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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
1
ARTIGO PDE 2011: UTILIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DE OBJETOS DE
APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA, ATRAVÉS DO PROJETO
RIVED
Marta Aparecida Bergamo1
Marcelo Maia Cirino2
RESUMO
O presente trabalho propôs a utilização das tecnologias de informação para
desenvolver um estudo sobre os objetos de aprendizagem (OAs)
disponibilizados pelo RIVED (Rede Interativa Virtual de Educação), como
ferramenta de apoio ao ensino de Química no nível médio. Nossa pesquisa
utilizou os Objetos de Aprendizagem que tratam do conteúdo de radioatividade
e constatou, através dos relatos e entrevistas com os alunos, que a abordagem
didática diferenciada propiciou a apropriação de conceitos abstratos e de difícil
modelização, tornando o aprendizado mais interessante e atraente para o
aluno.
PALAVRAS-CHAVE: Tecnologias de informação; Objetos de aprendizagem;
Ensino de Química
__________________________ 1 Professora de Química, Colégio Estadual Vera Cruz de Mandaguari – PR
2 Docente do Departamento de Química , Universidade Estadual de Maringá (UEM) – PR
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1 INTRODUÇÃO
A partir da nossa vivência em sala de aula, aliada à busca por
inovações na prática pedagógica, escolhemos investigar as possibilidades de
utilização das tecnologias de informação (TICs) como novas ferramentas de
apoio ao ensino de Química, uma vez que, via de regra, os alunos se
interessam por informática, gostam, conhecem, sabem manipular de maneira
natural e espontânea a maioria dos aparelhos eletrônicos disponíveis
notadamente o computador.
É fato que a informática está presente na vida das pessoas, quer seja
em casa, nas agências bancárias, nas lojas, consultórios, fornecimento de
água e luz, supermercados, contagem de votos de uma eleição, empresas,
entre outras. Sua rápida popularização causou mudanças de hábitos,
principalmente nos jovens, que foram seduzidos por essas tecnologias,
demonstrando interesse e agilidade em sua utilização.
Após as novas ferramentas de comunicação atingirem inúmeros
setores da sociedade, chega também à escola podendo contribuir
significativamente para os processos de ensino e aprendizagem, mas ainda é
um recurso pouco explorado pelos professores, mesmo quando a instituição
tem à disposição laboratório de informática equipado.
Na visão de Arco-Verde (PARANÁ, 2008, p. 6) as tecnologias
necessitam garantir aos alunos uma educação diversificada, dinâmica e
inovadora. Acreditamos nessas práticas exatamente por inovarem nossas
aulas tradicionais.
De acordo com Kenski (1999, p.38) na revista Informática Educativa a
nossa realidade escolar vem sofrendo mudanças, em tempos de internet,
softwares e outros aplicativos, não deve mais centrar apenas em giz e lousa. A
tecnologia pode colocar o aluno em contato com uma realidade presente. A
propagação do meio digital em várias áreas mostra-nos a presença e
importância de comportamentos diferenciados de aprendizagem e novas
racionalidades, novos estímulos.
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Quando se trata do ensino aprendizagem da disciplina de química,
muitas vezes não é atrativo ao aluno, mas aliando-se a informática à química
poderemos despertar um maior interesse nas aulas.
Unir informática à química torna-se uma ferramenta que nos ajudará a
levar o aluno a perceber a importância do conhecimento químico no seu
cotidiano e favorecer as trocas e interações, possibilitando uma compreensão
mais efetiva dos conteúdos. Trabalhando nesse sentido, o Ministério da
Educação disponibiliza, online, objetos de aprendizagem produzidos pelo
RIVED - Rede Interativa Virtual de Educação. Os objetos de aprendizagem são
atividades multimídia, interativas, na forma de animações e simulações, que
podem ser baixadas e utilizadas em aula.
A presente pesquisa pretende utilizar e avaliar objetos de
aprendizagem do RIVED como ferramentas capazes de promover
aprendizagem significativa em sala de aula.
O objeto de aprendizagem trabalhado e analisado trata da
radioatividade, um assunto vasto, complexo, polêmico, com informações
dispersas e vagas, apresentadas aos alunos, resultando na inviabilidade de
uma aula prática.
