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8/18/2019 Design Moderno
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DESIGN MODERNO: AS LIMITAÇÕES TERMINOLÓGICAS
Roberto H. G. Eppinghaus
8/18/2019 Design Moderno
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Design Moderno: As Limitações Terminológicas
Roberto H.G. Eppingha!
programador visual formado pela ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial (1!1"#
professor do $urso de Desenho Industrial do Departamento de %rtes da &'$Rio)
professor do Departamento de &rograma*+o ,isual do $urso de Desenho Industrial da ESDI-'ER
/
8/18/2019 Design Moderno
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Design Moderno: As Limitações Terminológicas
Abstract
Design 0 um termo ue nunca esteve t+o em moda uanto nos dias em curso. Isso pode ser facilmente
verificado se atentarmos 2 fre34ncia com ue ele vem se apresentando no nosso cotidiano. 5 design
ingressou no 6arg+o da classe m0dia# destacandose entre as palavras ue fa7em alus+o ao est8mulo e a
pr9tica do consumo# passando tamb0m a ser entendido como uma a*+o criativa voltada 2 m9:ima
valori7a*+o da forma e da visualidade. ;ratase de um vocabul9rio ue# em boa medida# acabou sendo
associado a conceitos como< moderno) novo) avan*ado) art8stico) belo) diferente) =nico) sofisticado e
caro. %tualmente h9 uma forte tend4ncia nos meios acad4micos e profissionais brasileiros na 9rea do
desenho industrial# 2 maneira do ue 69 vem ocorrendo h9 d0cadas nos pa8ses de l8ngua inglesa# no
sentido de se utili7ar o termo design isoladamente para nomear tanto o pro6eto de produto uanto a
programa*+o visual# ou mesmo a ambos. Estes escritos tratam do design moderno na sua vertente
industrial e ob6etivam o levantamento de subs8dios# atrav0s de um enfoue hist>rico# para uma melhor
compreens+o das ra7?es pelas uais a terminologia em uest+o passou a padecer das males da
indetermina*+o e a ser utili7ada de modo n+o consensual nas mais diferentes situa*?es e atividades.
@ever has the term design been so fashionable as todaA# an affirmation easilA verified bA observing the
freuencA Bith Bhich it crops up in our dailA lives. Design has become a bABord of middleclass
e:istence particularlA Bith reference to the practices of and inducements to consumerism – referring
generallA to those creative activities geared toBards the enhancement of form and visualitA. ;he Bord
has come to connote# in large measure# such concepts as< modern# neB# advanced# artistic# beautiful#
different# uniue# sophisticated and e:pensive. $urrentlA# there is a strong tendencA Bithin both
professional and academic spheres in Cra7il to emploA design to refer genericallA to both product
design and graphic design# folloBing the similar usage of the term in EnglishspeaFing countries. ;his
paper e:amines the historical evolution of the term design# in its modern industrial sense# attempting to
determine the reasons BhA it has arrived at its present indeterminate state and has come to be used in a
nonconsensual manner in different activities and situations.
Key words: design, modernity, history
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Design Moderno: As Limitações Terminológicas
Design moderno 0 uma e:press+o ue no momento carece de significado preciso. %s duas palavras t4m
suas origens no tronco ling38stico indoeuropeu e derivam de designare e hodiernus# ue 69 se
encontravam fi:adas no vocabul9rio do latim no in8cio da era crist+. ;ais termos foram sofrendo
transforma*?es diferenciadas na v9rias l8nguas em ue se apresentavam# gerando altera*?es semnticas#
novos conceitos e outras palavras.
Esses anos noventa foram pr>digos no tocante a uantidade de obras publicadas# versando sobre as
uest?es do moderno e da modernidade. @a maioria das ve7es# logo a partir do in8cio dos te:tos# os
respectivos autores cuidavam logo de colocar os crit0rios pr>prios adotados# definindo os campos de
atua*+o e delimitando o tempo da a*+o. Hans 'lrich Gumbrecht nos tra7 elementos para o entendimento
das precau*?es tomadas por aueles estudiosos. Di7 o pensador (G'CRE$H;# 1J# p."< KLuem
opera com problemas e conceitos como os de modernidade e moderni7a*+o# per8odos e transi*?es de per8odo# progresso e estagna*+o – pelo menos uem o fa7 dentro do campo da cultura ocidental e est9
interessado em discutir a identidade do pr>prio presente hist>rico – n+o pode dei:ar de confrontarse
com o fato de uma sobreposi*+o MdesordenadaM entre uma s0rie de conceitos diferentes de modernidade e
moderni7a*+o. $omo cascatas# esses conceitos diferentes de modernidade parecem seguir um ao outro
numa se34ncia e:tremamente velo7# mas# retrospectivamente# observase tamb0m como se cru7am#
como os seus efeitos se acumulam e como eles interferem mutuamente numa dimens+o (dif8cil de
descrever" de simultaneidadeN.
3rgen Habermas# citando Hans Robert auss informa (%R%@;ES. %R%@;ES# 1/# p. 1OO" ue a
palavra MmodernoM foi utili7ada pela primeira ve7 no uinto s0culo da nossa era# para marcar o presente#
tornado oficialmente crist+o# em oposi*+o ao tempo passado romano – pag+o. Segundo Habermas ( idem#
p.1OO"< K...$om conte=dos vari9veis# a modernidade sempre volta a e:pressar a consci4ncia de uma
0poca ue se posiciona em rela*+o as passado da %ntig3idade# a fim de compreender a si mesma como
resultado de uma transi*+o do antigo para o novo. Isso n+o vale apenas para o Renascimento# com o ual
se iniciam# para nós# os tempos modernos...N.
Em te:to dedicado ao bicenten9rio do nascimento de Heinrich Heine# aparecido em 1P de de7embro de
1! no suplemento Id0ias e Qivros do Jornal do Brasil # S0rgio &aulo Rouanet comentava sobre a
e:tensa literatura publicada na %lemanha sobre o poeta. Di7ia o erudito< K...'m dos livros mais
interessantes# nessa linha# foi escrito por %lbrecht Cet7# e nos revela ue Heine foi o primeiro a usar a
palavra MmodernidadeM# em 1J/# criando um conceito ue somente anos depois seria retomado por
Caudelaire. Cet7 mostra# tamb0m# como Heine antecipou v9rias an9lises ue seriam feitas um s0culo
depois por alter Cen6amin# e:amimando# entre os elementos caracter8sticos da modernidade# a figura
do flneur # a onipresen*a da massa na cidade grande e a aura da mercadoria...N.
T
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$ontudo# uando se fala no car9ter ou na condi*+o de moderno# 0 $harles Caudelaire ue se apresenta
normalmente como referencial hist>rico. Uoi ele ue em meados do s0culo passado# atrav0s de escritos
famosos como Do hero!smo da "ida moderna e # pintor da "ida moderna# divulgou o termo
KmodernidadeN. Sobre isso ;ei:eira $oelho comenta ($5EQH5# 1JJ# p. 1T"< K...Entra em cena# nestes
te:tos# uma se34ncia de temas ue# combinados# desenham as linhas fortes da "ida moderna# na ual
Caudelaire distingue um lado 0pico t+o fecundo uanto o da vida antiga e onde o artista
contemporneo poderia alimentarse tran3ilamente# dei:ando de recorrer 2s fontes da %ntig3idade#
como fa7ia ainda David. Esse mesmo tom 0pico da vida da grande cidade moderna introdu7 outros de
seus pontos fundamentais# o do artista como o her>i da odernidade# capa7 de perceber a bele7a
particular dos novos tempos e de encontrar nas e:ist4ncias errantes dos subterrneos de grande cidade –
criminosos e mulheres de reputa*+o eu8voca – as provas do hero8smo contemporneo...N.
