esquerdo, outro no canto do olho direito e o terceiro na linha média frontal, de modo
que os três canais de registro apresentem a configuração de um triângulo isóscele.
A partir dos eletrodos ativos, originam-se três derivações bipolares que permitem a
identificação dos movimentos oculares horizontais, verticais e oblíquos. A medida da
velocidade da componente lenta do nistagmo considera a influência direcional das
respostas, de acordo com a projeção vetorial dos movimentos oculares. A VENG
possibilita o estudo do nistagmo oblíquo resultante da estimulação dos canais
semicirculares verticais à prova rotatória, posicionando a cabeça do paciente 60º
para traz e 45º para um dos lados (CAOVILLA et al, 1999)
A VENG foi introduzida por Padovan e Pansino (1969) com a finalidade de
registrar não só os movimentos oculares horizontais, como também os movimentos
oculares verticais e oblíquos, importantes para detectar a velocidade angular real da
componente lenta (VACL) do nistagmo. A análise conjunta desses três canais
indicará a direção e o sentido do nistagmo; são realizadas no canal I (determinado
pelos eletrodos que ficam nos cantos dos dois olhos) as medidas de VACL, estando
presente nesse canal o nistagmo horizontal. Nos canais II (determinado pelos
eletrodos superior e que ficam no canto do olho esquerdo) e III (determinado pelos
eletrodos superior e que ficam no canto do olho direito) podemos analisar o
nistagmo vertical. A VENG é composta por várias provas, nas quais os resultados
serão analisados em conjunto e comparados com os padrões de normalidade. Os
exames pesquisados na VENG são calibração dos movimentos oculares, pesquisa
do nistagmo espontâneo, pesquisa do nistagmo semiespontâneo, rastreio pendular,
nistagmo optocinético, nistagmo per-rotátorio (prova rotatória pendular decrescente)
e nistagmo pós-calórico (provas calóricas) (MOR et al, 2001).
25
A VENG tem como vantagem o reconhecimento do nistagmo oblíquo,
comumente encontrado em várias provas, e a medida correta da velocidade da
componente lenta do nistagmo. O estudo do nistagmo oblíquo é resultante da
estimulação dos canais semicirculares anteriores e posteriores na prova rotatória
pendular decrescente (PRPD). Essa estimulação é realizada com a cabeça do
paciente a 60º para trás e 45º para o lado direito e depois para o lado esquerdo
(CAOVILLA et al, 2004).
Na VPPB, os testes convencionais de avaliação do reflexo vestíbulo-ocular
não mostram alterações típicas, somente na pesquisa da vertigem e nistagmo de
posicionamento e/ou posicional. No entanto, a vectoeletronistagmografia é capaz de
identificar alguns sinais de disfunção vestibular, sendo bastante comum
encontrarem-se alterações nessa avaliação. Foi verificada alteração na prova
calórica em 42,8% dos pacientes, sendo 22% hiporreflexia unilateral, 13,7%
predomínio direcional e 7,1% hiporreflexia unilateral e predomínio direcional
(KORRES, BALATSOURAS e FEREKIDIS, 2004).
A normorreflexia é um achado comum em pacientes com VPPB, porém nem
sempre ele é prevalente. Em um estudo foi observado o nistagmo pós-calórico em
68 pacientes e obtiveram-se 41,2% de casos de predomínio direcional, 30,9% dos
casos hiporreflexia e em 27,9% dos casos foi observada normorreflexia (KOGA,
RESENDE e MOR, 2004).
Foi desenvolvido um estudo comparando-se os resultados da prova calórica
de vectoeletronistagmografia com o canal semicircular acometido em pacientes com
VPPB. Foram analisados 1033 prontuários de pacientes e concluiu-se que nos
pacientes que apresentaram comprometimento do canal semicircular posterior
ocorreram normorreflexia, hiporreflexia contralateral, hiperreflexia e predomínio
direcional, por ordem decrescente de prevalência, quando analisada a prova
calórica. Em pacientes com comprometimento do canal semicircular anterior ocorre
prevalência de normorreflexia sobre a hiporreflexia unilateral ipsilateral. Nos
pacientes com alteração no canal semicircular lateral ocorreu prevalência de
normorreflexia, seguida pela hiporreflexia e hiperreflexia (MANSO et al, 2009).
26
3. MATERIAL E MÉTODO
A amostra foi composta por indivíduos com queixa de Vertigem Posicional
Paroxística Benigna na história clínica e que realizaram todas as avaliações
propostas.
As avaliações foram realizadas no Ambulatório de Otologia do Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM/UFSM) e em uma clínica privada de Santa Maria.
O projeto de pesquisa está registrado no comitê de Ética em Pesquisa do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), número
23081.003726/2006 – 41.
3.1 Grupo de estudo
Os indivíduos que compareceram ao Ambulatório de Otologia do HUSM e na
Clínica privada da cidade de Santa Maria-RS entre os meses de março de 2009 e
julho de 2010, com queixa de VPPB participaram da pesquisa, após terem
conhecimento dos objetivos da pesquisa e do termo de conhecimento livre e
esclarecido (Apêndice A).
Foram excluídos do estudo indivíduos com as seguintes características:
Dificuldades motoras, que impossibilitem a realização das avaliações;
Distúrbios auditivos e visuais graves;
Dificuldades posturais, que impeçam a realização das manobras;
Alterações psicoemocionais relatadas pelo paciente.
Os indivíduos foram submetidos à anamnese, proposta por Castagno (2004) e
adaptada para a amostra estudada (anexo I), para avaliar a possibilidade de
participar do estudo com base nos critérios de seleção supramencionados.
Indivíduos que apresentaram queixas inclusas nos critérios de exclusão, durante a
anamnese, foram encaminhados para avaliações complementares com outros
profissionais.
Foi utilizada a manobra de Dix-Halpike com o objetivo de confirmar as queixas
de VPPB, através da identificação de vertigem e/ou nistagmo, a manobra de Dix-
Halpike foi realizada pelo Otorrinolaringologista. A manobra é considerada positiva,
27
se o paciente apresentar nistagmo e/ou vertigem; e negativa, se esses sintomas não
aparecerem.
Após a realização desse teste, os pacientes foram subdivididos em dois
grupos:
Grupo controle – 122 pacientes que obtiveram resposta negativa na manobra de
Dix-Halpike;
Grupo estudo – 58 pacientes que tiveram resposta positiva na manobra de Dix-
Halpike.
Os 180 pacientes que realizaram avaliação com o Otorrinolaringologista foram
encaminhados para avaliação com a fonoaudióloga, que realizou o exame de
vectoeletronistagmografia.
Os pacientes receberam orientações após a realização das avaliações e o
que apresentaram resultado positivo na manobra de Dix-Halpike foram convidados a
realizaram a manobra de reposição canalítica.
3.2 Procedimento
Todos os indivíduos selecionados para a pesquisa realizaram os seguintes
procedimentos:
Anamnese
Manobra de Dix-Halpike;
Vectoeletronistagmografia.
A manobra de Dix-Halpike é realizada para fazer o diagnóstico de VPPB, essa
manobra é provocativa de tontura e nistagmo. Para sua realização, pede-se que o
paciente fique com os olhos abertos, para que possa ser observada a presença ou
ausência do nistagmo, seja por meio da lente de Frenzel, pelo registro
eletroculográfico ou ainda a olho nu.
O paciente é orientado a sentar-se de costas, a uma altura que ao deitar sua
cabeça permaneça fora da maca. A cabeça é virada 45º para o lado a ser avaliado.
Então, a terapeuta deita o paciente rapidamente, devendo ficar a cabeça pendente
30º, durante 20 segundos, para que a presença do nistagmo seja pesquisada.
Quando colocada nessa posição, o canal posterior da orelha fica no plano de ação
28
da gravidade. Com isso, os dendritos aderidos à cúpula, ou que flutuam livremente
na endolinfa, trocam de direção e resultam na vertigem e no nistagmo.
Os possíveis resultados da manobra de Dix-Halpike são:
Positivo objetivo: com presença de nistagmo e sensação de tontura e/ou
náuseas;
Positivo subjetivo: com ausência de nistagmo e presença da sensação de
tontura e/ou náuseas;
Negativo: ausência de nistagmo e tontura.
Para a realização da vectonistagmografia, foi utilizado o Sistema
Computadorizado de Vectoeletronistagmografia SCV 5.0 e o programa Nistagmus,
versão 1.0.0.59. Esses consistem em um método de inscrição dos movimentos
oculares horizontais, verticais e oblíquos, baseado na captação, por meio de
eletrodos de superfície, da variação de potencial elétrico entre a córnea (+) e a retina
(-) que ocorre quando movimentamos os olhos. É destinado basicamente ao registro
do nistagmo que é o movimento de maior interesse em Otoneurologia, dotado de um
conjunto de componentes lentos e rápidos que se sucedem alternadamente.