Descrição do projeto RIVED e justificativa da escolha dos referenciais
teóricos
As novas tecnologias de comunicação estão engajadas em inúmeros
setores da sociedade, facilitando, organizando, agilizando mecanismos
essenciais para o desempenho de um bom trabalho. No livro Novas
Tecnologias e Mediação Pedagógica temos:
“Cada vez mais, poderoso em recursos, velocidade, programas e comunicação, o computador nos permite pesquisar, simular situações, testar conhecimentos específicos, descobrir novos conceitos, lugares e idéias ”.( Moran, 2000, p.44)
Buscando ferramentas para auxiliar o ensino e aprendizagem
presencial ou a distância, destacamos a opção pelos objetos de aprendizagem
elaborados pelo RIVED.
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O RIVED é um programa da Secretaria de Educação a Distância –
SEED, que tem por objetivo a produção de conteúdos pedagógicos digitais, na
forma de objetos de aprendizagem. Esses conteúdos são relevantes por
instigar o raciocínio e o pensamento crítico dos estudantes, unindo o potencial
da informática às novas abordagens pedagógicas (BRASIL, 2005).
O projeto surgiu em comum acordo entre Brasil e Estados Unidos, em
1997, considerando o desenvolvimento da tecnologia para uso pedagógico. A
participação do Brasil deu-se em 1999, através da parceria entre Secretaria de
Ensino Médio e Tecnologia (hoje SEB) e a Secretaria de Educação a Distância
(SEED). Participaram do projeto Brasil, Peru e Venezuela, sendo que a equipe
do RIVED, na SEED, até 2003, foi responsável pela produção de 120 objetos
de aprendizagem na área de Biologia, Química, Física e Matemática para o
ensino médio.
A partir de 2004 a SEED repassou o processo de produção de objetos
de aprendizagem para as universidades, cujo nome passou a ser Fábrica
Virtual. Com a expansão do RIVED para as universidades, previu-se também a
produção de conteúdos nas outras áreas de conhecimento e também para o
ensino fundamental, profissionalizante e para atendimento às necessidades
especiais. Com esta nova política, o RIVED - Rede Internacional Virtual de
Educação passou a se chamar RIVED - Rede Interativa Virtual de Educação.
Na literatura há várias definições para Objeto de Aprendizagem, como
menciona Leffa (2006, p. 5):
a) Qualquer entidade, digital ou não-digital, que pode ser reusada na aprendizagem, educação ou treinamento (IEEE: Institute of Electrical and Electronics Engineers); b) Recurso digital modular, individualmente identificado e catalogado, que pode ser usado para apoiar a aprendizagem (National Learning Infrastructure Initiative); c) Qualquer recurso digital que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem (WILEY, 2000); d) Documento pedagógico (ARIADNE: Alliance of remote instructional Authoring and Distribution Network for Europe); e) Componente de software educacioan (ESCOT: Educactional Softwuare Components of Tomorrow); f) Material de aprendizagem online (MERLOT: Multimedia Educational Resource for Learning and On-Line teaching);
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Para o RIVED, Rede Interativa Virtual de Educação, temos que um
objeto de aprendizagem é qualquer recurso que possa ser reutilizado para dar
suporte ao aprendizado. Além disso, “...sua principal ideia é “quebrar” o
conteúdo educacional disciplinar em pequenos trechos, que podem ser
reutilizados em vários ambientes de aprendizagem. Assim na sala de aula
propomos que nossas atividades fossem interativas e simulações, uma vez que
o material que seria utilizado tornar-se-ia inviável e inacessível à prática na
sala de aula. Ainda na descrição do RIVED temos:”...Qualquer material
eletrônico que provém informações para a construção de conhecimento pode
ser considerado um objeto de aprendizagem”, ainda que essa informação seja
em forma de imagem, página HTM, animação ou simulação (BRASIL, 2005) .