% famosa E:posi*+o Internacional de 1JP1 em Qondres despertou rea*?es contr9rias bastante e:altadasnos meios intelectuais e art8sticos britnicos. 5s cr8ticos acusavam a falta de forma*+o e o mau gosto
dos fabricantes dos produtos e:postos. illiam orris# constantemente citado como pioneiro na hist>ria
do design moderno# opVsse vivamente 2 concep*+o das formas produ7idas industrialmente) atacando a
car4ncia nelas do pro6eto ornamental# assim como sua indiferen*a e massifica*+o. 5s estudiosos
apontam nas teorias morrisonianas a defini*+o dos princ8pios do design industrial# por elas haverem
levantado as possibilidades do ob6eto como portador de ualidades est0ticas. $umpre observar# contudo#
ue para o famoso pro6etista tais ualidades provinham da concep*+o artesanal e n+o da m9uina.
orris foi o grande mentor do movimento Arts and $rafts# ue a partir de 1JO passou a designar toda a
produ*+o artesanal inglesa. $omo orris voltouse para uma produ*+o artesanal de e:cepcionalualidade# sem se ocupar das m9uinas e nem do papel ue elas poderiam desempenhar 6unto ao design#
a enorme influ4ncia ue e:erceu durante d0cadas foi um dos principais fatores ue retardaram o
surgimento de um design industrial efetivamente moderno.
5 professor alcolm CradburA# na longa introdu*+o ue escreveu para sua obra # mundo moderno#
informa (CR%DC'RW# 1J #p./!"< Kas o ue era moderno# o ue era novoX $omo observa HolbrooF
acFson em seu livro A d%cada de &'() (11"# na =ltima d0cada do s0culo YIY# at0 mesmo na Gr+
Cretanha# estas duas palavras estavam sendo largamente empregadas. % palavra novo estava em todas
as bocas. Z5 alcance do ad6etivo foi aumentado gradualmente# at0 abarcar as id0ias de todo o per8odo#
observa ele# e vamos encontrar in=meras refer4ncias ao novo esp8rito# novo humor# novo realismo#
novo hedonismo# novo sindicalismo# novo partido e 2 nova mulher. ;udo fa7ia parte de um
interesse internacional pela id0ia do moderno# ue vinha crescendo havia d0cadasN.
UredericF R. [arl# no pref9cio da sua obra # moderno e o modernismo# conta o seguinte caso ([%RQ#
1JJ# p.11"< K@o in8cio do s0culo # em 1O/# oseph $onrad escreveu a seu editor# illiam ClacFBood#
o ue vem a ser uma defesa do vagar com ue produ7ia uma obra. %lega ue 0 novo. Sou moderno# e
prefiro parecer com agner# o m=sico# e Rodin# o escultor# ue tiveram ambos ue passar fome em sua
P
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0poca – e istler# o pintor# ue fe7 com ue RusFin# o cr8tico# espumasse de despre7o e de indigna*+o.
;odos eles alcan*am 4:ito. Sofreram porue eram novos (1 de maio"N. 5 chamado movimento
moderno n+o ocorreu de modo concomitante nos v9rios campos de conhecimento e cria*+o humanos.
Luando# por e:emplo# oseph $onrad colocouse na condi*+o de autor moderno# tal conceito 6amais
poderia ser aplicado ao design industrial nauela 0poca# at0 porue tal profiss+o n+o e:istia no sentido
como seria entendida posteriormente.
5 historiador e ensaista Giulio $arlo %rgan# ao abordar o modernismo# resumiu (%RG%@# 1# p.
1JP"< KSob o termo gen0rico Modernismo resumemse as correntes art8sticas ue# na =ltima d0cada do
s0culo YIY e na primeira do s0culo YY# prop?emse a interpretar# apoiar e acompanhar o esfor*o
progressista# econVmicotecnol>gico# da civili7a*+o industrial...N. %p>s enumerar as primeiras
tend4ncias modernas# %rgan conclue (idem# p.1JP"< K...&or isso# mesclamse nas correntes modernistas#
muitas ve7es de maneira confusa# motivos materialistas e espiritualistas# t0cnicocient8ficos e aleg>ricos po0ticos# humanit9rios e sociais. &or volta de 11O# uando ao entusiasmo pelo progresso industrial
sucedese a consci4ncia da transforma*+o em curso nas pr>prias estruturas da vida e da atividade social#
formarse+o no interior do Modernismo as "anguardas art8sticas preocupadas n+o mais apenas em
moderni7ar ou atuali7ar# e sim revolucionar radicalmente as modalidades e finalidades da arteN.
% primeira d0cada desse s0culo apresentou um desenvolvimento acelerado de programas inteiros de
fabrica*+o voltados a uma demanda crescente e diversificada de mercadorias. Essa produ*+o intensiva
promovia a ascens+o do trabalho especiali7ado nas f9bricas e desestimulava o artesanato ualificado#
instigando o aparecimento de um profissional com novas caracter8sticas. Dois fatos concomitantes e
interrelacionados fariam de 1O e 1O! o marco fundamental dauilo ue seria conhecido como design
industrial. $riavase a Deutscher *er+und # associa*+o ue iria canali7ar todos os esfor*os no
aprimoramento da ualidade da produ*+o alem+. Sobre tal entidade# ue antecedeu em v9rios anos o
estabelecimento de suas cong4neres europ0ias # Stephen CaAleA iria opinar (C%WQEW# 1!# p.1P" ue
ela estabeleceu o padr+o para o design neste s0culo. @a mesma 0poca &eter Cehrens ligavase a grande
empresa de eletricidade da %lemanha# a %.E.G.# na ualidade de consultor e uma esp0cie de mega
pro6etista. Cehrens tornouse respons9vel por uma inve69vel gama de cria*?es no campos do design
aruitetVnico# de produto e gr9fico# al0m da publicidade. &or haverse ocupado tamb0m das uest?es
relativas a normati7a*+o t0cnica) da produ*+o em s0rie) do controle de ualidade e# entre outras coisas#
da imagem corporativa# o aruiteto citado 0 reconhecido como o primeiro designer industrial. %
concep*+o da Maschinenstil de Cehrens e:erceu forte influ4ncia na gera*+o de pro6etistas das primeiras
d0cadas do s0culo e n+o foi gratuito o fato de alter Gropius# ies van der Rohe e Qe $orbusier terem#
em momentos diferentes# estagiado no escrit>rio berlinense do mestre.
% consulta 2 -ncyclopaedia Britannica publicada em 11O revela ue# e:atamente como ocorria na Era
,itoriana e mesmo anteriormente# a palavra design era associada com mais fre34ncia ao campo
art8stico. @as chamadas artes aplicadas consistia num tipo de desenho usado para a planifica*+o e
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marca*+o de um trabalho# visando sua e:ecu*+o. ;ratavase# propriamente dito# de um desenho mais de
estrutura*+o do ue de apresenta*+o. &or analogia# a termo se associava a um plane6amento deliberado#
um esuema ou finalidade. %ssim# o ob6etivo do design seria antes de tudo utilidade# conveni4ncia e
satisfa*+o. 5 aruiteto alter Richard QethabA foi o autor do mencionado te:to# ue ocupa cerca de
meia p9gina da conceituada enciclop0dia. Sobre auele idealista# ReAner Canham comentou
(C%@H%# 1!P# p.J/"< K...Ele e seu grupo n+o foram pensadores sistem9ticos# e sim homens de
sensibilidade ue trou:eram para dentro do novo s0culo a atitude moralista de RusFin e orris# e ue a
deram de presente ao ovimento %lem+o...N. @o e:tenso verbete QethabA informava ao leitor ue a
modernamente havia a tend4ncia de relacionar design com a palavra original# no sentido de novo e
incomum. %o longo do te:to# atrav0s de v9rias e:plica*?es e considera*?es# est+o assinaladas as
transforma*?es ue vinham ocorrendo na Gr+Cretanha dauele tempo uanto a aplica*+o do referido
termo em outros dom8nios. % respeito disso 0 significativa a coloca*+o do verbetista de ue algumas das
artes# como por e:emplo a de escrever# estarem sendo pouco tocadas pela Koriginalidade conscienteN em
design. %inda sobre o te:to citado# 0 relevante observar ue em nenhum momento surge alguma
refer4ncia a poss8veis liga*?es do design com a produ*+o industrial ou ent+o ao 69 e:istente consumo de
massa.
