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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
AS TEORIAS DE TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM, APLICADAS AO ENSINO DE ESPORTES COLETIVOS: ASPECTOS TÁTICOS.
MIRANDA, Clediomar 1
MARTINS, Flávia Angela Servat 2
RESUMO Verificar se o ensino pautado pelas teorias de transferência de aprendizagem e praxiologia motriz possibilita aos alunos do ensino médio compreenderem a similaridade das táticas empregadas nos jogos de futsal e basquetebol. As teorias de transferência de aprendizagem tiveram o embasamento nos estudos de Bayer e Magill e a praxiologia motriz teve sua âncora em Parlebás. A elaboração da proposta de trabalho priorizou uma modalidade com grande aceitação no local de intervenção, o futsal, e uma com pouca aceitação, o basquetebol. Aplicou-se então 16 aulas a alunos de uma escola de campo, onde as intervenções iniciaram pelo sistema defensivo do futsal e na sequencia estes conceitos serviram de base para o trabalho do basquetebol. A metodologia empregada evidenciou a transferência de aprendizagem, através de questionário estruturado e relato dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Esportes coletivos. Praxiologia. Transferência de aprendizagem.
INTRODUÇÃO
A tentativa de aproveitar o conhecimento já adquirido como base para
novas aprendizagens é fruto de estudos há muito tempo, porém na área da
educação física este têm se pautado na educação motora. As aprendizagens de
novos gestos podem sofrer influência daqueles já aprendidos, neste caso, podendo
facilitar ou mesmo atrapalhar a nova tarefa, transferência positiva e transferência
negativa (MAGILL, 2000).
Aproveitar o conhecimento tático, já estruturado nas modalidades
esportivas coletivas com bola e utilizar os princípios de uma modalidade em outra,
foram as razões que motivaram esta pesquisa. Facilitar a compreensão dos esportes
1 Autor: Professor do Quadro Próprio do Magistério do Estado do Paraná, possui especialização na área do
Treinamento Desportivo e Participante do Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE, da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná. 2 Orientadora: Professora colaboradora do curso de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste –
UNICENTRO. Especialista em Educação Inclusiva.
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coletivos, proporcionando a aprendizagem através das estruturas e lógicas das
atividades, entendendo que as principais diferenças estão na forma de participação,
mas a lógica interna é muito semelhante nos esportes coletivos. Isto facilita tanto a
aprendizagem da atividade quanto a formação crítica quanto aos jogos e esportes.
Para angariar elementos que permitam uma proposta de transferência
de aprendizagem de tática esportiva, busca-se entender os estudos de Magill, Bayer
e Parlebás, articulando com os conteúdos da Educação Física Escolar.
Bracht (1997) aponta que a educação física trata não somente de um
saber fazer corporal, mas também um saber sobre este saber corporal. Entre as
diferentes manifestações da cultura corporal, propostas pelas DCE’s (2009) de
educação física do Estado do Paraná, estão os esportes e a recomendação de não
negar o conhecimento técnico tático. As utilizações das teorias de transferência de
aprendizagem contribuem para lançar diferentes olhares sobre os saberes das
manifestações da cultura corporal, que poderão trazer contribuições, agregar
conhecimento e possibilidades de intervenções, com e sobre, estes saberes.
Com o intuito de melhorar a relação entre os conteúdos táticos
propostos e apresentar uma lógica interna dos esportes coletivos, utilizou-se as
modalidades de futsal e basquetebol para o desenvolvimento desta pesquisa. Foram
utilizadas algumas propostas descritas por Bayer (1986), onde se deve partir de uma
análise dos diferentes elementos que compõe estas modalidades e que apresentam
interesses para o desenvolvimento do jogo. Os elementos podem ser materiais
como a bola, a quadra, as determinações de espaços predeterminados para
diferentes participantes do jogo, os espaços comuns e as balizas de pontuação. Não
podemos esquecer de que juntamente com o objetivo do jogo, estes elementos irão
reger as estratégias que se desenvolverão para obter êxito.
Para Sánchez (1999), uma das razões que mantém o interesse da
criança na prática de um esporte é o fato de se divertir-se e sentir-se bem. As ações
devem ser dinâmicas e proporcionar motivações em si mesmas. Alguém com maior
facilidade na compreensão e resolução dos problemas que se apresentam em jogo
terá maiores possibilidades de êxito. Êxito para a criança em idade escolar é
compreender, participar, não sentir-se excluída de uma tarefa.
Verificar se o ensino pautado pelas teorias de transferência de
aprendizagem e praxiologia motriz possibilita aos alunos do ensino médio
compreenderem a similaridade das táticas empregadas nos jogos de futsal e
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basquetebol. Este foi o objetivo principal deste estudo. Para tanto optou-se por uma
reflexão sobre a transferência de aprendizagem proposta por Magill (2000), os
estudos de Bayer (1986) que enfocam a transferência de aprendizagem ligadas a
práticas esportivas e também faz-se uma reflexão sobre a Praxiologia Motriz. Estes
estudos procuram dar subsídio para uma proposta de transferência de
aprendizagem não do gesto motor, mas das aplicações táticas em esportes
coletivos, tendo por base as semelhanças na estrutura dos jogos.
Paralelamente a reflexão teórica, elaborou-se uma proposta de ação
para alunos do ensino médio de uma escola de campo, do município de Pato
Branco-PR. O grupo amostral foi composto por 13 alunos e os mesmos já possuíam
conhecimento técnico das modalidades de futsal e basquetebol. Após a
implementação da proposta com conteúdos táticos, aplicou-se um questionário para
verificação de resultados. O questionário, trabalhou com a percepção dos alunos em
relação aos conteúdos e métodos empregados. O mesmo foi tabulado e os dados
são apresentados na conclusão deste.