A possibilidade de testar diferentes caminhos, de acompanhar a
evolução temporal das relações, causa e efeito, de visualizar conceitos de
diferentes pontos de vista, de comprovar hipóteses, faz das animações e
simulações instrumentos poderosos para despertar novas idéias, para
relacionar conceitos, para despertar a curiosidade e para resolver problemas
(CIRINO, 2008 apud REIS; FARIA, 2003). Essas atividades interativas
oferecem oportunidades de exploração de fenômenos científicos e conceitos,
muitas vezes inviáveis ou inexistentes nas escolas por questões econômicas e
de segurança, por exemplo: experiências em laboratório com substâncias
químicas tóxicas, material radioativo.
Sobre a simulação, Moran (2000, p.98) descreve:
As simulações são programas elaborados para possibilitar ao usuário a interação com situações complexas e de risco. Os programas de simulação tornam-se ponto forte do uso do computador nos meios educacionais, pois possibilitam a apresentação de fenômenos, experiências e a vivência de situações difícies ou até perigosas de maneira simulada. Esses programas oferecem cenários que se assemelham a situações concretas das mais variadas áreas do conhecimento, nas quais o usuário pode tomar decisões e comprovar logo em seguida as conseqüências da opção selecionada. Exemplo específico desse recurso são os simuladores de vôo usados em treinamento.
Os conteúdos do RIVED ficam armazenados num repositório e quando
acessados, via mecanismo de busca, vêm acompanhados de um “guia do
professor” com sugestões de uso. Cada professor tem liberdade de utilizar e
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adaptar os conteúdos sem depender de rígidos mecanismos: é possível usar o
conteúdo como um todo, apenas algumas atividades ou, ainda, apenas alguns
objetos de aprendizagem, como animações e simulações. Além dos conteúdos
produzidos pela equipe do RIVED e pelo Fábrica Virtual, também estão
publicados conteúdos premiados pelo PAPED, concurso RIVED e outros
adquiridos por meio de parcerias com instituições de ensino.
O acesso aos objetos de aprendizagem do RIVED contempla também
a indicação de vídeos veiculados pela TV Escola que complementam o
conteúdo trabalhado no objeto, enriquecendo ainda mais o processo de
aprendizagem do aluno. Os conteúdos produzidos pelo RIVED são públicos e
serão, gradativamente, licenciados pelo Creative Commons. Esses conteúdos
podem ser acessados por meio do sistema de busca - repositório on-line, que
permite visualizar, copiar e comentar os conteúdos publicados. Com a licença
Creative Commons, garantem-se os direitos autorais dos conteúdos publicados
e possibilita-se a outros copiarem e distribuírem o material, contanto que
atribuam o crédito aos autores.
2 Metodologia
O presente trabalho faz parte do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), através da Secretaria Estadual de Educação do Paraná
com os professores da rede de ensino.
O público alvo foram alunos da segunda série do Ensino Médio e
Profissional do período diurno do Colégio Estadual “Vera Cruz” Mandaguari
(PR), no segundo semestre de 2010. Buscamos, com esta pesquisa, utilizar e
avaliar objetos de aprendizagem prontos e disponibilizados pelo RIVED para o
ensino médio, na sala de aula de Química.
Dentre os Objetos de Aprendizagem (OAs) disponíveis na Rede
Interativa Virtual de Educação, foram selecionados quatro módulos que
apresentam uma metodologia de simulação/animação ao trabalhar o conteúdo
de radioatividade, tema que normalmente não propicia realização de aulas
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experimentais. Foram subdivididos em: propriedades das emissões radioativas
– cargas; propriedades das emissões radioativas – poder de penetração; usina
nuclear e tempo de meia-vida.
As atividades foram desenvolvidas durante a aula, portanto, presencial,
com acesso aos objetos de aprendizagem através do Portal do Professor do
MEC/Proinfo e disponíveis para visualização ou download na página do projeto:
http://rived.mec.gov.br e Banco internacional de objetos educacionais: ensino
médio: química: animações/simulações.