5 sentido do novo design de produtos# fomentado pela propaganda# havia aduirido um car9ter
internacional antes mesmo da &rimeira Grande Guerra. @o caso ingl4s# curiosamente# apenas na 0poca
do in8cio do conflito mundial seria criada a Design and .ndustries Association. % respeito @iFolaus
&evsner informa (&E,S@ER# 1!O# p." ue a D.I.%. foi confessadamente inspirada no modelo
alem+o# tendo adotado muito tardiamente o programa proposto pelo *er+und . 5 historiador apontaainda uma certa timide7 britnica na tentativa de recuperar o tempo perdido# uando numa das suas
primeiras publica*?es a %ssocia*+o proclamava ue aceitava a m9uina no seu devido lugar# como
invento a ser guiado e controlado# e n+o simplesmente posto de lado.
@os dias ue antecederam a &rimeira Grande Guerra# a utili7a*+o do termo design restringiase aos
pa8ses e dom8nios de l8ngua inglesa. %lem+es# franceses e italianos# entre outros# n+o se dispuseram a
importar auela denomina*+o. @a 0poca n+o e:istia nenhuma ra7+o ob6etiva ou de ordem pr9tica para
isso acontecer. %final# os ingleses pareciam estar perdendo a posi*+o destacada ue at0 ent+o haviam
mantido na 9rea pro6etual. %l0m do mais# a palavra design n+o possu8a a imagem de a*+o resolutiva
ilimitada e nem a aura deslumbradora ue iria aduirir mais recentemente. 5s diversos idiomas europeus
dispunham nas suas nomeclaturas de termos com significados an9logos a design.
Suplantada a curta recess+o ue se seguiu ao t0rmino da &rimeira Grande Guerra# os neg>cios norte
americanos ingressaram numa fase de euforia. $om o poder auisitivo crescendo# a sensa*+o de
abastan*a era real e o p=blico partiu para um consumo desenfreado. Romperase o at0 ent+o tradicional
comedimento americano frente as ofertas de novidades. &ara satisfa7er uma demanda ascendente# as
for*as produtivas puseramse a arregimentar todo tipo de profissional ue pudesse tra7er alguma
!
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contribui*+o na cria*+o de mercadorias vend9veis. @unca se investira tanto em propaganda e nem se
fi7era tamanho volume de neg>cios. ,erdadeiros e:0rcitos de escultores# pintores# aruitetos# tip>grafos
e publicit9rios foram envolvidos na concep*+o formal de uma vasta gama de produtos. De modo geral os
Kpro6etistasN empregados no processo possu8am limita*?es para enfrentarem ob6etivamente as uest?es
do design# a n8vel industrial (,%@ D5RE@# 1TO# p. 11T"# e com o correr do tempo a maioria deles
terminaria relegada ao limbo.
Enuanto na %m0rica do @orte o sistema produtivo se e:pandia rapidamente e a classe m0dia clamava
por opul4ncia – tudo ue se produ7isse vendia – as na*?es europ0ias apresentavam desempenho
modesto no ritmo de vida econVmico. % %lemanha# em ru8nas e depauperada# vivenciou condi*?es ue
acabariam se revelando prop8cias 2 reali7a*+o de e:peri4ncias pro6etuais nos mais diversos dom8nios. %
6ovem rep=blica de eimar pVsse a estimular empres9rios# intelectuais# artistas# aruitetos# urbanistas e
todos mais a conceberem novas id0ias ue pudessem ser implementadas# visando a reconstru*+o e oreerguimento nacionais. @auele conte:to surgiu e se impVs a /taatlisches Bauhaus# ue tanta
influ4ncia e pol4mica despertaria pelo mundo afora a partir do seu fechamento em 1.
% par de terse tornado um mito e um s8mbolo de modernidade# e:altada por uns e subestimada por
outros# a Cauhaus geralmente 0 tida pelos estudiosos como uma refer4ncia fundamental do design no
nosso s0culo. Luando da cria*+o em eimar da 0ochschulle f1r 2estaltung # subt8tulo ue a Cauhaus
usava e ue posteriormente seria utili7ado como t8tulo pela Escola de 'lm# alter Gropius divulgou o
manifesto (CI;;ERCERG# 1!T# p. 11" ue certamente 0 dos documentos mais conhecidos e citados no
campo do design3 ;e>ricos da envergadura de Reiner Canham e ;om9s aldorado# ue se preocuparam
em estabelecer as diferen*as entre a Cauhaus lend9ria e a Cauhaus real# analisaram cuidadosamente o
conte=do dauela declara*+o do fundador da Cauhaus e atentaram para o fato de nela ine:istir ualuer
refer4ncia 2 m9uina ou a produ*+o industrial. % respeito do famoso te:to# Canham revelase espantado
com o fato de nele haver sido assumida uma posi*+o fundamentada e:clusivamente na vis+o
morrisoniana de artesanato inspirado) sem nenhuma vincula*+o com os conceitos vanguardistas
propostos pela *er+und . %lguns estudiosos preferem relegar tal uest+o a um plano secund9rio#
argumentando ue a Cauhaus# antes de mais nada# surgiu e foi aceita na ualidade de uma institui*+o de
ensino de artes e voltada 2 todas as manifesta*?es criativas do mundo KmodernoN. De ualuer modo#
Reiner Canham aponta (C%@H%# 1!P# p.T"< K...Uoi apenas em 1/ ue Cauhaus iria mostrar
algum interesse na produ*+o mecani7ada# e os problemas de pro6etar para ela. &or essa 0poca# seus
m0todos de ensino tinhamse tornado inseparavelmente vinculados ao artesanato – ponto ue seus
apologistas acharam embara*oso para ser e:plicadoN. $ontudo# o desenhista industrial ,ictor &apaneF#
na virada para a d0cada de setenta# alertava (&%&%@E[# 1!!# p.J" ue nenhuma escola de design na
hist>ria teve tanta influ4ncia uanto a Cauhaus na configura*+o do bom gosto e do design3 Segundo ele
foi a primeira escola a considerar o design como parte vital do processo de produ*+o e n+o somente
como uma arte aplicada ou arte industrial.
J
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% partir da Segunda metade da d0cada de vinte a aruitetura# os produtos industriais e a programa*+o
visual criados pelos bauhausianos come*aram a apresentar uma unidade est0ticoformal) fato ue geraria
a id0ia da e:ist4ncia de um Kestilo CauhausN. @a realidade# auilo ue seria conhecido como
funcionalismo bauhausiano aconteceu somente ap>s a transfer4ncia da Escola para Dessau e#
principalmente# a partir do momento em ue Hannes eAer substituiu alter Gropius como diretor da
Institui*+o. Em 1/!# eAer escrevia sobre design (SEQQE# 1!# p.1/"# di7endo ue todo desenho
correto e reali7ado de uma forma aut4ntica constitui o refle:o da sociedade atual. Uoi e:atamente com
Hannes eAer ue a Cauhaus conheceria a responsabilidade social do design e se envolveria a fundo
com os pro6etos de produtos nos uais se destacavam as fun*?es pr9ticas# visando uma produ*+o ue
tinha como suporte estreitos contatos com empresas industriais. Durante o per8odo em Dessau
(Q\C%$H# 1!# p.J/"# em boa medida a Cauhaus caracteri7ouse pela configura*+o pr9ticofuncional
dos produtos industriais.
Enuanto na Europa a ideologia social do design ia se estabelecendo progressivamente# atrav0s de uma
ob6etividade tecnomaterial e da funcionalidade formal# nos Estados 'nidos o design foise atrelando
cada ve7 mais ao mundo dos grandes neg>cios# da publicidade e das vendas. %final# os americanos n+o
tinham em mente se valerem do design para criar uma nova ordem social. ] suficientemente conhecida a
posi*+o cr8tica da maioria dos desenhistas industriais estadunidenses frente a concep*+o pro6etual dos
seus colegas europeus# e particulamente a dos bauhausianos. Eles n+o estavam preocupados com coisas
ue entendiam como sendo id0ias morali7antes sobre a Kautencidade Ndos materiais e a KprobidadeN das
fun*?es. @+o viam o menor sentido em buscar formas KhonestasN para produtos ue eram artificiais .
Harold van Doren situa o ano de 1/! como o dos designers de primeira hora (,%@ D5RE@# 1TO# p.