A utilização do esporte enquanto conteúdo da educação física escolar
tem o aval das DCE’s, mas mais importante é que as diferentes formas de trabalhar
com ele lhe permitem enriquecer o rol de conteúdos da educação física.
“Uma das questões que com maior força parecem ainda afligir aqueles que se relacionam com o esporte diz respeito aos debates que, nas últimas décadas, se ocuparam em condená-lo e defendê-lo. O esporte, esse fenômeno social tão marcante do século passado, e que continuará sendo, ao que parece, uma das expressões deste nosso tempo, foi e continua sendo, alvo de reflexão, análise e questionamento, tanto no campo mais restrito da educação física/ciências do esporte, quanto, em âmbito mais geral, nas ciências humanas e sociais (VAZ, 2009, p. 135).
A TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM
Diferentes olhares sobre um conteúdo ou conjunto de conteúdos,
contribuem para melhorar as formas de apresentação e discussão dos mesmos.
Conhecer as teorias de transferência da aprendizagem não caracteriza a intenção
de substituir, concorrer e tampouco se constitui em uma nova abordagem
metodológica da educação física (RIBAS, 2005). Conhecer sobre a teoria da
transferência de aprendizagem torna-se um importante instrumento para a
compreensão das manifestações culturais na forma de jogos e esportes, a partir de
sua lógica interna. Parlebás, (2001, apud, RIBAS, 2005), afirma que é possível
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através da transferência de aprendizagem conhecer o mundo dos esportes e de
outras práticas motrizes, isto facilita a criação de instrumentos para a compreensão
destas práticas.
Para Magill (2000) a transferência pode ser positiva, negativa ou zero.
A transferência zero é quando ela não ocorre. A negativa é quando uma tarefa
dificulta a aprendizagem de outra. A transferência positiva é a que nos interessa
neste estudo. Ela ocorre quando a experiência de uma atividade realizada propicia
um melhor desempenho em um novo contexto ou em uma nova tarefa.
Na mesma linha de pensamento, Bayer (1986), caracteriza a
transferência de aprendizagem como uma alteração em um processo de
aprendizagem, podendo esta ser influenciada positiva ou negativamente por outro
conhecimento já adquirido. A transferência Proativa ocorre quando a aprendizagem
anterior influencia ou modifica a aprendizagem posterior, e a transferência retroativa
ocorre quando a aprendizagem atual provoca alterações em comportamentos
adquiridos anteriormente.
A vida é repleta de situações onde se percebe a transferência de
aprendizagem, tanto a proativa quanto retroativa. O que diferencia os
acontecimentos cotidianos do ambiente escolar é a forma com que estes são
planejados. Na escola não podemos esperar que as aprendizagens ocorram ao
acaso, é necessário planejar conteúdos, metodologias, estratégias de ensinagem,
que facilitem a tarefa de professores e alunos.
As formas de apresentação dos conteúdos de educação física escolar
aparecem normalmente de forma isolada, ou seja, ao trabalhar uma forma de
manifestação da cultura corporal, como o futsal e o basquete, estes não são vistos
como parte de um grupo de atividades que possuem a mesma lógica interna de
desenvolvimento.
Ao trabalhar estas modalidades sob a luz das teorias de transferência
de aprendizagem não estamos negando a historicidade nem as especificações de
cada manifestação, mas estamos otimizando o entendimento destas, e permitindo
melhores condições de compreensão, análise e comparação entre as mesmas,
facilitando o desenvolvimento específico de cada uma delas.
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A TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM SEGUNDO MAGILL
Magill (2000) ao referir-se as questões da transferência de
aprendizagem, trata-a especificamente como aplicável a uma habilidade, ou seja,
um gesto motor (saque no voleibol) ou uma seqüência de gestos que caracterizam o
desempenho de uma ação mais complexa (dirigir um carro).
A aprendizagem de tarefas ou habilidades que envolvem o dia-a-dia ou
mesmo habilidades esportivas, “envolvem um importante conceito de aprendizagem
que conhecido como transferência de aprendizagem” (id, p.166). Por isto, o
conhecimento deste conceito é enriquecedor para quem trabalha com a
aprendizagem de habilidades motoras.
A experiência é um dos pontos fundamentais desta teoria, tendo em
vista que o objetivo é desenvolver a capacidade de transferir a utilização de uma
habilidade aprendida em um ambiente para outro, ou elementos de uma ação para
outra.
Segundo Magill (2000) podemos definir a transferência de
aprendizagem, como a influência de experiências anteriores para uma nova
habilidade. Assim sendo podemos dizer que se esta experiência ajuda no
desempenho de uma nova tarefa está ocorrendo uma transferência positiva.
Exemplo: Ao receber um passe com uma bola de basquete, segurá-la e depois fazer
a experiência com uma bola de handebol. Ora, ambas as ações são de receber a
bola. Embora o objeto tenha características diferentes parece tranquilo compreender
que a ação anterior facilitou o aprendizado da segunda ação.
Quando uma experiência anterior atrapalha a aprendizagem de uma
nova experiência, considera-se que a transferência é negativa, ou seja, ela interfere
de forma a prejudicar a nova habilidade. É importante reconhecer o que está
atrapalhando, para poder orientar e corrigir o que está causando a interferência.