A pele do paciente foi higienizada usando-se algodão e álcool para que a
captação do potencial elétrico ocorresse de forma efetiva através dos eletrodos que
foram colocados na região periorbitária, através de pasta eletrolítica e fita adesiva. O
eletrodo indiferente (terra) foi fixado na região frontal, o eletrodo superior na linha
média (dois centímetros acima da glabela) e um eletrodo em cada canto externo do
olho. Os eletrodos são constituídos de prata de baixa polarização.
Esse exame é composto por várias provas, que formaram em conjunto o
diagnóstico do exame. As provas que fazem parte desse exame são:
Calibração dos movimentos oculares - responsável por estabelecer o padrão da
medida da velocidade angular da componente lenta (VACL). Os olhos do paciente
descrevem um ângulo de 10º durante o deslocamento. Essa medida é ajustada com
o ganho em 10 mm, assim, faz-se uma correspondência de 1º de desvio do olhar
para 1mm de inscrição no papel. Essa relação será usada como parâmetro de
análise de todas as provas do exame vestibular. A calibração deve ser feita no plano
horizontal e no plano vertical. O traçado pode ser classificado como regular ou
irregular.
29
Nistagmo espontâneo – é o que aparece no olhar de frente do paciente, tem por
objetivo verificar a presença ou ausência de nistagmo espontâneo, tanto com os
olhos fechados quanto com os olhos abertos. Durante esse exame, o paciente deve
ser mantido mentalmente ocupado, para que ocorra a inibição cortical. A presença
de nistagmo espontâneo com olhos fechados pode ser encontrada em indivíduos
normais, porém sua VACL máxima deve ser 7º/s. Sua realização é indispensável,
pois a presença de nistagmo pode influenciar as demais provas e o seu registro
deve ser longo.
Nistagmo semiespontâneo ou direcional – nesse exame não medimos a VACL,
apenas verificamos a presença ou ausência de nistagmo quando o olhar é desviado
30º para os pontos cardiais. A prova deve ser realizada com os olhos abertos e o
nistagmo direcional não está presente em indivíduos normais.
Rastreio pendular - capacidade do indivíduo em acompanhar um pêndulo que se
move horizontalmente e verticalmente de forma sinusoidal. A curva resultante pode
ser classificada em quatro tipos: I, II, III e IV. Indivíduos normais apresentam curva
do tipo I ou II, não apresentando dificuldade em acompanhar o pêndulo. A curva tipo
III pode ser vista em indivíduos com disfunção periférica ou central, e a curva tipo IV
em portadores de disfunções centrais, em geral com lesão no cerebelo,
apresentando total incapacidade de acompanhar o pêndulo.
Nistagmo optocinético – utiliza-se estímulo visual nessa prova e é realizada com
os olhos abertos; verificamos se há simetria entre os batimentos ocorridos para
ambos os lados. O nistagmo deve bater para o lado contrário ao estimulado, ou seja,
quando se estimula para o sentido horário, o nistagmo deve bater com o sentido
anti-horário. Verifica-se a simetria do nistagmo optocinético aplicando a fórmula de
Jongkees; considera-se simétrico quando o resultado for igual ou inferior a 20%.
Prova rotatória pendular decrescente (PRPD) – através dessa prova avaliamos o
nistagmo per-rotatório. O paciente deve ficar com os olhos fechados e as mãos
sobre os joelhos. A cadeira é solta para pendular livremente, girando ora em sentido
horário, ora em sentido anti-horário, perdendo gradativamente velocidade, até parar.
Enquanto a cadeira se move para o sentido anti-horário, a endolinfa, por inércia, se
move para o sentido horário. O objetivo é verificar se existe simetria entre os
batimentos. Calcula-se através da fórmula de Jongkees, se o resultado da fórmula
for menor que 33% o nistagmo per-rotatório é simétrico.
30
A prova é realizada em três posições: a cabeça do paciente fica fletida 30º (os
canais laterais ficam horizontalizados); cabeça fica fletida 60º para trás e 45º para o
lado esquerdo (estimulação dos canais semicirculares posterior direito e anterior
esquerdo); cabeça fletida 60º para trás e 45º para o lado direito (estimulação dos
canais semicirculares posterior esquerdo e anterior direito).
Prova calórica - tem como principal função investigar os labirintos separadamente.
Consiste em irrigar as orelhas, primeiramente com água quente (44º C) e depois
com água fria (30ºC), causando assim diferentes variações térmicas, provocando
correntes de convecção, que estimulam a crista ampular. A prova é realizada com os
olhos fechados. Ao término solicitamos que o paciente abrisse os olhos e os fixasse
em um ponto na sua frente, para verificarmos a presença do Efeito Inibitório da
Fixação Ocular (EIFO).
A avaliação do nistagmo pós-calórico é realizada de forma quantitativa e
qualitativa:
- Qualitativa: hiperreflexia, quando qualquer um dos valores obtidos for maior
que 50°/s; hiporreflexia quando há qualquer valor menor que 3°/s; arreflexia quando
não se obtém resposta, na mesma orelha, nas três temperaturas pesquisadas (44°C,
30°C e 18°C).
- Quantitativa: quando os resultados obtidos nas quatro estimulações
estiverem normais (entre 3°/s e 50°/s). Para comparação dos valores
correspondentes à mesma orelha ou à mesma direção de batimentos, utilizamos a
Fórmula de Jongkees. Considera-se normal quando esse índice for menor que 30%
(normorreflexia); preponderância labiríntica (PL), quando os dois valores referentes à
mesma orelha forem maiores que as respostas da outra; e predomínio direcional
(PD) quando os dois valores referentes aos nistagmos de mesma direção forem
maiores que os de direção oposta. PL caracteriza uma labirintopatia periférica
deficitária (do lado em que os valores de nistagmo pós-calórico são menores) e PD
caracteriza uma labirintopatia periférica irritativa (MOR et al., 2001).
3.3. Método Estatístico
Para análise dos resultados, foi aplicada a estatística descritiva. Os
resultados obtidos foram organizados em tabelas e apresentados em números
absolutos e relativos.
31
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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36
5. ARTIGO DE PESQUISA
ACHADOS CLÍNICOS DE PACIENTES COM VERTIGEM POSICIONAL
PAROXÍSTICA BENIGNA
6.1 Resumo
Introdução: Em geral, quando algo interfere no equilíbrio corporal, temos a
sensação de tontura, desequilíbrio, vertigem. Esses sintomas são comuns no mundo
todo, atingindo jovens, adultos e idosos. A vertigem posicional paroxística benigna é
o tipo de vertigem mais frequente. Manifesta-se quando o paciente deita ou levanta
da cama ou quando realiza algum movimento com a cabeça. O diagnóstico é
realizado através da manobra de Dix-Halpike e o tratamento através da manobras
de reposição canalítica.
Objetivo: Analisar os achados clínicos de pacientes com vertigem posicional
paroxística benigna.
Material e método: Os pacientes foram submetidos a anamnese e manobra
de Dix-Halpike. A partir dessa avaliação, foram divididos em grupo controle e grupo
estudo. Todos realizaram manobra de Epley e foram orientados a retornar ao
atendimento, caso houvesse recorrência dos sintomas de vertigem posicional
paroxística benigna. Foi aplicada a estatística descritiva, sendo os resultados
organizados em tabelas.
Resultados: Houve prevalência do sexo feminino nos dois grupos. No grupo
estudo, foi observado que o canal semicircular posterior foi o mais afetado. A
ductolitíase esteve presente na maioria dos casos e houve prevalência de casos
unilaterais. Foi necessário, em média, 1,58 manobras de Epley para abolir os
sintomas de vertigem posicional paroxística benigna. Houve 6,9% de casos de
recidiva.
Conclusão: Apesar de alguns pacientes apresentaram recidiva, a manobra de
Epley foi eficaz em todos os casos. O canal mais afetado foi o posterior e
ductolitíase foi a teoria com maior prevalência.
Palavras-chave: tontura, vertigem, recidiva, canais semicirculares.
37
CLINICAL FINDINGS ON PATIENTES WITH BENIGN POSITIONAL PAROXYSMAL
VERTIGO.
5.2 Abstract
Introduction: In general, when something interferes in the corporal balance we
have the feeling of dizziness, imbalance and vertigo. These symptoms are common
all the world and reach young people, adults and elderly one. The Benign Positional
Paroxysmal Vertigo is the most frequent vertigo sort. It is manifested when the
patient lie in or get up from bed, or when he/she carries out some head movement.
The diagnosis is performed through the Dix-Halpike maneuver and the treatment
through canalith repositioning maneuvers.
Objective: To analyze the clinical findings on patients with Benign Positional
Paroxysmal Vertigo.
Material and method: The patients have performed anamnesis and the Dix-
Halpike maneuver. From this evaluation, they were divided in control group and study
group. All of them have performed the Epley maneuver and they were instructed to
return to service if there was symptoms recurrence of Benign Positional Paroxysmal
Vertigo. It was applied to descriptive statistics, being the results organized in tables.
Results: There was a prevalence of females in both groups. In the studied
group was observed that the posterior semicircular canal was the most affected, the
ductolitiase was present in most cases and there was prevalence of unilateral cases.