1". Uoi e:atamente nauele ano ue surgiu entre os norteamericanos o primeiro lote de profissionais
capacitados tecnologicamente e com suficiente criatividade para pro6etarem mercadorias ue os
compradores n+o recusariam. 5 industrial design passava a ser reconhecido como uma atividade
especiali7ada. % introdu*+o ue escreveu para o seu livro mais conhecido# o primeiro Kguia pr9ticoN
sobre desenho industrial nos Estados 'nidos# ,an Doren falava (idem# p.Y,II" da importncia do
design para a apar4ncia de um produto e di7ia ue o ob6etivo dauela atividade seria vendas – por um
lucro. Segundo o autor# ue na sua 0poca foi um dos mais renomados pro6etistas industriais norteamericanos# o trabalho dos estilistas criativos da na*+o seria o de interpretar a fun*+o das coisas =teis em
termos de apelo visual# dot9las de bele7a e cor# e sobretudo# criar no consumidor o dese6o de posse.
@o pref9cio da primeira edi*+o de 4ioneers of Modern Mo"ement # @iFolaus &evsner informava ue a
prepara*+o dauele livro foi em grande parte reali7ada entre 1O e 1/# uando regia um curso de
aruitetura na 'niversidade de G^ttingen. Segundo o historiador ( &E,S@ER# 1!O# p. 1P"# foi ele
provavelmente uem pela primeira ve7 fe7 uma e:posi*+o preliminar do papel desempenhado por cada
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um dos aruitetos mais importantes na evolu*+o do ovimento oderno. Em 1# fortemente
influenciado pela concep*?es da Deutscher *er+und e da Cauhaus# &evsner radicouse na Inglaterra.
@os anos seguintes o pesuisador estudou em profundidade a ind=stria# a economia e a sociedade
britnicas. Em 1! foi o grande respons9vel pela elabora*+o do relat>rio oficial do $ouncil for Art and
.ndustry# intitulado The 4lace of Design in .ndustry# cu6a segunda parte enfocava a importncia do
pro6eto e a fun*+o do pro6etista na produ*+o industrial. @auele mesmo tempo &evsner publicou uma
investiga*+o ue reali7ou em 1T e 1P# uando estava ligado a 'niversidade de Cirmingham# sobre a
situa*+o na Gr+Cretanha das ent+o denominadas artes industriais. @o in8cio de The 4lace of Design in
.ndustry o autor afirma ( C%WQEW# 1!# p. TJ" ser necess9rio oferecer uma defini*+o da palavra
design. Em seguida di7 ue em um sentido mais amplo design significa plane6ar em rela*+o 2 fun*+o ( o
artigo produ7ido deve atender ao seu prop>sito" e 2 forma# ou de modo mais amplo ao valor est0tico
( com a devida preocupa*+o pela forma# te:tura# cor e adeua*+o de ualuer decora*+o".
5 in8cio da historiografia sobre o industrial design data dos anos trinta# uando a Inglaterra 69 percebia
nitidamente estar declinando como pot4ncia industrial. Em 1T eram publicados Art and .ndustry e
.ndustrial Art -5plained # respectivamente de Herbert Read e ohn Gloag# uando come*ou a
conscienti7a*+o de ue o desenho industrial 69 possuia uma hist>ria ue valia a pena ser contada.
$ontudo# ;om9s oldonado observa ue a hist>ria do design moderno# tal como a estabeleceram &lat7
(1/!") Read e unford (1T") &evsner (1") Cerendt (1!") Richard (1TO") Giedion (1T1" e
Canham (1O" 0 uma hist>ria de car9ter fragmentado. 5 renomado professor aponta (%QD5@%D5#
1!!# p. /1//" ue o con6unto de te:tos dos referidos autores privilegiam fre3entemente a aruitetura
e# apesar de haver estabelecido as matri7es interpretativas principais das origens do design industrial#n+o pode ser entendido apropriadamente como a hist>ria desse campo de atua*+o.
S+o m=ltiplos os entendimentos sobre auilo ue 0 moderno# assim sobre uais s+o os seus limites. 5
cr8tico UredericF [arl # falando das contradi*?es inerentes ao modernismo em suas v9rias facetas#
comenta ( [%RQ# 1JJ# p. /T"< K% palavra moderno tem# nos =ltimos cem anos# e:ercido tantas fun*?es#
se tornado parte de tantos dese6os em conflito# temnos dividido de tantas maneiras comple:as ue ela
n+o se pode distinguir de nosso 6eito de viver. 'ltrapassou muito o vocabul9rio para uma e:ist4ncia com
normas# linhas de orienta*+o# conse34ncias. % id0ia tornouse orgnica. Invadiu nosso pensamento n+oapenas sobre as artes e as ci4ncias mas tamb0m sobre a vida pol8tica e social) em suas formas
governamentais# controla nosso pensamento sobre a economia e nossas atitudes em rela*+o a outros
pa8ses e ra*as. Uornece um meio para condena*+o ou aprova*+o_. uitos pap0is 69 foram atribu8dos ao
moderno. @este sentido 0 e:emplificativo um te:to de Rudolf olters# datado do in8cio da Segunda
Grande Guerra# apresentando a obra Moderna ar6uitectura alem7. Di7ia o perito na7ista (S&EER# 1T1#
p. 1O"< K% ordem e clare7a s+o os ob6etivos ue se pretendem atingir. % empresa 0 atacada a fundo. De
princ8pio n+o se trata de estilo de forma. Reina principalmente a preocupa*+o fundamental< a moderna
1O
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aruitectura alem+ deve emanar do 8ntimo da nova vida. Em constru*?es gran8ticas deve ela simboli7ar
o povo e a sua 0poca. Ela tem ue conuistar a forma por si mesma# e:traindoa do problema guiada
pelo seu pr>prio ob6etivoN.
5s precursores do industrial design nos Estados 'nidos# como @orman Cel Geddes) alter DorBin
;eague) HenrA Dreifuss) Russel right) Harold van Doren e o franc4s RaAmond QoeBA# com seu lema<
K5 feio n+o vendeN# foram protagonistas importantes num processo maior ue desembocaria no vasto
movimento do p>s Segunda Grande Guerra conhecido por styling . % par das inova*?es formais e outras
contribui*?es surgidas em muitos dos pro6etos reali7ados# a partir dos anos cin3enta os estilistas
ganharam forte oposi*+o daueles ue possu8am um pensamento cr8tico e social a respeito do design.
Enuanto na Europa em fase de reconstru*+o o discurso pro6etual relativo a produ*+o industrial voltava
se 2 racionali7a*+o e padroni7a*+o) parcela significativa dos desenhistas industriais norteamericanos era
envolvida numa pr9tica de obsolesc4ncia plane6ada.
'ma piada bastante difundida nos Estados 'nidos em meados do s0culo# di7ia ue do ponto de vista do
empres9rio a durabilidade de um produto devia estar condicionada ao pagamento da =ltima presta*+o
devida. @a obra -strat%gia do desperd!cio# escrita em fins dos anos cin3enta# ,ance &acFard informa
(&%$[%RD# 1P# p. T"< K5 desenhista George @elson resumiu francamente a necessidade de produ7ir
a apar4ncia da mudan*a uando declarou em .ndustrial Design< 5 desenho... 0 uma tentativa de prestar
uma contribui*+o atrav0s da mudan*a. Luando nenhuma contribui*+o 0 ou pode ser prestada# o =nico
processo e:istente para dar a ilus+o da mudan*a 0 o estilo. @uma sociedade t+o completamente dedicadaa mudan*a uanto a nossa# 0 preciso oferecer aos consumidores a ilus+o uando n+o se disp?e da
realidade N. ] ainda ,ance &acFard ue nos conta ( idem# p. PO"< KE CrooF Stevens# destacado desenhista
industrial# e:plicou nestes termos o plane6amento da obsolesc4ncia< ;oda nossa economia 0 baseada em
obsolesc4ncia plane6ada e todos uantos podem ler sem mover os l9bios sabem disso. Ui7emos bons
produtos# convencemos as pessoas a compr9los e no ano seguinte introdu7imos deliberadamente algo
ue torne aueles produtos velhos# antiguados# obsoletos... @+o 0 desperd8cio organi7ado. ] uma s>lida
contribui*+o 2 economia americana. Devo acrescentar ue outros desenhistas discordam dos pontos de
vista de Stevens_.