Exemplo: A cobrança de lateral em uma partida de futebol. Este é um gesto em que
se utiliza da força com ambas as mãos acima da cabeça e que existe grande flexão
do cotovelo, levando a bola para trás da cabeça do executante da ação. Se alguém
que já aprendeu a cobrar lateral for aprender o passe alto no basquetebol é provável
que também faça a flexão do cotovelo, gesto condenável para execução do passe
alto. Neste caso houve transferência negativa, pois a ação anterior prejudicou a
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aprendizagem da posterior. É importante lembrar que se identificamos o problema
podemos resolvê-lo com mais facilidade.
Ainda existe o que se considera transferência zero ou nula, que é
simplesmente quando não ocorre nenhuma influencia entre as habilidades
aprendidas. Sem dúvida este é o caso da maioria absoluta das nossas
aprendizagens, e talvez por isto não estejamos acostumados a verificar quando uma
habilidade influencia na aprendizagem de outra. Exemplo de transferência nula:
Aprender a chutar uma bola e a arremessar no basquetebol ou rebater com uma
raquete de tênis-de-mesa.
Para entender melhor a transferência da aprendizagem é preciso
buscar a luz da teoria como ela se processa.
A abordagem mais tradicional que explica a ocorrência da transferência positiva afirma, que a transferência é devida ás semelhanças entre os componente de duas situações de habilidades ou de desempenho. De acordo com esse ponto de vista, quanto mais semelhantes forem os componentes de duas situações de habilidade ou de desempenho, maior será a quantidade de transferência positiva entre elas. (MAGILL, p. 172, 2000)
O sequenciamento de habilidades, das mais simples para as mais
complexas e a identificação de habilidades básicas são fundamentais para o melhor
aproveitamento da transferência positiva. Gentile (1987), propôs uma taxonomia
para habilidades motoras, considerando a função da ação e o contexto ambiental.
Esta taxonomia inicialmente se propunha a auxiliar nos trabalhos de fisioterapia,
mas também serve para pensarmos a aprendizagem nas aulas de educação física
ou iniciação esportiva.
Com relação ao contexto ambiental atribui-se quatro situações: a) com
condição reguladora estacionária e sem variabilidade intertentativas. Caminhar ou
correr em um campo ou pista, não oferece diferença no ambiente nem há variação
obrigatória entre os passos; b) com condição reguladora estacionária e com
variabilidade intertentativas. Caminhar ou correr em um campo ou pista, onde varias
pessoas deslocam-se em diferentes direções. Neste casso o ambiente continua
estacionário, mas a cada encontro existe a necessidade de mudança nos passos
para ajustar-se a situação, por isto, variação intertentativas; c) com condição
reguladora em movimento e sem variabilidade intertentativas. O espaço/ambiente da
ação está em movimento. Subir uma escada rolante, ficar em pé no ônibus, etc; d)
com condição reguladora em movimento e com variabilidade intertentativas. Surfar é
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um bom exemplo, por que a prancha está em movimento e o atleta também precisa
adaptar-se a cada momento.
Todas estas variações do contexto ambiental são aplicadas em função
da ação, que também prevê quatro situações, sendo que cada uma delas é
adicionada a cada uma das variações do contexto ambiental, resultando em
dezesseis possibilidades.
Esta taxionomia, nos auxilia a pensar situações de aprofundamento
das questões motoras, principalmente para alunos do ensino fundamental. Aumentar
o grau de dificuldade de forma coerente faz com que o aluno tenha melhores
condições de desenvolver seu vocabulário motor.
As variações da função da ação estão distribuídas em: a) não
transporte corporal e não manipulação de objeto; b) não transporte corporal e
manipulação de objeto; c) transporte corporal e não manipulação de objeto; d)
transporte corporal e manipulação de objeto.
Entre as indicações de Magill, encontramos a de que os métodos de
instrução ou “ensinagem“, são fundamentais para que o processo de transferência
de aprendizagem aconteça. Esta ação de ensinagem pode ser a execução de uma
tarefa com algum grau de simplificação, parte da tarefa a ser executada ou ainda, a
retirada de elementos perigosos da ação. Estas medidas pressupõem que o
aprendiz execute uma ação (parte de uma ação maior) que será mais tarde
completada, e esperasse que a aprendizagem parcial seja de alguma forma
transferida para a ação ou habilidade completa.
Magill aponta que precisamos entender melhor o processo de
transferência positiva, assim poderemos compreender o que uma pessoa aprende e
que lhe será útil para melhorar o desempenho em outra tarefa. Ainda há dúvidas se
ela ocorre melhor pela semelhança de componentes das habilidades e do contexto
(abordagem mais tradicional) ou pelas semelhanças das solicitações de
processamento da aprendizagem. Esta última hipótese não refuta a importância das
semelhanças entre as habilidades, mas sustenta que somente isto não basta, é
necessário haver semelhança entre os processos de aprendizagem das duas
tarefas.
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A TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM SEGUNDO BAYER
Bayer (1986) descreve três teorias de transferência de aprendizagem:
Teoria associacionista – todas as tentativas no campo prático partem
de uma hipótese fundamental: os elementos idênticos são transferidos de um
exercício a outro. Isto implica em dizer que a transferência ocorre presença e no
interior de situações similares.
Teoria globalista – esta transferência se baseia na compreensão dos
princípios que regem a tarefa. As situações problemas devem ser apresentadas de
formas diversificadas de forma que o sujeito possa viver situações diferenciadas e o
possibilitem a resolver problemas em situações similares.
Teoria fenômeno-estrutural – esta teoria parece uma ampliação, uma
continuidade da teoria globalista. A aprendizagem será melhor se o sujeito puder
explicar e conceituar os princípios. É a capacidade ativa de utilizar experiências
anteriores e descobrir princípios idênticos e que se aplicam a tarefas diferentes.