De início, foi feito com os alunos um levantamento de concepções
prévias a respeito do tema radioatividade. Alguns relatos, desse levantamento,
são destacados a seguir:
ANN: Já ouvi falar, mas não sei explicar e sei que bombas atômicas são radioativas, como a bomba que afetou as cidades do Japão Hiroshima e Nagazaki onde uma substância química presente na bomba matou milhares de pessoas e destruiu tudo o que tinha pela frente. Sobre a usina nuclear e a fonte principal que gera energia não tenho conhecimento sobre o presado assunto.
DEB: Acho que radioatividade é prejudicial à saúde, e deve ser a água a principal fonte de geração de energia nuclear.
PAB: A radioatividade está localizada nos eletrodomésticos como as microondas e bombas fortes que explodiram causaram destruição na região que ela foi explodida, Hiroshima a e Nagasaki e não sei se existe usina nuclear no Brasil.
Percebemos uma predominância, nas citações, do termo radioatividade
relacionada à bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, expressões como
destruição, perigoso, prejudicial à saúde. A existência de usina nuclear no
Brasil é desconhecida pela maioria dos alunos. A água foi citada como a
principal fonte geradora de energia nuclear.
Após pesquisa e discussão sobre o tema gerador, iniciamos o estudo
com os Objetos de Aprendizagem. Neste módulo os objetos destacaram a
radioatividade através de uma animação/simulação, representando o núcleo do
átomo e sua instabilidade.
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Figura 1 – Animação e cimulação da instabilidade atômica Fonte: Extraído de Objetos Educacionais/Química Energia Nuclear/Radioatividade
Na sequência, a tela apresenta vários usos dos radioisótopos: na
medicina, exames de diagnósticos; radioterapia como fonte de cobalto-60 na
destruição de tumores; foram apresentados e comentados outros exemplos das
aplicações da radioatividade como: o estudo do comportamento de insetos, a
preferência de certas flores pelas abelhas, na agricultura destaca o controle de
pragas, conservação e esterilização de alimentos, portanto fazendo com que o
estudante perceba que a radiação não se limita apenas a bombas atômicas.
Figura 2 – Simulação do aparelho detector de radiação no diagnóstico da tireóide Fonte: Extraído de Objetos Educacionais/Química/Energia Nuclear/Radioatividade
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Uma outra tela destaca os tipos de radiações emitidas de acordo com o
elemento químico selecionado pelo aluno (disponível na prateleira virtual),
mostrando a trajetória das partículas alfa, beta e da radiação gama através de
um diagrama, bem como as equações de desintegração e dacaimento. Este
objeto possibilitou a simulação de um experimento para verificar a trajetória, as
radiações e a natureza da carga elétrica da matéria.
Figura 3 – Simulação do experimento com o radioisótopo césio Fonte: Extraído de Objetos Educacionais/Química/Energia Nuclear/Radiotividade
Dando continuidade, as telas seguintes verificam o poder de
penetração das emissões radioativas de acordo com o radioisótopo escolhido.
Manipulando alguns itens como placa de madeira, mão humana, chapa de
chumbo, folha de papel, o aluno constatou aqueles que as emissões podem
atravessar ou ser barradas.
Figura 4 – Simulação do poder de penetração do radioisótopo césio diante dos objetos Fonte: Extraído de Objetos Educacionais/Química/Energia Nuclear/Radioatividade
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Quanto ao processo de fissão e a conversão da energia nuclear em
elétrica, o Objeto de Aprendizagem apresenta algumas situações do cotidiano,
onde normalmente se usa a energia elétrica e destaca as fontes de geração da
mesma, nas usinas hidrelétrica, termoelétrica e nuclear.
Figura 5 – Animação e simulação do funcionamento de uma usina nuclear Fonte: Extraído de Objetos Educacionais/Química/Energia Nuclear/Radiotividade
Apresenta a usina nuclear e suas funções, ao ligar, o aluno acompanha
todo o processo de funcionamento de cada parte da usina. Para complementar
é apresentada a simulação de uma reação de fissão e uma reação em cadeia.