It was necessary, on average, 1.58 Epley maneuvers to abolish the symptoms of
Benign Positional Paroxysmal Vertigo. There was 6.9% of recurrence cases.
Conclusion: Although some patients presented recurrence, Epley maneuver
was effective in all cases. The most affected canal was the posterior and the
ductolitiase was the theory with higher prevalence.
Keywords: Dizziness, vertigo, recurrence, semicircular canals
38
5.3 Introdução
Quando algo interfere no funcionamento normal do equilíbrio corporal, temos
essa sensação de deslocamento linear, de instabilidade. As principais alterações do
equilíbrio são as tonturas, vertigem, desequilíbrio e queda1,2.
A tontura é um dos sintomas mais comuns no mundo todo, caracterizada
como uma ilusão do movimento do corpo ou do ambiente. Pode atingir os dois
gêneros, sendo mais frequente nos idosos, e atingindo 40% da população adulta
com idade entre 40 e 50 anos3,4,5. Associada a ela pode aparecer queixa de
zumbido, otalgia, otorréia e perda auditiva1,2.
A Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é a causa mais frequente
de vertigem, sendo comum em jovens, adultos e idosos6. Os sintomas da VPPB
manifestam-se quando o paciente deita ou levanta da cama, olha para cima
inclinando a cabeça para trás e adota a posição decúbito lateral a partir da posição
de decúbito dorsal7; está presente com duração entre 30 segundos e dois minutos,
mas pode causar desconforto durante todo o dia8,9.
O canal semicircular mais afetado é o posterior, seguido pelo canal
semicircular lateral. Há poucos relatos sobre acometimentos do canal semicircular
anterior7,10.
Segundo alguns autores11,12,13, o diagnóstico de VPPB é realizado através da
manobra de Dix-Halpike, no qual o paciente é deitado com a cabeça virada 45º para
o lado testado, devendo ficar com a cabeça pendente 30º. A partir dessa manobra, é
observada a presença de nistagmo e/ou tontura e qual canal semicircular está
afetado.
Há duas teorias para a causa de VPPB, a cupololitíase, sugere que debris de
estatocônios, que são mais pesados que a endolinfa e se desprenderam da mácula,
estariam aderidos à cúpula, deixando-a mais densa que a endolinfa. A ductololitíase
sugere que esses debris de estatocônios estariam flutuando levemente ao longo do
canal semicircular9,12,13.
O tratamento da VPPB é realizado por manobras de reposição canalítica, as
mais utilizadas são a Manobra de Semont e a Manobra de Epley. A manobra mais
eficaz é a manobra de Epley, apresentando um alto índice de cura14.
A manobra de reposição canalítica é realizada uma ou mais vezes,
dependendo das queixas e relatos dos pacientes. Podem, em alguns casos, ocorrer
39
recidiva no mesmo canal semicircular ou em outros15,16. Diante dessas informações,
o objetivo desse trabalho é analisar os achados clínicos de pacientes com vertigem
posicional paroxística benigna.
40
5.4 Material e método
Essa pesquisa foi realizada no Ambulatório de Otoneurologia do Hospital
Universitário de Santa Maria. Está registrado no Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
número 23081.003726/2006 – 41.
Os pacientes que compareceram ao Ambulatório de Otoneurologia, entre
março de 2009 e julho de 2010, foram convidados para participar da pesquisa e
receberam informações sobre o objetivo da mesma por meio do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A).
Participaram da pesquisa todos os pacientes que compareceram ao
atendimento otorrinolaringológico e fonoaudiológico, sendo excluídos os que se
recusaram a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a realizar
todas as avaliações ou que apresentaram alguma dificuldade ou impossibilidade de
realizar as manobras.
Os pacientes realizaram uma entrevista inicial, proposta por Castagno (1994)
e adaptada para este estudo (anexo I), para verificar as queixas de Vertigem
Posicional Paroxística Benigna. Todos os pacientes realizaram a manobra
diagnóstica de Dix-Halpike, na qual o paciente sentado, com a cabeça virada 45º
para o lado testado, é colocado na posição decúbito dorsal com a cabeça pendente
30º. A prova é considerada positiva se houver a presença de nistagmo e/ou tontura e
negativa se tiver a ausência dos dois sintomas.
A partir dessa avaliação, os pacientes foram divididos em dois grupos:
Grupo controle (GC) – 122 pacientes que apresentaram manobra de Dix-Halpike
negativa;
Grupo estudo (GE) – 58 pacientes que apresentaram manobra de Dix-Halpike
positiva.
Na manobra de Dix-Halpike também é possível observar qual o canal
semicircular que estava afetado; se a VPPB é um caso de cupololitíase ou
ductolitíase e ainda se era unilateral ou bilateral.
Os 58 pacientes que apresentaram manobra de Dix-Halpike positivo foram
convidados a realizar a manobra de reposição canalítica. Nesse estudo, optou-se
pela utilização da manobra de Epley para o tratamento de VPPB. Essa manobra
consiste em posicionar o paciente sentado na maca com a cabeça virada 45º para o
41
lado afetado; o mesmo é deitado, devendo ficar com a cabeça pendente 30º; a
cabeça é girada para o outro lado e depois roda-se o corpo 45º, deslocando a
cabeça para baixo, até que o nariz fique apontado para o chão. O paciente
permanece em cada posição até que os sintomas desapareçam.
Foi realizada uma manobra por sessão, uma vez por semana, até o momento
em que o paciente não apresentasse mais queixa de Vertigem Posicional
Paroxística Benigna, sendo realizada a manobra de Dix-Halpike novamente para
confirmar o desparecimento do nistagmo e/ou vertigem.
Os pacientes foram orientados a comparecerem ao Ambulatório de
Otoneurologia do HUSM, caso as queixas de VPPB reaparecessem. Para análise
dos resultados, foi aplicada a estatística descritiva, sendo os resultados organizados
em tabelas e apresentados em números absolutos e relativos.
42
5.5 Resultados
A amostra foi composta por 180 pacientes, sendo 141 do sexo feminino e 39
do sexo masculino. A variação da idade foi de 10 a 92 anos, essa grande variação
deve-se ao fato de todos os pacientes, atendidos no Ambulatório de Otoneurologia
do HUSM, entre março de 2009 e julho de 2010, terem sido convidados a participar
da pesquisa.
O grupo estudo foi composto por 58 pacientes, com idade entre 27 e 92 anos
(média = 61,24 anos) e o grupo controle composto por 122 pacientes, com variação
de idade de 10 a 87 anos (média de 53,67 anos). Em ambos os grupos houve
prevalência do sexo feminino (tabela 1).
TABELA 1 - Sexo masculino x sexo feminino
GC GE
N % N %
Masculino 30 24.59 9 15.52
Feminino 92 75,41 49 4,48
Total 122 100,00 58 100,00
Na tabela 2 estão expostos os dados referentes ao grupo estudo. Foi
observado que há prevalência da teoria de ductolitíase, o canal semicircular mais
acometido foi o posterior e há ocorrência maior de casos unilaterais.
TABELA 2 - Ductolitíase x Cupololitíase e CSC afetado
N %
DuCPD 27 46,55
DuCPE 20 34,49
DuCPDE 5 8,62
DuCLE 2 3,45
43
DuCLD 1 1,72
CuCPD 2 3,45
CuCPE 1 1,72
Total 58 100,00
A tabela 3 mostra quantas manobras de reposição canalítica são necessárias
para abolir os sintomas de VPPB. Foi verificado que a maioria dos pacientes (63,79)
necessitou de apenas uma manobra. A média de manobras necessária foi 1,58.
TABELA 3 - Número de manobras
N %
Uma 37 63,80
Duas 15 25,86
Três 4 6,90
Quatro 1 1,72
Cinco 1 1,72
Total 58 100,00
Na tabela 4 foi demonstrado que houve uma prevalência de pacientes
(93,10%) que não apresentaram mais queixas de VPPB, ou seja, não tiveram
recidiva após o tratamento com a manobra de reposição canalítica.
TABELA 4 - Ocorrência de recidiva
N %
Não 54 93,1
Sim 4 6,9
58 100,00
44
5.6 Discussão
Na tabela 1 foi observado que o sexo feminino (78,3%) foi predominante em
toda a amostra. Na literatura pesquisada3,6,17, também houve prevalência do sexo
feminino na amostra, porém esse estudo apresentou maior diferença entre os dois
sexos. Foi encontrado um percentual semelhante em um estudo18, no qual a
amostra foi composta por 100 pacientes, sendo 74% do sexo feminino e 26% do
sexo masculino. Alguns autores19 acreditam que essa prevalência seja decorrente
de alterações hormonais, encontradas mais em mulheres.