Em plenos anos cin3enta o cr8tico norteamericano George %. Ulanagan escreveu 0o8 to 9nderstand Modern Art # bastante divulgado na 0poca e tradu7ido em v9rios idiomas. @a edi*+o %rgentina# no
cap8tulo dedicado ao termo diseo – design# no original – o autor alertava (UQ%@%G%@# s.d# p. "
ue o leitor n+o devia entender tal termo como algo ins8pido# remoto ou sem importncia. Segundo ele
tratase de uma palavra muito interessante# uando 0 apreciada na sua totalidade# como fa7em os
modernos. Ulanagan observava ue havia um tend4ncia geral para associar design a alguma coisa ue
possu8sse prop>sito utilit9rio tal ual a decora*+o de um tapete# as corni6as de uma coluna ou algo
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relacionado a engenharia# como o desenho de um autom>vel. %ssim# em fun*+o da grande familiaridade
com tais produtos# aos olhos comuns o conceito de design estava se degradando. De acordo com o autor
(idem# p."# o artista moderno e:pressava muito melhor seu trabalho uando substitu8a o uso da palavra
composi*+o por design. 5 conceito moderno implicaria# entre outras coisas# no seguinte< o design seria
mais amplo ue a composi*+o# englobandoa) o artista moderno n+o devia ter nenhum compromisso
com a representa*+o da realidade ob6etiva e o KtoueN do design chegaria 2 todas as partes e detalhes de
um uadro# implicando em muito mais ue a disposi*+o dos elementos principais.
Em @ova Iorue do in8cio dos anos cin3enta# no museu de %rte oderna# aconteceu uma e:posi*+o
intitulada Modern Art in ;our Life3 5 evento# ue teve grande repercuss+o# efetuava um corte no tempo.
Cuscava identificar e associar as formas abstratas geom0tricas e orgnicas# assim como o cubismo e
surrealismo – e:pressas nas obras dos artistas da primeira metade do s0culo vinte – com fachadas de
pr0dios) interiores) vitrines) plantas bai:as) carta7es) capas de livros e discos) diagrama*?es de te:tos) padronagens de tecido) embalagens) cadeiras e eletrodom0sticos# entre outros pro6etos. @a introdu*+o da
publica*+o resultante da referida e:posi*+o era enfati7ado (G5QD%;ER# d H%R@5@$5'R;# 1P#
p.P" ue muitas pessoas ue se revelavam cr8ticas a respeito da arte moderna# aceitavam sem problemas
e at0 gostavam da ramifica*+o dela no campo do design. %ssim# introdu7iuse o design KmodernoN no
conte:to da arte KmodernaN.
Em um te:to de 1PP# ;om9s aldonado e:punha a filosofia e as inten*?es da 0ochschulle f1r
2estaltung # locali7ada em 'lm# ue viria ter papel relevante na hist>ria mais recente do design
industrial. 5 autor informava (%QD5@%D5# 1!!# p. !O!1" ue e:istia uma opini+o bastante
difundida sobre o desenhista industrial# pro6etista ligado 2 produ*+o em s0rie# segundo a ual esse
profissional teria somente uma fun*+o a desempenhar< servir ao programa de vendas da grande ind=stria
e estimular o mecanismo da competi*+o comercial. Segundo aldonado a Escola de 'lm se opunha
frontalmente a esta vis+o# sustentando a posi*+o ue mesmo trabalhando para a ind=stria o pro6etista
precisa assumir seus compromissos com a sociedade. @esse sentido# 6amais as obriga*?es do desenhista
industrial para com a industria deveria anteporse 2s suas responsabilidades. @o te:to mencionado#
defendendo a necessidade de forma*+o de um novo tipo de pro6etista# aldonado enfati7a ue uma das
maiores amea*as para a cultura do nosso tempo residia na atual prolifera*+o de formas e:teriormente
modernas# mas essencialmente retr>gradas.
'ma alavanca importante para a Ke:porta*+oN da palavra design foi a publica*+o em 1O na Inglaterra
de 4ioneers of Modern Design# de @iFolaus &evsner# assim como Theory and Design in the ria para os estudantes de desenho industrial em todo o
mundo. 5 te:to consistia numa revis+o e amplia*+o parcial da obra 4ioneers of Modern Mo"ement #
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publicada em 1. % diferen*a entre as duas vers?es reside particulamente na titulagem delas. @o t8tulo
posterior o termo KmovimentoN foi substitu8do por KdesignN. 5 primeiro caso trata fundamentalmente da
hist>ria do Kmovimento moderno Kna aruitetura) enuanto o segundo aborda a mesma hist>ria e
tamb0m promove a e:trapola*+o do campo aruitetVnico para o da pintura# o do artesanal e o das formas
industriais. @o conte=do de 4ioneers of Modern Design o termo design 0 utili7ado apropriadamente
como pro6eto ou plane6amento# mas fica patente a supremacia oferecida pelo autor ao design
aruitetVnico.
%t0 o 8nicio dos anos sessenta# o termo design encontrou forte oposi*+o para entrar e ser aceito na
Europa $ontinental. $ontra a Kimporta*+oN da palavra# pesava a imagem ue ela carregava de estar
diretamente envolvida com a propaganda enganosa e o consumismo desenfreado. %l0m do mais# a
referida terminologia possu8a os seus euivalentes nas v9rias l8nguas europ0ias< 4rodu+tgestaltung ou
.ndustrielle a esteti+a# norusso) disegno industriale# no italiano) diseo industrial # no espanhol e desenho industrial# no portugu4s.
Em 1P a %CDI# primeira associa*+o brasileira de desenho industrial# tornouse membro efetivo do
I$SID – .nternational $ouncil of /ocieties of .ndustrial Design. @auele mesmo ano D0cio &ignatari
levantava a uest+o relativa ao processo de Kamericani7a*+oN ue estava ocorrendo na Europa# no
campo do desenho industrial. 5bservava o intelectual (&IG@%;%RI# 1!1# p. 1OJ1O" ue o partido da
KualidadeN assumido pelos europeus estava sendo desarticulado pela realidade do consumo em massa.
&ara &ignatari# no*?es como as de gute form ou good design careciam de significa*+o social e ue# em
pa8ses como o Crasil# a uantidade devia se sobrepor a ualidade. %s =ltimas barreiras para a
incorpora*+o definitiva da palavra design ao repert>rio profissional dos europeus# ca8ram em 1J#
uase simultaneamente 2 decis+o de fechamento da 0ochschulle f1r 2estaltung # de 'lm.
Em 1!O publicavase o original sueco do famoso livro de ,ictor &apaneF# intitulado 4ro>etar para o
mundo real . 5 renomado pro6etista tornouse conhecido internacionalmente a partir do in8cio dos anos
setenta# por sua vis+o cr8tica ao processo consumista e pela luta ue sustentou em prol de um design com
preocupa*?es sociais e ecol>gicas# assim como de desenhistas industriais com maior consci4ncia da sua
importncia para a sociedade e elevada responsabilidade moral. @o livro mencionado o autor afirmava
ironicamente (&%&%@E[# 1!!# p. 1/1" ue poucas profiss?es eram mais daninhas ue o design
industrial. ais insincera# talve7 apenas o desenho publicit9rio# &apaneF informava ue em fevereiro de1J fora publicado um artigo na revista veis"# 6ogos banais para adultos e capas de prote*+o Kse:uadasN para computadores#
telefones e torradeiras# n+o haveria nenhuma ra7+o para ele e:istir.
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Em sua obra .ndustrial Design# publicada em 1!# Cernd Q^bach destacou logo no in8cio do te:to a
grande confus+o criada pelo termo design. %lertava o desenhista industrial e te>rico (Q\C%$H# 1J1# p.