Quando se trata da cinética das emissões radioativas , tempo de meia-
vida, o objeto oferece opções de radioisótopos. O estudante trabalha a
simulação com a quantidade em gramas ou em porcentagem, do radioisótopo
escolhido. No término, aparecerá o tempo de desintegração em dias, anos ou
séculos e a equação de desintegração. Além disso, o software plota, um gráfico
do decaimento (porcentagem em massa) em função do tempo, para que o
aluno possa identificar na curva gerada o tempo de meia-vida associado aquele
radioisótopo escolhido. Destaca ainda, um item chamado “saiba mais”, onde
pode ser complementado com pesquisa sobre o método da datação com
carbono-14.
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Figura 6 – Simulação do decaimento radioativo do Co
Fonte: Extraído de Objetos Educacionais/Química/Energia Nuclear/Radioatividade
Após a utilização, em sala de aula (laboratório de informática), dos OAs
(objetos de aprendizagem) os alunos responderam a um questionário, que foi
posteriormente analisado à luz da “análise textual discursiva”, teoria
pesquisada no livro Análise Textual Discursiva e constatamos ser “uma
metodologia de análise de dados que transita entre elementos de análise do
discurso e da análise de conteúdo” (MORAES; GALIAZZI, 2006). Ainda nesta
investigação de dados o estudo foi de caráter qualitativo, uma vez que não se
pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa;
a intenção é a compreender, reconstruir conhecimentos existentes sobre temas
investigados. Segundo estes autores:
[...] a análise textual discursiva é descrita como um processo de unitarização em que o texto é separado em unidades de significado. Estas unidades por si mesmas podem gerar um outro conjunto de unidades oriundas da interlocução empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador [...](MORAES; GALIAZZI, 2006).
Conforme estes autores, depois da unitarização, interpretar e isolar
idéias elementares de sentido sobre os temas investigados, que precisa ser
feita com intensidade e profundidade, passa-se a fazer a articulação dos
significados semelhantes num processo denominado categorização. Na
categorização são reunidas as unidades de significado semelhantes, gerando
assim categorias mais amplas de análise. A análise textual discursiva mais do
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que um conjunto de procedimentos definidos constitui metodologia aberta,
caminho para pensamento investigativo, processo de colocar-se no movimento
das verdades, participando de sua reconstrução (SANTOS, 2002). Ela pode ser
entendida como um processo de desconstrução, seguida de reconstrução, de
um conjunto de materiais linguísticos e discursivo, produzindo-se a partir daí
novos entendimentos sobre os fenômenos e discursos investigados.
Na citação de Moraes e Galiazzi apud Cirino, uma análise textual
envolve identificar e isolar enunciados dos materiais submetidos à análise,
categorizar esses enunciados e produzir textos, integrando nestes, descrição e
interpretação, e utilizando como base de sua elaboração o sistema de
categorias construído (MORAES e GALIAZZI, 2007). Desta forma, como seu
próprio nome indica, a análise textual trabalha com textos ou amostras de
discursos, e esses materiais submetidos à análise podem ter muitas e
diferentes origens: entrevistas, registros de observações, depoimentos feitos
por escrito por participantes, gravações de aulas, de discussões de grupos, de
diálogos de diferentes interlocutores. (MORAES, 2003). Independentemente de
sua origem, estes materiais são transformados em documentos escritos, para
então serem submetidos à análise. O conjunto de textos submetidos à análise
costuma ser denominado de corpus e de acordo com Moraes e Galiazzi :
Representa uma multiplicidade de vozes se manifestando nos discursos investigados. O pesquisador precisa estar consciente de que, ao examinar e analisar seu “corpus”, é influenciado por todo esse conjunto de vozes, ainda que sempre fazendo suas leituras a partir de seus próprios referencias. [...] (MORAES; GALIAZZI, 2007,p.113).
Categorizamos os registros dos alunos a partir da unitarização dos
textos em enunciados e das análises dos significados comuns, durante as
quais, inclusive, algumas delas emergiram. Isso significa que assumimos uma
atitude fenomenológica de deixar que os fenômenos se manifestem,
construindo as categorias a partir das múltiplas vozes emergentes nos textos
que representam o discurso dos alunos.
2 ANÁLISE E CATEGORIZAÇÃO
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2.1 Categorização das respostas dos alunos com relação aos conceitos
elaborados durante a interação com os módulos dos Objetos de
Aprendizagem
2.1.1 Definição de Radioatividade
Forma de energia emitida, gera energia
Vem do núcleo do átomo
Fenômeno espontâneo
2.1.2 Radioatividade é um fenômeno natural ou provocado pela ação
humana?