Se a transferência existe a nível de aprendizagem, só pode ser em uma ótica fenômeno-estrutural; a aprendizagem facilita quando um jogador percebe, em uma estrutura de jogo, uma identidade com uma estrutura já conhecida e que a reconhece nele mesmo e no outro jogo desportivo coletivo. Se deverá portanto, por parte do educador, propor estruturas semelhantes que existem em todos os jogos desportivos coletivos, para que o jogador, as compreenda e delas se aproprie. Ter a experiência de uma estrutura não é receber-la passivamente, é vivê-la, assumi-la, encontrar nela o sentido existente. (BAYER, p. 32, 1986)
Talvez a teoria fenômeno-estrutural seja a teoria de transferência de
aprendizagem mais coerente a ser aplicada aos aspectos táticos dos esportes
coletivos, especificamente no caso da transferência entre o futsal e o basquetebol. A
antiga tentativa de dar autonomia ao aluno, ensinando-o a aprender a aprender,
talvez possa ser usada como elemento comparativo para o que esperamos a nível
de uma transferência de aprendizagem, para as situações de tática esportiva.
A teoria de transferência fenômeno-estrutural é inicialmente
demonstrada por Bayer, em um exemplo de jogadas da equipe de Handebol
Feminino da França. Neste caso a transferência ocorre entre as jogadas que a
equipe treina, portanto. tática dentro do mesmo esporte. O Exemplo é o de treinar
uma jogada em uma das alas, para que exista deslocamento do ala (o que está ao
fundo da quadra) para receber a bola em uma posição próxima da área, enquanto
um dos centrais também faz um deslocamento para um dos lados e para frente,
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proporcionando mais uma opção de passe, e ainda, um dos alas-armadores avance
como uma terceira opção de assistência. Neste caso, independente dos demais
detalhes da jogada temos três atletas que se movimentam para buscar uma posição
de finalização e três que tem a função de preparar e servir este ataque.
Vejamos os elementos comuns, e que devem ser objetivo de todos os
atletas para o bom andamento da aprendizagem desta jogada:
- facilitar a atividade do jogador permitindo frequentemente que se
antecipe ao adversário;
- não parar em nenhum momento, assim se pode a todo o momento
escolher entre as possibilidades que se apresentam a que tem melhores
possibilidades de êxito;
- facilitar para os companheiros a aprendizagem e execução das
circulações existentes nas jogadas de estrutura idêntica;
- criar um jogo mais dinâmico ao manter-se em movimento;
Observa-se que Bayer aponta como elementos comuns, situações de
espaço e tempo, que envolvem tanto a área de jogo, como companheiros,
adversários e ainda o objeto do jogo (a bola). Neste exemplo não há uma relação
com os gestos técnicos/habilidades, o que caracteriza o estudo da transferência de
aprendizagem em situações táticas de modalidades coletivas, podendo este ocorrer
em uma mesma modalidade ou entre modalidades que apresentem elementos
comuns.
O mesmo autor propõe uma análise da estrutura dos desportos
coletivos, onde inicialmente aponta que na história dos jogos, independente do ritual
que se atribuía o mesmo e em qualquer civilização e época, todos apresentam
denominadores comuns, inclusive os jogos coletivos modernos.
Pode-se identificar como pontos de convergência entre os jogos:
- Um objeto esférico (bola), que em alguns esportes foi modificado para
oval ou um disco. Este objeto deve ser lançado com partes do corpo ou instrumentos
especificamente produzidos para este fim;
- Existe um espaço demarcado, de diferentes tamanhos, e no seu
interior se desenvolve o jogo e limita-se a ação dos participantes diretos;
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- Um local de pontuação que deve ser atacado por uma equipe e
defendido por outra. Esta meta pode constituir-se de diferentes formas e tamanhos,
mas, atende ao mesmo fim (pontuar);
- Todo jogo coletivo conta com companheiros que contribuem para o
avanço da “bola” e oponentes que procuram dificultar esta tarefa;
- A riqueza de gestos e estratégias para pontuar tem um fim específico.
Pontuar mais que seu adversário, portanto, vencê-lo; e
- Uma série de regras, as quais se deve respeitar ou cumprir as penas
pré-determinadas. As regras também permitem a clara diferenciação entre uma
modalidade e outra.
É fácil perceber que existem elementos em comum e que podem ser
alvo da transferência de aprendizagem, dependendo da ação pedagógica que se
adota.
Quanto a análise funcional dos esportes coletivos, também existem
princípios comuns, com algumas variações como o caso do voleibol. Estes princípios
formam a base para o conhecimento e prática dos esportes. Duas situações
constituem a base para a orientação da equipe: se a equipe está com a bola ou não.
Isto define seus objetivos imediatos. Que atitudes tomar. Como se posicionar. Estou
no ataque ou na defesa? Parece simples, mas esta condição define que tipo de
relação terei com relação ao objeto de jogo (bola), com meus companheiros e com
meus adversários.
A capacidade de cooperação e a tomada de decisão são fundamentais
em um esporte coletivo, para isto a comunicação é elemento fundamental entre os
companheiros. Ainda que a comunicação possa se estabelecer de diversas formas
ela orienta as atitudes a serem tomadas em qualquer esporte. O não uso da
comunicação pode resultar em um jogo com vários participantes, mas não
necessariamente coletivo, pois pode não haver cooperação.
Percebemos que no esporte a comunicação não se restringe a
comunicação oral, pois observarmos pessoas de diferentes nacionalidades (e que
não utilizam uma língua comum) participando de uma mesma equipe. Esta é mais
uma riqueza dos esportes, pois explora a linguagem corporal na absoluta maioria
das formas de jogo.