" ue ultimamente vinhase falando e escrevendo muito sobre design) ue tal palavra era cada ve7 mais
utili7ada pela propaganda e aparecia com fre34ncia crescente nos meios de comunica*+o. Segundo o
estudioso# a e:pans+o da concep*+o de design ue ocorria e a coloca*+o pelos v9rios autores de
diferentes enfoues sobre a uest+o# levavam as pessoas a se defrontarem com uma multiplicidade de
parmetros. De modo geral tal profus+o de id0ias estaria ocasionando mais confus+o ue esclarecimento#
pois os conceitos distintos se contradi7iam em parte.
&ara 3rgen Habermas a modernidade consiste num design inacabado. 5 fil>sofo recha*ou a id0ia de um
fim de linha para o moderno. Em famoso te:to publicado originalmente em 1J1# Habermas afirmou
( %R%@;ES. %R%@;ES# 1/# p.1OO" < K%dorno assumiu t+o incondicionalmente o esp8rito da
modernidade# ue 69 pressente# na tentativa de distinguir a aut4ntica modernidade do mero modernismo#rea*?es emocionais ao desafio da modernidade. %ssim# talve7 n+o se6a de todo descabido demonstrar
meu agradecimento pelo &r4mio %dorno# investigando ue posi*+o a modernidade ocupa na consci4ncia
ho6e. % modernidade 0 assim t+o pass% # uanto afirmam os p>smodernosX 5u ser9 a t+o decantada p>s
modernidade apenas phonyX Ser9 o postmodern uma divisa sob a ual# imperceptivelmente# se herdam
as disposi*?es ue a modernidade cultural mobili7ou contra si desde meados do s0culo YIYXN. @os
referidos escritos o pensador fa7ia um diagn>stico da situa*+o e desenvolvia um pensamento# mostrando
como os conservadores se apropriavam da e:peri4ncia da modernidade est0tica# de modo a criarem um
antimodernismo e:tremamente contradit>rio. Em outro te:to de 1J1# criticando o Kgesto apressado de
despedidaN feito pelos p>smodernistas# Habermas colocou (idem# p.1/P"< K...$om este p>s uerem os protagonistas se desfa7er de um passado) 2 atualidade n+o podem ainda dar novo nome# na medida em
ue para os reconhec8veis problemas do futuro n+o temos at0 agora nenhuma resposta ...N.
@o decorrer da d0cada de oitenta acirrouse o debate sobre o fim da modernidade) uma discuss+o ue
come*ara a tomar corpo 69 nos anos sessenta. 5 confronto de id0ias deuse# nos seus e:tremos# entre
uem via no programa moderno um empreendimento de ess4ncia ut>pica# falido# esgotado no seu
potencial de inovar# e aueles ue reconheciam a crise de identidade do modernismo# mas validavam os
seus princ8pios. @os dias em curso o embate perdeu bastante do seu vigor anterior. ,9rias ra7?es
contribu8ram para essa situa*+o< n+o apenas o KressurgimentoN do moderno# efetuado principalmente por
Habermas# mas tamb0m as disparidades de concep*?es emanadas dos pr>prios autores ue se op?e a
id0ia do moderno. %ssim# os conceitos sobre p>smoderno assumiram desde a condi*+o de instrumento
de resist4ncia cultural# at0 a de e:press+o do consumismo do capitalismo monopolista. %l0m do mais# o
p>smoderno tornouse v8tima das contradi*?es propiciadas pela pol8tica cultural do modernismo. Uace
ao fato do pr>prio moderno se prestar a tantas interpreta*?es# como definir auilo ue seria Kp>sN X
5 conceito do moderno# assim como de modernidade# varia em conte=do e delimita*+o temporal
comforme o campo de atividade enfocada. Isso fica mais patente uando pensadores de forma*?es
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diferentes abordam# por e:emplo# a literatura# o urbanismo# o design industrial# ou o pro6eto pol8tico. 5
cr8tico cultural arshall Cerman# ao comentar alguns aspectos do pensamento de Caudelaire em meados
do s0culo passado# di7 (CER%@# 1# p.1"< K...Segundo# a tend4ncia moderna de fa7er tudo novo<
a vida moderna do ano ue vem poder9 e ser9 diferente da deste ano) todavia ambas far+o parte da
mesma era moderna. 5 fato de ue voc4 n+o pode pisar duas ve7es na mesma modernidade tornar9 a
vida moderna especialmente indefin8vel# dif8cil de aprenderN. ] ainda Cerman ue afirma ( idem# p.//"<
K;odas as formas de pensamento e arte modernistas t4m um car9ter dual< s+o# ao mesmo tempo#
e:press+o e protesto contra o processo de moderni7a*+o ...N.
@a obra Tudo 6ue % sólido desmancha no ar arshall Cerman# na parte final do te:to# alerta
(CER%@# 1# p./" < K... @o curso de todo este livro busuei n+o apenas descrever a vida do
dialogo modernista# mas tamb0m continu9la ...N. 5 autor defende a id0ia de ue o modernismo da vida
atual n+o deve se desfa7er dos la*os profundos ue o prendem ao passado) e ue tal compreens+o domoderno pode a6udar a esclarecer algumas das ironias da m8stica Kp>smodernaN contempornea . Di7
ainda Cerman (idem# p.O"< K...Se o racioc8nio global deste livro est9 correto# aueles ue est+o a
espera do final da era moderna dever+o aguardar um tempo intermin9vel ...N.
%firmam os fil>logos ue o uso prolongado de um voc9bulo# uando fre3entemente utili7ado de
maneira n+o consciente# tende a erodir o seu conte=do semntico. ;om9s aldonado comenta
(%QD5@%D5# 1O# p.1!" ue de todos os abusos ling3isticos de todo tipo# aos uais nos
acostumamos ultimamente# um dos mais evidentes foi cometido contra o termo KmodernoN. $omo
sabemos# aldonado provavelmente estenderia tal observa*+o ao termo design3
Durante os dois primeiros meses de 1J# tomamos a iniciativa de efetuar um averigua*+o 6unto as
livrarias sebo mais tradicionais da capital paulista. ;al averigua*+o visava o levantamento de t8tulos de
obras publicadas em ingl4s# at0 a d0cada de sessenta# nos uais constava a palavra design. 5 resultado
do trabalho revelou ue em nenhum caso o termo em uest+o foi empregado isoladamente# como vem
ocorrendo com fre34ncia nos =ltimos tempos. ;odas as intitula*?es escolhidas para os livros
indicavam a 9rea de enfoue do design# tais como
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leitor 0 informado (R%C%`%. C%RC5S%# 1!J# p. 1P/" < K... Instrumento ligado 2 arte cin0tica# 2
ecologia# 2 aruitetura e 2 cibern0tica# diretamente relacionado 2 produ*+o industrial (tecnologia"# 2
amplia*+o da produtividade (+no8ho8" e tamb0m ao escoamento lucrativo desta produ*+o (mar+eting ".
Em ingl4s# design.
$om o correr do tempo foi ficando cada ve7 mais evidente a apro:ima*+o e o relacionamento entre
certos tipos de design e a arte. % vincula*+o entre ambos os campos de cria*+o formal passava a ser a
tem9tica de e:posi*?es e o ob6eto de enfoue por parte dos estudiosos. % publica*+o em 1!O de Art as
Design< Design as Ar t# de Sterling cIlhanA # e:emplifica bem tal preocupa*+o. @a d0cada seguinte o
caos parecia terse instalado na esfera do design industrial. =ltiplas tend4ncias conviviam
espacialmente e concep*?es como as dos movimentos 0igh Tech e Trans 0igh Tech# despertavam a
aten*+o e o interesse de parcela significativa dos artistas. 5s KestilosN enphis e %lchimia# por
e:emplo# buscavam linguagens e solu*?es formais ue pudessem e:pressar o presente imediato.
&rocuravase defini*?es e terminologias para tantas possibilidades e caminhos a serem trilhados.