O canal semicircular mais afetado foi o CSC posterior (94,82%), seguido pelo
CSC lateral (5,18%) e não houve casos de alterações no CSC anterior. Alguns
autores20 vão ao encontro dos achados neste trabalho, afirmando que CSC posterior
foi o mais acometido (87%), seguido pelo CSC lateral (8,6%) e o CSC anterior
(4,4%). Outro estudo, desenvolvido em 201021, apresenta resultados semelhantes,
com a prevalência de acometimento do CSC posterior (83,47%), o CSC lateral foi
afetado em 13,22% dos casos e o CSC anterior em 3,31%. Essa mesma prevalência
é encontrada em muitos estudos na literatura. A percentagem do acometimento dos
CSC pode variar, mas relatos que discordem desses achados não.
O CSC posterior é considerado o mais afetado devido à relação anatômica,
pois a posição do CSC posterior facilita o depósito de debris de estatocônios soltos.
Por outro lado, a entrada de debris no CSC anterior é muito mais difícil e por isso é
incomum. O CSC lateral tem uma entrada mais larga e os movimentos de cabeça
facilitam a entrada dos debris nesse CSC22,23.
Um estudo24 analisou os labirintos acometidos na VPPB e verificou que houve
maior prevalência de acometimento bilateral em 44,18% dos casos. O labirinto
direito foi afetado em 29,07% dos casos e o esquerdo em 26,74%. No nosso estudo
foi verificado 8,92% de comprometimento bilateral, 57,14% de acometimento do
labirinto direito e 41,07% de acometimento do labirinto esquerdo, discordando do
estudo citado. Porém, um estudo13 vai ao encontro aos nossos achados, afirmando
que 91,7% dos pacientes apresentaram alterações unilaterais. Alguns autores20
corroboram que 91,8% dos pacientes apresentaram alteração em apenas um CSC,
considerado uma alteração unilateral, enquanto que alteração bilateral foi
encontrada em 8,2% dos pacientes.
45
A hipótese fisiológica para a VPPB que prevaleceu no estudo foi a
ductolitíase, presente em 55 pacientes (94,82%), e a cupololitíase apareceu em 3
pacientes (5,18%). Em outro estudo16 foi observado que a prevalência da hipótese
de cupololitíase (43,3%) foi semelhante à ductolitíase (56,7%). Em 2010, foi
evidenciado em um estudo25 que todos os pacientes apresentaram ductolitíase, não
havendo casos de cupolitíase.
O objetivo da realização da manobra de reposição canalítica é fazer com que
os debris de estatocônios que estão posicionados indevidamente no canal
semicircular sejam reposicionados para a mácula, seu lugar de origem, através da
ação da gravidade11.
A manobra de Epley foi realizada no presente estudo entre uma e cinco
vezes, sendo predominante a realização de apenas uma manobra (63.79%), seguida
pela realização de duas manobras, tendo uma média de 1,58 manobras. Em um
estudo semelhante26 foi necessário realizar apenas uma manobra em 80,7% dos
pacientes.
Autores16 desenvolveram um estudo com o objetivo de investigar quantas
manobras de reposicionamento são necessárias para abolir o nistagmo de
posicionamento. Foi observado que foram necessárias de uma até oito manobras,
sendo necessárias em média duas sessões.
Um estudo desenvolvido em 20096 teve como objetivo verificar quantas
manobras de reposicionamento são necessárias para eliminar os sintomas de
VPPB. Verificou-se que 76,05% dos pacientes necessitaram de apenas uma
manobra, 21,12%dos pacientes realizaram duas manobras e 2,81% precisaram de
três ou mais manobras para tornar o diagnóstico negativo.
As recidivas são comuns e exigem a realização da manobra de reposição
canalítica novamente15. No nosso estudo foi evidenciado que 4 pacientes (6,89%)
retornaram após certo período com as mesmas queixas. Em um estudo26 realizado
com 62 pacientes, 12,4% apresentaram recidiva. Autores18 desenvolveram um
estudo com o objetivo de verificar a recorrência dos sintomas de VPPB em um ano e
foi verificado que 26% dos pacientes tiveram recidivas. Apesar do nosso estudo,
assim como os citados, ter apresentado maior índice de não recorrência do que de
recorrência, devemos levar em conta a diferença de tempo e o acompanhamento em
longo prazo do paciente, pois se acredita que, quanto maior o tempo, mais casos de
recidiva serão encontrados.
46
Os achados clínicos dos pacientes com Vertigem Posicional Paroxística
Benigna evidenciados no presente estudo estão de acordo com os resultados
esperados para essa pesquisa, indo de encontro aos dados encontrados na
literatura pesquisada.
47
5.7 Conclusão
Os achados do estudo indicam que:
CSC mais afetado em paciente com queixa de VPPB é o CSC posterior;
O comprometimento unilateral é mais evidente;
Os casos de ductolitíase são predominantes;
A manobra de Epley foi eficaz em todos os pacientes;
Foram necessárias, no máximo, cinco sessões para o desparecimento dos
sintomas de VPPB.
Pacientes com recidiva também foram beneficiados com a manobra de
reposição canalítica.
48
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51
6. Artigo de Pesquisa
ACHADOS À VECTOELETRONISTAGMOGRAFIA EM PACIENTES COM
VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA
6.1 Resumo
Introdução: A vectoeletronistagmografia é a avaliação mais utilizada para a
identificação da alteração do equilíbrio, a qual analisa os canais semicirculares
laterais, posteriores e anteriores. A vertigem posicional paroxística benigna é o tipo
de vertigem mais comum e ocorre por alteração de um ou mais canais
semicirculares; causa nistagmo e/ou tontura e é provocada pela movimentação de
cabeça. Em pacientes com essa queixa, o resultado da vectoeletronistagmografia
costuma ser normal.
Objetivo: Verificar se existe relação entre os resultados das provas da
vectoeletronistagmografia e o canal semicircular afetado.
Material e método: O estudo foi composto por 19 pacientes que apresentavam
queixas de vertigem posicional paroxística benigna. Foram realizadas anamnese,
manobra diagnóstica de Dix-Halpike e vectoeletronistagmografia. As provas dessa
avaliação foram analisadas separadamente e comparadas com o canal semicircular
afetado. Para a análise dos resultados, foi aplicada a estatística descritiva.
Resultados: Conforme os resultados, o canal semicircular mais afetado foi o
posterior. Considerando os pacientes avaliados, 15 apresentaram resultado final
sem alteração na vectoeletronistagmografia e 14 pacientes apresentaram alteração
em alguma das provas de compõem esse exame, 9 pacientes apresentaram
alterações no nistagmo espontâneo e na prova rotatória pendular decrescente e 5
pacientes apresentaram alteração apenas na prova rotatória pendular decrescente.
Não foi encontrada relação entre o canal semicircular afetado e as alterações. Na
prova calórica, 15 pacientes apresentaram normorreflexia.
Conclusão: As alterações encontradas na provas de
vectoeletronistagmografia devem-se à presença de nistagmo espontâneo ou de
nistagmo latente.
Palavras-chave: vertigem, nistagmo, Testes de Função Vestibular.
52
VECTOELECTRONYSTAGMOGRAPHY FINDINGS IN PATIENTS WITH BENIGN
POSITIONAL PAROXYSMAL VERTIGO.
6.2. Abstract
Introduction: Vectoelectronystagmography is the most employed test to
identify the balance variation which analyzes the lateral, posterior and anterior
semicircular canals. The Benign Positional Paroxysmal Vertigo is the most common
sort of vertigo and occurs due to one or more semicircular canal variation which
generates nystagmus and/or dizziness because of head movement. In patients with
this kind of complaint, the result of vectoelectronystagmography used to be normal.
Objective: To verify whether there is or not a relationship between the results
of vectoelectronystagmography evidence and the affected semicircular canal.
Material and method: the study was composed of 19 patients who have
presented complaints of benign positional paroxysmal vertigo. Anamnesis, diagnostic
maneuvers of Dix-Halpike and vectoelectronystagmography were performed. The
evaluation evidences were analyzed separately and compared to the affected
semicircular canal. For the analysis of results, it was applied to descriptive statistics.
Results: The most affected semicircular canal was the posterior. According to
the evaluated patients, 15 ones have presented the final result without variation in
vectoelectronystagmography and 14 ones have suffered variation in some of the
evidence which composes this exam, among which 9 ones have suffered variation in
the nystagmus spontaneous and the rotatory testing and 5 ones have suffered
variation only in the rotatory testing. It was not found relationship between the
affected canal semicircular and the found variations. On the caloric testing, 15
patients have present normorreflexia.
Conclusion: the variations found in vectoelectronystagmography evidence are
due to the presence of nystagmus spontaneous or nystagmus latent.
Keywords: vertigo, nystagmus, Vestibular Function Tests.
53
6.3 Introdução
A vectoeletronistagmografia é o exame mais utilizado para detectar alterações
do equilíbrio; é composto por várias provas que em conjunto formaram o resultado
final através da comparação com os padrões de normalidade1. O exame tem como
finalidade analisar os movimentos oculares horizontais e os oblíquos através da
estimulação dos canais semicirculares laterais, posteriores e verticais2.