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Para utilizarmos a transferência de aprendizagem como fator
diferencial no trabalho de ensinagem, não se pode deixar que ela aconteça ao
acaso, mas é necessário tê-la como uma questão de ação pedagógica, intencional e
planejada, visando aproveitar os conhecimentos já interiorizados pelos educandos
para favorecer a aprendizagem da nova tarefa.
A PRAXIOLOGIA MOTRIZ PROPOSTA POR PARLEBÁS, COMO FACILITADORA PARA A TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM
Para entender a importância do estudo da praxiologia motriz com vistas
a sua utilização no trabalho escolar recorremos ao que dizem Moreno e Jiménez
(2000, p. 1)
Dentre os resultados alcançados até hoje na elaboração do conhecimento no âmbito da praxiologia motriz, podemos destacar a delimitação de seu objeto de estudo, a ação motora, definida como a manifestação da pessoa que toma sentido de um contexto a partir de um conjunto organizado de condições que definem objetivos motores e a delimitação de seu campo de estudo como o conjunto de situações motoras, entende-se por situação motora aquela estrutura de dados que surgem da realização de uma tarefa motora. Consideramos situações motoras, os jogos motores, a expressão corporal, os esportes e aquelas atividades ergonômicas que implicam motricidade aparente ou que se originam a partir de objetivos motores.
Outro aspecto relevante do aporte da praxiologia motriz ao conhecimento científico são as classificações das situações motoras partindo de seus objetivos motores e das condições que as envolvem.
A praxiologia motriz se ocupa com o estudo de ações motoras, e esta
juntamente com a historicidade que lhe é própria em cada manifestação é alvo de
estudo da educação física escolar. Não podemos descuidar das manifestações da
cultura corporal, mas precisamos entender melhor as ações motoras que estas
manifestações se utilizam.
Conhecendo diferentes olhares (classificações, estudos,
categorizações) sobre os esportes coletivos, como o futsal e o basquete, poderemos
identificar melhor, as semelhanças entre os mesmos e assim poder utilizar-se melhor
destes elementos através da transferência de aprendizagem.
Parlebas (1987), aponta que a educação física francesa está em crise,
e levanta algumas questões como o assombroso crescimento das técnicas
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esportivas e do elevado número de novas práticas que são anualmente agregados
as atividades físicas. Frente a isto a educação física se fragmenta e perde unidade.
A criação de campos de intervenção bem definidos, como: escolar,
esporte competição, esporte lazer/recreação e esportes para pessoas com
necessidades especiais, faz com estes setores muitas vezes entrem em conflito
agravando ainda mais a crise existente. Este cenário descrito como francês é
semelhante ao que temos no Brasil.
A proposta de uma educação física que possibilite intervenção de
forma geral pede uma definição de objeto de estudo, que passa necessariamente
pela ação motora. A educação física é naturalmente a única ciência que estuda e
pratica atividades em âmbito motor, de forma preventiva e educativa, auxiliando na
formação do sujeito (a fisioterapia faz reeducação).
Adotando uma ciência da ação motora, procura-se critérios que
conferem lógica interna as práticas motoras. Três critérios parecem interessantes:
1º - A relação do praticante com o meio físico. Neste primeiro critério
observa-se se o espaço é padronizado, como no atletismo, na ginástica, na natação,
etc. Neste caso a ação motora se orienta por um automatismo repetido
cuidadosamente nos treinamentos em busca da perfeição. Isto permite a cultura do
recorde, que induz a uma idéia de progressão.
O segundo e terceiro critérios tem por base as relações estabelecidas
entre os praticantes da ação.
2º – Diz respeito a interação motora de cooperação, que ocorre entre
os companheiros de uma equipe. Podendo esta equipe ter ou não adversários.
3º – Neste, a interação motora é de oposição, onde se procura interferir
negativamente na ação do oponente ou procura-se ludibriá-lo.
Em ambos os casos (2º e 3º) a interação tem a mesma origem. A
relação entre os praticantes, e faz-se necessário compreende-la bem, pois elas têm
finalidades diferentes. Estas duas categorias de interação entre os participantes
induzem a uma primeira e grande classificação de atividades.
a) práticas sem interação motora. São as práticas executadas de maneira
solitária, sem interagir com outros. É o caso dos saltos de trampolim,
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algumas provas de ginástica, saltos e arremessos no atletismo. Podemos
dizer que estas práticas pertencem a uma classe chamada de
psicomotora, onde a concentração e mentalização da prova são
fundamentais, pois dependem basicamente da execução do que foi
treinado. Não há interferência de outros e os espaços de competição são
idênticos (ou deveriam ser) aos de treinamento.
b) práticas com interação motora puramente antagônicas as ações do
adversário. Estas práticas ocorrem em esportes individuais em que se
joga contra alguém, e a todo momento executa-se ações para defender-se
ou atacar. São bons representantes desta categoria as lutas (boxe, judô,
esgrima ...) e os esportes de raquete (tênis-de-mesa, tênis, squash ...)
c) práticas com interação motora puramente cooperativa. Estas
interações ocorrem porque um depende do outro e não há resistência por
parte de outra equipe, é preciso entender que todos executamos a tarefa
ou não conseguimos atingir o objetivo proposto. Usamos como exemplo a
equipe de um veleiro, um grupo de patinadores, uma equipe de ginástica,
etc.
d) práticas com interação de cooperação e oposição ao mesmo tempo.
É nesta categoria que entram os esportes coletivos. Ao mesmo tempo em
que temos interação de cooperação com os companheiros de equipe,
sofremos a oposição dos adversários. Aqui podemos citar o basquetebol,
o futebol, o handebol, o voleibol, os esportes de duplas como o tênis, etc.