@o livro A tecnologia da tecnologia – publicado originalmente no 0:ico# em 1!J – Gui Consieppe
evitou deliberadamente a utili7a*+o da palavra design ao longo de todo auele con6unto de te:tos. %o
inv0s de design# o respeitado profissional e te>rico de forma*+o ulmiana preferiu utili7ar a terminologia
desenho industrial. ] ele ue observa (C5@SIE&E# 1J# p. "< K% uem n+o agradar o termo
desenhista industrial# por possuir conota*?es t8picas do $entro# pode substitu8lo por pro6etista# um
termo mais neutro. 5 r>tulo ling3istico pouco importa. ais importante 0 o preen"hi#ento $o %a&iopro'eta( $a )eri*eria. &ara esta# obviamente# problemas de desenho industrial n+o s+o problemas de
estilo. ,isto daui# eles t4m# uando muito# uma importncia secund9riaN. @o gloss9rio constante do
referido livro# o autor di7 a respeito de design (idem# p.1J"< Kodismo usado preferencialmente entre
profissionais relacionados com o desenho de interiores e moda# e alguns eautiful people. Revela a
profunda contradi*+o entre os aspectos cosm0ticos de um produto e seu interior ue# em grande parte#
determina a performanceN.
@o final da d0cada de oitenta surgiu na cole*+o &rimeiros &assos# da Editora Crasiliense# o t8tulo # 6ue
% design. @o in8cio do te:to o autor# buscando abordar a uest+o de modo ob6etivo e did9tico# informa a
certa altura ue (%E,ED5# 1JJ# p.11"< KSe analisarmos uma simples sa8da para o cinema# veremosue em tudo h9 design. Desde o picote do bilhete# a dire*+o de arte ue voc4 viu no filme# os fastfoods
da lanchonetes ue padroni7am os alimentos – o design do sanduiche – e a volta para casa# onde no
m8nimo voc4 estar9 comentando com seu parceiro o ue voc4 intenciona fa7er amanh+N.
Qui7 ,idal @egreiros Gomes opina em nota de p9gina# na sua obra Desenhismo (G5ES# 1# p.P"#
ue e:istem duas ra7?es b9sicas para os ingleses nem sempre usarem a e:press+o industrial design. %
primeira seria o fato de uando utili7am o termo design# o fa7em tanto no sentido de tra*o uanto de
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pro6eto. % segunda# dada a tradi*+o fabril inglesa# 0 ue n+o haveria a necessidade de se e:plicitar o
tempo todo o termo industrial . % consulta ao o"o dicion@rio Aur%lio da l!ngua portuguesa informa ue
o termo design significa a concep*+o de um pro6eto ou modelo) restrito ao desenho industrial# ao
desenho de produto e 2 comunica*+o visual. Qui7 ,idal @egreiros Gomes# ao analisar as coloca*?es do
dicion9rio mencionado# di7 (idem# p. "< K@+o cabe agora discutir se estas denota*?es est+o corretas ou
n+o. as podese adiantar ue os gram9ticos da l8ngua inglesa n+o teriam nada contra as duas primeiras
denota*?es apresentadas no %ur0lio. &or0m# os educadores do Desenho dos pa8ses de l8ngua inglesa
certamente n+o concordariam com as =ltimas denota*?es# pois estas n+o demostram a amplid+o da 9rea
do desenho industrial# muito pelo contr9rio# a restringemN.
H9 de7 anos atr9s o termo design foi adotado oficialmente pelos representantes do ensino brasileiro no
campo do desenho industrial# num encontro reali7ado em Ulorian>polis. 5ito anos ap>s a tomada da
mencionada decis+o o professor e pro6etista de produto Qui7 ,idal @egreiros Gomes informava(G5ES# 1# p. 1"< K...$ontrariamente ao ue se esperava# a ado*+o oficial do termo ingl4s design#
em 1JJ# n+o trou:e efetivamente moderni7a*?es e alinhamento com os pa8ses de desenho industrial
desenvolvido...N.
Em 1JJ aconteceu uma importante e:posi*+o no useu de %ruitetura %lem+# em UranFfurt# tra7endo
o ue havia de mais atual e significativo no design internacional. 5 cat9logo da vasta mostra# dada a sua
relevncia# logo seria publicado em ingl4s sobre o t!tulo Design o8: .ndustry or ArtC @o livro os
te:tos dos especialistas abrangem e analisam diversos KestilosN# cada ual ocupando o seu espa*o
nauilo ue o organi7ador da obra denominou (UIS$HER# 1J# p. !1P" de Kcaleidosc>pio do design
modernoN. @o campo do chamado design e:perimental# ue prop?e novas conceitua*?es e se vale de
novos materiais ou inova a utili7a*+o de materiais tradicionais# fica mais evidenciada a tend4ncia de
apro:ima*+o entre esta forma pro6etual e a cria*+o art8stica. Recentemente em S+o &aulo# de7 anos ap>s
a mencionada mostra de UranFfurt# reali7ouse uma peuena e:posi*+o denominada K Design na fronteira
da %rteN. Deste acontecimento nacional participaram artistas e designers# brasileiros e internacionais. 5
evento trou:e novamente 2 tona a uest+o do uso dos materiais na defini*+o do design atual e alertou
para o u+o t4nue 0# 2s ve7es# o limite entre ele e a arte.
@as vitrines e prateleiras das livrarias sortidas# assim como nos mostru9rios dos vendedores de livros
importados# costumase encontrar certa uantidade de t8tulos nos uais tem destaue a palavra design.S+o obras cu6os conte=dos referemse n+o apenas ao desenho industrial# mas tamb0m 2 gr9fica
computacional) ao vestu9rio) 2 aruitetura) 2 engenharia e outros campos ue implicam em a*+o
pro6etual ou plane6amento. ueles t8tulos somamse# ainda# volumes em ue o design aparece
associado# entre outros assuntos# 2< arte) fotografia) decora*+o) artesanato e moda.
@o cotidiano dos centros urbanos# inseridos no processo da globali7a*+o# a apalavra design conuistou
um espa*o f8sico e psicol>gico de destaue. ] encontrada com facilidade# relacionada a uma
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surpreendente gama de marcas# produtos# servi*os # locais e situa*?es. 5 termo e:trapolou em muito as
delimita*?es ue os desenhistas industriais estabeleceram como 9rea de atua*+o nas d0cadas anteriores e
partiu para o envolvimento com a maioria das atividades humanas. % liberdade com ue o nome design
passou a ser utili7ado# gerou um fenVmeno ue poder8amos denominar de KtudismoN. Isso poue temos
vistos# nos dias atuais# o termo ganhar uma fle:ibilidade tal ue pode ser associado a praticamente tudo.
$ertamente n+o 0 fortuito o fato de encontrarmos em @ova Iorue uma lo6a de guloseimas# visualmente
atraentes# denominada $hocolate Design) assim como de ter sido lan*ada pela ella alem+ uma linha de
cosm0ticos chamada Design. 5 mesmo caminho passou a ser trilhado no Crasil# onde at0 peuenos
neg>cios incorporaram o design ao seu nome# tais como os ue fa7em trabalhos de< costura) corte de
cabelo) manicure e arran6os florais# ou servi*os Kpronta entregaN de computa*+o gr9fica e impress+o.
Desde ue o design ingressou no discurso da administra*+o de empresas e da gest+o# ele sofreu um
processo de r9pida valori7a*+o. &ara muitos os anos noventa se constituem na Kd0cada do designN. Gui
Consiepe# comentando sobre esse processo# di7 (C5@SIE&E# 1!# p. /1"< KUalar da importncia do
design nas empresas h9 de7 anos era um ato e:c4ntrico. Ho6e# n+o falar de design e o seu papel
fundamental na empresas revela falta de conhecimento da realidade. 5 debate atual sobre empresas#
estrat0gias de a*+o# desenvolvimento tecnol>gico# pol8tica de importa*+o e e:porta*+o# ualidade total e
integra*+o de mercados fica incompleto se n+o incluir tamb0m o design. Devese admitir ue a palavra
design aparece uase sempre envolvida por uma nuvem de malentendidos# ue se manifestam na
maneira com a ual as empresas lidam com o design e ue valor# afinal# lhe atribuemN.
Gui Consieppe# ue enfati7ava nos anos setenta o car9ter de modismo do termo design) atualmente
continua tendo uma postura cr8tica frente as aplica*?es indevidas da referida terminologia. $ontudo# a
reconhecida autoridade informa (C5@SIE&&E# 1!# p. 1" ue a proposta do design dos anos noventa
se afasta dos conceitos de forma# fun*+o e necessidades ue em geral s+o usadas para caracteri79los.