A prova pendular rotatória decrescente (PRPD) é o teste pertencente à
Vectoeletronistagmografia que melhor avalia o nistagmo oblíquo, devido à
estimulação dos canais semicirculares anterior e posterior3. Na prova calórica, é
utilizado um estímulo não fisiológico (ar ou água) para provocar tontura e nistagmo
horizontal. Esta prova é realizada com o paciente na posição decúbito dorsal com a
cabeça elevada em 30º e, com isso, os canais semicirculares laterais ficam no plano
vertical, sendo estes os mais estimulados. Entretanto, a prova calórica não é
confiável para os canais semicirculares posteriores e anteriores4.
O nistagmo espontâneo pode estar presente em indivíduos normais com
velocidade angular da componente lente (VACL) igual ou menor que 7°/s e com
direção variada, podendo ser horizontal, vertical ou oblíqua. O nistagmo espontâneo,
quando presente, é identificado na prova calórica, provocando uma predominância
para o mesmo lado5,6.
A Vertigem Posicional Paroxística Benigna é caracterizada por breves
episódios de vertigem, náusea e presença de nistagmo devido à estimulação
inadequada de um ou mais canais semicirculares decorrente da movimentação de
cabeça7. Algumas movimentações que provocam a vertigem são deitar ou levantar
da cama, olhar para cima inclinando a cabeça para trás e adotar a posição decúbito
lateral a partir da posição decúbito dorsal8,9.
A fisiopatologia da VPPB caracteriza-se por duas teorias: a cupololitíase,
descrita por Schucknecht (1969), em que debris de estatocônios, que teriam se
desprendido da mácula, estariam aderidos à cúpula do canal semicircular; e a
ductolitíase, na qual esses debris de estatocônios estariam flutuando livremente na
endolinfa do canal semicircular10,11.
A VPPB caracteriza-se por rápidos episódios de tontura com duração de 30
segundos a 2 minutos, presença de nistagmo e, esporadicamente, de náuseas12,13.
54
Em pacientes com queixa de (VPPB) o resultado da vectoeletronistagmografia
costuma ser normal14.
Para o diagnóstico de VPPB, é utilizada a manobra de Dix-Halpike, cujo
objetivo é deslocar a endolinfa e, consequentemente, a cúpula do canal semicircular,
provocando o aparecimento dos sintomas. Desde modo, verifica-se a presença de
tontura e/ou nistagmo11,15.
A manobra de Dix-Halpike é a única prova diagnóstica para queixa de VPPB.
Em alguns casos, apesar das queixas, ao realizar a manobra, o paciente pode não
apresentar nistagmo, causando dúvida no examinador. Diante desses fatos, o
objetivo do trabalho é analisar separadamente as provas que compõem a
vectoeletronistagmografia e verificar se existe relação entre as alterações
encontradas e o canal semicircular afetado e, assim, facilitar o diagnóstico de VPPB.
55
6.4 Material e método
O trabalho foi desenvolvido no Ambulatório de Otoneurologia do HUSM e em
uma clínica privada de Santa Maria. O projeto está registrado no Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), número 23081.003726/2006 – 41.
A amostra foi composta por pacientes com Vertigem Posicional Paroxística
Benigna, os quais concordaram em participar da pesquisa após terem conhecimento
dos objetivos do trabalho, através do consentimento livre e esclarecido (Apêndice A).
Os pacientes realizaram anamnese para verificar as queixas de Vertigem
Posicional Paroxística Benigna, através da entrevista inicial, proposta por Castagno
e adaptada para esse trabalho (Anexo 1). Além disso, foram conduzidos a uma
avaliação otorrinolaringológica, na qual realizaram a manobra de Dix-Halpike, e
avaliação fonoaudiológica, para a realização da vectoeletronistagmografia. Após as
avaliações, foram excluídos da amostra os pacientes que obtiveram resultado
negativo na manobra de Dix-Halpike.
A amostra analisada foi composta por 19 pacientes com idade mínima de 34
anos e máxima de 81 anos, cuja média é 57,05 anos. Todos os 19 pacientes
realizaram a manobra de Dix-Halpike, vectoeletronistagmografia e manobra de
Epley, como tratamento das queixas de Vertigem Posicional Paroxística Benigna.
As provas da vectoeletronistagmografia foram analisadas separadamente e,
partir dessa análise, os pacientes foram divididos em dois grupos, independente do
resultado final encontrado:
Grupo A – alterações em alguma das provas de Vectoeletronistagmografia.
Grupo B – sem alterações nas provas de Vectoeletronistagmografia.
As provas analisadas foram: a pesquisa de nistagmo espontâneo, prova
rotatória pendular decrescente (nistagmo per-rotatório) e prova calórica (nistagmo
pós-calórico). Entretanto, as alterações do nistagmo pós-calórico foram
desconsideradas por influenciarem apenas nas avaliações dos pacientes com
alteração no canal semicircular lateral.
Foi considerada alteração na pesquisa do nistagmo espontâneo, quando
ocorreu na presença do mesmo, e na PRPD, onde se analisou o nistagmo per-
rotatório. Considerou-se como alteração os casos onde ocorreu o predomínio
direcional para alguns dos lados durante toda a prova ou ao final dela.
56
O grupo A foi composto por 14 pacientes e o grupo B por 5 pacientes. Os
resultados alterados foram comparados entre si e com o canal semicircular afetado.
6.4.1 Procedimentos
A manobra de Dix-Halpike, a qual todos os pacientes da pesquisa foram
submetidos, é realizada com o paciente sentado na maca, a certa altura que, ao
deitar a cabeça, ele permaneça com esta para fora. A cabeça do paciente é então
virada 45º para o lado testado. Após este procedimento, o paciente é deitado
rapidamente, ficando com a cabeça pendente em 30º durante 20 segundos. O
resultado é considerado positivo caso ocorra nistagmo e/ou tontura e negativo
quando estes sintomas não são observados.
A vectonistagmografia foi realizada no Sistema Computadorizado de
Vectoeletronistagmografia SCV 5.0 e no programa Nistagmus, versão 1.0.0.59. A
avaliação consiste em um método de inscrição dos movimentos oculares horizontais,
verticais e oblíquos, baseado na captação por meio de eletrodos de superfície. A
variação de potencial elétrico entre a córnea (+) e a retina (-) ocorre quando
movimentamos os olhos; é dotado de um conjunto de componentes lentos e rápidos
que se sucedem alternadamente.
Fizeram parte dessa avaliação do equilíbrio as seguintes provas: calibração
dos movimentos oculares, rastreio pendular, nistagmo espontâneo, nistagmo
semiespontâneo, nistagmo optocinético, prova pendular rotatória decrescente e
prova calórica.
O nistagmo espontâneo pode ser considerado normal quando presente com
VACL menor que 7º/s e é indispensável a sua realização devido a sua possível
influência sobre as demais provas. A prova pendular rotatória decrescente é
realizada em três posições e estimula os três canais semicirculares:
Cabeça fletida 30º para baixo – estimula os canais semicirculares laterais;
Cabeça fletida 60º para trás e 45º para o lado esquerdo – estimula o canal
semicircular posterior direito e o anterior esquerdo;
Cabeça fletida 60º para trás e 45º para o lado direito – estimula o canal
semicircular posterior esquerdo e anterior direito.
57
6.4.2 Métodos estatísticos
Para a análise dos resultados encontrados na prova rotatória pendular
decrescente (PRPD) e na pesquisa do nistagmo espontâneo da
vectoeletronistagmografia, foi aplicada a estatística descritiva, sendo os resultados
organizados em tabelas. Nos resultados da prova calórica da
vectoeletronistagmografia e os achados clínicos dos pacientes também foi aplicada
a estatística descritiva e os resultados organizados em tabelas na forma de números
absolutos e/ou relativos.
58
6.5 Resultados
O estudo foi composto por 19 pacientes, sendo 3 destes do sexo masculino
(15,79%) e 16 do sexo feminino (84,21%). A idade destes pacientes variou entre 34
anos e 81 anos, estando a média em 57,05 anos.
Os pacientes foram diagnosticados com Vertigem Posicional Paroxística
Benigna. Todos os casos eram de ductolitíase; não houve nenhum caso de
cupololitíase. O diagnóstico foi diferenciado apenas pelo canal semicircular e o
labirinto afetado.
A ductolitíase do canal semicircular posterior foi a que apresentou maior
prevalência, sendo observada em 16 pacientes. O canal semicircular lateral
apresentou alteração em 3 pacientes, não havendo casos de ductolitíase do canal
semicircular anterior.
Entre os pacientes que apresentaram ductolitíase do canal semicircular
posterior (CSC), em 4 casos observou-se que o CSC da orelha esquerda estava
afetado. Em 8 casos observou-se que o CSC da orelha direita estava afetado e, em
4 casos, essa afecção foi observada em ambos os CSCs.
Nos casos de ductolitíase do canal semicircular lateral, 2 pacientes
apresentaram alteração do canal semicircular esquerdo e 1 paciente do canal
semicircular direito.