Natural – 70% dos alunos
Provocado – 30% dos alunos
2.1.3 Tipos de emissões, constituição e poder de penetração
Alfa – constituída de dois prótons e dois nêutrons, barrada por uma folha
de papel, baixo poder de penetração.
Beta – massa desprezível, mais penetrante que alfa, semelhante ao
elétron, partícula leve, carga negativa, barrada por placa de alumínio e
madeira.
Gama – não possui massa, alto poder de penetração, semelhante aos
raios-X, barrado por concreto e chumbo.
2.1.4 Explicação acerca das variações do número atômico e o número de
massa de um átomo após a emissão de uma partícula alfa.
Seu número de massa diminui quatro unidades e o seu número atômico
diminui duas unidades.
2.1.5 Explicação acerca das variações do número atômico e o número de
massa de um átomo após a emissão de uma partícula beta.
O número atômico aumenta de um, e o número de massa permanece
constante.
2.1.6 Informação das emissões radioativas na sequencia
79A235 → 77B
231 → 78C231 → 79D
231 → 77E227
14
Alfa, beta, beta, alfa – 100% dos alunos
2.1.7 Equações nucleares por um decaimento alfa
87Fr221 → 85Fr217
92U235 → 90U
231
2.1.8 Explicação do que é meia vida de um radionuclídeo (radioisótopo)
Tempo, desintegrar, decaimento, isótopo, massa
2.1.9 Cálculo da meia-vida de um radionuclídeo.
100% dos alunos calcularam corretamente
2.1.10 Opinião acerca das aplicações tecnológicas da radioatividade e as
consequências desse uso para o futuro da humanidade.
Medicina, graves, acidentes
1. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Verificou-se uma efetiva participação dos alunos na manipulação
dos objetos de aprendizagem, motivando-os a entender melhor os conceitos
relacionados ao conteúdo através do uso de animação/simulação visualizando
os processos radioativos envolvendo o núcleo e sua desintegração
espontânea. Ao verificar a trajetória das radiações e natureza da carga elétrica
da matéria o módulo apresenta, na forma de simulação, o caminho das
partículas emitidas, de acordo com o elemento químico escolhido pelo aluno,
levando-o a visualizar e modelar o que seria muito complicado em termos de
representação de uma perspectiva submicroscópica.
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Notamos que os alunos, em sua maioria, entenderam a variação de
massa na emissão de partículas alfa, porém a transformação em outro
elemento químico (transmutação) passou desapercebida, mesmo sendo
apontada no módulo através de sua equação de desintegração. O objeto
apresenta claramente as emissões que podem atravessar ou serem barradas,
conforme o material a que elas são expostas, facilitando a aprendizagem.
Em relação à meia vida de um radionuclídeo conseguiram relacionar a
variável tempo, a desintegração, os decaimentos, bem como calcular a meia
vida do radioisótopo. Porém, o objeto faz apenas menção à datação com
carbono-14. Os destaques, aplicações e consequências da utilização da
radioatividade, principalmente na medicina e os possíveis acidentes
relacionados às usinas nucleares. Os objetos simulam todos os pressupostos
do funcionamento de uma usina nuclear e o estudante passa a ter uma noção
geral de todo processo.
Quanto às aplicações da radioatividade, os objetos proporcionam um
vasto campo de utilização, fazendo com que o aluno perceba que seu uso não
está relacionado apenas a fatos negativos ou destrutivos.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetos de aprendizagem são simples de navegar, oferecem apoio
aos alunos e possuem instruções claras de uso (tutoriais). Apresentam um
material de apoio para o professor, composto por um guia e um tutorial. Faz
uma introdução teórica do conteúdo, objetivos, pré-requisitos básicos,
estimativa de duração da atividade e questões para discussão, atividades pré e
pós-utilização dos OAs, discussões e avaliação, além de dicas e de referências
bibliográficas.