Isso colocaria o design no uadro da a*+o social. &ara o autor a reinterpreta*+o do conceito interface
na computa*+o leva ao cerne do design< a rela*+o entre usu9rio e artefato na ual a dimens+o
operacional 0 constitutiva. Consiepe opina (idem# p. 1P1" ue cada um pode chegar a ser um designer
no seu campo de a*+o. Segundo ele os ob6etos do design n+o ficam restritos apenas aos produtos
materiais e nenhuma profiss+o pode pretender ter o monop>lio dele. %ssim# por e:emplo# um analista desistema ue cria um novo procedimento para redu7ir o desvio de malas no tr9fego a0reo est9 fa7endo
design3 Do mesmo modo# fa7 design um geneticista ue obt0m um novo de novo tipo de ma*+#
resistentes a influ4ncias e:ternas.
,inte anos ap>s o surgimento de A tecnologia da tecnologia# foi publicado no Crasil Design: Do
material ao digital3 @essa obra Gui Consiepe utili7a com precau*+o o termo design. @a introdu*+o do
livro o especialista coloca a sua posi*+o ( C5@SIE&E# 1!# p. !"< K@as vers?es originais utili7ei a
1J
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palavra design como sinVnimo para pro6eto. 5 conceito design e:perimentou# durante a d0cada
passada# uma acentuada difus+o e populari7a*+o – o ue se pode considerar um fato positivo. &or outro
lado# sofreu tamb0m uma estranha limita*+o aos produtos do microambiente da casa. Desta maneira#
design 0 ho6e uma palavra mais apropriada para designar a atividade de decora*+o de interiores. @a
opini+o p=blica o conceito design – atualmente um modernismo de valor uestion9vel – vem associado
2 id0ia de caro# complicado# de curta dura*+o e individualmente rebuscado# com a promessa do glamour
instantneo. 5 teor deste livro dei:ar9 claro ue eu n+o compartilho esta interpreta*+o. %o contr9rio#
interessame recuperar uma interpreta*+o mais rigorosa do conceito design# defendendoo contra
tend4ncias de oportunisno 9gil ue descaracteri7a este termo com uma compreens+o distante do
profissionalismoN.
Dadas a e:tens+o e a comple:idade alcan*adas atualmente pelo saber humano# os eruditos t4m
demonstrado cautela e recomendado prud4ncia em rela*+o as concep*?es mais abrangentes# de car9ter totali7ante. Sobre isso# ao abordar a uest+o do design# Gui Consiepe comenta (C5@SIE&E# 1!#
p.1P"< K... E:iste o perigo de se cair na armadilha das generali7a*?es va7ias do tipo Mtudo 0 designM.
&or0m nem tudo 0 design e nem todos s+o designers. 5 termo MdesignM se refere a um potencial ao ual
cada um tem acesso e ue se manifesta na inten*+o de novas pr9ticas da vida cotidiana. $ada um pode
chegar a ser designer no seu campo de a*+o. E sempre devese indicar o campo# o ob6eto da atividade
pro6etual ( " 5s ob6etos do design n+o se limitam aos produtos materiais. Design 0 uma atividade
fundamental# com ramifica*?es capilares em todas as atividades humanas) por isso# nenhuma profiss+o
pode pretender ter o monop>lio do designN.
% amplitude alcan*ada pela divulga*+o do design # principalmente devido a falta de crit0rios com ue
cada ve7 mais a palavra tem sido aplicada# tem comprometido o sentido do termo. 'm bom e:emplo
deste desvirtuamento semntico pode ser constatado atrav0s da multiplicidade de profissionais# dos mais
distintos tipos de atividades# ue passaram tamb0m a se denominarem designers. %ssim# artes+os de fins
de semana) artefinalistas) decoradores) cabeleireiros e t0cnicos em computa*+o# entre outros# t4m se
apresentado na condi*+o de homens de design . ;al Kusurpa*+oN vem se processando 69 a algum tempo#
aproveitando o v9cuo dei:ado por uma falta de defini*+o consensual# inclusive a n8vel oficial# sobre as
compet4ncias e atribui*?es do profissional em uest+o. Gui Consiepe# ao comentar a ainda bai:a
prioridade dada pelo empresariado nacional ao design# di7 (C5@SIE&E# 1!# p.1"< K...] um duro fato<
o design no Crasil possui s> uma m8nima credibilidade profissional. ;alve7 a regulamenta*+o da
profiss+o do design# discutida durante d0cadas# evite um maior desgaste do termo KdesignerN# ue ho6e 0
uase um fato comprometedor uando usado num cart+o de visita. Design 0 ho6e uma semiprofiss+o.N.
% substitui*+o do uso da terminologia desenho industrial por simplesmente design# incorporouse ao
discurso da maioria dos profissionais# professores e estudiosos da 9rea. %contece ue o alunado e os
leigos n+o t4m recebido orienta*+o numa =nica dire*+o# at0 porue e:istem concep*?es diferentes sobre
o ue seria design e tamb0m porue desde os anos sessenta vem se tentando alcan*ar no Crasil uma
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defini*+o consensual a respeito de desenho industrial. 'ma multiplicidade de informa*?es e:tra
acad4micas 0 veiculada diariamente e em in=meras ocasi?es o design 0 associado e at0 confundido com
a propaganda# o mar+eting # a computa*+o# a arte# o artesanato e a moda# entre outras atividades. %t0 ho6e
foram catalogadas milhares de defini*?es sobre design# inclusive porue todo auele ue escreve ou
analisa o assunto sente necessidade de estabelecer seus pr>prios parmetros a respeito. 'm fato curioso#
sintom9tico# foi o $ongresso reali7ado em 1! pelo I$SID – .nternational $ouncil of /ocieties of
.ndustrial Design – haver conceituado o design de modo gen0rico e ter feito a ressalva de ue a
defini*+o do termo seria dada de acordo com o conte:to espec8fico de cada pa8s. 5utro fato curioso foi a
consulta recente reali7ada por n>s ao mesmo I$SID# via .T--T # ue revelou o fato de nesse
momento tal entidade n+o possuir uma defini*+o oficial para design e estar aberta 2 sugest?es.
&ara o leigo# cidad+o brasileiro de classe m0dia# o design assumiu uma imagem ue simboli7a o
moderno# no sentido de atual. 5 termo tem navegado atrav0s de ualidades ue s+o associadas 2informa*+o nova) a novidade) o visualmente bonito) o bom gosto) o sofisticado e o caro. 5 mar+eting # a
propaganda e a gr9fica computacional# entre outros campos de a*+o# impregnaramse de KdesignN. %
9rea automobil8stica talve7 se6a dos melhores e:emplos do status e da divulga*+o alcan*ados pela
referida palavra. ;ratarseia# antes de mais nada# de um fator de diferencia*+o interpessoal baseado no
Ksonho de consumoN.
% vida acad4mica n+o est9 enclausurada em rela*+o aos acontecimentos ue circundam a KmuralhaN do
campus universit9rio. Em 1JP o $@& patrocinou uma pesuisa reali7ada por Geraldina itter# ue
revelou (@IEEWER# 1!# p./" o fato dos docentes e discentes brasileiros na 9rea do design
encontrarem dificuldades para definirem a respectiva profiss+o. De l9 para c9 a problem9tica tem
crescido pateticamente. $omo no Crasil os cursos de gradua*+o em design s+o essencialmente cursos de
industrial design – oficialmente denominados de desenho industrial) com habilita*?es em pro6eto do
produto e programa*+o visual – a ado*+o pelas entidades de ensino do KcodinomeN design como
substituto para designa*+o do campo profissional em uest+o# s> acrescentou d=vidas# diverg4ncias e
eu8vocos para o alunado. 5 uso do mencionado termo# sem a especifica*+o sobre ao ue refere# tem
gerado desprodutos no processo de ensino. % pretendida fle:ibili7a*+o na forma e atua*+o profissionais#
em fun*+o da dinmica dos dias em curso# talve7 n+o se6a um argumento suficiente ou convincente para
aceitarse o design como uma atividade indefin8vel.
/O
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