TABELA 5 – Canais semicirculares acometidos
CSC posterior CSC lateral CSC anterior
Orelha esquerda 4 2 0
Orelha direita 8 1 0
Ambas as orelhas 4 0 0
Total 16 3 0
Quando analisado o resultado final da Vectoeletronistagmografia, os 15
pacientes apresentaram resultado sem alterações, enquanto que 4 pacientes
apresentaram alterações na Vectoeletronistagmografia. Os resultados encontrados
59
foram: 1 caso de Disfunção vestibular periférica irritativa, 2 casos de Disfunção
vestibular periférica deficitária e 1 caso de Disfunção vestibular central.
As provas da Vectoeletronistagmografia foram analisadas separadamente. Na
pesquisa do nistagmo espontâneo, ocorreram alterações, ou seja, houve a presença
de nistagmo espontâneo em 9 pacientes. Na PRPD foram analisadas as três
posições de cabeça e nessa prova foram encontradas 14 alterações. Em 5 pacientes
não foi observada nenhuma alteração, estando seus resultados todos normais. O
grupo A foi composto por 14 pacientes e o grupo B por 5 pacientes.
Dos 9 casos em que ocorreu a presença de nistagmo espontâneo, 6
pacientes apresentaram nistagmo para o lado direito e 3 para o lado esquerdo.
Todos esses pacientes obtiveram alterações na PRPD com predomínio direcional na
mesma direção do nistagmo espontâneo. Não foi encontrada a relação entre a
direção do nistagmo e o canal semicircular afetado.
TABELA 6 - Relação entre provas da Vectoeletronistagmografia e CSC acometido
Indivíduos PRPD NE CSC afetado
1 PD direito para a direita posterior esquerdo
2 PD direito para a direita posterior direito
3 PD direito para a direita posterior direito
4 PD direito para a direita lateral esquerdo
5 PD esquerdo para a esquerda posterior direito
6 PD esquerdo para a esquerda posterior direito
7 PD direito para a direita posterior direito
8 PD esquerdo para a esquerda posterior esquerdo
9 PD direito para a direita lateral direito
Cinco pacientes apresentaram alterações apenas na PRPD oblíqua, ou seja,
o paciente encontra-se com a cabeça fletida 60º para trás e 45º para um dos lados.
Ocorreu predomínio direcional para ambos os lados, não havendo relação com o
canal semicircular afetado.
60
TABELA 7 - Relação entre a PRPD e o CSC afetado
Paciente PRPD posterior E PRPD posterior D CSC afetado
1 PD esquerdo PD direito posterior esquerdo
2 PD direito PD esquerdo posterior direito
3 - PD esquerdo lateral esquerdo
4 PD esquerdo PD direito dois posteriores
5 - PD direito dois posteriores
Nos 4 pacientes que apresentaram alteração no resultado final da
Vectoeletronistagmografia, foi observada a presença de nistagmo espontâneo e
predomínio direcional na PRPD.
O resultado da prova calórica foi analisado, porém não foi comparado com o
canal semicircular afetado, pois nessa prova foram analisados apenas os canais
semicirculares laterais. Verificou-se a presença de normorreflexia em 15 pacientes
(79%), predomínio labiríntico (10,5%) em 2 pacientes, predomínio direcional em 1
paciente (5,27%) e hiporreflexia em 1 paciente (5,27%).
TABELA 8 – Resultado de prova calórica
N %
Normorreflexia 15 79,00
Predomínio labiríntico 2 10,50
Hiporreflexia 1 5,27
Predomínio direcional 1 5,27
Total 19 100,00
61
6.6. Discussão
A prevalência de indivíduos do sexo feminino (84,21%) com VPPB é
relativamente maior que do sexo masculino (15,79%), sendo que a média de idade
desses pacientes foi de aproximadamente 57 anos, variando entre 34 e 81 anos.
Autores16 também desenvolveram um trabalho com pacientes com queixa de
VPPB e destacaram a prevalência do sexo feminino (74%) e faixa etária entre 17 e
88 anos. Outros autores17, que pesquisaram pacientes com essas mesmas queixas,
relatam uma pequena diminuição dessa prevalência, tendo encontrado 60 pacientes
do sexo feminino (60%) e 39 do sexo masculino (39%) e a idade variou de 41 a 82
anos.
Todos os pacientes que participaram do estudo eram casos de ductolitíase,
não havendo nenhum caso de cupololitíase. Apesar dos casos de cupololitíase
serem mais raros e os de ductolitíase serem os mais frequentes10, acredita-se que
não houve a presença desses casos por se tratar de uma amostra pequena. Em um
estudo semelhante, no qual a amostra era de 20 pacientes, também não foram
evidenciados casos de cupololitíase18.
Na tabela 1, observou-se que o canal semicircular mais acometido é o
posterior, seguido pelo canal semicircular lateral e não há evidências de
acometimento do canal semicircular anterior. O presente estudo concorda com
alguns autores19 que descreveram que o canal semicircular posterior é o mais
frequentemente acometido (85-95% dos casos). O canal semicircular lateral é
acometido em 5-10% dos casos e, ainda, segundo esses autores, há poucos casos
na literatura de acometimento do canal semicircular anterior. No estudo
desenvolvido por alguns autores20, foi observado que em 83,47% dos pacientes com
queixa de VPPB o acometimento era do canal semicircular posterior, 13,22% do
canal semicircular lateral e apenas 3,31% do canal semicircular anterior.
Em um estudo18, desenvolvido em 2010, foi demonstrado o acometimento do
canal semicircular posterior direito em 70% dos casos de VPPB, enquanto que em
25% dos casos as alterações eram bilaterais e em apenas 5% dos casos estava
envolvido o canal semicircular esquerdo. No nosso estudo foi observado que 50%
dos casos eram por alteração do canal semicircular direito, 25% por alteração do
canal semicircular esquerdo e 25% por alteração bilateral.
62
O resultado final da Vectoeletronistagmografia foi considerado sem alterações
na maioria dos pacientes, ocorrendo em menor prevalência a Disfunção Vestibular
Deficitária, seguida pela Disfunção Vestibular Irritativa e Disfunção Vestibular
Central. Segundo alguns autores14, a vectoeletronistagmografia não mostra
alterações típicas em pacientes com queixa de VPPB.
Em um trabalho21 realizado em 2004 foram observados resultados diferentes
do encontrado no estudo. Foram analisadas as avaliações de 68 pacientes com
queixa de VPPB e verificou-se que 28 pacientes apresentaram Disfunção Vestibular
Irritativa (41,2%), seguida pela Disfunção Vestibular Deficitária (30,9%) e, em menor
prevalência, estavam os resultados sem alterações (27,9%). Outro estudo22
concorda com esse citado, demonstrando prevalência de Disfunção Vestibular
Irritativa em 41,2% dos pacientes avaliados com queixa de VPPB.
O nistagmo espontâneo, quando presente, pode demonstrar desequilíbrio
entre os labirintos. Porém, o nistagmo espontâneo com os olhos fechados pode
estar presente devido ao sistema vestibular apresentar dificuldade em estabelecer
por completo a posição ocular quando não há apoio visual23.
No presente estudo foram analisadas as provas de vectoeletronistagmografia
separadas e observou-se que 9 pacientes apresentaram nistagmo espontâneo e 14
pacientes apresentaram predomínio direcional para algum dos lados na PRPD,
sendo que todos os pacientes com presença de nistagmo espontâneo tiveram
alteração na PRPD para o mesmo lado do nistagmo espontâneo.
Segundo a literatura, o nistagmo espontâneo pode estar presente com os
olhos fechados até 7º/s e ser considerado normal. Entretanto, as respostas per-
rotatórias podem ser assimétricas, apresentando predomínio direcional para o
mesmo lado do nistagmo espontâneo. Sugere-se ainda que a prova calórica também
sofra influência devido à presença do nistagmo espontâneo, porém em menor
prevalência1.
Um estudo realizado por alguns autores5 teve como objetivo verificar a
influência da presença de nistagmo espontâneo na PRPD. Este foi composto por 88
pacientes, no qual 33 destes (37,5%) apresentaram nistagmo espontâneo com os
olhos fechados e em 33,3% dos pacientes ocorreu assimetria na PRPD para o
mesmo lado do nistagmo espontâneo. A prova calórica também foi analisada e
observou-se que 37,5% dos pacientes apresentaram alterações, havendo maior
63
influência do nistagmo espontâneo na prova calórica, discordando dos achados
anteriores.
Autores22 avaliaram 86 pacientes com queixa de VPPB através da
Vectoeletronistagmografia e evidenciaram que 33 pacientes apresentaram nistagmo
espontâneo e 6 pacientes, assimetria na prova rotatória pendular decrescente.
Na tabela 2 foi demonstrado a presença do nistagmo espontâneo, o
predomínio direcional da PRPD e o canal semicircular afetado; não houve correlação
entre as alterações encontradas e o canal semicircular. Portanto, acredita-se que a
presença do nistagmo espontâneo influenciou o predomínio direcional evidenciado
na PRPD, e esse seja decorrente de algum fator fisiológico e não necessariamente
devido à presença dos debris de estatocônios no canal semicircular.