Vamos entender melhor a importância de compreender um esporte
como sendo de cooperação/oposição, a partir das funções que se pode assumir um
praticante de uma modalidade inserida nesta classificação. Primeira função é
definida sabendo-se qual equipe está de posse da bola, assim deve-se assumir uma
função inicial de cooperação ou de oposição, ou seja, ataque ou defesa (também
pode existir cooperação entre os companheiros que realizam a oposição).
Existem três papéis para jogadores de um jogo de
cooperação/oposição:
- jogador com a bola;
- jogador sem a bola da equipe com a bola;
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- jogador da equipe sem a bola.
A partir destes papéis podemos relacionar atitudes que podem ser
assumida por cada um destes (MORENO e JIMÉNEZ, 2000).
Atitudes possíveis de um jogador com a bola:
- colocar a bola em jogo;
- avançar com a bola;
- proteger a bola;
- passar a bola;
- finalizar (chutar, arremessar, etc.);
- dar um tempo com a bola;
- fintar;
- ampliar seu espaço (desmarcar-se);
- permitir a redução de espaço (chamar o marcador para próximo);
- colocar-se na posição que lhe confere o sistema de jogo pré-determinado;
- perder a bola;
- fazer falta ou violar a regra de alguma maneira; e
- receber falta.
Atitudes possíveis de um jogador da equipe com a bola, mas sem ela:
- ocupar uma posição em uma zona qualquer;
- colocar-se na posição que lhe confere o sistema de jogo pré-determinado;
- desmarcar-se;
- fintar;
- ampliar espaços (afastar-se dos companheiros);
- reduzir espaços (aproximar-se dos companheiros);
- ajudar um companheiro por meio de uma ação motora;
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- pedir a bola;
- receber a bola;
- esperar (sem atitude);
- fazer falta ou violação; e
- receber falta.
Atitudes possíveis de um jogador da equipe sem a bola;
- colocar-se na posição que lhe confere o sistema de jogo pré-determinado;
- ocupar uma posição em uma zona qualquer;
- fintar (apesar de questionada a finta/blefe, também pode vir do defensor);
- dar um tempo (esperar);
- reduzir o espaço em relação ao oponente;
- aumentar o espaço afastando-se do oponente;
- antecipar-se a uma jogada previsível;
- ajudar um companheiro;
- fazer pressão em um adversário;
- interceptar, roubar ou desviar a trajetória da bola;
- fazer falta; e
- receber falta.
A compreensão dos papéis desempenhados em jogo e das
possibilidades de cada agente, facilitam o processo de ensinagem, tanto para o
aluno quanto para o professor.
Com base no exposto anteriormente Moreno e Jiménez (2000)
propõem uma seqüência para o processo de ensinamento dos esportes na iniciação
esportiva e que pode ser adotado na educação física escolar, respeitando-se as
limitações de condições e espaço de cada escola.
1º - Esportes de caráter psicomotor que se desenvolvem em espaços
padronizados. Saltos no atletismo, atividades ginásticas e outras.
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2º - Esportes de cooperação em espaços padronizados. Ginástica em grupo e
revezamentos no atletismo, e outras.
3º - Esportes de caráter psicomotor em espaços não padronizados e com
incertezas. Escaladas individuais, patinação, e outros.
4º - Esportes de cooperação em espaços não padronizados. Ciclismo contra o
relógio por equipe. Escalada em grupo. Rafting e outros.
5º - Esportes de oposição em espaços padronizados. Basicamente as lutas.
6º - Esportes de oposição em espaços não padronizados. Corridas de rua, esportes
de raquete (individuais) e outros.
7º - Esportes de cooperação/oposição em espaços padronizados. São os esportes
coletivos com bola (basquetebol, futebol, futsal, handebol, voleibol, etc.)
8º - Esportes de cooperação/oposição em espaços não padronizados. Triatlon por
equipes, ciclismo por equipe (em rua), e outros.
Ao adotar uma seqüência de ensinamento não estamos admitindo que
ela seja invariavelmente linear, mas que estamos assegurando ao educando de que
ele recebeu condições de desenvolvimento das habilidades básicas para a
compreensão e execução da tarefa seguinte. Garante-se o aprofundamento em nível
de complexidade.
Paralelo a isto não se pode negligenciar as fases de iniciação dos
desportes cooperação/oposição (MORENO e JIMÉNEZ, 2000)
A primeira fase diz respeito ao conhecimento da estrutura básica e
compreensão do comportamento estratégico básico ao nível de experimentação
(regras básicas e princípios gerais do jogo).
A segunda fase é de compreensão do comportamento estratégico
individual quanto as ações motoras (fundamentos técnico/táticos individuais, funções
a serem desempenhadas, técnica, critérios de organização da fases do jogo, defesa
individual antes da defesa por zona).
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A terceira fase é de compreensão do comportamento do grupo (táticas
coletivas de nível básico, organização da transição e mudanças no sistema de
defesa e defesa por zona).
A quarta e última fase é de ajuste do comportamento estratégico
individual e coletivo aos sistemas de jogo. Aqui cabem vários sistemas de defesa,
contra-ataque, balanço defensivo, situações de inferioridade e superioridade
numérica. Determinação de uma posição em função da técnica e/ou características
individuais. Em um contexto educativo é mais importante compreender os critérios
de organização das fases do jogo, do que a repetição de sistemas fechados.
A TRANSFERENCIA DE APRENDIZAGEM APLICADA AO ENSINO DA TÁTICA DOS ESPORTES COLETIVOS: FUTSAL E BASQUETEBOL
Normalmente o foco da aprendizagem motora e da transferência de
aprendizagem está em uma habilidade/gesto motor, o que nos remete mais
facilmente a pensar na técnica de execução de um determinado movimento. Aqui,
intencionalmente procura-se chamar a atenção sobre a aprendizagem de situações
e a transferência de aprendizagem tática entre esportes diferentes.