Pudemos constatar que a visualização de conceitos abstratos e de
difícil modelização tornou-se mais fácil para os alunos. Entendemos que os
Objetos de Aprendizagem utilizados podem ainda ser aperfeiçoados e
desenvolvidos no sentido de contribuírem ainda mais com a aprendizagem
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significativa dos estudantes de Química do Ensino Médio. A aplicação dos
mesmos permitiu a utilização de estratégias diferenciadas de ensino,
despertando, com o uso da tecnologia, uma efetiva participação e motivação
dos alunos e também do professor.
3. REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação (MEC), SEED. Projeto RIVED. 2005. Disponível em: <http://rived.proinfo.mec.gov.br/projeto.htm> Acesso em 20 out. 2009. BRASIL. Ministério da educação. Banco internacional de objetos educacionais: ensino médio: química: animações/simulações. Brasília: 2007
CIRINO, M. M. A intermediação da noção de probabilidade na construção de conceitos relacionados à cinética química no Ensino Médio. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Bauru, 2007. _______. Objetos de Aprendizagem como ferramenta instrucional para professores de química no ensino médio. In: ENCONTO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS - ENPEC, 7., 2009. Florianópolis, Atas... ABRAPEC, 2009, p. 03, CD-ROM.
KENSKI, V. M. Novas tecnologias, o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente. Revista Informática Educativa, Uniandes-Lidie, v. 12, n. 01,1999. Disponível em: <http://www.colombiaprende.edu.co/html> Acesso em: 15 mar. 2010. LEFFA, V. J. Nem tudo que balança cai: objetos de aprendizagem no ensino de línguas. Polifonia. Cuiabá, v.12, n.2, 2006. p.15-45. Disponível em: <http://www.leffa.pro.br/trabalhos/obj_aprendizagem.pdf>. Acesso em: 10 out. 2009. MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise textual discursiva. Ijuí: Unijuí, 2007. MORAES, R.; GALIAZZI, M. C.Revista Ciência & Educação, v.12,n. 1,2006. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v12n1/08.pdf._ Acesso em: 15 mar. 2010.
MORAN, J.M.; MASETTO, M.T.; BEHRENS, M.A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
17
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Médio. Diretrizes curriculares da rede pública de educação básica do Estado do Paraná. Química. Curitiba: SEED/DEM, 2008. REIS, C. P. F.; FARIA, C. O. Uma apresentação do RIVED - Rede Internacional
de Educação, In: CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA - XI CIAEM, mai. 2003.
SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 2002.
______. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Portal Dia a dia Educação. Disponível em:
4. ANEXO
Questionário aplicado aos alunos
01) Defina “radioatividade”.
02) Radioatividade é um fenômeno natural ou provocado pela ação humana. Explique.
03) Que tipos de emissões, normalmente, estão associadas aos fenômenos
radiativos?
04) De que são constituídas essas emissões? Compare o poder de penetração de
cada uma delas.
05) Explique como são afetados o número atômico e o número de massa de uma
átomo após a emissão de uma partícula alfa.
06) Explique como são afetados o número atômico e o número de massa de uma
átomo após a emissão de uma partícula beta.
07) Por que, ao atravessarem um campo eletromagnético, partículas alfa são menos
defletidas do que partículas beta?
08) Dada a seqüência de decaimento abaixo, informe quais radiações foram emitidas
em cada passagem:
79A235 → 77B
231 → 78C231 → 79D
231 → 77E227
09) Escreva as equações nucleares por um decaimento alfa em cada caso: a) 87Fr221 b) 92U
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10) Explique o que é “meia-vida” de um radionuclídeo (radioisótopo).
11) Um radionuclídeo que apresenta massa igual 12,0 g, teve sua massa reduzida
para 0,75 g em 22 horas. Calcule a meia-vida desse radionuclídeo.
12) Um dos radioisótopos utilizados na medicina é o potássio-42 (19K42), que
apresenta uma meia-vida de 12,5 horas. Partindo de 15,4 g, que massa restará desse
radioisótopo após 100 horas?
13) Qual sua opinião acerca das aplicações tecnológicas da radioatividade e as
conseqüências desse uso para o futuro da humanidade.