Na tabela 3 observamos que 5 pacientes apresentaram alterações apenas na
PRPD posterior esquerda e/ou PRPD posterior direita, não havendo evidências de
alteração na PRPD para canais semicirculares laterais (30º anterior).
Na PRPD oblíqua, os canais semicirculares podem ser analisados, pois
não sofrem o processo de compensação central e podemos identificar qual o
labirinto que está afetado. Considerando que todas as demais provas de
Vectoeletronistagmografia avaliam apenas os canais semicirculares laterais, a
sua grande importância é identificar alterações no CSC posterior. Em caso de
assimetria nessa prova, devemos suspeitar de alguma lesão no mesmo lado que em
as respostas forem menores1.
Apesar de terem sido evidenciadas alterações nas provas que analisam o
canal semicircular posterior, não foi possível verificar correlação entre os achados,
não havendo correspondência entre o canal semicircular afetado e o predomínio
direcional. Acredita-se que essas alterações foram observadas devido ao paciente
ter posicionado incorretamente a cabeça ou movimentado durante a avaliação,
ocorrendo a presença de nistagmo latente.
Há poucos estudos na literatura que relacionem as alterações na
vectoeletronistagmografia com o canal semicircular afetado, principalmente quando
se analisa a PRPD, não havendo, portanto, na literatura consultada, trabalhos para
serem comparados.
Os resultados encontrados na prova calórica também foram analisados e foi
verificada a prevalência de normorreflexia (79%). O predomínio labiríntico foi
64
evidenciado em 10,5% dos pacientes, seguido pelo predomínio direcional (5,27%) e
hiporreflexia (5,27%), na mesma proporção.
Na maioria dos estudos pesquisados24,25, é evidenciada a prevalência de
normorreflexia quando avaliados pacientes com VPPB. Apesar de o presente estudo
ser concordante com a maioria, um estudo desenvolvido em 2009, é semelhante na
porcentagem de normorreflexia, que foi de 81,9%, porém, na sequência, evidencia-
se prevalência de hiporreflexia (13,9%), hiperreflexia (4%) e predomínio direcional
(0,9%)26.
Autores14 desenvolveram um estudo com 168 pacientes com VPPB e
verificaram normorreflexia em 57,2%, hiporreflexia em 22% e predomínio direcional
em 13,7%. Em outro estudo semelhante, com uma amostra de 86 pacientes, a
prevalência de normorreflexia foi de 40,6%, seguida de predomínio direcional
(31,3%), hiperreflexia (22%) e predomínio labiríntico (5,8%)22.
Em 200421, autores descreveram que, em uma amostra com 68 pacientes
com queixa de VPPB, houve prevalência do predomínio direcional (41,2%),
hiporreflexia (30,9%). A normorreflexia esteve presente em apenas 27,9% dos
pacientes, discordando dos estudos anteriores.
A prova calórica foi realizada com o paciente posicionado em decúbito dorsal
com a cabeça horizontalizada 30º. Desse modo, coloca-se o canal semicircular
lateral no sentido vertical, posicionando a crista ampular superiormente27. Devido a
esse posicionamento, somente os canais semicirculares laterais são avaliados
nessa prova. Como o objetivo do estudo era relacionar todos os canais
semicirculares afetados com a prova da vectoeletronistagmografia, somente a PRPD
pode ser comparada pelo fato de avaliar três dos canais semicirculares.
65
6.7 Conclusão
Nos achados do presente estudo não foi encontrada relação entre o canal
semicircular afetado na VPPB e as alterações evidenciadas na provas da
Vectoeletronistagmografia.
Acredita-se que as alterações encontradas na Vectoeletronistagmografia
aconteceram devido à presença do nistagmo espontâneo ou à presença do
nistagmo latente. Com isso, não foi possível evidenciar outros métodos para ajudar
no diagnóstico de VPPB.
Sugere-se que vejam realizados novos trabalhos, com o objetivo de auxiliar
no diagnóstico da VPPB, porém com um maior número de pacientes.
66
6.8. Referências Bibliográficas
1. MOR, R.; FRAGOSO, M.; TAGUCHI, C.K.; FIGUEIREDO, J.F.F.R Vestibulometria e fonoaudiologia. São Paulo: Lovisa; 2001. 186p. 2. CAOVILLA, H.H.; GANANÇA, M.M.; MUNHOZ, M.S.L.; SILVA, M.L.G.; GANANÇA, F.F.; GANANÇA, C.F. O registro dos movimentos oculares. In: CAOVILLA, H.H.; GANANÇA, M.M.; MUNHOZ, M.S.L.; SILVA, M.L.G. Equilibriometria clínica. São Paulo: Atheneu; 1999. p.31-40. 3. CAOVILLA, H.H.; GANANÇA, M.M.; MUNHOZ, M.S.L.; SILVA, M.L.G.; GANANÇA, F.F.; PERRACINI, M.R. et al. Conceitos e algoritmos terapêuticos. In: GANANÇA, M.M.; MUNHOZ, M.S.L.; SILVA, CAOVILLA, H.H. Condutas na vertigem. São Paulo: Moreira Jr; 2004. 4. HONRUBIA, V.; BALOH, R.W.; HARRIS, M.R.; JACOBSON, K.M. Paroxysmal positional vertigo syndrome. Am J Otol., v.20, p.465-470, 1999. 5. MUNARO, G.; SLEIFER, P.; PEDROSO, F.S. Análise da influência do nistagmo espontâneo e pré-calórico na vectoeletronistagmografia. Rev. CEFAC, v.11, n.2, abr.-jun, 2009. 6. CABRAL, F.S.S.; GANANÇA, C.F.; GANANÇA, F.F.; GANANÇA, M.M.; CAOVILLA, H.H. Estimulação calórica gelada com ar nas vestibulopatias periféricas crônicas com nistagmo espontâneo. Rev. CEFAC, v.10, n.3, 2008. 7. HERDMAN, S.J. Advances in the treatment of vestibular disorders. Phys. Ther., v.77, p.602-618, 1997. 8. GANANÇA, M.M.; CAOVILLA, H.H.; MUNHOZ, M.S.L.; SILVA, M.L.G.; GANANÇA, F.F.; GANANÇA, C.F. Vertigem posicional paroxística benigna. Rev.Bras. Otorrinolaringol., v.7, n.3, p.66-72, 2000. 9. HERDMAN, S.J.; TUSA, R.J. Avaliação e tratamento dos pacientes com vertigem posicional paroxística benigna. In: HERDMAN, S.J. Reabilitação Vestibular, 2ª ed., São Paulo: Manole; 2002. p. 447-471.
67
10. GANANÇA, M.M.; CAOVILLA, H.H.; MUNHOZ ,M.S.L.; SILVA, M.L.G.; GANANÇA, F.F.; GANANÇA, C.F. Lidando com a Vertigem Posicional Paroxística Benigna. Acta ORL, v.23, n.1, p. 21-27, 2005. 11. SANZ, E.M.; GUZMÁN, R.B. Vértigo paroxístico benigno infantil: categorización y comparación con el vértigo posicional paroxístico benigno del adulto. Acta Otorrinolaringol Esp., v. 58, n.7, p.296-301, 2007.
12. LEMPERT, T.; GRESTY, M.; BRONSTEIN, A. Benign positional vertigo: recognition and treatment. Br Med J., v.311, p.489-491, 1995. 13. FETTER, M. Disfunções do Sistema Vestibular. In: HERDMAN, S.J. Reabilitação Vestibular, 2ª ed., São Paulo: Manole; 2002. p. 91-102. 14. KORRES, S.G.; BALATSOURAS, D.G.; FEREKIDIS, E. Electronystagmographic findings in benign paroxysmal positional vertigo. Ann Otol Rhinol Laryngol.v. 113, n.4, p.313-318, 2004. 15. MORENO, N.S.; ANDRÉ, A.P.R. Number of maneuvers need to get a negative Dix-Hallpike test. Braz. j. otorhinolaryngol. v.75, n.5, set-octo, 2009. 16. DORIGUETO, R.S.; MAZZETTI,K.R.; GABILAN, Y.P.L; GANANÇA, F.F. Benign paroxysmal positional vertigo recurrence and persistence. Braz. j. otorhinolaryngol., v.75, n.4, jul-ago., 2009. 17. GANANÇA, F.F.; GANANÇA, C.F.; CAOVILA, H.H.; GANANÇA, M.M.; ALBERNAZ, P.L.M. Active head rotation in benign positional paroxysmal vertigo. Braz. j. otorhinolaryngol., v.75, n.4, jul.- ago., 2009. 18. KASSE, C.A.; SANTANA, G.G.; SCHARLACH, R.C.; GAZZOLA, J.M.; BRANCO, F.C.B.; DONÁ, F. Resultados do Balance Rehabilitation Unit na Vertigem Posicional Paroxística Benigna. Braz. j. otorhinolaryngol., v.76, n.5, set.-out.; 2010. 19. HONRUBIA, V.; BALOH, R.W.; HARRIS M.R.; JACOBSON, K.M. Paroxysmal positional vertigo syndrome. Am J Otol.; v.20, p.465-470, 1999. 20. GANANÇA, F.F. GAZZOLA, J.M.; GANANÇA, C.F.; CAOVILLA, H.H.; GANANÇA, M.M.; CRUZ, O.L.M. Quedas em idosos com Vertigem Posicional Paroxística Benigna. Braz. j. otorhinolaryngol., v.76, n.1, jan.-fev., 2010.