A praxiologia motriz apresenta contribuições para compreender as
ações motoras e consequentemente os esportes, e em especial os esportes
coletivos que são os motivadores deste estudo.
Bayer (1986) apresenta um exemplo de transferência interna na
modalidade de handebol feminino, onde a aprendizagem de uma jogada foi
transferida para outras situações que envolviam muitas semelhanças entre as ações
aprendidas anteriormente e as novas ações. Isto nada mais é do que transferência
de aprendizagem em uma situação tática.
Se a transferência ocorre entre ações que tenham semelhanças e a
praxiologia aponta semelhanças (para fazer as classificações) entre as atividades
esportivas, vamos identificar estas semelhanças ensiná-las em uma modalidade e
usar a teoria da transferência de aprendizagem para facilitar a aprendizagem de
outra modalidade.
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Independente de qual modalidade de esporte de cooperação/oposição
inicia-se os ensinamentos táticos, eles certamente serão aplicados a outra
modalidade do mesmo grupo. Vejamos:
Uma equipe que ataca, em um jogo de basquetebol, executa ações
que possibilitem a seleção do arremesso que apresente maior facilidade de acerto,
ou seja, maior probabilidade de êxito.
Em uma equipe de futsal, que está de posse da bola, portanto está
atacando, as ações apresentam o mesmo objetivo, possibilitar um chute que tenha
maior probabilidade de converter-se em gol.
Nestas duas situações a diferença está no gesto técnico, específico da
modalidade, e não nas ações dos atletas, o que permite utilizar o conhecimento de
uma modalidade para a aprendizagem ou compreensão da outra.
As situações táticas de igualdade numérica, tanto no basquetebol
quanto no futsal, (2x2, 3x3, etc.) seguem os mesmos princípios, são eles:
- ampliar os espaços para facilitar as ações e dificultar aos defensores
o trabalho de coberturas e ajuda;
- quem está com a bola deve pensar na melhor escolha para a
definição da jogada, inclusive lembrar que a melhor escolha pode ser ele;
- quem está sem bola deve posicionar-se para receber, deslocar-se
para criar espaços ou ajudar (bloquear, fazer corta-luz, etc) quem está com a bola.
As situações de um contra um, são pautadas por uma tomada de
decisão: definir a jogada, utilizando a capacidade técnica individual e aproveitando
os espaços proporcionados pela ausência de outros jogadores, ou, proteger a bola e
aguardar a cooperação dos companheiros.
Na situação de 1x1 encontra-se a fase mais elementar dentro de um jogo: o atacante com bola procura vencer o defensor, que tentará impedi-lo de realizar o seu objetivo. Para que isso ocorra, tanto o atacante quanto o defensor deverão se utilizar de fundamentos individuais adequados e permitidos. Ao atacante cabe tentar o arremesso valendo-se do drible para se aproximar da cesta. [...] O defensor tentará dificultar o arremesso colocando-se entre o atacante e a cesta, levando-o para os cantos ou laterais da quadra (para diminuir o espaço de ação daquele) e bloqueando o arremesso ou o drible (FERREIRA e ROSE, 1987, p. 44 e 45)
Percebe-se que a citação anterior é de um livro de basquetebol por
conta do linguajar específico da modalidade, mas toda a situação é pertinente ao
futsal, pois, o atacante com bola tentará o gol e para isto utilizará de dribles, fintas,
recursos técnicos que facilitem o chute. Por sua vez o defensor tentará impedir a
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ação do atacante colocando-se entre ele e o gol, reduzindo seus espaços e
interceptando a bola se assim conseguir.
Podemos neste exemplo perceber que em ambas as modalidades
temos os mesmos objetivos e que as ações dos atletas são similares, respeitando-
se é claro, a técnica da modalidade.
Nas situações de superioridade numérica, os atletas devem estar
cientes de que se o ataque demorar, logo haverá equilíbrio entre atacantes e
defensores, por isto é necessário ações rápidas e precisas que permitam a
finalização do ataque antes deste equilíbrio, mas, em caso de risco de perda da bola
e baixa probabilidade de êxito, o ataque deve ser retardado para manter a posse de
bola e efetuar nova tentativa, mesmo que em igualdade numérica.
Carvalho (2001) diz que as situações de vantagem numérica são as
mais fáceis e mais eficientes para serem ensinadas. Elas se caracterizam como um
contra-ataque, pois após a “retomada da posse de bola os jogadores devem reagir
rapidamente e em tempo e espaço apropriado” (p. 22) preenchendo os espaços
necessários com o objetivo de obter a vantagem numérica e colocar-se situação de
alta porcentagem de aproveitamento nas finalizações.
São condições importantes para se obter a vantagem numérica:
bloquear o adversário (recuperar a posse de bola) dificultando sua posição de rebote
após o arremesso/chute e sua retomada para a defesa; ter um primeiro passe rápido
e eficiente, ele é o sinal de que é possível fazer uma transição veloz; e ocupar
diferentes vias de acesso ao ataque, distribuindo os atletas pelas laterais e pelo
meio, possibilitando maiores opções para os passes seguintes e para a conclusão
da jogada.
O maior responsável em tomar a iniciativa de buscar o ponto/gol, em
um ataque com superioridade numérica é do atleta que está de posse da bola. Se
não receber marcação parte para a definição sem maiores problemas. Caso receba
marcação é sinal de que algum de seus companheiros está desmarcado e, portanto
deve ser uma boa opção de passe.