68
21. KOGA, K.A.; RESENDE, B.D.A.; MOR R. Estudo da prevalência de tonturas/vertigens e das alterações vestibulares relacionadas à mudança de posição de cabeça por meio da vectoeletronistagmografia computadorizada. Rev CEFAC., v.6, n.2, p.197-202, 2004.
22. MUNARO, G.; SILVEIRA, A.F. Avaliação vestibular na vertigem posicional paroxística benigna típica e atípica. Rev. CEFAC, v.11, n.1, 2009. 23. WALKER, M.F.; ZEE, D.S. Bedside vestibular examination. Otolaryngol Clin North Am., v.33, n.3. p.495-506, 2000. 24. TOUPET, M.; LASSERRE, M.H.; LACCOURREYE, H. Nystagmus et vertige paroxystiques bénins. Ann Otolaryngol Chir Cervicofac.; v.99, n.1-2, p.7-14, 1982. 25. BACHOR, E.; WRIGHT, C.G.; KARMODY, C.S. The incidence and distribution of cupular deposits in the pediatric vestibular labyrinth. Laryngoscope. V. 112, n.1, p.147-151, 2002. 26. MANSO, A.; GANANÇA, C.F; GANANÇA, F.F.; GANANÇA, M.M.; CAOLVILLA, H.H. Achados à prova calórica e canal semicircular acometido na vertigem posicional paroxística benigna. Rev. soc. bras. fonoaudiol. v.14, n.1, 2009. 27. KATSARKAS, A.; SMITH, H.; GALIANA, H. Caloric and rotational testing: merits, pitfalls and myths. ORL Nova, v.11, p.59-67, 2001.
69
APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
Centro de Ciências da Saúde – CCS Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da
Comunicação Humana
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
As informações contidas neste termo foram ministradas pela pesquisadora, Paula
Andreta Barros da Silva, sob orientação da Profª Dr.ª Angela Garcia Rossi, tendo como
finalidade esclarecer os objetivos, métodos, benefícios, assim como também os riscos e
possíveis incômodos que a pesquisa possa causar aos indivíduos participantes.
O estudo intitulado como ”Do equilíbrio em indivíduos com queixa de Vertigem
Paroxística Postural Benigna”, tem como principal objetivo verificar os achados do equilíbrio
em indivíduos com queixas de Vertigem Posicional Paroxística Benigna.
Todos os indivíduos interessados em colaborar com o estudo, somente poderão
participar após receberem as devidas informações e assinarem o termo de consentimento
livre e esclarecido. Posteriormente será realizada uma entrevista, através de um
questionário sobre tontura, e realizadas as avaliações, que serão manobra de Dix-Halpike e
vectoeletronistagmografia.
Os participantes terão como benefício a realização de avaliações para auxiliar no
diagnóstico de VPPB e receberem orientações sobre essa vertigem. Os indivíduos que
quiserem retornar receberão uma proposta de reabilitação vestibular, através de manobras
de reposicionamento, a qual tem o intuito de diminuir as queixas causadas pela VPPB.
Os procedimentos realizados não oferecem riscos à saúde dos voluntários, porém,
durante as avaliações, ou até mesmo após a sua realização, os participantes podem
apresentar episódios de vertigem e/ou enjoos.
Os indivíduos pesquisados poderão desistir da participação da pesquisa em qualquer
momento, sem sofrerem qualquer imposição ou constrangimento por parte da pesquisadora.
Será mantido sigilo quanto às informações fornecidas pelos participantes à pesquisadora,
sendo essas única e exclusivamente utilizadas em eventos científicos.
Qualquer dúvida que os participantes tiverem sobre o andamento do projeto, poderá
ser questionada a pesquisadora do mesmo, que se compromete a fornecer tais informações
e esclarecimentos durante o estudo, pessoalmente ou através do telefone (55) 99777962.
Diante dos esclarecimentos recebidos, eu
______________________________________________ portador(a) do RG
____________________, considero-me informado(a) sobre o estudo realizado e concordo
70
em participar, livre e espontaneamente, da pesquisa referida, que será realizada no Hospital
Universitário de Santa Maria.
Santa Maria, ____ de _____________ de ______ .
________________________________
Assinatura do responsável
71
ANEXO I - Anamnese proposta por Castagno (1994)
Sintomas relacionados à tontura
[ ]Sensação oscilante [ ]Sensação de elevador [ ]Vertigem (objetos girando ao redor de si) [ ]Desvio
na marcha. Qual direção? [ ] Amaurose passageira [ ]Instabilidade [ ]Desmaios [ ]Tendência a
cair. Qual direção? [ ] Sensação de cabeça flutuante [ ]Perda de equilíbrio ao caminhar
Sintomas associados à tontura
[ ]Náuseas [ ]Sudorese [ ]Palidez [ ]Visão dupla [ ]Visão borrada [ ]Flutuação na audição [ ]Ruído
nos ouvidos [ ]Perda de consciência [ ]Torpor [ ]Formigamento nas extremidades
Fatores desencadeantes
[ ]Girar a cabeça [ ]Levantar rápido [ ]Movimentos rápidos [ ]Virar para os lados [ ]Olhar para os
lados
Características dos episódios de tontura
Há quanto tempo? Quantos episódios?
Duração de cada episódio? Qual o tempo entre as crises?
Último episódio? Tem algum “aviso” antes da crise?
Ocorre em alguma hora do dia? Entre os episódios fica normal?
Manifestações auditivas
Diminuição da audição? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
Ruído nos ouvidos? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
Secreção nos ouvidos? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
Cirurgia nos ouvidos? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
O ruído muda quando sente as tonturas? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
Pressão nos ouvidos? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
Dor nos ouvidos? [ ] Ouvido direito [ ] Ouvido esquerdo
Alterações sensoriais ou motoras
[ ]Cegueira [ ]Alteração na gustação [ ]Transtornos no olfato [ ]Dificuldade para engolir
[ ]Dificuldade para falar [ ]Adormecimento na face [ ]Debilidade nos braços e pernas
Pancada na cabeça?
Há quanto tempo?
[ ]Perda de consciência [ ]Perda de audição
[ ]Sangraram os ouvidos [ ]Fraturou o crânio
Enfermidades neuropsíquicas
[ ]Neurológicas. Quais? [ ]Psicológicas (nervos). Quais?
Afecções clínicas
[ ]Diabete [ ]Asma [ ]Alergia [ ]Sinusite [ ]Pressão alta
[ ]Problemas cardíacos [ ]Doenças renais
Tóxicos
[ ]Álcool. Quanto? [ ]Fumo. Quanto? [ ]Antibióticos injetáveis
[ ]Barbitúricos [ ]Tranquilizantes [ ]Hormônios
Usou nas últimas 24 horas
[ ]Pílulas para dormir [ ]Tranquilizantes [ ]Antialérgicos
[ ]Anticoncepcionais/ hormônios [ ]Álcool
Zumbido no ouvido
[ ]Não [ ]Infrequente [ ]Ocasional e conscientizado apenas com concentração
[ ]Frequente, apenas no silêncio [ ]Constante mas tolerável, só em ambientes silenciosos
[ ]Constante, sempre consciente e mesmo em ambientes ruidosos [ ]Muito severo
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Pressão no ouvido
[ ]Não [ ]Raramente [ ]Ocasional [ ]Frequente [ ]Quase sempre [ ]Constante [ ]Severo
Desequilíbrio
[ ]Não [ ]Raramente [ ]Ocasional [ ]Frequente [ ]Quase sempre [ ]Quase sempre e severo
[ ]Constante e incapacitante
Incapacidade social (Número de dias em que atividades profissionais/ sociais não foram
possíveis devido à tontura)
[ ]Nenhum [ ]1-2 dias/ano [ ]3-5 dias/ano [ ]6-14 dias/ano [ ]3-4 semanas/ano
[ ]Mais de 4 semanas/ano [ ]Permanente há meses
Crises de vertigem (sensação das coisas se movimentando ao seu redor)
[ ]Não [ ]Sim
Qual a frequência?
[ ]1x/ano [ ]2x/ano [ ]4x/ano [ ]6x/ano [ ]1x/mês [ ]2-3x/mês [ ]3-4x/mês [ ]Diário
Qual a duração?
[ ]Menos de 10 min [ ]30 min [ ]1 hora [ ]2-3 horas [ ]4-6 horas [ ]6-12 horas
[ ]12-24 horas [ ]24 horas