Quem está sem a posse de bola deve estar atento para algumas
situações específicas e que facilitarão o desenvolvimento do ataque. Estas situações
são as mesmas de um jogador sem posse de bola em um ataque com igualdade
numérica, acrescentando os aspectos de velocidade e da situação em que
certamente alguém estará sem marcação.
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Conduzir a bola ou passá-la? É claro que o passe pode tornar o ataque
mais rápido, mas também aumenta o risco de erro visto que a cada passe existe um
trajeto da bola desprotegida e uma recepção/domínio que se faz necessária para
que o passe tenha êxito. As hipóteses são as mesmas no basquete e no futsal, qual
a vantagem do passe e o risco existente? Quem está com a bola tem tempo para
conduzir e finalizar com segurança? As percepções espacial e temporal dos atletas
são fundamentais para que se possa tomar a decisão mais apropriada.
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
Com a aplicação de 16 aulas para alunos de ensino médio, sendo 10
com envolvimento teórico-prático em formas de marcação no futsal, o grupo passou
a identificar e utilizar sistema de defesa individual, por zona e sistemas mistos. Ainda
que se considere o nível destas marcações não se compare ao profissional, ficou
evidente que houve apropriação dos conceitos táticos envolvidos e melhor condição
de prática e análise de uma partida de futsal.
O momento mais importante para esta pesquisa foi a utilização dos
mesmos conceitos do futsal, para em 06 aulas reconhecerem e utilizarem os
sistemas de marcação individual, por zona e misto, no basquetebol. A ênfase deste
trabalho foi a utilização do conhecimento previamente aprendido, fazendo a
transferência positiva de aprendizagem.
Tani (2008, p. 296) afirma que o “conhecimento refere-se a um corpo
organizado de informações, abrangendo aspectos específicos e gerais de uma
determinada realidade ou fenômeno, representado nas estruturas da memória”.
Seria pretensão de nós professores de educação física, imaginar que o nosso aluno
tenha condições de ao final do ensino médio ter “conhecimento” de uma gama
grande de esportes, principalmente se não buscarmos elementos que mostrem para
o aluno que muitos deles tem a mesma lógica.
Em resposta quanto ao nível de conhecimento tático sobre os sitemas
de defesa do futsal e do basquetebol, antes e após a implementação do projeto
PDE, obtivemos a indicação que apenas um aluno não melhorou seu nível de
conhecimento. Os demais apresentaram evolução no seu conhecimento tático de
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defesa de ambas as modalidades. Os resultados encontrados foram satisfatórios,
como pode ser observado na tabela abaixo.
Tabela 01: Quanto ao conhecimento tático antes e após a implementação do projeto.
Bom Pouco Nada
Pré Pós Pré Pós Pré Pós
Futsal 2 9 6 3 5 1
Basquete 1 4 3 8 9 1
Autor: Clediomar Miranda, 2011.
Perguntados se método de trabalho utilizado, a transferência de
aprendizagem do futsal para o basquetebol, influenciou positivamente a
aprendizagem das tarefas de basquetebol e se o mesmo é agradável e permite
estabelecer relações entre as modalidades, obtive-se maioria absoluta relatando que
gostaram e o mesmo facilitou a aprendizagem, como demonstra o gráfico a seguir.
Gráfico 01: Demonstrativo de satisfação quanto a metodologia usada.
Autor: Clediomar Miranda, 2011.
Considerando os resultados apontados pelos alunos do grupo
experimental com relação a proposta apresentada, percebe-se que esta colabora
positivamente no ensino de táticas de esportes coletivos.
Vejamos alguns comentários dos alunos, anexado ao questionário: A)
“Com este tipo de ensino, comparando os tipos de ataque e defesa nas duas
modalidades, ficou mais claro, melhor par se entender”. B) “Tem uma grande
semelhança entre o futsal e o basquete, nunca tinha pensado nisto”. C) “Futsal e
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basquete usam defesas parecidas, é bem mais fácil de aprender. Gostaria de
aprender todas as modalidades desta forma”.
É gratificante perceber que a iniciativa foi bem aceita, por alunos que
normalmente não gostam de basquetebol, mas que amam o futsal. Ao “deixar” o
basquetebol mais parecido com o futsal ele também passou a ser aceito, e melhorou
a aprendizagem.
Pode-se afirmar que nesta realidade, da escola de campo Colégio
Estadual São Roque, da cidade de Pato Branco-PR, este método obteve sucesso,
alcançando o objetivo deste, onde os alunos compreenderam que existe similaridade
das táticas empregadas nos jogos de futsal e basquetebol, valendo-se para isto, das
teorias de transferência de aprendizagem e praxiologia motriz.
Ainda que a utilização das teorias de transferência de aprendizagem
juntamente com a praxiologia motriz, possa constituir-se em uma proposta nova e
diferente de trabalho nas aulas de educação física, ela precisa de pesquisas mais
longas e com grupos amostrais maiores, para almejar uma consolidação como
método de trabalho.
Também é necessário avaliar como ocorrerá a transferência de
aprendizagem envolvendo outros elementos da tática do futsal e do basquetebol e
também outros esportes.
REFERÊNCIAS
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FERREIRA, A. E. X. e ROSE JR, D. de. Basquetebol: técnicas e táticas: uma abordagem didático-pedagógica. São Paulo: EPU: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1987.
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______ Los contenidos deportivos em la educación física escolar desde la praxiología motriz II. Arquivo digital In: Edución física y deportes. Buenos Aires, ano 5, nº 20, 2000. http://www.efdeportes.com, Acesso em 05 de abril de 2010.
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